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Exemplar 594 Ano LVII Nº 10 Outubro de 2015 www.cidadenova.org.br FRATERNIDADE EM REVISTA FRATERNIDADE EM REVISTA

Uma Lava Jato para chamar de sua

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Sociedade - Os mecanismos psicológicos e sociais que os corruptos usam para viver em paz com seus crimes são os mesmos que usamos para justificar pequenos atos antiéticos. Como superá-los e contribuir para uma sociedade melhor?

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Exemplar 594Ano LVIINº 10Outubro de 2015www.cidadenova.org.br

f r a t e r n i d a d e e m r e v i s t af r a t e r n i d a d e e m r e v i s t a

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3 Cidade Nova • Outubro 2015 • nº 10

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fraternidade em revista

Edição 594 • Ano LVII • nº 10 • Outubro de 2015

capaOs mecanismos

psicológicos que os corruptos usam para viver em paz

com seus crimes são os mesmos

que usamos para justificar pequenos

atos antiéticos. como superá-los?

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cHaVE DE LEITURa a chocante foto do menino aylan e o drama da imigração na visão de um intelectual e político italiano

EspORTE Em grande fase, Joanna Maranhão projeta Jogos no Rio e fala sobre política, esporte e seu engajamento contra a pedofilia

6 entrevista – Dra. Pilar Vigil A presidente do programa de formação

TeenSTAR fala sobre sexualidade e afetividade para adolescentes

12 brasil Nossas maiores construtoras estão envolvidas

na Lava Jato. É possível fazer justiça sem afetar o crescimento do país?

18 cn em série – rumo a Paris A três meses da próxima conferência do clima

da ONU, uma nova série sobre o combate ao aquecimento global

28 internacional Cristina Kirchner não será candidata nas eleições

presidenciais argentinas, mas sua influência continua forte

seções

4 Cartas 5 Ponto de vista10 Um fato, uma pergunta11 Economia de Comunhão15 Sustentabilidade16 Outro olhar17 Periferias existenciais21 Tecnologia27 Radar América Latina31 Bem-estar32 Imagem36 Palavra de vida

37 Espiritualidade em ato40 Esporte42 Psicologia43 Na ponta do lápis44 Na estante45 Crônica46 Som na caixa47 Claquete48 Artefatos49 Teen50 Ponto, vírgula e conto

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Presidente Klaus Brüschke

EdITORA-ChEFE Fernanda Pompermayer

CONSELhO EdITORIAL Adriana Rocha, darlene P. Bomfim, Emanuel Bomfim, Gilvan david de Sousa, Marcos Mucheroni, Mariele Prévidi, Munir Cury, Sérgio Prévidi

rePórteres Ana Carolina Wolfe, daniel Fassa, Thiago Borges

dIAGRAMAçãO Giceli Valadares da Silva

REVISãO Rafael Varela

caPa Giceli Valadares da Silva

FOTO dA CAPA © Rawpixelimages | dreamstime.com

IMPRESSãO divisão Gráfica da Editora Abril S.A.

Este número foi impresso em 24/09/2015Número avulso: R$ 11,95Revista mensal • Ano LVII • Tiragem: 22.000ISSN 0103-2518 • São Paulo • Brasil

fale com cidade [email protected] (horário comercial) Fax: (11) 4158.8890 r 242

LICENCIAMENTO dE CONTEúdOOs artigos desta revista podem ser reproduzidos parcial ou totalmente desde que sejam citados a fonte e o autor. Fotos e ilustrações: só com autorização escrita da Editora Cidade Nova.

