Um espaço multimodal no Bairro da Ribeira-Natal/RN

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Caracterização da área estudada: 3.1. Escala Bairro Evolução Ocupação

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As demais reas da Ribeira expressam-se no contexto urbano atual da cidade como reas de trabalho, comrcio e lazer, cuja ocupao em termos de desenvolvimento de atividades e circulao de pessoas fica restrita ao perodo diurno e aos dias teis da sema

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PARTE II CARACTERIZAO DA REA ESTUDADA

3.

3.1. Evoluo do processo de ocupao do bairro: uma investigao do passado e presente

O bairro da Ribeira destaca-se no contexto urbano da cidade de Natal como uma rea de reconhecido valor paisagstico, cultural e histrico. Situado na Zona Leste do municpio (FIGURA 01) tem como limites fsicos os bairros de Rocas e Santos Reis, ao norte; Cidade Alta, ao sul; Petrpolis, a leste; e o Rio Potengi, a oeste. (FIGURA 02) A relao direta deste com o bairro talvez tenha lhe conferido o topnimo ribeira. (ribeira: terreno banhado por um rio; lugar beira de rio. DICIONRIO AURLIO)

O Rio Potengi (FOTO 01), de grande significado paisagstico, natural, econmico e at mesmo para a histria e para o processo de ocupao da cidade, confere ao conjunto urbanstico arquitetnico do bairro uma certa singularidade quando ressalta o contraste, de beleza inegvel, entre o espao natural e o construdo. As construes (FOTO 02) logo cuidam de deixar evidentes os traos rebuscados de uma arquitetura que mescla elementos clssicos, barrocos e neocoloniais anunciando o eco de um passado ainda presente (ou sobrevivente?) nas relaes sociais e urbanas de hoje. Portanto, percorrer os caminhos reveladores da evoluo e crescimento da rea leva-nos a uma compreenso do seu processo de formao e consolidao enquanto cenrio da vida urbana.

Juntamente com o bairro de Cidade Alta, a regio que hoje compreende a Ribeira, ou pelo menos parte dela, foi uma das primeiras reas da ocupao urbana do municpio. A regio referida em diversos documentos histricos da cidade como o cenrio de acontecimentos sociais, polticos e econmicos significativos para a formao da cultura e identidade do povo potiguar. Premissa que nos garante a identificao desses bairros como sendo o stio histrico de Natal. Assim, investigar a histria do bairro da Ribeira, bem como a de Cidade Alta, um exerccio que recai sobre a histria do prprio municpio.

O principal marco propulsor da ocupao da cidade o Forte dos Reis Magos, edificado no fim do sculo XVI.

Nesse perodo, quando em 1599, a tmida e primitiva ocupao na rea elevada do stio fundada como cidade, o atual bairro da Ribeira definia-se to somente como uma rea ribeirinha situada no nvel mais baixo do territrio. Sua situao geogrfica e topogrfica, tornando-o vulnervel s inundaes provenientes das mars do Potengi, tornava a rea imprpria para habitao, condicionando-a, por outro lado, a funcionar como corredor de ligao entre a cidade, alta, e a Fortaleza. (SOUZA, 2000)

O bairro nasceu exercendo a funo de articulao e ligao com outras reas da cidade, viabilizando a implantao e consolidao de atividades que so inerentes dinmica da circulao urbana: comrcio e servios.

Assim, durante os sculos XVII e XVIII, apesar da apresentao de uma paisagem coberta de coqueirais e plantaes entre reas alagadias e morros, a rea da Ribeira j caracterizava-se por stios e granjas que provinham grande parte do abastecimento da cidade. Conforme registros histricos de Cmara CASCUDO (1999), o principal atrativo dessa poca era as condies topogrficas da regio o que, juntamente com outros aspectos fsicos, condicionaram uma tendncia de ocupao e renda de stios prximos lagoa da campina e ponte do Riacho, concentrando-se na Rua General Glicrio, j por volta de 1605.

