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Ano I • nº 11 • Abril de 2013 “A dignidade, a honra e a autoridade dos professores devem ser cultivadas e defendidas pela escola” (PÁGINA 3) O Rio Joana, no Andaraí, um dia foi navegável Medicina e religião devem se dar as mãos Nós somos as heranças que recebemos Cada um passa de um jeito pelo luto Em fevereiro de 2008, Clenir Xavier dos Santos chega- va à sua igreja para o culto de gratidão pela vida do seu marido, que morre- ra depois de 18 me- ses enfrentando um câncer. Ela se lembra de que, quando che- gou e viu o caixão, virou as costas para sair. Então, conta ela, “alguém se aproximou e me abraçou e me segurou. Eu estava mui- to cansada, com muita dor, de tanto sofri- mento na noite anterior. E aí, vinha outra pessoa e me abraçava. Depois, vinha outra e me abraçava também. Assim, quando vi, sem perceber, eu estava lá na frente, ao lado do caixão. Agradeci muito a Deus por aquele corredor de abraços”. Leia a entre- vista, nas PÁGINAS 4-5 Era uma vez um rio. Era o Rio dos Morce- gos. Era navegável e servia para escoar a produção agrícola. Depois, sabe-se lá quando e por que, virou Rio Joana. Ele segue entre as duas pistas da Rua Maxwell em direção à Praça da Bandeira, dividindo o bairro do Andaraí, onde vivem perto de 40 mil habitantes. Ali viveram pessoas que fizeram a história do Brasil, como Antenor Nascentes, Clóvis Bevilacqua, Irineu Marinho, David Nasser, Orestes Barbosa, Nelson Rodrigues e Chi- quinha Gonzaga. Confira a história do Andaraí e como é vi- ver em suas ruas hoje. PÁGINAS 6-7 O sarau Alma Tijucana acaba de lançar o seu primeiro con- curso de poesia. Segundo os organizadores, o objetivo da premiação é in- centivar a produção poética e estimular a arte e a cultura nos bairros da Tijuca e adja- cências. Os três primeiros colocados receberão medalha, vale-li- vros, além de leitura pública. Veja o regulamento na PÁGI- NA 15. Apesar do nosso cartesianismo, so- mos seres biopsicossocioespirituais, porque somos corpo, emoção, condi- ção social e espiritualidade. Assim, a busca pela saúde pode se dar através da associação de vários recursos não excludentes, como a medicina, a psi- cologia e a religiosidade. Concorda? Vá à PÁGINA 8. A vida é dura por causa de nossas heranças, sejam elas genéticas, patrimoniais ou psicológicas. A vida é dura por causa de nossas escolhas, especialmente as erradas. A vida é dura por causa das escolhas dos outros, especialmente aquelas que nos alcançam. E o que fazer para parar de viver uma vida dura? Leia nas PÁGINAS 12-13. Quer gravar seu CD? Se você possui um hobby de tocar em casa ou tem uma banda, certamente al- guma vez já pensou em gravar. Veja como, na PÁGINA 9 Testamos o Restaurante Mitsuba Veja nossa avaliação. PÁGINA 16 Abertas as inscrições para os poetas da Tijuca e adjacências

um jeito pelo luto um dia foi navegável · 2013-08-07 · e religião devem se dar as mãos ... ção social e espiritualidade. Assim, a ... de aula e ambientes propícios ao bom

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Ano I • nº 11 • Abril de 2013 “A dignidade, a honra e aautoridade dos professores

devem ser cultivadas e defendidas pela escola”

(PÁGINA 3)

O Rio Joana, no Andaraí, um dia foi navegável

Medicinae religião devem se

dar as mãos

Nós somos as heranças que recebemos

Cada um passa de um jeito pelo lutoEm fevereiro de 2008, Clenir Xavier dos Santos chega-va à sua igreja para o culto de gratidão pela vida do seu marido, que morre-ra depois de 18 me-ses enfrentando um câncer. Ela se lembra de que, quando che-gou e viu o caixão, virou as costas para sair. Então, conta ela, “alguém se aproximou e me abraçou e me segurou. Eu estava mui-to cansada, com muita dor, de tanto sofri-mento na noite anterior. E aí, vinha outra pessoa e me abraçava. Depois, vinha outra e me abraçava também. Assim, quando vi, sem perceber, eu estava lá na frente, ao lado do caixão. Agradeci muito a Deus por aquele corredor de abraços”. Leia a entre-vista, nas PÁGINAS 4-5

Era uma vez um rio. Era o Rio dos Morce-gos. Era navegável e servia para escoar a produção agrícola.Depois, sabe-se lá quando e por que, virou Rio Joana. Ele segue entre as duas pistas da Rua Maxwell em direção à Praça da Bandeira, dividindo o bairro do Andaraí, onde vivem perto de 40 mil habitantes.Ali viveram pessoas que fizeram a história do Brasil, como Antenor Nascentes, Clóvis Bevilacqua, Irineu Marinho, David Nasser, Orestes Barbosa, Nelson Rodrigues e Chi-quinha Gonzaga.Confira a história do Andaraí e como é vi-ver em suas ruas hoje.PÁGINAS 6-7

O sarau Alma Tijucana acaba de lançar o seu primeiro con-curso de poesia.Segundo os organizadores, o objetivo da premiação é in-centivar a produção poética e estimular a arte e a cultura

nos bairros da Tijuca e adja-cências.Os três primeiros colocados receberão medalha, vale-li-vros, além de leitura pública.Veja o regulamento na PÁGI-NA 15.

Apesar do nosso cartesianismo, so-mos seres biopsicossocioespirituais, porque somos corpo, emoção, condi-ção social e espiritualidade. Assim, a busca pela saúde pode se dar através da associação de vários recursos não excludentes, como a medicina, a psi-cologia e a religiosidade. Concorda?Vá à PÁGINA 8.

A vida é dura por causa de nossas heranças, sejam elas genéticas, patrimoniais ou psicológicas.A vida é dura por causa de nossas escolhas, especialmente as erradas.A vida é dura por causa das escolhas dos outros, especialmente aquelas que nos alcançam.E o que fazer para parar de viver uma vida dura?Leia nas PÁGINAS 12-13.

Quer gravar seu CD?Se você possui um hobby de tocar em casa ou tem uma banda, certamente al-guma vez já pensou em gravar.Veja como, na PÁGINA 9

Testamos o Restaurante MitsubaVeja nossa avaliação. PÁGINA 16

Abertas as inscrições para os poetas da Tijuca e adjacências

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Uma publicação da Igreja Batista Itacuruçá para a Ti-juca e também para Andaraí, Alto da Boa Vista, Grajaú, Maracanã, Rio Comprido, Vila Isabel e adjacências

Abril de 2013

Editor:Israel Belo de Azevedo (RP 4.493/MG)

Equipe:Bruno Entringer, Camilla Viccari, Dalton Lopes (fotos), Davi Coelho, Elenice Magalhães, Geraldo Machado (diagramação), Guilherme Cockrane, Ma-ria Martha Rodrigues, Nathalie Baloustier Braga, Paulo Campos, Reginaldo Macedo de Almeida e Ruth Amorim (revisão)

IGREJA BATISTA ITACURUÇÁRua José Higino, 416 Praça Barão de Corumbá, 49 – Tijuca20510-170 – Rio de Janeiro, [email protected] @jtijucaemfocoFacebook /tijucaemfoco(21) 3344-9700

Gráfica: Newstech - 21 (3552-0580)

Tiragem: 15.000 exemplares (distribuição gratuita)

T E C N O L O G I A2

TIJUCA EM FOCO PAPOTECH: Força, nessa hora!

Você já adquiriu um estabi-lizador para “proteger” seu micro, em caso de pico ou

queda brusca de luz? Pois fique sa-bendo que, dependendo da marca que usa, seu computador pode es-tar à mercê das crises energéticas ou até menos protegido do que se estivesse sem ele. Estabilizadores e no-breaks sem o selo de qualidade do Inmetro são vendidos em qual-quer loja e, em muitos casos, não garantem que variações de luz não prejudiquem seus equipamentos.

Desde 2002, no entanto, existe uma norma que garante a qualida-de desses equipamentos. Nenhum estabilizador de tensão de energia até 3kVA (indicado para quem usa micro + impressora em casa, por exemplo) pode ser vendido sem o selo do Inmetro <www.inmetro.gov.br>, baseado na norma NBR 14373, revisada em 2006, da Asso-ciação Brasileira de Normas Técni-cas (ABNT).

