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I
UM PASSEIO À TERRA PROMETIDA
RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL
Orientador: Dr. Tiago Manuel Tavares de Sousa
João António dos Santos Andrade
Porto, julho de 2013
Relatório de Estágio Profissional apresentado à
Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto com vista à obtenção do 2º ciclo de
Estudos conducente ao grau de Mestre em
Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico
e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de
Março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de
Fevereiro).
II
Ficha de Catalogação
Andrade, J. (2013). Um Passeio à Terra Prometida. Relatório de Estágio
Profissional. Porto: J. Andrade. Relatório de Estágio Profissionalizante para a
obtenção do grau de Mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e
Secundário, apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA, FORMAÇÃO INICIAL, DESPORTO, INDISCIPLINA
III
DEDICATÓRIAS
Dedico este relatório, bem como todo o meu ensino superior, secundário e
básico às pessoas que me apoiaram em todas as minhas decisões, mesmo
quando erradas, aquelas pessoas que acreditaram em mim, quando já
ninguém acreditava, aquelas pessoas que me levantaram, quando tudo à
minha volta parecia estar acabado, aquelas pessoas que me orientaram,
quando nada fazia sentido, aquelas pessoas que souberam iluminar o meu
caminho, quando o preto era a única cor observada, aquelas pessoas que
apenas lhes tenho a agradecer e as quais me orgulho de dizer que sãoF
1os meus PAIS
Dedico também ao meu grande amigo e companheiro de vidaF
Irmão Tiago
Dedico ainda àquela pequena grande rapariga sempre amadaF
Irmã Ana Carolina
V
AGRADECIMENTOS
Nunca teria sido possível elaborar um documento como este sem que
tivesse a colaboração e a compreensão de outas pessoas, que direta ou
indiretamente influenciaram todo este trabalho realizado, e às quais quero
agradecer.
Primeiramente, aos meus pais e irmãos por me terem possibilitado
vivenciar todas estas experiências magníficas no decorrer do meu ensino
superior. Por toda a sua paciência, dedicação e compreensão demonstrada,
não só durante esta fase, mas sim durante toda a minha vida, e acima de tudo,
por terem sempre acreditado em mim e nas minhas capacidades.
Ao professor orientador Tiago Sousa pela sua exigência pessoal bem
como pelo apoio e orientação dada durante todo este ano, e também pela sua
grande entrega pessoal na construção e desenvolvimento deste documento.
Ao professor cooperante Avelino Azevedo pela sua disponibilidade,
atenção e compreensão por todo o trabalho que fui desenvolvendo ao longo do
ano, bem como o grande à-vontade que me colocou desde o primeiro dia na
escola e pela autonomia e confiança que me disponibilizou para a lecionação
das aulas.
A toda a comunidade escolar da escola secundária de Oliveira do Douro,
onde realizei o meu estágio, desde as funcionárias do bar e da cantina até aos
professores da direção, pela forma como me acolheram e tratou durante todo o
ano, sobretudo aos professores Braga, Garcez, Joca, Marta, Serafim e Xico e
aos funcionários José e Margarida, por me terem proporcionado ótimos
momentos que se repercutiram nas minhas enormes aprendizagens deste ano.
Aos meus colegas de estágio Élio Pereira e Daniela Gomes por me
terem proporcionado um ano de estágio maravilhoso cheio de alegrias e
momentos bem passados. A eles, que os considero não como colegas, mas
sim como grandes amigos e que os transportarei para onde quer que vá, devo
grande parte do meu desenvolvimento profissional através das conversas,
discussões e brincadeiras ao longo deste ano.
A todos os meus colegas da Faculdade, sobretudo ao Açores, Cunha,
Silva, bem como a todos os elementos da minha turma da Licenciatura, e todos
VI
aqueles que fizeram parte da fantástica turma B do Mestrado de Ensino, onde
me inseri, pela grande amizades e colaboração, assim como por todos os
momentos, experiências e vivências que me proporcionaram ao longo deste
percurso estudantil.
Aos meus grandes e inesquecíveis amigos Castor, Cristiano, David,
Filipa, Mota, Paulo, Ricardo Silva, Rita pela sua grande amizade demonstrada,
por todo o apoio em todas as minhas decisões e por terem sempre acreditado
em mim em todos os momentos da minha vida, tanto positivos como negativos.
A todos os meus colegas e professores do Ensino Secundário pela sua
grande amizade e lealdade demonstrada e com os quais vivenciei momentos
inesquecíveis.
A todos eles, o meu muito obrigado por fazerem parte da minha vida.
VII
ÍNDICE GERAL
DEDICATÓRIAS ................................................................................................ III
AGRADECIMENTOS .......................................................................................... V
ÍNDICE GERAL ................................................................................................ VII
ÍNDICE DE QUADROS ..................................................................................... IX
RESUMO ........................................................................................................... XI
ABSTRACT ..................................................................................................... XIII
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................ XV
1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 1
2. DIMENSÃO PESSOAL ................................................................................... 5
3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA .............................................................. 15
3.1. Importância do Estágio Profissional ....................................................... 17
3.2. Escola do Estágio Profissional ............................................................... 18
3.3. Núcleo do Estágio Profissional ............................................................... 20
3.4. Turma do Estágio Profissional ................................................................ 21
4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA ........................................................................ 27
4.1. Área I – Organização e Gestão do Processo Ensino-Aprendizagem ..... 29
4.1.1. Conceção ......................................................................................... 29
4.1.2. Planeamento .................................................................................... 31
4.1.3. Realização ....................................................................................... 38
4.1.4. Avaliação.......................................................................................... 56
4.2. Área II e III – Participação na escola e relações com a comunidade ..... 61
4.2.1. Atividades de complemento curricular ............................................. 61
4.2.2. Ateliê de EF ...................................................................................... 63
4.2.3. Desporto Escolar .............................................................................. 66
4.2.4. Direção de turma .............................................................................. 67
4.3. Área IV – Desenvolvimento profissional ................................................. 71
4.3.1. Como aprender? .............................................................................. 71
4.3.2. Projeto de investigação-ação ........................................................... 73
5. CONCLUSÃO ............................................................................................... 93
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 97
IX
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Descrição dos comportamentos de indisciplina por parte dos alunos no momento inicial.
Quadro 2 - Descrição dos comportamentos do professor face aos comportamentos dos alunos no momento inicial.
Quadro 3 – Estratégias de intervenção/remediação aplicadas do momento inicial até ao momento intermédio.
Quadro 4 – Descrição dos comportamentos de indisciplina por parte dos alunos no momento intermédio.
Quadro 5 – Descrição dos comportamentos do professor face aos comportamentos dos alunos no momento intermédio.
Quadro 6 – Estratégias de intervenção/remediação aplicadas do momento inicial até ao momento final.
Quadro 7 – Descrição dos comportamentos de indisciplina por parte dos alunos no momento final.
Quadro 8 – Descrição dos comportamentos do professor face aos comportamentos dos alunos no momento final
Quadro 9 – Número de ocorrências, tempo despendido e tempo aproveitado entre os três momentos de gravações
XI
RESUMO
Este documento relata um breve passeio, proporcionado a um estagiário, à
terra prometida para desempenhar as suas funções de professor, onde foram
vivenciadas diversas aventuras, através dos vários trilhos percorridos. Ao longo
desta caminhada foram-se encontrando vários obstáculos, uns mais árduos
que outros, o que desenvolveu um esforço extra de modo a que estes fossem
ultrapassados, sempre com uma boa supervisão orientadora. O passeio por
parte do estagiário decorreu na Escola Secundária de Oliveira do Douro, onde
ele pôde ter contacto e conviver com muitos dos residentes desta terra
prometida. Durante esta viagem, foi proposto ao estagiário um grande desafio,
o de guiar uma turma do 9º ano de escolaridade nas aulas de Educação Física.
Ao longo desta jornada a maior dificuldade sentida foi a indisciplina
apresentada por esta turma. Esta situação levou a que se gerassem alguns
sentimentos de revolta e desânimo por parte do estagiário devido a não saber o
que fazer para contornar este obstáculo. Contudo, foram nestes momentos
mais difíceis que se evidenciaram os acompanhantes de viagem, bem como a
supervisão, tornando-o num ser mais forte e capaz de superar os seus
obstáculos de forma autónoma. Para atingir estes objetivos, o estagiário teve
que desenvolver as suas capacidades de forma a conseguir integrar a tão
desejada terra prometida, cumprindo com os objetivos que esta lhe propunha.
Eis então que chega o término deste passeio pela terra prometida, e com ele
advêm novos sentimentos, nomeadamente o de angústia, devido ao facto de o
ingresso numa terra prometida, por parte do estagiário, ainda não passar de
um sonho de criança.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA, FORMAÇÃO INICIAL, DESPORTO, INDISCIPLINA
XIII
ABSTRACT
This document describes a short journey provided to an intern towards the
promised land in order to perform is role as a teacher where various adventures
were experienced through several traversed paths. Throughout this journey
many obstacles were found, some tougher than the others which required an
effort development in order to be overcome, always with a good supervised
guidance. The journey took place at the Oliveira do Douro Secondary School,
were he was able to communicate and cohabit with the promised land
residents. During this trip it was proposed a big challenge to the trainee, the
challenge of guiding a 9th grade class in lessons of Physical Education.
Throughout this journey the greatest difficulty experienced was the indiscipline
of the class. This situation bred some feelings of revolt and dismay in the
trainee who did not know how to circumvent this obstacle. However, these hard
moments were the ones who highlighted his journey companions as well as the
supervision, making the trainee become stronger and capable of overcoming
his obstacles autonomously. To achieve these objectives, the trainee had to
improve his capabilities so that he could take part in the so desired promised
land, fulfilling the goals that it threw at him. Then comes the end of the journey
through the promised land which brought new feelings, namely anguish, due to
the fact that it is still nothing but a child's dream to make it to such a land.
KEYWORDS: PRACTICUM TRAINING, PHYSICAL EDUCATION, INITIAL TEACHER EDUCATION, SPORT, INDISCIPLINE
XV
LISTA DE ABREVIATURAS
AC – Avaliação Contínua
AD – Avaliação Diagnóstica
AF – Avaliação Formativa
AS – Avaliação Sumativa
DE – Desporto Escolar
DT – Diretor(a) de Turma
EF – Educação Física
EP – Estágio Profissional
ESOD – Escola Secundária de Oliveira do Douro
FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
MD – Modelo Desenvolvimental
MED – Modelo de Educação Desportiva
MID – Modelo de Instrução Direta
PIT – Plano Individual de Trabalho
PPES – Programa Promoção e Educação para a Saúde
UT – Unidade Temática
ZSAF – Zona Saudável de Aptidão Física
3
O presente relatório foi elaborado no âmbito da unidade curricular de
Estágio Profissional (EP) do 2º ciclo de estudos, conducente ao grau de Mestre
em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto.
Pode-se adiantar que a formação de um docente divide-se em duas
grandes etapas, que são elas a formação inicial e a formação contínua. A
formação inicial é o processo onde o professor, enquanto aluno e através de
meios formais ou informais, recebe um vasto leque de conhecimentos que, ao
longo desta fase, o vão amadurecendo na arte do ensinar, para que quando
ocorra a esperada transição do “ser aluno” para o “ser professor”, este tenha o
menor impacto possível, de modo a nunca perder a motivação que o levou a
chegar até tão longe. É nesta fase que eu me encontro, na fase terminal da
minha formação inicial, à espera da possibilidade de poder iniciar a etapa da
formação contínua. Será nesta fase de formação que o professor se irá tornar
realmente sábio e mestre da arte do ensinar.
Com tudo isto, porque não ter a sorte de poder “passear” pelo “paraíso”
dos docentes, e experimentar durante algum tempo as suas vidas, mesmo
ainda durante a formação inicial? É neste sentido que o EP se encaixa e
enriquece toda esta formação inicial, onde a prática ilumina todas as ideias
criadas durante a receção da teoria, dando-lhes o merecido valor, que até ao
momento por vezes foi descolorado.
De modo a guiar o aluno/professor no decorrer do seu EP, tonando-o
num ser mais forte e consciente dos seus atos, este conta com a presença de
dois elementos-chave, que são os designados professor cooperante e o
professor orientador. O primeiro é a chave que abre a porta para todas as
vivências práticas, que guia e faz descobrir o “paraíso” de qualquer um que
ambicione ser docente, a escola. Já o segundo é a chave que abre a porta da
mestria, procurando fazer com que o aluno/professor raciocine e reflita acerca
de toda essa prática e que aprenda ao máximo com a mesma, de modo a que
futuramente, e após a transição do “ser aluno” para o “ser professor”, o novo
docente consiga pensar por si mesmo, ambicionando cada vez mais,
explorando então a nova fase em que se encontra. Será nesta fase que o
4
professor criará, sustentará e enrijecerá as suas próprias conceções,
procurando a excelência.
Posto isto, neste documento, contarei algumas das inúmeras memórias
de experiências, alegrias e angústias que fui vivenciando ao longo do meu
“passeio pelo paraíso”. A sua estrutura será decomposta em 5 capítulos
fundamentais, que são eles: (1) Introdução; (2) Dimensão Pessoal, no qual
me descrevo e apresento o percurso da minha vida, expectativas, dúvidas e
receios relacionadas com esta etapa formativa; (3) Enquadramento da
Prática, no qual descrevo o contexto em que a prática pedagógica se
desenvolve, bem como a influência desse mesmo contexto na realização da
prática pedagógica; (4) Realização da prática, onde descrevo, de forma
reflexiva, toda a prática desenvolvida, atribuindo especial relevância Projeto de
Investigação/Ação desenvolvido ao longo do ano letivo; (5) Conclusões, no
qual apresentado as conclusões de todas estas vivências celestiais, bem como
as perspetivas de novos horizontes profissionais e pessoais.
7
O meu nome é João António dos Santos Andrade, nasci a 6 de Junho de
1990 e sou natural do concelho da Guarda. Realizei todo o meu ensino, desde
a pré-primária até ao ensino secundário, nesta cidade, fazendo depois o ensino
superior na cidade do Porto.
Desde a minha infância que sou um grande adepto da prática
desportiva, nomeadamente do futebol. Este gosto levou a que os meus pais me
inscrevessem num clube de futebol, quando tinha apenas 6 anos de idade.
Neste Clube passei quase todo o meu processo de formação, chamado Núcleo
Desportivo e Social da Guarda.
Com o ingresso no ensino básico, a minha autonomia e
responsabilidade aumentaram significativamente, pois comecei a ir a pé para a
escola com os meus amigos, um percurso com cerca de 2 km.
Todos os dias esperava ansiosamente o toque de saída da escola para
poder ir para o campo de futebol com os meus amigos jogar à bola antes de ir
para casa. Desenvolvi uma forte ligação com este espaço desportivo, dado que
passava muito tempo nele, não só a praticar desporto, mas também no
convívio com os amigos.
Durante todos estes anos de ensino básico senti uma forte ligação com
a disciplina de Educação Física (EF) e com os respetivos docentes, pois com
todos eles me identifiquei, olhando para eles e sentindo que um dia gostaria de
ser como eles. Penso que esta ligação para com estes professores se deveu
ao facto de todos eles serem pessoas muito dinâmicas, ativas e bem-dispostas,
que seria o tipo de pessoa que gostaria de ser, e na qual me estou a tornar.
Com o término do ensino básico veio uma opção difícil na minha vida,
que foi a de escolher um caminho a seguir no ensino secundário, para a minha
vida futura. Esta decisão aparentemente poderia ter sido facilitada, caso não
tivesse os amigos de um lado e o desporto no outro, dado que a maioria destes
meus amigos já tinham decidido ir para uma escola, e o desporto apenas seria
possível se fosse para uma escola diferente. Inicialmente decidi ficar perto das
amizades, mas com o auxílio dos meus pais e com todo o apoio e
compreensão por parte dos amigos, optei pelo desporto, que se veio a afirmar
na decisão mais correta, pois o facto de estarmos em escolas diferentes, nunca
8
foi uma barreira para deixarmos de ser os amigos de infância. Esta situação
mostrou-me que devemos seguir sempre os nossos sonhos, e que se as
nossas amizades são realmente fortes e verdadeiras, teremos todo o apoio
delas, não havendo barreira que nos separe.
Ingressei então no Curso Tecnológico de Desporto na Escola
Secundária Afonso de Albuquerque na Guarda, onde descobri novos caminhos
através do desporto, não só como praticante, mas também como árbitro, juiz e
organizador. Estas novas vivências mostraram-me que o desporto não é só a
prática em si, e que este pode ser igualmente divertido e autêntico, aquando a
adoção de novos papéis inerentes a ele.
Durante o ensino secundário, o sentimento de um dia poder ser
professor de EF foi aumentando, muito por culpa dos meus professores neste
curso. Assim como no ensino básico senti um grande desejo de ser como os
professores de EF que me lecionaram aulas durante todo o secundário, pois
via neles a pessoa que sempre sonhava ser.
Com eles aprendi a ser, onde me colocaram em diversas situações às
quais deveria ser eu a procurar uma resposta e situações onde teria que tomar
decisões por mim. Estas situações foram de decidir se queria fazer formações
de árbitros/juízes que me poderiam levar a novas vivências desportivas até ao
planeamento da organização de um corta-mato. Penso que tudo isto me foi
tornando cada vez mais responsável e autónomo, á medida que os três anos
do Curso de Desporto iam passando.
No último ano de ensino secundário tive ainda a possibilidade de
estagiar numa entidade desportiva. Este estágio foi realizado nas Piscinas
Municipais da Guarda, juntamente com outro colega. Foi num dia deste estágio
que tive a minha primeira experiência de leccionamento de aulas a crianças e
jovens, que neste caso foi de natação.
Esta experiência teve um grande e positivo impacto para mim na minha
decisão de querer ser professor, pois apesar dos alunos da turma à qual
lecionei a minha primeira aula terem cerca de 5 anos de idade, adorei a
experiência de trabalhar com eles e de sentir que estava a ensinar algo a
alguém. Contudo, inicialmente tive algum receio de estar à frente destes alunos
9
tentando fazer com que eles chegassem a um conhecimento que a mim me
parecia desconhecido, levando-me a aprofundar o conhecimento desta matéria,
deixando um pouco de parte o saber fazer e procurando o conhecimento do
saber ensinar. Na altura tudo parecia estranho e constrangedor, pois pareceu-
me que ainda era muito novo para acarretar com tanta responsabilidade.
Mesmo agora que me encontro na fase final da minha formação inicial, ainda
me faz alguma confusão em “ser professor”, pois sinto que ainda tenho muito
que aprender para um dia poder cativar os meus alunos a virem a ser como eu.
Penso que apenas com a prática e experiência na docência poderei alcançar
este meu pretendido objetivo.
Chegando ao final do ensino secundário, decidi prosseguir estudos na
área do desporto. Todos os meus professores de EF do secundário
enumeraram a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP),
como a melhor instituição para prosseguir estudos nesta área. Contudo,
alertaram-me também para a alta média de entrada na instituição.
O ingresso no ensino superior foi-me facilitado, por ter concluído o
Ensino Secundário com distinção do melhor aluno dos cursos tecnológicos,
com uma média de 16,3 valores, e uma nota de 18,7 valores no exame
nacional de Matemática.
Estas classificações deixaram-me com uma média de 17,5 valores para
concurso a nível nacional, o que me deixou com grandes esperanças de
conseguir ingressar na FADEUP.
Para o concurso ao ensino superior tive todo o apoio dos meus pais, que
me permitiram ir estudar para fora da minha cidade natal. Este facto foi
preponderante, pois foi através dele que tive todas as barreiras ultrapassadas
para poder concorrer à FADEUP.
Aquando os resultados do concurso ao ensino superior obtive a melhor
resposta possível logo na primeira fase, que foi a de ter conseguido entrar na
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. O ingresso na FADEUP foi
algo que inicialmente me custou muito, não só devido ao facto de estar longe
da família e dos amigos que cresceram comigo, mas também devido a ir
sozinho para uma cidade totalmente desconhecida.
10
Apesar desta grande dificuldade inicial, ter ingressado da FADEUP foi
algo que me fascinou imenso, pois conheci inúmeras pessoas de diferentes
locais, e também porque a minha mentalidade se abriu a novas áreas,
nomeadamente à área do exercício ligado à saúde.
No decorrer dos três anos de licenciatura fui aluno de uns professores
melhores que outros, contudo penso que a grande parte dos professores desta
faculdade, assim como as instalações desportivas, fazem dela tudo o que eu
tinha especulado, a melhor faculdade de desporto do país.
Durante a licenciatura, segui a opção «Metodologia de Exercício e
Saúde», que me proporcionou experiências muito boas, pelas quais desenvolvi
um grande gosto. Nesta metodologia, e no último ano de licenciatura, estive
juntamente com mais três colegas, responsáveis por lecionar as aulas do
projeto ACORDA (Adolescentes e Crianças Obesas em Regime de Dieta e
Atividade Física), que se realizaram na nossa FADEUP e na Escola Secundária
de Valongo.
Esta foi outra experiência no leccionamento de aulas a crianças e
jovens, que durou dois semestres, e que continuou a alimentar o meu desejo
de um dia ser um docente de Educação Física. Durante estas aulas senti-me
muito mais capaz de ensinar do que na primeira aula lecionada ainda no
secundário. Nelas fui ganhando mais autoconfiança e segurança em mim
mesmo, não só devido à minha formação obtida até ao momento, mas também
à maturação que fui desenvolvendo. Nestas aulas consegui perder o medo e
receio de liderar um grupo sozinho, ainda que tivesse algum apoio dos meus
colegas.
