111
Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software livre. Maurício Pires Augusto Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto COPPEAD de Administração Mestre em Administração Orientador: César Gonçalves Neto, Ph.D. Rio de Janeiro, RJ – Brasil 2003

Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores

brasileiros de software livre.

Maurício Pires Augusto

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto COPPEAD de Administração

Mestre em Administração

Orientador: César Gonçalves Neto, Ph.D.

Rio de Janeiro, RJ – Brasil

2003

Page 2: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

ii

Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros

de software livre.

Maurício Pires Augusto

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de Administração da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários

para obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

Prof. ________________________________________ - Orientador

César Gonçalves Neto, Ph.D.

Prof. ________________________________________

Donaldo de Souza Dias, D. Sc.

Prof. ________________________________________

Anne-Marie Maculan, Ph.D.

Rio de Janeiro, RJ – Brasil

2003

Page 3: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

iii

FICHA CATALOGRÁFICA

Augusto, Maurício Pires.

Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e

programadores brasileiros de software livre / Maurício Pires Augusto.

Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003.

xii, 99 p.; il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,

COPPEAD, 2003. Orientador: César Gonçalves Neto.

1. Software Livre. 2. Código Aberto. 3. Tese (Mestr. UFRJ/

COPPEAD). 4. Gonçalves Neto, César. I. Título.

Page 4: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

iv

DEDICATÓRIA

À Elaine, namorada, noiva e esposa, que participou de todas as etapas do curso de

mestrado, pelo amor, apoio e compreensão em todos os momentos.

Ao meu filho Gabriel, que ainda está para chegar, com quem espero compartilhar os

frutos deste esforço.

Aos meus pais, José e Rosa, e ao meu irmão Marcelo, pelos exemplos de dignidade e

obstinação.

Page 5: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

v

AGRADECIMENTOS

Ao meu grande amigo Leonardo Chueri, por ter me mostrado a importância da ideologia

dentro da comunidade do software livre.

Ao meu orientador Prof. César Gonçalves Neto, pela paciência e contribuições nos

momentos certos.

Page 6: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

vi

RESUMO

AUGUSTO, Maurício Pires. Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e

programadores brasileiros de software livre. Orientador: César Gonçalves Neto. Rio de

Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003. Dissertação (Mestrado em Administração).

O conceito do software livre é tão antigo quanto a própria história da

indústria de software. Entretanto, somente nos últimos anos houve um aumento no

interesse acadêmico e comercial sobre o assunto. O que caracteriza um software livre é

a possibilidade de se usar, modificar e redistribuir novas versões dos programas. Isto só

é possível se o código-fonte, aquele que pode ser lido pelas pessoas, estiver disponível.

Além disso, é baseado predominantemente em contribuições voluntárias sem um

suporte organizacional tradicional.

O presente estudo buscou entender quais são as motivações e orientações de

usuários e desenvolvedores brasileiros de software livre. Através dos dados obtidos pela

aplicação de um questionário on-line foi possível identificar que estes indivíduos

buscam principalmente aumentar o conhecimento em computação e, ainda, que existem

grupos distintos que valorizam em maior ou menor intensidade alguns aspectos como: o

ganho de reputação através de contribuições de código ou da ajuda a outros usuários, o

fato de que usar ou desenvolver o software livre representa uma diversão, a melhoria de

empregabilidade e o desenvolvimento em horas vagas. Ainda foram identificados

indivíduos que recebem alguma forma de pagamento ou têm a obrigação de usar ou

desenvolver os programas, além da expectativa de que seja possível vender produtos ou

serviços associados ao software livre.

Page 7: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

vii

ABSTRACT

AUGUSTO, Maurício Pires. Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e

programadores brasileiros de software livre. Orientador: César Gonçalves Neto. Rio de

Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003. Dissertação (Mestrado em Administração).

Free software concept is as old as the history of software industry. However,

only in recent years the academy and commercial firms have demonstrated interest in

the subject. Free software is software that one can use, modify and redistribute and this

can only be done if source code is available. Besides, free software is based primarily on

individual voluntary contributions without a traditional organizational support.

The present study aims the understanding of motivations and orientations of

Brazilian users and developers of free software. A web-survey was developed and

results show that users and programmers want to increase their personal knowledge base

through participation on free software project but also that there are distinct groups with

different motivations like reputation gains, fun, increased job opportunities and using

non-work hours. Indeed, there are some individuals that actually receive some form of

payment or feel some obligation to use or develop these programs, besides the wish to

sell products or services related to free software.

Page 8: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

viii

Lista de Figuras

Quadro 1: Licenças de distribuição de software livre .....................................................13

Quadro 2: Cronologia do software livre ..........................................................................16

Quadro 3: Modelos para análise de sistemas ...................................................................20

Quadro 4: Stakeholders e seus papéis..............................................................................30

Quadro 5: Motivações no desenvolvimento do software livre ........................................32

Quadro 6: Mecanismos de proteção da propriedade intelectual......................................37

Page 9: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

ix

Lista de Gráficos

Gráfico 1: Idade da amostra e anos de utilização de software livre ................................54

Gráfico 2: Profissão da amostra.......................................................................................55

Gráfico 3: Função desempenhada por cada indivíduo .....................................................56

Gráfico 4: Local de utilização..........................................................................................56

Gráfico 5: Análise de correspondência entre idade, local, tempo, função e profissão ....57

Gráfico 6: Motivações de usuários e desenvolvedores ....................................................61

Gráfico 7: Scree Plot dos autovalores .............................................................................63

Gráfico 8: Dendrograma utilizando o método Ward .......................................................66

Gráfico 9: Funções discriminantes canônicas..................................................................69

Page 10: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

x

Lista de Tabelas

Tabela 1: Estatísticas descritivas dos fatores motivacionais ...........................................59

Tabela 2: Autovalores da análise fatorial ........................................................................62

Tabela 3: Correlação entre os fatores e as variáveis motivaciona is ................................64

Tabela 4: Teste multivariado de significância .................................................................68

Tabela 5: Análise e teste das funções discriminantes ......................................................68

Tabela 6: Matriz de Estrutura ..........................................................................................69

Tabela 7: Média dos fatores em cada cluster...................................................................70

Tabela 8: Valor da função nos centróides........................................................................70

Tabela 9: Coeficientes da função discriminante canônica...............................................70

Tabela 10: Média das variáveis por cluster .....................................................................71

Tabela 11: Média dos fatores para os clusters 3 e 4. .......................................................72

Tabela 12: Média das variáveis dos clusters 3 e 4...........................................................73

Tabela 13: Dados demográficos dos clusters ..................................................................75

Page 11: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

xi

Sumário

1 Introdução ................................................................................................................. 1

1.1 Objetivos ................................................................................................................3

1.2 Relevância do Estudo ............................................................................................3

1.3 Delimitações do Estudo .........................................................................................5

2 Revisão da Literatura ................................................................................................ 6

2.1 Código-fonte ..........................................................................................................6

2.2 Histórico ................................................................................................................6

2.2.1 Free Software Foundation..............................................................................7

2.2.2 Linux............................................................................................................10

2.2.3 Open Source Initiative .................................................................................11

2.2.4 Freeware e Shareware.................................................................................13

2.2.5 Outros softwares livres: Caso Lego Mindstorms .........................................14

2.2.6 Evolução do software livre ..........................................................................15

2.3 Modelo para análise do movimento.....................................................................17

2.3.1 Categoria Qualificação (O quê?) .................................................................20

2.3.2 Categoria Transformação (Como?) .............................................................23

2.3.3 Categoria Stakeholders (Quem?).................................................................25

2.3.4 Categoria Ambiente (Quando e onde?) .......................................................30

2.3.5 Categoria Visão de Mundo (Por quê?) ........................................................32

2.4 Participação brasileira na comunidade ................................................................44

2.4.1 Conectiva .....................................................................................................44

2.4.2 OpenOffice.org.br ........................................................................................45

2.4.3 Debian-br .....................................................................................................45

2.4.4 Kurumin .......................................................................................................46

2.4.5 CIPSGA .......................................................................................................47

2.4.6 Projeto Software Livre RS ...........................................................................47

3 Metodologia do Estudo ........................................................................................... 49

3.1 Tipo de Pesquisa ..................................................................................................49

3.2 Universo e a amostra ...........................................................................................49

3.3 Coleta de dados ....................................................................................................50

Page 12: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

xii

3.4 Análise dos dados ................................................................................................52

3.5 Limitações............................................................................................................52

4 Resultados ............................................................................................................... 54

4.1 Análise descritiva dos respondentes ....................................................................54

4.2 Análise das variáveis motivacionais ....................................................................58

4.3 Identificação dos grupos ......................................................................................61

4.3.1 Análise fatorial.............................................................................................61

4.3.2 Análise de Clusters ......................................................................................65

4.3.3 Dados demográficos dos Clusters ...............................................................73

5 Conclusões .............................................................................................................. 76

5.1 Resultados aplicáveis ao software livre...............................................................77

5.2 Resultados aplicáveis à indústria do software .....................................................79

5.3 Resultados aplicáveis à área de inovação tecnológica.........................................79

5.4 Limitações e sugestões para estudos futuros .......................................................80

6 Referências Bibliográficas ...................................................................................... 82

7 Glossário ................................................................................................................. 88

8 Anexos .................................................................................................................... 98

Page 13: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

1 Introdução

O software livre pode ser encarado como uma questão de princípios ideológicos,

onde se busca a liberdade em usar e modificar programas de computador, ou sobre uma

ótica estritamente tecnológica, onde é possível desenvolver programas de qualidade

superior a partir da disponibilidade do seu código-fonte. Todavia, não deve ser visto

como uma questão de preço. “Software livre não é software grátis” esclareceu Richard

Stallman (1996), um dos principais gurus do movimento. O que caracteriza um software

livre é, basicamente, a possibilidade de modificação e redistribuição dos programas, o

que somente é possível se o código-fonte – aquele que pode ser lido pelo homem –

estiver disponível. Assim sendo, com a posse do código-fonte, um desenvolvedor

poderá estudar os programas, adaptá-los às suas necessidades, adicionar melhorias, criar

e redistribuir novas versões.

O modelo de desenvolvimento do software livre traz algumas mudanças

fundamentais em relação ao modelo utilizado tradicionalmente pela indústria. Os

programas são escritos por uma comunidade de desenvolvedores que utiliza a Internet

como meio de comunicação. Normalmente, a participação nos projetos é voluntária e

não há contrapartida pecuniária pelo trabalho desenvolvido. Por fim, o código-fonte é

tornado público através de licenças específicas que garantem sua utilização,

modificação e posterior redistribuição sem encargo algum.

O modelo de desenvolvimento e distribuição do software livre, porém, não é

recente. Sua origem pode ser associada ao desenvolvimento dos primeiros

computadores e à comunidade de cientistas e engenheiros que os utilizavam. Grande

parte do que se entende por Ciência da Computação existe hoje em dia graças a

colaborações de softwares livres. A implementação dos protocolos de comunicação

TCP/IP desenvolvida pela Universidade de Berkeley foi usada como base e, por vezes,

fonte direta de diversas implementações escritas desde então e contribuiu de forma

decisiva para a rápida difusão da Internet. O servidor Apache, usado na publicação de

páginas Web, e o roteador de mensagens Sendmail são também exemplos de

contribuições do movimento. Porém, somente nos últimos anos e devido principalmente

ao sucesso do sistema operacional Linux, o tema teve maior exposição e vários artigos

foram escritos sobre o assunto.

Page 14: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

2

Os primeiros textos publicados tentaram recuperar e retratar a gênese do

movimento, os principais personagens e suas contribuições. A maior parte da literatura

restante trata de discussões sobre a qualidade, confiabilidade e segurança dos softwares

livres e comparações entre estes e os seus equivalentes proprietários. Todavia, as

pesquisas científicas na área são poucas e normalmente baseadas em dados históricos de

cada projeto. Existem análises demográficas, da qualidade do software e alguns

levantamentos de quem é o desenvolvedor de software livre.

No Brasil, o software livre encontra-se bastante difundido em função da

interconectividade promovida pela Internet. Vários governos estaduais, sobretudo o do

Rio Grande do Sul, têm buscado os softwares livres como alternativa ao software

proprietário. O paranaense Marcelo Tosatti é atualmente responsável pela manutenção

da versão estável do Linux e já existem várias empresas que utilizam o software livre no

seu modelo de negócios, principalmente através da oferta de serviços.

Entretanto, até o momento, pouca ou nenhuma pesquisa foi feita sobre a

participação do desenvolvedor brasileiro, quem ele é e qual o seu grau de contribuição.

A fim de pousar uma luz sobre o movimento no país, este estudo exploratório pretende

traçar um perfil dos brasileiros que compõem o movimento e buscar quais são as

motivações que levam estas pessoas a doar seu tempo e sua produção intelectual para a

comunidade do software livre.

Os membros da comunidade do software livre tendem a desempenhar papéis

distintos, de acordo com suas habilidades e conhecimentos de programação. Os

desenvolvedores escrevem software para atender a uma necessidade particular. Os

usuários testam e provêm um feedback valioso. Outros usuários podem aprender a usar

o software e escrever documentação para ajudar novos usuários. Outros, ainda, podem

prover novos casos de uso que não foram antecipados pelos desenvolvedores.

Neste contexto, este trabalho pretende responder à seguinte pergunta: "Por que

estes indivíduos participam de projetos de software livre?" Para ajudar a respondê-la,

será apresentada uma revisão da literatura sobre o assunto e os resultados da aplicação

de uma pesquisa que busca levantar o perfil do usuário e desenvolvedor brasileiro de

software livre.

Page 15: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

3

1.1 Objetivos

O objetivo deste trabalho é identificar os aspectos motivacionais que levam os

indivíduos a desenvolver e utilizar software livre. Para atingir este objetivo final foi

desenvolvido um questionário com base na literatura existente sobre o assunto.

Através da análise das respostas do questionário, espera-se retratar um perfil,

ainda que aproximado, dos participantes brasileiros de projetos de software livre, sejam

eles desenvolvedores ou usuários dos programas.

Para atingir o propósito final, é necessário que este trabalho seja capaz de

responder aos seguintes objetivos intermediários:

1. Mostrar a importância que o software livre tem apresentado dentro da

indústria de software em geral e o interesse que o tema tem despertado junto

à academia.

2. Apresentar os diversos papéis que podem ser desempenhados tanto por

empresas e organizações, quanto por indivíduos, no desenvolvimento e

adoção de softwares livres.

3. Definir se é possível identificar grupos distintos de usuários e

desenvolvedores quanto aos fatores motivacionais que os levam a utilizar o

software livre.

1.2 Relevância do Estudo

A grande expansão na utilização do software livre representa um motivo válido

para se estudar o movimento. Vários governos nacionais têm mostrado seu apoio à

adoção do software livre, sendo a China o exemplo mais expressivo. Empresas como a

IBM, Sun e Oracle estão investindo grandes quantias na adaptação de seus produtos a

plataformas livres, trazendo melhorias ao próprio software livre através da depuração do

código, além do aumento na base instalada de usuários. Outras empresas utilizam-no

como base em suas operações, como o site de vendas Amazon e a ferramenta de

pesquisa Google. O entusiasmo na adoção do software livre pode, então, ser

quantificado:

Page 16: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

4

§ O servidor web Apache é utilizado em 62% de todos os sites ativos da Internet de

acordo com a pesquisa mensal da Netcraft1;

§ O Linux é utilizado em 27% dos servidores de rede e seu market share vem

crescendo nos últimos anos.

§ As estimativas mais conservadores dão conta de que o Sendmail é responsável por

mais da metade do tráfego de e-mails no mundo. Este número chega 80% em

algumas pesquisas.

Além de o fato de o software livre ser adquirido por pouco ou nenhum custo,

estes produtos não seriam grandes players em suas categorias se os usuários não

reconhecessem a qualidade, estabilidade e confiabilidade dos produtos, as vantagens

econômicas do compartilhamento de custos e riscos e as vantagens tecnológicas da

criação de plataformas e padrões abertos.

Neste sentido, torna-se, então, necessário estudar o movimento do software livre

para buscar respostas a algumas perguntas cruciais: como funciona o processo de

desenvolvimento que, em um primeiro momento, parece tão distinto do modelo

tradicional da indústria? Em que circunstâncias ele funciona? Como se fomenta e

sustenta este processo? Sendo baseado predominantemente em contribuições voluntárias

de programadores talentosos, sem um suporte organizacional tradicional, é preciso

entender o que motiva estas pessoas a participar dos projetos e quais recompensas são

esperadas. E, uma vez entendidas estas questões, ainda é necessário identificar como se

pode assegurar a continuidade do movimento e o sucesso de novos projetos.

Assim sendo, os projetos de software livre representam um campo de estudo

fértil em diversas áreas como colaboração, organização, comportamento, inovação,

criatividade, aprendizado, além do próprio processo de desenvolvimento de software.

Ao se pesquisar as motivações que levam usuários e programadores a participar dos

projetos, vários fatores podem ser encontrados como, por exemplo, buscar soluções para

seus problemas, aprimoramento do conhecimento técnico e fatores intrínsecos voltados

ao altruísmo ou a necessidade de reconhecimento pelos pares. Logo, além do interesse

científico, as lições aprendidas em um estudo sobre as motivações destes indivíduos

1 www.netcraft.com/survey

Page 17: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

5

podem ser utilizadas na melhoria do processo de desenvolvimento de futuros projetos

tanto de software livre quanto proprietário. Este conhecimento pode, inclusive, ser

aplicado em outras disciplinas como a inovação tecnológica, comportamento

organizacional e gerenciamento estratégico, entre outras.

1.3 Delimitações do Estudo

Apesar de a comunidade do software livre ser global, interligada através da

Internet, o presente estudo está focado em programadores e usuários brasileiros.

Todavia, não há restrição sobre quais programas estes indivíduos estejam

desenvolvendo ou em quais projetos estejam inseridos.

Da mesma forma que é possível estudar os fatores motivacionais do indivíduos,

também é possível estudar por que empresas e organizações adotam softwares livres ou

usam-nos em seus modelos de negócio através do fornecimento de serviços ou produtos

complementares. Entretanto, o escopo deste estudo está limitado às motivações

econômicas, tecnológicas e sócio-psicológicas dos indivíduos.

Outros pontos que são usualmente alvos de artigos jornalísticos são as

discussões sobre a qualidade, confiabilidade e estabilidade de softwares livres e

comparações com seus correspondentes proprietários. Somente agora começam a surgir

algumas pesquisas sobre o assunto, mas no presente estudo apenas será abordado o

processo de desenvolvimento do software livre para que se entenda a participação de

cada indivíduo, sem a intenção de comparar este processo ou seus resultados com o

processo tradicional.

Page 18: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

6

2 Revisão da Literatura

Na revisão da literatura sobre o assunto, primeiro buscou-se a definição do que é

o código-fonte de um software e sua importância para o desenvolvimento de novos

programas. Em seguida é abordado o histórico do movimento do software livre,

mostrando a Free Software Foundation com sua postura ideológica, o surgimento do

Linux e, por fim, a adoção do termo Open Source por grande parte da indústria e da

academia.

O modelo de Feller e Fitzgerald (2002) com suas cinco categorias -

Qualificação, Transformação, Stakeholders, Ambiente e Visão de Mundo - é, então,

apresentado a fim de se buscar o referencial teórico a ser utilizado na pesquisa.

2.1 Código-fonte

Todo software existe em duas formas: uma lida somente por computadores e

outra que pode ser lida pelas pessoas. A forma que o computador lê é a forma que é

executada por ele. Esta forma é chamada de código binário ou executável. A forma que

pode ser lida por humanos é chamada de código-fonte. É assim que os programas são

desenvolvidos e através de um compilador é que se gera o código binário ou executável

(CHASSEL, 2000).

É possível, através de engenharia reversa, obter o código-fonte de um programa

a partir do código binário, mas além de se tratar de um processo trabalhoso, o código-

fonte normalmente contém comentários que auxiliam seu entendimento e manutenção.

2.2 Histórico

Originalmente, todo software era livre. Qualquer programador tinha o direito

legal de copiar, estudar, modificar e redistribuir os programas gerados. Somente a partir

do final da década de 70 é que se tornou possível nos EUA possuir copyright de

programas de computador e obter a patente sobre algum algoritmo matemático existente

(CHASSEL, 2000).

No início da década de 80, a IBM fornecia aos seus clientes, mediante um

pequeno adicional na licença de uso, as microfichas com o código-fonte do CICS - um

gerenciador de transações que era tido como uma das jóias corporativas da empresa -

Page 19: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

7

além de manuais com a documentação da lógica do programa. Esta política de liberação

do código-fonte serviu como catalisadora do surgimento de diversas pequenas empresas

que desenvolveram ferramentas de monitoramento, diagnóstico e até novos subsistemas

completos. Essas empresas não precisavam nem gostariam de roubar o código-fonte da

IBM; elas somente precisavam saber como os produtos da IBM funcionavam para poder

interagir com eles. (TOLLY, 1999)

2.2.1 Free Software Foundation

Segundo Stallman (1999), em 1971 ele começou a trabalhar no Laboratório de

Inteligência Artificial do MIT e tornou-se um membro de uma comunidade de hackers2

desenvolvedores de software que usualmente compartilhava o código-fonte dos

programas com outras universidades e empresas. Quando Stallman via alguém utilizar

um programa interessante ou não familiar, poderia solicitar o código-fonte para estudá-

lo, alterá-lo e até mesmo canibalizá-lo para criar um novo programa.

Esta comunidade começou a ser desfeita no início da década de 80 quando

vários programadores desligaram-se do Laboratório e, ao mesmo tempo, houve a troca

do computador que era utilizado por um outro cujo sistema operacional não era

fornecido com o código-fonte.

Antes deste fato, Stallman já havia se deparado com problemas quanto à

liberação do código-fonte de um programa. A impressora usada no Laboratório não

possuía certas funcionalidades que facilitariam o trabalho da equipe. A empresa

responsável, quando contatada, recusou-se a fornecer o código-fonte do gerenciador de

impressão.

Em 1984, Stallman desligou-se do MIT e iniciou o projeto GNU - um sistema

operacional completo, compatível com o Unix - composto, por exemplo, por

compiladores, interpretadores, editores de texto, ferramentas de envio e recepção de e-

mail, etc. Seu intuito era retomar a comunidade de hackers que colaboravam entre si. O

2 Entenda-se como hackers os membros da comunidade de programadores que se reuniam com o

intuito de estudar, entender e melhorar os códigos fontes, e não a forma pejorativa utilizada atualmente.

Para aqueles que tentam invadir sistemas de segurança computacionais provocando algum dano, a

comunidade hacker utiliza o termo crackers (BRETTHAUER, 2002).

Page 20: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

8

próprio nome do projeto foi escolhido seguindo-se uma tradição hacker, sendo um

acrônimo recursivo para “GNU’s NOT UNIX”. No ano seguinte fundou a Free

Software Foundation, uma empresa sem fins lucrativos voltada para o desenvolvimento

de software livre, cuja função é basicamente obter recursos para permitir a continuidade

dos projetos.

O principal objetivo de Stallman com a criação do GNU era garantir que os

usuários teriam a liberdade de modificar os programas para atender suas necessidades e

que seriam livres para distribui-los da forma que lhes conviesse. Foi criado, então, um

termo legal de distribuição - batizado de Copyleft - que deveria evitar que o software

livre se tornasse proprietário.

Basicamente, o copyleft deve garantir que os usuários tenham as seguintes

liberdades: (FREE, 2001)

§ Liberdade de executar o programa, para qualquer fim (liberdade 0);

§ Liberdade de estudar o funcionamento do programa e adaptá-lo às suas necessidades

(liberdade 1). Ter acesso ao código-fonte é uma pré-condição para isto;

§ Liberdade de redistribuir cópias do software (liberdade 3);

§ Liberdade de melhorar o programa e tornar públicas essas melhorias, de forma que

toda a comunidade se beneficie (liberdade 4). Ter acesso ao código-fonte também é

uma pré-condição para esta liberdade.

A implementação do copyleft é feita através de uma licença de distribuição

chamada GNU General Public License ou simplesmente GNU GPL. A essência do

copyleft também é utilizada em outras circunstâncias como na distribuição de manuais,

porém em uma versão de licença mais simplificada.

O único dever que a licença torna explicitamente obrigatório é a distribuição do

software sob a mesma licença que se encontra no original. Uma vez que melhorias

sejam feitas ou que o software livre original seja corrigido, o usuário tem a obrigação de

liberar o novo código-fonte de forma que os outros usuários tenham os mesmos direitos

e liberdades de quando utilizavam o código antigo. (CHASSEL, 2000)

A filosofia do software livre visa, de forma simplificada, o respeito às liberdades

dos usuários. Nenhuma prática negocial específica é apoiada ou rejeitada, ou seja, o

discurso de Stallman não é anti-comercial. Ele sugere, inclusive, alguns modelos de

negócio baseados no software livre: venda de CDs com distribuições do software,

Page 21: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

9

suporte ao usuário final, configuração de sistemas e desenvolvimento de novas

facilidades. (STALLMAN, 1999)

Sobre a direção de Stallman, a Free Software Foundation popularizou o uso do

termo software livre, com a distinção clássica do termo livre quando usado em

"liberdade de expressão" e não como "cerveja grátis" (do inglês, free as in "free

speech", not "free beer" ). Uma vez que não existe uma palavra em inglês que expresse

claramente a filosofia por detrás do software livre, Dalle e Jullien (2003) sugerem uma

nova nomenclatura: Libre software. Desta forma, a apropriação do adjetivo francês

eliminaria qualquer ambigüidade e serviria para definir todo software distribuído com o

código-fonte e cujo usuário tenha o direito de modificá-lo e redistribui-lo desde que

permaneça Libre.

