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Maria Lúcia Alckmin Solidariedade e carisma Reforma Agrária Qual o papel do MP ? Torneio Esportivo Um evento do tamanho do MP Ano I # 7

Um evento do tamanho do MP Maria Lúcia Alckminmidia.apmp.com.br/apmpemreflexao/revista/pdf/reflexao07.pdf · Revista APMP EM REFLEXÃO Veículo mensal de comunicação da Associação

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Maria Lúcia AlckminSolidariedade e carisma

Reforma AgráriaQual o papel do MP?

Torneio EsportivoUm evento do tamanho do MP

Ano

I # 7

Revista APMP EM REFLEXÃOVeículo mensal de comunicação da Associação Paulista do Ministério PúblicoAno I (2005), Número 7.Tiragem: 4.000 exemplares.

Conselho EditorialJoão Antonio Garreta PratsCláudia Jeck Garcia de Souza Eliana MontemagniPaulo Roberto Dias Júnior Sérgio de Araújo Prado Júnior

Coordenação GeralLuciano Ayres

Jornalista ResponsávelCristiane Billis – MTB 26.193

RedaçãoAyres.PP – Comunicação e MKT Estratégico(19) 3242-1180

Assessoria de ImprensaReDe Comunicação(11) 3061-3353

FotosVision Press(19) 3241-7498Leandro Irmão

Palavra do Presidente

SOLIDARIEDADE DOS ASSOCIADOS DA APMP

Com a chegada do inverno, a atenção das pessoas se volta com maior intensidade para os mais caren-tes. E a nós do Ministério Público de São Paulo são dirigidas ainda mais responsabilidades.

Temos, por exemplo, a missão de fiscalizar e evitar a falta de assistência médica, as precárias condições de muitos idosos em asilos e outros tantos interesses difusos da população excluída.

Além dessa inestimável contribuição de cunho so-cial que o próprio trabalho dos nossos associados já traz para a sociedade, a APMP procura ampliar a sua participação em diversas campanhas. Convocados pelo Fundo Social de Solidariedade de São Paulo, a APMP aderiu imediatamente à Campanha do Agasa-lho 2005, do mesmo modo que havíamos feito na do tsunami que varreu parte da Ásia.

Um projeto do Fundo Social de Soli-dariedade que desperta grande interes-se para os promotores e procuradores de justiça é o das Padarias Artesanais. A idéia é introduzir nas penas alterna-tivas a obrigação da doação por parte do infrator de farinha para a fabricação de pães. Com isso a pena alcança dois objetivos importan-tíssimos: a inibição da prática delitiva e, de outro lado, propicia a profis-sionalização de pessoas carentes - com geração de renda e trabalho.

Ainda na esteira de ajudar o próximo, a APMP em bre-ve firmará parcerias com algumas ONG’s que se dedicam ao cuidado de pessoas portadoras de deficiências.

Porque entendemos válidos todos os esforços para a reinserção das pessoas que, por falta de acesso às condições sociais básicas ou por serem portadoras de deficiência, foram injustamente excluídas do seio da sociedade.

Além dessa preocupação social, a APMP continua se dedicando a acompanhar de perto assuntos de grande importância para o MP e, conseqüentemente, para nossos associados.

O andamento da PEC paralela da Reforma Pre-videnciária no Congresso, o projeto de elevação dos subsídios dos ministros do Supremo e a proposta de Reestruturação de Carreira têm exigido intenso tra-balho da APMP.

Nesta edição da nossa APMP em Reflexão temos uma entrevista exclusiva com a primeira-dama

do Estado de São Paulo e presidente do Fun-do Social de Solidariedade, Maria Lúcia Alckmin, um artigo assinado pelo destacado promotor de justiça Arthur Pinto Filho tra-tando da reforma agrária, a cobertura com-pleta do nosso Torneio Esportivo, discussão

sobre o futuro do MP e tantos outros assuntos de interesse dos associados.

Boa leitura a todos!

João Antonio Garreta PratsPresidente

Palavra do Presidente

lho 2005, do mesmo modo que havíamos feito na do tsunami que varreu parte da Ásia.

Um projeto do Fundo Social de Soli-dariedade que desperta grande interes-se para os promotores e procuradores de justiça é o das Padarias Artesanais. A idéia é introduzir nas penas alterna-tivas a obrigação da doação por parte do infrator de farinha para a fabricação de pães. Com isso a pena alcança dois objetivos importan-tíssimos: a inibição

Nesta edição da nossa uma entrevista exclusiva com a primeira-dama

do Estado de São Paulo e presidente do Fun-do Social de Solidariedade, Alckmin, um artigo assinado pelo destacado promotor de justiça tando da reforma agrária, a cobertura com-pleta do nosso Torneio Esportivo, discussão

sobre o futuro do MP e tantos outros assuntos de interesse dos associados.

Boa leitura a todos!

Contraponto | Maria Lúcia Alckmin

Maxima Venia | O Ministério Público e a questão agrária

MP em foco | Futuro do MP X MP do Futuro

Evento ESMP | 20 anos da Lei da Ação Civil Pública

APMP Saúde | Primeira reunião do

Conselho Gestor

Tudo sobre o maior Torneio Esportivo

APMP Destinos| Machu PicchuCidade Perdida

Cultura e Lazer| OSESP - Erudição musical com toque brasileiro

Jantar dos Aposentados| Justa Homenagem

Gastronomia| Marcos Guardabassi

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Como os formadores de opinião enxergam o MP

APMP em Reflexão: O que é o Fundo Social de Solidariedade e qual sua história?Maria Lúcia Alckmin: O Fundo Social de Solida-riedade começou há décadas em Campos do Jor-dão, com Leonor Mendes de Barros, por meio de uma campanha de arrecadação de agasalhos para crianças de lá. Depois disso, foi crescendo, cres-cendo... Hoje o nosso objetivo é a capacitação para a geração de emprego e renda. Também queremos levar noções de ética, cidadania, saúde e higie-ne. Este é o nosso foco. Não adianta darmos, por exemplo, apenas a cesta básica, porque no mês que vem as pessoas estarão de novo com fome.

APMP: O assistencialismo, então, foi abandonado?MLA: Não totalmente, pois é lógico que as doa-ções são muito bem-vindas. Nós as recebemos e levamos aos locais mais carentes, onde as pessoas não têm nem o que comer. Fazemos isso para que em um segundo momento possamos levar a capa-citação e o projeto de geração de renda, por meio de parcerias com a iniciativa privada.

APMP: Pode dar um exemplo dessas parcerias?MLA: Sim. As “Padarias Artesanais”. Hoje são 7 mil funcionando em todo o Estado de São Paulo, em 645 municípios, por meio das primeiras-damas, que são presidentes dos fundos municipais. Agora estamos levando as “Padarias Artesanais” às favelas por meio das líderes comunitárias. Ficamos muito felizes quan-do chegamos a esses locais e vemos a mesa repleta de pães. Levamos a alimentação e também noções de cidadania para as pessoas.

APMP: Qual o resultado desse tipo de projeto?MLA: O resgate da auto-estima das pessoas que estão desempregadas. Elas acabam achando que não sabem fazer nada, mas o que lhes falta é qua-lificação. No caso das “Padarias Artesanais”, por exemplo, nós temos no Fundo Social três cozinhas nas quais cada entidade envia dois multiplicadores para fazerem os cursos. Também ensinamos, nas outras salas, costura – para a confecção de edre-dons, almofadas, bolsas... – bordados com linha e com pedraria, confecção e forração de caixas etc. Há casos de moradores de rua que hoje já possuem a sua padaria. E vemos que com tão pouco uma pessoa pode transformar a sua vida.

A seção Contraponto deste mês traz uma personalidade que participa ativamente das mudanças do foco da política assistencial do Brasil. Adepta da teoria de que é “melhor ensinar a pescar do que dar o peixe”, Maria Lúcia Alckmin imprime estilo próprio no Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo.

A ternura e a simpatia, sempre estampadas no sorriso cativante e no olhar atencioso, não impediram que a primeira-dama imprimisse alterações radicais no modo de diminuir as mazelas sociais: investimento pesado no resgate da cidadania das pessoas carentes.

O amplo espectro das campanhas desenvolvidas pelo Fundo Social de Solidariedade, que contam com a ativa participação da APMP, demonstra ser um dos caminhos para reverter as mazelas sociais.

Dona Lu Alckmin, maneira carinhosa como é conhecida pelas pessoas mais próximas, narra os projetos do Fundo Social de Solidariedade como uma mãe fala dos filhos: com carinho genuíno e energia contagiante. Das diversas ações, três se destacam: as Padarias Artesanais, a Campanha do Agasalho e os Jogos Regionais dos Idosos.

É com grande honra que a APMP em Reflexão traz entrevista com Maria Lúcia Alckmin.

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Contraponto

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APMP: Voltando às favelas, e se a comunidade não estiver organizada?MLA: Se não houver uma associação, nós auxiliamos na sua criação, ensinamos a tirar o CNPJ... Ajudamos também a formação de parcerias entre a comunida-de e empresas que possam fornecer a farinha (com um quilo se produz em torno de 80 pãezinhos). As pessoas que recebem essa aprendizagem nas favelas conseguem alimentar seus filhos e vender o excedente para os vizinhos. Além disso, sabendo utilizar equipamentos de cozinha e com as noções de higiene que transmitimos, fica muito mais fácil conseguir emprego em restaurantes, supermerca-dos ou mesmo como doméstica.

APMP: Como está sendo a repercussão dessas padarias na vida das pessoas?MLA: Há um exemplo lindo de um rapaz que cometeu um crime e, como pena alternativa, foi obrigado a entregar 290 quilos de farinha para um dos estabelecimentos participantes do projeto. Chamado para conhecer a padaria, ele se encan-

tou. Pediu para fazer o curso junto com a espo-sa e ficamos sabendo que hoje ele está no ramo da alimentação. Certamente ele está recuperado, não vai voltar a delinqüir. O que muitas pessoas precisam é conhecer o trabalho social, conhecer o que é fazer o bem. Nós temos muitas histórias de transformação dessas pessoas.

APMP: A Associação Paulista do Ministério Público imediatamente aceitou seu chamado para participar da Campanha do Agasalho. Fale um pouco sobre a campanha e a meta para este ano.MLA: Mais do que agasalhar, essa campanha bus-ca vestir um ser humano. Nesses anos que se pas-saram, quando eu ia inaugurar uma padaria e as pessoas recebiam as roupas, elas diziam: “nossa, essa roupa vai servir para eu procurar um empre-go”. Estamos pedindo nesta campanha que as pes-soas doem com amor. O que é doar com amor? É doar roupas novas, não aquela roupa que a pessoa tirou do armário e não vai mais usar. É tirar uma roupa que você tem coragem de usar, uma roupa lavada, passada, cheirosa, ou até mesmo comprar uma roupa para doar. Isso vai levar dignidade às pessoas carentes. Imagine receber uma roupa com etiqueta de loja, ou então uma roupa lavada.

Isso é importantíssimo para o resgate da auto-es-tima dessas pessoas. Estou pedindo a doação de meias, calças, camisas etc. Não só para agasalhar, mas para vestir.

APMP: Quais são os outros projetos prioritários para o Fundo Social de Solidariedade no Estado?MLA: Há outro projeto lindo chamado Jogos Re-gionais dos Idosos, que procuramos realizar em todo o Estado de São Paulo. Começamos em pou-cas cidades, mas hoje já são 500 municípios que participam dessa olimpíada. Durante o ano inteiro os idosos se preparam para competir em 11 moda-lidades. Há dança de salão, coreografia, atletismo, natação, voleibol e jogos como truco, buraco, do-minó e gamão. Estive em Batatais recentemente, onde havia 1.360 jovens atletas com mais de 60 anos. Ouvi das famílias que, no momento em que eles saíram de suas casa para praticar esportes, pararam de tomar remédios.

APMP: Que mensagem a senhora deixaria para os promotores e procuradores de justiça do Estado de São Paulo?MLA: Minha mensagem é de agradecimento por estarem colaborando com o Fundo Social de So-lidariedade. Gostaria de chamá-los para conhecer o Fundo, onde fazemos a capacitação de mais de 50 pessoas por dia, que vêm inclusive de outros Estados do país.

