UMA BREVE REVISÃO DO ATENDIMENTO MÉDICO PRÉ-HOSPITALAR

Embed Size (px)

Citation preview

Medicina, Ribeiro Preto, 32: 381-387, out./dez. 1999

Simpsio: TRAUMA II Captulo I

UMA BREVE REVISO DO ATENDIMENTO MDICO PR-HOSPITALARA BRIEF REVIEW OF MEDICAL PREHOSPITALAR CARE

Srgio Luiz Brasileiro Lopes1 & Rosana Joaquim Fernandes2

1

Coordenador do Programa de Atendimento Mdico Emergencial da Secretaria Municipal da Sade e mdico da equipe de suporte avanado do SAMU de Ribeiro Preto. 2 Coordenadora do Programa de Servios Externos da Secretaria Municipal da Sade e enfermeira da equipe de suporte avanado do SAMU de Ribeiro Preto. CORRESPONDNCIA: Dr. Srgio Luiz Brasileiro Lopes - Central de Regulao do SAMU - Unidade de Emergncia - Rua Bernardino de Campos, 1000 Higienpolis - CEP 14030-150 - Ribeiro Preto SP

LOPES SLB & FERNANDES RJ. Uma breve reviso do atendimento mdico pr-hospitalar. Medicina, Ribeiro Preto, 32: 381-387, out./dez. 1999.

RESUMO: O atendimento mdico pr-hospitalar uma rea de atuao mdica relativamente recente, tendo sido implantado no Brasil nos ltimos dez anos, conforme modelo francs da dcada de 50. Pela falta de legislao pertinente, vrios modelos regionais foram criados em vrios municpios do Brasil, sendo que, em Ribeiro Preto, este sistema medicalizado de atendimento pr-hospitalar realizado desde outubro de 1996, pela equipe local do SAMU. UNITERMOS: Servios Mdicos de Emergncia. Traumatologia.

1. INTRODUO Consideramos atendimento pr-hospitalar toda e qualquer assistncia realizada, direta ou indiretamente, fora do mbito hospitalar, atravs dos diversos meios e mtodos disponveis, com uma resposta adequada solicitao, a qual poder variar de um simples conselho ou orientao mdica ao envio de uma viatura de suporte bsico ou avanado ao local da ocorrncia, visando a manuteno da vida e/ou a minimizao das seqelas. 2. ASPECTOS HISTRICOS Analisando os dados, verificamos que a primeira tentativa de organizao moderna de auxlio mdico de urgncia foi colocada em prtica, em 1792, por Dominique Larrey, cirurgio e chefe militar, que prati-

cava os cuidados iniciais aos pacientes vitimados nas guerras do perodo napolenico, no prprio campo de batalha, com o objetivo de prevenir as complicaes. As guerras mais recentes tambm confirmaram os benefcios do atendimento precoce, sendo palco freqente de atendimentos pr-hospitalares(1). Na prtica civil, os mdicos demoraram a se mobilizar, mesmo diante do aumento progressivo das perdas de vidas humanas por traumas advindos de causas externas, principalmente acidentes de trnsito. Esta demora fez com que as autoridades sanitrias, inicialmente, delegassem as responsabilidades deste servio aos responsveis pelos resgates, os militares do Corpo de Bombeiros, retirando a caracterstica sanitria deste atendimento. Na Frana, foram criadas, em 1955, as primeiras equipes mveis de reanimao, tendo como misso inicial a assistncia mdica aos pacientes vtimas 381