No sculo XVIII, foram estabelecidas algumas construes nas ruas Chile, Dr. Barata e General Glicrio. (SOUZA, 2000) O povoamento, contudo, se processava lentamente e a ocupao se consolidava nos stios e granjas. nesse perodo tambm que surgem alguns marcos identificadores da rea, como a ponte (FOTO 03), prximo Rodoviria Velha, ainda hoje existente.

No entanto, at as ltimas dcadas desse sculo, o largo diante a Capela do Senhor Bom Jesus das Dores (FOTO 04), existente desde 1766, bem como a campina neste derredor, permaneceram desertos. (CASCUDO, 1999, p.151) A movimentao do bairro concentrava-se, portanto, na extenso da Cidade Alta - atravs da Rua da Ladeira ou do Aterro, atual Junqueira Aires (FOTO 05)- frao que hoje compreende a regio da Praa Augusto Severo e seu entorno.

Percebe-se, assim, que at esse perodo a cidade toda limitava-se aos dois ncleos de povoamento, Cidade Alta e Ribeira, ficando este conhecido como cidade baixa. O primeiro caracterizava-se tipologicamente pelo uso totalmente residencial, enquanto a cidade baixa era uma rea de stios, plantaes e armazns, cujos guardas eram os nicos habitantes da regio. (SOUZA, 2000) A distncia entre eles, agravada pelos aspectos topogrficos que caracterizavam o stio, fazia com que esses ncleos atuassem praticamente independentes um do outro, com a Rua da Ladeira (FOTO 05) sendo o nico corredor de comunicao entre os mesmos.

Sem aluses de intervenes e mudanas na sua ocupao e uso do solo, o bairro comeou o sculo XIX sem grandes expectativas de crescimento e expanso. O processo de povoamento permaneceu lento e as nicas ruas existentes at meados do sculo eram a Rua do Aterro (atual Junqueira Aires), Avenida Sachet (Duque de Caxias), Rua da Praia (Silva Jardim), Rua do Comrcio (Chile) e Rua do Canto (esquina da Silva Jardim com a Chile). (SOUZA, 2000, p. 22).

nos ltimos anos do sculo XIX e primeiros do sculo XX que a rea ribeirinha da cidade o atual bairro da Ribeira - comea a apresentar mudanas significativas, crescendo mais impetuosamente.

Aos poucos, as terras alagadias foram sendo aterradas e dando lugar para os armazns e casas, que surgiam atrados pela instalao do porto, a partir de 1872, s margens do rio Potengi. Fator este, facilitando a chegada e escoamento de produtos, favoreceu a caracterizao comercial na rea. A construo das edificaes destinadas ao comrcio se deu, sobretudo numa primeira etapa, na Rua do Comrcio (Chile) por estar imediatamente paralela s margens da porta de entrada no comrcio martimo.

Foi 1869 um ano significativo para o bairro. A construo do Cais 10 de Junho (FOTO 06) no referido ano, na avenida Tavares de Lira, veio substituir o primeiro, de 1863, e confirmar a importncia econmica que a relao entre o rio e o bairro representava para a cidade como um todo. E no incio do sculo XX que a Ribeira veio se destacar pela presena do cais, em virtude de se firmar como o ponto de embarque e desembarque de toda a produo do mercado produtor estadual. Nesse perodo, surgiram mais armazns, edificaes comerciais e residenciais na regio, destacando desta vez as ruas Cmara Cascudo, Frei Miguelinho e Dr. Barata.

Essa representao tambm foi marcada pela instalao da Comisso de Obras do Porto, entre os anos 1892 1902, o que atraiu um grande contingente populacional e a ocupao da Zona Norte, principalmente.