Há um exemplo lindo de um rapaz que cometeu um crime

e, como pena alternativa, foi obrigado a entregar 290

quilos de farinha para um dos estabelecimentos participantes

do projeto. Chamado para conhecer a padaria, ele se

encantou. Pediu para fazer o curso junto com a esposa e

ficamos sabendo que hoje ele está no ramo da alimentação.

Certamente ele está recuperado, não vai voltar a delinqüir.

Penas Alternativas e Padarias Artesanais.Mais do que punir, capacitar.

Inegavelmente a pena imposta pelo Poder Judiciário deve adquirir contornos repressivos com intuito de inibir a prática de condutas ilícitas. Diante do grave problema da superlotação das cadeias e do alto custo de manutenção dos presos, surgiu a política de aplicação de penas alternativas aos crimes menos graves. Um aperfeiçoamento dessa idéia e que ganha cada vez mais destaque é a doação de insumos para as Padarias Artesanais. Além do caráter punitivo, com o desembolso de pecúnia por parte do infrator, há o elemento de transformação social por meio da capacitação da comunidade carente.

Mais do que agasalhar, essa campanha busca vestir um

ser humano. Nesses anos que se passaram, quando eu ia inaugurar uma padaria e as pessoas recebiam as roupas,

elas diziam: “nossa, essa roupa vai servir para eu procurar um emprego”. Estamos pedindo

nesta campanha que as pessoas doem com amor.

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A APMP participa ativamente da Campanha do Agasalho de 2005. Postos de coleta foram espalhados em todas as sedes da APMP para receber cobertores, agasalhos e roupas novas ou seminovas.

Um dos pontos altos da campanha se deu durante a realização do Torneio Esportivo da APMP. Além dos postos de coleta colocados nas dependências do Blue Tree Park de Mogi das Cruzes, foi realizado na noite do sábado, durante o tão aguardado “Churrasco do Bassi”, leilão beneficente de camisas autografadas por grandes ídolos do esporte nacional.

O leiloeiro Luiz Antonio Casarré emprestou sua experiência para animar os associados a fazerem seus lances. O ponto alto ocorreu na disputa pela camisa oficial da seleção brasileira de futebol, autografada por jogadores consagrados como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Robinho, Cafu, Kaká, Roberto Carlos etc. Após emocionante seqüência de lances, a preciosidade foi arrematada pelo associado Paulo Kishi por valor suficiente para a compra de 75 cobertores.

Vejam os demais associados que ajudaram a aquecer o inverno de centenas de pessoas carentes e os respectivos lances:

Camisa autografada pelo velejador Robert Scheidt: (15 cobertores)Manoel Sérgio R. MonteiroDuas camisas autografadas pelo jogador da seleção brasileira de vôlei, Nalbert: (15 cobertores)Luiz Antonio Miguel Ferreira e Luiz Henrique Dal Poz

Duas camisas oficiais do São Paulo F.C. autografadas por todo o elenco: Valcir Paulo Kobori (33 cobertores) e Claudemir Ap. Oliveira (33 cobertores)

Camisa oficial do Santos F.C. autografada pelo atacante Robinho: Carlos Henrique Mund (40 cobertores)

Camisa oficial do São Paulo F.C. autografada pelo goleiro Rogério Ceni: Claudemir Ap. Oliveira

(42 cobertores)

Escultura em Petit Bronze: Vera Lúcia de C. Braga Tabert (20 cobertores)

A APMP agradece aos associados Carlos Eduardo de Barros Brissola e Paulo Roberto Dias Júnior pela cessão, respectivamente, das camisas do São Paulo F.C. e do Santos F.C, ao Sr. Jean Tchorbadjian, proprietário da Procopio Sports, que cedeu as demais camisas, e à Sra. Anna Mehoudar pela doação da Escultura em Petit Bronze.

APMP e Fundo Social de Solidariedade: uma parceria quente!

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respectivamente, das camisas do São Paulo F.C. e do Santos F.C, ao Sr. Jean Tchorbadjian, proprietário da Procopio Sports, que cedeu as demais camisas, e à Sra. Anna Mehoudar pela doação da Escultura em Petit Bronze.

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o mesmo índice indicava a concentração de 0,80. Ou seja, depois de 52 anos de lutas de vários movimentos sociais que buscavam a reforma agrária, o panorama da propriedade da terra no Brasil quase nada se alterou.

Desde 1940, o Brasil experimentou vários textos constitucionais, de diversos matizes políticos e ideoló-gicos. No início da medição do referido índice, em 1940, estávamos em plena ditadura do Estado Novo, sob a égide da carta constitucional autoritária de 1937. Logo depois, em pleno pós-guerra, com os ventos da liberda-de varrendo o autoritarismo, o Brasil aprovou a Consti-tuição democrática de 1946. Com o advento do novo ciclo autoritá-rio de 1964, tivemos duas outras cartas constitucionais: 1967 e 1969. E, agora, com o novo ciclo de democratização, temos a atu-al Constituição cidadã de 1988. E quase nada se alterou na concen-tração da terra no Brasil.

E não mudou o panorama do campo nem mesmo diante de movimentos sociais organizados que lutam pela implementação da reforma agrária. Neste aspec-to, devemos lembrar Ruy Barbo-sa, para quem “os conservadores recusam-se a fazer mudanças quando o povo pressiona, porque não se pode mudar sob pressão. E recusam-se a fazer mudanças quando o povo não pressiona, porque, se o povo está quieto, por que mudar?”.

Um quadro agrário deste tipo tem reflexo direto no panorama social: alta densidade populacional na área urbana, baixa produção agrícola, elevadíssima mor-talidade infantil, baixa expectativa de vida, altíssimo índice de analfabetismo, violência nos centros urbanos e no campo.

Em 2003, foram assassinados no Brasil 73 tra-balhadores rurais (dentre os mortos, três mulheres). 1.127.205 de pessoas tiveram envolvimento em con-flitos rurais. Em São Paulo houve 129 conflitos, com o envolvimento direto de 150.616 pessoas, conforme dados da Comissão Pastoral da Terra.

Em nosso Estado, existem conflitos rurais em 46 localidades, de 26 Municípios, envolvendo 30.419 famílias. As áreas em litígio somam 1.378.213 hecta-res. Só no ano de 2003, 33 imóveis rurais paulistas foram ocupados por 6.329 famílias, numa área total de 17.913 hectares.

Além das ocupações, inúmeras famílias estão em

situação ainda mais precária. São aquelas que vivem nos acampamentos de lonas pretas espalhados pelo nosso Estado. Nesta situação, só no ano de 2003, fo-ram colocadas mais 11.422 famílias, distribuídas em 31 acampamentos.

Embora o constituinte originário tenha fornecido mecanismos bastante eficientes para a promoção da reforma agrária, constata-se que a realidade nacional aponta para caminho inverso. Segundo dados do In-cra, entre 1992 e 2003 as grandes propriedades rurais aumentaram em 60 milhões de hectares, enquanto

que as propriedades familiares cresceram somente 30 milhões de hectares. A concentração da terra, portan-to, se agrava, ao contrário do querer do constituinte originário.

É evidente que a mantença de uma situação explo-siva como a anteriormente relatada, sem resolução ou, ao menos, encaminhamento de uma política que apon-te para a eliminação do problema, coloca em risco o próprio sistema democrático. Porque é inaceitável que o Brasil, sendo a 15a economia do mundo, tenha a pior concentração de terras e a segunda pior concentração de rendas do planeta. O sistema democrático não se sustentará se causar mais miséria, indignidade e sofri-mento para ampla parcela da população brasileira.

Aliás, já em 1985 o Papa João Paulo II alertava para o fato de que a reforma agrária era necessária para possibilitar a consolidação da democracia em nosso País. A advertência não foi levada em conta pelos inú-meros governantes que desde então comandaram o Brasil.

A questão agrária tem sido uma chaga nacional por toda a nossa História, uma vez que o Brasil jamais promoveu uma reforma agrária em suas terras impro-dutivas. A situação tem merecido atenção de sociólo-gos, historiadores, juristas e intelectuais preocupados com os destinos do País.

Contudo, o nosso Ministério Público não tem uma política institucional clara e democraticamente dis-cutida para o enfrentamento do grave problema, re-velando um descompromisso da Instituição com esta questão candente. E isto num Brasil que sangra com graves conflitos agrários, mercê de uma concentração fundiária sem paralelo com qualquer País civilizado.

O absurdo quadro agrárioSegundo dados do Instituto Nacional de Coloni-

zação e Reforma Agrária (INCRA), oriundos de reca-dastramento realizado no ano de 1992, há no Brasil

3,4 milhões de propriedades rurais, num total de 325 milhões de hectares de terras.

Entre elas, 35.083 são latifúndios considerados im-produtivos, com área superior a 1.000 hectares, num total de 153 milhões de hectares de terras improduti-vas. Assim, em resumo, 47% do total das terras rurais brasileiras são consideradas improdutivas.

A questão da terra, mais especificadamente em nossa região, não é diversa daquela encontrada no País. No Sudeste, 50,45% das propriedades rurais são tidas como improdutivas, num total de 7 milhões de hectares de terras não utilizadas.

A distribuição da propriedade da terra no Brasil é escandalosa: 0,9% dos proprietários detém 35% das propriedades rurais.

O índice GINI, que mede a concentração da terra no Brasil, cujo valor máximo é 1,0, apontava que, em 1940, a concentração de terras era de 0,83. Em 1992,

Contribuição de nossos associados para a Sociedade

OMinistério Público e a questão agráriaArthur Pinto FilhoPromotor de Justiça Criminal da CapitalPós-graduando em História Social pela PUC/SP

A Revista APMP em Reflexão abre espaço para os seus associados divulgarem artigos de interesse da comunidade e com isso aproximar nossa Instituição do destinatário final de nossas ações: o cidadão. As condições para a publicação estão disponíveis na página: www.apmp.com.br/apmpemreflexao/maximavenia. Colabore e escreva para: [email protected], com sugestões de matérias ou artigos.

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O Ministério Público (...) recebeu missão (...)

fundamental para o próprio destino da Constituição

e do processo democrático: fazer valer a Constituição por

inteiro. Ser o guardião ativo dos direitos constitucionais. Promover as medidas necessárias para que o texto

constitucional tenha vida na realidade cotidiana dos brasileiros.

Segundo estudos da ONU, 55% dos latino-ame-ricanos aceitariam a ditadura se isso melhorasse a economia de seus Países. 56,3% acreditam que o desenvolvimento econômico é mais importante que a democracia. E 43,9% acham que democracia não resolve os seus problemas. Tais dados, assustadores, têm causa no fato de que 44% da população latino-americana vive abaixo da linha de pobreza, mais de 225 milhões de pessoas.

O papel do MP neste dramático quadro

A atual Constituição entregou ao Ministério Públi-co, dentre outras tarefas, a de defender a ordem jurídi-ca e o regime democrático. Tais missões foram as mais relevantes cometidas pelo Constituinte originário para qualquer Instituição.

Embora todas as Instituições e poderes tenham

sido alterados pelo Constituinte de 88, coube ao Mi-nistério Público uma tal carga de tarefas novas, que lhe deram um novo e diferente perfil constitucional. Não se tratou de simplesmente alterar uma Institui-ção. Mas, sim, de lhe traçar natureza completamente diversa daquela oriunda da carta de 69.

Aliás, em sede da carta autoritária de 1969, o Mi-nistério Público, inserido no capítulo do Poder Executi-vo, sequer tinha um arquétipo constitucional, pois não havia uma linha sequer que explicitasse ou mesmo su-gerisse qualquer função institucional que pudesse ter estatura constitucional. Numa demonstração de que a Instituição tem vocação e destino para atuar de forma

maiores desigualdades sociais entre todos os países da Terra, quando estiver em jogo um direito constitucio-nal que beneficia fortemente as classes dominantes, estas poderão fazer valer seus direitos através do apa-relho judicial. Têm amplas possibilidades de contrata-ção de bons profissionais para eventual litígio judicial, têm livre acesso aos meios de comunicação, são mais organizadas etc.

