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3 Democracia Digital e Governo Eletrônico, Florianópolis, n° 11, p. 3-24, 2014. DAS PRAÇAS GREGAS À ÁGORA VIRTUAL: um panorama histórico da democracia digital FROM GREEK SQUARES TO VIRTUAL AGORA: a historical overview of digital democracy Tiago Novaes Angelo 1 , Cesar Bonjuani Pagan 2 , Ricardo Ribeiro Gudwin 3 Artigo recebido em 7 jul. 2014 e aceito em 13 dez. 2014. Resumo A Democracia Digital é o resultado do uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação pelos setores democráticos em prol de uma participação cidadã mais ativa e direta nas decisões públicas. Porém, seu surgimento está relacionado à construção histórica do conceito de democracia e para, que seja possível compreende-la, faz necessário situa-la sócio-historicamente. Este artigo apresenta um panorama da democracia desde seu 1 Mestrando em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMPINAS), Campinas, SP, Brasil, [email protected]. 2 Livre-docente em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Doutor em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Mestre em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Graduado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil, [email protected]. 3 Livre-docente em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil, [email protected].

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    Democracia Digital e Governo Eletrnico, Florianpolis, n 11, p. 3-24, 2014.

    DAS PRAAS GREGAS GORA VIRTUAL: um panorama histrico da democracia digital

    FROM GREEK SQUARES TO VIRTUAL AGORA: a historical overview of digital democracy

    Tiago Novaes Angelo1, Cesar Bonjuani Pagan2, Ricardo Ribeiro Gudwin3

    Artigo recebido em 7 jul. 2014 e aceito em 13 dez. 2014.

    Resumo

    A Democracia Digital o resultado do uso das novas Tecnologias de Informao e Comunicao pelos setores democrticos em prol de uma participao cidad mais ativa e direta nas decises pblicas. Porm, seu surgimento est relacionado construo histrica do conceito de democracia e para, que seja possvel compreende-la, faz necessrio situa-la scio-historicamente. Este artigo apresenta um panorama da democracia desde seu

    1 Mestrando em Engenharia Eltrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Graduado em Engenharia Eltrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Graduado em Psicologia pela Pontifcia Universidade Catlica de Campinas (PUC-CAMPINAS), Campinas, SP, Brasil, [email protected].

    2 Livre-docente em Engenharia Eltrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Doutor em Fsica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Mestre em Fsica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Graduado em Fsica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil, [email protected].

    3 Livre-docente em Engenharia Eltrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Doutor em Engenharia Eltrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Mestre em Engenharia Eltrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Graduado em Engenharia Eltrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil, [email protected].

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    surgimento at os dias atuais, mostrando como a Democracia Digital surge como resposta a um contexto de crise das instituies democrticas apresentando solues tecnolgicas que visam o resgate de uma sociedade mais justa e igualitria.

    Palavras chave Democracia Digital; Democracia; Tecnologia.

    Abstract

    Digital Democracy is the result of the use of new Information and Communication Technologies by democratic sectors in favor of more active and direct citizen participation in public decisions. However, its emergence is related to the historical construction of the concept of democracy and, to understand it, is necessary to situate socio-historically. This article presents an overview of democracy since its inception to the present day, showing how Digital Democracy is a response to a crisis context of democratic institutions introducing technological solutions that aim the rescue of a more just and equalitarian society.

    Keywords Digital Democracy; Democracy; Technology.

    1 Introduo

    O surgimento das novas Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) vem transformando significativamente o panorama das modernas sociedades democrticas principalmente em relao participao popular no exerccio da cidadania. Antigos anseios da democracia clssica abandonados ao longo dos anos como a participao direta dos cidados nos negcios pblicos vem sendo resgatados graas ao desenvolvimento destas tecnologias, inaugurando um novo marco da democracia: a democracia digital.

    Por ser um conceito relativamente novo, a vasta quantidade de experincias em democracia digital que surgiram nos ltimos anos contemplam um amplo espectro de aplicaes empricas ainda pouco teorizadas e carentes de definies formais, o que torna seu estudo um desafio uma vez que so pouco conhecidos os impactos a mdio e longo prazo de tais iniciativas na promoo de uma sociedade de fato mais democrtica. Neste sentido,

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    aproximar tais aplicaes dos estudos acadmicos uma etapa necessria para seu amadurecimento como uma cincia que gera um conhecimento em prol da democratizao efetiva da sociedade. Assim, algumas questes devem ser cuidadosamente observadas ao se pensar no desenvolvimento da democracia digital, dentre elas compreender o que democracia, suas diferentes vises e conceitos, e qual o seu papel ao longo da histria.

    O objetivo deste artigo realizar uma leitura da democracia digital segundo uma perspectiva histrica, apresentando suas principais influncias filosficas, histricas e sociais e situar seu papel na sociedade atual. Para isto, o artigo est dividido em 3 partes: na primeira feito um panorama sobre o que democracia e quais suas principais vertentes filosficas, resgatando sua histria e analisando seu papel como alicerce de um modelo de sociedade. Em seguida situado o surgimento da democracia digital como uma resposta a crise democrtica da Sociedade Moderna. Por fim, apresenta como o desenvolvimento das tecnologias de informao e comunicao podem ajudar na superao desta crise, citando algumas experincias que so o estado da arte em democracia digital.

    2 Uma breve histria da Democracia

    Definir exatamente quando a democracia surgiu no uma tarefa simples. Os primeiros vestgios de prticas democrticas datam de muito antes da Grcia Antiga em Sociedades do Oriente que se organizavam em assembleias e elegiam representantes numa espcie de democracia primitiva que parecia antecipar as assembleias populares gregas. Herdoto, no terceiro livro de suas Histrias, ao descrever um debate entre conspiradores persas, relata que a democracia no somente j era conhecida como havia sido inventada pelos persas, inimigo histrico dos Gregos na Antiguidade (CANFORA, 2006).