O software livre pode ser distribuído com ou sem custo financeiro, porém o

conhecimento que permeia os programas, isto é, o código-fonte deve estar disponível a

fim de fomentar futuras inovações. O código-fonte é tido como uma forma de

conhecimento científico e, da mesma forma que cientistas publicam seus trabalhos para

apreciação dos pares, os desenvolvedores de software deveriam liberar o código-fonte a

fim de garantir um aprimoramento contínuo (DEMPSEY et al., 1999).

O método científico é baseado em um processo de descoberta e um processo de

justificação. Para que os resultados científicos sejam justificados, a pesquisa deve ser

replicável. E a replicação só é possível se a fonte estiver disponível: hipóteses,

condições de teste e os resultados. Enquanto os cientistas falam em replicação, os

programadores de software livre falam em depuração; quando os cientistas falam em

descoberta, os programadores falam em criação. Em última instância, o movimento do

software livre é uma extensão do método científico, pois o cerne da indústria de

computação é oriundo da ciência da computação. Porém, a ciência da computação só

possui uma forma dos pares replicarem os resultados: através do compartilhamento do

código-fonte. Para se demonstrar a validade de um programa, é necessário fornecer o

código para que se possa compilá-lo e executá-lo. A replicação torna os resultados

científicos e os programas mais robustos. Através do compartilhamento do código, os

programas são testados e depurados em uma variedade de contextos que isoladamente

um programador seria incapaz de gerar. (DIBONA et al, 1999)

Page 22: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

10

O método científico facilita a descoberta e minimiza a duplicação de esforços,

pois os pares saberão se estiverem trabalhando em projetos similares. O progresso não

cessa quando um cientista pára de desenvolver um projeto. Se os resultados forem

necessários, outros cientistas irão dar continuidade à pesquisa. De forma análoga, o

modelo de desenvolvimento do software livre facilita a criatividade. Programadores que

trabalhem em projetos complementares podem trocar experiências e um projeto pode se

tornar inspiração para outros.

2.2.2 Linux

Em outubro de 1991, Linus Torvalds, estudante de graduação da Universidade

da Finlândia, lançou a versão 0.02 do kernel que daria origem ao Linux. Sua idéia

inicial era desenvolver um sistema operacional semelhante ao Minix para rodar em

computadores baseados na arquitetura Intel (na época um AT-386).

O anúncio do lançamento no newsgroup comp.os.minix convocava

programadores dispostos a ressuscitar a tradição hacker no sentido de desenvolver um

novo sistema operacional somente pelo prazer de vê-lo funcionar. Torvalds exibia

insatisfação em não poder desenvolver os drivers para seus dispositivos e não ter um

projeto onde sua participação significaria modificar o sistema operacional para atender

suas necessidades. (BRETTHAUER, 2002)

No início da década de 90, a Free Software Foundation já havia desenvolvido

quase a totalidade do projeto do sistema operacional GNU. Entretanto, o kernel do

sistema, responsável pelo gerenciamento de memória, arquivos e outros recursos, estava

atrasado. Se o projeto tivesse sua distribuição restrita seria considerado um fracasso,

apesar de 7/8 do total estarem completos, testados e já em uso. Ao invés de desenvolver

o sistema operacional por completo, Torvalds começou a integrar as ferramentas GNU

já existentes em seu próprio kernel (CHASSEL, 2002). A combinação do ambiente

GNU com o kernel Linux, que também adotou a licença de distribuição GPL, deu

origem ao que se conhece hoje em dia como o sistema operacional GNU/Linux, ou

somente Linux como forma abreviada. (TZOURIS, 2002)

Ao contrário de outros projetos desenvolvidos por um pequeno e seleto grupo de

programadores (GNU, BSD e Apache, por exemplo), o Linux teve uma quantidade

enorme de voluntários coordenados pelo próprio Torvalds que enviava suas

Page 23: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

11

contribuições através da Internet. Este modelo de desenvolvimento veio a ser chamado

por Raymond (1999) de "Bazar" (em contraste ao modelo dominante da indústria de

software comparado a uma "Catedral"), onde a qualidade do software não é

conseqüência de padrões rígidos ou autocracia, mas é atingido em função da liberação

de uma nova versão dos programas a cada semana e da obtenção de um rápido feedback

sobre seu funcionamento. Este processo faz uma seleção natural das melhores

contribuições, o que garante a qualidade do produto final.

2.2.3 Open Source Initiative

A ambigüidade dos termos free software/free beer foi, ao longo dos anos, alvo

de várias críticas dentro e fora do movimento. A associação do software livre com a

hostilidade à propriedade intelectual tornou improvável a adoção dos programas por

gerentes de informática de empresas (RAYMOND, 1999). O software livre como um

pensamento político foi popularizado pela Free Software Foundation, mesmo com a

posição dos líderes ser claramente a de promover a liberdade dos usuários e de não

haver impedimento a práticas comercias (PERENS, 1999). Porém, a associação com

estereótipos negativos mantinha-se presente no mundo corporativo e na mídia.

Eric Raymond, um dos principais defensores da utilização do termo Open

Source, é tido como um antropólogo de movimento. Ele produziu diversos artigos

explicando o funcionamento do modelo de desenvolvimento do software livre e a

cultura que se formou ao seu redor. Um dos seus mais famosos textos, “A Catedral e o

Bazar”3, representa uma crônica da criação de um software livre através da contribuição

de diversos voluntários sem remuneração e foi responsável pela decisão dos diretores da

Netscape de liberar o código-fonte do seu navegador web. (PERENS, 1999)

No início de 1997, um grupo de líderes da comunidade, incluindo Eric

Raymond, Bruce Perens e Tim O’Reilly, resolveu atacar o problema de aceitação do

software livre através de uma campanha de marketing a fim de realçar as características

de confiabilidade, custo e redução do risco estratégico do negócio. A atitude destas

pessoas era motivada basicamente na frustração advinda da falta de reconhecimento do

potencial do software livre como fonte de inovações e como base do desenvolvimento

3 “The Cathedral and the Bazaar”, 1998. Disponível em http://www.tuxedo.org/~esr/writings/

cathedral-bazaar/cathedral-bazaar.html

Page 24: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

12

de software comercial, mesmo havendo exemplos de adoção comercial do software livre

- Apache e Linux. A decisão inicial do grupo foi escolher um novo termo para definir o

modelo de desenvolvimento do software livre. Open Source (ou código-fonte aberto)

deveria evitar as conotações negativas que o termo free software carregava. (DEMPSEY

et al., 1999).

Finalmente em 1998, uma grande campanha de marketing foi lançada com o

intuito de reconstruir a reputação do movimento junto ao mundo corporativo. Diversas

estratégias de marketing foram utilizadas como re-brand, share of mind, focar as 500

maiores empresas da Fortune, evangelizar os tomadores de decisão (CEO, CTO e CIO)

e trabalhar com a imprensa especializada em negócios (RAYMOND, 1999).

Open Source tornou-se, então, uma certificação, um tipo especial de marca

registrada, e foi criada a Open Source Definition (baseada na licença de distribuição do

sistema operacional Debian GNU/Linux) com o intuito de esclarecer os requisitos

necessários para que um software seja tido como open source. Desta forma, a definição

permitiria que novos programas open source florescessem sem necessariamente trazer

empecilhos para a incorporação de outros códigos-fontes pelos programadores. A

definição cita explicitamente alguns exemplos de licença e tende a ser mais genérica do

que o copyleft (PERENS, 1999). Ou seja, a definição garante maiores liberdades no

licenciamento, permitindo uma maior promiscuidade ao se associar software livre com

software proprietário (DIBONA et al, 1999).

A diferença mais marcante entre a OSD e a licença GPL é que a segunda não

permite que modificações no código-fonte sejam mantidas somente para uso particular,

ou seja, qualquer modificação deve ser redistribuída sob a licença GPL. Assim sendo, o

autor do programa deverá receber melhorias e correções provenientes de qualquer

trabalho derivado desenvolvido por terceiros, incluindo empresas que alteram o

software para seu próprio uso.

Freqüentemente, o software livre é confundido de forma equivocada com o

conceito de domínio público. Entretanto, todo software livre é coberto por alguma

licença que define os direitos e deveres dos usuários. Um programa em domínio público

é aquele em que o autor deliberadamente se exime de qualquer direito de propriedade.

Neste caso, não se pode dizer que exista realmente alguma licença de distribuição.

Qualquer indivíduo pode tomar o programa como sua propriedade particular, retirar a

Page 25: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

13

indicação da autoria, tratá-lo como sua produção intelectual e relicenciá-lo (PERENS,

1999).

O quadro a seguir resume as características das principais licenças existentes.

Licença

Pode ser agregada a software não-livre

Modificações podem ser mantidas privadas e não

retornadas ao autor

Pode ser licenciada novamente para

qualquer um

GPL ¨ ¨ ¨

LGPL ý ¨ ¨

OSD ý ý ¨

Domínio Público

ý ý ý

Quadro 1: Licenças de distribuição de software livre (Fonte: PERENS, 1999).

O ponto em comum entre as diversas licenças que atendem a definição Open

Source é a negação de quaisquer garantias sobre o produto. A intenção é proteger o

autor do software de qualquer obrigação ou passivo legal ligado aos programas. Uma

vez que os programas normalmente são distribuídos sem custo, é razoável fixar esta

ausência de garantias, pois o autor não obtém receitas com os programas a fim de

custear seguros ou honorários legais.

2.2.4 Freeware e Shareware

O software livre tem sido confundido com software “freeware” pois ambos os

tipos de programas podem ser baixados da Internet sem cobrança alguma. Além disso,

os usuários de freeware são livres para usá-lo da forma que quiserem, mas não é

possível modificá-lo para cobrir uma necessidade específica, pois o código-fonte

normalmente não está disponível. (KUAN, 2002)

É importante destacar que software livre é também diferente de software

“shareware” onde somente o código executável pode ser baixado também sem custo.

Em alguns casos, indivíduos escrevem programas e colocam-nos disponíveis na Internet

para que sejam utilizados por outros usuários. Junto com o programa é freqüente vermos

a solicitação de uma quantia qualquer que o usuário esteja disposto a pagar. (ex.,

McAfee Associates, em SHAPIRO & VARIAN, 1999, p. 90). Outra forma corrente de

usar o shareware é como tática de marketing. Empresas que produzem software

colocam versões de demonstração dos seus produtos disponíveis na Internet

Page 26: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

14

gratuitamente, mas essas versões têm limitações em suas funcionalidades. Desta forma,

as empresas permitem aos usuários avaliar os programa antes de efetivamente comprá-

los.

A licença shareware permite a redistribuição dos programas, mas qualquer

indivíduo que continue usando uma cópia deveria pagar a licença correspondente. Na

prática, ninguém segue os termos da licença de distribuição e continua utilizando os

programas (CATEGORIES, 2002).

2.2.5 Outros softwares livres: Caso Lego Mindstorms

Um exemplo do poder dos hackers em influenciar a liberação do código-fonte de

produtos proprietários é o caso do kit de robótica Lego Mindstorms. O kit Mindstorms é

composto pelas tradicionais peças da empresa dinamarquesa Lego, além de sensores,

motores e um microcontrolador programável (o "tijolo" RCX) que é responsável pela

interação entre as peças. Esses componentes são combinados, então, para se construir

uma plataforma de robô. Apesar da Lego oferecer um ambiente visual de programação

junto com o pacote Mindstorms, muitos estudantes começaram a usar outras linguagens

de programação (C, Ada, Prolog) para comandar a peça RCX (O'HARA & KAY, 2002).

Logo após o lançamento do kit em 1998, a comunidade hacker imediatamente

iniciou a quebra do código do microcontrolador. Em algumas semanas, Anthony

Johnson, um programador de software livre, já havia desenvolvido alternativas para o

sistema operacional dos robôs. Segundo ele, o código do Lego RCX pode ser

considerado bom para usuários que não possuam conhecimentos em programação, mas

suas limitações são frustrantes para usuários experientes e sugere que o kit deva ser

usado como introdução às crianças do positive hacking: "mão-na-massa", profunda

auto-educação e exploração de qualquer tema que fascine uma pessoa (DELIO, 2000).

Como resultado da abertura do código-fonte, as vendas do kit aumentaram de

forma impressionante e houve a expansão das funcionalidades do produto para arranjos

nunca antes previstos. A posição oficial da Lego não é de encorajar nem desencorajar os

hackers, apesar de saber que o produto atingiu um público diferente do consumidor

típico da Lego. Ainda assim, a empresa continua provendo o kit de desenvolvimento

básico para aqueles que utilizam o produto como um simples hobby.

Page 27: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

15

2.2.6 Evolução do software livre

A comunidade do software livre criou dois poderosos sistemas operacionais. O

mais popular é o Linux, que tem a maior taxa de crescimento dentro do mercado de

sistemas para servidores, sendo somente suplantado em fatia de mercado pelo Windows

NT. O FreeBSD, baseado no BSD da Universidade de Berkeley, é o segundo sistema

operacional livre mais usado e é reconhecido pela sua alta performance e segurança,

sendo o sistema que roda o portal do Yahoo! (FELLER & FITZGERALD, 2002).

O software livre, normalmente, é tido como de difícil utilização. Para facilitar o

manuseio pelo usuário final, foram desenvolvidas interfaces gráficas livres que

permitem o acesso às informações do computador de forma mais amigável. Os

exemplos mais significativos são o KDE e GNOME. Estes pacotes também possuem

suites para automação de escritórios, semelhantes ao Microsoft Office, conhecidos

como KOffice e GNOME Office, respectivamente.

Provavelmente, o software livre mais amplamente utilizado é o servidor web

Apache. De acordo com o site Netcraft, que executa pesquisas mensais, o Apache é

utilizado em mais de 60% dos web sites existentes e é reconhecido pela sua estabilidade.

A lista do Netcraft que contém os 50 sites com maior tempo de disponibilidade nos

últimos 90 dias mostra que somente 4 não estão rodando o Apache (e somente 6 não

utilizam um sistema operacional baseado no Linux/Unix).

Outras aplicações líderes em suas categorias são o Sendmail e o BIND. O

primeiro é um protocolo de transporte de e-mails e o segundo é utilizado nos servidores

DNS que traduzem os nomes de domínios em endereços IP e vice-versa.

Entre as linguagens de programação, as mais famosas são Perl - para

programação de CGI de páginas web - e o compilador GCC utilizado no

desenvolvimento de praticamente todas as ferramentas livres. Ainda é possível citar as

linguagens Python, TCL/TK e PHP, o navegador web Mozilla, o servidor de banco de

dados MySQL e o editor de textos Emacs, provavelmente a aplicação GNU mais

conhecida depois do GCC.

O quadro a seguir é um resumo da evolução do software livre.

Page 28: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

16

Ano Eventos

Décadas de 50 e 60

Código-fonte distribuído sem restrições pela IBM, DEC e seção de algoritmos da ACM.

1969 Ken Thompson escreve a primeira versão do Unix. O código é distribuído livremente ao longo da década de 70.

1978 Donald Knuth publica o editor de texto TeX como um software livre

1979 Após a comercialização do Unix pela AT&T, a Universidade de Berkeley inicia o desenvolvimento da sua versão do UNIX (BSD). Eric Allmann, um estudante da universidade, desenvolve um programa para rotear mensagens entre computadores da ARPANET que iria evoluir para o Sendmail.

1983 Richard Stallman publica o manifesto GNU para liberalização do software e inicia a criação da Free Software Foundation.

1986 Larry Wall cria a linguagem Perl, usada no desenvolvimento de scripts CGI.

1987 O Minix, uma versão de Unix para PC, Mac, Amiga e Atari ST é lançada por Andrew Tanenbaum com o código-fonte disponível.

1990 Guido van Rossum desenvolve a linguagem de programação Python.

1991 Linus Torvalds publica a versão 0.02 do Linux no newsgroup do Minix.

1993 O FreeBSD 1.0 é lançado. Baseado no BSD Unix, possui as seguintes características: rede, memória virtual, multi-tasking. Ian Murdock cria outra distribuição de Linux, a Debian.

1994 Rasmus Lerdorf lança o PHP, uma linguagem de programação e scripts para web. Marc Ewing cria o Red Hat Linux. Bryan Sparks funda a Caldera.

1995 Apache Group cria o servidor web Apache, baseado no protoclo HTTPd 1.3 do National Center for Supercomputing Applications (NCSA). O Apache viria a dominar o mercado de servidores web.

1998 Netscape libera o código do seu navegador para Internet (Communicator) sob o nome Mozilla. Computer Associates, Corel, IBM, Informix, Interbase, Oracle, Sybase entre outros grandes da indústria de software anunciam planos para portar seus produtos no Linux. Sun anuncia seus planos de liberar o código da linguagem de programação Java 2.

1999 O número de usuários de Linux é estimado em 7,5 milhões.

2000 Novell e Real liberam versões de seus produtos para Linux. É criado o projeto OpenOffice.org para desenvolvimento de uma suite office livre baseada no StarOffice da Sun.

2002 UnitedLinux anuncia o lançamento do seu sistema operacional voltado para a certificação e unificação das distribuições do Linux existentes. O grupo é formado por alguns líderes da indústria: Conectiva, SCO Group, Suse e Turbolinux e tem o apoio da HP e IBM. Lançamento da versão 1.0 do OpenOffice.org, software voltado para a automação de escritórios.

Quadro 2: Cronologia do software livre (Fontes: HARS & OU, 2002;

UNITEDLINUX,2002; MELCHIOR & FERREIRA, 2002; BRETTHAUER, 2002)

Page 29: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

17

2.3 Modelo para análise do movimento

Feller e Fitzgerald (2002) desenvolveram uma ferramenta analítica para facilitar

o estudo do fenômeno do software livre baseada nos modelos de Zachman e CATWOE,

aproveitando os pontos positivos que cada um tem em áreas complementares. Estes dois

modelos são originários da engenharia de software e do desenvolvimento de sistemas.

Zachman (apud FELLER & FITZGERALD, 1987) tomou como base elementos

da arquitetura e da engenharia de estruturas para desenvolver seu modelo. Sua

motivação inicial foi o crescimento expressivo da complexidade dos sistemas de

informação, o que também foi detectado mais recentemente nos projetos de software

livre. É importante notar que o modelo de Zachman foi criado para melhor definir os

componentes de um sistema e, desta forma, controlá-los de forma mais eficiente. O

intuito do autor não era definir, por si só, o processo de desenvolvimento do software,

ou seja, há a necessidade de adaptá-lo para se analisar a etapa de desenvolvimento do

projeto de um software livre.

O modelo de Zachman envolve as seis categorias descritas abaixo:

§ Descrição material: esta primeira categoria foca a estrutura do sistema, ou seja, "de

que a coisa é feita". Em sistemas de informação, esta descrição pode ter a forma de

um diagrama de entidades e relacionamentos;

§ Descrição funcional: tem como foco os aspectos de transformação do sistema, ou

seja, "como a coisa funciona". Em SI, pode ter a forma de um diagrama de fluxo de

dados;

§ Descrição dos locais: voltada ao fluxo dentro do sistema ou "onde existem

conexões". Os modelos de rede são exemplos desta descrição;

§ Descrição das pessoas: a quarta categoria define as responsabilidades, ou seja,

"quem está fazendo o quê". Exemplos são os diagramas organizacionais ou

organogramas;

§ Descrição temporal: pretende descrever a dinâmica do sistema ao longo do tempo,

ou seja, "quando os eventos ocorrem". Em SI, são utilizados os diagramas de

transição de estado, por exemplo;

§ Descrição do propósito: a última categoria tem como foco a motivação ou "por que

as escolhas são feitas". Planos de estratégia de negócio são exemplos desta

descrição.

Page 30: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

18

As primeiras iniciativas para entendimento e controle dos sistemas de

informação tinham a tendência de considerar o desenvolvimento sob uma perspectiva

extremamente técnica, atacando a "crise do software" da década de 60, quando se

detectou gastos excessivos e baixa produtividade no desenvolvimento dos programas.

Um contraponto a esta visão técnica foi o surgimento de literatura voltada a

aspectos sociais como, por exemplo, o relacionamento com usuários, o aumento da

tecnocracia e as conseqüências do mau funcionamento de sistemas computacionais. Esta

vertente ficou conhecida como "soft", em contraste com a visão essencialmente técnica

("hard") verificada anteriormente.

Checkland (apud FELLER & FITZGERALD, 1981) documentou o Soft Systems

Method que, basicamente, visava uma mudança no paradigma do desenvolvimento de

sistemas. Ao invés de buscar a otimização de sistemas, o método adotava um paradigma

de aprendizado onde problemas pouco estruturados não têm uma solução única ou

ótima. É dada extrema importância às pessoas dentro do contexto organizacional e suas

interações. Assume-se que os objetivos do sistema são mais complexos do que uma

meta que deva ser alcançada e medida. Os analistas não estão preocupados com "o

problema", mas com a situação em que ocorre o problema - a situação problemática.

O autor propôs o modelo CATWOE como parte integrante do método SSM de

análise de sistemas. O nome é composto pelas iniciais das partes integrantes do modelo

- Clients, Actors, Transformation, Weltanschauung, Owner e Environment.

§ Clientes: podem ser internos ou externos ao sistema. Representam os beneficiários

das atividades do sistema;

§ Atores: são os agentes responsáveis por efetuar as atividades do sistema;

§ Transformação: é o cerne do sistema, ou seja, como os inputs são transformados em

outputs específicos;

§ Weltanschauung: é a visão de mundo ou determinadas posições assumidas que

permeiam o processo. O próprio analista tem sua visão de mundo e posicionamentos

éticos, políticos e sociais acabam por fazer parte da análise;

§ Dono: é o agente responsável, em última instância, pela continuidade de um sistema;

§ Ambiente: é o sistema maior da qual a atividade ou sistema em questão faz parte. O

ambiente impõe restrições à análise.

Page 31: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

19

Feller e Fitzgerald (2002) derivaram, então, um modelo baseado nas obras de

Zachman e Checkland, buscando estudar especificamente o processo de

desenvolvimento do software livre. O modelo é composto por cinco categorias que

acabam por reagrupar os conceitos descritos por estes dois autores.

A primeira categoria, chamada Qualificação, tem como objetivo explicitar o que

define (ou qualifica) um sistema como sendo software livre e quais são suas

características. No caso específico do software livre, a segunda categoria explora como

o processo de desenvolvimento dos programas é organizado e realizado. Ou seja, como

os inputs - o esforço dos colaboradores e as organizações que os suportam - são

transformados nos outputs - versões estáveis dos programas. Esta categoria é chamada

de Transformação pelos autores. A terceira categoria do modelo é usada para analisar os

vários stakeholders (desenvolvedores, usuários, empresas e organizações) e os papéis

desempenhados no movimento, sejam como clientes, atores ou donos.

A fim de examinar os aspectos geográficos e temporais do desenvolvimento do

software livre, Feller e Fitzgerald definiram a categoria Ambiente. São abordados os

locais on-line e off-line onde há interação entre stakeholders e os eventos que ocorrem

durante o ciclo de vida dos programas.

Por fim, a Visão de mundo, baseada na categoria Propósito de Zachman e na

categoria Weltanschauung do modelo CATWOE, visa entender as motivações que

permeiam as contribuições, freqüentemente sem contrapartida, de talentosos

desenvolvedores. Existem várias visões que pretendem explicar o porquê desta

participação:

§ baseada em termos estritamente tecnológicos;

§ uma visão econômica, fundada em perspectivas futuras para a carreira;

§ uma visão social e política que deve ser analisada tanto no nível dos indivíduos

quanto das comunidades de que fazem parte.

O quadro a seguir resume as características dos modelos abordados,

relacionando cada uma de suas categorias.

Page 32: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

20

Modelos

Categorias

Feller & Fitzgerald

Zachman

CATWOE

O quê ? Qualificação Material / Estrutural -

Como ? Transformação Funcional Transformação

Quem ? Stakeholders Pessoas Clientes, Atores e Donos

Onde e quando ? Ambiente Local e Tempo Ambiente

Por quê ? Visão de mundo Propósito Weltanschauung

Quadro 3: Modelos para análise de sistemas (Adaptado de Feller e Fitzgerald, 2002).

2.3.1 Categoria Qualificação (O quê?)

A categoria qualificação do modelo de Feller e Fitzgerald (2002) é caracterizada

por duas perguntas: o que faz com que um software seja considerado livre e quais tipos

de produtos/projetos tendem a ser livres.

