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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MEC – SETEC
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO-GROSSO CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA
DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
ANA CRISTINA CYPRIANO PEREIRA
UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA INCLUSIVISTA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Cuiabá - MT
Outubro 2009
2
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO-GROSSO
CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATU SENSU A DISTÂNCIA: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA INCLUSIVA
ANA CRISTINA CYPRIANO PEREIRA
UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA INCLUSIVISTA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Cuiabá - MT
Outubro 2009
3
ANA CRISTINA CYPRIANO PEREIRA
UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA INCLUSIVISTA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação do Curso de Especialização em Educação Tecnológica Inclusiva, do INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO-GROSSO - CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA, como requisito para a obtenção do título de Especialista.
Orientadora: Profª. Drª Ana Vilma Tijiboy
Cuiabá - MT
Outubro 2009
4
UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA INCLUSIVISTA NA
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Trabalho de Conclusão de Curso em Especialização Tecnológica Inclusiva, submetido à
Banca Examinadora composta pelos Professores do Programa de Pós-Graduação do
Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Especialista.
Aprovado em 5 de outubro de 2009.
______________________________________________ Profª. Drª Ana Vilma Tijiboy (Orientadora)
______________________________________________ Prof. MSc Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira (Membro da Banca)
_____________________________________________ Profª. MSc Gabriela Maria Brabo Sousa (Membro da Banca)
Cuiabá - MT
Outubro 2009
5
À Manoela e Matheus, que me ensinam a
amar, a reavaliar a vida e meus valores, me
dão forças para superar as dificuldades, me
conduzem a novos mundos, me mostram
diferentes formas de pensar e me seduzem...
Meus filhos que fazem a vida valer a pena
todos os dias.
6
AGRADECIMENTOS
A minha família pela base sólida de caráter e amizade.
A minha mãe, cuja certeza na minha capacidade, nunca me deixou desistir.
Ao meu marido pelo incentivo, leituras, correções, cálculos, gráficos, e apoio logístico
familiar neste período de dedicação ao Curso de Especialização.
Aos meus filhos, pela minha ausência – embora estivesse presente fisicamente.
Aos professores Lúcio Olímpio e Gabriela Brabo Souza, membros da Banca
Examinadora, meu agradecimento pela leitura cuidadosa e considerações valiosas que
enriqueceram este trabalho. Meu respeito e admiração pelas suas caminhadas
acadêmicas no campo da Educação Profissional e da Inclusão respectivamente.
A minha colega e monitora Ângela Vigolo que me encorajou a realizar este Curso.
A minha orientadora e colega, Ana Tijiboy pela paciência e incentivo. Este incentivo que
começou de forma despretensiosa quando há cerca de oito anos tomou à frente de
várias atividades de sensibilização do NAPNES da Escola Técnica da UFRGS, me
conquistou e me trouxe até aqui... do que sou muito grata. Agradeço as minhas colegas
pela sensibilidade de me conduzir para o caminho certo.
Desde então, houve muitas mudanças em minha trajetória pessoal e profissional. E um
interesse crescente meu nesta área de inclusão.
Certamente, graças a estas pessoas, de uma forma ou de outra, eu não sou mais a
mesma pessoa.
7
“(...) Deveríamos apreciar perguntas que não sabemos
responder, porque elas determinam uma inquietação que nos
instiga a curiosidade e nos leva à busca do conhecimento novo.
Transmitir com paixão é privilégio do professor que ama seu
ofício e os assuntos em que se especializou. Transmitir
valores é prerrogativa de quem os tem.” Flávio Gikovate
8
RESUMO
O processo histórico da educação profissional e os seus princípios norteadores estiveram sempre ligados à demanda social e seus valores desenvolvidos sob a premissa da valorização do ser humano ético, político e estético. Além disso, a educação profissional está também pautada pelo desenvolvimento de conhecimentos e saberes para a laboralidade e cidadania. No que se refere ao processo histórico da inclusão e, mais precisamente, da importância do mundo do trabalho e suas representações para a pessoa com necessidades especiais, ainda é difícil a sua aceitação e seu reconhecimento para o efetivo direito ao trabalho como conquista de cidadania e autonomia. Assim, detecta-se a importância de ações educativas de sensibilização sobre inclusão na formação profissionalizante para a mudança deste quadro originalmente estigmatizado acerca da deficiência. O aprimoramento destas sensibilizações pode contribuir para a formação de profissionais mais qualificados e atuantes em prol da inclusão no mundo de trabalho. O trabalho realizado com alunos de curso profissionalizante apontou para uma boa aceitação de propostas de sensibilização educacional, da conscientização acerca da necessidade do conhecimento e para uma sociedade em mutação, cujos paradigmas do preconceito e do desconhecimento estão sendo questionados. Por fim, o trabalho propõe a superação da excepcionalidade em se tratando do assunto da inclusão social de pessoas com necessidades especiais, isto é, que tais abordagens façam parte efetivamente da formação acadêmica profissional dos alunos de Escolas Profissionais.
Palavras-chaves: educação profissional, inclusão, pessoas com necessidades especiais, mundo do trabalho.
9
ABSTRACT
The historic process of technical career training and its guiding principles have always been connected to society’s demands, and its values have developed under the premise of prizing the ethical, political, and aesthetic human being. Additionally, technical career training is also based on developing expertise and knowledge for the workforce and citizen participation. With respect to the historic process of inclusion, and more precisely to the significance of the world of employment and its meaning to people with special needs, the latter still find it hard to be accepted and have their actual right to work acknowledged as a victory regarding their participation in society as independent citizens. Hence, we see how important it is to hold education initiatives that raise awareness of inclusion in career training so that we may change this originally stigmatized picture of disability. By fostering awareness-raising we may be able to help educate better qualified, more active people pursuing inclusion in the world of employment. Our work with students from a technical career training program showed they are open to at-school awareness-raising of the need for knowledge and of an ever-changing society, whose prejudice- and knowledge lacking-related paradigms are being disputed. Lastly, our paper proposes that we overcome the notion of exceptionality when it comes to people with special needs, that is, that such approaches become an integral part of the academic education of students in Technical Career Training Schools. Key words: technical career training, inclusion, people with special needs, world of employment
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Conhecimento prévio sobre PNEs..........................................................34
Gráfico 2 – Conhecimento posterior à atividade em aula..........................................35
Gráfico 3 – Conhecimento sobre os tipos de deficiência...........................................35
Gráfico 4 – Preparo para trabalhar com Pessoas com Deficiência ...........................36
Gráfico 5 – Importância de ter conhecimento sobre PNEs........................................37
Gráfico 6 – Experiência de trabalho com pessoa deficiente......................................37
Gráfico 7 – Predisposição a contratar Pessoa com Deficiência ................................38
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................12
2 FORMAÇÃO PROFISSIONAL ............................................................................... 15
2.1 Breve Trajetória Histórica .........................................................................15 2.2 Princípios da Educação Profissional ........................................................16 2.3 Educação Profissional para os Dias Atuais ..............................................18
3 INCLUSÃO E MUNDO DO TRABALHO................................................................. 20
3.1 O Processo Histórico da Inclusão.............................................................20 3.2 Mundo do Trabalho para as Pessoas com Necessidades Especiais........24
4 UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA INCLUSIVISTA .........................................30
4.1 Metodologia ..............................................................................................31 4.2 Resultados Obtidos .................................................................................34 4.3 Análise e Reflexão sobre os Dados Coletados.........................................39 4.4 Formação de Profissionais Inclusivistas: Uma Proposta Possível............42
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................46
6 REFERÊNCIAS......................................................................................................49
7 ANEXOS ................................................................................................................51
12
1 INTRODUÇÃO
A temática da inclusão social de pessoas com necessidades especiais (PNEs)
vem sendo amplamente debatida, principalmente sob o ponto de vista da educação e
qualificação profissional para o trabalho.
As exigências sociais acerca da inclusão abrangem o respeito, a adaptação, o
reconhecimento e o atendimento às necessidades de todos os seus membros. A
inclusão de pessoas com necessidades especiais preconiza o respeito à individualidade
e à diversidade dos cidadãos, uma vez reconhecidas suas características e limitações.
Assim, uma sociedade inclusiva é uma sociedade construída para todos e
objetiva oferecer oportunidades para que todos possam conquistar sua autonomia. As
políticas públicas de inclusão, seja na educação ou no mundo do trabalho, buscam a
aplicação destes conceitos para uma sociedade mais justa.
A educação profissional tem buscado, ao longo de sua historia, estar em
sintonia com as realidades e com as exigências do mundo do trabalho, bem como
seguir o principio de que deve formar um profissional mais humano e atuante em prol
da cidadania. Assim, adaptar-se às novas exigências sociais nas diversas épocas,
atentando para a diversidade, é um dever em respeito aos valores estéticos enunciados
no Parecer CNE/CEB 15/981, como explicitado no trecho a seguir: “A estética da
sensibilidade valoriza a diversidade e, na educação profissional, isso significa
diversidade de trabalhos, de produtos e de clientes” [grifo nosso]. Segundo o artigo
terceiro da Resolução 04/99 do CNE/CEB2, dentre os princípios norteadores da
educação profissional de nível técnico estão o respeito aos valores estéticos, políticos e
éticos; o desenvolvimento de competências para a laborabilidade; atualização
permanente dos cursos e currículos e autonomia da escola em seu projeto pedagógico.
1 Conselho Nacional de Educação/Camara de Educação Básica disponível em http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/1998/pceb015_98.pdf 2 Conselho Nacional de Educação/Camara de Educação Básica disponível em http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rceb04_99.pdf
13
Ainda do ponto de vista da Educação Profissional, segundo o Parecer nº 16/993
do Conselho Nacional de Educação, entre as premissas básicas da Educação
Profissional está a construção de currículos de modo a considerar as peculiaridades do
desenvolvimento tecnológico com flexibilidade e o atendimento às demandas do cidadão, do mercado de trabalho e da sociedade.
Assim, o trabalho aqui apresentado justifica-se por atender os princípios
norteadores da Educação Profissional, no que diz respeito à atualização dos currículos
dos cursos técnicos regulares, tendo em vista uma importante demanda da sociedade,
em consonância com os objetivos dos programas de inclusão.
Frente a esse contexto, por um lado a urgência da sociedade pela inclusão de
PNEs e, por outro, a educação profissional com seus objetivos claros de vir ao encontro
das demandas dessa sociedade, é que surge esta pesquisa, que termina por sugerir
uma proposta de inclusão que atinja as diferentes áreas da formação profissional e que
possa ser implementada nas empresas e organizações através dos técnicos que as
compõem.
