UM NOVO E DEMOCRÁTICO TRIBUNAL DO JÚRI

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    UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI (I)

    I

    INTRODUO

    A mudana do procedimento de meio sculo

    A partir de 1992 e aps muitos anos de trabalho de comisses instauradas no

    mbito do Ministrio da Justia e com o apoio da Escola Nacional daMagistratura, foi

    sancionada pelo Presidente Luiz Incio Lula da Silva, com os autgrafos doMinistro

    Tarso Genro e do Advogado Geral da Unio, Jos Antonio Dias Toffoli, a Lei n11.689 de

    9 de junho corrente que introduz profundas alteraes no procedimento doJri. Na

    titularidade da Pasta de Justia durante esse tempo passaram vriosministros a partir de

    Clio Borja (02.04.1992 a 01.10.1992) at a chegada de Tarso Genro(16.03.2007).

    Durante o mandato do ministro Nelson Jobim (01.01.1995-07.04.1997), e porsua

    iniciativa, vrios projetos foram retirados do Congresso Nacional, apspareceres

    favorveis da Comisso de Constituio e Justia e de Redao, da Cmara

    dosDeputados. No se justificava a indiferena pelo projeto relativo ao tribunalpopular que

    perfeitamente poderia prosseguir com eventual adaptao a uma ou outramodificao

    legislativa, inclusive quanto Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995,

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    referida como

    pretexto. Aquela iniciativa acarretou considervel perda de tempo e graveretrocesso para

    a causa democrtica do procedimento do Jri. E provocou a lamentvel

    demisso

    (voluntria) do sensvel, lcido, experiente e talentoso Ministro Slvio deFigueiredo,

    presidente das Comisses de Reforma (processo civil e penal). O incidente foipor mim

    revelado e assim registrado em trabalho apresentado na XVI ConfernciaNacional da

    OAB (Direito, Advocacia e Mudana), em Fortaleza (1).O objetivo da presente publicao, em duas etapas, fornecer maior nmerode

    informaes sobre a elaborao do anteprojeto sobre o Jri, sua reviso eposteriores

    modificaes, at quando, em maro de 2000, retirei-me da Comisso emsolidariedade

    do Ministro da Justia Jos Carlos Dias, que se demitira voluntariamente. Sem

    ter

    recebido qualquer solicitao para sugerir nome de substituto, tomei ainiciativa de

    apenas lembrar coordenadora Ada Pellegrini Grinover o nome de Rui Stocoque tem

    revelado uma notvel contribuio cientfica acerca da matria. Oscriminalistas e demais

    estudiosos da vida e do funcionamento do tribunal popular conhecem a

    valiosa obra

    Teoria e Prtica do Jri, de Adriano Marrey, coordenada por Alberto SilvaFranco e Rui

    Stoco, e com a atualizao de doutrina por Luiz Antonio Guimares Marrey(2). No

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    houvesse qualquer outra contribuio antecedente de Rui Stoco bastariaconhecer essa

    publicao para reconhecer o extraordinrio mrito do novo colaborador daComisso. J

    em pleno e lcido exerccio dessa atividade, Rui Stoco elaborou um magnficoartigo que

    vale como roteiro indispensvel para conhecer um histrico do tribunal dopovo, desde o

    seu nascimento, passando pela sua regulao com o Cdigo de Processo doImprio

    (1832) at o momento atual. Alm disso, o texto analisa o projeto em fasefinal e as

    introdues que viriam modificar o sistema vigente (3).

    Aos profissionais do foro criminal e estudiosos do assunto, tambmfundamental

    as leituras de A Reforma do Cdigo de Processo Penal Introduo, deRmulo de

    Andrade Moreira, (4) e Cdigo de Processo Penal Comentrios aos

    projetosde reforma

    legislativa, coordenado por Eduardo Reale Ferrari, (5) que publica e analisa 7

    anteprojetos da reforma setorial do Cdigo de Processo Penal.

    A Lei n 11.689/08, adota duas relevantes mudanas: a) Elimina o obrigatrio e

    autoritrio - Recurso em Sentido Estrito (CPP, art. 581,VI) contra a decisoque absolve

    liminarmente o ru quando o juiz se convencer de causa de excluso docrime ou iseno

    de pena. (CPP, art. 411); b) revoga o Captulo do protesto por novo jri (arts.607/608)

    que no tinha mais razo de existir aps a revogao do Cdigo Criminal doImprio

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    (1830) que previa pena de morte e de priso perptua, justificando, naquelapoca, uma

    reviso obrigatria da condenao. Nos tempos modernos, a supresso jhavia sido

    defendida por Borges da Rosa e pelo mais fervoroso defensor do Jri: omagistrado

    Magarinos Torres que, presidindo durante muitos anos o Conselho deSentena do antigo

    Distrito Federal (RJ), averbou tal recurso de suprfluo e inconveniente. (6) Aproposta de

    eliminao do protesto por novo jri foi acolhida desde a redao do primeiroanteprojeto

    de lei e foi objeto de meu artigo, publicado em setembro de 2006: Ainutilidade do

    protesto por novo jri.(7)

    Breve retrospectiva

    O presente texto procura oferecer uma retrospectiva dos esforos visandoalterar

    setores do Cdigo de Processo Penal e que desaguaram na redao dedezessete

    anteprojetos, agrupados em seis blocos, sob a responsabilidade de comissesinstitudas

    no mbito da Escola Nacional da Magistratura e do Ministrio da Justia. Porhonrosa

    indicao do Professor Rogrio Luria Tucci e generosa aprovao dosdemais membros

    da Comisso de Processo Penal, coube-me a tarefa de redigir o Anteprojetodo

    procedimento relativo aos feitos de competncia do Tribunal do Jri.

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    Caractersticas das propostas

    Antes, porm, das notas e comentrios acerca da reformulao dasistemtica e da

    mecnica do tribunal popular, oportuna a abordagem, embora sumria, dasdemais

    propostas que durante anos foram meditadas, discutidas e aprovadas pelascomisses.

    O movimento reformador do cinqentenrio Cdigo teve a motiv-lo duasvertentes

    bem caracterizadas: a) a adequao do diploma aos princpios e s regras da

    Constituio de 1988 bem como aos sistemas contemporneos do processopenal nos

    Estados democrticos de Direito; b) a eficcia do processo como instrumentode luta

    contra a criminalidade e de acesso jurisdio, depurando-o de frmulas etermos

    barrocos.Os trabalhos das comisses atenderam a uma metodologia que funcionou

    positivamente quanto reforma setorial do Cdigo de Processo Civil e cujosresultados

    prticos foram amplamente reconhecidos com a sucesso de leis novas nosltimos anos.

    II

    A REFORMA SETORIAL DO CPP

    A simplificao da legislao processual

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    Em 30 de maro de 1992, o Dirio Oficial da Unio publicou a Portaria n 145,do

    Ministro da Justia Clio Borja, designando o Ministro Slvio de Figueiredo

    Teixeira para,

    na qualidade de Presidente da Escola Nacional da Magistratura, presidircomisso de

    juristas encarregadas de realizar estudos e propor solues visando simplificao dos

    cdigos de Processo Civil e Processo Penal.

    A primitiva Comisso

    Pela Portaria n. 3, de 10 de junho de 1992, o Ministro Slvio de Figueiredo

    Teixeira instituiu a Comisso de Juristas para promover estudos e proporsolues

    visando simplificao da legislao processual penal. No mesmo ato foramdesignados

    o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro e o Doutor Sidney Agostinho Beneti(ento

    magistrado de primeiro grau), para a coordenao e a secretaria dostrabalhos,

    respectivamente. Os demais membros nomeados para compor a Comissoforam:

    Antonio Carlos de Arajo Cintra, Antonio Carlos Nabor Areias de Bulhes,Francisco de

    Assis Toledo, Inocncio Mrtires Coelho, Luiz Carlos Fontes de Alencar(Ministro do STJ),

    Miguel Reale Jnior, Paulo Jos da Costa Jnior, Ren Ariel Dotti, RogrioLuria Tucci e

    Srgio Marcos de Moraes Pitombo.

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    As reunies de trabalho

    A primeira reunio ocorreu em Ribeiro Preto (SP), nos dias 25 e 26 desetembro

    de 1992. Naquela oportunidade aprovou-se uma pauta inicial consistente nareviso de

    setores do Cdigo de Processo Penal que exigem mudanas para simplificar o

    procedimento e conceder maior eficcia ao sistema.

    Um segundo encontro realizou-se na cidade de So Paulo, em 16 de abril de1993.

    Aos membros da Comisso foram distribudas as tarefas que consistiam naelaborao

    de esboos de anteprojetos de cada um dos captulos do Cdigo passveis de

    reformulao.

    Em Goinia, realizou-se a terceira reunio, durante os dias 15 e 16 de maiode

    1993. Para ela contriburam, alm dos integrantes da Comisso, muitos

    magistrados,

    membros do Ministrio Pblico, advogados e professores de Direito. O eventoteve o

    apoio do Tribunal de Justia e da Escola da Magistratura daquele Estado.Assim como

    ocorreu com as sesses anteriores, os trabalhos receberam a colaboraovaliosa do Juiz

    de Direito Luiz Flvio Gomes, ento Presidente do Instituto Brasileiro deCincias

    Criminais.

    Na reunio de Goinia, foram discutidos e aprovados esboos de anteprojetos

    sobre os seguintes assuntos, entre outros: a) procedimento dos crimes dacompetncia

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    do Tribunal do Jri; b) procedimento sumrio; c) intimao do defensor pelaimprensa; d)

    recursos (apelao e em sentido estrito); e) supresso do protesto por novoJri; f)

    medidas provisrias de restrio da liberdade e restrio de outros direitos;g) previso de

    novas hipteses de priso preventiva; h) Polcia Judiciria; i) regulao dodireito ao

    silncio; j) citao por edital; k) efetivao da defesa dativa; l) exame decorpo de delito e

    outras percias; m) suprimento da no realizao do exame de corpo dedelito; n) efeitos

    da revelia; e o) suspenso condicional do processo.

    Os trabalhos da Comisso original se encerraram com a entrega dos textosdos

    anteprojetos ao Ministro da Justia os quais foram publicados pelo DOU, de30 de junho

    de 1993 (8).

    A Comisso de Reviso

    Pela Portaria n. 349, publicada no DOU, de 17 de setembro de 1993 (9), oMinistro

    da Justia, Maurcio Corra, instituiu uma Comisso de Reviso dosanteprojetos j

    divulgados. Os membros designados foram: Ada Pellegrini Grinover, AntonioMagalhes

    Gomes Filho, Antonio Nabor Bulhes, Aristides Junqueira de Alvarenga, CidFlaquer

    Scartezzini, Edson Freire ODwyer, Jos Barcelos de Souza, Ftima Nancy

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    Andrighi

    (ento Desembargadora no DF), Luiz Carlos Fontes de Alencar, Luiz VicenteCernicchiaro

    (Ministro do STJ), Marco Aurlio Costa Moreira de Oliveira, Miguel Reale

    Jnior, Ren

    Ariel Dotti, Rogrio Luria Tucci, Slvio de Figueiredo Teixeira (Ministro doSTJ) e Weber

    Martins Baptista. Tambm participou dos trabalhos da Comisso, o DoutorLuiz Flvio

    Gomes, representando o Instituto Brasileiro de Cincias Criminais.