Após o término da licenciatura e de ter recebido várias negações a todos
os concursos para lecionar atividades extracurriculares em algumas partes do
país, decidi concorrer ao 2º Ciclo de Ensino da Educação Física nos Ensinos
Básico e Secundário da FADEUP. A este concurso consegui obter uma
resposta positiva. Ao longo deste mestrado fui adquirindo cada vez mais
material e conhecimentos acerca de como ser um bom profissional do
Desporto, nomeadamente, como ser um bom professor de EF.
11
Eis então que surge o estágio profissional, uma das mais esperadas
fases de formação desde o ingresso na licenciatura, pois seria a fase que mais
se aproximaria do grande sonho de ser um professor de EF, pois “partimos do
pressuposto de que a Prática de Ensino/Estágio Curricular Supervisionado é
um retrato vivo da prática docente e de que o professor-aluno tem muito a
dizer, a ensinar, expressando sua realidade&” (Ilha, Krug, Krug, 2009, p. 87), e
foi assim que me senti, a vivenciar um retrato daquilo que quero ser, onde
penso ter ensinado e tenho a certeza de que aprendi, não só com os alunos,
mas também com o supervisionamento dos professores orientador e
cooperante e com outros professores de EF.
Antes de iniciar o ano letivo, criei desde logo as minhas expetativas para
o ano de estágio, que foram elevadas, dado que teria a oportunidade de
vivenciar a vida que sempre quis ter. Com este Estágio Profissional esperava
poder superar todos os meus medos em relação ao ensino, para que pudesse
tornar num melhor professor. Agora que tudo terminou, vejo sucesso neste
ano, dado que consegui alcançar estes objetivos, apesar de saber também que
deverei estender o meu conhecimento na área da docência e da EF para que
possa estar em constante evolução.
Expectava que poderia errar um pouco, pois teria um professor
cooperante, com o qual deveria estabelecer uma boa relação de confiança, que
me orientaria, para que esses erros não tornassem a acontecer, para quando
estivesse por minha conta no mundo de trabalho, os erros aparecessem em
menor número possível.
Perim et al. (2001) (cit. por Ilha, Krug e Krug, 2009) afirmam que os
melhores momentos da experiência docente dos professores-estagiários de EF
ocorrem após a passagem da fase inicial de “crise de realidade”, quando
aparece a prevalência da descoberta do “ser professor” sobre a angústia do
enfrentamento da realidade. A “crise de realidade” que obtive passou por essa
descoberta do “ser professor”, pois um dia era aluno e no outro já era
professor, e essas ideias deixaram-me algo confuso, mas com o passar do
tempo consegui organizar, na minha cabeça, os diferentes papéis que
desempenhei. O choque com a realidade não foi mais grave dado à boa
12
preparação que tive na minha formação, nomeadamente no primeiro ano de
mestrado. Durante este primeiro ano, obtive experiências muito parecidas às
que obtive durante o estágio profissional, onde a diferença foi que as aulas, no
primeiro ano, eram lecionadas por grupos e durante este ano fui apenas eu e
uma turma durante todo o ano.
Constatei que durante o estágio tive uma enorme autonomia na decisão
das matérias a abordar em cada período. Contudo, com esta autonomia veio
também a responsabilidade de seguir tudo aquilo a que me propus, apesar de
no último período ter tido a liberdade de prolongar a matérias de futebol, para
que pudesse operacionalizar melhor o modelo de educação desportiva,
proporcionando experiências desportivas autênticas aos alunos.
Para este estágio profissional, o meu maior receio era ficar responsável
por uma turma de alunos mal comportados e indisciplinados, pois como sou
uma pessoa tímida e benevolente, ser-me-ia difícil lidar com a situação. Este
receio tornou-se numa realidade para mim, pois a turma pela qual estive
responsável não era a que melhor comportamento mostrava.
Fico contente por o meu maior receio ter acontecido neste ano de
estágio, pois como estive acompanhado e supervisionado por um professor
cooperante e um professor orientador capacitados a ajudar-me bastante, este
meu medo foi enfrentado e ultrapassado. Inicialmente, este receio atormentou
um pouco o meu estágio e o meu sono, deixando-me muitas vezes a pensar de
como poderia ter controlo nesta turma, levando os alunos a realizar os
exercícios que eu lhes proponha. Recorri aos meus professores supervisores, e
com eles aprendi a por de parte os sentimentos de querer agradar a todos e a
impor-me mais nas aulas, não adotando uma postura muito autoritária, mas
sim, uma postura de quase negociador com os alunos, recompensando os
alunos aquando a realização correta dos exercícios e penalizando-os aquando
os seus comportamentos inapropriados.
Esta foi uma estratégia inicial que adotei nas aulas que lecionei, mas
senti que não era o suficiente, e foi daí que surgiu a ideia de realizar o meu
projeto de investigação-ação em torno do comportamento problemático da
turma, onde juntamente com os professores supervisores foram criadas
13
estratégias de intervenção/remediação sobre os comportamentos de
indisciplina ou inapropriados nas aulas. Foi com este projeto que senti uma
melhoria significativa no tempo despendido em chamar os alunos à atenção e
em controlar a turma, projeto esse que falarei mais à frente.
No final, penso que a turma pela qual estive responsável melhorou
bastante o seu comportamento, o que me deixa feliz, pois consegui a sua
confiança e respeito sem ter que adotar uma postura muito autoritária, com a
qual não me identifico. Porém, houve dias, já depois de todo o projeto de
investigação-ação, em que senti imensa dificuldade em controlar de novo a
turma, principalmente nas aulas de sextas-feiras, onde os alunos apareciam
muito ativos e demoravam um pouco a iniciar a aula em si.
Penso ter conseguido aplicar bem os conhecimentos que fui adquirindo
durante todo o meu processo de formação, desde a Fisiologia do primeiro ano
da Licenciatura até às didáticas específicas do primeiro ano deste Mestrado.
De todas as matérias que abordei ao longo deste ano, penso ter
conseguido lecioná-las bem, apesar de umas terem requerido mais estudo
prévio do que outras para que conseguisse levar para a aula a matéria
devidamente dominada para poder responder às questões e dúvidas dos
alunos.
No final de tudo penso que cada segundo “perdido” a trabalhar durante
este ano, foi recompensado com experiências e vivências muito positivas e que
um dia me ajudarão a superar todos os obstáculos que poderei encontrar,
podendo alcançar o sucesso.
Á medida que o tempo vai passando sinto-me cada vez mais contente,
por estar perto de realizar o meu sonho, mas ao mesmo tempo sinto-me triste
por estar longe desse sonho, pois olhando para a situação em geral dos
professores de Educação Física, sinto que ainda terei que esperar muito tempo
para poder ser professor numa escola em Portugal. Apesar dessa situação
desagradável, penso que o meu futuro poderá passar por outro lado que não o
meu País. Espero apenas conseguir realizar o meu sonho, e se não for
possível nas minhas origens, será em outra parte do planeta.
17
3.1. Importância do Estágio Profissional
O Estágio Profissional (EP), como momento final da formação inicial do
professor, encontra-se devidamente regulamentado na legislação portuguesa
relativa à Habilitação Profissional para a Docência.
O Decreto-lei nº 43/2007 – 22 de Fevereiro (Artigo 17.º), publicado em
Diário da República rege a forma como o Estágio Profissional deve ser
conduzido e define as condições necessárias à obtenção de habilitação
profissional para a docência num determinado domínio determinando, ao
mesmo tempo, que a posse deste título constitui condição indispensável para o
desempenho docente, nos ensinos público, particular e cooperativo e nas áreas
curriculares ou disciplinas abrangidas por esse domínio.
“O EP visa a integração no exercício da vida profissional de forma
progressiva e orientada, através da prática de ensino supervisionada em
contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam
nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder
aos desafios e exigências da profissão.” (Matos, 2012, p.31).
O ano de Estágio Profissional foi um ano de contacto com a minha
profissão de eleição, que me preparou para poder atuar no terreno sozinho e
com as melhores bases e condições.
Penso que o EP é uma fase essencial na formação de docentes, dado
que o estagiário tem um enorme apoio de toda a comunidade escolar assim
como dos professores que o rodeiam, com especial destaque para os
professores cooperante e orientador, que supervisionam a prática do professor-
estagiário. É também uma fase crítica onde o estagiário coloca em prática
todos os conhecimentos que veio adquirindo durante os seus anos de
formação inicial e que lhe permite adquirir estratégias para desenvolver as suas
potencialidades individuais na prática como docente.
Relativamente à supervisão de professores, Alarcão e Tavares (2003)
mencionam que esta parte do princípio de que um professor mais experiente
1 “Normas Orientadoras do Estágio Profissional” é um documento interno elaborado
pela Doutora Zélia Matos para a unidade curricular Estágio Profissional da FADEUP, ano letivo 2012-13.
18
orienta um outro professor ou candidato a professor, no seu desenvolvimento
pessoal e profissional. Os mesmos autores rederem que o processo de
supervisão tem a mesma estrutura de qualquer outro processo de
ensino/aprendizagem, onde o desenvolvimento, a docência, o ensino e a
aprendizagem encontram-se todos interligados. Estes autores mencionam que
a principal tarefa do professor-estagiário durante a supervisão pedagógica é a
de que ele deve desenvolver-se e aprender, para poder ensinar a aprender e
ajudar a desenvolver os alunos.
“Consideramos o supervisor como alguém, com mais experiência e com
conhecimentos mais consolidados, claros e refletidos sobre situações,
dificuldades e problemas semelhantes, que é antes de mais um colega, um
profissional que adota uma relação adulta de acolhimento, ajuda e formação
numa relação dialogante&” (Alarcão & Tavares, 2003, p.58).
“Assim, o supervisor/orientador de estágio será encarado como o
promotor de estratégias que irão desenvolver nos futuros professores o desejo
de refletirem e, através da reflexão, a vontade de se desenvolverem em
continuum” (Amaral, Moreira e Ribeiro, 1996, cit. por Rodrigues, 2009 p.91).
Amaral et al.(1996) mencionam que os professores devem ser agentes
ativos do seu próprio desenvolvimento e do funcionamento das escolas como
organização na formação dos educandos.
3.2. Escola do Estágio Profissional
O meu Estágio Profissional do ano letivo transato decorreu na Escola
Secundária de Oliveira do Douro (ESOD), que se insere no Agrupamento de
Escolas de Oliveira do Douro. Esta escola está localizada na freguesia de
Oliveira do Douro, que por sua vez se insere no concelho de Vila Nova de
Gaia, distrito do Porto.
A ESOD, situada na Rua do Freixieiro, e juntamente com as escolas de
Avintes e de Vilar de Andorinho, formam desde o ano letivo 2012/2013 este
novo agrupamento de escolas, sendo a ESOD a sede do mesmo.
A freguesia de Oliveira do Douro é contornada pelo rio Douro e avizinha-
se com as freguesias de Avintes e de Vilar de Andorinho. Em Oliveira do Douro
19
existem vários clubes para a prática de desporto federado, nomeadamente um
clube de Basquetebol (Grupo Desportivo BolaCesto) e dois de Futebol (Clube
de Futebol de Oliveira do Douro e o Atlético Clube de Gervide).
A ESOD possui dois edifícios destinados às atividades letivas dos
alunos, com salas de aula específicas para cada disciplina, entre elas de artes
e de informática, e é de realçar a grande quantidade e a boa conservação do
equipamento informático existente nas salas destinadas a estas aulas. Num
destes edifícios fica situada uma biblioteca que oferece várias atividades aos
alunos, para além da grande variação de livros existentes. Existe ainda uma
sala de aula destinada para o curso de restauração, onde muitas vezes são
serviços pequenos-almoços e almoços, pelos alunos deste curso, para
professores e funcionários da escola. A ESOD possui ainda um edifício central
onde se encontra o salão de convívio, o bar, a cantina, a secretaria e os órgãos
de gestão.
Relativamente às instalações desportivas desta escola, existe um
pavilhão gimnodesportivo, um campo desportivo exterior sintético com as
medidas para a prática de futebol de 7, inaugurado em 2009, um campo
desportivo no exterior de alcatrão, 3 pistas de atletismo (± 40metros) com uma
caixa de areia destinada às aulas de salto em comprimento, e ainda dois
campos de basquetebol 3x3.
Foi preocupação da escola manter estes espaços em boas condições
durante todo o ano, pois no decorrer deste ano letivo, foram remodeladas as
balizas do campo de alcatrão que se encontravam muito desgastadas no início
do ano, dado à grande utilização das mesmas por parte dos alunos. Foram
também remodelados os cestos de basquetebol do pavilhão desportivo que
mostravam alguns indícios de degradamento. Contudo, e visto que a
modalidade dos lançamentos integrava o programa da matéria de atletismo, a
abordar neste ano transato, poderia haver um espaço destinado a este efeito,
de forma a não por em causa a preservação das restantes infraestruturas.
Quanto ao material desportivo que a ESOD possuía para a prática das
diferentes matérias, penso que este estava adequado às necessidades de cada
20
turma, em quantidade e qualidade, dado que nunca me faltou nenhum material
para o ensino das habilidades motoras de cada matéria.
Relativamente ao horário de funcionamento letivo da escola ocorre entre
as 8 horas e 15 minutos até às 18 horas e 25 minutos. Contudo, a ESOD
encontra-se aberta entre as 8 horas e as 24 horas, pois tanto o pavilhão
desportivo como o campo sintético encontram-se disponíveis para aluguer a
quem pretender realizar a sua prática desportiva.
3.3. Núcleo do Estágio Profissional
“Unir-se é um bom começo, manter a união é um progresso, e trabalhar
em conjunto é a vitória” (Henry Ford)
Relativamente ao núcleo de estágio onde fiquei inserido, penso que foi
algo muito positivo durante este ano. Foi um grupo que desde o primeiro
contacto desenvolveu uma ótima relação de amizade, cooperação e
entreajuda.
O facto de ter tido ótimos colegas de estágio, tornou todo este ano mais
simples, pois mesmo sabendo que este ano seria de imenso trabalho, os meus
colegas ajudaram-me em muitas das minhas dificuldades, assim como eu os
tentei ajudar nas suas.
Quanto à orientação recebida ao longo deste ano de estágio, os
professores, orientador e cooperante, mostraram-se exigentes, mas muito
compreensíveis para com as dificuldades individuais de cada um de nós. A
constante interação entre estes dois professores assegurou um ótimo clima de
aprendizagem tanto para mim como para os meus colegas, que tivemos
sempre todo o apoio, quando necessário.
Desde o primeiro momento na escola que o professor cooperante nos
colocou muito à-vontade com toda escola, nomeadamente com alguns
professores e funcionários, que se mostraram disponíveis para atender às
nossas dificuldades.
21
3.4. Turma do Estágio Profissional
No decorrer deste ano de estágio profissional, tive a oportunidade de
puder lecionar aulas de Educação Física (EF) a mais do que uma turma,
aumentando o meu contacto com as tarefas de docente. No início do ano foram
distribuídas as turmas do 9º ano de escolaridade pelos elementos do nosso
grupo de estágio, e em seguida o professor cooperante propôs que
lecionássemos também aulas a mais duas turmas do 7º ano de escolaridade. A
proposta foi aceite pois apesar de ser uma tarefa que proporcionaria mais
tempo de trabalho e dedicação, tanto eu como os meus colegas de estágio
percebemos de que seria uma mais-valia na nossa formação, dado que
poderíamos ter contacto com mais alunos de diferentes escalões etários. Posto
isto, cada um de nós lecionou um período a cada uma das duas turmas do 7º
ano de escolaridade.
A turma pela qual fiquei responsável por lecionar as aulas de Educação
Física (EF) deste ano letivo 2012/2013 pertence ao 9º ano de escolaridade.
Esta turma é constituída por um total de 24 alunos, sendo 13 do sexo
masculino e 11 do sexo feminino.
Logo no início do ano, na primeira aula, realizei um inquérito individual
por escrito aos alunos, para que pudesse conhecer melhor a turma com a qual
ia lidar durante este ano letivo. Com os resultados destes inquéritos, foi
possível conhecer um pouco mais de cada aluno, como os seus gostos,
desgostos, atividades extracurriculares, doenças, entre outros.
Esta é uma turma com quase o mesmo número de rapazes e raparigas,.
No que toca à idade dos alunos, nota-se que existem alguns com mais idade
do que seria normal para a frequentação do 9º ano de escolaridade. Este facto
deve-se á causa de 11 destes alunos serem repetentes pelo menos uma vez, o
que torna a média de idades desta turma pouco mais de 15 anos de idade.
Segundo Erikson 1968 (cit. por Veríssimo, 2002), nesta idade os adolescentes
encontram-se no estádio transitório da infância para a adolescência, onde esta
é marcada pela crise de identidade que os rodeia. Nesta correlação entre a
infantil e o adulto, o adolescente vivencia inúmeros papéis com os quais se
identifica, procurando criar a sua própria identidade, com base na impressão
22
que esta causa aos outros, procurando ser aceite e tentando-se afirmar no seu
grupo de iguais. Para as aulas de EF este foi um ponto ao qual não dei muita
importância, mas percebo agora o porquê de muitas atitudes por parte dos
alunos em alguns momentos fora das aulas, onde foram adotados
comportamentos algo descontextualizados. Associo agora que estes
comportamentos poderiam estar ligados com o sentimento de os alunos em
causa se quererem assumir perante o seu grupo de amigos, sendo que muitos
deles já eram conhecidos de anos anteriores.
À exceção de 5 alunos, toda a turma já frequentou a ESOD no ano
passado, onde também já eles tiveram a experiência de ter um professor
estagiário de EF. Com base neste facto, deduzi que a turma conhecesse e
aplicasse as regras de bom funcionamento dentro do pavilhão e das salas de
aula. Contudo, e ainda antes de iniciar a lecionar as aulas à turma, foi-me
avisado, pelo professor-estagiário responsável pela turma no ano transato, que
a mesma tinha muitas lacunas em termos de comportamento, tendo sido uma
turma que deu muitos problemas. Com o início do ano letivo apercebi-me de
que muitas das regras não se encontravam consolidadas. Durante este ano a
turma mostrou-se muito melhor, apesar de ainda haver alguns casos de
resistência às regras propostas pelos professores de EF, tendo sido esta uma
constante batalha para mim, onde tentei fazer com que estas regras fossem
cumpridas. Ao longo desta batalha apercebi-me que a autoridade nem sempre
é o meio mais eficaz para conduzir os alunos, pois houve muitos momentos em
que me tive de tornar num negociador para com os alunos de modo a
conseguir levá-los ao caminho correto. Estas estratégias fizeram com que eu
me aproximasse mais dos alunos, tornando-me por vezes como que um amigo,
fazendo com que eles confiassem mais em mim, e com uma relação de maior
confiança mais fácil se tornou em fazer cumprir as regras. Por outro lado,
houve também momentos em que esta confiança excedeu os limites e os
alunos começaram a não saber distinguir os papéis no interior do pavilhão, e
nestas alturas foi preciso utilizar uma postura mais autoritária de forma a
reestabelecer o controlo.
23
“A relação professor-aluno é uma condição indispensável para a
mudança do processo de aprendizagem, pois essa relação dinamiza e dá
sentido ao processo educativo.” (Silva & Navarro, 2012, p.96)
Com base numa boa relação entre mim e os alunos, tentei fazer com
que estes se mostrassem motivados na prática das diferentes atividades
propostas, visando o desenvolvimento e evolução deles.
Através da realização dos questionários iniciais à turma, foi possível
perceber que os alunos se encontravam motivados para a realização das aulas
de EF, e foi da minha preocupação manter, ou até mesmo aumentar, estes
níveis motivacionais através de atividades agradáveis. Segundo Trindade
(2009) a motivação que um aluno tem perante a aprendizagem, condiciona os
resultados escolares, sendo por isso um fator essencial do sucesso e da
qualidade da aprendizagem.
Esta tarefa de motivar os alunos mostrou-se algo difícil, dado à falta de
interesse de muitos alunos em relação a algumas matérias abordadas logo no
início do ano, que foram a ginástica e o atletismo. Durante estas aulas senti
uma dificuldade enorme em conseguir cativar os alunos para a realização
correta das aulas. Esta dificuldade foi tida em conta na escolha do tema para o
meu projeto individual de investigação-ação.
Relativamente às preferências de matérias na disciplina de EF, percebi
que os alunos preferiam o futebol, e no que toca às suas dificuldades, a
ginástica era a sua maior barreira.
Pude ainda constatar que os alunos preferiam as modalidades coletivas
do que as individuais, apesar do grande gosto dos alunos pelo badminton,
matéria onde a ESOD tem conseguido alcançar boas prestações em
campeonatos de Desporto Escolar, incluindo competições nacionais.
Com a análise dos inquéritos, observei que os alunos despendiam a
maioria do seu tempo livre a ver televisão, ouvir música e a conviver com os
amigos, e que nenhum deles usava tempo livre a estudar, o que se repercutiu
nas muitas classificações negativas nos testes sumativos ao longo do ano em
todas as disciplinas, incluindo a EF.
24
Apenas 11 alunos desta turma praticavam atividade física desportiva
para além das aulas de EF. Este foi um aspeto que tentei mudar nestes jovens,
através de experiências positivas que tentei proporcionar em todas as
matérias/modalidades que abordei ao longo deste ano letivo.