Agora, situação mais complexa surge sempre que as classes populares buscam o reconhecimento de seus direitos constitucionais. Não conseguem profissionais de boa qualidade para o embate judicial, não têm fácil acesso aos meios de comunicação. E, como regra, a organização de tal parcela da sociedade não é tão so-fisticada quanto aquela das classes dominantes.

Então, o Constituinte necessitava encontrar uma Instituição que pudesse garantir o cumprimento da Constituição por inteiro. Uma Instituição que tivesse um quadro de profissionais com bom preparo, enrai-zada em todas as Comarcas e que, embora dentro do aparelho do Estado, fosse um braço da sociedade e tivesse como tarefa principal vivificar integralmente a Constituição.

É claro que nossa Instituição, mercê de esforços pes-soais, conseguiu enormes avanços em áreas importan-tes: na área da educação, da saúde, do idoso, do meio ambiente, na defesa do patrimônio público etc. Mas na área agrária nossa atuação, quando ocorre, é, como re-gra, contrária ao conjunto do texto constitucional.

Cabe ao Ministério Público, por força do art. 82, inciso III, do CPC, com a modificação que lhe deu a Lei 9.415, de dezembro de 1996, intervir nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural. Levando em conta a realidade brasileira, dramática no campo, o legislador ordinário entendeu que o Ministé-rio Público haveria de intervir em litígios rurais.

Evidente que o legislador ordinário não alterou o CPC para que o Promotor de Justiça somente atuasse como mero “fiscal da lei”, oferecendo ao Poder Judi-ciário seu parecer sobre a lide. Porque esta forma de atuação, além de ter baixa eficácia social, pouco alte-raria a situação.

O legislador constatou que a atuação do Poder Ju-diciário, nesta área, não é eficiente. A própria natureza do Poder Judiciário não lhe tem permitido tratar do tema com a complexidade que a situação exige. Ele tenta solucionar o conflito por meio de sen-tenças. E tem falhado na maior parte das vezes.

O Poder Judiciário, não obstante es-forços individuais heróicos, tem tratado o tema de forma completamente equivo-

cada. Em 2003, por ordem judicial, foram despejadas 35.292 famílias no Brasil rural, num total de 176.485 pessoas. Foram determinadas 380 prisões de campo-neses. E as pessoas que foram despejadas, foram para onde? Quais foram os seus direitos constitucionais violados? Para o Poder Judiciário estas questões re-fogem de sua atuação, que finda com a prolação da sentença. Mas evidentemente devem receber atenção do Ministério Público.

O Ministério Público deveria agir de forma bastante diversa daquela forma tradicional de atuação do Poder Judiciário. Até porque seu perfil constitucional exige, por assim dizer, um desempenho holístico, que leve em conta todas as questões imbricadas na ação judicial.

Perceberia, ao atuar no processo, o profundo des-cumprimento de inúmeros direitos constitucionais por parte dos poderes públicos. Desde logo, na maior parte das situações, perceberia o descumprimento do capí-tulo constitucional que trata da política de reforma agrária.

O Poder constituinte originário, representando o conjunto da sociedade, por meio de eleições abso-lutamente democráticas, afirmou que a propriedade não produtiva é repudiada pelos brasileiros. E foi além: estabeleceu uma desapropriação-sanção para as pro-priedades sem função social, pois o pagamento da de-sapropriação será feito por meio de títulos da dívida agrária, resgatáveis no prazo de até 20 anos.

Estabeleceu, ainda, de forma minudente, que a propriedade rural com função social será aquela que, concomitantemente, apresentar os seguintes requi-sitos: aproveitamento racional e adequado da pro-priedade, utilização adequada dos recursos naturais, preser-vação do meio am-

relevante na democracia. Na área cível, por exemplo, o dizer constitucional

trouxe mudança completa do perfil de nossa Institui-ção.

O Constituinte buscou fazer com que o Ministé-rio Público atuasse, fundamentalmente, como órgão agente, incumbindo-o da defesa dos interesses sociais, da defesa do patrimônio público, do meio ambiente, do interesse social e, ainda, de outros direitos difusos e coletivos. Isto é: cabe ao Ministério Público instau-rar o inquérito civil público e a ação civil pública em todas as situações em que direitos difusos ou coletivos forem atingidos.

Em tema de interesses individuais, o único que, agora, merece a atenção ministerial, é o indisponí-vel. Isto é: aquele interesse tido como central para a vida social, elevado à categoria de indisponível. Ele está para além do mero interesse individual, porque,

na verdade, sob o título de in-teresse pessoal, há, de fato, o interesse de toda a sociedade na preservação de seus valores mais profundos. Os direitos in-dividuais, neste caso, ganham dimensão de ordem pública.

O Ministério Público, po-rém, recebeu missão que pou-cos teóricos percebem, funda-mental para o próprio destino da Constituição e do proces-so democrático: fazer valer a Constituição por inteiro. Ser o guardião ativo dos direitos constitucionais. Promover as medidas necessárias para que o texto constitucional tenha vida na realidade cotidiana dos brasileiros.

Cabe ao Poder Judiciário impedir que normas infraconstitucionais violem a Constituição. Mas não cabe ao Poder Judiciário tomar providências para que o texto constitucional tenha valia em sua inteireza. Este papel fundamental foi entregue ao Ministério Público. Esta é a nossa maior, mais árdua, gloriosa e grandiosa tarefa. Dela, eviden-temente, depende mesmo o sucesso do processo de-mocrático.

A Constituição não pode ser somente um articula-do de expectativas não realizadas. Porque exatamente não realizados serão, no caso brasileiro, sempre os di-reitos das classes menos favorecidas.

Especificamente no Brasil, em que existe uma das

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Ao atuar na questão agrária, o

promotor de justiça que tiver olhos de ver

logo perceberá que parte da população que busca a efetivação

da reforma agrária não recebe dos poderes e órgãos públicos os direitos

lhe são assegurados pela Constituição: escola, saúde, emprego, salário mínimo

capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família.

biente, respeito à legislação trabalhista e exploração que favoreça proprietários e trabalhadores. Remar-que-se: seguindo tais critérios, 50,45% das terras do sudeste são improdutivas. E não são desapropriadas, numa violação grave do mandamento constitucional.

Ocorre que, embora com instrumentos tão podero-sos para a realização de uma reforma agrária profunda, já se passaram quase 17 anos da entrada em vigor do texto constitucional e não houve qualquer alteração na distribuição (ou melhor, na não distribuição) de ter-ras no Brasil. Em 2003, o programa de reforma agrária brasileiro assentou pouco mais de 36 mil famílias.

Ao atuar na questão agrária, o promotor de justi-ça que tiver olhos de ver logo perceberá que parte da população que busca a efetivação da reforma agrária não recebe dos poderes e órgãos públicos os direitos

lhe são assegurados pela Constituição: escola, saúde, emprego, salário mínimo capaz de atender às suas ne-cessidades vitais básicas e às de sua família.

Logo perceberá que as políticas públicas têm sido rigorosamente inconstitucionais, por violarem os prin-cípios gizados no art. 3o da Lei das leis. Os objetivos fundamentais do Brasil, no preciso dizer do texto cons-titucional, são: construir uma sociedade justa, livre e democrática, garantir o desenvolvimento nacional, er-radicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais. Todas as políticas públicas, dos sucessivos governos, deveriam ter uma única direção: cumprir os objetivos generosos da República brasileira.

Dir-se-á que o artigo em exame é “mera” norma constitucional de eficácia programática. Entretanto, a norma programática, como se sabe, não poder ser contrariada por políticas públicas que apontem em

sentido inverso do texto constitucional. Cabe, pois, ao Ministério Público questioná-las com todas as suas forças e recursos, porque são elas que jogam na misé-ria grande parte da população brasileira.

O Brasil pagou, no ano passado, em juros da dívida externa, mais de cento e setenta bilhões de reais. E o principal da dívida ainda aumentou. Em contrapartida, o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio para o ano de 2005 é de três bilhões e setecentos milhões de reais. Não bastasse a irrisória cifra, logo no início do ano, o governo bloqueou dois bilhões do orçamento, para aumentar o denominado “superávit primário”, ou, em dizer mais explícito, aumentar o montante de dinheiro que “economizará” para pagar os credores externos.

Diante de um orçamento ministerial de menos de dois bilhões de reais, é evidente que a reforma agrária não terá qualquer avanço significativo.

O orçamento para o Ministério da Saúde prevê somente dois bilhões e seiscentos milhões de investimentos. A sangria dos cofres públicos para o pagamento de juros da dívida exter-na impede, sem a menor dúvida, que os objetivos brasileiros, definidos pelo Constituinte originário, se tornem re-alidade na vida cotidiana de grande parte da nossa população.

Um caso polêmico e a fal-

ta de política institucionalTomemos um exemplo concre-

to: o dramático caso de Pirapozinho, comarca situada no Pontal do Para-

napanema, em nosso Estado. As terras da região, em grande parte, não têm proprietários inquestionáveis, são devolutas.

Conforme ensina o grande promotor de justiça, cas-sado em sua vocação pelo golpe de 1964, Plínio de Ar-ruda Sampaio, “em 1886, o governador de São Paulo, Visconde de Parnaíba, mandou processar criminalmente o pretenso dono dessas terras e o escrivão que lhe forne-ceu os documentos falsos para fundamentar a preten-são. Em 1923, o desembargador Alcides Ferrari julgou imprestáveis todo os títulos de propriedade referentes à área, por se tratar, toda ela, de terras devolutas”.

A Comarca de Pirapozinho ficou tristemente nota-bilizada por algumas ações judiciais de grande reper-cussão. Basta lembrar ação penal que tipificou como quadrilha a atuação de alguns líderes de movimentos sociais que lutam para a efetivação da reforma agrária

e que foi severamente criticada por juristas do porte de Fábio Konder Comparato e Arruda Sampaio. Inú-meras outras ações judiciais foram desfechadas na referida Comarca, tentando judicializar e criminalizar o desempenho de lideranças de trabalhadores rurais. Evidente que eventuais delitos praticados devem ser coibidos nos termos legais.

Entretanto, já com um certo distanciamento his-tórico dos episódios, é possível tentar verificar se a linha de atuação adotada na Comarca trouxe algum benefício real para o conjunto da população e se ações judiciais desencadeadas tiveram qualquer efeito no sentido de garantir os direitos constitucionais básicos (moradia, saúde, educação etc) para a população da Comarca. Ou, ainda, se as ações judiciais foram pro-postas depois de uma análise de conjuntura da rea-lidade local, dentro de uma política institucional de atuação na localidade e na região. A realidade social, principalmente para a população mais pobre, foi alte-rada para melhor após a judicialização e criminaliza-ção dos conflitos?

Não há qualquer dúvida que as ações foram pro-postas sem qualquer análise política por parte da Instituição. E isto em cidade com graves e enormes questões rurais.

Evidentemente não se quer discutir ações individu-ais de promotores de justiça ou juízes de Direito, que têm ampla e livre liberdade de atuação. Busca-se, isto sim, alertar para o grave fato de nossa Instituição não ter um acúmulo de discussão nesta área, com políticas democraticamente estabelecidas, sem desrespeitar posições individuais tomadas em casos concretos.

Entretanto, uma Instituição não pode deixar de ter diretrizes, linhas gerais de atuação que possam orien-tar seus agentes públicos na ação concreta.

Tramitam aproximadamente 5 mil processos na Comarca. Estão instaurados mais de 40 protocolados cíveis. Além disso, há o atendimento ao público, para o qual foram destinados três dias da semana, em razão da elevada procura. Anote-se que a Comarca opera com um único Promotor de Justiça, que atua no limite de suas forças.

A cidade tem 23.004 habitantes, com alta taxa de analfabetismo, 10,87% (sendo de 6,64% a média no Estado). Grande parte de sua população somente tem o ensino fundamental.

Como imaginar possível que um único Promotor de Justiça, sem qualquer vetor traçado pela Instituição, possa cuidar de forma exemplar da questão agrá-ria? Ou mesmo de outras questões igualmente candentes?

Os dados disponíveis na Fundação Seade demons-tram que as ações judiciais encaminhadas na Comarca não alteraram para melhor o quadro social de sua po-pulação desassistida.