J nos primeiros anos de 1900, durante o governo estadual de Tavares de Lira, foram propostas alteraes e melhorias para o plano urbanstico da Ribeira. Nesse momento, foram realizados aterros e ajardinamentos na Praa Augusto Severo, alm de tratamento de fachadas e mudanas nos usos a partir de intervenes posteriores. A Rua Tavares de Lira, juntamente com a Rua da Ladeira (atual Junqueira Aires), calada em 1908, foi uma das primeiras a receber tratamento urbanstico e sistema de drenagem. (SOUZA, 2000) A primeira metade do sculo XX, portanto, firmou o bairro da Ribeira como o centro de comrcio e servios de Natal, concentrando negociantes, marinheiros e prostitutas.

Era na Ribeira que estava a concentrao dos fatos sociais mais importantes na formao da sociedade natalense. L estavam a sede do Governo (FOTO 07), que funcionava desde 1870 e se apresentava como palco de grandes acontecimentos polticos e sociais ocorridos no estado; o Teatro Carlos Gomes (atual Alberto Maranho) (FOTO 08), edificado em 1904 e reformado em 1912 assumindo a configurao atual; o primeiro cinema da Cidade- o Politheama, de 1911; o Grande Hotel (1939)- o mais equipado da poca, bem como uma variedade de edificaes comerciais e prestadoras de servio, que provinham a dinmica urbana da rea e asseguravam a sua primazia em relao ao outro centro local, o bairro da Cidade Alta. Dentre essas edificaes, destacamos o Grupo Escolar Augusto Severo, datando de 1908, o prdio da Junta Comercial (1930), o prdio do BANDERN (1939) e a Associao Comercial, de 1942. Foi ainda em 1935 que surgiu a Avenida Rio Branco, quando foi criado o Servio de gua, Esgoto, Obras e Saneamento da cidade de Natal.

Aqui, vale destacar que a maioria das edificaes supra citadas compe o conjunto de imveis tombados (QUADRO 01) do Patrimnio Histrico, Artstico, Cultural e Arquitetnico da cidade.

QUADRO N 1 IMVEIS TOMBADOS

N de

ordemEndereo Propriedade Uso AtualEstado AtualIntervenesCusto estimado (R$)

01Antigo Grande HotelGoverno EstadualFrumtimoManuteno3.006,80

02Antiga Escola DomsticaGoverno FederalINSSBomManuteno14.350,00

03Teatro Alberto MaranhoGoverno EstadualTeatrotimoManuteno5.616,00

04Antigo Palcio do GovernoGoverno EstadualMuseu e Escola de BallettimoPintura10.856,00

05Colgio SalesianoCongregao SalesianaColgiotimoPintura/ remoo de excessos/ caracterizao da fachada39.990,00

06Casa do Dr. Lus de BarrosPrivadoLavanderiaRegularManuteno/ pintura/ reboco/ esquadria65.025,00

07Junta ComercialGoverno EstadualJunta ComercialBomManuteno1.684,00

08Sede do BandernGoverno EstadualPalcio da CidadaniatimoPintura11.425,60

09Grupo Escolar Augusto SeveroGoverno EstadualSec. de Segurana PblicaBomManuteno12.520,40

10Antiga Estao FerroviriaGoverno EstadualEscolaRegularManuteno/ pintura/ reboco13.006,48

TOTAL177.480,28

FONTE: SEMURB SPH/ Projeto Ribeira, 2001.

De propriedade legal do Estado, as intervenes que garantiram a preservao dessas edificaes priorizaram apenas a sua manuteno atravs de pinturas, melhorias no reboco e remoo de excessos quando necessrio. So dentre as edificaes citadas, os imveis tombados: o prdio da Antigo Grande Hotel, onde funciona atualmente o Frum Estadual; o Teatro Alberto Maranho; o antigo Palcio do Governo, onde funciona atualmente um museu e a escola do Ballet Municipal; o prdio da Junta Comercial; a sede do BANDERN, atual Palcio da Cidadania e o Grupo Escolar Augusto Severo, atual Secretaria de Segurana Pblica.

