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UMA ABORDAGEM CONCEITUAL SOBRE A VALORAÇÃO … · biodiversidade e capacidade de suporte às diversas formas de vida no planeta Terra. Além disso, procurar integrar esses valores

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UMA ABORDAGEM CONCEITUAL SOBRE A VALORAÇÃO ECONÔMICA

DE RECURSOS NATURAIS

KATTY MARIA DA COSTA MATTOS1, NEUCLAIR JOÃO FERRETTI FILHO2 e

ARTHUR MATTOS3

RESUMO: Um dos assuntos mais críticos da atualidade é decidir como administrar os

recursos ambientais para alcançar o interesse das populações. A preocupação com os

problemas ambientais aparece como um elemento importante a respeito do crescimento

material e econômico e da qualidade de vida. O presente trabalho apresenta uma

abordagem teórica a respeito da valoração econômica de recursos ambientais, como

forma de prevenção da degradação dos ecossistemas e da possível exaustão dos recursos

ambientais. O meio ambiente é considerado uma dimensão do desenvolvimento e deve

então ser internalizado em todos os níveis de decisão. O desenvolvimento econômico e

social e a gestão ambiental estão indissoluvelmente vinculados e devem ser tratados

mediante a mudança do conteúdo, das modalidades e das utilizações do crescimento.

Como a operacionalização da sustentabilidade - compreendida como a capacidade das

gerações presentes alcançarem suas necessidades sem comprometer a capacidade das

gerações futuras também fazê–la – é o grande desafio civilizatório das próximas

décadas, é necessário buscar instrumentos da gestão ambiental que garantam um

desenvolvimento realmente sustentável, e que possam de alguma forma amenizar ou

reverter essa situação, entre eles encontra-se a valoração econômica de recursos

ambientais.

1 Engenheira de Produção, Doutoranda em Ciências da Engenharia Ambiental – CRHEA – EESC – USP. End: RuaProfª N.S. Germano, 51 Apart. 802 São Carlos-SP CEP 13561-090. Correio eletrônico: [email protected] Correio eletrônico: [email protected] Correio eletrônico: [email protected]

III Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal Os Desafios do Novo Milênio De 27 a 30 de Novembro de 2000 - Corumbá-MS
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A CONCEPTUAL APPROACH ABOUT ECONOMICAL VALUATION OF

NATURAL RESOURCES

ABSTRACT: One of the subjects more critics of the present time are to decide as

administering environmental resources to reach interest of the populations. The concern

with environmental problems appears as an important element regarding material and

economical growth and of the life quality. The present work presents a theoretical

approach regarding economical valuation of environmental resources, as form of

prevention ecosystem's degradation and possible resource's exhausted . Environment is

considered a dimension of the development and then it should be incorporate in all the

levels of decision. Economical and social development and the environmental

administration are inextricably linked and they should be treated by the change of the

content, of the modalities and of the uses of the growth. As the administration of the

sustainability - understood as the capacity of the present generations they reach your

needs without also committing the capacity of the future generations to do it - it is the

great challenge civilization of next decades, it is done necessary to look for instruments

of the environmental administration that really guarantee a sustainable development,

and that they can in some way to soften or to revert that situation, among them there is

the economical valuation of environmental resources.

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento e o meio ambiente estão, indissoluvelmente, vinculados e

devem ser tratados mediante a mudança do conteúdo, das modalidades e das utilizações

do crescimento. Três critérios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente:

eqüidade social, prudência ecológica e eficiência econômica. Esse conceito normativo

básico emergiu da Conferência de Estocolmo em 1972, designado à época como

“abordagem do ecodesenvolvimento” e, posteriormente, renomeado “desenvolvimento

sustentável” (Sachs, 1993).

Vive-se hoje uma mudança de paradigma econômico em evolução na sociedade,

já que os recursos naturais, antigamente fartos, têm se tornado cada vez mais escassos,

devendo-se levar em consideração sua possível exaustão.

De acordo com Merico (1996), “a mudança paradigmática aparece como um

elemento reorganizador dos processos econômicos, cujo principal eixo é a busca da

sustentabilidade, entendida como a capacidade das gerações presentes alcançarem suas

necessidades, sem comprometer a capacidade das gerações futuras também fazê-lo.”

