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FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ASSOCIAÇÃO CRISTÃ DE MOÇOS DE SOROCABA UMA ANÁLISE DAS MULHERES NO FUTEBOL NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS CULTURAIS ANDRESSA ARAUJO FURQUIM SOROCABA 2020

UMA ANÁLISE DAS MULHERES NO FUTEBOL NA PERSPECTIVA … · (2005) e Louro (2000). Os resultados da pesquisa de reportagens sobre a 8ª Copa do Mundo das mulheres, no site Globo Esporte

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ASSOCIAÇÃO

CRISTÃ DE MOÇOS DE SOROCABA

UMA ANÁLISE DAS MULHERES NO FUTEBOL NA

PERSPECTIVA DOS ESTUDOS CULTURAIS

ANDRESSA ARAUJO FURQUIM

SOROCABA

2020

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ASSOCIAÇÃO

CRISTÃ DE MOÇOS DE SOROCABA

UMA ANÁLISE DAS MULHERES NO FUTEBOL NA

PERSPECTIVA DOS ESTUDOS CULTURAIS

ANDRESSA ARAUJO FURQUIM

Trabalho apresentado por ocasião de conclusão

das atividades de Iniciação Científica para a

direção da Faculdade de Educação Física da

ACM de Sorocaba, sob a orientação do Professor

Dr. Rubens Antonio Gurgel Vieira

SOROCABA

2020

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A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais

somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 1987, p. 13).

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as bruxas e feministas que lutaram pelas

oportunidades e direitos que temos hoje e em especial a Sandra, Milene e Giovana.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e irmãos, que me apoiaram nos momentos desafiadores e

incentivaram a concluir essa pesquisa. Aos amigos, pelas amizades verdadeiras e o

carinho.

A todos os professores e professoras, por todos os conselhos, pela paciência

e os ensinamentos com a qual guiaram o meu aprendizado, em especial ao professor

Rubens Gurgel por ter sido meu orientador e ter desempenhado tal função com

dedicação e louvor.

Ao GEPEF e PIBIC da instituição de ensino FEFISO, essenciais no meu

processo de pesquisa e escrita, e por tudo o que aprendi ao longo dos meses de

produção.

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RESUMO

Esta pesquisa se propôs compreender o campo teórico dos Estudos Culturais com enfoque no conceito de cultura e sua regulamentação, circuito da cultura e o sujeito pós-moderno. Compreende-se ser um campo favorável para os possíveis questionamentos buscados por meio deste, além de obter um ponto de vista diferente do hegemônico, no caso, visamos positivar a resistência das mulheres nos esportes. O objetivo principal é, através dos Estudos Culturais, compreender a cultura e as relações de poder. Por meio da análise cultural, investigar as representações de mulheres no futebol pela mídia e seus comentários. A pesquisa se baseia, principalmente nos estudos de Hall (2003), Woodward (2008), Bracht (2003), Stigger (2005) e Louro (2000). Os resultados da pesquisa de reportagens sobre a 8ª Copa do Mundo das mulheres, no site Globo Esporte em 2019, constataram comentários de opressão nas notícias, que são direcionadas a sua orientação sexual e características físicas. Conclui-se, nesta investigação, que mulher é uma construção discursiva cultural, e neste processo há opressões nos espaços de comentários do canal de notícias esportivas, devido as relações de poder em interação a cultura dominante.

Palavras-chave: Educação Física, Feminismo, Estudos Culturais.

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ABSTRACT

This research aimed to understand the theoretical field of Cultural Studies with a focus on the concept of culture and its regulation, circuit of culture and the postmodern subject. It is understood to be a favorable field for the possible questions sought through this, in addition to obtaining a point of view different from the hegemonic one, in this case, we aim to posit the resistance of women in sports. The main objective is, through Cultural Studies, to understand culture and power relations. Through cultural analysis, investigate the representations of women in football by the media and their comments. The research is based mainly on the studies of Hall (2003), Woodward (2008), Bracht (2003), Stigger (2005) and Louro (2000). The results of the survey of reports on the 2019 8ª Women's World Cup, on the Globo Esporte website, found oppressive comments in the news, which are directed at their sexual orientation and physical characteristics. It is concluded, in this investigation, that woman is a cultural discursive construction, and in this process there are oppressions in the commentary spaces of the sports news channel, due to the power relations in interaction with the dominant culture.

Keywords: Physical Education, Feminism, Cultural Studies.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

1 O CAMPO DOS ESTUDOS CULTURAIS ........................................................ 3

1.1 Cultura e sua regulamentação .......................................................................... 6

1.2 Sujeito pós-moderno ....................................................................................... 10

2 AS MULHERES NO ESPORTE MODERNO ................................................. 13

2.1 Mulheres e feminismo ..................................................................................... 15

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 20

4 ARTICULANDO MACRO E MICRO ............................................................... 22

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 31

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 32

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa é realizada na perspectiva dos Estudos Culturais (doravante

EC), devido ao quadro teórico permitir compreender como a cultura é regulada, algo

fundamental para possibilitar o questionamento da função das mulheres no esporte.

Em razão dos fundamentos dos EC de ativismo, esta análise articular com uma

determinada cultura marginalizada: mulheres jogadoras de futebol brasileiras.

Inicialmente, é importante ressaltar o pouco acesso da mulher no esporte e as

desigualdades sociais, que são mazelas sintomáticas1 que este trabalho se propôs a

tratar e compreender. Pois, a trama é mais complexa do que somente o acesso das

mulheres no esporte, existem barreiras sociais para os corpos, influenciadas de

acordo com as tendências defendidas em cada época, que contribuem para a

configuração das identidades.

Quando pequena todo fim de semana, logo depois de almoçar, eu e meus dois

irmãos mais novos íamos para a rua, entretanto, a maioria dos jogadores eram

meninos e não me deixavam jogar, não entendia por que isso acontecia. As feministas

vão questionar a criação das pessoas, acredito que foi diferente comparada com a

dos meus irmãos e um conceito que permeia estas questões é a cultura, existem

vetores que lutam pelo poder de hegemonia, produzindo representações 2das práticas

culturais – como o futebol ou os corpos das mulheres – e regulamentando as

identidades de acordo com a cultura consumida.

Aos domingos, assisto desde pequena “Esporte Espetacular”, em 2019, eu

assisti ao jogo da 8ª Copa do Mundo Feminina logo após do programa, importante

afirmar que foi a primeira vez de transmissão em televisão aberta e umas das

jogadoras tinha o mesmo nome que o meu, então me perguntei: Qual Andressa eu

poderia ter sido? Este momento me sensibilizou a escrever como forma de protestar,

assim como os escritores, mas, principalmente escritoras feministas do EC fizeram e

fazem.

Objetivo desta exploração, através da análise da cultural, questionar as

representações de mulheres no fenômeno esportivo. A metodologia é analisar as

mídias esportiva e seus comentários, interpretar os indícios que a presença das

1 Ofensas sofridos por uma população por meio da cultura devido as relações de poder. 2 De acordo com Hall (2016, p. 31) “a representação conecta o sentido e a linguagem à cultura”, portanto, para entender como a cultura acontece, é necessário estudar as representações.

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mulheres no esporte gera, uma mídia de grande alcance como a Rede Globo, no Brasil

em 2019, colabora na produção de identidades das mulheres, regulamenta a

subjetividade de todos que fazem a leitura dos conteúdos, portanto, como sensibilizam

os que acessam suas informações?

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1 O CAMPO DOS ESTUDOS CULTURAIS

EC, nome de um campo teórico, amplo e ramificado, que trabalha na área do

mundano, praticando posicionamentos políticos no meio social. Emergiram na década

de 1950, num período histórico de transformações temáticas e disciplinares globais.

Estuda questões políticas, feministas, raciais e étnicas, assim respondem as questões

sociais da história, vinculando com problemas sintomáticos atuais (SILVA, 2003).

