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UMA PUBLICAÇÃO DO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA VERSÃO ELECTRÓNICA EM http://www.oal.ul.pt/oobservatorio/ A graciosa galáxia Remoinho M51 e a pequena NGC 5194, duas companheiras galácticas.

UMA PUBLICAÇÃO DO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE … · Ao fim de três anos e meio como Director do OAL (e de sete anos e meio a “reconstruir” e a reabilitar o OAL), chegou

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UMA PUBLICAÇÃO DO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA

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A graciosa galáxia Remoinho M51 e a pequenaNGC 5194, duas companheiras galácticas.

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TAMBÉM A MIM, NINGUÉM ME CALA...!

FICHA TÉCNICA

O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax:213616752; Endereço electrónico: [email protected]; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Edição: José Afonso,Nuno Santos, João Lin Yun, João Retrê. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Tecla 3, Artes Gráficas, Av. Almirante Reis, 45A,1150-010 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.

ED

ITO

RIA

L

O MÊS de Março chegou e com ele a promessa da Primavera, aestação do renascer da Natureza, das flores, dos sorrisos. Marçochegou e com ele o final do Inverno. Um Inverno especialmentefrio, em vários sentidos.

Ao fim de três anos e meio como Director do OAL (e de seteanos e meio a “reconstruir” e a reabilitar o OAL), chegou a altura deabandonar a Direcção desta casa. Durante este tempo, sem qualquerremuneração, pus de lado o trabalho científico pessoal para poderdedicar-me 100% a trabalhar para o desenvolvimento justo e harmoniosoda Astronomia e Astrofísica na Universidade de Lisboa. Apesar detodo o sucesso nas iniciativas e gestão do OAL durante este período,claramente reconhecido pelo público em geral e por instituições,professores e estudantes em particular, abandono a Direcção do OALcom uma profunda desilusão pela forma como funcionam os meiosuniversitários, com a sua submissão à influência dos mais velhos ealegadamente mais poderosos, em vez de serem lugares de pessoasmais esclarecidas e livres que a sociedade julga serem. Assim, apósmais de vinte anos de grande dedicação à instituição onde trabalho (aFCUL), é com tristeza que sou forçado a manifestar a minhaindisponibilidade para continuar o enorme esforço que tenho feito afavor do progresso e desenvolvimento justo e humano desta instituição.Não posso aqui informar os detalhes que me levam a esta decisão pois“de cima” impõem-me silêncio sobre isso. Mas terei todo o gosto eminformar quem o desejar, bastando para isso que me contactem por e--mail. Também a mim, ninguém me cala! E como os acontecimentosrecentes o demonstram, é grande o apoio dos cidadãos aos que nãoaceitam ser calados e preferem defender os mais fracos do que aliarem--se aos mais poderosos. Aproveito pois para agradecer aqui asolidariedade e apoio daqueles que gentilmente me fizeram chegar já oseu pesar por toda a situação.

Para que progridam e se desenvolvam, são as instituições queprecisam das pessoas. Só quando os critérios principais a ter em contaforem o mérito e o trabalho realizado pelas pessoas e não a sua idadeou o seu poder, só nessa altura poderão as universidades portuguesaslibertarem-se do jugo do passado, feito de hierarquias ocas que ascondenam a um atraso gritante.

Nos momentos difíceis, a contemplação da Beleza do nosso Universopode ajudar ao restabelecimento do equilíbrio e bem-estar interiores. Ea Astronomia é o “lugar” certo para isso. Quando contemplamos o céuestrelado, tantos mundos distantes, tantas interrogações a alimentar oespírito humano, e que pequena que é a nossa terra, a nossa Terra e amesquinhez de alguns actos humanos!

Na despedida de todas as minhas responsabilidades no OAL (aacontecer brevemente), quero agradecer a todos os que colaboraramentusiasticamente no trabalho que desenvolvi. Dado ser meu desejomanter os compromissos que assumi previamente, este Boletimcontinuará a ser produzido e dirigido por mim até ao final de 2006,data do final do projecto que financia este Boletim (do qual eu sou oinvestigador responsável) e para o qual não pedirei renovação.