O problema é que nem todas as marcas têm o selo. Isso é grave. Estabilizadores e no-breaks fabri-

FÁBIO CUNhA

cados sem o mínimo de controle podem ser um risco em potencial para eletrodomésticos e computa-dores. Pior: podem soltar faíscas e causar danos aos aparelhos e às pessoas.

– Antes da norma, os clientes reclamavam que os produtos não ofereciam plena segurança, che-gando a causar riscos às crianças – diz Alexandre Pires, da área de compras da distribuidora de pro-dutos de informática ComCenter. – Equipamentos fabricados dentro das normas eliminam a possibili-dade de faíscas.

Segundo José Antenor Pomilio, professor do Laboratório de Con-dicionamento de Energia Elétrica da Unicamp, o estabelecimento de normas técnicas que garantam a qualidade dos equipamentos eletroeletrônicos é um marco no processo de desenvolvimento tec-nológico nacional:

– A norma sobre estabilizado-res de tensão veio com atraso, mas foi bem-vinda. Ao disciplinar e

impor padrões mínimos de quali-dade, dá garantias aos usuários de que a função esperada de um esta-bilizador seja cumprida: proteger o equipamento, com segurança.

A Associação Brasileira da In-dústria Elétrica e Eletrônica (Abi-nee) está tão preocupada com o assunto que criou um site <www.estabilizador.abinee.org.br> espe-cialmente para alertar o consumi-dor sobre a norma e as empresas que já garantiram o selo. Entre elas estão SMS, CM Comandos, APC, MCM, TS Shara, entre outros.

– Cada empresa agia por conta própria. Agora, há uma nova filoso-fia de produção - diz Geraldo Takeo Nawa, analista sênior da Abinee.

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ENTREVISTA 3

WAlMIR VIEIRA

E D U C A R P A R A A V I D A

profundamente humana, solidária e justa. Conciliar estas duas dimensões é o grande desafio da gestão de pessoas.

4. APOIO LOGÍSTICO E RECONHECIMENTOOs professores, como todo traba-

lhador, desejam ganhar o melhor que a escola puder pagar. Seus salários preci-sam ser proporcionalmente superiores aos da área administrativa. Uma escola saudável gasta aproximadamente 70% de sua Folha de Pagamento, com a área pedagógica.

Os professores precisam de um es-paço exclusivo, a sala dos professores, onde possam relaxar nos intervalos, tomar um café, suco ou água, comer um salgadinho ou um pão com man-teiga (pelo menos), conversar com seus colegas, rir, brincar. Precisam de um banheiro exclusivo. Enfim, um espaço para relaxar e recuperar as forças para a outra etapa de aulas.

Os professores precisam que haja, na sua sala: geladeira, ar condicionado, mesas e cadeiras, onde possam rever suas aulas, corrigir trabalhos e fazer apontamentos; precisam de um esca-ninho individualizado, para guardarem com segurança seus livros e objetos pessoais, precisam de computadores interligados à internet e de impressora, para imprimir seus trabalhos.

Os professores gostariam que a es-cola tivesse um Plano de Carreira, que contemplasse melhorias salariais em

função do tempo de serviço, da forma-ção em novos cursos e da manutenção do bom desempenho.

Os professores precisam de apoio fi-nanceiro ou de outra forma de incentivo, para que possam fazer cursos de atuali-zação ou de pós-graduação, com vistas ao seu aprimoramento e melhor desem-penho. As escolas, na medida do possí-vel, devem se esforçar para apoiá-los na disposição de continuarem estudando.

Os professores, como qualquer pro-fissional, precisam sentir-se respeita-dos, valorizados e apoiados pela escola e pelos pais, e isto se dá por meio de ações que reforçam sua importância perante os alunos/filhos e de pequenos gestos de incentivo e de gratidão.

Os docentes esperam que, no Dia dos Professores, a instituição faça algo, dentro de sua máxima possibilidade, que represente uma homenagem ao profissional que exerce a nobre e subli-me missão de ensinar, ajudando seus alunos a crescerem, a serem pessoas valorosas e a vencerem na vida com dignidade. Alcançando estes objetivos, os professores ajudam a construir um mundo melhor.

Os professores esperam que as es-colas, os pais de alunos e a sociedade em geral reconheçam e resgatem a ima-gem e o papel do professor, seu valor e relevância, como parceiros imprescin-díveis no processo de desenvolvimento moral, intelectual, social, emocional e até espiritual das novas gerações.

DOS PROFESSORES, 2No artigo anterior, mencionamos que não basta cobrar dos professores um bom desempenho e dedi-

cação. É preciso, antes, oferecer-lhes as condições adequadas para um ensino producente e eficaz. Esta responsabilidade cabe aos governos e aos gestores da educação pública e privada. Mencionamos duas áreas importantes de necessidades dos professores que precisam ser supridas. A

primeira é o apoio didático e pedagógico, com oferecimento de recursos e condições adequadas de ensi-no, passando por capacitação permanente, provisão de equipamentos e de recursos didáticos, além de salas de aula e ambientes propícios ao bom ensino e à boa aprendizagem. Diante de uma sociedade complexa, violenta, egoísta e estressada, como se mostra a nossa, e que tem seus reflexos na sala de aula, os professores tambémprecisam de apoio disciplinar ou ajuda, isto é, formação adequada para lidar com o comporta-mento agressivo, com as tensões eo afrontamento de sua autoridade,dentro e fora da sala de aula. Além destes suprimentos, os professores, em todos os níveis de ensino, também necessitam de apoio es-piritual e emocional e de apoio logístico e de reconhecimento ao seu trabalho.

3. APOIO ESPIRITUAL E EMOCIONALPor lidarem com alunos, seres hu-

manos, muitos deles ainda em forma-ção, trazendo consigo as marcas de uma sociedade conturbada, os pro-fessores estão sob pressão espiritual e emocional, que se intensifica, quando os dramas familiares de seus alunos são vivenciados e os comportamentos desviantes, confrontados. Eles carecem de nossas preces e de nosso apoio, para que sejam sábios no encaminhamento de cada situação.

Como seres humanos limitados, estão sujeitos às tentações, aos proble-mas da personalidade, às inclinações más do coração e, quando cedem ou ex-travasam tais sentimentos e emoções, o estrago é grande. Por isso, precisam da permanente cobertura espiritual e emocional de todos.

Como todos nós, os professores so-frem, choram, ficam doentes, têm fra-quezas, angústias, depressões. Estão sujeitos às vicissitudes da vida. As es-colas precisam ter pessoas preparadas para apoiar, ouvir, aconselhar, dividir a carga com esses profissionais.

Os professores precisam sentir a

presença da escola, nos momentos mais marcantes de suas vidas: aniver-sário, casamento, morte de queridos, formatura etc. A manifestação da esco-la através de uma expressão, ainda que simples, nesses momentos especiais, alegra o coração do docente.

Nem sempre o professor, o tempo todo, está se desempenhando bem. Há momentos em que sua performance (desempenho) cai. Quando isto aconte-ce, cabe à escola procurar conhecer as razões, compreender os motivos e aju-dá-lo, com paciência e perseverança, na superação da deficiência momentânea.

Não é fácil, para a equipe direti-va da escola, dispensar um professor, quando não está bem e todas as tenta-tivas feitas para ajudá-lo foram em vão. Como também não é fácil repreendê--lo, quando não está agindo correta-mente ou falha como um profissional. Tememos afetar sua autoestima, levá--lo à depressão, revolta, amargura e ressentimento. Nesses momentos, a escola precisa ser extremamente sábia e zelosa na condução do processo de demissão ou restauração. A liderança da escola precisa ser necessariamente firme, segura, sincera, mas, também,

Os professores esperam que as escolas, os pais de alunos e a sociedade em geral reconheçam e resgatem a imagem e o papel do professor, seu valor e relevância, como parceiros imprescindíveis no processo de desenvolvimento moral, intelectual, social, emocional e até espiritual das novas gerações

AS NECESSIDADES

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4 H I S T Ó R I A

Como foi perder o seu marido?Perder é muito difícil. Por mais que a gente leia, não está preparada para a per-da. Foi dramático. Foi difícil, mas eu digo que é mais difícil enfrentar a vida. É mui-to difícil acordar cada dia. É muito difícil chegar em casa e não encontrar a pessoa, como antes acontecia. Deparar-se com o dia a dia é mais dramático do que a morte em si.

Você ficou na mesma casa. Fez al-guma mudança?Até fiz algumas mudanças, sobretudo no quarto, que parecia uma enfermaria, mas não me acostumei e logo em seguida vol-tei tudo para o jeito que era antes. A casa continua do mesmo jeito. Achei mais fá-cil enfrentar deixando tudo como estava. Isto é muito individual. Não existe uma receita de como enfrentar a morte. A ci-ência nos mostra vários processos pelos quais a gente passa, para nos ajudar a enfrentar melhor a morte. Depende da personalidade de cada um.

