12
Resumo. O conjunto de empreendimentos econômi- cos com inspiração autogestionária vem sendo cha- mado no Brasil de economia solidária desde meados da década de 1990. Surgiu como uma forma de rea- ção popular ao desemprego. Junto com os membros de diversas entidades de apoio, os trabalhadores integrantes dos empreendimentos chamados solidá- rios formam um movimento cuja organização se dá através de plenárias, feiras, redes e fóruns. A econo- mia solidária também se tornou uma política pública federal, implementada pelo Ministério do Trabalho. Levantamentos públicos nacionais mostraram, en- tretanto, significativo grau de precariedade dos em- preendimentos solidários apurados. A partir desses dados e também de resultados investigativos dispo- níveis em referências bibliográficas consultadas, este artigo discute o confronto entre o projeto político e a realidade empírica da economia solidária. Palavras-chave: economia solidária, política públi- ca, movimentos sociais. Abstract. The set of economic enterprises that have a self-management inspiration has been called solidarity economy since the middle of the nineties in Brazil. It has emerged as a kind of pop- ular reaction against unemployment. Along with members of various supporting entities, workers of so called solidarity enterprises have established a movement organized through meetings, fairs, networks and forums. The solidarity economy has also become a federal public policy implemented by the Labor Ministry. However, public national surveys have pointed out a considerable level of precariousness and vulnerability in the solidar- ity enterprises that have been surveyed. Based on those data and also on available research results in the specific literature, this article discusses the comparison between the political project and the empirical reality of the solidarity economy. Key words: solidarity economy, public policy, so- cial movements. Otra Economía, 5(9):173-184, julio-diciembre 2011 © 2011 by Unisinos - doi: 10.4013/otra.2011.59.05 Um exame da economia solidária 1 An examination of solidarity economy André Ricardo de Souza 2 [email protected] Introdução Economia solidária é o termo que vem sendo empregado para designar e identificar politicamente uma variedade de iniciativas coletivistas de produção, comércio, consumo, poupança e crédito balizadas por princípios idealmente igualitários e democráticos. Tal universo abrange cooperativas, empresas re- cuperadas ou em reabilitação de processos falimentares, pequenos empreendimentos comunitários (pré-cooperativas), associações locais de troca de mercadorias e serviços atra- vés do uso de uma moeda própria e práticas de venda, até internacional, de produtos des- ses empreendimentos alternativos em algo chamado “comércio justo”. Esse conjunto de iniciativas, denominado às vezes trabalho as- sociado ou “novo cooperativismo”, decorre da dinâmica atual de acumulação flexível do ca- pitalismo mundial, marcado pela redução de custos, bem como pela informalização e pre- 1 Texto baseado em resultados de pesquisa feita com auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 2 Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 235, Monjolinho, 13565-905, São Carlos, SP, Brasil.

Um exame da Economia Solidaria

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Um exame da Economia Solidaria

Citation preview

  • Resumo. O conjunto de empreendimentos econmi-cos com inspirao autogestionria vem sendo cha-mado no Brasil de economia solidria desde meados da dcada de 1990. Surgiu como uma forma de rea-o popular ao desemprego. Junto com os membros de diversas entidades de apoio, os trabalhadores integrantes dos empreendimentos chamados solid-rios formam um movimento cuja organizao se d atravs de plenrias, feiras, redes e fruns. A econo-mia solidria tambm se tornou uma poltica pblica federal, implementada pelo Ministrio do Trabalho. Levantamentos pblicos nacionais mostraram, en-tretanto, significativo grau de precariedade dos em-preendimentos solidrios apurados. A partir desses dados e tambm de resultados investigativos dispo-nveis em referncias bibliogrficas consultadas, este artigo discute o confronto entre o projeto poltico e a realidade emprica da economia solidria.

    Palavras-chave: economia solidria, poltica pbli-ca, movimentos sociais.

    Abstract. The set of economic enterprises that have a self-management inspiration has been called solidarity economy since the middle of the nineties in Brazil. It has emerged as a kind of pop-ular reaction against unemployment. Along with members of various supporting entities, workers of so called solidarity enterprises have established a movement organized through meetings, fairs, networks and forums. The solidarity economy has also become a federal public policy implemented by the Labor Ministry. However, public national surveys have pointed out a considerable level of precariousness and vulnerability in the solidar-ity enterprises that have been surveyed. Based on those data and also on available research results in the specific literature, this article discusses the comparison between the political project and the empirical reality of the solidarity economy.

    Key words: solidarity economy, public policy, so-cial movements.

    Otra Economa, 5(9):173-184, julio-diciembre 2011 2011 by Unisinos - doi: 10.4013/otra.2011.59.05

    Um exame da economia solidria1

    An examination of solidarity economy

    Andr Ricardo de [email protected]

    Introduo

    Economia solidria o termo que vem sendo empregado para designar e identificar politicamente uma variedade de iniciativas coletivistas de produo, comrcio, consumo, poupana e crdito balizadas por princpios idealmente igualitrios e democrticos. Tal universo abrange cooperativas, empresas re-cuperadas ou em reabilitao de processos falimentares, pequenos empreendimentos

    comunitrios (pr-cooperativas), associaes locais de troca de mercadorias e servios atra-vs do uso de uma moeda prpria e prticas de venda, at internacional, de produtos des-ses empreendimentos alternativos em algo chamado comrcio justo. Esse conjunto de iniciativas, denominado s vezes trabalho as-sociado ou novo cooperativismo, decorre da dinmica atual de acumulao flexvel do ca-pitalismo mundial, marcado pela reduo de custos, bem como pela informalizao e pre-

    1 Texto baseado em resultados de pesquisa feita com auxlio da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo. 2 Universidade Federal de So Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 235, Monjolinho, 13565-905, So Carlos, SP, Brasil.

  • 174 Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011

    Um exame da economia solidria

    3 Eis os oito princpios adotados e que seriam reconhecidos como universais no cooperativismo: (i) nas decises, cada membro teria direito a um voto, independentemente de quanto tivesse investido na cooperativa; (ii) o nmero de mem-bros era aberto, para que novos scios pudessem ser integrados; (iii) sobre o capital emprestado, a cooperativa pagaria uma taxa de juros fixa; (iv) o excedente seria dividido entre os membros em proporo s compras de cada um na co-operativa; (v) as vendas feitas seriam sempre vista; (vi) os produtos vendidos pela cooperativa seriam sempre puros, isto , no adulterados; (vii) haveria empenho na educao cooperativista; (viii) a cooperativa seria neutra em questes religiosas e polticas.

    carizao das relaes e condies de trabalho. Nesse contexto, da dcada de 1990, as experi-ncias com pretenso igualitria e democrtica de trabalho e renda despontaram no universo de polticas pblicas.

    Diante do desemprego estrutural, a ativi-dade econmica associativa foi vislumbrada como uma alternativa. Esse conjunto hetero-gneo de iniciativas recebe diferentes nomes que aludem a uma outra economia: econo-mia social, economia do trabalho, economia popular e economia solidria. Trata-se em es-sncia de um tipo de resposta excluso do mercado de trabalho, visto ainda pela maioria dos trabalhadores engajados como algo tem-porrio at que um emprego formal surja ou reaparea. Atravs dos chamados empreendi-mentos solidrios, trabalhadores desemprega-dos e marginalizados vm obtendo um meio de sustento e parecem redefinir suas identida-des sociais. Destacadamente no discurso mi-litante, tal construo identitria se baseia na recuperao dos princpios do cooperativismo pioneiro e europeu do sculo XIX principal-mente a autogesto e no desenvolvimento de uma cultura solidria (Oliveira, 2006).

