Uma busca das representações a partir dos Protocolos de Leitura

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Es una reflexión metodológico, sobre cómo hacer Historia de la Educación, utilizando para ello la historia de la lectura, particularmente los Protocolos de lectura. Es un texto en construcción.

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Uma busca das representaes a partir dos Protocolos de Leitura: Os guias de aprendizagem da Escuela Nueva Colombiana.

A leitura como atividade criadora e o livro como campo instaurador de ordens de interpretao, configuram-se nos dois elementos fundamentais para entender o papel da busca pelos protocolos de leitura como ferramenta metodolgica na pesquisa sobre livros didticos.Para a presente investigao os livros didticos foram, precisamente, sua fonte privilegiada, objetivando compreender as representaes da ruralidade inscritas nos guias de aprendizagem do modelo Escuela Nueva colombiana.Esta um programa do Ministrio de Educao da Colmbia pensado para a formao da criana camponesa. Nasce nos anos 70 e se espalha, durante as duas ltimas dcadas do sculo XX, por todo o territrio rural colombiano, configurando-se na estratgia mais utilizada nas escolas camponesas do pas. O recorte temporal utilizado abrange as trs ltimas dcadas do sculo XX, anos de fortes conturbaes polticos e sociais no campo colombiano, e de grande investimento internacional no pas, estas duas caractersticas so importantes na compreenso das representaes latentes no modelo estudado.Escuela Nueva se cria em um momento no qual o campo como objeto de educao estava sendo pensado na regio de Amrica-Latina como um contexto que exigia um maior investimento e propostas acordes com suas caractersticas e necessidades. Emoldurada nesse momento, Escuela Nueva se projetava como uma alternativa que reconhecia as particularidades da escola rural; como, por exemplo, o fato de ser uma escola multisseriada, quer dizer, com um professor s para as diferentes series, nas quais os estudantes so heterogneos em idades e, tambm, desenvolvem tarefas agrcolas com as famlias. A principal ferramenta utilizada pela Escuela Nueva para responder s particularidades da escola no campo denominou-se como Guias de Aprendizagem, elaborados para as series de 2 at 5, eles so pensadas, na pesquisa, como manuais escolares para a ruralidade, ou no termo mais comum no Brasil, como Livros didticos. Para apresentar a pesquisa e o processo metodolgico no qual se inserem os protocolos de leitura, necessrio em primeiro momento definir o manual escolar enquanto fonte para a histria da educao, posteriormente entender os guias de aprendizagem, pensados entanto manuais escolares, como o elemento central no modelo de Escuela Nueva, finalizando com a compreenso da busca pelos protocolos de leitura instauradas nestes, para reconhecer a estratgia metodolgica utilizada no percurso investigativo.

Os manuais escolares como fonte para a pesquisa em histria da Educao.Atravs dos manuais escolares so construdas pontes entre a cultura, a sociedade e a escola. Eles se convertem nos mensageiros das percepes de mundo e intenes de formao para as novas geraes. Porm, sua anlise deve ser realizada com cautela, pois, como produtos culturais que so, esto carregados de intenes, no so neutros, possuem representaes sobre os saberes a ser apreendidos e estratgias para impor tais representaes. Sua complexidade se encontra nas mltiplas funes que cumprem, as quais, como afirma Choppin (2002, p. 13), em sua maioria passam totalmente despercebidas aos olhos contemporneos. possvel que isso se deva familiaridade com a que os sujeitos tm se relacionado com ele. um objeto que possui presena permanente na escola e uma ampla difuso. Essa relao cotidiana e sua (quase) onipresena tm gerado, por um lado, sua desvalorizao como fonte para a histria, e, por outra parte, diversidade de crticas em diferentes terrenos da pesquisa educativa.Para a Histria da Educao, em particular, esta realidade comeou a se transformar durante as ltimas dcadas do sculo passado, configurando o manual como uma fonte privilegiada para a pesquisa na escola, enquanto ferramenta que contem muito mais que contedo educativo explcito, cumprindo o papel de transmitir s jovens geraes os saberes e comportamentos que uma determinada sociedade considera indispensveis para se perpetuar, pois este:[...] veicula, de maneira mais ou menos sutil, mais ou menos implcita, um sistema de valores morais, religiosos polticos, uma ideologia que conduz ao grupo social de que ele a emanao: participa, assim, estreitamente do processo de socializao, de aculturao (at mesmo de doutrinamento) da juventude. (CHOPPIN, 2002, p. 14)Reconhece-se que para realizar uma anlise do livro didtico e sua funo na vida escolar no basta analisar a ideologia e as defasagens dos contedos em relao produo acadmica, ou descobrir se o material fiel ou no s propostas curriculares (BITTENCOURT, 2008, p. 73), uma vez que necessrio compreende-lo na sua complexidade, envolvendo todos seus aspectos e contradies.Pelo exposto, possvel afirmar que o manual escolar permite Histria da Educao estudar todos aqueles saberes, comportamentos e formas de se relacionar com o mundo que foram compreendidos como legtimos e adequados. Tal compreenso se afasta da ideia do livro como um reflexo da sociedade na qual se inscreve, pois seu discurso apresenta um quer ser, uma viso deformada, limitada, at mesmo idlica da realidade, constituindo uma purificao (CHOPPIN, 2002, p. 22). Nesse sentido se inscreve a pesquisa, pois visa compreender a representao sobre a ruralidade que pretendeu veicular no guia de aprendizagem.