ANúNCIOS [email protected]

EdITORA CIdAdE NOVARua José Ernesto Tozzi, 198 • Mariápolis Ginetta 06730-000 • Vargem Grande Paulista • SP • Brasil Tel: (11) 4158.8890 • www.cidadenova.org.br CNPJ 05059650/0001-26 • Publicação registrada no 4º Re gistro de Títulos e documentos de São Paulo sob o nº 5.334/76

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fraternidade e JustiçaLi a entrevista com o Ministro do STJ Reynaldo Soares da Fonseca (junho 2015) e lá ele comentou a gigante quantidade de processos judiciais no Brasil: um para cada dois habitantes. Ele disse que uma solução para evitar que o conflito precise de uma decisão da Justiça seria a conciliação, um acordo entre as partes. Percebi que é uma proposta de fraternidade na sociedade.  Dias depois, tive um problema com uma companhia aérea por um voo cancelado. Pensei em acionar a Justiça pra ter uma compensação pelo transtorno financeiro que sofri. Ao me lembrar da entrevista, que falava também do diálogo, fui ao aeroporto e conversei mais uma vez. Nessa oportunidade, ganhei o que solicitei. Obrigado a Cidade Nova por noticiar cumprindo sua missão de fraternidade.

Diego Arruda | Itabuna/BA | por e-mail

ReconhecimentoGostaria de parabenizar e fazer um reconhecimento público à Revista Cidade Nova, por sua capa atualíssima de agosto/2015 e entrevista com Pe. Ronaldo Zacharias, que diante de tanta guerra ideológica e tendenciosa sobre o tema, traz uma visão cristã baseada no “amar a todos” sem qualquer distinção. Obrigado!

Leo Bacilos | por e-mail

obrigadoA melhor revista que já conheci! Obrigado a todos que fazem dela esse grande instrumento para a construção de um mundo mais fraterno! Carlos Henrique Iazzetti Santos | Facebook

QuestionamentosNa edição de agosto de 2015 de Cidade Nova, quanto à matéria “gênero, sexo, teoria e ideologia”, entendo que o texto trouxe alguns esclarecimentos sobre o tema, mas não demonstrou efetivamente a realidade atual da questão, sendo que na conclusão, pareceu-me dúbia. […] É simplório acreditar que o centro dessa discussão é apenas em torno da palavra “gênero”, ou que se trata de mais uma batalha de uma guerra simbólica e linguística, pois o que realmente se discute nessa questão são as consequências e conflitos morais que a introdução desses programas de ideologia de gênero trariam para a sociedade. Vê-se claramente que essas políticas sugeridas estão travestidas de boas intenções, como o combate à discriminação e a intolerância, mas em um olhar mais atento se percebe que carregam uma doutrinação fortíssima, que agridem o direito da família de educar moralmente os seus filhos, como também tentam desconstruir o conceito de família cristã tradicional (pai, mãe e filhos, unidos pelo amor).

Francisco das Chagas Silva

Teresina/PI | por e-mail

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capa MARTINA [email protected]

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feriado prolongado. Você arruma as ma­las e as tralhas todas, leva os amigos, os parentes e o cachorro para finalmente curtir alguns dias de sol na praia após semanas difíceis no escritório. Você sai de madrugada – o melhor horário para não pegar trânsito e não se estressar no primeiro dia de uma viagem que prome­te ser divertida e relaxante.

Depois de meia hora de “o fulano roubou pão na casa do João” e trânsito livre, o tráfego empaca. Os carros simplesmente não se mexem. Míse­ros cem metros percorridos em duas horas. “Nesse tem­po, a gente já devia ter chegado lá”, você repete algumas vezes, em meio a um som que alterna entre o choro do bebê no banco de trás e os latidos do cachorro.

Ao seu lado, no acostamento, dezenas de carros pas­sam a toda velocidade. “Por que eles não abrem logo o acostamento para liberar o trânsito?”, você se pergun­ta. Uma hora depois, outros duzentos metros e já na letra Z do Stop, você “cansa de ser trouxa” e se une aos “espertalhões” do acostamento. “Todo mundo tá fazen­do, mesmo”, você justifica. “E, afinal, é para um bem maior: minha filha não para de chorar.”

