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Alexandre Ferreira de Souza Um Velho Artista de Circo

Um velho artista de circo

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Um velho artista de circo

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Alexandre Ferreira de Souza

Um Velho Artista de Circo

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Alexandre Ferreira de Souza

Um Velho Artista de Circo

SÃO PAULO - 2011

editora

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© Editora Lexia Ltda, 2011. São Paulo, SPCNPJ 11.605.752/0001-00

www.editoralexia.com

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Editores-responsáveisFabio Aguiar

Alexandra Aguiar

Projeto gráficoFabio Aguiar

Diagramação e capaEquipe Lexia

RevisãoLuciana Basso

editora

S731v

Souza, Alexandre Ferreira deUm velho artista de circo / Alexandre Ferreira de Souza. -- São Paulo: Lexia, 2011.

154 p.ISBN 978-85-63557-67-4Inclui bibliografia

1. Circo – História. 2.Ficção I. Título.

CDD – 791.309

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra em memória de meu filho Yuri, falecido em 20 de junho de 2009.

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Este é o resumo da história de Francesco, que aos setenta anos de idade, encontrou determinação e coragem para retirar duas crianças duas crianças que tinham sido jogadas de casa, devido ao assassinato brutal por traficantes de seus pais e irmão. Não fosse por interferência de Francesco, teriam possivelmente como destino a prostituição, o ví-cio, a marginalidade, como tem ocorrido com frequência nos dias de hoje. O velho artista de circo encontrou resistências à sua decisão de cuidar dos meninos, mas soube a tudo superar, dando nova família a José e Isabel no momento em que mais precisavam. Ensinou a sua profissão ao menino, deu carinho, educação e exemplo de vida aos dois. Mostra a todos que a idade não é obstáculo para quem acredita em Deus e tem seus objetivos a cumprir.

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Autor - Alexandre F. de Souza nasceu em 08/03/1952 em Barra – BA, é médico atuante em Lagoinha – SP, sendo esta sua primeira obra publicada.

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NOTA DO AUTOR

Caro leitor, como o romance foi escrito em fins dos anos 9o e início dos anos 2000, encontrará termos que não são mais utilizados nos dias de hoje, como “Juiz de Menores”, “Juizado de Menores”, “mendigo”, “Brizolão. Esclareço ain-da que naquela época os serviços de telefonia não eram tão amplamente distribuídos.

Boa leitura

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I ......................................................... 13CAPÍTULO II ........................................................ 23CAPÍTULO III ...................................................... 31CAPÍTULO IV ...................................................... 37CAPÍTULO V ....................................................... 47CAPÍTULO VI ...................................................... 53CAPÍTULO VII .................................................... 59CAPÍTULO VIII ................................................... 73CAPÍTULO IX ...................................................... 81CAPÍTULO X ....................................................... 91CAPÍTULO XI ...................................................... 99CAPÍTULO XII .................................................. 107CAPÍTULO XIII ................................................. 111CAPÍTULO XIV ................................................. 119CAPÍTULO XV .................................................. 123CAPÍTULO XVI .................................................. 127CAPÍTULO XVII ................................................ 137CAPÍTULO XVIII ............................................... 143CAPÍTULO XIX .................................................. 149

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CAPÍTULO I

Chovia intensamente naquela madrugada de março de 1993. Raios cortavam o céu com seguidas trovoadas, ame-drontando José e Isabel, que maltrapilhos, molhados e famin-tos, caminhavam tristemente, sem rumo.

Apesar da pouca idade, 13 e 11 anos, respectivamente, apresentavam em seus semblantes as duras marcas da vida, da perda repentina da família.

O motivo de estarem perambulando pelas ruas naque-le momento foi o assassinato de seus pais e do irmão mais velho, quando todos dormiam. Assassinados friamente, por engano, já que os executores, soldados do tráfico que estavam drogados, entraram no barraco errado e atiraram nas pessoas que estavam dormindo no cômodo principal da humilde casa, tendo José e Isabel escapados da morte, porque dormiam num pequeno espaço próximo à cozinha. Os marginais tinham recebido ordens do chefe do tráfico para matar um suspeito de traição da quadrilha e o delinquente morava num barraco perto e semelhante onde morava a família, ocorrendo por este motivo à chacina.