A esperança de melhores tempos, de uma melhor sociedade, está nasgerações jovens e é para elas que vale a pena trabalharmos. Vamos aisso...!

João Lin Yun, Director do Boletim O ObservatórioJoã[email protected]

NA CAPA:

Imagem obtida pelo telescópioespacial Hubble da galáxia espiralM51, localizada a 31 milhões de anos--luz, e da sua pequena companheira, agaláxia NGC 5194. Embora pareça àprimeira vista que a NGC 5194 seencontra a “puxar” um dos braços daM51, aquela está a passar por trás dasua companheira de maioresdimensões. Devido à proximidade, asforças gravitacionais que uma exercesobre a outra causaram um acentuarda forma em espiral da M51, enquantoque a pequena NGC 5194 tornou-sealgo disforme. Uma outraconsequência desta interacção é acontracção de gases e poeirasexistentes em certas regiões da M51,originando assim nuvens que acabampor colapsar criando regiões deformação estelar, que podem ser vis-tas na imagem em tons de rosa claro.Cortesia: NASA, ESA, S. Beckwith (STScI) eThe Hubble Heritage Team (STScI/AURA).

AGENDA

O Observatório Astronómico de Lisboa dispõede um serviço de visitas guiadas ao seu EdifícioCentral. Marcações para grupos podem serefectuadas através do telefone 213616730, fax213616750, ou através do endereço electró[email protected]

- VISITAS GUIADAS AO OAL

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UM PEQUENO EXOPLANETA GELADO Nuno Santos CAAUL/OAL

Três equipas internacionais deastrofísicos identificaram um pequenoplaneta a orbitar uma estrela distante. Oplaneta em causa terá uma massa entre 3 e11 vezes a massa da Terra, e torna-se assimno mais pequeno planeta extra-solarconhecido.

Entre os mais de 160 planetas extra--solares detectados até hoje, a esmagadoramaioria são planetas gigantes, comoJúpiter, descobertos pelo método dasvelocidades radiais. Mas uma nova classede exoplanetas, com uma massaequivalente ou inferior à de Urano (cercade 14 vezes a massa da Terra) começou aser desvendada durante o último ano e meio (ver OObservatório, vol. 10, N.º 8).

O planeta agora anunciado foi descoberto usando o princípiodas microlentes gravitacionais, um efeito previsto pela Teoria daRelatividade Geral de Einstein. Quando um objecto (a “lente”)passa, do ponto de vista de um observador terrestre, em frente deuma estrela de fundo, a sua gravidade vai agir como uma lentegravitacional, concentrando a luz da estrela de fundo na direcçãoda Terra. Assim, para um observador no nosso planeta a estrelade fundo vai parecer aumentar o seu brilho, um fenómeno quepode durar vários meses.

Ora, se a estrela “lente” possuir um planeta em sua órbita, agravidade deste vai também produzir um pequeno efeito de lentegravitacional, contribuindo para a variação de brilho da estrela defundo. Foi exactamente este efeito que foi agora detectado numacolaboração entre três equipas internacionais de astrofísicos, a

Um estudo recente efectuadocom o telescópio espacialHubble indica que os maioresburacos negros do Universo,com massas que podem atingiros milhares de milhões demassas solares, não nasceramgrandes, mas desenvolveram-se ao longo de milhões de anos,num processo desencadeadopor encontros e colisões entregaláxias.

Usando a imagem mais pro-funda do Universo no óptico,o Hubble Ultra Deep Field(HUDF), uma equipa deastrónomos procurou identi-ficar pares de galáxias distantes em colisão. A aparência destespares é inequívoca, já que as perturbações gravitacionais num talacontecimento são tão grandes que as estrelas são “arrancadas” àsua galáxia original, formando caudas de matéria facilmenteidentificáveis numa imagem óptica (ver imagem).

Entre os exemplos encontrados (165 entre cerca de 2700 galáxiasexaminadas) procurou-se encontrar sinais de um buraco negro.Usando as diferentes observações que o Hubble efectuou para oHUDF, que compreendem um período de quatro meses, osinvestigadores procuraram detectar flutuações de brilho nestesobjectos. Tal revelaria a actividade intensa na região em torno de

um buraco negro activo, ondegases e estrelas são aceleradospara a região central,aquecendo e brilhandoerraticamente. Curiosamente,nenhuma actividade foiobservada.