Os guias de aprendizagem, fonte da pesquisa.Pensar os guias, enquanto manuais escolares, como fontes para a pesquisa implica compreend-los como um objeto para se ler e um instrumento para se utilizar, pois, como sua caracterstica particular, entende-se que eles esto pensados para a prtica, para fazer-fazer ao leitor.No Programa Escuela Nueva, os guias de aprendizagem se configuram em uma das ferramentas centrais, o que tem levado a escola, na utilizao dessa metodologia, se denominar como a escola instrumental (PARRA, 1996). Como sinaliza Parra Sandoval (1996, 20-21), os guias so o elemento dominante, ao redor desse elemento se organizam e adquirem sentido os outros elementos [...] o guia no uma ajuda para desenvolver o currculo, ela o currculo mesmo (no sentido restrito) e um super professor [...] o guia o centro do mundo escolar .Como se pode notar, entender Escuela Nueva implica pensar seu elemento preponderante, aquele que, como sinaliza o autor, se configura no eixo central ao redor do qual os outros elementos gravitam.Os guias de aprendizagem na Escuela Nueva no so um auxlio do professor, pois, as caractersticas da proposta obrigam ter materiais que permitam a aprendizagem autnoma, j que o professor no protagonista do processo, ele termina sendo instrumentalizado tambm pelo material.A partir da importncia que significam os guias na Escuela Nueva, elas se converteram em fontes para a compreenso das representaes veiculadas no Programa. Foram tomados, ento, os guias de aprendizagem da rea de Cincias Sociais, desde a 2 srie at a 5, constituindo um corpus de 11 textos. Os guias foram editados e impressos no final do ano 1987 e reimpressos no ano 1989, momento no qual Escuela Nueva se fazia presente em todo o pas.

