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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES
UM ROTEIRO DA ARTE MODERNA EM LISBOA,
A PARTIR DA COLEÇÃO BERARDO
Uma proposta de trabalho em rede no Serviço Educativo
Catarina Isabel Vicente da Silva
Dissertação
Mestrado em Museologia e Museografia
Dissertação orientada pelo Prof. DoutorFernando António Baptista Pereira
2017
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
1
DECLARAÇÃO DE AUTORIA
Eu Catarina Isabel Vicente da Silva, declaro que a presente dissertação de mestrado
intitulada “Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a Partir da Coleção Berardo. Uma
Proposta de Trabalho em Rede no Serviço Educativo”, é o resultado da minha investigação
pessoal e independente. O conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal
como todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho
segundo as normas académicas.
O Candidato
Lisboa, 3 de janeiro de 2017
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço a disponibilidade e paciência do meu orientador, dos profissionais do Museu do
Chiado, do Museu Berardo, e do Museu Calouste Gulbenkian, que foram capazes de
facultar um pouco do seu tempo para responder às minhas perguntas. E a todos os que de
alguma forma me ajudaram a chegar até aqui.
Aos meus pais, irmãs, avós, e restante família.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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RESUMO
A arte de um modo geral, tem um papel de extrema importância na sociedade, e na
sua cultura e sabedoria. Por sua vez, o modernismo possuiu e possui uma grande influência
na arte, na sua generalidade, na obra de arte, na história de arte, e na história e cultura.
A mostra de arte nos museus, em específico da arte moderna, foi em tempos um
ponto em falha, escasso ou inexistrente, em Portugal. De forma a conseguir que essa
problemática fosse corrigida, foi constituído um museu, que através de uma vasta coleção
de obras de arte moderna e contemporânea, seria capaz de completar essa lacuna – o
Museu Berardo.
No entanto, existem dois outros museus – o Museu do Chiado e o Museu Calouste
Gulbenkian, que atuam nos mesmos campos da arte que o Museu Berardo. Funcionando
em conjunto, estes três museus, formam uma união capaz de enriquecer não só a arte
moderna, através da sua visualização e estudo, mas também a sociedade, o país, e o mundo,
oferecendo através das suas coleções e exposições, um maior espectro de obras e de
informação sobre a história da arte moderna, dentro e fora do país.
O museu é visto como um local de conhecimento e aprendizagem, de
enriquecimento. O museu é a entidade que oferece cultura, história, e abertura, a todas as
faixas etárias e situações sociais.
Assim, e através do trabalho feito pelos museus, nos seus serviços educativos e no
que oferecem ao público que os visita, vêm-se estes museus como locais de
desenvolvimento pessoal e cultural.
O trabalho em rede torna a oferta mais interessante, mais abrangente, mais vasta,
causa um maior envolvimento, e assim sendo, torna-se capaz de tornar ainda maior o
desenvolvimento.
A partir da cidade de Lisboa, surge através destas entidades a oportunidade de criar
um roteiro de arte moderna que as envolva, e as interligue, levando o conhecimento de
dentro para fora, para o usufruto de todos.
PALAVRAS-CHAVE: Museu Berardo; Museu do Chiado; Museu Calouste Gulbenkian;
Arte Moderna; Serviço Educativo; Trabalho em Rede.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
4
ABSTRACT
Art in general way, plays an extremely important role in society, in its culture and its
wisdom. On the other hand, modernism had and still has a great influence in art, in
generality, in the work of art, in the history of art, and in history and culture.
The art exhibition in museums, specific to modern art, was once a failing, scarce or
inexistent point in Portugal. In order to get this problem corrected, a museum was created,
a museum which through a vast collection of modern and contemporary works of art
would be able to complete this gap - the Berardo Museum.
However, there are two other museums - the Chiado Museum and the Calouste
Gulbenkian Museum, which work in the same fields of art as the Berardo Museum.
Working together, these three museums form a union capable of enriching not only
modern art, through its visualization and study, but also society, the country, and the world,
offering through its collections and exhibitions a wider spectrum of works of art and
information on the history of modern art, inside and outside the country.
The museum is seen as a place of knowledge and learning, of enrichment. The
museum is the entity that offers culture, history, and openness to all age groups and social
situations.
Thus, through the work done by these museums, in their educational services and
in what they offer to the public visitation, these museums are seen as places of personal
and cultural development.
Networking makes the offer more interesting, more comprehensive, wider, causes
greater involvement, and thus being, it becomes capable of making the development even
greater.
From the city of Lisbon, through these entities, the opportunity arises to create a
guidebook of modern art that envelops them, and interconnects them, bringing knowledge
from the inside out, to the enjoyment of all.
KEY WORDS: Berardo Museum; Chiado Museum; Calouste Gulbenkian Museum;
Modern Art; Educational Service; Networking.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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LISTA DE ABREVIATURAS AO LONGO DO TEXTO
AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte
APOM – Associação Portuguesa de Museologia
BANIF – Banco Internacional do Funchal
CAM – Centro de Arte Moderna
CAMJAP – Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão
CB – Coleção Berardo
CCB – Centro Cultural de Belém
FCG – Fundação Calouste Gulbenkian
ICOM – International Council of Museums
MB – Museu Berardo
MC – Museu do Chiado
MCB - Museu Coleção Berardo
MCG – Museu Calouste Gulbenkian
MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
6
AGRADECIMENTOS …………………………………………………...…….…..
RESUMO …………………………………………………………………..............
ABSTRACT ………………………………………………………………………...
LISTA DE ABREVIATURAS ……………………………………………………..
ÍNDICE GERAL
INTRODUÇÃO …………………………………………………………………….
CAPÍTULO 1 – A ARTE, O MODERNISMO E A EDUCAÇÃO NOS MUSEUS
1.1 A Arte Moderna …………………………………………………..………..
1.2 A Arte e o Museu ………………………………………………………….
1.2.1 O Museu de Arte Contemporânea …………………………….….
1.3 A Arte e a Educação: Diferentes Experiências em Museus
Internacionais ……….……………………………………………………..
1.3.1. Learning Through Art - Museu Solomon R. Guggenheim
1.3.2 Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain - Fundação
Dana e Universidade John Hopkins ……………………………..
1.3.3 Staying in School: Arts Education and New York City High
School Graduation Rates – The Center for Arts Education …...
1.3.4 Reinvesting in Arts Education – Winning America’s Future
Through Creative Shcools - President’s Committee on the Arts
and The Humanities ………………………………………...……..
CAPÍTULO 2 – O MUSEU BERARDO E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO .…
2.1 O Projeto de Criação do Museu ……………………………………………..
2.2 A Missão do Museu …………………………………………………………...
2.3 A Vocação do Museu …………………………………………………………
2.4 A Coleção e o Museu ………………………………………………………...
2.4.1 Lacunas ……………………………………………………………...
2.5 A Exposição …………………………………………………………………...
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Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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2.5.1 Conservação, segurança e prevenção …………………………...
2.5.2 A Apresentação ……………………………………………………..
2.5.3 Divulgação | Identificação ………………………………………….
2.5.4 Percurso da Exposição …………………………………………….
2.5.5 Análise da Exposição da Colecção Permanente do Museu Coleção
Berardo (1900-1960) ……………………………………………………...
2.5.5.1 Tipologia …………………………………………………...
2.5.5.2 Temática …………………………………………………..
2.5.5.3 Modulação do Espaço ……………………………………
2.5.5.4 Espécimes Expostos ……………………………………..
2.5.5.5 Material Expositor ………………………………………...
2.5.5.6 Iluminação …………………………………………………
2.5.5.7 Aspetos a ter em conta ….……………………………….
2.6 O Serviço Educativo ………………………………………………………….
CAPÍTULO 3 – O MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA –
MUSEU DO CHIADO E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO ……….……………
3.1 A Missão do Museu ……………………………………………………….....
3.2 A Vocação do Museu ………………………………………………………..
3.3 O Museu e a Coleção ……………………………………………….…...….
3.4 A Exposição ………………………………………………….……………….
3.4.1 Tipologia e Temática ………………………………………………
3.4.2 Modulação do Espaço …………………………………………….
3.4.3 Espécimes Expostos e Material Expositor ……………………...
3.4.4 Iluminação ………………………………………………………….
3.5 O Serviço Educativo …………………………………………………………
CAPÍTULO 4 – O MUSEU CALOUSTE GULBENKIAN E O SEU SERVIÇO
EDUCATIVO ………………………………………………………………………
4.1 A Missão do Museu ………………………………………………………….
4.2 A Vocação do Museu ………………………………………………………..
4.3 O Museu ………………………………………………………………………
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4.4 A Coleção ……………………………………………………………………...
4.4.1 Tipologia e Temática ……………………………………………….
4.4.2 Modulação do Espaço ……………………………………………..
4.4.3 Espécimes Expostos e Material Expositor ………………………
4.4.4 Iluminação …………………………………………………………..
4.5 O Serviço Educativo …………………………………….……………………
CAPÍTULO 5 – UMA PROPOSTA DE ROTEIRO EDUCATIVO DE ARTE
MODERNA …………………………………………………………………………
5.1 Ligações: O Museu Berardo, o Museu do Chiado e o Museu Calouste
Gulbenkian …………………………………………………………………………
5.2 A Importância do Trabalho em Rede ……………………………………….
5.3 Uma Proposta de Roteiro da Arte Moderna ……………………………….
5.3.1 O Roteiro e a Oferta Educativa ……………………………………
CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………………...
BIBLIOGRAFIA …………………………………………………………………….
ANEXOS ……………………………………………………………………………
ANEXO A - CURIOSIDADES: A FIGURA POR DETRÁS DA COLEÇÃO ….
ANEXO B - CURIOSIDADES: SOL EM JOE BERARDO.COM | REAVALIAÇÃO
DA COLEÇÃO BERARDO ……………………………………………………….
ANEXO C - FOTOGRAFIAS DO MUSEU BERARDO: ESPAÇOS E
ATIVIDADES DO SERVIÇO EDUCATIVO ……………………………………..
ANEXO D - FOTOGRAFIAS DO MUSEU DO CHIADO: ESPAÇOS E
ATIVIDADES DO SERVIÇO EDUCATIVO ……………………………………..
ANEXO E - PARQUES NATURAIS DOS AÇORES – IMAGENS DA
APLICAÇÃO MÓVEL ……………………………………………………………...
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INTRODUÇÃO
A sociedade dos dias que correm é demasiado consumista e crítica mas
nem sempre justa, dando apenas importância ao próprio bem-estar, quer físico
quer psicológico do indivíduo. O sentido estético e o espírito crítico nem
sempre andam a par e passo, e na arte, o que para uns é belo, para outros não
o é, pese embora o fato de haver uma abertura maior para qualquer um ser
crítico.
A arte é uma forma de cultura e de comunicação. Transmite formas de
sentir, de ver, de apreciar, estados de espírito, entre outros aspetos que tornam
o ser humano mais rico. Tem também a particularidade de despertar nos seus
observadores vários sentimentos, através dos tempos, quer pelas obras que
nos foram deixadas, quer pelas obras contemporâneas.
Antigamente, a arte desenvolvia-se através do mecenato ou apoiada em
famílias nobres ou endinheiradas que pagavam aos artistas, sendo que o local
de exposição das mesmas era essencialmente nas casas sumptuosas dessas
famílias ou até mesmo nas ruas. Hoje em dia, a maioria das obras de arte
estão de certa forma protegidas dentro de museus ou consignadas a fundações
ou a famílias com poder económico.
Definição de museu:
. nome masculino
1. Estabelecimento público onde estão reunidas e expostas colecções
de objectos de arte, ciência, etc.
2. Grande colecção de objectos de arte ou qualquer ciência.
(Do grego mouseion, “museu”, pelo latin museu-m “museu; biblioteca”)1
1 Definição de Museu. Infopédia – Dicionário da Língua Portuguesa, consultado em:
www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/museu.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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Os museus são templos de cultura, são locais onde algumas obras de
arte estão expostas e são preservadas. Um museu pode provocar no seu
observador uma nova visão daquilo que este já conhecia, ou passou, num
momento exato, a conhecer. A forma como é exposta uma obra de arte, no
local certo, com as condições mais desejáveis, pode mudar a perspectiva de
quem a observa, pode mudar a sua alma, visto que, no fundo, a arte pretende
que exista um determinado impacto naqueles que a absorvem de alguma
forma.
Todos temos percepções e emoções diferentes ao observar uma obra
de arte. A emoção parte de cada um e da forma de sentir e viver o momento,
mas - e esse será um pormenor de grande importância - é sempre necessário
que exista alguma emoção, e de preferência positiva, no sentido de
compreender aquilo que é observado, ou pelo menos na percepção de um
observador específico, visto que a obra de arte desperta um sentido subjetivo
em cada indivíduo.
Para que possa de alguma forma existir uma certa coerência de e para
quem observa, é necessário que a leitura de um espaço expositivo seja clara.
Para isso, consequentemente, será necessário que a organização desse
mesmo espaço seja feita da melhor forma, com a maior clareza, enaltecendo
as melhores perspectivas, tendo sempre em mente que a obra estará a ser
observada por um público muito diversificado e inserido em diferentes meios
socioculturais.
Tendo como formação de base uma Licenciatura em Design de
Equipamento, foi sentida a necessidade de unir gostos e interesses do
passado, para construir uma harmonia, e conjugar os vários aspetos de
interesse no que diz respeito ao círculo artístico, com vista a proporcionar um
“encaixe”, entre as artes plásticas, o design e os museus. O resultado desejado
seria expandir a formação base,aplicando-a à Museologia, com intervenção
das artes plásticas.
Durante a frequência do primeiro ano letivo do Mestrado de Museologia
e Museografia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, foram
solicitados trabalhos aos mestrandos sobre Museus e Exposições, que
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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despertassem o seu interesse, que perspetivassem novas abordagens válidas
que propiciassem análises diferentes nas disciplinas que lhes estavam a ser
ministradas.
Foi também solicitado que os alunos do referido mestrado pensassem
num princípio maior, aproveitando esses mesmos trabalhos para aquele que
poderia vir a ser o projeto final, o qual iriam desenvolver, para mostrar no fim
do Mestrado.
Durante o primeiro ano letivo, os trabalhos realizados passaram
essencialmente pela procura de respostas, análise profunda do museu
escolhido para a base do trabalho final, das suas estruturas (internas e
externas), de forma a conhecê-lo com mais especificidade. Dessa pesquisa
resultaram três trabalhos: o primeiro que passou por conhecer o museu, a sua
história, e as suas políticas de incorporação; para o segundo e terceiros
trabalhos realizados para disciplinas que se interrelacionavam, onde também
foi escolhido o mesmo museu, focando o interesse, depois, numa exposição
temporária de Vik Muniz que decorreu nos últimos meses do ano 2011.
O fruto desses trabalhos fez com que surgisse um maior interesse sobre
a entidade que é o Museu Coleção Berardo. Através desde, encontra-se a
definição do museu de arte moderna, que se encontrou em tempos em falta na
cidade de Lisboa, e que se tornou o objeto central de estudo da dissertação.
Escolhendo aquela que é a primeira exposição permanente do museu,
que define o percurso da arte no modernismo, especificamente entre o século
XIX e o século XX, pretende-se a evidenciação da mostrados movimentos e
protagonistas dos mesmos, que mais se destacaram na sociedade ao longo
desse tempo.
Por outro lado, e utilizando por base essa mesma exposição, explora-se
a arte moderna como um roteiro, iniciado pelo Museu Berardo, e que conduz a
outros dois museus que atuam na mesma área que este, criando um percurso
transversal às três entidades, Museu Berardo, Museu do Chiado e Museu
Calouste Gulbenkian, e fazendo uso do que elas oferecem para a educação da
sociedade portuguesa.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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Ao longo deste trabalho, mais especificamente no Capítulo 1, serão
então apresentados aspetos que se relacionam diretamente com a arte, a arte
moderna em específico, o museu como entidade que permite o conhecimento
das obras, e a educação através desta instituição, tomando como casos de
estudo várias experiências educativas em museus internacionais.
No Capítulo 2, ao definir aquele que foi o projeto do Museu Berardo,
focando aqueles que seriam os objetivos a cumprir para com o público, surge a
necessidade de definir a missão do museu, os princípios pelos quais se rege,
qual a sua escolha em relação à mostra de obras de arte expostas, qual a
finalidade da mostra da exposição, o porquê de o fazer, e o que se pretende
gerar em termos sociais e turísticos a nível nacional e internacional, visto que
uma exposição é uma forma de inserir o País num círculo de grande
importância, o círculo artístico mundial. Apresenta-se de igual forma a vocação
do museu, explicitando quais os períodos que abrange, que correntes artísticas
expõe, os autores que nelas se refletem e acima de tudo o interesse que estas
possuem, transpondo linhas importantes para a cultura artística de todo o
público.
Pretende-se ainda entender qual o interesse pelo qual foi movida a
procura das obras, a criação da exposição, decifrando a sua simbologia e
enumerando os nomes que a esta pertencem, dando especial importância à
escolha e mostra de alguns artistas portugueses que tornam, de igual forma, a
história da arte apresentada mais rica e abrangente.
O ponto seguinte deste projeto passa por contar alguma da história do
Museu, referindo pequenos apontamentos sobre a pessoa pela mão da qual
este surgiu, o Comendador José Berardo, e indicando o seu percurso, movido
por um sonho, e que o fez reunir a coleção que é então fruto de análise.
De seguida, é analisado o Museu Coleção Berardo, a forma como este
se coloca no circuito dos Museus de Portugal, de que forma surgiu a Coleção
Berardo, como foi conseguida, como foi e é agora gerida.
De forma a entender melhor aquela que é então a base deste projeto, a
Exposição Museu Coleção Berardo (1900-1960) será apresentada de forma
detalhada, indicando as obras de arte, as correntes artísticas, os autores que
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
13
nela se observam, a razão pela qual esta é uma das exposições permanentes
do museu e o seu interesse público. Ainda neste ponto serão indicados os
princípios conservativos, de segurança e de prevenção exercidos em relação à
exposição tratada, de forma a entender em que ponto esta se situa, isto é,
como se encontram expostas e de que forma, em que condições é feita e
exercida a segurança neste espaço, e de que forma é feita a prevenção e
preservação do bom estado do que está exposto.
A apresentação expositiva é outro dos aspetos a focar, visto que é
através dela que o público poderá ter a melhor percepção da leitura do espaço
e das obras apresentadas.
Será feita a referência à forma como são dispostas as obras, a
orientação de circulação pela exposição, se a informação está acessível e clara
para o público, tendo em conta que não são apenas artistas e críticos que a
visitam. Atendendo a que a orientação pela exposição é um dos pontos cruciais
e que pode definir o resultado positivo ou negativo da visita ao museu, quer em
termos do espaço total, desde a entrada no edifício à entrada na exposição,
passando pelos vários espaços de acessos, será de igual forma explorado, de
forma a definir como é feita a orientação pelo museu. Por outro lado, definir-se-
á a divulgação, a identificação do espaço e da exposição em si, verificando se
esta informação se apresenta de forma clara e inequívoca, isto é, se é possível
encontrar facilmente o local da exposição, a sala em que esta é apresentada,
se a sinalética e os acessos transmitem a informação fundamental a todos
aqueles que possam visitar o museu.
A Exposição de 1900-1960 é então analisada de acordo com a tipologia
em que se insere, a temática que esta apresenta (quais os autores, obras e
correntes artísticas que a compõem), e a modulação do espaço, isto é, a forma
como as obras se dispõem, a forma como o público circula no mesmo, focando
também os espécimes expostos (que tipo de obras são: esculturas, pinturas,
impressões ou outra variação), o material expositor utilizado para suportar as
obras tendo em conta o aspeto iluminativo do espaço, ou seja, a forma como é
feita a iluminação deste. No desenvolvimento da análise, serão indicados
aspetos que carecem de melhoria, relativos à exposição que se encontra em
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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apresentação. Nesse “antes”, será possível visualizar as plantas da exposição,
que permitirão uma identificação mais especifica daqueles que são os aspetos
do espaço que poderão ser corrigidos.
