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Um fotográfico chamado ..Pierre Fatumbi Verger (Este texto tem como objetivo tão somente compartilhar informações obtidas através de entrevistas com dois antigos colaboradores de Pierre Verger e da observação de uma cerimônia em sua homenagem realizada em Saketé. Tanto as entrevistas quanto a cerimônia tiveram lugar em abril de 1998, durante as filmagens de "Mensageiro entre dois mundos", documentário sobre a vida de Verger, dirigido por Lula Buarque de Holanda, com a participação de Gilberto Gil, no qual atuei como consultor e produtor para o Benin. Agradeço a colaboração de Gerlaine Torres Martini, que muito enriqueceu este trabalho) No dia 26 de abril de 1998, os adeptos de Xangô do vilarejo de Saketé, no reino Yorubá de Kêtu, no Benin, fizeram uma grande cerimônia em intenção do finado babalaô Pierre Fatumbi Verger, ali iniciado ao culto daquele orixá havia mais de cinquenta anos. Conhecida como Idgo-Iranti (o dia da lembrança), a cerimônia mobilizou todo o vilarejo em três momentos distintos: o primeiro se deu no terreiro mesmo em que Verger foi iniciado; o segundo na praça principal , onde existe o grande templo de Xangô; e o terceiro consistiu em uma procissão pelas ruas do vilarejo, conduzida pelo chefe do culto a Xangô e seus babalorixás e iyalorixás, que exibiam um retrato do homenageado. É somente depois desta cerimônia que se considera o babalaô realmente morto. Nestor Ogoulola, também babalaô e amigo de Pierre Verger por mais de cinquenta anos, explica que a Idgo-Iranti é bastante cara porque envolve muitas pessoas e muitas despesas. A comunidade é pobre, e desde a morte de Verger esperava uma ocasião para cumprir suas obrigações para com seu "filho" ilustre. A ocasião se apresentou somente em abril deste ano, através da produção de um filme documentário sobre a vida e a obra de Pierre Fatumbi Verger, falecido em fevereiro de 1996. Feito o enterro simbólico de Pierre Verger, alguns dos seus antigos colaboradores sentiram-se liberados para comentar o que foi o percurso iniciático do mais famoso babalaô branco do Benin, e como trabalhava o pesquisador. É o caso de Nestor Ogoulola, que foi intérprete e interlocutor de Verger desce o começo de sua trajetória na África, e de Nordichao Bachalou, laboratorista e também intérprete na região de Abomey a partir de 1956. "... je suis revenu Fatumbi..." Técnico em piscicultura formado na França, 62 anos, Nestor Ogoulola vem de uma família tradicional de babalaôs do vilarejo de Pobè, no reino Kêtu, e foi, como dissemos, intérprete e interlocutor de Verger durante quase todo o seu percurso no Benin. Conta Nestor que, quando Verger quis se iniciar no Ifá, fez uma série de visitas aos mais conceituados babalaôs nagôs, que lhe recomendaram consultar o decano dentre eles, Oloumari de Pobè. Este, como não falava francês, tomou como intérprete o neto, ninguém mais que o próprio Nestor, na época um dos poucos alunos do grupo escolar. Ao conhecer as pretensões daquele europeu, o velho babalaô teria rido dele e perguntado "como um branco pode se interessar pelo Ifá se não existe nada disso na sua terra". Verger, segundo Nestor, teria então explicado que entre os europeus havia uma "ciência" chamada horóscopo, que permitia conhecer o passado, o presente e o futuro. Seu interesse era comparar a ciência do brancos com o Ifá, ciência dos africanos. Consultado, o Ifá aceitou a postulação de Verger e determinou que ele fosse iniciado em Kêtu, pelo babalaô Olouwo Fakambi. Segundo o Ifá, o signo de cabeça de Verger era o Ochètourakèlèbo, e ele devia ainda obrigação a Xangô, tendo que se iniciar também no culto desse orixá, o que se deu mais tarde em Saketé.Confrontado à inevitável questão sobre a eficácia de um europeu na prática dos cultos tradicionais africanos, Nestor afirma que Pierre Fatumbi Verger foi o único europeu que conheceu realmente o "fundo da cabaça", onde são guardados os segredos da cultura africana. ==== Referencia.:Milton Guran (Fotógrafo e antropólogo, professor da Univ.Brasilia) Continuação.:"... je suis revenu Fatumbi..." Para tanto ele foi iniciado nos segredos do Yamiochéhunga, o "poder das mulheres", e teve sua cabeça lavada com as folhas Ewéadjè, Eweina, Alloukpaida, entre outras, durante a sua iniciação ao Ifá, o que lhe assegurou uma memória prodigiosa.Normalmente, a data e