Com a ameaça da escassez dos recursos naturais, vêm-se buscando alternativas

para que o desenvolvimento sócioeconômico seja sustentável. Como o impacto do setor

industrial na deterioração ambiental é significativo, é fundamental que sejam

consideradas as externalidades negativas provocadas pelo processo produtivo no meio

ambiente e a necessidade de internalização econômica desses efeitos.

A introdução do capital natural na análise econômica é necessária já que os

custos da degradação ambiental e do consumo de recursos naturais não têm sido

adicionados aos processos produtivos, avaliando-se os fluxos de estoques naturais e

contribuindo para a definição de uma escala sustentável da economia.

No momento em que o sistema econômico criado pelo ser humano não é mais

compatível com o sistema ecológico que a natureza oferece, existe a necessidade de

uma nova adaptação das relações entre o Homem e a Natureza. Surge dessa maneira a

proposta da avaliação econômica do meio ambiente, que não tem como objetivo dar um

“preço” a um certo tipo de meio ambiente e sim mostrar o valor econômico que ele pode

oferecer e o prejuízo irrecuperável que pode haver caso seja destruído (Figueroa, 1996).

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A ênfase dada aos aspectos econômicos é justificada pela crescente preocupação

com a questão ambiental e aumento vertiginoso das externalidades ambientais do

processo produtivo, que vêm trazendo modificações nas análises de custo/benefício.

Importante ressaltar, também, que segundo Merico (1996), não há dinheiro ou

tecnologia capaz de substituir os serviços ambientais proporcionados pela

biodiversidade, regulação climática, ciclo hidrológico, proteção da camada de ozônio e

por tantos outros.

Os custos da degradação ambiental e do consumo de recursos naturais não têm

sido computados nos processos econômicos. Para que esse processo continue a ser

produtivo um preço terá que ser pago.

A valoração ambiental é essencial, caso se pretenda que a degradação da maioria

dos recursos naturais seja interrompida antes que ultrapasse o limite da irreversibilidade.

O adequado gerenciamento ambiental é necessário para garantir que a

degradação da natureza e a conseqüente decadência da qualidade de vida, tanto nas

cidades como no campo, parem de ocorrer. E que a necessidade de se produzir seja

compatível com a de se preservar o meio ambiente (Carneiro et al, 1993).

Segundo Marques e Comune (1996), é preciso valorar corretamente os bens e

serviços do meio ambiente, entendidos no desempenho das funções: provisão de

matérias-primas, capacidade de assimilação de resíduos, estética e recreação,

biodiversidade e capacidade de suporte às diversas formas de vida no planeta Terra.

Além disso, procurar integrar esses valores apropriadamente estimados, às decisões

sobre a política econômica e ambiental e aos cálculos das contas econômicas nacionais.

Uma definição do funcionamento do desenvolvimento sustentável, conforme

Pearce e Turner (1991), envolve a maximização dos benefícios líquidos do

desenvolvimento econômico, sujeito a manter os serviços e qualidade dos recursos

naturais ao longo do tempo. O desenvolvimento econômico tem sido amplamente

interpretado para não incluir só aumentos de renda per capita, mas também outros

elementos de bem-estar social. Este desenvolvimento envolverá, primordialmente,

mudança estrutural dentro da economia e da sociedade, mantendo os serviços e a

qualidade da ação de recursos com o passar do tempo, implicando a aceitação das

seguintes regras:

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a) utilizar recursos renováveis com taxas menores ou iguais à taxa natural de

regeneração;

b) otimizar a eficiência dos recursos não renováveis utilizados, sujeito a substituição

desses recursos por novas tecnologias.

Segundo Common (1995), as características essenciais do desenvolvimento

sustentável para a sociedade necessitam de três imperativos ecológicos:

a) o tamanho da população na Terra deve ser relativamente estável (ou decrescente);

b) a população global e suas atividades não devem ultrapassar os limites dos recursos

naturais impostos pela biosfera;

c) a organização da sociedade e o sistema econômico devem ser tais que a saúde

humana e a qualidade de vida, e altas taxas de emprego, não dependam do aumento dos

níveis de consumo e dos produtos dos recursos naturais ou de atividades que diminuam

a produtividade do ecossistema.

A economia precisa de uma escala adequada relativa ao ambiente natural, escala

significando tamanho físico, volume físico do fluxo de matéria e energia de baixa

entropia vindo dos ecossistemas e que retorna ao ambiente como alta entropia.