Para mim, foi mais fácil enfrentar do que jeito que era, sem colocar nenhum sub-terfúgio. Era menos doloroso do que mo-dificar o que era comum. Mantive o que era comum para mim.

Certamente, nesse processo, você recebeu muitos conselhos, quase que receitas de bolo, para superar a morte...Acolhi muito bem todo tipo de contribui-ção. É muito difícil para quem está sofren-do o luto, mas é também muito difícil para quem assiste você sofrer e não tem o que fazer: não temos como modificar aquela situação. Então, vêm palavras desnecessá-rias e até inconvenientes. Por isto, acolhi as pessoas, independentemente do tipo de ajuda que podiam oferecer, na sua li-mitação, sem saber como. Gostei muito de quem chegou e apenas chorou comigo. É uma coisa nova para todos.Muitas pessoas choravam comigo e esta-vam dispostas a me ouvir falar e chorar. A gente tem uma necessidade muito grande

“Deus permitiu a morte do meumarido, mas não me abandonou”

Clenir Xavier dos Santos passou pela experiência de perder o seu marido, Manoel Xavier dos Santos Filho, Pastor da Igreja Batista Memorial da Tijuca (na Rua Conde de Bonfim 789) por 17 anos. Ela deu uma entrevista, de grande repercussão, ao programa de televisão CONVITE À VIDA, em que falou sobre seu luto e seu desejo de que tudo fosse diferente.Xavier lutou 18 meses contra um câncer no peritônio. Tinha 52 anos quando faleceu, em fevereiro de 2008.Psicóloga, Clenir vive na Tijuca, com os dois filhos, agora jovens, e trabalha numa organização internacional que apoia crianças em situação de risco.Segue parte da entrevista.

de falar. A gente quer trazer a pessoa fa-lecida para todas as situações, para todas as conversas. Por isto, os amigos que têm a paciência de nos ouvir no luto merecem um prêmio.Uma das coisas que me marcou muito foi a chegada à igreja. Eu vi que o caixão estava lá frente e eu virei as costas para sair. Alguém se aproximou e me abraçou e me segurou. Eu estava muito cansada, com muita dor, de tanto sofrimento na noite anterior. E aí vinha outra pessoa e me abraçava. Depois, vinha outra e me abraçava também. Assim, quando vi, sem perceber, eu estava lá na frente, ao lado do caixão. Agradeci muito a Deus aque-le corredor de abraços. Cada abraço era uma massagem gostosa. Eles me diziam: “Clenir, você vai ficar bem”. “Clenir, você fez tudo o que podia”. “Clenir, as crian-ças vão ficar bem”. Aquelas palavras iam entrando em mim. Recebi cada palavra, como se fosse Deus falando ao meu cora-ção, que eu iria chegar aonde tivesse que chegar.

A gente nunca está preparada para a morte de uma pessoa querida. Temos como nos preparar? No seu caso, deu para você se preparar? Ou não tem como?Na minha experiência, não existe uma forma melhor de se perder alguém. Por mais que você passe pela dor de acom-panhar alguém se deteriorando, isso não facilita o depois.No meu caso, vivi até à concretização do falecimento do meu esposo acreditando que ele iria ser curado, que aquilo não precisava ser o final da nossa história.Não há uma forma de se preparar melhor antes. Não tem como a gente contratar a funerária enquanto a pessoa está no hospital. O enfrentamento da morte vem depois. A mente não consegue compor-tar sentimentos tão opostos, de desejar a vida e se preparar para a morte. A decisão vem posteriormente. Você decide viver ou não. Você decide enfrentar a morte, agora na sua própria vida ou não. Você estende o processo de sofrimento e torna-o culti-vado, mas, a partir de uma decisão. Você toma uma decisão intelectual, apesar de o sentimento lhe dizer que você não vai sobreviver, que você não é a mesma. Na sua mente, você decide que vai enfrentar porque tem convicções. É pautado nas suas convicções que você enfrenta a sua própria vida após esse sofrimento.

Há convicções negativas também. Há pessoas que morrem junto com aquele que partiu?Às vezes, inconscientemente, você deter-mina que não tem direito de viver, de des-frutar da beleza da vida sem a pessoa que-rida. Eu me lembro da primeira vez que fomos comer um peixe, que era o prato preferido do meu marido. Eu e as crianças olhamos para o prato. Os três ficamos nos perguntando: como podemos desfrutar do sabor que ele não pode desfrutar?Ajudou muito pensar que o prato que ele poderia estar comendo no céu seria mui-to mais gostoso do que o nosso, que nós nunca conseguiríamos preparar um prato tão gostoso quanto o que Deus preparava para ele no céu. Então, começamos a di-gerir a felicidade, a alegria e o riso, saben-do que ele estava curtindo muito mais do que nós aqui. Este é um raciocínio pau-tado na crença de que ele está melhor do que estaria aqui.

Às vezes, as pessoas desenvolvem uma culpa em relação ao passa-do, achando que poderiam ter fei-to mais para evitar aquela morte. Você experimentou alguma culpa?Experimentei isso também. Uma das coi-sas que agradeço a Deus, no tempo que tivemos com ele ainda doente, foi a opor-tunidade de fazer tudo o que eu podia fa-zer. Eu me esmerei em me dedicar a ele. Eu não neguei nada. Isto conforta. Esta é uma das diferenças de uma morte de um momento para o outro, porque nessa a gente tem a tranquilidade de ter feito tudo o que podia fazer. Quando perdemos alguém, a nossa mente

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H I S T Ó R I A 5

fica procurando falha para perturbar e ti-rar a paz do coração. Senti culpa, sim, de coisas pequenas que não fiz. Isto me per-turbou durante algum tempo, mas Deus fez um trabalho na minha mente, ao me mostrar que eu não tinha feito aquilo, mas que tinha feito muitas outras coisas. Ele foi revelando o que fiz de bom. A gen-te esquece o que fez de bom e se concen-tra no que deixou de fazer. Deus realmen-te me curou desse sentimento de culpa, que é terrível. É pior do que a perda.Temos vários sentimentos que, durante o processo de luto, podem nos imobilizar, deixar-nos sem opção. Deus precisa tra-balhar conosco. Precisamos deixar Deus trabalhar cada um desses sentimentos, para que possamos enfrentar a vida que ele nos permite ter, sem culpa, sem peso nas costas, com relação à pessoa que não está mais com você.

Sem culpa e também sem revolta. Às vezes, não aceitamos e nos re-voltamos: por que Deus fez isto; por que ele não curou? Você não teve revolta? Até contra Deus?Várias vezes isso aconteceu. Tanto du-rante o período da doença quanto depois. Uma vez fiquei muito revoltada contra Deus. Meu marido estava todo inchado,

depois de uma obstrução intestinal. En-tão, falei com Deus: “o Senhor não o levou quando ele estava bonito, e vai levar ago-ra feito um balão inflado”. Eu estava com muita raiva porque Deus o estava levando naquela situação. E Deus, mais uma vez, das muitas, curou-o daquele estado que era irreversível e ele voltou ao tamanho normal. Isto não impediu que ele morres-se de forma feia, deteriorada, depois.Houve um momento em que eu tentei ex-plicar para Deus que seria mais vantajoso curá-lo, para que as pessoas pudessem ver a glória de Deus. Tentei argumentar com Deus, mas isto não funcionou. Depois, no dia a dia, quando você tem uma alegria muito grande, é que dá mais raiva. Nos momentos de dificuldade também. A au-sência é muito dolorosa. Experimentei sentimentos mistos Quando, por exemplo, meu filho passou no vesti-bular da UFRJ, a minha alegria foi muito, muito, muito grande, por vê-lo aprovado depois de ter passado por tudo aquilo. Eu vi a bênção de Deus, mas, ao mesmo tem-po, senti muita raiva: por que o meu ma-rido não está aqui para apreciar o esforço do filho? Mais uma vez, Deus me ensinou que meu marido não está, mas a presença de Jesus está muito forte. Na raiva, eu dis-se para Deus: “Se o meu marido estivesse

aqui, ele colocaria a mão no ombro do Feli-pe e diria o quanto estava orgulhoso dele”. Enquanto eu falava isto para Deus, com raiva, toca a campainha lá de casa: era um professor do Felipe. Ele entrou, pôs a mão no ombro dele e disse: “como eu me orgu-lho de você”. Ele disse as mesmas palavras que o Xavier diria. Assim, Deus tem repeti-do seus gestos para comigo.Por isto, eu recebo cada ação das pesso-as que estão ao meu lado para me apoiar como se fosse Jesus substituindo a presença do meu marido, que ele achou por bem levar. Eu não entendo ainda. Não sei se algum dia vou en-tender. Ainda acho que seria melhor se a vida continuasse como estava. Só sei que, se não tivesse perdido o meu marido, nunca teria experimen-tado Deus desse modo. Nunca experimentaria a companhia de Deus em cada situação.Essa é uma palavra sobre a qual eu tenho convic-ção. Quando você perde alguém e dá espaço para

Deus, ele se introduz na sua vida, de uma forma miraculosa. Só a pessoa que perdeu alguém experimenta. Deus tem provado, na minha vida, a cada momento, o quanto ele é real. Ele permitiu a morte do meu ma-rido, mas não me abandonou. Ele tem um propósito para isto.