    As reunies de trabalho

    A Comisso Revisora teve reunies em Salvador, So Paulo e Belo Horizonte.Seu

    presidente foi o Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira e a coordenao ficousob a

    responsabilidade do Ministro Fontes de Alencar, diante da ausncia

    justificada do MinistroLuiz Vicente Cernicchiaro. Contribuiu para o bom xito dos trabalhos oProfessor Luiz

    Luisi.

    Independentemente das reunies plenrias, foram constitudos grupos detrabalho

    conforme a natureza dos projetos. Para a discusso e reviso dos dispositivosrelativos

    ao Tribunal do Jri, foi formada uma subcomisso que tive a honra decoordenar e

    completada pelos Doutores Antonio Nabor Bulhes, Edson Freire ODwyer,Jos Barcelos

    de Souza e Marco Aurlio Costa Moreira de Oliveira.

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    A Comisso de Sistematizao

    No encontro de Salvador, foi instituda pelo presidente dos trabalhos, uma

    Comisso de Sistematizao dos vrios anteprojetos a fim de lhes promovera necessria

    integrao e corrigir eventuais problemas de forma. Para a sua composioforam

    designados os professores Antonio Magalhes Gomes Filho, Luiz FlvioGomes e

    Rogrio Luria Tucci.

    A Reunio de So Paulo

    Nos dias 14 e 15 de novembro de 1994, reuniram-se em So Paulo osmembros da

    Comisso Revisora para ultimar a redao dos textos dos anteprojetos. Asesso matinal

    do dia 14 teve a participao de Procuradores e Promotores do MinistrioPblico

    paulista, sob a liderana do Procurador-Geral Jos Emmanuel Burle Filho.Tambm

    concorreu para os trabalhos o magistrado Antonio Carlos Mathias Coltro,representando a

    presidncia do Tribunal de Justia de So Paulo.

    A colaborao da Associao Paulista da Magistratura (APAMAGIS) nessaetapa

    da reforma foi extremamente relevante.

    A publicao dos textos

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    Os textos resultantes das reunies de Salvador (1/3. 11.1994) e So Paulo(14/

    15.11.1994) foram publicados no DOU de 25 de novembro de 1994, tendo

    em vista o

    interesse em proporcionar o seu conhecimento comunidade jurdica e sociedade,

    conforme despacho do Ministro da Justia, Alexandre de Paula DupeyratMartins. (10)

    Os dezessete anteprojetos

    O ltimo encontro, em So Paulo, encerrou com um saldo altamente positivo:

    dezesseis anteprojetos modificando substancialmente o Cdigo de ProcessoPenal e um

    outro, alterando a Lei n. 7.960, de 21 de dezembro de 1989, tiveram suasredaes

    definitivamente aprovadas. Foram os seguintes os Ttulos de Livros, os

    Captulos, assees e os artigos do CPP objeto de alterao ou substituio: a) autuaosumria e

    inqurito policial (Tit. II, do Livro I, arts. 4, 5, 6, 7, 12, 13, 16, 17 e 18 e opargrafo

    nico do art. 20); b) livre convico judicial e provas ilcitas (arts. 155 a 157);c) exame de

    corpo de delito por um s perito, desde que oficial (art. 159); d) inquirio

    direta das

    testemunhas pelas partes (art. 212); e) efetivao da defesa prvia(pargrafo nico do

    art. 261); f) separao dos presos provisrios, ampliao das hipteses depriso

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    preventiva, criao das medidas restritivas de liberdade (arts. 300, 312, 319,320, 387 e

    408); g) revitalizao do instituto da fiana (arts. 322, 323, 325, 326 e 350);h) citao por

    edital, produo antecipada de provas e suspenso do processo e daprescrio (arts.

    366, 367, 368 e 369); i) intimao do defensor constitudo, do advogado doquerelante e

    do assistente do MP pelo rgo oficial de publicao ou, no havendo, peloescrivo, por

    mandado ou via postal (pargrafos acrescidos ao art. 370) (11); j) fixao, nasentena

    condenatria, do valor mnimo para reparao dos danos causados pelainfrao

    (acrscimo de um inciso ao art. 387 e de pargrafo nico ao art. 63); k)formas

    procedimentais (Livro II, Tit. I, Caps. I e II do Livro II e arts. 394 a 405); l)procedimento

    relativo aos processos de competncia do Tribunal do Jri (Cap. III, do Tt. I,do Livro II e

    arts. 406 a 497); m) procedimento sumrio (arts. 514 e 517, suprime o Cap.V, do Tt. II do

    Livro II, e modifica os arts. 531 a 539); n) suspenso condicional do processo(Cap. VII,

    do Tt. XX, do Livro II e arts. 549 a 555); o) instituio do agravo em lugar dorecurso em

    sentido estrito, dando-lhe maior eficcia e modernidade (arts. 581 a 592); e,

    por ltimo, p)novo tratamento para os embargos de declarao e embargos infringentes(arts. 619 e

    620).

    Quanto reforma em leis especiais, foi aprovado o texto de um Anteprojetoque

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    modificava o art. 1 da Lei n. 7.960, de 21 de dezembro de 1969 (regula apriso

    temporria), inclua a concusso entre os crimes passveis da medida e

    garantia ao preso

    provisrio as prerrogativas da priso especial, constantes do Dec. n. 38.016,de 5 de

    outubro de 1955.

    III

    OS PROJETOS DE LEI

    A dimenso da reforma

    Atravs das Exposies de Motivos ns 605, 606, 607, 608, 609 e 610,datadas de

    27 de dezembro de 1994, o Ministro da Justia Alexandre Martins encaminhouao

    Presidente da Repblica, Itamar Franco, seis projetos de lei que reuniramtodos os

    anteprojetos. Dois dias aps, as propostas foram remetidas secretaria daCmara dos

    Deputados pelo Ministro de Estado Chefe da Casa Civil, Henrique EduardoFerreira

    Hargreaves.

    Naquela Casa Legislativa, os textos foram assim identificados: a) Projeto deLei n

    4.895, de 1995 (Mensagem n 1.267, de 1994), Altera o Cdigo de ProcessoPenal,

    dando nova disposio ao inqurito policial e s formas de procedimento, eintroduz a

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    suspenso condicional do processo; b) Projeto de Lei n 4.896, de 1995(Mensagem n

    1.268, de 1995) (12), D nova redao aos artigos 157, 159, 212, 261 e 384do Decreto-

    lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941, Cdigo de Processo Penal; c) Projetode Lei n

    4.897, de 1995 (Mensagem n 1.269, de 1994), Altera os artigos 366, 367,368, 369 e

    370 do Decreto-lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941, Cdigo de ProcessoPenal (13); d)

    Projeto de Lei n 4.898, de 1995 (Mensagem n 1.270, de 1994), D novaredao aos

    artigos 63, 300, 312, 319, 320, 322, 323, 325, 326 e 387 do Decreto-lei n3.689, de 3 de

    outubro de 1941, Cdigo de Processo Penal; e) Projeto de Lei n 4.899, de1995

    (Mensagem n 1.271, de 1994), D nova redao aos Captulos II e V doTtulo II do

    Livro III, e estabelece nova redao para os artigos 581 a 592, 609, 610, 619e 620 do

    Decreto-lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941, Cdigo de Processo Penal; f)Projeto de

    Lei n 4.900, de 1995 (Mensagem n 1.272, de 1994), Altera o Captulo II, doTtulo I, do

    Livro II, os artigos 406 a 497, do Decreto-lei n 3.689, de 3 de outubro de1941, Cdigo de

    Processo Penal.

    A retirada dos projetos

    Alguns projetos j haviam sido aprovados pela Comisso de Constituio eJustia

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    e de Redao da Cmara dos Deputados e outros tinham o parecer favorvelde seu

    relator, o Deputado Ibrahim Abi-Ackel, quando foram devolvidos ao Governopor iniciativa

    do Ministro da Justia, Nelson Jobim, para reexame.

    Segundo informao prestada pela Secretaria de Assuntos Legislativos do

    Ministrio da Justia, o quadro ficou assim definido: a) Projeto de Lei n4.895/95 :

    retirado pela Exposio de Motivos do MJ n 238, de 16 de maio de 1996, emface do

    advento da Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995 que regulou aspectos

    versados peloreferido disegno di legge, como a definio das infraes penais de menorpotencial

    ofensivo, a autuao sumria, a dispensa do inqurito policial e oprocedimento

    sumarssimo; b) Projeto de Lei n 4.896/95: retirado pela Mensagem n86/96, de 29 de

    janeiro de 1996; c) Projeto de Lei n 4.899/95: retirado pela Mensagem n145/96, de 12

    de abril de 1996; d) Projeto de Lei n 4.900/95: retirado pela Exposio deMotivos do MJ

    n 237, de 16 de maio de 1996.

    A carta de renncia do coordenador das comisses

    A retirada dos projetos acarretou a renncia do Ministro Slvio de Figueiredo

    Teixeira das funes que exercia como presidente das comisses de reforma.E o fez

    sem qualquer ressentimento. Ao reverso, manifestou a sua esperana nos

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    caminhos da

    necessria reforma do processo penal brasileiro.

    Em tese apresentada na XVI Conferncia Nacional dos Advogados (Fortaleza,1/5-

    09-96), tive oportunidade de afirmar que a carta-renncia, datada de 25 deabril de

    1996, constitui um documento que revela a grande sensibilidade do mestredo processo,

    tanto pela elegncia da forma como pelo civismo do contedo. Soutestemunha do

    empenho pessoal, do zelo cientfico e das atitudes democrticas do MinistroSlvio de

    Figueiredo Teixeira durante o tempo de labor e esperana. A ela pode sercreditado o

    perfil do estudioso fecundo e do perseguidor da verdade, visto por Radbruchem

    antolgico texto dedicado ao imortal Franz von Liszt (Elegantiae JurisCriminalis): H

    pessoas que s conhecem tese e anttese, corpo e alma, natureza e esprito,realidade e

    valor, poder e dever, ou como quer que lhe chamem. Elas podem gabar-se deseu

    mtodo puro, dos seus conceitos claros, da sua argumentao segura. Pelocontrrio,

    aquele que, para alm das antinomias. Procura, tateando, a unidade superior,no tem

    nenhum guia a proteg-lo contra passos errados. Mas s ele pode esperarque uma hora

    feliz lhe abra caminho para o ponto alto, do qual, na sntese criadora de umaconcepo

    unitria do mundo, se superem todas as aparentes antinomias (14).