A definição de uma escala da economia em relação ao ambiente natural é

fundamental, pois a biosfera, da qual a economia é um subsistema, não cresce (FIG. 1).

Sendo a biosfera finita, é claro que o subsistema econômico não pode romper e degradar

o ambiente natural indefinidamente. E sendo a biosfera a fonte de todos os materiais que

alimentam a economia e o lugar de despejo de seus rejeitos, a economia tem de manter

um tamanho que seus ecossistemas possam sustentar (Merico, 1996).

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subsistemaeconômico

subsistemaeconômico

biosferafinita

biosferafinita

FIG. 1. Biosfera finita em relação ao crescente subsistema econômico.Fonte: Merico

(1996).

Caso o subsistema econômico ultrapasse a capacidade de sustentação dos

ecossistemas, os processos de manutenção da vida no planeta podem se romper. Como

não há a possibilidade de internalizar essa externalidade generalizada, representada pela

destruição dos ecossistemas básicos do planeta, uma alternativa é a incorporação da

destruição (externalidades) nos preços dos produtos e serviços.

A imposição de limites biofísicos sustentáveis é que determinará uma escala

adequada para a economia e evitará o rompimento desses ecossistemas. A capacidade

de sustentação destes será garantida quando forem seguidos os seguintes pressupostos:

a) não retirar dos ecossistemas mais que sua capacidade de regeneração;

b) não lançar aos ecossistemas mais que sua capacidade de absorção (Merico, 1996).

Um processo econômico é verdadeiramente sustentável quando três funções

ambientais críticas não são desrespeitadas, de acordo com Cavalcanti (1996):

a) de provisão de recursos;

b) de absorção e neutralização dos dejetos da atividade econômica;

c) de manutenção da oferta de serviços ambientais, desde as condições de amenidade

propiciadas pelo “verde” a funções como a de estabilidade climática.

Pearce e Turner (1991) acreditam que, se algo é proporcionado a preço zero, sua

demanda será maior do que se tivesse um preço positivo. A grande demanda pode

ultrapassar a capacidade do ecossistema de sustentá-las.

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Ter a idéia de quanto vale o ambiente natural e incluir esses valores na análise

econômica é, pelo menos, uma tentativa de corrigir as tendências negativas do livre

mercado.

A internalização de custos ambientais é um passo importante no controle do uso

dos recursos e serviços naturais, é fazer os consumidores pagarem o custo real do que

adquirem, ao invés de repassar indiscriminadamente esses custos à sociedade. Pode

conduzir também à adoção de meios mais eficientes de se conter a poluição e de uso

eficiente da energia e recursos.

Segundo Acselrad (1995), existem dois tipos de dificuldades à respeito da

internalização de custos ambientais:

a) dificuldades aparentemente “técnicas” de valorar processos ecológicos incertos e

heterogêneos;

b) dificuldades de identificar as fontes de legitimidade para fundamentar os valores

econômicos de tais processos e fazê-los valer nos mecanismos decisórios ou no

mercado.

A importância dos métodos de valoração ambiental decorre não só da

necessidade de dimensionar impactos ambientais, internalizando-os à economia, mas

também de evidenciar custos e benefícios decorrentes da expansão da atividade humana.

O valor pode ser interpretado de diversas formas, embora para Pearce e Turner

(1991) existam três relações dos valores ambientais adotados pela política e ética nas

sociedades industrializadas: valores expressos via preferências individuais; valores de

preferência pública; e valores do ecossistema físico funcional (FIG. 2).

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ValoresAmbientais

Preferências particularesdos indivíduos

Preferênciaspúblicas

Sistemas e processosfísicos

Valores fixados e medidosem termos de boa vontade

para pagar e sercompensado

Normas forçadaspela pressão

coletiva, p/meio deleis e regulamentações

Valores nãopreferenciais medidos em ciências naturais

FIG. 2. Relações dos valores ambientais. Fonte: Pearce e Turner (1991).

Apesar da idéia de evidenciar os valores monetários do ambiente natural parecer,

sob certos aspectos, imoral, ela se justifica pelo fato de que esses valores monetários

podem ser utilizados como padrão de medida, indicando ganhos e perdas em utilidade e

bem-estar.