Em um primeiro momento, o que define um software livre é a licença sob a qual

é distribuído. As diversas licenças têm em comum, além é claro de disponibilizar o

código-fonte, proteger o direito incondicional dos desenvolvedores de modificar e

redistribuir o código. Porém, a simplificação da definição do software livre como um

método de licenciamento e distribuição de programas sem levar em conta as liberdades

definidas por Stallman (1996) ou os critérios encontrados na Open Source Definition

(OPEN SOURCE INITIATIVE, 2002) tem como conseqüência a perpetuação da falsa

noção de que software livre é de domínio público. Softwares de demonstração e

sharewares que podem ser baixados sem custo da Internet e redistribuídos também

podem ser confundidos com software livre. Porém, não há a possibilidade de se adaptar

os programas às necessidades específicas do usuário pois o código-fonte não está

disponível.

Stallman (1998) reconhece que o termo Código Aberto (Open Source) é

geralmente utilizado pelas pessoas com o mesmo significado de Software Livre (Free

Software), porém para o autor o segundo define de forma mais acurada o movimento.

Segundo ele, Código Aberto define uma metodologia de desenvolvimento, enquanto o

Software Livre é um movimento social que defende questões éticas sobre a utilização e

desenvolvimento de software.

Page 33: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

21

Segundo a versão 1.9 da Open Source Definition, os termos de distribuição de

um software código aberto devem estar em conformidade com todos os critérios a

seguir: (OPEN SOURCE INITIATIVE, 2002)

§ Livre redistribuição: a licença não pode restringir a venda ou redistribuição do

software. A licença não pode exigir a cobrança de royalty na venda do software

redistribuído.

§ Código-fonte: os programas devem vir com o código-fonte e a licença deve permitir

a distribuição do fonte e da forma binária. Quando algum produto não for

distribuído com o código-fonte, deve haver um meio claramente difundido de obtê-

lo de preferência através de download da Internet. O código-fonte deve ser a forma

de distribuição preferida. Códigos-fontes deliberadamente mal documentados não

são permitidos, bem como formas intermediárias do código (saída de um pre-

processador ou tradutor).

§ Trabalhos derivados: A licença deve permitir modificações e trabalhos derivados e

deve permitir que estes sejam distribuídos sob os mesmos termos da licença do

software original. Somente permitir que o código-fonte seja lido não é suficiente

para assegurar o processo de peer-review realmente independente e a rápida

evolução seletiva dos programas. Para que isto ocorra, as pessoas devem poder

experimentar e redistribuir suas modificações.

§ Integridade do código-fonte original: A licença pode restringir a distribuição de

modificações do código-fonte somente no caso deste ser distribuído com arquivos

patch4 para atualização do código original. Além disso, a licença deve

explicitamente permitir a distribuição de software desenvolvido a partir da versão

original. É possível que a licença exija que os trabalhos derivados tenham um nome

diferente ou versão diferente do software original.

4 Utiliza-se o termo patch para designar atualizações de software com correções de problemas

ou melhoria de funcionalidades. Os patches também podem incluir drivers para suportar um novo

hardware. (Fonte: www.drpatch.com)

Page 34: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

22

§ Não discriminar pessoas ou grupos: A licença não deve permitir a discriminação de

qualquer pessoa ou grupo. A fim de maximizar o benefício do processo, a maior

diversidade de pessoas e grupos devem poder contribuir para projetos de código

aberto.

§ Não discriminar o objetivo de utilização: A licença não deve, por exemplo, restringir

a utilização comercial dos programas ou seu uso em pesquisas genéticas.

§ Licença de Distribuição: não deve haver licença adicional a um programa

redistribuído para que seu usuário tenha todos os direitos do software livre. A

função deste item é evitar que o software se torne fechado.

§ A licença não pode ter seu uso específico a um produto: Os direitos relativos a um

programa devem ser independentes do mesmo fazer parte de uma determinada

distribuição. Se o programa for retirado desta distribuição e fizer parte de outro

pacote, todos aqueles que receberem a nova distribuição deverão ter os mesmos

direitos previstos na versão original.

§ A licença não deve contaminar outro software: não deve haver restrições sobre

outros programas que fizerem parte de uma mesma distribuição. Por exemplo, a

licença não deve obrigar que todos os programas de uma distribuição sejam código

aberto. A licença GPL obriga que programas que sejam compilados com as

bibliotecas do pacote GNU e gerem um módulo independente sejam distribuídos sob

a licença GPL, mas não obriga que qualquer outro software que faça parte da

distribuição seja GPL. De forma semelhante, a IBM vende seu servidor de

aplicações proprietário WebSphere junto com o servidor web livre Apache.

No passado, a grande maioria dos softwares livres era composta por sistemas

operacionais e sistemas de rede, utilitários e ferramentas de desenvolvimento, ou seja,

basicamente os elementos necessários para criar e manter a infraestrutura do sistema

computacional. Performance e confiabilidade são fatores críticos para estes produtos e

os softwares livres normalmente são bem avaliados nestes quesitos pelo pessoal técnico

da área que não é suscetível a campanhas de marketing como o resto do mercado.

Vários produtos são também ligados à Internet e Web, o que reflete como a

implementação e evolução destas facilidades são similares à organização do movimento

do software livre.

Page 35: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

23

Atualmente as empresas que adotaram o software livre em seu modelo de

negócio buscam trazê-lo para o mundo comercial, desenvolvendo ferramentas para os

usuários finais, voltadas para o entretenimento e produtividade.

2.3.2 Categoria Transformação (Como?)

Não existe um processo "ortodoxo" de desenvolvimento de software livre.

Distintos desenvolvedores e organizações utilizam métodos e ferramentas diferentes.

Entretanto, é possível identificar várias características em comum nos mais diversos

projetos de software livre.

Primeiro, o desenvolvimento paralelo que é caracterizado pela prática de um

indivíduo ou um pequeno grupo de desenvolvedores trabalhar em parte de um grande

sistema, enquanto outros indivíduos ou grupos trabalham em outros aspectos do mesmo

sistema. Especificamente, o desenvolvimento paralelo permite a colaboração eficiente

entre um grande número de desenvolvedores, pois estes se encontram trabalhando

simultaneamente ao invés de esperar uns pelos outros. Também é possível que estas

pessoas estejam desenvolvendo um mesmo componente do sistema de forma redundante

(FELLER & FITZGERALD, 2002).

Na verdade, o gerenciamento tradicional de projetos encara esta redundância

como um desperdício ou duplicação de esforços. As comunidades de desenvolvedores,

por outro lado, acreditam que as perdas por redundância têm seu contraponto no ganho

de qualidade advindo da competição entre várias soluções para um mesmo problema

(RAYMOND, 1999).

Em resumo, quando os programadores trabalham em paralelo em componentes

diferentes, há um ganho de velocidade no desenvolvimento. Quando se trata do mesmo

componente, temos um ganho de qualidade.

Outra característica dos projetos de software livre é o tamanho da comunidade

de desenvolvedores e sua distribuição global. Fielding (1999) levantou a origem dos

principais desenvolvedores do servidor web Apache: Canadá, Alemanha, Itália, EUA e

Inglaterra. De forma semelhante, uma análise demográfica dos desenvolvedores de

aplicativos para o Linux feita por Dempsey et al. (1999) mostrou uma intensa atividade

nos EUA, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Austrália, França, Itália, Canadá, Suécia,

Finlândia, Áustria e Rep. Checa.

Page 36: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

24

Esta natureza globalizada das comunidades de software livre tende a acarretar

uma melhoria de qualidade tanto do produto, quanto do processo. Raymond (1999)

descreve que, na evolução do programa Fetchmail, algumas funcionalidades foram

adicionadas, pois eram relevantes em um contexto internacional, enquanto que para o

contexto americano seriam desnecessárias.

Estes dois primeiros pontos (desenvolvimento paralelo e a comunidade global)

caracterizam uma contradição ao que usualmente é conhecida como a Lei de Brooks

(1995) - "adicionar mão de obra a um projeto atrasado só faz com que ele fique mais

atrasado". O autor estudou o processo de desenvolvimento do sistema operacional IBM

/360 e evidências empíricas mostraram que simplesmente aumentar o número de

desenvolvedores não traz benefícios ao processo.

No caso do modelo de desenvolvimento do software livre, pode-se explicar a

não aderência à Lei de Brooks ao fato de vários membros da comunidade trabalharem

em tarefas extremamente específicas e não necessitarem obrigatoriamente de ter

conhecimento da totalidade do projeto. Assim sendo, os custos de comunicação, que são

a base da Lei de Brooks, tornam-se menores.

A terceira característica em comum dos projetos de software livre é a existência

de um processo verdadeiramente independente de peer-review. Em um ambiente de

desenvolvimento tradicional, o processo de revisão pode ser ofuscado pelo fato de todos

os participantes fazerem parte de uma mesma organização, podendo haver algum tipo

de proteção, com o conseqüente relaxamento na busca de erros e bugs. Por outro lado,

um ambiente organizacional competitivo tenderá a exacerbar qualquer aspecto negativo

no trabalho dos colegas. No software livre, entretanto, os desenvolvedores normalmente

nunca se encontram frente à frente e não há motivos para acreditar que o processo de

peer-review possa ser artificialmente deturpado (FELLER & FITZGERALD, 2002).

Este processo de revisão conjugado com o compartilhamento do conhecimento é tido

por alguns autores como semelhante ao modelo de pesquisa acadêmica (BEZROUKOV,

1999).

Outras características que diferenciam o modelo de desenvolvimento de software

livre do modelo proprietário são o feedback rápido e a estratégia de liberação de novas

versões. O primeiro é baseado nas ferramentas da Internet utilizadas (lista de discussão,

e-mail, etc.) e permite a rápida comunicação de problemas e requisitos do sistema entre

Page 37: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

25

usuários e desenvolvedores. A estratégia de liberação freqüente de novas versões é

basicamente uma conseqüência do tamanho da comunidade, da rapidez da comunicação

e da distribuição de tarefas entre os membros do grupo (RAYMOND, 1999).

Por fim, outro ponto que caracteriza o processo é o fato dos desenvolvedores

também serem usuários dos produtos. Tarefas, como a elaboração de requisitos e testes

de funcionalidades, são desempenhadas pelas mesmas pessoas que criam os programas,

fazendo com que o produto final atenda a necessidades específicas dos usuários que

não estariam presentes em versões proprietárias (VON HIPPEL, 2002).

2.3.3 Categoria Stakeholders (Quem?)

O movimento do software livre apresenta, no mínimo, quatro grandes grupos de

stakeholders que podem ser definidos como: comunidades de desenvolvedores,

comunidade de usuários, empresas comerciais e organizações sem fins lucrativos. Esses

grupos não são mutuamente exclusivos, ou seja, usuários também são desenvolvedores

e também se pode argumentar que os desenvolvedores são usuários de ferramentas

livres. Assim sendo, podemos identificar três formas ou papéis distintos em que cada

grupo atua em determinado momento: clientes (ou beneficiários), atores (agentes de

mudança) e donos (tomadores de decisão).

2.3.3.1 Comunidades de desenvolvedores

Hertel et al. (2002) desenvolveram um estudo sobre a motivação dos

desenvolvedores do kernel do Linux e, como parte dos resultados, chegaram a um

levantamento demográfico dos participantes. O Linux Study, como ficou conhecido,

teve 142 questionários respondidos, sendo que 96% eram oriundos de programadores do

sexo masculino, com idades entre 20 e 39 anos (70% dos respondentes) e

proeminentemente originários dos EUA e Europa (45 e 40%, respectivamente).

Embora este estudo ainda necessite de validação através de novas pesquisas,

algumas tendências podem ser determinadas. A maioria dos participantes é novata na

comunidade, pois 78% estão envolvidos no desenvolvimento do sistema há menos de 2

anos e tende a ser especialista, participando de um ou, no máximo, dois subprojetos.

Com relação ao pagamento por suas contribuições, pode-se verificar que os

participantes tendem a ser profissionais da área. A maioria tem emprego de horário

Page 38: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

26

integral (65% dos participantes) e participam do desenvolvimento do sistema durante o

trabalho, ao invés de fazê-lo em suas horas de lazer.

Em pesquisa complementar ao Linux Study, Dempsey et al. (1999) analisaram

dados históricos do UNC Metalab Linux Archives (um repositório de aplicativos para

Linux) e determinaram a distribuição geográfica dos desenvolvedores. Os resultados

foram semelhantes aos obtidos anteriormente, sendo 37% dos autores dos softwares

oriundos da Europa e outros 52% possuindo e-mail com sufixos normalmente utilizados

nos EUA (.com, .edu, .net e .org). Como os sufixos .com e .org também podem ser

usados na Europa, podemos dizer que os resultados das pesquisas são convergentes.

Outro ponto levantado na pesquisa dos arquivos da UNC Metalab refere-se a freqüência

em que contribuições eram enviadas. Mais de 90% dos desenvolvedores fizeram

somente uma ou duas adições ou alterações de arquivos e menos de 1% tiveram mais de

10 contribuições, ou seja, há uma tendência de especialização como já citada

anteriormente no Linux Study.

Apesar de encontrarmos poucas pesquisas demográficas, os resultados obtidos

mostram que os desenvolvedores de software livre tendem a ser profissionais da área e

especialistas. Como profissionais, estes indivíduos trazem as melhores práticas da

indústria para resolver os problemas do desenvolvimento do software livre. Como

especialistas, cada indivíduo possui uma paixão significativa pelo assunto para produzir

aplicações e componentes eficientes e elegantes (RAYMOND, 2001).

Os desenvolvedores, tanto individualmente quanto em comunidade,

desempenham papéis de clientes, autores e donos, embora nem sempre seja possível

distingui-los. Como clientes, os programadores usam (de forma quase religiosa)

ferramentas livres - compiladores, editores de texto, gerenciadores de versões - para dar

suporte ao próprio processo de desenvolvimento. Da mesma forma que ocorre em um

ambiente tradicional de desenvolvimento de sistemas, eles são também os principais

agentes de mudança, ou seja, representam o papel de atores.

Mockus et al. (2000) analisaram o papel dos desenvolvedores do servidor web

Apache e verificaram que é possível classificar a participação destes indivíduos como

reativa e proativa. No primeiro caso, temos os programadores fazendo alterações no

código a fim de reparar defeitos reportados por usuários ou identificados por eles

Page 39: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

27

próprios. Como participantes proativos, os desenvolvedores fazem alterações de forma a

contribuir com novas funcionalidades.

Embora seja possível dizer que o autor do software livre ou seu atual

mantenedor seja o dono do programa, este papel não é tão absoluto ou exclusivo como

na indústria de software proprietário. Este papel, que pode ser desempenhado por um

indivíduo ou grupo, tem como principal objetivo controlar a evolução dos projetos de

software livre, buscando garantias legais para os nomes dos projetos e coordenando o

lançamento de versões "oficiais". Entretanto, estas pessoas não possuem o poder de

determinar o fim de um projeto, pois, devido às características da licença de distribuição

dos produtos, outro dono pode assumir o desenvolvimento do software desde que este

ainda seja útil para a comunidade (FELLER & FITZGERALD, 2002).

2.3.3.2 Comunidades de usuários

No mercado corporativo é comum vermos as empresas usando software livre em

seus sistemas back-end (particularmente na plataforma para a Internet) ao invés de

adotá-los como ferramentas para o usuário final. Isto se deve ao fato de os softwares

livres serem considerados superiores ao seus similares proprietários, sendo o Apache

(servidor web), BIND (servidor de domínio) e Sendmail (servidor de email) alguns

exemplos em suas categorias. Por outro lado, pode-se citar a falta de ferramentas livres

de automação de escritórios e a percepção (válida ou não) de que o software livre não

oferece um ambiente desktop para usuários não especialistas (FELLER &

FITZGERALD, 2002).

O mesmo ocorre no mercado voltado para o usuário doméstico de computadores.

Os indivíduos que usam software livre são tradicionalmente caracterizados como early-

adopters, ou seja, usuários que adotam tecnologia antes do resto do mercado. Esta

comunidade de usuários tende a se confundir com a comunidade de desenvolvedores,

pois aproveitam as possibilidades que o software livre oferece de adaptação e

customização, atividades estas, mais voltadas aos administradores de sistemas do que

para usuários finais (VON HIPPEL, 2002).

O primeiro papel que pode ser destacado para a comunidade de usuários é o de

cliente, sendo diretamente através do uso dos produtos (um administrador de rede

instalando um servidor web) ou indiretamente como no caso de um usuário consultando

o site da Amazon que roda sobre uma plataforma livre (FELLER & FITZGERALD,

Page 40: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

28

2002). Lakhani e Von Hippel (2002) estudaram as ocorrências de usuários como atores

quando estes reportam bugs, sugerem novas funcionalidades, criam documentação e

suportam outros usuários, ou seja, quando desempenham atividades que acabam por

provocar alterações nos sistemas.

Finalmente, apesar de um usuário não deter a propriedade de um software livre,

ele goza todos os direitos e liberdades previstos na licença do programa: redistribuição,

modificação, etc.

2.3.3.3 Empresas comerciais

Software livre não significa software grátis (FREE, 1999). Os programas podem

ser distribuídos de graça ou com cobrança. O próprio Stallman quando saiu do MIT

começou a cobrar pelo GNU Emacs. Ao longo dos anos, alguns modelos de negócio

surgiram para comercializar os softwares livres ou, de alguma outra forma, se apropriar

das receitas derivadas dos produtos.

A IBM, por exemplo, monta distribuições e vende sistemas Linux completos. A

estratégia da empresa é vender o hardware necessário e fornecer o software (livre) a um

preço simbólico. Neste caso, o papel da empresa também é desenvolver drivers

específicos e otimizar os programas para a sua plataforma. Além disso, seus programas

proprietários como o servidor de mail Notes e o banco de dados DB2 são portados nesta

plataforma. Outra fonte de receita para a empresa é venda de suporte técnico e de

treinamento.

Do outro lado do espectro proprietário-livre temos a Red Hat, empresa que

vende distribuições do Linux. Neste modelo de negócio, o valor agregado ao produto

advém da capacidade de integração da empresa, testando e otimizando várias

configurações dos programas. Raymond (2001) argumenta que a indústria de software

representa, na verdade, uma oferta de serviços que vêm sendo operada como se fosse

uma indústria ou manufatura. Neste sentido, a Red Hat obtém grande parte de suas

receitas através de treinamento e suporte que possuem uma margem alta. A venda de

software (que apresenta uma margem pequena) é baseada na força da marca Red Hat.

Um usuário ou empresa que compra uma distribuição oficial da Red Hat, em detrimento

de qualquer outra distribuição, compra o conforto, segurança e suporte associado à

marca (FELLER & FITZGERALD, 2002). Software livre é basicamente um mercado

de commodities. Assim sendo, os usuários valorizam uma marca em que podem confiar

Page 41: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

29

e que possa oferecer suporte a comunidade. Isto é, uma empresa deve ser capaz de se

diferenciar dos competidores, através do desenvolvimento de novos programas com a

divulgação do código para a comunidade. (DIBONA, 1999).

O modelo híbrido de organização existente entre as empresas e a comunidade de

programadores de software livre pode ser usado como explicação para a eficiência e

confiabilidade dos produtos. A função das empresas é basicamente complementar,

buscando oferecer serviços para o usuário final. As empresas contribuem com o

desenvolvimento de interfaces mais amigáveis e de drivers específicos, o que

normalmente não seria alvo da comunidade de desenvolvedores. (DALLE & JULLIEN,

2003).

Estas empresas geralmente desempenham os papéis de clientes e atores. Como

já visto anteriormente, quando as empresas adotam o software livre em suas atividades,

temos caracterizado o papel de cliente e quando promovem o desenvolvimento de novos

produtos e funcionalidades, as empresas aparecem como atores ou agentes de mudança.

O papel das empresas como donas de um software livre é mais sutil de ser observado,

da mesma forma que é difícil definir o verdadeiro proprietário. Apesar da Red Hat ter

pouca influência sobre o desenvolvimento do kernel do Linux, a empresa tem uma

tremenda influência sobre a percepção do público em geral sobre o que é um software

livre. Ou seja, a perpetuação do software livre pouco depende da existência de empresas

que o utilizem em seu modelo de negócios, embora sua adoção dependa do suporte

destas empresas (FELLER & FITZGERALD, 2002).

2.3.3.4 Organizações não comerciais

O que difere as organizações não comerciais das empresas vistas anteriormente é

a ideologia existente por detrás do movimento do software livre que determina uma

proteção passional dos direitos previstos nas licenças de distribuição. Estas

organizações (ou fundações) provêm a base legal para assegurar o desenvolvimento dos

projetos e têm a função de buscar os investimentos necessários para financiá-los.

De forma semelhante às empresas comerciais, as fundações são clientes usuais

de software livre e os maiores projetos (como o Apache, GNOME e Python) podem ser

identificados como os principais atores ou agentes de mudança, pois congregam os

vários programadores individuais envolvidos. Estas fundações também podem ser

consideradas como a melhor caracterização do papel de proprietários de software livre,

Page 42: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

30

pois sendo oriundas da comunidade elas consolidam a autoridade dos diversos

indivíduos que a compõe.

A tabela a seguir oferece um resumo dos principais stakeholders e os papéis

desempenhados.

Papel

Grupo Como Clientes Como Atores Como Donos

Desenvolvedores Usam o software li-vre como suporte ao desenvolvimento

Principais implementa-dores de alterações nos sistemas

Dão o direcionamento inicial do sistema, mas normalmente não têm o poder de terminá-lo.

Usuários Usam os produtos de forma direta ou indireta.

Podem usar o software livre como uma caixa preta ou configurá-lo. Também podem ser agentes de mudança ao reportar bugs.

Devido às licenças, têm o mesmo direito de propriedade que o criador do software.

Empresas Têm adotado o software livre do forma entusiástica.

Atuam como imple-mentadores ou patro-nos das mudanças.

Têm controle sobre a marca da distribuição, mas não sobre o produto em si.

Organizações Usam os produtos da mesma forma que as empresas.

Organizam o esforço de desenvolvimento.

Possuem o controle sobre o direcionamento e futuro dos projetos.

Quadro 4: Stakeholders e seus papéis. As células em destaque representam o papel

principal de cada grupo (Fonte: Feller e Fitzgerald, 2002).

2.3.4 Categoria Ambiente (Quando e onde?)

Os aspectos geográficos e temporais do desenvolvimento do software livre são

representados na categoria Ambiente do modelo de análise de Feller e Fitzgerald

(2002).

Em função da capilaridade da Internet, o modelo do software livre é

caracterizado geograficamente por grupos distribuídos virtualmente no ciberespaço ao

invés de estar restringido por limites físicos. Este processo ocorre entre times

distribuídos em que os participantes encontram-se fisicamente em várias partes do globo

e se comunicam e colaboram entre si através da Internet. Esta interação entre os

stakeholders acontece tanto de forma on-line, quanto off-line.

Page 43: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

31

A interação virtual on-line é baseada no uso de ferramentas da Internet como

newsgroups, troca de emails, listas de discussão e o repositório de programas CVS. A

web também serve como fonte de informações e suporte para as diversas atividades das

comunidades com a disponibilização de periódicos, livros e tutoriais.

As comunidades on-line tendem a se agrupar segundo interesses em comum,

enquanto as comunidades off-line são normalmente limitadas geograficamente. Estas

últimas têm formado grupos de usuários específicos de um projeto (Linux User Groups

e Apache User Groups, por exemplo) e encontram-se fisicamente em conferências e

convenções sobre software livre.

Os estudos demográficos já citados argumentam que, embora haja evidências da

amplitude internacional do movimento, não se pode afirmar que realmente tenhamos um

alcance global. Ou seja, o desenvolvimento de software livre tende a ser uma atividade

de países desenvolvidos e, mais especificamente, dos países ocidentais (FIELDING,

1999; DEMPSEY et al, 2002).

Sobre as características temporais do processo de desenvolvimento, Feller e

Fitzgerald (2002) destacam dois pontos que ainda não foram abordados: a evolução

rápida dos produtos e a utilização de ferramentas de comunicação síncronas e

assíncronas.

O modelo de desenvolvimento do software livre é caracterizado pelo

desenvolvimento em paralelo, feedback rápido e conseqüente evolução rápida dos

programas, uma vez que as melhorias incrementais são liberadas para o público com

freqüência ao contrário do modelo do software proprietário que lança versões com

grandes alterações em intervalos de tempo que chegam a anos. Comparada com a

inovação em hardware (que segue a Lei de Moore5), a evolução da indústria do software

pode ser considerada tímida. A inovação é lenta, sendo medida em décadas ao invés de

meses. Raymond (2001), entre outros, argumenta que a dinâmica do modelo "bazar"

provê a flexibilidade e capacidade de adaptação capaz de reverter esta disparidade.