Seu caráter múltiplo de interpretação da realidade, faz com que sejam

produzidas diversas formas de abordar uma situação problema, que expressa

sintomas provenientes das relações de poder. Se faz forte essa sua característica nas

palavras de um dos teóricos mais proeminentes dos EC, Stuart Hall (2003, p. 131),

“velhas constelações deslocadas, e elementos novos e velhos são reagrupados ao

redor de uma nova gama de premissas e temas”.

Outro campo de atuação nos EC, fora da intervenção nos discursos, é o foco

profundo entre a teoria e a articulação com uma determinada realidade, em outras

palavras, na ação propriamente dita, o ativismo na sociedade, “o pensamento não

reflete a realidade, entretanto se articula a partir dela e dela se apropria” (HALL, 2003,

p. 151), isso é, teorizando a prática política.

Além, do princípio, a construção dos conceitos não são fechadas e os dois livros

que iniciaram esta temática dos EC, são As Utilizações da Cultura de Richard Hoggart

(1973) e Cultura e Sociedade de Raymond Williams (1958), a princípio os livros não

apresentaram grandes atualizações, mas, tais contribuições foram essenciais para o

começo do quadro teórico e necessários para as rupturas com a tradição daquele

tempo – corrente marxista3. Receberam influência também, das correntes

estruturalista 4e culturalista5 e devido o foco na prática e ação, colabora para a união

das duas correntes teóricas, entretanto, a discussão da união é complexa e se trata

das ramificações do início dos EC no mundo (HALL, 2003).

A junção posteriormente se ramificou em seus determinados focos de análises,

formando com estas as principais bases do campo teórico até hoje. Converge a

primeira, que trabalha em discutir o papel da linguagem e o antropólogo Lévi-Strauss

torna-se a principal referência, esta considera que os humanos classificam

3 Influenciada por Karl Marx. 4 Período histórico que defende um conjunto que determinando as relações. 5Foco teórico na relevância da cultura para analisar a sociedade.

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mentalmente seu cotidiano, suas práticas e relações sociais, além das críticas e

questionamentos de como são classificados e regulados os meios de comunicação,

sobretudo, os discursos que circulam com mais força, são essenciais para

compreender esta vertente. Outro ponto, dessa primeira ramificação, é o trabalho de

identificar a produção de sentidos, ou seja, observar como as práticas carregam

significado e percorrer as amarras do pensamento e dos discursos (HALL, 2003).

Aprofundando na primeira vertente, que pode ser chamada de semiótica, e

estuda as leituras de outros teóricos e seus próprios conceitos, como os pensamentos

psicanalíticos de Lacan. Estes pensamentos emergem na experimentação de somar

potências teóricas discursivas, em torno da questão que somente do estruturalismo

não foi capaz de explicar, que foi o ponto temporal em seu início crítico ao marxismo

(HALL, 2003). Portanto, está pautada criticamente em Marx a segunda vertente, é a

questão que faltava no estruturalismo, a consideração ao sujeito em si ao que se

refere a estrutura geral.

Hall (2003) critica dizendo que a lacuna passava despercebida pelos teóricos

baseados somente em leituras estruturalistas marxistas. Ainda, a crítica considera que

anteriormente o sujeito era abordado no âmbito global e para a perspectiva de atuação

dos EC não se aplicava, porque o foco no micro é visto tanto quanto o macro (HALL,

2003). Cabe afirmar, que aconteceram outras críticas além das citadas acima, como

a contrariedade com a determinação de Marx com a relação do sistema econômico e

o funcionamento das sociedades e suas relações de poder. A cultura é deixada de

lado neste momento, a economia e como ocorre a produção da cultura são mais

relevantes (HALL, 2003). Logo, o lucro, mais-valia e mercado são as ferramentas

chaves para questionar o padrão da sociedade da época.

Existe crítica à limitação e reducionismo do alcance do sujeito no estruturalismo

de Marx, ponto que os estudiosos dos EC buscam nas leituras, uma tentativa de

responder a tais lacunas com o conceito de cultura, uma possível analogia com a

teoria marxista, seria o capital. As relações de base e superestrutura, em outras

palavras, Estado versus povo, não é deixado completamente de lado pelos EC é visto

como local de formação das crenças sociais do capitalismo moderno que combina

diversas características distintas em decretos de leis. O Estado detém poder de

produção e influência sobre a população, no entanto Hall elucida de outra maneira:

"em partes, a função do Estado consiste em unir ou articular em uma instancia

complexa uma gama de discursos políticos e práticas sociais" (HALL, 2003, p. 163).

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Por fim, a terceira vertente que fala sobre a diferença, levantando novas

interpretações do todo, o pensando a partir do olhar do outro, do diferente ou do

forasteiro, em que Hall cita o filósofo Althusser à questão da diferença, criando olhares

à questão do poder. Afirma a importância do pensamento no diferente e as diversas

categorias possíveis (HALL, 2003), ou seja, olhar para mais do limite das estruturas,

limite este que Hall aponta. Entretanto, contém a ressalva de que as fixações são uteis

para construir o conhecimento, na composição e forma da ideologia, entretanto, com

o cuidado de não causar inversão, tornando a diferença unidade, muito menos afirmar

que os argumentos presentes neste texto são fechados a somente uma interpretação

ou entender.

Stuart Hall (2003) discute, também, atravessado em seus textos sobre a

necessidade de articular com a realidade, teorizar sobre eventos históricos concretos

e sintomáticos, sem limitar a unidade simples é a capacidade que este texto se propõe

a executar. Logo, a relação entre o micro e o macro se torna um dos conceitos chaves

que move essa pesquisa, possibilitando realizar um estudo de caso, ou seja, uma

amostra de toda sociedade que representa uma determinada situação e tempo

correspondente.

Conclui-se, portanto, após apresentar as vertentes segundo Hall, que no

começo do campo dos EC, a cultura deixa de ser somente um ponto de vista e passa

a ser chave central para movimentar o pensamento. Os dois autores comentados,

Hoggart e Williams, centralizam a cultura nas questões sociais, afirmando que os

pensamentos das sociedades funcionavam determinados pelos sistemas econômicos

e as relações de trabalho, pois, o capital define o cotidiano e as relações pessoais.

Por conseguinte, a cultura passou a não possuir somente o papel de

ramificação nas análises da sociedade. A cultura toma para si a centralidade que era

do capital, passando a ser vista como ferramenta chave e tema central para

movimentar o pensamento dos EC (HALL, 2003). De acordo com Thompson, nas

palavras de Hall, cultura se toma uma dimensão maior e centralizada, ou seja, em

suas várias formas, ele conceitua a cultura como algo que se entrelaça às práticas

sociais. As práticas, por sua vez, se definem como as formas de agir numa tarefa

comum de atividade humana: como os discursos. Afirma ainda, que possibilita a

construção ativa de homens e mulheres na influência da história e a trajetória

mundana (HALL, 2003).

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Lembrando que o conceito de cultura carrega a premissa da teorização aberta,

melhor dizendo, ser um local de convergência de ideias onde nenhuma definição única

e não problemática possa ser adotada. A definição de cultura exibe tensão e a

limitação do campo teórico (HALL, 2003), além disso, é este complexo conceito, que

vai ser aceito para servir de ferramenta de análise e de foco deste trabalho.

1.1 Cultura e sua regulamentação

O conceito de cultura que vou adotar é uma arena de disputa de significados e

produção de discurso, entre diversos grupos de pessoas que lutam pela hegemonia.

A análise entre o macro e o micro dentro do discurso, como as pessoas são

subjetivadas pela cultura, como o circuito da cultura opera (HALL, 2003).