A referida Fundação criou o Índice Paulista de Vul-nerabilidade Social, que demonstra o grau de acesso que a população tem aos seus direitos constitucionais básicos. A situação da população rural de Pirapozinho é péssima. A população rural é composta de 1.389 pessoas. Destas, 1.234 estão com alta taxa de vul-nerabilidade Outras 130 pessoas estão com altíssima taxa de vulnerabilidade. Numa demonstração clara de que os direitos constitucionais não têm vida real na área rural da cidade. Numa demonstração evidente e inequívoca de que as ações desencadeadas na Comar-ca não serviram para criar cidadania e usufruto dos direitos constitucionais na população rural.

Eventuais acertos no trato da questão devem ser creditados à atuação individual do promotor. Contu-do, as falhas só podem ser debitadas à Instituição, que não tem uma política democraticamente traçada para enfrentar o gravíssimo problema agrário em nosso Es-tado.

É urgente e imprescindível que as chefias de nossa Instituição criem fóruns adequados para a discussão da questão agrária. Para que, a partir destas discussões, em conjunto com a sociedade civil organizada, possa traçar linhas de atuação, sempre respeitando opções individuais contrárias. Mas o nosso Ministério Público precisa dizer para a sociedade, com clareza, quais são as suas políticas para a questão agrária, sob pena de grave omissão, que violenta o texto constitucional, o processo democrático e a nossa própria história institucional.

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Maxima Venia

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Uma opção perigosa, mas acertada

Nos anos anteriores à promulgação da Carta de 1988, as lideranças do Ministério Público de São Pau-lo sabiam exatamente o que queriam: construir uma Instituição forte e independente, além de sedimentar no texto constitucional instrumentos fundamentais previstos na legislação ordinária (como o inquérito civil e a ação civil pública, surgidos em 1985).

À época, O MP paulista era inegavelmente a “lo-comotiva” do Ministério Público nacional. Dos seus órgãos de Administração Superior e da APMP brota-vam as idéias mais avançadas para o desenvolvimen-to institucional. O conceito de promotoria, o controle externo da atividade policial, os planos de atuação, os Centros de Apoio Operacionais, os grupos de atu-ação especial, enfim, tudo isto brotou e frutificou em nosso Estado, até se espalhar pelo país.

Da mesma forma que tinham plena consciência do destino que almejávamos, nossos líderes de então sabiam também do risco que encerrava a opção que estávamos prestes a adotar.

De fato, escolher a sociedade, sobretudo sua parcela menos incluída, como destinatária de nossas ações traria duas espécies de perigos, que nem mesmo a classe políti-ca se apercebeu (pois, do contrário, não nos teria brinda-do com tamanha gama de atribuições e poderes).

O primeiro risco seria justamente o de trabalhar-mos bem, de acordo com o texto constitucional que acabava de nascer. Defender os menos favorecidos implica desagradar, não raro, a elite econômica e po-lítica, gerando adversários de grande poder de fogo.

Por outro lado, se não cumpríssemos nossa mis-são, a pressão da sociedade por outras instituições que melhor a representassem não tardaria. E não nos iludamos: em um país com tantas desigualdades,

mas com imprensa livre, essa pressão tende a ser tre-menda e não há político que a ela não seja sensível, até por questão de sobrevivência.

Uma terceira possibilidade, híbrida, seria o Minis-tério Público cumprir apenas razoavelmente seu mis-ter e conseguir, ao mesmo tempo, desagradar a elite política e financeira e não agradar suficientemente a parcela da sociedade composta pelos formadores de opinião. É o pior dos quadros e, infelizmente, o que mais se aproxima daquele para o qual caminhamos.

Pois bem. Apesar dos riscos antevistos, nossas lide-ranças não titubearam em seguir o projeto mais ousa-do, que desaguou no arcabouço constitucional do MP. Porque perceberam também que, se optássemos pelo modelo antigo, de atuação meramente interveniente (mesmo na área criminal, na prática), fatalmente nos tornaríamos obsoletos dentro de uma sociedade injus-ta, dinâmica e, em vários setores, efervescente.

E assim foi feito. No texto maior foi construído um novo Ministério Público, que transformou o pro-motor de justiça, ao menos em tese, em autêntico agente político.

Por agente político entenda-se o servidor públi-co que, dotado de prerrogativas, garantias e poderes diferençados, pode, com sua atuação, interferir ou influenciar a adoção de políticas públicas que trans-formem a realidade social.

Conseqüência disso: do conjunto de atos ineren-tes à autuação do agente político, tudo é delegável, menos a decisão política de como e em que direção atuar (ou até mesmo a opção de deixar de atuar, se não for prioritário para a Instituição).

Dissemos há pouco que a Constituição de 1988 em tese erigiu o promotor à categoria de agente político. A função

Discussão sobre fatos que repercutirão nos rumos de nossa Instituição.

Futuro do MPX MP do Futuro

do legislador terminava aí. Transformar a teoria em prática dependia unicamente do próprio Ministério Público.

E nessa tarefa falhamos.Falhamos por vários motivos. Dois deles, porém,

determinantes.Primeiramente, perdemos muito tempo até

deixarmos para trás o “antigo” Ministério Público, meramente interveniente. Em segundo lugar, era preciso ampliar o debate ins-titucional. Mas aconteceu justamente o contrário. A classe passou a discutir cada vez menos os problemas e di-lemas do Ministério Público e, con-seqüentemente, influenciar muito pouco nas decisões da cúpula.

A superficialidade do debate, em regra obscurecido pela mera disputa dos espaços de poder, fez com que, em momento crucial, tomássemos o caminho oposto à consagração do promotor como agente político.

Esse caminho pode ser assim resumido:

fracionamento de atribuições e atuação heterogê-nea (quando o correto seria uma atuação especia-lizada, abrangente e homogênea).

Um novo modelo de gestão poderia reverter essa opção equivocada? Sim. É o que tentaremos demons-trar nas páginas seguintes.

Por agente político entenda-se o servidor público que, dotado de prerrogativas, garantias e poderes diferençados, pode, com sua atuação, interferir ou

influenciar a adoção de políticas públicas que transformem a realidade social.

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17www.apmp.com.br 17www.apmp.com.br

perceberemos como o modelo adotado destrói a unidade e a credibilidade da Instituição.

Como explicar para a sociedade que a linha de atuação do Ministério Público é uma na Comarca “A” e outra na Comarca “B”? E que na Comarca “B” a atuação do MP na 1ª Vara difere daquela desenvolvida na 2ª. Vara? E que na 2ª Vara da Comarca “B” a forma de atuar dependerá da nu-meração do feito?

Se multiplicarmos esse exemplo pelo total de Comarcas do Estado e pelo número de Varas Judi-ciais e de promotores, o resultado, para a sociedade, será incompreensível.

Evidente que não se advoga a adoção de uma for-ma única e pasteurizada de atuar, o que engessaria a Instituição e afrontaria a independência funcional de cada membro do Ministério Público.

Mas a independência funcional pode perfeita-mente se coadunar com princípios mais amplos debatidos democraticamente dentro da Institui-ção.

Por essa razão surgiu o conceito de “promoto-ria”. As diretrizes estabelecidas no plano de atua-ção devem ser seguidas pela promotoria e seu in-tegrante que porventura entender de modo diverso não se verá obrigado a violentar sua convicção.

Repetimos: se a Instituição discutir de forma ampla e democrática suas diretrizes e prioridades,

Principalmente na última década, o expressivo crescimento numérico do quadro de promotores e procuradores de justiça originou algo cujas con-seqüências nefastas ainda estão por se revelar in-teiramente.

A partir do instante em que se tornou tendên-cia o número de promotores criminais ser superior ao de Varas e juízes criminais e a quantidade de promotores cíveis ser inferior à de Varas e juízes cíveis, a solução adotada foi a mais cômoda: divi-dir a atuação de cada membro do Ministério Pú-blico por finais de autos.

A simplicidade da solução esconde um fato pre-ocupante: esse modelo impede que o promotor seja, na prática, um agente político.

O agente político precisa conhecer a realidade e ser capaz de, com sua atuação, modificá-la em prol da sociedade menos favorecida.

Ora, como um promotor conhecerá a reali-dade se atuar, por exemplo, apenas nos finais pares de uma determinada Vara Judicial? E a re-alidade contida nos feitos de final ímpar dessa Vara ou em todos os autos das demais Varas? Chegará ao conhecimento desse promotor?

Do mesmo modo, a atuação desse promotor, ainda que eficaz, terá efeitos restritos à parcela da sociedade envolvida nos processos em que atua.

Ampliemos esse quadro para todo o Estado e

Na Contramão da HistóriaFracionar atribuições é enfraquecer a Instituição

nossa atuação será mais uniforme, abrangente e eficaz, pois a realidade da Comarca será apreendi-da por toda a promotoria.

É possível, claro, a especialização, sobretudo nas cidades maiores e de problemas mais comple-xos. Especialização, porém, não se confunde com divisão de atribuições por finais de autos. É im-periosa uma solução que não faça o promotor ou procurador de justiça perder a visão abrangente que deve ter da realidade que o cerca.

Como sair dos gabinetes sem deixar o gabinete?

O melhor exemplo de como um novo mode-lo de gestão pode fazer com que o promotor se comporte como autêntico agente político está na forma de exercer o controle externo da atividade policial.

O disposto no inciso VII do art. 129 da Consti-tuição Federal foi uma grande conquista institu-cional. Não só pelo peso em si da nova atribuição, mas pelos fortes interesses contrariados.

Em São Paulo, o controle externo da atividade policial está atualmente disciplinado pelo Ato Nor-mativo nº. 98-CPJ, de 30/9/96, sem embargo de normas posteriores que modificaram parte do re-gramento, como, por exemplo, os Atos Normativos nº. 238-PGJ, de 8/8/2000 (que regulamenta as visi-tas a estabelecimentos prisionais), nº. 314-PGJ-CPJ, de 27/6/2003 (que regulamenta o procedimento administrativo criminal), e nº. 324-PGJ-CGMP-CPJ, de 29/8/2003 (que cria o Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial - GECEP).

Toda a disciplina dessa atribuição, contudo, apequena o promotor de justiça e de modo algum traz eficácia à atuação institucional.

Quem já exerceu, na prática, esse controle ex-terno, na capital ou no interior, sabe o porquê de tão dura afirmação.

Em regra, após comunicação prévia ao dele-gado titular, um ou dois promotores comparecem ao distrito policial, sem nenhum dado concreto e objetivo a pautar a visita. Sabem, por empirismo, que naquele distrito, por exemplo, há poucos fla-grantes de tráfico de entorpecentes ou de “jogo do bicho”. Ou que os inquéritos policiais custam a se encerrar.

Nada mais, porém, do que impressões tiradas do dia-a-dia forense. No momento da visita à re-partição policial, entretanto, nenhuma estatística possuem para amparar essa desconfiança, muito menos dados comparativos com outros distritos da cidade ou do Estado.

Quando existem detentos no distrito e dois promotores o visitam, normalmente um permane-ce examinando os livros e registros policiais, en-quanto o outro inspeciona o local de recolhimento dos presos, ouvindo os reclamos de praxe (quase sempre relacionados às situações processuais dos encarcerados).

Funcionários do MP? No máximo um oficial de promotoria apenas para lavrar a ata da visita.

Quantas vezes, contudo, o promotor, instalado em uma sala improvisada cedida pelo delegado de polícia, não lavra, ele próprio, a referida ata?

Isso é função de agente político? Claro que não.Mas ter de lavrar uma ata não é a maior queixa

dos promotores. Preocupa-os o fato de, sem dados prévios que orientem a fiscalização, correrem o ris-co de chancelarem eventuais irregularidades que, embora presentes, acabam não sendo detectadas.

Sempre ouvimos que o novo perfil constitucio-nal exige dos promotores e procuradores de justi-ça que “saiam de seus gabinetes”. Evidente que o sentido dessa previsão é o de que os membros do

Como um promotor conhecerá a realidade se atuar, por exemplo, apenas nos finais pares de uma determinada Vara Judicial?

Mas a independência funcional pode perfeitamente se coadunar com princípios mais amplos debatidos

democraticamente dentro da Instituição

Se a Instituição discutir de forma ampla e democrática suas diretrizes e prioridades, nossa atuação será mais

uniforme, abrangente e eficaz, pois a realidade da Comarca será apreendida por toda a promotoria.