SLB Lopes & RJ Fernandes

de acidentes de trnsito e a manuteno da vida dos pacientes submetidos a transferncias inter-hospitalares. A histria do SAMU da Frana inicia-se nos anos 60, quando os mdicos comearam a detectar a desproporo existente entre os meios disponveis para tratar doentes e feridos nos hospitais e os meios arcaicos do atendimento pr-hospitalar at ento existentes. Assim, foi constatada a necessidade de um treinamento adequado das equipes de socorro e a importncia da participao mdica no local, com o objetivo de aumentar as chances de sobrevivncia dos pacientes, iniciando pelos cuidados bsicos e avanados essenciais, cuidados estes centrados na reestruturao da ventilao, respirao e circulao adequadas(1). Em 1965, criaram oficialmente os Servios Mveis de Urgncia e Reanimao (SMUR), dispondo agora das Unidades Mveis Hospitalares (UHM). Em 1968, nasceu o SAMU, com a finalidade de coordenar as atividades dos SMUR, comportando, para tanto, um centro de regulao mdica dos pedidos, tendo as suas regras regulamentadas em decreto de 16/12/1987. As equipes das UHM passaram tambm a intervir nos domiclios dos pacientes, configurando, definitivamente, os princpios do atendimento pr-hospitalar, relacionados a seguir. 1) O auxlio mdico urgente uma atividade sanitria. 2) As intervenes sobre o terreno devem ser rpidas, eficazes e com meios adequados. 3) A abordagem de cada caso deve ser, simultaneamente, mdica, operacional e humana. 4) As responsabilidades de cada profissional e as interrelaes com os demais devem ser estabelecidas claramente. 5) A qualidade dos resultados dependem, em grande parte, do nvel de competncia dos profissionais. 6) A ao preventiva deve ser um complemento da ao de urgncia. Posteriormente, em Lisboa, no ano de 1989, foram proclamadas as bases ticas da regulao mdica, processo este conhecido como Declarao de Lisboa. 3. O ATENDIMENTO MDICO PR-HOSPITALAR NO BRASIL No Brasil, o SAMU teve incio atravs de um acordo bilateral, assinado entre o Brasil e a Frana, atravs de uma solicitao do Ministrio da Sade, o qual optou pelo modelo francs de atendimento, em que as viaturas de suporte avanado possuem obrigatoriamente a presena do mdico, diferentemente dos 382

moldes americanos em que as atividades de resgate so exercidas primariamente por profissionais paramdicos (profissional este no existente no Brasil). Em So Paulo, a preocupao com a melhoria do atendimento pr-hospitalar teve incio na dcada de 80, sendo que, em 1988, foi criado, aps longo perodo de estudos e pesquisas, o Projeto Resgate ou SAMU (Servio de Atendimento Mvel s Urgncias), chefiado por um capito mdico, baseado no modelo francs, mas com influncias do sistema americano, particularmente no que diz respeito formao dos profissionais, e adaptado realidade local. Este sistema implantado estava, inicialmente, vinculado ao Corpo de Bombeiros, ficando, no quartel, um mdico da Secretaria da Sade do Estado, que regulava as solicitaes de atendimento a vtimas de acidentes em vias pblicas, solicitaes estas feitas atravs da linha 193, a qual possua uma interligao com o sistema 192 da Secretaria da Sade (Central de Solicitaes de Ambulncias). Este sistema ainda persiste com pequenas modificaes(2). Nos ltimos dez anos, vem se sentindo a necessidade de melhoria e expanso do sistema de atendimento pr-hospitalar, realidade esta percebida pelos gestores da poltica de Sade Pblica dos estados. Vrias cidades j contam com o SAMU ou esto em fase de implantao do mesmo, incluindo Porto Alegre, Recife, Curitiba, Araraquara, Marlia, Fortaleza, Belo Horizonte, Campinas, dentre outras. Cada localidade possui um sistema prprio, o que deixa claro que no h sistemas perfeitos. 4. O SISTEMA DE ATENDIMENTO MDICO DE URGNCIA (SAMU) DE RIBEIRO PRETO Em Ribeiro Preto, o SAMU foi criado a partir de iniciativa de profissionais da Secretaria da Sade, tendo como princpios o atendimento s urgncias no campo pr-hospitalar, reguladas pela sua central de regulao.O SAMU de Ribeiro Preto entrou em operao no dia 08 de outubro de 1996, aps um longo perodo de idealizao e adequao, sendo moldado a partir do sistema francs. O servio foi constitudo com uma equipe de suporte avanado, j se prevendo, para o futuro, mudanas importantes no projeto inicialmente viabilizado. Esta equipe, constituda pelos elementos obrigatrios, - mdico, enfermeira e motorista - conquistou o seu lugar no atendimento emergencial pr-hospitalar, em nosso municpio, atividade at ento exclusiva da equipe de resgate do Corpo de