Por outro lado, e fazendo a relação com outro museu em Lisboa, que
permite a mostra de arte moderna e contemporânea, vê-se o Museu do Chiado,
no Capítulo 3, como um museu que abrange o período desde 1850 até ao
presente. Este museu insere-se neste projeto como parte integrante de um
roteiro, uma vez que se situa dentro da mesma linha temporal da Exposição de
1900-1960 do Museu Berardo. Para o efeito será feita uma pequena introdução
acerca da missão deste museu, um pouco da sua história e o porquê da sua
criação de forma a apresentar a sua vocação e o que este representa. No final
será introduzida uma pequena análise da “Exposição Permanente 1850-1975”.
Dando continuidade ao ponto anterior, é introduzido no Capítulo 4, o
agora denominado de Museu Calouste Gulbenkian, uma instituição privada que
serve o público em geral2. Esta entidade, possui por sua vez diversas obras
que possibilitam um melhor conhecimento sobre a arte deste período. Sendo
que neste ponto se apresentam informações sobre a missão da fundação que
suporta este museude arte, bem como as guias pela qual foi criado e respetiva
vocação. Após uma análise do museu em si, e por este ser um caso especial,
procede-se a uma pequena explicação da coleção moderna que a este
pertence, visto que estaé apresentada principalmente através de exposições
temporárias.
Antes de concluir, é então introduzido o projeto em questão, no Capítulo
5, o projeto do roteiro educativo em que se apresentam e conjugam as ofertas
culturais e educativas dos três museus em questão, para uma melhor forma de
interpretar e conhecer a arte moderna na Cidade de Lisboa.
2 “Por um lado, foi sua intenção permitir que se desenvolvesse benemerente actividade no
campo da assistência. Por outro lado, teve em mente que se iniciasse e prosseguisse esforço
generalizado no plano da cultura, em sua expressão educativa, artística e científica,
proporcionando para tanto os indispensáveis recursos.”, in Fundação Calouste Gulbenkian –
Decreto-Lei 40690, de 18 de julho de 1956 aprovando os estatutos da Fundação Calouste
Gulbenkian.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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Para concluir, após a análise dos trabalhos de pesquisa e da informação
recolhida serão tecidas várias considerações e levantadas várias questões
sobre os benefícios da articulação entre os três espaços museológicos que,
apesar de contemplarem obras de arte de épocas semelhantes, são tão
divergentes em termos de gestão e de suportes educativos.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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CAPÍTULO 1
ARTE: A ARTE, O MODERNISMO E A EDUCAÇÃO NOS MUSEUS
1.1 A Arte Moderna
É diversificada a forma como se pode ver a História de Arte, olhar para
estaimplica sempre olhar para algo subjetivo, sendo que cada indivíduo acaba
por fazer dela uma abordagem particular ainda que baseada na informação
disponibilizada pelas instituições e pela bibliografia. A arte moderna surgiu
após a revolução industrial3 e é caraterizada pela produção artística de finais
do século XIX a inícios do século XX. Neste período de criação, é evidente a
evolução de ideias dos artistas da época, que, quer de forma coletiva, quer de
forma individual, encontraram novas formas de produzir as obras de arte,
alterando a sua perceção pública.
Por entre os vários movimentos da arte desta época, a arte moderna
inicia-sena segunda metade do século XIX, sendo que a partir deste ponto, os
conceitos de arte e de obra de arte, sofreram grandes mudanças, imprimindo
nas peças novos sentidos de originalidade e representação.
Ao início, os artistas produziam trabalhos encomendados, com conceitos
já estipulados por pessoas com grandes fortunas. No entanto, durante o século
XIX, a produção de arte alterou-se, fazendo com que os artistas produzissem
obras sobre locais, pessoas e conceitos que lhes eram de interesse. E é com o
evoluir do pensamento, e após a publicação e receção do livro de Sigmund
Freud, A Interpretação dos Sonhos4, que se valoriza o pensamento, o
3 Ocorreu entre 1760 e 1840. Caracteriza-se pela transição da produção que passa dos
métodos manuais para métodos automatizados, utilizando – por exemplo – máquinas. Afetou
positivamente o crescimento económico, social e cultural da época. Consultado em:
www.bbc.co.uk/history/british/victorians/workshop_of_the_world_01.shtml.
4 Esta publicação, que deu origem à psicanálise, foi muito inovadora, na época, propondo uma
diferenciação entre os sonhos conscientes, pré-conscientes e inconscientes, e as reações aos
mesmos. Consultado em: www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=8567.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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subconsciente, os sonhos, simbologias e iconografias, dando importância à
subjetividade.
Nesta altura, também a forma como eram concebidase realizadas as
obras de arte mudou. Surgiram novas experiências, com materiais diferentes
do tradicional – como a cola, a tinta acrílica, a utilização de cartões ou tintas de
alumínio, linóleo -, cores puras, novas técnicas e novos meios de apresentar os
trabalhos, deixam de ser feitas as mostras privadas dos mais abastados, para
serem feitas mostras a todo o público, independentemente da sua situação
social5.
Inicia-se na Europa, mais concretamente em França, em fins do século
XIX, a corrente artística do Naturalismo. Esta forma de interpretação artística
guiava-se por aquilo que era natural, vindo dos princípios e métodos da ciência
natural, baseando-se também na visão que Darwin possuía da natureza6.
Do Naturalismo, resultou o Realismo, representando de forma crua
aquilo que era realmente visto. Tudo o que era considerado artificial era
colocado de parte, já não existia interesse em embelezar as situações, mas sim
em retratá-las com todos os problemas e costumes que transportavam.
Mais tarde, surgiu o impressionismo, e posteriormente o Pós-
Impressionismo. O nome da corrente artística impressionista, foi criado por um
crítico de arte a partir do título da obra de Claude Monet Impressão: nascer do
sol7. O impressionismo rompe com o que era feito até então, no que à pintura
se referia, e origina um movimento em que se tornava mais importante a cor,
luz, moção, ignorando os anteriores conceitos do real e nobre. O Pós-
Impressionismo reúne uma série de artistas pertencentes a outras correntes
que optam por fazer transparecer e salientar nas suas peças a
bidimensionalidade e a cor.
5 BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain. L’amour de l’art: les musées et leur public. Paris, Minuit,
1966.
6 Darwin defendia o princípio da evolução por seleção natural. Fatores como a hereditariedade
e condições sociais, eram determinantes na vida dos indivíduos. Consultado em:
www.infopedia.pt/$darwinismo.
7 Obra de 1872, em que Monet representa um nascer do sol no porto do Havre.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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Em resposta ao Naturalismo e Realismo, o Simbolismo apresenta-se
como a arte que fazia transparecer não só o que era natural e real, mas
também aquilo que por trás dessas caraterísticas existia, a essência e o
sentimento.
De seguida, surge, antes da Primeira Guerra Mundial, o movimento Art
Noveau. Representa, como o nome indica, “arte nova”, por ser um estilo jovem
e que pretende reagir à arte do século XIX. Surgem também peças com estilo
mais geométrico, mas inspiradas em formas e estruturas naturais.
Emergindo na Grã-Bretanha, o movimento Arts and Crafts apresenta
formas elementares, românticas e medievais, sendo um estilo de arte
decorativa que tenta romper com os efeitos massificadores da industrialização.
Já no século XX, surge mais um movimento de vanguarda, o
Expressionismo. Vindo da Alemanha, este movimento artístico atravessa vários
campos no que à arte diz respeito8. A expressão transparece através do
movimento, da emoção, explorando o mundo intuitivo. Deforma a realidade e
expressa-se subjetivamente, tentando retratar o sentimento em oposição à
realidade. Com o Expressionismo chega o Fauvismo, que Henri Matisse define
como "uma arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, destituída de temas
perturbadores ou deprimentes”9. Deixam de existir gradientes de cor, ou até
mesmo misturas, tudo é simplificado e tudo se torna mais definido.
O Cubismo, movimento das artes plásticas e preferencialmente da
pintura, corrompeu a perspectiva que haveria sido utilizada pela arte ocidental
até o início do século XX, desde o Renascimento. Surge em 1907, vindo de
Paris, pelas mãos de Pablo Picasso, e possui uma influência de extrema
amplitude, que conduz a uma pintura que fragmenta os planos e os pontos de
vista fazendo com que exista uma eliminação da ilusão da tridimensionalidade.
Surgem representações de formas geométricas que exibem a estrutura
humana figurada e mostra-nos, simultaneamente, a mesma a partir de variados
8 Influencia as artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, fotografia, entre outros.
9 GRAHAM-DIXON, Andrew. Arte, o guia visual definitivo. Publifolha [S.l.], 2012. p.402-407 e
p. 612.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
19
pontos de vista.Neste movimento a cor é pobre, variando entre os pretos,
cinzas e castanhos, podendo eventualmente surgir através de amarelos ocre.
Apesar de emergir a partir da segunda década do século XX, com
Kandinsky, o Abstracionismo triunfa finalmente na Europa nos anosda década
de 1930, época em que se geravam enormes conflitos no campo da
intervenção política, e este é o movimento que tenta defender a autonomia da
arte, protegendo aquilo que considera serem os valores próprios da obra de
arte em si.
Esta era uma arte de choque e de reação que acabaria por fazer surgir,
na comunidade, alguma polémica e indignação. Pretendia desenvolver obras
de arte que se colocassem para além daqueles que eram os seus precedentes.
Negar composições complexas e rígidas, libertando a natureza da cor e da
geometria, utilizando cores fortes que criassem emoções e utilizando técnicas
agressivas, espontâneas e até automáticas.
O Construtivismo teve origem em 1914, na Rússia, sendo considerado
uma influência de grande importância em todas as variantes do mundo artístico
– seja na arte plástica, design ou arquitetura. É algo abstrato e geométrico,
tendo a sua própria autonomia, e mostra uma relação com a natureza e a
sociedade, aspetos estes que fazem criar uma ligação entre os mundos
artístico e tecnológico. Atribui-se especial atenção à forma como a obra é
construída, e não à forma como é composta, organizada. Existe uma utilidade
para o objeto artístico, passando a existir uma técnica de montagem, levando à
utilização de novos materiais.
Surge também a Arte Concreta que pretende ter uma linguagem própria,
tendo por base os planos e as cores. O Concretismo vê a arte como algo
universal, que deverá ser pensado antes da sua execução, e por isso, deverá
ser algo mecânico e claro. Com um pensamento semelhante, nasce o
Suprematismo, que se centra principalmente em figuras geométricas básicas,
como o quadrado e o círculo, utilizando cores sólidas também elas básicas.
Descreve-se como uma arte livre, pura e sem compromissos.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
20
Em 1909, emergira o Futurismo, baseado na velocidade e na tecnologia
desenvolvida. Utilizava a cor viva e o contraste para se exprimir, e imprimia nas
suas obras a sobreposição de imagens, desmaterializando os objetos.
Em Zurique, por volta de 1916, o Dadaísmo apresenta-se de uma forma
desapegada e sem nexo. Um movimento não tradicional, de vanguarda, o
Dadaísmo surgiu através de um aglomerado de escritores e artistas que não
acreditavam na sociedade, à qual atribuíam culpas pelo que se estava a passar
na Primeira Guerra Mundial, eliminando aquilo que fora pré-estabelecido por
outros artistas. Provém da palavra “dadá”, que não tem um significado
específico, tornando-se irreverente e propondo uma nova leitura daquilo que se
conhece, utilizando os objetos que são já comuns e levando-os a uma nova
apresentação e contexto, que, no fundo, os descontextualiza, sendo o
resultado de uma enorme ironia a partir daquilo que é até então considerado
absurdo.
Movimento que capta características dadaístas, o Surrealismo assegura
um trajeto também relacionado com o absurdo, com o irracional, por vezes até
associado à loucura, sendo irreal, assombroso, delirante, fantástico.O fundador
deste movimento é André Breton, que o faz surgir pelos finais da segunda
década do século XX, onde haveria, pouco antes, existido uma grande tensão
e abalo, devido à Primeira Guerra Mundial. O surrealismo apresentava-se com
a ideia de fazer brotar uma nova forma de pensar. Com o passado do
movimento dadá, seria mais simples inserir um movimento, que tal como o seu
antepassado, criasse na sociedade um grande impacto.
1.2 A Arte e o Museu
A história de arte desenvolveu-se nos séculos XIX e XX num estreito
paralelismo com a evolução dos museus. Na entidade museológica os objetos
colecionados e o conhecimento sobre eles necessitam de ser trabalhados em
conjunto. Os acontecimentos de avanço e recuo que acontecem na história de
arte não se podem apresentar da mesma forma no museu. O fim do estudo
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
21
museológico serve para chegar a um objetivo final, realizar uma exposição que
faça referência a esse dinamismo.
Juntando imagens e objetos que nos transportam a tempos e lugares em
específico, o museu de arte é um depósito de história, estética e evolução,
funcionando quase como um palco, em que acontecem cenas marcantes da
existência humana.
1.2.1 O Museu de Arte Contemporânea
No que diz respeito aos museus de arte contemporânea, estes tendem a
diferir das definições gerais do museu de arte antiga. Apresentam-se como
algo diferente, por serem entidades que contam histórias de memórias, no
passado recente.
Este tipo de museu em específico, por receber nas suas exposições
obras do presente, ou do passado muito recente, possui uma forma diferente
de contar a história, ou seja, a obra de arte, por ser tão recente, não existe para
além do museu, não teve uma história antes de fazer parte da instituição. No
que diz respeito por exemplo a museus de arte antiga, é utilizada a sua história,
e são refeitas leituras contextualizadoras para as obras, enquanto que no caso
da arte contemporânea, a narrativa é criada especificamente no tempo
presente.
Nestes termos, é o museu de arte contemporânea que permite a
inserção de um objeto no mundo artístico. Consequentemente, esta ligação
entre o museu, o objeto e o artista, cria uma relação de interdependência, em
que o museu se torna quase como uma instância de legitimação em relação ao
artista10.
10
BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain. L’amour de l’art: les musées et leur public. Paris, Minuit,
1966.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
22
1.3 A Arte e a Educação: Diferentes Experiências em Museus
Internacionais
A Arte desperta uma série de sentidos e sentimentos a quem a observa.
Uma peça de Arte, seja ela de que corrente ou sector for (escultura, pintura,
etc.), pode despertar uma série de sensações num indivíduo.Por outro lado, a
Arte e a sua aprendizagem podem permitir novas aprendizagens e fazer com
que sejam trabalhadas outras capacidades quer física quer psicologicamente11.
Ao crescer, cada indivíduo desenvolve-se de acordo com o que o rodeia,
e com o está à sua disposição. Os estímulos criados pela arte e pelas obras de
arte, ajudam a potenciar esse desenvolvimento.
G. Henri Riviére (1989) define o museu como instituição ao serviço da
sociedade, “como que um espelho onde a população se revê para se
reconhecer, onde procura a explicação do território a que pertence em conjunto
com as populações que a precederam na continuidade ou descontinuidade das
gerações”12.
Se, por um lado, se observam métodos tradicionais de educação no
museu, em que as atividades se resumem a explicar a história através de
objetos expostos, por outro, pode existir uma atividade mais dinâmica fazendo
usufruto do património e da interação. Neste contexto, pode entender-se como
mais vantajoso o facto de existir uma ação, que faz com que sejam provocadas
desenvolturas no meio que rodeia a entidade museológica, e
consequentemente a população em si. A interação do museu com o público,
com o fim de educar, permite a discussão e a descoberta, e estabelece
ligações de importância entre o património, o espaço, e a própria cultura
pessoal13.
11
HARDIMAN, Mariale, et al. Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain. Findings and
Challenges for Educators and Researchers from the 2009 Johns Hopkins University Summit.
New York/Washington D.C.: Dana Press, 2009. Acedido em steam-notstem.com/wp-
content/uploads/2010/11/Neuroeducation.pdf.
12 AA.V.V., (1989) La Muséologie selon Georges Henri Riviére. Paris: Bordas p. 142.
13 KENNEDY, Randy. Guggenheim Study Suggests Arts Education Benefits Literacy Skills. The
New York Times, 27 de Julho de 2006 http://www.nytimes.com/2006/07/27/books/27gugg.html.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
23
O museu deve colocar-se na sociedade como um espaço de abertura,
onde todas as estruturas sociais e económicas poderão estar inseridas. A
instituição que é o museu, deve ser dinâmica, aberta, e deve servir a
comunidade, para que esta possa também ser ativa na sua participação. É
valorizada a presença do indivíduo, por ser ele quem faz usufruto da instituição,
mas ao mesmo tempo incute-se nesta a mesma importância, por permitir a
junção do património num só edifício/local.
Segundo alguns estudos que abaixo vamos referenciar, os programas
de Arte escolares e os programas educativos oferecidos pelos museus
contribuem de forma positiva na aprendizagem de outras disciplinas e no
desenvolvimento pessoal dos alunos.
1.3.1 Learning Through Art - Museu Solomon R. Guggenheim
No caso do Museu de Arte Solomon R. Guggenheim, em Nova Iorque,
foi fundado e iniciado um programa no ano de 1970 por Natalie Lieberman, na
altura, impulsionado pelo corte de programas de arte e música nas escolas,
sendo mais tarde absorvido pela Fundação Guggenheim, em 1994. Deste
programa, que até à data, e desde o seu início, envolveu mais de 130 000
estudantes em dezenas de escolas públicas, resultou um estudo, realizado
entre os anos de 2004 e 2006, e divulgado no ano de 2006.
No Programa Learning Through Art - “Aprender Através da Arte”-, eram
enviados para algumas escolas artistas que tinham como objetivo o auxílio dos
professores na aprendizagem sobre a arte, e como fazer arte. Este programa
ocorre por um período de 10 a 20 semanas, com a presença do artista uma vez
por semana na escola, levando também grupos de estudantes a visitar o
Museu.
De uma forma resumida, concluiu-se através deste estudo que os alunos
que fizeram parte do programa mostraram melhorias em seis categorias de
literacia e pensamento crítico, em relação a outros alunos que não
frequentaram o programa (“The study found that students in the program
performed better in six categories of literacy and critical thinking skills —
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
24
including thorough description, hypothesizing and reasoning — than did
students who were not in the program.”14), revelando-se assim a importância da
arte e dos museus na educação e aprendizagem.
1.3.2 Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain - Fundação Dana e
Universidade Johns Hopkins
A Fundação Dana é uma organização filantrópica privada que suporta a
investigação do cérebro através de subvenções, publicações e programas
educacionais. Em conjunto com a Universidade Johns Hopkins, entidade que
tem como objectivo o melhoramento da saúde pública e da educação,
divulgaram ao público a investigação Neuroeducation: Learning, Arts and the
Brain – “Neuroeducação: Aprendizagem, Artes e o Cérebro” –, no ano de 2009.
Nesta investigação, ambas as entidades têm como dado adquirido que a
arte e a educação através da arte aumentam a criatividade, o que por sua vez
desenvolve as capacidades académicas noutras áreas. No entanto, não
existem muitas investigações que visem comprovar a componente científica
desses estudos. Assim, são estudadas as capacidades de controlo motoras, a
atenção e a motivação, dentro do estudo/aprendizagem das artes, durante
cerca de quatro anos.
Através desta investigação, entende-se que os estudantes que recebam
formação nas diferentes áreas artísticas apresentam mudanças na estrutura
cerebral que auxiliam a transferência das capacidades motoras adquiridas,
para áreas semelhantes15. Entende-se também que estudantes motivados a
14
KENNEDY, Randy. Guggenheim Study Suggests Arts Education Benefits Literacy Skills. The
New York Times, 27 de Julho de 2006 http://www.nytimes.com/2006/07/27/books/27gugg.html.
15 “In children, there appear to be specific links between the practice of music and skills in
geometrical representation, though not in other forms of numerical representation” -
HARDIMAN, Mariale, et al. Neuroeducation: Learning, Arts and the Brain. Findings and
Challenges for Educators and Researchers from the 2009 Johns Hopkins University Summit.