    Um dos antecedentes importantes da eco-nomia solidria foi a fundao de uma coo-perativa de consumo de operrios txteis na cidade britnica de Rochdale, prxima a Man-chester, em 1844. Tal iniciativa marcou o incio do cooperativismo moderno, com diretrizes de organizao definidas3. A partir daque-la empreitada surgiram outras cooperativas de diversos segmentos, impulsionando um processo que culminou na criao da Aliana Cooperativa Internacional em 1895. Embora originrio do movimento operrio e combati-vo explorao capitalista, o cooperativismo se difundiu pelo mundo ao longo do sculo XX com feies empresariais convencionais, caracterizadas pela heterogesto. Ou seja, predominaram as cooperativas com poucos scios proprietrios e muitos trabalhadores empregados. Tal modo de desenvolvimento concretizou a tese segundo a qual as coope-rativas precisam crescer para se viabilizarem economicamente, mas, ao fazerem isso, ine-

    vitavelmente, se degeneram (Webb e Webb, 1914; Bernstein, 1961; Luxemburgo, 1986). Eis o dilema das cooperativas: crescerem em quan-tidade de trabalhadores envolvidos, porm fazendo-se e preservando-se igualitrias e de-mocrticas (autogestionrias).

    A principal experincia cooperativista no sculo XX foi a Corporao Cooperativa de Mondragn, iniciada em 1956 na cidade basca homnima, ao norte da Espanha, por iniciati-va do padre catlico Jos Arizmendiarreta. A partir de ex-alunos de uma escola tcnica e da mobilizao comunitria, o sacerdote liderou a aquisio de uma fbrica de foges falida. Logo, outras cooperativas foram organizadas e integradas, de modo que a corporao se tor-nou uma das maiores produtoras espanholas de eletrodomsticos de linha branca e de car-rocerias de nibus (Whyte e Whyte, 1988). O complexo de Mondragn se expandiu para ou-tros pases, vindo a envolver atualmente mais de 50 mil trabalhadores. Sua estrutura vista, por um lado, como burocraticamente verticali-zada, semelhante, em grande medida, de ou-tra empresa multinacional qualquer (Kasmir, 1996). Por outro lado, Mondragn vista como uma experincia democrtica e positivamente inovadora (Azevedo e Gitahy, 2010).

    No Brasil, o cooperativismo chegou no in-cio do sculo XX, trazido por imigrantes euro-peus. As primeiras cooperativas assumiram as formas de consumo, nas cidades, e agrcolas, no meio rural. As de consumo eram constitu-das por empregados de empresas buscando se defender dos altos preos do mercado varejista. Tais cooperativas foram gradativamente subs-titudas por hipermercados. J as agrcolas se expandiram, vindo em maioria a se transforma-rem em grandes empresas dos setores agroin-dustrial e comercial, vinculadas Organizao das Cooperativas do Brasil (OCB).

    Nos anos de 1950, 1960 e posteriormente 1980, houve no Brasil algumas experincias cooperativistas populares, formadas por mo-radores de periferias urbanas, sustentadas por setores da Igreja Catlica (Souza, 2006). Mas foi somente na dcada de 1990, quando sur-giram empresas industriais com inspirao

  • Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011 175

    Andr Ricardo de Souza

    autogestionria, no contexto de elevado de-semprego, que a expresso economia solidria se difundiu. A primeira dessas unidades fabris surgiu em 1991, quando os empregados da f-brica de calados Makerli, da cidade paulista de Franca, decidiram assumir a direo da em-presa, dado que o trmino de suas atividades eliminaria mais de 400 postos de trabalho dire-tos. Junto com o Sindicato dos Trabalhadores Caladistas local, filiado Central nica dos Trabalhadores (CUT), eles buscaram o apoio do Departamento Intersindical de Estatsti-ca e Estudos Socioeconmicos (DIEESE) para assumir aquele projeto. Reunindo integrantes de experincias semelhantes em um primeiro encontro nacional, foi criada em 1994 a Asso-ciao Nacional de Trabalhadores de Empre-sas de Autogesto e Participao Acionria (ANTEAG)4. No mbito dos desdobramentos da Campanha contra a Fome e a Misria, essa entidade recebeu incentivo do falecido soci-logo Herbert de Souza, Betinho, e seu Institu-to Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas IBASE (Nakano, 2000; Valle, 2002). Mas em 2011, devido a problemas financeiros, a ANTE-AG se viu incapaz de evitar a prpria falncia.

    O apoio aos pequenos empreendimen-tos econmicos coletivistas foi dado tambm desde o incio do movimento por outras or-ganizaes no governamentais cariocas, que ajudaram a formar em 1995 o Frum do Coo-perativismo Popular do Rio de Janeiro. Lide-raram essa empreitada o Instituto de Polticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e a Fede-rao dos rgos de Assistncia Social FASE (Tiriba, 2000; Quintela e Arruda, 2000).

    No mbito da Igreja Catlica, j no incio da dcada de 80, haviam sido formados pequenos empreendimentos solidrios nomeados Proje-tos Alternativos Comunitrios. Apoiados pela Critas Brasileira, entidade ligada Confe-rncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esses grupos produtivos se desenvolveram principalmente no Rio Grande do Sul, onde constituram em 1996 um frum estadual de economia popular solidria (Gaiger, 2000). Na cidade gacha de Santa Maria, um projeto vinculado diocese local abrange mais de 200 grupos de produtores (de maioria rural), envol-vendo cerca de 4 mil pessoas. Eles vm realizan-do desde 1993 uma feira que se tornou referncia at internacional do movimento de economia

    solidria (Gaiger, 2000; Bertucci e Silva, 2003; Souza, 2006, p. 93-109; Sarria e Freitas, 2006).

    Em 1997, a Rede Interuniversitria de Estu-dos e Pesquisas sobre o Trabalho (UNITRABA-LHO), fundada no ano anterior, constituiu um ncleo voltado para a economia solidria. Esse grupo promoveria pesquisas sobre essa tem-tica e tambm a criao em 1998de uma rede universitria de incubadoras de cooperativas populares, com a primeira unidade formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tal articulao contou com o apoio do Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Po-pulares (PRONINC), da Financiadora de Estu-dos e Projetos (FINEP), ligada ao Ministrio de Cincia e Tecnologia (Guimares, 2000). Esta rede soma atualmente mais de 40 incubadoras universitrias.

    O que vem sendo chamado de economia solidria tambm se desenvolveu a partir do apoio do movimento sindical ligado CUT. Em 1998, a central sindical passou a aprofun-dar o debate a respeito de cooperativas e au-togesto. Com o apoio da UNITRABALHO, do DIEESE e da holandesa Organizao Inte-reclesistica para a Cooperao ao Desenvol-vimento (ICCO), a CUT instituiu em 1999 a Agncia de Desenvolvimento Solidrio ADS (Magalhes e Todeschini, 2000). No mesmo ano, o Sindicato dos Metalrgicos do ABC Paulista concluiu seu terceiro congresso com a criao da Unio e Solidariedade das Coopera-tivas do Estado de So Paulo UNISOL (Oda, 2000). Esse importante engajamento cutista ainda no significa o trmino das divergncias de seus sindicalistas sobre o cooperativismo como opo legtima ou mera precarizao de trabalho. Por outro lado, o crescimento dessas entidades ligadas ao sindicalismo, ADS e UNI-SOL, pode ser considerado um dos fatores que levavam ao fim da concorrente nesse mesmo campo de atuao: ANTEAG.

