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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música Licenciatura em Música Um estudo de caso sobre o contexto de ensino- aprendizagem de um aluno com deficiência visual na Escola de Música Casa Talento Jaime Gomes da Rocha Natal/RN Dezembro/2015

Um estudo de caso sobre o contexto de ensino- aprendizagem ... · Um estudo de caso sobre o ... observar esse aluno tanto na aula de teoria musical Braille quanto no ... violoncelo,

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Escola de Música

Licenciatura em Música

Um estudo de caso sobre o contexto de ensino-

aprendizagem de um aluno com deficiência visual na

Escola de Música Casa Talento

Jaime Gomes da Rocha

Natal/RN

Dezembro/2015

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Escola de Música

Licenciatura em Música

Jaime Gomes da Rocha

Um estudo de caso sobre o contexto de ensino-

aprendizagem de um aluno com deficiência visual na

Escola de Música Casa Talento

Trabalho de Monografia apresentado ao Curso de

Licenciatura em Música da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN – como requisito para

obtenção do título de graduado em Música.

Orientador: Profª. Ms. Catarina Shin Lima de Souza

Co-orientador: Profº. Esp. João Gomes da Rocha

Natal/RN

Dezembro/2015

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Escola de Música

Licenciatura em Música

Um estudo de caso sobre o contexto de ensino-

aprendizagem de um aluno com deficiência visual na

Escola de Música Casa Talento

Trabalho de Monografia apresentado ao Curso de

Licenciatura em Música da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN – como requisito para

obtenção do título de graduado em Música.

Aprovada em: ___ /___/____

Profª. Ms. Catarina Shin Lima de Souza

UFRN

Orientadora

Edbergon Varela (Banca)

UFRN

Avaliador

Múcio Albuquerque (Banca)

Instituição

Avaliador

Natal/RN

Dezembro/2015

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à minha mãe pelo fato de ter trabalhado

incessantemente para poder me dar educação, ao meu pai (in

memoriam) que estará sempre na minha memória, herdei dele o gosto

pela música, e à minha linda namorada que sempre me deu e tem me

dado apoio em tudo que faço.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu Deus, criador de todas as coisas, digno de toda

honra, o qual me deu forças para seguir em frente e não desistir dos meus objetivos.

À minha mãe Maria Rosineide e ao meu pai José Renato da Rocha pela vida que

me proporcionaram, e aos meus irmãos pelos momentos bons vividos.

À minha namorada Thais por sempre acreditar em mim e me apoiar nos momentos

mais adversos da minha carreira.

Ao meu irmão João Gomes por ter me incentivado a estudar música e por ter me

ajudado na realização desse trabalho.

À minha professora e orientadora Catarina Shin por ter disponibilizado seu tempo

para me orientar e por despertar em mim o gosto pela educação musical para pessoas com

deficiência visual.

À Escola de Música Casa Talento que me ofereceu a possibilidade de aprender

música.

Aos professores João e Aílson pelas suas contribuições tão necessárias para a

conclusão desse trabalho.

Aos meus melhores amigos, Eduardo, Thiago, Paulo Sérgio, Cleiton, Ranieres,

Jairton, e amigas Raphaela, Thalita, Júlia, Kika, Dorinha, pelos momentos de alegria e

companheirismo vivenciados ao longo desse tempo.

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EPÍGRAFE

Cada professor de música é um mediador entre os seus alunos e o

mundo musical. (VIVIANE LOURO, 2012, p. 17)

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RESUMO

Este trabalho trata-se de um estudo de caso realizado na Escola de Música Casa Talento

sobre o ensino de música para pessoas com deficiência visual. A partir desse estudo

busca-se refletir sobre o contexto do processo de ensino-aprendizagem de um aluno com

baixa visão em um ambiente de ensino especializado e a importância de se ter um espaço

voltado para o atendimento qualificado e pessoas capacitadas para ensinar música para

pessoas com deficiência visual. Para isso, foi necessário conhecer o que levou o aluno a

estudar música, entender o papel da escola nesse processo, saber dos professores as

contribuições que essa experiência tem proporcionado para a formação profissional do

professor de música e os desafios enfrentados dentro da sala de aula. Finalizando, expõe

o que a escola fez e tem feito para que esse ensino possa ser difundido. Como metodologia

foram utilizadas a observação não participante, pesquisa bibliográfica e a entrevista

semiestruturada.

Palavras-chave: deficiência visual; processo de ensino-aprendizagem de música;

inclusão; escola de música.

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ABSTRACT

This work it is case study conducted at the music school house talent on music education

for visually impaired people. From this study we seek to reflect on the context of the

teaching-learning process of a student with low vision in a specialized learning

environment and the importance of having a space dedicated to the skilled care and skilled

people to teach music to people visually impaired. For this, we need to know what led the

student to study music, to understand the role of schools in this process, knowledge of

teachers the contributions that this experience has provided with regard to vocational

training music teacher and the challenges faced within the classroom. Finally, it exposes

what the school has done and has done so that this teaching can be widespread. The

methodology we used the non-participant observation, literature and semi-structured

interview.

Keywords: visualy impaired; music teaching-learning process; inclusion; music school.

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LISTA DE SIGLAS

EMCT – Escola de Música Casa Talento.

IBC – Instituto Benjamin Constant.

EMUFRN – Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

NEE – Necessidades Educativas Especiais.

IERC – Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos.

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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SUMÁRIO

1 – Introdução ................................................................................................................ 10

2 – Metodologia.............................................................................................................. 12

2.1 – Caracterização do local de pesquisa ................................................................ 12

2.2 – Estudo de caso...................................................................................................13

2.3 – Público alvo: alunos e professores ...................................................................15

2.4 – Instrumentos de coleta de dados.......................................................................15

3 – O cego e sua relação com a música..........................................................................18

3.1 – Escola inclusiva................................................................................................22

3.2 – A formação do professor para inclusão ..........................................................23

3.3 – Aulas de Musicografia Braille .......................................................................26

3.4 – Aulas de contrabaixo elétrico..........................................................................29

4 – Entrevistas .............................................................................................................32

Considerações finais.....................................................................................................44

Referências ..................................................................................................................47

Anexos .........................................................................................................................49

Apêndices ....................................................................................................................56

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1. INTRODUÇÃO

Ao entrar no curso de Licenciatura em 2011, em hipótese alguma imaginei que

um dia fosse surgir o interesse de trabalhar com educação inclusiva, na verdade nem

imaginava que existisse música para pessoas com algum tipo de deficiência, isso era

utopia, impossível de ao menos discutir sobre tal assunto. À medida que novas

possibilidades iam sendo descobertas ficava mais claro que era possível e que existia de

fato pesquisadores, autores, professores, trabalhando nessa nova perspectiva de ensino. O

segundo passo era justamente entender como funcionava esse processo. E a área que

influenciou a vontade de querer estudar mais a fundo o tema foi o ensino de música para

pessoas com deficiência visual.

Segundo Souza (2010), no passado a sociedade tratava as pessoas com

deficiência com desprezo, preconceito e negligência, elas não eram consideradas como

sendo parte integrante de uma comunidade ou determinado grupo. Viviam às margens da

sociedade, viviam encarceradas dentro do seu próprio mundo, afastadas de qualquer

contato com o mundo externo. Situação essa que felizmente tem sido mudada. Com o

passar dos anos algumas pessoas foram abrindo os olhos e começaram a refletir e pensar

em meios que pudessem minimizar essa visão preconceituosa até então constituída. Nos

dias de hoje já se pode ver uma mudança de pensamento considerável em relação a isso,

as oportunidades direcionadas para a inclusão de pessoas com deficiência nos variados

espaços públicos, gradativamente tem surgido, contribuindo assim, para a quebra desse

paradigma arcaico que distanciava e impedia o acesso às mesmas prerrogativas que os

outros (sem deficiência) tinham. E essa realidade se evidencia, por exemplo, nas leis

promulgadas no que diz respeito à educação inclusiva, que garantem o acesso e proíbe a

discriminação por parte das escolas regulares em não receber os alunos com Necessidades

Educativas Especiais (NEE).

Dentro dessa temática, o presente trabalho investigou o contexto do ensino de

música de um aluno com deficiência visual, ou seja, saber o que o levou a estudar música,

observar esse aluno tanto na aula de teoria musical Braille quanto no ensino do

instrumento (contrabaixo elétrico), ver como os professores ministravam as aulas e obter

informações da Escola de Música Casa Talento sobre o que tem sido feito para que esse

trabalho continue sendo desenvolvido.

O interesse em pesquisar sobre essa área surgiu na verdade por um acaso, pois

até 2014 só tinha ouvido falar sobre alguns trabalhos voltados para esse tema, mas sem

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qualquer pretensão de escrever sobre o assunto. Foi através da disciplina “Musicografia

Braille I”, componente curricular oferecido pelo Curso de Licenciatura em Música pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que despertou em mim o gosto

pela área, inclusive participando do Curso de Extensão “Esperança Viva, ” onde

alavancou mais ainda a ideia de produzir trabalhos sobre o ensino de música para pessoas

com deficiência visual. No primeiro semestre de 2015 continuei com os estudos com a

disciplina “Musicografia Braille II” também oferecida pelo curso de graduação. E nessa

disciplina em especifico, tive a oportunidade de lecionar musicografia Braille para a

turma do “Esperança Viva”.

Essa experiência e contato com a musicografia Braille renderam dois trabalhos,

um apresentado no “II Encontro sobre Ensino de Música para Pessoas com Deficiência

Visual” realizado pela UFRN e mais recentemente um trabalho apresentado na Semana

de Ciência, Tecnologia e Cultura (Cientec) também promovido pela UFRN, ambos

fazendo uma abordagem sobre o relato de experiência das práticas desenvolvidas em sala

através dessas disciplinas. A experiência adquirida atrelada ao gosto pelo ensino de

música para pessoas com deficiência visual e o interesse em saber como funciona esse

ensino em um ambiente especializado foi o que motivou a realização desse trabalho, sem

falar que isso é algo muito recente na área de educação musical e pouco pesquisado.

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2. METODOLOGIA

2.1 Caracterização do local da pesquisa

Para a realização desse trabalho optamos por utilizar além da pesquisa

bibliográfica, a pesquisa semiestruturada tanto com os alunos quanto com os professores

e também a observação não participante de aulas de um aluno com deficiência visual na

Escola de Música Casa Talento que está localizada no bairro Lagoa Nova. É uma escola

que atua há 15 anos na cidade do Natal-RN, desenvolvendo um trabalho com o ensino

especializado em música. Contribuindo para a formação musical e social de crianças e

jovens em situação de vulnerabilidade social, assim como adultos que desejam aprender

música em caráter ocupacional.

A Casa Talento foi inaugurada em 06 de novembro do ano de 2000, por

intermédio da Associação Cultural Talento Suzuki, uma organização de cunho não-

governamental e sem fins lucrativos que teve como idealizadora a maestrina Marcia Pires.

Atualmente a Casa Talento oferece o ensino básico de música, nas seguintes modalidades:

violino, viola, violoncelo, bateria, guitarra, teclado, violão, contrabaixo elétrico como

também aulas de musicalização infantil, prática de conjunto, musicografia Braille, teoria

musical, piano e canto.

A inclusão de pessoas com deficiência visual na Casa Talento surge a partir do

curso de musicografia braile (sistema de notação musical voltado para músicos com

deficiência visual) desenvolvido em 2009, inicialmente com alunos de teclado e flauta.

Desde então a escola vem desenvolvendo esse trabalho. Com o passar do tempo a procura

por esse público cresceu consideravelmente, talvez pelo fato dessas pessoas estudarem no

Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos (IERC) que ficava próximo da antiga sede

da Casa Talento no Alecrim. A partir daí os desafios de como lidar com esses alunos

surgiram, necessitando-se de um planejamento por parte da escola no que diz respeito à

estrutura física e capacitação do corpo docente.

Em 2010 a iniciativa da instituição de se qualificar e proporcionar o ensino de

música para pessoas com deficiência visual rende o primeiro trabalho, realizado por

Rosendo (2010) com o seguinte tema: Musicografia Braille e sua importância na

inclusão de pessoas com deficiência visual na educação musical. O trabalho com pessoas

com essa especificidade vem sendo desenvolvido e os resultados significativos têm

acontecido, como podemos perceber no segundo trabalho realizado por Rocha (2015) que

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aborda a seguinte temática: O ensino de violão para pessoas com deficiência visual:

dedilhando a musicografia Braille.