Contudo, em 46 galáxiasdiferentes igualmente estu-dadas no HUDF, estasflutuações de brilho foramencontradas. Relativamentepróximas, estas galáxias sãovistas como eram milhões deanos após os pares em colisãoanalisados, o que sugere queos maiores buracos negros não

começaram a sua “refeição” aquando da colisão entre galáxias,uma parte fundamental na evolução galáctica, mas apenas centenasde milhões de anos mais tarde. Apoiados por simulações emcomputador, os astrónomos pensam que esse é o intervalo detempo necessário para o gás e estrelas “providenciados” pelacolisão cheguem até às proximidades do buraco negro e comecema ser “devorados”.

Este estudo realça a importância das colisões entre galáxiaspara o processo de formação e evolução galáctica e para ocrescimento de buracos negros supermassivos que hoje podemosobservar no centro das maiores galáxias no universo local.

OGLE, a PLANET e a MOA.O efeito de lente gravitacional foi

detectado pela equipa do OGLE, que deseguida alertou os outros dois grupos. Asobservações mostraram inicialmente umaumento no brilho de uma estrela distante,algo que indicava um efeito de lentegravitacional produzido por uma pequenaestrela anã vermelha que passava noalinhamento entre nós e a primeira. Noentanto, a 31 de Julho, e quando o brilhoda estrela longínqua estava já a diminuir,os astrofísicos observaram um novoaumento, mas desta vez apenasmomentâneo. Este sinal revelou a presença

de um pequeno planeta a orbitar a estrela “lente”, que foi baptizadocom o estranho nome de OGLE-2005-BLG-390Lb.

A análise da curva de luz permitiu aos astrofísicos determinarque o planeta em causa tem uma massa de aproximadamente 5,5vezes a massa da Terra (entre 3 e 11 vezes, segundo os erros), edista da sua estrela cerca de 2,6 Unidades Astronómicas (i.e., 2,6vezes a distância entre a Terra e o Sol). A estrela que este orbita éuma pequena anã vermelha, que está a cerca de 22 000 anos-luzda Terra. Trata-se assim de um planeta bastante frio,provavelmente constituído por gelos.

Infelizmente, um evento deste tipo acontece apenas uma vez, oque dificulta o estudo do planeta agora detectado. Os astrofísicosterão de esperar agora alguns anos para que a estrela “lente” seafaste o suficiente da estrela de fundo mais brilhante, para entãopoderem estudar a anã vermelha e o seu planeta de forma maisconsistente.

Curva de luz obtida com os diferentes telescópiosque participaram na descoberta do OGLE-2005--BLG-390Lb. Este planeta foi detectado graças aopequeno aumento no brilho da estrela, observadono final de Julho passado. Cortesia ESO.

O CRESCIMENTO DOS MAIORES BURACOS NEGROS José Afonso CAAUL/OAL

Estas imagens revelam 36 dos 165 pares de galáxias distantes em colisão,detectados na imagem óptica mais profunda existente, o Hubble Ultra DeepField. Cada figura compreende cerca de 84000 anos-luz, aproximadamente otamanho actual da Via-Láctea, encontrando-se o par em colisão no centro dessaregião. Cortesia: NASA, ESA, A. Straughn (Universidade do Arizona) e a equipado HUDF.

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Foi na sua procura incessante peloconhecimento que a Humanidade atingiuos maiores feitos a nível tecnológico. Otelescópio espacial Hubble, um triunfodo engenho humano, tem sido talvez oinstrumento com maior produtividadecientífica dos nossos tempos. Com o finaldo Hubble, a busca pelas nossas origensnão terminará. Novos horizontes seavizinham, e um novo instrumento surgepara auxiliar nessa jornada: o TelescópioEspacial James Webb.

A MISSÃO

Há quase 16 anos que o Hubble tem vindo a oferecerrespostas a muitas perguntas. Mas na sua caminhada para noselucidar acerca dos segredos que o Universo esconde, tambémlevantou novas questões que para serem respondidasnecessitam de um novo tipo de instrumento.