    Porm, foi na Grcia Antiga durante o sculo V a.C. que a democracia passou a fazer parte do pensamento poltico e filosfico, principalmente na cidade-Estado de Atenas onde se estabeleceu o primeiro governo democrtico conhecido, liderado por Pricles. Neste perodo, toda vida poltica ateniense acontecia nas Assembleias Populares e, apesar de ser um regime popular, nome-lo de democracia' foi uma ao dos opositores ao regime. Cracia, oriunda da palavra kratos significa, em seu sentido literal, fora violenta, portanto, dizer que era um regime democrtico era uma crtica ao que os opositores consideravam um governo popular de carter violento. Alm disso, demos no era uma representao de toda populao ateniense. Pelo contrrio, era um termo que se referia as pessoas consideradas sem posses, a maioria da populao livre que no fazia parte nem da

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    oligarquia e nem dos militares e, ainda assim, eram a minoria da populao grega, a qual 3/4 dela era formada por escravos que no gozavam de nenhum direito poltico enquanto apenas era constituda por homens livres. A democracia comeou de fato a nascer quando a cidadania (direito de participao poltica), antes direito apenas dos oligarcas e militares, foi estendida tambm aos sem posses, incluindo todos os homens livres da sociedade ateniense (CANFORA, 2006).

    O regime democrtico ateniense no s foi alvo de crticas de opositores polticos como tambm dos principais pensadores da poca como Plato e Aristteles, os quais buscavam uma razo filosfica sobre as formas ideais de governana. Aristteles (1986 apud CUNNINGHAM, 2002) foi quem mais se aprofundou nesta busca e encabeou uma pesquisa cujo objetivo era descrever e esboar as histrias de todos os sistemas polticos conhecidos na poca. Deste trabalho, concluiu que havia seis possveis formas de governo: realeza, tirania, aristocracia, oligarquia, politia e a democracia; e que, independente da forma de governo, o princpio da maioria prevalece, ou seja, sempre ser a maioria dominante que ter em mos o poder, seja a maioria dos ricos (na oligarquia) ou a maioria do povo (na democracia). Alm disso, Aristteles concluiu que a realeza seria a forma ideal de governo e considerava a democracia uma deturpao do modo de governar pois com ela no seria possvel governar em vista do bem comum. Porm, de todas as possveis deturpaes polticas, a democracia era o desvio de governo mais tolervel j que era possvel obter benefcios atravs das experincias coletivas e seria mais fcil governar quando a maioria absoluta no est descontente (CUNNINGHAM, 2002).

    Apesar de nascer j sendo alvo de crticas, o modelo democrtico ateniense manteve-se e se aprimorou durante a Grcia Antiga, mostrando seu carter coletivo e de respeito s leis e a justia. Diversos outros pensadores contriburam para o desenvolvimento da democracia ateniense, cujo legado denominou-se anos mais tarde de democracia clssica e influenciou o surgimento de modelos polticos favorveis e contrrios a este (CUNNINGHAM, 2002). Porm, alguns fundamentos da democracia ateniense, como a participao direta e ativa da populao nas decises polticas foram sendo deixado de lado em prol de modelos mais representativos. Atualmente, com o advento da tecnologia, surge a possibilidade de rediscutir estes fundamentos e resgatar a cidadania mais ativa e direta.

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    2.1 A democracia Ateniense

    Na cidade-estado de Atenas, a vida do cidado estava estritamente ligada vida da polis. O princpio que prevalecia era o da virtude cvica, o qual estabelecia que todos os cidados deveriam dedicar-se cidade subordinando a vida privada s questes pblicas e ao bem comum, gerando uma distino entre cidado e indivduo onde os diretos coletivos eram superiores aos direitos individuais. Desta forma, grande parte da vida dos atenienses era dedicada s questes pblicas, caracterizada por uma cidadania ativa e de um processo de auto-governo cujo princpio de governana era a participao cidad direta. Na prtica, o cidado ateniense dedicava-se a encontros para debater e decidir as leis, os quais se constituam em discusses livres e irrestritas onde todos tinham direitos iguais para falar em uma assembleia soberana. Aps estes debates, decises eram tomadas a partir do poder de convencimento dos argumentos e as leis decididas tornavam-se leis do estado (HELD, 2006).

    O uso das assembleias soberanas foi fortalecido no governo de Pricles (V a.C) e passaram a constituir o corao do sistema democrtico onde os cidados se reuniam para discutir os problemas da polis e criar as leis. Dentre estas assembleias, a principal delas era a Ekklsia, ou Assembleia do Povo, local onde todos os cidados tinham direto a palavra e ao voto e deliberavam questes ligadas a defesa do pas, escolha de magistrados para cargos polticos, julgavam questes de traio e direitos polticos entre outras. Outra assembleia era dedicada aos suplcios, onde todos os cidados poderiam colocar assuntos de carter pblico ou privado para discusso ou deliberao. Para que as sesses fossem vlidas, as assembleias exigiam qurum mnimo de 6 mil cidados e as votaes eram decididas de forma direta, por maioria simples, com cada votante levantando ou no a mo para o alto (MENEZES, 2010).

    Segundo Held (2006) a participao direta dos cidados foi a principal caracterstica da poltica ateniense e tornou-se o fundamento bsico da democracia clssica perdurando at a queda de Atenas quando surgiram os imprios, estados fortes e o poderio militar. Apesar do aparente sumio, os ideais democrticos foram profundamente difundidos na poca do Imprio Romano e voltaram tona no perodo iluminista quando diversos pensadores resgataram os escritos gregos sobre democracia e descreveram uma vasta gama de modelos democrticos, uns como crtica democracia direta ateniense, outros como tentativa de superao das suas dificuldades e outros ainda como resgate participao popular direta.

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    Neste resgate iluminista, uma das modificaes mais significativas do modelo de democracia clssica e que obteve grande sucesso no decorrer da histria moderna foi a transferncia da participao direta dos cidados para um sistema centralizado de representao poltica. Enquanto na Grcia ateniense a esfera pblica era o espao de tomada de deciso e deliberaes polticas cujos participantes eram os cidados, nos Estados Modernos a participao poltica passou a ser mediada por um corpo independente de polticos profissionais legitimados pelos cidados, gerando uma ciso que colocou de um lado a esfera pblica, cujo objetivo escolher os representantes e, de outro lado, a esfera poltica a qual de fato definir e deliberar os rumos da sociedade. A este modelo predominante nas democracias atuais, denomina-se Democracia Representativa.