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Ministério Público passem a conhecer a realidade social de uma maneira ampla, não aquela estam-pada unicamente nos autos judiciais.

“Sair do gabinete”, todavia, não significa a re-alização de visitas e diligências sem dados e pla-nejamento prévios, sob pena de estes atos caírem no descrédito aos olhos da comunidade e das au-toridades visitadas ou fiscalizadas.

O novo modelo de gestão poderia melhorar, e muito, a eficiência institucional nesse particular. Como? Fazendo com que o promotor de justiça saia do seu gabinete sem deixá-lo fisicamente.

Parece uma afirmação desconexa, mas tem todo o sentido em uma gestão profissional e moderna.

Dispondo de um banco de dados tal como o proposto pelo Departamento de Estudos Institu-cionais da APMP, o promotor não precisa com-parecer ao distrito policial para perceber alguma irregularidade.

Segundo informação da Secretária Estadual de Segurança Pública, há alguns anos o Ministério Público tem acesso ao INFOCRIM. Não o utiliza por razões desconhecidas.

Temos, portanto, condições de acompanhar todas as informações relacionadas aos registros de ocor-rências policiais. Como os dados gerados pelos in-quéritos instaurados passam diariamente por nossas mãos, qualquer espécie de cruzamento e simulação que se queira fazer é extremamente simples.

Qual a média para o encerramento de um in-quérito policial em cada um dos distritos policiais do Estado? Qual o percentual de inquéritos sobre tráfico de entorpecentes dentro do universo de procedimentos de determinada delegacia? Houve algum inquérito de roubo instaurado que não fos-se decorrente de prisão em flagrante?

Qualquer indagação que se imagine poderá ser respondida na tela do computador do promotor de justiça. E a informação obtida de um distrito poli-cial poderá ser comparada com a média da cidade ou do Estado.

Verificada uma distorção, então terá chegado o momento de deixar o gabinete – fisicamente – e comparecer à delegacia. Não mais para uma fis-calização empírica ou por amostragem. Mas para uma investigação precisa e direcionada, ampara-da em elementos concretos e confiáveis.

Quantas vezes o promotor, instalado em uma sala improvisada cedida pelo delegado de polícia, não lavra, ele

próprio, a ata de visita a um distrito policial? Isso é função de agente político? Claro que não.

“Sair do gabinete” não significa a realização de visitas e diligências sem dados e planejamento prévios, sob pena de

estes atos caírem no descrédito ao olhos da comunidade e das autoridades visitadas ou fiscalizadas.

Criar grupos especializados para determinada atribuição tem seus aspectos positivos. É o caso do GECEP. Todavia, sem estrutura moderna e científi-ca para amparar sua atuação, estaremos fadados a repetir os erros do passado.

Em razão disso, não é nada alentador o fato de a proposta de ato normativo enviada em 5 de janeiro deste ano pela Procuradoria-Geral de Jus-tiça ao Órgão Especial do Colégio de Procurado-res, estabelecendo novas normas para o exercício do controle externo da atividade policial, insistir em exigir do promotor que en-contre irregularidades no momento da visita (agora trimestral), obri-gando-o a:

a) examinar “quaisquer docu-mentos, expedientes e procedimentos relacionados com a atividade de polícia judi-ciária, bem como os livros que as delegacias de polícia e os distritos policiais mantêm para esse fim” (art. 6º. da proposta);

b) “verificar as cópias dos boletins de ocor-rência que não geraram instauração de inquéri-to policial e a motivação do despacho da auto-ridade policial” (art. 7º.)

c) “observar a destinação das armas, dinheiro, entorpecentes, veículos e outros objetos de es-pecial interesse apreendidos, principalmente nos casos em que não tenha sido instaurado in-quérito policial” (art. 8º.).

Sobre um banco de dados a direcionar a atuação ministerial,

nenhuma palavra. E, ao invés de poderoso agen-te político, continuaremos vendo um atônito pro-motor de justiça perdido na montanha de papéis produzidos pela polícia, negando sua própria des-tinação constitucional.

Sem que ao promotor de justiça, individualmen-te considerado, caiba qualquer parcela de culpa.

janeiro deste ano pela Procuradoria-Geral de Jus-tiça ao Órgão Especial do Colégio de Procurado-res, estabelecendo novas normas para o exercício do controle externo da atividade policial, insistir em exigir do promotor que en-contre irregularidades no momento da visita (agora trimestral), obri-

a) examinar “quaisquer docu-mentos, expedientes e procedimentos relacionados com a atividade de polícia judi-ciária, bem como os livros que as delegacias de polícia e os distritos policiais mantêm para

b) “verificar as cópias dos boletins de ocor-rência que não geraram instauração de inquéri-to policial e a motivação do despacho da auto-

c) “observar a destinação das armas, dinheiro, entorpecentes, veículos e outros objetos de es-pecial interesse apreendidos, principalmente nos casos em que não tenha sido instaurado in-

Sobre um banco de dados a direcionar a atuação ministerial,

Ao invés de poderoso agente político, continuaremos vendo um atônito promotor de justiça perdido na

montanha de papéis produzidos pela polícia, negando sua própria destinação constitucional.

Essa é uma atuação típica de agente político?

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A APMP agradece a colaboração de todos os associados com críticas e sugestões. Aproveite, também, para sanar eventuais dúvidas sobre o novo modelo de gestão:

[email protected]

Cenas do próximo capítulo

AFERIÇÃO OBJETIVA DO MERECIMENTO

... e saiba muito mais na próxima edição da Revista APMP em Reflexão.

SAIBA POR QUE......a avaliação do merecimento não é objetiva nem transparente!

SAIBA POR QUE......é equivocado preferir a antigüidade ao merecimento!

- MELHORIA NO ORÇAMENTO DO MP- INTER-RELACIONAMENTO COM A SOCIEDADE- INCLUSÃO DO MP NO CENTRO DO DEBATE DAS GRANDES QUESTÕES INSTITUCIONAIS- ESTABELECIMENTO DE PRIORIDADES E METAS- TRANSFORMAÇÃO DO PROMOTOR EM AGENTE POLÍTICO - DESPOLITIZAÇÃO DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS E GERENCIAIS- AVALIAÇÕES CORRECIONAIS MAIS JUSTAS - REDISTRIBUIÇÃO EQUÂNIME DO SERVIÇO- CRITÉRIOS OBJETIVOS PARA A CRIAÇÃO E DESNOMENCLATURAÇÃO DE CARGOS- MODERNIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE APOIO

TENTE ENTENDER ......por que a proposta da APMP de avaliação do merecimento não vingou no CSMP!

Democracia, transparência, ética. São princípios que as pessoas de bem e as que buscam o progresso de um país ou instituição defendem de modo incondicional.

Para o leitor, o eleitor e o espectador, difícil é distinguir quando essa defesa é sincera ou quando busca escamotear a falta de exercício prático desses princípios.

Tomemos o exemplo da transparência. Cantada em verso e prosa por todos os que

se dizem democratas convictos, nem sempre é verdadeiramente adotada. Ou o é pela meta-de.

Muitos confundem transparência com pu-blicidade. Se eu tornar público determinado ato ou decisão, serei transparente, certo?

Errado, se você fizer parte da Administração Pública, em que a publicidade é uma exigência constitucional (art. 37, “caput”).

Então, como devem agir os órgãos da Admi-nistração Superior do Ministério Público para que sejam “transparentes”?

Mais do que pela publicidade de seus atos, devem zelar pela motivação de suas decisões!

É louvável, por exemplo, que o Conselho Superior abra suas reuniões na parte em que não for obrigatório o sigilo. Mas se não motivar todas as suas decisões, transparência não haverá!

Mais transparência sim! Mas e a motivação?

Expliquemos de outra forma: um promotor que pretenda ser promovido ou removido por merecimento não fará tanta questão de saber o resultado de sua pretensão na hora, pouco depois do final da reunião do CSMP ou, dias após, pelas páginas do Diário Oficial.

E do que ele não abrirá mão? No caso de não ter sido sequer indicado, de saber o moti-vo. Em que aspecto, objetivamente, seu mérito era inferior ao dos colegas indicados? No que sua atuação profissional e sua participação institucional deixaram a desejar?

Isso é motivação. Isso é transparência.

quando busca escamotear a falta de exercício prático desses princípios.

Tomemos o exemplo da transparência. Cantada em verso e prosa por todos os que

se dizem democratas convictos, nem sempre é verdadeiramente adotada. Ou o é pela meta-

Muitos confundem transparência com pu-blicidade. Se eu tornar público determinado ato ou decisão, serei transparente, certo?

Errado, se você fizer parte da Administração Pública, em que a publicidade é uma exigência constitucional (art. 37, “caput”).

Então, como devem agir os órgãos da Admi-nistração Superior do Ministério Público para que sejam “transparentes”?

Mais do que pela publicidade de seus atos, devem zelar pela motivação de suas

É louvável, por exemplo, que o Conselho Superior abra suas reuniões na parte em que não for obrigatório o sigilo. Mas se não motivar todas as suas decisões, transparência não haverá!

E do que ele não abrirá mão? No caso de não ter sido sequer indicado, de saber o moti-vo. Em que aspecto, objetivamente, seu mérito era inferior ao dos colegas indicados? No que sua atuação profissional e sua participação institucional deixaram a desejar?

Isso é motivação. Isso é transparência.

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Alei que mudou o Ministério Público

Quando se fala na transformação do Ministério Público em advogado da sociedade sempre é cita-da a Constituição cidadã de 1988.

Citação justa, mas que ofusca um diploma le-gal que talvez tenha a mesma importância nessa transformação, surgido três anos antes.

Em 24 de julho de 1985 era promulgada a Lei nº. 7.347, que introduziu no ordenamento jurídico brasileiro a ação civil pública de responsabilidade

Evento da ESMP comemora os 20 anos da Lei da Ação Civil Pública

pelos danos causados ao meio ambiente, ao con-sumidor, a bens e direitos de valores artístico, es-tético, histórico, turístico e paisagístico.

Importante salientar que essa conquista foi fruto de muita luta do Ministério Público de São Paulo e, principalmente, da contribuição da APMP e de seus Grupos de Estudos.

Cabe uma explicação mais detalhada, até por dever de justiça histórica.

No começo dos anos 80 foi elaborado pelos eminentes juristas Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco, Kazuo Watanabe e Waldemar Mariz de Oliveira anteprojeto de lei que buscava uma disciplina específica para a tutela de interesses difusos.

O anteprojeto, que não previa participação ampla do Ministério Público e sequer cogitava a fi-gura do inquérito civil, foi apresentado pelo então

deputado federal Flávio Bierrenbach à Câmara dos Deputados, gerando o Projeto de Lei nº. 3.034/84.

Entretanto, mostrando a vocação histó-rica de vanguarda dos promotores e procurado-res de justiça paulistas, no final do ano de 1983, Édis Milaré, Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz e Nelson Nery Júnior apresentaram no XI Seminário Jurídico dos Grupos de Estudos tese in-titulada “Ação Civil Pública”, em que propunham modificações naquele anteprojeto de lei, desta-cando-se:

a) a introdução da expressão “ação civil pú-blica”;

b) a inclusão da defesa do consumidor e de todos os “outros interesses difusos”;

c) a ampliação da participação do Ministério Público;

d) a criação do inquérito civil, a cargo do Mi-nistério Público;

e) a possibilidade do Ministério Público re-quisitar certidões, informações, exames e perícias.

Em 1984 o teor dessa tese foi ampliado no livro “A ação civil pública e a tutela jurisdicional dos

interesses difusos”, dos mesmos autores. A tese e o livro originaram o Projeto de Lei

nº. 4.984/85, encaminhado ao Congresso Nacio-nal pelo Poder Executivo e que, com pequenas alterações, culminou com o texto final da Lei nº. 7.347/85.

Vinte anos depois, ninguém duvida que, mais do que a própria ação civil pública, foi a criação do inquérito civil que alavancou a revolução do Ministério Público consubstanciada por inteiro na Carta de 1988.

Por essa razão, a Escola Superior do Ministério Público de São Paulo promoveu, nos dias 16 e 17 de junho, o “Seminário Comemorativo de Aniver-sário de 20 anos da Lei de Ação Civil Pública”.