    Voltando ao processo histrico da econo-mia solidria no Brasil, um impulso significa-tivo s suas experincias foi dado no Rio Gran-de do Sul, com o governo petista de Olvio Dutra em 1999. Foi criada a Secretaria do De-senvolvimento e dos Assuntos Internacionais (SEDAI), qual coube implementar uma po-ltica especfica de economia solidria. Aquele rgo estabeleceu intercmbios internacionais, sobretudo com a Secretaria de Economia Soli-

    4 O modelo seguido foi o norte-americano Employee Stock Ownership Plans (ESOPs), plano criado nos anos 80 para transfe-rir parte do capital das empresas para seus empregados.

  • 176 Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011

    Um exame da economia solidria

    dria, ligada ao Ministrio do Trabalho e Co-eso Social da Frana, que funcionou durante o governo do primeiro ministro Lionel Jospin (1997-2002). Alm de apoiar as feiras estaduais solidrias, sobretudo a de Santa Maria, a SE-DAI estabeleceu significativas parcerias com ANTEAG e ADS.

    Durante o primeiro Frum Social Mun-dial em 2001, aconteceu uma articulao de entidades e redes nacionais ligadas temti-ca da economia solidria. Faziam parte de tal grupo as entidades: IBASE, UNITRABALHO, ANTEAG, PACS, FASE, ADS-CUT, Rede de Incubadoras Universitrias, Critas Brasileira, Rede Brasileira de Socioeconomia Solidria (RBSES), UNISOL, Confederao das Coope-rativas de Reforma Agrria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (CONCRAB-MST), Associao Brasileira de Instituies de Microcrdito (ABICRED). Compunham o gru-po tambm alguns tcnicos de rgos pblicos que vieram a constituir a Rede de Gestores de Polticas Pblicas de Economia Solidria. Tal mobilizao se tornaria frutfera, gerando a criao de uma poltica pblica nacional de economia solidria.

    A eleio de Luiz Incio Lula da Silva Presidncia da Repblica em 2002 abriu novos horizontes. O movimento, que j contava com alguns fruns locais e regionais, passou a se organizar nacionalmente, procurando abran-ger todas as unidades da Federao. Organi-zou em So Paulo uma primeira plenria na-cional em dezembro daquele ano. Em janeiro seguinte, foi anunciada a criao da Secretaria Nacional de Economia Solidria (SENAES), no mbito do Ministrio do Trabalho e Emprego, que seria coordenada pelo economista da Uni-versidade de So Paulo, Paul Singer. A partir de fruns, bem como grupos locais e regionais, houve reunies preparatrias em 17 unidades da Federao, nas quais representantes foram delegados para participar em junho de 2003 de uma terceira plenria nacional em Braslia. Nesse encontro, foi institudo o Frum Brasi-leiro de Economia Solidria (FBES), que seria o interlocutor do movimento com a SENAES, ento j instalada. Oficializando tal interme-diao, a partir do FBES, foi institudo um Conselho Nacional de Economia Solidria, com representantes eleitos dos trabalhadores envolvidos e das entidades de apoio.

    Observa-se que a economia solidria se de-senvolveu ao longo da segunda metade dos anos 90 e incio da dcada seguinte a partir de diversas experincias existentes em partes dis-

    tintas do pas. Tais iniciativas foram gradativa-mente se aglutinando atravs de feiras, fruns e eventos afins, de modo a se constituir um movimento nacional. A organizao de tal mo-vimento fez surgir em 2003 um rgo pblico federal especfico: a SENAES. Eis uma trajet-ria bem-sucedida e relativamente rpida, em face do surgimento de polticas pblicas e res-pectivas secretarias nacionais para os negros e as mulheres, por exemplo.

    A demarcao da economia solidria e o referencial terico

    Os ativistas do movimento da economia solidria procuram discursivamente marcar diferena, at de modo antagnico, em relao a outros conjuntos sociais, que, s vezes, tam-bm fazem uso do termo autogesto. Trata-se principalmente do cooperativismo de gran-de porte, corporativo e organizado pela OCB. Diz respeito tambm s cooperativas de servio oriundas dos processos de terceirizao e sub-contratao de mo de obra, marcadas pela pre-carizao das relaes de trabalho e alcunhadas de cooperfraudes. Refere-se ainda ao bastan-te amplo e heterogneo universo das ONGs integrantes do terceiro setor. Os militantes da economia solidria vm constituindo discursi-va, simblica e institucionalmente o que Pierre Bourdieu (1974) denomina campo social. Isso implica delimitar o que distinto e at contr-rio economia solidria. Esse campo solid-rio apontado, portanto, como algo distinto e autnomo, tanto do cooperativismo corporati-vo tradicional, quanto do cooperativismo dito fraudulento e tambm do terceiro setor.

    O movimento da economia solidria, cuja bandeira a autogesto em termos de ativida-de econmica, vem sendo construdo atravs de reunies e eventos que afirmam valores para alm da atividade econmica em si, liga-dos ideia de democratizao da sociedade. Por outro lado, a economia solidria tambm denomina departamentos, secretarias e rgos de governos municipais, estaduais e at fede-ral, tornando-se uma poltica pblica nacional. Seus adeptos vm fazendo uma disputa se-mntica em torno das palavras cooperativismo e autogesto. Esta ltima, principalmente, est presente em documentos de instituies rele-vantes, desde a opositora OCB at as orgni-cas ADS e UNISOL, que representam politi-camente de modo direto os empreendimentos coletivistas com mais relevncia econmica nesse campo solidrio.

  • Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011 177

    Andr Ricardo de Souza

    A disputa ou demarcao da fronteira do campo da economia solidria quanto ao termo cooperativismo se d mais em relao s coopera-tivas decorrentes de processos de terceirizao. A diferena a menos clara e mais controversa do que em relao s grandes cooperativas liga-das OCB. As cooperativas formadas a partir do Estado, ou de grandes empresas para redu-zir seus custos trabalhistas, no se preocupam com aspectos ideolgicos, voltando-se exclusi-vamente para a atividade econmica, de modo pragmtico (Lima, 2007). Tais cooperativas vm sendo alvo de denncias e aes judiciais por parte do Ministrio Pblico do Trabalho. Em contraposio a elas, que seriam cooperativas fraudulentas, pseudocooperativas, cooper-fraudes ou coopergatos, estariam aquelas do campo da economia solidria, tidas como cooperativas autnticas5.

    Grande parte das cooperativas e demais for-mas de empreendimentos de economia solid-ria surgem e prosseguem com apoio financeiro, tcnico e poltico de rgos pblicos, igrejas, universidades, sindicatos e ONGs. Estas lti-mas compem o universo bem mais amplo e heterogneo do terceiro setor. Embora este ou-tro campo seja visto por muitos militantes da autogesto como algo funcional ou paliativo explorao capitalista, o fato que grande parte dos empreendimentos solidrios so formados e se mantm com o apoio do terceiro setor, ha-vendo efetivamente um contnuo entre ele e a economia solidria. Em parte da Europa, eco-nomia solidria e terceiro setor so tratados como um s fenmeno, chamado economia social, que abrange um universo emprico bem mais amplo e heterogneo que o da economia solidria, composta apenas por iniciativas eco-nmicas coletivistas de produo, consumo e crdito (Defourny et al., 1997; Chaves, 1998; Wautier, 2003; Monzn 2006). Na Amrica Lati-na, muitos autores vinculados Rede de Inves-tigadores Latino-Americanos de Economia So-cial e Solidria (RILESS) empregam a expresso economia social e solidria. Este artigo visa abordagem exclusiva da economia solidria.