Tal proposta apóia-se na crença de que a conscientização através da educação
é muito mais eficaz do que os efeitos advindos do sistema legal. A este respeito
Sassaki (1997) alerta que a legislação de cotas nem sempre se revelou simpática e
atingiu os objetivos propostos. Mais que isto, os próprios PNEs querem o entendimento
de sua condição através da apropriação do conhecimento, bem mais do que a
imposição jurídica de suas presenças. Para tal conscientização social contamos e
apostamos na educação que no entender de Carvalho (2004, p. 19) é uma “tarefa
complexa e muito abrangente, principalmente porque, desde os primórdios da
civilização, dentre as práticas humanas, a educação é a que mais se destaca,
considerando-se a profundidade de sua influência na existência dos homens”.
Assim, este trabalho alinha-se com a possibilidade de mudar posturas sociais
através de um movimento educativo, voltado para o esclarecimento, informação e a
reflexão no âmbito da educação profissional.
Usamos neste trabalho o termo inclusivista dando-lhe a conotação de “aquelas
pessoas ou instituições que atuam em prol da inclusão”. Este termo não se limita
3 http://portal.mec.gov.br/cne/cne/arquivos/pdf/1999/pceb016_99.pdf
14
àquelas pessoas que concordam com a inclusão, mas, vai além, caracteriza aqueles
que de fato atuam para que ela ocorra.
Para desenvolver o tema - uma intervenção pedagógica inclusivista na
Educação Profissional - esta monografia inicia apresentando princípios sobre a
Educação Profissional, e, em um segundo momento, detém-se nos processos históricos
de inclusão, prossegue com recortes e análise do mundo do trabalho e apresenta o
estudo de caso realizado na então Escola Técnica da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Sul. Após o delineamento desse estudo e a coleta dos dados, é apresentada
a analise dos mesmos. Concomitantemente são tecidas reflexões a respeito dos
resultados e, finalmente, são compartilhadas conclusões.
15
2 FORMAÇÃO PROFISSIONAL
2.1 Breve Trajetória Histórica
A educação profissional nos primórdios de sua fundação registra decisões que
se vinculam ao amparo de “órfãos e demais desvalidos da sorte”4. Este caráter
assistencialista vai marcar toda a sua história.
No início do século XX dá-se o começo de um esforço público de organização
da formação profissional, migrando da preocupação com o atendimento de menores
abandonados para preparação de operários para o exercício profissional.
Como atribuição do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, em 1906, e
uma política de incentivo ao desenvolvimento do ensino industrial, comercial e agrícola,
foram criadas escolas comerciais públicas em diversos pontos do país.
Com o Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, Nilo Peçanha instala
dezenove “Escolas de Aprendizes Artífices”, localizadas nas Capitais do país. Desde
então o ensino profissionalizante tem o seu alicerce na integração que faz da educação
ao mundo produtivo e ao desenvolvimento da ciência e tecnologia.
A articulação do ensino profissional se dá com o ensino médio e com o trabalho
e adquire uma característica bastante forte, ainda que muitas vezes velada, no sentido
de qualificar “desvalidos e desafortunados da sorte”, isto é destina-se primordialmente
para as classes operárias que não tem acesso ao ensino superior.
Neste mesmo período ocorre a instalação de escolas-oficina destinadas à
formação profissional de ferroviários, que viria a ser mais tarde o embrião do sistema
nacional de aprendizagem.
Como demanda do processo de industrialização desencadeado na década de
30, na Constituição outorgada em 1937 a educação profissional é tratada pela primeira
vez como “dever do estado”. Tal demanda propiciou a criação de entidades 4 Termo utilizado por Nilo Peçanha no Decreto de 1909.
16
especializadas como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) em 1942
e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) em 1946, bem como a
transformação das antigas escolas de aprendizes e artífices em escolas técnicas
federais ao final da década de 50.
A legislação de 1971, no que se refere ao ensino de primeiro e segundo graus,
redefine o cenário da educação profissional no Brasil. Deixando de ser limitada às
instituições especializadas, transformando a carga horária de centenas de cursos sem
investimentos específicos, perdeu-se neste período, a qualidade compatível com as
exigências de desenvolvimento do país.
Já em 1982, a Lei Federal que, por um lado, ‘livrou’ o segundo grau da
obrigatoriedade de profissionalização, por outro lado restringiu a formação profissional
às instituições especializadas.
Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) procurou
superar o enfoque “assistencialista e economicista da educação profissional, bem como
do preconceito social que a desvalorizava” (Parecer 16/995).
Esta LDB reservou um capítulo específico para a educação profissional, sendo
considerada como fator estratégico de desenvolvimento humano e competitividade para
a nova ordem econômica mundial. Continua pautada em sua importância para o
desenvolvimento econômico e social do país.
2.2 Princípios da Educação Profissional
A Educação Profissional de nível técnico está articulada por princípios que os
unem à educação básica e ao ensino médio. São norteadores da educação profissional
os valores ‘éticos, políticos e estéticos’. Tais valores, segundo o Parecer CNE/CEB
nº16/996, remetem ao fazer humano e à prática social, isto é, “qualifica o fazer humano
na medida em que afirma que a prática deve ser sensível a determinados valores”.
Ainda de acordo com este parecer, os valores estéticos devem inspirar as concepções
pedagógicas e impregnar as situações práticas nos ambientes de aprendizagem.
5 Idem Nota 3 6 Idem Nota 3
17
A incorporação do princípio ético conjuntamente à estética da sensibilidade
remete para contextos mais amplos de respeito ao outro que nos levará ao
desenvolvimento pleno da cidadania.
Ainda prevêem-se mudanças de paradigmas que envolvem novas concepções
acerca do mundo do trabalho, valorizando a diversidade e a tendência contemporânea
da produção de bens e serviços que atendam nichos específicos de mercado para
segmentos diversos de consumidores.
Diante disso a educação profissional, fundada na estética da sensibilidade
deverá organizar seus currículos de acordo com valores que fomentam a criatividade,
iniciativa, trazendo à tona valores que carregam conceitos de cidadania através do seu
fazer profissional, muito além da sua competência técnica.
Dentre os princípios também merece destaque a política da igualdade. Ainda de
acordo com o Parecer 16, este princípio é a “contribuição da educação escolar em
todos os níveis e modalidades para o processo de universalização dos direitos básicos
da cidadania”. Diante disso a educação profissional deve estar a serviço, como
princípio, dos direitos humanos como valor que permite a todo o cidadão alcançar a
dignidade, o auto-respeito e o reconhecimento social. A política da igualdade impõe à educação profissional a constituição de valores de mérito, competência e qualidade de resultados para balizar a competição no mercado de trabalho. Neste sentido ela requer a crítica permanente dos privilégios e discriminações que têm penalizado vários segmentos sociais, no acesso ao trabalho, na sua retribuição financeira e social e no desenvolvimento profissional: mulheres, crianças, etnias, pessoas com necessidades especiais e, de um modo geral os que não pertencem às entidades corporativas ou às elites culturais e econômicas. (CNE/CEB nº16/997) [grifo nosso].
A superação destas discriminações é, portanto, sobremaneira importante para a
diminuição das desigualdades sociais. Neste sentido a educação profissional deve
contribuir para a eliminação das relações de trabalho discriminatórias em prol da busca
da cidadania.
Assim a educação profissional está pautada pelo desenvolvimento de
competências para a laboralidade, pela contextualização na organização curricular e
pela atualização permanente dos seus cursos e currículos.
7 Idem nota 3
18
Todos os princípios avançam, então, no sentido de incentivar a igualdade,
promover situações de aprendizagem, através da contextualização dos conteúdos
curriculares em adequação ao mundo do trabalho, e aos novos paradigmas da
sociedade inclusiva que serão abordados no decorrer deste trabalho.
2.3 Educação Profissional para os Dias Atuais
É importante delimitarmos o papel das instituições de formação profissional na
sociedade de hoje. Segundo Manfredi (2002), nos dias atuais, ao menos no imaginário
da sociedade, a escola é uma instituição responsável pela preparação dos jovens para
o ingresso no mundo do trabalho. No entanto, isto não foi sempre assim. A escola foi
uma instituição pensada para preparar grupos seletos para o exercício do comando, do
poder e da direção social.
A autora destaca ainda que a educação no e para o trabalho é, processo complexo de socialização e aculturação dos jovens e adultos nos espaços de trabalho, entrecruzando-se com aprendizagens realizadas em outros espaços socioculturais: bairro, escola, família, sindicato, partido, movimentos sociais e políticos, além de diferentes momentos da vida de cada sujeito-trabalhador. (MANFREDI, 2002, p. 54)
Diante disto parece inegável o estreito vínculo que se forma entre a formação
para o trabalho como uma dimensão educativa do processo de formação integral do
indivíduo. A educação profissional é, pois, para Manfredi, uma dimensão a ser
incorporada aos projetos de escolarização dirigidos a jovens e adultos.
Neste sentido, é importante quebrar o paradigma da educação voltada para o
ensino das elites e do trabalho intelectual (CUNHA apud MANFREDI, 2002, p. 65), e
perceber que é possível que a educação esteja voltada para outros espaços sociais,
bem como a serviço de outros conceitos e movimentos sócio-culturais.
Assim, a educação profissional nos dias atuais deve estar a serviço dos temas
da atualidade, contribuindo para a formação do cidadão integral, ético e preocupado
com as causas da sociedade. Considerando-se ainda as atuais políticas que concorrem
para que todas as pessoas tenham acesso efetivo às conquistas científicas e
19
tecnológicas através da educação, o ensino profissional é um dos instrumentos
essenciais na qualificação profissional dos cidadãos.
Cabe destacar, ainda, a natureza multidisciplinar da educação profissional que
atende e qualifica os profissionais para os diversos setores da economia,
desenvolvendo processos, produtos e serviços. Esta natureza é decisiva no julgamento
que se faz sobre a importância da educação profissional em relação aos temas da
cidadania e de responsabilidade social – entre eles o das pessoas com necessidades
especiais.
O que se espera hoje da educação profissional é a formação para além da
laboralidade. A formação profissional deve estar atenta a práticas que garantam a
cidadania para a inserção social através de profissionais qualificados não só para o
desenvolvimento do seu saber laboral, da ciência e tecnologia, mas também de
atuações em consonância com a sociedade, com a ética, com o respeito ao outro e o
mundo no qual está inserido.