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    A lio positiva de uma experincia frustrante

    O nosso Pas tem se caracterizado na rea das reformas legislativas emmatria

    criminal pela descontinuidade dos projetos que so apresentados por umGoverno e

    rejeitados por outro, alm dos fenmenos da legislao de conjuntura e dalegislao de

    pnico produzidas pelo Congresso Nacional, em momentos mais expressivosdo Direito

    Penal simblico. A mudana da presidncia da Repblica como tambm a dosministros

    de Estado implica, naturalmente, na reviso de idias e de planos de aoadministrativa.

    No entanto, dois aspectos devem ser lamentados como saldo negativo dessefenmeno.

    O primeiro deles o de que o interesse pblico, envolvendo determinadosprojetos, se

    ope orientao radicalizante que condena ao limbo os esforos e os frutosde um

    trabalho que conjuga rgos da administrao pblica e pessoas fsicas ejurdicas da

    comunidade (universidades, institutos, etc.) O segundo a habitual ausnciade

    publicaes oficiais e privadas dos textos dos projetos. A importncia doassunto pode ser

    reconhecida em funo de dois acontecimentos histricos: um domstico eoutro

    internacional. Em 1963, o Ministrio da Justia mandou publicar, emseparatas, os

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    anteprojetos de Cdigo Penal, Cdigo de Processo Penal e Cdigo dasExecues

    Penais, elaborados, respectivamente, por Nlson Hungria, Hlio Tornaghi eRoberto Lyra.

    Aqueles documentos serviram de base para inmeras discusses cientficas e

    acadmicas durante os anos sessenta e setenta. Tambm no ano de 1963 foidivulgado o

    projeto Eduardo Corria, de reforma do Cdigo Penal portugus. Apssucessivos

    debates - que no foram interrompidos pela mudana de Governo operadaem 1974 com

    a chamada revoluo dos cravos - Portugal teve em 1982 um novo diploma.Durante

    aqueles anos a comunidade nacional e estrangeira de estudiosos etrabalhadores das

    cincias penais dedicou atenes e esforos s propostas legislativas,amplamente

    divulgadas.

    O fundamental em todos os projetos de reforma a memria das idias e dos

    princpios que os orientaram. Tal garantia somente poder se efetivar, para opresente e o

    futuro, se houver medidas cautelares de conservao a exemplo doscuidados que devem

    ser adotados para a preservao de determinados fatos mediante a utilizaode

    procedimentos adequados.

    Em artigo sobre o assunto da reforma do processo penal e publicado hquase 10

    (dez) anos, tive oportunidade de fazer um lamento: Espera-se que osprojetos da reforma

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

    19/113

    setorial do Cdigo de Processo Penal, deflagrada pela Escola Nacional daMagistratura e

    do pelo Ministrio da Justia - e com a contribuio qualificada deespecialistas e

    profissionais do foro criminal - no tenham, como tantos outros, o destino daperda fsica

    e do esquecimento intelectual. Mas que, ao reverso, alcancem, pelo menos, oregistro em

    publicaes de rgos pblicos e de revistas especializadas. Afinal, o nossoPas no se

    pode dar ao luxo de gastar dinheiro com reunies de comisses e outroseventos ligados

    feitura dos projetos e depois conden-los marginalidade das coisas tidaspor inteis

    pelos sucessores do poder. Pensando em tudo isso, entendo que o disegno dilegge para

    a reforma do procedimento relativo aos crimes de competncia do Jrimerece divulgao

    maior que a estampa oficial. Com efeito, alm das regras j aprovadas pelaComisso de

    Constituio e Justia da Cmara dos Deputados, o presente texto envolvecomentrios

    motivados pelo interesse no aprimoramento do sistema e pela vontade derecolher as

    lies da experincia em um dos mais nobres terrenos da teoria e da prticado processo

    criminal brasileiro. (15)

    IV

    O PROJETO DO NOVO TRIBUNAL DO JRI

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

    20/113

    O Anteprojeto e o Projeto

    O texto do Anteprojeto aprovado pelas comisses j referidas, coincide

    integralmente com o Projeto enviado ao Congresso Nacional. A mesmadistribuio das

    sees, a mesma ordem dos assuntos, os mesmos nmeros e a igual redaodos

    dispositivos, com raras alteraes como se poder verificar pelo confronto dapublicao

    no DOU de 25 de novembro de 1994 (16) e os anexo ora divulgado. (17)Foram as

    seguintes as modificaes introduzidas pelo Projeto:

    a) Art. 407: cancelamento da remisso ao art. 209 ; b) Parg. nico do Art.408:

    nova redao; c) Art. 412: supresso da palavra sentena, antes da

    palavra impronncia; d) Art. 414: cancelamento da remisso (CdigoPenal, arts. 20,

    21, 22, 23 e 28, 1), aps a expresso excluso de crime; e) Art. 417: ainverso do

    inciso III pelo inciso II, substituindo a expresso acusado ausente poracusado revel; f)

    Art. 423: cancelamento da remisso (arts. 436 a 446); g) Art. 427: o projetoampliou a

    legitimidade para requerer o desaforamento, substituindo a expresso arequerimento do

    acusado pela expresso a requerimento das partes; h) Inc. II do Art. 428:acrscimo da

    palavra acusados antes da palavra presos; i) Parg. nico do Art. 429:cancelamento

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    da remisso aos arts. 455 e 456; j) Parg. nico do Art. 442: no anteprojeto, aredao

    era a seguinte: Somente ser aceita escusa apresentada at o momento dachamada

    dos jurados e fundada em motivos relevante, devidamente comprovado; k)Art. 445:

    cancelamento da remisso (Cdigo Penal, arts. 316, 317, 1 e 2 (18) e,319); l) Art.

    447. Substituio da expresso Juiz de Direito por juiz togado; m) Art.448:

    desdobramento das hipteses de impedimento em incisos; n) Art. 457:substituio da

    palavra de pela palavra do, antes do vocbulo assistente; o) Inc. II doart. 495:

    substituio da palavra juiz pela palavra magistrado; p) Inc. VII do art.495: substituio

    da expresso bem como, pelas letras e a, antes das palavras dodefensor; q) Incs.

    XIII e XIV do art. 495: fundiram-se no mesmo inciso (XIII) dois atosprocessuais: o

    compromisso, e o interrogatrio com simples referncia ao termo.

    A Exposio de Motivos do Ministro da Justia

    Em 29 de dezembro de 1994, o Ministro da Justia, Alexandre de PaulaDupeyrat Martins,

    encaminhou ao Ministro-Chefe da Casa Civil, do Governo do PresidenteItamar Franco,

    Henrique Ferreira Hargreaves, solicitao para que as propostas fossem

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    encaminhadas

    ao Poder Legislativo, tendo o Ministrio da Casa Civil, pelo Aviso n 2.852,remetido ao

    Congresso Nacional (Cmara dos Deputados), a mensagem presidencial , de

    todos os

    projetos. (19)

    Na seqncia do presente texto sero feitos comentrios pontuais sobre aReforma, a

    comear pela deciso de pronncia. Antes, porm, ser transcrita aExposio de Motivos

    do ento Ministro da Justia, com suas observaes. Aquele documento

    encerra destaforma:

    Estas, Senhor Presidente, so as razes das sugestes de alterao do

    procedimento seguido pelo tribunal do jri, destinadas a compatibiliz-lo comas

    exigncias de celeridade e eficcia, em proveito de uma melhor prestao da

    justia.Dada a relevncia da matria e sua repercusso na prestao jurisdicionalpenal,

    h especial interesse deste Ministrio em sua rpida aprovao. Permito-me,assim,

    sugerir a Vossa Excelncia, no caso de sua aceitao, a utilizao dafaculdade

    concedida pelo pargrafo 1 do artigo 64 da Constituio Federal, com a

    remessa de

    mensagem ao Congresso Nacional, solicitando urgncia na sua tramitao.(20) (Segue).

    Notas:

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    Reforma do processo penal, Livro de Teses Tema IV Transformao dos

    sistemas positivos, ed. do Conselho Federal da OAB, Fortaleza, 1996, p. 677.

    (2)

    7 ed., revista, atualizada e ampliada, So Paulo: RT, 2000.

    (3)

    STOCO, Rui. Tribunal do Jri e o Projeto de Reforma de 2001, em Revista

    Brasileira de Cincias Criminais, publicao do Instituto Brasileito de CinciasCriminais

    (IBBCrim), So Paulo: ano 9, out./dez./ 2001, p. 190/236).

    (4)

    Direito Processual Penal, Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003, p. 342 e s.

    (5)

    Campinas: Milenium Editora, 2003. Colaboradores: Gustavo Henrique RighiIvahy

    Badar, Helena Regina Lobo da Costa, Heloisa Estellita, Luiz GuilhermeMoreira Porto,

    Maria Silvia Garcia de Alcaraz Reale Ferrari e Marina Pinho Coelho

    (6)

    Esses mestres do processo penal so referidos por espnola Filho, Eduardo.

    Cdigo de Processo Penal Brasileiro Anotado, Rio de Janeiro: Editora Borsoi,1955, vol.

    VI, p. 217.

    (7)DOTTI, Ren Ariel. A inutilidade do protesto por novo jri,e, Boletim doIBCCrim, n

    166, set. 2006, p.4.

    (8)

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    Seo I, p. 8795 e s.

    (9)

    Seo II, p. 5277.

    (10) Seo I, p. 17854 e s.

    (11) O Anteprojeto que acrescentava pargrafos ao art. 370 do CPP tinha aseguinte

    redao: Art. 370. (...) 1 A intimao do defensor constitudo, doadvogado do

    querelante e do assistente de acusao far-se- por publicao no rgooficial incumbido

    da publicao das intimaes judiciais na comarca, contendo, sob pena de

    nulidade, o

    nome do ru, salvo a intimao pessoal mediante cincia pelo escrivo; 2Caso no

    haja rgo oficial de publicao de atos judiciais na comarca, a intimao far-se-

    diretamente pelo escrivo, por mandado, por via postal com comprovante derecebimento,

    ou por qualquer outro meio idneo efetivao da intimao e suacomprovao; 3 A

    intimao do rgo do Ministrio Pblico e do defensor nomeado serpessoal.

    (12) H evidente erro de impresso da separata, pelo Centro Grfico doSenado

    Federal. O ano correto 1994.

    (13) Este projeto se converteu na Lei n 9.271, de 18 de abril de 1966 que

    determina a

    suspenso do processo, quando o ru, citado por edital no acudir a citao,bem como a

    suspenso do curso da prescrio, e d outras providncias.

    (14) Livro de Teses - Tema IV: Transformao dos sistemas positivos, ed. do

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    Conselho

    Federal da OAB, Fortaleza, 1996. A passagem transcrita foi citada porEduardo Correia,

    em A influncia da Franz v. Liszt sobre a reforma penal portuguesa, Coimbra,

    1971, nota

    n 5, p. 37.

    (15) DOTTI, Ren Ariel. A reforma do procedimento do jri Projeto de Lei4.900, de

    1995, na coletnea, Tribunal do Jri Estudo sobre a mais democrticainstituio jurdica

    brasileira, coordenao Rogrio Lauria Tucci, So Paulo: RT, 1999, p.297/298.