Tentei ainda fazer com que alguns deles se inscrevessem no desporto
escolar, mas todos eles preferiam aproveitar as suas tardes livres realizando
outras atividades. Apenas um aluno se mostrou interessado em ingressar no
clube de Basquetebol perto da escola, o que me deixou contente, pois penso
ter conseguido mostrar a este aluno que existem outras modalidades
interessantes para além do futebol.
Através da análise dos dados da altura, do peso e do índice de massa
corporal dos alunos, observei que esta turma não tinha grandes problemas com
a obesidade, e que a maior parte deles encontrava-se com o peso
aconselhável para a sua idade. Contudo houve alguns alunos que não
preencheram os campos da altura e do peso, e que por sua vez eram alunos
com alguns problemas de excesso de peso.
Quanto aos dados médicos e problemas de saúde dos alunos, mostrou-
se que 6 alunos possuíam dificuldades a nível visual, um com dificuldades
auditivas e outro com dificuldades respiratórias. Nove dos alunos já tinham sido
hospitalizados, muitos deles devido a intervenções cirúrgicas. Relativamente a
estas intervenções, houve uma que mereceu especial atenção, o caso de uma
aluna que foi operada ao tornozelo e que apresentou um atestado médico,
onde era referido que a mesma devia cessar a sua prática aquando sentisse
dores no referido pé. Esta condicionante nunca se refletiu durante a aula, mas
sim antes da mesma, onde a aluna antes de iniciar a aula avisa-me
previamente de que naquele dia não ia fazer a prática da aula, ajudando
noutras tarefas da aula ou realizando fichas acerca da matéria a abordar.
Apenas dois dos alunos tomavam medicamentos regularmente, um para
controlar os problemas da tiroide e outro para controlar o apetite.
Quanto aos fatores condicionantes do exercício físico, foram 3 os alunos
identificados com alguma condicionante para as aulas de Educação Física.
Dois deles possuíam asma e um outro tinha escoliose. Quanto à sua
25
prevenção nas aulas, os alunos com asma referiram que em caso de se
suceder uma crise, era precisa a bomba de asma, que estava no seu cacifo no
balneário. Já o aluno com escoliose parava a sua atividade quando sentia
dores mais fortes, que se sucedeu nas aulas de ginástica de aparelhos, matéria
onde não realizou aulas práticas devido às forças excessivas produzidas na
sua coluna vertebral advindas da grande quantidade de saltos executados.
Com um bom grupo de estágio, uma supervisão competente e uma
escola onde todos nos receberam e apoiaram muito bem, considero ter tido ao
meu dispor todas as condições necessárias para desenvolver um bom trabalho
ao longo deste ano de estágio, repleto de inúmeras experiências, umas
melhores que outras, com as quais tentei crescer e desenvolver a minha
competência não só como docente, mas também, e acima de tudo, como
pessoa.
29
Neste capítulo será abordada a prática pedagógica em si, onde constará
tudo quilo que foi feito no âmbito do estágio profissional (EP) com vista à
evolução da minha pessoa enquanto docente.
O tema tratado estará dividido em três grandes partes, correspondendo
elas às quatro áreas de desempenho sobre as quais se realizou todo este EP.
Estas grandes partes serão ainda constituídas por subcapítulos referentes a
temas importantes tratados ao longo deste ano transato, que merecem ser
destacados não só pelo trabalho árduo que proporcionaram, mas sim por
serem fundamentais para o desenvolvimento docente.
4.1. Área I – Organização e Gestão do Processo Ensino-
Aprendizagem
4.1.1. Conceção
Antes de iniciar o estágio profissional, e ainda enquanto estudante do
primeiro ano de mestrado, analisei os programas nacionais de EF e reparei que
estes se encontram algo desajustados à realidade escolar observada na prática
pedagógica. Quando conheci o resultado das colocações para o estágio, voltei
a analisar melhor os programas nacionais do 3º ciclo e do ensino secundário,
dado que estes seriam os ciclos de ensino que me poderiam calhar, pois a
escola onde realizei a minha prática pedagógica este ano é uma escola
secundário que engloba todos os anos de escolaridade entre o 7º e o 12º.
Com a aproximação do início do estágio, já com o conhecimento de que
iria lecionar aulas ao 7º ano e ao 9º ano de escolaridade, e para poder planear
este ano, tive que ler e analisar o projeto curricular de educação física da
Escola Secundária de Oliveira do Douro (ESOD). Através desta análise reparei
que nesta escola, para o 3º ciclo, as matérias nucleares abordadas, estão
distribuídas pelos três anos deste ciclo, sendo abordadas em pelo menos dois
anos, sendo que a única matéria abordada em todos os anos do ciclo é o
futebol. Ainda através da análise deste documento, apercebi-me que o grupo
de EF da ESOD dá imensa importância ao domínio sócio-afetivo (aspetos
psicossociais) dos alunos durante as aulas, o que me pareceu muito apropriado
30
pois cada vez mais me parece, que na nossa sociedade, as crianças e jovens
estão menos controladas e mais protegidas pelos seus pais por diversas
razões. Este fator exprime-se não só mas também na escola, onde os alunos
mostram pouco respeito pelos professores, fazendo por vezes o que bem lhes
apetece, sem ter qualquer receio das consequências dos seus atos, pois
sabem que os pais os defendem mesmo que por vezes não tenham razão.
“Não é a ‘atividade física’ em abstrato que importa recomendar! Ela é
tudo e nada ao mesmo tempo, uma mão cheia de nada e outra de coisa
nenhuma. O que importa fomentar são as múltiplas formas de desporto e
outras criações culturais assentes no movimento humano” (Bento, 2010, p.29)
A disciplina de EF acarreta consigo uma tremenda importância nas
escolas, pois é a única disciplina de eminente prática corporal, é um local onde
os alunos podem correr, saltar, lançar, sem serem punidos. É cada vez mais o
único espaço onde as crianças e jovens têm contacto com as atividades físicas
desportivas, podendo desenvolver algum certo gosto por elas. Cabe então ao
professor saber aproveitar esse espaço da melhor forma com o intuito de
proporcionar às crianças e jovens momentos desportivos únicos através das
diferentes matérias abordadas. Sendo a escola um local de aprendizagem, sem
EF, que outra disciplina iria ensinar aos alunos a importância do exercício
físico? Assim como refere também o professor José Soares no seu site, numa
perspetiva muito vocacionada para a saúde, “que alternativa tem a escola para
combater a epidemia da obesidade e o aumento assustador da diabetes tipo 2
que não seja o exercício e a alimentação? Tratada a alimentação, o que
propõem para o exercício?”
“A Educação Física escolar deve proporcionar um ambiente desafiador,
rico em estimulação motora, desenvolvendo conteúdos que reconheçam a
totalidade do ser humano, realizados por meio de áreas de conhecimento.”
(Piccolo, 2010, p.62).
Relativamente ao Projeto Curricular de EF (PCEF) da ESOD, este
encontra-se fortemente ligado com os Programas Nacionais de EF (PNEF), na
medida em que a ESOD procura abordar as matérias de acordo com o PNEF,
31
de forma a poder responder às necessidades de aprendizagem e
desenvolvimento dos alunos.
Após conhecer mais aprofundadamente o grupo de EF da ESOD, assim
como a grande variedade de atividades que iam ser propostas pelo mesmo
grupo, apercebi-me que esta escola possui uma conceção muito alargada do
desporto, estando ele direcionado para diferentes áreas como a saúde e o alto
rendimento, já que o grupo de EF, juntamente com a escola, organizou uma
semana da saúde, diversas competições desportivas, e dentro destas de
realçar o Compal Air, que contou com a presença de um treinador famoso, de
uma equipa da primeira liga portuguesa de basquetebol, entre outras atividades
promotoras de uma interação entre toda a comunidade escolar.
Fiquei surpreendido com a grande importância que esta escola
proporcionou à EF, pois aquando a realização das atividades propostas pelo
grupo de EF, mais nenhuma outra disciplina tinha lugar ao mesmo tempo,
fazendo com que todos os alunos pudessem participar e/ou observar as
diferentes atividades.
Relativamente às matérias que foram alvo dos processos de
planeamento, realização e avaliação, estas estavam bem definidas no Projeto
Curricular de Educação Física, que mostrou também a boa organização da
disciplina de EF na ESOD, pois neste documento estavam determinados todos
os objetivos para cada matéria a abordar para os diferentes ciclos de ensino,
estando sempre articulado com os Programas nacionais de EF, de forma a
responder às necessidades de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.
4.1.2. Planeamento
Relativamente ao processo planeamento, e segundo Silva e Navarro
(2012), este assume um papel importante no trabalho docente, devendo ser um
processo contínuo, coletivo e interativo, caracterizando-se como um meio
capaz de aperfeiçoar e facilitar o trabalho do professor, dentro e fora da sala de
aula, pois a aprendizagem ultrapassa os limites da sala de aula.
Segundo Zabalza (1994), quando se planifica, trata-se de converter uma
ideia ou um propósito num curso de ação. Posto isto, penso que planear é
32
como traçar uma linha orientadora do nosso caminho, linha essa que nos
deverá guiar até aos nossos objetivos. Contudo, essa não marca em definitivo
o nosso caminho, pois devemos reajustá-la ao percurso percorrido, devemos
apaga-la sempre que necessário e voltar a traça-la, podendo evoluir com ela e
fazer evoluir todos aqueles que nos vão aparecendo pelo trilho.
As matérias que se abordaram ao longo do decorrer deste ano letivo,
para o 9ºano de escolaridade da ESOD, foram determinadas pelo grupo de EF
com a criação do Projeto Curricular de Educação Física. Abordou-se a
ginástica (solo, aparelhos e acrobática), atletismo (lançamentos e estafetas),
badminton, andebol, basquetebol e futebol. Estas matérias foram abordadas ao
longo deste ano letivo alternadamente pelos espaços desportivos disponíveis
para a sua prática, que se iam alterando de três em três semanas, ou seja,
cada matéria tinha disponível para a sua unidade temática três semanas de
aulas, o que me levou a abordar as diferentes matérias por blocos, onde era
lecionado o bloco de ginástica, de seguida o de atletismo, e assim
sucessivamente. Contudo, houve matérias que foram abordadas em blocos
maiores do que outras, como foi o caso do basquetebol e do futebol. O
basquetebol foi abordado mais extensamente, duas rotações do roulement, e
no segundo período de forma a articular-se com a atividade do Compal Air. Já
a matéria do futebol foi abordada da mesma forma que o basquetebol, duas
rotações do roulement, com o intuito de se operacionalizar o modelo de
educação desportiva.
Este roulement, eram duas páginas que orientavam e geriam os espaços
desportivos disponíveis pelos professores e respetivas turmas. No máximo
estavam três turmas a ter aula de EF ao mesmo tempo, pois caso as condições
climatéricas não proporcionassem as condições suficientes para se lecionar a
aula no exterior, cada turma tinha para si pelo menos 1/3 do pavilhão
desportivo.
O facto de não saber quando iria chover ou não nas horas das minhas
aulas, causou-me algum transtorno, isto porque já tinha tudo planeado para a
aula, e de repente no dia da aula á hora da aula começava a chover, levava a
33
que tivesse de repensar todo o plano, adaptando os exercícios a um espaço
muito menor.
“A aula foi planeada para o espaço exterior (campo sintético), mas devido ao
mau tempo a aula teve que se realizar num terço do pavilhão. Esta
condicionante levou a que a aula tivesse que mudar de rumo, onde apenas
deu para realizar uma breve ativação geral e a avaliação sumativa do
lançamento do peso.” (excerto da reflexão do dia 26 de Outubro de 2012)
Este exemplo fez-me perceber a importância de que o professor deve ter
uma boa capacidade de reajustamento e adaptação espontânea dos planos de
aula face às necessidades dos alunos e às condições disponíveis para a
aplicação do mesmo, pois nem sempre tudo corre como nós planeamos.
Após ter conhecimento das matérias que se iriam abordar e de que o
planeamento era uma linha orientadora passível de ser remodelada e
melhorada, surgiu então a tarefa de tentar planear nos diferentes níveis.
4.1.2.1. Planeamento nos diferentes níveis
Rink (1993) refere que todos os níveis de planeamento estão
interrelacionados, e que o professor usa o currículo como guia para planear as
unidades, e utiliza as unidades para planear as aulas.
O planeamento de todo o ano letivo transato foi realizado em três
grandes níveis, sendo que o primeiro foi o planeamento anual, o segundo
foram as unidades temáticas e o terceiro foram os planos de aula.
O planeamento anual foi desenvolvido em grupo, mas com algumas
caraterísticas individuais, onde foi efetuado uma análise da EF nos planos
curriculares, caraterizado o meio envolvente, a turma à qual foram lecionadas
as aulas, a extensão da EF e da matéria de ensino, os objetivos de ensino
(presentes no projeto de educação física da ESOD 2012/2013), foram ainda
abordados os diferentes tipos de avaliação e ainda as diferentes metodologias
que foram utilizadas para a abordagem das diferentes componentes de
avaliação (habilidades motoras, condição física, cultura desportiva e domínio
sócio-afetivo). Este planeamento serviu de suporte para o desenvolvimento do
segundo nível de planeamento, as unidades temáticas.
34
Antes do início de cada matéria, era realizada uma unidade temática que
se dividia em três fases, a primeira fase era de análise onde se analisava a
modalidade, o envolvimento e a turma, a segunda fase era a de decisões, onde
era apresentada a extensão e sequência dos conteúdos, definidos os objetivos
de ensino, configurada avaliação e as atividades de aprendizagem/progressões
de ensino. Já a terceira e última fase era a fase de aplicação, onde eram
aplicadas as duas fases anteriores. Posteriormente, parte desta unidade
temática era realizada só após a avaliação diagnóstica, de modo a realizá-la já
em definitivo a pensar nas necessidades dos alunos, pois anteriormente era
realizada esta unidade temática antes de iniciar a matéria, e depois da
avaliação diagnóstica tinha que se proceder à alteração e ajustamento da
mesma de forma a ficar ajustada aos conhecimentos dos alunos. No decorrer
do ano letivo as unidades temáticas não foram todas iguais, especialmente na
sua extensão de aulas, como por exemplo a unidade temática de ginástica de
solo, contou apenas com seis aulas de 45 minutos para a sua aplicação, sendo
que uma aula foi destinada para a avaliação diagnóstica e outra para a
avaliação sumativa, deixando-me apenas com quatro aulas para ensinar as
habilidades motoras aos alunos.
“Relativamente ao número de aulas lecionadas sobre esta matéria, penso
que foram escassas, não dando para abordar todas as habilidades
motoras previstas, e aquelas que foram abordadas, não tiveram tempo de
exercitação para serem bem consolidadas.” (excerto da reflexão da
unidade temática de ginástica de solo)
Já a unidade temática de basquetebol possuiu um total de dezasseis
aulas de 45 minutos, tempo suficiente para a abordagem da grande quantidade
de habilidades motoras previstas.
“Penso que as aulas destinadas a esta UT estiveram adaptadas aos
alunos, visto que houve tempo suficiente para exercitar todos os conteúdos
previstos, reproduzindo-se numa melhoria algo significativa do
desempenho no jogo por parte de muitos alunos.” (excerto da reflexão da
unidade temática de basquetebol)
Estas duas abordagens têm os seus pontos fortes e os seus pontos
fracos. A primeira abordagem permite aos alunos ter contacto com um leque
35
maior de matérias em apenas um ano letivo, apesar de não se poder
aprofundar as habilidades motoras de cada matéria, o que leva a que de ano
para ano, os alunos reiniciem o processo de aprendizagem mostrando sempre
os mesmos erros. Já a segunda abordagem, no meu ver é melhor, dado que os
alunos podem exercitar bem as habilidades motoras introduzidas, dando para
eles perceberem melhor a matéria em si. Contudo, esta abordagem não
permite que os alunos tenham contacto com muitas matérias desportivas.
As unidades temáticas também iam sofrendo alterações ao nível da
quantidade de habilidades motoras a abordar, pois com unidades temáticas
curtas, era impossível abordar aprofundadamente muitos conteúdos, tendo por
vezes que selecionar os conteúdos que mais se ajustavam ao nível dos alunos.
“Ao longo das 6 aulas que dispus para a Ginástica de Solo, introduzi
apenas dois dos quatro elementos gímnicos previstos para o 9ºano, no
programa nacional de EF e no projeto curricular de EF da ESOD” (excerto
da reflexão da unidade temática de ginástica de solo)
O terceiro e último nível do planeamento foi o plano de aula, e acerca do
mesmo, Rink (1993) afirma que este é um guia para o processo de instrução
para uma aula e que é baseado numa unidade de objetivos.
O plano de aula serviu para estabelecer uma sequência de exercícios
com vista a cumprir as funções didáticas e os conteúdos previstos para uma
aula. Estes planos serviram como que uma linha guia para cada aula, sendo
mais fácil orientar e lecionar cada sessão. A estrutura deste plano de aula
decompôs-se em três diferentes partes, a parte inicial, a parte intermédia e a
parte final, onde a cada uma delas correspondia uma especificação de um
momento da aula. À parte inicial correspondia um momento de ativação geral
dos alunos, onde poderia haver também exercícios específicos dependendo da
matéria a abordar, à parte intermédia correspondiam exercícios onde se
abordavam com mais especificidade os conteúdos que se pretendiam
trabalhar, e à parte final correspondia o momento de desenvolvimento da força
muscular (apenas nas aulas de noventa minutos) e do retorno à calma dos
alunos, onde estes alongavam os músculos mais solicitados durante a aula.
Relativamente à estrutura do plano de aula, esta foi igual desde a
primeira até á última aula, tendo evoluído a informação contida e a formatação
36
do mesmo, de modo a obter tudo melhor organizado, evitando ter um plano de
aula muito extenso. Este plano de aula estava dividido em seis colunas
diferentes, sendo que a primeira referenciava as partes da aula (inicial,
intermédia e final), a segunda o tempo total previsto para cada exercício, a
terceira apresentava os conteúdos a abordar no exercício, na quarta
apresentavam-se e explicavam-se as situações de aprendizagem, na quinta
referenciavam-se as componentes críticas para cada uma dessas situações de
aprendizagem, e na sexta coluna mencionavam-se as palavras-chave
utilizadas para os conteúdos abordados em cada exercício.
Nenhum destes níveis de planeamento foi fechado e acabado, pois
estiveram em constante desconstrução e reconstrução, sempre com o objetivo
de melhorar o processo de ensino e de aprendizagem. Todos estes níveis de
planeamento foram elaborados com o intuito de responder às necessidades
dos alunos em causa. Contudo, e para que isso pudesse acontecer, foi
necessário reformular alguns pontos criados na unidade temática após o
primeiro contacto entre a turma e a modalidade, pois o nível de exigência dos
conteúdos apresentados no programa nacional de educação física, nem
sempre estavam adaptados ao nível real da turma.
Para se poderem planear todos os níveis de todas as matérias, recorreu-
se ao projeto curricular de educação física da ESOD e ao programa nacional
de educação física do 3ºciclo. Para poder reajustar os dois últimos níveis de
planeamento, recorreu-se aos resultados da avaliação diagnóstica realizada no
início de cada unidade temática. Já para avaliar se as estratégias de ensino,
aplicadas em cada unidade temática, foram bem conseguidas, realizou-se a
uma reflexão final de cada unidade temática onde era analisado todo o
processo de evolução dos alunos ao longo das aulas da respetiva matéria,
comparando a avaliação inicial (avaliação diagnóstica) e a avaliação final
(avaliação sumativa). Nestas reflexões finais das unidades temáticas eram
também refletidas algumas estratégias utilizadas durante a sua aplicação,
visando sempre a potenciação do processo de ensino e de aprendizagem.
“Para a próxima unidade temática não irei utilizar esta estratégia de
trabalho da aptidão física, dado à pouca recetividade dos alunos à mesma
e ao tempo gasto a anotar os resultados. Irei trabalhar a aptidão física
37
através da realização destes exercícios ou de outros diferentes sem que
seja necessário anotar os resultados, ganhando tempo para a realização
de mais uma série a aptidão física ou para a exercitação das habilidades
motoras.” (excerto da reflexão da unidade temática de basquetebol)
O excerto acima citado diz respeito à tentativa de aplicação de uma nova
metodologia de trabalhar a aptidão física nas aulas, que se mostrou
fracassada, dado ao pouco interesse por parte dos alunos à mesma.
Após traçar todo o planeamento macro (planeamento anual) e micro
(plano de aula), eis que surge uma outra preocupação, que foi a de planear
num nível ainda mais reduzido, que foi o do aluno, onde se tentou planear as
aulas de EF para que estas estivessem adaptadas a todos os alunos.
4.1.2.2. Planear para todos
Rink (1993) refere que um grande problema nas instruções de grupo é
que os alunos funcionam em diferentes níveis de habilidades na maioria das
tarefas, e que o conteúdo selecionado para essa instrução deve alcançar as
necessidades do grupo. Posto isto, torna-se visível a importância de separar a
turma em grupos homogéneos, de forma a aumentar o tempo potencial de
aprendizagem dos alunos, apesar do professor repetir o mesmo conteúdo, mas
de várias maneiras diferentes, de forma a conseguir chegar a todos.