    2.2 A democracia Representativa e a democracia Participativa

    A democracia nos Estados Modernos oriunda de um misto do desenvolvimento da ideia de representao com a de igualdade de direto e realiza-se na forma de um governo representativo. John Stuart Mill teria sido o primeiro pensador a associar a ideia de governo representativo com democracia ao vislumbrar a inviabilidade tcnica da participao direta de todos no governo, nascendo assim o modelo de democracia representativa (CASTANHO, 2012).

    De acordo com Stuart Mill (apud HELD, 2006) a ideia grega de polis no sustentvel na sociedade moderna. A noo de autogoverno seria insensata para qualquer comunidade que exceda o tamanho de uma cidade pequena j que nem todos conseguiriam participar de todas as discusses. O trabalho de organizar e coordenar multides seria muito complexo para que todos participem diretamente das decises e, h, inclusive, limitaes fsicas j que no possvel um lugar onde todos os cidados de uma grande cidade ou do prprio pas se renam para discutir e deliberar leis. Ainda, segundo Mill, em um regime governado por todos os cidados h um perigo constante das pessoas mais sbias e capazes serem apagadas pela falta de conhecimento, habilidade e experincia das maiorias. Desta forma, conclui que as dificuldades da participao direta em governos democrticos s podem ser contornadas pela escolha de governantes atravs de eleio popular, em um regime denominado Democracia Representativa.

    Nesta forma de governo, o poder poltico passa do prprio cidado para a figura de um representante, estabelecendo um vnculo representante-representado que pode se expressar politicamente de trs formas: Primeiro como uma tcnica onde a vontade de uma pessoa atribuda a outra pessoa ou coletividade; a segunda como um instrumento para exprimir a

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    vontade do representado onde o representante uma espcie de porta-voz do representado; e a terceira como uma substituio, onde o representante substitui o povo, atribuindo a ele sua vontade (CASTANHO, 2012).

    Segundo Young (2006), nas sociedades modernas a existncia da representao uma condio necessria, pois muitas vezes a ao poltica do cidado est vinculada a processos que ocorrem em vrios e diferentes locais e instituies no sendo possvel estar presente em todos os organismos deliberativos e debater todas as ideias que iro afetar suas vidas. Alm disso, ainda que nem sempre tenha suas expectativas atendidas, o cidado espera que outros pensem em situaes como a dele e os represente em fruns ou rgos deliberativos.

    A democracia representativa permitiu que os fundamentos democrticos se mantivessem em uma sociedade que se tornava cada vez mais numerosa e complexa, porm, o papel da representao poltica nem sempre se estabeleceu de forma que os reais interesses da populao fossem de fato atendidos, o que gerou inmeras crticas a este modelo. Alguns autores atribuem a atual crise do sistema democrtico aos modelos representativos e suas instituies como partidos polticos (BENNETT;ENTMAN, 2001) (BUCY;GREGSON,2001) (MIGUEL,2006) cuja consequncia o descrdito poltico e o enfraquecimento da cidadania.

    Barber (2003), defensor da democracia participativa e crtico ao modelo de democracia representativa, argumenta que a representao incompatvel com a liberdade, igualdade e justia social pois:

    Aliena a vontade poltica em detrimento do genuno auto-governo, (...) prejudica a capacidade da comunidade de atuar como um instrumento regulador, (...) e impede a formao de um pblico participativo (BARBER, 2003, p.145-146).

    Neste sentido, defende um modelo que denomina de democracia forte, um sistema democrtico semelhante s assembleias gregas onde o cidado atua de forma direta nas decises. J para Gomes (2005), o modelo representativo est levando a uma crise do sistema democrtico pois ao separar a esfera poltica da esfera pblica esvazia o interesse dos cidados na participao poltica e faz com que a poltica contempornea no seja capaz de satisfazer os requisitos da democracia em seu sentido mais prprio. Dentre as consequncias desta ciso est um sentimento de desinteresse no cidado que no percebe os efeitos de suas aes visto a forma que o Estado age em relao aos seus anseios. Tal sentimento refora-se pela percepo de que a indstria da notcia, do lobby e

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    da consultoria poltica tem muito mais eficcia sobre a esfera poltica do que os prprios cidados. Neste sentido h uma marginalizao do papel do cidado gerando uma sensao de ineficcia da ao poltica que contribui para arruinar as condies da participao cvica. Alm destes fatores, o desinteresse tambm reforado pela pssima imagem pblica da sociedade poltica, percebida como voltada unicamente ao jogo de interesses prprios, de grupos/partidos ou a interesses no-pblicos puramente econmicos.

    Segundo Coleman e Blumler (2009), apesar de vivermos numa poca de grandes possibilidades e oportunidades de mudar governos, as pessoas nunca se sentiram to frustradas e desapontadas com a falta de capacidade de fazer qualquer diferena na poltica e nas decises pblicas. Observou em entrevistas, grupos focados e pesquisas que as pessoas repetitivamente queixam-se da sensao de estarem excludas, no serem ouvidas e serem desrespeitadas, tornando-se meros espectadores do processo poltico o qual rapidamente torna-se pouco confivel. Lavalle, Houtzager e Castello (2006) observam alguns indcios que tambm podem indicar uma crise do modelo democrtico representativo, dentre os quais destacam-se a volatilidade do eleitorado, a queda nos patamares de comparecimento nas urnas e um descrdito generalizado das instituies pblicas.