    (16) Seo I, p. 17865 e s.

    (17) O anexo est na seqncia do artigo A reforma do procedimento dojri, cit.

    contendo a publicao integral do Projeto de Lei n 4.900, de 1995,encaminhado pela

    Mensagem 1.272/94. (Tribunal do Jri, cit., p. 329/347).

    (18) A publicao do Anteprojeto (DOU de 25.11.94), omite a grafia dos

    pargrafos ().(19) Cronologia e tramitao quanto a esta parte, cf. a obra Cdigo deProcesso Penal-

    Comentrios aos projetos de reforma legislativa, cit. p. 2/3.

    (20) Separata do Projeto de Lei n 4.900, de 1995. (Mensagem n 1.272/94).

    Publicaodo Centro Grfico do Senado Federal, Braslia (DF), 1995.

    * artigo publicado no jornal "O Estado do Paran", caderno "Direito e Justia"de

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    15.06.2008.

    ******

    UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI (II)

    1. A Exposio de Motivos do Ministro da Justia

    Durante o Governo Itamar Franco, o anteprojeto do procedimento do Jri foi

    convertido no Projeto de Lei que, na Cmara dos Deputados, tomou o nmero4.900/95 e

    recebeu parecer favorvel da Comisso de Constituio e Justia,apresentado pelo

    Deputado Ibrahim Abi-Ackel. A Exposio de Motivos, assinada pelo MinistroAlexandre

    Martins, foi redigida nos seguintes termos:

    A proposta insere-se num elenco de medidas de alterao ao Cdigo de

    Processo Penal, destinadas a proporcionar maior celeridade e eficcia prestao

    jurisdicional penal. Cabe ressaltar que sua elaborao fruto de estudosrealizados por

    Comisso de juristas constituda por este Ministrio, mediante a Portaria n.349, de 16 de

    setembro de 1993. de se destacar, ainda, a colaborao da ConfederaoNacional do

    Ministrio Pblico, da Associao Nacional de Procuradores-Gerais de Justia,na forma

    de sugestes para o aprimoramento do texto bsico.

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    O Projeto pretende proporcionar uma profunda alterao no procedimentorelativo

    ao Tribunal do Jri. Quanto s caractersticas das disposies alteradas, bem

    como das

    razes que as fundamentam, entendo por oportuno e esclarecedortranscrever alguns

    tpicos do relatrio oferecido pela citada Comisso:

    O tribunal do jri, clssica instituio democrtica, foi expressamentemantido pela

    Constituio de 1988, assegurando-se-lhe a competncia para o julgamentodos crimes

    dolosos contra a vida (art. 5., XXXVIII). A redao do texto deixa claro quetal

    competncia poder ser ampliada para outros tipos de infrao penal.Ressalta de tal

    concluso a necessidade de aprimorar-se a atuao do tribunal popular,modernizando e

    simplificando o procedimento, alm de conferir-lhe maior eficcia.

    O Projeto caracteriza-se pelos seguintes aspectos:

    * reduz a influncia que a motivao da pronncia possa exercer sobre osjurados:

    a deciso dever restringir-se indicao da materialidade do fato delituosoe de indcios

    suficientes de autoria ou participao, remetendo o processo para o jri;

    * permite a realizao do julgamento sem a presena do acusado que, em

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    liberdade, poder exercer a faculdade do no comparecimento comocorolrio lgico do

    direito ao silncio, constitucionalmente assegurado. Esta providncia ireliminar uma das

    usinas da prescrio, alm de estar em harmonia com o restante do sistema.Os arts. 413

    e 414 do Cdigo de Processo Penal tinham razo de ser at o advento da Lein. 5.349,

    de 3.11.67, que revogou a priso preventiva obrigatria e da Lei n. 5.941, de22/11/73,

    que concedeu liberdade provisria ao pronunciado primrio e de bonsantecedentes.

    Antigamente a priso provisria (preventiva ou de pronncia) era regra;agora exceo.

    Nenhuma dificuldade havia antes para intimar pessoalmente o rupronunciado que

    estava geralmente preso, pois a partir do caso de tentativa de homicdio apriso

    preventiva era compulsria;

    * suprime o libelo, na forma de antiga reivindicao j constante doanteprojeto

    Jos Frederico Marques (1070) e dos projetos de 1975 e 1983), fixando-se a

    oportunidade do requerimento de provas pela acusao e defesa a partir daintimao da

    pronncia, em que, estabelecidos os limites da acusao, esto fixados nadeciso de

    pronncia;

    * institui o preparo do processo visando a deliberao judicial sobre

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    requerimentos

    de prova, o saneamento de nulidades e o esclarecimento sobre fatorelevante,

    implementando-se o princpio da concentrao de atos com vistas

    discusso e ao

    julgamento da causa, e efetivando-se o relatrio do processo nessaoportunidade, e no

    em plenrio do jri;

    * amplia o processo de democratizao da justia popular, com o alistamentode

    jurados, alm do dirigido aos setores j indicados atualmente, tambm juntoa novos e

    representativos endereos comunitrios e centros de convivncia, comoassociaes de

    bairros e instituies de ensino, ncleos populares que se vmdesenvolvendo de forma

    autnoma, luz das garantias constitucionais, refletindo as expresses dacidadania, um

    dos princpios fundamentais da Repblica e base institucional do tribunal dojri;

    * legitima o assistente do Ministrio Pblico a requerer o desaforamento,medida

    constitutiva de uma possibilidade a mais para a realizao da justiamaterial;

    * disciplina a organizao da pauta em seo autnoma, providnciaimportante

    para descongestionar a agenda do tribunal, e fundamental para oestabelecimento de

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    uma ordem na designao das datas de reunies do jri;

    * regulariza mais adequadamente as etapas do sorteio e da convocao dos

    jurados, atendendo a antigas reivindicaes dos que atuam no jri. Alm dadispensa de

    frmula obsoleta (como a exigncia da presena de um menor de 18 anospara tirar os

    nomes sorteados da urna), o Projeto resguarda o interesse das partes emacompanhar o

    sorteio determinado a prvia intimao. Os jurados sero convocados pelocorreio;

    * revaloriza a funo do jurado, habilitando-o a obter, quando em igualdadede

    condies, determinados benefcios como a preferncia nas licitaespblicas, no

    provimento, mediante concurso, em cargo ou funo pblica e na promoofuncional;

    * concede maior eficcia e agilidade para a instruo em plenrio do jri,instituindo

    claramente o critrio do cross examination, com as perguntas feitasdiretamente s

    testemunhas e ao prprio acusado, pelo juiz presidente, pelas partes ejurados, - tudo

    com a necessria ateno aos princpios da imediao e da verdade material.

    * proporciona maior liberdade ao jurado para a formao de seuconvencimento,

    com a possibilidade de solicitar ao orador a indicao da a folha dos autospor ele lida ou

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    citada, bem como esclarecimento sobre questo de fato e de, a qualquermomento da

    discusso, examinar os autos, - em plena consonncia com dois objetivos

    essenciais: a)

    ampliar os caminhos para a descoberta da verdade, superando dvidas eincertezas que

    no podem ser confidenciadas ou discutidas em voz alta, em face daincomunicabilidade

    a que esto submetidos os juzes populares; b) reduzir as possibilidades dainduo em

    erro, expediente afrontoso aos princpios ticos de que se podem valer osprocuradores

    de m-f;

    * adota a simplificao do questionrio, modificando, extraordinariamente, a

    redao dos quesitos e a colheita dos votos para, destarte, libertar o juiz, aspartes e os

    jurados de um tormento bblico a que esto atualmente condenados,reduzindo-os, a trs,

    essencialmente, quais sejam, a materialidade, a autoria e a condenao (ouabsolvio):

    a) se o acusado for condenado (com a afirmao do terceiro quesito), o juizindagar

    sobre a causa de qualificao ou de especial aumento de pena constantes dapronncia;

    b) deixar de existir o questionamento obrigatrio em torno de circunstnciaatenuante

    que, na prtica e se reconhecida, leva o Juiz de Direito a sugerir ao jurado aescolha de

    uma delas em face da relao do Cdigo; e, c) caber ao presidente doTribunal do Jri,

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    no momento da sentena, reconhecer ou no a circunstncia agravante ouatenuante;

    * suprime o vetusto e inadequado protesto por novo jri. A sua eliminao

    uma

    exigncia dos tempos e da necessidade de aplicao da pena justa. Nocotidiano forense,

    muitas penas para crimes graves contra a vida so fixadas aqum de 20(vinte) anos de

    recluso para impedir o protesto por novo jri. Essa estratgia processual,visando

    superar o inconveniente da reviso forada do julgamento, geralmente muitotrabalhoso,

    tem dois graves inconvenientes: a) constitui uma soluo penal artificiosa,em oposio

    aos limites materiais da funo jurisdicional; b) produz uma pena injusta parao caso

    concreto, gerando, no raro a insatisfao popular. No h razo, nos diaspresentes,

    para se manter o recurso do protesto por novo julgamento, que herana dosistema

    criminal do Imprio, quando a imposio da pena de morte e de galsperptuas

    poderiam justificar esse tipo de reviso obrigatria.

    * sem alterar os aspectos do procedimento que justifica a existncia e o

    funcionamento do tribunal do povo, o Projeto procura cumprir os objetivos de

    modernizao, simplificao e eficcia em torno dos quais gravitam osesforos e as

    esperanas da reforma processual penal.

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    Estas, Senhor Presidente, so as razes das sugestes de alterao do

    procedimento seguido pelo tribunal do jri, destinadas a compatibiliz-lo comas

    exigncias de celeridade e eficcia, em proveito de uma melhor prestao da

    justia.

    Dada a relevncia da matria e sua repercusso na prestao jurisdicionalpenal,

    h especial interesse deste Ministrio em sua rpida aprovao. Permito-me,assim,

    sugerir a Vossa Excelncia, no caso de sua aceitao, a utilizao da

    faculdadeconcedida pelo pargrafo 1 do artigo 64 da Constituio Federal, com aremessa de

    mensagem ao Congresso Nacional, solicitando urgncia na suatramitao(1).

    2. Da acusao e da instruo preliminar

    Antes das notas a respeito da pronncia, importante observar a radicalmudana

    da instruo judicial que antecede o juzo de admissibilidade da acusaopara submeter

    o ru ao Tribunal do Jri. Como sabido, uma das usinas de prescrio nos

    procedimentos dos crimes dolosos contra a vida consiste na irrazoveldemora da

    instruo judicial, que a mesma do processo comum. Com o novo diploma,h sensvel

    reduo de prazos, em especial para a audincia concentrada da instruo,que colher,

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    se possvel, as declaraes do ofendido; as testemunhas arroladas pelaacusao e pela

    defesa; esclarecimentos dos peritos, acareaes e ao reconhecimento depessoas e

    coisas. O interrogatrio passa a ser o ltimo ato, ao contrrio do sexagenriosistema,

    quando o acusado vai responder sobre o fato imputado mas sem oconhecimento da

    prova testemunhal que ainda ser produzida perante o Juiz. Onde, nesse casoa garantia

    do contraditrio e da ampla defesa?