Muitas das vezes, e após a avaliação inicial, sentia-se que no interior da
turma existiam diferentes níveis de realização das habilidades motoras, e com
este fator gerou-se a problemática de conseguir planear os mesmos conteúdos
para alunos com capacidades diferentes na mesma turma.
Para alcançar este objetivo, foi necessário tentar criar grupos
homogéneos em termos das habilidades motoras, onde muitas vezes foi
separar os rapazes das raparigas, para que todos os alunos pudessem evoluir
e sentir-se competentes na prática da sua atividade, enquanto a realizavam
com um grau de exigência adaptado ao seu nível. Tentei realizar estas
atividades de forma a serem igualmente desafiadoras e ajustadas, evitando
que se despertasse um sentimento de desmotivação no aluno devido às tarefas
propostas serem por um lado demasiado fáceis ou por outro lado demasiadas
difíceis.
38
Este problema, inicialmente levou a que fosse necessário despender
muito tempo para a realização de um plano de aula, mas com o decorrer do
tempo as estratégias foram melhorando, moldando-se às diferentes matérias
que se abordaram, sendo que estas estratégias passavam por criar variantes, e
não exercícios novos, que pudessem atenuar ou aumentar a dificuldade dos
exercícios.
4.1.3. Realização
Rink (1993) afirma que tentar alcançar todos os objetivos num programa
pode resultar em não alcançar nenhum destes objetivos, pois os alunos
precisam do tempo adequado para experimentar algum nível de sucesso. A
autora acrescenta, que os objetivos traçados para qualquer programa devem
ser realistas para a sua definição, o que geralmente significa que o professor
precisa de escolher entre aqueles que sejam verdadeiramente relevantes. E
para definir objetivos pertinentes, é necessário perceber o meio envolvente e o
tipo de alunos que se tem, e daí a grande importância do primeiro momento
com os alunos em cada matéria a abordar ser fundamentalmente de perceção
acerca dos conhecimentos dos alunos face a essa matéria, para ser possível
planear e traçar objetivos adaptados aos alunos e ajustados às suas
capacidades.
Foram utilizadas diferentes orientações metodológicas para a
abordagem do domínio psicomotor (matérias desportivas e condição física).
Quanto ao domínio psicomotor, matérias desportivas, estas dividiram-se
em coletivas e individuais. Nas matérias coletivas, juntamente com o
badminton, foi abordada uma orientação do topo para a base, de onde se partiu
do jogo e desconstruíram-se e exercitaram-se as habilidades motoras em
situações simples e de seguida colocaram-se em prática no jogo. Já nas
matérias de ginástica e de atletismo abordou-se uma orientação da base para o
topo, criando primeiramente exercícios mais fáceis indo progressivamente para
mais difíceis e complexos.
Relativamente ao domínio psicomotor, condição física, esta subdividiu-
se consoante a matéria a abordar, nas variantes de resistência aeróbia, força
39
muscular (força superior, força média e força inferior, onde se trabalhavam os
membros superiores, zona abdominal e lombar e membros inferiores,
respetivamente) e flexibilidade. A resistência aeróbia tinha lugar no início da
aula, através de corrida contínua ou de jogos lúdicos, a força era trabalhada na
parte final da aula antes do retorno à calma, com a turma reunida e disposta
em círculo para que todos os alunos fossem vistos pelo professor. Já a
flexibilidade era trabalhada na mobilização articular (flexibilidade dinâmica) ou
no final das sessões, de uma aula, na parte dos alongamentos.
O trabalho de condição física dos alunos nas aulas de EF estava
articulado não só com a matéria a abordar como também com as atividades
planeadas pelo grupo de EF da Escola Secundária de Oliveira do Douro. À
medida que forem referenciadas as matérias, irei fazer referência às
capacidades trabalhadas em cada uma delas.
4.1.3.1 – Matérias lecionadas
Ginástica de solo
Iniciando com a matéria ginástica de solo, e como o tempo destinado
para a sua prática era escasso, decidi inserir logo todos os conteúdos
programados, para que os alunos começassem logo a exercita-los em
diferentes estações. Contudo, o trabalho por estações não atingiu os objetivos
pretendidos, dado que os alunos revelavam pouco interesse na realização das
mesmas.
“Estava previsto os alunos despenderem cerca de 10 minutos em cada
estação, mas devido á falta de empenho dos alunos em alguns exercícios
das estações, vi-me obrigado a acelerar os exercícios.” (excerto da
reflexão da aula do dia 25 de Setembro de 2012)
Posto isto, vi-me obrigado a tentar outra estratégia. Estava previsto os
alunos construírem uma sequência com os elementos que tinham sido
introduzidos, mas com a falta de empenho deles, criei eu uma sequência com
os principais conteúdos e acessível a todos eles. Esta sequência foi distribuída
em papel a cada um dos alunos para que não houvesse esquecimentos da
mesma, que foi a avaliação sumativa desta matéria.
40
Atletismo
Nesta matéria foram abordadas duas modalidades, sendo que foram a
corrida de estafetas e o lançamento do peso. Logo na segunda aula, introduzi
as duas modalidades, apesar de as ter abordado em separado, dividi a unidade
temática (UT) em dois, deixando o mesmo número de aulas para cada uma, e
iniciei com o lançamento do peso. Poderia ter abordado alternadamente uma
modalidade com a outra, mas penso que da maneira que as abordei, tornou o
seu ensino mais facilitado, dado que a matéria era dada de forma seguida. Foi
denotar que o empenho dos alunos nas aulas de lançamento do peso foi algo
melhor, penso que foi devido a esta ser uma modalidade nova para eles.
“Espero que o comportamento e o empenho dos alunos se mantenham
com estes níveis elevados, pois tanto o ensino, pela minha parte, como a
aprendizagem, por parte dos alunos, torna-se muito mais facilitado.”
(excerto da reflexão da aula do dia 12 de Outubro de 2012)
Com a passagem do lançamento do peso para a corrida de estafetas,
notou-se uma diferença significativa no comportamento da turma, onde os
níveis motivacionais e de empenho desceram bruscamente.
“Em 5 grupos, apenas um estava a realizar corretamente e
empenhadamente o exercício, o que me levou a parar de imediato a aula.”
(excerto da reflexão da aula do dia 19 de Outubro de 2012)
Tanto a ginástica de solo como o atletismo foram duas matérias difíceis
de abordar, pensando eu que o problema era de ambas serem modalidades
individuais e que os alunos mostrariam mais empenho nas modalidades
coletivas.
“Como a próxima UT é a de Andebol, espero que os alunos se mostrem
mais empenhados nas aulas, devido a esta matéria ser um desporto muito
coletivo.” (excerto da reflexão da UT de atletismo)
Andebol
Para a abordagem do andebol, assim como as restantes matérias
coletivas, decidi utilizar uma metodologia do topo para a base, onde abordava
as habilidades técnicas em separado e isoladamente, e de seguida eram
41
abordadas em situação de jogo, sendo que em todas as aulas o jogo formal era
abordado e exercitado, pois não me interessava que os alunos realizassem um
bom passe frente a frente se, em situação de jogo, eles não conseguissem
realizá-lo com alguma oposição. Tentei fazer sempre com que os alunos
pusessem em prática as habilidades técnicas da melhor forma no jogo, o que
nem sempre aconteceu.
“Numa apreciação global, acho que os alunos ainda estão muito débeis
nas habilidades motoras do andebol.” (excerto da reflexão da aula do dia
16 de Novembro de 2012)
Contudo, a nível de empenho, as minhas previsões estavam corretas,
mas a nível do comportamento, este ficou aquém das minhas expectativas.
“Como esperava que acontecesse, os alunos mostraram-se mais
empenhados nas aulas desta modalidade. Este empenho não veio
acompanhado por bons fatores, pois apesar de os alunos se mostrarem
mais empenhados, o seu comportamento não se mostrou muito melhor.”
(excerto da reflexão da UT de andebol)
Badminton
A matéria seguinte a abordar foi o badminton, que apesar de ser uma
matéria individual me deixou com boas expectativas dado ao reconhecimento
da escola nos campeonatos de desporto escolar desta matéria.
“A próxima matéria a abordar é o badminton. Apesar de ser uma
modalidade fortemente individual, detenho boas expectativas, pois na
ESOD esta modalidade é muito bem conceituada, com muitos alunos a
mostrarem gosto por ela.” (excerto da reflexão da UT de andebol)
No decorrer das aulas de badminton utilizei a mesma abordagem do
andebol, topo para a base, sendo que em todas as aulas abordava o jogo 1x1,
nunca chegando ao 2x2. Em relação ao trabalho das habilidades motoras. Este
foi elaborado através da realização de sequências, onde de aula para aula
eram introduzidos novas habilidades motoras, integrando as sequências. Criei
duas sequências onde os diferentes batimentos eram abordados e exercitados
de uma forma fluida. Como nas matérias anteriores, as maiores dificuldades
que senti prenderam-se com o comportamento dos alunos.
42
“Mais uma vez, as minhas dificuldades passaram por tentar cumprir os
objetivos das aulas previamente delimitados, mas com o mau
comportamento dos alunos, vi-me obrigado a baixar o nível destes
objetivos.” (excerto da reflexão da UT de badminton)
Com esta problemática e com a necessidade de intervir rapidamente
sobre ela, surgiu a ideia de realizar o estudo de investigação-ação em torno do
mau comportamento dos alunos, de forma a conseguir evoluir como docente.
Por vezes estes maus comportamentos criavam em mim um sentimento de
angústia e inferioridade, mas nunca de desmotivação, pois sabia que estava a
enfrentar o meu maior receio da docência, o de lidar com uma turma pouco
disciplinada, num ano onde tive o apoio e supervisão de professores capazes
de me ajudar nesta tarefa.
Basquetebol
Posteriormente, a matéria que foi abordada foi o basquetebol, sendo que
esta UT foi muito mais extensa do que as anteriores, levando-me a ser mais
exigente com cada um dos conteúdos, dado à grande possibilidade dos alunos
em exercitar cada um deles. Decidi abordar os conteúdos ofensivos e de
seguida os defensivos, isto para que houvesse muito sucesso no início,
motivando os alunos, pois penso que se tivesse trabalhado primeiro os aspetos
defensivos, os alunos iriam ter imensas dificuldades em ter sucesso nos seus
ataques.
Para a abordagem desta matéria e como já referi anteriormente, utilizei a
mesma abordagem que o andebol, privilegiando principalmente a utilização das
diferentes habilidades motoras no jogo formal, que nesta matéria foi o 3x3 em
meio campo. No final, fiquei com a sensação que a turma estava melhor
comportada, apesar de ainda poder melhorar ainda mais.
“Penso que esta UT contou com mais empenho por parte dos alunos. Acho
que este facto se sucedeu pois o basquetebol é uma modalidade coletiva e
algo apreciada pelos alunos. Foi ainda de notar que o comportamento dos
alunos nestas aulas também melhorou, apesar de ainda haver muito
trabalho pela frente.” (excerto da reflexão da UT de basquetebol)
43
Durante esta UT, tentei aplicar uma nova metodologia para o trabalho da
condição física, apesar de não ter resultado muito bem. Esta metodologia
constou na realização de apenas quatro exercícios com a devida anotação dos
resultados, tendo sido nesta anotação que se notou a grande lacuna deste
processo, pois perdia muito tempo de prática ao anotar os resultados dos
alunos, que servia para que eles se empenhassem mais, ao verem que o
professor tomava conhecimento dos seus resultados. Com o grande tempo
perdido a notificar os resultados e com a fraca aderência dos alunos a esta
nova metodologia, decidi voltar ao antigo trabalho de condição física, através
da realização de extensões de braços, abdominais e saltos com afundos.
“Contudo, estes exercícios levaram a que perdesse algum tempo da aula a
anotar os resultados de cada aluno, que poderia ter sido aproveitado para
a realização de mais uma série dos mesmos exercícios.” (excerto da
reflexão da UT de basquetebol)
Durante a UT de basquetebol, começou-se a aplicar também uma nova
metodologia para avaliar continuamente os conceitos psicossociais dos alunos.
Esta nova metodologia passou por colocar uma avaliação quantitativa a cada
aluno, numa escala de 1 a 5, em cada aula realizada. No final fazia-se a média
de todas as aulas e daí surgia a nota dos conceitos psicossociais.
Ginástica de aparelhos
Nesta matéria foram apenas abordados os saltos no plinto e no
minitrampolim. Para esta UT de ginástica de aparelhos, contava já com alguma
falta de empenho por parte dos alunos, mas ao mesmo tempo esperava que
isso não acontecesse devido à utilização do minitrampolim, aparelho pelo qual
a grande maioria dos alunos mostrou gosto.
“Após a avaliação diagnóstica, fiquei surpreendido, pela positiva, com a
prestação dos alunos, pois estes encontram-se num nível superior ao que
eu esperava” (excerto da reflexão da aula do dia 26 de Fevereiro de 2013)
Nesta matéria foi de notar a maior recetividade dos alunos às minhas
instruções, apesar de ainda se manter a dificuldade na organização e início dos
44
exercícios. Tentei exercitar outra vez alguns conteúdos por estações, o que
voltou a mostrar-se uma ideia pouco conseguida.
“Durante a aula, o número de alunos empenhados nas tarefas foi reduzido,
o que me leva a por em causa o trabalho por estações com esta turma,
pois quando me desloquei de uma estação para a outra, os alunos a
realizar os exercícios eram sempre os mesmos, sendo que muitos nem
sequer se mostraram interessados em perceber o exercício.” (excerto da
reflexão da aula do dia 1 de Março de 2013)
Durante a abordagem desta matéria senti muita dificuldade em manter
os alunos em tempo de empenhamento motor, dado que como os aparelhos
utilizados eram de grande porte e em reduzido número, os alunos demoravam
algum tempo a exercitar os conteúdos. Como consequência deste tempo de
espera, os alunos conversavam mais e adotavam mais comportamentos
inapropriados à aula. De forma a mudar essa situação, após cada salto pedi
aos alunos que realizassem alguns exercícios de aptidão física ou então
replicar os saltos abordados no solo ou num colchão. Esta estratégia mostrou-
se positiva, pois ao mesmo tempo que os alunos estavam em menor tempo de
espera, iam também trabalhando a aptidão física ou os conteúdos abordados.
“Como esta matéria requeria muita ajuda nos aparelhos, e como só pude
montar duas estações, os alunos ficavam em muito tempo de espera, o
que me levou a criar alguns exercícios para após de cada salto dos alunos,
evitando que estes estivessem muito tempo parados, criando muitas
brincadeiras, que não interessavam para a aula. Estes exercícios
passaram por exercícios de condição física e de exercícios do
minitrampolim, reproduzidos no solo, onde os alunos treinavam os
diferentes saltos no solo ou num colchão.” (excerto da reflexão da UT de
ginástica de aparelhos)
Futebol
Com a abordagem desta matéria, no decorrer da sua UT foi
operacionalizado o modelo de educação desportiva (MED). A abordagem desta
matéria com a operacionalização deste modelo constará no ponto 4.1.3.6.
Modelos de ensino.
45
Ginástica acrobática
Para terminar o ano letivo foi lecionada a de ginástica acrobática. Penso
que o ano não poderia terminar melhor, se não constatar de que o trabalho por
estações/grupos foi finalmente posto em prática com sucesso, e que os alunos
mostraram-se empenhados e autónomos em criar coreografias de ginástica
acrobática.
“Como havia referido das aulas anteriores, houve grupos que criaram
coreografias muito boas, e que se tivessem sido criadas e treinadas mais
cedo poderiam fazer uma boa apresentação no Sarau da escola.” (excerto
da reflexão da aula do dia 4 de Junho de 2013)
Nesta matéria abordei os conteúdos logo nas primeiras aulas, permitindo
que os grupos de trabalho construíssem a sua coreografia de forma autónoma,
havendo grupos que necessitaram mais ajuda do que outros. Na criação da
coreografia dos grupos apenas impus que estes colocassem figuras de pares e
trios de nível introdutório e elementar, sendo que todos eles, tentaram e
realizaram figuras de quatro elementos, o que me deixou algo contente, por ver
os alunos mais ambiciosos e autónomos.
4.1.3.2. Cultura desportiva
Relativamente à cultura desportiva, esta era abordada em cada matéria
no decorrer das sessões, onde era abordada a história, a terminologia
específica e a caraterização da modalidade. Para todas as matérias fui
apresentando, com o decorrer das aulas, as principais regras, bem como as
determinantes técnicas para a execução das suas habilidades motoras.
Disponibilizei toda esta informação aos alunos de forma a facilitar o seu estudo
e compreensão da matéria.
Já no domínio sócio-afetivo, os conceitos psicossociais que foram alvo
do processo de ensino e aprendizagem foram a autonomia, o empenho, o
cumprimento de tarefas e o cumprimento de regras. Estes conceitos foram
desenvolvidos ao longo das aulas, através da adoção de diferentes papéis por
parte dos alunos.
46
4.1.3.3. Controlo da turma e gestão da aula
Segundo Siedentop (2000), a disciplina mantida na aula bem como a
gestão eficaz da mesma, podem ser alcançadas de três maneiras. Inicialmente
os professores podem organizar regras com as respetivas consequências, em
seguida, podem apelar à cooperação dos alunos fazendo com que estes
percebam as regras, levando-as para o processo de decisões, e por fim os
professores podem tentar construir um bom clima de aprendizagem,
desenvolvendo e mantendo um bom relacionamento entre professor-aluno
onde a autodisciplina, a responsabilidade e a entreajuda são enfatizados.
Após ter conhecimento de algumas caraterísticas da turma, e de forma a
controlá-la bem, foram desenvolvidas algumas estratégias e criadas algumas
rotinas organizativas entre o professor e os alunos, como por exemplo a
utilização de um apito onde se atribuiu um significado a diferentes números de
apitos. De forma a não criar vários estímulos e confundir os alunos, deu-se
ênfase a apenas três apitos, onde um apito era para os alunos iniciarem a
tarefa, dois apitos para pausarem essa tarefa e três apitos era para terminarem
a tarefa, reunindo logo junto do professor.
Foi de notar que os alunos estiveram pouco recetivos a algumas regras
e rotinas, e adotavam comportamentos inadequados para a aula. Este fator
levava a que se perdesse muito tempo útil da aula a punir estes
comportamentos, esquecendo-me por vezes dos objetivos específicos das
matérias a abordar, para tentar manter a ordem na sala de aula. Contudo, este
objetivo nem sempre foi alcançado, o que levava a que, em aulas seguintes,
fosse necessário intervir sobre os mesmos comportamentos.
As rotinas nem sempre foram bem absorvidas e consolidadas por todos
os alunos, o que levava a que em aulas seguintes se voltasse a repetir o
mesmo, levando a que se perdesse muito tempo de empenhamento motor dos
alunos. Desde cedo, foi de notar que alguns alunos da turma perturbavam a
aula devido a alguns comportamentos menos adequados ao contexto e que
existiam alguns atritos entre alunos desta mesma turma, o que dificultava a
criação de grupos nas aulas.
47
“Este objetivo não foi conseguido, devido à falta de empenho de algumas
alunas. Posto isto, decidi mudar o aquecimento e realizar duas séries de
suicidas” (excerto da reflexão da aula do dia 28 de Setembro de 2012).
Tentou-se evitar ao máximo expulsar os alunos das aulas,
experimentando primeiramente remediar a situação de uma forma mais
racional.
Nas primeiras semanas chegou ainda a haver aulas em que se teve de
colocar os alunos responsáveis por comportamentos inapropriados, alguns
deles problemáticos para o funcionamento normal da aula, fora das atividades
da aula, sentando-se junto a um canto do espaço onde decorria a aula, a
refletir acerca dos seus atos. Esta estratégia mostrou ser positiva na
remediação, principalmente em matérias de que os alunos gostavam mais, mas
aquando as matérias de que os alunos pouco gostavam, tiveram que se adotar
outras estratégias para que os alunos participassem nas aulas e sentindo que
os seus atos de indisciplina iriam ser punidos.
Outras estratégias passaram por tentar sempre manter todos os alunos
no campo de visão do professor, fazendo com que estes se sentissem sempre
observados, de modo a criar um bom clima de aprendizagem e de segurança.
Para manter os alunos sobre a minha visão, foi minha preocupação deslocar-
me sempre pelas periferias do espaço da aula, e sempre que era necessário
ajudar um aluno ou um grupo de alunos, quando chegasse ao pé deles,
colocava-me de frente para o resto da turma, enquanto falava com os alunos
em questão, de forma a conseguir observar todos os alunos.
Para potenciar as aprendizagens dos alunos tentou-se manter um bom
clima de aprendizagem, um clima de respeito, de confiança e de entreajuda
entre professor-aluno e aluno-aluno, o que nem sempre aconteceu e que
levava a uma intervenção por parte do professor com avisos e ordens, de
forma a remediar as situações negativas, prevenindo-as futuramente.
“Contudo, esta exercitação contou com muita falta de empenho por parte
de alguns alunos&” (excerto da reflexão da aula do dia 9 de Outubro de
2012).
Com uma turma indisciplinada, e pouco empenhada inicialmente foi
difícil criar e manter um bom clima para a aprendizagem, onde muitas das
48
vezes o professor teve que punir os alunos com alguns exercícios físicos. Com
o decorrer do tempo foi possível ir melhorando esse clima, onde os alunos
melhoraram o seu relacionamento, que se repercutiu numa melhoria
significativa para todo o processo de ensino e de aprendizagem.