New York/Washington D.C.: Dana Press, 2009. Acedido em steam-notstem.com/wp-
content/uploads/2010/11/Neuroeducation.pdf.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
25
praticar uma forma de arte específica, focando atenção à mesma, aumentaram
a sua eficiência e atenção como um todo, mesmo quando trabalhando noutras
áreas que não as artísticas, aumentando consequentemente os seus QIs.
Outros estudos revelaram também que as artes causam impacto no cérebro,
desenvolvendo a parte social e intelectual do estudante16.
1.3.3 Staying in School: Arts Education and New York City High School
Graduation Rates – The Center for Arts Education
Em outubro de 2009, foi divulgado um relatório chamado Staying in
School: Arts Education and New York City High School Graduation Rates –
“Ficar na Escola: Educação Artística e Taxas de Conclusão do Ensino
Secundário na Cidade de Nova Iorque” -, pelo Centro de Educação para as
Artes. Esta entidade tem como objetivo a igualdade de oportunidades no que
diz respeito ao ensino com a educação artística como ponto central, para todos
os estudantes na cidade de Nova Iorque.
Neste relatório são utilizados os dados das escolas de ensino
secundário da Cidade de Nova Iorque, para o estudo da influência do ensino
das artes na conclusão ou não deste ciclo da formação académica.
Conclui-se através deste relatório que escolas com menor acesso a
formação artística possuem números maiores de desistência da formação
escolar. Por outro lado, escolas com maior investimento no ensino e educação
através da arte possuem um maior número de conclusão da formação no
ensino secundário17, apesar de existirem obviamente um grande número de
16
“An interest in a performing art leads to a high state of motivation that produces the sustained
attention necessary to improve performance and the training of attention that leads to
improvement in other domains of cognition.” – HARDIMAN, Mariale, et al. Neuroeducation:
Learning, Arts and the Brain. Findings and Challenges for Educators and Researchers from the
2009 Johns Hopkins University Summit. New York/Washington D.C.: Dana Press, 2009.
Acedido em: steam-notstem.com/wp-content/uploads/2010/11/Neuroeducation.pdf. (p. 21).
17 “High schools in the top third of graduation rates had almost 35 percent more graduates
completing three or more arts courses than schools in the bottom third” – ISRAEL, Douglas.
Staying in School. Arts Education and New York City High School Gradutation Rates. New
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
26
fatores que intervêm nestes resultados. No relatório, conclui-se também que as
artes são uma influência positiva em estudantes de risco, fazendo com que
estes prossigam na sua formação escolar e retirando-os de situações de
delinquência.
1.3.4 Reinvesting in Arts Education – Winning America’s Future Through
Creative Shcools - President’s Committee on the Arts and The
Humanities
Em 2011, o Comité de Artes e Humanidades da Presidência dos
Estados Unidos da América, revelou o estudo “Reinvesting in Arts Education –
Winning America’s Future Through Creative Schools” – “Reinvestir na
Educação Artística: Vencer no Futuro da América Através de Escolas
Criativas”.
Neste estudo, revela-se que a educação artística ajuda não só a
aumentar os valores em testes, mas também auxilia no próprio processo da
aprendizagem. O relatório revela também que no sistema escolar de Maryland,
nos Estados Unidos, encontram-se capacidades de aprendizagem através das
artes visuais capazes de melhorar a leitura e que as contrapartidas fomentadas
por tocar um instrumento são passíveis de serem aplicadas na matemática.
Investigadores e docentes das escolas acreditam que a educação artística
pode ser uma ferramenta valiosa na reforma da educação, na integração nas
salas de aula e oportunidades criativas, sendo assim uma chave para a
motivação e melhoramento do aproveitamento escolar18.
York: The Center for Arts Education, 2009. Acedido em: www.cae-
nyc.org/sites/default/files/docs/CAE_Arts_and_Graduation_Report.pdf. (p. 3).
18 “…students who may have fallen by the wayside find themselves re-engaged in learning
when their enthusiasm for film, design, theater or even hip-hop is tapped into by their teachers.
More advanced Reinvesting in Arts Education 55 conclusion and recommendations students
also reap rewards in this environment, demonstrating accelerated learning and sustained levels
of motivation.” - President’s Committee on the Arts and Humanities. Reinvesting in Arts
Education. Winning America’s Future Through Creative Schools. Estados Unidos da América:
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
27
De uma forma generalizada, todos os estudos apresentam ideias de que
a arte é algo de fundamental para o desenvolvimento do indivíduo, seja nas
suas capacidades motoras, sociais e intelectuais, na sua aprendizagem de uma
forma geral – aumentando os valores dos testes -, mas também artística ou
focada em áreas científicas – como por exemplo as matemáticas -, no seu
criticismo, no aumento da criatividade, entre muitos outros campos de ação. É
possível notar de igual forma que estudantes abrangidos por programas de
arte, com as mais diversas atividades – desde a ida do artista à escola, à ida
ao museu de forma regular, ao desenvolvimento de projetos que estimulem a
arte e a aprendizagem da arte -, tem uma maior tendência a permanecer na
escola, e prosseguir o seu percurso escolar, tornando assim possível o seu
desenvolvimento pessoal e cultural, e permitindo assim que exista uma
sociedade mais culta e educada, e consequentemente melhor formada.
Os estudos e programas de arte nas escolas e nos museus, permitem
não só a redução de taxas de abandono escolar, mas também reduzem a taxa
de delinquência na adolescência e seguintes faixas etárias, fazendo com que o
interesse pela formação escolar e artística, se sobreponha a situações de risco.
2011. Acedido em www.pcah.gov/sites/default/files/photos/PCAH_Reinvesting_4web.pdf. (p. 64
e 65).
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
28
CAPÍTULO 2
O MUSEU BERARDO E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO
2.1 O Projeto de Criação do Museu
Sabendo da falha na existência de um museu que contivesse uma
coleção de arte moderna e contemporânea, a coleção privada reunida pelo
Comendador José Berardo desde cerca de 1993, por sua vez guardada no
acervo do Centro Cultural de Belém (CCB), originou um acordo entre o
Governo Português e o Comendador.
A instalação de um Museu no Centro de Exposições do Centro Cultural
de Belém é tornada oficial através do Decreto-Lei nº164/200619 de nove de
agosto, onde é definido que a Coleção Privada do Comendador Berardo será
colocada para acesso do público em geral, num regime de comodato,
entretanto renovado na presente legislatura, como veremos.
Com o objetivo de completar lacunas em termos de arte moderna e
contemporânea, mas também as lacunas da Coleção do Comendador,
pretende-se que exista uma ligação que a torne mais completa, e do mesmo
modo, possivelmente, criar uma coleção que seja capaz de subsistir por si só.
Através do acordo inicial, até ao ano de 201620, ficariam no Centro
Cultural de Belém 863 peças, e findo esse período, o Governo Português teria
a oportunidade de renovar o acordo por outro período ou comprar toda a
coleção. Nesse acordo estabelece-se também que anualmente, quer o
Comendador Berardo quer o Ministério da Cultura, contribuem para a
colmatação das lacunas com meio milhão de euros, ou seja, com um total de
um milhão de euros por ano.
Chegado o ano de 2016, anunciou-se no mês de novembro, que o
acordo entre as duas entidades, se manteria por um período de mais seis anos,
19
Decreto-Lei nº 164/2006:
pt.museuberardo.pt/sites/default/files/documents/decreto_lei_164_2006_0.pdf.
20 O acordo foi feito por um período de dez anos, que se iniciou em 2006.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
29
sendo que a partir do ano de 2022 as renovações serão automáticas, caso não
exista denúncia por nenhuma das partes. Neste acordo, e com o objetivo de
permitir alguma liberdade para o desenvolvimento do museu em si, o estado
português permitiu que a Fundação Berardo revisse a forma como deveria gerir
as entradas, sendo que a partir do ano de 2017, estas passarão a ser pagas,
existindo como noutros museus, um dia por semana em que a visita será
gratuita.
2.2 A Missão do Museu
O Museu é unidisciplinar, atuando sobre a arte moderna e
contemporânea, ao expor um grande leque de artistas, através de obras de
grande valor a nível nacional e internacional. Este museu não possui uma
definição clara da sua missão, isto é, não é possível explicá-la de uma forma
curta e simples. No entanto, o Museu Berardo entende por sua missão o
estudo, a preservação, a exposição e a promoção da coleção adquirida pelo
Comendador Berardo, de forma a suscitar o entendimento e apreciação das
artes plásticas desde o início do século XX até aos dias atuais. Para isso vai
recorrendo a uma programação diversificada e didática, indo além da
apresentação permanente da coleção, e passando pela apresentação de um
vasto programa de exposições temporárias internacionais. Este insere o Povo
Português e o país, no circuito de obras de arte internacional.
Através da mostra destas peças, incute-se na cidade de Lisboa não só
um destino turístico, mas também cultural, que beneficia as duas áreas,
provocando no público a motivação da visita e da vontade de explorar o museu,
a cidade e o país.
É ambição do museu, que através da mostra de uma exposição, seja
possível enaltecer as qualidades das várias áreas artísticas, de forma evolutiva,
partindo do século XX até aos dias presentes, transparecendo a didática, a
dinâmica e a flexibilidade nela incutida. A coleção incita a um diálogo vasto
entre outras coleções e espólios, de forma a expandi-la, e exercer um
intercâmbio internacional, entre outras obras e museus, de forma a dar a
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
30
conhecer outras tendências que acontecem no circuito internacional da arte, e
abrindo um precedente que promova, ao mesmo tempo, a circulação desse
vasto leque de obras.
Existindo um interesse na expansão que pretende chegar ao nível
artístico internacional, é também desejado pelo Museu, inserir neste círculo
aqueles que são os artistas portugueses que contribuem, por sua vez, para
uma maior vastidão e abertura desse círculo, mas permitiria também a mostra
do trabalho que se faz em terras lusas, realizando exposições temporárias e/ou
inserindo-os nesta que é, uma vasta coleção de arte.
Com a opção por um programa museológico vasto e plural, pretende-se
que seja visto de igual forma, um lado pedagógico que articula os vários
aspetos, e que contribui para que exista uma relação entre os elementos que
criticam, os que criam e os que ensinam.
2.3 A Vocação do Museu
A coleção do Museu Berardo, contém cerca de 1000 obras, inseridas em
cerca de 77 movimentos artísticos contando com mais de 500 artistas. Esta
acolhe um período de cerca de 100 anos que se inicia com uma obra de Pablo
Picasso de 1909, e atravessa as principais correntes, tendo por objetivo
preencher as lacunas que nela existem a nível histórico e também de valores
emergentes, o que demonstra que é uma coleção em aberto, e que se encontra
constantemente em construção.
Inicialmente, o espólio focava-se a partir do ano de 1945, devido ao pós-
guerra da Segunda Guerra Mundial, tendo em conta que após o seu
acontecimento se deram alterações mundiais significativas alusivas à
realização de obras de arte e ao surgimento de novos movimentos artísticos
que emergiram maioritariamente nos Estados Unidos da América, movimentos
estes que tiveram, por sua vez, direta influência sobre a arte realizada na
Europa. Tendo estes aspetos em conta, e com o objetivo de tornar mais
alargado o espetro temporal da coleção em si, existiu a necessidade de recuar,
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
31
sendo conduzida até ao ano de 1917, abrangendo então criadores do início do
século passado, até à atualidade.
Assim o atual percurso da Coleção Berardo (CB), tem o seu início logo
após a Primeira Guerra Mundial, visto que nesta mesma altura, a Europa se
encontrava numa época bastante conturbada e atravessava uma grave
recessão, o que provocou grandes alterações nos âmbitos das vanguardas. O
ponto fulcral de inspiração era Paris, lugar por onde todas as correntes, e
consequentemente os artistas circulavam. Fazem parte do Fauvismo, Cubismo
e Expressionismo, algumas das primeiras obras a pertencer à Coleção
Berardo. Não sendo apenas uma série de obras escolhidas ao acaso, a
coleção torna-se numa forma de expressar o conflito da modernidade.
Existe neste conjunto de peças, uma vasta gama de exemplos a seguir e
a reunião e combinação destas torna-se notável. Nomes sonantes como Pablo
Picasso, Marcel Duchamp, Kasimir Malevich, Piet Mondrian, Francis Bacon,
Andy Warhol, Yves Klein, Willem de Kooning, Francesco Clemente, Jenny
Holzer, Sol LeWitt, Richard Serra, Alexander Calder, Henry Moore, Fernando
Botero, Vito Acconci, Larry Bell, Christian Boltanki, Mario Merz, Nam June Paik,
Bill Viola, Bernd And Hilla Becher, Nan Goldin, Andreas Gursky, são apenas
um pequeno exemplo do grande leque de artistas que a Coleção reúne. A par
dos criadores/artistas estrangeiros, existem de igual forma, para que se faça
uma consolidação e valorização da Arte Portuguesa nesta coleção, nomes
como Fernando Calhau, Alberto Carneiro, Paula Rego, Helena Almeida, Pedro
Cabrita Reis, Pepe Diniz e Fernando Lemos.
2.4 A Coleção e o Museu
Com a ajuda de diferentes colaboradores, mas maioritariamente com o
apoio do Dr. Francisco Capelo, advogado do então BANIF, José Berardo,
movido por sonhos, curiosidades e paixões, foi reunindo, nas últimas décadas,
aquela que é atualmente a Coleção Berardo. O comendador continua a desejar
a criação de estímulos, quer em indivíduos quer em instituições, para que se
possam criar e expandir outras coleções, e para que as gerações futuras
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
32
possam ter comoexperiências, as preocupações, esperanças e ansiedades de
outros tempos. O grande objetivo da coleção, passa pela capacidade de
transparecer a complexidade da arte moderna econtemporânea, e demonstrar,
de igual forma, obras capazes de ilustrar as épocas vividas pela sociedade
aquando da sua criação.
Apelando a uma abertura de espírito, e agregando obras que ilustrem a
qualidade e imaginação criativa sem limitações, é pretendida uma mostra
artística, sem olhar a técnicas ou nacionalidades, e sim apenas à pureza da
arte. Esta coleção define-se como um horizonte sem fim, para que possa
sempre ser enriquecida com a arte de gerações futuras. Dedica-se ao público,
de e para quem a vê.
A primeira mostra da CB ao público foi no ano de 1993. Por esta altura,
a coleção era apenas um pequeno núcleo de obras que o Comendador
considerava pertinente mostrar. No panorama artístico nacional, uma coleção,
mesmo que pequena, era um ponto importante para o país, visto que mostras
de arte moderna e contemporânea, na época, eram praticamente nulas. Vê-se
então a necessidade de fazer a implantação da coleção num espaço
museológico. Com este propósito, são então criados, no ano de 1996, dois
protocolos – um com a Câmara Municipal de Sintra e o outro com o Centro
Cultural de Belém. Foi com este segundo protocolo, que se possibilitou que as
obras reunidas pelo Comendador, fossem depositadas em acervo, permitindo
então, o intercâmbio e a organização de exposições a nível internacional.
A Coleção Berardo aspira oferecer ao país, um acesso vitalício à arte
internacional e nacional dos dois séculos por ela abrangida até ao momento, e
o seu acervo, ocupa na atualidade um lugar de extremo prestígio por entre
outras instituições do mesmo género.
O espólio presente no Centro de Exposições do Centro Cultural de
Belém, está dividido em três núcleos, que por sua vez estão subdivididos por
correntes artísticas.Existem duas exposições permanentes, a do período de
1900 até 1960 - Museu Coleção Berardo (1900-1960) -, e a inaugurada em
novembro de 2011 - Coleção Berardo (1960-2010) -, que corresponde então ao
período de 1960 a 2010, e que por sua vez dá continuidade à primeira.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
33
Relativamente a esta segunda exposição permanente, sabe-se que
algumas das obras foram cedidas pela Fundação Ellipse, outras pela Fundação
Serralves e ainda pela Direção-Geral das Artes.
O MB está aberto todos os dias da semana, de segunda-feira a
domingo, entre as dez e as dezanove horas. Em dias especiais, como o dia 24
e o dia 31 de dezembro, em que a abertura é feita apenas entre as dez e as
catorze horas e trinta minutos; no dia 25 de dezembro, este encontra-se
encerrado; e no dia 1 de janeiro, encontra-se aberto entre as doze e as
dezanove horas.
Com a renegociação do acordo entre o estado português e a Fundação
Berardo, as outrora entradas gratuitas sofrem alterações. A partir do ano de
2017, para que existam novos meios de financiamento, o ingresso no MB
passa a ser pago21, sendo que o valor do bilhete é ainda desconhecido. Mas à
semelhança de outros, possui tal como os restantes, pelos menos um dia por
semana em que a entrada é gratuita22.
Na sua relação com o público, o museu pretende facilidade, isto é,
pretende-se que exista uma relação humanizada, com emoção e proximidade
para com a coleção, para que se possam captar novos segmentos de público
para o visitar, imprimindo um prazer e um sentido de descoberta e dinâmica na
aprendizagem.
No que toca à programação deste museu, são apresentadas exposições
sobre vastas temáticas, sendo que estas poderão ou não ter uma relação direta
com a coleção em si. Neste programa, abrangem-se diversos tópicos, como a
arte contemporânea estrangeira, a fotografia, a arquitetura, o design e outros.
Quanto ao turismo, existe uma ligação forte do museu para com o
mesmo e esta é feita através da representação e promoção internacional da
coleção.
21
LOPES, Miguel A.. Museu Berardo vai ter entradas pagas a partir de 2017. Agência Lusa,
2016. Acedido em: observador.pt/2016/11/23/museu-berardo-vai-ter-entradas-pagas-a-partir-
de-2017/.
22 CARRILHO, Raquel. Museu Berardo em Belém, mas com entradas pagas. Jornal I, 2016.
Acedido em: ionline.sapo.pt/535851.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
34
2.4.1 Lacunas
As lacunas situam-se sobretudo a partir da década de noventa. Nesta
Coleção, não será possível encontrar, por exemplo, na década referida
anteriormente, movimentos suficientemente diferentes uns dos outros e que
exerçam julgamentos críticos relativamente a outros, sendo estes movimentos
expressionistas e transvanguardistas por um lado, e apropriacionistas por
outro, ou até mesmo, que foquem a fotografia alemã, visto que todos esses
movimentos têm na Coleção uma representação, mas quando se passa para a
década de noventa, deparamo-nos com um colapso.
Este colapso acontece por terem sido seguidas vias demasiado
institucionais que privilegiaram determinados média em relação a outros. Um
dos claros exemplos será o da pintura, que não deixando obviamente de ser
importante, foi preterida em relação a outros movimentos, que surgiram desde
esse período até aos dias que correm, como por exemplo a vídeo-instalação,
que foi, por sua vez, uma forma de explorar outros tipos e linguagem, e foi algo
que teve um período de importância, em anos anteriores, e voltou
dominantemente na década em falha. No entanto, tal não significa que nos
anos que se possam seguir, não seja feita uma retrospetiva que nos irá
conduzir a uma falha de novos movimentos de importância da história de arte.
A história é feita de nuvens.
Alguns dos nomes em falta e a ter em atenção, seriam então exemplos
como Mona Hatoum, Douglas Gordon, Gabriel Orozco e Francis Allys. Nomes
que fazem falta na Coleção Berardo, e que são, por sua vez, do agrado geral,
possuindo grandes referências nos diversos entendimentos, tendo obras bem
construídas e cimentadas ao longo dos anos e que se tornam, naturalmente,
prioridades da coleção.
2.5 A Exposição
A exposição Museu Coleção Berardo (1900-1960) apresenta obras que
fazem parte de um leque de cerca de duzentos e cinquenta artistas e de uma
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
35
grande variedade de movimentos da arte moderna do século XX, abrangendo
um período de 60 anos, resultado de um pós Primeira Guerra Mundial, e que
nos conduz a um passado recente cheio de vivências. Ao mesmo tempo
conduz o público à Segunda Guerra Mundial, e posteriormente ao seu pós-
guerra.
Nesta exposição transparece o momento da história em que o conceito
de arte, e de obra são radicalmente transformados, transportando àquilo que
hoje vemos como um objeto de arte. Esta exposição encontra-se no último piso
do edifício que está aberto ao público, o piso dois.