Essa história poderia terminar de diversas maneiras. No melhor cenário, você poderia adiantar sua viagem em algumas horas sem maiores preocupações. Ou en­tão, seria parado por um guarda de trânsito e teria de arcar com uma multa alta (afinal, não daria para di­zer “eu não!” e acusar o cachorro de roubar o pão da casa do João, não é mesmo?). Na pior das hipóteses, seu carro poderia se chocar contra outro que estava parado no acostamento por alguma emergência, provocando ferimentos e até mesmo mortes.

Em partes, você está certo e tem mil razões para tomar a atitude que tomou. Mas também tem o outro lado – as consequências dessa decisão pensada indivi­dualmente. E se todos tivessem a mesma atitude que a sua? O tráfego invadiria também o acostamento, o que inviabilizaria sua função de prestar socorro.

No nosso dia a dia, criamos justificativas para pe­quenos atos ilícitos que, a princípio, não afetariam nin­

guém já que “foi só dessa vez”. Porém, como vivemos em sociedade, uma ação individual reflete no todo. E se essa ação for prejudicial, as chances de causar um gran­de estrago se todo mundo fizer a mesma coisa, é alta.

Mas por que agimos dessa forma e ao mesmo tempo reclamamos dos políticos que desviam verba pública em causa própria? A corrupção nossa de cada dia é tão grave quanto a deles? Talvez não, porque os desvios dos políticos são grandes e afetam uma parte muito signifi­cativa da sociedade de uma só vez. Mas, sem dúvida, os mecanismos psicológicos que os corruptos usam para viver em paz com seus crimes são os mesmos que você usa para praticar atos antiéticos, que podem causar um significativo prejuízo ao coletivo em longo prazo. A re­vista Cidade Nova conversou com profissionais de ética, sociologia e psicologia para saber como e porque isso acontece, além de apontar maneiras mais saudáveis de agir para construir uma sociedade melhor para se viver.

UniversalizarGustavo Venturi, professor do Departamento de So­

ciologia da USP (Universidade de São Paulo), lança mão do Construtivismo, de Jean Piaget, para explicar nossos graus de moralidade. O Construtivismo é uma teoria de Psicologia Social com base no pensamento do filósofo alemão Emanuel Kant que aposta na universalidade po­tencial da razão humana do ponto de vista moral.

Segundo Venturi, nessa perspectiva, partimos de um ponto de vista egocêntrico, classificado como pré­­convencional e heterônomo, cujo comportamento é tirar vantagem de tudo sem medir as consequências. Em seguida, avançamos ao estágio convencional, no qual temos consciência das normas e leis morais para uma melhor convivência. Finalmente, chegamos a um ponto de vista pós­convencional, cuja autonomia mo­ral nos permite entender que as regras são construídas histórica e socialmente, e que podem perder sentido nas dinâmicas sociais, sendo possível quebrar algumas delas desde que não prejudique o coletivo.

“Tomemos um ato contrário às normas. O que vai definir se ele é pré­convencional ou pós­convencional

MARTINA [email protected]

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são os argumentos mobilizados para justificar aquela ação e o quanto de descentração existe naquela pers­pectiva. Vale se questionar: essa minha maneira de agir é universalizável? A sociedade seria melhor se adotas­sem meu ponto de vista?”, sugere.

Certamente, a pessoa que burlou as regras de trânsi­to não foi movida por valores éticos da maior grandeza. “Um sujeito que anda no acostamento para ultrapassar carros está agindo de maneira egoísta e sua atitude não pode ser generalizável, até porque o acostamento fica­ria engarrafado e a função dele de atender emergências estaria inviabilizada”, argumenta.

