4-A idia de preservao e a Legislao Municipal
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3.4. A idia da Preservao na Legislao Municipal
Refletindo a tendncia dos novos valores sociais voltados para a
importncia da preservao da memria social, dispositivos legais que
orientam as medidas de ao direcionadas para o uso e ocupao do solo
urbano local identificam o bairro da Ribeira como rea que requer
tratamentos especiais e especficos s suas particularidades como
stio histrico de Natal.
Portanto, entre os instrumentos legais do Municpio destacam-se,
para efeito de discusso do objeto de estudo, as que abrangem a
temtica do patrimnio e suas correlaes, numa abordagem que enfatiza
o bairro da Ribeira, que passou a ser tratado de forma diferenciada
desde 1984.
O Plano Diretor de Natal, enquanto principal instrumento da
Poltica Urbana e Lei de uso e ocupao do solo, teve sua primeira
verso no ano de 1984, atravs da Lei n 3175/84. As diretrizes e
orientaes normativas ditavam uma ocupao do solo urbano a partir de
um zoneamento que dividia o territrio municipal em zonas de usos e
funes urbanas, no que o bairro da Ribeira estava inserido na ZCC
Zona de Comrcio Central, reforando as caractersticas de sua ocupao
inicial. Alm disso, o destaque para o bairro se dava ainda para a
sua delimitao como rea de interesse paisagstico e histrico, sendo
identificado como parte da Zona Especial de Preservao Histrica
(ZEPH). A criao da ZEPH nos termos do Plano Diretor de 1984
significa o marco da idia de preservao do patrimnio histrico do
municpio de Natal. Essa Zona, contudo, foi regulamentada apenas em
1990, atravs da Lei 3942/90. Os limites definidos para a ZEPH
abrangem os stios histricos dos bairros da Ribeira e Cidade Alta,
os quais, sendo as primeiras reas de ocupao da cidade, guardam
registros da histria e da memria do povo potiguar.
A Lei n 3.942, de 9 de julho de 1990 insere o bairro da Ribeira
e parte do bairro da Cidade Alta como reas de valor histrico-
cultural de grande significado para o patrimnio da cidade. Foi
criada para atender aos objetivos e diretrizes gerais da Lei
3175/84, orientando preservao de prdios e stios de valor histrico,
arquitetnico, cultural e paisagstico, como mencionado
anteriormente. Assim, estabelece prescries urbansticas especficas
quanto ao uso (as atividades urbanas nesta parte da cidade so
distribudas de acordo com subzonas de predominncia residencial,
institucional, comercial, etc), gabaritos mximos (edifcios com at
7,5 metros de altura ou 02 pavimentos em determinadas reas e 12
metros ou 04 pavimentos noutras reas), densidade demogrfica (so
definidos graus diferenciados de densidade, podendo at 550hab/ha e
o coeficiente de aproveitamento chega at 5,5), recuos e outros
ndices urbansticos diversos.
Em 1994 foi aprovado um novo Plano Diretor para a cidade,
regulamentado pela Lei 07/94 e j reformulado pelas Leis 022/99 e
027/00. Neste, as diretrizes para a ocupao do solo urbano so
norteadas por um zoneamento baseado na intensidade de ocupao,
objetivando compactuar a multiplicidade de uso e da ocupao do solo
em todo o territrio municipal com a infra-estrutura instalada e as
caractersticas fsico-ambientais e sociais de cada bairro. Assim,
busca garantir um uso socialmente justo e ecologicamente
equilibrado do seu territrio (PMN, 1994: art.1). O zoneamento
baseado na intensidade de ocupao traduzido pela diviso do municpio
em trs grandes zonas: Zona de Adensamento Bsico (para a qual os
parmetros urbansticos de uso e ocupao so iguais para todos os
bairros), Zona Adensvel (para a qual so admitidos alguns parmetros
acima dos bsicos) e Zona de Proteo Ambiental, compreendida como a
rea na qual as caractersticas do meio fsico restringem o uso e a
ocupao, visando proteo, manuteno e recuperao dos aspectos
paisagsticos, histricos, arqueolgicos e cientficos. (PMN, 1994, p.
3). (FIGURA 05)
Neste macrozoneamento, o bairro da Ribeira encontra-se como
componente da Zona Adensvel, estando passvel de receber ndices de
ocupao acima dos parmetros bsicos (densidade de ocupao at
300-350hab/ha e coeficiente de aproveitamento do terreno- at 3,5).