No livro A Diáspora, Hall (2003, p. 142) adotou o conceito de cultura em duas

dimensões, uma que entende que são “os sentidos e valores que nascem entre

classes e grupos sociais diferentes”. Assim, enraizados nos contextos históricos e a

segunda como aspectos que são incorporadas à rotina, aquelas entendidas como

práticas sociais (HALL, 2003). Portanto, cultura é tema central, nas questões ligadas,

de como ocorre o processo de regulamentação social, a moralidade e ao governo da

conduta social, possui influência na comunidade como um todo, por exemplo, ela

regula o jeito de se vestir, a forma de se comunicar, a alimentação, o local de

convivência, incluindo condutas e costumes:

É importante sabermos como a cultura é modelada, controlada e regulamentada, é que a cultura, por sua vez, nos governa, “regula” nossas condutas, ações sociais e práticas e, assim, a maneira como agimos no âmbito das instituições e na sociedade mais ampla (HALL, 1997, p. 39).

Nas ciências humanas e ciências sociais a cultura aparece com certa

frequência para estudar arte, literatura, religião e filosofia, sendo abordadas para

compreender como é o comportamento das sociedades, em certo sentido, a cultura

sempre foi importante e as ciências humanas e sociais há muito reconhecem isso

(HALL, 1997). Assim, na visão dos EC o conceito de cultura não é apenas uma

ferramenta chave visual, auditiva, constante e passível a transformações, ou seja, um

pouco diferente da concepção das disciplinas acadêmicas cientificas.

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A cultura pode ser analisada de duas maneiras distintas, a primeira

substantivamente, que seria de “estrutura empírica real” (HALL, 1997, p. 16), assim,

como discorre a organização do diário corriqueiro, instituições, e aspectos culturais na

sociedade, em uma situação histórica selecionada. A segunda epistemologicamente,

se referindo à influência da cultura as questões de contextos e “em como a “cultura” é

usada para transformar nossa compreensão, explicação e modelos teóricos do

mundo” (HALL, 1997, p. 16). Entende-se que na visão substantiva e no olhar

epistemológico, a cultura adquiriu importância na questão de análise das situações da

sociedade e o social globalmente. Ainda, nós não agimos por nós mesmo, mas

motivados por práticas anteriores, a história dita como atual é baseada nas condições

anteriores (HALL, 2003).

O ponto de conhecer como governar o processo pelo qual a cultura passa, toda

sua regulamentação, é necessário para compreender a importância dos estudos da

cultura, para os EC, pois, apresenta uma outra visão de análise para o problema em

foco “aqueles que precisam ou desejam influenciar o que ocorre no mundo ou o modo

como as coisas são feitas necessitarão – a grosso modo – de alguma forma ter

“cultura” em suas mãos, para moldá-la e regulá-la de algum modo ou em certo grau”

(HALL, 1997, p. 40).

Como se faz notar Kathryn Woodward (2008), em Identidade e Diferença: uma

introdução teórica e conceitual apresentando a teoria de Paul de Gay O Circuito da

Cultura, argumentando como a cultura é governada, regulada e organizada. O

desenho do circuito da cultura é como um fluxograma cíclico articulando com o

consumo, a produção, a regulação, a identidade e a representação:

FIGURA 1 – Réplica do Circuito da Cultura de Paul de Gay.

FONTE: adaptado de Woodward, 2008.

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É um mecanismo que teoriza explicando como a cultura é governada e como

ela governa, que ilustra os vetores de força capazes de influenciar e serem

influenciados continuamente, que disputam na sociedade para determinar qual

verdade é a divulgada. Mostra, como os significados dos discursos e suas mensagens

são construídas. A trama desse ciclo é a prática, que ativa e reforça a reprodução.

Outro ponto citado pela autora, é a necessidade de compreender a questão da

produção de identidades, os dilemas gerados em torno do assunto e os locais de

encontros do sujeito pós-moderno6, a autora afirma que para compreender como

estes sistemas operam, temos que conhecer como se dão as posições-de-sujeito no

social, o que elas produzem nos indivíduos e como os mesmos são posicionados

interiormente, ou seja, sua regulamentação (WOODWARD, 2003).

Nos EC a questão da regulamentação, é um ponto essencial para entender o

papel da cultura e sua influência nas relações interpessoais. O controle pode parecer

de livre escolha das pessoas, mas, é fortemente disputado, existem fronteiras

estruturadas, não quer afirmar que seja uma disputa de dois poderes, entre regulação

e liberdade, entretanto, entre diversas regulações, resultando na dificuldade de ter um

pensamento livre dessas amarras (VIEIRA, 2013) e este processo vem se

globalizando.

Com a globalização no final do século XX, os EC foram compartilhados

carregando a mensagem de quebrar diversas barreiras disciplinares ao analisar uma

mesma situação problema, “caracterizam-se por sua dimensão multidisciplinar, a

quebra das fronteiras tradicionais estabelecidas nos departamentos e nas

universidades” (ORTIZ, 2004, p. 121). Ponto de encontro com a fala de Ana

Escosteguy quando a pesquisadora cita em Uma Introdução aos Estudos Culturais a

intencionalidade de foco do quadro teórico, que seria a preocupação com as

demandas sociais, trabalhando com diversas disciplinas, observando a cultura popular

e os movimentos sociais (ESCOSTEGUY, 1998).

No que diz respeito as ações sociais do meio, ou seja, os comportamentos

decorrem de uma seguinte lógica, Hall em A Centralidade Da Cultura, define como:

Os seres humanos são seres interpretativos, instituidores de sentido. A ação social é significativa tanto para aqueles que a praticam quanto para os que a observam: não em si mesma, mas em razão dos muitos

6 Segundo Hall (2006), é a terceiro momento do sujeito, por conseguinte, a primeira é o sujeito do iluminismo e o sujeito sociológico.

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e variados sistemas de significados que os seres humanos utilizam para definir o que significam as coisas e para codificar, organizar e regular sua conduta uns em relação aos outros (HALL, 1997, p. 16).

O processo de significação é regulamentado por práticas sociais culturais

diariamente, exemplo na TV, matérias e reportagens sobre a prática de jogadores e

não jogadores, destacam a identidade do homem no esporte, enquanto é deixando de

lado o das mulheres no esporte e por consequência limitam a divulgação de diferentes

formas de identidades - "toda a nossa conduta e todas as nossas ações são moldadas,

influenciadas e, desta forma, reguladas normativamente pelos significados culturais"

(HALL, 1997, p. 41). De modo que tais práticas criam significados para o cotidiano das

pessoas, normatizando através de sistemas classificatórios e produzindo novos

sujeitos. De acordo com os significados culturais, criam cadeia linguística de

significados, o discurso mulher não sabe jogar bola, afirma também que homem sabe

jogar bola.

E as práticas corporais confirmam a continuidade das práticas físicas, que em

determinado contexto, exclui as mulheres no esporte, este recurso é uma das formas

de regular a cultura, em grupos menores comparar ações de acordo com os sistemas

de classificação cultural, entretanto, Hall (1997) adverte que o processo não é

simplesmente inverter essa chave. Por conseguinte, a cultura toma lugar, os vetores

que à governam se apresentam, firmes modelando e regulamentando o modelo de

regras da cultura, que engloba as práticas culturais sociais, exercendo poder sobre as

vidas dos indivíduos. As instituições que tencionam o jogo de poder, são do meio

econômico, o Estado, área política ou as relações sociais, e o processo dever ser:

Compreender o que há por detrás destas áreas de contestação moral e apreensão cultural é adquirir certo acesso indireto às correntes profundas e contraditórias da mudança cultural que se formam abaixo da superfície da sociedade. Fornecem também alguns indicadores preliminares das fragilidades que perpassam a política do corpo (HALL, 1997, 39).

Quem possui o poder governa a cultura e as tradições são criadas pelas

instituições, tais práticas são estruturadas em normas e sistemas classificatórios, e a

forma de regulação a ser analisada é a normativa, ou seja, as ações do sujeito “são

guiadas por normas no sentido de que, quando fazemos alguma coisa, temos de ser

capazes de prever seus fins ou os propósitos, de modo alcança-los” (HALL, 1997, p.

41).

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Segundo Hall (1997), a definição de regulação normativa é fundamenta nas

práticas corporais, com determinado propósito e intenção, por fim tem o objetivo de

tornar uma só cultura comum para todos, além disso, ocorre a diferença também.