    Em relao ao modelo de democracia representativa adotado no Brasil, os problemas se voltam a atuao dos partidos polticos, excessiva burocratizao e distanciamento dos interesses sociais (PERISSINOTTO; FUKS, 2002). Segundo Menezes (2010), a grande quantidade de partidos polticos, os quais deveriam gerar uma pluralidade de ideias e princpios, acabou estabelecendo uma situao na qual partidos nanicos se tornaram legendas de aluguel constituindo negcios privados que no vo de encontro com a representatividade dos interesses pblicos. Tal fato favoreceu o surgimento de grupos de presso que atuam nos bastidores sem qualquer regulamentao ou responsabilidade a partir de trfico de influncia. Desta forma, pouco ou nada se representa da vontade pblica e a poltica se torna um mero jogo de interesses onde seus cidados que, sem poder de atuar, mudar suas realidade ou serem ouvidos, passam a desacreditar no sistema poltico acarretando duas consequncias graves: a apatia poltica e a corrupo. A apatia uma consequncia da falta de confiana nos polticos e nas suas capacidades de defender os interesses da coletividade uma vez que h uma percepo que suas aes ficam confinadas aos interesses de seus partidos e s estratgias pessoais as quais asseguram sua eleio. J a corrupo, percebida como atuao dos representantes que subordinam os interesses pblicos aos interesses individuais, uma consequncia tambm da prpria apatia poltica

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    uma vez que esta acarreta na diminuio da fiscalizao e regulamentao dos processos polticos por parte dos cidados.

    Apesar da hiptese de que o modelo representativo esteja levando a uma crise dos sistemas democrticos, opor a democracia clssica como um sistema ideal de participao popular e a democracia representativa como fonte de interesses individuais e tenso entre governantes e governados no um caminho frutfero para o fortalecimento e estabelecimento da democracia. Cada modelo foi pensado em um contexto histrico diferente cujos desafios sociais eram muitas vezes de outra natureza e reproduzi-los nem sempre a melhor soluo. Alm disso, os modelos no so prticas puras, eles se misturam em diversas situaes, por exemplo, na Grcia ateniense havia certo grau de representao quando magistrados eram eleitos para tarefas executivas ou mesmo nas democracias representativas modernas a participao popular direta pode ser vista em prticas como plebiscitos e referendos (MENEZES, 2010). Desta forma, refletir sobre as vantagens e desvantagens de cada modelo contextualizando sua prtica em um perodo scio-histrico, atento s demandas sociais e s ferramentas tecnolgicas, um possvel caminho para tentativas de superao da crise do sistema democrtico.

    E desta reflexo que surgiram os modelos de democracia participativa. Dentre seus principais expoentes, destaca-se Barber (2003) que criou o modelo de democracia forte, um sistema de democracia participava que une conceito da democracia clssica e representativa cuja prtica s possvel graas s novas tecnologias de informao e comunicao.

    Os modelos de Democracia Participativa so relativamente novos e passaram a ganhar fora a partir do inicio deste sculo graas ao surgimento de ferramentas tecnolgicas que permitiram aproximar pessoas e dar espao para uma participao popular mais direta nas decises polticas. Na democracia participativa, garantir a atuao cidad o objetivo principal e, para isto, duas condies so necessrias: A acessibilidade do poder pblico participao popular e um eficiente processo informativo j que o cidado deve ser capaz de formular suas prprias questes e no apenas responder a questes prontas como, por exemplo, num processo de plebiscito ou referendo que acabam por isolar o cidado da possibilidade de atuar diretamente nas decises polticas. A votao, nesta viso, um tipo muito pobre de participao poltica direta pelo simples fato de deliberar questes pr-fabricadas. Num contexto de democracia participativa, deseja-se o surgimento de uma opinio coletiva a partir de debates e discusses em um ambiente rico em informaes.

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    Para isto, o uso das tecnologias de informao e comunicao um caminho lgico a seguir (DIJK, 2000).

    Enquanto que na histria os ideais de democracia direta foram sendo vencidos e tidos como inadequados a medida que a sociedade se tornava uma sociedade de massas e o Estado uma instituio altamente complexa, o desenvolvimento tecnolgico trouxe tona a possibilidade de reverter esse processo. O surgimento de uma nova infraestrutura de comunicao e processamento de dados como por exemplo a internet est trazendo novas esperanas para o estabelecimento de modelos alternativos de democracia que resgatem o verdadeiro significado de cidadania e devolvam ao cidado o poder de deciso poltica (GOMES, 2005). E neste contexto que, principalmente aps o incio da dcada passada, surgem diversas iniciativas de base tecnolgica cujo objetivo resgatar a participao cidad ativa. A este conceito que une as TIC e os modelos de democracia denominou-se democracia digital e ser o assunto do prximo tpico.

    3 Democracia Digital

    Apesar de ser um conceito que ganhou fora com o advento tecnolgico dos ltimos anos, a democracia digital no um tema novo na literatura cientfica. Segundo Vedel (2006), a histria da democracia digital pode ser dividida em trs eras. A primeira comeou por volta de 1950 com o surgimento das tecnologias de computao e automao as quais geraram uma promessa de criao de uma mquina de governar que processaria uma grande quantidade de dados e tomaria decises racionais a respeito da administrao pblica. No entanto, na dcada de 60 essa ideia foi abandonada devido a crticas de que ela estaria muito mais direcionada tecnocracia do que de fato a um governo eletrnico pois reduzia a poltica unicamente sua prtica. A segunda idade comea entre o fim da dcada de 70 e inicio da dcada de 80 com o aparecimento da TV a cabo e dos computadores pessoais. Neste perodo, a televiso comeou a ser usada como espao para debates, discusses e interatividade com os cidados. Porm, a promoo de democracia nestes espaos ainda era muito primitiva devido a limitaes prprias da tecnologia, restringindo-se a ambientes mais informativos e a pouca possibilidade de atuao por parte do cidado. J a terceira idade a que melhor pode se associar com o conceito atual de democracia digital. Ela se inicia em meados da dcada de 90 com a emergncia das mdias digitais como a internet e as possibilidades da comunicao em rede fazendo surgir o ativismo ciberntico com a criao de espaos de debate virtual, fruns, blogs, entre outras formas de expresso

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    democrtica. Com a popularizao destas mdias e o desenvolvimento de ferramentas de processamento de dados, a democracia digital passa de um conceito para uma prxis com reais possibilidades de transformar a atuao democrtica.