    A partir dessa ponderao sobre a eco-nomia social, adentremos na questo do referencial terico da economia solidria, envolvendo a viso pluralista que se tem sobre ela e tambm sua condio como ob-jeto de investigao (Leite, 2009). Um modo de encar-la se caracteriza pela rejeio da explicao da ao econmica apenas pelo interesse individual, considerando o valor da ddiva e da reciprocidade nas relaes sociais que so tambm econmicas (Mauss, 1988; Caill, 1998). Nessa perspectiva, vis-lumbra-se a possibilidade de democratiza-o da economia, que plural, bem como a promoo de vnculos sociais geradores de ajuda mtua, isto , de solidariedade a partir da proximidade entre as pessoas (Po-lanyi, 2000; Laville, 2006).

    Uma outra chave interpretativa da econo-mia, para alm da perspectiva liberal, consi-dera as unidades domsticas e tambm o tra-balho por conta prpria como algo relevante, dada a produo de bens e servios, que so consumidos pelas famlias sem se envolverem tanto na circulao do mercado. Tais ativida-des, prprias de uma economia domstica e do trabalho, abrangem setores como lim-peza, cozinha, cuidado de crianas, cultivo de hortas, confeco de vesturio e produo de mveis para a prpria unidade domstica. Quando os indivduos engajados em tais ati-vidades se juntam e se organizam democrati-camente, suas iniciativas ganham feies de economia solidria (Coraggio, 2000).

    Por fim, alm do paradigma da ddiva e da economia do trabalho, a terceira refern-cia terica para o movimento da economia solidria no Brasil a aponta como algo con-trrio explorao capitalista, constituin-do-se como o germe de um outro modo de produo, cerne de uma economia socia-lista (Singer e Machado, 2000). Nesta pers-pectiva, que remonta aos ativistas e autores clssicos do socialismo utpico6, os empreen-dimentos econmicos solidrios seriam im-plantes socialistas em uma sociedade esma-

    5 Embora haja tambm cooperativas de economia solidria enfrentando problemas com o Ministrio Pblico do Trabalho; da o debate vigente entre ativistas sobre a criao de um novo marco legal.6 O primeiro e maior deles foi o ingls Robert Owen, dono de um grande complexo industrial txtil na cidade britnica de New Lanark e fundador de uma aldeia cooperativa em 1825, em New Harmony (Estados Unidos). Seu seguidor e compatriota, o mdico William King, tentou organizar uma comunidade owenista, mas acabou formando um armazm cooperativo em 1827. Outro owenista foi Philippe Buchez, militante catlico, que se destacou pela fundao da primeira cooperativa de produo francesa em 1831. Os outros idelogos franceses da autogesto relevantes so: Franois Fourier, Saint-Simon, Louis Blanc, Joseph Proudhon e Charles Gide. Considerados precursores do movimento cooperativista, esses pensadores se dedicaram questo da mudana social abrangente e so considerados clssicos do anarquismo e do socialismo utpico (Buber, 1945).

  • 178 Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011

    Um exame da economia solidria

    7 O mapeamento envolveu mais de 200 entidades de apoio, entre universidades e ONGs, e cerca de 600 tcnicos e entre-vistadores. Os dados reunidos fazem parte do Sistema Nacional de Informaes em Economia Solidria (SIES) e esto disponveis em www.sies.mte.gov.br.8 Conforme o IBGE, o trabalhador por contra prpria informal aquele que trabalha individualmente ou contando com at cinco empregados. Embora sem a figura do empregador, muitos empreendimentos solidrios so pequenos, aproxi-mando-se dessa definio de trabalho por conta informal.9 O valor de referncia 380 reais, correspondente ao SMN de 2007.

    gadoramente capitalista. Por este enfoque, as cooperativas guiadas pelos princpios igua-litrios e democrticos da autogesto cons-tituem a essncia da proposta da economia solidria (Singer, 1998, 2000, 2002a, 2002b). No por acaso, o principal autor desta verten-te terica, assim como lder do movimento da economia solidria no pas e tambm gestor desta poltica pblica nacional, Paul Singer (Souza et al., 2003).

    O universo emprico analisado

    Da reflexo terica verificao empri-ca dos empreendimentos econmicos soli-drios preciso fazer um recorte nada sim-ples, uma vez que a realidade concreta permeada de contradies, promiscuidades, amalgamentos e embaralhamentos que difi-cultam o claro e firme delineamento do que ou no economia solidria. Os pesquisado-res que se debruam sobre esse universo em-prico heterogneo e pantanoso enfrentam a dificuldade de tipific-lo. Se a busca dessa verificao fica tambm a cargo de ativistas, a dificuldade de diagnstico se torna ainda maior. Foi o que o ocorreu quando a SENA-ES em parceria com o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) e contando com o trabalho de militantes do FBES conduziu um mapeamento dos empreendimentos con-siderados solidrios no Brasil7. Esta ao de identificar e registrar junto com os prprios ativistas do movimento, inevitavelmente, implicou certa delimitao ideolgica do ob-jeto pesquisado, acarretando algumas limi-taes cientficas no resultado da investiga-o quanto demarcao precisa, conforme critrios claros, do que compe ou no a eco-nomia solidria. Feita a ressalva, passemos aos dados oriundos do mapeamento nacio-nal de economia solidria.

    Os levantamentos feitos entre 2004 e 2007, prprios desse mapeamento nacio-nal, mostraram que havia 1.687.496 pesso-as engajadas em empreendimentos defini-dos como de economia solidria. A grande maioria das 21.859 unidades produtivas

    encontradas praticamente se enquadra-va naquilo que a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (PNAD-IBGE) designa como trabalho por conta prpria informal8. Ou seja, estavam distribudos em 88% de associaes e grupos informais, sendo o restante 10% de cooperativas e 2% de outras formas de organizao formal (microempresa e associaes coletivamente geridas). Em termos do tipo de atividade econmica, a predominncia era da agro-pecuria, com 64%, estando as atividades urbanas (servios, alimentao, txtil e ar-tesanato) em segundo plano, com 36%. Cha-mou ateno a prevalncia rural e o nmero bastante reduzido de cooperativas formal-mente institudas.

    Entre os empreendimentos econmicos levantados, a proporo dos pequenos, com at 10 integrantes, era igual dos maiores, com mais de 50 membros: 25%. Em termos de propriedade da sede ou local de funcio-namento da atividade econmica, a propor-o dos que declararam prpria (41%) era praticamente a mesma dos que responde-ram cedida ou emprestada, o que denota certa vulnerabilidade. A maioria das unida-des (61%) afirmou no ter feito investimen-tos nos 12 meses antecedentes pesquisa, assim como 52% no havia tido acesso a crdito ou financiamento. Por outro lado, 73% contava com algum tipo de apoio, as-sessoria ou capacitao externa. Estes po-dem ser chamados de aspectos superficiais do levantamento. Vejamos os dados que to-cam mais profundamente a realidade desse universo.

    Na questo sobre a remunerao dos s-cios, apenas 12.965 empreendimentos (59%) informaram o valor. Desses, nada menos que 68% geravam renda individual mensal de at 1 salrio mnimo nacional (SMN) e apenas 10% acima de 2 SMNs9. Outra infor-mao reveladora: a maioria das unidades econmicas mapeadas (56%) no propiciava benefcios, garantias e direitos para seus s-cios que so tambm trabalhadores membros

  • Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011 179

    Andr Ricardo de Souza

    (SIES, 2007)10. Tais dados ressaltam a preca-riedade dessas iniciativas, se comparadas s empresas formalizadas, nas quais os traba-lhadores contam com registro em carteira de trabalho e decorrentes direitos trabalhistas assegurados. Embora os empregos formais ve-nham aumentando gradativamente no Brasil desde 2004, h ainda um grande contingente de pessoas engajadas em empregos informais, portanto, desprovidas de amparo legal.