Uma das iniciativas da escola em implantar o ensino para pessoas com

deficiência visual aconteceu com o I Curso de Capacitação em Educação Musical

Inclusiva para Professores da Casa Talento. A instituição entendeu que para oferecer aos

alunos um ensino de música qualificado era preciso dar as condições necessárias para tal.

Todos os professores tiveram que conhecer e aprender a utilizar o sistema de notação

Braille. Com o aumento da procura de pessoas com deficiência visual em estudar música

viu-se a necessidade de oferecer uma disciplina que favorecesse não só os alunos dos dois

instrumentos oferecidos, mas que atendesse a qualquer aluno com essa especificidade na

escola. As aulas especificas de musicografia Braille começaram a ser ministrada em 2015

como aulas de teoria musical, permitindo que tanto alunos como professores interagissem

por meio da notação musical em Braille.

2.2 Estudo de caso

Para essa pesquisa optou-se por um estudo de caso no contexto de uma escola

de música onde irei investigar como se desenvolve o processo de ensino-aprendizagem

de um aluno com baixa visão (aluno de contrabaixo elétrico). Esse tipo de pesquisa vem

sendo utilizado há algum tempo em algumas áreas do conhecimento e sua origem se dá

na sociologia e antropologia que surge no final do século XIX e início do século XX,

tendo como principal propósito “realçar as características e atributos da vida social”

(ANDRÉ, 2005 p. 13). O estudo de caso se caracteriza também como um elemento de:

[...] investigação para se preservar as características holísticas e

significativas dos eventos da vida real tais como ciclos de vida

individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças

ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação em

alguns setores. (YIN, 2001 p. 13).

Busca-se investigar o que acontece em um determinado ambiente mantendo a

veracidade dos fatos sem que haja distorções ou tendenciosidade na coleta de dados, o

que poderá influenciar o resultado e as conclusões da pesquisa. Os pesquisadores devem

estar atentos quanto aos cuidados que precisam seguir ao se iniciar um trabalho tomando

como estratégia o estudo de caso. Segundo (GIL, 2008), esse modelo de pesquisa

caracterizado como um estudo minucioso e exaustivo de um objeto ou de poucos, objetiva

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o conhecimento amplo, aprofundado e detalhado de um determinado caso, realidade ou

contexto. O autor continua dizendo que:

O estudo de caso é um estudo empírico que investiga um fenômeno

atual dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o

fenômeno e o contexto não são claramente definidas e no qual são

utilizadas várias fontes de evidencias. (GIL, 2008 p.58).

Nessa perspectiva, entende-se que o estudo de caso seja mais apropriado quando

não se consegue esclarecer de imediato uma problemática, questionamentos, indagações,

ou seja, requer um estudo mais especifico, que leva um pouco mais de tempo para se

desenvolver, que envolve comprometimento, empenho, pesquisas e mais pesquisas por

parte dos investigadores.

Ainda discutindo sobre o conceito do estudo de caso Meireles et all (2010)

apontam que no estudo de caso há sempre o envolvimento de uma instancia em ação,

nesse caso deve-se ter bastante cuidado pelo fato desse conceito se constituir muito amplo

e poder assim, proporcionar equívocos nas conclusões. Nesse sentido, é necessário que

se conheça profundamente o universo desse método de pesquisa para que não ocorra

negligencia por parte do pesquisador e este permita que se aceite evidencias distorcidas

ou visões tendenciosas que influenciem o resultado e significado das descobertas e

conclusões dos fatos (YIN, 2001).

Esse método de pesquisa procura se aproximar da realidade de um determinado

caso, constrói-se uma relação próxima com o objeto a ser investigado, pois, os

investigadores terão que se familiarizar com o universo daquilo que será estudado, os

valores, o contexto, os costumes, as práticas, tudo que cerca e que caracteriza aquele

ambiente.

Segundo Yin (2001) o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa muito

abrangente. Ou seja, a utilização desse método poderá ser adotada quando o indivíduo

não consegue de forma imediata obter resultados e conclusões de situações complexas,

seja na área da música, administração pública, sociologia, antropologia, medicina, etc. É

preciso que os pesquisadores encontrem um meio de chegar aonde se quer e que esse

meio venha de uma maneira ou de outra, responder aquilo que se tenha objetivado. Como

também cita (SANTOS, 2015 p.12):

De modo geral, acontecimentos que não se compreende de maneira

imediata o seu processo, pode provocar questionamentos a respeito do

evento. Nesse sentido, possivelmente, indagações afloram no

pesquisador. Para cada questão há estratégias de pesquisa que se

adequam mais ao que se quer estudar.

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Assim, esse estudo de caso busca entender os fenômenos que fazem parte do

processo de ensino-aprendizagem de um aluno com deficiência visual que estuda o

contrabaixo elétrico e musicografia braile no contexto de um ambiente de ensino de

música especializado e contribuir para a inclusão social e acesso de pessoas com

deficiência visual promovendo o ensino de música para todos.

2.3 Público alvo: Aluno e Professores

O aluno, objeto de estudo desse trabalho, tem 23 anos e possui baixa visão que

com o passar dos anos foi se agravando fazendo com que hoje em dia venha a utilizar

óculos com 16 graus do lado direito e 14 do lado esquerdo. O interesse por estudar música

e mais especificamente em estudar o contrabaixo elétrico na verdade surgiu por acaso. O

que o aluno realmente queria era ter aula de violão, mas devido à falta de vagas para esse

instrumento optou pelo contrabaixo elétrico. E é através desse ensino que ele encontra

motivação para superar suas limitações.

Os professores responsáveis por mediar esse processo ministram aula de

Musicografia Braille onde o aluno aprende a utilizar a escrita musical e a aula especifica

do instrumento voltada para o estudo de técnicas. O professor da musicografia possui em

sua formação o Bacharelado em violão, Licenciatura em Música, especialização em

educação musical e está cursando o Mestrado em educação musical na Universidade

Federal do Rio grande do Norte (UFRN), e em relação ao professor que leciona o

instrumento, ele não concluiu o curso da graduação, mas atua na área da performance há

bastante tempo como instrumentista da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte.

Nesse aspecto investigarei como cada professor ministra sua aula no que se refere a

didática e metodologia, aquele que possui formação acadêmica e o que não possui.

2.4 Instrumentos de coleta de dados

Como instrumento de coleta de dados utilizarei a observação-não participante,

onde acompanharei o aluno em contextos distintos, observarei como ele se comporta na

sala de aula, como ele absorve os conteúdos, de que maneira o professor ministra as aulas,

que estratégias são adotadas pelo professor para lhe passar o conhecimento musical, mas,

sobretudo, sem em momento algum influenciar o processo de ensino.

A observação não-participante consiste num tipo de observação em que o

pesquisador se familiariza com a realidade, tem o contato com a mesma, presencia o que

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acontece em relação às práticas socioeducativas que regem aquele determinado ambiente.

Entretanto, não há o envolvimento direto do investigador, este torna-se uma espécie de

espectador, uma pessoa que foi acrescentada naquele contexto, mas que não participa

ativamente das decisões (LAKATOS, 2003). Isso não quer dizer que esse tipo de

observação seja um método que não possibilite o investigador obter resultados ou

conclusões significativas, como aponta Lakatos (2003 p. 193) “não quer dizer que a

observação não seja consciente, dirigida, ordenada, para um fim determinado. O

procedimento tem caráter sistemático.”

Para Gil (2008) a observação não-participante recebe também o nome de

observação simples, e diz que o pesquisador torna-se um personagem alheio a situação,

ou seja, ele se conserva afastado do que se passa. O autor continua dizendo que o

pesquisador se comporta mais como se fosse uma plateia que vai a um concerto para ver

um espetáculo. Mas também aponta as vantagens desse tipo de observação (GIL, 2008 p.

101):

Possibilita a obtenção de elementos para a definição de problemas de

pesquisas; favorece a construção de hipóteses acerca do problema

pesquisado; facilita a obtenção de dados sem querelas ou suspeitas nos

membros das comunidades, grupos e instituições que estão sendo

estudadas.

Para essa pesquisa serão realizadas oito observações das aulas de musicografia

braile e oito aulas de contrabaixo. O intuito dessa estratégia é de investigar se os dois

momentos distintos se relacionam, quero dizer se a Musicografia Braille tem contribuído

para o melhor aprendizado do aluno, isso diretamente implica saber se o professor do

instrumento faz uso dela ou não e por que.

Outro tipo de instrumento que será utilizado nesse trabalho é a entrevista

semiestruturada. A entrevista semiestruturada é uma conversa entre o investigador e o

investigado e que possibilita conhecer o contexto de cada indivíduo participante de um

caso, é através dela que o investigador se apropria da sua realidade, da situação atual em

que os participantes estão, e é através dela que podemos detectar algo que esteja implícito

e que possa ser esclarecido no decorrer da pesquisa. A entrevista semiestruturada surge a

partir de indagações e questionamentos que afloram na cabeça do entrevistador e que

permite obter “informações relevantes sobre determinado assunto ou tema” (COHEN &

MANION apud DEL BEN, 2001 p. 74).

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Esse tipo de entrevista permite que o pesquisador formule “novas questões com

o objetivo de buscar justificativas e esclarecimentos e de aprofundar qualitativamente as

respostas do entrevistado” (DEL BEN, 2001 p. 74). Essa é uma vantagem desse tipo de

entrevista, o entrevistador não se prende ou segue à risca um determinado roteiro,

dependendo do desenrolar da conversa, ele poderá construir ou levantar novos

questionamentos.

No que se refere à pesquisa bibliográfica Gil (2008) coloca que esse método se

baseia em materiais que já existem, geralmente são constituídos de livros, periódicos e

artigos científicos, para tal será dado ênfase nos artigos científicos publicados, teses,

dissertações e livros que contemplarão tanto o estudo e esclarecimento da Musicografia

Braille quanto o da inclusão social. O objetivo desse tipo de pesquisa segundo Lakatos

(2003) é fazer com que o investigador consiga examinar um determinado tema sob um

novo ponto de vista, sob uma nova perspectiva, possibilitando a partir daí chegar à novas

conclusões e não apenas repetir aquilo que já foi construído. A autora vai dizer que a

finalidade da pesquisa bibliográfica:

É colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito

ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferencias seguidas

de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer

publicadas, quer gravadas. (LAKATOS, 2003 p. 183).

A pesquisa bibliográfica atua como um facilitador naquilo que o pesquisador

quer desenvolver ou estudar, é um dos meios mais próximos que temos quando queremos

saber sobre algo que está distante da nossa realidade, nos possibilita ter uma visão com

uma amplitude maior do que se fôssemos realizar um trabalho de forma mais direta.

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3. A PESSOA CEGA E SUA RELAÇÃO COM A MÚSICA

Antes de começar a discutir sobre educação musical para pessoas com deficiência

visual, faz-se necessário traçar um breve histórico de como as pessoas com deficiência de

um modo geral eram vistas pela sociedade. Na Grécia antiga, mais precisamente na cidade

de Esparta, as pessoas que nascessem com algum tipo de deficiência eram eliminadas,

assim como comumente descartamos algo que consideramos inútil, aquilo que não serve.

Para os gregos a perfeição e a beleza física eram de estrema importância, aqueles que não

correspondessem as expectativas eram sacrificados, sem nenhum tipo de piedade, ou os

que conseguiam viver passavam sua vida afastado da sociedade, como bem coloca Souza

(2010, p. 27):

A sociedade considerava a pessoa com deficiência como um ser

“indesejado”, “um peso”, “um estorvo”, castigo dos deuses e, em casos

extremos, uma “aberração” da natureza. Era inimaginável que ela fosse

capaz de ter uma vida independente, de ser feliz, e ter um futuro em que

a sociedade pudesse se orgulhar dela.

Os primeiros relatos relacionados a uma educação que pudesse contemplar todos

os indivíduos, participantes de uma mesma comunidade, seja eles com ou sem

necessidades educativas especiais, surgi a partir da ideia de educação para todos, filosofia

desenvolvida por Jan Amos Comenius no século XVII (COMENIUS apud TUDISSAKI,

2015). De acordo com Tudissaki “Comenius defendia a ideia de escola enquanto

Instituição Social, a serviço de toda a comunidade. Acreditava ser necessário a criação de

uma escola para todos, inclusive para mulheres e pessoas com deficiências”.

