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FÁBIO SOMBRA a caravana do oriente

UM CONTO DE NATAL BRASILEIRO NARRADO AO SOM DE …...um conto de natal brasileiro narrado ao som de violas, pandeiros e tambores de folia. fá bio s ombra a caravana do oriente uma

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UM CONTO DE NATAL BRASILEIRO NARRADO AO SOM

DE VIOLAS, PANDEIROS E TAMBORES DE FOLIA.

FáBIO SOMBRA

a caravana do oriente UMA h

ISTóRIA

DE FO

LIA D

E REIS

A caravana do oriente_capa_SL_PNLD 2020.indd 1 17/07/18 16:33

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A CARAVANADO ORIENTE

texto e ilustrações

FÁBIO SOMBRA

UMA HISTÓRIA DE FOLIA DE REIS

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Copyright de texto e ilustrações © 2018 by Fábio Sombra

Direitos desta edição reservados àSOCIEDADE LITERÁRIA EDIÇÕESE EMPREENDIMENTOS LTDA.Av. Brasil, 10.600 – Penha 21012-350 – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 3525-2000 – Fax: (21) 3525-2001

Printed in Brazil / Impresso no Brasil

ISBN 978-85-88771-85-7

1ª edição – 2018

CIP-Brasil. Catalogação na fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.S676cSombra, FábioA Caravana do Oriente : uma história de folia de reis / texto e ilustração de Fábio Sombra. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Sociedade Literária, 2018. il.ISBN 978-85-88771-85-71. Ficção infantojuvenil brasileira. I. Sombra, Fábio. II. Título.18-50445 CDD: 028.5 CDU: 087.5

Leandra Felix da Cruz - Bibliotecária - CRB-7/6135

O texto deste livro obedece às normas doAcordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Impressão e acabamento: Gráfica, São Paulo – SP

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Aos companheiros da folia Caravana do Oriente em Lajinha-MG;

aos companheiros da folia do seu Zé Gomes no sertão do Uru-

cuia; à Laurinha van Boekel Cheola, que adora e conhece tudo de

folclore; ao Jardim e à Tuti, que sempre incentivaram; ao Sérgio

Penna, à Fabíola Mirella e aos Violeiros Matutos; ao pessoal da

revista Viola Caipira, amigos de co ração e viola. À minha mãe.

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SUMÁRIO

11. Uma longa viagem ............................................................... 111

12. As fotos do Halloween ........................................................ 115

13. Ruídos na noite .................................................................... 121

14. Conversa ao pé do fogo ....................................................... 126

15. O plano de Lucila ................................................................ 136

16. O caderno vermelho ............................................................ 141

17. O segredo da Natalina ......................................................... 148

18. Preparativos ......................................................................... 155

19. O menino Rinaldo ............................................................... 162

10. Boizinhos de chuchu ........................................................... 167

11. Três encontros ...................................................................... 172

12. Três gotinhas d’água ............................................................ 181

13. A partida da Caravana ......................................................... 184

14. Na fazenda do coronel......................................................... 188

15. O sonho de Rinaldo ............................................................ 196

16. O músico que faltava ........................................................... 104

17. O sorrisinho maroto ............................................................ 110

Sete superstições e curiosidades sobre a folia de reis ............. 115

Os instrumentos da folia de reis .............................................. 119

As músicas da Caravana ............................................................ 123

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UMA LONGA VIAGEM

Depois de passar a noite inteira sacolejando nas curvas, o ônibus finalmente parou na rodoviária de Santa Rita do Mato Verde. A pequenina cidade do interior de Minas ainda estava acordando e, a não ser por uma ou outra carroça puxada por burros sonolentos, nada mais se movia por aque-las ruas. Ainda sentada em sua poltrona, Lucila espre-guiçou-se e olhou pela janela. O que viu não a dei-