    Nos ltimos anos o entusiasmo sobre as possibilidades que as mdias digitais vm trazendo para o avano do sistema democrtico generalizado, abrangendo os interesses desde os governos oficiais at os libertrios antigovernamentais, o que reflete o grande potencial da democracia digital em promover as mais diferentes vises de democracia. Dahlberg (2011), em um estudo sobre as potencialidades da democracia digital que envolveu a anlise de diversas aplicaes em diferentes pases, concluiu que as iniciativas podem ser classificadas em quatro esboos tericos: democracia digital liberal-individualista, democracia digital deliberativa, democracia digital contra-pblico e Democracia digital marxista-autonomista. No ser escopo deste estudo definir estes quatro esboos, porm vale ressaltar que ao desenvolver tecnologia nesta rea h necessidade de se ter clareza sobre qual sistema democrtico deseja-se promover uma vez que estudos como o de Dahlberg mostram que a democracia digital est carregada de conceitos ideolgicos que tero impacto sobre a prpria sociedade.

    Mesmo que haja um grande esforo na criao de aplicaes, teorizar a democracia digital ainda no uma tarefa perto de ser concluda. Embora desde meados do sculo passado a tecnologia venha sendo pensada como suporte dos ideais democrticos, ainda no h um consenso sobre a definio deste conceito visto que as aplicaes muitas vezes so de preocupao muito mais pragmtica e os modelos democrticos so diversos filosoficamente e ideologicamente. Nem mesmo o nome Democracia Digital unanimidade no meio acadmico. H autores que se referem ao mesmo fenmeno como e-democracia (LIDN, 2013), democracia eletrnica (SPIRAKIS; SPIRAKI; NIKOLOPOULOS, 2010), ciberdemocracia (LVY, 2002), e-gov (ROMAN; MILLER, 2013), entre outras. No entanto, este estudo focar na definio de dois dos mais influentes autores em democracia digital: Steven Cliff, pesquisador pioneiro na rea de democracia digital e criador do portal E-Democracy.org e o filsofo francs da cultura virtual contempornea Pierre Levy .

    Em seu artigo E-democracy, E-Governance and Public Net-Work, Clift (2003) antes de definir o conceito, alerta que e-democracia, ou democracia eletrnica, no votao direta via internet e muito menos campanha publicitria, mas sim:

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    E-democracia o uso de tecnologias de informao e comunicao e estratgias pelos setores democrticos dentro dos processos polticos de comunidade locais, estados/regies, naes e mesmo num estgio global. (CLIFT, 2003, p.2).

    Os setores democrticos incluem os seguintes atores democrticos: Governos, representantes eleitos, mdia, partidos polticos e grupos de interesse, sociedade civil, organizaes governamentais internacionais e os prprios cidados/votantes.

    J Lvy (2002) utiliza-se do conceito de ciberdemocracia para expressar o uso das tecnologias de informao e comunicao na promoo da democracia. Segundo o autor, ciberdemocracia uma expresso que engloba o conceito de ciberespao, local onde ocorre a comunicao e flui a informao, e o desejo de formas de governo genuinamente democrticas. O surgimento das tecnologias de rede que permitem a interligao mundial e ampliam a liberdade de comunicao esto estabelecendo um novo espao pblico que vir a redefinir radicalmente as condies de governana. Para o autor este o momento histrico mais propcio para se repensar a atuao democrtica j que a tecnologia poder ser usada a favor de uma sociedade mais justa e igualitria. Dentre as promessas, Lvy (2002) destaca que graas s novas tecnologias:

    A prpria natureza da cidadania democrtica passa por uma profunda evoluo, uma vez que caminha no sentido de um aprofundamento da liberdade: desenvolvimento do ciberativismo escala mundiais, organizao das cidades e regies em comunidadeS inteligentes, em goras virtuais, governos eletrnicos cada vez mais transparentes ao servio dos cidados e votos eletrnicos (LVY, 2002, p.30).

    A ciberdemocracia seria no apenas uma forma de se pensar a democracia na Era da Informao, mas tambm uma forma de buscar o aperfeioamento social atravs do impulso inteligncia coletiva. Uma vez que a noo de democracia remete aos direitos e liberdade do cidado, cujas ideias devem ser debatidas e deliberadas em prol de algo comum a todos, a busca de uma regra ou ideia comum que expresse genuinamente o pensamento de uma coletividade o que denomina-se inteligncia coletiva. A democracia, assim, implica numa inteligncia coletiva a qual pode ser favorecida pelo uso das tecnologias de comunicao.

    Apesar das promessas que a tecnologia trs, muitos dos meios de comunicao atualmente pouco ajudam os povos a pensar coletivamente e criar solues para seus problemas. No sistema poltico atual a informatizao est servindo basicamente para simplificar os processos de burocratizao e raramente est buscando formas criativas e inovadoras de tratar a informao de forma descentralizada, flexvel, interativa e coletiva. Desta forma,

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    necessrio conscientizar da necessidade de se explorar o enorme potencial transformador por parte das tecnologias (LVY, 1999).

    A ciberdemocracia no seria uma forma de reforar ou aprimorar o modelo democrtico representativo, mas sim de incentivar e propiciar uma maior participao popular na vida da cidade explorando da melhor forma possvel as ferramentas de comunicao contemporneas, dentre elas, as tecnologias de rede e informao que compe o ciberespao, tornando-o o lugar de uma nova forma de democracia direta em grande escala. Assim, um uso socialmente mais rico da informtica propiciaria aos grupos humanos os meios de reunir suas foras mentais e construir coletivos inteligentes que levem a uma democracia em tempo real (LVY, 1999).