“F Fiquei contente por ver que os alunos estão mais unidos do que
anteriormente&” (excerto da reflexão da aula do dia 5 de Março de 2013).
Quanto à gestão do tempo de aula, do material utilizado em cada sessão
e dos alunos, foi também um processo em constante evolução, onde
inicialmente as aulas terminavam muito antes da hora prevista, isto porque a
pressão de cumprir o plano de aula à risca e tentar realizar todos os exercícios,
não percebendo a riqueza que cada um poderia trazer aos alunos, levava a
que se perdesse um pouco a noção do tempo da aula. Com a ajuda do
professor cooperante, este fator foi sendo colmatado ao fazer perceber de que
o plano de aula é apenas um guia e este pode e deve ser alterado caso seja
necessário, pois caso um exercício que esteja a correr mal desde o início e tem
uma duração de dez minutos, não se vai deixar que o exercício siga assim até
ao final desse tempo todo, assim como se um exercício estiver a ser muito
bom, é preferível que se deixe prolongar por mais alguns minutos.
Relativamente ao material utilizado nas sessões, e como a ESOD
possuía uma larga escala de material diferenciado, tentou-se fazer com que os
alunos tivessem em contacto por mais tempo possível com o material
específico de cada modalidade. Por exemplo, no caso das modalidades
coletivas, havia sempre uma bola para cada dois alunos, o que facilitava
também na gestão dos alunos, para que estes pudessem evoluir mais e
melhor. De forma a gerir ainda melhor os alunos, e como já foi referido
anteriormente, tentaram-se criar grupos homogéneos consoante o domínio
psicomotor dos mesmos, isto para que eles conseguissem obter práticas
ajustadas ao seu nível de desempenho, sendo elas igualmente desafiadoras e
interessantes.
Deve-se então ajustar todos estes fatores às necessidades dos alunos,
que são o objeto central da atenção do professor, pois sem eles não haveria
nem ensino nem aprendizagem.
49
4.1.3.4. Autonomia da turma
“As funções do professor são cada vez mais multifacetadas e
complexas, uma vez que já não se limitam apenas aos conhecimentos
específicos de uma determinada área do saber, nem ao conjunto de técnicas e
de estratégias pedagógicas mais adequadas à transmissão desses
conhecimentos, sendo-lhes exigidas outras atuações, nomeadamente, na
promoção do desenvolvimento pessoal dos seus alunos, proporcionando-lhes
oportunidades de desenvolvimento de pensamento crítico, criativo, reflexivo e
autónomo, em diálogo com o envolvimento social e profissional.” (Cunha, 2008,
p.64)
De forma a fazer com que os alunos crescessem um pouco mais, como
pessoas, era necessário dar-lhes alguma liberdade. Contudo, a turma com a
qual decorreu o estágio profissional por mais liberdade que lhe fosse dada,
pouca autonomia e trabalho era demonstrado. De forma a inverter esta
tendência, inicialmente a liberdade dada aos alunos era muito reduzida.
Nas primeiras aulas de ginástica de solo, tentei fazer com que os alunos
trabalhassem por estações de forma a exercitar os conteúdos autonomamente,
mas esta tentativa mostrou-se falhada aquando a visualização do fraco
empenho dos alunos nas aulas desta matéria.
“Estava previsto os alunos despenderem cerca de 10 minutos em cada
estação, mas devido á falta de empenho dos alunos em alguns exercícios
das estações, vi-me obrigado a acelerar os exercícios.” (excerto da
reflexão do dia 25 de Setembro de 2012)
Á medida que o tempo foi passando a autonomia demonstrada pelos
alunos foi aumentando, nomeadamente nos desportos coletivos, onde nas
primeiras aulas era o professor que arbitrava os jogos e nas aulas seguintes já
eram os alunos, ficando eles responsáveis por manter a ordem e a disciplina no
jogo, o que nem sempre sucedeu, devido à falta de empenho por parte de
alguns alunos nestas tarefas que não as de jogador. Passados alguns meses
notou-se uma melhoria no relacionamento entre os alunos da turma, que levou
a que se respeitassem mais uns aos outros, tanto nas aulas de EF como fora
delas.
50
“Penso que eles mostraram ter melhorado a responsabilidade e a
autonomia em respeitar, e fazer respeitar as ordens dos árbitros (colegas)”
(excerto da reflexão da aula do dia 30 de Abril de 2013)
Até chegar a este ponto, foi preciso ultrapassar muitas dificuldades com
a turma em causa. Foi de notar melhorias na autonomia à medida que os
alunos iam fortalecendo os laços de amizade entre eles, tendo mais confiança
uns nos outros.
Um meio para promover a autonomia foi a de que os alunos que
estavam fora das tarefas da aula, não estavam parados num canto do pavilhão,
estes andavam pelo espaço da aula a ajudar os seus colegas nos exercícios
propostos, inicialmente com o professor para poderem perceber onde e como
ajudar os colegas e depois sozinhos. Foi também minha preocupação mostrar-
me recetivo às questões e dificuldades dos alunos, para que eles não tivessem
medo de errar ou falhar, de modo a que quando eu fosse preciso, eles vinham
ter comigo expondo as suas dúvidas. Para conseguir alcançar este objetivo, fui
preciso saber também comunicar com os alunos, de forma a fazê-los acreditar
e confiar em mim.
4.1.3.5. Instrução e feedback
Inicialmente a instrução das aulas era feita sempre com toda a turma
reunida, onde em cada transição de exercícios a aula parava, os alunos
reuniam-se e eu instruía a turma. Esta forma de instrução mostrou ser negativa
na medida em que se perdia muito tempo em instruções, roubando tempo de
exercitação aos alunos, dado que nem todos os alunos percebiam os
exercícios após a primeira instrução. Isto levava-me a explicar o exercício de
novo, mas de maneira diferente.
Para inverter esta situação, começaram-se a criar grupos de trabalho,
consoante o nível dos alunos e da matéria a abordar, para que, nos momentos
de instrução, fosse mais fácil de instruir, pois o grupo para o qual o professor
falava era mais reduzido podendo-o controlar melhor, e para os alunos terem
mais tempo potencial de aprendizagem.
Posteriormente, e como instruía a grupos menores, ainda faltava
remediar o facto de a instrução ser muito longa, pois as instruções estavam
51
muito descritivas e preocupava-me muito em transmitir de forma
pormenorizada as habilidades motoras, tentando fazer com que os alunos
aplicassem desde logo toda esta informação. Contudo, isto não é possível e
para isso, começou-se a tentar chegar ao núcleo da informação, aquilo que
realmente interessava, e transmitir aos alunos colocando-os de seguida em
prática, para que eles vivenciassem a teoria. De seguida, e sempre que
necessário transmitia feedbacks aos alunos, de forma a corrigir os seus erros,
para tentar alcançar, de uma forma prática, os objetivos traçados para essa
habilidade motora.
Segundo Rink (1993) o feedback é a informação que o aprendiz recebe
durante a sua atividade. A autora acrescenta que o feedback do professor
mantem os alunos concentrados nas tarefas de aprendizagem e serve para
motivar e monitorizar as respostas dos alunos.
Segundo Petrica (2003) a observação assume um papel importante, pois
não há feedback sem uma observação que permita detetar os erros de
performance. O autor menciona que no ensino em geral, os investigadores
também enfatizaram o papel predominante do feedback, mas onde ele ganha e
lhe é atribuída maior importância é no ensino da EF.
Já Sisto (1993) afirma que o feedback positivo é um reforço e visa a
generalização dos alimentos de um esquema de assimilação, reforçando e
remediando uma lacuna. O autor acrescenta que os feedbacks negativos e
uma correção supressiva, afasta obstáculos, anula ações, modifica os
esquemas e elimina um movimento em detrimento de outro, diminuindo a força
ou o seu alcance. Este mesmo autor refere que Piaget acredita que tanto os
feedbacks positivos como os feedbacks negativos funcionam simultaneamente,
sendo o primeiro como reforço e o segundo como correção, e que ambos são
necessários a qualquer conduta, bem como á formação de qualquer estrutura
ou esquema.
Os feedbacks positivos, foram os mais utilizados para tentar motivar os
alunos nas aulas, mas também houve alguns momentos em que se usaram
alguns negativos, de forma ao aluno perceber que aquilo que estava a fazer
não ia ao encontro daquilo que o professor pediu. Os feedbacks negativos
52
foram utilizados apenas para os alunos mais competentes e com os níveis de
autoestima um pouco altos e não para todos os alunos, pois havia elementos
na turma que tinham a sua autoestima baixa e caso fossem repreendidos à
frente da turma, ou negativamente, mais baixa poderia ficar a sua autoestima,
levando o aluno futuramente a associar exercício físico a momentos negativos
e repreendedores, o que os poderia levar a não incluir o exercício físico na sua
vida futura. Sendo este um dos objetivos das aulas de EF, fazer com que os
alunos ganhem gosto pelo exercício físico de forma a criarem estilos de vida
saudáveis, foi necessário selecionar alunos e momentos oportunos para
transmitir este tipo de feedbacks.
Com o decorrer das aulas foi-se percebendo que estes feedbacks
poderiam evoluir, introduzindo algum conteúdo neles de forma a fazer melhorar
os alunos na realização das habilidades motoras. Ao introduzir-se um conteúdo
nos feedbacks, teve também que se selecionar as melhores palavras, de modo
a alcançar esse objetivo, para que o aluno ouvisse rápido o professor
processasse logo a informação. Era de evitar que os feedbacks fossem muito
longos, pois com o aluno em prática, este deixaria de estar com atenção a
aquilo que o professor estava a dizer, o que seria desnecessário. Daqui
surgiram as palavras-chave prevalecentes na última coluna dos planos de aula,
onde com palavras claras e concisas, ajudaria os alunos a chegar aos objetivos
pretendidos.
Durantes as aulas, tentou-se criar um ciclo completo de feedback, onde
se observava a prática dos alunos, de seguida entrevia-se com um feedback, e
após esta intervenção voltava-se a observar o aluno ou os alunos aos quais se
dirigia a informação, de modo a perceber se esta tinha sido assimilada ou não,
e em caso negativo, voltava-se a transmitir outro feedback e de seguida outra
observação. Só depois deste ciclo é que se passava par a observação
atenciosa de outros alunos repetindo este ciclo.
4.1.3.6. Modelos de ensino
No decorrer deste ano letivo, foram adotados diferentes modelos de
ensino. Inicialmente, foi adotado o Modelo de Instrução Direta (MID), onde,
53
segundo Mesquita e Graça (2011), o professor é que define todas as regras e
rotinas de gestão e ação dos alunos, tentando alcançar a máxima eficácia nas
atividades desenvolvidas por eles. Este modelo foi adotado logo nas primeiras
matérias abordadas, de forma a criar rotinas organizativas com os alunos. Os
mesmos autores referem que é da competência do professor rever a matéria
previamente aprendida, apresentar novas habilidades, monitorizar a atividade
motora dos alunos e avaliar/corrigir sistematicamente tendo em conta os
objetivos traçados. Na realização das diferentes matérias, as competências dos
professores mencionadas anteriormente eram postas em prática, através da
avaliação diagnóstica, para rever a matéria previamente aprendida, de forma a
ser possível apresentar novas habilidades, que eram explicadas e
demonstradas pelo professor aos alunos, antes da prática das mesmas. De
forma a monitorizar a atividade motora dos alunos, tentou-se criar práticas bem
estruturadas para que os alunos seguissem um caminho previamente
delimitado visando uma boa aprendizagem para todos eles. Para avaliar e
corrigir sistematicamente os alunos, tendo em conta os objetivos traçados, o
professor emitiu muitos feedbacks com o intuito de melhorar o desempenho
dos alunos, tentando fazer com que estes alcançassem os objetivos previstos.
Inicialmente estava-se a cair no erro de tentar ensinar tudo, acabando
por não ensinar nada, decidiu-se alterar a metodologia de instrução das aulas.
Posto isto, adaptou-se o Modelo Desenvolvimental (MD) proposto por Rink
(1993), onde a autora menciona que o professor deve ser capaz de
desconstruir e sequenciar os conteúdos para experiências de aprendizagens
adaptadas às necessidades dos alunos. Começou-se a pensar mais nos alunos
em vez dos objetivos finais previamente definidos, e para alcançar este
objetivo, e após a avaliação diagnóstica, adaptavam-se os objetivos às
necessidades e realidade dos alunos, de forma a ser possível ao professor
ensinar e aos alunos aprender novos conteúdos.
Durante o ano transato, também se aplicou um outro modelo de ensino,
um pouco mais diferente que os anteriores, que foi ele o Modelo de Educação
Desportiva (MED). Siedentop et al. (2011), refere que o trabalho dos alunos por
equipas, pode levá-los a trabalhar conjuntamente de uma forma onde todos
54
eles possam vivenciar o sucesso. Acrescentando que o MED proporciona aos
alunos tempo adequado para que se possam desenvolver as habilidades
motoras e aprender a cumprir as funções de equipa exigidas para uma época
de educação desportiva de sucesso. O mesmo autor adianta que este modelo
tem como objetivo educar os alunos a serem jogadores de uma modalidade
ajudando-os a desenvolver-se como pessoas desportivamente competentes,
cultas e entusiastas.
Mesquita e Graça (2011), apresentam seis caraterísticas inerentes ao
MED, que são elas as épocas desportivas, a filiação, a competição formal, os
registos estatísticos, a festividade e o evento culminante (adaptado de
Siedentop, 1994).
Decidiu-se aplicar o MED na unidade temática de futebol, dado que esta
era a matéria que o professor-estagiário dominava melhor, por ser uma
unidade temática relativamente extensa (dezoito aulas de quarenta e cinco
minutos) e por se encontrar no último período, altura que a turma já estava com
as regras e rotinas consolidadas.
Na aplicação deste modelo, nem tudo correu bem, dado que o primeiro
obstáculo foi a não-aceitação inicial dos alunos por parte da criação de equipas
mistas.
“& ao constatar que os alunos não se mostraram recetivos ao facto de
criar equipas mistas, tentando promover uma maior relação entre rapazes
e raparigas.” (excerto da reflexão da aula do dia 2 de Abril de 2013).
Esta problemática ficou resolvida na aula da semana seguinte, onde as
equipas ficaram formadas e aptas para iniciar a aplicação do MED em toda a
sua essência.
“Quanto às equipas, os alunos não mostraram muito desagrado, sendo
que as permutas entre alunos de equipas diferentes fizeram-se logo no
início da aula.” (excerto da aula do dia 9 de Abril de 2013).
Durante a aplicação do MED, tentou-se fazer com que todas as
características mencionadas acima estivessem presentes em todas as aulas,
sendo que para isso foi necessário criar equipas homogéneas para que a
competição fosse renhida e de modo a que os alunos desenvolvessem o seu
sentimento de pertença a um grupo. Criou-se um quadro competitivo para cada
55
aula e uma tabela classificativa que englobava os resultados de todas as aulas,
para que os alunos se empenhassem em todas as aulas, foram criadas fichas
de jogo onde os alunos apontavam os resultados dos jogos, assim como os
marcadores e as advertências. Tentou-se realizar todo este modelo num bom
clima de festividade, onde o fair-play assumia um papel na pontuação das
aulas, procurando desenvolver as relações de amizade entre os alunos da
turma. Para terminar a unidade temática/época desportiva, realizou-se o evento
culminante, procurando que este fosse um momento de grande festividade.
Com a aplicação do MED procurou-se criar atividades igualmente
desafiadoras e motivantes para todos os alunos, sempre adaptados às
necessidades de cada aluno, assim como novas formas e tarefas de vivenciar
o desporto, tais como árbitros e jornalistas.
Inicialmente, a aplicação do MED gerou algum sentimento de
desconfiança devido aos comportamentos dos alunos, e á sua falta de
autonomia, visto que este modelo atribui muita autonomia e responsabilidade
aos alunos na organização e realização das atividades das aulas.
“Para o próximo período espero que os alunos melhorem o seu sentido de
responsabilidade para que possa implementar o Modelo de Educação
Desportivo na matéria de futebol de uma forma positiva.” (excerto da
reflexão da aula do dia 12 de Março de 2013).
Com o decorrer da época desportiva/unidade temática, foi-se notando
uma crescente melhoria na autonomia e responsabilidade dos alunos., não só
nas tarefas de praticante como nas de arbitragem.
“Foi de notar que no início da aula os alunos já começaram a ter
autonomia em procurar os coletes da cor da sua equipa.” (excerto da
reflexão da aula do dia 16 de Abril de 2013).
“Assim como na semana passada, na aula de 3ª feira, fiquei muito contente
com alunos, devido ao seu empenho nas tarefas de arbitragem e de mesa.
Penso que eles mostraram ter melhorado a responsabilidade e a
autonomia em respeitar, e fazer respeitar as ordens dos árbitros (colegas).”
(excerto da reflexão da aula do dia 30 de Abril de 2013).
No final da aplicação do MED foi de notar que os alunos melhoraram a
sua responsabilidade e autonomia individual. Contudo, este modelo poderia ter
56
sido potenciado caso a recetividade e entrega dos alunos ao mesmo fosse
superior.
4.1.4. Avaliação
Rink (1993) refere que, no ensino, a avaliação é o processo de recolha
de informação para ser possível fazer uma apreciação sobre produtos e
processos.
Ahlert (2002) adianta que a avaliação precisa de ser entendida como um
processo educativo e que tem por finalidade a promoção de aprendizagens, de
espaços, de processos e de instrumentos que possibilitem aos sujeitos
participarem.
O processo de avaliação do aluno foi um tema muito preocupante
durante todo este ano, onde, inicialmente, tudo parecia simples e bastava
atribuir um número a aquilo que os olhos viam das habilidades motoras dos
alunos. Mas que parâmetros são precisos avaliar? Onde se deve focar a visão?
Será que a classificação é justa? E se for exigente de mais? Os conteúdos são
demasiados? E se não conseguir avaliar todos os alunos na aula prevista?
Eram questões como estas que atormentavam o pensamento, e que
demonstraram que a avaliação afinal era mais complexa do que parecia.
De forma a tentar desconstruir o processo de avaliação, para o
simplificar, realizaram-se várias modalidades de avaliação, que foram elas a
avaliação diagnóstica (AD), a avaliação formativa (AF), a avaliação sumativa
(AS) e a avaliação contínua (AC). Durante a abordagem às diferentes matérias,
as mais utilizadas foram a AD e a AS, dado que havia muitas matérias a
abordar ao longo do ano. Relativamente à AF esta apenas foi utilizada na
matéria do andebol, visto que foi abordada no primeiro período, fazendo parte
da avaliação final do mesmo, e estava prevista ser abordada de novo no
terceiro período. Contudo, chegado a este último período e em conversa com o
professor cooperante, trocou-se esta matéria pela do futebol, dado que foi a
matéria onde foi aplicado o modelo de educação desportiva (MED). Esta troca
ocorreu fundamentalmente com o intuito de proporcionar aos alunos uma
vivência mais alargado com este modelo, o que acabou por se tornar positivo.
57
Posto isto, a AF de andebol passou a AS, dado que fez parte da avaliação de
final de período
O propósito da AD era fundamentalmente para conhecer os alunos nas
diferentes matérias que iam sendo abordadas, para que se pudesse planear
com sucesso todo o processo de ensino e de aprendizagem, um processo
adaptado e ajustado às necessidades dos alunos.
Aquando as aulas de avaliação diagnóstica e sumativa foi sentida uma
enorme dificuldade em conseguir avaliar todos os conteúdos previstos para
todos os alunos, o que por vezes ocupava toda a sessão de duas aulas no
caso da avaliação diagnóstica. Já na avaliação sumativa, tive que recorrer
muitas vezes às reflexões elaboradas antes e ao que conheci dos alunos
durante a unidade temática, de forma a conseguir avaliar melhor os alunos,
pois como as aulas de AS eram de apenas quarenta e cinco minutos, era muito
difícil conseguir avaliar todos os alunos para tantos conteúdos.
“Ao longo da avaliação senti dificuldades no preenchimento da grelha de
avaliação pois eram muitos conteúdos e muitos alunos.” (excerto da
reflexão da aula do dia 8 de Janeiro de 2013)
Posto isto, e nas unidades temáticas do segundo e terceiro período,
foram utilizadas as sessões de duas aulas para a AS das habilidades motoras,
de forma a haver mais tempo para observar cada aluno. Contudo, a avaliação
contínua influenciou também a nota final do aluno, na medida em que o aluno
poderia fazer muito bem uma habilidade motora ao longo das aulas e chegado
à AS poderia encontrar-se com alguma ansiedade ou nervosismo e realizar
essa mesma habilidade motora de forma menos eficiente, ou seja, tentou-se
sempre não prejudicar os alunos nestes momentos de avaliação. A AC serviu
ainda para avaliar o domínio sócio-afetivo, onde em todas as aulas se registava
o valor de cada aluno face ao seu desempenho na aula, numa escala de 1 a 5,
sendo que no final fazia-se a média de todas as classificações e ficava-se com
a nota final deste domínio.
Gatti (2003) afirma que os alunos aprendem enquanto são avaliados,
desde que se lhe apresentem tarefas sobre as quais tenham que pensar,
refletir ou apelar ao seu sentido criativo. A mesma autora afirma que a
aprendizagem pode ser maior no momento da avaliação.