A internalização dos custos ambientais do processo produtivo, para que cada

atividade tenha seus impactos propriamente contabilizados, é uma excelente ferramenta

para melhorar a alocação de recursos econômicos, mas é um processo que depende,

basicamente, da identificação de impactos ambientais e de sua correta valoração

econômica.

VALOR ECONÔMICO TOTAL

A idéia de se evidenciarem os valores monetários dos recursos naturais

justifica-se pelo fato de que esses valores podem ser utilizados como padrão de medida.

O valor econômico do meio ambiente tem sido objeto de intensa discussão.

O valor econômico total (VET) de um recurso consiste em seu valor de uso

(VU) em seu valor de não-uso (VNU) (Munasinghe, 1992 e Turner, 1991, in Figueroa,

1996). O valor de uso pode ainda ser subdividido em valor de uso direto (VUD), valor

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de uso indireto (VUI) e valor de opção (VO) (valor de uso potencial). O valor de

existência (VE) é uma das principais categorias do valor de não-uso. Pode ser escrito:

VET = VU + VNU ou

VET = (VUD + VUI + VO) + VNU

Desta forma, o valor de uso direto é determinado pela contribuição direta que

um recurso natural faz para o processo de produção e consumo. O valor de uso indireto

inclui os benefícios derivados, basicamente, dos serviços que o ambiente proporciona

para suportar o processo de produção e consumo. O valor de opção é a quantia que os

consumidores estão dispostos a pagar por um recurso não utilizado na produção,

simplesmente para evitar o risco de não tê-lo no futuro.

O valor de uso é atribuído pelas pessoas que realmente usam ou usufruem do

meio ambiente em risco, por meio de dados estatísticos. Os valores de uso direto e

indireto estão associados com as possibilidades presentes do uso dos recursos. Aquelas

pessoas que não usufruem do meio ambiente podem também valorá-lo em relação a

usos futuros, seja para elas mesmas ou para gerações futuras. Esse valor é referido como

valor de opção, isto é, opção para uso futuro ao invés do uso presente conforme

compreendido no valor de uso. O valor de existência é mais difícil de conceituar, já que

representa um valor atribuído à existência do meio ambiente independentemente do uso

atual e futuro.

Os valores de existência, de acordo com Marques e Comune (1996), são aqueles

expressos pelos indivíduos, de tal forma que não são relacionados com o uso presente

ou futuro dos recursos ambientais pela geração presente nem pelo possível uso que se

possa atribuir em nome da geração futura. O conceito de valor de existência aproxima

economistas e ecólogos, o que deverá proporcionar melhor e mais profundo

entendimento da questão ambiental, na tentativa de captar todos os valores que um

recurso ambiental possa conter.

As pessoas atribuem esses valores de acordo com a avaliação que fazem da

singularidade e da irreversibilidade da destruição do meio ambiente, associadas à

incerteza da extensão dos seus efeitos negativos.

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As categorias de valores de não-uso são o valor de existência (VE) e o valor de

legado (VL). Pode-se escrever, segundo Munasinghe (1992) e Turner (1991) in

Figueroa (1996):

VET = [VUD + VUI + VO] + [VE + VL]

O valor de opção é baseado em quanto os indivíduos estão dispostos a pagar pela

opção de preservar um bem para uso pessoal direto ou indireto no futuro.

O valor de legado, excluindo valores próprios dos indivíduos, é o valor que as

pessoas derivam do fato de que outras estarão aptas a se beneficiar desse recurso no

futuro (FIG. 3).

FIG. 3. Categorias de valores econômicos atribuídos ao patrimônio ambiental.

Fonte: Munasinghe (1992) in Figueroa (1996).

MÉTODOS DE VALORAÇÃO AMBIENTAL

Os métodos de valoração, segundo Merico (1996), de modo geral, não possuem

uma classificação rígida, portanto, podem ser utilizados diversos enfoques na aplicação

dos métodos, dependendo dos propósitos. Do ponto de vista didático, no entanto, torna-

Valor Econômico Total

Valores de usoe não-uso para

a próxima geração

Valores deLegado

- Hábitats- Mudanças irreversíveis

Valores deExistência

Valor doconhecimentoda existência

- Hábitats- Espécies em extinção

Valores deNão-Uso

Valores de Uso

Valor deUso Indireto

Benefíciosfuncionais

- Funções ecológicas- Controle de cheias- Proteção contra tempestades

Valor deUso Direto

O que pode serconsumido diretamente

- Alimento- Biomassa- Recreação- Saúde

- Biodiversidade- Preservação de hábitats

Valores deOpção

Valores de usofuturo direto e

indireto

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se interessante uma abordagem maleável desses métodos que permita alterações, se

necessárias, durante suas aplicações.