    Neste sentido, Lvy (1999) prope a criao da gora virtual, uma hiptese utpica de uma plataforma virtual de democracia direta, a qual explora as potencialidades do ciberespao na busca dos problemas, debates pluralistas, tomada de deciso coletiva e avaliao dos resultados sempre o mais prximo possvel das comunidades envolvidas. Para que venha a se tornar realidade, h a necessidade do desenvolvimento de ferramentas de filtragem inteligente dos dados, navegao em meio a informao, simulao de sistemas complexos, comunicao transversal de tal forma que favorea a tomada de deciso em coletivos heterogneos e dispersos. A gora virtual teria como objetivo facilitar a navegao no conhecimento permitindo a troca de saberes e a construo coletiva do sentido. Proporcionaria uma viso dinmica das questes coletivas e a avaliao em tempo real de uma enorme quantidade de proposies, informaes e processos em andamento. Alm disso, como um instrumento de democracia participativa, o cidado no mais seria um nmero que daria peso a um partido poltico ou a um representante, mas sim criaria diversidade e ampliaria o conhecimento contribuindo para o aperfeioamento da inteligncia coletiva e resoluo dos problemas comuns.

    Apesar das particularidades de cada definio, tanto a ciberdemocracia quanto a e-democracia referem-se ao papel das novas tecnologias na promoo da democracia, ideia esta corroborada por Timonen (2013), o qual aponta cinco razes para usar as tecnologias e estratgias da democracia digital:

    1. A democracia digital essencialmente uma mdia social que permite aos governos e polticos se aproximarem dos cidados.

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    2. Permite que cidados com opinies parecidas compartilhem ideais e organizem aes polticas.

    3. A mdia digital prove uma forma eficiente de disseminao de mensagens.

    4. Redes digitais permitem o surgimento de muitas ideias e, portanto, do poder aos cidados. Elas facilitam o acesso dos polticos a essas ideias de forma que possam torn-las polticas concretas.

    5. Redes digitais permitem que os cidados se tornem verdadeiros responsveis pelas decises.

    Indo alm da definio, uma questo pertinente avaliar o impacto das aplicaes existentes nos processos democrticos. Com este objetivo, Silva (2005) desenvolveu um estudo envolvendo diversos projetos de democracia digital no Brasil e em outros pases e concluiu que, baseado na capacidade do sistema em promover a participao popular nos negcios pblicos, existem cinco possveis graus de participao democrtica virtual. Segue abaixo uma breve descrio destes graus:

    1. Primeiro grau de democracia digital: caracterizado pela nfase na disponibilidade de informao na prestao de servios pblicos. Nestes dispositivos, o governo busca suprir as necessidades de informao bsica, servios e bens pblicos, enquanto o cidado espera receber essas informaes de forma rpida e sem transtornos. um fluxo de informao unidirecional governo-cidado e est intimamente relacionado com a melhoria de produtividade e otimizao da mquina estatal.

    2. Segundo grau de democracia digital: aqui os dispositivos tecnolgicos so criados para obter a opinio pblica e utiliz-la para tomada de deciso poltica. A ideia estabelecer um dialogo efetivo com a esfera pblica, porm limitado apenas a um canal de sondagem de opinio sem garantias de que esta ser de fato acatada.

    3. Terceiro grau de democracia digital: diz respeito s aplicaes que atestam o princpio da transparncia e da prestao de contas, permitindo o acesso da esfera pblica aos dados do governo de forma que haja algum controle sobre as aes governamentais. Porm, apesar deste relativo controle, as decises finais ainda sero tomadas unicamente pela esfera poltica.

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    4. Quarto grau de democracia digital: so ferramentas capazes de propiciar discusses pblicas que levaro a um consenso mtuo e implicaro em decises concretas por parte da esfera poltica. So fundamentadas no dilogo aberto e livre dos participantes que devem propor solues sobre problemas comuns. Dentro de um modelo de democracia representativa, este seria o grau mais elevado de participao democrtica que o cidado poderia participar.

    5. Quinto grau de democracia digital: este seria o grau mais intenso no que diz respeito participao popular na tomada de deciso dos negcios pblicos, aproximando-se dos modelos de democracia direta. Neste grau, a esfera pblica e a esfera poltica se coincidiriam e a deciso pblica passa a ter poder deliberativo. As ferramentas devem ser capazes de processar a informao pblica e produzir deciso poltica, fazendo com que o cidado de fato decida.

    De acordo com Silva (2005), o desafio a ser enfrentado melhorar o acesso dos cidados em cada um desses graus, o que envolve aspectos tecnolgicos, sociais, econmicos e culturais. Para tal, h necessidade de gerar condies econmicas e polticas e desenvolver tecnologia, como a criao de sistemas, ferramentas, modelos, procedimentos e teorias que auxiliem atingir estes objetivos. No Brasil, os projetos existentes at o ano de 2005 estavam restritas ao primeiro e segundo grau, no havendo iniciativas que de fato atribussem um papel deliberativo s decises populares. J em outros pases, algumas iniciativas se aproximam do terceiro e quarto grau de participao poltica. O prximo tpico tratar de apresentar o estado da arte das aplicaes em democracia digital tanto no Brasil quanto ao redor do mundo.

    3.1 O Estado da Arte da Democracia Digital

    Muitas so as iniciativas em democracia digital ao redor do mundo cujo fator comum recai sobre as tentativas de aproximar as esferas pblica e poltica. Em um estudo publicado em 2013 sobre o uso destas ferramentas, Timonen (2013) analisou como a Democracia Digital empregada na Unio Europeia tanto por instituies governamentais como pelos prprios polticos. Dentre as aplicaes, destaca a campanha de Jos Manuel Barroso para presidente da Comisso Europeia no ano de 2009 onde foi criado o TellBarroso (www.tellbarroso.eu), uma plataforma virtual de consulta publica onde os cidados podiam colocar propostas sobre aes que gostariam que fossem adotadas pela futura Comisso Europeia. A participao na consulta foi expressiva: mais de 150 mil pessoas participaram com 12 mil propostas, 500 mil visualizaes e 130 milhes de impresses em mdias

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    sociais. Timonen tambm descreve outros usos das mdias sociais em campanhas europeias como o caso do Partido Europeu Socialista que nas eleies para o Parlamento Europeu utilizou as mdias sociais para defender a criao de uma taxa de transao financeira, ganhando no s visibilidade como tambm conseguindo aprov-la posteriormente. J em relao ao uso da tecnologia em sistemas de votao, cita o caso da Estnia que criou um sistema de votao eletrnica usando cartes inteligentes que permitem a votao via internet ou telefone celular.