(TUDISSAKI, 2015, p. 50)

A inserção de pessoas com qualquer tipo de deficiência na sociedade aconteceu

de uma forma bastante lenta e árdua, tendo que desmitificar preconceitos existentes, as

pessoas com algum tipo de deficiência eram estigmatizadas, taxadas de “aberrações”,

eram tidas como incapazes de desempenhar algum tipo de papel social. Diante do exposto,

esse trabalho torna-se importante, pois, mostrará o relevante avanço no tocante ao acesso

ao ensino, como pessoas ativas na sociedade e em especial abordarei a pessoa com

deficiência visual no âmbito da música.

No que diz respeito a relação da pessoa com deficiência visual com a música,

existe uma visão talvez equivocada, em pensar que essas pessoas tendem a ser excelentes

músicos ao estudar um determinado instrumento, “tal raciocínio se apoia na tendência

desses indivíduos a possuírem habilidades ligadas sobretudo à percepção e memória

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musical” (BONILHA, 2006, p. 14). Na verdade, as pessoas desprovidas de certo sentido,

nesse caso a visão, tende a desenvolver e utilizar outros meios de se comunicar com o

mundo. Nessa situação em especifico, a audição é um dos suportes indispensáveis na

aprendizagem dos alunos com deficiência visual, assim como o tato (para leitura de

Musicografia Braille). Por isso, deve-se tomar bastante cuidado quanto a esse

pensamento. O fato da pessoa não possuir o sentido da visão não garante que o indivíduo

será bem-sucedido ao estudar música, ou seja, a deficiência por si só não é suficiente para

justificar e afirmar que a pessoa com deficiência visual será um ótimo músico caso não

se dedique a ela. É necessário todo um processo que envolve uma gama de fatores, pois:

“o desenvolvimento de habilidades relacionadas à música está determinado por uma

multiplicidade de fatores de modo que a deficiência visual não bastaria para explica-lo.”

(BONILHA, 2006, p. 14).

Tudissaki (2015) em seu trabalho contribui nesse assunto comentando ser

comum a afirmação de que pessoas com esse tipo de deficiência tem uma relação especial

com a música, haja vista, ser uma arte em que as pessoas utilizam com mais constância o

ouvido, sendo a visão colocada em segundo plano. Nesse sentido segundo a autora a

música pode funcionar como um exercício prazeroso, corroborando com a socialização,

autoestima e a compreensão de outras áreas do conhecimento.

A música na vida das pessoas que possuem essa limitação atua como um agente

responsável por proporcionar oportunidades que possivelmente mostrará para o mundo

que todos são iguais. O que acontece é que cada um possui especificidades distintas em

relação aos outros, ou seja, cada um aprende, absorve, vivencia o processo de ensino de

formas diferentes. Para evidenciar a importância da música na vida das pessoas com

deficiência visual, Coutinho (2010) desenvolveu um trabalho no Instituto Benjamin

Constant (IBC) que teve como principal objetivo uma intervenção positiva no âmbito

social da vida deles, que devido a perda da visão já adultos, muitos deles encontram-se

em um estado de depressão e isolamento. O autor reforça sua ideia dizendo que, baseado

no quadro da realidade que cada aluno apresenta (contexto), buscou-se fazer uma

abordagem não só do aprendizado musical, mas uma abordagem que também

contemplasse o lado social.

Outro aspecto importante e que vale apontar é que a música pode funcionar como

uma aliada para as pessoas com deficiência visual no processo de inclusão na sociedade,

que requer um trabalho em conjunto que envolve o aluno, o professor e a instituição.

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Os alunos com deficiência visual tem buscado na música um meio de

estarem inseridos no convívio social, e até mesmo como opção

profissional, não sendo raro ver pessoas com essa deficiência usando a

música como elemento transformador. (ROCHA, 2015, p. 18).

Percebe-se então, que a música tem desempenhado um importante papel na vida

de pessoas com deficiência visual, seja no sentido de reabilitação educacional, inclusão

social, caráter ocupacional, profissionalização ou como uma fonte de superação,

mostrando para si mesmo a capacidade que a própria pessoa tem em superar tal barreira.

O ensino de música para pessoas com deficiência visual na atualidade segundo

Tudissaki (2015) ainda tem sido encarado como um desafio para os educadores musicais,

isso ocorre por ser uma prática recente na área e por mais dois fatores pontuais para que

se possa ensinar música a pessoas com essa especificidade de forma sistematizada, são

eles: a quantidade do material pedagógico e a falta de experiência e/ou falta de

qualificação dos profissionais. A autora continua sua colocação dizendo que as pesquisas

cientificas direcionadas para a investigação e o estudo dos processos de ensino e

aprendizagem musical para pessoas com deficiência visual ainda são pouco estudadas.

Souza (2010) em sua dissertação de mestrado constatou que o número do

material didático assim como o material bibliográfico, era pouco na educação musical no

que se refere ao ensino de pessoas com necessidades educacionais especiais,

principalmente para a língua portuguesa e cita alguns livros publicados: “Educação

musical e deficiência: propostas pedagógicas” de Viviane Louro (2006), “Arte e inclusão

educacional” de Alessandro Arten (2007), e voltado especificamente para a deficiência

visual “Introdução à Musicografia Braille” de Dolores Tomé (2003).

No entanto, mesmo com esses desafios, cresce o número de pessoas com

deficiência visual interessadas em aprender música, como exemplo cito dois trabalhos

que atualmente estão sendo desenvolvidos aqui na cidade do Natal-RN, o primeiro é o

Grupo Esperança Viva, projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte/Escola de Música (EMUFRN), direcionado ao ensino da flauta doce para os alunos

com deficiência visual (baixa visão e cegueira).

De acordo com Bezerra (2012) O objetivo dessa iniciativa é de, além de ensinar

música, poder ampliar as possibilidades metodológicas bem como didáticas na

aprendizagem dos alunos, não restringindo o processo de ensino apenas a transcrição oral.

E os resultados desse trabalho têm sido os mais diversos, muito se evidencia a satisfação

que os alunos têm em estudar flauta doce, a musicografia, a relação de amizade de um

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para com o outro apresenta-se com bastante solidez, e na parte musical, eles

frequentemente vêm sendo convidados para fazer apresentações em vários locais, dentro

e fora da universidade.

Esse último aspecto se faz muito importante porque aquilo que os alunos

aprendem em sala de aula, pode efetivamente ser colocado em prática, é uma forma de

dar significado para o que eles vêm estudando no projeto com os professores e torna-se

um meio de divulgação natural para aqueles que ainda se comportam

preconceituosamente diante dessas pessoas com necessidades educativas especiais.

O outro trabalho em destaque, é o da Escola de Música Casa talento, que desde

2009 vem trabalhando com o ensino de música para pessoas com deficiência visual,

inicialmente com alunos de teclado devido ao contato que o professor teve com a

educação especial, realizando inclusive em 2010 seu trabalho de conclusão de curso

(Licenciatura em Música) na área de educação musical para cegos. Em 2012 o espaço

passa a oferecer aulas de violão para alunos com deficiência visual e a partir de 2015

devido a demanda, a instituição inclui na sua grade de disciplinas “Introdução a

Musicografia Braille”, para aqueles que estão iniciando a escrita braile e a “Musicografia

Braille”, para os que passaram pela iniciação do Braille.

É notório que em algumas regiões a educação musical para pessoas com

deficiência visual tem crescido nesses últimos anos, abrindo assim, as portas para um

ensino globalizado e sistematizado, dando oportunidades para quem deseja estudar

música, quebrando os paradigmas, minimizando os preconceitos, cada vez mais

trabalhando em prol de uma educação que atinja todos, independentemente de raça,

origem, cultura, características e posição social.

Nessa perspectiva de educação inclusiva, a escola assume um papel muito

importante, pois, os alunos dependem da sua iniciativa e mobilização para que tenham

condições reais de entrar e de permanecer no ambiente escolar, oferecendo-lhes suporte

pedagógico, serviços especializados, com profissionais capacitados para a realização do

trabalho de ensino de música para pessoas com deficiência visual.

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3.1 Escola Inclusiva

Esse é um assunto que frequentemente tem sido discutido no âmbito de educação

para pessoas com Necessidades Educativas Especiais e que de certa forma baseado no

que coloca Souza (2010), ainda tem causado pensamentos antagônicos por parte da

sociedade, há quem questione se não seria mais viável atender essas pessoas em locais

especializados, enquanto o outro lado defende a ideia de inclusão das pessoas com algum

tipo de deficiência na escola regular.

Se essa questão chegará ou não a uma conclusão, o fato é que a luta por direitos

de igualdade social, onde os alunos com NEE pudessem ter acesso e permanência nos

mesmos locais de ensino que os demais, tem tido resultado. Se levarmos em consideração

o que estamos vivendo no século XXI, muito se discute sobre acessibilidade (meios de

adequação para o acesso de pessoas com Necessidades Educativas Especiais em locais

públicos, ou seja, lugares onde toda a sociedade frequenta), não teria sentido de criar

espaços específicos para atender as pessoas com algum tipo de deficiência, isolando-os

de certa forma do convívio com as outras pessoas. A menos que esses espaços atuassem

como um recurso a mais no processo de educação, aprendizagem e socialização desses

alunos.

No que se refere à educação inclusiva e visando ter uma escola onde todos

tivessem acesso, tivemos um grande avanço a partir das mudanças realizadas na

Constituição Federal de 1988 que garante por lei no artigo 206 o acesso e permanência

do aluno com necessidades especiais na escola, bem como o artigo 208 que aponta os

deveres do Estado com a educação, oferecendo um ensino gratuito a todos, incluindo um

atendimento educacional especializado para aqueles que possuem algum tipo de

deficiência e, mais recentemente tivemos a criação da lei 13.146 (Lei Brasileira de

Inclusão da pessoa com deficiência) instituída em 6 de junho de 2015.

Assim como comenta Ribeiro e Baumel (2003), podemos ver também através da

Conferência Mundial sobre Educação para Todos, que aconteceu na Tailândia em 1990,

a importância que se tinha em se pensar num acesso universal à educação, promovendo

assim a igualdade de todos, e ainda:

Destacou que as necessidades básicas de aprendizagem das pessoas

portadoras de deficiência requerem atenção especial e é preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores

de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema

educativo. (RIBEIRO e BAUMEL, 2003, p.46).

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Nesse sentido, temos ainda a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN) nº 9.394/96 estabelecida durante novos conceitos relacionados à educação

especial que traz como principal questão e ideia de que a educação especial é parte

integrante da Educação Geral, tomando para si o princípio de inclusão (RIBEIRO e

BAUMEL, 2003). As autoras citam ainda a Declaração de Salamanca, documento

estabelecido em 1994 que aborda a seguinte linha de pensamento: todas as escolas devem

receber sem exceção, todas as crianças, não se importando com as condições de cunho

físico, intelectual, emocional, social, o dever da escola é de encontrar meios para educar

as crianças, até mesmo aquelas com um grau de deficiência mais elevado.

De fato, o papel da escola nesse processo de ensino-aprendizagem torna-se

importantíssimo, de acordo com a Declaração de Salamanca, entende-se que a escola e a

sociedade assumem a responsabilidade por educar essas pessoas, é um trabalho em

conjunto, não podendo deixar somente a cargo de uma única instancia. Talvez um dos

maiores desafios que temos a encarar, seja alinhar (a escola: professores, coordenadores

e diretores, que por ser um espaço instituído legalmente para o exercício efetivo do

ensino, assume maior parcela no processo), e os demais envolvidos (Estado, secretarias,

municípios e familiares).

Diante disso, é realmente indispensável que os ambientes de ensino, seja em

relação a educação regular ou aos espaços especializados em música, possam criar um

sentimento de educação sistematizada, pautada num ensino de qualidade e

compromissado com as pessoas, oferecendo a eles aprendizagem, capaz de desenvolver

nos alunos habilidades primordiais e essenciais que possibilitem aos mesmos,

oportunidades reais de serem inseridos na sociedade, exercendo o papel de cidadão.