E não vale dizer que cometeu a infração porque seu filho estava chorando. Isso se chama “familismo moral”, explica o sociólogo, e só serve para priorizar interesses de pessoas próximas e queridas, ou seja, os seus próprios interesses. “Em várias pesquisas, vemos pes soas reclamando da corrupção dos políticos, mas dizendo que no lugar deles faria a mesma coisa. A jus­tificativa seria, com a verba desviada, ajeitar a vida de familiares e amigos. É uma ética comum em disputas tribais passadas e modernas: ‘Para os meus tudo, para os meus inimigos, nada’.”

Segundo Venturi, a corrupção dos políticos, assim como nossos pequenos atos de corrupção, estão lado a lado no que diz respeito à moral. Movidos por interes­ses particulares, esses atos não poderiam ser universa­lizados sob o risco de colapso de empresas, do Estado e da sociedade como um todo.

o inferno são os outros?As pessoas costumam culpar os atos corruptos dos

políticos e de outras pessoas, mas pouco refletem sobre seus próprios atos ilícitos. Para os especialistas, trans­ferir a responsabilidade de condutas antiéticas a tercei­

ros é outra forma de não reconhecer os próprios erros e continuar cometendo­os de maneira irracional.

De acordo com Júlio Pompeu, professor de Ética do Departamento de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), os políticos, devido ao seu distan­ciamento em relação aos cidadãos comuns, se transfor­mam em um ícone agregador dessa culpabilização.

“Na medida em que você culpa o outro, você descul­pa a si mesmo. Quanto mais culpam o outro, mais cegas as pessoas ficam para a própria conduta. Alguns fazem crer que a desonestidade é um atributo da pessoa, quan­do, na verdade, esse valor deveria ser atribuído a con­dutas”, afirma.

Segundo Pompeu, alguém que recebe o troco errado, percebe e não devolve não se distingue de um funcioná­rio da Petrobras que desvia bilhões de reais, pois ambos se apropriaram do recurso alheio. “Há diferenças em ter­mos de consequência, mas em termos morais é a mesma coisa”, compara. “Corrupto quer dizer destruição de algo que funciona. Se você viola regras sociais de convivên­cia, está corrompendo esse modo de existir”, define.

(des)confiançaAo mesmo tempo, se não agimos de maneira ética, li­

mitamos outros – e melhores – modos de existência. Um exemplo: um cidadão vai tomar o metrô, não há nenhum funcionário ou segurança por perto. Ele pensa: “Por que não pular a catraca? Se eu pagar ou não a passagem, o trem vai passar do mesmo jeito. Além disso, eu já pago muitos impostos, a tarifa aumentou, mas meu salário não subiu”.

O sistema de transporte e de impostos no Brasil é alvo de muitas críticas e realmente tem muito a melho­rar. Mas será que esse tipo de atitude não limita a possi­bilidade de um sistema de catraca aberta, como existem em alguns países europeus? Lá, compra­se o bilhete, mas c

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não é necessário mostrá­lo a ninguém, a menos que um fiscal passe no vagão para fazer uma blitz. Na visão dos especialistas, quando pensamos no coletivo e não tiramos vantagem todos saem ganhando, porque uma relação de confiança é estabelecida socialmente.

“Na Europa, tem muito calote também. Sempre al­guém é pego na blitz. Mas a violação acontece dentro de um nível suportável socialmente. A esmagadora maioria paga”, pondera Pompeu. “O problema do Brasil é que a nossa autoestima é tão baixa e desconfiamos tanto uns dos outros que já subentendemos que um sis­tema de catraca aberta não daria certo.”

individualismoUm dos valores mais apregoados na contemporaneida­

de é o individualismo. Nada como viver em paz consigo mesmo, não é? Se, por um lado, esse conceito nos ajuda a ser sujeitos de nossa própria história e foi importante para a constituição dos direitos humanos, por outro, quando exacerbado, pode nos levar a pensar que nos bastamos so­zinhos e esquecer que nossas ações repercutem no todo.