20
3 INCLUSÃO E MUNDO DO TRABALHO
3.1 O Processo Histórico da Inclusão
O processo da Inclusão das pessoas com necessidades especiais passa por
diferentes períodos históricos, que remontam desde a evolução da nomenclatura,
com referência às pessoas com deficiência - que vai desde a antiga denominação
de excepcional, deficiente, portador, entre tantos outros - até o próprio
reconhecimento do diagnóstico, no sentido de entender as capacidades individuais
e a proposta de alternativas às limitações dos PNEs.
Dentro deste contexto os mitos que se formavam em torno destas pessoas
também foram importantes para determinar a cultura que se tem hoje. A família e a
sociedade foram protagonistas de pelo menos três fases distintas: o extermínio
(consolidação da incapacidade), a alienação (exclusão assistida) e a integração
(capacidade relativa), e hoje caminham em direção da inclusão, que é a
representação da cidadania. A inclusão pressupõe a participação ativa dos
indivíduos nos processos sociais. Um mundo inclusivo é um mundo no qual todos têm acesso às oportunidades de ser e de estar na sociedade de forma participativa; onde a relação entre o acesso entre o acesso às oportunidades e as características individuais não são marcadas por interesses econômicos, ou pela caridade pública (CARVALHO, 2000, p. 111).
Na idade antiga predominou o paradigma da eliminação e do abandono. Nesta
época os deficientes eram considerados subumanos, o que tornava aceita a eliminação
destas pessoas. Os que se tornavam deficientes na idade adulta eram abandonados.
Na idade média a difusão do cristianismo foi um dos responsáveis pelo
paradigma da compaixão e proteção. Alcançado o status de ‘ser humano’, a deficiência
passa a ser uma dádiva divina. Em consonância com este pensamento, surgem as
21
casas de caridade para abrigar as pessoas com deficiência. A compaixão está, neste
retrato, acompanhada do distanciamento velado.
Já nos séculos XVIII a XIX convive-se com o paradigma da institucionalização
versus segregação. Neste período surgem os primeiros conhecimentos científicos sobre
o funcionamento fisiológico do homem, o que contribuiu para uma diminuição da visão
supersticiosa da deficiência – que, embora em menor escala, está ainda hoje presente
na sociedade. A fundação de instituições destinadas a oferecerem educação à parte
institucionaliza o paradigma da segregação.
Em 1784 surgiram na França as primeiras iniciativas para a educação de
pessoas com necessidades especiais. Neste ano foi fundado o Instituto Real dos
Jovens Cegos em Paris. Já no Brasil, em 1854, foi criado o Imperial Instituto de
Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamim Constant – IBC, e em 1857 o Instituto Imperial
de Educação de Surdos, hoje Instituto Nacional de Educação para Surdos – INES, no
Rio de Janeiro.
Em Bechtold e Weiss (2003) encontramos alguns dados sobre o
comportamento dos povos em relação aos deficientes. Os Sirionos (antigos habitantes
das Selvas da Bolívia), seminômades, não podiam transportar doentes e deficientes,
abandonando-os à própria sorte. Já os Balis (nativos da Indonésia) eram impedidos de
manter contatos amorosos com pessoas muito diferentes do normal. Os astecas
também segregavam os deficientes, em locais que se assemelhavam a jardins
zoológicos, por ordem de Montesuma, para que fossem ridicularizados.
Os hebreus viam na deficiência física ou sensorial uma espécie de punição de
Deus e impediam que estas pessoas prestassem qualquer tipo de serviço religioso. A
Lei das XII Tábuas, na Roma antiga, autorizava os patriarcas a matar seus filhos
defeituosos, o mesmo ocorrendo em Esparta, onde os recém-nascidos, frágeis ou
deficientes, eram lançados do alto do Taigeto (abismo de mais de 2.400 metros de
altitude, próximo de Esparta).
No entanto, há exemplos opostos, de povos que sempre cuidaram de seus
deficientes. Os hindus sempre consideraram os cegos com uma maior sensibilidade
interior, isto justamente pela falta de visão. Sendo assim, ao contrário do povo hebreu,
estas pessoas eram incentivadas a desempenhar atividades religiosas. Na Malásia,
22
para os Sem Ang, os deficientes físicos eram considerados pessoas sábias, cabendo
aos mesmos a solução de disputas tribais. Para os nórdicos, os deficientes eram
deuses (TIJIBOY e HOGETOP, 2001).
Os atenienses, por influência de Aristóteles, sustentavam os deficientes por
meio de um sistema de previdência no qual todos contribuíam para manter os heróis
das guerras e suas famílias. O povo romano, do tempo do império, quiçá por influência
ateniense, também agia desta forma. Esses povos discutiam para analisar qual conduta
seria apropriada, a assistencial ou a readaptação destes deficientes para o trabalho que
lhes fosse apropriado.
“Em 1723, na Inglaterra, foi fundada a Work House, a qual tinha por objetivo
proporcionar trabalho aos deficientes. Só que esta casa foi ocupada por pobres que se
livraram dos primeiros, beneficiando-se deste programa.” (BECHTOLD e WEISS, 2003,
p. 3).
A postura profissional e integrativa dos portadores de deficiência toma o lugar
da visão assistencialista a partir do Renascimento.
A partir deste apanhado vê-se então que as pessoas com necessidades
especiais eram mortas, pois a sua existência era um grande empecilho para a
sobrevivência do grupo, ou, ao contrário, eram sustentadas para agradar aos deuses,
personificando assim a surrealidade de sua sobrevivência.
Observa-se, pois, que a exclusão social, antítese da inclusão, é um processo
histórico que distingue os membros de pleno direito e os membros com um estatuto à
parte. Mais ainda, tal exclusão faz parte da normalidade das sociedades. (XIBERRAS
apud CARVALHO, 2004).
Embora ainda existam situações adversas, a postura da família e da
comunidade tem evoluído e ajudado a sociedade a reestruturar-se, seja através do
esclarecimento, seja através de suas reivindicações. Em todo este processo o papel da
família sempre foi fundamental, pois nela está o alicerce e a principal decisão do
indivíduo com necessidades especiais em mostrar-se e ocupar o seu lugar quando se
fala em inclusão.
23
(...) é preciso que os pais acreditem no potencial de seus filhos e procurem integrá-los à sociedade.
De acordo com Glat (1996), integrar um membro deficiente é deixar que ele ocupe um espaço na constelação familiar, nem maior nem menor que os demais. (...) Enfim o sucesso ou fracasso escolar das crianças deficientes não depende apenas da qualificação dos profissionais (...), mas também de expectativas e mensagens inconscientes que os pais transmitem às mesmas. (YAEGASHI et al, 2001, p. 412)
As novas exigências sociais passam por questões de respeito ao outro e à sua
limitação. Trata-se da adaptação, não da pessoa com necessidade especial ao mundo,
mas, finalmente, do mundo à pessoa com necessidades especiais. Somente o
reconhecimento da “existência real” destas pessoas já é um grande início de um
processo de atendimento de suas necessidades.
A inclusão é diferente da integração. Na primeira as pessoas com necessidades
especiais estão muito mais próximas à cidadania, enquanto na última sua participação
social dependia do quanto conseguiam se adaptar à sociedade. A prática da integração, principalmente nos anos sessenta e- setenta, baseou-se no modelo médico da deficiência, segundo o qual tínhamos que modificar (habilitar, reabilitar, educar) a pessoa com deficiência para torná-la apta a satisfazer os padrões aceitos no meio social (familiar, escolar, profissional, recreativo, ambienta). Já a prática da inclusão, incipiente na década de oitenta porém consolidada nos anos noventa, vem seguindo o modelo social da deficiência, segundo o qual a nossa tarefa é a de modificar a sociedade (escolas, empresas, programas, serviços, ambientes físicos etc.) para torná-la capaz de acolher todas as pessoas que, uma vez incluídas nessa sociedade em modificação, poderão ter atendidas as suas necessidades, comuns e especiais (SASSAKI, 1998, p. 8). [grifo nosso].
Portanto, é falso acreditar que para incluir bastam adaptações de ambientes
físicos (rampas, elevadores, etc.) Se não houver a busca de soluções de inclusão que
contemplem todos os aspectos necessários para que a pessoa com necessidades
especiais possa “viver junto”, estaremos parados no tempo e fadados a modelos
antigos e insuficientes. Neste sentido, a inclusão não significa nivelar de forma igual os
diferentes, mas respeitar as diversidades e a individualidade de cada um,
proporcionando oportunidades de acordo com suas características pessoais.
Diante disso, ao que parece, o processo da inclusão tem caminhado a passos
mais largos quando se trata dos aspectos educacionais do que em relação à inclusão
no mundo do trabalho.
24
3.2 Mundo do Trabalho para as Pessoas com Necessidades Especiais
O mundo do trabalho pode ser analisado por diversas óticas. Analisar a sua
significação para o homem é uma perspectiva inicial que tenta elucidar a importância
desta temática em relação às pessoas com necessidades especiais. O seu significado
para a sociedade será determinante para o sentimento de inclusão e exclusão que o
indivíduo com deficiência enfrenta.
Do ponto de vista histórico, Marx (apud GIORDANO, 2000) estabelece uma
mediação entre o homem e a natureza, pois através do trabalho o primeiro altera sua
relação com esta. Destaca o trabalho como sendo: (...) a expressão própria do homem, uma expressão de suas faculdades mentais. Neste processo de atividade genuína, o homem desenvolve-se a si mesmo, torna-se ele próprio; o trabalho, não só um meio para um fim –o produto – mas um fim em si mesmo. A expressão significativa da energia humana. Marx (apud GIORDANO, 2000, p. 47).
Por sua vez, Vygotsky, com influencia marxista, na sua teoria sócio-historia de
desenvolvimento, atribui à atividade humana papel primordial na aprendizagem e
desenvolvimento. É através da atividade, nos diz este autor, que a pessoa modifica a
natureza, cria objetos, cria cultura. “Ao mesmo tempo em que os ser humano
transforma o seu meio para atender suas necessidades básicas, transforma-se a si
mesmo” (REGO, 2008, p. 41).
Segundo Daniels (2003) a ‘atividade’ é usada como um termo que denota longa
duração, com longa função desenvolvimental e é caracterizada por constantes
transformações e mudanças.
Para Giordano (2000) os contextos sociais, econômicos e culturais agregados a
crenças e valores de cada período analisado, são cruciais para a análise do significado
do trabalho, e conclui, que a significação do trabalho pode tornar-se diferente pelas
variáveis sócio-históricas e individuais.
Do ponto de vista psicológico, o trabalho é atividade de caráter social e seu
significado transcende a subsistência para assumir um importante elemento da
constituição da identidade social
25
Outros estudos apontados por Giordano (2000) dão conta do papel da
centralidade do trabalho como eixo referencial na vida dos indivíduos. Tal pensamento
pode guiar-nos numa tendência da nossa sociedade contemporânea onde o trabalho
assume, por diversas vezes, valores muito mais importantes que outros eixos – como a
família – ocupavam no passado.