    Ao atender ao princpio da concentrao, a audincia nica institui o valoroso

    princpio da identidade fsica do juiz adotada no processo civil, mas que,paradoxalmente,

    no existe no processo penal. Isso acarreta o grave resultado prtico darotatividade,

    nociva de juzes e promotores, medida em que o processo vai sefragmentando em

    audincias descontnuas e distantes no tempo.

    Tanto o prazo de 10 (dez) dias para inquirio de testemunhas e realizaode

    diligncias requeridas pela partes, como o encerramento da audincia deinstruo no

    mesmo dia, constituem marcas registradas dessa mudana de cultura

    forense, quando o

    retardamento da instruo decorre das mazelas da administrao, ou seja: a)a

    deficincia de quadros funcionais e b) os juzes, promotores e serventuriostardinheiros.

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    Ou por obra da chicana do defensor antitico. E quanto ao tempo de registrodos

    depoimentos, o Tribunal do Jri de Curitiba tem dado boas respostas com agravao

    simultnea. Um exemplo relevante vem da prtica da Justia Federal: vriosdepoimentos

    so colhidos no mesmo dia, em pouco espao de horas, em face dessemtodo. Afinal, a

    colheita da prova oral precisa sair do tempo da carroa.

    Nenhuma necessidade justifica o sistema atual das alegaes escritas

    apresentadas aps o rosrio burocrtico de termos, atos e intimaes. Osjulgados de

    improcedncia da denncia (ou queixa) e de absolvio sumria sorarssimos. A rotina

    judiciria a pronncia, quer pelo convencimento como pelo mito daimaginria dvida

    em favor da sociedade. Alegaes orais em vinte minutos para cada parte,prorrogveis

    por mais dez, so suficientes para o resumo da prova e do pedido. Afinal, ainstruo e as

    razes devem ter os seus momentos altos perante os juzes naturais dacausa. O debate

    ganha em dinamismo e verossimilhana, ao contrrio do modelo atual que,geralmente,

    estimula a retrica e a releitura da prova testemunhal feita perante aautoridade policial e

    o juiz togado, que no iro decidir o caso.

    O art. 412, estabelece que o procedimento ser concludo no prazo mximode 90

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    (noventa) dias. Possvel? Impossvel? Depende, evidente, das condieshumanas e

    materiais dos juizados. Mas elementar que a especializao das varascriminais e o

    empenho dos magistrados podem dar uma resposta satisfatria a essaexpectativa. O juiz

    no apenas o gestor da prova; ele tambm deve ser o fiador da razoveldurao do

    processo e o empregador dos meios que garantam a celeridade de suatramitao.

    3. A pronncia, impronncia e absolvio sumria

    Atendendo s exigncias da boa doutrina e estvel jurisprudncia dostribunais, a

    nova orientao quanto pronncia evita o excesso de linguagem doprolator, que

    assume papel tpico do acusador quando analisa minuciosamente a provapara excluir as

    hipteses de negativa de autoria (ou participao), excluso de crime eiseno de pena.

    O 1. do art. 413 declara que a fundamentao da pronncia limitar-se- indicao da

    materialidade do fato e de indcios suficientes de autoria. Nada mais preciso.

    (1) Separata do Projeto de Lei n. 4.900, de 1995. (Mensagem n. 1.272/94).Publicao

    do Centro Grfico do Senado Federal, Braslia (DF), 1995.

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    * artigo publicado no jornal "O Estado do Paran", caderno "Direito e Justia"de

    22.06.2008.

    ******

    UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI (III)

    1. Os trabalhos da Reforma

    Os trabalhos para promover a reforma setorial do Cdigo de Processo Penal,

    surgiram da iniciativa do Ministro da Justia Clio Borja (02/04. 1./10/1992)ao nomear o

    Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira, do Superior Tribunal de Justia para,na qualidade

    de presidente da Escola Nacional da Magistratura, presidir comisses dejuristas

    encarregadas de realizar estudos e propor solues visando a simplificaodos cdigos

    de Processo Civil e Processo Penal. Para este ltimo desafio, o MinistroFigueiredo

    Teixeira firmou a Portaria n. 3, de 10 de junho de 1992, designando LuizVicente

    Cernicchiaro e Sidnei Agostinho Beneti para as funes de coordenao esecretaria,

    respectivamente(1).

    Desde a primeira reunio da Comisso em Ribeiro Preto (SP), ocorrida em25 e

    26 de setembro de 1992, predominou a orientao de que a reforma nopoderia ser

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    global, ou seja, a proposta de um novo e inteiro Cdigo, apesar dastentativas frustrantes.

    (1970 e 1983). Da a escolha dos setores do diploma que tivessem maiorrepercusso

    com o princpio constitucional do devido processo legal; com os deveres e asgarantias

    das partes, alm da simplificao e a eficincia dos procedimentos. E oantigo modelo do

    tribunal popular (1941) foi revisto na mesa de trabalhos com destaque parasetores que

    exigiam cuidados especiais e urgentes. Fui indicado para redigir umanteprojeto para

    discusso e receber sugestes no mbito da Comisso e depois pelacomunidade jurdica

    nacional em reunies com estudiosos e profissionais, antes de ser levado aoexame final

    do Ministrio da Justia e da para o Congresso Nacional. Os textosresultantes das

    reunies de Salvador (1.-3./11/1994) e So Paulo (14-15/11/1994) forampublicados no

    DOU de 25 de novembro de 1994, tendo em vista o interesse emproporcionar o seu

    conhecimento comunidade jurdica e sociedade, conforme despacho doMinistro da

    Justia, Alexandre de Paula Dupeyrat Martins(2).

    Em primeiro lugar, houve a preocupao de se manter uma rigorosasucesso

    cronolgica dos atos e termos do procedimento, caracterizando um sistemaorgnico do

    ponto de vista instrumental e jurdico. A simplificao e a eficcia, comoobjetivos a

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    perseguir, no contexto de um processo moderno e dinmico, no devemsuprimir frmulas

    que se impem diante do generoso princpio do due process of law e dasexigncias de

    segurana e justia.

    Em artigo escrito a propsito da celeridade do processo penal em Direito

    Comparado, Jean Pradel, catedrtico de Direito Penal da Universidade dePoitiers e

    presidente da Associao Francesa de Direito Penal, lembra que a celeridadedo

    processo pode ser definida de forma negativa e positiva, advertindo que ela

    no deve serconfundida com a perigosa precipitao. E adverte que j no sculo XV, oingls

    Fortescue escrevia que nunca a justia se encontra em uma situao toperigosa como

    quando se administra muito depressa (never is justice in such a danger aswhen it is

    handed too hastily)(3).

    Os comentrios a seguir, analisam os setores que merecem reforma para amelhor

    operacionalidade do Tribunal do Jri, na perspectiva das lies da doutrina eda

    jurisprudncia.

    2. A deciso de pronncia

    Para evitar interferncia indbita na conscincia do jurado, a nova lei oProjeto

    estabelece que a fundamentao da pronncia limitar-se- indicao dosrequisitos

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    estabelecidos no art. 413: O juiz, fundamentadamente, pronunciar oacusado, se

    convencido da materialidade do fato e da existncia de indcios suficientes deautoria ou

    de participao. 1. A fundamentao da pronncia limitar-se- a indicaoda

    materialidade do fato e da existncia de indcios suficientes de autoria ou de

    participao....

    A lei nova est em perfeita consonncia com a orientao da jurisprudncia,como

    se poder verificar pela deciso unnime da 3. Cmara Criminal do Tribunal

    de Justiade So Paulo, que serve de paradigma: Na sentena de pronncia, fasemarcadamente

    processual de todo indevida a anlise aprofundada da prova e a edio doJuzo de

    certeza, tarefa essa delegada aos Senhores Jurados, a quem, competemproferir ou no

    o judiciium condenationis(4).

    3. A intimao da pronncia

    Nos termos do art. 420, I, a intimao da pronncia ser feita pessoalmenteao

    acusado, ao defensor nomeado e ao Ministrio Pblico; II, ao defensorconstitudo, ao

    querelante e ao assistente do Ministrio Pblico, na forma do disposto no 1. do art. 370

    deste Cdigo. Pargrafo nico. Ser intimado por edital o acusado solto queno for

    encontrado.

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    4. O julgamento sem a presena pessoal do ru

    O acusado que respondeu solto ao processo poder ser julgado

    independentemente de sua presena fsica no Tribunal (Art. 457: Ojulgamento no ser

    adiado pelo no comparecimento do acusado solto, do assistente ou doadvogado do

    querelante, que tiver sido regularmente intimado). Trata-se de ampliar agarantia

    constitucional do direito de calar, desativando uma das usinas de prescrio.A rotina das

    transferncias injustificveis e as atitudes do ru - que procura se furtar aojulgamento ou

    no encontrado - tm como vertentes a necessidade de sua intimaopessoal, tanto

    para cientific-lo da pronncia como para a data do julgamento.

    Por outro lado, a voluntria ausncia do ru pode configurar o exerccio desua

    liberdade em contestar a legitimidade do tribunal. Tal hiptese no absurda: basta

    considerar que muitos casos de aborto praticado por motivo de relevantevalor social ou

    moral so alvos de reiteradas campanhas de descriminalizao.

    O Superior Tribunal de Justia contm um precedente especfico da dispensado

    ru para a realizao do Jri. Vale transcrever: A Constituio da Repblicade 1988

    consagra ser direito do ru silenciar. Em decorrncia, no o desejando,embora

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    devidamente intimado, no precisa comparecer sesso do Tribunal do Jri.Este, por

    isso, pode funcionar normalmente. Concluso que se amolda aos princpiosda verdade

    real e no compactua com a malcia do acusado de evitar o julgamento(5).

    5. A supresso do libelo

    A supresso do libelo j fora proposta no Anteprojeto Frederico Marques(1970), no

    Projeto n. 1.268, de 1979 e no Projeto de 1983, coordenado por Francisco de

    Assis

    Toledo e aprovado pela Cmara dos Deputados(6).

    Com a nova lei, o requerimento de provas e diligncias ter oportunidadeprpria,

    como se verifica pelo artigo 422, aps preclusa a pronncia. Encerrada ainstruo, a

    palavra ser concedida ao Ministrio Pblico que far a acusao, nos

    limites dapronncia ou das decises posteriores que julgaram admissvel a acusao,sustentando,

    se for o caso, a existncia de circunstncia agravante (Art. 476).

    6. O preparo do processo

    Em face da supresso do libelo, o juiz-preparador, deliberando sobre os

    requerimentos de prova a serem produzidas ou exibidas no Plenrio do Jri, eadotar as

    providncias devidas: 1) ordenar as diligncias necessrias para sanarqualquer

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    nulidade ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa; 2) farrelatrio sucinto

    do processo, determinando a sua incluso em pauta na reunio do Tribunaldo Jri (art.

