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O distrito de Nascente tem cerca de 12 mil habitantes e está situado há 40 quilômetros do município de Araripina, Sertão do Araripe de Pernambuco. A localidade ganhou esse nome, devido a existência de uma cacimba chamada olho d'água, que junta com outras menores, formavam “nascentes” de água. As primeiras famílias que habitavam o distrito, viviam em volta da cacimba, considerada a única fonte de água e riqueza, já que até hoje ela nunca secou. É nesse contexto que a família de Francisca Maria de Sousa, de 33 anos, e Clerisvaldo Pereira do Nascimento, de 36 anos, está inserida. Numa propriedade de 2,5 hectares, no Sítio Caldeirão II, o casal de agricultores mora com os seus quatro filhos: Evilásio Mateus, de 14 anos; Everlânia Maria, de 13 anos; Jaiene Pereira, de 8 anos e Marisa Horanni, de 6 anos. Casados há 16 anos, Francisca e Clerisvaldo nasceram na comunidade e residem na mesma propriedade há 13 anos. Antes disso, eles moravam na casa da família que Clerisvaldo trabalhava como diarista na roça, e era com esse dinheiro que a família sobrevivia. Nessa época, o agricultor e agricultora tinham vontade de adquirir um pedaço de terra para trabalhar, então o pai de Francisca doou o terreno e também ajudou na construção da casa. Quando a família se mudou, as dificuldades começaram a aparecer. Eles gastavam cerca de uma hora por dia para pegar e trazer água da cacimba pra casa. A água só era utilizada para consumo humano e doméstico, pois só plantavam feijão e milho no período de inverno. A agricultora conta que a vida só começou a mudar com a conquista da cisterna de 16 mil litros há 7 anos. Em janeiro de 2012, a família foi beneficiada com a cisterna calçadão, uma tecnologia do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). “Nós gostamos muito, mas acho que ele é mais interessado, pois ele adora as verduras e também cuidar da terra. Depois desse calçadão, ele vive mais em casa, quando não está na roça, está aqui muito feliz”, afirma Francisca. Pernambuco Ano 6 | nº 961 | novembro | 2012 Araripina - Pernambuco Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Uma nascente de prosperidade 1 A família distribui as tarefas da roça.

Uma nascente de prosperidade

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Page 1: Uma nascente de prosperidade

O distrito de Nascente tem cerca de 12 mil habitantes e está situado há 40 quilômetros do município de Araripina, Sertão do Araripe de Pernambuco. A localidade ganhou esse nome, devido a existência de uma cacimba chamada olho d'água, que junta com outras menores, formavam “nascentes” de água. As primeiras famílias que habitavam o distrito, viviam em volta da cacimba, considerada a única fonte de água e riqueza, já que até hoje ela nunca secou. É nesse contexto que a família de Francisca Maria de Sousa, de 33 anos, e Clerisvaldo Pereira do Nascimento, de 36 anos, está inserida. Numa propriedade de 2,5 hectares, no Sítio Caldeirão II, o casal de agricultores mora com os seus quatro filhos: Evilásio Mateus, de 14 anos; Everlânia Maria, de 13 anos; Jaiene Pereira, de 8 anos e Marisa Horanni, de 6 anos.

Casados há 16 anos, Francisca e Clerisvaldo nasceram na comunidade e residem na mesma propriedade há 13 anos. Antes disso, eles moravam na casa da família que Clerisvaldo trabalhava como diarista na roça, e era com esse dinheiro que a família sobrevivia. Nessa época, o agricultor e agricultora tinham vontade de adquirir um pedaço de terra para trabalhar, então o pai de Francisca doou o terreno e também ajudou na construção da casa. Quando a família se mudou, as dificuldades começaram a aparecer. Eles gastavam cerca de uma hora por dia para pegar e trazer água da cacimba pra casa. A

água só era utilizada para consumo humano e doméstico, pois só plantavam feijão e milho no período de inverno. A agricultora conta que a vida só começou a mudar com a conquista da cisterna de 16 mil litros há 7 anos.

Em janeiro de 2012, a família foi beneficiada com a cisterna calçadão, uma tecnologia do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). “Nós gostamos muito, mas acho que ele é mais interessado, pois ele adora as verduras e também cuidar da terra. Depois desse calçadão, ele vive mais em casa, quando não está na roça, está aqui muito feliz”, afirma Francisca.

Pernambuco

Ano 6 | nº 961 | novembro | 2012Araripina - Pernambuco

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Uma nascente de prosperidade

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A família distribui as tarefas da roça.

Page 2: Uma nascente de prosperidade

A seca vivenciada pela família, foi o motivo pelo qual eles não puderam intensificar a produção de alimentos, embora em menos de um ano, a família já se tornou um exemplo de força de vontade e otimismo na comunidade. “Nossa roça é bem organizada, logo que Francisca começou a participar dos cursos da cisterna, fiz as covinhas para plantar. Ela me passava tudo e a gente colocava em prática o que estava aprendendo, não esperamos pelo inverno”, confessa Clerisvaldo. O casal explica que durante a estiagem a preocupação consistem em não deixar morrer o que foi plantado, então eles criaram uma rotina de pegar água, cuidar da terra e dos canteiros. Eles utilizam quatro tambores de água para molhar os canteiros e confia que dá para manter essa prática até o inverno chegar.

“Já estamos ansiosos esperando a chuva, mas se conseguimos fazer tudo certo até agora, a tendência é melhorar mesmo”, acredita a agricultora. A família planta uma diversidade de verduras e plantas medicinais, além de criar galinhas, porcos e ovelhas. Francisca já conseguiu vender o excedente do coentro na comunidade e no próprio distrito, o que garantiu um complemento na renda familiar.

O agricultor conta que optou por utilizar garrafas pet ao redor dos canteiros, com o objetivo de otimizar a água e molhar a maior quantidade possível dos plantios. “Quando colocamos as garrafas nas bananeiras, dá para fazer os canteiros mais altos e o esterco que é usado como adubo ajuda a segurar a umidade da terra”, detalha. Eles fazem um preparado fino composto de maniçoba, angico, pereiro e urina do gado. Uma mistura que fica de molho por dez dias e é utilizada nos canteiros para matar as pragas que aparecem na roça.

Francisca e Clerisvaldo fazem questão de dizer que já conquistaram muitas coisas, pois não tinham terra, cisterna, e hoje tem tudo isso. Quando olham para o futuro, a família vê um caminho longo, cheio de

desafios, mas, sobretudo, promissor. “Nosso sonho é estruturar a propriedade e investir nos quintais produtivos para termos uma alimentação adequada. Queremos comer somente do que a gente planta, mas pensamos também em vender a sobra, pois não pretendo trabalhar nas roças dos outros por muito tempo”, revela o agricultor.

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