Prontamente o processo de diferenciação, que é mais uma das formas de regular a

cultura, diferencia quem somos nós de quem são eles, o processo de criação de

fronteiras na regulamentação cultural através da normativa, seleciona “quem

pertence” (HALL, 1997, p. 42), isto é, quem realiza da mesma forma as ações é o nós,

diferente das nossas regras e jeitos é um outro ou o diferente.

Assim, todas as ações do cotidiano das pessoas são julgadas, segundo a

cultura dominante, enquanto do outro lado a cultura da diferença não possui poder de

governar a cultura com a mesma intensidade de força, “toda a nossa conduta e todas

as nossas ações são moldadas, influenciadas e, desta forma, reguladas

normativamente pelos significados culturais” (HALL, 1997, p. 41).

Portanto, compreender a importância do governo da cultura, requer a

preocupação de saber como são governados os meios de comunicação, assim,

compreender o papel de produzir que a linguagem conduz, que ao ser reproduzida

está operando na cultura e apontar os problemas latentes nas relações sociais e,

todas questões polemicas que os EC abordam, os “pontos de eclosão”, “as questões

não resolvidas, as tensões subjacentes, os traumas do inconsciente coletivo, nas

culturas das sociedades do modernismo tardio” (HALL, 1997, p. 39).

Processos globais de profunda mudanças, influenciam as práticas sociais e as

relações de poder, causam transformações na forma que é construída as identidades

do sujeito, seja intimamente ou no coletivo.

1.2 Sujeito pós-moderno

Adentrando no conceito de identidade, cabe afirmar que este é de um tema

complexo, estudado pelo campo, onde a todo momento está em construção e os

estudiosos buscam compreender mais sobre o conceito. Pois, todo o procedimento

ocorre no período da pós-modernidade e a identidade toma forma fragmentada,

descentradas e de caráter provisório (HALL, 2006).

Nesse aspecto, um ponto da questão levantado, é que as velhas identidades

que durante muito tempo foram estipuladas, como estruturas sólidas, - com ressalva

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se realmente foram sólidas - estão em decadência, sendo segmentadas “fazendo

surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um

sujeito unificado” (HALL, 2006, p. 7). Por conseguinte, as novas identidades chocam

com as identidades construídas anteriormente no espaço tempo, causando conflitos

no indivíduo moderno, que pode ser chamada de “crise de identidade”, que está

“abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem

estável no mundo social” (HALL, 1987, p. 7).

Assim, no final do século XX, os sistemas de deslocamentos acontecem com

mais força e fragmenta as concepções divisórias, entre elas as de classes

econômicas, o binarismo dos gêneros, orientação sexual, separação pela cor de pele

e identificação nacional. O que antes fora entendido como sólido, sofre uma

desestruturação de dentro e fora do indivíduo, seus alicerces socioculturais

construídos ao longo das épocas se torna cenário de uma crise, que está presente na

constituição de sujeito pós-moderno (HALL, 2006).

Por conseguinte, o indivíduo não possui essência, pode apresentar algum grau

de poder sobre si, porém, é resultado do meio que habita e estabelece contato, “somos

diferentemente posicionados, em diferentes momentos e em diferentes lugares, de

acordo com os diferentes papéis sociais que estamos exercendo” (HALL apud

WOODWARD, 2008, p. 31).

Segundo Hall (2006), o sujeito pós-moderno, surge do processo de

identificação, ou seja, um conceito central dos EC que situa uma disputa cultural, no

qual um dos processos é a idealização da própria identidade através da identificação,

acontece da projeção de nós mesmo nas identidades culturais da sociedade, com as

mudanças temporais se tornou mais provisório, variável e problemático. Assim, é

produzido o sujeito pós-moderno, a identidade antes fixa, essencial ou permanente,

hoje apresentada como instável, acontece de forma falha, vacilante e contínuo, além,

de mudar dependendo de como é interpelado, em outras palavras, a identificação não

é espontânea, mas pode ser adquirida ou excluída.

Logo, as manifestações culturais do indivíduo são fragmentadas, entretanto,

ocorrem resistência, ou seja, apesar de todo processo de mudança, há alguns

comportamentos que ainda são defendidos, bases sólidas do passado “as identidades

nacionais e outras identidades locais ou particulares estão sendo reforçadas pela

resistência a globalização” (HALL, 2006, p. 69).

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Entretanto, no mundo globalizado, a cultura circula muito rápido e as

identidades são híbridas, que passam pelo processo desprendimento do seu lugar

dito como fixo, ocorrendo uma fragmentação em todo sistema em rede, através do

processo de regulamentação e acelerando-o em escala global (HALL, 2006). Nas

relações sociais, todo sistema das sociedades passa a ser veloz e a identidade vai

sofrer influência da globalização devido as coordenadas “o que é importante para

nosso argumento quanto ao impacto da globalização sobre a identidade é que o tempo

e o espaço são também as coordenadas básicas de todo sistema de representação”

(HALL, 2006, p. 71).

De acordo com Hall (2006, p. 75) a vida social está mediada "pelo mercado

global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da

mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados" e diante desse fato

as identidades se tornam fluídas. Além disso, existem as identidades nacionais que

procedem de um processo de identificação “essas identidades não estão literalmente

impressas em nossos genes, entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se

fossem parte de nossa natureza essencial” (HALL, 2006, p. 47).

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2 AS MULHERES NO ESPORTE MODERNO

A questão do esporte moderno, que nasce na Inglaterra no final do século XIX

e início do século XX, é um exemplo de que toda tradição é inventada; conforme a

estratégia discursiva chamada por Hobsbawm e Ranger de invenção da tradição, quer

afirmar que um grupo de significações e ações é criado (HALL, 1992).

Por consequente, as práticas defendidas hoje são invenções do passado,

ocorre uma transferência dos valores do passado até o presente. Essa tradição é uma

fonte de significados culturais, conduz um processo de identificação e cria um sistema

de significados. Esta teoria também é citada por Marcos Stigger (2005, p. 21), o autor

entende o termo da seguinte forma “conjunto de práticas, normalmente reguladas por

regras táticas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica,

visam inculcar certos valores e normas de comportamento através de repetição”.

No livro Educação Física, Esporte e Diversidade, Stigger (2005), descreve dois

pontos de vistas para o Esporte, um provindo de uma rede histórica muito distante,

onde guerreiros após ganharem uma batalha, utilizam as cabeças dos derrotados

como uma espécie de bola, para jogar algo parecido com o atual futebol. A segunda

vertente do nascimento do Esporte, como sendo a forma institucional, ou tradição

inventada. Buscando a definição de esporte, o escritor considerado que Esporte fora

analisado pelas ciências sociais, como um tema isolado e simplório, entretanto, para

ele, passa a receber atenção de estudiosos, que estudam por diversos pontos de vista,

uma conexão possível com o tema cultura, antes analisado pelas ciências sociais e

humanas como conceito simples, a partir da metade do século XX, recebe tamanha

importância pelas mesmas ciências (STIGGER, 2005).

Outro ponto levantado pelo autor, é o posicionamento aberto da definição de

esporte e a sua visão contrária ao conceito rígido construído, quando o objetivo é

compreender fenômenos e realidades culturais. Isso porque “esses conceitos ao invés

de serem esclarecedores, poderão mostrar-se obscurecedores e redutores de

qualquer realidade em estudo” (STIGGER, 2005, p. 5). Portanto de modo geral, o

conceito de esporte descrito no início do livro e que adoto é:

O esporte se evidencia de forma global, trazendo consigo uma lógica e características padronizadas que o distinguem de outras práticas sociais, que lhe conferem uma homogeneidade capaz de permitir a realização de trocas esportivas em escalas mundiais (STIGGER, 2005, p. 9).

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Um fator importante do compartilhamento do esporte no século XX é a

globalização, conceito dos processos efetivos numa escala global, que ultrapassam

fronteiras nacionais e conectam comunidades e organizações em novas combinações

de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais

interconectado (MCCREW apud HALL, 2006).