Para assistir a entrevista na íntegra, aces-se os programas anteriores, do CONVITE À VIDA em: www.conviteavida.org.br.

Choramos um gigante que tomboudeixando raízes de imensa largura,graças à esposa que na vida encontrou:Clenir, que sempre esteve à sua altura,

Clenir, que Xavier conheceu ainda mais na dore nós vimos entre os dois florescendo a ternurade um casal que verdadeiramente se amou,formando da Graça uma linda iluminura.

Agora, muitas graças damos pelo grande Xavier,para quem a Trindade, e só ela, agora sorrie ele, diante de tanta glória, derrama-se em prazer.

Muitas graças damos pela grande Clenir,porque sem esta giganta não haveria Xavier,certos de que sem Xavier não haveria Clenir.

(Israel Belo de Azevedo)

CLENIR

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6 H I S T Ó R I A

HISTÓRIA DO ANDARAÍNão se pode falar da história do An-

daraí sem antes se lembrar de que a sua origem não está ligada a um bairro isoladamente, mas, sim, a

uma região denominada Andaraí Grande, e que foi colonizada por padres jesuítas, no século XVI, para o cultivo de cana-de-açú-car, e que mais tarde foi desmembrada.

O antigo Andaraí era subdividido em Andaraí Grande (Andaraí atual, Vila Isa-bel, Grajaú e Aldeia Campista) e Andaraí Pequeno (hoje Tijuca). Já no século XIX, o termo “Andaraí Grande” foi abolido, dando origem aos bairros de Vila Isabel (1873), Aldeia Campista e Grajaú (1912).

É um dos bairros mais antigos do Rio de Janeiro e seu nome provém da expres-são indígena “Andirá-y”, que significa “Rio dos Morcegos”, na linguagem dos índios tamoios, que habitavam a região. Por não entenderem a palavra, os colo-nizadores a modificaram, conforme os documentos que deixaram, para Andrai, Hendaí, Andrahy e finalmente Andaraí, conforme conservamos até hoje.

O rio recebeu esse nome no início de 1800, em razão dos mamíferos roedo-res atraídos pela grande quantidade de amêndoas, sapotis e outras frutas abun-dantes naquela época. Hoje, denominado Rio Joana, atravessa o bairro, dividindo as duas pistas da Rua Maxwell. Atual-mente, o Rio Joana é sujo, canalizado, sepultado em vários trechos, e tem pou-ca água, mas, no passado, foi navegável e fonte de pesca para alimentação.

FÁBRICA DE TECICOSNos meados do século XIX, o bair-

ro foi se tornando industrial. E foi nessa chácara, à Rua do Andaraí Grande nº 1C, que, em 1847, surgiu, no Rio de Janeiro, a primeira fábrica de tecidos, em terras alugadas por Joaquim Diogo Hartley ao Rangel: a Fábrica São Pedro de Alcântara de Tecidos de Algodão, que operava com 60 teares. Nessa área da fábrica, que era a porta de entrada do Andaraí, foi criado, em 1857, o Hospital Militar do Andarahy Grande, que hoje é o Batalhão Zenóbio da Costa, sede do quartel do Primeiro Bata-lhão da Polícia do Exército, localizado en-tre a Rua Barão de Mesquita e a Avenida

Maracanã. Posteriormente, outros estabe-lecimentos industriais e comerciais foram se estabelecendo no bairro.

A primeira rua aberta, com o braço es-cravo, ainda no tempo dos Jesuítas, foi a Estrada do Andarahy Grande. Em 1875, essa estrada foi ligada à Rua da Babilônia (entre a General Rocca e São Francisco Xavier) que recebeu o nome de Barão de Mesquita. Tanto por essa estrada, quan-to pelo Rio Joana, era transportada a pro-dução das fazendas do Andaraí. Em vir-tude da intensa industrialização do bair-ro, vilas operárias foram se formando no entorno das fábricas. Atualmente, muitas das moradias dos antigos operários ainda estão preservadas.

As ruas abertas, ainda em 1800, entre o início do Andaraí – atual Praça Lamarti-ne Babo – e a Rua Uruguai, se devem, em parte, ao advogado Luiz Gonzaga Bastos e, em parte, à Companhia Centro Industrial Nacional, formada para esse fim por dois estadistas do Império: Pedro de Araújo Lima (o Marquês de Olinda) e João Car-doso de Menezes e Souza (Barão de Para-napiacaba). A igreja mais antiga da região é a de São Francisco Xavier, vindo, em seguida, a de São José Nossa Senhora das Dores, edificadas em 1871 por uma irman-dade formada por moradores do Andaraí.

Dentre os entusiastas defensores do Andaraí, componentes dessa Irmandade, figura o nome de Ernesto Fernandes de Souza, dono de uma farmácia, na esqui-na da Rua São Justino (atual Ernesto de Souza com a Barão de Mesquita). Nessa farmácia, o professor, músico e escritor, criou e fabricava o Rhum Creosotado,

fortificante, anunciado nos bondes, com versos de sua autoria.

Um de seus filhos, nascido em 1887, seguiu carreira na Marinha, tornando--se um grande escritor de temas navais, usando o pseudônimo de Gastão Penal-va. Sebastião Fernandes de Souza, junta-mente com outros moradores, fundou o Teatro Dramático do Andarahy. O antigo teatro é hoje a quadra de esportes do Co-légio Nossa Senhora de Misericórdia, que ali se implantou em 1928.

O Andaraí tem sido confundido com outros bairros, mas seus limites estão bem definidos e documentados: começa na Praça Lamartine Babo, entra pela Gonza-ga Bastos, margeando a Aldeia Campista e sobe parte da extensão da Teodoro da Sil-va. Dobrando na Rua Barão de Bom Reti-ro, sobe a Borda do Mato até à Serra. Em toda a extensão da Rua Uruguai até o Rio Maracanã, onde se divide com a Tijuca, só não lhe pertence a Rua General Espírito Santo Cardoso. Todo esse miolo territo-rial é Andaraí, o que para muitos traz certa confusão, e, muitas vezes, não conseguem identificar os limites entre Grajaú, Vila Isabel, Andaraí e Tijuca.

O ANDARAí hOjE Vários estabelecimentos industriais

e comerciais foram surgindo no bairro, como a América Fabril, onde, atualmente, localiza-se a sede de compensação nacio-nal do Banco do Brasil; o Núcleo Habita-cional Solaris da Torre, mais conhecido por “Tijolinho”; a Companhia Hanseática, onde funcionou a Cervejaria Brahma até o final da década de noventa, dando espaço

jOSé MAuRíCIO CuNhA DO AMARAl

“Tijolinho, um dos lugares bons de se viver na Andaraí”

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7E N T R E V I S T A

para o atual Supermercado Extra (na Rua José Higino). Nesse século, também esta-beleceu-se, no bairro, o estádio do Amé-rica Football Club, na Rua Barão de São Francisco (onde, em 1996, foi construído o Shopping Iguatemi).

Com a transformação do Rio em Esta-do da Guanabara, sobretudo com a criação das Regiões Administrativas, o Andaraí passou a sofrer uma galopante descarac-terização histórica. Estabelecimentos in-dustriais e comerciais foram dando lugar à construção de inúmeros condomínios de edifícios. Nomes ilustres trouxeram grande contribuição ao desenvolvimento do bairro

no cenário das artes, da política, da música, como: Antenor Nascentes, Clóvis Bevila-cqua, Irineu Marinho (com suas crianças Heloísa, Roberto, Ricardo e Rogério), Jua-rez Távora, David Nasser, Orestes Barbosa, Nelson Rodrigues, Luiz Murad, Almirante Lavigne, Euricles de Matos, General Souto Maior, Elpídio da Boa Morte, Maestro As-tor, Cláudio de Souza, Chiquinha Gonzaga, para citar apenas alguns.