    423).

    7. O alistamento dos jurados

    Houve sensvel mudana nesta parte quando a lei nova estabelece que

    anualmente sero: alistados pelo presidente do Tribunal do Jri de 800(oitocentos) a

    1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (ummilho) de

    habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de100.000 (cem

    mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas demenor populao.

    1. Nas comarcas onde for necessrio, poder ser aumentado o nmero de

    jurados e,ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cdulas em urnaespecial, com as

    cautelas mencionadas na parte final do 3. do art. 426 deste Cdigo. 2. Ojuiz

    presidente requisitar s autoridades locais, associaes de classe e debairro, entidades

    associativas e culturais, instituies de ensino em geral, universidades,sindicatos,

    reparties pblicas e outros ncleos comunitrios a indicao de pessoasque renam

    as condies para exercer a funo de jurado. (Art. 425)

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    O tema da seleo dos juizes de fato estimula debates e anlises com oobjetivo

    de sensibilizar os juizes togados e os demais operadores do Tribunal do Jri afim de se

    aprimorar a qualidade dos conselhos de sentena e, por via de conseqncia,dos

    julgamentos (7).

    8. O desaforamento

    O desaforamento previsto quando houver interesse da ordem pblica,

    dvida

    sobre a imparcialidade do Jri ou quanto segurana pessoal do ru (Art.427).

    relevantssima a inovao que autoriza o desaforamento em razo do

    comprovado excesso de servio, ouvidos o Juiz-Presidente e a parte contrria,se o

    julgamento no puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do

    trnsito emjulgado da deciso de pronncia (Art. 428).

    Confere-se legitimao ao assistente do Ministrio Pblico para requerer amedida

    (Art. 427). So bvias as razes de tal orientao que procura consagrarprecedentes de

    jurisprudncia, inclusive do Supremo Tribunal Federal(8).

    9. Sorteio e convocao dos jurados

    Organizada a pauta o juiz presidente determinar a intimao do MinistrioPblico,

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    da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defensoria Pblica em dia e horadesignados, o

    sorteio dos jurados que atuaro na reunio peridica (Art. 432). Ochamamento dos

    provveis julgadores se far pelo correio, ou por qualquer outro meio hbilpara

    comparecer no dia e hora designados para a reunio (Art. 434).

    Da maior importncia a regra determinando que no mesmo expediente de

    convocao sero transcritos os arts. 436 a 446 que regulam a funo dojurado (Art. 434,

    pargrafo nico).

    Estas providncias se justificam luz de duas coordenadas: a) simplificam a

    chamada, dispensando a convocao pessoal que onerosa e demorada; b)oferecem

    aos convocados informaes oficiais sobre os direitos e os deveres do juizleigo.

    10. A funo do jurado

    No se ignora a dificuldade em se obter a presena de juiz de fato paracolaborar

    com o Poder Judicirio. Alm dos benefcios previstos no Art. 437 do CPP emvigor, ou

    sejam o reconhecimento de servio pblico relevante, estabelecimento dapresuno de

    idoneidade moral, priso especial, em caso de crime comum, e preferncia eigualdade

    de condies nas concorrncias pblicas, o novo diploma do Jri (Lei n.11.689/2008)

    constitui tambm direito do juiz do povo a preferncia no provimentomediante o

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    concurso de cargo ou funo pblica, bem como nos casos de promoofuncional ou

    remoo voluntria (Art. 440).

    11. A adequao constitucional do novo diploma

    As mltiplas alteraes introduzidas no sistema revelam a compatibilidadeentre o

    novo procedimento do Jri e os direitos e garantias constitucionais einerentes s partes

    no processo.

    Como acentua o Professor Eugnio Pacelli de Oliveira: no mais admissvel

    compreender e muito menos seguir aplicando o processo penal sem afiltragem

    constitucional. O Cdigo de Processo Penal de 1941 no est superadoapenas pelo

    tempo; est superado tambm por fora da incompatibilidade normativa como texto de

    1988, em cujo bojo construiu-se um sistema de garantias individuais comabrangncia

    suficiente para fazer evaporar diversos dispositivos do nosso CPP(9).(Segue)

    Notas:

    (1)

    As leis n.s 11.689, 11.690, de 9 de junho e a Lei n. 11.719, de 20 de junhodo

    corrente ano, so fruto dos 17 (dezessete) anteprojetos encaminhados aoCongresso

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    Nacional em 1994, cf. Exposies de Motivos n.s 605 a 610. Previamente ostextos

    foram publicados para receber crticas e sugestes (DOU de 25/11/1994,Seo I, p.

    17854 e s.).

    (2)

    Seo I, p. 17854 e s.

    (3)

    The celerity of criminal procedure in comparative law, em InternationalReview of

    Penal Law, edio da Associao Internacional de Direito Penal, Paris, 3. e

    4. trimestres

    de 1995, p. 323.

    (4)

    RT 712/382. No mesmo sentido: RT 521/439, 522/361 e 644/258.

    (5)

    6. Turma, unnime, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, em 2/8/1994, RT710/344.

    (6)

    Proj. de Lei n. 1.655-B,de 1983, aprovado em forma de Substitutivo epublicado no

    Dirio do Congresso Nacional, seo I, supl. de 17/8/1984. A redao final foipublicada

    no DCN, seo I, supl. De 19/10/1984.

    (7)

    Especificamente sobre o assunto, Edlson Mougenot Bonfim, Oselecionamento

    dos jurados, a questo da notria idoneidade e a boa formao do Conselhode

    Sentena no Tribunal do Jri, em RT 693/309 e s.).

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    (8)

    RTJ 487/35; 45/461.

    (9)

    OLIVEIRA, Eugnio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 6. ed. Belo Horizonte:

    Del Rey, 2006. p.3.

    * artigo publicado no jornal "O Estado do Paran", caderno "Direito e Justia"de

    29.06.2008.

    ******

    UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI (IV)

    1. O jurado e a cidadania

    Um dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil a cidadania (CF, art.1.,

    II), considerada um vnculo de carter jurdico entre um indivduo e umaentidade poltica

    de representao da comunidade: o Estado. As modernas constituies,aprovadas no

    cenrio de liberdade dos Estados Democrticos de Direito, estabelecem comodireito-

    dever dos cidados a participao nos assuntos pblicos, diretamente ouatravs de

    representantes eleitos.

    No Tribunal do Jri, o cidado exerce essa forma de participao com a suaefetiva

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    presena no Conselho de Sentena para decidir uma causa criminal. Elepassa a ser um

    representante popular na prestao jurisdicional. Justamente por isso, oexerccio efetivo

    dessa condio constitui servio pblico relevante, estabelece presuno deidoneidade

    moral e assegurar priso especial, em caso de crime comum, at ojulgamento definitivo,

    bem como preferncia, em igualdade de condies, nas concorrnciaspblicas (CPP, art.

    437). A Lei n. 11.689/08, dando nova redao ao art. 440 do CPP, mantevetais direitos e

    acresceu o provimento, mediante concurso, de cargo ou funo pblica,bem como nos

    casos de promoo funcional ou remoo voluntria.

    2. A recusa ao servio do Jri

    No regime ainda em vigor (1), a recusa ao servio do Jri, motivada porconvico

    religiosa, filosfica ou poltica, importar a perda dos direitos polticos (CPP,art. 435). A

    sano, extremamente grave, tem origem na Carta autoritria de 1937 (art.119, b). A

    nova lei do Jri fornece uma alternativa ao prever que a recusa acarretar odever de

    prestar servio alternativo, sob pena de suspenso dos direitos polticosenquanto no

    prestar o servio imposto (novo art. 438). Entende-se por servio alternativoo exerccio

    de atividades de carter administrativo, assistencial, filantrpico ou mesmoprodutivo, no

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    Poder Judicirio, na Defensoria Pblica, no Ministrio Pblico ou em entidadeconveniada

    para esses fins. O Juiz fixar o servio alternativo atendendo aos princpios da

    proporcionalidade e da razoabilidade ( 1. e 2. do novo art. 438). Duas

    hipteses no

    previstas no Cdigo vigente so introduzidas com a reforma: a) Somente seraceita

    escusa se fundada em motivo relevante devidamente comprovado e quandoapresentada,

    ressalvadas as hipteses de fora maior, at o momento da chamada dejurados; b) o juiz

    de fato somente poder ser dispensado por deciso motivada do juizpresidente,

    consignada na ata dos trabalhos (novos arts. 443 e 444).

    3. Impedimentos, suspeies e incompatibilidades

    A frmula adotada na Lei n. 11.689/08, para regular as hipteses de

    impedimentos, suspeies e incompatibilidades, procura absorver as regrasj vigorantes

    no processo civil, alm de acolher orientao da doutrina e da jurisprudnciaa respeito de

    situaes atualmente no consagradas expressamente pelo Cdigo.

    Alm dos impedimentos atualmente previstos (CPP art. 462(2)),acrescentam-se

    outros casos, como o relativo a pessoas que mantenham unio estvelreconhecida como

    entidade familiar, alm dos impedimentos, suspeio e incompatibilidadesdos juzes

    togados ( 1. e 2., do novo art. 448). Tambm no poder servir o juradoque: I - tiver

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentementeda causa

    determinante do julgamento posterior(3); II - no caso do concurso de

    pessoas, houver

    integrado o Conselho de Sentena que julgou outro acusado(4); III - tivermanifestado

    prvia disposio para condenar ou absolver o acusado (novo art. 449).

    4. A instruo plenria e os debates

    A possibilidade deferida ao acusador, ao defensor e ao jurado, deinterrogarem o

    ru na forma direta, uma das inovaes do novo procedimento. Como elementar, o

    interrogatrio no somente um ato de defesa; , tambm, um meio deprova vinculado

    aos princpios da investigao e da verdade material. certo que muitos

    Juzes de Direitoj adotam essa orientao mas assim o faziam por liberalidade ecompreenso da

    dinmica da instruo. Agora, a regra estabelecida formalmente.

    Tambm prevista a inquirio direta das testemunhas (direct and cross

    examination) pelas partes aps colhido o depoimento pelo Juiz de Direito.

    O sistema proposto - e na prtica j adotado por muitos magistrados, na

    corretaaplicao do art. 467 do Cdigo(5) - procura atender ao princpio daimediao, definido

    como a relao de proximidade comunicante entre o tribunal e osparticipantes no

    processo, permitindo a melhor colheita do material de convico. Neste

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    sentido a

    melhor doutrina, como se poder verificar em Marques Porto(6), Damsio deJesus(7) e

    Roberto Paredes(8).

    Para compatibilizar tal sugesto com a regra geral da inquirio detestemunhas,

    foi aprovada a Lei n. 11.690, de 9 de junho do corrente ano, dando novaredao ao art.