Diversos juristas do Ministério Público e de ou-tras instituições fizeram um balanço das duas dé-cadas de vigência da lei, destacando-se a presença do Ministro do STF Sepúlveda Pertence, do ex-Pro-curador-Geral de Justiça Paulo Salvador Frontini, do Deputado Federal Luiz Antonio Fleury Filho e dos três autores da tese de Grupo de Estudos que gerou a Lei nº. 7.437/85.

A Revista APMP em Reflexão parabeniza o diretor do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional – Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, Luís Daniel Pereira Cintra, pela feliz iniciativa.

...mostrando a vocação histórica de vanguarda dos promotores e

procuradores de justiça paulistas, no final do ano de 1983 Édis Milaré, Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz e Nelson

Nery Júnior apresentaram no XI Seminário Jurídico dos Grupos

de Estudos tese intitulada “Ação Civil Pública”...

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Maior evento esportivo de todos os tempos

Sabe aquelas horas em que imaginamos: “Será que vale a pena tanto esforço?”. Trata-se daquele momento da jornada em que nos esforçamos, lu-tamos e corremos sem saber se tudo vai dar certo. No entanto, logo vem a linha de chegada e olhamos todo o trajeto com a certeza de termos cumprido

a missão da melhor maneira, a ponto de nem importar muito a colo-

cação. Quando o resultado é a vitória, aí a sensação é verdadeiramente fabulosa!

Assim estavam os nossos atletas e, também, a APMP

nessa jornada maravilhosa: o Torneio Esportivo.

Durante meses, a nossa equipe - fun-cionários, colaboradores e diretores da APMP - deu o máximo de suas forças para que tudo corresse bem. Todos buscaram no-vidades como o churrasco do Bassi, o show de jazz, o curso de mergulho autônomo, o test drive da Harley Davidson, a exposição de jogos antigos e tantas outras atrações.

Nos esportes então a luta foi ainda maior. Várias parcerias de sucesso com

empresas especializadas como a Phisio Trai-ner, a Tacolândia e a Personal Tennis.O cuidado com a saúde dos participantes foi

total, disponibilizando-se, inclusive, UTI móvel durante todo o evento.

Veja um pouco de tudo o que aconteceu no maior Torneio Esportivo da APMP.

A APMP agradece, de coração, aos nossos atletas e aproveita a oportunidade para convidar os que não puderam comparecer para a edição do ano que vem!

total!Participação

Mais de 450 participantes lotaram o Blue Tree de Mogi das Cruzes

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APMP Saúde

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APMP Saúde

A idéia de aumentar a participação dos asso-ciados nos processos decisórios é meta inegociável da APMP.

Em todos os setores, a Diretoria procura o debate, ouve as críticas com atenção e carinho. Afinal, demo-cracia é isso mesmo: discussão, debates e idéias varia-das. Tudo com classe, elegância e bons propósitos.

Desde a criação do nosso Plano de Saúde, nós ouvimos várias críticas. Umas se revelaram abso-lutamente desprovidas de fundamentação. Outras, porém, ajudaram a melhorar (e muito) o Plano.

Imagine se a Diretoria simplesmente desquali-ficasse as críticas?

Se não debatesse com os associados?Quantas soluções para alguns ajustes que se

fizeram (se fazem e se farão) necessários teriam

Primeira reunião do Conselho GestorTransparência e democracia. Na prática.

sido desperdiçadas?Feitas essas considerações iniciais, uma idéia que

surgiu dessas saudáveis discussões começa a dar os primeiros resultados: o Conselho Gestor que se reu-niu com a Diretoria da APMP em 13/06/2005.

Os membros - de todos os níveis da Carreira - debateram, indagaram sobre alguns problemas pontuais e tiveram acesso a todos os dados do Pla-no. Dessa primeira reunião uma certeza absoluta: transparência se faz com atitude.

Logo na primeira reunião, algumas sugestões foram incorporadas ao Plano, como disponibilizar mensalmente o extrato individual aos usuários para que eles possam ajudar na fiscalização.

Não é bem mais fácil quando todos partici-pam?

A APMP busca sempre o melhor para os seus associados. Nesta edição do Torneio Esportivo, a organização foi impecável. A política de dis-tribuição de jogadores para nivelar as equipes equilibrou as partidas, que foram emocionan-tes. Os jogadores tiveram comportamento exemplar em campo, merecendo - todos eles - o título de fair play.

A competiçãoOs jogos foram iniciados na noite da

sexta-feira (03/06). Os atletas disputaram duas partidas, todas marcadas por muita disposição e lealdade nas jogadas.

No sábado, o campeonato de fute-bol pegou fogo com quatro partidas acirradas. A torcida presente pôde conferir lances de grande habilida-de, outros pitorescos como “gols mágicos” e alguns en-graçados.

Domingo, além da disputa pela terceira co-locação, o momento mais esperado: a grande final.

Futebol: clima de copa do mundo!Melhor distribuição das equipes trouxe mais emoção às partidas

Easy Rider Toda a emoção das lendárias Harley Davidson

Imagine-se pilotando uma moto de mais de mil cilindradas... Bem, quem esteve no Torneio Esportivo pôde experimentar toda a força que o ícone Harley Davidson possui.

O ronco dos motores, o vento suave e a sensação de liberdade em meio a um cenário deslumbrante deram aos nossos pilotos a sensação de estarem na famosa Rota 66. No final do test drive, diversos brindes da Harley Davidson foram sorteados.

Maior evento esportivo de todos os tempos

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APMP até debaixo d’águaCurso de mergulho supera todas as expectativas

O curso de mergulho ministrado pela Dive Buddy foi um verdadeiro show. Aproximadamente 60 pessoas - entre associados e familiares - puderam aprender técnicas de mergulho autônomo! Os instrutores se surpreenderam com a disposição e fôlego dos participantes que lotaram as piscinas no sábado e domingo.

Foram sorteados pela Dive Buddy dois cursos completos de mergulho para os participantes.

“O curso foi ótimo. Eu, minha cunhada Vivian e meu marido Flávio fizemos. Quando eu soube que ganhara o curso completo, eles também se interessaram em ir. O melhor do evento foi a qualidade do hotel e a variedade de atrações. Parabéns a todos.” Isabel Cristina Dias Wallis

Competição e lazer nas águas aquecidasMais de 30 atletas competiram nas provas de natação e biribol realizadas no dia 04 de junho (sábado).

Acredite se quiser! Reza a lenda que o maior campeão de todos os tempos na mesma modalidade é o “atleta” Luiz Henrique Cardoso Dal Poz, pentacampeão no biribol. Será mesmo?

Competição e lazer nas

Natação e Biribol agitaram o Blue Tree

Maior evento esportivo de todos os tempos

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Jogos de salãoAstúcia e show de interpretação no “pano verde”

Os campeonatos de Truco e Tranca foram espetaculares, com os competidores se assemelhando a concorrentes ao Oscar. Blefes, sinais indecifráveis e muitas gargalhadas no final. Uma diversão e tanto!

Nem o Guga segura os nossos tenistas Esforço e habilidade nas quadras de Mogi

O tênis foi o segundo esporte em número de inscrições, perdendo apenas para o futebol. A maioria das partidas foi eletrizante, com várias jogadas dignas de final de Roland Garros. Houve, é claro, momentos cômicos e algumas bolinhas continuam sua jornada em direção à órbita lunar.

No entanto, os parceiros da Personal Tennis ficaram surpresos com o nível técnico dos nos-sos atletas e sugeriram à Diretoria da APMP que incorpore uma competição de tênis no Seminário Jurídico de Comandatuba.

Maior evento esportivo de todos os tempos

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Bola na caçapa!Maestria nas tacadas

As partidas de snooker foram realmente sensacionais. Os participantes - com material gentilmente cedido pela Tacolândia - fizeram jogadas dignas de Rui Chapéu.Um verdadeiro show de habilidade.

Maior evento esportivo de todos os tempos

Haja disposição!Atletas mostram garra e fibraA Phisio Trainer trouxe uma equipe para organizar as provas de corrida. A preparação

dos atletas começou logo cedo, com aulas táticas e sessões de alongamento.Quando a largada foi dada, viu-se um batalhão de corredores em busca da vitória. O

percurso de 4.000 metros (com várias subidas e descidas) era desgastante e trouxe ainda mais emoção à prova.

Dizem as más línguas que alguns atletas foram estimulados pelo cheiro do churrasco que vinha sendo preparado pelo Bassi...

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Uma cidade construída, há mais de 500 anos, com blocos de pedras, perfeitamente encaixados, sem a utilização de cimento ou qualquer tipo de cola. É pos-sível? Assim é Machu Picchu (velho pico), símbolo do Império Inca, que fica a cerca de 2.400 metros de alti-tude e está localizada bem no meio da cordilheira dos Andes, no centro-sul do Peru, na América do Sul.

Não sem motivo o local de antigas ruínas foi con-siderado “Patrimônio Cultural da Humanidade”, tom-bado pela Unesco em 1983.

A “cidade sagrada dos incas”, como ficou conheci-da, é o mais grandioso exemplo de desenvolvimento da arquitetura e de técnicas de construção dos anti-gos habitantes das Américas. Saber que tudo isso só foi descoberto em 1911, pelo arqueólogo americano Hiram Bingham, da Universidade de Yale, dá um toque especial à viagem.

Tudo indica que as construções em pedra de Machu Picchu foram feitas provavelmente entre os séculos 15 e 16, embora haja divergências. Alguns pesquisadores colocam em dúvida, inclusive, se Machu Picchu foi re-almente uma cidade, uma fortaleza ou um palácio por acreditar ser insuficiente o suprimento de água para uma grande população. Mas o certo é que, com méri-

to, a cidade perdida dos Incas, escondida entre mon-tanhas, se tornou a principal atração turística do Peru, seja pelas ruínas, seja pela beleza natural inigualável ao seu redor.

Pedra sobre pedraToda de pedra, Machu Picchu possui casas, torres,

escadarias e altares para sacrifícios aos deuses. No centro da cidade está uma grande praça chamada Inti-Pampa, que significa campo do Sol e onde se lo-caliza uma imensa torre redonda, o Torreão, o mais belo monumento de Machu Picchu. Grandes degraus levam ao alto da torre, onde se encontra uma pedra achatada, que seria o local dos sacrifícios.

Abaixo da praça, comunicando-se com ela por meio de escadas e patamares, podem ser vistos jar-dins, palácios, fortificações e outras construções. Uma escadaria construída entre abismos, com 64 patama-res e milhares de degraus – um dos integrantes da ex-pedição de Hiram Bingham parou de contá-los quan-do chegou aos 3.200 – conduz ao Mirante do Sol, o ponto mais alto da cidade, de onde se pode ver toda a região: as planícies, os vales e as montanhas com suas geleiras.

Aventure-se pela cidade perdida

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Dicas de viagem• Para fugir das chuvas, que acontecem prati-

camente durante todo o ano, a melhor época é no inverno andino, de abril a setembro. O resto do ano, considerado baixa temporada, conta com preços mais baratos. A dica para enfrentar o período de chuvas é adquirir uma boa capa impermeável, à venda em to-das as esquinas da cidade de Cuzco, e uma proteção para equipamentos fotográficos ou filmadora.

• Você escolhe como quer conhecer Machu Pic-

chu: de trem, a partir de Cuzco, ou seguindo a trilha inca em uma caminhada de três a quatro dias. Para a trilha inca, é necessário deixar a bagagem no ho-tel após o pagamento de uma taxa. Na caminhada, use roupas grossas e confortáveis, tênis e leve saco de dormir, capa de chuva, cantil e máquina fotográfi-ca, além de chocolates e frutas secas. Os pacotes das agências de turismo costumam incluir guias turísti-cos, alimentação e alojamento (em barracas), além do trem de volta para Cuzco.

• A trilha dura quatro dias e três noites, numa dis-tância total de aproximadamente 48 km. À primeira vista parece loucura, mas a paisagem torna o percur-so muito mais interessante do que realizá-lo de trem.

• Cuzco é o centro de partida para várias expe-

dições a Machu Picchu. Vale a pena curtir a noite na cidade. Os turistas, na maioria europeus, chegam no fim de tarde das excursões e aproveitam a entrada franca nos bares e danceterias.