De acordo com o relatrio tcnico do estudo de viabilidade de
implantao do transporte hidrovirio em Natal, em termos de
configurao urbana, essas disposies legais credenciam o bairro para
o estabelecimento de um cenrio com ndices de verticalizao e
populacionais elevados (...) e favorecem a implantao de massas
edificadas maiores e muito superiores aos espaos vazios. (MEDEIROS,
et all, 2001).
Em paralelo, contudo, as caractersticas fsico-ambientais e
morfolgicas do bairro o inserem ainda na ZPA- Zona de Proteo
Ambiental e na rea Especial de Operao Urbana.
Como integrante da ZPA, a Ribeira se destaca com seus elementos
naturais e paisagsticos e se insere nas duas subzonas que a
delineiam : subzona de preservao e de conservao.
Como parte da subzona de preservao, o bairro se destaca pelos
seguintes componentes:
vegetao de mangue (...); nascentes e faixas marginais de proteo
de guas superficiais; (...); florestas e demais formas de vegetao
situadas nas nascentes, mesmo nos chamados olhos dgua, seja qual
for sua topografia; (...); reas que abriguem exemplares raros
ameaados de extino ou insuficientemente conhecidos, da flora e da
fauna, bem como aquelas que sirvam como local de pouso, abrigo ou
reproduo da espcies; (...); (PMN, 1994, p.3)
J a subzona de conservao abriga os seguintes elementos do
bairro: o esturio de Potengi; (...); rea de Interesse Paisagstico e
Histrico; (...); reas verdes pblicas; praas; salinas margem
esquerda do Rio Potengi; componente do Esturio; e a Zona Especial
de Preservao Histrica definida pela Lei n3942, de 17 de julho de
1990, Cidade Alta e Ribeira. (PMN, 1994, p.3).
Como j foi mencionado, o Plano de 1994 identifica ainda as reas
Especiais, referidas em termos legais desde a Lei 3175/84. Para
essas reas so indicadas prescries urbansticas diferenciadas em funo
de suas peculiaridades, que primam, sobretudo, pelo controle mais
rigoroso de ocupao do solo em reas que representam os patrimnios
ambiental e cultural da cidade. As reas Especiais so, portanto,
definidas como pores da Zona Urbana situadas em Zonas Adensveis ou
no, com destinao especfica ou normas prprias de uso e ocupao do
solo, compreendendo: I- rea de Controle de Gabarito; II- rea de
Operao Urbana; III- reas Especiais de Interesse Social. (Decreto
Lei 07,1994:art. 22) (FIGURA 06)
E aqui, o bairro da Ribeira, juntamente com o bairro de Cidade
Alta, novamente destacado como rea de Operao Urbana- OUR, cuja
regulamentao especfica foi definida em 1997. A partir de ento, a
ocupao do solo na Ribeira observa tambm as prescries urbansticas
definidas nessa nova Lei. A Operao Urbana Ribeira (Lei n 4.932, de
30 de dezembro de 1997) compreende um conjunto de intervenes
coordenadas pela Prefeitura, (...), com a participao do Poder
Pblico, dos proprietrios, moradores e usurios da rea, visando
recuperao e revitalizao do bairro da Ribeira. (PMN, 1997, art. 1).
Assim, tem como objetivos
a promoo do desenvolvimento urbano; a melhoria da qualidade de
vida dos seus moradores e usurios; o incentivo ao uso residencial,
s atividades tursticas, culturais e artsticas e a valorizao do
patrimnio histrico, artstico, cultural, arquitetnico e urbanstico,
dados mediante a melhoria da infra-estrutura local e da qualidade
ambiental da rea. (PMN, 1997, art. 2).
Para tanto, enquanto lei de controle urbanstico, a OUR contm
diretrizes urbansticas especficas para trs sub-setores do bairro. A
eficcia da aplicao dessas regras, entretanto, est apoiada (e
depende) da observncia de um modelo de gesto que lhe d suporte.
Este, como estmulo instalao de novas atividades na rea, prev a adoo
de incentivos fiscais e dos instrumentos de gesto (estudos de
impacto ambiental, transferncia do potencial construtivo) indicadas
pelo Plano Diretor, criando condies para o estabelecimento de
relaes de parceria e um maior compromisso social na implantao das
intervenes
Com a OUR, o controle do uso e ocupao do solo do bairro obedece
a condies normativas diferenciadas, de acordo com a caracterizao
dos sub-setores definidos nesta lei. A Ribeira aqui dividida em rea
de Recuperao Histrica (ARH), rea de Renovao Urbana (ARU) e rea
Adensvel (AD). (FIGURA 07) Esta ltima abrange toda rea do bairro no
compreendida pelo permetro de abrangncia das ARH e ARU, ficando
submetida aos ndices e prescries estabelecidas para os bairros
classificados como Zona Adensvel no macrozoneamento do Plano
Diretor de Natal (permisso de ocupao com ndices superiores aos
bsicos, assim estabelecidos: densidade de ocupao at 300-350hab/ha e
coeficiente de aproveitamento do terreno- at 3,5)
Assim, a regio definida como rea Adensvel da Ribeira admite uso
e ocupao com menos restries edilcias e compreende a frao que limita
o bairro com a Cidade Alta. Juntamente com a ARU, a AD se
diferencia por oferecer para o bairro condies viveis e favorveis de
expanso e crescimento.