Outra característica do processo é o favorecimento da comunicação assíncrona

(e-mail, listas de discussão, newsgroups, fóruns) em detrimento do uso de ferramentas

síncronas como chats e videoconferência. Uma explicação para este fato é a

5 A Lei de Moore diz que a capacidade de processamento do hardware dobra a cada 18 meses.

Page 44: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

32

característica de permanência da comunicação assíncrona que torna o processo de

desenvolvimento auto-documentado. Além disso, as ferramentas assíncronas permitem

que os stakeholders resolvam as questões com tempo suficiente para reflexão.

2.3.5 Categoria Visão de Mundo (Por quê?)

Feller e Fitzgerald (2002) propõem uma estrutura para análise dos aspectos

motivacionais que considera três grandes áreas - tecnológica, econômica e sócio-

psicológica - que depois são subdivididas em níveis micro e macro, ou seja, a motivação

dos indivíduos e das organizações e comunidades, respectivamente.

O quadro abaixo ilustra esta estrutura, onde temos um resumo de cada um dos

seis fatores motivacionais resultantes.

Nível

Área Micro (indivíduos) Macro (organizações e comunidades)

Tecnológica

§ Atender necessidade específica. § Explorar a eficiência do peer-review. § Trabalhar com tecnologia de ponta.

§ Atacar a crise do software (particularmente a qualidade).

§ Dividir tarefas entediantes com os usuários.

§ Promover a inovação. § Garantir a transparência das aplicações.

Econômica

§ Ganhar benefícios futuros na carreira. § Melhorar técnica de programação. § Baixo custo de oportunidade ("nada a

perder").

§ Mudança do paradigma do software como manufatura para um modelo de serviços.

§ Reforçar a marca. § Explorar receitas indiretas (produtos

complementares e serviços). § Redução de custos - plataforma mais

barata do que as alternativas proprietárias.

Sócio-psicológica

§ Gratificação do ego. § Motivação intrínseca para programar. § Senso de pertencer à comunidade. § Altruísmo.

§ Movimentos sociais precisam de um inimigo - ex. Microsoft.

§ Ideologia: software deve ser livre. § Modelo de trabalho para o futuro.

Quadro 5: Motivações no desenvolvimento do software livre (Fonte: Feller e Fitzgerald,

2002).

2.3.5.1 Motivações tecnológicas dos indivíduos

Neste nível, as motivações técnicas para participar de um projeto de software

livre remetem ao que Raymond (1998) chamou de "coçar uma ferida pessoal". A grande

maioria dos projetos bem sucedidos foi iniciada por indivíduos que tinham uma

Page 45: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

33

necessidade específica que não era atendida por produtos proprietários disponíveis.

Alguns exemplos são:

§ Linus Torvalds queria uma versão do Unix para rodar em um PC (Linux);

§ Eric Allman precisava de uma forma eficiente para distribuir e-mails para vários

endereços em Berkeley (Sendmail);

§ Larry Wall precisava gerar web pages de forma automática sem recorrer a

linguagem C (Perl);

§ Don Knuth precisava de um editor para textos técnicos (TeX).

Essas necessidades não atendidas, por si só, já eram suficientes para se iniciar

um projeto. Porém, as vantagens do peer-review, desenvolvimento colaborativo e outros

aspectos do modelo de desenvolvimento do software livre podem ser consideradas

como elementos motivadores para a disponibilização do código através de uma licença

compatível.

A oportunidade de trabalhar com ferramentas com tecnologia de ponta também

pode ser considerada uma motivação tecnológica para a participação em projetos de

software livre. Esta oportunidade é particularmente atrativa para desenvolvedores que

utilizam ambientes computacionais tradicionais, pois eles podem estar usando

ferramentas e tecnologias defasadas em virtude destas serem as únicas disponíveis ou

serem mandatórias em um determinado projeto (FELLER & FITZGERALD, 2002).

Lakhani et al. (2002) identificaram três grupos (dos quatro encontrados em sua

pesquisa sobre as motivações de desenvolvedores de software livre) que buscam um

aprimoramento de seus conhecimentos técnicos. Os indivíduos do grupo chamado

Profissionais (25% da amostra) fazem-no pela necessidade de aplicar estes

conhecimentos no trabalho, enquanto os Hobbistas (27%) usam-nos em atividades não

relacionadas com trabalho. O terceiro grupo relatou, além do fator técnico, que sua

participação representa uma diversão. Este grupo é formado basicamente por estudantes.

A Universidade de Maastricht na Holanda desenvolveu ao longo dos anos de

2001 e 2002 várias pesquisas com o intuito de buscar informações sobre o software

livre. O estudo sobre as motivações de desenvolvedores indicou que a atuação da

comunidade está mais ligada a um hobby do que a trabalho salariado. Ao se comparar os

Page 46: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

34

motivos que levam os programadores a iniciar sua participação com aqueles que os

levam a continuar no projeto, verificou-se que inicialmente estes indivíduos visam

melhorar seus conhecimentos e trocar informações com outros desenvolvedores.

Quando se entra em um período de amadurecimento é que aparecem aspectos políticos

(ideológicos) e comerciais. Além de engenheiros de software e programadores, os

estudantes desempenham um papel significante na comunidade. Porém, a liderança dos

projetos e a avaliação da performance dos mesmos é normalmente delegada aos

profissionais (FLOSS, 2002).

Kuan (2002) baseou sua pesquisa em somente uma única explicação para o

movimento: os desenvolvedores escrevem o software para seu próprio uso. Ou seja,

segundo a autora, é uma decisão de fazer ou comprar.

Em virtude de o software livre ser escrito com a finalidade de satisfazer as

necessidades dos usuários, os produtos tendem a apresentar algumas características em

comum. A autora afirma que o software livre aparece em nichos tecnicamente

sofisticados, pois os desenvolvedores normalmente são profissionais da área de SI.

Quando existe software comercial que já satisfaça os requisitos do usuário, não há

interesse dos desenvolvedores em criar um produto similar. Por fim, uma característica

levantada é a alta qualidade do software produzido. Uma vez que os desenvolvedores

também são usuários, há especificações detalhadas disponíveis para a criação do

software e motivação para fazê-lo com qualidade.

Ao comparar o tempo decorrido para a resolução de problemas entre três pares

de softwares livres e comerciais similares, a autora encontrou evidências de que os

primeiros tendem a possuir qualidade igual ou superior aos últimos.

Von Hippel (1988; 2002) baseia sua pesquisa no desenvolvimento de estratégias

para identificar novas idéias e inovações de forma rápida e sistemática. O modelo

tradicional de inovação assume que os fabricantes normalmente são os direcionadores

do processo. O autor, porém, afirma que novos produtos e serviços plenamente

funcionais tendem a ser desenvolvidos por “lead-users”. Estes usuários deparam-se com

algumas necessidades não atendidas meses ou anos antes da grande maioria dos outros

usuários e desenvolvem suas próprias soluções, uma vez que as empresas não dispõem

de produtos customizados para eles.

Page 47: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

35

As corporações interessadas em buscar inovações radicais devem ter a

capacidade de identificar os lead-users e aprender com o que foi desenvolvido por eles.

Von Hippel busca através de suas pesquisas mostrar que o locus da inovação está

passando gradativamente das empresas para os usuários e o software livre é um

exemplo. Além disto, as inovações por usuários e para usuários6 envolvem não

somente a melhoria do produto, mas também sua distribuição, atualização e suporte.

2.3.5.2 Motivações tecnológicas das organizações

Em um nível macro, uma das principais motivações das organizações é a busca

de soluções para a crise no desenvolvimento do software. É comum os projetos durarem

muito tempo para serem completos, com custos elevados e, por fim, não apresentarem

um funcionamento adequado.

Como visto anteriormente, o desenvolvimento de software livre tem como

característica uma evolução rápida, o que pode ser usado para tratar o primeiro item a

crise. Como grande parte do código dos softwares livres é oriundo de contribuições

voluntárias, o aspecto do custo tende a ser minimizado. Todavia, o custo real do

desenvolvimento de um software livre nunca foi estimado. Vários programadores

utilizam o horário de trabalho em suas organizações para desenvolver ferramentas

livres, mascarando o custo real dos produtos. Finalmente, a questão da qualidade é

indubitavelmente tratada pelo software livre, pois sua adoção é feita somente por

critérios técnicos, sendo escolhido os melhores produtos em cada categoria. A qualidade

dos produtos também pode ser creditada ao processo de peer-review feito por um grupo

grande de desenvolvedores talentosos.

Há um paralelo interessante entre o desenvolvimento de software em geral e a

evolução do automóvel e do telefone. Acreditava-se que a adoção destes últimos estava

limitada pela necessidade da intervenção de um técnico na utilização de cada produto.

No caso do telefone, para completar uma ligação era necessária a intervenção de uma

telefonista e no caso do automóvel, era assumido que as viagens só seriam possíveis

com motoristas treinados. Estes eram os grandes gargalos que limitavam a adoção

destas tecnologias. De forma similar, a falta de técnicos também é um limitador para a

6 User-to-user innovation no original.

Page 48: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

36

indústria do software que pode ser minimizado pelo processo de desenvolvimento do

software livre. Tarefas com características pouco técnicas, como testes, criação de

documentação e a elaboração de requisitos, podem ser delegadas para a comunidade de

usuários, uma vez que são consideradas entediantes e ocupam o tempo de

desenvolvimento (FELLER & FITZGERALD, 2002).

Algumas empresas adotam o software livre por motivos técnicos como, por

exemplo, a Nasa que destaca a transparência oferecida pelo acesso ao código-fonte.

Desta forma, os sistemas podem ser exaustivamente testados e a segurança da operação

não fica dependente de uma “caixa preta”.

Algumas empresas, a Netscape sendo um exemplo, tentaram usar o modelo de

desenvolvimento do software livre, buscando novas formas de fomentar a inovação em

seus produtos, mas não obtiveram comprometimento da comunidade ao abrir o código

de seus programas. A falta de uma licença de distribuição clara e a dúvida causada nos

programadores sobre a futura utilização do seu código fez com que o desenvolvimento

do novo navegador da Netscape fosse muito atrasado (DALLE & JULLIEN, 2003).

2.3.5.3 Motivações econômicas dos indivíduos

Por que os programadores contribuem para o desenvolvimento de software livre

com informação que poderia se tornar proprietária? A explicação mais simples reside no

ganho de reputação que, porventura, pode se converter em algum avanço na carreira.

Atualmente existem várias empresas que provêm serviços aos usuários de software livre

- distribuição de pacotes, suporte, manutenção e customização. É comum estas empresas

oferecerem empregos à comunidade, criando assim uma expectativa entre os

desenvolvedores de que sua reputação possa ser expressa em termos monetários

(LERNER & TIROLE, 2000; DALLE & JULLIEN, 2003).

Existem programadores que, basicamente, desenvolvem aplicativos para seu

próprio uso. Ou sejam, podem ser considerados usuários inovadores que visam atender

suas necessidades (VON HIPPEL, 1988). Estes usuários pouco têm a ganhar mantendo

em segredo sua produção intelectual, pois não há valor de troca e o custo de desenvolver

tais inovações é relativamente baixo. Desta forma, antes que soluções similares sejam

desenvolvidas e distribuídas pela comunidade, estes usuários tornam sua contribuição

pública (HARHOFF et al., 2000; LAKHANI & VON HIPPEL, 2000)

Page 49: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

37

Se outras pessoas ou entidades pudessem se apropriar da reputação e

recompensas vinculadas ao software livre, essas contribuições seriam muito menores

(em quantidade e qualidade). As licenças de distribuição existentes, mais

especificamente o copyleft, provêm o suporte legal para que isto não ocorra, uma vez

que é permitido ler, modificar e redistribuir o código, mas não permite que ele seja

usado de forma proprietária (DALLE & JULLIEN, 2003). Lakhani et al. (2002)

observaram que alguns indivíduos desenvolvem aplicativos livres porque a licença os

obriga.

O conhecimento é basicamente criado a partir do conhecimento previamente

existente, ou seja, só se atinge uma melhoria contínua se o conhecimento for

publicamente revelado. O valor social de criar e revelar uma nova descoberta é

significativamente maior do que o valor individual que se apropria ao manter este

conhecimento em segredo. Logo, a existência de mecanismos que reforcem e garantam

a autoria da nova descoberta é necessária para sua difusão. Os exemplos mais comuns

desses mecanismos são as patentes e a comunidade científica. As patentes garantem

legalmente e por determinado período de tempo o monopólio sobre uma descoberta. Já

dentro da comunidade científica, a reputação é reforçada aos cientistas que publiquem

primeiro os resultados de suas pesquisas. Historicamente, sendo o movimento do

software livre oriundo do meio acadêmico, o mecanismo de copyleft funciona como um

patente ao contrário, ou seja, ao invés de se conceder a propriedade, esta é negada

(DALLE & JULLIEN, 2003).

Patentes Comunidade Científica Software Livre

Incentivos Monopólio Reputação pelo reconhecimento dos pares

Reputação, visando a carreira

Garantias Legal Auto-regulação da comunidade Licenças, copyleft

Distribuição Bases de dados de patentes mantidas por instituições públicas

Publicações científicas, conferências

Internet (e-mail, listas de discussão, web sites)

Quadro 6: Mecanismos de proteção da propriedade intelectual (Fonte: DALLE &

JULLIEN, 2003)

Lancashire (2002) busca definir o movimento em termos estritamente

econômicos. Ele divide os softwares livres em quatro categorias, utilizando dois eixos

Page 50: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

38

ortogonais. Na vertical encontra-se a complexidade do sistema, baseada no número de

linhas dos programas e suas funcionalidades. No eixo horizontal distribuem-se os

softwares quanto à participação de empresas comerciais no seu desenvolvimento.

Assim, definiu-se duas categorias: anti-proprietários e complementares.

O foco do estudo de Lancashire foram dois programas que se encontram no

quadrante anti-proprietário e de alta complexidade. O autor identificou a nacionalidade

dos desenvolvedores do Linux e do GNOME e comparou o número de desenvolvedores

com a população dos seus países de origem. Inicialmente, foi calculada a participação

per capita, sendo posteriormente refinada através do levantamento da população que

dispõe de acesso à Internet em casa e da respectiva parte da população composta

somente por desenvolvedores.

A conclusão do autor é de que, apesar de o movimento do software livre ter-se

iniciado nos EUA, atualmente a grande força produtiva encontra-se na Europa. O

pesquisador faz uma analogia entre o desenvolvimento de software livre com a

migração histórica, citando um Mayflower7 às avessas. Sua explicação para este fato

está no boom de empresas de tecnologia da informação nos EUA, que fez com que os

desenvolvedores alcançassem altos salários neste país, não havendo outra motivação

para juntar-se a projetos de software livre. A participação é caracterizada, então, como

um “custo fixo” que jovens programadores pagam para estabelecer uma reputação

dentro da indústria.

Outro resultado levantado pelo autor refere-se à comparação da participação dos

programadores com o índice de pirataria de software nos seus países de origem. Altos

níveis de pirataria tenderiam a reduzir o interesse no desenvolvimento de alternativas

abertas para produtos comerciais.

2.3.5.4 Motivações econômicas das organizações

Inicialmente, a idéia de que o software livre poderia ser economicamente viável

para as organizações comerciais parecia ser o aspecto mais problemático do movimento.

Apesar da noção de se obter receitas e lucros do software livre não ser facilmente aceita,

7 Nome do navio que trouxe imigrantes da Inglaterra para os EUA.

Page 51: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

39

é indiscutível a existência de diversos modelos de negócio que podem ser usados pelas

organizações.

O argumento que tem sido mais utilizado é o de que a indústria de software está

atravessando uma mudança de paradigma do modelo baseado em commodity para um

voltado para a prestação de serviços. De forma irônica, esta mudança no modelo foi

iniciada principalmente pela Microsoft que tomou o controle da indústria que antes era

dominado pela IBM e outros vendedores de hardware e cujo foco era em equipamentos.

A Microsoft iniciou seu reposicionamento através de diversas iniciativas, incluindo a

disponibilização do código-fonte de alguns dos produtos para seus principais clientes.

Entretanto, a estratégia de posicionamento dos produtos .Net é mais significativa, onde

os clientes irão alugar os softwares da Microsoft ao invés de comprá-los.

Esta mudança de paradigma de um modelo de commodities para um modelo

baseado em serviços faz sentido sobre uma ótica econômica. Software, em geral, tem

um custo de reprodução que tende a zero, mas possui altos custos de manutenção e

serviços, isto é, grande parte do custo de desenvolvimento de um software (70 a 80%) é

incorrido na fase de manutenção. O modelo do software livre, então, é reconhecido

como uma alternativa, onde o produto é distribuído a um preço módico e as empresas

competem pela prestação de serviços. (FELLER & FITZGERALD, 2002)

O’Reilly (1998) apresenta vários modelos econômicos que se apoderam das

receitas indiretas do software livre. As empresas obtêm receitas, no mínimo, através de

três formas distintas: distribuindo pacotes, adicionando valor ao software através de

produtos proprietários ou de alguma forma relacionando seus produtos com o software

livre.

O primeiro modelo consiste em acondicionar pacotes de software livre de uma

forma user-friendly, simples de instalar. Assim, pode ser vendido sob uma marca

conhecida juntamente com livros, manuais, treinamento e suporte. O cliente, então, paga

pela mídia que contém o código aberto, o selo da empresa que garante que esta é a

versão mais recente e estável do software e o comprometimento de suporte ao produto.

Com a popularização destes pacotes, ocorre o aparecimento de um gap entre as

necessidades dos usuários finais e os desenvolvedores. A comunidade de usuários

demanda serviços adicionais e concorda em pagar por estes, o que gera novas

oportunidades de negócio.

Page 52: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

40

Este modelo híbrido produz software proprietário que é vendido comercialmente

e, normalmente, não tem seu código distribuído para a comunidade de desenvolvedores

de software livre. O sistema de e-mail Sendmail é um exemplo de software livre que

possui versões comerciais voltadas para empresas que têm na troca de e-mails um fator

crítico, mas também possui uma versão distribuída livremente. (LJUNGBERG, 2000)

O terceiro modelo descrito por O’Reilly (1998) sugere que algumas empresas

não mantêm o foco no código aberto ou no desenvolvimento de aplicativos adicionais.

Seu objetivo é manter uma relação entre seus produtos e os softwares livres de forma a

atingir um mercado maior, aprimorar seu produto ou ganhar credibilidade. No primeiro

caso temos como exemplo a Oracle disponibilizando seu banco de dados para a

plataforma Linux. A Netscape abriu o código do seu navegador para a Internet com o

intuito de acelerar o desenvolvimento de futuras versões. Por fim, a IBM vende seu

servidor de aplicações web (WebSphere) com o servidor de conteúdo Apache. Este

último é líder de mercado no seu segmento e, com isso, a IBM pretende trazer

credibilidade para seu produto.

Ljungberg (2000) sugere que o movimento de software livre e as atividades

comerciais sejam simbióticas. Os desenvolvedores comerciais obtêm valor do produto

não-comercial e, ao mesmo tempo, aumentam o interesse pelo produto, retornando valor

para a comunidade de software livre.

2.3.5.5 Motivações sócio-psicológicas dos indivíduos

Existem vários fatores que podem ser classificados nesta categoria, incluindo a

gratificação do ego, motivações intrínsecas, senso de comunidade e altruísmo.

Lerner e Tirole (2000) identificaram a gratificação do ego como uma das formas

de explicar a motivação individual dos participantes de projetos de software livre. Os

programadores que trabalham em projetos tradicionais deparam-se usualmente com

longos períodos até que obtenham um feedback ou avaliação de seu trabalho. Assim

sendo, em projetos de software livre, os programadores podem verificar a rápida adoção

de seu código pela comunidade, além do reconhecimento que recebem ser oriundo de

pares respeitáveis e não de gerentes ou usuários de sua organização.

Hars e Ou (2001) discutiram o fator da motivação intrínseca baseado nas

necessidades dos indivíduos de realização e auto-estima que foram anteriormente

estudadas no trabalho de Maslow (1987). Visto por este lado, participar de um projeto

Page 53: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

41

de software livre é tido como possuir um hobby que traz uma satisfação intrínseca. Esta

posição é corroborada em entrevistas com programadores que exibem seu desejo inato

de programar. O próprio Linus Torvalds cita a importância de se divertir como um dos

seus principais objetivos de vida e que o desenvolvimento do Linux representou uma

oportunidade significativa de diversão. Alguns programadores chegam a comentar que

estão dando o melhor de si e que em nenhum outro projeto estariam usando melhor seus

conhecimentos. Lakhani et al. (2002) também citam em seu estudo que um grupo

formado principalemte por estudantes é influenciado pela diversão além de buscar a

melhoria dos seus conhecimentos técnicos. Os autores também identificaram um grupo

(representando 19% dos participantes da pesquisa) que acredita fortemente que o

código-fonte deva ser aberto, ou seja, há um alinhamento com as motivações de cunho

ideológico defendidas por Stallman (1996; 2002).

A sensação de pertencer a uma comunidade também aparece como um dos

principais fatores motivacionais do desenvolvedor. Enquanto os indivíduos possam se

sentir impotentes diante de um monopólio, ao pertencer a uma comunidade global tem-

se a sensação de poder necessária para combatê-lo. Na pesquisa de Hars e Ou (2001)

mais da metade dos respondentes (52%) citaram a senso de comunidade como a razão

de sua participação em projetos de software livre.

O último fator motivacional que se aplica aos participantes é o altruísmo. Uma

vez formado o senso de comunidade, os indivíduos tenderão a sentir a necessidade de

ajudar os outros participantes. Também pode ser relacionado às necessidades de

Maslow (1987), no sentido de que o altruísmo traz satisfação e complementa certas

necessidades individuais. Raymond (2001) considera este fator como uma oferta de

presentes em um clima de abundância, uma variação da festa potlatch.

A comunidade desenvolvedora de software livre é freqüentemente associada a

uma economia de dons ou cultura de dádivas. Os fundamentos destas economias estão

na obrigação de retribuir um presente recebido. Uma transação envolve normalmente

uma obrigação tácita de retribuição do presente em algum momento futuro, sem que

haja exigência explícita. Em uma cultura como esta, o status social não é definido pelo

que se detém ou controla, mas por aquilo que é dado. Assim sendo, o ato de presentear é

uma forma de poder e controle. (LJUNGBERG, 2000)

Page 54: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

42

"De origem indígena, a palavra potlatch significa dom na linguagem nootka. Os etnólogos americanos descobriram-na e descreveram-na largamente nos fins do século XIX, mas foi o antropólogo francês Marcel Mauss que desenvolveu um estudo completo em «Essai sur le don. Forme et raison de l´échange dans les sociétés archaïques». Identificada na vida social dos indígenas do noroeste do pacífico que forneceram seu modelo mais notável, a prática do potlatch foi encontrada em várias tribos indígenas sob formas variadas. O potlatch é uma cerimônia com caráter de festa, durante a qual um chefe oferece ostensivamente a um rival uma quantidade enorme de riquezas para o humilhar ou desafiar. Este último, para apagar a humilhação e contrapor o desafio, assume uma obrigação moral ao aceitar o dom. Assim, deve mais tarde organizar um novo potlatch, mais importante do que o primeiro, onde se mostrará mais generoso do que o anterior. Em outras palavras, deve dar sem usura". (POTLATCH, 2002)

Em uma economia de trocas (ou commodity), o status social é determinado por

aquilo que se detém. Já em uma economia do dom, o status é medido com base naquilo

que se dá aos outros indivíduos. A ajuda mútua e a troca de informações pela Internet

podem ser consideradas como um exemplo de economia do dom. Porém, existem alguns

diferenciais que devem ser levantados.

Normalmente, a informação disponibilizada não tem um destinatário específico

ou conhecido e, por vezes, é entregue a grupos ou comunidades inteiras. Outra diferença

reside em não existir a transferência da posse do presente, mesmo após sua entrega. Ou

seja, o desenvolvedor do software livre continua com a posse do produto após tê-lo

ofertado. Trata-se, então, de um recurso infinito. (LJUNGBERG, 2000)

Neste ponto, a pesquisa acadêmica tem grande semelhança com o

desenvolvimento de software livre. A única medida de sucesso é a reputação obtida

entre os pares. Aqueles cientistas com maior status não são aqueles que possuem maior

conhecimento, mas sim, aqueles que mais contribuíram para seu campo de estudo. Um

cientista que detém grande conhecimento, mas possui poucas contribuições é

freqüentemente menosprezado – sua carreira é vista como um desperdício de talento.

(PINCHOT, 1995)

No meio acadêmico, o sistema de peer-review define se as contribuições

individuais são suficientemente boas para serem aceitas pelo grupo. Peer-review é,

Page 55: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

43

portanto, um mecanismo social que permite aos experts ou membros da uma

comunidade manter o controle sobre as inovações em uma área. (LJUNGBERG, 2000)

As comunidades de software livre adotam esta mesma norma, pois foram em

parte originadas por acadêmicos da ciência da computação. Assim sendo, o sistema de

peer-review ocorre desta forma: um programa é escrito e levado a apreciação. Uma vez

revisado e depurado, sendo sua qualidade atestada pelos pares, o software é entregue à

comunidade e seu autor recebe os créditos em sua reputação.