“Há um laissez faire moral: cada um age como qui­ser. É uma noção de liberdade frouxa, com consequên­cias terríveis para a sociedade”, alerta Venturini

Para Pompeu, o individualismo extremado alimenta a ilusão de uma autossuficiência existencial, excluindo a percepção de que o outro é uma necessidade para a nossa própria realização. “Dessa forma, há incentivos velados para atos sociais imorais, ruins e entristecedo­res. É uma dupla armadilha: para o indivíduo e para sociedade”, afirma.

Já o psicólogo Nelson Pedro pontua que a radicaliza­ção da ideia de indivíduo faz com que a pessoa se reco­nheça como a medida de todas as coisas. Narcísica, ela só deseja satisfazer os seus próprios interesses. “Ser real­mente senhor de si próprio significa, antes de tudo, com­preender que também somos produto da história e do nosso inconsciente. Como disse [Sigmund] Freud, sequer somos senhores em nossa própria casa, para se referir ao fato de que as nossas condutas não são determinadas pelo nosso consciente, mas pelo inconsciente”, afirma.

caminhosIncluir aulas de moralidade nas escolas pode ser um

bom início para a construção de uma sociedade mais ética, defendem os especialistas. Porém, antes de tudo, precisamos vencer a experiência negativa fruto da di­tadura militar (1964­1985), que tornou obrigatória a disciplina de educação moral e cívica, propõe Venturi.

Outro ponto importante é estimular formas de asso­ciações horizontais e espaços mais democráticos na so­ciedade. “Se as pessoas se reúnem por uma causa e criam uma organização interna horizontal, a tendência é que troquem opiniões e pontos de vista, crescendo juntos no processo da autonomia moral”, afirma o sociólogo.

Segundo ele, movimentos sociais, ocupações, hortas urbanas e a prática de economia solidária por pequenos agricultores são exemplos de associações onde o diálo­go e a troca ocorrem de maneira acentuada, potencia­lizando o crescimento ético dos indivíduos envolvidos.

“Essas experiências constituem exemplos importan­tes, mas dificilmente apenas a somatória delas levaria a uma transformação global. Seria preciso que os Estados, bem como os agentes econômicos, se imbuíssem des­sas preocupações e criassem diferentes frentes para que elas se desenvolvessem”, sugere.

Para Venturi, as novas gerações se mostram mais sensíveis a essas propostas e, com o auxílio da educação moral, poderão transformar hábitos arraigados social­mente. “Estamos em um caminho bastante promissor para, em uma ou duas gerações, avançarmos no enfren­tamento desses problemas e crescer moralmente”, diz

Pompeu também defende a necessidade de se incen­tivar uma educação moral que promova mais consciên­cia e liberdade. Segundo o professor de Ética, o Estado tem de assumir um papel menos tutelador, permitindo a participação da sociedade na criação de normas e a cooperação espontânea.

“Nosso processo de socialização é natural. As ins­tituições ajudam muito quando não atrapalham. Ima­gine deixar as pessoas presas em um elevador. Em mi­nutos, elas estarão conversando e tentando tornar a experiência de estar ali menos desagradável, da mesma forma que cooperando para sair daquela situação e rir da história toda depois”, reflete.

Não há uma cartilha de bons costumes a seguir. Ainda bem, afinal, sem conflitos, erros e acertos, que aprendizado a vida traria? Cada um de nós tem o po­tencial de usar a consciência para tentar agir da melhor forma possível diante de cada situação. Na modernidade líquida em que vivemos, os dilemas são muitos e estão numa zona cinzenta, uma região de difícil definição e com infinitas possibilidades de resolução entre o bran­co, o preto, o arco­íris inteiro. Some­se a isso a emoção, o inconsciente, a história e a personalidade de cada um. Nesse balaio, colocar­se no lugar do outro, amá­lo e re­conhecê­lo como igual mesmo sem conhecê­lo, ter mais compaixão e construir juntos comportamentos mais vantajosos para nós mesmos e para os outros são desa­fios cada vez maiores e mais instigantes.

MARTINA [email protected]