    212 do Cdigo de Processo Penal, nesses termos: As perguntas seroformuladas pelas

    partes diretamente testemunha, no admitindo o juiz aquelas que puderem

    induzir aresposta, no tiverem relao com a causa ou importarem na repetio deoutra j

    respondida.

    Os jurados formularo perguntas ao ofendido, s testemunhas e aointerrogado por

    intermdio do juiz presidente (novo art. 473 e 1. e 2.).

    Do maior relevo a disposio que probe o uso desnecessrio de algemas. Aregra constante do novo art. 474, 3., a seguinte: No se permitir o usode algemas

    no acusado durante o perodo em que permanecer no plenrio do Jri, salvose

    absolutamente necessrio ordem dos trabalhos, segurana dastestemunhas ou

    garantia da integridade fsica dos presentes.

    O exibicionismo de muitas diligncias policiais frente s cmeras deteleviso, para

    o espetculo oferecido a milhes de espectadores, quando so algemados ossuspeitos

    ou indiciados sem que haja qualquer necessidade, uma afronta aos mais

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    elementares

    direitos da personalidade e tambm ao devido processo legal, que deveobservar a

    dignidade da pessoa humana. Muito a propsito, o Supremo Tribunal Federal,

    em habeas

    corpus deferido pela intimorata Ministra Crmen Lcia, decidiu: O usolegtimo de

    algemas no arbitrrio, sendo de natureza excepcional, a ser adotado noscasos e com

    as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar a fuga ou reao indevida dopreso, desde

    que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto venha a ocorrer,e para evitar

    agresso do preso contra os prprios policiais, contra terceiros ou contra simesmo. O

    emprego dessa medida tem como balizamento jurdico necessrio osprincpios da

    proporcionalidade e da razoabilidade. Precedentes(9).

    5. O registro dos meios de prova

    O registro mais dinmico e eficiente da prova colhida em audincia, umadas

    providncias absolutamente necessrias para libertar os protagonistas doTribunal do Jri

    da servido humana a que tm sido condenados durante todo o tempo devigncia do

    sistema de documentao manuscrita e, depois, datilogrfica. O novo art.475 e seu

    pargrafo nico, estabelecem que o registro dos depoimentos e do

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    interrogatrio ser

    feito pelos meios ou recursos de gravao magntica, eletrnica, estenotipiaou tcnica

    similar, destinada a obter maior fidelidade e celeridade na colheita da prova.

    A transcrio

    do registro, aps feita a degravao, constar dos autos.

    H necessidade, imperiosa e urgente, de libertar os participantes essenciaisdo

    processo da tormentosa aventura de navegar no universo da provatestemunhal, com os

    antigos barcos vela e os dirios de bordo, escritos com a pena de ganso.

    No se admiteque, margem do progresso da cincia e da tecnologia, os instrumentos paraa busca da

    verdade material continuem sendo as peas de museu com as quais omagistrado e as

    partes pretendem recontar a histria e a biografia dos personagens da causapenal.

    6. O uso de equipamentos durante a exposio

    O uso de sistemas e equipamentos modernos, como o audiovisual e asprojees,

    plenamente autorizado pelo novo sistema proposto. Em primeiro lugar,essa faculdade

    j tem sido amplamente utilizada, pois o Cdigo de Processo Penal admite a

    interpretao extensiva e a aplicao analgica (art. 3.). Assim, na medidaem que se

    prope um registro mais fiel da prova (art. 475), curial que sua exibiotambm seja

    permitida. Trata-se de acompanhar o progresso da cincia e da eletrnica,

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    alm de

    proporcionar aos jurados e sociedade o mais rpido e didtico acesso aosfatos

    apurados no processo.

    O exerccio das atividades de acusao e da defesa harmoniza-seperfeitamente

    com o uso de equipamentos como o udio e o vdeo-tape, que nos diascorrentes so

    importantes instrumentos de ensino e corriqueiramente empregados nasescolas,

    colgios, faculdades e outros centros de difuso de conhecimento ou lazer. A

    1. CmaraCriminal do Tribunal de Justia de So Paulo, por votao unnime, concedeuhabeas

    corpus para permitir a oitiva de uma fita de gravao e a juntada de fotos,como meios de

    prova tempestivamente juntados no processo e cujo desentranhamento foradeterminado

    pelo Juiz do feito (10).

    7. A formao do convencimento do jurado

    Outra inovao relevante do novo procedimento para o Tribunal do Jriconstitui-se

    na faculdade deferida ao jurado para pedir ao orador, a qualquer momento,que indique a

    folha dos autos onde se encontra a pea por ele lida ou citada, bem como o

    esclarecimento sobre fato por ele alegado (novo art. 480). A interveno,realizada

    atravs do Juiz de Direito, tem, entre outros, os seguintes objetivos: a) abusca da

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    verdade material; b) a exigncia do comportamento do procurador da parteque, embora

    comprometido com uma das verses da causa, tem o dever de lealdade na

    leitura de

    documentos e narrao de fatos.

    Tambm merece destaque a oportunidade concedida ao jurado paraexaminar os

    autos e o instrumento do crime, logo aps encerrados os debates e ainda emsesso

    pblica (novo art. 480, 3.). O sistema vigente permite essa diligncia

    apenas na salasecreta, quando os debates j se encerraram. Como se pode verificar, adiferena muito

    grande entre o sistema vigente e o proposto.

    8. Vedao de leitura de ato ou explorao de fato

    Para evitar a leitura de ato processual ou explorao de fato que possainfluenciar

    indevidamente o Conselho de Sentena, o novo art. 478 determina: Duranteos debates

    as partes no podero, sob pena de nulidade, fazer referncias: I decisode pronncia,

    s decises posteriores que julgaram admissvel a acusao ou determinao do uso

    de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquemo acusado; II

    ao silncio do acusado ou ausncia de interrogatrio por falta derequerimento, em seu

    prejuzo.

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    elementar que o debate no tribunal popular deve ser travado entre aspartes,

    tendo como objeto o fato punvel e as suas circunstncias. No se admite queum ato

    processual, que apenas se limita a admitir a acusao para ser conhecidapelo Jri, e que

    muitas vezes baseado no mito da dvida em favor da sociedade,transforme-se em

    agente de persuaso. E quanto segunda vedao, no possvel que osilncio do

    acusado ou a ausncia de interrogatrio por falta de requerimento (direito depetio), que

    so garantias constitucionais, possam ser utilizadas contra quem tem afaculdade de

    exerc-las legitimamente. (Segue).

    Notas:

    (1)A Lei n. 11.689/08, entrar em vigor no dia 8 de agosto (60 dias aps a sua

    publicao).

    (2)

    Art. 462. So impedidos de servir no mesmo conselho marido e mulher,

    ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmos, cunhados,durante o

    cunhado, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.

    (3)

    A nulidade de ordem pblica, porque vicia a composio do tribunal popular(RT

    729/597 e Smula 206 do STF).

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    (4)

    A nulidade da resultante absoluta (RT 653/343 e 681/338).

    (5)

    A 1. Cmara Criminal do TJ do Rio de Janeiro declarou a nulidade dojulgamento

    pelo jri por no se observar a formalidade essencial da inquirio direta dastestemunhas

    em plenrio (Apel. crim. n. 11.521, de Itagua, Rel. Des. Edgar MariaTeixeira,

    precedente citado por Jos Roberto Paredes, em A inquirio direta dastestemunhas no

    Jri, Editora Liber Juris, RJ, 1985, p. 22).

    (6)

    MARQUES PORTO, Hermnio Alberto. Jri - Procedimentos e aspectos dojulgamento -

    Questionrio, Malheiros Editores, SP, 1993, 7. ed., p. 130 e nota n. 226.

    (7)

    JESUS, Damsio Evangelista de. Cdigo de Processo Penal Anotado, ed.

    Saraiva,

    SP, 1989, p. 296.

    (8)

    PAREDES, Jos Roberto. A inquirio direta da testemunhas no Jri, cit., p. 51e s.

    (9)

    1. Turma, unnime, HC 89.429-1 (RO), j. em 22/8/2006.

    (10) RT 725/572.

    * artigo publicado no jornal "O Estado do Paran", caderno "Direito e Justia"

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    de

    06.07.2008.

    ******

    UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI (V)

    A redao e a votao dos quesitos

    Dispe o art. 482, da Lei n 11.689/08: O Conselho de sentena serquestionado

    sobre matria de fato e se o acusado deve ser absolvido. Pargrafo nico:Os quesitos

    sero redigidos em proposies afirmativas, simples e distintas, de modo quecada um

    deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessria preciso. Na

    sua

    elaborao, o presidente levar em conta os termos da pronncia ou dasdecises

    posteriores que julgaram admissvel a acusao, do interrogatrio e dasalegaes das

    partes.

    O jurado deve decidir apenas as chamadas questes de fato, distintas das

    questes de direito. Mas assim no ocorre em muitas situaes do modeloainda vigente,

    quando o juiz popular responde questo tipicamente jurdica. Servem algunsexemplos: a)

    se houve excesso culposo (na legtima defesa); b) se o ru praticou o fato noestrito

  • 8/4/2019 UM NOVO E DEMOCRTICO TRIBUNAL DO JRI

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    cumprimento do dever legal (especificao do dever); c) se o ru (com esse

    procedimento), iniciou a execuo do crime de homicdio?; d) 1. O ru, nodia (...),

    local, ministrou cpsula de cianureto a (...)?; e) 2. A ingesto da cpsula

    deu causa

    morte da vtima?; f) 3. O ru ministrou a cpsula a pedido da vtima e parapr fim a

    grave sofrimento desta?; g) 4. O ru sups, por erro, que o pedido davtima, nas

    circunstncias, tornava seu procedimento autorizado pela lei?; (1) h) 1. Oru (...); e)

    2. Essas leses (...) (quesito comum letalidade ou tentativa conforme ocaso); i) 3

    O ru (...), em conseqncia de erro plenamente justificado pelacircunstncia de

    (especificar a circunstncia de que resultou o erro) sups achar-se em facede uma

    agresso sua pessoa? (ou agresso a terceira pessoa, ou situao de

    necessidade, ou

    de estrito cumprimento de ordem legal, ou de exerccio de um direito); j) 4.Se existisse

    agresso sua pessoa (ou de terceira pessoa, ou uma situao denecessidade, ou de

    cumprimento de ordem legal, ou no exerccio de um direito) seria lcito oprocedimento do

    ru (...)?; k) 5. O erro do ru derivou de culpa?. (2) Como se pode

    observar por estas e

    muitas outras situaes, a afirmao de que o Jri decide apenas questo defato tornou-

    se um mito diante da formulao tcnico-jurdico-penal do questionrio. Sepersiste,

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    ainda, na doutrina cientfica, a polmica sobre o incio de execuo dohomicdio (quando

    terminam os atos preparatrios e quanto surge o incio de execuo?), comoatribuir ao

    magistrado leigo a soluo da controvrsia?