Percorrendo os caminhos da histria da Ribeira, percebe-se, portanto, que at a dcada de 40, Natal se apresentava como uma cidade tranqila, cujas grandes manifestaes scio-culturais concentravam-se apenas na Ribeira que se antepunha como rea de comrcios e servios.

No perodo da 2 Guerra Mundial o bairro da Ribeira vive seu momento de apogeu, aumentando a agitao na rea.

A proximidade com a base de hidroavies de Natal (s margens do Rio no limite norte), a presena do Cais (FOTO 06)- local de chegada e sada dos visitantes, a presena do Porto e do Grande Hotel (FOTO 09)- o melhor e mais bem equipado hotel da cidade na poca, acarretou um crescimento populacional acompanhado por transformaes econmicas e scio-culturais. Foi a presena dos soldados americanos o fato que mais contribui para a miscigenao de culturas e para o surgimento de bares, casas de shows e prostbulos na regio da Ribeira. (SOUZA, 2000) Alm da contribuio cultural atravs da msica, lngua e vesturio, a circulao do dlar e o aumento do consumo definiram uma significativa contribuio econmica para o comrcio local.

No entanto, aps o fim da guerra- fato que levou o bairro ao seu apogeu, a cidade apresentava mudanas significativas na sua configurao espacial, expressas, sobretudo, nas vias de circulao, como a expanso da Avenida Hermes da Fonseca. Essas novas vias- eixos virios de circulao, permitiram inicialmente a ligao entre a Base Militar de Parnamirim e os bairros de Cidade Alta e Ribeira, principalmente; e propiciaram, num segundo momento, o crescimento e a ocupao da cidade no sentido norte-sul. Com isso, aos poucos, Natal foi assistindo um processo de transferncia do seu centro comercial.

A retirada dos soldados americanos da cidade ecoou no bairro da Ribeira um estado de abandono, perdendo a vitalidade de outrora. Foram se revelando novos espaos mais atrativos para os comrcios e os prestadores de servios, os quais foram aos poucos se transferindo para os bairros do Alecrim e Cidade Alta e as Avenidas Rio Branco e Deodoro da Fonseca comearam a se impor como ruas principais da cidade. Os prdios do antigo centro (Ribeira) foram sendo ocupados por armazns, oficinas ou simplesmente fechados e abandonados (FOTO 10). Restaram para o bairro o funcionamento das casas noturnas e dos cabars, acarretando na fuga das famlias residentes para outras reas residenciais que foram surgindo na cidade.

Os bairros de Tirol e Petrpolis, cuja ocupao havia se intensificado a partir de 1929 com a implantao de planos urbansticos, e os conjuntos habitacionais que foram surgindo nas reas perifricas da cidade a partir da dcada de 60 e promovidos pela Poltica Nacional de Habitao se firmaram como novas reas residenciais gerando conseqentes novas centralidades do ponto de vista comercial e de fluxo populacional.

Nem mesmo com a construo do Terminal Rodovirio (FOTO 11) em 1963- nas imediaes da Praa Augusto Severo, que promoveu a chegada de visitantes de todo o estado atrados pelo comrcio e movimentao resultante dos ltimos acontecimentos, o bairro revelou sinais de plena recuperao. A cidade dava claros sinais e opes por ocupao em outras direes.