De entre os vários núcleos desta exposição, destacam-se:
- Os Espaços Cubistas – Onde Pablo Picasso, se integra como um dos
grandes nomes da coleção, e onde entre este e outros nomes, este
movimento adquire uma influência no pós-impressionismo, que une a
natureza às formas geométricas. Uma das obras a ver, será Les
Demoiselles D’Avignon23, de Picasso que é a obra onde transparecem
as principais caraterísticas do cubismo.
- Dadaísmo - Conduzido por uma falta de apresentação específica, este
chega até ao momento em que se situa no ready made, que nos conduz
a Marcel Duchamp, outra figura de nome sonante da arte a nível
internacional, e com grande história naquela que é a história da arte. Le
Porte-bouteilles, é a obra que faz com que se erga um objeto comum
àquilo que é considerado uma obra de arte, chocando contra todos os
conceitos adquiridos sobre a obra de arte até à data.
- Construtivismos - Malevich foi quem utilizou a primeira vez o termo de
arte construtivista, de forma a caracterizar o trabalho de Rodchenko,
mas só mais tarde, cerca de 1920, este termo se tornou algo mais
sólido.
- De Stijl - Movimento estético, social e filosófico nascido na Holanda.
Por esta altura a Holanda estaria à parte daquela que era a Primeira
Guerra Mundial, aspeto que acabou por ser positivo para uma evolução
23
Uma das obras que revolucionou a história de arte, por forma a tornar-se a base para o
cubismo e a pintura abstrata.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
36
no campo artístico. Este exerceu sobre as artes plásticas e o design
algumas influências que lhes originaram mudanças. De Stijl ou
Neoplasticismo, é de certa forma um movimento idealista do século XX,
surgido em 1917, pelas mãos de Theo Van Doesburg, que imprime na
arte da modernidade uma pureza abstracionista. Com isto, De Stijl
pretendia uma correlação entre o natural e a intelectualidade, de forma a
existir um equilíbrio. Este movimento artístico era caraterizado pelo uso
das cores primárias, sendo que estas estariam completadas com a
utilização das cores preto, banco e cinza, que ajudavam na composição
da expressão. Outras das características latentes nestas obras,
passavam então pelo uso de ângulos retos, e formas planas, sendo que
tudo isto levaria à criação da possibilidade de quebrar regras individuais
e criar soluções de uma forma coletiva.
O nome do movimento em questão, “De Stijl” surge de uma
publicação (revista) com o mesmo nome. Era, acima de tudo, um
movimento com muito fervor, por parte de quem o suportava.
- Abstração entre Guerras - Dois dos nomes de maior importância para o
abstracionismo, seriam então os criadores do grupo natural de Paris,
Abstraction-Création, fundado por Auguste Herbin e Georges
Vantongerloo.
- Surrealismo - Gerindo-se pela liberdade, poesia, amor e o maravilhoso,
este movimento procurava libertar-se das regras sociais existentes, onde
surgia o trabalho, a família e a religião. A liberdade dava aso à poesia, e
o amor iria fazer com que todos os seres humanos se relacionassem em
harmonia. Já o maravilhoso seria considerado como aquilo que iria fazer
voar a mente do homem. Salvador Dalí é um dos nomes de referência
deste movimento, gerando obras que desafiavam aquilo que é o real e o
que é considerado o comum.
- Figuração no Pós-guerra - Foca a arte do figurativismo, que surge no
início do século XX, mais concretamente pelo ano de 1920, reclamando
o seu lugar em relação a outras correntes que estariam na (sua)
imposição na altura. Esta manifestação artística, vocacionada
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
37
principalmente para as artes plásticas, representava figuras e realidades
consistentes e possíveis de identificar, sendo então algo
representacional. Os seus elementos mais marcantes seriam a cor, o
contraste, as linhas, a textura e a perspectiva, que ajudariam a criar a
ilusão de forma e espaço, com o objetivo de atribuir uma maior
importância ao que seria representado.
O figurativismo contém duas vertentes, sendo que uma delas
seria a do real, que criaria então a ilusão de observarmos algo tal como
é na sua existência formal e real. E a arte figurativa estilizada, onde seria
possível reconhecer aquilo que era retratado, mas onde era identificada
uma simbologia ou uma diferença estética ao que esse elemento é na
sua naturalidade.
- Informalismo – Corrente artística que surge na Europa em finais dos
anos quarenta, numa epóca de pós-guerra, da Segunda Guerra Mundial,
onde, como é caraterístico nos movimentos desta mesma exposição, o
povo se vê inserido numa crise existencial.
Este movimento surge por uma necessidade de abstração do que
se estaria a passar. Utilizando uma linguagem abstrata, são os materiais
que se tornam decisivos na definição da obra, no papel que esta terá na
sua mostra. Assim, são inseridos neste movimento novas tendências,
que passam pelo uso de materiais que se diferem do que é comum,
gestualidade na obra, e geometria espacial. É vista, com grande fulgor, a
presença da personalidade do artista, isto é, na obra transparece aquilo
que ele próprio é, através dos materiais por ele escolhidos, e pelas
próprias técnicas que emprega, criando uma exaltação, e até mesmo
uma improvisação na construção da obra. Como muitos outros
movimentos artísticos, também o informalismo recorre ao passado, para
tomar como base certas caraterísticas de outros movimentos, como por
exemplo o gosto pela colagem exercido pelos cubistas, assim como o
automatismo surrealista. Nomes como Jean Fautrier, (que surge com
obras que demonstram o movimento Nazi em plena Segunda Guerra
Mundial), ou Jean Dubuffet, são nomes marcantes não só deste núcleo,
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
38
mas também do movimento em si, transparecendo então as crises e
caraterísticas do mesmo.
- CoBrA - Criado na Holanda, a sua sigla significa Copenhague-
Bruxelas-Amsterdam24, e que surgiu entre os anos de 1948 e 1951.
Surgido num ambiente de pós-guerra, mais uma vez, aparece na
devastação que a Segunda Guerra Mundial haveria deixado para trás, e
numa altura em que seria necessária a união de forças, em todos os
aspetos. Aspirando mais liberdade, e sabendo que seria necessário
existir uma reconstrução do que havia ficado destruído, os criadores do
movimento pretendiam que fosse possível ao artista, satisfazer-se com a
sua veia criativa. Por esta altura todas as frustrações, angústias e dores,
resultantes da guerra recente, estariam no foco das suas mentes, e
consequentemente iriam estar transparecidas nas suas obras, de forma
a mostrar o purgatório pelo qual teriam passado. O movimento
pretendia, no fundo, que fosse transparecido o conteúdo das suas
mentes, mas de forma pura, cheia de emoção, como se fosse possível
estar presente no local, só pela observação da obra em si.
No CoBrA existia uma grande vontade de quebrar e responder
aos ideais do surrealismo. Existia uma vontade de expressão, de criar
sem pensar. Não deveria existir um pensamento prévio, mas sim uma
espontaneidade que os conduzisse diretamente ao suporte, levando um
certo desajeite em grossas camadas de tintas primárias, e deixando
marcas profundas no mundo da arte, com as suas imagéticas, de certa
forma infantis e primitivas. Christian Dotremente, Pierre Alechinsky,
Corneille, Karel Appel, Constant, e Asger Jorn eram membros deste
grupo, e consequentemente, os nomes a ter em conta neste movimento.
- Expressionismo Abstrato - Posterior à Segunda Guerra Mundial,
aparece em 1943, fruto de uma época de incerteza, onde os artistas
europeus se mudariam para os Estados Unidos da América, para se
sediar em Nova Iorque. O contato que existiria depois dessa mudança,
traria então aos Estados Unidos, aquele que é um dos movimentos
24
Definição: Copenhaga-Bruxelas-Amsterdão.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
39
artísticos de maior importância na história da arte americana. Numa
altura em que existia um certo bloqueio, os artistas procuraram em
conjunto, sobreviver à crise que estariam a passar em termos artísticos.
Era necessário existir inovação, mudança, pensamento próprio. De certa
forma, foi criada uma influência nos jovens artistas americanos, dada a
variedade artística existente, fazendo com que Nova Iorque fosse
colocada como uma das cidades de importância no que toca à arte.
Aqui vê-se uma junção daquilo que é a emoção intensa do
expressionismo alemão, com as escolas abstratas europeias, Cubismo,
Futurismo e Bahaus. É uma corrente que expressa a liberdade do
criativo, focando a sua subjetividade, originando um momento de criação
no seu sentido mais puro e gestual. Alguns dos grandes nomes a focar
neste movimento, e na coleção, seriam então Arshile Gorky, William
Baziotes, Jackson Pollock e Willem de Kooning.
- Nova Escola de Paris - Surgindo no segundo pós-guerra, século XX, e
resulta da reformulação das definições de estética. A Escola de Paris iria
sofrer uma mudança que a iria transformar, e que se prolongaria por um
período de dez anos.
Este núcleo demonstra dois aspetos do abstracionismo, que se
caracterizam pela geometria das formas e a tendência lírica-informal.
Depois de um período de crise política e social, a Europa sofre
grandes mazelas das guerras mundiais, deixando todo um rasto de
confusão e destruição, que liberta no povo, a incerteza do que estaria
para vir. Assim, a arte começa mais uma vez a sofrer transformações
que a fazem libertar-se da figuração, conduzindo-a mais uma vez ao
abstrato, à expressão que era necessária numa obra. A Nova Escola de
Paris seria assim, uma herdeira da arte cubista, surrealista e
expressionista.
- Arte Cinética e Op Art – Paris, 1955, aquando da inauguração de uma
exposição que seria o ponto de partida para uma arte que se move.
A Arte Cinética é um movimento que surge de forma a responder
à necessidade de criar novos estilos de arte, que transpirem mudança e
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
40
inovação, e ao mesmo tempo, que criem de alguma forma impacto. Esta
recorre aos efeitos visuais, criados com uma tela e que nos causam a
sensação de movimento, que será apenas uma ilusão de óptica. Assim,
a Op Art é um exemplo da arte cinética. E esta faria uso da sensação de
movimento, repetindo formas geométricas e utilizando tons e luzes que
diferiam entre si, de forma a obter um efeito ilusivo no globo ocular, que
se iria transparecer de outra forma quando ligado ao cérebro.
O número total de núcleos expostos inclui também os seguintes:
Fernand Léger e Josef Albers; Grupo Zero; Fontana, Manzoni e Klein;
Figuração Existencialista; “Presentness is Grace”; Descolagismo – Noveau
Réalisme; Neodadaísmo; Pop Art Britânica; Pop Art Americana.
Estes núcleos possuem artistas de vários locais do mundo, tentando
apresentar o melhor de cada movimento. A então primeira exposição
permanente do museu, abriu ao público em junho do ano de 2007.
A Exposição Museu Coleção Berardo (1900-1960) pretende contar a
história de uma época, que se demonstrou de extrema criatividade no que toca
à inovação, à criação, à diversidade e à mudança, visto ser fruto de uma época
crítica no que toca à política e aos valores sociais, que se faziam sentir devido
às Guerras (Primeira Guerra Mundial e Segunda Guerra Mundial) e que
mudariam e influenciariam não só a história social, mas também a história da
arte.
2.5.1 Conservação, segurança e prevenção
No que diz respeito aos termos de conservação das obras, estas
encontram-se expostas em condições adequadas. Não apresentando vestígios
de degradação ou deterioração, ou sequer de alguma necessidade interventiva.
É possível visualizar as obras no seu melhor estado, sendo este um aspecto
que reflete o bom tratamento das mesmas.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
41
As obras, no seu geral variam entre pinturas, e esculturas, o que faz com
sejam necessários suportes e molduras para as pinturas, e estrados ou
suportes para as obras escultóricas.
No caso das peças de pintura, as molduras ou suportes possibilitam
proteção a possíveis deteriorações, que poderão ser influenciadas pela
exposição ao ar; e/ou resguardo no que diz respeito a toques por vezes
incontrolados do público em geral, seja por distração ou outro acaso, sendo
que a vidraça da moldura permite que não existam toques diretos nas obras,
evitando também que as obras ganhem sujidade ou sejam afetadas por fungos
ou outras bactérias que as possam corroer ou causar outra espécie de danos.
Ainda neste ponto, pode ainda referir-se que ao estarem suportadas e
protegidas de forma integral por molduras, torna-se mais difícil que as obras se
danifiquem por inteiro, não existindo possíveis rasgos ou estragos.
No caso das peças de esculturas, devido ao seu tamanho e peso,
algumas delas estão colocadas diretamente no chão das salas, sendo que
outras estão apenas sobre o que aparenta ser uma folha de papel de cenário, e
as demais encontram-se em suportes ou estrados, que permitem a delimitação
do espaço que o visitante deve utilizar, quando esta não existe. Neste caso
específico, seria necessária uma forma de demarcação, com um suporte ou
através de linhas definidas com textura, para que não seja possível demasiada
proximidade ou a causa de danos, sendo que no caso de que aconteça, exista
uma forma de alerta para este acontecimento. Ao existirem obras demasiado
expostas no percurso da exposição, situações como no caso das peças de
pintura, podem levar adanos nos objetos de arte.
No que diz respeito à segurança, como anteriormente referido, quase
todas as obras estão de alguma forma fisicamente protegidas. Danos nas
obras, poderão apenas acontecer devido a toques acidentais causados por
situações pontuais, e que poderão originar a queda de alguma das obras
levando à quebra ou danificação de outra natureza das mesmas. Para que isso
não aconteça, a solução deveria então passar pela existência de linhas
limitadorasda distância entre o espectador e a obra, linhas essas que deverão
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
42
possuir uma textura diferente da do piso em que se inserem, de forma a que se
façam notar.
Também no que se refere à segurança, existem funcionários do Museu,
nas salas do espaço expositivo, que poderão não só auxiliar, mas também
alertar o público para possíveis situações de risco.
Por outro lado, e da mesma forma que existem os vigilantes ou
assistentes da exposição, existem também os seguranças, que pretendem
certificar que o espaço, e toda a exposição se encontram estáveis. Para isso,
cada segurança circula pelas salas, equipado com rádios que permitem a
comunicaçãoentre colegas e outros profissionais do museu, de forma a manter
um contato em rede que permite a rápida circulação da informação.
Em caso de situações de emergência ou alto risco, é possível observar
por todas as salas, a existência de saídas de emergência devidamente
assinaladas, extintores, telefones, alarmes e plantas do espaço, para que o
ambiente seja mantido seguro e para que seja possível a existência de contato
tanto de quem visita a exposição, como para os funcionários do museu, para
que seja rápida a resolução de situações de maior risco.
2.5.2 A Apresentação
A exposição possui algumas falhas na sua leitura, sendo que durante o
percurso, por não existir uma linha definida de circulação, poderão passar
despercebidas algumas obras ao estarem fora do campo de visão. As salas
possuem alguns problemas de organização, no que diz respeito à colocação
das obras e por isso, torna-se por vezes difícil a sua leitura. Um dos exemplos
deste aspecto, será o facto de certas obras se situarem no centro do espaço
onde seria zona de circulação, impedindo que esta se realize de forma fluída e
criando entraves aos visitantes.
Por outro lado, e sendo igualmente um aspeto importante a referir, as
salas, apesar de espaçosas, tornam-se de certa forma reduzidas, tendo em
conta o número de obras expostas, principalmente no que diz respeito às
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
43
peças de escultura, visto que estas nem sempre estão/são colocadasda forma
mais adequada à leitura e ao aproveitamento da sala.
No que diz respeito à informação presente na exposição, esta é clara e
sucinta. Por todo o percurso da exposição, observam-se pequenos textos que
poderão ser lidos a curta distância e que permitem a passagem de informação
complementar àquilo que é observado. No entanto, esta mesma distância
torna-seem momentos demasiado curta, visto que se o visitante se encontrar
alinhado com o texto, é possível que exista uma leitura rápida do mesmo, mas
que, caso não seja possível estar diretamente exposto à informação, estando
por exemplo num grupo maior de pessoas, poderá tornar-se difícil a leitura dos
textos, e consequentemente impossibilitar a circulação do público pelo espaço,
originando uma perda de informação.
Existem também, em relação aos textos e legendas colocados pelo
local, certos aspetos que os fazem falhar naquilo que seria a sua melhor. Por
exemplo, as placas colocadas nas paredes, exercem demasiada carga visual,
focando demasiada atenção para as mesmas, quando estas não deveriam
prevalecer sobre as obras. É possível encontrar textos de cor preta e vermelha,
que estarão sobre um fundo cinza, e que para além de dificultarem a sua
leitura, devido ao contraste de cor, assumem também um aspeto de maior
carga visual do que o que seria necessário.
Relativamente às legendas, apesar de estas estarem maioritariamente
legíveis e bem colocadas, em certas situações, é difícil compreender que
legenda dirá respeito a que obra, por exemplo, principalmente nos casos das
esculturas, encontram-se colocadas na parede quando as obras estão situadas
no centro da sala em questão. De igual forma, existem também casos, em que
as legendas não se encontram no campo visual, tornando-se necessário algum
esforço para as encontrar e ler, existindo de igual forma legendas impressas
em pequenas placas, que para além de retiradas do objeto a que
correspondem, poderão serdemasiado pequenas para que se proceda à sua
leitura. A solução poderia passar por serem colocadas diretamente sobre os
suportes ou paredes, de forma a que não causem também ruído visual.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
44
Em relação ao percurso da exposição em si, como anteriormente
referido, torna-se algo complicado entender o caminho a seguir, visto não
existir um circuito pré-definido o que origina uma perda de certas linhas de
informação para o observador. A existência de um sistema que facilite ao
público o entendimento do melhor circuito da exposição, poderia auxiliar nesta
situação, apesar de ser importante a liberdade deobservaçãoda exposição.
As cores apresentadas no espaço, são identificativas do Museu. As
paredes são de fundo branco, primando por fazer sobressair as obras, e
utilizando apenas apontamentos de cor vermelha e preta nas explicações de
cada núcleo expositivo e também na leitura das legendas. Possivelmente, seria
solução optar por cores mais neutras ou suaves, substituindo as cores mais
fortes por tons de cinza e/ou tons mais claros das cores originais.
As peças expostas encontram-se colocadas de forma assimétrica pela
exposição, organizando-se pelo espaço da sala em si. As peças de pinturas
estão colocadas nas paredes a uma altura que permite que se encontrem
situadas no campo visual do observador. Por outro lado, existem peças de
esculturas, colocadas também elas assimetricamente pela exposição.
A Exposição possui panfletos que complementam pormenores que
possam passar despercebidos, ou introduções a elementos que serão a chave
para a compreensão de tudo o que se observa. Estes encontram-se no átrio de
entrada do edifício do centro de exposições, à entrada da exposição em si, e
também na sua saída. Para que todos os panfletos e toda a informação da
exposição seja compreendida por um maior número de pessoas, e tendo em
conta que existem inúmeros visitantes que se deslocam do estrangeiro,
estabeleceram-se duas línguas para a leitura de toda a informação, o
português, língua mãe do país, e o inglês, a língua mais comum à maioria dos
que visitam o espaço e que se deslocam de outros países.
De uma forma geral, é possível entender-se que a informação é
facilmente captada, denotando-se, no entanto, a existência de alguns aspectos
que falham, e que, caso solucionados, facultam uma melhor leitura da
exposição e do espaço em si, facilitando ao público a compreensão daquilo que
observam.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
45
2.5.3 Divulgação | Identificação
No que diz respeito à divulgação da exposição e do espaço do Centro
Cultural de Belém, é possível visualizar faixas identificativas do museu e da
coleção, com a letra “B” que define a marca da Coleção Berardo, e que faz com
que seja perceptível a aproximação ao espaço. As faixas possuem tamanho
mais que suficiente para que sejam vistas a grande distância, e identificam o
espaço por assumirem um contraste com letras em cor vermelha em relação ao
resto do ambiente e da fachada do edifício que é predominantemente de cor
clara.