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xou muito impressionada. Vejam só o fim de mun-do em que eu vim parar, pensou. Aquela era a primeira vez que viajava sem a companhia dos pais. No mesmo ônibus, estavam seus dois primos mais velhos: Carlinhos e Fre-derico. Semanas atrás, os dois haviam convida-do Lucila para passar as férias de fim de ano com eles, na fazenda de seu tio-avô Juca. Lucila nunca estivera antes numa fazenda, e foi a curiosidade que a fez se interessar pelo passeio. Após muita insistência, os pais da menina concordaram com a viagem. Assim, no início de dezembro, logo que as aulas terminaram, os três jovens tomaram o ônibus noturno no Rio e parti-ram em direção a Santa Rita do Mato Verde. Na rodoviária, na noite da despedida, os pais de Lu-cila faziam as últimas recomendações: – Veja lá, hein, mocinha, não se esqueça de passar o repelente de mosquitos! – Tá bom, pai, não vou esquecer... – E não me vá brincar perto das vacas com be-zerro novo! – Tá bom, mãe, vou tomar cuidado... – E nem pense em pegar sereno. Você sabe que sua garganta...

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– Tá bom, mãe. Vou usar o cachecol que a tia Luísa me deu no aniversário... Engraçado como, nessas horas, os pais e mães de todo o planeta conseguem repetir exatamente os mesmos conselhos. Bem, mas o que importa mesmo é que a viagem terminara. Lucila acordou os primos e quando os três desceram do ônibus foram recebidos por Florisvaldo, o chefe dos peões da fazenda do tio Juca. Ele era um caboclo alto, bigodudo e usava um chapelão de couro com as abas caídas. Embar-cou os recém-chegados e suas mochilas no jipe da fazenda e partiu, deixando para trás uma nuvem de poeira. Durante o percurso, o homem pouco fa-lou, a não ser para reclamar dos buracos da estrada e do jipe que, segundo ele, estava precisando de uma boa temporada na oficina. Lucila não gostou muito do jeitão dele, mas não comentou nada com os primos. Ao chegarem ao casarão da velha fazenda, en-contraram tio Juca acenando para eles da escada da varanda. Era um velhinho simpático e sorri-dente. Foi logo convidando os meninos para en-trar e tomar um daqueles cafés da manhã de roça, com leite fresco, café coadinho na hora e uma

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quantidade enorme de pães de queijo, rosquinhas e biscoitos. Depois do café, Lucila foi conhecer o seu quar-to. Como tudo naquela casa, ele era enorme e mui-to antigo. A decoração lembrava a de um museu, com móveis pesadões e fora de moda. Apesar disso, o quarto parecia limpo e bem cuidado, a começar pelos lençóis e fronhas que encontrou dobrados sobre a cama. O assoalho era de tábuas de madeira e rangia levemente a cada pisada. Lucila olhou em volta, pensativa, e murmurou baixinho: – Sei não... Quero ver como será passar a noite neste casarão. Posso apostar que o lugar é mal-as-sombrado...

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AS FOTOS DO HALLOWEEN

Apesar de a fazenda não oferecer todo o conforto da vida na cidade, para Carlinhos e Frederico não havia no mundo lugar melhor para passar férias. A casa do tio Juca era cercada de pomares e ficava ao lado de uma represa de águas limpas e mansas. Passarinhos cantavam o tempo inteiro, e aquele era o único som audível em meio ao silêncio da tarde. Carlinhos, o mais velho, tinha quinze anos e uma franja que volta e meia precisava afastar dos

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olhos. Era magrelo, caladão e raramente sorria. Já Frederico, dois anos mais novo que o irmão, era um gorduchinho jovial e bem-humorado. Seu as-sunto preferido era comida. Gostava de inventar receitas exóticas, como o seu famoso milk-shake de banana com calda de jabuticaba. Logo após o almoço, os três jovens foram pes-car na represa. Trouxeram de lá um balde cheio de traíras e tilápias. No finalzinho da tarde, sen-tados na varanda da casa, Frederico e Carlinhos resolveram mostrar suas fotos recentes a Lucila e ao tio Juca. O velho fazendeiro nunca havia visto uma câ-mera digital em sua vida e se admirava com aque-las imagenzinhas coloridas que iam desfilando pela tela de cristal líquido. – Ora, ora... Uma máquina fotográfica que não precisa de filme! O que mais eles vão inventar agora? – E olha que esta aqui nem é das mais caras... – sorriu Frederico. – Agora veja a próxima foto: sou eu com minha guitarra. E aquele ali, no canto, é o Carlinhos tocando bateria. – Guitarra? Bateria? – Tio Juca estava surpre-so. – Então vocês estão aprendendo música?