Um Fotográfico Chamado Ellegua Scrib

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compartilhar informações obtidas através de entrevistas com dois antigos colaboradores de Pierre Verger e da observação de uma cerimônia em sua homenagem realizada em Saketé.

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Um fotogrfico chamado ..Pierre Fatumbi Verger(Este texto tem como objetivo to somente compartilhar informaes obtidas atravs de entrevistas com dois antigos colaboradores de Pierre Verger e da observao de uma cerimnia em sua homenagem realizada em Saket. Tanto as entrevistas quanto a cerimnia tiveram lugar em abril de 1998, durante as filmagens de "Mensageiro entre dois mundos", documentrio sobre a vida de Verger, dirigido por Lula Buarque de Holanda, com a participao de Gilberto Gil, no qual atuei como consultor e produtor para o Benin. Agradeo a colaborao de Gerlaine Torres Martini, que muito enriqueceu este trabalho)

No dia 26 de abril de 1998, os adeptos de Xang do vilarejo de Saket, no reino Yorub de Ktu, no Benin, fizeram uma grande cerimnia em inteno do finado babala Pierre Fatumbi Verger, ali iniciado ao culto daquele orix havia mais de cinquenta anos. Conhecida como Idgo-Iranti (o dia da lembrana), a cerimnia mobilizou todo o vilarejo em trs momentos distintos: o primeiro se deu no terreiro mesmo em que Verger foi iniciado; o segundo na praa principal , onde existe o grande templo de Xang; e o terceiro consistiu em uma procisso pelas ruas do vilarejo, conduzida pelo chefe do culto a Xang e seus babalorixs e iyalorixs, que exibiam um retrato do homenageado. somente depois desta cerimnia que se considera o babala realmente morto.

Nestor Ogoulola, tambm babala e amigo de Pierre Verger por mais de cinquenta anos, explica que a Idgo-Iranti bastante cara porque envolve muitas pessoas e muitas despesas. A comunidade pobre, e desde a morte de Verger esperava uma ocasio para cumprir suas obrigaes para com seu "filho" ilustre. A ocasio se apresentou somente em abril deste ano, atravs da produo de um filme documentrio sobre a vida e a obra de Pierre Fatumbi Verger, falecido em fevereiro de 1996.

Feito o enterro simblico de Pierre Verger, alguns dos seus antigos colaboradores sentiram-se liberados para comentar o que foi o percurso inicitico do mais famoso babala branco do Benin, e como trabalhava o pesquisador. o caso de Nestor Ogoulola, que foi intrprete e interlocutor de Verger desce o comeo de sua trajetria na frica, e de Nordichao Bachalou, laboratorista e tambm intrprete na regio de Abomey a partir de 1956. "... je suis revenu Fatumbi..." Tcnico em piscicultura formado na Frana, 62 anos, Nestor Ogoulola vem de uma famlia tradicional de babalas do vilarejo de Pob, no reino Ktu, e foi, como dissemos, intrprete e interlocutor de Verger durante quase todo o seu percurso no Benin. Conta Nestor que, quando Verger quis se iniciar no If, fez uma srie de visitas aos mais conceituados babalas nags, que lhe recomendaram consultar o decano dentre eles, Oloumari de Pob. Este, como no falava francs, tomou como intrprete o neto, ningum mais que o prprio Nestor, na poca um dos poucos alunos do grupo escolar. Ao conhecer as pretenses daquele europeu, o velho babala teria rido dele e perguntado "como um branco pode se interessar pelo If se no existe nada disso na sua terra". Verger, segundo Nestor, teria ento explicado que entre os europeus havia uma "cincia" chamada horscopo, que permitia conhecer o passado, o presente e o futuro. Seu interesse era comparar a cincia do brancos com o If, cincia dos africanos. Consultado, o If aceitou a postulao de Verger e determinou que ele fosse iniciado em Ktu, pelo babala Olouwo Fakambi. Segundo o If, o signo de cabea de Verger era o Ochtouraklbo, e ele devia ainda obrigao a Xang, tendo que se iniciar tambm no culto desse orix, o que se deu mais tarde em Saket.Confrontado inevitvel questo sobre a eficcia de um europeu na prtica dos cultos tradicionais africanos, Nestor afirma que Pierre Fatumbi Verger foi o nico europeu que conheceu realmente o "fundo da cabaa", onde so guardados os segredos da cultura africana. ====