Posteriormente, no percurso até à entrada do edifício, existe igualmente
um sinal luminoso com a letra “B”, assinalando assim a chegada à entrada do
centro de exposições. No que toca à entrada do edifício em si, podem
encontrar-se faixas que a marcam, e observando através das vidraças da
entrada, é possível ver nas paredes esquemas que anunciam a chegada ao
Museu.
Passando a recepção, avistam-se tabelas que identificam as várias
exposições que decorrem no espaço, e os espaços do Museu em si. Nestas
tabelas, é possível ler as indicações sobre a exposição permanente “Museu
Coleção Berardo 1900-1960”, sabendo em que andar a mesma se encontra, e
indicando os meios que se poderão utilizar para lá chegar,entre outras
informações genéricas, como por exemplo, se nesse piso se poderão ou não
encontrar os lavabos.
Perto dos locais onde se costumam situar os assistentes do museu,
existem também uma série de panfletos informativos, que serão capazes de
fornecer informação relativa ao museu de forma generalizada: exposições que
decorrem, atividades e serviços do museu em si - serviços de guia, serviços
didáticos, entre outros.
No que diz respeito à exposição de arte moderna, ao subir as escadas
ou o elevador para a exposição, poderá ser visualizada outra tabela indicativa
do percurso a seguir.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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2.5.4 Percurso da Exposição
Em termos de orientação, é relativamente simples entender onde nos
encontramos, bem como onde cada indivíduo se pretende dirigir. Existem
identificações ao longo do percurso até ao Centro de Exposições, e o primeiro
acesso à entrada, poderá ser realizado sem quaisquer dificuldades, seja pela
rampa permitindo a circulação de pedestres ou pessoas com dificuldades
motoras, nomeadamente portadores de cadeiras de rodas. O acesso ao piso
superior poderá ser feito através de escadas, ou caso exista necessidade de
circular com cadeira de rodas, é possível fazê-lo através de um elevador que
existente perto das escadas mencionadas.
Relativamente ao percurso na exposição, como já referido não existem
indicações, sendo que o sinal que mostra a entrada, se apresenta como um
paralelepípedo que mostra o nome da exposição e artistas presentes na
mesma. No que diz respeito à forma como deveremos circular pelas salas, não
existem indicações, pelo que se poderá circular como melhor for entendido.
No que diz respeito aos acessos aos diferentes pisos, e neste caso
específico ao piso dois, onde se encontra a exposição a ser analisada, o
acesso poderá ser feito através das escadas em caracol que se encontram
depois da recepção do edifício e da área de lavabos, ou subir através do
elevador que irá conduzir exatamente ao andar solicitado, e que possibilita
igualmente um acesso, sem entraves à exposição. O elevador para além da
circulação natural, permitirá o acesso de pessoas com cadeiras de roda e/ou
com dificuldades de mobilidade a pisos superiores e inferiores.
Tal como nas restantes áreas do museu, os espaços expositivos
permitem o acesso e circulação de pessoas com dificuldades motoras, e que
necessitam de cadeiras de rodas para circular pelo espaço, sendo que as salas
são relativamente amplas, e o piso é liso e regular. Na circulação da exposição,
onde existem esculturas expostas, apenas estas poderão causar alguns
entraves na passagem de indivíduos que possuam condicionantes na sua
mobilidade, fazendo com que possa tornar não tão confortável e segura a
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
47
circulação dos mesmos. Esse seria então um aspecto menos bom, e que
poderia ser resolvido de forma a criar mais espaço à circulação de todos os
indivíduos, permitindo-lhes um maior à vontade.
2.5.5 Análise da Exposição da Coleção Permanente do Museu Coleção
Berardo (1900-1960)
2.5.5.1 Tipologia
A Exposição Museu Coleção Berardo de 1900 a 1960 é uma exposição
de arte moderna que se encontra de forma permanente no Museu –
podendo,no entanto, sofrer algumas alterações no seu espólio, de forma a
atualizar e/ou complementar a sua informação
2.5.5.2 Temática
A temática desta exposição, centra-se numa apresentação de obras
realizadas por artistas que pertencem à arte moderna, no espaço de sessenta
anos, e que representam, com algumas lacunas, obras de importância ao nível
da arte mundial.
Na exposição figuram uma série de obras, de artistas de renome, que
reagindo a épocas de guerra (Primeira e Segunda Guerra Mundial), no século
XX, surgiram através de movimentos e expressões que caracterizam uma
altura de crise política e social, e que transparecem as problemáticas e
vivências dos artistas e do povo nas várias partes do mundo, mas
maioritariamente na Europa.
Esta exposição é de leitura individual, e pretende de certa forma, gerar
discussões entre os diferentes indivíduos que a visualizam, visto que através
de cada obra se geram interpretações e visualizações que diferem para cada
espectador, e puxa a uma temática que conduz a polémica, por ser parte da
história. Assim, aos factos reais e inquestionáveis da história contada e
conhecida através dos grandes livros, adicionamos aquela que foi a visão de
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
48
cada artista, relacionando as suas visões e vivências, e recriando-as através do
objeto artístico.
A exposição recorre às memórias do passado, busca aquilo que se
conhece, de forma a completar e apreender novas visualizações, através de
traçados fortes, de imagens surrealistas, e esculturas que se contorcem e
criam imagens de fuga, ou de chegada à realidade.
No fundo, a exposição é um reviver do passado para uns, e para outros
é o conhecimento do que foi vivenciado outrora. Sendo acima de tudo, o contar
da história por uma nova objetiva.
2.5.5.3 Modulação do Espaço
Na modelação do espaço desta exposição, observamos uma sala ampla
que permite receber um grande número de obras, sendo uma das salas
principais do Museu, e igualmente uma das maiores salas existentes no
espaço, e que considerando o hall também ele como um local expositivo, se
tornaria possível um maior aproveitamento de espaço.
Depois da chegada ao piso dois, onde se encontra a exposição, pode
avistar-se o hall mencionado. Não existe sinalética de circulação visível, sendo
que o espectador deverá dirigir-se como pretender ao interior do espaço
expositivo. Ao não existir uma definição do percurso, o público poderá decidir
entrar pela entrada assinalada, seguindo em frente, e visionando a exposição
da forma que entender. A problemática neste aspeto passa então por não
existirem definições do que se poderá ou não seguir, e que poderá cortar com
as linhas daquilo que seria compreendido, tendo em conta uma organização
cronológica das obras apresentadas.
O espaço é dividido por salas e paredes que originam circuitos de
passagem. Neste caso, o problema poderá residir na falta de espaço para a
circulação quando esta é realizada a pares por exemplo, e que poderia
possivelmente ser resolvida com o encurtar do grande hall da exposição,
tornando-se então necessário aumentar um pouco os corredores de passagem.
No entanto, em algumas salas, é possível visualizar um maior espaço para
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
49
passagem e apreciação das obras, o que tende a ajudar um pouco no que diz
respeito a este aspecto.
2.5.5.4 Espécimes Expostos
Todos os espécimes expostos nesta exposição, são obras originais que
fazem parte da Coleção do Comendador Berardo e/ou da Coleção resultante
do acordo entre o Comendador José Berardo com o Governo Português.
Estes espécimes resultam da explosão de criatividade de autores de
grande importância que figuram na história da Europa, na história do mundo, e
principalmente na história da arte, e que refletem épocas de grandes
problemáticas da vida do povo e das crises pessoais de alguns artistas.
As obras observadas nesta exposição são peças de pintura e escultura
que se unem e reúnem para contar determinados episódios.
2.5.5.5 Material Expositor
As obras de arte expostas pelas salas, na vertente da pintura, estão
protegidas por molduras e ou vidraças, do que será madeira tratada, de
diferentes tonalidades e entalhes (variando entre madeira dourada e madeira
escura), essas molduras protegem totalmente as obras por serem acompanhas
de vidraças que protegem as obras de toda e qualquer partícula e ou
particularidade que as possa danificar.
As molduras estão assentes na parede com parafusos, que as mantêm
firmes, e que não se apresentam visíveis, para que não interfiram na
visualização do espaço expositivo. A existência dos parafusos, permite a
firmeza das peças ao local onde se encontram, conferindo segurança e força,
mesmo em obras de porte maior.
Por outro lado, algumas das peças de escultura expostas, encontram-se
protegidas por suportes que as colocam a uma área superior à do chão e à
altura do campo e visão do público em geral, existindo também algumas peças
que não se possuemesse suporte estando diretamente colocadas no chão, ou
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
50
possuindo apenas, aquilo que aparenta ser papel de cenário, e que apenas
demarca o local onde se encontra a obra de arte em relação ao chão através
do contraste.
Os suportes utilizados são feitos em platex ou madeira mdf, e pintados a
cor branca. Estes assentam no chão demais apoios.
2.5.5.6 Iluminação
Em termos de iluminação, a sala possui pontos de luz natural, fornecida
pelas vidraças dos tetos, estando cobertas por estores que permitemo
impedimentoda entrada de luz direta na sala, de forma a manter apenas a
circulação da luz controlada pelo museu. Este aspecto permite o controlo de
desgaste das obras de arte, visto que muitas delas são pinturas, e que poderão
sofrer desgaste direto do sol, o que por vezes origina perdas de pigmentação
nas peças.
A cor clara da sala, o branco, atribui luz, brilho e foco no ambiente
expositivo, fazendo com que por sisó, a sala seja já mais iluminada. O branco
reflete com maior facilidade a luz em si, e ajuda a tornar todo o ambiente mais
amplo e iluminado.
Existe na sala uma iluminação ambiente, realizada através de focos de
luz assentes nos tetos das salas, e que possibilitam a regulação da luz do local,
tendo em conta que o espaço se poderá tornar mais claro ou mais escuro
dependendo da iluminação vinda do exterior, o que influencia também a
visualização das obras. Neste aspeto, os focos de luz colocados por toda a
exposição, possuem uma luz esbranquiçada – luz fria – que evidencia e foca as
cores e formas presentes nas obras.
Noutros pontos da exposição, e maioritariamente sobre as obras
colocadas nas paredes, existem projetores de luz, que são apontados de forma
subtil para facilitar a visualização das formas e fazer sobressair a sua beleza.
É necessária essa subtileza, para que as obras que possuem vidros de
proteção não originem qualquer reflexo extremamente, que se poderá tornar
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
51
extremamente incomodativo, e o que poderá influenciar e intervir com a
visualização da obra em si.
Os projetores de uma luz, encontram-se colocados principalmente nas
salas em que existem tetos mais baixos, e são postos de forma estratégica,
para que ninguém para além dos funcionários do Museu possa exercer
qualquer toque, e de forma a que não incomodem os espetadores aquando da
visualização das obras.Estes projetores evidenciam a peça a destacar,
resultando num ênfase a todas as cores e formas que transbordam de cada
objeto visualizado.
2.5.5.7 Aspetos a ter em conta
Sendo esta uma exposição permanente do Museu Berardo, seria de
importância mantê-la e apresentá-la da melhor forma, de acordo com aquela
que será a melhor forma de deixar passar a história que se pretende retratar.
Esta exposição encontra-se exposta há cerca de oito anos, tendo sofrido
ao longo destes, algumas alterações, quer nas obras expostas, quer por vezes
no espaço em si.
As obras expostas, como já referido, passam por fazer transparecer a
história de entre as guerras, que tiveram grande influência na política, vida
social e artística de todos os seres humanos. Transportando influências de
todos os tipos e recorrendo e criando movimentos artísticos, denotam-se
diferentes visões em cada pintura e escultura expostas.
A pintura e escultura sofrem intervenções de vários tipos, desde a
utilização de cores garridas, a formas geométricas, à abstração de qualquer
aspecto, passando pelo surreal e conduzindo à expressão sem pensar,
podemos encontrar uma vasta espécie de obras de um grande leque de
artistas.
Nesta exposição, e como é possível visualizar, encontra-se uma
organização de obras que conta a história, através de alguns núcleos, de uma
série de movimentos, artistas e obras do século XX, pretendendo representar
em Lisboa aquela que é uma exposição de arte moderna.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
52
Não existe um circuito definido, ou seja, não existe uma forma
obrigatória ou até mesmo uma ajuda no que diz respeito à melhor forma, ou à
mais adequada a que deveremos circular pelo espaço.
De um modo geral, é um espaço fácil de compreender e relativamente
bem conseguido e organizado. No entanto, existem algumas falhas que
poderão ser corrigidas de forma a colmatar alguns problemas e a permitir uma
compreensão ainda mais feliz.
Apesar de a sala ser uma das maiores salas do Centro de Exposições e
acolher aquela que foi a primeira exposição permanente do Museu, é uma sala
que poderia obter melhor aproveitamento, caso certos aspectos fossem melhor
organizados, ou até mesmo suprimidos. Sendo uma sala grande, deveriam
existir opções para uma melhor apresentação.
No que toca à organização das obras, são perdidos alguns elementos na
sua visualização. Existem obras colocadas a meio da passagem do local, obras
demasiado desprotegidas, e por vezes, obras demasiado acima do campo
visual do público em geral.
No decorrer da exposição, existem alguns textos de apoio que podem
ser lidos a curta distância, no entanto, essa distância tende a tornar-se
demasiado curta, caso não sejapossível que cada indivíduo se
situediretamente na linha de leitura do texto, isto é, caso fosse prolongada a
distância entre o observador e o texto, tornar-se-ia mais complicado entender
as formas das letras e até mesmo as cores, que por vezes se tornavam difíceis
de discernir, tendo em conta a cor do fundo, e a cor da letra em si. Este
aspecto, seria então o foco de outra problemática, sendo que caso “todos” ou
um grande número de visitantes se colocassem a uma curta distância do texto,
era criado um acumulado de público que impedia não só a visualização do
texto, como das obras, e até mesmo um impedimento da passagem do resto do
público e/ou funcionários do Museu.
Outro aspecto a focar, e sabendo que não existe um percurso sugerido
ou obrigatório para a melhor compreensão do observador, perdem-se linhas de
entendimento incutidas em certos aspectos organizativos do espaço. Não se
visualiza um caminho contínuo, um seguimento óbvio, sendo que o público
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
53
acaba por circular desorganizadamente pelo espaço. Seria então uma falha a
colmatar, não tendo obrigatoriamente de se definir um percurso, mas dar, pelo
menos, linhas de seguimento que possam auxiliar quem observa. Não se torna
complicado utilizar um circuito adequado, por outro lado, a circulação dentro da
sala em si, nem sempre permite uma leitura cem por cento clara.
No que toca às cores do espaço, a cor predominante, o branco, figura
nas paredes estruturais da sala, bem como em todo o ambiente e módulos
quer de suporte quer de passagem de umas salas para as outras. O único
aspecto divergente, apresenta-sena cor do piso, de madeira envernizada, e
que transfere à sala um ambiente mais quente e característico da época em
que se insere. Os apontamentos de cor, situam-se então, (para além de nas
obras em si), nas legendas e temáticas dos núcleos que são apresentados,
utilizando em alguns textos explicativos, cores intensas, que exercem
possivelmente uma carga visual demasiado elevada para aquilo que deveria
exercer.
As obras colocadas pelo espaço organizam-se de uma forma
assimétrica, estando colocadas na sua maioria, de forma correta e ao nível de
visão do público (com o ponto médio da obra situado a cerca de um metro e
meio do chão), pondo-se por vezes, e como já referido, a problemática de
obras colocadas demasiado acima do campo de visão, ou simplesmente
colocadas de forma irregular pelo percurso.
O espaço expositivo é considerado um espaço amplo e regular, de fácil
circulação no que diz respeito à passagem de pessoas com dificuldades
motoras (transportadas por cadeiras de rodas ou outro tipo de apoios do
mesmo género), sendo que, no entanto, existiam por vezes dificuldades de
circulação devido às medidas dos corredores ou espaços de passagem da
sala, sendo que estes são por vezes demasiado curtos para permitir a
passagem de duas ou mais pessoas pela mesma zona e ao mesmo tempo. Por
outro lado, existem espaços de maior amplitude que fazem equilibrar este
aspecto, e permitem aos observadores uma melhor leitura da sala, para que
possam usufruir daquilo que encontram à sua frente.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
54
Em termos de luz, encontram-se os projetores, de um modo geral bem
colocados em relação às obras e ao restante espaço, logo, não podem ser
considerados um problema de maior, e por isso um elemento a ser excluído
daqueles que são os aspectos a melhorar nesta exposição.
2.6 O Serviço Educativo
Interpretando a arte como um estímulo e como forma de aprendizagem,
o Museu Coleção Berardo coloca à disposição do público, nas várias faixas
etárias – desde os dois anos de idade até à idade adulta -, atividades e
programações que transpareçam essa vontade.
O museu considera importante que exista inclusão em termos sociais,
sendo que esta é a sua forma de permitir que tal aconteça, abrindo as suas
portas para produzir mais cultura.
“Envolver as crianças e os adultos, as famílias, as escolas e outros grupos, nas
atividades educativas é uma prioridade do Museu Coleção Berardo. Conhecer
melhor as obras e os seus criadores, desvendando pensamentos, refletindo e
partilhando aprendizagens são as propostas do programa de atividades do
Serviço Educativo, organizado de modo a responder aos interesses dos
diversos públicos.”25.
As atividades integradas no serviço educativo do museu, passam pelos
vários tipos de visitas e visitantes, tendo ateliês abertos, atividades para
professores, ateliês de férias, atividades de aprendizagem para pré-escola, e
até mesmo para grupos sénior. Nas e para as suas atividades, são
disponibilizados recursos pedagógicos do museu, como cartas, livros e
panfletos, com informações complementares para uma melhor percepção do
que se pode ver neste espaço.
O museu oferece “O museu em festa”, para famílias e aniversários “o
«peddy-paper» mais divertido de sempre! Junta os teus amigos e parte para a
ventura no museu! Com um mapa na mão, muitas obras da Coleção Berardo e
25
vd. pt.museuberardo.pt/educacao/atividades.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
55
desafios”26. O “PEEA”, projeto continuado para escolas, em parceria com o
Ministério da Educação e Ciência, é “o projeto «Museu para que te quero»,
desenvolvido no âmbito do Programa de Educação Estética e Artística,
promovido pelo Ministério da Educação e Ciência.”, que quer “desenvolver
iniciativas gratuitas, destinadas a alunos e professores do ensino pré-escolar e
do 1.º ciclo, que reflitam os princípios teóricos da Educação Artística”27, entre
muitos outros que abrangem um vasto público e tem por base variadas
preocupações relacionadas com a arte, os museus e a aprendizagem.
CAPÍTULO 3
O MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA - MUSEU DO CHIADO
E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO
3.1 A Missão do Museu
26
vd. pt.museuberardo.pt/educacao/atividades/o-museu-em-festa.
27 vd. pt.museuberardo.pt/educacao/atividades/peea.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
56
Por meio do Decreto 1, de 26 de maio de 1911, nasce o Museu Nacional
de Arte Contemporânea – Museu do Chiado. O Museu do Chiado resulta da
divisão do Museu Nacional de Belas-Artes em duas entidades, sendo a outra o
Museu Nacional de Arte Antiga. Assim, cada entidade passa a pertencer a uma
localização distinta, sendo que o Museu Nacional de Arte Antiga fica na Rua
das Janelas Verdes, e o Museu Nacional de Arte Contemporânea, fica
localizado no Chiado, mais concretamente no Convento de São Francisco.
Alguns anos depois, através de um novo Decreto-lei, o 112/94 de 2 de
maio, a designação do museu é alterada apenas para “Museu do Chiado”. Pelo
decreto, define-se que o museu deverá mostrar um acervo que possua obras
dos tempos presentes, sendo, tal como mostrava a sua designação inicial, um
museu de arte contemporânea - “(…) o Museu foi reunindo um acervo que se
pretendia identificado com o seu tempo (…)”28. Pretendia-se também o
crescimento do acervo, colecionando um maior número de obras, e mantendo-
as através das boas práticas conservativas para que estas possam ser
expostas ao público no seu melhor estado de conservação.
Pelo decreto 112/94, e tendo igualmente em conta a zona em que o
museu se insere, define-se que a entidade deverá considerar no seu acervo
aquilo que é fruto da cultura do país, mostrando o trabalho de artistas
portugueses, e também as obras que se relacionam histórica e culturalmente,
com a zona em que este museu se insere. O MC é o único museu nacional de
arte contemporânea existente em Portugal, apesar de existirem outras
entidades no país que atuam em campos dentro da arte moderna e/ou
contemporânea.