3.2 A formação do professor para a inclusão

Imagine que seu filho com algum tipo de deficiência foi matriculado em uma

escola, você pressupõe que o profissional que ali está lecionando passou por uma

formação específica naquilo que está exercendo, porém você descobre que essa pessoa na

verdade, em momento algum teve contato com a realidade a qual está ministrando.

Certamente a indignação aflora da sua parte, fato considerado normal, pois, todos os pais

esperam que seus filhos usufruam de um ensino de qualidade, espera-se que aquele

profissional tenha sido instruído e capacitado para tal exercício.

Quando discutimos ou pensamos sobre educação de um modo geral é impossível

não associar isso à qualidade do ensino e a formação do profissional, são pontos que não

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se pode dicotomizar. Educação, qualidade de ensino e formação do professor constitui-se

uma tríade que em hipótese alguma pode ser negligenciada, seja em qualquer área,

profissão, âmbito ou situação. O professor que irá ser o mediador do processo de ensino

terá que se especializar, estudar, pesquisar, dominar aquilo ao qual lecionará, pois ele será

diretamente responsável por ensinar, educar e orientar seus alunos.

Na educação musical para pessoas com deficiência visual (assim como para as

outras especificidades) não é diferente, o educador musical tem que buscar sua

capacitação para que se possa oferecer um ensino de música qualificado para os alunos.

Segundo Ribeiro e Baumel (2003, p. 28):

A formação de professores constitui preocupação com as perspectivas

da formação inicial e da formação contínua (ou continuada, ou

permanente), além de ser objeto de discussões no campo da educação.

Desde 1988, a UNESCO, em relatório sobre serviços educacionais,

relacionou qualidade de ensino com preparação de professores.

Em contrapartida, Rocha (2015) faz uma abordagem a respeito do difícil papel

que o professor exerce. É uma profissão que exige muito do profissional da área, ele tem

que lidar diariamente com as diversidades de ideias que cada aluno traz consigo para

dentro da sala de aula. O educador musical se ver numa posição onde as subjetividades

são frequentes durante todo o processo de ensino-aprendizagem e também há a

preocupação com o ensino para pessoas com NEE. Por isso, que em sua formação inicial

o educador deverá ter consciência do que poderá encontrar quando iniciar sua trajetória

efetiva na escola. Vale salientar que uma formação considerada adequada requer vários

fatores, dentre os quais destacam-se as condições necessárias que o estudante de música

tem que ter para desenvolver em sua formação competências que o levarão a contribuir

positivamente na educação inclusiva.

Mesmo com uma formação inicial bem estruturada o educador musical nunca

deixa de se aperfeiçoar, é um processo de qualificação continuo, não se tem um prazo

estipulado em definitivo para sua formação. A medida que os desafios vão aparecendo,

ele vai agregando mais experiências, construindo e reconstruindo possibilidades que

servirão para subsidiar seu trabalho enquanto professor na educação especial.

Rodrigues (2006, p. 39) comenta a respeito da formação dos docentes na

educação especial:

Considerando, pois, a política de inclusão que garante acesso e

permanência a todo aluno com necessidades educativas especiais no

ensino comum, na formação do professor seria importante prever,

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incialmente, um preparo de efetiva qualidade para lidar com a

diversidade, além de (in)formação especifica em educação especial [...].

Tais sugestões feitas pelo autor buscam contribuir numa possível estratégia para

preparar os docentes frente às subjetividades que o ensino para pessoas com deficiência

proporciona.

No que diz respeito ao ensino da música para pessoas com deficiência visual em

um ambiente especializado, é extremamente importante o educador musical se capacitar

e ter contato frequente com a Musicografia Braille, conteúdo este, responsável por

possibilitar às pessoas com necessidades educacionais especiais, a escrita e independência

musical (o aluno ganha autonomia), diferente se fôssemos transmitir o conhecimento

através da oralidade, nessa perspectiva o aluno apenas reproduz aquilo que o professor

transmitiu.

Bonilha e Carrasco (2007) nesse sentido, ressaltam também sobre a importância

desse recurso, indicando que o aprendizado dos alunos através da Musicografia Braille

colabora na assimilação do repertorio de músicas estudadas, ou seja, da mesma forma que

há a necessidade dos videntes em escrever e ler partituras, deve-se propiciar aos não

videntes essas habilidades. A musicografia Braille é um recurso didático indispensável

nas aulas de música, é através dela que o aluno pode ler e escrever partitura, habilidades

definitivamente importantes na aprendizagem das pessoas com deficiência visual. Não

fazendo uso desse código a aprendizagem do aluno limita-se apenas à oralidade e a escuta,

por isso, a prática da musicografia é importante no processo de ensino, sobretudo,

contribui positivamente para o enriquecimento de sua formação enquanto músico.

Mas, não basta apenas fazer o uso da musicografia, é preciso que o educador

musical domine de fato esse código para que de maneira significativa ele possa colaborar

na formação dos seus alunos. Em relação a isso, a formação do educador torna-se um

assunto extremamente necessário e sua discussão deve fazer parte continuamente do

âmbito musical seja nos encontros, reuniões ou congressos regionais e nacionais.

A formação do profissional em qualquer área do conhecimento constitui-se a

base de todo processo de ensino-aprendizagem, ao passo que, uma má formação poderá

trazer contribuições negativas para os alunos, por isso que, além de ter uma formação

inicial fundamentada e qualificada, o educador deverá estar constantemente agregando

conhecimentos, informações, meios que fortaleçam e proporcione melhores métodos a

serem usados em sala de aula considerando as situações de diversidades que encontrará

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na escola. No caso de educação musical para cegos, o professor poderá se deparar, por

exemplo, com alunos com baixa visão ou alunos totalmente desprovidos dela e a partir

disso, terá que traçar estratégias que atenderão cada aluno de acordo com suas

peculiaridades.

3. 3 Aulas de Musicografia Braille

Em 2009, devido ao contato com a educação musical para pessoas com

deficiência visual, um professor teve a iniciativa de trazer a Musicografia Braille para a

Casa Talento, de início essa disciplina atendia apenas a um aluno de teclado,

posteriormente com a procura, formou-se uma turma de flauta doce e só a partir de 2015

é que se torna efetiva na escola, com alunos de vários instrumentos como guitarra,

contrabaixo, violão, teclado e bateria. No que refere ao estudo do Braille, atualmente

existem duas disciplinas sendo lecionadas na Casa Talento, a primeira é “Introdução à

Musicografia Braille”, esta, com objetivo de trabalhar com aqueles alunos que ainda não

tem contato com o Braille, nessas aulas são oferecidos subsídios para a escrita da língua

portuguesa (a escrita em braile), a segunda “Musicografia Braille” está voltada para os

alunos que já tiveram o contato inicial com o Braille. Nesse caso eles estudam elementos

relacionados à musica, aprendem por exemplo a escrever e ler a partitura convencional

em Braille.

Nesse processo de ensino-aprendizagem o professor conduzia suas aulas de

forma oral, explicava para os alunos sobre determinado assunto, sobre quais pontos se

usava para formar a quarta oitava, por exemplo, e em seguida ditava algo para os alunos

dentro daquilo que estava propondo na aula para que eles escrevessem e praticassem ao

mesmo tempo a escrita musical Braille. Cada aluno utilizava reglete1 e punção2 e até a

máquina3 Braille era possível ver, a medida que o professor apresentava o assunto, eles

externavam suas dúvidas, questionamentos, participavam ativamente da aula, expondo

vez por outra até sugestões para o melhor aprendizado. Havia diferenças significativas

nos alunos (além das físicas que naturalmente apresentavam), em relação a personalidade

e ao comportamento deles no decorrer dos encontros. Alguns com mais ousadia que

1 Reglete: um dos primeiros instrumentos criados para a escrita Braille. 2 Punção: instrumento utilizado para a marcação do Braille com a reglete. 3 Máquina Braille: constituída de nove teclas, sendo uma tecla de espaço, uma tecla de retrocesso, uma tecla

de avanço de linha e seis teclas correspondente aos pontos.

Fonte: Internet.

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27

outros, mas sempre que eram perguntados participavam e respondiam o que tinha sido

proposto pelo professor.

Uma das questões percebida através das observações realizadas foi que os alunos

não tinham medo de errar nas aulas, perguntavam sempre, conversavam frequentemente

com o professor. O interesse que eles tinham em aprender música era evidente. Não foi

encontrado obstáculo ou qualquer coisa que impedisse o processo de ensino dos alunos

durante esse período. É bem verdade que na sala de aula era perceptível a diversidade de

características que os alunos apresentavam em relação à deficiência visual, alunos com

baixa visão, cegueira congênita e/ou cegueira adquirida, um desafio a mais para o

professor, que precisava conhecer cada caso para que se pudesse trabalhar da melhor

forma possível, atendendo cada aluno de acordo com sua especificidade.

A própria forma como ele tratava os alunos chamava a atenção, é obvio que

considerava as necessidades educativas especiais que cada um tinha, mas em hipótese

alguma os alunos foram tratados indiferentemente em relação a cobrança que todo e

qualquer professor tem para com seu aluno (que é normal em todos os casos). Não se

pode adotar uma prática que menospreze primeiramente a capacidade que os alunos têm,

o fato de não fazerem uso da visão, não os rotula incapazes de aprender da mesma forma

que os videntes aprendem. O que se distingue é a metodologia que será aplicada, algumas

adaptações, recursos específicos direcionados para a deficiência visual.

E essa preocupação de ter um ensino sistematizado e que desenvolvesse

habilidades indispensáveis foi observada através da avaliação, que se dividia em dois

momentos, um era voltado para a parte mais prática, de percepção, sensibilidade, o outro

voltado para a parte escrita. Havia realmente o cuidado de estar oferecendo tanto um

ensino que abordasse a escuta musical como também a escrita musical, esta última,

importante para o desenvolvimento individual de cada aluno, ou seja, uma pessoa quando

aprende a ler e escrever cria uma independência. E o principal objetivo das aulas de

Musicografia Braille é de proporcionar aos alunos com deficiência visual oportunidades

de poder buscar informações sem depender única e exclusivamente do professor como

bem coloca Bonilha e Carrasco (2007):

Compreende-se o aprendizado da Musicografia Braille, como um fator

de independência na assimilação do repertorio de obras musicais

estudadas. Assim como os estudantes de Música que enxergam

necessitam ser alfabetizados na Musicografia em tinta, os alunos cegos

também devem ser capazes de ler e escrever partituras. Essa autonomia

possibilita que essa população frequente espaços de formação musical

comum a todas as pessoas, o que encontra consonância com os

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pressupostos da educação inclusiva. (BONILHA e CARRASCO, 2007,

p. 4)

E em segundo lugar, o professor ou educador é um dos responsáveis direto e que

naturalmente exerce influência na aprendizagem dos alunos. A partir desse pensamento,

Tudissaki (2015) comenta que:

Os educadores devem estar preparados e motivados para trabalhar com

este aluno, pois serão responsáveis pelo desenvolvimento de uma série

de habilidades tão necessárias quanto às habilidades a serem

desenvolvidas pela equipe de saúde e família. (TUDISSAKI, 2015, p.

58).

A medida que o professor em sala de aula desenvolve atividades que

contemplam somente a reprodução de um determinado assunto e não os instigam à escrita

e à leitura musical (habilidades extremamente importantes para a formação deles), estará

formando alunos totalmente dependentes de um professor. Os alunos com deficiência

visual devem ser tratados como qualquer pessoa, ninguém é igual ao outro ou todos somos

iguais se considerarmos que cada um possui pensamentos, opiniões, posições, gostos,

vontades e sentimentos. A igualdade está justamente nessa capacidade que temos de

produzir subjetividades.

No que se refere ao aluno de contrabaixo elétrico, sua participação nas aulas

aconteceu de uma forma bastante discreta, por algumas vezes chegou até a não ir para as

aulas por motivos pessoais. Esse aluno tinha baixa visão, então o professor fazia uma

adaptação, escrevia em alguns momentos no quadro em fôrma grande o que estava sendo

estudado, mas isso não anulava a prática da escrita em braile, o aluno assim como os

outros, também fazia uso do código nas aulas.

O braile torna-se importante para essa pessoa com baixa visão, pelo fato de ao

longo dos anos ele vir perdendo a visão, inclusive ele próprio relatou que poderia perder

totalmente a visão, por isso não se pode apenas trabalhar em prol do presente momento,

é preciso ter noção do que pode ainda acontecer, e a consciência do próprio aluno facilita

tanto a sua aprendizagem como o modo como o professor irá mediar essa situação.