Mais tarde, a transferncia do Terminal Rodovirio no final da dcada de 70 para as imediaes do conjunto Cidade da Esperana tambm contribuiu para reforar o esvaziamento populacional do bairro e seu declnio como rea de atrao na cidade. Logo o bairro da Ribeira ficou conhecido como zona de baixo meretrcio, imagem que perdura at os dias de hoje e responsvel em grande parte pela dificuldade de representao social do bairro no imagtico da populao de Natal. (DIAS, 2000)

A problemtica emergente nas cidades no incio deste sculo, fruto das transformaes econmicas e das decorrentes modificaes sociais e culturais advindas do incio do processo de industrializao, propiciou novas elaboraes sobre o urbano. (...) E com relao estrutura fsica, exigia-se uma adaptao do urbano s novas funes.(Damasio, 1997 in Pesavento; Souza(orgs), 1997, p. 147 e 148)

Assim comenta Cludia Pilla Damsio em seu trabalho A construo e a imagem cidade progresso em Porto Alegre na virada do sculo. O comentrio da autora, embora relacionado cidade de Porto Alegre, pode complementar a anlise das transformaes espaciais por que passou a cidade de Natal durante o sculo XX, uma vez que se evidencia a relao entre as novas elaboraes do urbano ao desenvolvimento scio-econmico da cidade e s novas funes que emergiram como fruto desse crescimento.

O bairro da Ribeira, portanto, foi caindo aos poucos num contnuo processo de esquecimento, abandono, desuso e degradao fsico-ambiental, fatores que recaem no agravamento de sua decadncia scio-econmica e do esvaziamento populacional da rea. (QUADRO 02)

QUADRO N 2 REGIO ADMINISTRATIVA, POPULAO, DENSIDADE DEMOGRFICA, DENSIDADE DOMICILIAR E DOMICLIOS OCUPADOSRegio AdministrativaPopulao Densidade demogrfica

Hab./ haDensidade domiciliar

Hab./ domDomiclios ocupados

Leste19911996199119961991199619911996

2443183940,3830,394,353,57561514

FONTE: IBGE, SEMURB, 1998.

Segundo Artur do Canto WILKOSZYNSKI e Clia Ferraz de SOUZA, atitudes assim, de abandono e descaso, consolidam-se medida que um novo imaginrio urbano vai se construindo em torno da busca de um centro mais ordenado, capaz de demonstrar as transformaes progressistas e o novo que se difunde na ordem urbano-industrial do pensamento moderno. (Pesavento, 1991 apud Wilkoszynski; Souza, 1997, p.183)

Atualmente, muitos prdios da Ribeira encontram-se em estado de abandono ou mal conservados, embora um grande nmero destes sejam tombados como patrimnio pblico, por guardarem significados que remetem a um momento histrico e social por que viveu a sociedade natalense.

O bairro encontra-se totalmente ocupado, em termos de rea edificada, e apresenta uma ntida concentrao populacional sudeste, nos limites com os bairros de Cidade Alta e Petrpolis, configurando esta a rea de permanncia residencial do bairro.

A ocorrncia de uma concentrao de ocupao residencial tambm se evidencia nos limites com os bairros das Rocas, Santos Reis e o Rio Potengi. O destaque para essa ocupao consiste na presena da Comunidade Maruim, que incorporando as caractersticas de uma favela, assume a importncia de uma rea de interesse social para a cidade. A presena da praa pblica, nas imediaes da favela, com seu caracterstico comrcio do pescado rene um grande nmero de pessoas e j se firmou como espao pblico consolidado na regio. Conhecida como Canto do Mangue, a rea tem sido foco de conflitos/divergncias que permeiam as discusses atuais a respeito da ampliao do Porto que incorpora em seu projeto o espao da favela e do Canto do Mangue, postura que diverge das intervenes propostas pela administrao municipal que primam pela conservao, reabilitao e conseqente confirmao da rea como espao de convivncia pblica.

As demais reas da Ribeira expressam-se no contexto urbano atual da cidade como reas de trabalho, comrcio e lazer, cuja ocupao em termos de desenvolvimento de atividades e circulao de pessoas fica restrita ao perodo diurno e aos dias teis da semana, exceto no caso dos eventos culturais e shows que acontecem no Largo da Rua Chile, na Casa da Ribeira e no Teatro Alberto Maranho, principais marcos culturais da rea.