    O estudo de Timonen (2013) foi restrito a algumas aplicaes recentes na Unio Europia e ressaltou as inmeras possibilidades da democracia digital. Nchise (2012), publicou um estudo no qual analisou 158 artigos cientficos que diziam respeito a democracia digital e traou um panorama sobre o estado da arte, concluindo que:

    1. Os artigos em democracia digital tiveram um boom de publicaes a partir do ano de 2003, saltando de 1 artigo publicado em 2001 para 23 em 2003.

    2. A maioria das aplicaes encontram-se na Europa (64) e nas Amricas (36). frica, Austrlia, sia e oriente mdio juntos produziram 20 artigos.

    3. 59 artigos focam apenas em discusses tericas sobre democracia digital. 84 relatam alguma aplicao prtica e 15 apresentam opinies e ponto de vista de acadmico sobre o tema.

    4. Sobre as aplicaes, elas englobam 5 reas: sistemas de voto eletrnico; sistemas de negociao eletrnica; sistemas de deliberao on-line; peties online e campanha virtual.

    Em relao s aplicaes no Brasil, os projetos em democracia digital vm apresentando um expressivo aumento nos ltimos anos, tanto em quantidade quanto na qualidade dos sistemas. Em 2005, Silva (2005), fundamentado em sua pesquisa sobre os graus de participao popular em democracia digital, analisou os portais em operao na rede de 24 capitais brasileiras e constatou que grande parte oferecia apenas servios informativos. Desta anlise, verificou que 87 % continham a presena das legislaes (leis, estatutos, decretos, portarias etc), possibilidade de insero de dados pelo usurio de forma a obter uma informao (consulta customizada) e presena de informaes genricas sobre as cidades (econmicas, culturais, tursticas, histricas, entre outras). J 91 % dos portais apresentavam notcias sobre a administrao municipal e informaes institucionais

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    genricas (endereo fsico e eletrnico, telefones da administrao, funo de rgos da administrao publica). Por outro lado, nenhum portal apresentou a possiblidade de operao completa de servio pblico via rede e apenas 8% apresentavam algum tipo de atendimento on-line instantneo como, por exemplo, um chat ou a possibilidade de obteno de servio pblico em domicilio com pedido inicial atravs do site. Por fim, concluiu que grande parte das aplicaes encontravam-se nos graus 1 e 2 e que nenhum portal apresentava alguma possibilidade de participao cidad em nvel dos graus 4 e 5.

    Conforme a pesquisa, os sistemas existentes no ano de 2005 no propiciavam a participao ativa da populao, seja de forma consultiva ou deliberativa. Porm, o avano do alcance da internet, a melhoria do acesso da populao aos recursos de informtica, bem como o aprimoramento dos aparatos tecnolgicos levaram a um amadurecimento e surgimento de novas iniciativas. Segundo Wildauer, Inaba e Silva (2013), enquanto em 2005 apenas 12 % dos domiclios brasileiros tinha acesso internet, em 2012 esse ndice passou para 40 % e projeta-se um ndice de 50 % at o final de 2014. Apesar de ainda estar prximo de atingir a metade dos domiclios brasileiros, garantir o acesso de todo cidado internet uma condio fundamental para o desenvolvimento da democracia digital, possibilitando a comunicao, a rapidez e a busca e disseminao da informao em massa, sendo, portanto, um importante canal de livre acesso e exerccio da cidadania.

    A popularizao da internet est permitindo o surgimento das chamadas cidades inteligentes, uma forma de designar as cidades que fazem uso das inovaes tecnolgicas para facilitar o acesso da populao aos servios pblicos e solucionar os problemas da sociedade local. Iniciativas nesta rea j podem ser encontradas em algumas cidades brasileiras, as quais procuram desenvolver portais de servios online que permitem o acesso a diversos servios pblicos, busca de informaes, pagamentos de tributos municipais, alm de oferecer espao de ouvidoria online para que as comunidades interajam com suas prefeitura fazendo solicitaes e reivindicaes. Uma das caractersticas das cidades inteligentes brasileiras a preocupao com a incluso digital, uma vez que servios online so s democrticos de fato quando 100% da populao tm acesso a eles. (PACHECO et al., 2013) (JNIOR; GALIOTTO, 2013).

    No entanto, dois projetos se destacam tanto pelo apelo participao popular quanto pela inovao tecnolgica no que se refere a um pioneiro tratamento da informao em prol de uma inteligncia coletiva que corresponda aos anseios da comunidade. O primeiro destaque o portal e-democracia da cmara dos Deputados e o segundo, o portal Gabinete do Governo mantido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

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    O portal e-democracia da Cmara de Deputados foi criado em 2009 e seu objetivo, segundo descrio no prprio site (http://www2.camara.leg.br/), incentivar a participao da sociedade no debate de temas importantes para o pas atravs da internet. classificado como uma sistema scio-tecnolgico pois so solues tecnolgicas inovadoras que possibilitam a colaborao popular rpida, eficaz e abrangente. Por este motivo, sua implementao envolve ampla participao interdisciplinar que leva em considerao a interao dos seus componentes tecnolgicos e sociais e culmina em um instrumento antropocentrado e no apenas tecnocentrado (MEZZAROBA et al, 2013).

    O portal formado por dois espaos de interao denominados Comunidades Legislativas e Espao livre. No primeiro, o usurio participa de debates a respeito de temas especficos relacionados a projetos de lei que tramitam na cmara. No segundo, o usurio pode criar e participar de fruns sugerindo temas a serem discutidos. Alm disso, h um espao para compartilhar informaes com redes sociais como o Facebook e o twitter, bate-papo, enquetes e uma Wiki da comunidade virtual.

    No entanto, a principal colaborao cidad est no instrumento de votao de ideias e temas que permite conhecer a opinio, anseios e propostas da comunidade a respeito de assuntos que esto em pauta na cmara dos deputados. Esta votao utiliza-se de uma metodologia de crowdsourcing cuja proposta produzir um sistema de seleo de ideias em um universo de grande participao colaborativa.