Em relação aos conteúdos ministrados na sala de aula, os alunos estudaram por

exemplo, a respeito dos pontos que formam as oitavas (4ª, 5ª, 6ª e 7ª), solfejos, leituras

rítmicas, sinais de primeira e segunda casa, ritornelo, coda, um pouco do que se pode

encontrar em uma partitura tradicional, mostrando e sobretudo, preparando-os através

desse ensinamento musical para uma possível carreira na área e em acordo com o

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pensamento de Bonilha e Carrasco (2007) que abordam sobre a assimilação e

independência que vão adquirir no que diz respeito as obras musicais estudadas.

3.4 Aulas de contrabaixo elétrico

Primeiramente optou-se por fazer essas observações e acompanhamento através

desse instrumento em específico, por causa da minha formação inicial que é o curso

básico do contrabaixo elétrico e posteriormente com o descobrimento do ensino de

música para pessoas com deficiência visual. A intenção era de unir esses dois lados, o

aprendizado obtido com o curso do instrumento (algo próximo da minha realidade) com

a área de educação musical inclusiva, e não por coincidência, foi escolhido como objeto

de estudo, um aluno com deficiência visual, estudante desse mesmo instrumento.

Antes de começar as observações das aulas desse instrumento, surgiram

questionamentos sobre como o professor ensinava para o aluno com deficiência visual,

visto que o material para se trabalhar música com pessoas com esse tipo de especificidade

de uma forma geral, ainda se apresenta em uma quantidade relativamente baixa no nosso

país e a falta de um material voltado para o contrabaixo elétrico. Baseado em algumas

pesquisas, ficou claro que esse tipo de trabalho pelo menos aqui no Brasil de certa forma

não existe, tal fato despertou mais curiosidade ainda de saber como funciona o processo

de ensino do contrabaixo para uma pessoa com deficiência visual.

Falando sobre as aulas propriamente ditas, constatou-se mediante os encontros,

que o professor seguia um padrão, tanto na transmissão dos conteúdos quanto na forma

de tratamento para com o aluno. Quando estava explicando determinado assunto para ele,

procurava sempre dar significado para tal coisa, por exemplo, mostrava uma sequência

de notas e em seguida exemplificava como o aluno podia utilizar na prática, em alguns

momentos usava até metáforas para complementar aquilo que queria dizer, gostava muito

de conversar e refletir sobre o que estava sendo estudado com seu aprendiz. Essa forma

de tratamento, chamou muito a atenção, ele conseguia fazer com que o aluno refletisse

realmente naquilo que estava aprendendo. Por algumas vezes até (o professor) perguntava

“como você se sente quando consegue realizar ou executar um exercício? ”. A resposta

do aluno era simples e esclarecedora “me sinto realizado, sinto que sou capaz de fazer!”.

Quando discutimos sobre processo de ensino, a relação professor-aluno é um

fator extremamente inevitável de se pensar, isso se constitui um dos pilares primordiais

na construção e sustentação, elementos exclusivamente importantes no desenvolvimento

e crescimento não só técnico, mas que possa contribuir para a sua formação profissional,

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social, cultural e como pessoa. Não se pode negligenciar essa relação, que vai além do

que meramente uma obrigação, mas de comprometimento com o aprendizado de ambos

os envolvidos. Segundo (SIQUEIRA, 2003, p. 98):

Professores, amantes de sua profissão, comprometidos com a produção

de conhecimento em sala de aula, que desenvolvem com seus alunos

um vínculo muito estreito de amizade e respeito mútuo pelo saber, são

fundamentais. Professores que não mede esforços para levar seus

alunos à ação, à reflexão crítica, à curiosidade, ao questionamento e à

descoberta [...].

Nas observações realizadas, ficou evidente que o professor procurava estimular

o aluno à reflexão, quase tudo que ele transmitia de conhecimentos específicos de música,

trazia uma questão a ser resolvida, se o aluno executasse algum exercício erradamente,

buscava instruí-lo para o êxito, sempre colocando o porquê e a função de cada exercício

no estudo do contrabaixo elétrico.

No período de observação das aulas o professor adotou a oralidade como forma

de transmitir o conhecimento, os exercícios aplicados em sala desenvolviam a escuta

musical e a memória, nesse sentido, o aluno tinha que memorizar tudo aquilo que era

ministrado na sala de aula. A Musicografia Braille (código que auxilia a pessoa com

deficiência visual na leitura e escrita musical) não foi utilizada no processo de ensino. O

professor colocou ter direcionado algumas aulas para desenvolver um pouco mais a

prática e técnicas do instrumento bem como a escuta musical do aluno.

Segundo Bertevelli:

[...] Ele não nasce com um aparato auditivo perfeito ou melhor, porém,

a deficiência o obriga a desenvolver uma capacidade muito grande para

escutar e todos os meios capazes de contribuir para o desenvolvimento

dessa capacidade são valiosos, já que a maioria dos contatos com o

mundo depende da sua percepção e interpretação do som. É necessário

educar essa sensibilidade e percepção auditiva. Assim, a educação

musical dos cegos, não é diferente das pessoas que enxergam; envolvem

percepção auditiva e o fazer musical contextualizado dentro de processo

de musicalização, ou seja, de uma prática em que os alunos participam

de uma vivencia musical ampla e enriquecedora. (BERTEVELLI, p. 2).

De fato, trabalhar em prol de um planejamento que venha a contemplar o

desenvolvimento da escuta musical da pessoa com deficiência visual é totalmente válido

e imprescindível, como também para os videntes, mas o professor deve oferecer ao aluno

outros meios que possam enriquecer mais ainda sua formação.

O desenvolvimento da memorização também é outro ponto importante na

aprendizagem do aluno com deficiência visual, baseado nisso, Souza (2010) aponta como

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sendo importante dar ênfase a essa prática visto que a pessoa que tem esse tipo de

peculiaridade, não pode fazer a leitura de uma partitura ao mesmo tempo que toca. Tanto

a execução do instrumento, quanto a leitura, exigem a utilização dos dedos, com isso,

torna-se impossível de fazer as duas coisas simultaneamente.

O objetivo aqui não é desvalorizar esses dois elementos fundamentais e que

naturalmente estão presentes na maioria das práticas musicais desenvolvidas na sala de

aula, mas somar valores, agregar conhecimentos, sobretudo, promover um ensino que

possa trazer aos alunos oportunidades de caminhar com suas próprias pernas. Por

exemplo, trabalhar escuta e memorização despertam habilidades como: capacidade de

ouvir determinado instrumento ou som e dizer o que foi produzido; pegar músicas de

ouvido; e a memorização de músicas, obras ou peças musicais. Agora imagine se na

humanidade não existisse a escrita, como as pessoas iam guardar tantas informações,

descobertas, criações, durante todo esse tempo?

Trazendo esse pensamento para a área musical, percebamos a importância de

agregar a Musicografia Braille no processo de ensino da pessoa com deficiência visual.

O aluno através da experiência adquirida, acaba se envolvendo tanto com a música que

surgi o interesse de se profissionalizar e querer compor música, como ele vai conseguir

isso, se quando foi ensinado o professor não apresentou a Musicografia Braille?

O professor deve ter sensibilidade e cuidado com o que vai ensinar aos seus

alunos, seu trabalho deve ser pautado em uma vontade de despertar neles, competências

que contribuam de forma positiva e significativa, objetivando a inclusão social. Da

mesma forma que os videntes escrevem música, os alunos com deficiência visual devem

ser capazes de ler e escrever música.

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4. ENTREVISTAS

Para a coleta de dados foi utilizado a entrevista semiestruturada, através desta,

foram colhidas informações obtidas pelos professores, aluno e direção da Escola de

Música Casa Talento. Procurando entender o processo e contexto de ensino de música

para pessoas com deficiência visual nesse ambiente, foram realizadas cinco perguntas

para o aluno, seis para os professores e seis para a direção. Visando o anonimato de ambos

os envolvidos, ficou dividido da seguinte forma: os professores serão identificados pelos

números (1 e 2), o aluno será representado pelo pseudônimo (José) e administração pela

sigla (CA).

Professor de musicografia:

O primeiro questionamento feito para esse professor foi relacionado ao conceito

de Inclusão Social. O que você entende sobre inclusão social?

Inclusão social dar condições para que qualquer pessoa, independente

de raça, cor, religião ou opção sexual, seja inserido em todos os

contextos, seja ao acesso à escola, à um emprego... à melhores

condições de vida, então inclusão social é você proporcionar os meios

para que as pessoas estejam incluídas de fato na sociedade.

O professore falou a respeito de proporcionar aos alunos com deficiência, meios

de serem inseridos na sociedade.

O segundo questionamento buscou saber do professor se tinham tido algum

treinamento para estar lecionando na educação inclusiva. Participou de algum curso de

capacitação que pudesse habilitá-lo a ensinar a esse tipo de público?

Sim, em 2011 fiz o curso com Dolores Tomé “introdução à

Musicografia Braille”, depois eu fiz mais dois cursos com o professor

Vilson Zattera, fiz um curso de capacitação aqui na Casa Talento...

além de ter alguns artigos já publicados na área e minha monografia

também... dentro da área da musicografia Braille.

Outro ponto abordado foi a importância dessa capacitação no processo de

ensino-aprendizagem na educação musical para cegos.

Todo professor não sabe tudo né, então o professor tem que ter uma

preparação, ele tem que buscar, pesquisar, ver novas possibilidades de

poder fazer com que o aluno aprenda o que ele se propõe a ensinar.

Para isso a escola... ela precisa dar essas condições e... o professor

precisa estar compromissado realmente com o ato de ensinar.

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33

O terceiro questionamento procurou entender sobre as dificuldades enfrentadas

em sala de aula. Quais têm sido os maiores desafios nesse processo de ensino-

aprendizagem?

A princípio são... os alunos não têm conhecimento do Braille mesmo,

não são alfabetizados, então a gente tem que fazer um trabalho de

alfabetização inicialmente, há um pouco de resistência deles em

aprender a linguagem da musicografia Braille, que eu vejo como algo

bem parecido com alunos que não querem ler partitura. Outra coisa,

não tem muitos métodos, na realidade não tem método nenhum para o

deficiente visual para o ensino do instrumento, então a gente tem que

adaptar as coisas e... adequando a nossa realidade.

E em relação aos alunos, eles encontram alguma dificuldade? O professor

continua,

Bom, os alunos... normalmente eles não estudam em casa, exatamente

por essa dificuldade de não serem... não terem um aprendizado no

Braille consistente, os pais também não conhecem, a maioria das

famílias não conhecem, então fica um pouco difícil deles é... terem uma

ajuda. Normalmente eles só pegam no Braille mesmo ou na

musicografia, quando estão na escola. E sem falar no ensino regular

que... pelo relato dos alunos, os professores acabam fazendo tudo meio

que de forma oral, então os alunos não ganham autonomia nem

independência para poder estudar é... sozinhos em casa.

Infelizmente, além dos desafios encontrados em sala como é a questão dos

alunos não serem alfabetizados no Braille, o professor ainda se depara com as

dificuldades extra sala de aula. A não informação dos pais em relação a musicografia

Braille reflete e influência a aprendizagem dos alunos. E essa situação torna-se ainda mais

complicada para o professor resolver. O ideal seria que os pais fossem familiarizados

sobre o assunto, mas daí estaríamos lhe dando com duas vertentes, uma é o interesse dos

familiares e a outra talvez a mais provável, é que muitos pais não são alfabetizados ou

não concluíram o ensino básico na escola regular.

A quarta pergunta era voltada para a experiência de vida que estava tendo ao

lecionar para pessoas com deficiência visual, ou seja, saber o que de positivo está tirando

dessa prática educativa e inclusiva. O que você tem aprendido ao ministrar aulas para

pessoas com necessidades educacionais especiais?

O professor dividiu seu pensamento em dois momentos, o primeiro colocou que:

Bom, no caso como professor, eu tenho aprendido que... é... a gente

nunca sabe tudo, a gente tem que ficar... tem que estar sempre se

aperfeiçoando, se formando, estudando é... mas eu acho que o mais

interessante que eu tenho aprendido com eles é que... se eu tiver as

condições ideais, se a escola me proporcionar isso, se o professor me

proporciona condição ideal de aprendizado, eu consequentemente

como aluno, eu vou é... aprender bem.