Fontes de pesquisa:Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Anda-rai_(bairro_do_Rio_de_Janeiro)www.historiadorio.com.br/bairros/Andarai“Histórias do Andaraí”, de Machado de Assis – 1876

Estamos residindo no Andaraí e estamos muitíssimo contentes. É um bair-ro super-agradavél, de boa temperatura. Aqui, quando chove, dá medo, muito medo, porque chove mesmo e você consegue ouvir nitidamente o vento. É como se ele estivesse a rodear a casa. É um barulho interessante e muito forte. Já nos habituamos.

Adoro casa antiga e o que não falta aqui é isso.Outra coisa que gosto aqui são as pessoas moradoras antigas do bairro. Quando

cheguei, todos, sem exceção, foram muito amistosos, bons de conversar.Resumindo, estou muito bem por aqui: gosto do clima, gosto das pessoas,

gosto muito deste bairro.DESIRÉE DA SILVAAndaraí

DEPOIMENTO

Hospital do Andaraí, um dos maiores do Estado

SERVIÇOSituada na Rua Leopoldo, 71, Pri-

meira Igreja Batista no Andaraí foi uma das primeiras igrejas batistas do bairro. Anteriormente chamada de Igreja Batista da Tijuca, mudou-se para o Andaraí e completa neste ano 95 anos de existência.

Ela oferece vários serviços aos moradores, entre os quais o PPG (Projeto Pequenos Gigantes), que atende cerca de 50 crianças do mor-ro do Andaraí, com reforço escolar, aulas de música e artes, esporte, en-tre outros.

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8 S A Ú D E E M O C I O N A L

CRISTIANE FIAuX

Religiosidade e saúde:o que uma coisa tem a ver com a outra?

Ainda vivemos sob a égide do car-tesianismo, que separa mente e corpo e nos divide em pedaços, como se não fôs-semos seres integrados. Mas, sim, somos seres biopsicossocioespirituais. Palavra desconhecida, que expressa a integrali-dade de nosso corpo, emoção, condição social e espiritualidade. Sendo assim, podemos dizer que a busca pela saúde pode se dar através da associação de vá-rios recursos não excludentes, a saber: a medicina, a psicologia e a religiosidade.

Estar saudável implica em uma nova

“Como se o mundo já não tivesse enigmas suficientes, é-nos proposto o novo problema de compreender como essas outras pessoas puderam

adquirir sua crença no Ser Divino de onde essa crença obteve seu imenso poder, que esmaga ‘a razão e a ciência’” (Freud, 1939)

e enfrentamento das adversidades coti-dianas e passam a ser significativos sob o ponto de vista epidemiológico.

A busca pela religiosidade não se dá em classe social específica; independen-te da condição financeira, as pessoas costumam se chegar às igrejas por se sentirem acolhidas em sua condição de vida, aliviadas de suas angústias exis-tenciais, ou, ainda, para buscarem res-postas e um sentido para suas vidas. A religião torna-se uma forma de sentir, pensar e agir.

o escrever sobre esse tema, sinto--me curiosa sobre você, leitor, e sua experiência com o transcen-

dente e o sobrenatural. Talvez esteja in-trigado ou desconfiado sobre o que lerá ou já concorde que religiosidade e saúde são temas imbricados. A experiência re-ligiosa é vivenciada de forma particular e subjetiva e, por isso, é difícil querer ser categórico em definir os efeitos dela so-bre a saúde. Isso vai depender de como cada um experiencia sua própria fé e es-piritualidade.

Ainda há muita gente que nega os efeitos da religiosidade sobre a saúde, acreditando que fé e medicina não con-versam. Mas, estudos nacionais e in-ternacionais têm mostrado a importân-cia e a influência da religiosidade e da espiritualidade no bem estar e na saúde física, mental e social das pessoas. Se-gundo o médico epidemiologista ame-ricano Jeff Levin, “a fé, pura e simples, beneficia a saúde, ao inspirar pensa-mentos de esperança e de otimismo e expectativas positivas (...) a afilia-ção religiosa e a participação como membro de uma congregação reli-giosa beneficiam a saúde, ao promo-ver comportamentos e estilos de vida saudáveis”. Afora isso, o apoio social obtido nos grupos religiosos possibilita o acolhimento de pessoas que intera-gem através do contato sistemático e estabelecem vínculos de amizade, fa-zendo-as se sentirem amadas e cuida-das. Esses princípios que beneficiam a saúde são vistos pelos estudiosos como estratégias importantes de resistência

A

definição de saúde que possa juntar in-gredientes para o bem-estar. O concei-to de saúde deve receber contribuições de saberes diversos como a psicanálise, a espiritualidade, a sociologia, a antro-pologia, a medicina. A saúde pode ser entendida como a capacidade que se tem de transformar-se sem cristalizar--se naquilo que poderia levar a uma enfermidade ou cronificar uma doen-ça. Dentro dessa perspectiva, a saúde é vista de forma dinâmica, considerando, inclusive, as condições de a pessoa lidar com as adversidades. Nas palavras de Canguilhem, “estar em boa saúde é po-der cair doente e se recuperar”, e, para isso, precisamos lançar mão dos recur-sos disponíveis.

Você pode indagar à religiosidade qual a contribuição dela para a sua saúde. Mas, como “faz parte da cura o querer ser curado”, não pare por aí. Indague, mas vá além. Permita-se experimentar sua saúde e sua cura também com seus sen-tidos. A fé que pensa e a razão que sente podem estar de mãos dadas.

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9A R T E

Grave sua música

RAMON ChRySTIAN DE AlMEIDA lIMA

Nos últimos anos, por conta das inúmeras produções tecnológicas para a música, as pessoas têm se

gravado muito mais. O fato é que está muito mais fácil gravar e editar sua música. Até mesmo os tablets possuem recursos do gênero, tais como o Garage Band nos iPads.

Se você possui um hobbie de tocar em casa ou tem uma banda, certamen-te alguma vez já pensou em gravar. Se-gue então algumas considerações para você que já pensou ou pensa em se aventurar nesta empreitada:

A IMPORTÂNCIA DESE GRAVARQuando estamos tocando, princi-

palmente se a música oferece dificulda-des técnicas e de interpretação, temos grande tendência de se preocupar com os inúmeros fatores ocorrentes (tais como acordes, escalas, formas e tim-bres) do que com a sonoridade real de nossa produção sonora. Gravar-se

e ouvir-se é um excelente exercício de auto-avaliação. Você poderá sentir me-lhor como está a fluência de sua musi-calidade, pode rever trechos que devem ser melhorados e avaliar, com o tempo, o seu desenvolvimento fraseológico e musical.

EQUIPAMENTOSMuitos se equivocam em adquirir

inúmeros equipamentos para grava-ções e instrumentos. Há pessoas que seguem comprando várias coisas mês a mês e trocando indefinidamente tais itens. Para gravações simplificadas no estilo home studio, um computador, uma interface de áudio, um par de mo-nitores, um bom microfone e seu ins-trumento são essenciais.

QUALIDADE MUSICALNão adianta muito ter inúmeros

equipamentos, pedais, pedaleiras, etc. e não produzir um som de qualidade. Obviamente, a arte musical é algo

abstrato, subjetivo e de certa forma introspectivo, mas se deseja alcançar os ouvidos alheios, certifique-se de utilizar os recursos técnicos-musicais de forma adequada. Isso inclui o estu-do de percepção, harmonia, aprofun-damento no instrumento etc. Outro fator imiportante é a imersão no estilo que se propõe a fazer. Se deseja tocar jazz, escute vários músicos jazzistas (Miles Davis, Herbie Hancock, Chick Corea, Dizzy Gillespie, etc.), se blues, escute grandes mestres (B.B.King, Buddy Guy, Albert King, Steve Ray Vaughan, etc).

LIBERDADEGravar regularmente expande a li-

berdade para suas criações, uma vez que não necessita ter uma banda ao lado para você criar sua própria mú-sica. Neste processo, para aqueles que precisam de concentração para criar, fica muito mais fácil do que compor em uma sala cheia de músicos. Outra

vantagem, é apresentar uma demons-tração gravada de uma nova composi-ção aos membros da banda, eles podem ouvir em um outro momento fora do ensaio, o que poupa tempo e desgaste para ensinar a nova música.