Anlise dos guias de aprendizagem atravs da busca pelos protocolos de leitura.Os protocolos de leitura encontram-se estabelecidos a partir de duas vias, uma puramente textual, que inscreve no texto: as convenes, sociais ou literrias, que permitiro a sua sinalizao, classificao, e compreenso, emprega[ndo] toda uma panplia de tcnicas, narrativas ou poticas, que, como uma maquinaria, devero produzir efeitos obrigatrios, garantindo uma boa leitura (CHARTIER, 2001, p. 97), e uma segunda via de instaurao de esses protocolos so as formas tipogrficas.Pelo anterior, a busca pelos protocolos de leitura nos guias de aprendizagem teve como foco os contedos ruralizantes, as leituras sugeridas, o nvel de complexidade do contedo, os questionrios e exerccios antes e depois da leitura, as frases que operam como sentenas moralizantes, as imagens que representam formas culturais e sociais vlidas sobre determinadas instituies, aes e sujeitos, e, sobretudo a forma na qual se estrutura o texto, pois existem formas discursivas implcitas que fazem do texto uma maquinaria que, necessariamente, deve impor uma justa compreenso (CHARTIER, 2002, p. 124).Os protocolos revelam uma concepo sobre o leitor alvo, pois, a partir das representaes que se tm sobre o sujeito, se estabelecem os dispositivos e estratgias reguladoras da leitura. Levando em conta os pressupostos tericos, se realizou a anlise sobre os guias escolares, contando com categorias de anlise, como: o espao e a paisagem, a escola, o campons, a comunidade, o Estado, as normas e autoridade, e a relao campo- cidade. A forma principal na qual se apresentam as informaes no manual escolar para a ruralidade da Escuela Nueva pode ser denominada de narrativa didtica. Diversas situaes cotidianas so contadas, como estrias que indicam uma forma adequada de pensar e sentir frente s diversas situaes, da cotidianidade camponesa.Frases simples, pargrafos curtos e histrias lineares estruturam o texto. Utilizam-se exerccios prvios (perguntas ou atividades dirigidas sobre o tema a tratar) e logo se convida leitura grupal, discusso sobre ela e a responder uma srie de questes direcionadas.Os contedos dos guias esto estruturados numa espiral, que regressa permanentemente sobre um tema, propondo novos cenrios para reforar o aprendido. Por exemplo, nas primeiras sries se utiliza o entorno prximo e vai ampliando a perspectiva at chegar s ltimas sries, onde se pensa o pas. Mas, a forma de transformao do lugar, qualquer que ele seja, s pelo trabalho. Esse movimento circular, que busca partir de lugares comuns, de discursos j utilizados e abordados nas sries anteriores para legitimar uma ideia ou um contedo, evidentemente uma forma de controle da recepo. E , sem dvida, o aspecto mais representativo em termos de protocolos de leituras, pois se refere ao fato de pensar cada uma das histrias, das perguntas, das imagens partindo do contexto rural, ainda para trabalhar temticas da histria e da geografia nacional.Os protocolos de leitura excedem o contedo textual, eles so formas, cores, tamanhos, diretrizes de leituras adequadas, e, no caso dos guias de aprendizagem, criadores de rutinas de leitura e de trabalho com as mesmas. Pelo qual o anlise desses protocolos focalizou, tambm, as regulaes do ato de ler, quer dizer no s do lido, enquanto contedo, mas, tambm, da forma autorizada para l-lo e para realizar as tarefas solicitadas.O processo de leitura a diferentes vozes, mas, entre os estudantes parece ser a prtica de leitura mais solicitada nos guias da Escuela Nueva. Como afirmaria Rockwell (2001, p. 13), a leitura nas salas de aula uma atividade social, tem intercmbio de vozes, entonaes, ritmos e ideias que configuram interpretaes diversas. A prtica da leitura em voz alta, ao redor de uma mesa, em disposio para trabalhar a partir do texto, configura uma forma de sociabilidade escolar particular, que mesmo no sendo exclusiva da Escuela Nueva, pode-se afirmar que predominante nesse modelo.Todas as caractersticas anteriormente descritas podem ser concebidas como parte dos protocolos de leitura que se inscrevem no texto, para determinar a leitura autorizada. Na prtica, as maneiras de ler criam fissuras por onde se estruturam sentidos e significados diversos do lido.Ao compreender a leitura como uma prtica de tenso entre a irredutvel liberdade dos leitores e os condicionamentos que pretendem refre-la, (CHARTIER, 2002, p. 123) a pesquisa teve como considerao inicial entender que a mensagem que busca veicular o texto no a significao construda pelo leitor, mas tal significao limitada tanto pelo sentido histrico dado ao texto como pelas compreenses autorizadas nele.Localizando o foco da anlise em tais limitaes, ou melhor, como o definiu Chartier, nos protocolos de leitura, foi traado o quadro metodolgico que possibilitou compreender as representaes de ruralidade inscritas nos guias de aprendizagem da Escuela Nueva colombiana, tal e como foi descrito anteriormente.

REFERNCIAS

BITTENCOURT, C. Livros didticos entre textos e imagens. In: BITTENCOURT, C. (Org.) O saber histrico na sala de aula. So Paulo: Contexto, 2008, p. 69-90. CHARTIER, R. Do livro leitura. In: CHARTIER, R. (Org.). Prticas de Leitura. Traduo de Cristiane Nascimento. So Paulo: Estao Liberdade, 2001, p. 229-253. _____. A histria cultural entre prticas e representaes, 2. ed. Rio de Janeiro: Difuso Editorial, 2002. 244 p. CHOPPIN, A. O Historiador e o livro escolar. In: Histria da Educao, v. 6, n. 11, p. 5-24. Pelotas, 2002. PARRA, R. et. al. La escuela Nueva. Bogot: Plaza & Janes. 1996. 351 p. ROCKWELL, E. La lectura como prctica cultural: conceptos para el estudio de los libros escolares. Educao e Pesquisa, So Paulo, v. 27, n. 1, p, 11-26. 2001.