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84 I éPOCA I 23 de junho de 2014 GENEROSIDADE O projeto de um ex-jogador holandês no Brasil ensina o esporte e educa crianças de baixa renda. Elas foram à Europa para jogar seu primeiro torneio internacional Uma pequena grande copa

Uma pequena grande copa

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Texto publicado pela revista Época, sobre a Copa Cruyff, campeonato que levou crianças de favela paulistana à Holanda, para aprender sobre novas culturas enquanto joga futebol.

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Page 1: Uma pequena grande copa

84 I época I 23 de junho de 2014

generosidade

O projeto de um ex-jogador holandês noBrasil ensina o esporte e educa criançasde baixa renda. Elas foram à Europa parajogar seu primeiro torneio internacional

Uma pequenagrande copa

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o Brasil ainda não ganhou aCopa. Mas tudo bem, esse nun-ca foi o real objetivo da disputa.

O importante no campeonato é desco-brir novas culturas e experiências. Pelomenos é o que pensam as crianças querepresentaram o Brasil na Copa CruyffCourt, um mundial para jovens comaté 13 anos, vindos da periferia de seispaíses, entre eles Dinamarca, Espanhae Malásia. Depois de versões nacionaise até continentais, pela primeira vez acompetição envolveu vários países domundo, em Amsterdã, na Holanda.

Jogar longe de casa é ótimo para ospequenos atletas. Renan Messias tem12 anos, vive na periferia de São Pauloe é um dos 15 jovens que representaramo Brasil. Apesar de morar há menos de20 quilômetros do aeroportointernacional de Guarulhos,nunca andara de avião. Ahistória mudou no últimodia 5 de junho, quando pas-sou direto para a área de em-barque internacional. “Foi aprimeira vez que entrei noaeroporto”, diz Renan. NaHolanda, além de participardo torneio, Renan visitou ofamoso centro de ciênciasde Amsterdã, o Nemo, e foia uma partida de futebol.“Uma das coisas mais legaisfoi o museu. Tinha váriosbrinquedos, um deles davachoque quando mais de umapessoa colocava a mão. Foi muito di-vertido.” Participar do projeto não selimita ao futebol em si. Renan apren-deu a se expressar um pouco mais emseu dia a dia. “Antes era muito difícil,ele não falava com ninguém. Para fa-zer trabalho na escola, era complicado,porque é tímido. Hoje, ele é mais solto,mais interessado”, afirma Adriana Fer-reira, mãe de Renan.

O projeto Cruyff Court é umainiciativa internacional que constróicampos de futebol society para me-lhorar a situação social em áreas es-palhadas pelo mundo. Atualmente há185 campinhos em 17 países. A açãofaz parte da Cruyff Foundation, or-ganizada pelo ex-jogador holandêsJohan Cruyff, para ajudar jovens a ter

um melhor estado emocional, físico eintelectual por meio do esporte.

Em 2010, o projeto chegou ao Brasile se fixou na periferia paulistana dobairro Ermelino Matarazzo. O respon-sável pela vinda do programa foi o Ins-tituto Plataforma Brasil. Atualmente,300 crianças brasileiras são atendidaspelo projeto, sem contar a populaçãolocal, que pode usar a quadra à von-tade. Os alunos recebem uniformese alimentação, mas para isso devemseguir algumas regras, como respeitaros professores e colegas, além de teruma presença assídua. Por mais sim-ples que pareça, a ação tem resultados.“Conseguimos ver uma mudança nocomportamento”, afirma a holandesaJoelke Offringa, presidente do Pla-

taforma Brasil. “O desafioé dar uma aula de futebolcom noções de cidadania”,diz Renato dos Santos, coor-denador do projeto.

A versão brasileira se des-taca por ser a única do mun-do com uma programaçãoeducacional para os jovens,com aulas que vão de segun-da-feira a sexta-feira, das 8da manhã às 5 da tarde. “Agente faz isso no Brasil por-que acha que não faz sentidoter só o futebol. É preciso terum programa educativo jun-to”, afirma Joelke.

A viagem para a Holandarepresenta o primeiro passo da expan-são da Cruyff Court no Brasil. Maisum grupo de jovens participantes doprojeto irá para a Holanda em outu-bro. Fazendo parte de outro projeto,o Cruyff Comunity Group, 15 jovenspassarão dez dias na Holanda, a fimde finalizar o ciclo iniciado em abril,quando holandeses ficaram na comu-nidade de Ermelino, em São Paulo. Umsegundo gramado está em construçãono Brasil, em Salvador, com previsãode entrega ainda neste ano. O sucessodo projeto se deve a usar repetidamen-te a mesma arma: uma bola. “Não temcoisa mais popular que o futebol. Sevocê usa isso para o bem, para mudara vida dos jovens, você tem algo muitopoderoso”, diz Joelke. u

Felipe Germano

aula de bolao garoto renan

Messias na quadrade ermelino

Matarazzo, em sãoPaulo. o futebol o

levou à Holanda

Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA

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