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34

E no segundo momento disse:

E como ser humano, principalmente a questão da superação, porque

as dificuldades que eles enfrentam né... então isso realmente é um

estimulo para mim, como pessoa, como ser humano.

Percebe-se através da fala do professor a importância que ele e que a escola tem

na aprendizagem dos alunos, o desenvolvimento deles dependerá muito de empenho e se

ambos trabalharem em conjunto e se realmente quiserem. O aluno por si só não tem como

caminhar, ele precisa do auxílio de um grupo de profissionais que esteja disponível e

compromissado com aquilo que se propôs a fazer.

Ensinar a pessoas com algum tipo de deficiência ajuda a qualquer professor,

independente da área do conhecimento, entender melhor o universo delas, além de somar

e contribuir na sua formação profissional. Baseado nisso, a quinta pergunta direcionou-

se em saber: Em que sentido essa experiência contribui para sua formação como

professor e/ou educador musical?

No caso é... com os alunos com deficiência visual eu tenho aprendido...

na realidade dentro da minha profissão, que... a universidade não

prepara a gente de forma assim é... mais sólida para o mercado de

trabalho, então, o que eu tenho aprendido com eles é que o professor

está a todo momento estudando novamente, ele é um eterno aprendiz,

então, é... eles têm me ensinado muito isso, e isso tem contribuído para

minha formação porque eu tenho procurado estudar sobre os assuntos,

tenho procurado escrever também sobre o assunto.

Na verdade, quando optamos por ser um profissional do ensino, principalmente

na atualidade, e levando em consideração toda essa diversidade de características distintas

de pessoa para pessoa, nos vemos em uma situação em que naturalmente precisamos estar

sempre nos qualificando e estudando porque a chance de nos depararmos com pessoas

com NEE é muito grande e real. As leis (por exemplo, Lei 7.853/89 que trata como crime

recusar a matricula de um aluno por causa da sua deficiência, Lei 10.172/2001 com base

no Plano Nacional de Educação (PNE) que faz uma abordagem sobre a criação de uma

escola inclusiva que atenda à diversidade humana) que favorecem a entrada de pessoas

com deficiência nas escolas já fazem parte da nossa realidade.

Nesse caso ficou claro que na opinião do professor, ele está sempre aprendendo

com seus alunos. A vivência, as práticas desenvolvidas em sala e o aprendizado adquirido

através dos alunos com deficiência visual, faz com que não deixe de continuar estudando,

pesquisando, adquirindo assim, mais conhecimento e subsídios para uma formação mais

consistente e diferenciada.

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A última questão buscou trazer uma reflexão para o professor a respeito da

condição dele em estar preparado para trabalhar com pessoas com deficiência visual. Na

sua opinião, você está preparado para ensinar música a pessoas com deficiência

visual?

O professor colocou da seguinte forma:

Preparado, eu acredito que... talvez a gente... o professor nunca chegue

a esse estágio pelo fato do professor ter sempre essa coisa de estar

sempre estudando e pesquisando, mas eu acredito que hoje sim, hoje

estou um pouco mais preparado no sentido de, como eu fiz os cursos,

como a escola também se preocupou em capacitar os professores, isso

me deu subsídios para que eu pudesse encarar os alunos, dar aulas

para eles com mais segurança, para que eu pudesse até passar para

eles essa segurança, então, hoje sim. Talvez preparado, preparado

mesmo a gente nunca vai estar, mas eu acredito que mais seguros, sim.

Também explana a importância da música para os alunos com deficiência visual:

Bom, a música assim como qualquer área do conhecimento, ela faz

parte da vida de qualquer ser humano, hoje em dia ninguém vive sem

música, por mais que você não pense nela diretamente, mas ao... ao

assistir uma televisão sempre tem música nos filmes e nas novelas, é...

indo para o trabalho, normalmente muitas pessoas vão escutando

música no seu carro, no seu... é... no seu celular, então, a música faz

parte da vida de todo ser humano e por isso ela é importante porque...

como diz um filósofo que “o mundo sem música seria um grande erro”.

Esse professor expôs que a música faz parte da vida do ser humano direta ou

indiretamente, um deles disse que ela contribui na quebra de barreiras e possibilita ao

aluno conhecer novas culturas, o outro que ela está presente na vida das pessoas no dia-

a-dia, indo para o trabalho, no ônibus indo para escola ou no simples fato de assistir uma

televisão. As possibilidades para se justificar o valor que a música tem são as mais

variadas possíveis. Hoje em dia dificilmente existe uma população que não conheça ou

que pelo menos tenha ouvido falar sobre essa área do conhecimento, e quando não

conhecem, ainda sim a praticam, um exemplo prático disso é o caso de uma tribo de índios

isolada da convivência com outras populações, mas que em momentos de manifestações,

festas ou rituais, estão com seus instrumentos produzindo sons, ritmos, melodias,

elementos característicos do que se constitui música.

Professor de contrabaixo elétrico:

Para o presente professor foram feitas as mesmas perguntas que o professor de

musicografia respondeu. O que você entende sobre inclusão social?

A inclusão social, diante do que a gente está focando que é a

aprendizagem, ela é um fator muito importante na questão de quê, você

vai criar possibilidades para que sejam desenvolvidas as habilidades

do aluno... de acordo com a individualidade de cada aluno.

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Depois de ter dado sua contribuição sobre a inclusão, surgiu um outro ponto que

complementa o que foi dito no primeiro questionamento. Estava relacionado à

importância de incluir pessoas não só com deficiência visual, mas com outros tipos de

deficiências na sociedade. Explanou o seguinte pensamento:

A importância está na realização... todo ser humano quer ser útil diante

de um grupo... então ele necessita de condições... de acordo com o que

ele pretende exercer seja como professor ou... como instrumentista.

A formação profissional é um ponto que deve ser considerado essencial na vida

dos profissionais responsáveis por transmitir o conhecimento para as pessoas. Baseado

nisso questionou-se: Participou de algum curso de capacitação que pudesse habilitá-

lo a ensinar a esse tipo de público?

Sim, A musicografia Braille. Foi uma experiência muito boa, como

sendo um deficiente físico... na realidade sou um deficiente físico né...

eu sinto... necessidades, desejos, quero algumas realizações na minha

vida, então isso foi o foco para que eu me interessasse pela atividade.

Ele continua discorrendo sobre a importância dessa capacitação:

A capacitação é importante porque você vai trabalhar aspectos que a

pessoa ainda não conhece, você vai aprender como lidar com as

pessoas com necessidades visuais, e essas pessoas vão absorver essas

ideias que você aprendeu... eu vou transferir o que aprendi diante dos

pesquisadores e vou aplicar... fundamentado.

O próximo assunto a ser tratado constituiu-se algo interessante pela forma como

esse professor externou seu pensamento. Quais têm sido os maiores desafios nesse

processo de ensino-aprendizagem?

A dificuldade é uma negativa para mim, eu procuro não dar

importância para isso, procuro solucionar. Para mim é importante

desenvolver alguma didática que faça com que as coisas aconteçam.

Os desafios é o que me estimula a pesquisar mais.

Deu uma forma diferente, sem querer se preocupar com as dificuldades que

possivelmente poderia vir à tona nas aulas.

O professor relata também um pouco da sua relação com o aluno,

É muito bom porque tem essa troca, ao passo que você vai se

deparando com as necessidades do aluno... então na realidade isso é

uma troca de experiências.

Em um outro momento da entrevista foi indagado sobre a experiência adquirida

por estar ensinando para um aluno com deficiência visual, que contribuições podem ser

tiradas dessa vivencia. O que você tem aprendido ao ministrar aulas para pessoas

com necessidades educacionais especiais?

O que eu tenho aprendido é que... você pode fazer com que aquela

pessoa se realize, então eu acho que o mais importante de todo o

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aprendizado é isso, você conseguir proporcionar para o aluno uma

conquista.

Para o professor, o aprendizado tem colaborado no sentido de acreditar que você

como professor pode ajudar o aluno com NEE a se desenvolver e crescer no

conhecimento, fazendo que ele se sinta realizado naquilo que está praticando.

No último questionamento o professor respondeu de uma forma bastante simples

e direta quando perguntado sobre está preparado para ensinar música a pessoas com

deficiência visual: Na sua opinião, você está preparado para ensinar música para

pessoas com deficiência visual?

Sim, com certeza.

Em relação a importância da música na vida de pessoas com deficiência visual,

esse professor fez uma reflexão:

Vamos imaginar um passarinho sem cantar, uma cachoeira sem som, o

vento que proporciona aqueles sons, então, a natureza em si, ela é uma

verdadeira música, uma sinfonia, e nós não estamos abstraídos disso,

[...]. A música causa um reconhecimento [...]. De acordo com essa

vivência você vai conseguir contato com diversas culturas, que... as

vezes por questão de separação é... geográfica, você não tem, mas a

música quebra todas essas barreiras [...]

Aluno:

Visando investigar o contexto de ensino desde a escolha pela prática musical até

a realização das aulas, optou-se por realizar uma entrevista semiestruturada com um aluno

com baixa visão, estudante do contrabaixo elétrico. A princípio foi difícil desenvolver a

entrevista com ele. Dentre as várias questões que impossibilitaram os encontros esteve o

fato de em alguns dias ele ter faltado as aulas, o professor ter cancelado algumas aulas

por motivos pessoais, e por último a questão da mudança de sede da Casa Talento. Mesmo

com as dificuldades encontradas, foi possível através de uma conversa pelo celular fazer

a entrevista. Esse constituiu-se o único meio pelo qual o aluno podia ser entrevistado.

A primeira pergunta diz respeito ao motivo pelo qual o levou a estudar música:

Por qual motivo decidiu estudar música?

Na verdade, eu sempre tive o gosto pela música, e quando surgiu a

oportunidade de estudar música eu uni o útil ao agradável.

José continua sua fala expondo se teve influência de alguém que tivesse

despertado o interesse nele para o gosto pela música:

Não tive nenhuma influência, foi vontade minha. Achei interessante as

pessoas tocando em grupo.

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O aluno expôs como sendo iniciativa dele, o simples fato de ter presenciado

bandas tocando, fez com que começasse a sentir vontade de fazer aquilo que os músicos

estavam fazendo. Durante a conversa, surgiu ainda, uma pergunta sobre como ele tinha

chegado até a Casa Talento, o mesmo, em poucas palavras disse:

Meu irmão já estudava bateria lá, então, ele foi quem me apresentou a

Casa Talento.

A resposta dada para a próxima pergunta sucedeu-se de maneira interessante e

um tanto curiosa devido a forma como ele respondeu. Geralmente a pessoa escolhe aquilo

que quer estudar, mas nem sempre as oportunidades são favoráveis, e o indivíduo se vê

numa situação delicada por não ter conseguido o que realmente desejava. Perguntou-se

então: Porque escolheu estudar o contrabaixo elétrico?

Na verdade, o contrabaixo foi uma segunda opção, o que eu realmente

queria era aprender a tocar o violão, mas devido à falta de vagas, não

pude cursar o que desejava.

E porque o contrabaixo elétrico? Continua,

Bom, a escolha desse instrumento na realidade surgiu por indicação

do meu professor.

Mesmo cursando um instrumento que não era prioridade para ele, nas aulas havia

tanto aplicação e compromisso, quanto um exemplo de vida. O aluno poderia tratar o

curso sem muito interesse, mas aproveitou a oportunidade e passou a considerar a

experiência que estava tendo com dedicação e empenho.

A forma como os professores conduzem e fundamentam suas aulas, ou seja, a

didática, as atividades e o tratamento que tem com seus ensinados, são pontos cruciais e

que influencia diretamente o aprendizado dos alunos, sendo assim, cabe aos profissionais

o dever de primeiramente ter sensibilidade de perceber como os alunos reagem nas aulas

e em segundo lugar, criar meios que facilite a absorção dos conteúdos. Nesse sentido, a

terceira pergunta baseou-se na seguinte questão: Na sua opinião a forma como o professor

do instrumento ensina têm contribuído para a sua aprendizagem musical?

Com certeza. Como ele é um professor experiente na área, ele tem

procurado passar essa experiência da melhor forma possível. Ele

simplifica o máximo, adapta algo complicado para que seja passado

para mim. O professor me estimula e me apoia. Quanto a sua

orientação não tenho nada a reclamar, sempre está disposto a me

ajudar (José).