Uma breve reviso do atendimento mdico pr-hospitalar

Bombeiros. Neste perodo, foi dimensionada a real funo do SAMU frente populao local e s autoridades competentes, vinculando, de forma definitiva, o atendimento mdico emergencial ao paciente crtico, agora em ambiente pr-hospitalar. No momento inicial, o SAMU, ainda desprovido de protocolos rgidos de despacho de viaturas, atuou mais amplamente do que o realmente devido, prestando atendimento a um amplo nmero de pessoas, muitas vezes sem necessidade de um atendimento mdico ainda no campo pr-hospitalar, o que aconteceu at janeiro de 1997, quando, por ocasio de um acidente, envolvendo a viatura, denominada USA (Unidade de Suporte Avanado), o servio se viu temporariamente inoperante. O breve perodo de inoperao funcional se mostrou oportuno, permitindo a viabilizao de novos projetos que garantissem a implantao do sistema em sua totalidade. Para isto, foram adquiridas novas unidades de suporte avanado, foi idealizado o servio de regulao mdica (necessidade esta sentida durante o perodo de funcionamento isolado da USA) e realizada a hierarquizao dos hospitais do Municpio, formulando-se, assim, um mapeamento das capacidades fsicas e funcionais de cada centro hospitalar. Em agosto de 1997, o servio retomou suas atividades, agora dispondo de trs unidades de suporte avanado, tendo-se em mente a expanso rpida das atividades no campo do atendimento emergencial prhospitalar. Em maro de 1998, foi concretizada, ainda que experimentalmente, a Central de Regulao Mdica. Neste perodo, a atividade de mdico regulador era exercida pelo prprio mdico da USA, o que, em muito, facilitou o acesso dos pacientes aos hospitais do Municpio, respeitando-se a hierarquizao anteriormente realizada. Esta regulao mdica foi mantida, ainda que funcionando precariamente, at outubro de 1998, quando, definitivamente, foi implantada a Central de Regulao Mdica do SAMU, um convnio firmado entre a Prefeitura Municipal e o Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto. A parceria permitiu a implantao da Central nas dependncias da Unidade de Emergncia do Hospital das Clnicas, sendo, ento, estruturada uma Central de Regulao Mdica, como inicialmente idealizada: conjuntamente com o Sistema 192, o servio de ambulncias do Municpio, responsvel por atender e registrar todas as chamadas telefnicas dos solicitantes, sejam estas para simples informaes, sejam para envio de unidades mveis de atendimento. O mdico

regulador, agora exclusivo nesta funo, passou a fazer parte, como membro essencial, do grupo da radiotelefonia, e as radioperadoras e telefonistas passaram a assumir a funo de tcnicas auxiliares de regulao mdica (TARM). A partir deste momento, o mdico regulador assumiu as funes de ouvidor e gerenciador da demanda, decidindo sobre o melhor meio de soluo para as mesmas, cumprindo papel essencial na busca de solues imediatas e na otimizao dos recursos disponveis. Em fevereiro de 1999, o SAMU foi mais uma vez expandido com a incluso das unidades de suporte bsico (USB) no Servio. Para tanto, os motoristas e auxiliares de enfermagem das viaturas de suporte bsico foram capacitados para o atendimento pr-hospitalar, por treinamento terico e prtico, visando a padronizao de condutas e a integrao no SAMU. O SAMU, hoje, encontra-se constitudo, conforme inicialmente idealizado, englobando a Central de Regulao Mdica com suas respectivas equipes e o Servio de Atendimento Pr-Hospitalar com suas equipes de suporte bsico e avanado, alm das equipes essenciais de apoio (ver Figura 1). Contamos, atualmente, com trs (03) viaturas de suporte avanado, estando uma em atuao ininterrupta e as outras em esquema de sobreaviso, podendo ser despachadas em situaes especiais (catstrofes, calamidades, transferncias extramunicipais, etc). Contamos, tambm, com sete (07) unidades de suporte bsico, distribudas cada uma em uma unidade bsica distrital de sade, ficando uma na garagem para eventuais trocas, frente a defeitos mecnicos quaisquer. Quanto Central de Regulao Mdica, contamos com profissionais tanto em perodo integral (mdicos reguladores, tcnicos auxiliares e radioperadores) quanto em perodo reduzido de atividade (pessoal de apoio). Desta forma, globalmente, o SAMU conglomera, hoje, cento e trinta e seis (136) indivduos das diferentes categorias profissionais. Assim estruturado, o Sistema de Atendimento Mdico de Urgncia atende aos preceitos bsicos dos sistemas mveis de urgncia, como os relacionados a seguir: Prestar atendimento emergencial no campo pr-hospitalar, atendimento este que responda s necessidades prementes do paciente crtico. Determinar a forma de melhor resposta demanda solicitada, atravs de uma regulao de todos os chamados, obrigatoriamente realizada por um profissional mdico. 383