2.3.5.6 Motivações sócio-psicológicas das organizações

O movimento do software livre é freqüentemente visto sob uma ótica coletivista

e comunista. Bob Young, fundador da Red Hat, adaptou o manifesto comunista para

caracterizar o movimento: “de programadores de acordo com suas capacidades, para

usuários de acordo com suas necessidades”. (FELLER & FITZGERALD, 2002)

Os movimentos sociais normalmente precisam de um inimigo e a Microsoft tem

assumido o papel do anti-herói para a comunidade do software livre. A ideologia, neste

caso, é levada ao limite de se evitar o uso de produtos da Microsoft ou qualquer outro

software proprietário. Uma das premissas na criação da Free Software Foundation

reside na crença de que todo código-fonte deve estar disponível para qualquer um, como

pode ser visto nos termos da licença de distribuição do copyleft. Neste sentido, a FSF

tenta prover uma família completa de alternativas livres para pacotes comerciais,

mesmo depois do surgimento da Open Source Initiative que tentou desassociar o

movimento deste fundo ideológico.

Mais recentemente, o potencial do modelo de desenvolvimento do software livre

tem sido expandido para outras áreas. Cook (2001) argumenta que o modelo poderia ser

usado no desenvolvimento tradicional, distribuindo-se tarefas para todo o mundo

através da Internet, criando, assim, uma organização virtual de programadores.

Feller e Fitzgerald (2002) citam o exemplo do diretor do National Institute of

Health que deciciu ignorar os canais acadêmicos convencionais de peer-review e

publicar as pesquisas diretamente no website e, assim, torná-las disponíveis de forma

mais rápida para qualquer um que possa se beneficiar destas informações. A iniciativa

da Hewlett-Packard de criar o “Corporate Source” também pode ser referenciada ao

modelo do software livre. O CEO da empresa acredita que a empresa pode ser tornar

mais rentável distribuindo o conhecimento dos empregados internamente sem,

Page 56: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

44

entretanto, comprometer a propriedade intelectual que poderia ser perdida caso a

informação fosse disseminada para fora da companhia.

2.4 Participação brasileira na comunidade

Nesta seção serão apresentados alguns projetos de software livre onde se pode

observar a participação de usuários e programadores brasileiros. Também é possível

ilustrar o papel da cada stakeholder: usuários, programadores, empresas e organizações.

2.4.1 Conectiva

O Conectiva Linux representa a versão brasileira do sistema operacional

GNU/Linux. Assim como outras empresas (Red Hat, Caldera, SuSE e TurboLinux, por

exemplo) que adotaram o modelo de negócio que consiste no fornecimento de

distribuições do programa, a Conectiva vende o sistema e outros pacotes que facilitam

sua operação por um preço módico e obtém suas receitas a partir de serviços agregados.

Atualmente, um funcionário da Conectiva, Marcelo Tossati, é o responsável pela

manutenção da versão estável (2.4) do kernel do Linux. Sua função é manter um fluxo

de inovações constante, mas sem modificar a estrutura básica do sistema.

A Conectiva foi fundada em 1995, tem sua matriz em Curitiba (PR), filiais nas

principais capitais do país e operações em vários países da América Latina. No ano de

2001 a receita da empresa totalizou R$ 8,5 milhões e o resultado foi negativo, embora o

montante não seja revelado. Segundo pesquisa da FGV8 somente 12% da base instalada

de servidores no Brasil rodava o sistema operacional Linux. A grande maioria utilizava

o sistema Windows da Microsoft. Nos microcomputadores desktop a diferença era ainda

mais evidente: 97% rodam Windows contra 2% de Linux e Unix juntos. A esta falta de

escala credita-se o resultado negativo da empresa, uma vez que não se cobra pela

licença de uso do software (RICO & ROSA, 2002). Globalmente, a fim de buscar o

ganho de escala necessários às operações, foi anunciado em 19 de novembro de 2002 o

lançamento do UnitedLinux, sistema operacional voltado para a certificação e

8 A pesquisa “Administração de Recursos de Informática” da FGV-EAESP indica o crescimento

do market share do Linux em servidores com 3% em 2000, 8% em 2001 e 12% em 2002. A 14ª edição da

pesquisa encontra-se disponível em http://www.fgvsp.br/academico/estudos/cia/pesquisa.

Page 57: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

45

unificação das distribuições de Linux existentes. O grupo é formado por alguns líderes

da indústria: Conectiva, SCO Group, Suse e Turbolinux e tem o apoio da HP e IBM

(UNITEDLINUX, 2002).

2.4.2 OpenOffice.org.br

O OpenOffice.org é definido com um projeto de código aberto com a missão de

criar um pacote de ferramentas de automação de escritório que rode na maioria das

plataformas computacionais existentes (Windows e Linux, entre outras) através das

contribuições de uma comunidades de usuários e programadores. O pacote é compostos

por um processador de textos, uma planilha de cálculos, um editor HTML, um editor

vetorial e um editor de apresentações (OPENOFFICE.ORG, 2002).

A versão brasileira do OpenOffice.org é caracterizada como a "união de todos

projetos e subprojetos, vinculados direta ou indiretamente com a intenção de localizar e

auxiliar os usuários no Brasil". Entenda-se localizar como a tradução da interface dos

aplicativos. As seguintes tarefas são citadas como importantes para a comunidade

brasileira:

§ Localização do produto OpenOffice.org para o português do Brasil;

§ Produção de informações em português (home pages e documentação);

§ Compilação do pacote na versão mais recente;

§ Disponibilidade de mirrors para download das últimas versões do produto nas mais

diferentes plataformas;

§ Implementação e aperfeiçoamento de ferramentas lingüísticas para o Brasil

(dicionário e corretor ortográfico);

§ Publicidade para o OpenOffice.org no país.

2.4.3 Debian-br

O Debian é uma distribuição GNU/Linux que tem como característica principal

a universalidade, ou seja, o objetivo do projeto é produzir um sistema operacional de

caráter livre que possa ser usado em qualquer lugar do mundo por qualquer pessoa

(DEBIAN, 2003). O sistema é desenvolvido por mais de 500 voluntários ao redor do

mundo e conta com suporte a seis arquiteturas de hardware: Alpha, ARM, Intel x86,

Motorola 680x0, PowerPC e Sparc. Uma das caraterísticas mais distintas do Debian é o

Page 58: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

46

programa APT, uma ferramenta utilizada na administração de pacotes, sendo seu

objetivo facilitar a instalação, remoção e atualização dos mesmos. Quando um usuário

inicia a instalação de um novo pacote, a ferramenta automaticamente instala e atualiza

os outros softwares necessários para seu correto funcionamento.

No Brasil, a principal função dos desenvolvedores é localizar o Debian, ou seja,

traduzir as interfaces dos programas e a documentação existente. Alguns exemplos dos

projetos brasileiros são: tradução das descrições de pacotes, das páginas web do Debian,

dos manuais de pacotes específicos da distribuição, da documentação e dos arquivos

utilizados no processo de instalação.

2.4.4 Kurumin

O Kurumin Linux é uma distribuição brasileira do sistema operacional baseada

no Knoppix (que, por sua vez, é baseada no Debian). Como principais características

destacam-se o tamanho pequeno da distribuição, pois são 185 Mb que cabem em um

mini-CD de 80mm, e a possibilidade de inicialização diretamente do CD-ROM, sem

que nenhuma informação seja gravada nos discos do computador.

O objetivo do sistema é ser uma distribuição para uso em desktops, fácil de usar

e instalar e que tenha suporte a modems e multimídia. A distribuição está traduzida para

o português do Brasil e inclui apenas um programa para cada tarefa, sem compiladores

nem servidores. Por isso, sendo o Kurumin uma das distribuições mais leves disponíveis

hoje em dia é possível instalá-lo até mesmo em micros antigos, permitindo rodá-lo de

forma aceitável em Pentium 100 com 32 MB.

Questionado se já não existem muitas distribuições do Linux, o autor afirmou

que o Kurumin pode ser encarado como uma distribuição especializada e cita algumas

aplicações:

"Imagine que você tenha um site e você resolve vender um CD com algumas

matérias do site e um conjunto de programas. Não seria interessante que este

CD também fosse bootável, para que pudesse ser usado também como um disco

de recuperação? (...) Existem inúmeras outras aplicações. Uma loja pode usá-

lo em kiosques para oferecer acesso à web [ou a] algum sistema de consulta de

preços e informações. (...) Com o Kurumin fica muito mais fácil e barato, pois o

sistema roda direto do CD, não pega vírus, não precisa ser reinstalado. Você

não precisa se preocupar com o que as crianças estão fazendo no Kiosque,

Page 59: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

47

qualquer problema é só reiniciar. Uma loja que vende micros usados, daquele

tipo que vem sem sistema operacional e com três meses de garantia poderia

fornecer o CD do Kurumin junto com os micros para mostrar que eles estão

funcionando e permitir que o cliente possa usar o micro mesmo antes de ter

tempo de instalar o sistema operacional definitivo. " (MORIMOTO, 2002)

2.4.5 CIPSGA

O Comitê de Incentivo a Produção de Software GNU e Alternativo pode ser

considerado um representante das organizações que suportam o desenvolvimento do

software livre. Foi criado em 1999 por Djalma Valois, um profissional oriundo da

informática, que através de sua funções sindicais sempre esteve ligado à regulamentação

da profissão, à Lei de Informática e outras questões políticas.

O objetivo do comitê é disseminar as idéias, os conceitos e principalmente a

filosofia do software livre que, em uma linha semelhante a de Richard Stallman, se

"esforça em fazer a diferenciação entre a característica de um software ser gratuito e

aberto, e o direito à liberdade, solidariedade e companheirismo". O comitê tem como

principal enfoque a atuação junto a empresas públicas, mostrando através de palestras as

possibilidades do software livre, o que normalmente acarreta um acordo de cooperação

mútua entre o CIPSGA e as empresas. (CIPSGA, 2000)

2.4.6 Projeto Software Livre RS

Também na linha de organizações que apoiam e fomentam a utilização de

alternativas livres encontra-se o Projeto Software Livre RS. Trata-se de uma

organização não governamental que reúne diversas instituições públicas e privadas do

Estado do Rio Grande do Sul: poder público, universidades, empresários, grupos de

usuários, desenvolvedores e ONGs.

O principal objetivo do Projeto é "a promoção do uso e do desenvolvimento de

software livre como uma alternativa econômica e tecnológica. Estimulando o uso de

software livre, o projeto investe na produção e qualificação do conhecimento local a

partir de um novo paradigma de desenvolvimento sustentado e de uma nova postura,

que insere a questão tecnológica no contexto da construção de mundo com inclusão

social e igualdade de acesso aos avanços tecnológicos". (PROJETO, 2003)

Page 60: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

48

Iniciado em 2000, o Projeto organiza anualmente o Fórum Internacional de

Software Livre na cidade de Porto Alegre e atualmente é um dos principais

articuladores da criação do Projeto Software Livre Brasil, cuja função será impulsionar

o software livre através da reunião de diferentes níveis de governo, entidades públicas e

privadas, empresas, universidades, programadores e usuários. Segundo Marcelo Branco,

um dos coordenadores do PSL RS, o Brasil gasta mais de US$ 1 bilhão por ano em

pagamento de royalties, montante que poderia ser destinado, por exemplo, à área social.

Page 61: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

49

3 Metodologia do Estudo

3.1 Tipo de Pesquisa

O critério de classificação proposto por Vergara (1997), segundo o qual uma

pesquisa pode ser caracterizada quanto aos seus fins e quanto aos seus meios, foi

utilizado para definir a tipologia deste estudo.

Quanto aos fins, tem caráter descritivo, uma vez que pretende identificar quais

são as motivações que levam usuários e desenvolvedores a participarem de projetos de

software livre.

Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, telematizada e de

campo. Bibliográfica porque foi feita uma revisão da literatura existente sobre a

evolução do conceito do software livre, além de estudos já realizados sobre a motivação

de empresas, organizações e indivíduos. O objetivo da pesquisa bibliográfica foi

identificar variáveis e modelos a serem utilizados no estudo.

Como se trata de um assunto que somente agora começa a ganhar o foco da

academia e da mídia em geral, e está diretamente ligado à utilização de computadores,

muito material ainda não foi publicado, mas está disponível na Internet. Assim sendo,

também é possível caracterizar esta pesquisa como telematizada.

Por fim, este trabalho também pode ser classificado como um pesquisa de campo

por ter utilizado questionários com o objetivo de levantar as informações necessárias

para definir o perfil dos indivíduos.

3.2 Universo e a amostra

O universo da pesquisa foi definido como usuários-desenvolvedores de software

livre residentes no Brasil.

Segundo a classificação sugerida por Vergara (1997), a seleção dos sujeitos

pesquisados foi feita através de um processo de amostragem não probabilística por

acessibilidade que "seleciona elementos pela facilidade de acesso a eles".

Apesar das limitações deste tipo de amostragem no que se refere a

generalizações para o universo estudado, deve-se utilizá-lo principalmente em função

Page 62: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

50

do custo envolvido na coleta de dados de uma população selecionada aleatoriamente ou

quando não se tem acesso a listas completas da população.

A amostra final foi composta por 102 respondentes que foram escolhidos através

de buscas nas listas de discussão do Conectiva Linux, do Debian-br, da versão brasileira

do OpenOffice.org, do Kurumin, além de usuários/desenvolvedores da UERJ, Unicamp

e ALERJ. No caso do Conectiva Linux, os endereços de e-mail dos respondentes foram

obtidos através do histórico da lista de discussão sobre segurança. Foram utilizados os

arquivos dos meses de maio, junho e julho de 2003 e somente foram escolhidos os

indivíduos que postaram mais de duas mensagens. Procedimento semelhante foi

utilizado para os usuários/desenvolvedores do Debian-br e do OpenOffice.org. No caso

do Kurumin, o arquivo de mensagens não estava classificado por mês, mas era possível

ordenar os usuários pela quantidade de mensagens trocadas. Nem todos os usuários

oferecem um endereço de e-mail para contato e, dentre os disponíveis, foram escolhidos

aqueles com mais de 10 mensagens enviadas. O restante da amostra foi selecionado por

sua facilidade de acesso.

3.3 Coleta de dados

A coleta de dados referentes a pesquisa de campo foi realizada através da

aplicação de questionários on-line, ou seja, preenchidos na própria web. Os

respondentes foram contatados através de um e-mail que continha um link para o

endereço eletrônico onde se encontrava o questionário on-line.

A aplicação de questionários vem se democratizando através do uso de pesquisas

na Internet. As habilidades necessárias para se produzir um questionário na web estão

amplamente difundidas e qualquer pessoa, além de empresas, universidades e

organizações governamentais, tem acesso a ferramentas que permitem a construções de

sites com pesquisas. Estas habilidades são diferentes daquelas necessárias à construção

de outros tipos de pesquisas, pois foca-se mais em tópicos de programação e design de

home pages do que na metodologia tradicional de pesquisas.

Gunn (2002) afirma que não existe outro método de coleta de dados de

questionários que ofereça tanto potencial por um custo tão pequeno. Outras vantagens

das pesquisas na Internet também são citadas: taxa de resposta rápida; facilidade de

processamento dos dados, pois pode ser feito o download das respostas diretamente para

Page 63: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

51

planilhas, banco de dados ou pacotes estatísticos; capacidade de validação de erros no

preenchimento; possibilidade de ordenar as perguntas de forma aleatória; inclusão de

instruções pop-up para determinadas perguntas; tornar mais fácil o fluxo entre perguntas

do tipo "caso sua resposta seja não, vá para a pergunta X".

Zanutto (2001) ressalta, porém, que algumas questões devem ser avaliadas

cuidadosamente na utilização de questionários na Internet. Os questionários podem não

ter a mesma aparência em diferentes navegadores ou monitores. Assim sendo, os

respondentes podem ter visões diferentes de uma mesma pergunta ou podem estar

recebendo estímulos visuais diferentes. Estas pessoas também podem ter níveis distintos

de experiência com computadores, o que pode acarretar erros nas respostas ou, até

mesmo, que as perguntas não sejam respondidas. Por fim, existe a questão da

privacidade. Há informações que podem ser coletadas sobre os respondentes sem seu

conhecimento ou consentimento. É possível determinar, por exemplo, a data e hora em

que o questionário foi respondido, quanto tempo foi gasto em cada pergunta, qual o

browser utilizado e o endereço IP do computador do respondente. Embora os

participantes possam ter preocupações com sua privacidade, as informações coletadas

podem ser extremamente úteis ao pesquisador.

A autora também apresenta algumas instruções para o desenho de pesquisas na

Internet que incluem a utilização de uma carta de apresentação e a simplificação do

questionário, que no máximo deve levar 20 minutos para ser respondido. Além disso,

deve-se informar a previsão do tempo para conclusão do mesmo e garantir que a

primeira pergunta seja interessante, fácil de responder e intimamente relacionada com o

assunto da pesquisa.

O questionário foi colocado no web hosting gratuito Tripod/Lycos no endereço

http://members.lycos.co.uk/softlivre e pode ser visualizado no Anexo A. Para sua

confecção foram usadas as ferramentas livres PHP e o banco de dados MySQL.

O primeiro bloco do questionário foi composto pelos dados demográficos dos

respondentes e uma pergunta que buscou o posicionamento sobre qual termo caracteriza

melhor o movimento – Open Source Software ou Free Software.

No segundo bloco encontram-se perguntas com escalas de Likert de 5 pontos

(discordo plenamente até concordo plenamente) onde se buscou identificar quais fatores

levam estes indivíduos a usar e desenvolver softwares livres. Seguindo a estrutura

Page 64: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

52

definida por Feller & Fitzgerald (2002), as perguntas foram formuladas com a intenção

de caracterizar as três grandes áreas motivacionais existentes na teoria. Um resumo é

mostrado a seguir:

§ Motivações tecnológicas: representadas pela perguntas 10, 12, 14, e 25;

§ Motivações econômicas: perguntas 17, 19, 22, 23, 24 e 26;

§ Motivações sócio-psicológicas: é o maior grupo, composto pelas perguntas 11, 13,

15, 16, 18, 20, 21 e 27.

3.4 Análise dos dados

Os dados coletados através do questionário foram importados para o pacote

estatístico SPSS, onde foram realizadas as análises. Foi criada uma página on-line onde

era possível acompanhar o andamento do preenchimento dos questionários e que listava

as respostas em um formato específico para importação do SPSS.

Em um primeiro momento foi realizada a análise descritiva dos dados

demográficos e uma análise de correspondência entre as variáveis demográficas, a fim

de se obter uma representação gráfica dos grupos existentes na amostra.

Em seguida, foi realizada a análise descritiva dos itens componentes das

variáveis motivacionais. Ao se usar uma escala de Likert para as perguntas sobre as

motivações dos respondentes, convencionou-se que as respostas “Discordo Plenamente”

seriam codificadas como 1, “Discordo um pouco” como 2, “Sou indiferente” como 3,

“Concordo um pouco” como 4 e, finalmente, “Concordo Plenamente” como 5.

O objetivo final da análise era buscar grupos pessoas que tivessem distintas

motivações, como é afirmado na teoria sobre os fatores que levam usuários e

desenvolvedores a adotarem softwares livres. Antes de efetuar a análise de clusters para

obter esses grupos, foi feita uma análise fatorial sobre as variáveis motivacionais para

se reduzir o número de itens de estudo e identificar as dimensões latentes das variáveis.

3.5 Limitações

As deficiências deste estudo estão relacionadas principalmente à etapa de coleta

de dados. Uma vez que a base amostral não foi probabilística, é possível dizer que ela

não representou por completo o universo de usuário e desenvolvedores de software

livre.

Page 65: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

53

Apesar de ter sido testado em diversos navegadores, a aparência do questionário

dependia da configuração do modo de vídeo de cada respondente. Assim sendo, vídeos

com resolução baixa poderiam dificultar a leitura das perguntas. Além disso, o web

hosting, apesar de gratuito, colocava automaticamente um frame com propaganda no

lado direito do questionário quando a página era acessada pela primeira vez, o que

também dificultava sua leitura. Dependendo do navegador e do provedor do

respondente, este frame não era exibido.

A própria formulação do questionário pode ter produzido alguma distorção

quanto ao entendimento das questões, apesar da preocupação em se efetuar pré-testes.

Mesmo assim, não se pode garantir a ausência de erros de interpretação, embora tenha

se buscado minimizá-los.

Page 66: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

54

4 Resultados

Este capítulo apresenta os resultados obtidos com a análise dos dados obtidos na

aplicação do questionário. Primeiro é apresentada a análise descritiva dos respondentes

e, posteriormente, a análise dos fatores motivacionais destas pessoas.

4.1 Análise descritiva dos respondentes

Foram enviados 164 e-mails informando o link para o questionário e convidando

as pessoas a respondê-lo. Deste total, houve erro no envio de seis e-mails, pois os

endereços estavam desativados. O número total de questionários respondidos foi igual a

102, o que representa uma taxa de retorno de 64,6%. Este valor não pode ser

considerado definitivo, pois não havia restrição ao preenchimento do questionário

(através de uma senha, por exemplo). Assim sendo, um respondente poderia repassar o

link com o questionário para algum conhecido, o que altera o cálculo da taxa de retorno.

A amostra é composta por 97% (N=99) de homens e 3% (N=3) de mulheres, o

que mostra o predomínio masculino na comunidade hacker. Quanto a idade dos

respondentes, temos 40% entre 16 e 25 anos e outros 40% entre 25 e 35 anos. Ainda

tivemos 2% com idade inferior a 16 anos e o restante (18%) acima dos 35 anos. Estas

informações podem ser visualizadas no gráfico a seguir. Para fins das análises

subseqüentes, os dois indivíduos com menos de 16 anos foram incorporados ao grupo

com idade entre 16 e 25 anos. Em relação ao tempo em que estas pessoas têm contato

com qualquer software livre, 15% responderam que usam ou desenvolvem há menos de

um ano, 34% entre um e três e a maioria (51%) há mais de 3 anos, o que é um indício de

que a adoção do software livre no Brasil não é recente.

Gráfico 1: Idade da amostra e anos de utilização de software livre

Idade da Amostra

2%

40%

40%

18% <16

16-25

25-35

>35

Anos de uso

15%

34%51%

T < 1

T 1-3

T > 3

Page 67: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

55

Quanto à profissão dos respondentes, o questionário apresentou uma deficiência

para representar de forma eficiente todas as categorias. Foi verificado que quase 30%

dos indivíduos (N=30) responderam a opção “Outra”. Nestes casos, era obrigatório

informar qual seria a profissão e, de posse desta informação, foram codificadas três

novas categorias profissionais: funcionários de empresas de economia mista, autônomos

e empresários. O gráfico 2 exibe a distribuição destas categorias, onde pode ser vista a

predominância de funcionários da iniciativa privada, funcionários públicos e estudantes.

Gráfico 2: Profissão da amostra

A função que cada indivíduo desempenhava dentro da Comunidade do software

livre também possuía uma resposta “Outra” para aqueles que não se enquadrassem nas

categorias Interessado, Usuário, Programador/Analista ou Administador de sistemas.

Apesar de pouco utilizado, o campo livre para detalhamento da função “Outra” serviu

para que alguns indivíduos expressassem suas idéias. Algumas respostas que merecem

destaque foram “usuário, administrador, analista e muito interessado”, “Interessado,

usuário e futuro desenvolvedor”, “Evangelizador” e “amador (que faz algo por amor)”.

O grupo de Usuários apresentou o maior percentual entre os indivíduos (34%),

seguido pelos Administradores (30%) e Programadores (28%). Apenas 7% dos

respondentes incluíram-se na categoria Interessados. O gráfico a seguir resume estas

informações.

Profissão da amostra

Profissão

EmpresárioAutônomoMistaPrivadaPúblicoEstudante

Per

cent

ual

30

25

20

15

10

5

0

Page 68: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

56

Gráfico 3: Função desempenhada por cada indivíduo

Quando ao local de utilização do software livre, a grande maioria dos indivíduos

(67%) respondeu que o utiliza tanto em casa quanto no trabalho. Apenas 21 indivíduos

(21%) utilizam os programas somente em casa e os 17 restantes (que correspondem a

17% da amostra) somente no trabalho.

Gráfico 4: Local de utilização

Funções desempenhadas

Função

AdmUsuPrgInt

Per

cent

ual

40

35

30

25

20

15

10

5

0

Local de utilização

Onde

AmbTrabCasa

Per

cent

ual

70

60

50

40

30

20

10

0

Page 69: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

57

Por fim, foi solicitado aos respondentes que escolhessem qual termo definiria

melhor o movimento. Para 56% da amostra, o termo Open Source Software é o mais

adequado, enquanto o restante (44%) considera o termo Free Software mais indicado

para definir o movimento.

Para tornar mais clara e fácil a análise dos dados dos participantes da pesquisa, a

técnica de análise de correspondência (também conhecida como análise de

homogeneidade) foi empregada sobre as variáveis demográficas. Este tipo de análise

facilita a redução de dimensões e permite o mapeamento perceptual. É importante

ressaltar que um modelo é extraído a partir da amostra selecionada e não vice-versa. Ou

seja, a análise de correspondência é uma técnica que deve ser utilizada em análises

descritivas ou exploratórias (STATISTICA, 2000).