    Com a experincia cotidiana e as decises que anulam o Jri, pela deficinciade

    redao dos quesitos ou contrariedade nas respostas, tornou-se um trusmo aconcluso

    de que a sexagenria frmula continua sendo como tenho dito

    reiteradamente umadas usinas de nulidade.

    A lio da experincia no Judicirio e no Ministrio Pblico

    Com a inegvel autoridade da militncia no Jri, um imenso nmero de

    magistrados e membros do Ministrio Pblico alm dos advogados tem

    reconhecido e

    proclamado essa realidade que compromete o prestgio da mais democrticainstituio

    jurdica brasileira.

    Em artigo publicado na coletnea organizada por Rogrio,Lauria Tucci, (3) oJuiz

    de Direito da Vara do Jri de Campinas, Jos Henrique Rodrigues Torres,

    informou quedurante o III Encontro Nacional do Tribunal do Jri, realizado em Belm doPar, em

    dezembro de 1997, ouviu um dos palestrantes afirmar que a quesitaomuita vez parece

    um lobo mau. E prossegue: Como cedio, no que diz respeito aos

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    julgamentos do

    Tribunal do Jri, a maioria das nulidades invocadas pelas partes e declaradaspelos

    Tribunais est relacionada com a quesitao. Logo, se no h motivos para

    ter medo do

    lobo mau, pelo menos ele deve ser respeitado. (...) Para alguns profissionaisdo Jri, ou

    mesmo para alguns de seus crticos, a quesitao muito simples. No verdade. No

    Encontro Nacional de Tribunais do Jri acima referido, o Ministro Evandro Linse Silva

    afirmou que um dos momentos mais dramticos e decisivos no julgamentodo Tribunal do

    Jri exatamente o momento da quesitao. E, com toda a sua experincia einegvel

    sabedoria, prestes a quebrar o recorde nacional de defesas do Tribunal doJri, o

    advogado, juiz e jurista Evandro no teve receio de confessar que reputadifcil e

    complexa a quesitao, especialmente em face da atual sistemtica adotadapor nossa

    legislao. Ele tem razo. Aps fazer outras consideraes e observar quebasta uma

    consulta a qualquer repertrio de jurisprudncia para que sejam encontradasinmeras

    decises anulando julgamentos do Tribunal do Jri por causa dos quesitos, oMagistrado

    com a experincia de presidir sesses do tribunal do povo arremata serimportante

    fazer uma reflexo sobre o assunto com o pensamento liberto dos grilhesdos

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    preconceitos, dos mitos, dos dogmas e das frmulas preconcebidas arespeito da

    quesitao e da prpria instituio do Jri.(4)

    Um dos mais qualificados crticos foi o imortal ex-ministro do SupremoTribunal, Ary

    Franco, na obra de referncia publicada quando exercia a ctedra de DireitoJudicirio

    Penal da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro e era Desembargador doTribunal de

    Justia do antigo Distrito Federal. So suas essas palavras: Voltamos, assim,

    pelo artigo

    5 da Lei n 263, ao sistema francs, anterior ao Cdigo de Processo Penal, e,consoante

    dispe agora o artigo 484 do Cdigo de Processo Penal, o quesitos, cujaimportncia

    vital no julgamento do Jri, tanto que a sua redao defeituosa tem ensejadovrios casos

    de nulidade dos julgamentos (...). (5) Outro Juiz togadom, que durante muitotempo

    presidiu o Conselho de Sentena, James Tubenchlak, tambm presta o seu

    testemunho: Em nossa viso crtica, conclumos definitivamente que a causaexclusiva,

    geradora da deficincia dos quesitos em proporo alarmante, situa-se nadeficincia da

    lei(6). O depoimento do prestigiado mestre de processo penal e notvel ex-integrante do

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    Ministrio Pblico Estadual paulista, Tourinho Filho, igualmente expressivo:Alis, o

    questionrio, no Jri, continua sendo, como h cinqenta anos, fonte

    inexaurvel de

    nulidade. Depois de tantos anos de vigncia do atual Cdigo, ainda no sesabe se, na

    legtima defesa, os quesitos sobre a moderao e os meios necessriosdevem ser

    formulados englobada ou distintamente...(7)

    A necessidade de simplificar o questionrio

    A redao do questionrio constitui um ato processual do maior relevo. A

    simplicidade na redao uma exigncia elementar para a busca da verdadee a

    realizao da justia. Segundo expressivo julgado, a matria assume adimenso inerente

    garantia da ampla defesa quando se formula indagao diversa daimputao e, ainda,

    de modo imprprio e confuso, fica estabelecido o cerceamento de defesa quedeve ser

    declarado a despeito da omisso do defensor que silenciou quando da leiturado

    questionrio. No se cuida de indagar da prova de efetivo prejuzo que, nocaso, resulta

    ontologicamente da prpria redao dos quesitos. No se olvide quenenhuma

    condenao pode prevalecer sem o sufrgio do constitucional devidoprocesso legal, que

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    envolve corolariamente o devido procedimento legal (8).

    So inmeras as decises dos tribunais cassando decises do Jri , em

    conseqncia de defeitos do questionrio ou contradio das respostas aosquesitos. H

    precedentes de todos os tipos. Assim, j se anulou o julgamento, pelosseguintes vcios: a)

    proposio confusa e complexa (RT 732/685); b) incongruncia nasrespostas, que

    demonstrou a perplexidade dos jurados (RT 721/507); c) no formulao dequesitos

    sobre a moderao e o elemento subjetivo do excesso, aps ter o Jri negadoo uso dos

    meios necessrios (RT 721/538); d) conflitantes manifestaes dos jurados(RT 716/429);

    e) inverso na ordem dos quesitos, de modo que os prejudiciais ao rufossem

    respondidos antes daqueles que o favorecem (RT 726/709 e Smula 162 doSTF); f)

    induzimento dos jurados a equvoco em conseqncia da falta de tcnica deredao (RT

    726/726); g) falta de desdobramento do questionrio em sries distintas para

    compreender as teses de defesa (RT 695/301 e 720/498); h) redao dequesito que

    conduz a equvoco ou perplexidade (RT 660/380).

    O erro judicirio no Jri do Massacre de El Carajs

    O caso de maior repercusso nacional na histria dos julgamentos pelotribunal

    popular e que configurou um leading case de erro judicirio quanto esfinge

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    do

    questionrio, ocorreu na comarca de Belm (por desaforamento): o famosoMassacre de

    Eldorado dos Carajs, no municpio desse nome, no sul do Par. Trs oficiais

    da Polcia

    Militar sentaram no banco dos rus, em 18 de agosto de 1999, como co-autores dos 19

    (dezenove) homicdios qualificados, cometidos em 17 de abril de 1996,contra membros

    do Movimento Sem Terra (MST), mortos a tiros, quando 1.500 deles, queestavam

    acampados na regio, decidiram interditar uma rodovia para protestar contraa demora da

    desapropriao de terras improdutivas da Fazenda Macaxeira.

    Aps longos e

    extenuantes trabalhos, que custaram dias e noites, os jurados responderam

    afirmativamente aos primeiros quesitos indagando sobre materialidade e co-

    autoria. Osrus, portanto, estavam j condenados, porque a tese da negativa foivencida por 4 votos

    a 3. O Juiz-Presidente, no entanto, havia redigido, aps esses primeiros, umquesito

    absolutamente incompatvel com o aspecto factual da causa e j prejudicado,

    indagando: As provas contidas nos autos so insuficientes para acondenao do ru?

    (9). O Professor Nilo Batista, atuando em nome das vtimas-assistentes doMinistrio

    Pblico, dirigiu veemente protesto, sustentando que a condenao j haviasido

    reconhecida pela maioria dos jurados e que a valorao da prova era questo

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    exclusivamente de Direito. Incompatvel, portanto, com a apreciao dosjuzes de fato.

    Mas o Juiz togado afirmou ser aquele um hbito funcional da presidncia dostrabalhos. E

    a pergunta foi feita. Por 4 votos a trs, a resposta foi negativa. E mais:contraditria ao j

    decidido. Um dos 4 jurados que vinha respondendo afirmativamente, assimtambm

    procedeu (por provvel equvoco) quanto ao malsinado quesito. Nilo Batistaconsignou o

    protesto em ata e o julgamento foi anulado em grau de apelao. Em novojulgamento os

    rus foram condenados.

    O Projeto do novo Cdigo de Processo Penal

    O Projeto de Cdigo de Processo Penal de 1983 (10) j simplificava o

    questionamento, ao declarar que "aos jurados compete decidir sobre a

    inocncia ou a

    culpabilidade dos acusados de autoria ou co-autoria de crime doloso contra avida.

    Reconhecida a culpabilidade do acusado, compete ainda aos jurados decidirsobre a

    existncia de circunstncias que tornem o crime privilegiado ou qualificado"(art. 562 e

    parg. n.).

    A sensibilidade e a experincia dos redatores daquele texto (11) absorveramantiga

    e renovada aspirao dos operadores do Jri. A tortuosa elaborao do

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    questionrio, a

    atmosfera de suspense gerada na chamada sala secreta e a colheita dosvotos,

    caracterizam modalidades de penas atpicas impostas aos participantes do

    processo.

    Nestas ocasies, a "pena" vai para muito alm da pessoa do delinqente.

    Esse um dos problemas mais graves do Jri brasileiro, e referido por RuiStoco

    em linguagem crtica muito expressiva: absurda complexidade do sistemade formulao

    do questionrio a ser submetido aos jurados. (12)

    Notas:

    (1)

    Este questionrio aborda hiptese de erro sobre a existncia de justificativaque,

    embora no includa no sistema legal de excluso de crime ou iseno de

    pena

    (eutansia), pode autorizar sua especial diminuio. Em MARREY, Adriano,SILVA FRANCO,

    Alberto e STOCO, Rui. Teoria e prtica do Jri, 7 ed., So Paulo: EditoraRevista dos

    Tribunais, 2000, p. 512. (Os destaques em negrito e itlico so meus).

    (2)

    Em MARREY, Adriano et alii, ob. cit., p. 521). (Os destaques em negrito eitlico so

    meus).

    (3)

    Tribunal do Jri Estudo sobre a mais democrtica instituio jurdica

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    brasileira,

    So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 211.

    (4)

    Ob. cit., p. 212. Os destaques em itlico so do original.

    (5)

    FRANCO, Ary Azevedo. O Jri e a Constituio de 1946 - Comentrios Lei n.

    263, de 23 de fevereiro de 1948, ed. Livraria Freitas Bastos S/A, RJ, 1950, p.163.

    (6)

    Tribunal do Jri - contradies e solues, Rio de Janeiro: Editora Forense,1990,

    p. 118. (Os destaques em negrito e itlico so meus). Uma nova edio dessaobra veio a

    pblico pela Saraiva, 1994. Vide, p. 123.

    (7)

    TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal: 3o Volume. 25a ed.

    So

    Paulo: Saraiva, 2003, p. 152. Os destaques em itlico e as reticncias so dooriginal.

    (8)

    RT 719/385.

    (9)

    Os destaques em negrito e it