SLB Lopes & RJ Fernandes

SAMUCENTRAL DE REGULAO MDICA UNIDADE DE REGULAO UNIDADE DE APOIO REGULAO

EQUIPE DE MDICOS REGULADORES

EQUIPE DE TCNICOS AUXILIARES DE REGULAO MDICA

EQUIPE DE AGENTES ADMINISTRATIVOS

EQUIPE DE PSICLOGOS

SERVIO DE ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR UNIDADE DE SUPORTE BSICO UNIDADE DE SUPORTE AVANADO

EQUIPE DE MOTORISTAS

EQUIPE DE AUXILIARES DE ENFERMAGEM

EQUIPE DE MOTORISTAS

EQUIPE DE ENFERMEIROS

EQUIPE DE MDICOS

Figura 1: Organizao estrutural e funcional do SAMU de Ribeiro Preto.

Para tanto, o SAMU mantm seus dois servios (a Central de Regulao Mdica e o Servio de Atendimento Pr-hospitalar) coesos e interligados, organizados e supervisionados pelo coordenador do Programa de Assistncia Mdica Emergencial, ao qual se insere o SAMU. Subordinados ao coordenador esto o diretor mdico e o diretor de enfermagem, sendo este exercido pelo coordenador do Programa de Servios Externos (rede 192). Estes programas fazem parte do corpo programtico da Secretaria Municipal de Sade, gerenciados diretamente pelo diretor do Departamento de Ateno Sade das Pessoas, subordinado diretamente ao Secretrio Municipal de Sade. Funcionalmente, o SAMU encontra-se organizado da forma mencionada a seguir. Equipe de suporte avanado Cada USA constituda por uma tripulao exclusiva, formada por um (a) mdico (a), um (a) enfermeiro (a) e um (a) motorista (a), que se revezam conforme escala de trabalho pr-determinada, garantindo 24 horas dirias de funcionamento. Esta equipe, 384

com sua respectiva viatura, fica de prontido na base operacional do SAMU, aguardando determinao do mdico regulador para prestar atendimento mdico emergencial. As unidades de suporte avanado somente so enviadas para atendimento mediante autorizao do mdico regulador ou do coordenador direto do SAMU, no respondendo a outras solicitaes que no tenham sidas reguladas pelos profissionais pertinentes. Competir, portanto, ao mdico regulador a determinao da existncia de risco imediato vida, pois, somente nesta condio, salvo determinaes excepcionais provenientes de rgos superiores, sero despachadas as USA. Esta determinao dever ser baseada, exclusivamente, no grau de comprometimento de funes vitais, capazes de comprometer seriamente a qualidade de vida ou a expectativa de vida, como as abaixo relacionadas. Comprometimento da via area (A), Comprometimento da dinmica respiratria (B), Comprometimento da dinmica circulatria (C), Comprometimento da funo neurolgica (D), Comprometimento funcional de extremidades (E).

Uma breve reviso do atendimento mdico pr-hospitalar

Compete, portanto, equipe de suporte avanado: atendimentos a pacientes traumatizados, quaisquer que sejam as causas, uma vez que seja estabelecido pelo mdico regulador que h risco imediato vida; atendimentos a pacientes portadores de patologias clnicas, quaisquer que sejam as etiologias, uma vez que seja estabelecido pelo mdico regulador que h risco imediato vida. Equipe de suporte bsico Cada USB constituda por uma tripulao exclusiva, formada por um (a) auxiliar de enfermagem e um (a) motorista, que se revezam conforme escala de trabalho pr-determinada, garantindo 24 horas dirias de funcionamento. Toda atividade desempenhada pela equipe realizada em conjunto, sem que haja diferenas hierrquicas entre os dois elementos da equipe. Entretanto, na eventual necessidade de se fazer declarar uma autoridade local, esta dever ser delegada ao auxiliar de enfermagem que, por questes de treinamento especfico na funo desempenhada, reconhecido como hierarquicamente superior ao motorista da viatura. Esta equipe, com sua respectiva viatura, fica de prontido nas Unidades Bsicas Distritais de Sade, aguardando determinao do mdico regulador para prestar o atendimento determinado. Este atendimento se restringir prestao de assistncia (suporte) bsica de vida, no importando a patologia ou o local do atendimento. Desta forma, as unidades de suporte bsico s so liberadas para atendimento mediante autorizao do mdico regulador ou do coordenador direto do SAMU, no devendo responder a outras solicitaes que no tenham sidas reguladas pelos profissionais pertinentes. Competir, portanto, ao mdico regulador a determinao da inexistncia de risco imediato vida, pois, uma vez determinada a existncia de risco imediato vida, o atendimento competir s USA. Na ausncia de risco imediato vida, o atendimento competir s USB. Excees so feitas nos casos em que as USA no estejam disponveis para o atendimento emergencial, devendo este ser realizado pela equipe das USB. Neste caso especial, a equipe da USB orientada a prestar atendimento no local e aguardar a equipe da USA para completar o atendimento j iniciado.