58
Ao longo de cada período foram avaliados três domínios fundamentais, o
domínio psicomotor, que englobava as habilidades motoras e a aptidão física, o
domínio cognitivo, constituída pela cultura desportiva, e o domínio sócio-
afetivo, que abarcava os conceitos psicossociais. A avaliação do domínio
psicomotor, das habilidades motoras, era realizada numa das últimas sessões
de cada unidade temática, enquanto a parte da aptidão física era avaliada
através da aplicação da bateria de testes do fitnessgram realizada uma vez em
cada período. Quanto ao domínio cognitivo, este era avaliado através de testes
escritos realizados no final de cada período acerca das matérias abordadas no
decorrer desse mesmo período. Finalmente, o domínio sócio-afetivo era
avaliado continuamente, consoante a prestação dos alunos em cada aula, onde
esta era registada quantitativamente de um a cinco numa tabela, sendo que a
nota final deste domínio era a média de todas as aulas.
Durante as avaliações, um facto que foi sempre de evitar foi o chamar
aluno a aluno e avaliá-lo sem lhe transmitir nenhum feedback. Apenas nas
modalidades da ginástica, ginástica de solo, de aparelhos e acrobática é que
os alunos foram chamados um a um, ou no caso da acrobática, grupo a grupo,
para realizar a sua sequência/esquema, mas foram sempre transmitidos
feedbacks para que eles melhorassem a sua prestação. Contudo, esta
transmissão de informação era tida em conta na avaliação em si, assim como a
avaliação contínua. No final o que interessava era fazer com que os alunos
aprendessem e não simplesmente atribuir uma classificação ao aluno, e se o
aluno só aprendia no momento de avaliação, porque não ajudá-lo a aprender?
É esse o papel do professor de EF, é o de ensinar as habilidades motoras das
diversas matérias.
Nas restantes matérias, os alunos sabiam que a aula era de avaliação
sumativa, apesar de não saberem quando é que estavam a ser avaliados,
dando para o professor ver e rever o aluno na sua prática.
Para avaliação das habilidades motoras tentou-se dar algum significado
competitivo, sendo que esta não era realizada em exercícios critério, mas
sempre na sua componente formal, como por exemplo no caso do basquetebol,
onde os alunos foram avaliados na situação de jogo 3x3 e não em apenas
59
exercícios de drible ou de lançamento ou de finta em separado, para que os
alunos aplicassem os conteúdos abordados em situação de competição, pois
os alunos poderiam executar muito bem um lançamento na passada sem
oposição num exercício critério, e não conseguir aplicar esse lançamento na
passada num jogo onde havia oposição de adversários. Ao avaliar os alunos
em exercícios critério estar-se-ia a retirar o significado do jogo em si, que
pressupõe o objeto de jogo, neste caso a bola de basquetebol, os colegas e os
adversários, assim como uma competição entre duas equipas.
De forma a estruturar a avaliação das habilidades motoras, foram
criadas grelhas com todos os conteúdos abordados ao longo da unidade
temática. Contudo, foi sentida uma grande dificuldade em conseguir avaliar
tantos conteúdos para tantos alunos, de forma a ser justo e coeso com todos
eles. Nas avaliações diagnósticas a escala ia de zero a dois, e nas avaliações
sumativas a escala ia de um a cinco, mas para facilitar o trabalho do professor,
esta última avaliação passou também a ser realizada numa escala de zero a
dois, sendo que no final era feita uma média de todas as habilidades motoras e
de seguida convertia-se esse valor para uma escala de zero a cinco. Para
responder à necessidade de ser justo para com os alunos, procurou-se definir e
estruturar melhor os objetivos de ensino de cada matéria de forma a criar, para
cada habilidade motora, poucas determinantes técnicas de fácil consulta para
ser atribuída a classificação ao aluno. A criação destas determinantes técnicas
foi também guiadora do ensino da matéria em questão, para se evitar cair no
erro de tentar ensinar tudo e acabar por não ensinar nada. A definição das
determinantes técnicas para cada habilidade motora foi elaborada com a ajuda
do professor cooperante.
Posteriormente, no terceiro período e após a redução da escala de
avaliação, foi sentida ainda dificuldade em avaliar tantos conteúdos numa aula,
e para colmatar esta problemática, selecionaram-se os conteúdos que mais se
ajustavam às necessidades dos alunos. Como exemplo, no badminton, na AS
não foram avaliadas as pegas, dado que este conteúdo já estava consolidado
dos anos anteriores. Outro exemplo foi no voleibol, numa das turmas do 7º ano
no terceiro período, onde, apenas foram avaliados o passe, a manchete e o
60
jogo 2x2, dado que no primeiro período já tinham sido alvo de avaliação
conteúdos como a posição base, os deslocamentos e o jogo 1x1. Para ser
possível esta seleção dos melhores conteúdos para os alunos recorreu-se
também à ajuda do professor cooperante.
Inicialmente, e na avaliação sumativa de ginástica de solo, foram
sentidas muitas dificuldades em manter a atividade dos alunos que já tinham
sido avaliados, pois após estes serem avaliados, a sua prática reduzia
substancialmente.
“Um aspeto negativo que esta aula teve foi o facto de manter os alunos em
atividade após realizarem a avaliação.” (excerto da reflexão do dia 2 de
Outubro de 2012).
No caso específico desta aula, foi pedido aos alunos que já tinham
terminado a avaliação que ajudassem os restantes colegas, mas alguns não se
mostraram recetivos a essa atividade, e a esses alunos foi pedido que
realizassem alguns jogos lúdicos.
Nas avaliações seguintes o mesmo já não aconteceu, devido ao apoio
do professor cooperante e orientador que foi sentido ao longo das semanas.
“Em relação ao problema do comportamento e empenho dos alunos, penso que os
alunos melhoraram um pouco, havendo ainda muito trabalho pela frente.” (excerto da
reflexão da aula do dia 26 de Outubro de 2013).
Contudo, e como apresentado no excerto acima, ainda havia muito que
evoluir sobre o comportamento, trabalho que foi desenvolvido durante todo o
ano e que se mostrou mais efetivo aquando o início do projeto de investigação-
ação, onde foram aplicadas algumas estratégias de remediação/intervenção
sobre os maus comportamentos dos alunos.
Em suma, pode-se adiantar que a avaliação dos alunos foi um processo
que levou muitas horas de trabalho a aferir, sendo que todo ele foi melhorando
a cada unidade temática aplicada ao longo do ano letivo.
61
4.2. Área II e III – Participação na escola e relações com a
comunidade
4.2.1. Atividades de complemento curricular
Ao longo do ano transato foram realizadas atividades de complemento
curricular na escola. Tentou-se que estas atividades extracurriculares
estivessem sempre articuladas com os objetivos da atividade curricular de EF.
4.2.1.1. Corta-mato escolar
No caso do primeiro período, estava previsto realizar-se o corta-mato
escolar, que devido às más condições climatéricas, teve que se realizar logo na
primeira semana do segundo período. Contudo, foi da preocupação dos
professores de EF lecionarem as suas aulas previstas de atletismo neste
mesmo primeiro período, complementadas com o reforço muscular voltado
para a resistência aeróbia, de forma a preparar desde logo os alunos para esta
atividade. Nesta atividade houve alunos que ainda participaram na fase distrital,
sendo que nenhum foi à fase nacional.
4.2.1.2. Torneio tri-esod
No segundo período realizou-se o Torneio Tri-esod, um minitorneio entre
alunos dos três nonos anos de escolaridade das escolas do agrupamento de
escolas de Oliveira do Douro em três modalidades, voleibol, badminton e
futebol. Este minitorneio foi precedido de uma visita às instalações da escola,
de forma a cativar os alunos do nono ano a ingressarem no ensino secundário,
através de breves amostras por parte dos alunos das várias vertentes de
ensino. Durante esta visita coube aos professores estagiários de EF
acompanhar as respetivas turmas.
4.2.1.3. Compal Air
Ainda no segundo período realizou-se também o Compal Air, uma
atividade de basquetebol, e como tal nas aulas de EF foi dada importância a
62
esta matéria, sendo que no seio das aulas, foi permitido aos alunos criarem já
equipas, de forma a começarem a jogar juntos, para que pudessem jogar bem,
possibilitando a obtenção de uma boa classificação na competição. Assim
como na atividade anterior, houve equipas que ainda participaram na fase
distrital, sendo que uma delas ficou apurada para a fase nacional.
4.2.1.4. 12 Horas de desporto
No final do segundo período realizou-se o 12 horas de desporto, uma
atividade onde existiram seis matérias (corrida, ténis de mesa, basquetebol,
voleibol, andebol e futebol), com a duração de duas horas cada uma. A
atividade realizou-se desde as 12 horas de um dia até às 00 horas do dia
seguinte, o que fez dela uma atividade algo cansativa. Nesta atividade ainda
houve uma participação especial de uma equipa de professores na matéria de
andebol.
4.2.1.5. Visita à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Já no terceiro período, realizou-se uma visita à FADEUP, no âmbito da
osteoporose. Nesta visita os oito alunos que se dirigiram à instituição de
ensino, tiveram a oportunidade de conhecer as suas instalações e de realizar o
teste à densidade mineral óssea, o DEXA. No decorrer da visita, os alunos
mostraram-se muito recetivos às informações que lhes iam sendo dadas, assim
como muito interessados em experimentar o material disponível nos diferentes
pavilhões.
“Notou-se ainda uma grande euforia por parte dos alunos, em quererem
experimentar muitas atividades e espaços desportivos da FADEUP,
nomeadamente do pavilhão de Ginástica, onde os alunos se mostraram
muito surpreendidos pelo tamanha e equipamento deste espaço.” (excerto
do diário de bordo do dia 5 de Abril de 2013).
No final desta pequena visita, houve alguns alunos que se mostraram
tentados a ingressar na FADEUP, dado às excelentes condições mostradas ao
longo do dia.
63
4.2.1.6. Sarau da ESOD
Para terminar o ano letivo, realizou-se o Sarau da ESOD, um pequeno
evento que teve um grande impacto na comunidade escolar, que envolveu
alunos, pais, professores e funcionários. Neste evento foram apresentados
vários esquemas de atividades rítmicas expressivas e de ginástica acrobática,
e de forma a articular as aulas com o evento, nas aulas de EF deu-se
importância à matéria de ginástica acrobática.
4.2.2. Ateliê de EF
Segundo Neto (1997), a exploração da natureza e as experiências de
grupos de amigos em jogos espontâneos de aventura, são progressivamente
mais limitadas, sendo substituídas por outras mais apropriadas ao controlo da
corporalidade e do espaço de ação. Este fator mostra que cada vez mais os
alunos se encontram superprotegidos, não havendo espaço para que eles
descubram novas atividades.
Ao longo do ano transato foi desenvolvido um projeto, em horário
extracurricular, posto em prática apenas no segundo período, que foi o ateliê
de educação física. Este ateliê foi um projeto que visou criar estilos de vida
saudáveis em adolescentes e jovens com excesso de peso ou obesidade, de
modo a favorecer um estilo de vida mais saudável, aumentando a sua atividade
física habitual. Dado que Gonçalves et al. (2007) afirmam que os adolescentes
ativos têm maior probabilidade de se tornar adultos ativos quando comparados
com adolescentes sedentários.
O projeto pretendeu promover a educação para a saúde, na ESOD,
integrando o programa promoção e educação para a saúde (PPES), e foi
articulado com outros campos de intervenção como a psicologia e a nutrição,
incidindo sobre o sedentarismo e promovendo a saúde física e mental, através
de hábitos saudáveis e conscientes.
“Fa escola possa situar-se no centro das preocupações com a
educação para a saúde, por diversas razões mas, sobretudo, pelo facto de que
uma boa parte das crianças e jovens tem acesso à escola e nela participam
64
das aulas de EF, o que torna a escola uma instituição privilegiada de
intervenção.” (Marques & Gaya, 1999, p.83)
O ateliê de EF teve como objetivos gerais, o de promover estilos de vida
saudáveis, formar os participantes para a sociedade do conhecimento,
promover uma cultura de trabalho, esforço e automotivação, fomentar o
reconhecimento da saúde como um bem precioso que todos desejamos e
devemos promover, melhorar a aptidão física na perspetiva da qualidade de
vida, da saúde e do bem-estar, desenvolver o gosto pela prática regular das
atividades físicas e assegurar a compreensão e a sua importância como fator
de saúde, promover a formação de hábitos, atitudes e participação nas
estruturas sociais no seio das quais se desenvolvem as atividades físicas,
conhecer e interpretar os fatores de saúde e risco associados à prática das
atividades físicas e aplicar as regras de higiene e de segurança, elevar o nível
funcional das capacidades condicionais e coordenativas gerais, particularmente
de resistência geral de longa e média duração, da força resistente, da força
rápida, da flexibilidade, da velocidade de reação simples e complexa, de
execução, de deslocamento e de resistência, e das destrezas geral e
específica.
Relativamente aos objetivos mais específicos deste ateliê, estes foram,
incrementar os níveis de aptidão física no sentido de chegarem à Zona
Saudável da Aptidão Física (ZSAF), desenvolver capacidades e competências
que lhes permitam alcançar uma classificação positiva na disciplina de EF.
Para alcançar estes objetivos, durante as aulas do projeto foram
utilizados exercícios mais lúdicos e diferentes das aulas de EF, de forma a
despertar nos alunos um gosto pelo exercício físico, e que este não é sinónimo
de dor, angústia ou exclusão, mas sim de que é para todos, divertido e
proporciona um sentimento de inclusão social dado à afetividade com o grupo
de trabalho.
O público-alvo deste projeto eram os alunos identificados pelo programa
de promoção e educação para a saúde (PPES) com índice de massa corporal
elevado e percentagem de massa gorda e perímetros de cintura abdominal
elevados, e os alunos que tivessem classificação negativa à disciplina de EF.
65
Quanto à orientação do projeto, este foi dirigido pelo núcleo de estágio
da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP).
No decorrer do ateliê de EF, sentiram-se algumas dificuldades graves.
Antes do início da aplicação do projeto, os professores responsáveis pelos
alunos selecionados falavam com os mesmos para saber se eles estavam
interessados ou não em participar, pois o projeto foi de caráter facultativo.
Enquanto os alunos estavam a ser selecionados, foi-se decidindo o horário do
projeto, tendo este ficado às quartas-feiras da parte da tarde (das 15horas e 10
minutos até às 16 horas e 40 minutos), visto que era o dia em que nenhum
aluno tinha aulas.
Logo no início da aplicação foi sentida uma grande dificuldade na
assiduidade dos alunos selecionados para o projeto, e logo na primeira aula
apenas apareceu uma aluna.
“Da parte da tarde, iniciámos as aulas do Ateliê de Educação Física, em
que apenas apareceu uma aluna dos vários propostos para este Ateliê.
Esta primeira aula estava prevista ser uma aula onde conheceríamos os
alunos, mas como apenas surgiu uma aluna&” (excerto do diário de bordo
do dia 30 de Janeiro).
Posteriormente começaram a comparecer três alunas nestas aulas, e
que começaram a ser assíduas ao longo das semanas.
“Nesta aula de ateliê estiveram presentes as mesmas 3 alunas&” (excerto
do diário de bordo do dia 24 de Abril de 2013);
“Nesta aula de ateliê tivemos presentes as três alunas já habituais.”
(excerto do diário de bordo do dia 15 de Maio de 2013).
De forma a perceber o porquê da falta de assiduidade dos alunos ao
projeto, e através de conversas informais, tanto eu como os meus colegas de
estágio perguntámos aos alunos selecionados os motivos pelos quais eles não
compareciam às aulas. As respostas deles variaram entre o “tenho que
estudar”, o “não posso”, o “não tenho tempo”, o “é a minha tarde livre” e o
“prefiro ocupar o tempo de outra forma”. Penso que as únicas maneiras para
que este projeto consiga evoluir são que este deverá ocorrer num outro horário,
pois não foi por falta de informação nem de divulgação que os alunos não
compareceram, ou então deverá abrir portas aos alunos que queiram melhorar
66
as suas habilidades motoras nas diferentes matérias, estruturando um plano
anual de atividades para publicar logo no início do ano para que os
interessados se possam inscrever.
No final do projeto fica a ideia de que este ateliê poderia ter sido muito
mais positivo, caso os alunos propostos para o mesmo comparecessem nas
aulas.
4.2.3. Desporto Escolar
“O desporto escolar (DE) é uma área transversal da educação com
impacto em diversas áreas sociais. É um instrumento essencial na promoção
da saúde, na inclusão e integração social, na promoção do desporto e no
combate ao insucesso e abandono escolar. Pretende-se que seja
implementado de forma efetiva em todas as escolas e acessível a todos os
alunos.” (GCDE/DGIDC, 2009, pp. 42).
Silva (2006) afirma que o desporto escolar deve ser repensado quanto à
sua organização, características e enquadramento, já que ninguém parece
saber muito bem aquilo que se pretende com estas atividades.
“O desporto escolar é na generalidade das escolas espera-se que o
diretor de turma seja um professor dinamizador de projetos, coordenador de
uma equipa de trabalho, relações públicas, mediador de conflitos.” (Silva, 2006,
p.5)
Posto isto, na ESOD apenas existiram quatro modalidades, sendo elas o
voleibol (masculinos e femininos), o badminton (masculino, feminino e mistos),
as atividades rítmicas e expressivas (misto) e futsal (feminino).
O DE na ESOD era algo conhecido pelos feitos em anos anteriores na
matéria do badminton, mas este ano não foi de ressaltar nenhum marco
histórico em qualquer uma das diferentes matérias, devido à pouca aderência
dos alunos. Contudo, a matéria de atividades rítmicas expressivas (dança) foi
aquela que mais alunos teve inscritos, onde com a ajuda de uma professora
2 “Programa de Desporto Escolar para 2009-2013” é um documento elaborado pelo
Gabinete Coordenador do Desporto Escolar, Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, Ministério da Educação em Junho de 2009.
67
especializada na área, realizaram um ótimo trabalho, apesar de não terem
passado da fase distrital. Este grupo foi atuando nos intervalos das atividades
que se iam realizando na escola.
Relativamente ao badminton, esta matéria ficou um pouco aquém dos
anos anteriores, onde houve campeões nacionais e este ano apenas um aluno
atingiu o pódio nos distritais.
“Devem os órgãos de gestão dos estabelecimentos de ensino afetar e
garanti os recursos humanos e materiais necessários ao desenvolvimento do
seu projeto de desporto escolar” (GCDE/DGIDC, 2009, p. 9).
Foi o que aconteceu durante todo o ano de desporto escolar na ESOD,
em que apenas a professora de dança era uma professora que não lecionava
aulas de EF na escola, sendo que todas as outras matérias eram asseguradas
pelos professore do grupo de EF da ESOD.
Segundo Neto (1997) a escola é um lugar onde se pode mobilizar as
crianças para a aprendizagem de estilos de vida ativa, sendo que o professor
deve selecionar as melhores estratégias de intervenção e a selecionar
apropriadamente os conteúdos e meios de ensino e de aprendizagem. O autor
acrescenta que a criança demonstra uma capacidade motora e uma motivação
intrínseca dependentes das caraterísticas do seu contexto de vida.
Penso que o DE é um meio para se chegar a um fim, sendo esse fim o
aumento de afetividade por uma modalidade, a criação de estilos de vida
ativos, o desenvolvimento das capacidades sócio-afetivas do aluno, o aumento
do seu sentimento de pertença a um grupo, ou pura e simplesmente uma
diversão.
4.2.4. Direção de turma
Oliveira (2010) refere que o diretor de turma ocupa uma posição
importante nas estruturas de coordenação educativa da escola, desdobrando a
sua intervenção numa diversidade de funções. A mesma autora acrescenta que
espera-se que o diretor de turma deve ser um professor dinamizador de
projetos, coordenador de uma equipa de trabalho, relações públicas, mediador
de conflitos, entre outros. Posteriormente, e ainda a mesma autora, refere que
68
a missão principal de um diretor de turma é a de apoiar o sucesso pessoal dos
alunos, e que este tem que se relacionar com muitas pessoas, sendo que o seu
sucesso depende do clima de comunicação, de colaboração e da relação
amistosa que consegue criar com todos os elementos com quem interage.
O diretor de turma é designado pelo diretor da escola, de entre os
professores da turma. Este coordena o trabalho do conselho de turma e
preside as reuniões do conselho de turma, que deverão ser previamente
preparadas.
São competências e deveres do diretor de turma esclarecer os alunos
acerca das funções do diretor de turma e informá-los, assim como aos
encarregados de educação, do seu horário de atendimento, estimular a
participação do aluno na vida da escola e da comunidade, promover a eleição
do delegado e subdelegado de turma e fornecer estes nomes à direção da
escola, a fim de ser elaborado o caderno para a eleição dos representantes dos
alunos ao conselho pedagógico. O diretor de turma deve ainda criar e
desenvolver um diálogo aberto com a turma e facilitar aos encarregados de
educação a comunicação com a escola, mantendo-os informados e
esclarecidos, quer através de reuniões, quer através de correspondência e dos
contactos semanais.
A apresentação da diretora de turma aos restantes professores da turma
em questão ocorreu na primeira reunião do conselho de turma, ainda antes das
atividades letivas se iniciarem. Nesta reunião ficou também a ser conhecida a
turma, assim como os alunos que a constituíram.