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O pai das crianças, ajudante de pedreiro, com salário insuficiente para o sustento da família, dependia da ajuda da esposa que era lavadeira, e do filho mais velho de 16 anos, estudante e entregador de jornais. José e Isabel estudavam em um Brizolão próximo à favela.

Agora, em algumas horas, passaram de crianças pobres, mas com família e moradia, a órfãos e meninos de rua, juntan-do-se a tantas outras crianças abandonadas pela cidade.

Saíram de casa apenas com a roupa do corpo, deixando para trás o pouco que a família conseguiu durante anos de tra-balho. E recomeçar uma nova vida, quando a vida que tinham apenas se iniciava, era para qualquer ser humano muito ruim de aceitar, uma mudança brusca, um grande trauma.

– José – disse Isabel soluçando enquanto caminhavam –, o que será de nós? Mataram o papai, a mamãe e o Flávio!

– Não sei Isabel – respondeu o menino apreensivo, pro-curando demonstrar tranquilidade – Tem o tio Zezinho e a tia Joana que moravam em Queimados, mas mamãe uma vez me disse que eles tinham mudado de lá. Não sei de outros parentes. Nossos pais vieram da Paraíba, lá temos família, mas é muito longe, no “norte” do Brasil.

– Então, vamos procurar a polícia e contar tudo o que fizeram com nossos pais e o Flávio! – Rebateu deci-dida Isabel.

– Não, Isabel. Desconhecemos quem matou nossos pais e irmão: traficantes ou policiais. Se os culpados são os trafi-cantes, se souberem que demos parte à polícia, podem nos matar. Além disso, tem policial que apoia marginal. Diante disso, acho melhor ficarmos debaixo de uma dessas marquises e pensarmos. O que eu não quero é voltar para lá, isso nunca mais! – completou com voz embargada o menino.

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À procura de um lugar mais adequado para se abriga-rem, andavam rapidamente agarrados um ao outro, ainda de madrugada. E acharam em frente a uma loja, uma marquise que já abrigava três mendigos. Aproximaram-se timidamente e sentaram a poucos metros deles. As crianças ficaram em si-lêncio, com os olhos marejados, fixando o infinito, até ador-mecerem, vencidos pelo cansaço.

Acordaram com o barulho dos passos das pessoas indo para o trabalho e com os roncos dos carros. Lembraram então do que tinha acontecido na noite anterior, com o triste desa-parecimento de seus pais e do irmão, e Isabel voltou a chorar. José, percebendo o estado emocional da irmã, colocou a mão carinhosamente em seus cabelos e beijou-lhe a face. Os três mendigos que dormiam ao lado, agora já acordados, permane-ceram deitados, indiferentes à presença das crianças.

Após algum tempo em silêncio e vendo que Isabel não mais chorava, José iniciou a conversa:

– Isabel, já que não temos parentes para nos socorrer, vamos procurar um colega meu da escola, porque o pai dele, agora lembro, trabalha pegando coisa de quem não precisa e quer doar, e leva num caminhão para um orfanato, e meu colega que já tinha ido algumas vezes lá, me dizia que nesse orfanato era diferente, existia crianças grandes e pequenas e todos brincavam e se divertiam à vontade. Ele gostava de ir quando o pai dele o chamava.

A essa altura já tinham voltado a caminhar e se diri-giram para um banco de uma praça não muito distante do bairro onde moravam, onde ficaram sentados e continuaram a conversar.

– Como iremos achar seu colega se não podemos chegar perto de casa! – respondeu a menina assustada.

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– Calma, minha irmã – disse José carinhosamente ten-tando tranquiliza-la –, você ficará me esperando aqui, en-quanto vou caminhando e pensando numa maneira de falar com ele.

– Não, José. Eu quero ir junto com você porque tenho medo de ficar sozinha. Não podemos ficar separados. Um deve proteger o outro

– É... Ela tem razão. Não posso deixar minha irmã so-zinha, ela é tudo para mim. Meus pais não aprovariam se eu fizesse isso – balbuciou José.