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CULTURA10 D E B E M C O M O D I N H E I R O

MARCOS lIMA

Consumir com consciênciae não por impulsosó se percebe mais tarde, após a compra, que o que se comprou já se tinha em casa. Bem, pelo me-nos é possível presentear alguém ou até mesmo doar para outros. Se fosse tão simples, e só isso, ótimo, ocorre que mais desdobra-mentos ocorrem e o mais nocivo é não ter dinheiro para pagar es-sas compras a vista, em espécie, e usar o cartão de crédito ou che-que especial, comprometendo parte do orçamento familiar e empurrando a dívida para frente.

Com relação aos fatores ex-ternos, não posso deixar de comentar sobre as belíssimas campanhas de marketing, vei-culadas nos mais diversos meios de comunicação, principalmen-te na televisão. Não deixo de me surpreender (lamentavelmente de forma negativa) com a astú-cia daqueles que pensam as pe-ças publicitárias. Concluo que a missão deles não é diferenciar o seu produto do da concorrência e nem, tampouco, promover educação ou compartilhar conhecimento, mas, sim, e tão somen-te, “sequestrar o seu dinheiro”. É isso mesmo: o uso da palavra “sequestro” é para causar espanto, pois os dramas que se sucedem ao consumo desneces-sário, com recursos que não se tem, têm causado grande estrago na vida pesso-al, profissional e familiar das pessoas. Mulheres, estejam atentas, pois gran-de parte das propagandas, em jornais, revistas e internet, televisões e rádios, panfletos, folhetos, catálogos e vitrines

Bem, sei que não é nada fácil resistir à “tentação” de comprar algo novo, que se pensa diferente, mas que, logo, se descobre que a utilidade é a mesma do que já se tem no guarda-roupa etc. Logo, leia os pontos a seguir e procure decorá-los ou até reescrevê-los em um pedaço de papel, e, toda vez que for comprar alguma coisa, seja em que estado emocional, fí-sico ou mental estiver, LEIA:1) Faça uma lista de desejos de

consumo que irá adquirir no tempo oportuno e evite com-prar, sem planejar, algo que não esteja nessa lista;

2) Evite, ferozmente, ir passe-ar em shoppings e comércios, quando você estiver passando por momentos de tristeza, an-gústia etc.;

3) Procure usar mais o dinheiro em espécie (vivo) que o de plásti-co ou cheque (especial e pré-da-tado): você vai se surpreender o quanto gasta por não contar as notinhas antes do pagamento; e

4) Não vá, ou passe longe, de sho-ppings e comércios, logo após receber seu salário ou se estiver com fome. Isso também vale para as compras em supermercados. Não vá de barriga vazia.

Evidentemente que essas dicas não servem para todos, mas são meios de es-cape para que você resista à tentação do consumo pelo consumo, não necessário, e sem recursos financeiros seus.

O uso da palavra “sequestro” é para causar espanto, pois

os dramas que se sucedem ao consumo desnecessário, com recursos que não se tem, têm

causado grande estrago na vida pessoal, profissional e familiar

das pessoas.

Pesquisas recentes do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) re-velaram que 43% dos entrevis-tados disseram que fizeram ou

fazem compras por impulso. Isso acon-tece por diversos fatores, os endógenos e os exógenos, ou seja, fatores internos e externos, próprios ou da coletividade.

Quanto às causas internas, que pre-cipitam o consumo por impulso, pode-mos destacar as de origem emocional, pontuadas por momentos de ansieda-de, tristeza ou angústia (ansiedade com evento que se aproxima; baixa autoesti-ma; problemas no trabalho, no relacio-namento familiar ou amoroso etc.). Es-tes fatores, dizem estudiosos das emo-ções humanas, espremem a pessoa a tal ponto que, para conseguirem se livrar dessa “opressão/depressão”, buscam di-versas alternativas, inclusive o consumo compulsivo, que passa a ser o remédio ou droga que as alivia. Bem, sabemos que até alivia momentaneamente, mas, logo após, no dia seguinte, surge outro ou outros, em decorrência das compras feitas no estado de baixa autoestima ou outra patologia qualquer. Também,

de lojas, buscam captar a atenção de vo-cês para um encontro e troca amistosa: “eu te ofereço o que não é emergencial e necessário e você me dá o dinheiro que tem e não tem”! Resistam!

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N O T A 1 0 11

ISRAEL BELO DE AZEVEDO, com colaboradoresEnvie sua colaboração para [email protected]

AlMA TIJUCANA

NÃO-FIMO mundo não acabou. Veja a surpresa: um livro de poemas está entre os dez mais vendidos na Tijuca. A obra é de Pau-lo Leminski, morto há 14 anos.

PONTE S.A.Ai de quem tem que vencer a ponte Rio--Niterói em dia de chuva, à noite.A sinalização é tão precária que você não sabe em que faixa trafega.

ENGENhÃOÉ muito provável que jamais saibamos quem são os responsáveis pela lambança, cabendo-nos apenas pagar a conta.

SAINDO MAIS CEDOEstá difícil chegar à hora aos compromissos.O trânsito está pesado e gastamos mais tempo para fazer (de ônibus ou de carro) o mesmo percurso.Ainda não nos acostumamos e continua-mos saindo de casa nos mesmos horários. Temos que sair mais cedo.

MADE IN ChINAAndressa Mendes, a atleta tijucana de saltos ornamen-tais está na China, junto com um grupo de atletas bra-sileiros que se preparam para as olimpíadas.Foram aprender com quem sabe.Voltam em maio.

SE PODEMOS COMPlICAR...Os ônibus de cores padronizadas não são mais bonitos. Nem práticos. Dão uma ideia de organização mas com-plicam a vida dos usuários.

MAIS VENDIDOS NA TIjuCA (livro, editora, meses)

1. “50 tons de cinza”, de E.L. James (Intrínseca) - 52. “50 tons mais escuros””, de E.L. James (Intrínseca) - 53. “Só amor consegue”, de Z. Gasparetto (Vida e Consciência)4. “Morte súbita”, de J.K. Rowling (Nova Fronteira) - 35. “Casamento blindado”, de R. e C. Cardoso (Thomas Nelson) - 6. “Uma curva na estrada”, de N. Sparks (Arqueiro) - 27. “Extraordinário”, de R.J. Palacio (Intrínseca) - 28. “O lado bom da vida”, de M. Quick (Intrínseca) - 29. “As aventuras de Pi”, de Y. Martel (Nova Fronteira) - 210. “Toda poesia”, de P. Leminski (Companhia das Letras)Fonte: Livraria ELDORADO

QUE FAZER?O número de moradores de ruas na cidade (Tijuca e ad-jacências na regra) está de cortar o coração.Os comerciantes e os habi-tantes em frente aos espaços ocupados não sabem o que fazer.Ninguém sabe o que fazer.

FORA DA REAlIDADEEstão assustadores os pre-ços dos restaurantes no Rio de Janeiro.Um rodízio a R$122,00 (fora bebida e sobremesa) é de amargar.Assim mesmo, as casa estão sempre cheias.

Depois das longas férias, o Alma Tijuca-na está volta.Será em homenagem ao poeta Ledo Ivo, falecido no ano passado.A música estará a cargo do DuoDez, com o cello e violão de Rigoberto Moraes e Thia-gu Gentil. No repertório, música brasileira.No evento, será lançado o primeiro con-curso de poemas da Tijuca.Vale a pena conferir. Gratuito. Chá ao final.Será no dia 13 de abril, às 19h30min, no auditório do Colégio Batista Shepard.

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12 S A Ú D E E M O C I O N A L

Você sabe quando nasceu?ISRAEl BElO DE AZEVEDO

“O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo in-teiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso. Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensa-mento”. (BLAISE PASCAL – 1623-1662).

A caminho de uma vida plena (este projeto para a existência toda), temos vá-rios inimigos.

Um deles é uma compreensão errada a nosso próprio respeito.

O problema é que outras verdades vão se entronizando no coração de nossas mentes, levando-nos a, entre outras reali-dades, uma visão errada a nosso próprio respeito.

Precisamos de uma visão adequada a nosso respeito, que inclua os fatores que nos precedem em nossa formação.

Meu pai foi também protético boa parte de sua vida. Um de seus trabalhos era fun-dir metais para fazer alianças ou moldar peças para a boca. Ele pegava um cadinho, colocava ali os materiais, aquecia o cadinho até alcançar uma alta temperatura e girava, com o auxílio de uma alça, todo o conteúdo no ar, até haver a fusão. Depois, quebrava o material externo e lá dentro estava a peça fundida, resultante de materiais dispersos por ele ajuntados.

No cadinho de nossas vidas, partici-pam muitos materiais, difíceis de serem percebidos em suas distinções.