A representação social do trabalho em contraponto a esta “ausência da
produtividade” das Pessoa com Necessidades Especiais fecha o círculo vicioso da
exclusão, uma vez que os mitos alimentados pela sociedade, devem-se, muitas vezes,
“muito mais ao fato da sociedade perceber tais indivíduos como não participantes e
alienados do processo produtivo numa cultura predominantemente de consumo”
(TIJIBOY e HOGETOP, 2001, p, 95) do que uma construção conceitual consciente
sobre o assunto.
Do ponto de vista social, o trabalho é hoje propagado como ícone do direito à
cidadania e dignidade pessoal e tem sido destacado como objetivo terminal de inclusão
da pessoa com necessidades especiais. Segundo Lancillotti (2003) é importante
considerar as contradições internas do sistema de uma sociedade capitalista na qual
esta problemática ‘trabalho e deficiência’ está inserida. Na sociedade capitalista o trabalho é visto, essencialmente como possibilidade de inserção no circuito de produção-consumo [...] sem entrar pelo atalho do mito do “paraíso perdido” da era pré-industrial, ressalto apenas a perda significativa da possibilidade genérica da fruição da díada trabalho/prazer [...] este talvez seja o ponto principal, o resgate do papel do trabalho: seu potencial de elemento significativo, seja na auto-realização, seja na configuração da auto-estima, seja na independência econômica, na autonomia, no prazer presente no processo e no produto, na sensação de aceitação e “pertencimento” [...] enfim o resgate da visão do trabalho como fonte de satisfação na vida das pessoas com deficiência. (AMARAL apud LANCILOTTI, 2003, p. 12).
Diante disto, a produtividade da pessoa com deficiência, embora esteja (no
imaginário do empresariado) muito aquém dos padrões ideários do funcionário padrão,
vai muito além da produção de bens e serviços e está associada à transformação da
cidadania e da dignidade da pessoa humana na sociedade contemporânea.
Lancillotti (2003) ainda destaca, com efeito, que mesmo aqueles que
correspondem ao ideal de uma determinada sociedade podem não ter esse mesmo
acesso em decorrência das condições econômicas e sociais em que vivem. Tais
26
circunstâncias explicitam as dificuldades da inclusão de pessoas com necessidades
especiais no trabalho em tempos de desemprego estrutural.
Embora a legislação proteja a pessoa com necessidades especiais através da
reserva de vagas em empresas8, é sabido que apenas a publicação de leis não lhe
garante a aplicação. Ainda é lenta a adaptação do mundo do trabalho, tanto do ponto
de vista atitudinal como arquitetônico.
Sassaki (1997, p. 90) defende ainda que medidas legais, conhecidas como
“ações afirmativas”, geralmente são pouco eficazes na maioria dos países em que
foram implantadas. Para o autor, a verdadeira inclusão apresenta-se através de
“efetivas medidas [...], programas e projetos de sensibilização, conscientização e
convivência na diversidade humana, em conjunto com ações de responsabilidade social
empresarial”.
Ainda segundo Sassaki (1997) o processo de inclusão no mercado de trabalho
pode se caricaturar em um campo de batalhas. De um lado as pessoas com deficiência
e seus aliados em busca de empregos e, de outro lado, os empregadores
despreparados e desinformados sobre a questão da deficiência. Para o autor, este
processo perpassa por quatro fases: da exclusão, da segregação, da integração e a da
inclusão.
Na fase da exclusão não havia nenhum acesso ao mercado de trabalho. A
exclusão baseava-se em conceitos protecionistas (nos quais o trabalho de um
deficiente poderia ser visto como exploração) e também por desconhecimento da
medicina na época. Em um segundo momento a fase da exclusão era por assim dizer
uma conseqüência de diversos outros problemas, tais como falta de qualificação e
escolaridade, dificuldades no transporte, entre outros.
Na fase da segregação a oferta de trabalho – e não empregos – baseava-se em
uma postura paternalista ou por vezes exploratória, a fim de se obter uma mão de obra
barata.
Com relação à terceira fase, da integração, há diferentes formas de acesso das
pessoas com necessidades especiais ao trabalho. São elas a admissão de pessoas
8 Lei nº 8213 de 1991 que instituiu que empresas com cem ou mais empregados destinassem cotas de 2% a 5% dos seus cargos para pessoas com necessidades especiais.
27
com qualificação profissional sem nenhuma modificação no ambiente de trabalho; a
admissão de pessoas e a realização de pequenas modificações por motivos práticos e
a contratação de pessoas com necessidades especiais, que trabalham em setores
exclusivos, portanto segregativos.
A quarta e última fase ainda estão em construção. Segundo Sassaki (1997) é
nesta fase que se pretende construir um panorama onde o mundo do trabalho tende a
não ter dois lados.
Na obra “Sem limite” (IBDD, 2003), depoimentos de pessoas com necessidades
especiais destacam os problemas citados por Sassaki (1997) na fase da exclusão.
Impressiona a grande ocorrência de relatos que citam os problemas de
desconhecimento das empresas e a dificuldade no transporte.
Em contrapartida a estes depoimentos Sassaki (1997, p. 63) relata uma
mudança de comportamento. Para ele, no Brasil, a inclusão vem sendo praticada em pequena escala por algumas empresas, mesmo sem saberem que estão na realidade adotando uma abordagem inclusivista. Tudo começou com pequenas adaptações especificamente nos postos de trabalho, com apoio daqueles empregadores compreensivos que reconheciam a necessidade de a sociedade abrir mais espaços para pessoas com deficiência com qualificação para o trabalho e desejavam sinceramente envolver suas empresas no esforço de empregá-las modificando suas empresas.
É evidente então que as “empresas” são na verdade “as pessoas” ou “os
profissionais” que as compõem. Assim, o investimento deve se voltar para o potencial
humano e a sua capacidade de agir dentro destas organizações.
Sobre os obstáculos ao emprego de pessoas com necessidades especiais,
Scher (apud SASSAKI, 1997, p. 61) afirma que há apenas quatro sérias barreiras que precisam ser removidas: 1) a barreira atitudinal, 2) a falta de ambiente favorável, 3) a não vontade de efetuar acomodações razoáveis, 4) a falta de informação sobre recursos de reabilitação e técnicas de desenvolvimento de empregos.
Aparentemente, tais barreiras seriam facilmente contornáveis através do
esclarecimento, da conscientização e da remoção das barreiras atitudinais. Para isso, é preciso desenvolver estratégias que insiram o problema da pessoa portadora de deficiência na discussão e no encaminhamento das principais questões sociais brasileiras. Precisamos produzir modelos inovadores de ação conjunta da sociedade organizada e do Estado, com o objetivo de tirar essa questão da marginalidade e, finalmente, trabalhar pela integração social da pessoa
28
portadora de deficiência e por sua cidadania, contando com a participação essencial de suas instituições de luta e de atendimento (IBDD, 2003, p. 31).
Isto é, as questões das pessoas com necessidades especiais devem estar
na pauta das discussões sociais, que vão muito além dos muros escolares, mas lá
se iniciam. Esta pauta também não deve limitar-se aos PNEs, mas deve incluir toda
a sociedade em relação aos PNEs.
Sassaki (1997) lembra ainda a importância da capacitação e desenvolvimento
dos recursos humanos para que os trabalhadores saibam lidar com as questões da
deficiência. Vigolo (2004, p. 53) salienta que “percebe-se que a empregabilidade das
PNE’s percorre um caminho bastante difícil” e acrescenta: “o desconhecimento sobre
esse sujeito, as representações que os cercam revelam-se como um dos maiores
entraves para modificar essa realidade”. Neste sentido reforça a importância do
destaque feito por Sassaki (1997), de que o conhecimento é condição para a mudança
da realidade.
Neste mesmo viés, a obra “Sem limite” (IBDD, 2003 p. 32), destaca a
importância da “normalização” do tema (que ao nosso entender, ocorre através do
acesso ao conhecimento). Acrescenta ainda: “precisamos utilizar novas formas de
intervenção [...] em projetos modelares inovadores e alternativos”.
Carreira (1996) detectou, em sua pesquisa, que a falta de conhecimento do
potencial das pessoas com deficiência era um dos grandes motivos que impediam ou
dificultavam a contratação de pessoas com necessidades especiais pelas empresas.
Para esse autor haveria necessidade de se investir na formação dos empresários, para
que eles aprendessem como lidar com a diferença. Para tanto, complementa, seria
importante que se desmistificassem idéias errôneas sobre a deficiência. Um dos
caminhos seria a oportunização de espaços para discutir essa questão, tirar suas
dúvidas e fazer os questionamentos necessários.
Vígolo (2004), investigando as representações das pessoas com necessidades
especiais no mundo do trabalho e constatando uma determinação de tarefas a priori
para categorias de PNEs, ressalta
29
(...) não existem tarefas específicas dentro de uma empresa para cada subcategoria - de pessoas surdas, deficientes físicas, mental ou cegas. Cada indivíduo, dentro de suas potencialidades, pode vir a ocupar um lugar diferente daquele que lhe é destinado, de acordo com seus próprios desejos e motivações (VIGOLO, 2004, p. 27).
Ainda segundo Vigolo (2004) - ela mesma deficiente física desde a sua infância
e usuária de cadeira de rodas para locomover-se9 - o emprego para o deficiente
representa muito além da subsistência, contribui para mudanças na sua representação
na sociedade, dando-lhe possibilidades de conquistar a cidadania, através do exercício
de seus direitos e responsabilidades. Neste sentido, para Tijiboy e Hogetop (2001, p,
95) “a conotação “dEFICIENTE”, vem sendo gradativamente ampliada por um número
maior de Pessoas com Necessidades Especiais e por profissionais na área, refletindo
uma implícita imagem de competência” e, é esta eficiência que ser quer refletir através
de mudanças de concepções errôneas, preconceituosas e ainda dominantes na
sociedade.
9 Termos e dados informados pela autora.
30
4 UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA INCLUSIVISTA
Por acreditar na importância da educação para a formação da cidadania, bem
como na exigência de profissionais mais conscientes em relação ao mundo que os
cerca, acreditamos na importância de se trabalhar a inclusão em sala de aula. Neste
sentido, pensar na introdução de conhecimentos e experiências sobre as necessidades
especiais na educação regular de todas as pessoas, como uma ferramenta de
eliminação das barreiras atitudinais, é objetivo principal deste trabalho.