Stigger (2005) comenta a linha do tempo - que Guttmann idealiza - do esporte

no contexto a seguir: “o esporte primitivo, o esporte grego, o esporte romano, o esporte

medieval e, finalmente, o esporte moderno” (GUTTMANN apud STIGGER, 2005, p.

13). Em torno de 1800, os jogos populares sofrem um declínio porque os processos

industriais e urbanos geram novas formas de condições de vida, dos quais tais jogos

não compunham mais o estilo na época a emergir (DUNNING apud BRACHT, 2003).

Visto que, os jogos populares vão perdendo força, no entanto, nas escolas

públicas permanecem presentes e nestes locais vão se desenvolver a ponto de se

formalizar e gerar os grandes esportes de modernidade, como o futebol (BRACHT,

2003). O discurso da identidade do esporte está presente na cultura nacional, pois

palpita um ponto de vista, é uma forma de poder, assim, não se passa simplesmente

como uma razão de união ou ponto de identificação para a unificação, entretanto, uma

organizada estrutura de inter-relação poder e cultura (HALL, 2006).

Dentro do fenômeno futebol, por ser considerado um espaço dos homens, as

mulheres são subjugadas como faz notar o artigo Preconceito No Futebol Feminino

No Brasil: Uma Revisão Narrativa:

[...] o preconceito no futebol feminino no Brasil ainda é muito predominante e um dos fatores principais que contribuem para que esse preconceito fique alojado é a nossa própria sociedade que criou seu padrão e modo de visão em relação às mulheres (FERREIRA et al., 2018, p. 126).

Outro aspecto levantado, é que as mulheres sofrem preconceito ao adentrar no

mercado esportivo, os “salários menores, menor visibilidade por parte da imprensa,

campeonatos com menos apelação midiática” (FERREIRA et al., 2018, p. 120), que

resulta em desmotivação da prática pelas mulheres desde pequenas, pois,

deslegitimar o trabalho e a trajetória das atletas.

Os autores enfatizam sobre o cenário na competição brasileira feminina,

apontando a mídia como veículo de fala que fortalece a desvalorização das mulheres

no esporte, devido à falta de representatividade, que enaltece o mito de fragilidade do

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sexo feminino, prejudicando assim as conquistas no mercado e direitos das jogadoras

(FERREIRA et al., 2018). Portanto, para analisar os julgamentos da população de

mulheres e seus reflexos sintomáticos, que são frutos das relações de poder da

sociedade, os meios de comunicação se fazem uma peça chave de compreensão e

articulação com o real. Existem grupos que veem estudando tais questões, com

ênfase na segunda metade do século XX.

2.1 Mulheres e feminismo

Assim, os anos 60 abriram brechas para um debate que não havia antes,

revolucionando as identidades historicamente determinadas, levantando

questionamentos sobre identidade de gênero e orientação sexual, ramificando-se nos

movimentos feministas e homossexuais, ou, aqueles que pensavam diferente da

lógica culturalmente hegemônica (LOURO, 2000).

Antes dessas transformações sociais desse contexto sócio-político, a

identidade dos sujeitos, assim como a das mulheres foram uma identidade universal,

descentralizando esse conceito Beauvoir (1967, p. 7) questiona “ninguém nasce

mulher: torna-se mulher” ainda, qualquer que seja o fator biológico, mental ou classe

social, determina o que é ser mulher em uma sociedade. Por conseguinte, há décadas

que os relacionamentos estão se fragmentando, se multiplicando e se modificando,

gerando diversas manifestações da identidade, que são denominadas para além das

fronteiras.

Compreende-se pela identidade mulher de acordo com as autoras citadas, de

modo geral, uma construção social que forma o sujeito pós-moderno, o que antes

parecia ser uma identidade sólida e universal, passa a ser considerada como uma

“celebração móvel” (HALL, 1987, p. 13). Em relação a constante global dos

significados, a teoria de uma história única do livro O Perigo De Uma História Única

(2019) da escritora negra e ativista Chimamanda Adichie, articula como o poder de

uma única trajetória sobre um povo, repetida em grande escala e longo período, é

tomada como verdade original, ou seja, quem possui mais controle de significar os

fatos, pois, selecionar como é contada e, repetida vezes a mesma trajetória sobre uma

cultura, resulta por fim, em definir como essa população deve ser.

O conto que é decidido a ser passada para frente, passa a ser conhecida

globalmente, ganha força e é dita como verdade. Acarreta um único pensamento

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sobre toda uma rica cultura, pois, por não apresentar representações da resistência

desse povo, motiva um genocídio silencioso das histórias dos povos. Por conseguinte,

ocorre assim com a identidade das mulheres, pelos discursos que circulam a respeito

dessa criação, são definidas as barreiras de ser mulher, qualquer expressão que não

se encaixem nas características selecionas, são nomeadas e ridicularizadas.

Em Louro (2000), há um exemplo de notícia de jornal, onde uma prefeita,

mulher transgênero pronuncia a comunidade a sua nova identidade, ou seja, antes

perante a sociedade, a líder da cidade era reconhecida por ser homem e

posteriormente se tornou mulher. Enaltecendo a reação da população que julgaram

uma possível alteração de qualidade no trabalho da prefeita. Outro ponto,

pressupondo que exista uma essência própria em cada pessoa acredita-se que possa

ser mudada conforme as identificações de gênero, assim, o gênero deixa de ser uma

simples classificação do indivíduo, para passar a ser território de disputa.

Mais um argumento da autora, é o conceito de “marcas” biológicas” (LOURO,

2000, p. 8-9) pontua a questão visual, como se reconhece que determinada pessoa é

de um certo gênero, também é um processo de significá-la as características.

Portanto, a escritora nomeia os meios de efetivar as marcas “família, escola, mídia,

igreja, lei participam dessa produção” (LOURO, 2000, p. 15), os dois primeiros núcleos

citados são grandes impressores de educação sexual, assim, são centros de regular

quais características são afirmadas ou negadas e os dois seguintes, apresentam

signos variantes, porém, determinantes na formação do sujeito e o último, é o

resultado da construção da sociedade de cada cultura.

Quando um fenômeno acontece repetidamente, no caso os discursos

pejorativos, que são criados e ensinados no meio social, “desde muito cedo, piadas e

gozações, apelidos e gestos para dirigirem àqueles e àquelas que não se ajustam aos

padrões de gênero e de sexualidade admitidos na cultura em que vivem” (LOURO,

2000, p. 19), ou seja, a sexualidade não é somente uma característica intima de cada

pessoa, mas, uma questão político-social, fora afirmar que é um processo, formado

por um conjunto de práticas diárias, discursos e representações, profundamente

cultural e plural (LOURO, 2000). O processo de construção dos gêneros binários, são

forjados nas relações sociais, que possuem pontos de tensão que depende de poder.

Que se desenvolvem dentro de uma determinada cultura, ou seja, a cada tradição as

significações mudam, sejam seus significados e representações (LOURO, 2000).

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Outro ponto citado por Louro (2000), é a necessidade do “outro” para a

formação e definição das identidades representadas na comunidade, seja na sua

produção global ou no íntimo de cada indivíduo. Esse processo é violento e de

inferioridade, ocorre delimitando as fronteiras de semelhanças e de diferenças de

características das identidades, por conseguinte, rotula qual corpo é desejável para a

execução de um determinado esporte, existe também uma seleção de uma identidade

central e outras marginalizadas. Alguém que não partilha das mesmas semelhanças

físicas é condenado a ser diferença, ou melhor, o primeiro padrão a ser atingido é o

homem e a mulher é o segundo sexo (LOURO, 2000).