Por fim, e aspira-se também que exista um estímulo para conhecer e
explorar, para que existam confrontos e experimentações, seja entre artistas
portugueses ou internacionais, ou até mesmo uma correlação entre os dois,
fazendo ver aquilo que se faz ou fez, quer fora, quer dentro do território
português.
28
Vd. Decreto-lei 112/94 de 2 de maio - https://dre.pt/application/file/252323.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
57
Apesar de ser uma entidade única, e apesar da importância do seu
papel no campo da arte contemporânea em Portugal, o MNAC não consegue
competir com outras entidades, por não possuir meios que o sustentem nesse
sentido – como instituição não lhe é possível mudar o nível em termos de
aquisição de obras, logo não tem possibilidade de enriquecer mais, de certa
forma, o seu património. Ainda assim, a sua coleção conta com cerca de 5000
obras em acervo, em obras de escultura, pintura, desenho, fotografia e vídeo.
3.2 A Vocação do Museu
A Coleção do Museu do Chiado abrange os séculos XIX, XX, tendo
ainda uma pequena porção de obras referente ao século XXI, da Arte
Contemporânea, sendo que se encontra situada desde o ano de 1850 e até
aos dias de hoje, albergando então um período superior a 150 anos – “(…)
recolhendo obras de arte representativas da produção artística da segunda
metade do século XIX e do início do século XX, reportando-se as peças mais
significativas a um período anterior a 1950.”. A sua vocação passa não só pela
mostra de obras de arte contemporânea, mas também pela inserção da cultura
e história da zona do Chiado – “(…) justifica-se a redefinição da vocação do
Museu Nacional de Arte Contemporânea e o seu enquadramento na realidade
histórica e cultural da zona do Chiado.”29.
Esta coleção reúne uma grande variedade de movimentos artísticos, e
de forma a tornar-se cada vez mais rica, esta mantém-se como uma coleção
aberta.
Através da arte praticada por artistas portugueses, e iniciando percurso
através do Romantismo, podem visualizar-se imagens que provocam
sensações inexplicáveis, através de paisagens de enorme exuberância que nos
conduzem ao Animalismo e posteriormente ao Naturalismo, trazendo as
novidades que vão acontecendo por todo o lado, e que são exercidas pelas
mãos daqueles que vivem em território português.
29
Vd. Decreto-lei 112/94 de 2 de maio - dre.pt/application/file/252323.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
58
O interesse de focar estas épocas, resulta da necessidade de ver
exposta uma época de grande importância, a época entre a Primeira e a
Segunda Guerras Mundiais, e que, tal como em muitos outros lugares, foi um
marco de importância e influência, quer na população em geral, quer nos
artistas, principalmente os artistas portugueses. Estes foram influenciados não
só pela história que os rodeava, mas também por aquilo que lhes foi de alguma
forma transmitido por artistas internacionais.
A importância desta coleção manifesta-se não só em termos artísticos,
mas também em termos históricos. É uma coleção de extrema importância por
mostrar, não só àqueles que vivem e usufruem da história do país, mas
também para dar a conhecer, aquele que foi o trabalho de um povo, quer na
sua história, quer na sua cultura.
Fazem parte desta Coleção nomes como: Tomás da Anunciação,
Cristiano da Silva, Anunciação e Luiz de Menezes, Miguel Ângelo Lupi, Silva
Porto, Marques de Oliveira, António Ramalho, Columbano Bordalo Pinheiro,
António Carneiro, Sousa Lopes, Amadeo de Souza-Cardoso, Santa Rita,
Eduardo Viana, Mário Eloy, António Pedro, António Ferro, Almada Negreiros,
Dordio Gomes, Abel Manta, Bernardo Marques, Carlos Botelho, Viana, Eloy,
Canto da Maia, Diogo de Macedo, Francisco Franco, Manuel Filipe, Júlio
Pomar, António Dacosta, Marcelino Vespeira, Fernando Lemos, Fernando de
Azevedo, Jorge Vieira ou Mário Cesariny, Fernando Lanhas, Jorge Vieira, Nadir
Afonso, Joaquim Rodrigo, Paula Rego, Joaquim Rodrigo, Jorge Pinheiro,
Lourdes Castro, René Bértholo, Sá Nogueira, Noronha da Costa, Jorge
Martins, António Sena, João Vieira, Alberto Carneiro, Helena Almeida, Julião
Sarmento, Júlia Ventura, José Pedro Croft, Jorge Molder, Pedro Cabrita Reis,
Rui Sanches, João Penalva, Rui Chafes, Ângela Ferreira, João Tabarra, Miguel
Palma, Augusto Alves da Silva, Alexandre Estrela, João Onofre ou João Pedro
Vale.
3.3 O Museu e a Coleção
O Museu do Chiado situa-se na zona histórica do Chiado, num edifício
repleto de história, reconstruído após um incêndio, em 1988, que afetou esta
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
59
zona. Anos mais tarde, o edifício foi reinaugurado, reabrindo renovado no ano
de 1994. Neste edifício pode encontrar-se um átrio que acolhe os visitantes,
bem como vários outros pisos onde se encontram as salas de exposições,
gabinetes e terraços. O museu beneficia do seu posicionamento num lugar
histórico, fazendo uso deste não só para uma maior visitação, uma vez que o
Chiado é uma zona de grande movimentação turística, mas também usufruindo
da história que envolve o edifício e o Museu em si. O Museu do Chiado é, em
conjunto com mais cerca de 28 museus, parte integrante do IMC30.
Esta instituição é considerada o museu que transparece a riqueza e
história da arte moderna e contemporânea portuguesa, tendo uma coleção de
obras permanentemente exposta. Após vários anos a debater-se com falta de
espaço, o edifício sofre em 2016 alterações, sendo alvo de obras. Reabre-se
no mês de junho, o terceiro piso do edifício na Rua Serpa Pinto, com uma
exposição da arte portuguesa dos séculos XX e XXI, com 80 obras da coleção,
inseridas em diversos núcleos da arte moderna e contemporânea.
As obras concluídas a meio do ano de 2016, concluíram a remodelação
do edifício, e a ligação entre dois edifícios, em conjunto com a Rua Capelo31.
O Museu do Chiado apresenta-se em funcionamento de forma
permanente durante o ano, ou seja, a abertura ao público é feita de terça a
domingo, das dez às 18 horas, e encerra segundas-feiras, e alguns dias
feriados: 1 de janeiro, domingo de Páscoa, 1 de maio e 25 de Dezembro.
Existe no MC uma política de entradas paga, estipulada pelo IMC, no valor de
quatro euros, durante dias úteis e sábados, sendo que como é comum nos
museus do país, domingos e dias feriados são dias em que se pode usufruir do
museu gratuitamente até às catorze horas. Casos específicos, estão também
isentos do pagamento da taxa de ingresso do museu – crianças até 14 anos,
30
Organismo do Ministério da Cultura – criado através do PRACE - Programa de
Reestruturação da Administração Central do Estado, em 2007. O Instituto dos Museus e da
Conservação tem por sua missão o desenvolvimento e execução de boas políticas no que diz
respeito à cultura do país.
31 COTRIM, António. Museu do Chiado reabre terceiro piso com 80 obras dos séculos XX
e XXI. Agência Lusa, 2016. Acedido em: observador.pt/2016/06/16/museu-do-chiado-reabre-
terceiro-piso-com-80-obras-dos-seculos-xx-e-xxi/.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
60
professores e alunos em visitas de estudo – desde que comprovada a
autenticidade dos mesmos e o respetivo motivo da sua visita -, e portadores de
alguns tipos de cartões da cidade de Lisboa, jornalistas em desempenho de
funções, mecenas, membros de entidades parceiras, entre outras situações
específicas.
No que diz respeito à programação, são apresentadas várias exposições
temáticas ao longo do ano, com ou sem relação direta com a coleção, sendo
que para além da exposição permanente que o museu apresenta, torna-se
possível usufruir também de exposições temporárias que pretendem enriquecer
o museu, e mostrar as obras de outros artistas, e até mesmo de outras
nacionalidades.
3.4 A Exposição
A “Exposição Permanente. 1850-1975” apresentada no Museu do
Chiado, é a exposição que procura mostrar resumidamente aquilo que foi
produzido em Portugal entre o ano de 1850 e o período mais recente de 1975.
Por ser algo que diz respeito à história do povo no geral, mas
principalmente à história do povo português, manifesta as ideias e produções
daqueles que foram influenciados não só pela história, mas também pela
arte.Encontra-se então de forma permanente, uma coleção que demonstra
todos esses aspetos a quem o visita.
Por possuir um espaço de pequena dimensão, situado no piso três do
Museu, esta exposição, fica apenas capaz de mostrar uma pequena porção de
cem obras selecionadas rigorosamente, e que se encontram expostas de forma
cronológica, e pelas correntes artísticas de maior relevância de cada período,
sendo estas o Romantismo, o Naturalismo, o Simbolismo, o Modernismo, o
Neorrealismo, o Surrealismo, o Abstracionismo, a Nova Figuração, e as Neo
Vanguardas.
Existem nesta exposição obras de escultura e pintura, que se agregam
formando uma linha de coerência para a boa leitura da exposição.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
61
3.4.1 Tipologia e Temática
A “Exposição Permanente. 1850-1975” é, tal como o nome indica, a
única exposição permanente neste museu.A temática desta exposição centra-
se na Arte da Época Contemporânea (os séculos XIX e XX), expondo obras de
artistas portugueses ou obras produzidas no território português durante o
período referido.
3.4.2 Modulação do Espaço
No que toca à modulação do espaço, as obras dividem-se por temática,
em quatro zonas que se interligam. Por serem espaços pouco amplos, torna-se
necessário que os espécimes sejam expostos e escolhidos de forma
cuidadosa, promovendo uma boa leitura expositiva.
3.4.3 Espécimes Expostos e Material Expositor
Todos os espécimes expostos são obras originais de autor, variando
entre a escultura e a pintura.As obras expostas estão protegidas por molduras
em madeira tratada, sendo que algumas estão envidraçadas para que as obras
permaneçam protegidas de qualquer particularidade que as possa deteriorar.
No caso das esculturas, nos casos possíveis e necessários, as obras
encontram-se em suportes, para que se mantenham afastadas de possíveis
toques e se mantenham em segurança.
As molduras encontram-se assentes em paredes ou grades com
parafusos, sendo que estes não são visíveis, mas aparentam segurança e
força, para que possam suportar as obras com maiores dimensões. No que diz
respeito aos suportes, apresentam-se também estes robustos para que sejam
capazes de suportar as esculturas.
3.4.4 Iluminação
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
62
A iluminação no local é feita através de focos de luz fria/branca,
assentes no teto ou colocados sobre as obras que carecem mais de
iluminação, sendo que em alguns dos locais do edifício é possível de igual
forma, observar alguns pontos de luz natural.
3.5 O Serviço Educativo
O MC oferece também, para além da mostra permanente do seu acervo,
exposições temporárias que permitem a dinamização do espaço e a recepção
de espólio que complemente o seu próprio. Em conjunto com estas atividades,
realizam-se ateliês, e outras atividades educativas e pedagógicas, que
pretendem estimular a ligação entre o público em geral, o museu, e a obra de
arte, dinamizando a aprendizagem na grande parte das faixas etárias e nos
diferentes grupos que visitam o museu – “(…) assenta a sua prática em
dinâmicas pedagógicas de mediação e interpretação entre os públicos e a obra
de arte (conteúdo do objeto artístico e das coleções) (…)”, “(…) A oferta de
programações que se apresenta abrange todo o público, crianças, jovens,
famílias e adultos, que visitem o museu em contexto individual ou em grupos
organizados, escolares, culturais, seniores, acessibilidades ou outros.“32.
A oferta nesta área, para além da sua grande abrangência em termos de
faixas etárias, oferece também uma grande variedade no que diz respeito às
atividades, promovendo para além das visitas, projetos pedagógicos e
continuados, workshops, etc. – “(…) visitas pedagógicas, visitas comentadas,
visitas guiadas, oficinas plásticas nas áreas do desenho, da colagem, da
fotografia, etc. (…)”33.
Para além de todas as oportunidades de enriquecimento que o museu
oferece, este apresenta também oportunidades para professores, dando
pontualmente cursos para os mesmos. Fora do horário comum de
32
Catarina Moura, Coordenadora do Serviço Educativo do MNAC – Museu do Chiado. Acedido
em: www.museuartecontemporanea.pt/pt/educacao/servico-educativo.
33 Catarina Moura, Coordenadora do Serviço Educativo do MNAC – Museu do Chiado. Acedido
em: www.museuartecontemporanea.pt/pt/educacao/servico-educativo.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
63
funcionamento do museu, o espaço é também, pontualmente cedido para
realização de concertos e conferências, organizados por entidades externas ao
museu.
CAPÍTULO 4
O MUSEU CALOUSTE GULBENKIAN E O SEU SERVIÇO EDUCATIVO
4.1 A Missão do Museu
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
64
Possuidor de uma enorme paixão pela arte e movido pela mesma,
Calouste Sarkis Gulbenkian, colecionou obras de arte ao longo de vários anos.
O resultado desta paixão originou um testamento, que pretendia a criação da
Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).
Através do Decreto-Lei nº 40609034 de 18 de julho de 1956, e depois de
os estatutos do mesmo serem aprovados pelo Estado Português, é então
conseguida uma instituição capaz de englobar os campos da Arte, da
Beneficência, da Ciência e da Educação. Esta fundação, apesar do seu cariz
privado, seria capaz de servir o público em geral.
A missão desta entidade passa por oferecer um contributo em todos os
campos em que se propõe a atuar, fazendo uso dos conhecimentos que possui
e recorrendo a parcerias, de forma a atribuir benesses a todas essas áreas, ou
seja, através da sua mostra artística, do facto de conceder bolsas, e das suas
publicações, o então Centro de Arte Moderna (CAM) permite que exista uma
evolução no estudo da arte contemporânea, para que a sua coleção consiga
sempre chegar a mais indivíduos. Apesar disso, e não retirando a importância
às obras internacionais, a sua missão tem também a necessidade de se focar
na arte criada em Portugal.
Sediada em Lisboa, a fundação é possuidora de um Museu – agora
definido como Museu Calouste Gulbenkian (MCG) -, e de uma Biblioteca de
Arte, (possuindo de igual forma uma Orquestra e um Coro). A sede e o museu
da fundação, encontram-se em funcionamento desde 1969. Sendo que o então
Centro de Arte Moderna, foi anos depois inaugurado, mantendo-se em
funcionamento conjunto com a fundação desde a data de 198335.
Em fevereiro de 2016, o Conselho de Administração da FCG anunciou a
fusão de duas das suas entidades. Desde julho do ano de 2016, que passou a
existir apenas o MCG36, deixando de existir o Centro de Arte Moderna
(CAM)/Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão (CAMJAP). A junção
34
Decreto-Lei dos Estatutos da Fundação Calouste Gulbenkian – em anexo x.
35 Em 1993, o CAM passou a chamar-se Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão.
36 Penelope Curtis, historiadora e curadora de arte britânica, é a atual diretora do MCG.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
65
das duas entidades tem a pretensão de criar diálogo entre as duas coleções,
tornando os dois núcleos juntos, mais eficazes37.
Utilizando as suas posses e instalações, esta entidade é capaz de
apresentar exposições, conferências, concursos e colóquios, que permitem
uma linguagem de cultura artística e geral, organizando de igual forma um
programa de atividades alargado e transversal a muitas outras áreas, e que se
estende a todas as faixas etárias.
Esta entidade teve um papel de enorme importância na sociedade
portuguesa e lusófona desde a década de cinquenta, onde por essa altura, a
preocupação passava por impulsionar a evolução quer na área da saúde, da
formação, e da investigação, sendo que após a entrada de Portugal na
Comunidade Europeia, os objetivos passaram a ser maiores, envolvendo a
partir desse ponto, uma expansão internacional, que permitisse a procura de
respostas e a reflexão sobre aqueles que são os problemas existentes nos dias
que correm.
4.2 A Vocação do Museu
O antigo Centro de Arte Moderna (CAM) - agora entidade única como
Museu Calouste Gulbenkian -, Museu de Arte da Fundação Calouste
Gulbenkian, foi criado no ano de 1983, e a sua vocação assenta na vontade de
preservar, mantendo as obras no melhor estado conservativo possível, para
que estas possam ser expostas; investigadas, para que seja possível descobrir
e conhecer mais informação sobre as mesmas; e exibir a todo o público que
queira adquirir mais conhecimento e cultura, aquilo que o Museu tem para
oferecer.
O CAM acolhia as obras posteriores à Coleção de Calouste Gulbenkian,
obras que não foram colecionadas por este e adquiridas posteriormente pela
37
COTRIM, António. Museu Calouste Gulbenkian passará a integrar coleção de arte moderna.
Agência Lusa, 2016. Acedido em: observador.pt/2016/02/19/museu-calouste-gulbenkian-
passara-integrar-colecao-arte-moderna/
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
66
Fundação. Essas obras situam-se entre os séculos XX e XXI, sendo então uma
coleção de arte moderna e contemporânea.
A coleção é constituída por um grande acervo de obras, que se
encontram no MCG, sendo que estas são apresentadas ao público através de
exposições temporárias, que permitem a rotatividade das obras, mostrando o
que é e foi feito em Portugal, e a nível internacional.
É pretendido por esta instituição que exista um programa que faça
prevalecer uma ligação entre artistas nacionais e internacionais, e destaca-se
essa intenção através de um programa sobre arte internacional. Por outro lado,
possui um programa de atividades capaz de servir a cultura e educação de
forma coerente, impulsionando a descoberta e o conhecimento.
Neste museu é possível encontrar expostos, nomes como Pierre
Alechinsky, Maya Anderson, Salvador Dalí, Max Ernst, Paula Rêgo, de entre
uma enorme variedade de nomes do meio nacional e internacional.
O ano de 2013 foi um ano marcante para esta instituição, celebrando os
trinta anos da sua existência, evento celebrado através de uma exposição
intitulada “Sob o Signo de Amadeo”, que teve na apresentação da obra de
Amadeo de Souza-Cardoso em Paris o foco principal.
4.3 O Museu
O agora Museu Calouste Gulbenkian é um museu que traz a público
uma grande riqueza a nível nacional e internacional da arte moderna.
Esta entidade possui um acervo de grande dimensão, inserido num
edifício de grande porte, capaz de transportar uma série de funções (biblioteca,
livraria, museu, jardim, entre outros).
O MCG encontra-se aberto ao público no horário das dez às 18 horas,
estando encerrado às terças-feiras, e dias feriados: 24 e 25 de dezembro, 1 de
Janeiro, domingo de Páscoa e 1 de Maio. Este possui uma política de entradas
pagas, no valor de dez euros, sendo que o preço das exposições temporárias
varia. Tal como noutros museus portugueses a entrada torna-se gratuita aos
domingos e dias “especiais”, como por exemplo o “Dia Internacional dos
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
67
Museus”. No caso desta entidade em específico, as entradas gratuitas
funcionam: aos domingos após as catorze horas; para crianças menores de
doze anos; jovens até aos dezoito anos – acompanhados por familiares -,
membros do ICOM, AICA38 e APOM39; grupos organizados de entidades de
Solidariedade Social, e acompanhantes de pessoas com mobilidade reduzida.
Para além disso, existem também descontos para portadores de cartões de
turismo de Lisboa (no valor de vinte por cento), e descontos para portadores de
Cartão Jovem, estudantes até aos 30 anos e maiores de 65 anos (no valor de
cinquenta por cento).
Está situado junto à Praça de Espanha, em Lisboa, impondo a sua
presença entre centros comerciais, embaixadas e outros edifícios de grande
porte. Por se inserir numa zona de hotéis e se encontrar numa zona muito
frequentada da cidade de Lisboa, é um local de grande visualização, e por isso
um local fácil de aceder.