LAÇOS TRANSGERACIONAIS – Portanto, nascemos antes de virmos ao mundo. Somos parte de uma história que começou a ser escrita séculos antes, tenha-mos ou não conhecimento disto.

A psiquiatra Lêda de Alencar Araripe e Andrade conta que seu pai, à mesa das refei-ções, falava de seu sonho de “viver, pescar, nadar e caminhar” nas “areias brancas” de alguma ilha do Oceano Pacífico. Ela, me-nina, mergulhava junto. Adulta, esqueceu tudo e nunca o mencionou aos seus filhos. Contudo, seus filhos cresceram. “Cada um se dirigiu sem qualquer combinação prévia para uma ilha distante. Dois foram para ilhas do Oceano Pacífico. Um deles chegou mesmo a conhecer boa parte daquelas ilhas paradisíacas. As ilhas do meu pai...”. Ela pergunta: “Como pode acontecer esta co-munhão de destinos idealizados e desejos jamais expressados?” Ela responde: “Minha hipótese é que meus filhos captaram de al-guma maneira misteriosa este desejo de mar, de ilha, de lugar longínquo, e concre-tizaram o que as duas gerações anteriores ansiaram e não realizaram”. Sua conclusão é que “somos todos uma mistura de nossos pais e mães. Eles estão nos nossos genes, no aprendizado pela convivência e pelas ausên-cias, nos modelos reproduzidos e na partilha da herança familiar”.1

Estamos diante de “lealdades ocultas no seio das famílias”, numa espécie de

transmissão psíquica (intergeracional ou transgeracional, dependendo do caso). O fato é que essas lealdades (em que nos propomos a viver os papéis dos outros) tendem a nos impedir de viver hoje e de modo independente a nossa vida.

Estes achados nos ajudam a entender o mecanismo da bênção e da maldição, bem como dos padrões positivos e negativos.

Por alguma razão, não temos muitas perguntas sobre bênçãos e padrões positi-vos. Quando não encontramos explicação para certos comportamentos, tendemos a atribuí-los a gerações passadas. Entre alguns cristãos, fala-se em maldição he-reditária e, entre os espíritas, em carma. Nenhum deles tem o respaldo da revela-ção divina.

A liberdade, condicionada ao nosso co-nhecimento de nossas limitações e possibi-lidades, é que nos permite repetir o padrão ou recusá-lo, aceitar a herança ou não.

Diante destes laços, precisamos cla-rificar a lealdade invisível estabelecida, identificar as pressões e redefinir nosso lugar no grupo, “libertando-nos para viver nossa própria vida sem as amarras de leal-dades aprisionoadoras”.2

UM CORPO QUE (NÃO) FUNCIO-NA – Além deste material psíquico, tam-bém nascemos com o nosso corpo. Somos um corpo, que é, na verdade, um sistema complexo (e Deus não é complexo?), cons-tituído a partir de um material genético e desenvolvido na história. É parte deste sistema o nosso aparelho psíquico, invisí-vel mas sensível.

Este corpo tem uma história e o seu de-sequilíbrio pode ter origem na biologia ou na historia a partir dos relacionamentos.

Este corpo tem uma história e o seu de-sequilíbrio pode ter origem na biologia ou na historia a partir dos relacionamentos.

Entendemos bem a riqueza deste siste-ma, que inclui as emoções, quando ficamos deprimidos. A doença (que não pode ser confundida com tristeza) muito provavel-mente é provocada por um desequilíbrio bioquímico nos neurônios, que regulam o humor. Este desequilíbrio torna o indiví-duo mais vulnerável aos fatores desenca-deadores, como traumas (acontecimentos que ficaram guardados) e pressões estres-santes, que disparam a depressão. O am-biente familiar e extrafamiliar durante a infância também são predisponentes.

Se não entendemos esta dinâmica, ao ficarmos deprimidos, passamos a fazer perguntas que reforçarão a doença.

Em outras palavras, nosso corpo nem sempre, por razões variadas, internas e ex-ternas, funciona bem.

Nós separamos no corpo duas partes: aquela que é tangível (como os músculos) e aquela que é intangível (nosso aparelho psíquico). Se temos um problema de audi-ção ou de postura, compreendemos, mes-mo que nos provoque limitação ou dor. Entendemos que estes assuntos devem ser levados a um médico. Ele intervém e, às ve-zes, resolve. Quando não resolve, reclama-mos e convivemos.

Quando a dificuldade é em nosso cére-bro, temos alguma resistência, mas, supe-rando-a, buscamos um neurologista para um diagnóstico. E aí precisaremos conviver

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13

Não se pergunte porque foi para o de-serto. Ocupe-se em como sair de lá. É isto que importa: o que importa é como você vai sair de lá”. 3

AjuDA E VISÃONeste caminho, precisamos de duas

atitudes (que nascem de duas percepções).AJUDA – A primeira é pedir ajuda

a uma pessoa próxima para nos avaliar, numa espécie de contraponto à nossa au-toavaliação.

Jesus fez uma intrigante pergunta a seus discípulos:

– Quem sou eu? (Mateus 16.15)Temos que fazer pergunta semelhante.Podemos ter uma autoimagem que não

corresponde ao que os outros veem. Precisa-mos que estas lentes se aproximem.

Como escreveu um especialistas em recursos humanos, “é muito mais comum do que se pensa as pessoas formarem uma imagem muito profunda de si mesmas, e dificilmente solicitarem – ou mesmo aceita-rem – contribuições de terceiros”. Por isto, “para um processo de reflexão sobre quem você realmente é, torna-se fundamental a opinião dos que com você convivem”. 4

Tenha a coragem de pedir a opinião dos outros a seu respeito. (Jesus fez isto, quando mandou seus discípulos fazerem uma enquete sobre o que as pessoas pen-savam a respeito dele – Marcos 8.27.)

VISÃO – A segunda é ter a visão que Deus tem a nosso respeito.

S A Ú D E E M O C I O N A L

Recordemos estas verdades essenciais:1. Fomos criados por Deus à Sua ima-

gem e semelhança (Gênesis 1.27). Deus nos estima bem. Devemos nos estimar bem.

2. Deus nos brindou também com o prazer de viver (Eclesiastes 3.11). Devemos aceitar este propósito divino para nós.

3. Deus continua trabalhando em nos-so favor (João 5.17). Alegremo-nos e tam-bém trabalhemos.

4. Deus deseja que sejamos vencedores, na verdade, mais que vencedores (Roma-nos 8.37). Fiquemos firmes nesta promes-sa, apesar da história que a nossa família escreveu antes de nascermos e do corpo limitado que somos.

Não se deixe a aprisionar por compro-missos que não celebrou.

1 ARARIPE E ANDRADE, Lêda de Alencar. A família e suas heranças ocultas. Fortale-za: Edição da Autora, 2008, p. 18 e 29.

2 ARARIPE E ANDRADE, op. cit., p. 60.3 Escrevi isto em O FÁCIL NÃO EXISTE.

Para receber este texto gratuitamente, es-creva para [email protected].

4 DAMBERG, Carlos F. A oportunidade dos 40. São Paulo: United Press, 2011, p. 50.

com este diagnóstico (uma enxaqueca, uma labirintite, por exemplo), se ele não for re-versível.

O drama é quando nosso aparelho psí-quico não funciona adequadamente, den-tro de padrões considerados “normais”. Tendemos a incorporar o estigma social e nos recusamos a admitir que estamos emocionalmente doentes.

Além dos nossos esforços para um corpo-músculo saudável, precisamos nos empenhar para ter um corpo-mente igual-mente saudável. E, as vezes, somos relap-sos nos dois polos.

Perdemos muitos de nós mesmos quando nos recusamos a buscar a ajuda profissional no processo de compreensão e cura do nosso corpo-mente.

A NATuREZA DA VIDAEstas percepções nos mostram que as

vidas das pessoas são diferentes. As opor-tunidades não são iguais. Nossos corpos não são os mesmos. Nossas mentes não são as mesmas.

Estas percepções também nos mostram que a vida nem sempre pode ser compara-da a uma mala leve. Muitas vezes, por ra-zões também alheias à nossa vontade, a mala pode ser pesada. Cabe-nos aliviar o seu peso.

E nós o fazemos quando entendemos a dinâmica da vida.

Não dá para fugir de uma prisão, sem que se cave longamente um túnel insalu-bre, incerto e inseguro.

Não dá para escapar de uma embarca-ção, sem que se enfrente as ondas do mar e as embarcações da polícia marítima.

Não dá para sair de um oásis, sem que se caminhe pelo deserto, onde o sol é incle-mente, o vento é cortante e a areia é para-lisante.