    Como exemplo da participao cidad atravs do e-democracia destaca-se o projeto recentemente aprovado pela cmara dos Deputados que criou o Marco Civil da internet. Foi o primeiro projeto de lei de importante impacto social que teve incorporado sugestes dos quase 12 mil internautas que acessaram a comunidade virtual e contriburam com ideias. Das 374 manifestaes selecionadas pelo sistema e colocadas em votao, 6 foram incorporadas pelo relator e passaram a fazer parte do projeto de lei aprovado.

    O outro destaque o portal Gabinete Digital desenvolvido pelo Governo do Rio Grande do Sul com o propsito de ser um canal de participao e dilogo entre governo e sociedade. Segundo a descrio encontrada no site (http://gabinetedigital.rs.gov.br/), o objetivo incorporar novas ferramentas de participao, oferecendo diferentes oportunidades ao cidado de influenciar a gesto pblica e exercer maior controle social sobre o Estado. Inspirado em projetos de democracia digital tanto no Brasil quanto no exterior, o portal, criado em 2011, j se

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    tornou foco de pesquisas acadmicas e recebeu diversos prmios nacionais e internacionais pelo incentivo de pesquisas e projetos em participao popular, cultura digital, propriedade intelectual e democracia.

    Segundo Wu (2013), o sistema est apresentando um novo paradigma para participao cidad, indo alm das abordagens nicas sobre as questes sociais para uma abordagem diversa onde uma grande quantidade de pessoas so ouvidas e atendidas. Wu (2013) descreve o projeto como uma aposta na renovao da democracia no apenas por criar um instrumento de participao cidad, mas tambm por ser um sistema, que, por si s, de apropriao pblica j que a plataforma foi desenvolvida com tecnologia aberta e licenas livres.

    O Gabinete Digital um ambiente digital que processa as ideias de um debate pblico e constri consenso atravs da metodologia de crowdsourcing, a mesma utilizada no portal e-democracia da Cmara dos deputados citado anteriormente. Elaborado com o objetivo de alcanar a maior participao popular possvel, foi desenvolvido em cdigo aberto, o que permitiu a interao com outros especialistas tcnicos de forma colaborativa e, inclusive, a replicao do projeto tcnico em outros municpios do Brasil. Alm disso, material grfico, como os vdeos que foram distribudos em formatos que possibilitam a visualizao sem a necessidade de softwares especficos, como por exemplo, em HTML5. A interface adaptvel a dispositivos moveis como tabletes e smartphones.

    A proposta do projeto estabelecer uma relao entre a tecnologia de informao e os usurios de forma que toda informao colaborativa seja base para debates e deliberaes polticas e no meramente consultivas, criando um vnculo efetivo entre a esfera pblica e poltica. Sua principal ferramenta colaborativa denominada Governador Pergunta onde os usurios devem responder a uma questo que diz respeito a temas de interesse pblico. As propostas so recebidas e disponibilizadas para votao e, ao final, os autores das questes selecionadas so convidados a participar de um encontro presencial com o Governado do Estado debatendo o encaminhamento das propostas levantadas. Outras ferramentas tambm esto disponveis como o Governador Responde onde qualquer cidado pode enviar um questionamento para o governador, as quais ficam a disposio de todos e so colocadas em votao. A pergunta mais votada do ms respondida pelo governador em vdeo. J no Governo Escuta, so realizadas audincias pblicas transmitidas pela internet com a participao do pblico e especialistas onde os usurios podem enviar questes e sugestes ao vivo.

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    Um exemplo da participao alcanada e dos resultados obtidos pelo programa est em uma consulta feita a respeito da Sade no Estado do Rio Grande do Sul. Ao todo foram recebidas 3,3 mil propostas e 360 mil votos das quais foram selecionadas 50 prioridades para a sade no Estado. Desta, pelo menos seis propostas saram do papel e se tornaram lei, mostrando que a parceria entre tecnologia e democracia um caminho eficiente para promover a participao cidad direta na soluo dos problemas sociais.

    Diversas iniciativas de Governana Digital tm surgido nos ltimos anos. Recentemente a Presidncia da Repblica instituiu o decreto que lana o Programa Nacional de Participao Social (PNPS), o qual abre as portas para consolidao da Democracia Participativa no Brasil ao regulamentar e incentivar o desenvolvimento de tecnologias de Participao Popular ativa e Consultas Pblicas, mostrando que a parceria entre a democracia e a tecnologia pode ser uma soluo para o descrdito das instituies democrticas e a reaproximao efetiva dos cidados aos negcios pblicos.

    A Democracia Digital, conforme este artigo procurou ilustrar, fruto de uma prxis construda historicamente que surge como resposta a uma percepo de crise das instituies democrticas. A tecnologia emerge neste contexto como possibilidade de transformao social em prol do resgate dos valores democrticos. Porm, para que esta transformao seja possvel e a tecnologia se converta em ferramentas de construo democrtica, faz-se necessrio um empenho multidisciplinar que envolva as mais diversas cincias desde as humanas at as engenharias.

    4 Concluso

    O avano tecnolgico dos ltimos anos est possibilitando uma reconfigurao da prtica democrtica no s no que diz respeito virtualizao das ferramentas, como o voto eletrnico, mas tambm da aproximao da populao tomada de deciso poltica seja por meio da consulta pblica ou do resgate de mecanismos de democracia direta. Desta forma, ao aproximar a tecnologia da democracia, faz-se necessrio ter um amplo conhecimento dos possveis modelos democrticos e seus impactos.

    O presente artigo teve como objetivo contextualizar historicamente a democracia e apresentar o estado da arte da Democracia Digital focando as prticas que esto surgindo no cenrio brasileiro. Conhecer este panorama e os trabalhos pioneiros possibilita estabelecer alguns pontos de partida para o desenvolvimento de uma tecnologia voltada de

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    fato para as necessidades da sociedade brasileira respondendo aos anseios da populao por maior participao poltica.

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