A ARU, por sua vez, revela uma paisagem que, por um lado,
evidencia um conjunto edificado em deteriorao e, por outro,
apresenta condies de infra-estrutura que propiciam, pelo tamanho
dos lotes, traado das vias, estoque de reas para ocupao e renovao,
dentre outros fatores, a implantao de novas atividades e novos
equipamentos urbanos na rea. nessa frao do bairro que se admite
edificaes com at 12 metros de altura ou 04 pavimentos.
J a ARH, guardando a maioria dos bens do patrimnio histrico,
arquitetnico e urbanstico local, est guarnecida por rgidos ndices
de prescries urbansticas para a ocupao da rea ou reforma em suas
edificaes que alterem a paisagem do patrimnio da cidade. A frao
compreende toda rea entre o Rio Potengi e a Avenida Duque de
Caxias, estando protegida tambm pela legislao que regulamenta a
Zona Especial de Preservao Histrica.
Assim, conforme observou MEDEIROS, et all (2001), a Lei OUR
estabelece as regras urbansticas e jurdicas para o projeto da
Operao Urbana previsto no Plano Diretor, orientando-se por um
conjunto de mecanismos de gesto do espao urbano que sinalizam para
uma rica multiplicidade de usos na rea, a participao permanente dos
atores sociais na definio e implementao das aes e um efetivo
controle dos recursos aplicados no projeto. possvel perceber,
ainda, que os parmetros e as diretrizes gerais definidas na OUR
estimulam um processo de reabilitao do centro urbano, combinando-se
a adequao das condies para edificar com as limitaes ambientais e
histrico-culturais da rea, resguardando-se principalmente a defesa
do patrimnio arquitetnico e urbanstico. (MEDEIROS, et al, 2001)
Vale salientar, ainda, a existncia de outras leis urbansticas
especficas definidas a partir do Plano Diretor, que se aplicam ao
bairro da Ribeira. Essas Leis definem prescries que primam pela
preservao e conservao das caractersticas histricas do bairro ou de
suas peculiaridades fsico-ambientais e scio-econmicas. Destas,
destaca-se a Lei 4069/92 da ZEP- Zona Especial Porturia , que
define usos e prescries urbansticas para a rea de entorno do Porto
existente ao longo do Rio Potengi e tem como objetivo assegurar
condies adequadas para o desenvolvimento de atividades porturias
bem como garantir a preservao dos assentamentos existentes na
rea.
neste cenrio, de elemento diferenciado na legislao urbana local,
que se enquadra a rea de estudo do objeto em desenvolvimento.
De todos os dispositivos apresentados e para efeito de
incentivos legais s intervenes de reabilitao urbana no bairro da
Ribeira e de instrumentos operacionais que orientam a recuperao
urbana da rea, a Operao Urbana Ribeira se apresenta como a mais
significativa. Contudo, a expresso de seus objetivos para a
melhoria do espao urbano est condicionada uma administrao eficaz
dos instrumentos de gesto e dos conflitos de interesse que
viabilize a parceria entre atores privados e pblicos, de modo a
possibilitar a concretizao dos projetos urbansticos para a rea. O
estmulo iniciativa privada inferida pela prpria lei e tida como um
caminho para a efetivao dos projetos. Entretanto, em termos de
projetos voltados para o bairro da Ribeira, o que se tem observado
so medidas de aes pblicas dissociadas de um incentivo parceria ou
qualquer relao negociada com a iniciativa privada. Como resultado,
as tentativas de renovao urbana na Ribeira tm se apresentado
insuficientes ou ineficientes, conjugando a permanncia de um cenrio
de abandono na rea urbana.
A seguir, so apresentados os projetos institucionais j
desenvolvidos ou em andamento para rea, no que ser destacado a
correlao entre seus resultados e as prescries urbansticas dispostas
atravs dos instrumentos legais de gesto municipal.
UM ESPAO MULTIMODAL
NO BAIRRO DA RIBEIRA
MIZ CILAYNE FERNANDES DIAS
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TRABALHO FINAL DE GRADUAO