Integrado no programa “Origens” da NASA, projecto quevisa o estudo da origem e evolução das galáxias, planetas e emúltima instância, da vida, o telescópio espacial James Webb(JW) continuará a exploração científica iniciada com o Hubble.

Na sua missão, este instrumento, resultado de um esforçoconjunto entre a NASA, ESA e a CSA (Agência EspacialCanadiana), terá como principais objectivos:

*Detecção e estudo das primeiras galáxias e estrelas aformarem-se no Universo

*Estudo da formação e evolução galáctica, estelar e planetária*Estudo dos elementos produzidos pelas estrelas*Determinação da geometria do Universo*Investigar a natureza e abundância da matéria negra

OBSERVAR NO INFRAVERMELHO

Devido às distâncias colossais que separaram a Terra dosobjectos que muitas vezes queremos estudar, tais como asgaláxias e as estrelas, torna-se impossível realizar umainvestigação directa a esses corpos. Como tal, a únicainformação que podemos obter destes, é através da radiaçãoelectromagnética que emitem, mais vulgarmente conhecida porluz. Toda a luz emitida por um corpo celeste é composta porvárias cores diferentes. Se deixarmos a luz do Sol incidirdirectamente num prisma, este vai decompô-la nas diferentescores do arco-íris, o chamado espectro visível. No entanto, aluz para a qual o olho humano está optimizado (a luz visível,com comprimentos de onda compreendidos entre os 0,4 e os0,7 micrómetros), representa apenas uma pequena porção dagama total na qual a radiação electromagnética se distribui – oespectro electromagnético. Num dos extremos deste espectro,temos a radiação com comprimentos de onda menores que o da

luz visível - os raios-gama, raios-x e a luzultra-violeta. No outro extremo, temos aradiação com comprimentos de ondamaiores que o da luz visível -infravermelhos, micro-ondas e ondas derádio.

Um dos principais objectivos da missãodo James Webb é detectar e estudar asprimeiras galáxias e estrelas a formarem-se no Universo. Como a luz viaja a umavelocidade finita, demora um certo tempoa chegar até nós, provinda de qualquerponto do espaço. Então, paraconseguirmos observar estas primeirasestrelas e galáxias, será necessário olharpara o espaço longínquo, e ao fazê-lo

estaremos também a olhar para trás no tempo. Devido àexpansão do Universo, quanto maior a distância a que umobjecto se encontra, maior será a velocidade com que este seafasta. De acordo com um fenómeno designado por Efeito deDoppler, a luz que recebemos deste objecto sofrerá então umdesvio para comprimentos de onda maiores (para a região dosinfravermelhos próximos e médios, entre os 0,6 e 28micrómetros). Como tal, para podermos detectar e estudar estesobjectos, teremos de realizar observações na região dosinfravermelhos.

A formação de estrelas e de planetas ocorre no centro denuvens densas e poeirentas. As poeiras presentes nestasnuvens, absorvem ou “espalham” a luz proveniente das estrelasem formação no seu interior, num processo designado porextinção estelar. Assim, a nuvem observada no comprimentode onda do visível será vista como uma região escura edesprovida de qualquer tipo de estrela. Para comprimentos deonda maiores, a radiação proveniente da estrela no interior danuvem será menos afectada pelas partículas de poeira. Assim,a radiação infravermelha consegue “escapar” aoobscurecimento da nuvem. Observando esta radiação, invisívelao olho humano, será então possível olhar para o interior danuvem densa e escura, e ver os processos que conduzem àformação de estrelas, e consequentemente de planetas (verfigura 1).

O TELESCÓPIO ESPACIAL HUBBLE E O SEU SUCESSORPARTE II

Ilustração artística do telescópio espacial JamesWebb. Créditos: Northrop Grumman Space Tech-nology.

Fig. 1 - Imagem óptica (esquerda) e no infravermelho próximo (direita), de umamesma nuvem molecular escura, designada por Barnard 68. Créditos: ESO.

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João RetrêOAL

Foram estas as principais razões que levaram à optimizaçãodo telescópio James Webb, para a observação no infravermelho.