• Uma breve saída às compras pode render bons negócios. Nas ruas, são oferecidos desde agasalhos de lã até prata da melhor qualidade.

• A culinária peruana é baseada em legumes, ce-

reais e carnes brancas. Não deixe de provar uma por-ção de ceviche, prato típico da região que consiste em cortes de peixes crus variados, levemente cozidos por um toque de limão espremido, temperados com pimenta e cebola. O acompanhamento natural é a Cusqueña, cerveja peruana consumida muitas vezes na temperatura ambiente.

Civilização IncaOs incas viveram na região da Cordilheira dos An-

des, nos atuais Peru, Bolívia, Chile e Equador. Fundaram, no século 13, a capital do império: a cidade sagrada de Cuzco. O imperador, conhecido por Sapa Inca, era con-siderado um deus na Terra. A sociedade era hierarquiza-da e formada por nobres (governantes, chefes militares, juízes e sacerdotes), camada média (funcionários públi-cos e trabalhadores especializados) e classe mais baixa (artesãos e camponeses).

Na arquitetura, desenvolveram várias construções com enormes blocos de pedras encaixadas, como tem-plos, casas e palácios. A cidade de Macchu Picchu reve-lou toda a eficiente estrutura urbana daquela sociedade,

por meio da agricultura extremamente desenvolvida, canais de irrigação e da arte – destacada também pela qualidade dos objetos de ouro, prata, tecidos e jóias.

Triste desfechoO Império Inca, que chegou a estender-se por qua-

tro mil quilômetros da América do Sul, foi incendiado e saqueado no século 16 pelos conquistadores espa-nhóis. Numa sede de exploração selvagem, eles des-truíram e roubaram o tesouro dos incas, mataram seus líderes e escravizaram seu povo, assim como foi feito com os astecas e outros povos do continente ameri-cano. Em pouco tempo o Império Inca transformou-se numa simples província da Espanha.

Civilização Inca

• Para fugir das chuvas, que acontecem prati-• Para fugir das chuvas, que acontecem prati-

• Você escolhe como quer con• Você escolhe como quer con

Atância total de aproximadamente 48 km. À primeira

A culinária peruana é baseada em legumes, ce-•

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Dicas e sugestões de nossos associadosDiário de Bordo

Viajar é... aprender um pouco da his-tória e da cultura de cada povo. Aven-turar-se por lugares desafiadores.

Minha última viagem foi... para a Índia, país que mistura exo-tismo, diversas religiões, bela ar-quitetura dos palácios dos mara-jás, ricas e milenares formas de arte e hábitos totalmente dife-rentes dos ocidentais. A extrema pobreza da maioria da popula-ção convive com a riqueza de poucos, em um espetáculo às vezes chocante até para bra-sileiros.

Maior mico... uma vez esta-va em Madri quando houve um “overbooking” nos hotéis da cida-de. Mesmo com o hotel reservado, a excursão foi parar numa “cidade dormitório”, a quarenta minutos do centro de Madri. Pela manhã, toma-mos um ônibus lotado de espanhóis, que não entendiam o que aquele grupo fazia ali, com máquinas fotográficas e filmadoras. Mesmo assim, a guia insistia em nos enganar, dizendo que aquela cidadezinha era um ponto de “interesse turístico”.

Cristiane

Dilascio,

promotora de justiça

Viagem inesquecível... Leste Europeu e Escan-dinávia. Pelo “museu a céu aberto” que é a cidade de Praga, pelos cafés de Viena, pelo passeio no Rio Danúbio que divide a cidade de Budapeste e pela beleza de Estocolmo. Eu recomendo... viajar pela Itália. Veneza é um lugar diferente de todos. Roma é maravilhosa e ainda se pode visitar o Vaticano e apreciar muitas obras de arte. Costa Amalfitana e Sicília combi-nam belas praias, boa comida, sol e descanso. Eu trago das viagens... objetos típicos do lo-cal. Da Índia, por exemplo, eu consegui trazer na mala uma mesa de mármore com um trabalho ma-

nual único, feita em Agra, que é a região do monumental Taj Mahal.

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OTalvez poucos saibam: a mais des-

tacada orquestra da América Latina está localizada no Brasil. Trata-se da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), que tem sede na Sala São Paulo. Os amantes da música erudita a tem prestigiado na medida. Basta dizer que nos seus concertos, os 1.500 ingressos esgotam-se em pra-ticamente todas as apresentações e,

RQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULOErudição musical com toque brasileiro

ano após ano, as séries de assinatura disponibilizadas têm sua capacidade máxima ampliada.

No repertório, peças dos períodos clássico e romântico continuam sen-do as preferidas do público, mas os compositores dos séculos 19 a 21 têm um espaço crescente nos palcos brasi-leiros. “Na OSESP fazemos anualmen-te primeiras audições mundiais, tra-

zemos compositores para reger suas obras (como é o caso do compositor Krzysztof Penderecki, que rege este ano seu Réquiem polonês) e tocamos também muita música brasileira”, diz o maestro John Neschling, que está à frente da Orquestra desde 1997.

São mais de 100 apresentações anu-ais em sua temporada de concertos, que inclui turnês nacionais e interna-

cionais. Este ano, o foco está voltado para os países do Cone Sul, com apre-sentações em Buenos Aires, Córdoba, Santiago e Montevidéu. Em 2004, fes-tejando seus 50 anos de existência, a OSESP realizou turnê que abrangeu 14 capitais brasileiras. Em 2003, a Orques-tra se apresentou em cidades alemãs e suíças. Houve também uma turnê nor-te-americana em 2002.

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Novo fôlego desde 1997

Fundada pelo maestro Souza Lima em 1954, a OSESP é mantida pelo governo estadual. No entanto, alternou períodos de sucesso e de grande dificulda-de, inclusive com paralisações nas atividades. Após a passagem do maestro italiano Bruno Roccela, o gru-po esteve por 24 anos sob o comando do maestro Eleazar de Carvalho, até sua morte, em 1996.

Desde 1997 sob a direção do maestro John Neschling, a Orquestra passou por transformações que a colocaram como novo referencial de quali-dade e excelência nos campos da arte, cultura e educação no Brasil e no mundo.

Com o apoio do Governo do Estado, Neschling e os diretores executivos da OSESP, Clodoaldo Medi-

na, Cláudia Toni e Cláudio Gaiarsa, criaram o Centro de Documentação Musical Maestro Eleazar de Car-valho, o Serviço de Assinaturas, a Coordenadoria de Programas Educacionais, o Serviço de Voluntários e a editora de partituras Criadores do Brasil.

Para hospedar projeto desse porte, foi restau-rada e reformada a antiga Estação Júlio Prestes, idéia do então Secretário Estadual da Cultura Marcos Mendonça.

O projeto foi levado adiante pelo Governador Mário Covas e deu origem à sede da OSESP, a Sala São Paulo, considerada um dos melhores locais para concertos do mundo, que foi inaugurada em 9 de julho de 1999.

O antigo Coro Sinfônico do Estado de São Paulo foi incorporado pela OSESP, dando origem aos Coros Sinfônico e de Câmara (regente Naomi Munakata). Foram criados ainda o Coro Infantil (regente Teruo Yoshida) e, em 2004, o Coro Juvenil da OSESP (regen-te Michel de Souza). Desde 2001, a OSESP mantém ainda uma parceria com a gravadora sueca BIS, para a produção de mais de 25 CDs de música brasileira.

“A música erudita certamente tem um público segmentado e, mesmo para grandes orquestras, a venda de CDs não representa a fonte de sua subsis-tência. Mesmo assim, vender CD é um ótimo negó-cio. Com eles, registramos um momento da música brasileira, vivido pela OSESP, que nunca existiu em nosso país. Mesmo que daqui a alguns anos tudo isso acabe, haverá uma prova do que fizemos aqui. Com os CDs, podemos levar nossa música a todo o Brasil e mostrar ao mundo que somos uma orques-tra de nível internacional, mas com ‘cara’ e som de orquestra brasileira”, diz o maestro John Neschling, nascido no Rio de Janeiro e filho de austríacos.

Serviço de assinaturas

As séries de assinaturas da OSESP, identifica-das por nomes de árvores brasileiras, são ‘pacotes’ de ingressos, para, em média, um concerto por mês, de diferentes programas dentro da tempo-rada. A escolha dos concertos que compõem cada série é feita de modo a contemplar harmoniosa e equilibradamente música sinfônica, concertos para diferentes instrumentos, oratórios, peças corais e camerísticas.

Ao adquirir a assinatura, o espectador terá ga-rantido sempre o mesmo lugar nos concertos da-quela série.

Desde 1997 sob a direção do maestro John Neschling,

a Orquestra passou por transformações que a colocaram

como novo referencial de qualidade e excelência nos campos da arte, cultura e

educação no Brasil e no mundo.

Fique por dentro Quem é aquele violinista que recebe o cum-primento do maestro?

O spalla (leader na Inglaterra, concertmaster nos Estados Unidos, Konzertmeister nos países de lín-gua germânica) é o primeiro violino da orquestra. Ele executa passagens solistas, serve como regente substituto e repassa aos outros músicos as determi-nações do maestro. Até meados do século XIX, gran-de parte das apresentações eram regidas pelo spalla, que utilizava o arco para marcar o tempo da música. O termo italiano pode indicar tanto a região do colo onde é apoiado o violino, quanto o personagem que, no teatro de revista, dá suporte ao ator principal.

De onde vieram os nomes das notas musicais?Apesar de registros de notações musicais na

Grécia Antiga e entre os chineses do século III,

apenas em St. Gall (Suíça), quase mil anos mais tarde, as notas passaram a ser marcadas com maior precisão. Para os nomes das notas, os po-vos de língua anglo-germânica adotaram letras (A lá; B si; C dó; D ré; E mi; F fá; G sol; H si be-mol), enquanto os de língua latina seguiram o processo proposto por Guido d’Arezzo, no sécu-lo XI. Usando um recurso mnemônico, d’Arezzo nomeou as notas a partir da primeira sílaba de cada verso de um Hino a São João: UT queant laxis, REsonare fibris, MIra gestorum, FAmuli tuorum, SOLve polluti, LAbii reatum, Sancte Io-annes. (Para que possam ressoar as maravilhas de teus feitos com largos cantos, apaga os erros dos lábios impuros, ó São João). No século XVII, em homenagem ao papa João Batista Doni, muitos países adotaram o DO no lugar do UT.

Por que o oboé afina a Orquestra?

Após a entrada do spalla, a orquestra espera a nota Lá do oboé para começar a afinar. A tradição surgiu no século XVII, época em que esse instru-mento, diferentemente dos outros sopros, estava presente em quase todas as orquestras e reper-tórios. Além disso, o timbre, o volume e o posi-cionamento do oboé na orquestra fazem com que ele seja facilmente ouvido por todos os músicos, sem se fundir com o som dos demais instumentos. Por último, uma vez feita a palheta, a afinação do oboé é dificilmente modificada, garantindo a pre-cisão da freqüência de 442 Hz. Por esses motivos, o oboé foi eleito o ‘diapasão’ da orquestra.

Fonte: Maestro John Neschling

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Se a OSESP é, hoje, sinônimo de excelência no universo das orquestras sinfônicas, o sobrenome Minczuk é sinônimo de música.

José Minczuk, maestro do Coral da Polícia Militar de São Paulo, viu cinco de seus oito filhos transformarem o gosto pelas partituras, adquirido na infância, em profissão.

Nesta matéria, porém, nosso destaque é para Arcádio Minczuk, marido da promotora de justiça e associada da APMP Tatiana Viggiani Bicudo.

Arcádio é o 1º oboísta da OSESP desde 1981. Ganhador de diversos prê-mios e pós-graduado no Conservatório de Oberlin (EUA), leciona na UNESP e é diretor pedagógico do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim (antiga Universidade Livre de Música) e coordenador pedagógico do Festival de Inverno de Campos do Jordão na área de música erudita. Foi presidente da Associação dos Músicos da OSESP e hoje ocupa a vice-presidência.

Na sede da OSESP, na Sala São Paulo, Arcádio falou para a APMP em Reflexão.