Assim, duas categorias de métodos de valoração ambiental podem ser

distinguidas da seguinte forma: métodos diretos e métodos indiretos.

MÉTODOS DIRETOS

Os métodos diretos podem estar diretamente relacionados com os preços de

mercado ou produtividade, e são baseados nas relações físicas que descrevem causa e

efeito.

Representam métodos que encontram bastante utilização para a valoração do

consumo de capital natural, principalmente quando se objetiva a contabilidade de

estoques de recursos naturais e sua dedução da contabilidade de renda (nacional ou

regional).

MÉTODOS INDIRETOS

Os métodos indiretos são aplicados quando um impacto ambiental, um

determinado elemento do ecossistema, ou mesmo todo um ecossistema, não pode ser

valorado, mesmo que indiretamente, pelo comportamento do mercado. Assim, esses

métodos repousam sobre a utilização de um mercado de substituição definido pela

análise dos comportamentos reais.

Procura-se com eles evidenciar as preferências individuais, que estão

relacionadas com as funções de utilidade. Incluem-se, principalmente, os métodos de

valoração contingente, custos de viagens e os valores hedônicos.

Em certos casos, quando mercados para bens e serviços ambientais não existem,

ou não existem mercados alternativos para se proporem substituições, há a necessidade

de se aplicarem métodos de valoração contingentes, isto é, com certo grau de incerteza.

Pode-se aplicar tais métodos para elementos da natureza, como a biodiversidade,

patrimônio paisagístico, áreas de proteção ambiental, áreas de lazer, ou qualquer outra

situação na qual não existam valores de mercado. A alternativa mais usada nesses casos

é o método de disposição a pagar.

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CONCLUSÃO

A transição do século XX para o XXI representa um desafio social e econômico.

Como o conhecimento, até pouco tempo, não estava associado à conservação do meio

ambiente, a evolução da espécie humana deu-se de forma absolutamente egoística, sem

a visão da autopreservação, buscando apenas mais conforto e mais prazer a qualquer

custo. O século XXI vai se caracterizar por uma nova e importante diretriz:

desenvolvimento com conservação das condições ambientais necessárias à

sobrevivência da espécie humana, isto é, desenvolvimento sustentável.

Para que uma sociedade seja sustentável, é necessário haver a integração do

desenvolvimento com a conservação ambiental. A política econômica pode ser um

eficaz instrumento para a sustentação dos ecossistemas e dos recursos naturais. Na falta

de incentivos econômicos adequados, as políticas e as legislações que visam à proteção

do meio ambiente e à conservação de recursos serão desconsideradas. Os sistemas

convencionais costumam lidar com o meio ambiente e suas funções como sendo

ilimitados ou gratuitos, desta forma, incentivam a exaustão dos recursos e a degradação

dos ecossistemas. Todas as economias dependem do meio ambiente como fonte de

serviços de sustentação da vida e de matérias-primas, portanto, os mercados e as

economias planejadas deverão se conscientizar do valor desses bens e serviços, ou dos

custos que a sociedade terá, caso os recursos ambientais sejam reduzidos ou os serviços

prejudicados.

Para haver um desenvolvimento sustentável é preciso que, do ponto de vista

econômico, o crescimento seja definido de acordo com a capacidade de suporte dos

ecossistemas. Contemplando objetivos ecológicos relacionados com a integridade dos

ecossistemas, com a preservação da biodiversidade, com respeito aos limites do meio

ambiente físico. Paralelamente, no plano social, o modelo de desenvolvimento

sustentável deve preocupar-se em promover a coesão e a mobilidade social, deve visar a

elevar a participação política dos cidadãos e respeitar sua identidade cultural,

assegurando-lhes o acesso ao poder e o desenvolvimento das instituições sociais. Para

que isso ocorra, é preciso uma revisão de grandes proporções em práticas e concepções

vigentes, integrando-se valores econômicos e ambientais.

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