O livro O segundo sexo com título provocador da filósofa Simone de Beauvoir,

a autora argumenta que a representação das mulheres é formada e subjugada por um

grupo, na introdução do seu livro escreveu: “educadas por mulheres, no seio de um

mundo feminino, seu destino normal é o casamento que ainda as subordina

praticamente ao homem” (BEAUVOIR, 1967, p. 7), se trata de uma denúncia de como

se dá a cultura, da submissão das mulheres aos homens. A autora considera também,

quais as forças que sustentam este processo: “o prestígio viril está longe de se ter

apagado: assenta ainda em sólidas bases econômicas e sociais” (BEAUVOIR, 1967,

p. 7). Portanto, as relações sociais e econômicas geradas sob desigualdades resultam

em conflitos e a escritora argumenta resistindo sobre tais vetores de força que

estimulam a diminuição das mulheres e suas amarras limitantes.

Por outro lado, a superestrutura teoricamente propaga certos discursos em que

as mulheres devem agir de “correta” maneira e nesse processo aponta quais outros

costumes ficam de fora nessa classificação e não devem ser seguidos ou realizados.

Presumindo que a base, seguirá de forma ordenada, sistêmica e determinada as

ordens, isto de forma geral na população de mulheres. Nos discursos que dialogam

no campo da diferença, novas interpretações do todo são semeadas, por exemplo, as

diferentes vertentes no movimento feminista mundial. Há repartições do macro,

formam ramificações específicas que refletem a criação de sujeito em diferentes

culturas.

Em 1990, Butler coloca em questionamento o posicionamento das correntes

feministas sobre a questão entre sexo e gênero resultando na identidade feminina da

mulher, inicialmente com o Livro Gender Trouble: feminism and the subversion of

identity (FIRMINO; PORCHAT, 2017), ou seja, ela questiona a palavra mulher, que

vem de uma construção masculina e social. Na introdução do artigo Feminismo,

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Identidade e Gênero em Judith Butler: Apontamentos a Partir de Problemas De

Gênero, os autores reforçam que a discussão entre sexo e gênero é longa nas áreas

de conhecimento, como a da educação ou das feministas, e apresenta limites da sua

conclusão algum dia.

No entanto, fornece pano de fundo para os movimentos sociais. Butler se

aproximar dos Estudos Culturas e teoriza as transições dos entenderem sobre o sexo

ser determinados pela biologia da pessoa. Ainda, considerar gênero uma construção

social, porque toda trama remete a uma questão de poder. (FIRMINO; PORCHAT,

2017). Portanto, Butler critica a identidade feminina como ativa no feminismo, por estar

funcionando na lógica dual, além, da consequência de exclusão dos sujeitos que não

se enquadrem na descrição de mulher. O foco de articulação da autora, seria como a

produção de identidades acontece e um estudo das relações de poder se mantem

(FIRMINO; PORCHAT, 2017).

Adichie (2012, p. 33), define o sujeito feminista como “a pessoa que acredita

na igualdade social, política e econômica dos sexos”, assim, demonstra o caráter

ativista do movimento que uma das premissas é que questionam como as mulheres

são criadas, importante ressaltar que esta é uma das visões sobre o que é o

feminismo. Ainda, quando as lutas buscam equidade e igualdade é estabelecido uma

competição para as mulheres atingirem o padrão: homem. Por conseguinte, o

caminho é a existência plena dos corpos e uma das maneiras é a influência da família.

A criação é influenciada pelo acesso de representatividade nas mídias, que são

diferentes entre os gêneros masculinos e femininos. Segundo a escritora nigeriana,

da seguinte forma:

Nós ensinamos meninas a se encolher, para se tornar menor. Nós dizemos para meninas: "você pode ter ambição, mas não muito, você deve procurar ser bem-sucedida, mas não muito bem-sucedida, caso contrário, você ameaçará o homem". [...] porque eu sou mulher e esperam que eu aspire a casamento, esperam que eu faça minhas escolhas de vida sempre tendo em mente que o casamento é o mais importante. Agora o casamento pode ser uma fonte de alegria, amor e apoio mútuo, mas por que ensinamos meninas a aspirar ao casamento e nós não ensinamos meninos o mesmo? [...] nós criamos garotas umas para as outras como concorrentes, não para empregos ou para realizações, o que eu acho que pode ser uma coisa boa, mas pela atenção dos homens. Nós ensinamos meninas que elas não podem ser seres sexuais na maneira que os meninos são. [...] (ADICHIE, 2012, p. 33-35.).

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Somos produzidos pela cultura da sociedade, principalmente pelo meio que

vivemos, ou seja, o micro e acontece de forma naturalizada, as mulheres são

constantemente castradas, por exemplo pela própria família, escola ou religião.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Morais (2016) afirmou o comprometimento da análise cultural como as mazelas

sociais que aparecem com as práticas da sociedade selecionada como estudo de

caso, motivo dessa pesquisa, atingir as questões sintomáticas de comunidade e

oferecer respostas a essas mazelas, articulando entre macro e micro, em um grupo

específico e em dado lugar. Uma análise cultural tem como foco, interpretar os dados

referentes a comunicação. Como caráter dos Estudos Culturas, este procedimento é

uma construção teórica que não recorre a definição, entretanto, vincula com questões

políticas e articula com a produção e o consumo cultural (MORAIS, 2016).

Cabe citar o trabalho de Hall (1997), que afirma a centralidade do conceito

cultura, como central e locomotor do pensamento analítico, compreendido como

campo de disputa, de diversos grupos, referente ao processo de significação e

produção do discurso. Portanto, os trabalhos dos autores influenciados pelos EC no

campo da comunicação, problematizam as produções de sentidos, investigando os

programas televisionados, observam que são fartos de significados em potencial.

Constatam também, que a “significação torna-se objeto de investida por parte da

ideologia dominante na tentativa de propor um sentido preferencial, articulado com os

seus interesses” (ROCHA, 2011, p. 6), assim, existe uma trama complexa midiática

que argumenta e elabora conteúdo com propósito, esse processo necessita de

questionamento.

A dedicação dos pesquisadores da análise cultural, relacionam olhares teóricos

e processos metodológicos, demais, centralizando a cultura (ROCHA, 2011).

Portanto, uma ferramenta que orienta a pesquisa dos fatos sociais e qual sua

produção de sentido. Segundo Morais a análise cultural “é como um instrumento de

análise cujo vínculo com o materialismo cultural se dá na relação do método analítico

com o método de abordagem” (MORAIS, 2016, p. 30).

Sob outra perspectiva, análise cultural é a articulação com a produção e

consumo cultural. Evidenciado O Circuito da Cultura de Paul Du Gay, já citado nessa

pesquisa através da Kathryn Woodward (2008), apresento para reforçar esse ponto,

Morais (2016) definindo como:

Para as pesquisas em comunicação, a articulação comum aos circuitos da cultura é, sobretudo, uma forma de apresentar as relações entre a esfera produtiva e suas representações midiáticas e as

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maneiras pelas quais os sujeitos se apropriam das mensagens, como as decodificam e delas fazem uso em suas vidas privadas (MORAIS, 2016, p. 34).

Nesse seguimento, as análises do texto televisivo buscam entender e

interpretar a comunicação que surgem nos programas, no caso os códigos, que são

os resultados da tenção ligação entre produtores, conteúdo e telespectadores,

reconhecer o arranjo de cruzamentos de informações que opera com as relações de

poder da sociedade (MORAIS, 2011). Refletindo e relacionando as relações de poder

das práticas sociais, procurando os signos, ou melhor, padrões que se repetem, além,

das fugas, no caso a diferença. De acordo com Rocha (2011), os EC, questionam a

televisão, analisando a partir da abordagem cultural. Fortalecendo o estudo político

teórico, devido ao caráter analítico.

Diante do exposto, em 15 de maio de 2020, através do site

globoesporte.globo.com, foi realizado uma busca, por data personalizada na página

de busca, entre os dias 7 de junho a 7 de julho, afinal, a 8ª Copa do Mundo de Futebol

Feminino da Fifa foi realizada na França em 2019 nesse período. Com as seguintes

palavras chaves: Copa do Mundo de Futebol Feminino.