    Grande parte dos empreendimentos econ-micos solidrios ainda marcada pela depen-dncia de apoio e de recursos externos, prove-nientes de rgos pblicos, ONGs, entidades sindicais, universitrias e eclesiais. Tambm em maioria apresentam: defasagem e defici-ncias tecnolgicas sobretudo nas chamadas fbricas recuperadas , descapitalizao e es-cassez de recursos, relativa baixa qualificao profissional dos associados e uso intensivo e exaustivo da mo de obra envolvida (Vieitez e Dal Ri, 2001). Dado o baixo desenvolvimento tecnolgico, essas unidades econmicas cos-tumam ter sua produtividade comprometida, consequentemente gerando produtos mais ca-ros e, portanto, limitados excedentes11. Essas deficincias, somadas no garantia de efeti-vao dos direitos cooperativos, em substitui-o aos trabalhistas, fazem com que o engaja-mento nesses empreendimentos coletivistas seja visto como algo temporrio, prprio de momentos de crise econmica (Cornforth e Thomas, 1990).

    Um considervel problema ainda nas ini-ciativas produtivas de economia solidria o da desincubao delas, isto , o rompimento da condio de dependncia em relao a uma entidade externa, responsvel por sua forma-o. Muitos desses empreendimentos, de fato, no conseguem caminhar com as prprias pernas, ou seja, conquistar espao no mercado disputado. Da o debate sobre a necessidade de empreendedorismo nas iniciativas de eco-nomia solidria (Gaiger, 2008). Por outro lado,

    falta ainda uma coeso em torno do propsito coletivista da empreitada. Em grande medi-da, o engajamento nesses grupos de atividade econmica no associado ideia de autono-mia, mas sim de uma alternativa de trabalho apenas provisria. A noo de autonomia em termos de trabalho ainda muito ligada ati-vidade individual por contra prpria.

    Ainda so poucos os casos em que esses empreendimentos se originam da vontade e da iniciativa da maioria dos trabalhadores que os integram. Surgem principalmente da mobi-lizao promovida por agentes externos junto com algumas lideranas do futuro empreendi-mento. Esse processo costuma gerar uma divi-so entre o grupo de trabalhadores com valores coletivistas internalizados e o outro que v a atividade meramente como alternativa provi-sria de ocupao; afinal, o registro em carteira de trabalho ainda tem um grande valor social. Estes trabalhadores questionam muitas vezes as vantagens da propriedade de um empreen-dimento considerado frgil e tambm da parti-cipao coletiva em processos decisrios. Ainda veem sua atividade mais como uma alternativa ao desemprego, ou nica opo disponvel, do que como uma conquista ou projeto de carter poltico12. Guiados pela ideia de provisorie-dade, eles tm uma viso pragmtica da sua condio especfica e da vida em sociedade. O embate entre esses dois modos diferentes de encarar o empreendimento coletivo, o militante e o pragmtico, dificulta seu desenvolvimento. Em meio a esse quadro, conforme pesquisas feitas (Lima, 2009; Leite, 2009), a emancipao atravs do trabalho ainda aparece mais no ima-ginrio de ativistas do que no do conjunto de trabalhadores envolvidos.

    As pessoas engajadas nos empreendimen-tos coletivistas tm como herana cultural, por um lado, a referncia de subordinao da so-ciedade salarial, que propugna a condio de empregado, e, por outro, a de pretensa auto-nomia do individualismo liberal, baseada na

    10 Embora as cooperativas de trabalhadores no garantam os direitos previstos na Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), seus membros so obrigados a recolher a contribuio individual junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e deveriam fazer uso de fundos cooperativos internos adequados ao gozo de frias e retiradas adicionais (em subs-tituio ao 13 salrio), entre outros benefcios.11 Seguindo a terminologia das cooperativas, no h lucro nem salrio, mas sim sobras e retiradas. Como os trabalhadores precisam reinvestir parte dos pequenos ganhos obtidos para que seus empreendimentos sobrevivam, as retiradas so pressionadas para baixo. Alm disso, h sempre o problema da necessidade de remunerar devidamente o scio que deci-de deixar o grupo e o que isso acarreta para o empreendimento.12 Muitos integrantes de fbricas recuperadas, sobretudo aqueles com mais de 40 anos de idade e menos chances de reinsero no mercado de trabalho, se veem condicionados a permanecer nelas para tentar receber valores referentes a salrios atrasados e indenizaes.

  • 180 Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011

    Um exame da economia solidria

    ideia de empreendedor individual. Os empre-endimentos solidrios formam um movimen-to ainda bastante minoritrio e frgil. Por isso mesmo, seus integrantes costumam assumir posturas ambguas sobre as atividades que exercem. Muitas vezes, ainda, as perspectivas ideolgicas da economia solidria esto pre-sentes apenas nos agentes externos, os ativis-tas de ONGs, rgos pblicos e entidades uni-versitrias, sindicais e eclesiais (Lima, 2009).

    H nos empreendimentos solidrios outro problema significativo que o da permann-cia de scios em rgos administrativos, dis-tanciados daqueles engajados na atividade produtiva propriamente dita, o cho de fbri-ca. Essa burocratizao hierrquica, apontada como inexorvel do capitalismo (Weber, 2004), expressa a contradio entre o discurso auto-gestionrio e a prtica efetiva de heterogesto, como chancelaram os tericos da degeneres-cncia do cooperativismo (Webb e Webb, 1914; Bernstein, 1961; Luxemburgo, 1986)13.

    Para alguns autores, como Quijano (2002), a economia solidria seria ainda mais uma declarao de intenes do que uma prtica poltica importante. De fato, a poltica pblica nacional conduzida pela SENAES ainda li-mitada, uma vez que esse rgo relativamen-te pequeno e conta com recursos modestos. Embora a Secretaria se desdobre em parcerias com outros rgos do governo federal e at de outros pases (Singer, 2006), a economia soli-dria no se tornou, ao menos por enquanto, uma poltica transversal de destaque no gover-no brasileiro.

    Alguns crticos da proposta de economia solidria dizem que ela est presente em se-tores desprezados pelo grande capital, sen-do composta por catadores de lixo do ca-pitalismo, da sua debilidade econmica. Costumam afirmar tambm que a ideia de autogesto contribui consideravelmente para desonerar empresas dos custos e das impli-caes administrativas da gesto da fora de trabalho, algo que a tornaria uma espcie de engrenagem da estrutura de explorao capi-talista. Assim como o terceiro setor, a econo-mia solidria seria uma espcie de paliativo reproduo liberal de desigualdade social.

    Nessa perspectiva ainda, o cooperativismo popular seria apenas uma faceta da explora-o do trabalho vigente, algo que propiciaria a aceitao passiva da eroso dos direitos sociais do trabalho. O discurso da economia solidria, nesta chave interpretativa, estaria combinado com uma subestimao, embora dissimulada, do papel do Estado nas mudanas sociais. Re-lacionado com a informalidade e a precariza-o do trabalho, esse seria enfim um campo de pesquisa muito ideologizado (Menezes, 2007; Alves e Tavares, 2006; Georges, 2009).