Referencia.:Milton Guran (Fotgrafo e antroplogo, professor da Univ.Brasilia)

Continuao.:"... je suis revenu Fatumbi..."

Para tanto ele foi iniciado nos segredos do Yamiochhunga, o "poder das mulheres", e teve sua cabea lavada com as folhas Ewadj, Eweina, Alloukpaida, entre outras, durante a sua iniciao ao If, o que lhe assegurou uma memria prodigiosa.Normalmente, a data e as circunstncias da sua iniciao no scomentadas pelo babala. No obstante, Verger se permitiu, j no fim da vida, algumas referncias a essa questo. Tornou pblica, por exemplo, a sua correspondncia com Alfred Mtraux, onde fala de Ktu como o lugar para onde "foi PierreVerger e voltou Fatumbi". Ao organizador desta publicao, Jean-Pierre Le Bouler, ele precisou ainda que tornou-se "(..) Fatumbi em Ktu no sbado 28 de maio de 1953 por volta de 10 horas da manh", data essa que foi corrigida posteriormente como sendo no ms de maro.

Foi nesta ocasio que Verger fez a foto de seu inciador nos segredos do If, at hoje exposta na sala principal da casa de seus descendentes em Ktu. Nestor explica que este momento em que o iniciado o inciado "rebatizado" marca a sua aceitao. Aps um perodo de aprendizado, ele confirmado babala pela cerimnia do Kpori (ou Gbadou , em Fon). O Kpori um objeto que contm o signo de If que identifica o babala, aquilo que lhe permite se apresentar enquanto tal. A confirmao de Verger teria se dado, segundo Nestor, por volta de 1956.Oaprendizado de um babala,como o que seguiu Verger, sempre segundo Nestor, compreende um perodo de recluso no "couvent" como so chamados os terreiros no Benin depois que o postulante j aprendeu os signos bsicos do If. Neste perodo de recluso, ele veste-se apenas com um pagne em torno dos rins (maneira de vestir-se que Verger guardou at os seus ltimos dias) e s se relaciona com os babalas, o chefe da iniciao, o adjunto deste e uma mulher, j na menopausa, encarregada entre outras coisas da preparao da comida do postulante. Entre a recluso e a confirmao Verger instalou-se em uma pequena aldeia prxima a Ktu, chamada Itched. A casa onde ali morou ainda est de p e mostrada com orgulho pelos moradores. Os mais velhos dizem que Verger era aceito por todos por ser muito educado. Ele comia a comida da terra e conhecia as saudaes de todos os orixs, alm de estar sempre disposto a conversar e a compartilhar os seus bens. Seu automvel Citroen "deux cheveaux", equipamento rarssimo na colnia do Daom de ento, foi certamente a maior atrao da aldeia na poca e at hoje lembrado com admirao.

"Xang me convm" Foi na cidade de Saket, onde o culto de Xang mais forte entre os nag do Benin, que Verger cumpriu as determinaes do If, consagrando-se quele orix. Recebeu ento o nome cerimonial de Xangowumi, "Xang me convm".O chefe do culto a Xang em Saket tinha morrido, antes da chegada de Verger, sem que seus filhos homens tivessem atingido a idade para suced-lo.