JAMES WEBB VS HUBBLE

Desde a altura em que o Hubble foi construído, que atecnologia sofreu um grande avanço. O James Webb será umtelescópio de “nova geração”.

Para observar as primeiras galáxias, terá que colectar o máximode luz proveniente destas. Como tal, uma das maiores inovaçõesserá o espelho primário, formado por 18 segmentos hexagonais,que terá aproximadamente um diâmetro de 6,5 metros, enquantoo do Hubble possui um diâmetro de 2,4 metros. A opção poresta geometria, deve-se ao facto de este não caber (desdobrado)em qualquer tipo de veículo espacial. Como tal, o espelhoprimário do JW, irá dobrado no veículo que o levará até aoEspaço, e uma vez lá, será então totalmente colocado na suaposição original.

Qualquer objecto relativamente “quente”, emite radiaçãoinfravermelha. Como o JW realizará observações noinfravermelho, se estivesse à mesma temperatura que o Hubble,a luz proveniente de galáxias distantes seria “perdida” na próprialuz infravermelha proveniente do telescópio. Como tal, o JamesWebb terá de estar a temperaturas criogénicas deaproximadamente -220 graus Celsius. A maioria dos materiaisconhecidos, sofre deformações a estas temperaturas. Assim, aconstrução do espelho está a ser feita à base de um materialchamado Berílio que é bastante resistente numa vasta gama detemperaturas, algo que se pretende, pois qualquer deformaçãooriginaria imagens defeituosas. Uma outra vantagem destematerial é o facto de ser bastante leve, o que facilita a suacolocação no Espaço. O espelho primário do JW, embora sejaconsideravelmente maior que o do telescópio Hubble, teráapenas um terço do seu peso. Isto faz com que o JW, seja maisleve que o Hubble, com um peso de aproximadamente 6200 kg.

O James Webb possuirá um poder de resolução óptica de 0,1segundo-de-arco, o que permitiria ao ser humano, caso a suavisão possuísse esta resolução, distinguir os detalhes de umabola de futebol à distância de 550 quilómetros.

O PONTO 2 DE LAGRANGE

Uma das maiores diferenças entre o telescópio JW e o Hubble,está nas suas órbitas. Devido ao facto de o principal requisitodo James Webb ser a observação da luz infravermelhaproveniente de objectos distantes e muito débeis, este terá deestar a temperaturas muito baixas. Para tal, precisa de estarresguardado de qualquer radiação proveniente do Sol e daTerra. Para o efeito, o JW terá incorporado um escudo, comaproximadamente as dimensões de um campo de ténis (22×10metros), que o resguardará da radiação proveniente destescorpos, evitando assim que esta o aqueça e que interfira comas suas observações. No entanto, para que o escudo possaprotegê-lo da luz destes dois objectos, o JW precisa de sercolocado num ponto do espaço onde o Sol e a Terra estejamsensivelmente na mesma direcção a qualquer instante. O pontomais conveniente para este efeito, é o chamado Ponto 2 deLagrange (L2).

Na procura de uma configuração estável, em que três corposse pudessem orbitar mutuamente e manter a mesma posiçãorelativamente uns aos outros, o matemático Joseph LouisLagrange descobriu, no século XVIII, cinco soluçõespossíveis, que são designadas por Pontos de Lagrange (verfigura 2). Colocado em qualquer um dos pontos L1, L2, L3, oJames Webb estaria em qualquer momento alinhado com aTerra e o Sol.

O ponto L2 revelou ser o mais propício para a posição doJW, pois é o ponto mais perto da Terra onde esta e o Sol estãoalinhados segundo a mesma direcção, fazendo com que sejapossível tapar o telescópio com o escudo protector. O factode no ponto L2, as forças gravíticas da Terra e do Sol se

equilibrarem, permitindoassim uma maior estabilidaderelativa do aparelho, e ummenor número de correcçõesde posição, juntamente como facto de neste ponto ascondições de temperaturaserem as mais propícias paraas observações noinfravermelho, são outrasrazões que fundamentam aescolha desta órbita.