    Nesta vertente analtica, o que s vezes se escreve com letra maiscula Economia Soli-dria deveria ser redigido com minsculas e entre aspas: economia solidria. interes-sante notar a atribuio de importncia aos termos expressa no modo como eles so grafa-dos. Economia solidria uma designao ide-olgica na qual o conceito de autogesto, ali-mentado discursivamente, muito mais caro do que o de cooperativismo, historicamente desgastado. Fazer parte da economia solidria, ser classificado como tal, uma questo poltica. Neste sentido, considervel a fragilidade da SENAES face fora do cooperativismo tradi-cional, representado pela OCB, que conta com um brao prprio do Sistema S14 e o apoio macio do Ministrio da Agricultura.

    notria a participao feminina nos em-preendimentos de economia solidria. De toda a mo de obra envolvida, 37% composta por mulheres, mas enquanto 9% das unidades pro-dutivas so formadas exclusivamente por ho-mens, tal proporo dobrada (18%) no caso das mulheres, conforme o mapeamento nacio-nal feito entre 2004 e 2007. A presena femini-na, no entanto, traz consigo as marcas da tra-dicional diviso sexual do trabalho, cabendo s mulheres sobremaneira as atividades rela-cionadas ao universo privado e domstico, tais como cozinha, costura e limpeza. O trabalho feminino nesses empreendimentos, conforme apontam algumas pesquisadoras, mais li-gado reproduo da vida do que produ-o econmica propriamente dita. Tem menos valor, tanto cultural quanto econmico, e por isso ocupa posio social subalterna, expres-sando a subordinao das mulheres (Hirata e

    13 Marx (1977) deu ateno ao cooperativismo operrio como estratgia de combate ao capitalismo, porm ressalvando o risco de os trabalhadores se autoexplorarem na condio de patres de si mesmos. Para ele, o cooperativismo s seria efi-caz nessa tarefa socialista se fosse organizado diretamente pelo Estado, abrangendo todo o territrio nacional. No entanto, a experincia iugoslava, sob o comando do Marechal Tito, foi decepcionante.14 Trata-se do Servio Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP), que atua de modo semelhante a seus congneres da indstria e do comrcio, as conhecidas siglas SENAI e SENAC.

  • Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011 181

    Andr Ricardo de Souza

    Kergoat, 2003). Falta ainda, entretanto, um es-tudo comparativo da condio da mulher nes-ses empreendimentos com feies solidrias e nos demais, que sejam cotejveis.

    Por outro lado, ainda em relao questo de gnero, a proposta da economia solidria chega a ser vista como uma oportunidade his-trica para uma outra maneira da insero da mulher na economia (Gurin, 2005). Por esse enfoque, ela possibilita sociabilidade a mulhe-res de reas pobres, para alm do ambiente familiar ou eclesial, emancipando-as em algu-ma medida do machismo de alguns maridos. Mesmo pequeno, o rendimento que a ativida-de econmica propicia significativo para as mulheres que esto h muito tempo ou desde sempre fora do mercado formal de trabalho. Porm, como os empreendimentos de econo-mia solidria tm que enfrentar de imediato dois grandes desafios: a viabilidade econmi-ca e a vivncia da autogesto, a expectativa de que eles apresentem igualdade nas relaes de gnero ainda exagerada. Seria colocar, ao menos neste momento histrico, um peso excessivo sobre os ombros dos homens e das mulheres ativistas dessa proposta. Afinal, sempre bom lembrar, a desigualdade de g-nero cultural e milenarmente arraigada nas sociedades do planeta.

    A economia solidria efetivamente se apre-senta como uma alternativa de trabalho para segmentos bastante marginalizados na socie-dade: ex-detentos, portadores de deficincias fsicas e mentais, coletores de lixo reciclvel, pessoas consideradas idosas para o mercado de trabalho, com baixa escolaridade ou limi-tada qualificao profissional. Embora vista como atividade provisria pela maioria dos trabalhadores envolvidos, para alguns inte-grantes desses empreendimentos a economia solidria significa rejeio da arbitrariedade de empresas convencionais, sobretudo o de-semprego injustificvel. Em vez de lucro indi-vidual ou restritamente usufrudo, ela repre-senta nfase no trabalho e na socializao de seus resultados.

    Algumas teses acadmicas vm registran-do mudanas comportamentais nos partici-pantes dos empreendimentos com pretenso solidria, sobretudo o aumento da rejeio da figura do patro e a satisfao com as relaes pessoais no ambiente de trabalho (Cortegoso e Lucas, 2008; Andrada, 2009). Nessa aborda-gem, a economia solidria vista como pro-posta educativa em processo de construo e implementao, algo que aponta para uma

    compreenso futura do significado poltico da autogesto. Isso se d principalmente em relao aos empreendimentos formados no mbito de movimentos sociais (Guimares et al., 2006; Gaiger, 2004).

    Em termos de coerncia de proposta, um aspecto favorvel do mapeamento oficial feito pela SENAES o fato de apenas 2% dos tra-balhadores envolvidos nos empreendimentos designados de economia solidria serem em-pregados, em vez de scios. Ao menos por esse ngulo, o princpio da autogesto no pode ser questionado, dado que a esmagadora maioria dos integrantes composta de associados, gozando de uma condio jurdica paritria. Entretanto, nos empreendimentos em que h muitos trabalhadores empregados, sem acesso formal aos processos de tomada de deciso, a autogesto definitivamente comprometida.

    Sobre a periodicidade da assembleia ou reu-nio geral dos scios dos empreendimentos, conforme o mapeamento nacional, 48% declara-ram realiz-la mensalmente, enquanto apenas 2% disseram no fazer tal atividade. Em empre-endimentos nada ou pouco preocupados com a autogesto, assembleias gerais ou reunies pe-ridicas com a presena de todos os integrantes no ocorrem ou ento se do apenas de modo protocolar, sem a presena efetiva do coletivo de trabalhadores. Nota-se uma busca da efeti-vao dos valores democrticos propalados por esse movimento. O fortalecimento dos laos pessoais, bem como o aumento do conhecimen-to do processo produtivo e da responsabilidade coletiva propiciam alguma vivncia com traos autnomos e comunitrios. Est colocada a a possibilidade de esses empreendimentos e do movimento da economia solidria como um todo construrem uma identidade coletiva ali-cerada num outro senso de dignidade pesso-al, relacionado ao mundo do trabalho, que no mais aquele baseado exclusivamente no empre-go subordinado ou na atividade individual por conta prpria.

    A economia solidria efetivamente tem de-ficincias e fragilidades, bem como um poten-cial de mudana cultural e socioeconmica dos indivduos envolvidos. Com dificuldades obje-tivas e substanciais, ela aponta para a possibili-dade de relaes sociais mais equilibradas.

    Concluso

    Na discusso sobre economia solidria, muito se fala sobre um cooperativismo tra-dicional e empresarial em contraposio ao

  • 182 Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011

    Um exame da economia solidria

    outro social, com feies autogestionrias, prprio da economia solidria15. Em uma cha-ve interpretativa, as cooperativas do primei-ro tipo seriam pragmticas, voltadas para o mercado, enquanto as do segundo estariam buscando uma atuao extramercantil. Mas efetivamente os empreendimentos econmi-cos com ideais solidrios procuram fazer valer os valores coletivistas de seus lderes e apoia-dores atuando no mercado, disputando espaos dele, pois no h como ser diferente. Ou seja, embora ocorram prticas ditas alternativas como moeda social e comrcio justo, o fato que no existe atividade econmica significativa fora do mercado. Apontando para outras formas de desenvolvimento e mesmo de organizao da sociedade, de maneira residual, a economia solidria vem sendo praticada no universo amplo, abrangente, adverso e constrangedor do liberalismo econmico. Diante disso, como fica a questo da chamada mudana do modo de produo?