Compete equipe de suporte bsico: atendimentos a pacientes traumatizados, quaisquer que sejam as causas, uma vez que seja estabelecido pelo mdico regulador que no h risco imediato vida; atendimentos a pacientes portadores de patologias clnicas, quaisquer que sejam as etiologias, uma vez que seja estabelecido pelo mdico regulador que no h risco imediato vida. Equipe de regulao mdica A Central de Regulao Mdica assume a funo de coordenadora e disponibilizadora do atendimento pr-hospitalar populao local. A competncia da Central de Regulao Mdica assumida, em seu todo, pelo mdico regulador e, na ausncia deste, pelo seu diretor mdico e/ou coordenador. Reforam-se, neste sistema, as premissas bsicas da regulao mdica e desempenhadas integralmente pelo mdico regulador. 1) Julgar e decidir sobre a gravidade de um caso, comunicado via rdio ou telefone, disponibilizando os recursos a serem enviados e orientando o atendimento a ser realizado. 2) Administrar os meios disponveis para a prestao do atendimento solicitado, evitando desgaste do sistema pelo envio de recursos insuficientes ou, mesmo, superiores necessidade em questo. Para tanto, a Central de Regulao Mdica do SAMU dispe de duas (02) linhas privativas (para uso exclusivo pelos profissionais das Unidades Bsicas de Sade) e de quatro (04) linhas externas, pertencentes ao sistema 192 (para uso exclusivo pelos solicitantes externos), alm de linhas externas de apoio e de linhas internas do prprio hospital. Toda a solicitao atendida pelas tcnicas auxiliares e, uma vez anotada e triada, repassada ao mdico regulador para deciso de conduta. Caso a solicitao implique em despacho de viaturas, o regulador repassa a ficha ao radioperador que, em seguida, procede o despacho da mesma. Solicitaes internas, provenientes da prprias unidades de sade, so atendidas pelas tcnicas auxiliares que, nestes casos, solicitam a presena do mdico que atendeu o paciente, repassando a ligao ao mdico regulador, que regula o fluxo conforme seu julgamento. Sempre que h necessidade de transporte do paciente/vtima at o hospital, o mdico regulador entra em contato com a equipe mdica do hospital que, naquele momento, tem 385

SLB Lopes & RJ Fernandes

condies de atendimento e garante o acesso do paciente quele centro hospitalar. Desta forma, tanto para as USA quanto para as USB, o mdico regulador gerencia o fluxo de circulao entre o campo prhospitalar e o hospitalar. Desconsiderando-se os meses de inoperao funcional, em 24 meses de efetiva atuao (de outubro/96 a abril/99), foram atendidos 3985 pacientes/vtimas, distribudos conforme os dados abaixo. Natureza dos atendimentos 61% Atendimentos a portadores de patologias traumticas. 38% Atendimentos a portadores de patologias clnicas. 01% Transportes inter-hospitalares. Principais 38% tores. 22% 11% 11% 03% 03% Principais 16% 14% 10% 08% 06% 06% Origem da 44% 35% 17% 04% patologias traumticas observadas Acidentes, envolvendo veculos automoFerimentos por arma de fogo. Atropelamentos. Ferimentos por arma branca. Agresses interpessoais. Acidentes, envolvendo bicicletas. patologias clnicas observadas Paradas cardiopulmonares e cerebrais. Crises convulsivas. Insuficincias respiratrias. Infartos agudos do miocrdio. Emergncias hipertensivas. Intoxicaes exgenas. solicitao Vias pblicas. Domiclios. Unidades bsicas de sade. Outros locais.