Passava das 9 horas da manhã e ainda estavam em jejum. Naquele momento aproximou-se um senhor que aparentava 70 anos de idade, vestia terno de cor azul-ma-rinho, algo surrado, mas bem cuidado, camisa branca, de um branco que chamava atenção pela sensação de paz que transmitia, sapatos pretos, bem lustrados. Sentou-se ao lado das crianças e após observá-las por alguns minutos, iniciou a conversa:

– Filhos, desculpem-me a intromissão, mas o que fazem vocês sentados num banco de praça, sozinhos, entristecidos, ar de cansaço e uma aparência de fome, em vez de de estarem na escola, dormindo ou mesmo brincando, o que seria natural – disse o ancião, esboçando um sorriso paterno.

Os meninos ainda surpresos com a presença do senhor ficaram em silêncio.

– Podemos conversar, crianças. Esse velho que vos fala só quer ajudar, e tenho quase certeza que precisam de aju-da. Não façam cerimônia, não fiquem calados, indecisos, com medo, vamos prosar – disse em tom afável.

José e Isabel se entreolharam e após alguns segundos de indecisão, o menino começou a falar:

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– Não estamos com medo de você, pois demonstra ser uma pessoa boa, legal. É que aconteceu uma coisa muito séria com a nossa família – respondeu José voltando a ficar calado.

– Mas, que coisa tão séria poderia fazer com que vocês ficassem assim? Respondam crianças, por favor, para que eu possa ajudá-los.

José voltou a olhar para a irmã. Não sabia o que fazer naquele momento. As cenas de violência que tinha presencia-do algumas horas antes não lhe saiam da cabeça. Custava-lhe acreditar que estavam desamparados, precisava da ajuda de alguém, e aquele senhor transmitia confiança. Decidiu então relatar tudo o que tinha acontecido na naquela fatídica noite.

– Mataram nossos pais e nosso irmão ontem à noite – relatou José entristecido. – Os marginais invadiram nossa casa e atiraram na nossa família, foram muitos tiros. Só escapamos porque estávamos um pouco afastados. Não viram a gente. Fugimos, e por isso estamos aqui, senhor...

– Francesco, meu filho, Francesco Bernardini. Perdoem-me por não ter me identificado. Preocupado com a situação de vocês, esqueci de dizer o meu nome. E você agiu corretamente, tem que saber com quem está falando. Agora posso saber seus nomes?

– Sim, senhor Francesco. Meu irmão se chama José e eu, Isabel. Eu tenho 11 anos e José, 13. – Respondeu timidamente a menina.

– Nomes bíblicos, muito bonitos. Seus pais foram feli-zes na escolha dos nomes. E antes que vocês me perguntem, vou me apresentar. Sou um velho palhaço aposentado, tenho uma filha casada e dois netos maravilhosos.

Percebendo as fisionomias entristecidas das crianças, Francesco calou-se por alguns momentos, arrependendo-se das últimas palavras que tinha falado.

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– Perdoem-me mais uma vez, meus filhos. Fui mes-quinho relatando a minha felicidade, esquecendo o triste momento que vocês atravessam. Não foi por mal. Sinto-me envergonhado pelo que fiz. – disse Francesco visivelmente constrangido.

– O senhor não tem por que pedir desculpas senhor Francesco. – tratou de responder rapidamente o menino, ven-do a atitude desconcertada do ancião. – Apesar do momento ruim que estamos passando, entendemos que quis nos ajudar, com palavras alegres, de estímulo. Falou de sua família. Deus o colocou no nosso caminho para nos socorrer.

– Você é um menino que tem maturidade, José. É in-teligente, ajuizado. O que eu puder fazer por vocês, farei com todo o prazer.

– O Senhor disse que foi um palhaço? – perguntou admirado José. – Eu sempre desejei um dia conhecer pes-soalmente um. O palhaço leva alegria para as pessoas, está sempre alegre, e o senhor mesmo não estando vestido de pa-lhaço, é muito legal. Eu também gostaria de ser um palhaço. Você me ensina?

– Claro, meu filho, claro! – respondeu Francesco sor-rindo por achar as palavras do menino bastante pertinentes. Posso ensinar com todo o prazer. E vejo pelo seu interesse, que tem vocação. Mas primeiro, iremos conversar sobre a situação de vocês. José, pelo que eu entendi, seus pais e o irmão foram mortos ontem. Aonde?