Em termos de programação, o museu apresenta durante o correr do
ano, uma grande variedade de exposições, quer relacionadas com o seu
acervo, quer trazidas até ao Museu pelos seus colaboradores. Este é um
museu que funciona através de exposições ocasionais, isto é, são realizadas
várias exposições temporárias que por si só, ou com a complementação de
obras vindas de outros museus, são capazes de criar uma linha de leitura.
Através deste aspeto, é possível receber e dar a conhecer, não só aquilo que
se encontra no acervo, mas também partilhar com o público que visita o museu
aquilo que foi feito noutros países.
4.4 A Coleção
38
AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte. Género de organização não
governamental, criada em 1948 no âmbito da UNESCO.
39 APOM – Associação Portuguesa de Museologia. Agrupa os profissionais de museologia, ou
instituições equiparadas a museus.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
68
No que diz respeito ao MCG, por ser um local em que as obras e
exposições se encontram em constante mudança, é difícil atribuir importância a
uma exposição em específico.
Neste caso, o importante será referir que as exposições acontecem com
o fim de partilhar a informação e as obras colecionadas ao longo dos anos, e
que por si só, contam histórias, transmitindo sentimentos e emoções, bem
como atribuindo a importância que estas causam e causaram.
Esta coleção diz respeito ao público em geral, por acomodar uma série
tão grande de obras, que nos conduzem à Arte Moderna, e a épocas críticas da
sociedade, e da cultura em si.
O acervo possui obras que variam pela escultura, pintura, impressões e
outros. E o Museu aposta na boa leitura da exposição, tentando sempre
enquadrar da melhor forma a exposição ao espaço em que se insere.
Por não ser possível falar sobre uma exposição em específico, e porque
a riqueza do Museu Calouste Gulbenkian passa também pela sua vasta
coleção de obras – 10500 na Coleção Moderna40, e cerca de 6440 na Coleção
do Fundador41 -, existem as exposições temporárias, que fazem com que seja
possível visualizar o máximo de obras possível no decorrer do ano.
Durante o ano de 2015, por exemplo, aconteceram no antigo CAMJAP,
onze exposições temporárias. Entre muitas outras, uma dessas exposições,
que diz respeito à arte moderna, decorreu entre os meses de junho e outubro,
“X de Charrua”, sobre a obra de António Charrua42, abstracionista. Esta
exposição, fazia a mostra das principais obras do autor, desde os anos
cinquenta, até aos anos noventa.
40
“A Coleção Moderna tem vindo sempre a crescer, através de aquisições ou doações, e
conta atualmente com cerca de 10.500 obras (…)”. Situação atual do acervo da Coleção
Moderna do Museu Calouste Gulbenkian. Acedido em: gulbenkian.pt/cam/colecao-
moderna/sobre-colecao/.
41 “(…) as cerca de 6440 obras adquiridas por Calouste Gulbenkian encontravam-se finalmente
juntas (…)”. Situação atual do acervo da Coleção do Fundador. Acedido em:
gulbenkian.pt/museu/colecao-do-fundador/sobre-a-colecao/.
42 António Dias Charrua (1925-2008), artista plástico português, e bolseiro da Fundação
Calouste Gulbenkian.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
69
Entre novembro de 2015 e junho de 2016, foi apresentada “Hein Semke:
um Alemão em Lisboa”, autor alemão que viveu em Portugal desde 1932 até
ao fim da sua vida. A obra de Semke43 foi apresentada nesta exposição,
divulgando obras menos conhecidas do autor. Esta exposição resultou como
uma celebração, pela volumosa doação de peças feita à Fundação Calouste
Gulbenkian, sendo estas exibidas em conjunto com obras emprestadas, de
coleções particulares44, de forma a tornar a mostra o mais completa possível.
“Olhos nos Olhos”, é também uma exposição de arte moderna, que
utiliza obras de vários artistas situadas no acervo do MCG. Esta exposição
decorreu no período de julho a outubro de 2015, e pretendia uma viagem sobre
o retrato, passando por uma grande diversidade de autores e correntes
artísticas da modernidade. A mostra pretendia celebrar o rosto e o olhar, tendo
em conta o espaço, ocasião, celebração, e remetia a uma simbologia em que
os olhos comunicavam por si só, “Olhos nos Olhos remete não apenas para o
olhar do espetador que fita o retratado, mas também para o olhar do artista que
observa o outro quando o retrata. Esta duplicidade de olhares é sugerida por
um título que permite vários sentidos.”45.
Pequenas exposições, durante períodos de meses, permitem a rotação,
e permitem que estas mostras se vão completando umas às outras, trazendo
ao de cima obras que contribuem para a aprendizagem da arte moderna.
4.4.1 Tipologia e Temática
As exposições são por norma exposições temporárias, que
proporcionam a rotação do acervo da fundação. A temática das exposições
43
Hein Semke (1899-1995), escultor e pintor do expressionismo, proveniente de Hamburgo.
Viveu a maior parte da sua vida em Portugal.
44 Relatório de Contas 2015 – Fundação Calouste Gulbenkian.
45 Citação Isabel Carlos, acedido em: gulbenkian.pt/cam/past-exhibit/olhos-nos-olhos-o-retrato-
na-colecao-do-cam/
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
70
centra-se em torno da arte moderna, de entre séculos XIX e XX, expondo obras
de artistas internacionais e portugueses, e/ou de peças produzidas em Portugal
durante essas mesmas épocas.
4.4.2 Modulação do Espaço
O espaço deste museu é constituído por salas amplas num edifício
“Inaugurado em 1969, o projeto do edifício da Sede e Museu da Fundação
Calouste Gulbenkian resulta de um concurso restrito dirigido pela
Administração a três equipas de arquitetos, que decorreu entre 1959 e 1960.”46.
Este edifício acolhe uma grande diversidade de serviços, estando entre
eles o Museu, a Sede da fundação, auditórios, biblioteca, etc.
Pelos diversos pisos do edifício são colocadas as exposições
temporárias e permanentes, que se vão ajustando aos temas e às obras nelas
expostas – “A distribuição e articulação das galerias de exposição permanente
estão orientadas por uma sistematização cronológica e geográfica que
determinou, dentro de um percurso geral, dois circuitos independentes. O
primeiro circuito é dedicado à Arte Oriental e Clássica e evolui através das
galerias da Arte Egípcia, Greco-Romana, Mesopotâmia, Oriente
Islâmico, Arménia e Extremo Oriente. O segundo percurso é dedicado à Arte
Europeia, com núcleos dedicados à Arte do Livro, à Escultura, Pintura e Artes
Decorativas esta última com especial destaque para a arte francesa do século
XVIII e para a obra de René Lalique. Expõe-se neste circuito uma diversidade
de peças representativa das variadas manifestações artísticas da Europa,
desde o século XI até meados do século XX.”47.
4.4.3 Espécimes Expostos e Material Expositor
Os espécimes expostos são peças recolhidas ao longo dos anos por
Calouste Gulbenkian, sendo obras de autor, que variam entre escultura,
46
Vd. gulbenkian.pt/museu/colecao-do-fundador/edificio/.
47 Vd. gulbenkian.pt/museu/colecao-do-fundador/edificio/.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
71
pintura, impressões, entre outros. As peças expostas são protegidas por
molduras em madeira, estruturas de vidro, mesas e suportes também eles de
madeira ou metal.
4.4.4 Iluminação
A iluminação no local é feita através de focos de luz, suspensos no teto
ou colocados sobre as obras, tal como nos casos analisados nos anteriores
capítulos, sendo que em algumas salas do edifício é possível de igual forma,
observar alguns pontos de luz natural.
4.5 O Serviço Educativo
“O Gulbenkian Descobrir tem como missão estimular o pleno
desenvolvimento da pessoa, de qualquer idade e origem, através do
conhecimento e da vivência das artes, da cultura e da ciência”48.
No que diz respeito à arte e ao serviço educativo, esta entidade possui
um programa intitulado “Programa Gulbenkian Educação para a Cultura e
Ciência”. O objetivo do programa passa capacitar um estímulo no
desenvolvimento de cada um, independentemente da sua faixa etária ou do
seu meio social. Através deste programa, a Fundação promove ações
educativas, fazendo uso do património que possui, mas cooperando também
com outras entidades e indivíduos externos à mesma.
Neste programa, quer-se o desenvolvimento de estratégias, fomentando
o pensamento e despertando sentidos. Partilham-se ligações e memórias,
associam-se ideias e levantam-se questões, desfazem-se preconceitos e são
experimentadas novas linguagens.
A Fundação junta o Museu, a Orquestra e Coro, o Jardim, o Edifício e
até o Instituto de Ciência – incluindo obviamente tudo o que é considerado
património temporário, nomeadamente as exposições temporárias -, como
48
Vd. gulbenkian.pt/descobrir/mais/a-nossa-missao/.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
72
fontes de informação sem fim, e que permitem viagens pelo mundo, e ao
passado.
Proporcionam-se atividades como oficinas, visitas, concertos, cursos e
projetos especiais, utilizando estratégias lúdicas para que se cativem e
envolvam todos os públicos. Não existem públicos em específico para estas
atividades, qualquer grupo, ou indivíduo por si só, do mais novo ou mais velho,
pode usufruir do que o museu proporciona.
CAPÍTULO 5
UMA PROPOSTA DE ROTEIRO EDUCATIVO DE ARTE MODERNA
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
73
5.1 Ligações: O Museu Berardo, o Museu do Chiado e o Museu Calouste
Gulbenkian
Por serem entidades muito específicas, onde o passado recente e o
presente se encontram para transmitir a sua história, os museus/centros de
arte moderna e/ou contemporânea eram, em Portugal, quase inexistentes
antes da Revolução de Abril, principalmente na cidade de Lisboa. No entanto,
devido à sua importância no que à história da cultura e da arte diz respeito,
necessitava-se da existência de tal entidade para que se contasse
corretamente ao povo português, a história do entre e pós-guerras.
A Primeira e Segunda Guerra Mundial tiveram enormes influências, quer
no povo em geral, quer nos artistas. A própria arte sofreu mudanças que a fez
modificar-se e revoltar-se contra aquilo que já existia. Momentos de crise e
tragédia foram vividos, onde o sofrimento se fazia transparecer nos rostos e
corpos de quem vivia rodeado por acontecimentos que faziam com que por
vezes, a vontade de permanecer entre os vivos fosse quase inimaginável.
Da revolta contra as guerras, e contra quem as criou, surgem mudanças
na arte, mudanças essas que foram criando novos e diferentes movimentos,
novas correntes artísticas que fizeram com que a arte tomasse um rumo muito
diferente daquele que era o comum, e talvez mesmo, o esperado. Sendo, que a
arte, o povo e os artistas se interligam de um forma inquestionável, surgem
episódios em que é despoletado no artista uma vontade de mudar, de ser
diferente, de se revolucionar, e tornar diferente tudo à sua volta, uma vontade
de agir que o influencia nas pinceladas que insere sobre uma tela, e que por
sua vezes, quando observada por outro indivíduo, faz com que se despertem
nele vários sentimentos, sejam eles de revolta ou mesmo de transparência,
adquirindo e usufruindo daquilo que lhe é transmitido através daquilo que
observa.
A arte, para além da sua importância em termos históricos, permite a
existência de comunicação, fazendo com que existam elos de ligação entre
todos os países e nacionalidades. Essas ligações, são também elas
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
74
possibilitadas pela existência da entidade museológica, do espaço que é o
museu, que permite a interligação da obra de arte, da história, do espaço e do
conhecimento. Aqui, existem os que observam, os que criticam e os que criam;
e todos estes, contribuem de alguma forma para a expansão e comunicação
deste elo. Através do conhecimento, criação e observação da arte, são
transmitidas várias realidades, várias sensações, criando-se uma comunicação
entre artistas que vivem do lado oposto do hemisfério, e que pela vontade de
explorar a arte passada e presente noutros países, ou por de alguma forma se
encontrar com outro artista, muda a sua visão e forma de atuar neste campo
cultural.
Os museus contam histórias. Histórias essas que se fazem transparecer
pelos mais ínfimos pormenores. Os museus mudam também eles definições e
percepções, influenciando a sociedade através dos conceitos que comporta.
É aí que se centra o papel do espaço museológico, sendo um espaço de
cultura, um elo de ligação que permite explorar, aprender e compreender, de
uma forma objetiva ou subjetiva aquilo que é visualizado. O papel do museu é
comunicar, mostrar, fazer ver. É através dos museus que se criam ligações,
que existem interligações, que permitem a circulação das obras, e a sua
visualização em qualquer parte do mundo.
Devido a este papel de tão grande importância, e despoletado pela
carência de um museu que exercesse esta função na sociedade portuguesa,
no que diz respeito à Arte Moderna, fruto de uma coleção criada por alguém
que se movia pela paixão pela arte, surge então o Museu Berardo, como centro
da arte moderna em Lisboa, e em Portugal, sendo uma entidade ao serviço da
sociedade para a enriquecer. Este é o museu que concentra a história, a
cultura, a arte e o turismo num só, e que permite a mostra a público para que
possa ser observado por todos. O facto de trazer para o centro da cidade um
museu de arte moderna, com o usufruto de um espaço agradável e de grande
cultura turística, permite o desenvolvimento deste ponto de interesse, dando-
lhe ainda mais ênfase do que aquele que já lhe era atribuído.
A coleção de arte moderna do Museu Berardo torna-se crucial para
termos em Portugal obras de grande importância histórica e artística, não só
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
75
para o país, mas também para o mundo. O Museu Berardo torna-se uma peça
central no que diz respeito à arte moderna no mundo, por conter obras fulcrais
que marcaram no que diz respeito à história da sociedade geral. O espólio
comporta principalmente obras internacionais, que provavelmente não teriam
chegado a Portugal caso não tivessem sido colecionadas pelo Comendador.
Assim, toma-se o Museu Berardo como ponto central da arte moderna
em Lisboa, por ser o mais abrangente em termos de correntes, artistas,
histórias e nacionalidades. Apesar de ser um museu que possui uma coleção
de Arte Moderna e Contemporânea, o principal foco deste trabalho é a coleção
de Arte Moderna, que permite uma relação com outras coleções existentes no
país, mas de menor dimensão artística no que diz respeito a este núcleo. É
possível ver neste espaço obras que caracterizaram épocas, e que não é
possível encontrar em mais museu algum. Obras que se tornaram, por alguma
razão, marcos da história, e que transparecem as suas marcas temporais.
No que diz respeito ao Museu do Chiado, este é de igual forma uma
entidade museológica que possibilita uma relação entre o observador, o crítico,
a obra e o artista. Mas no caso deste Museu, pertencente ao Estado
Português, este coloca o seu foco em questões distintas das do Museu
Berardo.
O Museu do Chiado é, tal como o Museu Berardo, um Museu de Arte
Moderna e Contemporânea. Também aqui, a importância maior para o projeto,
rege-se pela arte moderna. No entanto, no caso deste Museu, o seu ponto de
visualização situa-se na mostra da arte moderna produzida por portugueses
e/ou em território português. O seu acervo centra-se mais na história da arte
moderna no país, e na cidade em específico.
O MC é um Museu que apresenta um espólio que possibilita explorar a
obra criada em território nacional, de forma a fazer contemplar a visão de
artistas que pertencem a um povo que se tentou erguer por entre várias
dificuldades, tal e qual como tantos outros na história da arte moderna. As
exposições demonstram aquilo que foi sentido e visto, exercendo de igual
forma uma relação com o que teria sido feito, e o que iria ser feito na
posterioridade.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
76
O Museu Calouste Gulbenkiané por fim a entidade que reúne o Museu
Berardo ao Museu do Chiado. Sendo o acervo com maior número de obras,
colecionadas por Calouste Gulbenkian, é também o museu que mostra as suas
obras através da rotatividade, de forma a que possa ser mostrado aquilo que
Calouste Gulbenkian e a Fundação por si instituída decidiram deixar ao povo
português e a quem visita o país.
O MCG é um museu, também ele de arte moderna, através da
exposição das obras do seu acervo, trabalhando à base de exposições
temporárias, este transmite a riqueza cultural mostrando o seu espólio, e
trazendo a complementaridade ao seu próprio espólio por vezes com obras
vindas de outros museus e ou coleções.
Apesar de ser uma entidade privada, o MCG foi criado com o intuito de
servir o público, de o desenvolver. Traz ao seu espaço exposições que façam
evidenciar a história, da época do modernismo. É um Museu que apela à
comunicação entre outras instituições e coleções, produzindo um enorme leque
de exposições temporárias capazes de demonstrar aquilo que aconteceu um
pouco por todo o lado.
5.2 A Importância do Trabalho em Rede
Sendo o ponto de partida o Museu Berardo, pelo conjunto de nomes que
este possui, a interligação entre os três museus torna-se de óbvia importância.
O trabalho em rede permite, de uma forma geral, que existam
interligações entre entidades, não só necessariamente museológicas, e produz
um efeito benéfico, por ser capaz de proliferar o trabalho em grupo ou em
cadeia.
No caso específico dos três museus, são entidades que produzem um
efeito de grande importância na cidade de Lisboa. No caso do MB, apesar da
sua importância, a Coleção do Comendador possui também algumas lacunas,
e essas lacunas podem ser colmatadas com acervos de outros museus. Por
exemplo, enquanto que a riqueza do Museu Berardo se centra no fim do século
XIX, início do século XX, e em artistas internacionais, o espólio do Museu do
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
77
Chiado comporta mais arte portuguesa desses períodos. Ambas as partes
podem ser complementadas se a história for colocada como um conjunto. Por
outro lado, e tendo em conta que o Museu Calouste Gulbenkian se encontra
constantemente a colocar em rotatividade o seu espólio e a trazer novas
exposições de outros museus e outros países, também este é capaz de
preencher, mesmo que temporariamente, algumas das lacunas dos outros dois
museus.
O público português de uma forma geral, e os estudantes de arte
carecem de um programa que seja mais completo no que diz respeito à arte
moderna. Um programa que os esclareça, ensine, desperte, e faça com que
tenham vontade de aprender mais, mas também, que os faça saber dar valor
àquilo que já foi vivido, absorvendo a história que já existe.
Seria assim importante ter um roteiro que construísse e abrangesse os
três museus, mesmo que as políticas vão diferindo de instituição para
instituição. Seria importante criar um sistema que transportasse o
conhecimento dos três museus, de forma a englobar toda a história de uma
forma conjunta, e que incitasse à descoberta.
5.3 Uma Proposta de Roteiro da Arte Moderna
Como anteriormente referido, as três instituições são, caso exista entre
elas uma interligação, capazes de se solucionar umas às outras.
Utilizando um programa, ou um género de roteiro, que envolva as três
entidades, o mesmo tem início no Museu Berardo, onde se torna possível uma
viagem pelos principais movimentos artísticos da arte moderna, pós Primeira
Guerra Mundial, e onde se encontram nomes sonantes da mesma. Por outro
lado, e de forma a continuar a história, abrange-se no Museu do Chiado um
pouco da arte moderna do século XIX e XX, mas num campo mais específico,
onde se foca a atenção principal, para a arte portuguesa dessa época. Através
desta possibilidade, conhecem-se duas realidades, a internacional, e a
nacional, que se complementam e enriquecem a aprendizagem. Por fim,
através de um acervo tão diversificado, cabe ao Museu Calouste Gulbenkian
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
78
permitir a colmatação de algumas lacunas, através da variedade da sua
coleção, sendo que este possui também obras nacionais e internacionais –
principalmente de origem oriental, por sua vez menos comuns nos dois
espólios dos outros dois museus.
Também a visita aos três locais diferentes da cidade de Lisboa, onde se
encontram os museus, capacita o desenvolvimento e cultura artística dos
visitantes. Sendo três locais marcantes da cidade, são três visitas
complementares para absorção e aprendizagem sobre a cultura e história
portuguesas. A aprendizagem não é só para os estudantes, e o facto de todos
terem acesso a esta através da visita a estes museus, e a algumas das zonas
com mais história do país, só poderia trazer vantagens. A visitação vinda dos
vários cantos do país e do mundo, tornaria possível o ganho de mais
conhecimento, não só em termos de arte e obras de arte moderna, mas
também de zonas que caracterizam o país.