    A proposta da economia solidria impli-ca distino e oposio entre as cooperativas tidas como autnticas e as consideradas frau-dulentas, bem como aquelas tradicionalmente corporativas. Os empreendimentos solidrios so vistos por seus apoiadores e por parte de seus integrantes como opo explorao do trabalho, prpria da economia capitalista. Es-tariam ento fazendo o embate com a cultura individualista e liberal abrangente. Em outras palavras, os ativistas da economia solidria buscam promover uma contracultura.

    Conforme Paul Singer (1998), os empreen-dimentos de economia solidria constituem modestos implantes socialistas na sociedade esmagadoramente capitalista. Nessa perspec-tiva, outras iniciativas ditas coletivistas, igua-litrias e democrticas como o oramento participativo, por exemplo seriam tambm insertos socialistas nos interstcios do capita-lismo ultradominante. A despeito de apontar ou no para o modo de produo socialista16, o movimento da economia solidria parece professar princpios que vo alm da ques-to econmica propriamente dita, referentes democratizao da sociedade. Busca formar e

    disseminar um tipo diferente de conhecimento e de viso do mundo que, de alguma maneira, provoca quem se dedica pesquisa cientfica sobre essa realidade.

    Em parte dos empreendimentos denomi-nados de economia solidria ainda h relaes hierrquicas e enrijecimento das relaes de poder, de modo que, em vez de experincias prticas de autogesto, mais preciso apont-los como unidades econmicas com inspirao autogestionria. Com isso, parece claro que o empreendimento solidrio ou autogestionrio seria um tipo ideal weberiano, com qualida-des exageradas, para efeito metodolgico de investigao. Entre este tipo e uma empresa convencional da economia capitalista h um gradiente que abarca o universo emprico.

    Dos empreendimentos levantados pelo ma-peamento oficial da economia solidria no pas, 51% j existiam no ano 2000, sendo que 11% ha-viam sido formados antes de 1990. intrigan-te a permanncia de pessoas neles, mesmo no contexto de crescimento econmico e oferta de empregos, nacionalmente em vigor desde 2004. Isso contraria a premissa de que tais iniciati-vas se devem exclusivamente ao desemprego elevado. H outros fatores que motivam traba-lhadores a prosseguirem nessas experincias. A economia solidria parece ganhar e preservar adeptos, agentes produtores e apoiadores, es-pecialmente devido sua lgica de incluso de trabalhadores, sobretudo aqueles com mais di-ficuldade de se inserirem no mercado formal de trabalho. Atravs dessa incluso, embora rdua e problemtica, de alguma maneira se vislum-bra um senso de dignidade pessoal e tambm de identidade coletiva.

    O engajamento na economia solidria, ine-vitavelmente, provoca um embate entre o ide-al e o realmente vivido. Envolve apropriao do outro sentido da palavra utopia. Em vez de romantismo ou busca delirante de algo inal-canvel, seria uma meta distante que, ao ser buscada, j provoca resultados positivos na vida de pessoas acostumadas marginaliza-o. Embora residual, frgil e heterognea, a economia solidria de fato uma realidade so-cioeconmica. Ou seja, apesar de pequena, t-

    15 Em termos de legislao, tramitam no Congresso Nacional diferentes projetos de reformulao da Lei do Cooperativis-mo n 5764, de 1971, que prev um nmero mnimo de 20 cooperados, sem haver ainda uma tendncia clara de desfecho.16 Embora a noo de socialismo seja vaga e difusa entre os militantes, o fato que no se trata mais daquele modelo cen-tralmente planejado e burocraticamente conduzido pelo Estado. Nesse sentido, a proposta da economia solidria parece estar contida numa ideia mais recente de economia plural, em que as pessoas possam escolher plenamente entre fazer e no fazer parte dela.

  • Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011 183

    Andr Ricardo de Souza

    mida e ainda pouco ntida, no se trata de uma miragem. Ao tempo caber a resposta quanto ao crescimento de sua amplitude e de sua re-levncia social.

    Referncias

    ANDRADA, C.F. 2009. O encontro da poltica com o trabalho: um estudo psicossocial sobre a au-togesto das trabalhadoras da Univens. Porto Alegre, Abrapso Sul, 287 p.

    ALVES, M.A.; TAVARES, M.A. 2006. A dupla face da informalidade do trabalho: autonomia ou precarizao. In: R. ANTUNES (org.), Riqueza e misria do trabalho no Brasil. So Paulo, Boitempo, p. 425-444.

    AZEVEDO, A.B.A.; GITAHY, L. 2010. The Coope-rative Movement, self-management, and coope-rativeness: the case of Mondragn Corporacin Cooperativa. Working USA: The Journal of Labor and Society, 13:5-29.

    BERNSTEIN, E. 1961. Evolutionary socialism: a cri-ticism and an affirmation. New York, Schocken Books, 224 p.

    BERTUCCI, A. de A.; SILVA, R.M.A. 2003. 20 anos de economia popular solidria: trajetria da C-ritas Brasileira dos PACs EPS. Braslia, Critas Brasileira.

    BOURDIEU, P. 1974. A economia das trocas simbli-cas. So Paulo, Perspectiva, 361 p.

    BUBER, M. 1945. O socialismo utpico. So Paulo, Editora Perspectiva, 202 p.

    CAILL, A. 1998. Nem holismo, nem individualismo metodolgico: Marcel Mauss e o paradigma da d-diva. Revista Brasileira de Cincias Sociais, 13(38):5-38.

    CHAVES, R. 1988. La Economa Social como en-foque metodolgico, como objeto de estudio y como disciplina cientfica. Espanha, CIRIEC, n 33, p. 115-140.

    CORAGGIO, J.L. 2000. Da economia dos seto-res populares economia do trabalho. In: G. KRAYCHETE; F. LARA; B. COSTA (orgs.), Eco-nomia dos setores populares: entre a realidade e a utopia. Petrpolis, Vozes.

    CORNFORTH, C.; THOMAS, A. 1990. Cooperative development barriers: support structures and cultural factors. Economic and Industrial Demo-cracy, 11:451-461.

    http://dx.doi.org/10.1177/0143831X9001100401CORTEGOSO, A.L.; LUCAS, M.G. 2008. Psicologia

    e economia solidria: interfaces e perspectivas. So Paulo, Casa do Psiclogo, 268 p.

    DEFOURNY, J.; FAVREAU, L.; LAVILLE, J.-L. (orgs.). 1997. Insercin y nueva economa social. CI-RIEC Espanha, Valencia, IUDESCOOP, 390 p.

    GAIGER, L.I. 2000. Os caminhos da economia soli-dria no Rio Grande do Sul. In: P. SINGER; A.R. de SOUZA (orgs.), A economia solidria no Brasil: a autogesto como resposta ao desemprego. So Pau-lo, Contexto, p. 267-286.

    GAIGER, L.I. (org.). 2004. Sentidos e experincias da economia solidria no Brasil. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 417 p.

    GAIGER, L.I. 2008. A dimenso empreendedora da economia solidria: notas para um debate ne-cessrio. Otra Economa, 2(3):58-72.

    GEORGES, I. 2009. As novas configuraes do tra-balho: precarizao e economia solidria. In: M. de P. LEITE; .M.C. ARAJO, O trabalho re-configurado: ensaios sobre Brasil e Mxico. So Pau-lo, Annablume/Fapesp, p. 174-201.

    GURIN, I. 2005. As mulheres e a economia solidria. So Paulo, Loyola, 239 p.