Por conseguinte, está pesquisa iniciou com a premissa de compreender os

vetores de força através de uma rede de informações sobre esportes, entretanto, com

o decorrer da escrita, identificou uma mudança de foco na investigação, dos textos de

notícia para enaltecer os comentários. Os comentários funcionam dentro do circuito

da cultura, analisando-os como reflexos de certas representações hegemônicas, que

possuem mais poder na disputa por significados.

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4 ARTICULANDO MACRO E MICRO

Faz-se necessário o enfoque de olhar sobre uma cultura de sociedade, como a

sua regulamentação é estabelecida e suas relações de poder com suas amarras.

Assim, as identidades que se sobressaem e quais vetores que representam a

diferença são ofuscados. Cada sociedade possui a sua cultura específica de como

viver, o jeito de se vestir, a forma de se comunicar, condutas e costumes. As diferentes

formas de significar a realidade, permeiam as relações de poder, que apontam o mais

“forte” e o mais “fraco”, em outras palavras, homem e mulher.

O preocupante em estabelecer um padrão, é que toda e qualquer diversidade

é negada ou excluída. Hall (2003) pontua os vetores de força, como o Estado, que

transmitem e transformam significados da constituição de família e as relações de

poder, incluindo as de gênero, que determinam o certo e errado, diferenciando o bom

do ruim, isto é perigoso, uma vez que corpos são únicos, com características

específicas e expressões diferentes. Se torna essencial uma reflexão sobre como

funciona as relações de poder, buscando articular na construção das identidades de

mulheres no esporte, com referencial de trabalhar entre o macro e o micro, esta

pesquisa selecionou um grupo, mulheres no futebol brasileiro. Pretende-se analisar

as notícias sobre este tema.

Diante do exposto, selecionamos como fonte empírica o seguinte contexto:

notícias e seus comentários do esporte futebol sobre mulher, pelo site Globo Esporte

da emissora Globo, no período da 8ª Copa de Mundo Feminina, França 2019,

portanto, de 7 de junho de 2019 a 7 de julho de 2019, pelo site

https://globoesporte.globo.com/. Mediante essa pesquisa no site citado, encontrei 4

reportagens, a primeira delas foi ''Qual é, qual é...futebol não é pra mulher?'': conheça

a história por trás do hino da Seleção na Copa, do período do começo da competição,

e comenta que conforme os jogos foram acontecendo, a torcida brasileira alimentou

sua esperança em obter bons resultados na competição com a Seleção

(KESTELMAN; BASTOS, 2019).

Portanto, quando a atacante Cristiane, marcou três gols no jogo contra a

Jamaica e escolheu a música7 Jogadeira, criada pela jogadora do Corinthians Cacau

7 [...] Desde pequena muito preconceito, Aqueles papo futebol não é pra mulher, Mas aprendi a dominar no peito, Pôr no chão e responder com a bola no pé [...] Se você pensa que é fácil, A vida dessa mulherada, Mas não é não, cê tá enganado, Antes de jogo não tem balada, Além de muito treino e

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com a ex-jogadora Gabi Kivitz, para comemorar a vitória, não imaginava que a partir

daquele momento essa determinada canção se tornaria um hino de grande motivação

e inspiração para a Seleção feminina. Para alguns, o discurso da notícia repercutiu de

forma negativa ou de forma repudiando as jogadoras (que representa o grupo 1), para

outros, positiva, simbolizou força, empoderamento e ato de resistência (que

representa o grupo 2). De forma limitante, tomarei como grupo 1 os que comentam de

forma a negar as práticas sociais das jogadoras e das mulheres sem serem jogadoras,

e o grupo 2 os que afirmam o trabalho das envolvidas.

No espaço aberto a comentários públicos da reportagem, em que as pessoas

exerceram o direito de se posicionar, expor o que pensam e se expressarem, gerando

uma discussão pelo poder da verdade ou aquele pensamento que se sobressai.

Especificamente nessa reportagem, ao todo foram analisados um total de 71

comentários e deste retirados 98 deles para se tornarem exemplos dos dois grupos.

No que se diz respeito aos comentários elaborados pelos leitores e leitoras referente

a reportagem cita acima, representando o 1º grupo, selecionei as seguintes opiniões:

FIGURA 2 – Comentários a respeito da 1° reportagem.

FONTE: Globoesporte, 2019.

O comentário que consideram os corpos femininos das jogadoras de futebol

muito masculinizados, como um aspecto negativo, remete a como a prática está

associada ao homem. Também, sintetizar o argumento de “marcas biológicas”

(LOURO, 2000, p. 8), em que ocorre o almejo da imagem corporal ser bela, ou seja,

dedicação, Não tem final de semana nem feriadão, E se quiser pagode só tem no buzão [...] (primeira reportagem citada). 8 Segundo o site os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e nesta pesquisa

foram colocados no anonimato.

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a ênfase num corpo frágil e fraco das mulheres jogadoras. Entretanto, o esporte com

mais presença de combate - como o futebol diferente do vôlei - solicita maior trabalho

muscular, que pode e muitas das vezes gera, um corpo musculoso ou como dito,

masculinizado e há pensamento, que afirmam o corpo musculoso como novo padrão

para os corpos das mulheres, jogadoras ou não, porque a todo momento com a

globalização, está movimentando novas identidades para as representações a

produção de significados.

Ainda sobre a questão9 de normatizar os corpos, regulamenta a interpretação

das competências como atletas, ou seja, seus desempenhos. Que ela tem que ser

forte para jogar como os homens, entretanto, não pode ser masculinizada. Este é o

processo de significar as características individuais, e mediante certos detalhes

afirmar qual corpo pode existir e qual deve ser negado. Se tratando de um esporte

profissional, se espera que as atletas sejam treinadas para esse nível, por isso, seus

corpos corresponderam a estímulos de forma expressiva, com altos níveis de

treinamento resulta em músculos definidos e fortes.

Portanto, o corpo musculoso é destinado para o masculino e o feminino frágil e

o papel maternal. Analisando pela ação, são as mesmas regras, possui uma

vestimenta semelhante ou até mesmo igual e possui o mesmo objetivo, aquele time

que marcar mais gols até final da partida, é o vencedor. Concordo que são jogos entre

jogadoras e jogadores são diferentes, com dinâmicas e suas particularidades

especificas, porém, o que mais se difere é por se tratar de ser um jogo entre mulheres,

assim, uma classificação de corpo que prediz que é inferior e subjugado. Prática ao

mesmo tempo, a regulação dos corpos e produzindo identidades de mulheres, que

deve praticar o esporte com determinado corpo.

Se encaixar numa determinação é impossível, desnecessário e doloroso, já que

a pessoa vai procurar ser o que não pode ser e nem deve ser, resultando numa

existência infeliz. É ir contra o propósito de cada um, já que cada indivíduo tem algo

dentro de si que se destaca dos outros, ser diferente da norma é ir contra o sistema

capitalista, afinal de contas o corpo é biológico, mas também político, social,

emocional e afetivo. O que Ferreira et al (2018) vai chamar de mito de fragilidade,

explica alguns comentários que escreveram a palavra fragilidade, caracterizam-se

como defensores deste pensamento sobre o sexo feminino e reforça a crença de que

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as mulheres foram feitas para a maternidade. O olhar entre homens e mulheres da

sociedade, em quais condutas sexuais são aceitas, e o mais primordial, por quais

corpos são aceitas tais condutas.

FIGURA 3 – Comentários a respeito da 1° reportagem.

FONTE: Globoesporte, 2019.

A sociedade na sua trajetória, glorifica as expressões ditas masculinas, o

homem é o parâmetro de comparação da figura da mulher, que por sua vez é dita

como inferior. Para uma visão igualitária dos corpos, é preciso lutar contra esses

vetores de força, regulamentar contra esses princípios para ressignificá-los.

Alguns comentários dizem que as jogadoras devem conciliar futebol com

família, reflexo da construção de que a mulher nasce para gestação e a maternidade.