Ao longo do ano, a diretora de turma foi marcando reuniões de conselho
de turma, sempre que necessário. Realizaram-se algumas reuniões
intercalares, de forma a perceber como estava orientado o processo de ensino
e de aprendizagem dos alunos. Na primeira reunião intercalar, a ideia com que
se ficou da turma foi algo negativa.
“& ficou registado que esta turma tem um fraco aproveitamento [&] mas
que se transcreve pela atitude dos alunos nas aulas e no seu trabalho de
casa, que é muito fraco. É uma turma que não tem hábitos de trabalho.”
(excerto da reflexão da segunda reunião do conselho de turma, primeira
avaliação intercalar).
69
Nesta reunião tentaram-se ajustar as metodologias utilizadas de forma a
evoluir a turma, como aumentar o contacto entre a diretora de turma e os
encarregados de educação.
No decorrer do ano, houve sessões de direção de turma, onde
juntamente com a diretora de turma foram percebidas muitas das suas
atividades, assim como a sua grande importância e ligação entre a escola e os
encarregados de educação.
“F sendo de salientar a responsabilização deste (diretor de turma) pela
participação efetiva do encarregado de educação no processo
ensino/aprendizagem dos alunos.” (Silva, 2007, p. 61)
No final de cada período era também realizada uma reunião do conselho
de turma, de forma a serem debatidas as classificações obtidas por parte dos
alunos a cada disciplina. Ao longo das reuniões do conselho de turma,
percebeu-se que caso faltasse algum professor a esta reunião, a mesma tinha
que ser adiada.
Inicialmente, as sessões com a diretora de turma serviam para fazer o
levantamento e justificação de faltas dos alunos. Contudo, houve reuniões que
os assuntos tratados não eram os melhores.
“O assunto desta correspondência não foi o melhor, pois houve alguns
incidentes na turma muito desagradáveis, como um caso de racismo e
outro de bullying, em que alguns alunos trocaram palavras inapropriadas
no contexto de aula.” (excerto do diário de bordo do dia 25 de Janeiro de
2013).
Numa destas reuniões apercebeu-se de que havia uma aluna tinha
ultrapassado o limite de faltas à disciplina de EF.
“Durante a justificação de faltas, foi de notar que uma aluna já ultrapassou
o limite de faltas à minha disciplina. Caso este facto se mantenha a aluna
terá que compensar o número de horas a mais do que lhe é permitido
faltar, tendo que realizar algum trabalho para a minha disciplina.” (excerto
do diário de bordo do dia 1 de Março de 2013).
Nesta reunião ficou a perceber-se de que quando um aluno excede o
número de faltas injustificadas, este deve realizar um trabalho individual de
compensação de horas às quais faltou, de forma a não ficar retido no ano de
70
escolaridade por excesso de faltas. Antes de se realizar este trabalho, a
diretora de turma convocou uma reunião com a mãe do aluno em questão, de
forma a perceber o porquê do excesso de faltas.
Esta aluna teve que realizar o plano individual de trabalho (PIT), devido
ao excesso de faltas injustificadas, e numa das sessões foi possível perceber
de que a disciplina de EF não foi a única à qual esta aluna realizou o PIT.
“Durante esta reunião foi possível perceber que a aluna que realizou o PIT
a Educação Física, já realizou mais projetos idênticos a outras disciplinas,
devido ao elevado número de faltas.” (excerto do diário de bordo do dia 17
de Maio de 2013).
No final do ano, numa das últimas sessões tocou-se no assunto da
construção do plano de turma, um plano que englobava todas as atividades
efetuadas pela turma ao longo do ano.
“Durante esta reunião falou-se acerca da construção do Plano de Turma
(PT), e que este deveria englobar os relatórios dos ateliês onde os alunos
da turma estiveram presentes, os inquéritos realizados a professores e
alunos, e ainda as atividades onde os alunos participaram.” (excerto do
diário de bordo do dia 31 de Maio de 2013).
No âmbito do acompanhamento à direção de turma, foi necessário
lecionar uma aula de Educação para a Cidadania. Esta aula teve como tema
principal “Profissões”, onde se falou acerca do que os alunos gostariam de ser,
fazendo-os que caminhos podem escolher, no ingresso ao ensino secundário e
superior. A área mais tocada foi a do desporto, dado que foi um estagiário de
EF a lecionar esta aula.
Todo este acompanhamento à diretora de turma ajudou a perceber a
grande importância que a mesma desempenhou como mediador entre a escola
e a família, assim como na organização e convocatória das reuniões do
conselho de turma e ainda na sua forte ligação e relacionamento com todos os
professores constituintes do conselho de turma.
71
4.3. Área IV – Desenvolvimento profissional
4.3.1. Como aprender?
Uma questão que penso ser pertinente na área do ensino é de entre
tudo aquilo que se ensina, qual a melhor maneira de ensinar? Pode-se
constatar que existem diferentes formas de aprender e de ensinar. Desde o
planeamento até à avaliação, passando pela instrução e pela organização e
gestão da aula, todo o professor procura desenvolver um ensino eficaz, de
forma aos seus alunos aprenderem mais e melhor.
Ao longo deste ano letivo, a aprendizagem à qual estive exposto não se
limitou aos momentos formais de lecionar as aulas e às reuniões com os
professores cooperante e orientador, ou seja, aos momentos formais do
estágio. A aprendizagem deste ano foi um processo muito mais amplo, muito
por culpa de toda a comunidade envolvente da escola, que se mostrou sempre
disponível para me ajudar.
Houve muitos momentos de aprendizagem de caráter informal, que
passaram por conversas de café com outros professores de EF, de onde foi
possível perceber diferentes perspetivas de ensino das diversas matérias.
Constatei que há professores que defendem o trabalho das habilidades
motoras por exercícios de caráter mais analítico e outros que defendem a
exercitação do jogo formal como o principal meio de aprendizagem das
mesmas. Dentro de outras conversas informais, não com professores, mas sim
com alunos, percebi também alguns dos seus pontos de vista face às aulas de
EF, procurando em seguida desenvolver estratégias para os motivar aquando a
abordagem de matérias onde as suas dificuldades eram maiores.
Uma das maiores fontes de aprendizagens que obtive neste ano letivo
foram os meus colegas de estágio. Com eles passei a grande parte de cada
dia, de cada semana, de cada período e do ano letivo, a conversar, a pensar e
a refletir acerca do que estava bem, do que estava mal, do que se poderia
melhorar ou do que se poderia manter, tanto a nível das nossas aulas como
fora delas. Apesar de todos termos as nossas divergências, todos remámos no
mesmo barco e para o mesmo objetivo, apoiando todas as decisões tomadas e
atos realizados de cada um.
72
De entre todas estas formas de aprendizagem, penso que consegui
retirar o melhor de cada uma delas e, agora que tudo termina, sinto-me apto e
com conhecimentos adequados para seguir o rumo do sucesso na profissão de
docente da Educação Física.
73
4.3.2. Projeto de investigação-ação
Eficácia da intervenção do professor face aos problemas de indisciplina
nas aulas de Educação Física
João António dos Santos Andrade
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Resumo
A indisciplina é a falta de comportamentos desejáveis, como a falta de limites, falta de
atenção, falta de comprometimento e falta de organização do material. O presente estudo teve
como objetivos, criar, desenvolver e validar estratégias de intervenção/remediação, para aplicar
sobre os comportamentos de indisciplina dos alunos nas aulas de Educação Física (EF). De
forma a alcançar os objetivos, utilizei uma pesquisa de investigação-ação, onde filmei um total
de 6 sessões de 9 aulas, para que fosse possível ver e rever os acontecimentos. Os
participantes do estudo foram todos os alunos de uma turma do 9º ano de escolaridade da
Escola Secundária de Oliveira do Douro, assim como eu, o respetivo professor-estagiário de
EF. Os resultados mostraram que tanto a frequência dos comportamentos de indisciplina como
o tempo gasto para a sua resolução diminuiu, sendo que é durante os momentos de transição
entre atividades que ocorrem mais comportamentos de indisciplina e a ação mais frequente do
professor face a estes comportamentos é o de tolerância. Conclui-se então que as estratégias
criadas, desenvolvidas e aplicadas foram eficazes na antecipação/resolução dos
comportamentos de indisciplina, resultando num ganho total de 24 minutos e 13 segundos de
tempo útil de aula, sendo que o tempo útil total era de 110 minutos.
Palavras-chave: Indisciplina, Estratégias de intervenção/remediação, Tempo útil de
aula, Educação Física.
74
Abstract
Indiscipline is the lack of desirable behaviours, like the lack of boundaries, lack of
attention, lack of commitment and content arrangement. This study objectives were, creation,
development and validation of intervention/correction strategies, to apply on student
misbehaviour on Physical Education classes (PE). In order to achieve this objectives, I did an
investigation-action which consisted of recording 6 sessions of 9 classes, so that I could identify
and review the occurrences. The participants of the study were all students of the 9th grade
from the secondary school of Oliveira do Douro, as well as me, their respective Teacher-Intern
of PE. The results showed that the indiscipline as well as the time required to deal with such
behaviours decreased, these behaviours were most frequent during the transition between
activities on which the common action taken by the teacher was tolerance. It was concluded
that the strategies created, developed and applied were effective in the anticipation/resolution of
indiscipline, leading to a total gain of 24 minutes and 13 seconds of class time, remarking that
the lessons full time was 110 minutes.
Keywords: Indiscipline, Intervention/correction strategies, Class time, Physical
Education.
75
Introdução
Rink (1993) afirma que as aulas de EF devem caracterizar-se por um
ambiente que conduza à aprendizagem, e que os ginásios/pavilhões devem ser
locais onde os alunos possam obter experiências positivas. A mesma autora
menciona que as aproximações positivas para chegar aos alunos e manter a
sua cooperação são mais eficazes do que as negativas, acrescentando que
enquanto professor, deve-se ensinar um bom comportamento da mesma
maneira que se ensina uma nova habilidade motora.
Siedentop (2000) refere que um sistema de gestão de tarefas eficaz
começa com o desenvolvimento de rutinas e estabelecendo regras para um
comportamento adequado. O mesmo autor refere que as rotinas especificam o
procedimento para a realização das tarefas com a turma, e que qualquer tarefa
repetida frequentemente deve-se tornar numa rotina. Já as regras, e segundo o
mesmo autor, estas identificam os comportamentos apropriados e
inapropriados dos alunos. Tanto as rotinas como as regras precisam de ser
ensinadas e os alunos necessitam de oportunidades para as por em prática,
com feedbacks consistentes e com a aplicação de consequências às mesmas.
Garcia (1999) refere que a noção de indisciplina deve ser considerada
através de três planos de expressão na escola, onde é possível situá-la no
contexto das condutas dos alunos nas diversas atividades pedagógicas, deve-
se considerar também a indisciplina sob a dimensão dos processos de
socialização e dos relacionamentos que os alunos exercem na escola, e por
fim, deve-se pensar na indisciplina no contexto do desenvolvimento cognitivo
dos estudantes. O mesmo autor define a indisciplina como “a incongruência
entre os critérios e expetativas assumidos pela escola em termos de
comportamento, atitudes, socialização, relacionamentos e desenvolvimento
cognitivo, e aquilo que demonstram os estudantes.” (Garcia, 1999, p.102)
Pode-se então afirmar que a indisciplina é a falta de comportamentos
desejáveis, como a falta de limites, falta de atenção, falta de comprometimento
e falta de organização do material. Este conceito repercutia-se nas aulas na
medida em que os alunos conversavam com os colegas enquanto o professor
76
instruía uma tarefa, não respeitavam o material nem os próprios colegas
durante as mesmas, não cumprindo a sua organização.
Jesus (2008) menciona que as estratégias punitivas apenas apresentam
efeitos a curto prazo, sendo necessário aumentar a intensidade e a frequência
da punição para continuar a ter os mesmos efeitos sobre o comportamento
destes. O autor refere ainda que o professor funciona como um modelo
agressivo quando deveria fornecer um exemplo de estabilidade e serenidade
aos seus alunos. Para tentar reverter e prevenir os comportamentos de
indisciplina nas aulas de EF, foram utilizadas inicialmente estratégias punitivas
aos alunos que praticavam esses comportamentos. Contudo, esses
comportamentos eram muitas vezes repetidos na mesma aula, o que mostrava
que estas estratégias não eram de todo eficazes.
Eccheli (2008) refere que é provável que a indisciplina observada na
escola esteja relacionada com a falta de motivação dos alunos, dado ao facto
de eles se sentirem obrigados a estar presentes nas aulas, considerando os
conteúdos inúteis, ou não entendendo bem para que servem. Este foi um facto
constatável aquando a lecionação da matéria da ginástica de solo e do
atletismo, onde os alunos mostravam muita falta de interesse e
consequentemente mais comportamentos de indisciplina. O professor teria que
conseguir cativar os alunos, levando-os à devida prática e conhecimento das
habilidades motoras.
Jesus (2008) afirma que o professor na sala de aula é um líder, pois
procura influenciar os alunos para que eles se interessem pelas aulas, que
apresentem bons comportamentos adequados e que obtenham bons
resultados escolares.
De forma a prevenir e remediar a problemática do comportamento nas
aulas de EF, criaram-se e desenvolveram-se algumas estratégias de
intervenção/remediação sobre esses comportamentos. As estratégias foram
desenvolvidas com o auxílio de um professor da FADEUP, sendo que estas
apenas se criaram após uma análise inicial da turma e dos seus
comportamentos durante a aula.
77
Segundo Neto (1997), ao nível da intervenção pedagógica e conteúdos
programáticos, importa definir estratégias de ensino que valorizem a formação
motora, lúdica e o estado de condição física dos alunos, aumentando a
qualidade de tempo de atividade motora e favorecendo a criação de um padrão
ativo de atividade física regular. Foi perdido muito tempo de empenhamento
motor em prol da criação de um bom clima de ensino e de aprendizagem, para
que os alunos pudessem aprender ao máximo nas aulas de EF.
“O tempo de empenhamento motor engloba o tempo de envolvimento
motor dos alunos nas atividades físicas e expressa o tempo real de prática e
exercitação, seja qual for a natureza e o tipo de empenhamento do aluno”
(Nunes & Gomes, 2001, p.152)
Relativamente à recolha de dados por gravação das aulas, Silva e
Aranha (2005), referem que esta estratégia permite que os dados sejam vistos
e revistos, quantas vezes necessárias, de forma a realizar uma boa análise.
Carvalho (1996) afirma que o ver e rever traz à pesquisa novos dados, que não
seriam registados pelo melhor observador situado na sala. A autora acrescenta
ainda que através dos vídeos das aulas, podem-se descobrir factos que só se
revelam quando se assiste várias vezes.
Como consequência dos comportamentos de indisciplina por parte dos
alunos, muito deste tempo de empenhamento motor não foi aproveitado para a
realização das tarefas previstas. Os mesmos autores mencionam que a
indisciplina é um conjunto de atos provocados pelos alunos, que entram em
contradição com as ações propostas pelo professor.
Para o desenvolvimento deste estudo foi utilizada a investigação-ação
que, segundo Watts (1985) (cit. por Ferrance, 2000), é um processo no qual os
participantes examinam a sua própria prática educativa, sistematicamente e
cuidadosamente, utilizando técnicas de pesquisa. O mesmo autor refere que os
professores trabalham melhor sobre os problemas que identificam acerca deles
próprios, e que eles tornam-se mais eficazes quando lhes é proposto examinar
e avaliar o seu próprio trabalho, considerando de seguida, maneiras diferentes
de trabalhar. Ainda o mesmo autor acrescenta que trabalhar com os colegas
ajuda os professores no seu desenvolvimento profissional.
78
Objetivos
A base fundamental deste estudo foi a de ajudar o professor a promover
o processo de ensino e de aprendizagem, a rentabilizar melhor o tempo da aula
e aumentar o tempo de empenhamento motor dos alunos, para que estes
possam aprender mais e melhor em cada sessão/aula de EF. Para alcançar
estes objetivos foram criadas, desenvolvidas e aplicadas estratégias de
intervenção/remediação com o intuito de estas serem validadas.
Posto isto, o presente estudo tem como objetivos secundários, perceber
em que momentos da aula ocorrem com maior frequência os episódios de
indisciplina, tentando descobrir se existem padrões entre os mesmos, perceber
o tipo de comportamento de indisciplina, bem como a intervenção do professor
face a esse comportamento, e aferir se as estratégias de
intervenção/remediação criadas e desenvolvidas neste estudo sobre os
episódios de indisciplina são adequadas, resultando num melhor
funcionamento da aula.
Metodologia
Participantes
Quanto aos participantes deste estudo, estes foram os vinte e três
alunos da turma B do 9º ano de escolaridade da Escola Secundária de Oliveira
do Douro, pertencente ao agrupamento de escolas de Oliveira do Douro, bem
como o respetivo professor-estagiário da disciplina de Educação Física. Pode-
se adiantar que o professor tinha pouca experiência na área da docência.
Recolha de Dados
Como método para a recolha de dados, optou-se pela gravação de
aulas, isto porque durante a aula o professor não tem perceção nem atenção a
todos os acontecimentos da aula, e também porque após a gravação, era
possível observar repetidamente as aulas com mais calma, podendo ser
passível de encontrar atitudes e/ou comportamentos dos alunos que ocorreram
enquanto o professor não estava a observar.
Para gravar as aulas, foi utilizada uma Sony Handycam HDR-HC9.
79
Procedimentos de Recolha
Os momentos de filmagem dividiram-se em três, que foram eles o
momento inicial, o momento intermédio e o momento final. Para cada um dos
momentos foram filmadas as duas sessões de EF semanais, uma de noventa
minutos (duas aulas) e outra de quarenta e cinco minutos (uma aula). No total
foram filmadas seis sessões, três de noventa minutos e três de quarenta e
cinco minutos.
Foram filmadas as duas aulas da mesma semana, pois os alunos
obtinham comportamentos distintos de uma aula para a outra. As aulas de
noventa minutos ocorriam às terças-feiras das 08 horas e 15 minutos até às 09
horas e 45 minutos, enquanto as aulas de quarenta e cinco minutos ocorriam
às sextas-feiras das 11 horas e 45 minutos até às 12 horas e 30 minutos.
Durante estas aulas os alunos obtinham comportamentos muito distintos,
sendo que nas aulas de terça-feira encontravam-se mais calmos e recetivos às
atividades, enquanto nas aulas de sexta-feira, os alunos apresentavam-se
muito ativos e muito pouco recetivos às atividades das aulas, perdendo-se
muito tempo a tentar organizar a aula e a iniciar os exercícios.
O tempo útil da sessão de noventa minutos foi de setenta e cinco
minutos e da sessão de quarenta e cinco foi de apenas trinta e cinco minutos,
perfazendo um tempo útil semanal total de cento e dez minutos. Tanto o
professor como os alunos tinham conhecimento da gravação das aulas,
atuando de forma normal e descontraída, dado que passado pouco tempo de
aula, já não se lembravam que estavam a ser filmados.
Os momentos de filmagem foram separados no tempo, de foram a que
fosse possível aplicar as estratégias de intervenção/remediação. O momento
inicial ocorreu nos dias 29 de Janeiro de 2013 e 1 de Fevereiro de 2013, e com
ele pretendeu-se averiguar o tipo de comportamento dos alunos, bem como a
existência de algum padrão entre estes comportamentos, para que fosse
possível criar e desenvolver as ditas estratégias. O momento intermédio
ocorreu quatro semanas após o primeiro momento, nos dias 5 e 8 de Março de
2013, e com ele pretendeu-se averiguar se as estratégias estavam a ser
eficazes ou não, podendo-se adaptar as estratégias já criadas ou então criar e
80
desenvolver novas estratégias para que todo este processo de melhoria
docente fosse potenciado. Já o momento final decorreu cinco semanas após o
segundo momento, nos dias 16 e 19 de Abril de 2013, apesar das estratégias
apenas terem sido postas em prática durante três semanas dado às
interrupções letivas da Páscoa. Este momento final teve como principal objetivo
avaliar todo o processo precedente, averiguando a eficácia das estratégias
desenvolvidas durante o estudo.
Análise os dados
Após cada filmagem, a sessão foi revista cautelosamente, identificando
e descrevendo os momentos em que os alunos tiveram comportamentos
indisciplina na aula de EF e que levaram a uma quebra da fluidez da aula.
Foram também registados os comportamentos do professor face a esta
problemática, assim como a resposta dos alunos à intervenção do professor.
De forma a orientar o trabalho durante a visualização dos vídeos,
construiu-se uma tabela com quatro colunas, onde eram descritos todos os
acontecimentos de indisciplina nas aulas. As colunas eram:
• Coluna 1 – “Descrição do Acontecimento”;
• Coluna 2 – “Ação do Professor”;
• Coluna 3 – “Reação dos alunos”;
• Coluna 4 – “Tempo”.
Na primeira coluna descreveram-se os acontecimentos, as situações
que se desenrolaram na aula que levaram a uma quebra da fluidez da mesma,
na segunda coluna colocaram-se as ações/reações do professor face a este
acontecimento. Quanto à terceira coluna, nesta introduziu-se qual a reação dos
alunos face ao comportamento anterior do professor. Já a quarta coluna foi
algo que deu ênfase ao estudo, remetendo para informação quantitativa, onde
se colocou o tempo despendido da aula para a resolução de cada uma das
diferentes situações. Esta última coluna serviu para se obterem dados
concretos, sendo passível de comparar a evolução entre os diferentes
momentos de filmagem.