– Foram mortos na nossa casa, quando dormíamos. Acho que foi por engano. Nossos pais e irmão não estavam envolvidos com tráfico de drogas, eram trabalhadores, pessoas honestas. Flávio estudava e era entregador de jornais; meu pai era pedreiro e minha mãe lavava roupa para fora.

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– Vocês chegaram a ver os assassinos? – perguntou com ar de revolta e tristeza o ancião.

– Não... Nós estávamos dormindo num quartinho ao lado da cozinha, e acordamos com o barulho dos tiros; ainda tentei me levantar, mas estava muito escuro e com fumaça, não deu para ver mais ninguém... Foi tudo muito rápido. – Respondeu José com olhar perdido, no infinito, como se ainda não acreditasse no que tinha acontecido.

– Deus os protegeu. Provavelmente seriam também mortos caso os assassinos percebessem que havia mais alguém na casa.

Após dizer estas palavra, Francesco percebendo que as crianças estavam entristecidas, abaladas, calou-se por alguns minutos, só retornando à conversa ao verificar que a tensão era menor.

– Depois dessa tragédia ocorrida ontem com seus fami-liares, meus filhos, porque não procuraram parentes, em vez de saírem perambulando por aí, em lugares perigosos, mesmo à luz do dia?

– É porque não temos mais parente nenhum aqui, se-nhor Francesco. Nossos tios que moravam em Queimados, não estão mais lá. Devem ter voltado para a Paraíba, terra de-les e de nossos pais – disse o menino.

Francesco ficou pensativo, com a mão no queixo, ma-tutando uma maneira de ajudar as crianças. Não podia sair dali sem uma solução concreta e tinha consciência de que os meninos contavam com ele, dependiam de sua ajuda.

– Meus filhos, aliás, posso até chamá-los de netos; dian-te dessa situação delicada em que se encontram, e na qual me sinto incluído, tenho a dizer-lhes em primeiro lugar, apesar de nos conhecermos há pouco tempo, que vocês devem confiar

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em mim; em segundo, que devemos procurar o Juizado de Menores, local mais indicado para que seja resolvida essa situ-ação triste e embaraçosa na qual se encontram.

– Senhor Francesco, vai me desculpar, eu falo por mim e por minha irmã; não queremos ir para a polícia ou Juizado de Menores, mesmo que fosse para resolver nossa situação, porque agora temos o senhor do nosso lado e irá fazer muito mais pela gente.

– Muito obrigado pela confiança em mim depositada – disse desconcertado o velho – mas não falei em polícia e sim no Juizado de Menores, que saberá como proteger vocês.

– Não, senhor Francesco – respondeu com firmeza o me-nino –, não queremos ir para o Juizado de Menores porque não sabemos o que irá acontecer com a gente, mas acho que eu fica-ria separado de minha irmã e seríamos levados para orfanatos, lá encontraríamos crianças tristes e abandonadas como nós.

– Reconheço que o destino provável de vocês não seja diferente do que acaba de dizer, caso sejam encaminhados ao Juizado – disse Francesco admirado pelas palavras do menino – no entanto, essa seria a conduta mais coerente, José. Não esta-ríamos infringindo a lei. Vocês são menores de idade e a justiça é rigorosa nesses casos. É por isso que eu insisto, meus filhos, que o melhor caminho é esse – disse o velho penalizado.

– Senhor Francesco, nós entendemos sua situação, não queremos que o senhor seja prejudicado. Faz de conta que nunca nos viu e seguiremos nosso caminho. Agradecemos à boa vontade que teve conosco.

– José, por favor, acho que fui mal-entendido. Mas não vou mais tocar nesse assunto. Agora tenho plena convicção do que vo-cês querem e irei ajudá-los. Vamos até a casa de minha filha Letí-cia, é uma ótima pessoa. Ficará muito satisfeita em conhecê-los.

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– Qual é a idade de sua filha? – perguntou Isabel.– Letícia tem 28 anos, é casada e me deu dois netinhos,

Catarina que tem 5 anos e George, de 2 anos. E vocês também irão gostar deles.

– O senhor mora longe da Letícia? – voltou a perguntar a menina.

– Resido em outro bairro. Tem que pegar ônibus, mas não é muito longe. Vamos indo porque devem estar cansados e com fome.

E seguiram acompanhando Francesco.

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