Mais ainda, se considerarmos a importância da educação profissional como
nível de escolarização de suma importância para o desenvolvimento tecnológico do
país, é nesta mão de obra que se vislumbra grande parte dos profissionais do futuro.
Neste sentido, queremos que estes profissionais tenham conhecimento sobre a
diversidade, para que, no futuro, possam não só aceitar a inclusão nas empresas em
que atuam, mas também trabalhar por ela.
Mesquita (s/ano)10 conta-nos uma pequena narrativa na qual um professor da Faculdade Getúlio Vargas, num Congresso em São Paulo (...), contava como despertou para a importância de adaptar seu currículo do curso de Administração para atender pessoas com necessidades especiais. Numa aula, falando sobre disposição de móveis num escritório em relação à luz do dia, ouviu de um aluno (segundo ele), "espírito de porco”: - E se a pessoa for canhota?... E se for cega?... E se usar cadeira de rodas? O professor começou a refletir sobre essas peculiaridades, modificando suas aulas e preparando alunos para, como empregadores, preocuparem-se com essas questões. Dessa forma, disseminou suas idéias aos outros professores que, aos poucos, fizeram o mesmo.
Mais do que um exemplo, destaca-se, com efeito, a educação como ferramenta
capaz de modificar comportamentos no que se refere à inclusão. Para além da
educação inclusiva, é importante salientarmos a abordagem de assuntos da Inclusão
nas salas de aula. Acrescenta ainda
10 disponível em http://www.bengalalegal.com/mercado.php acesso em 24 de junho de 2009.
31
se começarmos a trabalhar nesse sentido, desde a Educação Infantil, estaremos formando cidadãos que amanhã serão empregados e empregadores mais conscientes quanto ao acolhimento natural do diferente. Se eu não convivi na infância com uma pessoa com deficiência na escola, ficará difícil o convívio no trabalho. O meu colega será sempre um deficiente que não deve pensar normalmente como eu... e suas oportunidades serão sempre escassas. Que homem é este que devemos formar? Na há fôrmas, há formas. Somente a escola poderá valorizar a diferença como elemento enriquecedor do desenvolvimento pessoal e social, definindo a inclusão como um projeto da escola que incorpora a diversidade como eixo central da tomada de decisões. (MESQUITA s/ano)11
Assim, este trabalho alinha-se com as afirmativas acima, destacando a
importância da inserção dos conteúdos sobre necessidades especiais para alunos
regulares, desta vez em Curso Profissionalizante. Neste sentido, o que se propôs foi
incluir alunos ditos “normais”, isto é, permitir a estes alunos a participação efetiva na
sociedade inclusiva, subsidiando-os com informações atuais e desvinculadas de antigos
preconceitos sobre as pessoas com necessidades especiais.
Além da intervenção pedagógica sobre inclusão, apresentaremos também os
resultados e alguns registros dos alunos, no intuito de sustentar a realização de
atividades como estas e propor sua propagação para os demais cursos
profissionalizantes.
4.1 Metodologia
O presente estudo organizou-se em três fases e envolveu uma turma de 22
alunos, com idades acima de 18 anos, do primeiro semestre do curso de Secretariado,
no ano de 2008, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Sul, Campus Porto Alegre.
Dentre os onze cursos desta Instituição, o Curso Técnico em Secretariado
destaca-se por desenvolver, de forma permanente, há cerca de cinco anos, conteúdos
relacionados ao atendimento de PNEs dentro do contexto da formação profissional dos
alunos, com vistas ao mundo do trabalho. Tal prática foi pioneira na Instituição, sendo
adotada posteriormente por mais um Curso.
11 Idem nota 10.
32
A turma escolhida, portanto, já se encaixava nesta realidade de conteúdos. Isto
é, fazia parte do seu currículo conteúdo sobre PNEs e sua inclusão no mercado to
trabalho. No entanto, pela primeira vez, objetivou-se conhecer melhor como pensavam
os alunos, além de acompanhar o desenvolvimento destes conteúdos no que diz
respeito à repercussão nos alunos.
Estávamos cientes de que reais mudanças atitudinais precisariam de maior
tempo e também de evidências concretas no seu agir cotidiano e, principalmente, no
exercício da profissão. Porém, interessava-nos ao menos sondar as inclinações dos
alunos quanto a essas possíveis mudanças atitudinais.
Na primeira fase da coleta de dados, os alunos receberam informações sobre o
objetivo da pesquisa e foram convidados a responder dois questionários durante a aula.
O questionário A (Anexo A) foi aplicado no intuito de conhecer o que os
estudantes sabiam previamente sobre Necessidades Especiais, bem como identificar o
seu interesse sobre o assunto. Este instrumento continha seis perguntas, sendo uma
aberta.
A segunda fase caracterizou-se pela intervenção da pesquisadora com
conteúdos sobre Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiais (Resumo do
conteúdo no Anexo B) aplicados ao enfoque do Curso. Nesta fase, procurou-se
subsidiar os alunos com informações, elucidando as questões relativas a mitos e
preconceitos, bem como refletindo sobre situações profissionais com PNEs. Este
trabalho teve o formato de aula participativa, com exposição visual através de
apresentação em programa Power Point e espaço para depoimentos e
questionamentos acerca do assunto. Esta fase caracterizou-se, também, pela
sensibilização para com o tema da inclusão e por instigar reflexões, questionamento de
mitos e reformulação de crenças, intervindo intencionalmente para a mudança de
paradigmas. A reflexão também esteve focada sobre situações de trabalho, na
perspectiva de que é possível e desejável conviver com pessoas com necessidades
especiais, sem exclusão, tanto em relações pessoais como profissionalmente.
Na terceira fase, configurando-se em coleta de dados, com objetivo de
averiguar a possível mudança de concepções e o interesse dos alunos na abordagem
do assunto, o mesmo grupo de alunos foi convidado a responder ao questionário B
33
(Anexo C). Este instrumento, com sete perguntas, duas das quais abertas, procurou
avaliar o envolvimento e sentimento pessoal dos respondentes em relação ao assunto
estudado.
Salienta-se que tais questionários não tiveram nenhuma inferência avaliativa e
não procuraram representar quantitativa ou mesmo qualitativamente o aprendizado do
conteúdo estudado, significando apenas uma reflexão pessoal por parte dos alunos
acerca do seu entendimento sobre o assunto. Também se destaca que os questionários
não foram identificados, com forma de buscar maior autenticidade nas respostas,
evitando-se assim qualquer constrangimento ou indução dos respondentes.
Ambos os questionários foram elaborados com perguntas fechadas, em que as
questões apresentam categorias ou alternativas de respostas preestabelecidas, assim
como também de perguntas abertas, destinadas a aprofundar as opiniões do
entrevistado. Assim, os instrumentos basicamente apuraram a relevância e a
aplicabilidade do conteúdo abordado, os novos conhecimentos adquiridos e a relação
dos respondentes com estes assuntos.
Em relação à pergunta que identificou grau de conhecimento sobre os tipos de
deficiência, antes e depois da atividade de sensibilização, foram atribuídos os seguintes
pesos para apuração da pontuação: 0 para nada, 1 para quase nada, 2 para alguma
coisa e 3 para muito. A pontuação, situada em escala de 0 a 100, resulta da soma das
multiplicações das quantidades de assinalações pelos pesos atribuídos, como forma de
valorizar as respostas segundo o nível de conhecimento sobre a matéria. Geralmente
se utiliza este tipo de escalas para priorizar categorias (neste caso, os tipos de
deficiência) mediante uma pontuação ponderada, com uso de pesos diferenciados por
grau de conhecimentos.
Os demais resultados são apresentados em termos de números de
respondentes, pois não houve a necessidade de avaliação comparativa de diferentes
categorias
Foi verificado também o grau de interesse despertado no tema e sobre novas
estratégias e abordagens do conteúdo na estrutura curricular do Curso.
34
4.2 Resultados Obtidos
Analisando-se as respostas obtidas nos questionários A e B (pré e pós
intervenção pedagógica) pudemos observar, inicialmente, que a maioria dos alunos é
cuidadosa ao responder acerca do seu conhecimento sobre pessoas com
necessidades especiais.
Depoimentos colhidos durante a atividade revelaram que os alunos
desconhecem se aquilo que pensavam saber sobre PNEs era correto ou não, o que
justificaria tal cuidado. Como mostra o Gráfico 1, a maioria das respostas permaneceu
numa zona de conforto, nenhum aluno considerou-se “muito” conhecedor sobre
pessoas com necessidades especiais.
0
7
12
0
nada quase nada alguma coisa muito
Gráfico 1 – Conhecimento prévio sobre PNEs
Posteriormente ao trabalho em aula, na mesma pergunta, no questionário B, os
alunos revelaram estar mais à vontade com esta questão. Nenhum aluno revelou não
conhecer nada ou quase nada sobre PNES. Como mostra o Gráfico 2, o número de
alunos que respondera saber “alguma coisa” inicialmente passou a expressar que sabia
“muito”. Embora esta resposta não seja significativa sobre o real conhecimento dos
alunos, revela mais aproximação com este tema.
35
0 0
10
12
nada quase nada alguma coisa muito
Gráfico 2 – Conhecimento posterior à atividade em aula
Na segunda pergunta, os alunos foram inquiridos acerca de seu conhecimento sobre quatro grandes grupos de deficiências: física, visual, auditiva e mental – os
mesmos grupos que foram abordados na atividade de sala de aula. O Gráfico 3
representa comparativamente o crescimento do conhecimento que os respondentes
afirmaram ter após a atividade. Em todas as respostas, foi significativa a evolução do
sentimento dos alunos sobre o que conheciam sobre o assunto.
45
76
40
81
40
76
37
75
Física Visual Auditiva Mental
antes depois
Gráfico 3 – Conhecimento sobre os tipos de deficiência
NOTA: No gráfico 3, são atribuídos pesos de apuração da pontuação: 0 para
nada, 1 para quase nada, 2 para alguma coisa e 3 para muito. A pontuação,
situada em escala de 0 a 100, resulta da soma das multiplicações da quantidade
36
de assinalações pelos pesos atribuídos em cada um dos tipos de deficiência,
como forma de valorizar as respostas segundo o nível de conhecimento sobre a
matéria.