Uma vez neste ponto,depois de uma viagem quedurará três meses, o JW

estará localizado a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, e umgrande inconveniente surge. Desde que entrou ao serviço daCiência, o telescópio Hubble já necessitou de várias missõesde manutenção e de reparação, para as quais foi necessárioenviar seres humanos. No entanto, no caso do JW, qualquertipo de reparação que seja necessária, será impossível derealizar, com a tecnologia que dispomos hoje, pois este estaránuma órbita muito para além da Lua.

Como tal, tudo neste observatório terá de ser cuidadosamenteplaneado, testado e elaborado.

Com lançamento previsto para o início da próxima década, onome deste instrumento foi atribuído em memória de um dosprimeiros administradores da Agência Espacial Norte Ameri-cana e principal responsável pelo programa Apolo, quepermitiu à Humanidade pisar pela primeira vez um corpo forada Terra - a Lua.

Está previsto que este telescópio tenha um tempo de vida decinco anos, embora se espere que esse mesmo tempo possaser prolongado para 10 anos.

Com o auxílio de novos e melhorados instrumentos que levaráa bordo, e com as suas características inovadoras, espera-seque este observatório espacial possa continuar o trabalhocomeçado pelo Hubble, respondendo às perguntas queactualmente tanto nos intrigam. Porque está na natureza doser humano a procura pela compreensão da sua origem, estanunca cessará, e o James Webb é a prova disso!

Fig. 2 - Pontos de Lagrange dosistema Sol-Terra. Créditos:NASA.

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Pedro RaposoOAL

No próximo dia 26 de Março, à 1:00, deve adiantar oseu relógio para as 2:00. Isto para quem se encontrano território continental e Madeira; nos Açores, pelas0:00, adianta-se o relógio para a 1:00. Passamos assimpara a Hora de Verão. Na madrugada de 29 deOutubro, regressaremos à Hora de Inverno, e paratal procede-se de modo inverso: às 2:00, quem seencontra no território continental ou na Madeiraatrasa os seus relógios para a 1:00, quem se encontranos Açores atrasa igualmente os relógios de umahora, quando for 1:00.

A evolução dos meios de transporte e comunicaçãofez com que, no séc. XIX, se tornasse premente aadopção de uma referência horária global, de modoa ultrapassar as inconveniências vindas do uso,pelos diferentes países e regiões, dos seus própriosmeridianos convencionais. Em 1884 teve lugar emWashington a Conferência do MeridianoInternacional, na qual se adoptou o meridiano deGreenwich como meridiano de origem, tendo-setambém estabelecido a divisão do globo em 24 fusos horários,cada um deles limitado por dois meridianos separados por 15º,o que equivale a 1 hora. Os fusos são numerados de 0 a 23; ofuso 0 é bissectado pelo meridiano de Greenwich e limitadopelos meridianos de longitude 7º 30´ W (oeste) e 7º 30´ E (este).Em princípio, a Hora Legal de cada território corresponderia àHora de Greenwich acrescida de um número de horas igual aonúmero do fuso respectivo; a partir do fuso 13, a esta operaçãodeveria seguir-se a subtracção de um dia, de modo a obter-se adata local. A maior parte do território continental de Portugalsitua-se no fuso 23 (ou –1), exceptuando uma pequena áreaoriental. Mas, para evitar a coexistência de duas horas legaisnum território relativamente estreito como é o do nosso país,ignora-se este aspecto e considera-se apenas, a nível conti-nental, a hora do fuso 0. Mas note-se que a adesão de Portugalà Convenção de Washington de 1884 não foi imediata. Até1911, permaneceu em uso a hora solar média do meridiano deLisboa, que, em relação ao tempo médio de Greenwich,comportava um atraso de 36m44,68s. Só em Maio de 1911, apósa implantação da República, se consagrou legalmente a adopçãoda Convenção de Washington. Em conformidade, no dia 1 deJaneiro de 1912, os relógios do território continental portuguêsforam adiantados de 36m44,68s, e passou a vigorar a hora médiade Greenwich, ou Tempo Universal. De referir que disposiçãoidêntica foi aplicada para territórios ultramarinos então sobadministração portuguesa (nomeadamente S. Tomé e Princípe,Ajudá, Guiné, Cabo Verde, Moçambique, Índia Portuguesa eTimor) tendo em consideração a situação geográfica dessesmesmos territórios e os fusos horários respectivos. A legislaçãoactualmente em vigor (Decreto-Lei nº. 17/96, de 8 de Março)estabelece que “a hora legal de Portugal continental coincidecom o tempo universal coordenado (UTC) no períodocompreendido entre a 1 hora UTC do último domingo deOutubro e a 1 hora UTC do último domingo de Março seguinte(hora de Inverno)” (artº 1). A disposição legal para a RegiãoAutónoma da Madeira (Decreto Legislativo Regional nº 6/96/M, de 25 de Junho) é idêntica. No caso dos Açores, a legislaçãocontempla a diferença de 1 hora, mencionada no primeiroparágrafo.

