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Katiene Suzart Uma breve Abordagem dos Conceitos Freudianos de Resistência e Repressão

Uma Breve Abordagem Dos Conceitos Freudianos de Resistência e Repressão

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Uma Breve Abordagem Dos Conceitos Freudianos de Resistência e Repressão

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Page 1: Uma Breve Abordagem Dos Conceitos Freudianos de Resistência e Repressão

Katiene Suzart

Uma breve Abordagem dos Conceitos Freudianos de

Resistência e Repressão

Salvador, Novembro de 2010.

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Uma breve Abordagem dos Conceitos Freudianos de Resistência e

Repressão

Katiene do Sacramento Suzart1

Inicialmente, ao ver esses dois termos de Freud não os julguei capazes de comportar a

grande importância que carregam. Eles representam, a meu ver, temas especiais em

psicanálise, pelo fato de tratarem de algo que tem a ver com o seu alicerce, ou seja, por

abordarem questões que no tratamento psicanalítico referem-se tanto ao contato direto entre

terapeuta e paciente como também à compreensão da dinâmica de como funciona a doença.

Assim, o presente trabalho possui como objetivo fazer um breve esclarecimento do que são

esses termos em psicanálise, de forma que a interação entre os dois temas fique clara e

compreensível.

Em relação á resistência, o próprio Freud declarou vê-la como um fato estranho e como

deveria parecer improvável para os outros a sua existência. Pois nela, o paciente que tanto

sofre e causa sofrimento aos seus familiares, que empreende esforços em autodisciplina,

dinheiro e tempo, luta contra a mudança de sua condição, ou seja, empreende uma luta

ferrenha inconsciente contra o tratamento de sua doença. Nesse contexto, ao iniciar o

tratamento psicanalítico todo paciente é instruído a falar livremente do que vem à sua mente.

Isto é, através da linguagem o indivíduo expressa sentimentos, lembranças, idéias e fatos ao

analista, ressaltando-se que ao fazer isso ele não deve ceder a nenhuma objeção crítica. Esta é

a regra fundamental técnica estabelecida entre o analista e o paciente, a chamada associação

livre. É justamente aqui que se encontra o primeiro alvo da resistência. O paciente passa a

ceder gradativamente às objeções críticas que lhe insurgem, dizendo que no momento não lhe

vem nada a cabeça, que pensou algo mais que é bobagem, ou até mesmo que pensou algo que

não se refere a ele e sim a um amigo. Enfim, são várias as formas que os indivíduos

encontram para escaparem da regra estabelecida.

A resistência pode surgir de várias formas, uma delas é a resistência intelectual. Nesta, o

paciente passa a apresentar um interesse pela teoria psicanalítica, como se quisesse ser

instruído pelo terapeuta, quer adquirir conhecimentos específicos aliado a uma necessidade de

querer argumentar. Esta crítica, portanto, não compreende uma faculdade independente e

1 Graduanda do 3° Semestre do Curso de Psicologia pela faculdade Social da Bahia.

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separada, ela está relacionada ao emocional e varia de acordo com os eu interesse. Dessa

forma, se algo o desagrada empreende uma luta com argumentos e críticas a respeito do tema,

mas se, pelo contrário, esta coisa vai de encontro aos valores, mostra-se bastante crédula. Esta

crítica e ao mesmo tempo curiosidade representam um forma de resistência, pois possuem

como objetivo desviar a atenção da análise em si para assuntos teóricos. Outro tipo é uma

reação tida especialmente no paciente obsessivo. Aqui, o tratamento transcorre de forma

fluídica e tranqüila, mostrando-se o clareamento de alguns temas. Mas o que se observa é que

este avanço na análise não vem acompanhado de nenhuma melhora em seus sintomas. Nesse

caso, o que acontece é que o indivíduo encontra-se disposto a prosseguir com a análise, mas

não acredita que ela possa resolver o seu problema, ou seja, é com a dúvida que a resistência é

expressa.

Uma outra maneira que a resistência tem de se apresentar é como transferência. Um

homem, por exemplo, pode ver no seu terapeuta um rival por causa da sua relação conturbada

com o seu pai, e assim adotar como meta combater este rival, não o ajudando em seu trabalho;

ou uma mulher pode começar a ter sentimentos amorosos por seu terapeuta, querer conquistá-

lo e caso não consiga pode ficar completamente insatisfeita com o tratamento. Essas

transferências possuem o papel de resistência, no sentido em que em ambos os exemplos a

análise não consegue transcorrer por conta dos empecilhos que acarretam a transferência, ou

seja, os objetivos são desviados para outros focos que não a análise. No entanto, esta

transferência pode ser interpretada pelo terapeuta, uma vez que possui traços do paciente,

constituindo material importante para a análise. E pode-se dizer mais ainda: superar a

resistência compreende o papel essencial da análise, uma vez que é através dessa superação

que o terapeuta pode obter resultados mais satisfatórios e responsáveis pela extinção do

sintoma.

A partir do fato exposto até agora, o qual se resume na luta que o paciente empreende para

não mudar a sua condição, constatamos que as mesmas forças que agem para não haver uma

mudança da condição do paciente e a remoção dos seus sintomas são as mesmas forças que

produziram tal condição. Assim, algum processo mental não deve ter atingido o seu objetivo

natural, levando em consideração que toda ideia tem sua origem no inconsciente e o seu curso

natural seria tornar-se consciente, mas devido ao processo de censura que acontece quando

toda e qualquer ideia tenta chegar à consciência, esta possivelmente não deve ter sido

aprovada e por isso permaneceu no inconsciente, e justamente por ser inconsciente é que pôde

ser substituída por um sintoma. O sintoma, portanto, surge como substituto daquela ideia que

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não teve seu objetivo alcançado. Nesse sentido, a repressão seria uma precondição para a

formação do sintoma, o qual somente pode ser extinto mediante o processo terapêutico de

tornar consciente a ideia que o originou, e é aqui encontrada a resistência, vindo como uma

luta do paciente contra o terapeuta que empreende esforços para tornar consciente o seu

material inconsciente.

Resistência e repressão constituem, portanto, fenômenos que acontecem de forma pareada,

uma vez que a resistência surge devido à necessidade de tornar consciente o material

inconsciente responsável pelo sintoma, sendo o terapeuta o alvo dessa resistência, pois é

através dele que se dá o processo de clareamento dos desejos reprimidos pelo paciente. Estes

dois conceitos apresentados por Freud representam, a meu ver, temas essenciais para a

compreensão da psicanálise, visto que se referem a questões significativamente importantes

tanto no tratamento terapêutico, que é onde surge a resistência, sendo o papel essencial da

análise superá-la, como na origem do sintoma, que por sua vez é resultado, ou melhor,

substituto da ideia reprimida. Esses conceitos são, por fim, complementares e espera-se ter

ficado clara a dinâmica de como interagem entre si.

Referências

FREUD, S. Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise. Parte lll (1915-1916). Imago,

1969, p. 293-308.