A resposta ao item 4 do questionário A (prévio) foi comparada à resposta 3 do
questionário B (posterior), onde os alunos foram perguntados o quanto se sentiam
preparados para trabalhar com uma pessoa com necessidades especiais. Como
apontam os resultados no Gráfico 4, embora tenhamos tido uma significativa evolução
nas respostas dos alunos, em se tratando do assunto, ainda há um grupo que
permanece cauteloso quanto a esta possibilidade. Tal resultado não só não surpreende
como também retrata a realidade de nossa sociedade. Anos de segregação ainda
deixam marcas quando se trata de inclusão. Na verdade, ao que parece, tais respostas
evidenciam um sentimento comum – de que dificilmente as pessoas se sentem
plenamente preparadas para trabalhar com PNEs, principalmente antes de vivenciarem
tal experiência.
10
3
108
1
8
02
Não Um pouco Bastante Plenamente
antes depois
Gráfico 4 – Preparo para trabalhar com Pessoas com Deficiência
Na questão 5 dos questionários A e B, quando perguntados se ter conhecimento sobre pessoas com necessidades especiais era importante, em
ambos os momentos as respostas revelaram-se extremamente favoráveis (Gráfico 5).
Tal resultado pode significar um movimento de responsabilidade social crescente em
que os cidadãos parecem estar mais conscientes a respeito das causas sociais como a
37
Sim21%
Não79%
inclusão de pessoas com necessidades especiais. Neste sentido, provavelmente as
campanhas publicitárias e movimentos sociais de conscientização revelam-se
importantes canais de esclarecimento e modificação de comportamentos.
0 0 0 0
6 7
14 15
Não éimportante
é poucoimportante
é bastanteimportante
é de sumaimportância
antes depois
Gráfico 5 – Importância de ter conhecimento sobre PNEs
Duas outras perguntas foram aplicadas. A pergunta 3 do questionário A
(prévio), no sentido de mapear e conhecer as realidades dos alunos inquiridos; e a
pergunta 4 no questionário B (posterior), para avaliar uma possível ação dos alunos se
confrontados com uma situação de aplicação prática sobre o tema.
Na primeira pudemos observar que, dos 19 alunos que responderam, 78,9%
nunca trabalharam com uma pessoa deficiente. Apenas 4 alunos (21%) já teve uma
experiência de convivência no trabalho, estes dados podem ser visualizados pelo
Gráfico 6.
Gráfico 6 – Já trabalhou com pessoa deficiente
38
No caso da pergunta 4, realizada no questionário B – se o aluno escolheria
uma pessoa com necessidades especiais para trabalhar, caso fosse responsável
pela seleção (considerando que sua deficiência permitisse o exercício da atividade) -
observou-se que 95% dos alunos responderam afirmativamente, conforme ilustrado no
Gráfico 7. Para fins de análise desta resposta nos faltam informações que apontem
concretamente para o seu significado. Podem-se intuir, no entanto, alguns caminhos.
Inicialmente, de forma pouco otimista, podemos supor que os alunos tenham sido
levados a tal resposta pelo calor da discussão e informações do momento, sem refletir
muito sobre o assunto. Por outro lado, sabe-se também que há um forte trabalho dos
meios de comunicação envolvendo compromisso social e pessoas com necessidades
especiais, o que pode ter induzido à resposta obtida. De qualquer forma, é preciso,
enquanto investigador, não acreditar de pronto que mudanças tão profundas e
definitivas ocorreram em uma proporção tão expressiva de alunos, mas que há um
movimento neste sentido, alavancado por toda uma mudança de postura da sociedade.
sim95%
outra resposta 5%
Gráfico 7 – Contrataria uma Pessoa com Deficiência
39
4.3– Análise e Reflexão sobre os Dados Coletados
Ao analisar os resultados obtidos pelas perguntas 1 de ambos os questionários,
pudemos verificar como os alunos ainda estão carentes de informações e reflexões
mais profundas sobre o tema, tal verificação possivelmente reflete uma realidade da
sociedade. Os resultados obtidos com este grupo de alunos nos faz pensar que, apesar
da informação disponível nos meios de comunicação, são relevantes um maior
conhecimento especificamente aplicável na área da profissão escolhida e,
principalmente, momentos de reflexão, de desequilibrações quanto a antigas verdades
acerca de inclusão de PNEs nas instituições de formação profissional. Em concordância
com Ribas (2007, p. 21), acreditamos que (...) ainda temos um longo caminho de conhecimento a trilhar. O Brasil é um país imenso, com profundas contradições e injustiças sociais que afetam diferentemente as regiões. O que sabemos sobre a situação das pessoas com deficiência (...) é ineficiente para que qualquer política pública seja eficaz.
Acrescenta ainda o autor que “o preconceito é filho bastardo e degenerado da
desinformação” (RIBAS, 2007, p. 22) [grifo nosso].
Sobre este aspecto pudemos verificar que já há um entendimento sobre a
importância destes conhecimentos pelos alunos, conforme respostas à pergunta 6
do questionário A (Anexo A), corroborando as respostas obtidas e descritas no Gráfico
5 (Importância de ter conhecimento sobre PNEs). Tais respostas evidenciam o
entendimento da importância deste assunto não só para o seu trabalho, mas também
para as suas vidas, e isto merece destaque. Seguem algumas das respostas dadas à
questão aberta com tais justificativas: Aluno 1: ‘Pois as pessoas com necessidades estão cada vez mais no mercado de trabalho, se inserindo mais no convívio social dito ‘normal’. Aluno 2: ‘Para que haja inclusão social destas pessoas é necessário que tenhamos conhecimento para que não haja preconceitos e injustiças...’ Aluno 3: ‘Conhecer as necessidades das pessoas com alguma deficiência auxilia tanto para atendê-los quanto para trabalhar com elas. Às vezes, aumentamos a incapacidade da pessoa, constrangendo a ela e a nós mesmos.’
No que se refere ao sentimento de conhecimento que a atividade imprimiu aos
alunos, embora as respostas do Gráfico 3 (Conhecimento sobre os tipos de deficiência)
refiram um incremento importante, destaco que ainda são cautelosas as respostas
40
expressas pelo Gráfico 4 (Preparo para trabalhar com Pessoas com Deficiência). Desta
última está implícito o envolvimento prático do respondente e neste quesito os alunos
se revelaram prudentes em suas respostas. Este resultado induz-nos a pensar no
entendimento da complexidade do tema e, portanto, no cuidado com a resposta, visto
que estamos analisando respondentes adultos, muitos dos quais já comprometidos com
o mundo do trabalho.
Por outro lado, embora “preparo” seja diferente de desconforto - que algumas
pessoas sentem no convívio com a diversidade – não temos dados para averiguar
precisamente a motivação dos alunos para responderem a estas perguntas. Isto é, para
saber se a falta de preparo realmente é desinformação e falta de oportunidade para
interagir com PNEs ou se acoberta o desconforto do respondente, sendo o “não
preparo” uma justificativa ou desculpa para se isentar dessa não interação. A esse
respeito, Pastore (2000) acredita que algumas pessoas ainda se sentem
desconfortadas no contato com deficientes, acrescentando ainda que tal sentimento,
em geral, deve-se a um “profundo desconhecimento”. E complementa o autor: Esse é o grande desafio da sociedade contemporânea: dar um passo para enxergar as pessoas como um todo e não apenas como portadora de uma determinada limitação que, na maioria das vezes, desaparece mediante uma ação do lado social. (PASTORE, 2000, p. 24).
Analisando-se as respostas expressas pelo Gráfico 5 (Importância de ter
conhecimento sobre PNEs) e do Gráfico 7 (Contrataria uma Pessoa com Deficiência),
ressalvando-se os cuidados já citados anteriormente quanto aos resultados desta última
análise cabe aqui um destaque quanto a representação social da deficiência nos dias
atuais e a implicação com estes resultados. Além disso, a análise dos dados permite a
definição da importância da permanência destes conteúdos de inclusão diretamente
correlatos ao mundo do trabalho na perspectiva dos alunos.
Se considerarmos que o paradigma da inclusão a partir da década de 90
“inspira a sociedade nas modificações estruturais e conjunturais que ela precisa efetuar
nos seus sistemas gerais ou comuns” (BAHIA, 2006, p. 22), para que todas as pessoas
possam viver nesta comunidade podemos entender este movimento de respostas tão
positivo pelos respondentes.
41
Além disso, precisamos “reconhecer que inúmeros profissionais de mídia já
estão atentos para o papel que representam como construtores do imaginário social”
(RIBAS, 2007, p. 87), e esta divulgação é muito importante para mudanças nas
comunidades onde a informação sobre PNEs ainda recorre a estigmas e mitos do
passado. Assim, o grande número de respostas que destacou como sendo de “suma
importância” o conhecimento acerca dos PNEs, em contraponto a nenhuma resposta
negativa, bem como o alto índice de respondentes que estariam dispostos a contratar
uma pessoa com deficiência, sugerem uma possível mudança de comportamento, cujas
raízes ultrapassam o alcance desta pesquisa.
Apenas a título de informação estatística apuramos que apenas 21% dos
respondentes trabalham ou já trabalharam com pessoa deficiente. Este número ilustra
as informações disponíveis12 sobre as grandes desigualdades existentes no campo do
trabalho das pessoas com necessidades especiais, assim como corrobora o
desconhecimento dos estudantes sobre o assunto. A este respeito Pastore (2000, p.
25) traz algumas reflexões importantes: (...) é no mundo do trabalho que as tentativas de evitar as pessoas com necessidades especiais mais aparecem. Dentre os que podem trabalhar, é ainda comum a rejeição de profissionais qualificados pelo simples fato de serem portadores de alguma limitação – mesmo que esta não afete o desempenho no trabalho. É a desconsideração da eficiência e o enaltecimento da deficiência.
Por fim, os alunos foram perguntados sobre outras ações que julgassem
importantes para conhecer mais sobre o tema das pessoas com necessidades
especiais em função do seu Curso e formação pessoal. Destaca-se que totalidade das
respostas não se limitou apenas à intervenção pedagógica ora realizada. Os
respondentes sugeriram a realização de palestras e maiores informações como
ferramentas de atualização profissional sobre o assunto. Também manifestaram
interesse em vivenciar situações de interação direta e diálogo com pessoas com
deficiência, a fim de aproveitar seus depoimentos, relatos e vivências. Esta inquietação
reflete ainda conseqüências do passado de segregação (SASSAKI, 1997) no qual as
pessoas com necessidades especiais eram excluídas do convívio social. Ainda hoje é
relativamente escasso o convívio da população com essas pessoas.
12 Dados do IBGE (2000) apontam que apenas 51% das pessoas com deficiência, em idade produtiva, estão empregados. Disponível em http://www.ibge.gov.br/censo/
42
4.4 Formação de Profissionais Inclusivistas: uma proposta possível
A partir da análise e reflexão sobre os resultados obtidos, tornou-se inevitável
não avançar no sentido de propor mudanças curriculares simples, mas permanentes e
mais abrangentes nos cursos profissionalizantes.