O If, consultado, indicou a filha mais velha como sucessora. Coube ento a uma mulher, Shangodl ("Xang voltou a sua casa") Otgby, sucessora do pai a frente do "couvent" de Daanyogou (bairro de Saket), presidir iniciao de Verger ao culto de Xang. Na memria do "couvent", no processo de iniciao de Verger sacrificou-se um bode em cujo sangue, acrescido de vrios ingredientes, ele foi lavado. Imolaram-se ainda um carneiro e uma galinha.

A iniciao, conforme a tradio, desenvolveu-se em trs etapas. Na primeira, sendo Verger um estrangeiro linhagem de Xang, antes de mais nada consultaram-se os orculos que aceitaram a sua iniciao. Isto feito, o orix "desceu" e Verger teria entrado em transe. No sexto dia do transe, parcialmente liberado, ele conta, balbuciante como uma criana pequena, o que viu no reino de Xang.

Um galo ento oferecido ao orix, e a mulher deste, Oy, recebe uma galinha e muitas bebidas. Durante este perodo, os babalorixs e iyalorixs presentes so alimentados por Verger. ==A segunda etapa, chamada Agbe Gou Odou , comea no dcimo-stimo dia depois do transe. Nesta dia teve lugar a cerimnia pblica na grande praa de Abodam, no centro de Saket, quando Verger foi instalado no trono simblico de Xang, voltado para o leste. No templo de Igbooch, nesta praa, sobre o trono de Xang, Verger teve sua cabea raspada completamente, exceo de um tufo de cabelos na nuca.

Seu crnio foi coberto com uma mistura de effou e de essou . Na preparao desta cerimnia, Verger passou por uma banho de purificao feito com as folhas de Xang de If e as folhas de Ewina, Awlekpe, Aloukpaido, Ewakan, as folhas do comrcio (Eweadje) e as folhas Eweakoko, da primeira rvore criada por Deus.

A terceira etapa conhecida como Wanla Owounfoun , a fase da palavra ou do verbo. Acontece no terceiro ms depois da possesso, quando o verbo restitudo ao iniciante e ele volta a falar como um homem comum.

Neste dia, Verger declarou o nome que lhe havia sido concedido no reino de Xang: Xangowumi .Para que Xangowumi/Fatumbi fosse realmente considerado morto e excludo do mundo dos vivos, o filho de Shangodl, o Baba Shango Agboba, realizou a grande cerimnia do Idgo-Iranti , em abril deste ano.

Esta cerimnia tambm comportou trs momentos distintos. O primeiro foi no "couvent" de Daanyogou, diante do altar onde figura a foto de Shangodl feita pelo prprio Verger. Esta parte chama-se Iyo-ss e representa a integrao do babala defunto assemblia do Alm. A seguir, Baba Shango e seu squito de babalaorixs e iyalorixs se deslocaram para o templo de Igbooch na praa de Abodan, onde tinha se dado a iniciao de Verger h cinquenta anos, para a grande cerimnia pblica.

Nesta segunda etapa foram imolados dois cabritos, duas galinhas e um carneiro. Os cabritos so para a purificao de Xangowumi no Alm, o carneiro para Xang e as galinhas para sua mulher Oya. Simbolicamente, todos os babalas e os adeptos de Xang defuntos so convidados a comer.

A terceira e ltima parte da cerimnia consistiu em uma procisso, cujo nome Iwod-Sango , que partiu do "couvent" em Daanyogou e foi at a grande praa. Baba Shango Agboba e seus adeptos, que portavam o retrato de Verger, foram seguidos por uma parcela significativa da populao de Saket nesta caminhada ritual que tem como objetivo tornar pblico de forma definitiva que Xangowumi retirou-se do mundo dos vivos.

Em princpio, informam os organizadores, a procisso deveria levar a prancha de madeira destinada prtica do Ifa, que teria sido comprada por Verger no dia de sua iniciao. Como esta se encontrava certamente na Bahia, eles se viram obrigados a usar um retrato do babala. No caso, uma reproduo de um auto-retrato que Verger havia dado de presente ao terreiro onde foi iniciado. Trata-se, alis, da mesma foto que figura no frontispcio do livro "Le Messager", a ltima e mais completa publicao de sua obra fotogrfica feita sob a sua superviso direta. , portanto, a imagem que Verger escolheu para representar a si prprio, na qual figura com destaque um aparelhofotogrfico. ===