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– Estamos – respondeu Frederico. – E até for-mamos uma banda chamada Lobos Uivantes da Madrugada. Um som tipo Trash Metal com uma batida de tambores tribais aborígines. – Trash Metal? Tambores aborígines? – Ah, deixa pra lá, tio, o senhor não ia gostar mesmo... – Carlinhos balançou a cabeça e passou para a foto seguinte. – Esta aqui foi tirada na festa de Halloween que fizemos lá na escola. Olha que radical a minha fantasia de Príncipe dos Mortos! – Halloween? Príncipe dos Mortos? Mas, afi-nal, do que vocês estão falando? – Tio Juca estava tonto com aquelas expressões estranhas. Foi Lucila quem explicou a ele que Halloween era a festa do dia das bruxas, comemorada na noi-te de 31 de outubro. – Dia das bruxas? – espantou-se o velho. – Mas como é que nesses meus setenta e cinco anos de idade eu nunca tinha ouvido falar desse tal de raluim? – Bem, na verdade o Halloween é uma tradição dos países de língua inglesa – esclareceu a menina. – E só nos últimos anos passou a ser comemorada também aqui no Brasil. – Ah, sim. – Tio Juca tinha agora um olhar triste.

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– O que foi, tio? – perguntou Frederico. – Não gostou das nossas fantasias de Halloween? – Oh, sim, elas são muito bonitas – reconhe-ceu o velho. – Apesar de não conhecer essas festas modernas, eu gosto de ver a animação com que vocês, jovens, se divertem... – Então o senhor não tem nada contra o Hal-loween? – surpreendeu-se Lucila. – Pois eu tenho uma professora que disse que a gente não devia ficar perdendo tempo com essas bobagens estran-geiras... – Sua professora talvez não se lembre, mas a maioria das nossas festas populares também veio de outros países – explicou tio Juca. – Muitas de-las foram trazidas para cá pelos portugueses, ou-tras pelos escravos vindos da África, e assim por diante. Aos poucos, elas foram se modificando e hoje em dia a gente quase não reconhece mais suas origens. – Então, o senhor acha que, no futuro, o Hal-loween pode acabar se tornando uma festa com “sota-que” brasileiro? – perguntou Carlinhos. – Pois eu aposto que isso já deve estar aconte-cendo – disse tio Juca. – As tradições chegam de fora e logo começam a se misturar com elementos da nossa cultura.

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– É verdade – disse Frederico. – Na festa de Halloween do colégio, tinha gente fantasiada de saci e mula sem cabeça... – Isso comprova o que eu disse – sorriu tio Juca. E continuou: – Mas o que me deixa triste não é saber que novas tradições estejam surgindo, e, sim, que muitas das antigas estejam morrendo, esquecidas aos poucos. – Como assim? – perguntou Lucila. – Ah... São muitas as festas do meu tempo que foram se acabando. Muitas. Mas tinha uma que era a minha preferida: a folia de reis. Só aqui, nesta região, havia uns dez grupos de folia, cada qual mais bonito do que o outro. Hoje em dia não restou nenhum para contar história. – Folia de reis? – admirou-se Carlinhos. – Pois eu nunca ouvi falar... – Ai, que saudade – suspirou tio Juca. – Não gosto nem de lembrar. Dá um aperto no coração... E o pior é que os ensaios começavam justamente nesta época do ano... – Mas o que acontecia nessa tal folia de reis? – interessou-se Lucila. A pergunta pareceu mexer com tio Juca. Seus olhos fitaram um ponto distante no horizonte e, após uma longa pausa, desconversou:

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– Nada de interessante, minha amiguinha. Era só uma festa boba, dessas de roça. Não vamos per-der tempo relembrando essas velharias... Em seguida, como se quisesse se livrar de um assunto embaraçoso, o fazendeiro consultou seu relógio de bolso e disse: – Bem, moçada... já está quase na hora do jan-tar. Tratem de tomar seus banhos e vamos ver o que a Natalina preparou para a gente.

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UM CONTO DE NATAL BRASILEIRO NARRADO AO SOM

DE VIOLAS, PANDEIROS E TAMBORES DE FOLIA.

FáBIO SOMBRA

a caravana do oriente UMA h

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E REIS

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