Desta forma, o presente trabalho não só enfatiza a importância do
conhecimento sobre pessoas com necessidades especiais no Curso Técnico de
Secretariado, mas também sugere, a partir das conclusões da pesquisa, que sejam
também incluídos nos currículos dos demais cursos profissionalizantes saberes
mínimos para se formar profissionais atentos para a questão da inclusão.
Se é de consenso que inovações tecnológicas e sociais podem ser originadas
de Profissionais de Nível Técnico, constatando-se assim a capacidade de gerar
conhecimento atualizado, inovador, criativo e operativo, então, por que estes mesmos
profissionais não poderiam imprimir mudanças no campo da inclusão, através de um
efetivo comprometimento com o desempenho de sua profissão em relação aos PNEs?
Este trabalho apoiou-se na convicção da “superação do enfoque tradicional da
formação profissional baseado apenas na preparação para execução de um
determinado conjunto de tarefas” (BRASIL, 2000, p. 78). Formar profissionais éticos,
humanos, cidadãos e preparados para os novos desafios de uma sociedade inclusiva
(muito além dos seus conhecimentos específicos técnicos) e respondendo aos anseios
do atual mundo do trabalho, pode se configurar numa forma de superação do enfoque
tradicional atribuído à formação profissional que as Escolas Profissionais vêm
realizando.
Diante do exposto, acreditamos que, embora não possamos esperar mudanças
de comportamento imediatas, podemos contribuir para que os diversos profissionais
formados pelas Escolas Profissionalizantes estejam em consonância com uma
perspectiva mais inclusivista. Desta forma, instituições de ensino profissional que se
preocupem em oferecer uma formação não apenas técnica, mas integral de
profissionais mais atentos às novas exigências atitudinais, representam vanguarda e
43
implicam o reconhecimento da importância cada vez maior da formação de técnicos
voltados para as necessidades do mundo de trabalho e para uma sociedade inclusiva.
Por outro lado, considerando o atual universo de Cursos do Instituto Federal –
Campus Porto Alegre13, avançamos neste trabalho, não esgotando nossas reflexões
nos resultados da pesquisa. A exemplo do que já ocorre no Curso Técnico em
Secretariado e face aos resultados positivos vislumbrados pela aceitação dos alunos ao
trabalho realizado, consideramos importante a proposta de que tais conteúdos façam
parte da base curricular dos demais cursos da instituição, como referido anteriormente.
Recorrendo-se ao exercício da exemplificação, podemos sugerir que os Cursos
relacionados à Informática (Sistemas de Informação e Redes de Computadores)
atendam a especificidades relativas à acessibilidade virtual, como páginas web14.
Cursos que lidam com atendimento a clientes (Secretariado, Biblioteconomia, Gestão,
Contabilidade, Transações Imobiliárias) podem e devem explorar os conhecimentos
gerais sobre atendimento às pessoas com necessidades especiais, usados neste
trabalho. Ademais, podem ser abordadas especificidades de Cursos, como materiais
específicos armazenados em Bibliotecas, por exemplo.
Enfim, a escrita de bases curriculares demandaria um conhecimento mais
profundo em relação às especificidades de cada curso e mundo do trabalho – o que
não é objeto deste estudo. Mas a falta desta instrumentalização não invalida uma
proposição geral de que todos os cursos possam efetivamente conter em seus
currículos conhecimentos e saberes que contribuam para a formação de profissionais
mais comprometidos com a sociedade, em interação com as pessoas com
necessidades especiais.
13 Os Cursos Técnicos oferecidos pelo IFRS – Campus Porto Alegre, no ano de 2009, são: Analista de Processos (Química), Biblioteconomia, Biotecnologia, Contabilidade, Gestão, Monitoramento e Controle Ambiental, Secretariado, Segurança do Trabalho, Sistemas de Informação, Redes de Computadores e Transações Imobiliárias. As descrições dos cursos encontram-se disponíveis na página http://www.etcom.ufrgs.br/?page_id=100. 14 A acessibilidade caracteriza-se pela flexibilização da informação e interação relativamente ao suporte e apresentação. Esta flexibilização permite que as páginas web sejam utilizadas por pessoas com necessidades especiais em diferentes ambientes e situações, através de vários equipamentos e navegadores. As páginas acessíveis devem utilizar símbolo de acessibilidade na web para indicar que o seu sítio contém funcionalidade de acessibilidade. Informações sobre tais certificações encontram-se disponíveis em http://www.acessibilidade.net/web.
44
Este novo caminho, aqui sugerido, pode ser realizado nos diversos cursos em
parceria com os conhecidos NAPNES (Núcleos de Atendimento a Pessoas com
Necessidades Especiais) implementados pelo projeto TECNEP15. Em diversas
instituições profissionais tais núcleos já existem, porém sem garantia de que atuem em
consonância com os projetos pedagógicos para além de suas funções administrativas
ou de apoio ao educando com necessidades especiais. O trabalho destes núcleos se
faz necessário para construir e incorporar aos “núcleos comuns” dos diversos Cursos os
conhecimentos e saberes sobre o tema da inclusão.
Com tal mudança curricular, espera-se que os profissionais possam ser agentes
da propagação do conhecimento, que entendam a importância de ações inclusivas, e,
quem sabe, até promovam tais ações, uma vez que integrem empresas e organizações.
Os profissionais dotados de conhecimentos em suas áreas de atuação a priori não
serão apenas melhores para o atendimento a este público especificamente, mas
também poderão ajudar nos programas de inclusão cujos principais objetivos são o de
incluir as pessoas com necessidades especiais no mundo produtivo, consumidor de
bens e serviços. A este respeito convém refletir sobre: A fraca participação no mercado de trabalho no Brasil [dos PNEs] decorre não da falta de leis e fiscalização, mas sim da carência de ações, estímulos e instituições que viabilizem, de forma concreta, a formação, habilitação e inserção dos portadores de deficiência no mercado de trabalho (PASTORE, 2000, p. 59)
Diante disto pretende-se, além de ‘praticar’ a educação, ‘pensá-la’ em seu
sentido e significado para as pessoas e para a sociedade (CARVALHO, 2004). A
relevância da educação para as transformações do mundo fica, pois, evidenciada. Para
Carvalho (2004) as concepções sobre educação refletem os momentos históricos da
própria sociedade. A referida autora salienta que (...) a educação tem importante papel no próprio processo de humanização do homem e da transformação social, embora não se preconize que, sozinha, a educação possa transformar a sociedade. Apontando para as possibilidades da educação, a teoria educacional visa à formação do homem integral, ao desenvolvimento de suas potencialidades, para torná-lo sujeito de sua própria história e não objeto dela (GADOTTI apud CARVALHO, 2004, p. 20).
15 Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12779:programa-tec-nep&catid=190:setec. Acesso em 30 de agosto de 2009,
45
Assim, o que se quer, em qualquer nível e tipo de educação, profissionalizante
ou não, é um homem integral, agente de suas próprias transformações, ciente de sua
responsabilidade em prol de um mundo melhor e mais inclusivo.
46
5 CONCLUSÃO
Consideramos que o objetivo do trabalho de conclusão do curso de
Especialização foi alcançado, no sentido de que foi possível conhecer o perfil dos
alunos na turma do curso Técnico de Secretariado em que foi desenvolvida uma
intervenção pedagógica inclusivista. Acreditamos que o espaço de interação
proporcionado para ouvir e conhecer os alunos, saber o que eles pensam sobre
inclusão, conhecer suas opiniões sobre o tema proposto e suas percepções sobre a
relevância deste tema, principalmente no que se refere à sua preparação profissional,
prévia e posteriormente à intervenção docente, foi de crescimento tanto dos próprios
discentes quanto da docente, autora desta monografia. Tal crescimento perpassa pelas
novas informações de inclusão, mais especificamente pensadas para a atuação
profissional na área do curso. Mas acreditamos que talvez o mais importante tenha sido
o processo de reflexão pessoal – no âmbito individual e coletivo - sobre o tema em
pauta – inclusão -, e sobre a responsabilidade de cada um para torná-la possível e com
isso contribuir para a melhoria de uma sociedade que ainda exclui.
Estamos cientes que informações são atualmente disseminadas através de
meios de comunicação e, portanto ao alcance de qualquer pessoa interessada.
Acreditamos, no entanto, que é de responsabilidade das instituições de educação, e,
portanto, das instituições profissionais, preparar seus alunos não só para uma realidade
em mudança em prol da aceitação e valorização da diversidade, mas contribuir para
que estes alunos como cidadãos se tornem agentes, construtores dessa realidade. Este
preparo não consiste meramente de informações, mas da criação de situações ou
intervenções intencionais para reflexão, implicando em um processo de desconstrução
e reconstrução de verdades, de saberes.
Ao longo do desenvolvimento do que chamamos aqui de intervenção pedagógica inclusivista, do processo de coleta e análise de dados, e escrita desta
monografia, ocorreu um profundo processo de tomada de consciência sobre vários
47
aspectos, que, embora presentes antes, não tivessem a clareza e ênfase que hoje
possuem.
Neste sentido, tornou-se mais evidente que a decisão de um professor na
escolha dos conteúdos, na seleção dos textos, na metodologia e recursos na condução
de sua aula é decisiva para a formação dos seus alunos, tanto sob a ótica dos
conteúdos como da postura e do caráter. Consequentemente, no nosso entender,
decidir incluir conhecimentos sobre Pessoas com Necessidades Especiais nos Cursos
regulares tecnológicos faz parte do grande compromisso social da docência enquanto
ser político que atua para a permanência ou transformações de realidades políticas,
econômicas, educacionais e sociais.
A incorporação de novos conteúdos, como é o caso da inclusão social de
PNEs, pode causar inicialmente mal estar ou desconforto docente, pois implica entrar
em terrenos desconhecidos. No entanto, o ganho é grande, pois estar-se-ia oferecendo
um ensino profissionalizante preocupado e realmente sintonizado com o mundo do
trabalho atual. Por outro lado, a decisão da não incorporação desses novos conteúdos
tem um preço negativamente alto, pois significa estar capacitando profissionais que
atuarão em uma sociedade que já caminha (embora timidamente) rumo a uma inclusão
maior, sem o preparo mínimo em relação a essa diversidade social.