De acordo com CORTEZ (1996), em seu estudo que enfoca a anlise do Comportamento Ambiental no bairro da Ribeira como instrumento balizador para a elaborao de uma proposta de reabilitao para a rea, o cotidiano do bairro est imerso no funcionalismo prtico de vai-e-vem de nibus de linha, bem como, na pressa dos transeuntes que passam por l a fim de resolverem seus problemas...(CORTEZ, 1996)

SOUZA (2000) em seus estudos tambm destaca o papel articulador que o bairro oferece para a mobilidade urbana local. O bairro distinguido preponderantemente dos demais pela sua localizao no stio urbano e por comportar em potencial a concentrao dos sistemas de transportes que so capazes de operar na circulao inter-urbana e intra-urbana do municpio.

O bairro apresenta ainda um claro privilgio em relao acessibilidade, no s conjugando a maior parte das linhas de nibus da cidade, mas tambm, contando com as linhas de trens intermunicipais e balsas e barcos, os quais fazem a ligao com a Zona Norte da cidade.(SOUZA, 2000, p. 4)

Neste nterim, o mesmo trabalho refora o consenso de que o bairro- rea histrica da cidade, carece de medidas e intervenes cujos resultados possam alcanar a revitalizao da rea e sua renovao urbana, tornando-o mais dinmico e mais integrado rotina e programao da cidade.

Neste ensejo, vale ressaltar que as discusses envolvendo a restaurao, a preservao ou revalorizao do passado das cidades vm ganhando um crescente espao nos discursos e projetos voltados para os centros histricos. Recuperar o que sobrou das paisagens urbanas anteriores tem sido um objetivo perseguido pelos urbanistas, cuja justificativa a necessidade de preservar a memria urbana. (ABREU, 1997)

Ainda nessas discusses de preservao de reas antigas, como tendncias contemporneas e universais, afirma Damsio:

Agora, sob a gide da preservao do patrimnio cultural urbano, velhas reas deterioradas sofrem reformulaes, recebem novos usos, cumprem novas funes. O tema renovao urbana constante em exposies, palestras, workshops e concursos. (Damasio, 1997 in Pesavento; Souza(orgs), 1997, p. 155)

Com a preocupao relacionada aos centros histricos, foram realizadas diversas reunies em nvel internacional com o propsito de orientar sua preservao. Nas reunies, vrias Cartas foram redigidas e, da preocupao inicial em preservar apenas imveis de grande valor histrico, chegou-se preservao de imveis modestos (Carta de Veneza, 1964), preservao em funo do turismo (Normas de Quito, 1967), participao da populao na preservao dos centros histricos (International Council of Monuments and Cities, 1972), e, a partir da Reunio para la preservao de los centros histricos (1977), da Interamericana de Conservacin del Patrimnio Artstico (1978), da Carta de Machu-Picchu (1978) e da Carta Italiana do restauro (1989), se recomenda a melhoria da qualidade de vida da populao, atravs da revitalizao, reabilitao e usos adequados dos imveis a serem preservados, podendo garantir a sobrevivncia dos centros histricos. (Oliveira, Salcedo; 2000, p. 343 e 347)

Na esfera nacional, as manifestaes pertinentes s novas formas de pensar e tratar as reas histricas a partir de aes que coadunem as emergentes tentativas de dinamiz-las com a tambm emergente necessidade de preservao da memria urbana que as mesmas representam foram expressas oficialmente e em termos legais pela primeira vez com o Decreto Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937, na gesto do ento presidente Getlio Vargas. Formulada por Rodrigo Melo Franco de Andrade, o referido documento legal orienta a organizao e proteo do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, sendo composto por 30 (trinta) artigos que tm atravessado dcadas ainda em vigor. (Morel; et al, 1992)

A partir do pargrafo nico do Art. 3 desta Lei, so prescritas as atribuies do SPHAN- Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, posteriormente denominado IPHAN- Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional- rgo ento criado para administrar o processo de tombamento e prover a proteo dos bens de valor histrico identificados.