Gráfico 5: Análise de correspondência entre idade, local, tempo, função e profissão

A distância entre os pontos de categorias distintas não possui significado

estatístico. Somente deve ser considerada para análise a distância dos pontos em relação

à origem. Foram consideradas os três primeiros fatores extraídos pela análise. Partindo

do quadrante inferior direito é possível determinar algumas características da amostra.

Page 70: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

58

Aqueles que se definiram como usuários já utilizam o software livre há mais de

um ano (e menos de três) e fazem-no normalmente em casa. Por outro lado, aqueles que

se auto-intitularam interessados têm uma tendência a utilizar o software livre no

trabalho e há menos de um ano. Funcionários públicos ou aqueles que trabalham em

empresas de economia mista são os mais velhos (as duas categorias de maior idade – 26

a 35 e maiores de 35 anos -estão neste quadrante).

Administradores de sistemas utilizam o software livre tanto em casa quanto no

trabalho e são aqueles que o fazem há mais tempo (mais de três anos). Neste quadrante

também se encontram empresários e autônomos. Finalmente, no quadrante superior

direito frontal, temos os indivíduos mais novos (com idade entre 16 e 25 anos) que

ainda são estudantes e tendem a ser programadores.

4.2 Análise das variáveis motivacionais

A tabela 1 a seguir exibe o posicionamento dos usuários e desenvolvedores de

software livre em relação aos fatores motivacionais apresentados no questionário. As

estatísticas descritivas são listadas para cada uma das respostas possíveis: 1 – Discordo

plenamente, 2 – Discordo um pouco, 3 – Sou indiferente, 4 – Concordo um pouco e 5 –

Concordo plenamente.

1 (%)

2 (%)

3 (%)

4 (%)

5 (%) Média D.P.

P10 Confiabilidade, segurança e estabilidade 4 13 15 29 39 3,87 1,18

P11 Informação deve ser livre 10 7 12 22 49 3,94 1,33

P12 Possibilidade de adaptação 4 6 11 17 62 4,28 1,12

P13 Retribuição de ajuda 5 2 15 17 61 4,28 1,10

P14 Trabalhar com tecnologia de ponta 2 6 15 34 43 4,11 0,99

P15 Usar/desenvolver é diversão 4 5 16 21 54 4,18 1,11

P16 Ganhar reputação através de contribuições 10 3 30 23 34 3,69 1,25

P17 Melhorar a empregabilidade 6 5 25 28 36 3,83 1,15

P18 Contra o monopólio da Microsoft 5 2 14 12 67 4,35 1,10

P19 Receber pagamento para usar/desenvolver 43 9 22 8 18 2,48 1,53

P20 Ajudar, mesmo com sacrifício 3 8 16 36 37 3,97 1,06

Page 71: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

59

1 (%)

2 (%)

3 (%)

4 (%)

5 (%)

Média D.P.

P21 Auto-realização, melhor de si 3 6 19 27 45 4,06 1,07

P22 Obrigação em usar/desenvolver 76 7 9 6 2 1,50 1,01

P23 Usar/desenvolver nas horas vagas 11 6 23 31 29 3,63 1,27

P24 Custo baixo comparado com benefícios 7 9 19 25 40 3,83 1,24

P25 Aumentar conhecimentos em computação 1 0 5 19 75 4,68 0,66

P26 Vender produtos ou serviços 18 1 28 22 31 3,48 1,41

P27 Orgulho em fazer parte da comunidade 4 0 19 8 69 4,39 1,05

Tabela 1: Estatísticas descritivas dos fatores motivacionais

Os fatores tecnológicos (perguntas 10, 12, 14 e 25) tiveram um padrão de

respostas semelhantes, onde a maioria dos usuários e desenvolvedores tende a concordar

com os benefícios pessoais da adoção do software livre9. O resultado mais expressivo

ficou com a pergunta 25, onde 94% dos respondentes concordam em alguma

intensidade que utilizar ou desenvolver software livre acarreta um aumento em seus

conhecimentos em computação. Estas respostas também tiveram o menor desvio padrão

(0,66). De forma semelhante, a maioria concorda que têm contato com uma tecnologia

de ponta e destaca a possibilidade de adaptar o software livre às suas necessidades. As

respostas à pergunta 10 mostram o posicionamento conflitante em relação a

confiabilidade, segurança e estabilidade dos softwares livres: 68% associam estes

quesitos de qualidade ao software livre, enquanto 17% não acreditam que ele seja

melhor do que os similares proprietários.

Os fatores econômicos foram representados pelas perguntas 17, 19, 22, 23, 24 e

26. Grande parte dos respondentes concorda que o custo de oportunidade em usar ou

desenvolver software livre é baixo quando comparado com os possíveis benefícios.

Também acredita-se (64% dos indivíduos) que é possível obter um emprego melhor

através da adoção do software livre.

9 O teste de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado a todas as variáveis e os resultados obtidos

demostram que provavelmente são oriundas de uma distribuição normal (p<0,001 para todas com exceção

da P16 – p=0,001 – e da P26 – p=0,003).

Page 72: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

60

Um resultado que parece contraditório é que 43% da amostra definitivamente

não recebe pagamento para usar ou desenvolver programas, enquanto 26% dos

respondentes afirmaram que recebem algum tipo de contrapartida monetária. Entretanto,

somente oito indivíduos (8% da amostra) indicaram que desenvolvem ou usam software

livre porque são obrigados. Uma explicação para este resultado é que pode ser

considerado socialmente incorreto ser obrigado a participar de projetos de software

livre. Ou ainda, mesmo que obrigado, o indivíduo tem satisfação ou outra motivação

intrínseca que compense este fato. Também é interessante notar que 53% dos usuários e

desenvolvedores pretendem vender produtos ou serviços relacionados ao software livre,

enquanto 28% da amostra é indiferente a este fato.

Os fatores sócio-psicológicos estão representados pelas perguntas 11, 13, 15, 16,

18, 20, 21 e 27. De forma similar às respostas dos fatores tecnológicos, os indivíduos

tiveram um padrão semelhante, com a maioria dos usuários e desenvolvedores tendendo

a concordar com as assertivas do questionário. Assim sendo, 49% da amostra acredita

que a informação deva ser livre e 67% consideram que a Microsoft detém um

monopólio e são absolutamente contra este fato.

A identificação com a comunidade é grande, sendo representada pelos 77% de

respondentes que sentem orgulho de sua participação. Outro ponto que reforça este fato

é o suporte a outros usuários em retribuição à ajuda que foi recebida anteriormente e

também a prestação de ajuda mesmo que isto represente um sacrifício (perguntas 13 e

20 respectivamente).

Usar ou desenvolver software livre também é considerado pelas pessoas uma

diversão e também é possível dizer que muitos estão dando o melhor de si (auto-

realização) quando participam dos projetos. A questão da reputação dentro da

comunidade também tende a ser importante para grande parte dos indivíduos, porém

30% do total é indiferente aos ganhos de reputação que podem ser auferidos pelas

contribuições de melhorias no código ou pela ajuda a outros usuários.

O gráfico a seguir resume a percepção dos pesquisados relação ao software livre

e os fatores que os motivam a desenvolver e utilizar os programas.

Page 73: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

61

Gráfico 6: Motivações de usuários e desenvolvedores

4.3 Identificação dos grupos

De forma genérica, houve um alinhamento entre as respostas dos usuários e

desenvolvedores e os aspectos tecnológicos, econômicos e sócio-psicológicos

encontrados da teoria. É possível dizer que várias pessoas utilizam o software livre

porque têm a oportunidade de melhorar seus conhecimentos em computação e porque é

possível customizá-lo para que atenda alguma necessidade específica. O custo de

oportunidade é baixo, as horas vagas são utilizadas para aprender mais sobre o tema e

existe a expectativa de se obter melhores empregos. Há forte identificação com a

comunidade, refletindo-se na ajuda mútua ente usuários e desenvolvedores, e ainda é

possível se divertir. Porém, existem alguns indícios de que estas pessoas não formam

um grupo homogêneo e que motivações distintas possam estar associadas a

determinados grupos.

4.3.1 Análise fatorial

A fim de se reduzir o número de variáveis do estudo referentes às motivações foi

utilizada a técnica de análise fatorial. Ao final foram extraídas seis dimensões latentes e

a propriedade de seu emprego foi verificada através da Medida de Adequação da

Amostra (MSA de Kaiser-Meyer-Olkin) e de Esfericidade de Bartlett.

94

79

79

78

77

77

75

73

72

71

68

65

64

60

57

53

26

8

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Aumentar conhecimentos em computação

Contra o monopólio da Microsoft

Possibilidade de adaptação

Retribuição de ajuda

Orgulho em fazer parte da comunidade

Trabalhar com tecnologia de ponta

Usar/desenvolver é diversão

Ajudar, mesmo com sacrifício

Auto-realização, melhor de si

Informação deve ser livre

Confiabilidade, segurança e estabilidade

Custo baixo comparado com benefícios

Melhorar a empregabilidade

Usar/desenvolver nas horas vagas

Ganhar reputação através de contribuições

Vender produtos ou serviços

Receber pagamento para usar/desenvolver

Obrigação em usar/desenvolver

Concorda Indiferente Discorda

Page 74: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

62

Valores de MSA entre 0,8 e 0,9 são considerados bons, enquanto valores

menores do que 0,5 são inaceitáveis (SAS, 1999). A aplicação da análise fatorial na

amostra resultou em um MSA igual a 0,789 que está bastante próximo do limite

desejável. O teste de Esfericidade de Bartlett foi significativo a p < 0,001, o que indica a

adequação do resultado obtido.

Componentes Autovalores % Variância Acumulado

1 5,4656 30,36 30,36

2 1,9430 10,79 41,16

3 1,3449 7,47 48,63

4 1,1926 6,63 55,26

5 1,1300 6,28 61,53

6 0,9414 5,23 66,76

7 0,8290 4,61 71,37

8 0,7812 4,34 75,71

9 0,6432 3,57 79,28

10 0,6136 3,41 82,69

11 0,5543 3,08 85,77

12 0,5456 3,03 88,80

13 0,4712 2,62 91,42

14 0,4143 2,30 93,72

15 0,3715 2,06 95,78

16 0,2913 1,62 97,40

17 0,2703 1,50 98,90

18 0,1972 1,10 100,00

Tabela 2: Autovalores da análise fatorial

Determinar o número de autovalores a extrair não é uma tarefa direta, uma vez

que esta decisão é bastante subjetiva. Os critérios mais utilizados são: a regra de

Kaiser-Guttman, o percentual de variância explicado e o teste do “cotovelo” (scree test).

A regra de Kaiser-Guttman diz que somente devem ser utilizados fatores cujos

autovalores apresentam valores maiores do que um, uma vez que o fator deve ter

variância no mínimo igual ao valor normalizado original da variável (1). Outra forma de

se determinar o número de fatores é fixar um limite de corte para o percentual de

variância comum. Um valor usualmente citado é 75%. Algumas vezes também é

utilizado o gráfico de autovalores versus os fatores para se ter uma visão do número

Page 75: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

63

máximo de fatores a extrair. Esta curva tende a cair rapidamente nos primeiros

autovalores até que a taxa de declínio se torne praticamente constante. O ponto da curva

onde há um “cotovelo” indica o número máximo de fatores a extrair. Porém, em alguns

casos este gráfico não oferece uma boa indicação. (ACITS, 1997).

Vale lembrar que deve ser levado em conta a capacidade de interpretação dos

fatores quando da sua extração. Quanto mais fatores forem usados, menor será a

correlação residual. Todavia, a interpretação dos fatores pode ser tornar pouco trivial.

No presente estudo foi utilizada inicialmente regra de Kaiser-Guttman para definição do

número de fatores. Como o sexto fator está bem próximo de 1 e contribui com mais de

5% da variância total, também foi incluído nas análises subseqüentes.

Gráfico 7: Scree Plot dos autovalores

Após a extração dos seis fatores, foi aplicada a rotação ortogonal VARIMAX

para permitir uma melhor visualização dos mesmos. A tabela 3 apresenta as correlações

de fatores com as variáveis. Somente são exibidas cargas com valores absolutos maiores

do que 0,3. Com o resultado obtido, os novos fatores foram interpretados e nomeados da

seguinte forma:

(1) Este fator tem predominância de motivações tecnológicas, com cargas nos

itens “confiabilidade, segurança e estabilidade”, “possibilidade de

adaptação”, “trabalhar com tecnologia de ponta” e “aumentar conhecimentos

Scree Plot

Componente

181716151413121110987654321

Aut

oval

or

6

5

4

3

2

1

0

Page 76: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

64

em computação”, além de “informação deve ser livre”. Ele foi nomeado

como Aprendizado.

1 2 3 4 5 6

P10 Confiabilidade, segurança e estabilidade 0,396 0,586

P11 Informação deve ser livre 0,691 0,333

P12 Possibilidade de adaptação 0,679

P13 Retribuição de ajuda 0,559 0,320

P14 Trabalhar com tecnologia de ponta 0,817

P15 Usar/desenvolver é diversão 0,453 0,660

P16 Ganhar reputação através de contribuições 0,742

P17 Melhorar a empregabilidade 0,733

P18 Contra o monopólio da Microsoft 0,690 0,447

P19 Receber pagamento para usar/desenvolver 0,721 0,409

P20 Ajudar, mesmo com sacrifício 0,867

P21 Auto-realização, melhor de si 0,370 0,542 0,334

P22 Obrigação em usar/desenvolver -0,434 -0,661

P23 Usar/desenvolver nas horas vagas 0,707

P24 Custo baixo comparado com benefícios 0,753

P25 Aumentar conhecimentos em computação 0,448 0,574

P26 Vender produtos ou serviços 0,795

P27 Orgulho em fazer parte da comunidade 0,602 0,382

Tabela 3: Correlação entre os fatores e as variáveis motivacionais

(2) O segundo fator é marcado por motivações psicológicas e econômicas, onde

se destacam “usar/desenvolver é diversão”, “auto-realização”, “em horas

vagas”, “baixo custo de oportunidade”, “orgulho em fazer parte da

comunidade” e uma carga negativa em “obrigação em usar/desenvolver”. Foi

nomeado como Hobby.

(3) Este fator está dividido entre motivações tecnológicas (Confiabilidade e

Aumentar conhecimentos) e psicológicas (Contra o monopólio, auto-

realização e orgulho em fazer parte da comunidade). Também há carga

negativa na “obrigação em usar/desenvolver”. O nome escolhido para este

fator foi Ideologia.

Page 77: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

65

(4) O quarto fator possui motivações econômicas e psicológicas. É o único com

cargas positivas em “ganhar reputação” e “melhorar a empregabilidade”.

Ainda aparece a variável “contra o monopólio” e é interessante notar a carga

em “ informação deve ser livre”. Ele recebeu o nome de Reputação.

(5) O quinto fator possui altas cargas em motivações econômicas. É o único

onde aparece a variável “vender produtos ou serviços” e ainda contém os

itens “receber pagamento” e “auto-realização”. Ele foi nomeado como

Lucro.

(6) Por fim, o último fator é composto somente pelas variáveis “ajudar, mesmo

com sacrifício” e “receber pagamento”. Está relacionado com algum suporte

técnico ou ajuda profissional. Recebeu o nome de Suporte.

4.3.2 Análise de Clusters

Para determinação dos grupos de usuários e desenvolvedores foi utilizada a

Análise de Clusters através da função CLUSTER do pacote estatístico SPSS com o

método Ward. A escolha do número de clusters pode ser feita através da análise do

dendrograma obtido ao final da análise, conforme pode ser visto no gráfico 8.

O dendrograma (ou árvore) é a representação visual de uma análise hierárquica

de clusters onde se mostra como as observações foram sendo agrupadas ao longo do

processamento. No dendrograma gerado pelo SPSS, a distância inter-clusters é

recalculada para valores entre 0 e 25, preservando-se a razão original. A análise deste

gráfico levou à identificação de três grupos distintos de usuários e desenvolvedores de

software livre. O primeiro cluster é composto por 24 observações, o segundo por 54 e o

terceiro também contém 24 observações.

Page 78: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

66

Gráfico 8: Dendrograma utilizando o método Ward

Distância entre clusters C A S O 0 5 10 15 20 25 Num +---------+---------+---------+---------+---------+ 71 òø 96 òú 48 òú 40 òôòòòòòòòø 25 ò÷ ó 18 òûòø ó 69 ò÷ ó ó 79 òø ùòø ùòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòø 97 òú ó ó ó ó 55 òôò÷ ó ó ó 95 ò÷ ó ó ó 52 òø ó ó ó 58 òú ùòòò÷ ó 64 òôòòòú ó 77 òú ó ó 81 òú ó ó 61 òú ó ó 89 ò÷ ó ó 98 òø ó ùòø 99 òú ó ó ó 47 òú ó ó ó 75 òôòø ó ó ó 68 ò÷ ùò÷ ó ó 10 òø ó ó ó 44 òôò÷ ó ó 4 òú ó ó 86 òú ó ó 6 ò÷ ó ó 88 òûòòòø ó ó 102 ò÷ ó ó ó 3 òûòø ùòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòò÷ ùòòòòòòòòòø 65 ò÷ ó ó ó ó 62 òø ùò÷ ó ó 82 òú ó ó ó 84 òôò÷ ó ó 45 ò÷ ó ó 16 òûòø ó ó 31 ò÷ ùòòòø ó ó 32 òòòú ó ó ó 53 òòò÷ ùòòòòòø ó ó 11 òûòòòø ó ó ó ó 30 ò÷ ùò÷ ó ó ó 51 òòòòò÷ ùòòòòòòòòòòòòòòòòòòò÷ ó 70 òø ó ó 101 òôòòòòòø ó ó 7 òú ó ó ó 50 ò÷ ùòòòòò÷ ó 26 òø ó ó 28 òôòø ó ùòòòòòø 24 ò÷ ùòòò÷ ó ó 34 òø ó ó ó

Page 79: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

67

Distância entre clusters C A S O 0 5 10 15 20 25 Num +---------+---------+---------+---------+---------+ 73 òôò÷ ó ó 2 òú ó ó 13 ò÷ ó ó 72 òø ó ó 78 òôòø ó ó 27 ò÷ ùòòòø ó ó 43 òòò÷ ó ó ó 63 òø ùòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòø ó ó 67 òôòòòòòú ó ó ó 54 ò÷ ó ó ó ó 9 òûòø ó ó ó ó 56 ò÷ ùòø ó ó ó ó 92 òòò÷ ùò÷ ó ó ó 74 òûòø ó ó ó ó 100 ò÷ ùò÷ ó ó ó 36 òø ó ùò÷ ó 83 òôò÷ ó ó 5 òú ó ó 46 ò÷ ó ó 17 òòòûòòòø ó ó 35 òòò÷ ùòòòø ó ó 19 òòòòòòò÷ ùòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòø ó ó 23 òòòòòòòòòòò÷ ó ó ó 91 òûòòòø ùòòòòò÷ ó 93 ò÷ ùòòòòòòòø ó ó 22 òòòòò÷ ùòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòò÷ ó 76 òòòòòòòòòòòòò÷ ó 20 òø ó 94 òôòòòø ó 14 ò÷ ùòòòø ó 29 òûòø ó ó ó 85 ò÷ ùò÷ ó ó 38 òø ó ó ó 57 òôò÷ ùòòòòòòòòòòòòòòòø ó 39 ò÷ ó ó ó 21 òûòòòòòø ó ó ó 33 ò÷ ó ó ó ó 15 òø ùò÷ ó ó 90 òôòø ó ó ó 66 ò÷ ùòòò÷ ùòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòò÷ 37 òòò÷ ó 8 òø ó 49 òôòø ó 12 ò÷ ùòòòòòòòòòø ó 1 òòò÷ ó ó 60 òø ùòòòòòòòòòòò÷ 80 òú ó 42 òôòø ó 87 ò÷ ùòòòòòòòòò÷ 41 òûò÷ 59 ò÷

Page 80: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

68

A fim de validar se os grupos são estatisticamente diferenciados, a significância

estatística das médias dos fatores dos clusters foi verificada através do teste F obtido

pela aplicação do procedimento GLM Multivariate do SPSS. Os testes de significância

multivariados de Pillai, Wilks, Hotelling e Roy indicaram a diferença entre as médias

dos fatores a um nível de significância p<0,001. Este resultado é esperado, pois a

análise de clusters busca exatamente colocar as observações em grupos distintos e

maximizar a distância entre os clusters, obtendo, assim, a solução de maior significância

possível (STATISTICA, 2000).

Teste Valor F gl Hipótese gl Erro Sig. de F

Pillai's Trace 1,66065 19,63171 18 285,00 0,000

Wilks' Lambda 0,08685 20,09266 18 263,53 0,000

Hotelling's Trace 3,83048 19,50707 18 275,00 0,000

Roy's Largest Root 1,67358 26,49847 6 95,00 0,000

Tabela 4: Teste multivariado de significância

A fim de se obter uma representação gráfica do clusters obtidos, foi utilizada a

Análise Discriminante para mais uma vez obter uma redução de dimensões. Através

desta técnica é possível obter uma função discriminante que indica, a partir dos

resultados do questionário, de qual grupo faz parte um indivíduo. A estatística Lambda

de Wilks pode ser usada para indicar a diferença entre as médias dos grupos. Valores

baixos desta estatística indicam que as médias dos grupos tendem a ser diferentes. Os

autovalores indicam a porção da variância explicada e a correlação canônica é a

correlação entre os fatores discriminantes e os níveis da variável dependente. Uma alta

correlação (valor próximo de um) indica que a função discrimina os grupos de forma

adequada.

Função Autovalor %

Variância %

Acum Correlação canônica

Lambda de Wilk’s

Chi-quadrado Sig.

1 1,664 59,9 59,9 0,790 0,178 166,730 0,000

2 1,113 40,1 100,0 0,726 0,473 72,170 0,000

Tabela 5: Análise e teste das funções discriminantes

O gráfico a seguir exibe como as observações ficaram distribuídas no espaço

definido pelas duas funções discriminantes.

Page 81: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

69

Gráfico 9: Funções discriminantes canônicas

A matriz de estrutura exibe as correlações intra-grupos entre as variáveis

discriminantes e as funções canônicas discriminantes. Pode-se observar que os fatores

Reputação, Hobby e Aprendizado têm maior carga na função discriminante 1, enquanto

os fatores Ideologia, Lucro e Suporte possuem maior peso na função 2. Ou seja, pode-se

dizer que ao longo do eixo da função 1 temos a contraposição entre a busca de

conhecimento técnico e diversão e que o fator 2 caracteriza uma dicotomia entre

ideologia e obrigação.

Função Fator 1 2

Aprendizado -0,056 -0,043

Hobby 0,431 -0,033

Ideologia -0,185 -0,668

Reputação 0,455 0,082

Lucro -0,203 0,401

Suporte -0,157 0,234

Tabela 6: Matriz de Estrutura

Funções Canônicas

Função 2

6420-2-4

Fun

ção

14

2

0

-2

-4

-6

Cluster

3

2

1

Page 82: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

70

As tabelas 7 e 8 exibem, respectivamente, a média dos seis fatores motivacionais

para cada cluster e o valor das funções discriminantes para o ponto que representa o

centróide dos clusters, ou seja, os valores discriminantes de cada grupo quando se aplica

a média das variáveis na equação discriminante. Na tabela 9 estão listadas as médias das

variáveis do questionário para cada cluster.

Cluster Fator 1 2 3

Aprendizado 0,149 -0,030 -0,083

Hobby -0,814 0,384 -0,050

Ideologia 0,634 0,170 -1,016

Reputação -0,903 0,340 0,137

Lucro 0,195 -0,388 0,677

Suporte 0,202 -0,276 0,420

Tabela 7: Média dos fatores em cada cluster

Função Cluster 1 2

1 -2,183 -0,568

2 0,966 -0,580

3 0,010 1,873

Tabela 8: Valor da função nos centróides

Função Fator 1 2

Aprendizado -0,148 -0,091

Hobby 0,993 -0,060

Ideologia -0,391 -1,121

Reputação 1,032 0,147

Lucro -0,480 0,750

Suporte -0,395 0,466

Tabela 9: Coeficientes da função discriminante canônica

Com o auxílio das tabelas 7 e 10, pode-se observar que o cluster 1 valoriza a

tecnologia. Os membros deste grupo acreditam que o software livre é mais confiável,

seguro e estável do que os equivalentes proprietários, valorizam a possibilidade de

adaptação e buscam um aumento dos conhecimentos em computação. Estes indivíduos

Page 83: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

71

não encaram sua participação no desenvolvimento e utilização de software livre como

um hobby e não leva em consideração a reputação que pode ganhar com suas

contribuições. Existe a possibilidade de obter lucro, porém não é o grupo que mais

valoriza este fato. Foi classificado como Estudioso.