5. ASPECTOS LEGAIS No Brasil, no existem, ainda, normas claras e precisas sobre o atendimento pr-hospitalar, seja ele mdico ou no. O CFM e o Ministrio da Sade, atravs de seu ncleo de vigilncia sanitria, vm desenvolvendo aes de forma independente, ou conjunta, no sentido de normatizar o assunto, existindo muitas lacunas que permitem o funcionamento de sistemas inadequados e mal-estruturados. As normas de que dispomos atualmente, longe de esgotarem a matria, so: o parecer do CRM, de 1993, tratando da Morte fora do ambiente hospitalar, o parecer do CFM, de 1995, que dispe sobre o atendimento pr-hospitalar, em especial s emergncias traumticas, o parecer do CFM, de 1998, que discorre novamente sobre o atendimento pr-hospitalar, fazendo consideraes sobre as diversas reas envolvidas (organizao estrutural, definies e objetivos da atuao mdica em nvel pr-hospitalar, regulao mdica, definies dos profissionais e seus atributos, perfil e competncias, treinamentos), a portaria da SVS, discorrendo sobre os veculos de atendimento pr-hospitalar e transporte inter-hospitalar e, por ltimo, a portaria do MS, de julho de 1999, aprovando a atividade mdica em nvel pr-hospitalar, particularmente a regulao mdica(3,4). Atualmente, contamos com a Rede Brasileira de Cooperao em Emergncias, entidade no oficial, que se destina ao estudo das urgncias/emergncias no Pas, e a Rede de Cooperao em Urgncias do Mercosul, com a participao da Argentina, Paraguai, Uruguai, Brasil e, por ltimo, o Chile, visando o desenvolvimento da assistncia s urgncias, determinando um processo de ajuda mtua, que permita uma socializao de conhecimentos capazes de gerar um alto nvel operatividade nos servios envolvidos e impulsionar a criao de servios de atendimento pr-hospitalar de urgncias. Estas entidades atuam como uma congregao de interesses, discutindo amplamente o assunto e auxiliando na elaborao de normas e regras gerais, no sentindo de uniformizar os servios de atendimento mdico pr-hospitalar j existentes e auxiliar na implantao de novos centros. 6. CONCLUSO O atendimento mdico pr-hospitalar, criado em virtude da necessidade de se reduzirem as seqelas e bitos no campo pr-hospitalar, veio evoluindo lentamente, desde o perodo napolenico, tendo se firmado

bitos verificados 16% dos portadores de ferimentos por arma de fogo, sendo, na imensa maioria, constatado o bito antes de se prestar qualquer atendimento. 5% dos acidentados no trnsito, sendo, na maioria, decorrentes de acidentes automobilsticos. 65% dos pacientes atendidos em parada cardiopulmonar e cerebral, sendo o bito, geralmente, verificado antes do atendimento. A taxa de reverso baixa, da ordem de 15%, daqueles submetidos a manobras de ressuscitao. bitos por outras causas so infreqentes. 386

Uma breve reviso do atendimento mdico pr-hospitalar

como cincia aps a experincia bem sucedida da Frana. Rapidamente vem evoluindo, tendo sido implantado, no Brasil, no final do anos 80 e, particularmente, em Ribeiro Preto, em 1996. A falta de legislao pertinente faz com que vrias estruturas sejam

encontradas pelo pas afora, resguardando, entretanto, os princpios fundamentais de atendimento rpido, preciso e eficaz, o que vem colaborando para a reduo dos danos secundrios s maiores causas de trauma, em nosso meio.

LOPES SLB & FERNANDES RJ. 32: 381-387, oct./dec. 1999.

A brief review of medical prehospitalar care. Medicina, Ribeiro Preto,

ABSTRACT: The prehospitalar medical care is a relatively recent area, having been implanted in Brazil in the last 10 years, according to French model that dates since the decade of 50. For the lack of pertinent legislation, several regional models were created in several cities of Brazil, and, specially, in Ribeiro Preto this system of medical prehospitalar care is accomplished since october 1996 by the local team of SAMU. UNITERMS: Emergency Medical Services. Traumatology.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS1 - FONTANELLA JM & CARLI P. Les matriels et les techniques de ranimation pr-hospitalire Les Units Mobiles Hospitalire des Samu. In: SFEM eds. Collection Mdicene dUrgence SAMU, 1992. 2 - PARECER 47/95 do Conselho Federal de Medicina, aprovado dia 25/10/95.

3 - PARECER 15/98 do Conselho Federal de Medicina, aprovado dia 08/07/98. 4 - PORTARIA do GM/MS 824, de 24 de junho de 1999. Dirio Oficial da Unio 2m 25/06/99. Recebido para publicao em 08/12/1999 Aprovado para publicao em 19/01/2000

387