O aluno foi bastante categórico com a forma como ele é ensinado e considerou

sendo como positivas para sua aprendizagem as atividades adaptadas pelo professor nas

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aulas e relatou ainda que tem aprendido consideravelmente através dos ensinamentos

musicais.

A quarta pergunta procurou saber do aluno se o estudo da musicografia Braille

contribui para sua aprendizagem: Você considera importante estudar a Musicografia

Braille? Porquê?

Sim. É interessante estudar a teoria porque somada com a prática faz

com que a pessoa seja um profissional mais qualificado. É um meio de

inclusão também.(José)

E termina seu pensamento relatando a respeito do professor de musicografia

Braille, para ele:

O professor de musicografia dominava bem o assunto, contribuiu

significativamente para o meu aprendizado(José).

De fato, ensinar musicografia Braille exige da pessoa estudo e domínio do

assunto, não só nessa área, mas em todas as outras. Os professores devem ter o

conhecimento exatamente do que estão ensinando para que possam contribuir realmente

no que diz respeito ao desenvolvimento dos seus alunos, despertando neles habilidades e

competências capazes de oferecer uma base musical sólida, que promova uma auto-

aprendizagem no sentido de buscarem informações sobre música sozinhos, uma

independência e condições necessárias para uma formação qualificada, habilitando-os

para o mercado de trabalho.

Mas, não depende só da participação do professor, é preciso todo um trabalho

em equipe. E a escola assume um papel totalmente indispensável nesse processo. É nessa

perspectiva que o aluno externa sua opinião na última pergunta: Na sua concepção a

Escola de Música Casa Talento está preparada para receber pessoas com deficiência

visual?

Eu acredito que a Casa Talento está se adaptando para receber as

pessoas com deficiência visual (José).

Através dessa conversa com o aluno ficou claro que a instituição tem procurado

e se esforçado em dar oportunidades para as pessoas com deficiência visual, e para tal,

tem capacitado seus professores na busca de um ensino que se apresente de forma

sistematizada na vida dos alunos.

Escola de Música Casa Talento (direção):

A escola é um espaço educativo extremamente importante no processo de

ensino-aprendizagem dos alunos, é a porta de entrada e onde tudo começa, é o local ao

qual se espera que sejam atendidas as necessidades das pessoas. Independente da proposta

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que se quer ensinar, é dever dela disponibilizar e buscar meios que viabilizem o acesso

de quem deseja adquirir conhecimento em uma área em específico. Para poder entender

como decidiu-se atender pessoas com NEE oferecendo-os o ensino de música, a Casa

Talento refletiu e relatou seu posicionamento tomando como base a seguinte indagação:

Quando é que surgiu a iniciativa da escola em trabalhar com pessoas com deficiência

visual?

Bom, é... as aulas para deficientes visuais surgiram em 2009 por conta

de alguns alunos que vinham indicados pelo IERC, eles mandavam os

alunos lá para a Casa Talento, e aí houve a necessidade de ter

professores que atendessem esse público, no entanto, a gente só

conseguiu a princípio um professor dando aulas de flauta doce e

teclado (CA).

De certa forma houve uma procura pelo Instituto de Educação e Reabilitação dos

Cegos (IERC) e a própria localização e distância entre ambos, contribuiu efetivamente

para o acesso e entrada ao ensino de música dos alunos. Depois de terem suas aulas no

instituto, iam direto para aulas de música, eles acabavam não tendo que caminhar muito

e isso foi realmente um divisor de águas no processo de inclusão.

A segunda pergunta da entrevista buscou saber quantas pessoas com deficiência

visual estavam matriculadas na escola: Quantos alunos com essa especificidade

estudam atualmente na escola?

Bom, atualmente temos 10 alunos com deficiência visual estudando

música na Casa Talento (CA).

Entre os 10 alunos citados, alguns estavam tendo um ensinamento inicial,

introdutório, para que depois fossem encaminhados para a musicografia Braille. Existia

o cuidado de prepará-los antes por não conhecerem o Braille.

A terceira pergunta trata-se da importância na opinião do entrevistado, de incluir

as pessoas com necessidades educativas especiais num ambiente especializado em

música: Para a escola porque é importante a inclusão desses alunos nesse ambiente

de ensino?

Como a Casa Talento também se caracteriza como uma ONG, uma

organização não governamental, e oferece ensino de música para

pessoas que não tem condições de... que estão... principalmente jovens

e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, a Casa Talento

também buscou nesses últimos anos proporcionar o ensino de música

para pessoas com necessidades educacionais especiais. Então, a escola

tem alunos com deficiência visual, alunos com autismo, alunos

hiperativos, então, a Casa Talento sempre tem atendido todo o aluno

que chega a escola, a escola não rejeita aluno. O que acontece é que a

escola procura se adaptar e orientar seus professores que busquem

capacitação e qualificação, ela oferece qualificação naquilo que pode

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e quando não pode ela indica por exemplo à universidade quando esta

oferece cursos de ensino de música para pessoas com necessidades

educativas especiais (CA).

Observou-se com a fala de (CA) que a escola não procura trabalhar objetivando

um aluno modelo, o objetivo é atender todo e qualquer aluno que procure a instituição. A

ideia é de considerar a diversidade como sendo uma questão social natural da sociedade,

adaptando-se, criando oportunidades e conscientizando seu corpo docente à capacitação.

No que se refere ao ensino de música para as pessoas com deficiência visual,

existem materiais pedagógicos que auxiliam tanto quem ensina quanto quem é ensinado,

ora, assim como qualquer pessoa, os alunos precisam se comunicar com o mundo, por

sua vez os professores precisam de meios que possibilite a transmissão do conhecimento.

Em relação aos materiais (livros, reglete e punção, máquina Braille e impressora

Braille), quais a escola disponibiliza para dar suporte tanto aos professores quanto

aos alunos?

A escola tem regletes positivas, uma máquina Perkins, brailitos, é... são

alguns dos poucos equipamentos que ela tem. Os professores têm

acesso a esse material, tanto as regletes como a máquina Perkins, a

escola tem folhas peso 40 que são as folhas ideais para escrever em

Braille, é... ela não tem impressora pelo fato de ter um custo muito alto,

mas a medida do possível a escola busca adaptar algumas coisas, os

materiais, para que alunos possam também ter acesso a partituras,

exercícios e... provas mesmo (CA).

Realmente, alguns dos equipamentos como é o caso da impressora Braille,

custam muito caro, por isso a escola e nem o aluno tem condições de adquirir, mas

procuram vencer os obstáculos com o que tem em mãos e com o que podem fazer para o

acontecimento das aulas.

Outro ponto relevante a ser discutido na entrevista foi em relação a permanência

desses alunos na Casa talento, para tal levantou-se a seguinte pergunta: O que a escola

tem feito para que esses alunos permaneçam nesse espaço de ensino especializado?

Primeiramente a escola buscou capacitar seus professores com o

primeiro curso de capacitação em educação musical especial com um

professor no ano passado, no ano de 2015 abrimos a primeira turma

de musicografia Braille (teoria) e para 2016 com as novas instalações,

adaptações das salas, por exemplo, a escola hoje tem um banheiro

adaptado para pessoas com necessidades educacionais, identificação

nas portas em Braille, rampa de acesso acessível a cadeirantes, vaga

de estacionamento com deficiência, então a escola tem procurado se

adaptar nesse sentido.(CA).

E ainda para o ano de 2016, a escola:

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Com os professores novos, nós também pretendemos fazer a segunda

edição do curso de capacitação e também mandar os professores para

os cursos, por exemplo, vai ter o “III Encontro de Ensino de Música

para Pessoas com Deficiência Visual”, então a escola manda já que

temos alunos com deficiência visual.

Continua,

Uma outra coisa para que os alunos permaneçam é exatamente

proporcionar esse ensino igualitário, de qualidade, não diferenciando

do ensino para os videntes, além também de ter um grupo só com

alunos com deficiência visual que é o grupo “Superação” que é onde

eles tocam através da orientação de um professor que não tem um

conhecimento em Braille profundo, mas que procura na medida do

possível dar condições a esses alunos de se desenvolverem

musicalmente (CA).

Percebe-se através desse levantamento que a instituição tem consideravelmente

se preocupado em oferecer uma estrutura (física e pedagógica) que se enquadre no tocante

as necessidades dos alunos e isso é um avanço significativo. Uma escola a qual busca se

organizar em favor e para o benefício dos outros, diferente do que víamos nos modelos

de escolas tradicionais onde os alunos que tinham que se adaptar, se faz cada vez mais

necessária no nosso país.

A última problemática dessa entrevista talvez seja a mais delicada de se tratar no

sentido de ser um assunto que mexe não somente com as escolas especializadas em

música, mas com todos os espaços em geral, seja ele público ou não, que se comprometem

com a educação do ser humano (seja qual for a área). O objetivo era saber a opinião da

direção da escola o seguinte tema: você acredita que a escola de uma forma geral

estruturalmente está pronta para receber alunos com deficiência visual? Quero

dizer em relação à estrutura física e pedagógica (corpo docente devidamente

qualificado)?

Comparado ao início em 2009, que começou muito é... por uma

necessidade, hoje eu acredito que a escola está mais bem preparada

para atender esses alunos. É claro que ainda falta muita coisa para a

escola melhorar, principalmente nessa questão dos professores

qualificados, então a gente sabe que o professor só vai buscar o

conhecimento quando o aluno chegar até ele, mas a visão da escola é

preparar esse professor para quando o aluno chegar ele não sinta tanta

dificuldade, tanto estranhamento. Então a escola procura conscientizar

esses professores para que eles possam se qualificar e que possam

proporcionar aos alunos é... seja ele com... qualquer necessidade

educacional, ou até mesmo alunos que não tenham necessidades

físicas, mas que precise em algum momento de um tratamento

diferenciado (CA).

Quanto a estrutura física:

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A escola já tem é... só falta chegar agora as identificações em Braille

para as salas, tem é... nas entradas faixas antiderrapante, a escola é

cercada de... piso tátil para deficiente visual, inclusive acredito que

seja o único prédio que tem essa calçada na rua (CA).

Essa investigação me faz refletir em alguns pontos relevantes no contexto do

processo de ensino para pessoas com deficiência visual na Casa Talento. O primeiro ponto

é saber que tem pessoas trabalhando seriamente no intuito de ensinar música para eles e

não só isso, estão se empenhando em qualificar seus professores, bem como sua estrutura

física, então, esse trabalho em conjunto é o que vai fazer toda a diferença na aprendizagem

dos alunos. Em segundo lugar, esse trabalho atua no combate ao preconceito,

descriminação, em prol de uma sociedade mais justa e igual para todos, desconsiderando

as limitações de cada um, adotando um pensamento que todos nós temos necessidades

educativas especiais. O que nos faz “diferentes” um dos outros é a forma como

aprendemos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inserção de alunos com deficiência visual em ambientes especializados em

música tem sido uma realidade, inclusive com alunos ingressando nos cursos de

graduação da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(EMUFRN), como podemos ver no trabalho desenvolvido por Melo (2011) que traz uma

abordagem sobre as condições de acessibilidade para um aluno cego no curso de

Licenciatura em Música. Podemos ver também a importância que algumas pessoas estão

dando e se empenhando para que os alunos com deficiência visual tenham oportunidades

de serem ensinados. Na própria EMUFRN, temos um curso de extensão que desenvolve

um trabalho voltado para o ensino da flauta doce e agora temos uma proposta de ensino

de música sendo desenvolvida na Casa Talento. Isso mostra um significativo avanço na

luta por possibilitar acesso e direito dos alunos, (não restringindo somente à deficiência

visual), de serem inseridos nos mesmos espaços educativos que as demais pessoas

frequentam.

Entretanto, para que esse trabalho seja cada vez mais difundido e se consolide

no âmbito da educação musical, é preciso que haja a participação ativa das partes

responsáveis por mediar esse processo. À escola cabe a função de receber os alunos e

propiciar condições para a permanência deles, e o dever de ensinar fica a cargo dos

professores. Mas não é somente receber e ensinar. É necessário que se tenha uma proposta

definitivamente fundamentada no comprometimento e na busca por transformar a vida

das pessoas com deficiência visual ou qualquer tipo de necessidade educativa especial.

