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Um Velhinho, Um Violão Mais uma daquelas tardes geladas do outono paulista, onde o vento empurra nuvens cintilantes de extrema altura, e move os cabelos das lindas morenas da cor de Madalena.

Um velhinho um violao

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Um Velhinho, Um Violão

Mais uma daquelas tardes geladas do outono paulista, onde o vento empurra nuvens cintilantes de extrema altura, e move os

cabelos das lindas morenas da cor de Madalena. 

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E eu, ansioso, cansado, desesperado, animado, saio correndo pelos shoppings da cidade, procurando, caçando, garimpando,

observando, preparando minha viagem. 

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E eu, atrasado, suado, esquecido, esfomeado, estonteado, consigo comprar o que o pouco dinheiro permite, e decido correr, ir em

frente, subir, navegar, acelerar, buscar o que me falta na avenida que tem a cara de cada paulistano, de cada um dos incansáveis

trabalhadores que se saúdam com um corrido "estou com pressa, a gente vai se falando".

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E eu, inconformado, enfurecido, nervoso, afoito, procuro um estacionamento para o meu velho astra descansar. Deixo o carro

nas mãos incansáveis dos operários da comodidade, enquanto ando, corro, paro, ouço, olho, tremo, ambientado com os sons da

minha cidade:

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carros freando, buzinando, motoristas berrando, xingando, pedestres discutindo, atravessando, correndo, pulando. E eu,

curioso, admirado, estupefato, impressionado, sinto algo diferente em plena tarde de correria e multidão.

 

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O que seria? Um gás? Uma luz? Um perfume? Um odor? Procurei por todos os lados.

Parei no meio da multidão e olhei para cima, para a direita, rumo ao Paraíso, para a esquerda, caminho da Consolação, para frente, de fronte

à Nove de Julho, para trás, do lado do Ibirapuera.

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E eu, impressionado, encontrei o que buscava: um idoso, com uma caixa de som, com três pequeninos autofalantes, sentado numa cadeira, exibindo aos transeuntes um cd, desses que se vendem em cada esquina.  Mais um pirata

urbano.  

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Mas, aquele aroma, aquela fragrância, aquele som, estava acalmando quem passava; trazia à memória um pouco da ternura perdida nas buzinas, um pouco da poesia desaparecida no trânsito, aquele som estava medicando o estresse de quem ouvia. E eu, como sempre,

buscando descobrir novas coisas, mesmo atrasado, cheio de coisas a fazer, parei para ouvir.

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E que som maravilhoso, que música encantadora, que lenitivo, que tranqüilizante!

Boa tarde, senhor. Que cd de violão é esse? O senhor que toca?

Não, mas é alguém que amo muito: meu filho Diógenes.

 

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Seus olhos vermelhos e cansados brilharam ao falar do filho. E, como sou eternamente sensível à paternidade, parei, olhei e senti. Que orgulho, que respeito, que honra, que felicidade! Ter um filho artista, arteiro, artesão,

ator, doutor, tocador!Descobri que o Sr. Gérson estava a vender

os CDs do filho.  

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Pensei que seria uma coisa banal, comum, sem qualidade, de um pobre artista sem público, sem beleza, sem futuro.Confesso que comprei. E comprei

pelo brilho no olhar do Sr. Gérson. Mas também pelo bem que me fez na estressante tarde paulistana, um dia antes de zarpar para meu destino

lusitano.

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Ah, como me enganei! Eu, enganado, ludibriado pela desconfiança, cheio de preconceitos contra o cd do Sr. Gérson, descobri uma verdadeira e legítima obra de arte, algo digno das mais requintadas platéias e apto a rodar nas

rádios mais importantes da cultura brasileira. Uma pepita de ouro, um diamante,

uma luz em meio às trevas artísticas.

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Então eu, cheio, repleto, transbordando, desesperadamente coloquei-me a escrever esta crônica urbana, e encaixei um pedacinho da música que me

curou nesta tarde, curou-me do vício de esquecer-me que, acima de tudo, há uma paz que emana da alma em harmonia, que se deixa envolver pela doce e maravilhosa melodia da vida, e permite-se voar como um pássaro no céu

azul da existência.

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Quanto mais se essa alma já souber seu destino e paradeiro, quanto mais se seu porto for certo e garantido, se tiver a alegria de voar aos céus, não o azul do outono paulistano, mas cintilante, do Reino de Nosso Senhor Jesus

Cristo. 

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Apenas uma tarde. Um Velhinho. Um Violão. A Avenida Paulista.E uma criança encantada!

 São Paulo, capital, tarde fria de outono, maio, 9, 2006

Wagner Antonio de Araújo 

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Uma coisa aprendi durante a minha vida, sofrer nao e a pior coisa que existe.

Desobedecer a Deus e a pior de todas as coisas.

Sinceramente,

Fernanda Torres/[email protected]

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Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Salmos 126:5

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