Talento de família Um pouco da história dos Minczuk

APMP em Reflexão: Por ter se iniciado tão cedo na música, a sua infância foi igual à de qual-quer outra criança? Arcádio Minczuk: Somos oitos irmãos e tivemos sim uma infância normal. Claro que todos estuda-ram música e, em casa, tínhamos uma “orquestra”. A primeira formação foi com bandolim, violão e meus pais cantando. Juntávamos todos os irmãos e nos apresentávamos em casas de amigos e na nossa igreja, a Assembléia de Deus Russa.

APMP: Qual a importância de uma orquestra ter uma sede, no caso da OSESP, a Sala São Paulo? Você acha que isso é um diferencial?AM: Para a OSESP se tornar um grande projeto foi fundamental que houvesse essa sala. Lembro-me da grande fase da orquestra na época do maestro Eleazar de Carvalho, quando nos apresentávamos no Teatro de Cultura Artística, que era a nossa sede. Fazíamos gravações pela TV Cultura e tocá-vamos duas vezes por semana, com grande públi-co. Acabou o contrato da Secretaria de Cultura e nós nos mudamos. Foi o começo da decadência, porque a orquestra não tinha mais casa própria.

APMP: E veio o afastamento do Eleazar...AM: É verdade. Além dos problemas de saúde do maestro, ele se afastara antes, por ter assumido uma cátedra regência fora do país.

APMP: Falando no maestro Eleazar, ele era conside-rado um dos melhores do mundo, não é mesmo? AM: Sim, no exterior ele era considerado assim, tanto que regeu as grandes orquestras do mun-do. Toquei com ele profissionalmente por 17 anos e posso afirmar que em certos repertórios, como os do século 20, ele era inigualável. Ninguém, por exemplo, regia a “Sagração da Primavera” de Stra-vinsky como ele.

APMP: Investimento é tudo para melhorar e manter o nível de uma orquestra ou há mais algum segredo?AM: No caso, o investimento financeiro não é tudo. Não adianta investir milhões em uma or-questra em que os músicos não são bem qualifica-dos. Esse projeto da OSESP é completo porque os músicos foram re-qualificados. A re-qualificação, aliás, foi uma fase bem traumática.

APMP: Por que?AM: Porque todos tiveram que fazer testes no-vamente, com bancas de avaliadores internacio-nais para cada instrumento. Eu já estava há 17 anos na orquestra e tive que fazê-los. Isso era facultativo, mas quem não realizava o teste fica-va na antiga estrutura da orquestra – a Sinfonia Cultura, ligada à Fundação Padre Anchieta até sua recente extinção.

Lobos, que todo mundo já conhece lá fora, mas outros compositores como Camargo Guarnieri e Guerra Peixe, por exemplo. Não tínhamos grava-ções de qualidade nem de Villa-Lobos e a OSESP está fornecendo algo novo no mundo fonográfico.

APMP: Você citou o período de decadência e o áureo da OSESP. Acha que a fase atual da or-questra é irreversível ou, dependendo de mudan-

APMP: E qual a importância do maestro John Neschling no renascimento da orquestra? AM: Muito grande. Neschling já tinha muita experi-ência como maestro em outras instituições brasileiras. No Teatro Municipal de São Paulo, por exemplo, ele conheceu os problemas que envolvem a administra-ção pública. E a experiência internacional conta muito. Ele trabalhara na Itália, na França e em Portugal. Para além do seu valor como maestro, porém, o projeto deu certo pelo lado empreendedor, que é o forte dele. APMP: Qual a importância de uma carreira in-ternacional para uma orquestra? Como avalia a da OSESP?AM: Uma orquestra que não excursiona é uma or-questra em que falta alguma coisa. A OSESP tem seu público, sua sede, possui programação bem elaborada, faz gravações. Mas as excursões divul-gam o nome da orquestra no exterior.

APMP: E o que representa isso?AM: A possibilidade de apresentar e gravar um repertório novo e que ainda não foi muito explo-rado: o da música erudita brasileira. Não só Villa-

ças do governo estadual ou da própria direção artística, corre-se o risco de novo retrocesso?AM: Eu acho que não há risco de retrocesso. A or-questra está partindo para uma nova fase, que é a da institucionalização. Isso vai resolver alguns problemas que ainda perduram, como a dificuldade para con-tratar músicos estrangeiros. Vai ser também criada a Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que firmará um contrato de gestão com o Governo do Estado de cinco anos para administrar a orquestra. A partir daí teremos contratos melhores e a possibilidade de angariar recursos junto à iniciativa privada, garan-tindo maior autonomia em relação ao governo.

APMP: Para terminar, conte-nos sobre o projeto social/musical realizado por seu pai. AM: Meu pai teve um derrame que afetou muito a sua fala. Desde então, ele começou a freqüentar sessões de fonoaudiologia e a ter contato com outras pessoas com o mesmo problema. Por ser alguém com muita força de vontade e energia, resolveu formar um coral na Univer-sidade Bandeirante (UNIBAN) com pessoas que tiveram também um AVC. A auto-estima delas cresceu muito e as ajudou a superar esse problema de saúde.

Arcádio Minczuk

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A posentados

APMP enaltece os que ajudaram a construir o Ministério Público de São Paulo.

No último dia 20 de maio realizou-se o tradicional Jantar de Confrater-nização dos Aposentados. Foram homenageados os promotores e procura-dores de justiça que se aposentaram no período compreendido entre maio de 2004 e maio de 2005.

Mais de 200 pessoas - dentre elas autoridades como o Secretário de Segu-rança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, e o representante do Procurador-Geral de Justiça, o Procurador José Benedito Tarifa - lotaram o Buffet Baiúca. Também a pista de dança do salão principal foi palco de rodopios e passos bem sincronizados, ao som da Orquestra Sylvio Mazzucca.

A homenagem, as palavras do orador José Juarez Staut Mustafá e o pout-pourri dos Trovadores Urbanos ao fi-nal do jantar emocionaram a todos, especialmente Ruy Alberto Gatto e Antonio Duarte, que também se aposentaram recentemente. Não foram poucas as pessoas que verte-ram copiosas lágrimas.

No encerramento da festa, uma cer-teza: o sucesso do evento, comentado por todos os presentes, foi mais uma de-monstração do compromisso da APMP com o respeito aos aposentados.

Justa Homenagem

TrovadoresHerança medieval sobrevive em tempos de MP3

Amores não correspondidos, saudades... Alguns dos temas que mais fazem sucesso nas músicas românticas da atualidade não deixam de ser uma herança das antigas cantigas medievais originárias do século 12 em Portugal. Naquele tempo, iniciou-se o movimento poético denominado Trova-dorismo. Nele, os trovadores produziam os poemas feitos para serem cantados ao som de instrumentos musicais como a flauta e a viola. Quem cantava as obras – que aborda-vam principalmente o amor – eram os cha-mados Jograis, por meio de apresentações líricas ocorridas ao ar livre.

O movimento se difundiu pela Europa e ganhou o mundo. A tradição das trovas dos cantores ambulantes chegou ao Brasil com a vinda dos colonizadores portugueses. No país, os seresteiros guardaram esse espírito em suas músicas melodiosas e apaixonadas, executadas sob a luz da lua, embaixo de uma janela.

E veio a serenataEm tempos de MP3 e música eletrônica,

as serenatas continuam nos dias de hoje. Há mais de 10 anos, um quarteto de cantores e músicos faz sucesso resgatando o char-me e romantismo dessas apresentações: Os Trovadores Urbanos. Tendo na composição original Maída Novaes, Juca Novaes, Edu Santana e Valéria Caram, o grupo difunde o hábito das serenatas realizando shows por todo o Brasil. Com vários CDs gravados, mostra que o sertanejo de raiz não é o único representante da autêntica música paulista.

Além das mais de trin-ta mil apresentações, os Trovadores Urbanos já participaram de reporta-gens, programas e novelas - como “Vila Madalena”, da TV Globo.

Hoje, o projeto conta com 50 músi-cos que se juntaram aos cantores ori-ginais para fazer serenatas a qualquer hora do dia e nos mais inusitados lo-cais, tudo ao gosto do cliente.

As apresentações também aconte-cem fora do país. Em 1993, apresen-taram-se, durante 20 dias, em Paris, Madri e na região dos Pirineus, com um show que divulgava grandes momentos da música popular brasileira. Já na Expo 98, em Lisboa, a última exposição mun-dial do século 20, eles se apresentaram re-presentando São Paulo, com um repertório de grandes autores da MPB, em especial o paulistano Adoniran Barbosa.

Os Trovadores reúnem um repertório de grandes compositores nacionais de mar-chas, valsas, serestas, choros e sambas, como Braguinha, Geraldo Filme, Ari Barro-so, Pixinguinha, Noel Rosa, Eduardo Gudin, Jorge Faraj, Orestes Barbosa e o se-resteiro n.º 1 do Brasil, Sílvio Caldas.

Um fato é certo. A herança me-dieval tem razão de perdurar. Seja qual for o motivo - aniversário, Dia das Mães, casamento, formatura ou reconciliação - a serenata é um presente inesquecível!

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Jantar dos Aposentados

Marcos Guardabassi

Maior expert em carnes no maior evento esportivo de todos os tempos

A APMP queria inovar no Torneio Esportivo deste ano. A organização escolheu como ponto alto dos eventos sociais a realização de um churrasco de confraternização. Alguém então lembra que estamos falando do maior evento esportivo que a APMP jamais realizara. Outro, em tom de brincadeira, fala: “Isso merece o Bassi...”.

Desta conversa descontraída surge a idéia de unir duas referências indiscutíveis em seus respectivos setores.

A APMP é a maior e melhor entidade congênere da América Latina. E quando o assunto é “carnes”, não tem para ninguém: Marcos Guardabassi é um dos melhores no mundo.

Não é para menos. Aos 8 anos de idade já saía pelas ruas de São Paulo vendendo, com sua mãe, miúdos de boi. Aos 14, mostrou que tinha feeling para o comércio quando abriu um açou-gue à rua Humaitá. Não satisfeito, quis agregar valor ao seu negócio. Diferenciou-se no atendi-mento e na qualidade dos serviços oferecidos. “O ambiente do açougue era requintado com mármore e vidros. Minha mãe trazia para mim, diariamente, cinco aventais de linho impecáveis para uso”, conta.

Além disso, pesquisou a culinária dos descen-dentes de várias nacionalidades que viviam no bairro da Bela Vista e passou a estudar profunda-

mente a anatomia bovina. Tanto empenho surtiu resultados: Bassi criou 150 diferentes cortes de carne. Basta dizer que ele batizou a nossa famosa fraldinha e o steak do açougueiro.

Depois de conquistar a alta-sociedade pau-listana com seus “cortes especiais”, alçou no-vos vôos. Abriu o Espaço Marcos Guardabassi, em 1975, que representa um novo conceito de restaurante: uma sala privada, que comporta de 12 a 20 pessoas, onde é apreciado o preparo das carnes especiais e feita a sua degustação. Depois disso, veio a churrascaria Marcos Guar-dabassi na década de 80 onde também funciona a atual “boutique de carnes”.

Conheça um pouco mais desse verdadeiro “dou-tor” em carnes:

Raio XNome: Marcos Guardabassi Idade: 57 anosEstado Civil: casado há 33 anos, duas filhasTime: CorinthiansHobby: cozinhar. “Faço tudo na churrasqueira,

até arroz e massas”Comida favorita: o que importa é a companhia

e não a comidaBebida: vinho. “E quem disse que vinho branco

com churrasco não combina?”Viagem: já fiz muitas... “Quero conhecer o Tibet

e Santiago de Compostela” Filme: Perfume de Mulher. “A interpretação de Al

Pacino é simplesmente estupenda”Livro: Bíblia. “Que

releio sempre”. E O Monge e o Executivo Música: a que expres-

se grandes sentimentosUm passeio por São

Paulo: Mercado Mu-nicipal, Catedral da Sé, Museu do Ipiran-ga... “São Paulo tem muita coisa para ser vista”

Espaço Marcos Guardabassi Rua Treze de Maio, 659 – São Paulo Reservas pelos Tels. (11) 3253-4307 Churrascaria e Loja de CarnesRua Treze de Maio, 668 – São PauloTels. (11) 3288-7045 - 0800 7711922

Gastronomia Especial

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