O cluster 2 se destaca pelo posicionamento em relação a liberdade de

informação, pelo divertimento na participação na comunidade e por usar ou desenvolver

nas horas vagas. É quem mais valoriza a reputação e, em contrapartida, não pretende

vender produtos ou serviços. É o grupo que apresenta mais características do espírito

hacker e os membros deste cluster receberam o nome de Hobbistas.

O terceiro cluster permanece neutro em relação à tecnologia e à diversão

(hobby). Sua posição também é neutra em relação a fatores ideológicos, enquanto se

destaca pela vontade de vender produtos e serviços e a obrigação quanto à participação.

Foi classificado como Profissional.

Cluster

1 2 3 Total

P10 Confiabilidade, segurança e estabilidade 4,33 3,93 3,29 3,87

P11 Informação deve ser livre 3,58 4,19 3,75 3,94

P12 Possibilidade de adaptação 4,42 4,26 4,21 4,28

P13 Retribuição de ajuda 4,25 4,26 4,38 4,28

P14 Trabalhar com tecnologia de ponta 4,13 4,15 4,00 4,11

P15 Usar/desenvolver é diversão 3,71 4,54 3,83 4,18

P16 Ganhar reputação através de contribuições 2,79 4,04 3,79 3,69

P17 Melhorar a empregabilidade 3,17 4,09 3,92 3,83

P18 Contra o monopólio da Microsoft 4,42 4,63 3,67 4,35

P19 Receber pagamento para usar/desenvolver 2,75 1,69 4,00 2,48

P20 Ajudar, mesmo com sacrifício 4,08 3,89 4,04 3,97

P21 Auto-realização, melhor de si 4,17 4,17 3,71 4,06

P22 Obrigação em usar/desenvolver 1,21 1,22 2,42 1,50

P23 Usar/desenvolver nas horas vagas 2,50 4,17 3,54 3,63

P24 Custo baixo comparado com benefícios 3,29 4,09 3,79 3,83

P25 Aumentar conhecimentos em computação 4,88 4,74 4,33 4,68

P26 Vender produtos ou serviços 3,54 3,28 3,88 3,48

P27 Orgulho em fazer parte da comunidade 3,96 4,65 4,25 4,39

Tabela 10: Média das variáveis por cluster

Page 84: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

72

Como pode ser visto no dendrograma, os Profissionais são compostos por dois

sub-grupos que têm sua distância inter-clusters próxima do limite estabelecido. Uma

nova análise foi feita utilizando-se quatro clusters a fim de identificar este grupo.

Como se trata de uma análise hierárquica de clusters, as médias dos fatores para

os grupos 1 e 2 não foram alteradas. O terceiro cluster, entretanto, agora foi dividido em

dois, com as seguintes médias para os fatores:

Cluster Fator 3 4

Aprendizado -0,122 -0,004

Hobby 0,279 -0,707

Ideologia -0,389 -2,270

Reputação 0,414 -0,417

Lucro 1,340 -0,651

Suporte 0,649 -0,037

Tabela 11: Média dos fatores para os clusters 3 e 4.

O cluster 3 dá importância a reputação, busca vender produtos ou serviços e dar

suporte. Este realmente é o Profissional. O novo grupo tem uma forte carga negativa na

ideologia, não se diverte ou utiliza o software livre nas horas vagas e também não busca

reputação ou lucro. Tem a média mais alta na variável referente à obrigação e, por isso,

foi classificado como Obrigado.

Cluster

3 4 Total

P10 Confiabilidade, segurança e estabilidade 4,00 1,88 3,87

P11 Informação deve ser livre 3,81 3,63 3,94

P12 Possibilidade de adaptação 4,56 3,50 4,28

P13 Retribuição de ajuda 4,81 3,50 4,28

P14 Trabalhar com tecnologia de ponta 4,13 3,75 4,11

P15 Usar/desenvolver é diversão 4,31 2,88 4,18

P16 Ganhar reputação através de contribuições 4,25 2,88 3,69

P17 Melhorar a empregabilidade 4,50 2,75 3,83

P18 Contra o monopólio da Microsoft 4,25 2,50 4,35

P19 Receber pagamento para usar/desenvolver 4,69 2,63 2,48

P20 Ajudar, mesmo com sacrifício 4,50 3,13 3,97

P21 Auto-realização, melhor de si 4,38 2,38 4,06

Page 85: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

73

Cluster

3 4 Total

P22 Obrigação em usar/desenvolver 1,94 3,38 1,50

P23 Usar/desenvolver nas horas vagas 3,88 2,88 3,63

P24 Custo baixo comparado com benefícios 4,06 3,25 3,83

P25 Aumentar conhecimentos em computação 4,50 4,00 4,68

P26 Vender produtos ou serviços 4,75 2,13 3,48

P27 Orgulho em fazer parte da comunidade 4,94 2,88 4,39

Tabela 12: Média das variáveis dos clusters 3 e 4

4.3.3 Dados demográficos dos Clusters

Os Estudiosos são em sua grande maioria jovens, estando os membros deste

grupo na faixa até 25 anos (42%) e entre 25 e 35 anos (50%). Há uma tendência a

pertencerem à iniciativa privada ou serem autônomos. Atrás dos Profissionais, é o

grupo onde há a maior incidência de programadores (42%) que vêm utilizando e

desenvolvendo software livre há mais de três anos. Utilizam o software livre tanto em

casa, quanto no trabalho, e não há uma distinção clara sobre qual termo define melhor o

movimento (Free software ou Open source software)

Comparando-se o grupo dos Hobbistas com os Estudiosos, verifica-se que a

maior concentração de hobbistas está na faixa de idade até os 25 anos (46%). Porém,

1/3 dos indivíduos deste grupo tem idade entre 25 e 35 anos e, ainda, 21% são mais

velhos, com idade acima dos 35 anos. Em relação ao histórico de utilização do software

livre, possuem distribuição semelhante aos Estudiosos, ou seja, metade do grupo

participa do movimento há mais de três anos. Este grupo é formado basicamente por

funcionários públicos, estudantes e trabalhadores da iniciativa privada. Quanto a função

desempenhada dentro da comunidade, temos principalmente usuários e administradores

de sistemas. Os programadores representam 19% do grupo. A maioria do grupo utiliza o

software livre em ambos os locais, mas 1/3 do grupo utiliza somente em casa. Por fim,

de forma semelhante ao primeiro grupo, não há uma orientação definida sobre qual

termo define de forma melhor o movimento.

O grupo dos Profissionais tem idade entre 25 e 35 anos, é composto por

autônomos, empresários e trabalhadores da iniciativa privada que tendem a

desempenhar os papéis de programadores e administradores de sistemas. É o grupo que

Page 86: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

74

utiliza o software livre há mais tempo e o faz tanto em casa, quanto no trabalho. Porém,

como era esperado, nenhum indivíduo respondeu que utiliza o software livre somente

em casa. Neste grupo há um posicionamento claro em relação ao termo Open Source

Software de forma semelhante ao relatado na literatura. Ou seja, os indivíduos deste

grupo valorizam as características técnicas do software livre em detrimento da

orientação ideológica.

Por fim, o grupo dos Obrigados é formado basicamente por estudantes e,

consequentemente, tem a média mais baixa de idade. Consideram-se usuários ou

programadores e metade dos indivíduos utiliza o software livre somente no trabalho

(faculdade), enquanto o restante usa em ambos os locais. Como é um grupo pequeno

(menos de 10% da amostra) pode ser considerado outlier. De qualquer forma, estes

indivíduos provavelmente estavam buscando ajuda nos grupos de discussão e, por

conseguinte, foram incluídos no processo de seleção da amostra.

As tabelas a seguir representam o sumário destas informações.

Grupo (%) Grupo (%) Idade 1 2 3 4

Local 1 2 3 4

< 25 42 46 19 63 Casa 12 33 0 0

25-35 50 33 56 25 Trabalho 21 6 6 50

> 35 8 21 25 12 Ambos 67 61 94 50

Grupo (%) Grupo (%) Ocupação 1 2 3 4

Função 1 2 3 4

Estudante 12 24 6 50 Interessado 4 11 0 0

Func. Público 17 32 6 25 Programador 42 19 44 25

Inic. Privada 42 24 19 13 Usuário 29 37 19 63

Econ. Mista 0 9 6 0 Administrador 25 33 37 12

Autônomo 25 7 38 12

Empresário 4 4 25 0

Page 87: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

75

Grupo (%) Grupo (%) Tempo 1 2 3 4

Orientação 1 2 3 4

T < 1 12 13 12 38 Open Source 54 50 75 63

T 1-3 38 37 19 38 Free Software 46 50 25 37

T > 3 50 50 69 25

Tabela 13: Dados demográficos dos clusters

Page 88: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

76

5 Conclusões

Neste trabalho tentou-se mostrar a atenção que o tema tem recebido, tanto da

indústria quanto da academia, através de alguns números da adoção do software livre e

dos estudos que vêm sendo desenvolvidos.

Inicialmente foi feita uma revisão da literatura onde se buscou retratar o

movimento desde suas origens, a criação da Free Software Foundation com sua posição

ideológica, o aparecimento do sistema operacional Linux e a adoção do termo Open

Source por alguns setores. Através do modelo de Feller & Fitzgerald (2002), o software

livre foi caracterizado através das cinco dimensões: qualificação, transformação,

stakeholders, ambiente e visão de mundo. Esta última foi a base para o desenvolvimento

do questionário on-line que buscou levantar as motivações e orientações de usuários e

desenvolvedores de software livre no Brasil.

A amostra final foi composta por 102 participantes que foram escolhidos através

de buscas nas listas de discussão do Conectiva Linux, do Debian-br, da versão brasileira

do OpenOffice.org, do Kurumin, além de usuários/desenvolvedores da UERJ, Unicamp

e ALERJ.

Como parte dos resultados, pode-se verificar que a comunidade do software livre

é jovem e predominantemente masculina. De forma geral, os participantes estão

buscando aumentar seus conhecimentos técnicos e acreditam que o software livre pode

ser adaptado a fim de atender às suas necessidades. Também há um forte

direcionamento contra o monopólio da Microsoft.

A análise dos dados dos questionários mostrou que os usuários e

desenvolvedores de software livre podem ser divididos em três grandes grupos. Os

resultados obtidos são semelhantes aos divulgados por Lakhani et al. (2002).

O maior grupo é composto por indivíduos que tem orientação em linha com o

espírito hacker: acreditam que a informação deva ser livre, divertem-se usando o

software livre, acreditam que possam ganhar reputação através de contribuições no

código ou ajudando outros usuários e têm orgulho em fazer parte da comunidade. São

principalmente usuários e administradores, mas também há programadores.

Há um grupo, menor do que o anterior, que é composto por pessoas que

basicamente buscam melhorar seus conhecimentos em computação, trabalhar com

Page 89: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

77

tecnologia de ponta e utilizam o software livre devido à possibilidade de adaptação às

suas necessidades. Este grupo não tem forte orientação ideológica e não utiliza ou

desenvolve o software livre nas horas vagas. São basicamente programadores.

O terceiro grande grupo é formado por profissionais que buscam no software

livre, além do conhecimento técnico, a oportunidade de vender produtos ou serviços. É

o grupo que apresenta maior faixa etária, com idade entre 25 e 35 anos, composto por

autônomos, empresários e trabalhadores da iniciativa privada que tendem a

desempenhar os papéis de programadores e administradores de sistemas. Utilizam o

software livre há mais tempo e o fazem tanto em casa, quanto no trabalho.

Por fim, a pesquisa encontrou um pequeno grupo de usuários, em sua maioria

estudantes, que são obrigados a usar o software livre e não estão ligados a aspectos

ideológicos ou técnicos. Como se trata de um grupo com poucos indivíduos, podem ser

considerados outliers.

A seguir, esses resultados são analisados no escopo específico do software livre

e quais são suas implicações para indústria do software e para as inovações em geral.

5.1 Resultados aplicáveis ao software livre

Os projetos de software livre são baseados predominantemente em contribuições

voluntárias sem um suporte organizacional tradicional e representam um campo fértil

para o aumento do conhecimento dos participantes. Várias são as características que

permitem e incentivam o aprendizado: o código produzido ser aberto, o próprio

processo de desenvolvimento e a comunicação entre os membros tornam as

comunidades do software livre um meio propício para o aprendizado por observação e

estimulam o “aprender fazendo” (YE & KISHIDA, 2003).

Porém, cada projeto apresenta graus de abertura diferentes em decorrência das

estruturas de controle adotadas que influenciam a participação de usuários e

desenvolvedores. Existem duas dimensões que permitem caracterizar o quão aberto é

um projeto: o produto e o processo. No primeiro caso, é possível encontrar projetos em

que somente a versão final do software é disponibilizada para os membros da

comunidade. Já em outros, todas as versões intermediárias são acessíveis. Quanto ao

processo decisório, existem projetos fechados onde a discussão sobre a evolução do

sistema é conduzida estritamente por um grupo central e, no outro extremo, há casos em

Page 90: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

78

que o processo de tomada de decisão é conduzido abertamente. A fim de que se obtenha

uma participação voltada para o aprendizado, é necessário buscar a maior abertura em

ambas as dimensões. Todavia, os líderes dos projetos terão reduzido o seu controle

sobre o sistema.

Ye e Kishida (2003) também citam que o aprendizado é inicialmente

caracterizado pela procura de novas formas de fazer as coisas ou de soluções para

problemas existentes, ou ainda pela busca do aprofundamento de conhecimento em

determinado domínio através de tarefas práticas. Para se garantir a sustentabilidade dos

projetos é preciso que o interesse inicial passe para uma participação efetiva. E isto

ocorre através do reconhecimento da comunidade e de recompensas pelas contribuições.

Os líderes dos projetos devem, então, criar um ambiente que fomente o senso de

comunidade e encoraje os novos participantes.

O presente estudo mostrou em um escopo global que os participantes buscam,

sobretudo, aumentar seus conhecimentos em computação através do software livre.

Todavia, os grupos encontrados possuem algumas motivações distintas.

É interessante notar que o grupo denominado Estudioso não valoriza os ganhos

de reputação provenientes de suas contribuições e não apresenta uma grande tendência

em sentir orgulho em fazer parte da comunidade. Uma vez que há a pretensão de vender

produtos ou serviços relacionados ao software livre, é preciso entender que o

crescimento dentro da comunidade se dá através da reputação e que oportunidades

devem surgir para aqueles de maior renome.

Os Profissionais buscam também o aprofundamento de seus conhecimentos e o

movimento pode se beneficiar disto, uma vez que estes indivíduos podem assumir

tarefas que normalmente não seriam alvo da comunidade (a criação de drivers

específicos, por exemplo).

Por fim, vale ressaltar o grupo dos Obrigados. Seu aparecimento nos resultados

pode ser decorrente de problemas na fase de coleta de dados da pesquisa. A obrigação

na utilização do software livre pode ser associada ao fato do grupo ser constituído, em

sua maioria, por estudantes. Porém, algumas questões inquietantes que não foram

abordadas na literatura até o momento podem ser levantadas. Sendo o movimento

caracterizado pela participação voluntária, como tratar as pessoas que são obrigadas a

utilizar o software livre? Apesar deste grupo apresentar uma vontade de aumentar seus

Page 91: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

79

conhecimentos em computação abaixo da média dos outros grupos, ainda há uma

tendência neste sentido. Como dito antes, é preciso buscar um interesse inicial para que

se passe a uma participação efetiva que garantirá a continuidade do movimento.

5.2 Resultados aplicáveis à indústria do software

Uma das facetas interessantes do estudo do software livre é a mudança do

paradigma do modelo baseado em manufatura para um baseado na oferta de serviços.

Vários são os exemplos na literatura de modelos de negócio que obtém receitas a partir

do software livre. Para citar uma forma, uma vez que o código-fonte está disponível, a

tarefa de desenvolver produtos complementares compatíveis fica facilitada, mesmo que

não haja a definição de padrões formais. O software livre pode, então, ser uma solução

para o problema da dependência de um fornecedor e do lock-in. Assim sendo, as

empresas devem avaliar a possibilidade de abrir o código de seus programas

proprietários, comparando as perdas de receitas de licenças com a possível melhoria de

qualidade e a evolução rápida dos programas.

O presente estudo mostrou através da identificação do grupo de Profissionais

que realmente existe espaço para as empresas venderem produtos ou serviços

relacionados ao software livre. Além disso, empresas interessadas em adotar o software

livre em seu modelo de negócio devem entender o que leva os indivíduos a usar e

desenvolver os programas para identificar as oportunidades de negócio.

5.3 Resultados aplicáveis à área de inovação tecnológica

O desenvolvimento de produtos é freqüentemente uma tarefa de difícil execução

pois a informação que se necessita (o que o cliente deseja) reside com o cliente e a

solução (como satisfazer as necessidades do cliente) encontra-se com o produtor. O

entendimento das necessidades do cliente normalmente é um processo custoso e

inexato. Com o crescente apelo pela customização dos produtos, entender e atender

determinado segmento do mercado pode ser algo inviável.

Neste sentido, algumas empresas estão adotando uma nova abordagem que, a

princípio, parece contraditória. Ao invés de tentar entender exatamente que produtos são

desejados pelos clientes, estas empresas oferecem ferramentas10 para que seus clientes

10 Os autores utilizam o termo “tool kit for customer innovation”.

Page 92: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

80

projetem e desenvolvam seus próprios produtos, que podem conter pequenas

modificações ou serem grandes inovações (THOMKE & VON HIPPEL, 2002).

Os autores, porém, afirmam que as empresas devem repensar suas práticas de

negócios ao adotar uma abordagem como esta. Uma empresa que transforma clientes

em inovadores está externalizando um serviço que anteriormente era proprietário. No

longo prazo, a empresa pode perder uma parte do valor que tradicionalmente ela

detinha. Mas, se as condições forem propícias para o surgimento de tecnologia que

permita a inovação pelos usuários e se estes forem beneficiados pelo processo, os

autores afirmam que é inevitável que alguma empresa lance mão dessas ferramentas

para inovação e obtenha vantagens no curto prazo.

As indústrias baseadas na informação e, em especial, a indústria do software

possivelmente sofrerão os maiores impactos com esta abordagem e, no software livre,

verifica-se um caso extremo onde os usuários aparecem como inovadores. Com ele, um

usuário pode projetar, desenvolver, distribuir e dar suporte aos seus próprios programas.

O presente estudo, ao levantar as motivações e papéis desempenhados pelos usuários,

mostrou que existem indivíduos que têm necessidades não atendidas, buscam novas

facilidades e têm acesso a ferramentas que permitem a criação dos programas. Outros

usuários têm perfil diferente e estão dispostos a dar o suporte necessário ao

funcionamento dos programas. Da mesma forma, outras indústrias podem se deparar

com o mesmo cenário e as empresas devem estar preparadas para as mudanças

negociais decorrentes das inovações provenientes dos usuários.

5.4 Limitações e sugestões para estudos futuros

O presente estudo tem caráter exploratório e apresenta alguns indícios que

poderão ser investigados em maior profundidade em pesquisas futuras. As conclusões a

que chegou o estudo devem ser observadas com cautela, uma vez que se utilizou uma

amostra de conveniência. No entanto, algumas conclusões obtidas podem nortear

futuros estudos, dada a pequena quantidade de trabalhos realizados sobre o tema,

particularmente no Brasil.

O conceito do software livre é tão antigo quanto a própria história da indústria de

software. Entretanto, somente nos últimos anos houve um interesse acadêmico e

Page 93: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

81

comercial sobre o assunto, principalmente devido ao desenvolvimento do sistema

operacional Linux e sua adoção por grandes players da indústria como IBM e Oracle.

De um lado, os defensores do software livre destacam a qualidade, segurança e

confiabilidade dos produtos, além da possibilidade de adaptá-lo às suas necessidades

devido à disponibilidade do código-fonte dos programas. Todavia, ao contrário desta

visão, os críticos citam esta característica como fonte de problemas de segurança e

confiabilidade.

A maioria dos textos existentes sobre o assunto é de cunho ideológico ou retrata

as origens do movimento, não representando pesquisa científica que busque investigar o

fenômeno do software livre em detalhes. Neste sentido, novos estudos podem abordar

vários aspectos: tecnológicos, psicológicos, econômicos.

Sob o ponto de vista tecnológico, o modelo de desenvolvimento do software

livre apresenta pouca atenção dada às etapas de especificação do projeto, o que pode ser

encarado como uma divergência dos modelos tradicionais de desenvolvimento de

sistemas. Os estudos nesta área devem mostrar como o desenvolvimento paralelo e

colaborativo pode melhorar o modelo tradicional de desenvolvimento. Além disso,

estudos sobre a estrutura de governança podem trazer insights aplicáveis a outras áreas

que não seja a de sistemas de informação.

Sob o ponto de vista psicológico, estudos mostram que a cultura das

comunidades de software livre tende a ser altamente individualista e baseada em

reputação, onde grupos distintos apresentam motivações distintas. Logo, novas

pesquisas nesta área deveriam investigar a dinâmica do processo de desenvolvimento

em detalhe, mostrando os conflitos que ocorrem dentro de cada projeto e como são

tratados.

Por fim, alguns estudos mostram que as empresas estão adotando o software

livre em seu modelo de negócio, seja através da venda de serviços ou produtos

complementares. Novas pesquisas poderiam buscar as vantagens e desvantagens de

organizações puramente "livres" e modelos híbridos.

Page 94: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

82

6 Referências Bibliográficas

ACTIS, Factor analisys using SAS proc factor, The University of Texas at

Austin, 1997. Disponível em http://www.utexas.edu/cc/docs/stat53.html. Acesso em

02/09/2003.

BERZOUKOV, N., Open source software as a special type of academic research

(a critique do vulgar Raymondism), First Monday, 4, 10, 1999. Disponível em http://

www.firstmonday.org/issues/issue4_10/bezroukov/index.html. Acesso em 24/10/2002.

BRETTHAUER, D., Open source software: a history, Information Technology

and Libraries, March 2002.

BROOKS, F., The Mythical Man-Month, 1995. Reading, MA: Addison-Wesley.

CATEGORIES of Free Softwrare, Free Software Foundation, Boston, 2002,

Disponível em http://www.fsf.org/philosophy/categories.html. Acesso em 22/09/2003.

CHASSELL, R. J., How to Make a Living with Free Software, Transcrição da

apresentação em Software Park, Tailândia, 24 de Outubro de 2000.

CHECKLAND, P., Systems thinking, systems practice, Chichester, Sussex:

Wiley. 1981.

CIPSGA, CIPSGA e sua luta para implantar os softwares livres no Brasil, 2000.

Entrevista de Djalma Valois ao site OLINUX em 02/12/2000. Disponível em

http://www.cipsga.org.br. Acesso em 16/06/2003.

COOK, J., Open source development: an Arthurian legend, Proceedings of the

1st workshop on OSS Engeneering, Disponível em http://opensource.ucc.ie/

icse2001/papers.htm. Acesso em Acesso em 5 dez. 2001.

DALLE, J.-M.; JULLIEN, N., 'Libre' software: turning fads into institutions?,

Research Policy, 32, 1-11, 2003.

DEBIAN, Debian-BR: ajudando a universalização do Debian, 2003. Disponível

em http://debian-br.cipsga.org.br. Acesso em 09/06/2003.

DELIO, M., Lego: a hacker's best friend, Wired News, 07/11/2000. Disponível

em http://www.wired.com/news/culture/0,1284,39504,00.html. Acesso em 06/11/2002.

DEMPSEY, B.J.; WEISS, D.; JONES, P.; GREENBERG J., A quantitative

profile of a community of open source Linux developers, School of Information and

Library Science University of North Carolina at Chapel Hill, SILS Technical Report

Page 95: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

83

TR-1999-05, October 6, 1999. Disponível em http://www.ils.unc.edu/ils/research/

reports/TR-1999-05.pdf. Acesso em 07/11/2002.

__________; __________; __________; __________, Who is an open source

software developer, COMMUNICATIONS OF THE ACM, February 2002, Vol.45,

No.2

DIBONA, C.; OCKMAN, S.; STONE, M., Introduction, in DiBona, C.,

Ockman, S., and Stone, M. (eds.) Open Sources: Voices for the Open Source

Revolution. O'Reilly & Associates, Sebastopol, CA, 1999. Disponível em http://

www.oreilly.com/catalog/opensources/book/introduction.html. Acesso em 06/12/2002.

FELLER, J.; FITZGERALD, B., Understanding open source software

development, 2002, Addison-Wesley, Inglaterra.

FIELDING, R.T., Shared leadership in the Apache Project, Communications of

the ACM, Abril, 1999, 42, 4.

FLOSS, Free/Libre and open source software: survey and study, International

Institute of Infonomics, Universidade de Maastricht, 2002. Disponível em

htt://www.infonomics.nl/FLOSS/report. Acesso em 17/09/2003.

FREE SOFTWARE DEFINITION, Free Software Foundation, Boston, 2001,

Disponível em http://www.fsf.org/philosophy/free-sw.html. Acesso em 09/12/2002.