No mbito estadual, o decreto Lei n. 8111 de 21 de maro de 1981 o instrumento que regulamenta a proteo do Patrimnio do Rio Grande do Norte, expressando em seus artigos e sanes as preocupaes e reflexes sobre a importncia das reas histricas para o reconhecimento e manuteno da memria/identidade potiguar.

As mesmas preocupaes comearam ento a se evidenciar nos instrumentos legais que orientam o uso e ocupao do solo municipal. neste campo de abrangncia que o bairro da Ribeira de reconhecido valor histrico- passa a ser tratado de forma diferenciada na legislao urbanstica municipal a partir de 1984.

A partir das diretrizes gerais dispostas no referido Plano Diretor, foram sancionadas outras Leis- na esfera municipal- que prescrevem sobre o uso, ocupao e especificidades do patrimnio histrico local. Encontram-se, portanto, abrangendo essa temtica e as correlaes que envolvem o bairro da Ribeira as seguintes leis: Lei da Preservao Histrica (1990), Zona Especial Porturia (1992), Operao Urbana Ribeira (1997), Projeto Djalma Maranho (1997) e ainda, aprovada mais recentemente, a lei que dispe sobre Preservao e Tombamento (2000).

Com isso, refletindo essa tendncia de novos valores sociais, o bairro da Ribeira tem passado, nos ltimos anos, por vrios movimentos voltados para a preservao, restaurao e revitalizao de seus elementos e de seu conjunto como um todo. Pautadas nas diretrizes legais, inmeras propostas de interveno urbanstica arquitetnica que sugerem, atravs do planejamento e desenho urbanos, medidas capazes de promover a atrao populacional para o antigo centro de Natal de modo a garantir ao mesmo tempo a preservao da rea tm se revelado tanto na iniciativa do poder pblico municipal- atravs dos trabalhos desenvolvidos na SEMURB (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Urbanismo) como em produes acadmicas atravs do Departamento de Arquitetura da UFRN, principalmente. Algumas reflexes quanto a viabilizao e as iniciativas de revitalizao do bairro da Ribeira j efetivadas sero abordadas em enfoques posteriores, no que tambm se revelar a correlao entre os dispositivos legais e as intervenes at aqui propostas ou mesmo j realizadas.

FOTO 02 Vista da Rua Chile. Edificaes do sculo passado.

FONTE: Miz Dias, 2001.

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FOTO 01 - Vista do Rio Potengi e embarcaes atracadas.

FONTE: Miz Dias, 2001.

FOTO 03 Ponte do Riacho, situada prximo Rodoviria Velha.

FONTE: Miz Dias, 2002.

FOTO 04 Largo da Capela do Senhor Bom Jesus das Dores

FONTE: Miz Dias, 2001.

FOTO 05 Avenida Junqueira Aires. Ao fundo, o bairro da Ribeira.

FONTE: Miz Dias, 2001.

FOTO 06 Cais 10 de Junho, na Avenida Tavares de Lira.

FONTE: Miz Dias, 2001.

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FOTO 07 Antigo Palcio do Governo, situado na Rua Chile.

FONTE: Miz Dias, 2001.

FOTO 08 Teatro Alberto Maranho, situado na Praa Augusto Severo.

FONTE: Miz Dias, 2001.

FOTO 09 Antigo Grande Hotel. Uso atual: Frum Estadual.

Fonte: Miz Dias, 2001.

FOTO 10 Prdios abandonados e Depsitos na Rua Chile / Ribeira

FONTE: Miz Dias, 2001

FOTO 11 Vista Geral da Antiga Rodoviria. Atual Terminal de nibus Urbano/ RibeiraFONTE: Miz Dias, 2001

UM ESPAO MULTIMODAL

NO BAIRRO DA RIBEIRAMIZ CILAYNE FERNANDES DIAS ............................................................ TRABALHO FINAL DE GRADUAO

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