A Hora Legal portuguesa é mantida e transmitidapelo OAL, que, mesmo antes da adesão do nossopaís à Convenção de Washington, já assegurava essamissão.

Porquê a alternância entre Hora de Inverno e Horade Verão? A finalidade da Hora de Verão estáclaramente expressa na sua designação em línguainglesa: “Daylight Saving Time”, ou, literalmente,“tempo para aproveitamento da luz do dia”. Durantea Primeira Guerra Mundial, vários países adoptaramuma Hora de Verão. Portugal fez vigorar uma Hora deVerão no seu regime horário, pela primeira vez, em1917. O historial dos anos subsequentes àactualidade não é simples, tendo vigorado diferentesregimes horários (pode ver uma listagem exaustiva,ano a ano, no website do OAL www.oal.ul, secção“Hora Legal”).

Em 1992, estabeleceu-se que a Hora de Inverno seriaUTC+1 (ou seja, a hora de Greenwich mais uma hora)e a Hora de Verão UTC+2, com o argumento de que

era necessário aferir os horários de trabalho nacionais com osdos restantes membros da União Europeia. Este adiantamentoda hora proporcionou uma maior facilidade nas comunicaçõese transportes internacionais, mas teve um impacto negativo emvários domínios. Nos meses de Dezembro e Janeiro,trabalhadores e estudantes viam o dia nascer já com as tarefaslaborais e as aulas em fase avançada. Esta mudança nos hábitosde vida levava a maiores consumos de energia de manhã, poishavia uma tendência para prolongar a iluminação eaquecimentos artificiais para além do período em que eramnecessários. Não havia, portanto, a poupança de energia quese julgaria obter prolongando o período de luminosidade natu-ral ao fim da tarde. Provocava perturbações nos hábitos desono, favorecia o consumo de medicamentos soporíferos eestimulantes, acarretava dificuldades de concentração nas aulas,e induzia alterações nos ritmos circulatórios. Havia tambémuma tendência para as pessoas se deslocarem mais tarde paraos locais de trabalho, agravando os problemas de tráficotipicamente associados à hora de ponta. A sobreposição dahora de ponta da tarde com períodos de temperaturas elevadas,durante a Primavera e o Verão, resultava num impacto ambientalnegativo. Para além dos prejuízos para a saúde (perturbaçõesnos olhos e nas vias respiratórias), este impacto também sefazia sentir através da degradação dos materiais e da diminuiçãode rendimento nas actividades agrícolas.

Para corrigir estas perturbações, adoptou-se em 1996 o re-gime horário consagrado na legislação acima citada, de acordocom uma directiva europeia que regula a adopção da Hora deVerão nos países membros da UE. Mas as regras em vigor têmvalidade só até 2007, prevendo-se que comecem brevementenovos trabalhos em torno da questão dos regimes horários.

Se o bom senso não refrear o fervor das transacçõeseconómicas, corremos o risco de ficar outra vez com as horastrocadas, as do Sol e as do relógio interno do nosso organismo...

O autor agradece os comentários críticos e as sugestões daDr.ª Alfredina do Campo, que permitiram melhorargrandemente a versão inicial do presente artigo.