81
Ao analisar o conteúdo obtido, criaram-se uns quadros síntese de todos
os momentos registados, quer dos alunos, quer do professor (quadro 1 ao
quadro 9). Foi utilizada a estatística descritiva, através frequências absolutas e
relativas.
Apresentação dos Resultados
Antes de ser passível de criar as estratégias de intervenção sobre os
comportamentos da turma, foi preciso conhecer a turma. Para alcançar este
objetivo procedeu-se ao primeiro momento de filmagem das aulas de EF, de
modo a compreender-se que tipo de comportamentos é que os alunos
adotavam nas aulas.
Os quadros 1 e 2 apresentam a análise dos comportamentos de
indisciplina por parte dos alunos, bem como a reação do professor face aos
mesmos no momento inicial, onde é possível perceber que estes
acontecimentos ocorreram em grande quantidade, assim como o seu tempo de
duração.
Quadro 1 – Descrição dos comportamentos de indisciplina por parte dos alunos no momento inicial
Momento Inicial (basquetebol) – Comportamentos dos alunos
Tipo de comportamento Nº de ocorrências Tempo
Desrespeito pelo material 3 45 seg.
Desrespeito pelo colega 3 1 min e 55 seg.
Paragem da ação 7 11 min e 15 seg.
Transição de exercício 10 21 min e 55 seg.
Total 23 35 min e 50 seg.
Quadro 2 – Descrição dos comportamentos do professor face aos comportamentos dos alunos no momento inicial
Momento Inicial (basquetebol) – Reação do professor
Tipo de comportamento Nº de ocorrências
Tolerância dos alunos 7
Exercitação com os alunos 3
Paragem da atividade 3
Punição física 2
Reprimenda verbal 6
Não vê 2
Total 23
82
Através da análise dos quadros 1 e 2, é possível observar que os
comportamentos de indisciplina ocorrem em maior número na modificação
entre atividades, sendo que as reações mais usuais por parte do professor são
as de tolerar os alunos, explicando de novo os exercícios, e a de reprimir
verbalmente.
Pode-se constatar que tanto o número de ocorrências de
comportamentos de indisciplina como o tempo despendido para a resolução
dos mesmos foi muito elevado, pois foram perdidos quase 36 minutos de 110
minutos úteis de aula, o que correspondeu a cerca de 32,7% do tempo útil de
aula.
“Estava planeado os alunos agruparem-se em equipas mistas, mas
não foi possível pois os alunos mostraram muito desagrado com
esta ideia.” (excerto da reflexão da aula do dia 1 de Fevereiro de
2013).
Com o número de ocorrências tão alto e com o elevado tempo útil de
aula despendido para a sua resolução, ficou provado que era preciso atuar de
forma eficaz nas aulas de EF. A intervenção desenrolou-se com o auxílio do
professor cooperante e do professor orientador, onde foram criadas e
desenvolvidas estratégias de forma a ser possível intervir e/ou remediar os
comportamentos dos alunos de forma eficaz, para que estes não se voltassem
a repetir.
Após a análise das ocorrências do momento inicial, e de forma a diminuir
o tempo perdido com as situações, tentando aumentar o tempo de
empenhamento motor dos alunos, as estratégias que se decidiram aplicar
estão apresentadas no quadro 3.
83
Quadro 3 – Estratégias de intervenção/remediação aplicadas do momento inicial até ao momento intermédio.
Momento dos
acontecimentos Estratégias a utilizar
Início da aula
1 – Sentar os alunos e esperar que todos cheguem (aulas de 90’);
2 – Iniciar com os alunos presentes e ir ingressando os restantes à
medida que estes vão chegando (aulas de 45’).
Modificação da
atividade
1 – “x” segundos para os alunos se juntarem ao pé do professor;
2 – Explicar os exercícios por grupos (ex: rapazes e raparigas). Em caso
de demonstração, colocar os alunos nas linhas à volta de um só campo
para todos poderem observar.
Durante exercícios 1 – Punir os maus comportamentos com exercícios físicos ou com uma
breve pausa na atividade.
Durante a competição
1 – Utilizar regras contra os maus comportamentos;
2 – Passar a bola por todos (criar espírito de equipa e cooperação)
3 – Um aluno faz de árbitro (atribuição de responsabilidades)
Estas estratégias foram aplicadas durante quatro semanas, até ao
momento intermédio. Contudo durante estas quatro semanas, apenas houve
cinco sessões, dado que houve a semana do fitnessgram que retirou duas
sessões (90’ + 45’), e as interrupções letivas do Carnaval que retiraram mais
uma sessão (90’).
Após a estruturação das estratégias, estas foram postas em prática.
“Relativamente às estratégias de intervenção, tentei aplicá-las da melhor
forma, nomeadamente nas transições, em que se perde muito tempo,
colocando os alunos em ambos os lados da “pista de corrida” para o
minitrampolim de forma a todos conseguirem ouvir as explicações e
observar as demonstrações.” (excerto da reflexão da aula do dia 26 de
Fevereiro de 2013);
“&o que me levou a chamá-lo à atenção e a colocá-lo durante alguns
minutos fora da tarefa [&] Quando este voltou à prática, começou a
realizar os exercícios como explicados e demonstrados.” (excerto da
reflexão da aula do dia 1 de Março de 2013).
Após as quatro semanas de aplicação das estratégias, chegou-se ao
segundo momento de filmagens das aulas de EF. Os quadros 4 e 5
apresentam a análise dos comportamentos de indisciplina por parte dos alunos,
bem como a reação do professor face aos mesmos no momento intermédio,
84
que teve como objetivo perceber como estava a decorrer a eficácia das
estratégias aplicadas até ao momento.
Quadro 4 – Descrição dos comportamentos de indisciplina por parte dos alunos no momento intermédio
Momento Intermédio (gin. aparelhos) – Comportamentos dos alunos
Tipo de comportamento Nº de ocorrências Tempo
Desrespeito pelo material 1 1 min
Desrespeito pelo colega 2 45 seg.
Paragem a ação 2 3 min
Transição de exercício 8 15 min e 45 seg.
Total 13 20 min e 30 seg.
Quadro 5 – Descrição dos comportamentos do professor face aos comportamentos dos alunos no momento intermédio
Momento Intermédio (gin. aparelhos) – Reação do professor
Tipo de comportamento Nº de ocorrências
Tolerância dos alunos 4
Exercitação com os alunos 1
Paragem da atividade 2
Punição física 2
Reprimenda verbal 3
Não vê 1
Total 13
Com a análise dos quadros 4 e 5, pode-se constatar que os
comportamentos de indisciplina continuaram a ser em maior número e mais
duradouros de resolver na transição de exercícios, e que o professor utilizou
mais a tolerância dos alunos.
Observa-se ainda, que ocorreram 13 situações problemáticas, e que o
tempo despendido para a resolução das mesmas foi de 20 minutos e 30
segundos dos 110 minutos úteis de aula, o que correspondeu a cerca de
18,64% do tempo útil de aula. Comparando este momento intermédio com o
momento inicial, observou-se uma diminuição no número de ocorrências, bem
como a duração total das mesmas. Relativamente ao número de episódios,
estes baixaram em 10 ocorrências, havendo uma melhoria de 43,48%. O
tempo útil de aula melhorou em 14,06%, o que provou que as estratégias foram
positivas para o desenrolar das aulas até este momento.
85
Após a análise das ocorrências do momento intermédio, e de forma a
diminuir, ainda mais, o tempo perdido com as situações e aumentar o tempo de
empenhamento motor dos alunos, as estratégias que se decidiram aplicar do
momento intermédio até ao momento final estão apresentadas no quadro 6.
Quadro 6 – Estratégias de intervenção/remediação aplicadas do momento inicial até ao momento final.
Momento dos
acontecimentos Estratégias a utilizar
Início da aula
1 – Sentar os alunos e esperar que todos cheguem (aulas de 90’);
2 – Iniciar com os alunos presentes e ir ingressando os restantes à
medida que estes vão chegando (aulas de 45’).
3 – Pouca tolerância com os atrasos dos alunos.
Modificação da
atividade
1 – “x” segundos para os alunos se juntarem ao pé do professor;
2 – Explicar os exercícios por grupos (ex: rapazes e raparigas). Em caso
de demonstração, colocar os alunos nas linhas à volta de um só campo
para todos poderem observar.
Durante exercícios
1 – Punir os maus comportamentos com exercícios físicos ou com uma
breve pausa na atividade.
2 – Após cada salto, realizar 3 extensões de braços, 4 saltos com
afundo e 5 abdominais.
Durante a competição
1 – Utilizar regras contra os maus comportamentos;
2 – Passar a bola por todos (criar espírito de equipa e cooperação)
3 – Um aluno faz de árbitro (atribuição de responsabilidades)
Outros momentos
A única diferença entre as estratégias iniciais e as novas estratégias foi
que desenvolveram-se mais algumas para as matérias individuais, caso da
Ginástica de Aparelhos, sendo que nesta matéria os alunos passavam algum
tempo em espera para poderem realizar os exercícios, criando alguns conflitos
entre eles. De forma a alterar estes comportamentos, decidiu-se colocar
exercícios de condição física, para que os alunos demorassem mais a achegar
à fila de espera.
“Fpara tentar evitar que os alunos tivessem comportamentos indesejados
para a aula, após cada salto os alunos tinham que realizar 3 extensões de
braços, 4 saltos com afundo e 5 abdominais.” (excerto da reflexão do dia 8
de Março de 2013).
86
Dado que o momento da aula onde se observaram o maior número de
ocorrências foi nos momentos de transição, tentou-se intervir sobre estes
momentos da aula, evitando estar muito tempo em instrução com toda a turma,
procurando instruir grupos mais pequenos.
“De forma a não juntar a turma toda na transição entre exercícios, separei
logo as equipas para cada metade do campo, realizando cada uma a sua
tarefa, sendo que fui instruindo equipa a equipa, o que facilitou em muito a
minha tarefa de instrução e a de gestão da turma.” (excerto da reflexão da
aula do dia 9 de Abril de 2013).
Estas estratégias foram aplicadas durante cinco semanas, até ao
momento final. Contudo durante estas cinco semanas, apenas houve quatro
sessões de aula, dado que houve duas semanas de interrupções letivas da
Páscoa que retiraram quatro sessões de aula (2x90’ + 2x45’), uma visita à
FADEUP, que retirou uma sessão (45’) e o 12horas da ESOD que retirou mais
uma sessão (45’).
Após as cinco semanas de aplicação das estratégias, chegou-se ao
terceiro e último momento de filmagens das aulas de EF, o momento final. O
quadro 5 apresenta a análise dos acontecimentos das duas sessões do
momento final, que teve como objetivo avaliar todo o processo realizado até
este momento.
Quadro 7 – Descrição dos comportamentos de indisciplina por parte dos alunos no momento final
Momento Inicial – Comportamentos dos alunos
Tipo de comportamento Nº de ocorrências Tempo
Desrespeito pelo material - -
Desrespeito pelo colega 2 2 min
Paragem a ação 2 1 min e 50 seg
Transição de exercício 3 7 min e 55 seg.
Total 7 11 min e 45 seg.
87
Quadro 8 – Descrição dos comportamentos do professor face aos comportamentos dos alunos no momento final
Momento Inicial – Reação do professor
Tipo de comportamento Nº de ocorrências
Tolerância dos alunos 1
Exercitação com os alunos 2
Paragem da atividade 2
Punição física 2
Reprimenda verbal -
Não vê -
Total 7
Com a análise dos quadros 7 e 8, pode-se afirmar que os
comportamentos de indisciplina continuam a ser mais frequentes durante as
transições entre exercícios, apesar de a quantidade de comportamentos e o
tempo despendido para a sua resolução baixaram notoriamente desde o
momento inicial.
Adianta-se que ocorreram apenas 7 comportamentos de indisciplina
neste momento, e que o tempo despendido para a resolução dos mesmos foi
de 11 minutos e 45 segundos dos 110 minutos úteis de aula, o que
correspondeu a cerca de 10,68% do tempo útil de aula. Comparando este
momento final com o momento intermédio, observou-se uma diminuição no
número de ocorrências, bem como a duração total das mesmas. Relativamente
ao número de episódios, estes baixaram em 6 ocorrências, havendo uma
melhoria de 46,15%. O tempo útil de aula melhorou em 7,96%.
Quando comparado o momento inicial com o momento final, podemos
afirmar que o número de comportamentos de indisciplina decresceu em 16
situações, correspondendo a uma melhoria de cerca de 69,57%. Quanto ao
tempo despendido para a resolução dos mesmos decresceu de 32,7% para
10,68%, o que corresponde a uma melhoria de cerca 24%. Houve um
aproveitamento de cerca 20 minutos de tempo útil de aula para a realização
dos exercícios previstos.
O quadro 9 representa, de forma sucinta, as melhorias a nível do número de
ocorrências e do tempo despendido para a resolução das mesmas, assim
como o tempo aproveitado entre os três momentos.
88
Quadro 9 – Número de ocorrências, tempo despendido e tempo aproveitado entre os três momentos de gravações
Número de
ocorrências
Tempo despendido (%
tempo útil total: 110 min.)
Tempo aproveitado
(minutos)
M. Inicial -» M.
Intermédio
23 – 13
- 10 Ocorrências
32,7-18,64
- 14,06%
+ 15 Min. e 28 seg.
M. Intermédio -» M.
Final
13 – 7
-6
Ocorrências
18,64-10,68
- 7,96%
+ 8 Min. e 45 seg.
M. Inicial -» M. Final 23 – 7
-16 Ocorrências
32,7-10,68
- 22,02%
+ 24 Min. e 13 seg.
Já depois de se dar por terminado o estudo, as estratégias de
intervenção continuaram a ser aplicadas no resto do ano letivo, com o intuito de
promover o processo de ensino e de aprendizagem.
Discussão dos resultados
Relativamente aos momentos de transição de exercícios, estes são onde
ocorreram mais comportamentos de indisciplina, estes resultados vão ao
encontro a aquilo que Mendes (1996) consta no seu estudo, onde a
modificação de atividades é a segunda causa mais prevalecente de ocorrência
dos comportamentos de indisciplina nas aulas de EF, estando apenas os
golpes/pancadas à sua frente. Já Novais (2000) refere que é na modificação de
atividades onde os comportamentos de indisciplina ocorrem com maior
frequência, seguidos dos golpes/pancadas. Estes resultados vão ao encontro
dos obtidos neste estudo, mostrando a importância de desenvolver uma aula
com poucos tempos de paragem e de transição entre atividades, de forma a
manter os alunos em tempo de empenhamento motor, de forma a prevenir
comportamentos de indisciplina.
Relativamente à resposta do professor face aos comportamentos de
indisciplina, os resultados apresentados por Mendes (1996) apontam para a
tolerância dos alunos como sendo a reação mais frequente por parte do
professor, e no caso deste estudo em concreto, esta tolerância do aluno foi
89
também a reação mais utilizada pelo professor, e que era muitas vezes seguida
de uma nova instrução dos exercícios.
Quanto à grande melhoria do momento inicial para o momento
intermédio, tanto a nível do número de ocorrências como no tempo gasto para
a sua resolução, onde incidiram menos 10 ocorrências e aproveitaram-se
pouco mais de 15 minutos de tempo de aula, penso que esta melhoria pode ser
explicada devido ao facto de a sessão de duas aulas deste momento
intermédio ter correspondido à sessão onde esteve presente o professor
orientador a observar a sessão, sendo que com esta presença, os alunos
mostraram muito mais empenho nas atividades, realizando menos
comportamentos de indisciplina. Já no momento final houve uma melhoria
notória, muito por culpa da matéria que estava a ser abordada assim como o
modelo de ensino aplicado a essa matéria, pois estava a ser operacionalizado
o modelo de educação desportiva (MED) na matéria de futebol. Esta matéria foi
muito motivadora para os alunos, e com o apoio do MED, parte da aula foram
jogos formais, onde os alunos estiveram pouco tempo em situação de espera
ou de transição de atividades. Onde ocorreram problemas mais graves, foi nas
sessões de uma aula, onde os alunos chegavam atrasados e com níveis de
atividade muito elevados, atrapalhando muitas vezes o ritmo da aula, levando a
alguns comportamentos de indisciplina. Penso que este fator pode ser
explicado devido a estas sessões terem lugar no final da semana, sextas-feiras
das 11 horas e 45 minutos até às 12 horas e 30 minutos, onde os alunos se
mostram cansados das aulas, pensando já no fim-de-semana.
Oliveira (2001) conclui que a incidência dos comportamentos de
indisciplina é maior no início do ano do que numa fase mais avançada do ano
letivo. Esta conclusão vai de encontro a aquelas retiradas por este estudo,
onde a frequência de comportamentos de indisciplina foi diminuindo ao longo
dos momentos de filmagens. Num outro estudo levado a cabo pela mesma
autora e por Graça (2006), estes concluem que os comportamentos de
indisciplina reduziram significativamente do primeiro para o segundo momento
de avaliação, que coincide com os resultados obtidos neste estudo. Penso que
as estratégias de intervenção tiveram uma grande influência para os resultados
90
obtidos neste estudo, mas que a elas se alia o relacionamento crescente entre
mim e os alunos, levando a que os conhecesse melhor, conseguindo obter
maior recetividade por parte deles.
Conclusões
Os resultados obtidos neste estudo vão ao encontro aos de outros
autores em estudos semelhantes. Neste estudo foram aferidas como principais
conclusões que os comportamentos de indisciplina por parte dos alunos
ocorrem principalmente durante as transições entre exercícios, sendo a reação
mais frequente por parte do professor face a estes comportamentos a
tolerância para com os alunos, apesar de no momento final, o professor não ter
tido nenhum comportamento de tolerância.
Através da utilização das estratégias de intervenção/remediação tanto o
número de ocorrências como a quantidade de tempo despendido para a
resolução dos comportamentos de indisciplina reduziu e que resultou num
grande ganho de tempo útil da aula (cerca de 24 minutos), o que valida estas
estratégias.
Para o futuro, penso que seria pertinente realizarem-se estudos da
mesma natureza que este, onde se poderiam gravar todas as aulas durante a
aplicação das estratégias, para que se perceber se existem discrepâncias
muito largas entre as sessões de aula, de forma a atenuar alguns fatores
externos às aulas como foi o caso deste estudo onde uma sessão de duas
aulas filmada no momento intermédio, foi observada pelo professor orientador,
e também porque de sessão para sessão tanto os comportamentos dos alunos
como os dos professores variam. Poder-se-iam também realizar estudos para a
indisciplina, comparando matérias individuais com matérias coletivas,
procurando perceber se existe alguma relação entre elas e que umas propiciam
mais comportamentos de indisciplina do que outras.
Relativamente à formação inicial como fator de prevenção desta
problemática, penso que na formação inicial o estudante deveria ser melhor
preparado, de modo a que quando exercerem a função de docente, possa
estar melhor preparado para os comportamentos de indisciplina, intervindo
91
sobre os mesmos com estratégias eficazes, que atenuem esses
comportamentos ao longo do ano.
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95
Desde cedo percebi que este ano de estágio profissional reuniu todas as
condições necessárias para que pudesse evoluir bastante a nível profissional
como a nível pessoal. A nível profissional na medida em que enfrentei um dos
meus maiores receios enquanto professor, o de lecionar aulas a uma turma
indisciplinada. Todas as horas passadas a refletir, a estudar e a tentar perceber
o porquê das atitudes dos alunos e como as atenuar, foram recompensadas,
pois sinto que consegui ultrapassar em grande parte esta minha dificuldade,
muito por culpa dos professores cooperante e orientador, que sempre
mostraram disponibilidade para atender às minhas dificuldades.
Penso que o facto de ter tido a possibilidade de lecionar aulas a mais
uma turma em dois períodos, também me ajudou bastante a tornar num melhor
docente, pois apesar de ter mais trabalho para realizar, tive também mais
prática e contacto com a minha profissão de eleição.
A nível pessoal pois tanto professores como funcionários se mostraram
recetivos a responder às minhas dúvidas, tendo-se criado um enorme clima de
amizade, sobretudo entre os professores de Educação Física e os funcionários
do pavilhão. A todos eles agradeço os ótimos momentos passados durante
todo este ano.
Com a elaboração de todo este documento considero que a formação
inicial de todos os professores deveria passar por um ano de transição como
este, de forma a preparar os futuros docentes para a prática pedagógica. Sinto
que toda a minha formação inicial me preparou bem para o que estará para vir,
apesar de que o que se aproxima para mim não corresponder a boas
expectativas, dado que não sei se conseguirei encontrar trabalho na minha
área. Com tudo isto, penso estar preparado para poder descer de novo à terra
e dar os meus próprios passos rumo à descoberta desta nova fase da minha
vida, apesar de olhar um pouco mais em frente e conseguir ver que as
possibilidades de iniciar os meus passos na docência são escassas. Gostava
que o caminho que percorri este ano tivesse uma enorme curva que me
levasse de novo ao início, pois será algo que me irá criar uma enorme
saudade. Contudo, não tenciono terminar este ano magnífico de uma forma
nostálgica, mas sim da mesma maneira com que o encarei desde o primeiro
96
dia até ao último, da mesma maneira com que fui acolhido pela comunidade
escolar em geral e pelo meu grupo de estágio em particular, da mesma
maneira com que vivo o dia-a-dia da minha vida, com grande alegria,
serenidade e dedicação.
99
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