    GUIMARES, G. 2000. Incubadoras Tecnolgicas de Cooperativas Populares: contribuio para um modelo alternativo de gerao de trabalho e renda. In: P. SINGER; A.R. de SOUZA (orgs.), A economia solidria no Brasil: a autogesto como resposta ao desemprego. So Paulo, Contexto, p. 111-122.

    GUIMARES, V.; KOROSQUE, A.; CORREA, F.Z.M. 2006. Empreendimentos autogeridos em Santa Catarina: uma alternativa democrtica produo. In: V. PICCININI et al. (orgs.), O mo-saico do trabalho. Porto Alegre, Editora da UFRG, p. 293-324.

    HIRATA, H.; KERGOAT, D. 2003. A diviso sexu-al do trabalho revisitada. In: M. MARUANI; H. HIRATA (orgs.), As novas fronteiras da desigualda-de: homens e mulheres no mercado de trabalho. So Paulo, Editora SENAC.

    KASMIR, S. 1996. The Myth of Mondragn: coope-ratives, politics and working-class life in a Bas-que town. Albany, State University of New York Press, 243 p.

    LAVILLE, J.-L. 2006. Ao pblica e economia: um quadro de anlise. In: G. FRANA FILHO; J.-L. LAVILLE; A. MEDEIROS; J.-P. MAGNEN (orgs.), Ao pblica e economia solidria: uma perspectiva internacional. Porto Alegre, Editora da UFRGS, p. 21-38.

    LEITE, M. de P. 2009. A economia solidria e o tra-balho associado: teorias e realidades. Revista Brasileira de Cincias Sociais, 4(69):31-51.

    http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69092009000100003LIMA, J.C. (org.). 2007. Ligaes perigosas: trabalho

    flexvel e trabalho associado. So Paulo, Anna-blume, 314 p.

    LUXEMBURGO, R. 1986. Reforma social ou revoluo. So Paulo, Global, 124 p.

    MAGALHES, R.S.; TODESCHINI, R. 2000. Sindica-lismo e economia solidria: reflexes sobre o proje-to da CUT. In: P. SINGER; A.R. de SOUZA (orgs.), A economia solidria no Brasil: a autogesto como res-posta ao desemprego. So Paulo, Contexto, p. 135-160.

    MARX, K. 1977. Manifesto de lanamento da Asso-ciao Internacional dos Trabalhadores, 1864. In: K. MARX; F. ENGELS, Textos 3. So Paulo, Edies Sociais.

    MAUSS, M. 1988. Ensaio sobre a ddiva. Lisboa, Edi-es 70.

    MENEZES, M.T.C.G. 2007. Economia solidria: uma crtica marxista. Rio de Janeiro, Gramma, 250 p.

    MONZN, J.L. 2006. Economa Social y conceptos afines: fronteras borrosas y ambigedades con-ceptuales del tercer sector. CIRIEC Espanha, n 56, p. 9-24.

  • 184 Otra Economa, vol. 5, n. 9, julio-diciembre 2011

    Um exame da economia solidria

    NAKANO, M. 2000. Anteag: a autogesto como marca. In: P. SINGER; A.R. de SOUZA (orgs.), A economia solidria no Brasil: a autogesto como resposta ao desemprego. So Paulo, Contexto, p. 65-80.

    ODA, N.T. 2000. Sindicato e cooperativismo: os me-talrgicos do ABC e a Unisol Cooperativas. In: P. SINGER; A.R. de SOUZA (orgs.), A economia solidria no Brasil: a autogesto como resposta ao de-semprego. So Paulo, Contexto, p. 93-110.

    OLIVEIRA, P. de S. 2006. Cultura solidria em co-operativas: projetos coletivos de mudana de vida. So Paulo, Edusp/FAPESP, 155 p.

    POLANYI, K. 2000. A grande transformao. Rio de Janeiro, Campus, 306 p.

    QUIJANO, A. 2002. Sistemas alternativos de produ-o? In: B.S. SANTOS (org.), Produzir para viver. So Paulo, Civilizao Brasileira, p. 475-510.

    QUINTELA, S.; ARRUDA, M. 2000. Economia a partir do corao. In: P. SINGER; A.R. de SOU-ZA (orgs.), A economia solidria no Brasil: a au-togesto como resposta ao desemprego. So Paulo, Contexto, p. 317-333.

    SARRIA ICAZA, A.M.; FREITAS, M. (orgs.). 2006. O Projeto Esperana/Cooesperana e a construo da economia solidria no Brasil: relato de uma experincia. Porto Alegre, Critas Brasileira.

    SIES. 2007. Sistema Nacional de Informao em Econo-mia Solidria, Secretaria Nacional de Economia Soli-dria. Ministrio do Trabalho e Emprego. Dispo-nvel em: http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/sies.asp; acessado em: 01/03/2008.

    SINGER, P. 1998. Uma utopia militante: repensan-do o socialismo. Petrpolis, Vozes, 182 p.

    SINGER, P. 2000. Economia solidria: um modo de produo e distribuio. In: P. SINGER; A.R. de SOUZA (orgs.), A economia solidria no Brasil: a autogesto como resposta ao desemprego. So Paulo, Contexto, p. 11-30.

    SINGER, P.; MACHADO, J. 2000. Economia socialis-ta. So Paulo, Perseu Abramo, 81 p.

    SINGER, P. 2002a. Introduo economia solidria. So Paulo, Fundao Perseu Abramo, 127 p.

    SINGER, P. 2002b. A recente ressurreio da econo-mia solidria no Brasil. In: B.S. SANTOS (org.), Produzir para viver. So Paulo, Civilizao Brasi-leira, p. 81-130.

    SINGER, P. 2006. A experincia brasileira da SENA-ES. In: G. FRANA FILHO; J.-L. LAVILLE; A. MEDEIROS; J.-P. MAGNEN (orgs.), Ao pblica e economia solidria: uma perspectiva internacional. Porto Alegre, Editora da UFRGS, p. 201-206.

    SOUZA, A.R. de. 2006. Igreja, poltica e economia solidria: dilemas entre a caridade, a autogesto e a teocracia. So Paulo, SP. Tese de doutorado. Universidade de So Paulo.

    SOUZA, A.R. de; CUNHA, G.C.; DAKUZAKU, R.Y. (orgs.). 2003. Uma outra economia possvel: Paul Singer e a economia solidria. So Paulo, Contexto, 320 p.

    TIRIBA, L. 2000. A economia popular no Rio de Ja-neiro: tecendo os fios de uma nova cultura do trabalho. In: P. SINGER; A.R. de SOUZA (orgs.), A economia solidria no Brasil: a autogesto como resposta ao desemprego. So Paulo, Contexto, p. 221-244.

    VALLE, R. 2002. Autogesto: o que fazer quando as f-bricas fecham? Rio de Janeiro, Relume-Dumar, 172 p.

    VIEITEZ, C.; DAL RI, N.M. 2001. Trabalho associado: cooperativas e empresas de autogesto. Rio de Janei-ro, DP&A, 151 p.

    WAUTIER, A.M. 2003. Economia social na Frana. In: A.D. CATTANI (org.), A outra economia. Porto Alegre, Veraz Editores, p. 109-115.

    WEBB, S.; WEBB, B. 1914. Co-operative production and profit sharing. Special Supplement to the New Statesment, 2.

    WEBER, M. 2004. A tica protestante e o esprito do capi-talismo. So Paulo, Companhia das Letras, 335 p.

    WHYTE, W.F.; WHYTE, K.K. 1988. Making Mon-dragn: the growth and dynamics of the Worker Cooperative Complex. Ithaca, ILR Press, 335 p.

    Submetido: 23/02/2012Aceito: 11/04/2012