5.3.1 O Roteiro e a Oferta Educativa
Embora seja ainda desconhecido o valor a entrar em vigor no ano de
2017, as três entidades ficam na mesma situação no que diz respeito a taxas
de ingresso nos museus, sendo todas elas pagas.
Algumas das entidades, como é o caso do Museu do Chiado, criam
oportunidades para que professores e alunos, crianças e idosos entrem no
museu de forma gratuita, no entanto, esta não é uma situação aplicável a todos
os indivíduos, nem a todas as entidades. Desconhece-se ainda o programa de
descontos e entradas gratuitas do Museu Berardo, mas através da criação de
um sistema de bilhete único entre os três museus, seria permitido que se
comportassem e distribuíssem custos de bilheteira de igual forma, originando
mais receitas, e consequentemente, mais visitas, visto que a possibilidade de
conhecer três museus com um bilhete só, permite também a divulgação das
entidades em si, e dos seus espaços.
Por exemplo, existem já sistemas deste género, e que funcionam como
“bilhetes únicos”, que permitem a entrada em vários locais/entidades que se
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
79
relacionam de alguma forma. Um desses casos é o bilhete de entrada no
Coliseu, em Roma. Ao adquirir o bilhete de entrada no Coliseu, está também a
fazer-se a aquisição de bilhete para a entrada no Fórum Romano, e no
Palatino, tendo um bilhete único que permite a entrada nos três locais49. Por
outro lado, temos o exemplo dos bilhetes de circulação dos transportes de
Lisboa, em que permite a circulação metro/autocarro/comboio, e em que um
único bilhete, conforme a tarifa comprada, permite a utilização dos vários tipos
de transporte e das várias zonas da cidade de Lisboa50.
São vários os exemplos que permitem a utilização de um bilhete único,
sendo que esse facilita as visitas, tornando-as melhores e mais cómodas ao
visitante. Neste caso, teria de ser implementado um bilhete conjunto, fruto da
conjugação do preço das três entradas, nos três diferentes museus, em que
esse bilhete único, permitira a entrada nos mesmos.
Em relação ao roteiro em si, de forma a criar um ponto de situação para
as visitas aos três museus, à semelhança do que foi criado para os museus da
energia51, poderia ser criado um site onde fosse descriminada toda a
informação sobre cada entidade museológica, e consequentemente possuir um
indicativo de qual seria a melhor e mais vantajosa forma de proceder à visita.
Ou seja, nesse site existiria informação detalhada sobre a compra dos bilhetes,
horários de abertura dos três museus, descrições sobre cada entidade, e
respetivas coleções, bem como as obras que cada acervo possui. Por outro
lado, seria feita a ligação entre as três coleções, ou no caso, as suas
exposições temporárias, sendo um local na internet que teria de ser
constantemente atualizado, e que teria de funcionar em concordancia com as
três entidades. Existiria também a organização mais proveitosa da visita,
Museu Berardo, pela maior abrangência de obras, artistas e correntes
artísticas, seguindo-se o Museu do Chiado, pela sua abrangência na arte arte
49
vd. Aquisição de bilhetes para visita ao Coliseu/Fórum/Palatino, Roma.
www.ticketsrome.com/en/colosseum-tickets-on-line/colosseum-roman-forum-tickets.
50 vd. Aquisição de bilhetes para circulação nos transportes da cidade de Lisboa.
www.portalviva.pt/lx/pt/homepage/tarifários/tarifas-ocasionais/bilhetes.aspx.
51 Roteiro Museus da Energia. Acedido em: museusdaenergia.org/.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
80
moderna e contemporânea portuguesa, sendo a visita finalizada no Museu
Calouste Gulbenkian, por possuir também um grande abrangência no que diz
respeito à arte moderna, mas principalmente pela sua política de exposições
temporárias, que permite que vão sendo completadas algumas das lacunas
das outras duas coleções.
Outra opção a seguir, poderia ser a de uma aplicação móvel, capaz de
suportar toda essa informação, e incluir mapas e informações adicionais sobre
a arte moderna de uma forma geral. Um bom exemplo dessa junção de
informação, e do funcionamento em rede é a aplicação móvel dos Parques
Naturais dos Açores52. Nesta, e à semelhança do poderia ser feito, juntam-se
informações sobre diferentes centros ambientais, (local onde se encontram,
horários de abertura, etc.), bem como informações sobre trilhos, como chegar
aos mesmos, e as ligações entre os diferentes centros e parques naturais em
cada ilha. Aplicando esta situação ao Roteiro da Arte Moderna, e à semelhança
dos exemplos apresentados, poderia ser criado um mapa, que situasse a
cidade de Lisboa, e respetivos museus de arte moderna, de forma a que
aqueles que visitam a cidade, independentemente da sua lingua, sejam
também capazes, se assim o quiserem, de percorrer a cidade enquanto se
dirigem aos museus. Por outro lado, possuiria a informação sobre os museus,
como chegar até eles, horários de abertura, locais para aquisição dos bilhetes,
e tal como no exemplo do site, o descritivo da melhor forma para a visitação
dos museus. No fundo, a aplicação smartphone seria uma forma de obter mais
completa e melhor informação.
No que diz respeito à programação em termos de serviço educativo,
criando atividades através dos diferentes serviços educativos que permitam a
interligação dos três museus, é também uma forma de enriquecer
culturalmente o público. Se a missão de qualquer um dos serviços educativos,
passa pela divulgação da arte moderna e/ou contemporânea, realizando
atividades que permitam apreender conceitos, desenvolver criatividade e
fruição, e até mesmo características pessoais para aprendizagem em outras
52
Aplicação Móvel dos Parques Naturais dos Açores. Descarregável em:
play.google.com/store/apps/details?id=pt.azorit.azoresnatura&hl=pt_PT.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
81
áreas que não a artística. Utilizando os casos de estudo apresentados no
Capítulo 1, é possível entender que existem uma série de atividades que
propiciam ao desenvolvimento cultural, social, pessoal, e artístico do indivíduo.
Por exemplo, criando atividades entre si, em que os vários artistas e
colaboradores dos diferentes museus sejam capazes de se deslocar às escolas
pelo menos uma vez durante o mês, permite a rotação de diferentes artistas
pelas diferentes escolas, e a capacidade de abranger um maior número de
entidades e faixas etárias, propiciando o desenvolvimento dos mais pequenos
aos mais adultos. Por outro lado, a visita do artista à escola, sendo feita em
rede, e abrangendo por exemplo, três ou quatro diferentes correntes artísticas
do modernismo, ajuda não só os alunos, mas também os profissionais, uma
vez que existe cooperação e aprendizagem pelas duas (ou três, se incluirmos
também outros funcionários da escola) partes.
Através de visitas aos museus, das ligações entre os mesmos, e da
existência de atividades para todas as faixas etárias, mas principalmente para
as faixas etárias até aos dezoito anos, onde normalmente ainda existe
frequência escolar, criam-se possibilidades para o desenvolvimento nas
capacidades de aprendizagem, na cultura, na criatividade, entre muitas outras
benesses. Estas atividades chamam os indivíduos aos museus, dando-lhes a
oportunidade de se tornarem mais ricos em sabedoria, sem olhar à sua
situação social, sendo uma forma de os manter na escola, de despertar o seu
interesse e a sua criatividade.
No caso das famílias, por exemplo, também os serviços educativos são
capazes de intervencionar positivamente as mesmas. Ao criar atividades de
aprendizagem sobre a arte moderna, como por exemplo a identificação das
correntes artísticas através de reproduções em desenho, dirigidas às famílias
de uma forma geral, sem olhar a faixas etárias em específico, estão também a
proporcionar uma forma de interação das famílias para com os museus, e a
arte moderna, mas também propiciam a que existe uma troca de informação
entre as diferentes faixas etárias, entre os vários membros da família,
desenvolvendo cada um deles de uma forma igual mas ao mesmo tempo
singular, e que permite a discussão entre os vários membros do agregado
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
82
familiar. Por outro lado, esta ação do serviço educativo, permite também que
exista uma relação entre a família em si, criando um momento de união familiar
e aprendizagem conjunta.
Nos dias que correm são cada vez mais causados entraves ao
desenvolvimento e à aprendizagem geral, cultural, e artística, quer de crianças
quer de adultos, e a cultura e a arte são bens necessários para o
desenvolvimento, mas que infelizmente não estão ao alcance de todos. Tornar
possíveis atividades que incluam todo o público, é também uma maneira de
desenvolver o país.
No fundo, é através do Museu Berardo que se sedimenta toda a história,
no que diz respeito à arte moderna, pois é este que permite através de uma
linha bem conjugada a leitura das várias correntes artísticas e interpretações
da arte. E é também este que dá o mote para a compreensão dos outros dois
museus.
Mas não menos importante, seria a relação destes três museus, que
seriam capazes de tornar muito mais rica a aprendizagem sobre a arte
moderna no mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
83
Em resposta à necessidade de criar um roteiro que solucionasse o
problema de visualização e fruição da oferta de arte moderna na cidade de
Lisboa, tornou-se possível entender mais e melhor a cultura artística desta
época e os museus que a representam nesta cidade.
Sendo que o foco do projeto em questão foi o Museu Berardo e a arte
moderna, foi possível perceber, através da análise da informação obtida, que
este é um Museu com um passado recente, que se cria através de um acordo,
de um, por assim dizer, provedor de mais-valias o Comendador Berardo, que
se alia ao Estado Português para beneficiar o público nas lacunas da arte
desse tempo.
Este Museu, através do Decreto-Lei que o cria, define a sua missão e
vocação como a de servir o público, dando-lhe a conhecer a arte moderna e
contemporânea, e obtendo um destaque que o faz querer mostrar e conservar
o património que enriquece a nação, colocando Portugal no mapa turístico-
cultural.
Também desta pesquisa resulta o conhecimento da figura por detrás de
todo o alarido, que após colecionar durante vários anos, e impulsionado pela
paixãoque detém pela arte, decidiu dar ao público, por assim dizer, um pouco
daquilo que é seu, montando aquele que é o Museu Berardo.
A coleção deste museu resultou da junção de duas coleções, a do
Comendador Berardo e a que foi conseguida para complementar aquilo que
por alguma razão falha na coleção em si.Foi partindo desta que foi se criou o
Museu Coleção Berardo, não só como uma marca, mas também como
património de conhecimento.
Durante este processo de procura surgem pequenas curiosidades, que
nos fazem levantar questões, e pensar no possível futuro deste Museu, bem
como de muitos outros.
Analisaram-se lacunas e problemáticas que caracterizam a exposição
em si, ou a falta de meios que não permitem que esta sejam uma coleção
ainda mais rica, quando já o poderia ser, se o país não se situasse numa fase
crítica.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
84
Necessário também, é ver e compreender a forma como as obras são
expostas, bem como tudo aquilo que é investido no diálogo entre o espectador
e a obra. Todos os aspetos, deste a temática à forma como a legendagem é
exposta na sala, influenciam o espectador, e a leitura deste, e por isso é
necessário que tudo seja feito com clareza, e da melhor forma possível. É
então necessário que se proceda à apresentação de cada obra colocando-a no
campo de visão, acomodando-a da melhor forma, e permitindo a sua leitura.
Depois de analisar toda a exposição e compreender a sua apresentação,
é possível entender que certos aspetos poderiam ser corrigidos. Pequenas
falhas podem ser alteradas e tornadas melhores, para que o usufruto da
coleção seja maior.
Por outro lado, e porque também destes museus provém o projeto, situa-
se a história do Museu do Chiado como aquele que é, sem dúvida, um museu
de grande importância no território português. Sendo um museu do Estado,
este é sem dúvida um museu que conta a história daquilo que aconteceu em
território português aquando da época da arte moderna. É este museu que
permite a leitura e visualização da história do povo, da visão do artista
português, da visão do artista que se encontrava em Portugal.
Este Museu surge como resultado da divisão de dois Museus, e cria
aquela que é a história, o ponto de partida. É por isso necessário entender e
explorar a forma como este encara e debita a informação que incorpora. É
necessário perceber que este museu é um ponto de partida para uma história
maior, apesar do seu tamanho reduzido, a coleção de arte moderna deste
museu, simula um ponto de grande focagem na história do país.
No que diz respeito ao Museu Calouste Gulbenkian, que resulta da
paixão de outro colecionador de arte, este conduz-nos a um acervo, a uma
coleção, que nos traz um misto da arte portuguesa com a arte internacional,
debitando exposições temporárias de grande importância para todo o tipo de
público.
Após a análise é possível compreender que este museu, apesar do seu
cariz privado, ocupa um lugar de grande importância no território nacional.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
85
A junção dos três museus, num roteiro educativo seria a melhor forma
de trazer até ao público português e de outras nacionalidades, mas
principalmente aos estudantes e educandos da sociedade, uma melhor
compreensão da arte moderna.
Seria de valor obter um programa, um roteiro, que organizasse os três
museus de forma a atribuir-lhes a importância que estes representam.
Não existem dúvidas de que estes Museus atribuem um conhecimento
muito maior, não só das raízes, mas também das importações, que
aconteceram, por assim dizer.É também importante compreender que não
seria apenas um benefício para o público, mas também para as instituições.
Com o roteiro educativo, seria possível que estas se completassem
entre si, e acima de tudo que fossem capazes de completar a Coleção Berardo.
A questão situa-se em: porque não beneficiar todos aqueles que visitam
a cidade de Lisboa, juntando as três instituições e fazendo-as funcionar
conjuntamente?
Entende-se que existem situações de cariz privado, e o próprio Museu
Berardo é uma situação especial, mas porque não a união, de uma forma
coerente para os três Museus, e que beneficiasse o público? O conhecimento é
um aspecto importante do crescimento intelectual, é assim necessário que este
exista, e esta união proporciona esse acontecimento, através da
complementação das três coleções/exposições estudadas.
A união seria também um aspeto que iria trazer benesse a todos os três
museus, sendo que aqueles com menos possibilidades, ou menor campo de
ação, iriam ganhar um novo brilho, e uma nova capacidade de corresponder às
necessidades que a cidade, e o país no seu geral possuem. E sendo que este
roteiro inseria os três museus, os mesmos iriam ganhar um novo leque de
visitantes, que os fariam sentir mais ricos de conhecimento, e que faria com
existisse um novo estímulo de conhecimento e também uma maior
abrangência.
Porque não mudar, tornando aquilo que já existe, num polo de
importância para todos, e fazendo com que desenvolvam espíritos críticos mais
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
86
aguçados, promovendo mais conhecimento, mais abertura, e tornando
Portugal, num país com mais importância e interesse a nível cultural artístico?
Porque não encontrar um novo caminho que conduza também à história
portuguesa, mostrando-a e à sua importância? Porque não um novo roteiro que
seja capaz de unir, não só as três entidades em questão, mas também os seus
serviços educativos, e consequentemente a população de uma forma geral?
É de extrema importância a existência dos três museus em questão na
cidade que é a capital portuguesa. É também de extrema importância o
trabalho realizado pelos três, naquela que é a divulgação da arte moderna para
todos. Os serviços educativos têm necessidade de ser desenvolvidos e
divulgados, e são necessárias as uniões, para que se possam colmatar
dúvidas.
Porque não dar lugar a algo que permite mais desenvolvimento, em
tantas áreas e tantas pessoas?
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TEIXEIRA, António José. Calouste Gulbenkian Foundation, The rich legacy of
na Armenian visionary. In Philanthropy in Europe: A rich past, a promising
future. Londres: Alliance Publishing Trust. 2005. p.115-128.
The Dana Foundation: www.dana.org
TOSTÕES, Ana. Fundação Calouste Gulbenkian – Os Edifícios. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2006.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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ANEXO A
CURIOSIDADES: A FIGURA POR DETRÁS DA COLEÇÃO
O Comendador José Berardo
José Manuel Rodrigues Berardo nasceu a 4 de Julho de 1944, na
freguesia de Santa Luzia, Funchal, ilha da Madeira. O Comendador era o mais
novo entre sete irmãos, e nasceu, naquela que era na altura, uma ilha da
Madeira um pouco mais conservadora que a que conhecemos nos dias que
correm.
José Berardo começou a trabalhar com 12 anos, com o seu pai, Manuel
Berardo Gomes, como loteador. Mais tarde, ao travar conhecimento com
pessoas vindas de países como o Brasil, Venezuela e África do Sul, José
Berardo começou então, a ambicionar uma expansão dos seus horizontes e
procurou concretizar os sonhos que possuía.
Aos 18 anos, José Berardo finalmente consegue, ainda que contra a
vontade do pai, realizar o seu sonho e elege a África do Sul como o lugar a
explorar. É aí que, mais tarde, conhece aquela que viria a ser sua esposa,
Carolina Gonçalves, filha de pais madeirenses.
Devido a ajudas prestadas à comunidade portuguesa no país onde vivia
José Berardo é agraciado com o grau de Comendador da ordem do Infante D.
Henrique, pelo então Presidente da República, General Ramalho Eanes em
1979.
José Berardo possuiu vários negócios, desde a venda de produtos
alimentares a refinarias de ouro e minas de diamantes. O Comendador é um
ser humano com variadas facetas, desde homem de negócios, a filantropo e a
colecionador de arte. O seu gosto por coleções brotou cedo, mas é só em
inícios dos anos 90, depois de voltar a Portugal e de fundar o Banif, que este
senhor começa a reunir a agora Coleção de Arte Moderna e Contemporânea
hoje exposta, numa pequena parte, no Centro Cultural de Belém, que contou
com a ajuda do Dr. Francisco Capelo, advogado do Banif.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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ANEXO B
CURIOSIDADES: SOL EM JOE BERARDO.COM | REAVALIAÇÃO DA
COLEÇÃO BERARDO
Aquando da criação do Protocolo que originou o Museu Berardo, feita
entre o Governo Português e o Comendador Berardo, a coleção de 863 peças,
foi avaliada pela leiloeira Christie’s em cerca de 316 milhões de euros.
Embora existisse quem defendesse que o valor da avaliação fosse
extremamente favorável ao Estado Português, tendo em conta a crise
financeira que em que se encontra o país, existe também quem afirme que este
é um valor absurdo, incitando a que exista uma reavaliação da coleção. No
entanto, para que exista essa reavaliação, são necessários dois aspetos, o
primeiro, que passa por existir uma autorização por parte do Comendador José
Berardo que se opõe à situação, e o segundo, a exigência de que haja
financiamento para que a reavaliação aconteça. Atendendo a que o Governo
Português, se encontra em falta em cerca de três anos com a contribuição
anual para com o museu, conforme o estipulado no decreto-lei que instaura a
criação do mesmo, é necessária a contribuição anual, para completar lacunas
da coleção, gerando esta situação uma polémica extremamente
desconfortável.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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ANEXO C
FOTOGRAFIAS DO MUSEU BERARDO: ESPAÇOS E ATIVIDADES DO
SERVIÇO EDUCATIVO
(Fotografias retiradas de: pt.museuberardo.pt/ - Autores desconhecidos)
Imagem 1: Vista Exterior do Centro Cultural de Belém – Museu Berardo.
Imagem 2: Peças da Exposição Permanente (1900-1960).
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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Imagem 3: Peças da Exposição Permanente (1900-1960).
Imagem 4: Atividade Pré-escolar, do Serviço Educativo do Museu Berardo.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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ANEXO D
FOTOGRAFIAS DO MUSEU DO CHIADO: ESPAÇOS E ATIVIDADES DO
SERVIÇO EDUCATIVO
(Fotografias retiradas de: www.museuartecontemporanea.pt - © DGPC)
Imagem 1: Hall do Museu do Chiado.
Imagem 2: Jardim das Esculturas do Museu do Chiado.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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Imagem 3: Fotografia de pormenor da Exposição Permanente do Museu do
Chiado.
Imagem 4: Atelier Educativo – Grupo do Leão.
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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ANEXO E
PARQUES NATURAIS DOS AÇORES – IMAGENS DA APLICAÇÃO MÓVEL
Catarina Isabel Vicente da Silva Um Roteiro da Arte Moderna, em Lisboa a partir da Coleção Berardo.
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