O problema é que a vida é dura. A vida é dura por causa de nossos cor-

pos que não resistem às bactérias e vírus.A vida é dura por causa de nossas he-

ranças, sejam elas genéticas, patrimoniais ou psicológicas.

A vida é dura por causa de nossas esco-lhas, especialmente as erradas.

A vida é dura por causa das escolhas dos outros, especialmente aquelas que nos alcançam.

A vida é dura por causa de nossos pe-cados, especialmente aqueles cujas conse-qüências conhecemos.

A vida é dura por causa dos pecados dos outros, especialmente aqueles que se traduzem em criminalidade, corrupção e crueldade.

Por que a vida é dura, o deserto é ne-cessário. Por isto, Deus leva seu povo para o deserto, mesmo sob protesto. Vendo o que Deus fez, penso nos pais, naqueles que ame-drontam seus filhos e evitam que vivam, na-queles que protegem seus filhos, dourando--lhes a vida, e a vida não é dourada.

Penso naqueles que se sentem aban-donados porque Deus os levou ao deserto. Não se ache abandonado. Deus não conju-ga o verbo “abandonar”.

NOTA – Este estudo faz parte da série ACADEMIA DA ALMA, que é apresentada toda quarta-feira de abril e maio, na Igre-ja Batista Itacuruçá, de 19h30 às 21 horas. ENTRADA FRANCA.

Para receber este texto na íntegra, escreva para [email protected]

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CULTURA14 P Á S C O A

o longo de 15 dias, a Igreja Batista Itacuruçá celebrou a Páscoa, rein-terpretada pelos cristãos como o

tempo da ressurreição de Jesus Cristo.Houve teatro, coro, orquestra, solis-

ta, banda e quarteto.O CELEBRANDO A PÁSCOA 2013

começou no dia 21 de março (quinta--feira) com a apresentação conjunta dos Coros Excelsior e Itacuruçá, regidos por Delci Bernardes.

Na sexta, atores, ensaiados por Victor Bahia, e cantores, regidos por Ramon Christian Almeida de Lima, se encontraram para contar a história da semana que culminou na morte de Jesus. No sábado, com a participação da banda Kerygma, liderada por Wil-son Martins, houve um debate com o público sobre o significado da morte de Jesus, com perguntas também pela internet.

No domingo (24), foram celebrados quatro cultos, com as participações das

FOI ASSIM A PÁSCOA NAIGREJA BATISTA ITACURUçÁ

crianças, dirigidas por Márcia Cunha, do quarteto Itacuruçá, da cantora Mi-cheli Viegas e, de novo, do coro e grupo de teatro.

No domingo seguinte (31), a primei-

ra celebração começou às 6 horas da manhã, terminando no quinto culto que terminou às 21 horas, com a participa-ção da orquestra da Igreja, regida por Tamara Ujakowa.

A

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indicar também menções honrosas, a seu critério

6.2. Os prêmios serão entregues por ocasião de um dos saraus Alma Tijuca até outubro de 2013.

6.3. Os trabalhos inscritos não se-rão devolvidos.

6.4. Não poderão participar do Con-curso os membros das comissões orga-nizadora e julgadora, cuja identidades não serão reveladas.

6.5. A decisão da comissão julgado-ra é soberana e irrecorrível.

6.6. Os casos omissos serão resolvi-dos pela comissão organizadora.

7. Ao fazer sua inscrição, o concor-rente indica que aceita os termos deste Regulamento, ficando sujeito à des-classificação pelo não cumprimento do mesmo.

8. Para todos os efeitos legais, ao se inscrever o participante do presente Concurso declara ser o legítimo autor do poema inscrito e garante o ineditis-mo do mesmo, responsabilizando-se e isentando os organizadores de qual-quer reclamação ou demanda que por-ventura venha a ser apresentada em juízo ou fora dele.

9. Os candidatos renunciam a qualquer pagamento a título de direi-tos autorais dos poemas inscritos nes-te Concurso”.

P E R F I L 15

O sarau Alma Tijucana acaba de lan-çar o seu primeiro concurso de poesia.

Organizadora da premiação, Mar-garet Borges diz que o objetivo do con-curso é incentivar a produção poética e estimular a arte e a cultura nos bairros da Tijuca e adjacências.

Cada concorrente pode inscrever apenas um poema.

Os três primeiros colocados recebe-rão medalha, vale-livros, além de leitura pública.

Confirma abaixo o regulamento:

“REGULAMENTO DO CONCURSO DE POESIA ALMA

TIJUCA

1. Encontram-se abertas até 11 de julho de 2013 as inscrições para o Con-curso de Poesia ALMA TIJUCANA.

2. O Concurso de Poesia ALMA TIJU-CANA tem por finalidade estimular a pro-dução poética e incentivar a arte e a cul-tura nos bairros da Tijuca e adjacências.

3. O poema pode ser encaminhado em papel ou em formato eletrônico.

3.1 No caso de envio em papel, o poema deve ser entregue em seis vias, pessoalmente ou pelo correio no se-guinte endereço: CONCURSO DE POE-SIA ALMA TIJUCANA – Praça Barão de Corumbá, 49 – Tijuca, 20510-170 – Rio de Janeiro). O envelope deve conter a identificação e o endereço do remetente, mas o poema não deve con-ter o nome do participante em nenhum lugar do corpo do texto.

ALMA TIJUCANA

3.2. No caso de envio pela internet, o texto deve ser remetido para [email protected]. O nome do participante não pode figurar no corpo do texto.

4. Cada participante pode concor-rer com um único poema, inédito e livre quanto ao tema e ao tamanho.

5. Caberá à Comissão Julgadora, in-dicada pela coordenação do Concurso, selecionar os melhores trabalhos, classi-ficando-os com pontuação de 1 (um) a 10 (dez).

Serão avaliados os seguintes itens:- beleza;- originalidade;- criatividade;- correção gramatical.

6. Serão vencedores os três primei-ros colocados, que receberão os seguin-tes prêmios:

• primeiro lugar: medalha; cer-tificado; destaque na primeira página do jornal Tijuca em Foco; entrevista no programa de Televisão Convite à Vida (no canal 14 NetCidade da Net) conforme calendário da produção do programa, e um vale-livros no valor de R$ 300,00 (trezentos reais), a ser res-gata do na livraria Eldorado Tijuca até o mês de setembro de 3013

• segundo lugar: medalha, certi-ficado e um um vale-livros no valor de R$ 200,00 (duzentos reais), a ser res-gata do na livraria Eldorado Tijuca até o mês de setembro de 2013

• terceiro lugar: medalha, certifi-cado e um um vale-livros no valor de R$ 100,00 (cem reais), a ser resgata do na livraria Eldorado Tijuca até o mês de setembro de 3013

6.1. A comissão Julgadora poderá

lança concurso de poemas para o bairro

CONCURSO DE POESIA ALMA TIJUCAPraça Barão de Corumbá, 49 – Tijuca20510-170 Rio de Janeiro, [email protected]

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16 G A S T R O N O M I A

PRAZER DE COMERRESTAURANTE MITSUBA

O Restaurante Mitsuba é, hoje, na minha concepção, o melhor restau-rante japonês da Tijuca, e, provavel-mente, um dos melhores do Rio de Janeiro, não deixando a desejar a ne-nhum dos bons restaurantes da Zona Sul da cidade.

O forte do Mitsuba é a sua varieda-de de peixes sazonais. Ele prima por sempre ter os clássicos Atum, Robalo e Salmão, e os peixes de época, como Sardinha, Pargo, Olho de Cão, Serra, entre outros. O atendimento é cordial e geralmente não há espera por mesa.

A minha sugestão é pedir Nira Ita-me, de entrada (broto de alho refoga-do no shoyu e na manteiga), seguido de um combinado (para duas pessoas, eu sugiro o Combinado Super ou o Combinado Mitsuba). Se você possui curiosidade, peça ao garçom que colo-

que alguns dos peixes do dia no com-binado, sendo que o mais exótico de-les é a Sardinha. A Sardinha vai muito bem, nos Niguiris (bolinhos de arroz com peixe em cima) e o Serra vai bem no Sashimi (fatias de peixe cru), assim como o Pargo.

REGINAlDO MACEDO DE AlMEIDA

Um jantar para dois, incluindo en-trada (Nira) – R$ 25, um Combinado Super – R$ 88 e refrigerantes, sai em torno de R$ 120.

O restaurante Mitsuba fica na Rua São Francisco Xavier, 170. O telefo-ne é (21) 2264-0274. Em frente ao restaurante, há um estacionamento rotativo.