Alguns docentes enfrentam tal desafio colocando-se como co-aprendentes com
os alunos. Este foi o caminho escolhido pelo curso Técnico em Secretariado. O
compromisso assumido foi o de não privar os alunos da oportunidade de participar da
construção de um mundo melhor, pela falta do conhecimento sobre as pessoas com
necessidades especiais. Baseados ainda na crença de que as empresas somente serão espaços
inclusivos se os profissionais que compõem os seus quadros forem capacitados sob a
ótica da inclusão, alicerçamos este estudo no campo da Educação Profissional – uma
das modalidades educacionais responsáveis pela preparação e inserção de
trabalhadores no mundo do trabalho. Assim, no nosso entender, a sensibilização de
futuros profissionais para um agir inclusivista, através da educação, nas diferentes
áreas de atuação do mundo do trabalho, é um processo lento, mas sólido, que deve ser
assumido e promovido pelas Instituições de Ensino.
48
Portanto, ainda acreditando na importância da educação para as mudanças
estruturais da sociedade, nossas expectativas em relação ao presente estudo
extrapolaram para a pretensão de propor ações educativas como a realizada em uma
dimensão maior do que a atual. No nosso entendimento, tais ações devem e podem ser
realizadas em sala de aula, direcionadas às competências profissionais de cada curso.
Mais concretamente, o que se propõe à Educação Profissional como um todo é a
inserção de competências específicas sobre o tema da inclusão como uma ação
permanente na capacitação dos alunos.
Por fim, espera-se a superação da excepcionalidade, isto é, que o tema da
inclusão não seja mais tratado como uma exceção ou destacado como diferencial em
algumas situações de formação. O tema da inclusão social no mundo de trabalho não
deve ser tratado como um modismo, mas deve estar permanentemente na pauta das
discussões acadêmicas, para que se possa efetivamente formar cidadãos preocupados
e sintonizados com uma sociedade realmente inclusiva.
49
6 REFERÊNCIAS
BAHIA, Melissa Santos. Responsabilidade social e diversidade nas organizações: contratando pessoas com deficiência. Rio de Janeiro, Qualitymark, 2006. 112p. BECHTOLD, P. B.; WEISS, S. L. I. A Inclusão das Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais no Mercado de Trabalho. Leonardo Pós (Santa Catarina), v. 01, p. 21-25, 2003. Disponível em http://www.icpg.com.br/artigos/rev03-03.pdf acesso em junho 2009 BRASIL, Educação profissional: referenciais curriculares nacionais da educação profissional de nível técnico. Ministério da Educação. Brasília; MEC, 2000. CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva: artigo a artigo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. CARVALHO, Rosita Edler. Removendo barreiras para a aprendizagem: educação Inclusiva. Porto Alegre, Mediação, 2000. 174p. CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre, Mediação, 2004. 176p. DANIELS, H. Vygotsky e a Pedagogia. Trad. Milton Camargo Mota. São Paulo: Edições Loyola, 2003. GIORDANO, Blanche Warzée. (D)eficiência e trabalho: analisando suas representações. São Paulo, Annablume:FAPESP, 2000. 168p. IBDD (Coord.). Sem Limite: inclusão de portadores de deficiência no mercado de trabalho. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2003. 144p. LANCILLOTTI, Samira Saad P. Deficiência e trabalho: redimensionando o singular no contexto universal. Campinas, SP, Autores Associados, 2003. 111p. NBR 10520:2002 – Citações NBR 14724:2005 – Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos – Apresentação. NBR 6023:2002 – Informação e documentação – Referências – Elaboração
50
NERI, Marcelo. As empresas e as cotas para pessoas com deficiência. Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, set., 2003. CD-ROM. MANFREDI, Silvia Maria. Educação Profissional no Brasil. São Paulo, Cortez, 2002. 317p. PASTORE, José. Oportunidade de trabalho para portadores de deficiência. São Paulo, LTr, 2000. 245p. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva cultural da educação. 19.ed. Petrópolis, RJ, Vozes, 2008. 137p. RIBAS, João. Preconceito contra as pessoas com deficiência: as relações que travamos na vida. São Paulo, Cortez, 2007. 120p. (Preconceitos, v.4). SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. SASSAKI, Romeu Kazumi. A construção de uma sociedade inclusiva. São Paulo. Revista Integração. N. 20, Ano 8, pp. 8-10, 1998. Entrevista Sassaki realizada pela Secretaria de Educação Especial, do Ministério da Educação e do Desporto. Disponível em < http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=108> Acesso em 5 de julho de 2009. TIJIOBOY, Ana Vilma; HOGETOP, Luisa. Ressignificando a concepção de “deficiência” através de ambientes de aprendizagem computacionais telemáticos. Cadernos de Educação Especial. Santa Maria, n 18, p. 93-103, 2001. VIGOLO, Ângela. Um olhar sobre as representações das pessoas com necessidades especiais e o mundo do trabalho. São Leopoldo: UNISINOS, 2005. Monografia (Especialização em Educação Especial). Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2005. YAEGASHI, Solange F. R. et al. Alunos de classes especiais e sua família: algumas reflexões. In MARQUEZINE, M. C; ALMEIDA, M. A; TANAKA, E. D. Perspectivas multidisciplinares em educação especial II. Ed. UEL, Londrina, 2001. p. 655-658.
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7 ANEXOS
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ANEXO A – Questionário A (Prévio)
PROGRAMA TECNEP
Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva Prezado aluno Este questionário faz parte do projeto de conclusão do Curso de Especialização em Educação Tecnológica Inclusiva. Sua participação é muito importante para a realização desta atividade. Muito obrigada. 1) Quanto conhece sobre pessoas com necessidades especiais? ( ) nada ( ) quase nada ( ) alguma coisa ( )muito 2) Quanto conhece sobre (marque um X para cada tipo de deficiência) Tipo de deficiência nada quase nada alguma coisa muito
Física Visual
Auditiva Mental
3) Você já trabalhou com uma pessoa deficiente? ( ) sim não ( ) Caso a resposta anterior seja positiva, em que situação trabalhou com pessoas deficientes? ______________________________________________________ ________________________________________________________________ 4) Você está preparado para trabalhar com uma pessoa com deficiência? ( ) não ( ) um pouco ( ) bastante ( ) plenamente 5) Você considera que ter conhecimentos sobre com necessidades especiais ( ) nao é importante ( ) é pouco importante ( ) é bastante importante ( ) é de suma importancia 6) Justifique a sua resposta anterior (nº 5) __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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ANEXO B Resumo do Conteúdo de Atendimento a Pessoas com Necessidades
Especiais
ATENDIMENTO A PESSOAS COM
NECESSIDADES ESPECIAIS
Profª Ana Cristina Cypriano [email protected]
Como tratar as pessoas com necessidades especiais?
Sempre pergunte...
Posso lhe ajudar?Precisa de ajuda?Como eu posso lhe ajudar?
Dificuldade Física
Não segure nem toque na cadeira de rodas. Ela é parte do espaço corporal das pessoas. Apoiar-se ou encostar-se na cadeira é o mesmo que apoiar-se ou encostar-se na pessoa
Nunca movimente a cadeira sem antes pedir permissão para a pessoa
Não tenha receio de usar palavras como caminhar ou correr
Se a conversa durar mais que alguns minutos, sente-se se possível. Para uma pessoa sentada, não éconfortável ficar olhando para cima.
Dificuldade Física
Para guiar uma pessoa cega, ela deve segurar-lhe pelo braço, de preferência no ombro ou no cotovelo
Na medida em que encontrar degraus, meios fios e outros obstáculos, oriente a pessoa
Em contatos sociais ou profissionais, não pense na dificuldade como um problema.
Não exclua a participação da pessoa cega. Deixe-a escolher como participar.
Dificuldade Visual ou Cegueira
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Seja expressivo. O surdo “lerá” suas expressões faciais, gestos e movimentos do corpo.
Dificuldade Auditiva Fale claramente distinguindo as palavras, mas não exagere.
Fale em velocidade normal, salvo quando for solicitado para falar mais devagar.
Fale em tom normal, a não ser que lhe peçam para levantar a voz.
Dificuldade Auditiva Se você tiver dificuldades de entender o que o surdo está
falando, peça-o que repita. Se ainda não entender, peça que escreva.
Cuide para que a pessoa surda enxergue sua boca. A leitura dos lábios fica impossível se você gesticular
ou se segurar alguma coisa na frente de seus lábios.
Dificuldade Mental Uma pessoa com deficiência mental é em primeiro lugar
uma pessoa. Enquanto for criança trate-a como criança, quando adulto ou adolescente, trate-o como tal.
Seja natural, evite super proteção. Pessoas com deficiência mental (ou qualquer outra) devem fazer sozinhas tudo o que puderem. Ajude-a quando realmente for necessário.
Dificuldade Mental
Não subestime sua inteligência. Cada pessoa tem o seu ritmo, mas eles também podem adquirir muitas habilidades intelectuais e sociais.
Material elaborado pelo Núcleo de Pesquisa e Apoio a Pessoas com Necessidades Especiais
NAPNES
Escola Técnica da UFRGS
Angela Vigolo
Ana Tijiboy
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ANEXO C – Questionário B (Posterior)
PROGRAMA TECNEP
Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva Prezado aluno Este questionário faz parte do projeto de conclusão do Curso de Especialização em Educação Tecnológica Inclusiva. Sua participação é muito importante para a realização desta atividade. Muito obrigada. 1) Seus conhecimentos sobre pessoas com necessidades especiais aumentaram após as atividades em aula sobre atendimento e pessoas deficientes? ( ) nada ( ) quase nada ( ) alguma coisa ( )muito 3) Após a atividade mencionada, o quanto você afirmaria conhecer sobre (marque um
X para cada tipo de deficiência) Tipo de deficiência nada quase nada alguma coisa muito
Física Visual
Auditiva Mental
3) Você está preparado para trabalhar com uma pessoa com necessidades especiais? ( ) não ( ) um pouco ( ) bastante ( ) plenamente 4)Você escolheria um PNE para trabalhar em sua companhia caso fosse responsável pela seleção (considerando que sua deficiência permite o exercício da atividade) ( ) sim ( ) não ( ) outra resposta, especifique: ______________________ 5) Você considera importante ter conhecimentos sobre PNES? ( ) nao é importante ( ) é pouco importante ( ) é bastante importante ( ) é de suma importancia 6) Justifique a sua resposta anterior (nº 5) ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7) Que outras ações você julga importante para seu conhecimento/curso em relação a PNEs?
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Ficha Catalográfica Pereira, Ana Cristina Cypriano Uma Intervenção Pedagógica Inclusivista na Educação Profissional Cuiabá - MT, 2009 55 p. Tijiboy, Ana Vilma Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Trabalho de Conclusão Curso de Especialização em Educação Tecnológica Inclusiva ______________________________ _______________________________________________