Milton Duran

O fotgrafo A partir dos anos cinquenta, o trabalho fotogrfico de Verger quase que exclusivamente voltado para o campo religioso. Seu principal colaborador no Benin, nesta poca, foi Nordichao Bachalou, que exerceu a dupla funo de intrprete e de laboratorista.Nordichao Bachalou, 62 anos, se apresenta como historiador tradicional e fotgrafo documentarista, tendo sido formado em ambas as atividades por Pierre Verger. Ele pertence a um ramo da famlia real de Abomey, e muito jovem, indicado por relaes de famlia, foi trabalhar no IFAN Instituto Francs da frica Negra. Em 1956 foi designado para auxiliar Verger, ento pesquisador do Instituto. Uma de primeiras tarefas do jovem auxiliar foi se iniciar, juntamente com seu chefe, no culto de Thohossou no "couvent" Zomandonou, em Abomey. Esta inicao era fundamental para que Verger tivesse acesso aos cultos Fon, e, como ele no falava a lngua daomeana, a soluo foi iniciar tambm o intrprete. Isto lhes permitiu trabalhar em todos os "couvents" do Benin sob a autoridade do rei de Abomey. Nordichao foi tambm iniciado nos mistrios da fotografia, encarregando-se da revelao e ampliao dos filmes. Nesta poca o trabalho era feito em um pequeno laboratrio instalado nas dependncias do IFAN junto ao Museu de Abomey. As condies eram bastante precrias, mas segundo nosso informante antes da sua chegada ainda era pior, pois no havia nem mesmo eletricidade. Ajudado por seu laboratorista de ento, Azis Moustaph, Verger ampliava suas fotos utilizando diretamente a luz do dia. O processo era o seguinte: um antigo aparelho fotogrfico de fole de era colado a uma pequena janela de vidro, portando o negativo que era assim ampliado pela ao da luz do dia, projetando-se sobre o vidro. Do lado de dentro do laboratrio, o papel fotogrfico era colado ao vidro, sendo que as dimenses da imagem e o foco eram controlados pelo fole. Assim foram obtidas as ampliaes que cercam Nodichao na foto que ilustra este texto, onde aparece com o aparelho fotogrfico que servia de ampliador nas mos.Mais tarde um novo laboratrio foi construdo, com luz eltrica, em uma espcie de apartamento onde Verger se hospedava nas dependncias do IFAN de Abomey. Na poca, Verger trabalhava em formato 35mm, com aparelhos Leica e Nikon, e utilizava filmes em rolo, que eram rebobinados para utilizao em campo. O processo de revelao, conta Nordichao, era bastante artesanal. Mergulhava-se o filme no banho revelador, desenrolando-o da mo direita para a mo esquerda e vice versa, contando at 160, quando o filme era dado como revelado e passava para o banho interruptor e para o fixador. Juntos, Verger e Nordichao, percorreram todos os "couvents" de Abomey e tambm os da costa, de Badagry, na Nigria, at o Togo. Muitas vezes o auxiliar, que seguia sempre Verger carregando seu equipamento, se viu impedido de entrar nos recintos mais protegidos dos "couvents". Verger entrava sozinho para fazer as fotos mais secretas. Estas, como de resto as outra fotos relativas aos cultos religiosos, nunca foram mostradas no Benin. Nordichao guarda como um tesouro uma coleo grande de fotos que foram dadas por Verger ao seu pai, mas so todas cenas da vida cotidiana ou de cerimnias pblicas, de carter folclrico. As fotos das cerimnias secretas, acredita Nordichao, "ou esto muito bem guardadas na Bahia ou ento foram queimadas por Verger", o "pai do segredo", como tambm so chamados os babalas. ===

Notas de pesquisa sobre a iniciao e o trabalho fotogrfico de Pierre Fatumbi Verger no Benin

Milton Guran (Fotgrafo e antroplogo, professor da Faculdade de Comunicao da Universidade de Braslia, e pesquisador associado do Centro de Estudos Afro-Asiticos da Universidade Cndido Mendes)

OBA NI SE KAWO KA BIYE SILE, OBA FATUNBI **

ELLEGU*** ALAAFIA NI !!