O curioso é que esta cobrança não é destinada aos homens. Além disso, há

comentário em que se pergunta se a jogadora Cris é igual a Marta, se refere a

orientação sexual das jogadoras e, um comentário mais a abaixo concordando com o

anterior, considera que as duas são anormais, ou seja, um caráter de julgamentos

sobre qual sexualidade é a correta que demonstra uma moral religiosa:

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FIGURA 4 – Comentários a respeito da 1° reportagem.

FONTE: Globoesporte, 2019.

De acordo com Louro (2000) a orientação sexual de cada um não se limita a

uma característica pessoal, mas, uma questão político-social que se relaciona com a

produção do sujeito pós-moderno. A religião é uma grande fonte de formador de

opinião, de ditar regras a serem seguidas e pelo que demonstra, é um canal de

verdade que oriente a esse tipo de pensamento. Ainda que o jogo de futebol em si,

não sofra influência da crença de Deus na sua execução de movimentos e técnicas.

Existem os comentários que respondem as opressões escritas acima,

representando o grupo 2 que afirmam o espaço das jogadoras, esses comentários

defendem que os corpos das mulheres não sejam julgados, assim como qualquer

outro corpo não deve ser comentado, o comentador analisa, também, que o esporte

pede o desempenho físico:

FIGURA 5 – Comentários a respeito da 1° reportagem.

FONTE: Globoesporte, 2019.

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A segunda reportagem de análise é Pioneiras relembram proibição do futebol

feminino e mandam recado à Seleção na Copa: Ex-jogadoras do Araguari Atlético

Clube contam frustração vivida no Brasil há seis décadas e acreditam em conquista

inédita de Marta e companhia, evidencia os preconceitos sofridos nos passados e

como atualmente o cenário é diferente, como melhorou e incentivando a carreira das

jogadoras atuais (PAPEL, 2019). No entanto, esse discurso deve tomar cuidado,

porque existem muito campo a ser vencido, espaço para serem reconhecidas e para

terem visibilidade. O perigoso de olhar para o passado e comparar com o presente,

mas, sem senso crítico de que a luta ainda não acabou, silencia as mulheres que

estão lutando no agora. Ouvir os dois lados e reconhecer as debates e vitórias de

cada tempo, é um possível caminho de respeito.

A terceira reportagem Na final da Copa, duelo entre a ''tradição e a ascensão''

mostra novo cenário do futebol feminino, comentar que com os incentivos financeiros,

as seleções crescem e se desenvolvem (KESTELMAN, 2019). Evidencio que, após

um mês de competição, os comentários desta notícia, apresentaram mudanças, de

uma discussão por significados, para uma disputa futebolística, por exemplo, qual

jogadora em qual posição fica melhor e com bem menos opressões verbais

direcionadas a jogadoras, não que devem ser esquecidas, entretanto, me parece que

ouve uma mudança, sutil, entretanto, diferente daquela primeira reportagem

analisada.

Ainda com a mesma jornalista, Kestelman (2019), na quarta reportagem

Emocionada Marta dá recado a jogadoras mais novas apresenta 1.239 comentários,

uma das reportagens selecionadas com mais repercussão e um bom exemplo de

como ofertar lugar de fala gera discussão. Nesta, consta a entrevista com a seis vezes

campeã mundial Marta, discorre sobre a derrota contra a França, demostrando uma

certa preocupação sobre o futuro do futebol feminino brasileiro, porque se não é

divulgado é esquecido, entretanto, a presença das jogadoras do hoje e do passado

surtem efeito de identificação nas meninas que estarão crescendo hoje, na

reportagem as autoras apresentam a afirmação de Marta: “É isso que peço para as

meninas. Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol

feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem

no começo para sorrir no fim” (KESTELMAN, 2019).

E os comentários são apoiando, referentes ao grupo que apoia a presença das

jogadoras, entretanto, são a minoria dos comentários, isso não quer afirmar que seja

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um grupo fraco, mas que, o discurso que ridiculariza a prática das mulheres no futebol,

ganha força nas redes sociais:

FIGURA 6 – Comentários a respeito da 4° reportagem.

FONTE: Globoesporte, 2019.

Visto que, existem os comentários negativos, que julgam como a pessoa deve

ou não se vestir, que ela não pode ou deve passar batom, se demonstra no processo

determinar como esta pessoa deve ser:

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FIGURA 7 – Comentários a respeito da 4° reportagem.

FONTE: Globoesporte, 2019.

Através da não visibilidade, o respeito negado e a não popularidade dessa

modalidade de esporte futebol, a população o considera chato ou desmotivador, ou

seja, um dos pilares do circuito da cultura, o consumo, é negativo, não ocorre ou é

mínimo, porém, com a transmissão dos jogos pela Globo em 2019, possivelmente o

jogo começou a promover mudanças. Quando uma reportagem oferece visibilidade

para as mulheres falarem dos seus estados atuais, revelando os preconceitos, por

exemplo, quando um comentário se refere sobre sua sexualidade em vez da sua

qualidade no esporte, está participando do processo do circuito da cultura.

A não visibilidade gera pouco incentivo por parte da família para as meninas ou

devido à escassez de notícias de mulheres na mídia. Considerando que, afasta a

garota da prática esportiva, devido à expectativa de beleza corporal da sociedade

associada as mulheres. Por consequência, baixa representatividade nas posições de

tomada de decisão, por exemplo técnico.

Portanto, inspirado no circuito da cultura, a cultura midiática da mulher no

futebol, através dos comentários do canal da rede globo de esportes, regulamenta e

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determina quais representações recebem visibilidade para serem consumidas

globalmente, ou seja, seleciona quais discursos, sejam imagens, textos escritos ou

músicas, são divulgadas, operando assim na produção da identidade feminina. Ainda,

apresentando limitações desta identidade, hora aspectos físicos, outros de orientação

sexual ou comportamentos sociais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este é um texto inicial e apresenta uma série de limitações, se declara em

transformações, que a cada encontro se constrói e se representa como um manifesto

de resistência, assim como as identidades do sujeito pós-moderno, que segundo Hall

(1997), são frágeis e conflituosas e requerem questionamentos. Por conseguinte, de

acordo com a revisão de literatura deste estudo as relações sociais e os vetores de

forças, que circulam as informações e detém esse poder, são construídos pela cultura,

que é um conceito amplo e complexo, que engloba diversas questões, como as

situações sintomáticas, preconceitos, sofridas pela classe mulheres no esporte.

Uma forma de governar a cultura é entender como o circuito da cultura funciona.

Os canais de informação, determinam quais representações recebem visibilidades

para serem consumidos globalmente, ou seja, seleciona quais discursos, sejam

imagens, textos escritos ou músicas, são divulgadas, operando assim na produção de

identidades, ainda, apresentando limitações desta identidade, hora aspectos físicos,

outros de orientação sexual ou comportamentos sociais.

Outro ponto, nós não agimos por nós mesmo, mas subjetivados pela cultura

que somos inseridos, que recebe influência do tempo atual e do seu passado. Estas

memórias formam certa identidade nacional, que é defendida por leis e regulamentos.

O esporte está num campo com suas próprias leis, entretanto, não está a parte dos

processos que acontecem na sociedade. Futebol como uma modalidade com prática

na sua maioria masculina, tanto no contexto do alto rendimento, quanto no meio

escolar ou outros ambientes. Os resultados constataram que as opressões escritas

relacionadas diretamente ao gênero feminino, a sua orientação sexual e suas

características físicas (como o corpo masculinizado), apresentaram força nas

discussões através do site de notícias.

Conclui-se, nesta investigação, que toda sociedade colabora na construção de

o que é ser mulher dentro da cultura por meio do discurso. Existe um predomínio de

preconceitos sofridos pelas mulheres, praticado pelas pessoas que acessam e

comentam o canal de informação, que além de colaborar para o pouco espaço no das

mulheres no esporte, refletem a influência de certas representações.

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