GUNN, H., Web-based surveys: changing the survey process, First Monday

Volume 7, número 12, (7:12) 2002. Disponível em http://firstmonday.org/issues/

issue7_12/gunn/ index.html. Acesso em Acesso em 23/09/2002.

HARHOFF, D.; HENKEL, J.; VON HIPPEL, E., Profiting for voluntary

information spillovers: how users benefit by freely revealing their innovations, 2000.

HARS, A.; OU, S., Working for free? Motivations for participating in open-

source projects, International Journal of Electronic Commerce / Spring 2002, Vol. 6,

No. 3, pp. 25–39.

HERTEL, G., NIEDNER, S., HERRMANN, S., Motivation of software

developers in open source projects: an internet-based survey of contributors to the linux

kernel, Research Policy (In Press) 2002. Versão de 28/09/2002 obtida diretamente do

autor ([email protected]).

KUAN, J., Open source software as lead user´s make or buy decision: a study of

open and closed source quality, Conferência "Open Source Software: Economics, Law

Page 96: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

84

and Policy" do Institut D´Economie Industrielle, Toulouse (França), 20-21 de Junho

2002. Disponível em http://www.idei.asso.fr/Commun/Conferences/Internet/OSS2002/

Papiers/osskuan.pdf Acesso em 24/09/2002.

LAKHANI, K.; VON HIPPEL, E., How Open Source software works: "Free"

user-to-user assistance, Research Policy (In Press) 2002. Disponível em

http://opensource.mit.edu/papers/lakhanivonhippelusersupport.pdf. Acesso em

24/09/2002.

LAKHANI, K.; WOLF, B.; BATES, J., The Boston Consulting Group Hacker

Survey, 2002. Disponível em http://www.bcg.com/opensource/bcghackersurvey.pdf.

Acesso em 30/04/2002.

LANCASHIRE, D., Code, culture and cash: the fading altruism of open source

development, First Monday (6:12) 2001. http://firstmonday.org/issues/issue6_12/

lancashire/index.html. Acesso em 23/09/2002.

LERNER, J.; TIROLE J., The simple economics of open source, Working paper,

Disponível em http://www.nber.org/papers/w7600. Acesso em 5 dez 2001.

LJUNGBERG, J. Open source movements as a model for organizing.

Götemborg: Viktoria Institute, 2000. Disponível em http://www.viktoria.informatik.gu.

se/groups/KnowledgeManagement/Documents/ecis2000.pdf. Acesso em 5 dez. 2001.

MASLOW, A.H, Motivation and Personality. New York: Harper, 1987.

MELCHIOR, C.; FERREIRA FILHO, C., OpenOffice.org: Alternativa livre

para automação empresarial, 2002, Disponível em http://www.ptbr-openoffice.org.

Acesso em 03/12/2002.

MOCKUS, A., FIELDING, R., HERBSLEB, J., A case study of open source

software development: the Apache server, 2000, in Proceedings of 22nd International

Conference of Software Engineering, IEEE Computer Society, Los Alamintos, CA, pp.

263-272.

MORIMOTO, C. E., Manual do Kurumin, 2002. Disponível em http://

www.guiadohardware.net. Acesso em 15/03/2003.

O'HARA, K. J.; KAY, J. S., Investigating open source software and educational

robotics, The Eighteenth Annual Consortium for Computing Sciences in Colleges

Eastern Conference, Bloomsburg (EUA), em 18-19 de outubro 2002. Disponível em

Page 97: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

85

http://elvis.rowan.edu/~ohara/rowbotics/doc/CCSC/OSSEduRob.PDF Acesso em

06/11/2002.

OPENOFFICE.ORG, OpenOffice.org.br, 2002. Disponível em http://br-

pt.openoffice,org/index.html. Acesso em 03/12/2002.

OPEN SOURCE INITIATIVE, The Open Source Definition (Version 1.9),

2002. Disponível em http://www.opensource.org/docs/definition.html. Acesso em

05/11/2002.

O’REILLY, T. The open source revolution, 1998. Disponível em

http://www.edventure.com /release1/1198.html. Acesso em 5 dez. 2001.

PERENS, B., The Open Source Definition, in Open Sources: Voices from the

open source revolution. Disponível em http://www.oreilly.com/catalog/opensources/

book/perens.html. Acesso em 03/01/2003.

PINCHOT, G. The gift economy: not all economies are based on maximizing

personal gain – some are founded on giving, 1995. Disponível em http://

www.context.org/ICLIB/IC41/PinchotG.htm. Acesso em 31 jan. 2002.

POTLATCH Uma definição enciclopédica. Disponível em http://

www.lxxl.pt/babel/Babel/biblioteca/potlatch. Acesso em 31 jan. 2002.

PROJETO SOFTWARE LIVRE RS, Projeto Software Livre RS, 2003.

Disponível em http://www.softwarelivre.rs.gov.br. Acesso em 16/06/2003.

RAYMOND, E. S., The Revenge of the hackers, in Open Sources: Voices from

the open source revolution. Disponível em http://www.oreilly.com/catalog/opensources

/book/raymond2.html. Acesso em 03/01/2003.

__________, The Cathedral and the Bazaar: Musings on Linux and Open Source

by an Accidental Revolutionary (Sebastopol, Calif.: O'Reilly & Associates, 1999).

RICO, R.; ROSA, J. L., Linux avança, mas ainda não dá dinheiro, Valor

Econômico, Empresas & Tecnologia, B6, 4 de outubro de 2002.

SAS/STAT User´s guide, Version 8, Cary, NC: SAS Institute Inc., 1999. Cap 26.

p. 1121-1192.

SHAPIRO, C.; VARIAN, H.R., Information Rules. Harvard University Press,

1999.

Page 98: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

86

STALLMAN, R., Why 'Free Software' is better than 'Open Source', 1998.

Disponível em http://www.fsf.org/philosophy/free-software-for-freedom.html. Acesso

em 26/02/2003.

__________, Software patents – obstacles to software development, Transcrição

da apresentação no Laboratório de Computação da Universidade de Cambridge, 25 de

Março de 2002.

__________, The GNU operating system and the free software movement, in

DiBona, C., Ockman, S., and Stone, M. (eds.) Open Sources: Voices for the Open

Source Revolution. O'Reilly & Associates, Sebastopol, CA, 1999. Disponível em

http://www.oreilly.com/catalog/opensources/book/stallman.html. Acesso em

06/12/2002.

__________, The Free Software Definition, 1996. Disponível em

http://www.fsf.org/philosophy/free-sw.html. Acesso em em 26/02/2003.

STATISTICA, StatSoft Electronic Textbook. StatSoft, 2000.

THOMKE, S.; VON HIPPEL, E., Customers as innovators: a new way to create

value, Harvard Business Review, April, 2002.

TOLLY, K., A reality check on 'Open Source', Network World, 08/02/1999,

Disponível em http://www.tolly.com/News/KT_NWW/990208Arealitycheck.asp

TZOURIS, M., Software Freedom, Open Software and the Participant’s

Motivation: A Multidisciplinary Study, The London School of Economics and Political

Science, MSc Analysis, Design and Management of Information Systems, Summer

Dissertation 2002.

UNITEDLINUX, UnitedLinux releases version 1.0, 2002, Disponível em

http://www.unitedlinux.com/en/press/pr111902.html. Acesso em 09/12/2002.

VERGARA, S.C., Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São

Paulo: Atlas, 1997. 90p.

VON HIPPEL, E., The sources of innovations, MIT Press, Cambridge, MA,

1988.

VON HIPPEL, E., Open source software projects as user innovation networks,

MIT Sloan School of Management, June, 2002.

Page 99: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

87

YE, Y.; KISHIDA, K., Toward an understanding of the motivation of open

source software developers, in Proceedings of 2003 International Conference on

Software Engineering (ICSE2003), Portland, OR, May 3-10, 2003.

ZACHMAN, J., A framework for IS architecture, IBM Systems Journal, 26, 3,

276-92, 1987.

ZANUTTO, E., Web & E-mail surveys, 2001. Disponível em http://stat.wharton.

upenn.edu/~zanutto/Annenberg2001/docs/websurveys01.pdf. Acesso em 06/11/2002.

Page 100: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

88

7 Glossário

Este glossário foi baseado no conteúdo do site www.wikipedia.org. O projeto

Wikipedia tem como objetivo a criação de uma enciclopédia multilingual livre. O

conteúdo é protegido pela licença GNU Free Documentation License (GFDL).

/360

Família de computadores da IBM lançada em abril de 1964 que compreendia

desde mini até supercomputadores. Até o início da década de 60, cada modelo de

computador era construído independentemente e, por vezes, as máquinas eram

customizadas para um cliente particular. Os computadores da família IBM-360

mudaram este cenário, pois possuíam o mesmo set de instruções, o que permitira a

atualização do hardware sem a troca do sistema operacional.

ACM

<Association for Computing Machinery> Fundada em 1947, atualmente a ACM

é o portal líder em literatura sobre computação. É uma sociedade que publica uma

variedade de revistas e periódicos na área da ciência da computação, além de promover

e patrocinar conferências.

Ada

<Do nome Ada Lovelace> Linguagem de programação, descendente do Pascal,

desenvolvida em 1979 pelo grupo de Jean Ichbiah na CII Honeywell.

Alpha

Arquitetura de microprocessadores criados pela DEC em 1988.

Amazon

Fundada em 1994 por Jeff Bezos, a Amazon.com foi a primeira grande empresa

a comercializar produtos através da Internet.

Amiga

Série de computadores domésticos lançada pela Commodore em 1985, popular

pelo seus jogos, processamento de vídeo e multimídia.

Apache

Servidor web para Unix, Windows NT e outras plataformas desenvolvido em

1995. Desde 1996 é o servidor web mais popular da Internet, sendo utilizado em mais

da metade dos provedores.

Page 101: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

89

APT

<Advanced Packaging Tool> Pacote para gerenciamento do sistema criado pelo

projeto Debian. O APT simplifica o processo de instalação e remoção de programas em

sistemas Unix e derivados.

ARM

<Advanced RISC Machine> Série de microprocessadores de 32 bits usada em

sistemas embutidos.

ARPANET

<Advanced Research Projects Agency Network> Rede de computadores

fundada pela Agência de Defesa americana (DARPA) em 1968. Serviu como base para

as pesquisas em redes, bem como o backbone central durante o desenvolvimento da

Internet.

AT&T

<American Telephone and Telegraph, Inc.> Uma das maiores empresas

americanas de telecomunicações. Foi criada em 1885 e é reconhecida pela

desenvolvimento das primeiras versões do sistema operacional Unix e das linguagens de

programação C e C++.

Atari

Fabricante de jogos e computadores domésticos famosos durante as décadas de

70 and 80. A linha de computadores de 16 e 32 bits, em fevereiro de 1994, era composta

por Atari 520ST, 1040ST, Mega ST, STe, STacy, Mega STe, TT, e Falcon.

Bind

<Berkeley Internet Name Domain> Implementação do servidor DNS

desenvolvida e distribuída pela Universidade da Califórnia em Berkeley.

BSD

<Berkeley Software Distribution> Nome genérico de diversas versões do

sistema operacional Unix, inicialmente desenvolvida em 1977. Alguns descendentes do

sistema incluem Free/Open/NetBSD, BSD/OS e MacOS X.

C

Linguagem de programação desenvolvida em 1972 por Dennis Ritchie nos

Laboratórios Bell da AT&T.

Page 102: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

90

CGI

<Common Gateway Interface> Padrão para execução de programas externos em

um servidor web HTTP. O padrão CGI especifica como os argumentos são passados

para o programa através de chamadas HTTP. Perl é um exemplo de linguagem utilizada

para desenvolvimento de scripts CGI.

CICS

<Customer Information Control System> Família de servidores de aplicação e

monitores de transação desenvolvida pela IBM. Dados da empresa indicam que o CICS

processa 30 bilhões de transações por dia com mais de 900 mil usuários concorrentes.

Copyleft

Termo de copyright criado pela Free Software Foundation (FSF) para indicar a

utilização da licença GPL

CVS

<Concurrent Versions System> Sistema de gerenciamento e controle de versões

de programas. O CVS registra todas as alterações feitas em um projeto e permite a

colaboração entre usuários distribuídos geograficamente. É licenciado através da GPL.

DB2

Sistema de gerenciamento de banco da dados da IBM. Concorre com a Oracle

pela liderança do mercado.

Debian

Organização sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento dos sistemas

operacionais livres Debian GNU/Linux e Debian GNU/Hurd. Foi criada em agosto de

1993 por Ian Murdock. O nome é a contração de DEBra e IAN Murdock.

DEC

<Digital Equipment Corporation> Empresa pioneira da indústria americana de

computadores. Fundada em 1957 por Ken Olsen, foi adquirida pela Compaq que

posteriormente fundiu-se com a Hewlett-Packard (HP). Na década de 60 competia com

os computadores de grande porte da IBM em um patamar inferior de preço e

performance. É mais conhecida pela família de minicomputadores PDP.

DNS

<Domain Name System> É um serviço distribuído de banco de dados na Internet

utilizado na tradução do nome do domínio em endereços IP. O sistema traduz, por

Page 103: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

91

exemplo, o endereço www.coppead.ufrj.br (mais conveniente para os indivíduos) para o

endereço IP 146.164.90.3 utilizado pelos computadores para roteamento das mensagens.

Foi desenvolvido originalmente por Paul Mockapetris em 1983 através da

especificações descritas na RFC 882.

Driver

Programa de computador desenvolvido para permitir que outros programas

(tipicamente o sistema operacional) interajam com um dispositivo físico (hardware),

como impressoras, adaptadores de vídeo, placas de rede e placas de som.

Emacs

<Editing MACroS ou Extensible MACro System> Um editor de textos livre

muito popular no Unix e em outros sistemas operacionais.

FreeBSD

Sistema operacional livre baseado na versão 4.4-lite do BSD da Universidade de

Berkeley. O FreeBSD roda em microcomputadores PC.

Freeware

Programa no formato executável distribuído gratuitamente na Internet. O termo

freeware era uma marca registrada por Andrew Fluegelman, mas não foi mantido após a

sua morte. Não deve ser confundido com free software (software distribuído com o

código-fonte) ou shareware (software distribuído gratuitamente mas que deve ser

registrado para se ter acesso a todas as funcionalidades).

FSF

<Free Software Foundation> Organização sem fins lucrativos fundada por

Richard Stallman em 1985 dedicada ao desenvolvimento e promoção do software livre.

GCC

<GNU Compiler Collection> Originalmente, a sigla designava o compilador da

linguagem C do projeto GNU (GNU C Compiler) desenvolvido em 1987 por Richard

Stallman, mas atualmente refere-se à coleção de várias linguagens de programação.

GFDL

<GNU Free Documentation License> Licença copyleft para distribuição de

documentação de software, referências e materiais institucionais criada pela Free

Software Foundation. Cada cópia do material, mesmo com modificações, deve ser

distribuída com a licença GFDL.

Page 104: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

92

GNOME

<GNU Network Object Model Environment> Parte do projeto GNU responsável

pelo desenvolvimento de um ambiente desktop amigável. A versão atual está disponível

para os sistemas operacionais Linux, FreeBSD, IRIX and Solaris.

GNU

Projeto criado por Richard Stallman com o objetivo de criar um sistema

operacional livre completo. O anúncio público do projeto foi feito em 27 de setembro de

1983 no newsgroup net.unix-wizards.

Google

Ferramenta de buscas na Internet. Foi fundada por Larry Page e Sergey Brin em

1998. Em 2002, foi considerada a ferramenta mais popular, efetuando mais de 80% de

todas as buscas na Internet através do seu site.

GPL

<General Public License> Licença de distribuição de software livre, usualmente

chamada de copyleft. Foi escrita por Richard Stallman em 1989 com o propósito de

distribuição dos programas do projeto GNU.

HP

<Hewlett-Packard> Fundada em 1939, a HP desenvolve e produz computadores,

sistemas de medição e comunicação.

HTML

<Hypertext Markup Language> Linguagem utilizada no desenvolvimento de

páginas web. Atualmente é o padrão da Internet mantido pelo World Wide Web

Consortium (W3C).

HTTP

<HyperText Transfer Protocol> É o principal método de comunicação de

informações pela Internet. A especificação é atualmente mantida pelo World Wide Web

Consortium (W3C). HTTP é um protocolo de comunicação entre clientes (normalmente

um navegador) e servidores web (IIS da Microsoft ou Apache, por exemplo).

IBM

<International Business Machines Corporation> A empresa adotou este nome

em 1924, mas sua origem pode ser traçada até a última década do século XIX. Em 2002,

possuía 316 mil empregados e receitas de US$ 81 bilhões. A IBM desenvolve e produz

Page 105: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

93

computadores (de grande porte até notebooks) e programas, mas atualmente suas

receitas são provenientes principalmente de atividades de consultoria.

Intel

<INTegrated ELectronics> Fundada em 1968 por Gordon E. Moore e Robert

Noyce, a empresa é mais conhecida pelo desenvolvimento e produção de

microprocessadores e circuitos integrados.

IP

<Internet Protocol> Protocolo de comunicação utilizado na Internet.

Java

Linguagem de programação orientada a objeto desenvolvida em 1991 por James

Gosling e outros engenheiros na Sun Microsystems.

KDE

<K Desktop Environment> Ambiente desktop livre desenvolvido com o pacote

Qt para Unix da empresa Trolltech.

Kernel

Parte fundamental de um sistema operacional. O kernel é responsável pela

multiplexação segura do hardware de um computador.

LEGO

Empresa dinamarquesa famosa pela sua linha de produtos de blocos de plástico

para montagem. Fundada em 1934 por Ole Kirk Christiansen.

LGPL

<Lesser General Public License> Licença de distribuição de software criada pelo

projeto GNU para distribuição de bibliotecas livres com outros programas não-livres.

Linux

O termo Linux representa o kernel desenvolvido por Linus Torvalds em 1991,

mas é usualmente associado ao sistema operacional livre GNU/Linux que é composto

pelo kernel Linux e as bibliotecas e ferramentas do projeto GNU.

Macintosh

Família de computadores pessoais fabricados desde 1984 pela Apple Computer,

também é conhecida pelo apelido Mac.

Page 106: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

94

Microsoft

Fundada em 1975 por Bill Gates e Paul Allen, é a maior empresa do mundo no

desenvolvimento de programas de computador.

Minix

Sistema operacional compatível com o Unix, desenvolvido por Andrew

Tanenbaum da Universidade de Vrije na Holanda, pois a licença da AT&T proibia a

venda do Unix para empresas comerciais. Inicialmente escrito para a plataforma IBM

PC, atualmente roda em computadores baseados no microprocessador Motorola 68000

(Atari ST e algumas versões do Macintosh) e SPARC (workstations Sun).

MIT

<Massachusetts Institute of Technology> Universidade americana localizada na

cidade de Cambridge, Massachusetts. Seus laboratórios de computação mais conhecidos

são o de Inteligência Artificial e de Ciência da Computação.

Motorola

Criada em 1928 sob o nome de Galvin Manufacturing Corporation, somente em

1947 a empresa adotou o nome de Motorola. Sua área de atuação inclui principalmente

semicondutores e dispositivos de comunicação (telefones celulares, sistemas de satélite

e modems). A Motorola foi o principal fornecedor dos microprocessadores usados no

Power Macintosh da Apple.

Mozilla

Pacote de software livre desenvolvido para várias plataformas que inclui um

navegador web e um cliente de e-mails.

MySQL

Servidor de banco de dados livre desenvolvido pela empresa sueca MySQL AB.

NCSA

<National Center for Supercomputing Applications> Centro de

supercomputação da National Science Foundation localizado na Universidade de

Illinois. Fundado em janeiro de 1986, seus principais projetos são Telnet, o navegador

Mosaic e o protocolo HTTP.

Notes

Servidor de e-mail desenvolvido pela divisão Lotus Software da IBM. O

servidor roda em várias plataformas, incluindo Windows NT, Windows 2000, Linux,

Page 107: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

95

HP-UX, Sun Solaris, IBM iSeries, pSeries, e zSeries. O cliente roda em todas as versões

do Windows e MacOS 9.0 e X. A interface web funciona na maioria dos navegadores.

Oracle

Fundada em 1997, a Oracle Corporation é uma das maiores empresas produtoras

de sistemas de gerenciamento e ferramentas de desenvolvimento de banco de dados.

Patch

Forma usual de prover pequenas atualizações de programas de computador.

PC

<Personal Computer> Termo genérico utilizado para descrever

microcomputadores compatíveis com a especificação da IBM.

Pentium

Arquitetura de microprocessadores x86 da Intel lançada em 22 de março de

1993. É a sucessora da linha 486.

Perl

<Practical Extraction and Report Language ou Pathologically Eclectic Rubbish

Lister> Linguagem de programação criada em 1987 por Larry Wall. É utilizada para

desenvolvimento de scripts CGI.

PHP

<Personal Home Page Tools ou PHP Hypertext Preprocessor> Linguagem de

programação livre usada no desenvolvimento de páginas web com conteúdo dinâmico.

PowerPC

Arquitetura de computadores que utiliza microprocessadores RISC criada em

1991 pela aliança da Apple, IBM e Motorola.

Prolog

<PROgramming in LOGic> Linguagem de programação utilizada em aplicações

de inteligência artificial criada por Alain Colmerauer no início da década de 70.

Python

Linguagem de programação criada por Guido van Rossum. O nome foi baseado

na série de televisão Monty Python's Flying Circus. Python é freqüentemente

comparada a Tcl, Perl ou Java.

Page 108: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

96

Qt

Ferramenta multiplataforma usada no desenvolvimento de interfaces gráficas.

Criada pela empresa norueguesa Trolltech, é utilizada no ambiente desktop KDE.

Red Hat

Criada em 1994 por Bob Young e Marc Ewing, a empresa tem uma das

distribuições Linux mais adotada.

SCO Group

Fundada em 1979 por Doug e Larry Michels com o nome de Santa Cruz

Operation, Inc, a empresa comercializava uma versão de sistema operacional

compatível com o Unix para microprocessadores Intel x86. Em 1995 a empresa adquiriu

da Novell o código-fonte do Unix da AT&T. Em 2001, foi adquirida pela Caldera e em

agosto de 2002 mudou seu nome para SCO Group. Nesta época, a empresa iniciou um

processo judicial de US$ 1 bilhão contra a IBM, alegando que esta havia utilizado parte

do código-fonte do Unix em atualizações do Linux.

Sendmail

Programa livre utilizado para roteamento e entrega de mensagens. Foi escrito

originalmente por Eric Allman no início da década de 80.

Shareware

O termo shareware foi inicialmente usado por Bob Wallace para descrever seu

processador de textos PC-Write nos meados da década de 80. O shareware é distribuído

sem os controles restritivos do software proprietário. Todavia, às vezes esses programas

são distribuídos com um pedido de contribuição ou algum pagamento é solicitado nos

termos da licença.

SPARC

<Scalable Processor ARChitecture> Arquitetura de microprocessadores RISC

desenvolvida em 1985 pela Sun Microsystems.

Sun

Sun Microsystems é uma empresa produtora de computadores, semicondutores e

softwares, baseada no Vale do Silício. Alguns produtos da empresa são o

microprocessador SPARC, os sistemas operacionais SunOS e Solaris, o sistema de

arquivos de rede NFS e a plataforma Java

Page 109: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

97

SuSE

É uma das mais conhecidas distribuições Linux. É produzida na Alemanha e

possui um processo de instalação simples, suporte a várias marcas de notebooks e

winmodems (modems originalmente produzidos para o sistema operacional Windows).

TCL/TK

<Tool Command Language> Linguagem de programação desenvolvida por John

Ousterhout.

TCP

<Transmission Control Protocol> Protocolo de comunicação orientado a

conexão que provê uma camada de transporte confiável. Atualmente está documentado

pela norma IETF RFC 793. No modelo TCP/IP, o protocolo TCP representa a interface

entre a camada de rede e a camada de aplicação.

TeX

Processador de textos escrito por Donald Knuth. Bastante popular na academia,

o TeX é usado nas áreas de matemática, física e ciências da computação.

Turbolinux

Distribuição japonesa do Linux criada em 1992 e popular na Ásia. Em 2002, a

empresa juntou-se ao consórcio United Linux.

UNIX

Sistema operacional originalmente desenvolvido por um grupo de funcionários

dos Laboratórios Bell da AT&T, incluindo Ken Thompson, Dennis Ritchie e Douglas

McIlroy. O SCO Group é atualmente o proprietário do código-fonte do Unix.

Websphere

Servidor de aplicações desenvolvido pela IBM para operação e integração de

aplicações de e-business em múltiplas plataformas.

Windows

Nome genérico para os diversos sistemas operacionais da Microsoft. A primeira

versão foi lançada em 1985 e era apenas um ambiente gráfico que rodava sobre o

sistema operacional DOS.

Yahoo

Portal da Internet e diretório web fundado por David Filo e Jerry Yang em abril

de 1995.

Page 110: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

98

8 Anexos

Anexo A: Questionário sobre Software Livre (versão on-line)

Page 111: Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores ... · Um estudo sobre as motivações e orientações de usuários e programadores brasileiros de software

99