COM AS HORAS TROCADASHORA DE INVERNO/HORA DE VERÃO

Antigo edifício dorelógio da horaoficial, no Cais doSodré. Actualmenteencontra-se con-sagrado apenas afins publicitários,sem qualquer refe-rência à sua impor-tância histórica ouà Hora Legal.

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PARA OBSERVAR EM MARÇOVISIBILIDADE DOS PLANETASMercúrio: No princípio do mês, Mercúrio pode ser observado logo após o ocaso do Sol na direcção Oeste. A partir demeados do mês, apenas será possível observar este planeta, pouco antes do nascimento do Sol na direcção Este.Vénus: Este mês, Vénus continua como estrela da manhã. Poderá observá-lo antes do nascimento do Sol, na direcçãoEste. Atingirá a sua máxima elongação Oeste, no dia 25. É o objecto com aparência estelar mais brilhante no céu.Marte: Com o seu ocaso a ocorrer cada vez mais cedo, Marte será visível apenas na primeira parte da noite, naconstelação do Touro. No dia 11, será possível observá-lo perto da estrela Aldebarã, a primeira estrela desta constelação.Júpiter: Vai-se afastando cada vez mais do Sol e no final do mês poderá ser observado durante mais de metade danoite.Saturno: Será visível durante grande parte da noite.Urano e Neptuno: Não serão visíveis este mês.

Maarten Roos SeroteCAAUL/OAL

ASTRO S

UDOKUA

STRO SUDOKU

25/26 de Março - Na noite de 25 para 26 entramos na Hora deVerão. À uma hora da manhã os relógios terão de ser adiantadosuma hora.

29 de Março - Eclipse solar parcial em Portugal. O eclipse teráinício às 10h12m, e terá uma duração de 1h42m (para Lisboa;para outros locais do território português, consultar a secçãoAlmanaques, na página do OAL). Nunca é demais alertar, quenão deve observar directamente o Sol sem a devida protecção. Seestiver ao pé de árvores, reparem nas manchas de luz por baixodelas. Essas são imagens do Sol produzidas através da folhagem.O resultado: são muitos eclipses ao mesmo tempo!

ALGUNS FENÓMENOS ASTRONÓMICOS

Complete a grelha de modo a que cada linha, coluna e grelha 3x3contenha as letras ADEGMNORS. Depois da grelha totalmente preenchida,descubra o nome de três constelações conhecidas, que poderá estar escrito

segundo qualquer direcção e sentido.

FASES DA LUA

Quarto Crescente 06 Mar - 20hLua Cheia 15 Mar - 00hQuarto Minguante 22 Mar - 19hLua Nova 29 Mar - 11h

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1 de Março às 0h16 de Março às 23h

O CÉU DE MARÇO

Sol Mercúrio Vénus Marte Júpiter Saturno Urano Neptuno

Dia Nasc./Ocaso Nasc. Ocaso Nasc. Ocaso Nasc. Pass. Pass. Ocaso Nasc. Nasc.

01112131

07h 09m/18h 29m

06h 55m/18h 40m

06h 39m/18h 49m

07h 24m/19h 59m

07h 38m

06h 44m

05h 53m

06h 25m

19h 50m

18h 46m

17h 26m

17h 48m

04h 44m

04h 37m

04h 30m

05h 24m

01h 38m

01h 25m

01h 12m

01h 59m

23h 56m

23h 16m

22h 35m

22h 52m

05h 08m

04h 29m

03h 48m

04h 06m

22h 30m

21h 49m

21h 08m

21h 28m

05h 43m

05h 02m

04h 21m

04h 42m

07h 14m

06h 37m

05h 59m

06h 21m

06h 12m

05h 34m

04h 55m

05h 17m

(para Lisboa; são necessárias pequenas correcções para outros locais do país. Veja em www.oal.ul.pt para outros dias)NASCIMENTO, PASSAGEM MERIDIANA E OCASO DOS PLANETAS

O mapa mostra o céu como pode ser observado em Portugal (latitude 38º N) nos dias e horas (legais) indicados. Orienteo mapa com a direcção para onde olha virada para si, p.e. se estiver a olhar para o Norte, vire esta página ao contrário.Este mapa pode ser usado igualmente noutros dias e horas de Março, apresentando-se o céu um pouco diferente.