Não é somente transmitir o conhecimento técnico musical para eles, o ensino

técnico por si só não é o bastante para se sentirem pessoas realmente ativas, precisam

sentir que fazem parte da sociedade, que são capazes de desempenhar assim como os

outros, o papel de cidadão ativo, construindo e produzindo saberes, quebrando sobretudo

qualquer tipo de preconceito que possa ainda existir.

O ensino de música não se resume apenas em aprender a executar um

determinado instrumento, possibilitando as pessoas capacidades de tocarem músicas, a

música tem valores que vão muito mais além disso, ela faz parte da nossa vida, está

presente em todos os lugares, caracteriza o estilo de vida de muitas pessoas (uma

identidade), em alguns casos é até utilizada como forma de mostrar o que o indivíduo está

sentindo (seja em relação à alegria, tristeza, amor, ódio, indignação, protesto, superação),

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deve ser tratada como uma das áreas do conhecimento que contribuem e influencia a

construção social, cultural e profissional do ser humano.

Conclui-se que esse processo de inclusão e entrada de pessoas com NEE no

ambiente de ensino de música especializado é uma forma de quebrar as barreiras impostas

pela sociedade desde a época que se via a pessoa com deficiência incapaz de ser educada

ou frequentar os mesmos locais que as pessoas consideradas normais frequentavam e

colocar as pessoas com deficiência no mesmo grau de igualdade que os demais, no sentido

de possibilitar os mesmos direitos de ir e vir a todos, considerando é bem verdade, as

especificidades e necessidades de cada aluno.

Cada aluno tem uma forma de aprender, se faz necessário com isso, desenvolver

metodologias, atividades, adaptações e materiais pedagógicos que possam auxiliar e

melhorar o aprendizado deles. Essa é a única diferença que se tem entre as pessoas com

deficiência para com aquelas que não tem, os conteúdos naturalmente podem ser os

mesmos para ambas as situações, o meio ou a via pela qual será transmitido o

conhecimento é que se distingue.

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REFERÊNCIAS:

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Estudo de caso em pesquisa e avaliação

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flauta doce como instrumento de inclusão / Edbergon Varela Bezerra. Monografia

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BERTEVELLI, Isabel Cristina Dias. Musicografia Braille: a partitura musical em braille

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BONILHA, Fabiana Fator Gouvêa; CARRASCO, Claudiney Rodrigues. Ensino de

musicografia Braille: um caminho para educação inclusiva.2007. (Apresentação de

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desafios do ensino da musicografia Braille na perspectiva de alunos e professores /

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Campinas-SP, Instituto de Artes. 2006. 233 f.

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cientifica/ Marina de Andrade Marconi, Eva Maria Lakatos. – 5. ed. – São Paulo: Atlas

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MELO, Isaac Samir de. Um estudante cego no curso de Licenciatura em Música da

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Emanoela Moreira. Estudo de caso na pesquisa qualitativa em educação: uma

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ROSENDO JÚNIOR, Múcio Magno de Albuquerque. Musicografia Braille e sua

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ANEXOS

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Associação Cultural Talento Suzuki CNPJ 04.233.899/0001-43 - Inscrição Municipal: 145.234-7

Rua Tenente Alberto Gomes, 1066. Alecrim. Cep: 59040-120. Natal-RN Tel: (084) 3201-1363 A Cultura Milenar Japonesa na Metodologia do Ensino da Música

Plano de Curso – Contrabaixo Elétrico

01. Identificação:

Casa Talento

Plano de Ensino

Curso Contrabaixo Elétrico

Carga Horária 120h

Duração 3 anos

02. Ementa: História do instrumento abordagem geral das transformações e desenvolvimento

desde o princípio básico da técnica instrumental.

03. Objetivo: Fazer o aluno conhecer o instrumento e suas partes, bem como desenvolver a sua

técnica como instrumento, através do estudo de: mão direita e mão esquerda em pizzicato,

escalas , leitura melódica, possibilidades harmônicas do instrumento , execução de peças solo e

práticas de conjunto.

04.Conteúdo Programático:

Módulo I Origem e desenvolvimento Conhecimento das partes estruturais do instrumento; Partes; corpo, espelho, braço, cravelhas, ponte, captadores; Manutenção e reposição de cordas; Postura; Afinação; Exercícios de técnica de mão direita e esquerda; Exercícios técnicos de pizzicato; Exercício de corda “Solta” Leitura melódica; Formas de Dó Maior;

Módulo II Formas em Dó Maior e Escala Menor Natural; Execução das formas em Dó maior em intervalos de 2ª. , 3ª., 4ª., etc; Exercícios de técnica de mão direita e esquerda; Execução de alguns estilos e suas levadas características;

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Baião, Forró e Salsa; Repertorio e prática em grupo;

Módulo III Notas cromáticas no braço do instrumento; Exercícios de técnica de mão direita e esquerda; Escalas maiores em bemol e sustenido. Formas; Tríades; processo de cifragem, formas básicas, exercícios teóricos, noções de

acordes de três sons e arpejos do mesmo; Estudo de estilos e levadas. Walking Bass e Samba; Repertorio e prática em grupo;

Módulo IV Tétrades; estrutura, formas básicas – 7M, 7, m7, m7b5; Pentatônica maior e menor, desenhos, fraseados; Exercícios de técnica de mão direita e esquerda; Iniciação a improvisação com uso de pentatônicas e escalas maiores; Exercício com ligadura . Hammer-on e Pull-of; Repertorio e prática em grupo;

Módulo V Campo harmônico maior e menor harmônico e menor melódico; Harpejo com tétrades; Exercícios de técnica de mão direita e esquerda; Escalas de Blues; desenhos, fraseados, improvisação blues; Repertorio e prática de conjunto;

Módulo VI Análise de campos harmônicos; Exercícios de técnicas de mão direita e esquerda; Escala maior (improvisação em mais de um centro tonal); Estudo de tétrades com notas acrescentadas (9ª. 11ª. 13ª.) Acorde diminuto: formas; Repertório e prática em grupo;

Métodos Utilizados: Jacó Pastorius ( Eletric Bass) Música Brasileira (Adriano Giffoni) Mel Bay

05. Metodologia: Conhecimento escrito, como técnico instrumental executado, visando

independência, coordenação e sonoridade. Serão executados peças, técnicas dedilhadas,

escalas, execução perfeita em mãos direita e esquerda e conhecimento de compositores suas

características e épocas. A cada seis meses o aluno será exposto a uma audição para mudança

de módulo.

06. Avaliação: O processo de avaliação consiste em um momento de verificação de

aprendizagem, versando sobre toda a programação das aulas de forma cumulativa. Nesta

etapa serão constituídas bancas semestrais para Avaliação Prática, compostas pelo professor

do aluno e por, outro professor convidado, iniciando às 08h para os alunos do turno matutino e

às 14h para os alunos do turno vespertino. Os alunos da educação musical infantil serão

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avaliados por meio de resolução de exercícios em sala de aula, bem como através de sua

participação durante a aula. Requisitos avaliados na avaliação única: Peça de livre escolha,

Escala, Leitura a primeira vista e Métodos de técnica. Crédito: Observar a postura, afinação,

ritmo e musicalidade do aluno.

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Associação Cultural Talento Suzuki CNPJ 04.233.899/0001-43 - Inscrição Municipal: 145.234-7

Rua Tenente Alberto Gomes, 1066. Alecrim. Cep: 59040-120. Natal-RN Tel: (084) 3201-1363 A Cultura Milenar Japonesa na Metodologia do Ensino da Música

Plano de Curso – Musicografia Braille

01. Identificação:

Casa Talento

Plano de Ensino

Curso Musicografia Braille – Nível I e II

Carga Horária 20h

Duração 1 ano

02. Ementa: Musicalizar o aluno através do estudo do código musical em Braille.

03. Objetivo: Compreender e interpretar a notação musical a fim de empregar os conhecimentos

teóricos na pratica musical.

Conteúdo Programático:

Módulo I

TEORIA

Sistema Braille; Claves, formulas de compasso; Notas musicais; Sinais de Oitava; Figuras de valor, pausas; Compasso simples; Ligadura; Ponto de Aumento; Unidade de tempo e compasso; Cifragem internacional.

TREINAMENTO AUDITIVO

Propriedades do Som

SOLFEJO

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Em Graus Conjuntos Tom C

LEITURA RITMICA

Pulsação; Ritmos.

Conteúdo Programático:

Módulo II

TEORIA

Sinais de oitava; Barras; Tom e semitom; Sinais de Alteração “Classificação dos Acidentes (fixos, ocorrentes, precaução)”; Sinais de Repetição e Dinâmica (Agrupamento de valores); Andamentos (Sinal de palavra e prefixo literário); Escala tonal maior (formula); Armaduras; Abreviações Musicais e Sinais de “Em Acorde”; Sincopes, contratempos e Quiálteras; Ornamentos.

TREINAMENTO AUDITIVO

Intervalos melódicos 8ª Justa, 5ª justa e 4ª Justa; Métrica: binário, ternário e quaternário;

SOLFEJO

Em terças; Tom C

LEITURA RITMICA

Figuras de valor (semicolcheia, colcheia pontuada);

04. Metodologia: Aula expositiva através do uso de registros auditivos (gravação das aulas) e

gráficos musicais (Quadro e Partituras). Exercícios de percepção rítmica e auditiva em grupo,

visando à interação aluno – aluno e aluno – professor. A cada seis meses o aluno será exposto

a uma avaliação teórica para mudança de módulo.

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05. Avaliação: O processo de avaliação consiste em um momento de verificação de

aprendizagem, versando sobre toda a programação das aulas de forma cumulativa. No caso

da Avaliação Teórica, será aplicada pelo professor da turma no horário de aula do aluno.

Requisitos avaliados na avaliação única: Escrita e Oral. Crédito: Observar a afinação, ritmo e

musicalidade do aluno.

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APÊNDICES

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Fotografias: alunos na aula de Musicografia Braille

Fotografias: alunos escrevendo música no Braille

Fotografias: aluno na aula de contrabaixo elétrico

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Fotografias da estrutura da Escola Casa Talento:

Rampa de acesso

Frente e lateral da escola

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Estacionamento para pessoa com deficiência

Banheiro adaptado para pessoas com deficiência

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ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Perguntas aplicadas ao aluno com deficiência visual:

1) Por qual motivo decidiu estudar música?

2) Porque escolheu estudar o contrabaixo elétrico?

3) Na sua opinião a forma como o professor do instrumento ensina têm contribuído para

a sua aprendizagem musical?

4) Você considera importante estudar a Musicografia Braille? Porquê?

5) Na sua concepção a Escola de Música está preparada para receber pessoas com

deficiência visual?

Perguntas aplicadas aos professores de Musicografia Braille e contrabaixo elétrico

1) O que você entende sobre inclusão social?

2) Participou de algum curso de capacitação que pudesse habilitá-lo a ensinar esse tipo

de público?

3) Quais tem sido os maiores desafios nesse processo de ensino-aprendizagem?

4) O que você tem aprendido ao ministrar aulas para pessoas com necessidades

educacionais especiais?

5) Em que sentido essa experiência contribui para sua formação como professor e/ou

educador musical?

6) Na sua opinião, você está preparado para ensinar música ao deficiente visual?

Perguntas aplicadas à direção da Escola de Música Casa Talento

1) Quando é que surgiu a iniciativa da escola em trabalhar música com os deficientes

visuais?

2) Quantos alunos com essa especificidade estudam atualmente na escola?

3) Para a escola porque é importante a inclusão desses alunos nesse ambiente de ensino?

4) Em relação aos materiais (livros, reglete e punção, maquinaPerkins e impressora

Braille), quais a escola disponibiliza para dar suporte tanto aos professores quanto aos

alunos?

5) O que a escola tem feito para que esses alunos permaneçam nesse espaço de ensino

especializado?

6) você acredita que a escola de uma forma geral estruturalmente está pronta para receber

alunos com deficiência visual? Quero dizer em relação à estrutura física e pedagógica

(corpo docente devidamente qualificado)?

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Esta versão foi revisada e aprovada pelo(a) orientador(a), sendo aceite, pela

Coordenação de Graduação em Música, como versão final válida para depósito

no Repositório de Monografias da UFRN.

Valéria Lazaro de Carvalho

Coordenadora dos Cursos de Graduação