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Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos ......Não se busca, em poucas linhas, exaurir o tema ora discutido, mas tra-zer ao leitor uma ideia da complexidade

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Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.

Revista Jurídica: órgão nacional de doutrina, jurisprudência, legislação e crítica judiciária. Ano 63, nº 455, Setembro de 2015.

Diretor: Elton José Donato

Bimestral: 1953-1962; trimestral: 1963-1965; irregular: 1966-1967; anual: 1968; trimestral: 1977; bimestral: 1982; mensal: 1988

Tiragem: 4.000 exemplares

ASSINATURAS: São Paulo: (11) 2188-7507 – Demais Estados: 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico:São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188-7900

Demais Estados: 0800.7247900

Os conceitos emitidos em trabalhos assinados são de responsabilidade de seus autores. Os originais não serão devolvidos, embora não publicados. Os artigos são divulgados no idioma original ou traduzidos.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias dos originais obtidas na Secretaria do Supremo Tribunal Federal e dos demais tribunais.

Proibida a reprodução parcial ou total, sem autorização dos editores.

E-mail para remessa de artigos: [email protected]

© Revista Jurídica®

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036-060 – São Paulo – SPwww.sage.com.br

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

ISSN 0103-3379

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ANO 63 – SETEmBRO DE 2015 – Nº 455

RepositóRio AutoRizAdo de JuRispRudênciASupremo Tribunal Federal: 03/85

Superior Tribunal de Justiça: 09/90Tribunais Regionais Federais 1ª, 2ª e 4ª Regiões

FundAdoR

Professor Angelito Asmus Aiquel

diRetoR executivo

Elton José Donato

GeRente editoRiAl e de consultoRiA

Eliane Beltramini

cooRdenAdoR editoRiAl

Cristiano Basaglia

conselho editoRiAlAda Pellegrini Grinover – Alexandre Pasqualini – Alexandre Wunderlich

Anderson Vichinkeski Teixeira – Antonio Janyr Dall’Agnol Jr.Araken de Assis – Arruda Alvim – Carlos Alberto molinaro

Cezar Roberto Bitencourt – Daniel Francisco mitidiero – Daniel UstárrozDarci Guimarães Ribeiro – Eduardo Arruda Alvim – Eduardo de Oliveira Leite

Eduardo Talamini – Ênio Santarelli Zuliani – Fátima Nancy AndrighiFredie Didier Júnior – Guilherme Rizzo Amaral – Humberto Theodoro Júnior

Ingo Wolfgang Sarlet – Jefferson Carús GuedesJoão José Leal – José Carlos Barbosa moreira – José maria Rosa TesheinerJosé Roberto Ferreira Gouvêa – José Rogério Cruz e Tucci – Juarez Freitas

Lúcio Delfino – Luis Guilherme Aidar Bondioli Luís Gustavo Andrade madeira – Luiz Edson Fachin – Luiz Guilherme marinoniLuiz manoel Gomes Júnior – Luiz Rodrigues Wambier – márcio Louzada Carpena

mariângela Guerreiro milhoranza – Paulo Luiz Netto LôboRolf madaleno – Salo de Carvalho – Sergio Cruz Arenhart

Sérgio Gilberto Porto – Teresa Arruda Alvim Wambier – William Santos Ferreira

colAboRAdoRes destA ediçãoFelipe Cunha de Almeida, Gisleni Valezi Raymundo,

Rômulo de Andrade moreira, Wagner Ribeiro Rodrigues

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Sumário

Su

ri

o

Doutrinas

Civil, ProCessual Civil e ComerCial

1. O Cabimento de Multa e Honorários em Cumprimento de SentençaWagner Ribeiro Rodrigues .............................................................9

2. Honorários Contratuais e a Necessidade de Inclusão no Montante Devido pela Parte Adversa: Doutrina e Juris-prudênciaFelipe Cunha de Almeida .............................................................27

3. Aplicabilidade do Artigo 475-P, Parágrafo Único, do Código de Processo Civil (CPC), nas Decisões Proferidas em Caráter Provisório em Ações ColetivasGisleni Valezi Raymundo .............................................................49

Penal e ProCessual Penal

1. Uma Vitória Pírrica: o Julgamento da Arguição de Descum-primento de Preceito Fundamental nº 347Rômulo de Andrade Moreira .......................................................69

Jurisprudência

Civil, ProCessual Civil e ComerCial

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Superior Tribunal de Justiça .........................................................77

2. Superior Tribunal de Justiça .........................................................89

3. Tribunal Regional Federal da 1ª Região .....................................105

4. Tribunal Regional Federal da 4ª Região .....................................111

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ementário de JurisprudênciA

1. Ementário de Jurisprudência Civil, Processual Civil e Comercial ....117

Penal e ProCessual Penal

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Supremo Tribunal Federal ..........................................................137

2. Superior Tribunal de Justiça .......................................................141

3. Tribunal Regional Federal da 2ª Região .....................................155

ementário de JurisprudênciA

1. Ementário de Jurisprudência Penal e Processual Penal .....................163

Índice Alfabético e Remissivo ................................................181

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EDITORIAL

A Revista Jurídica trata de temas atuais e de suma relevância aos profissionais do direito. Os trabalhos doutrinários, de autoria de relevantes juristas, são divididos nas áreas cível e penal.

Doutrina Cível

O Juiz Wagner Ribeiro Rodrigues tem o objetivo de reunir os agentes da lei sobre a importância de questões práticas, enfatizando a pesquisa dou-trinária e jurisprudencial, buscando estabelecer meio objetivo de interpretar o sistema codificado, sem distanciar-se das normas processuais. Estabelece um parâmetro específico para o tema em foco, com as considerações legais para a reforma realizada ao abrigo do Código de Processo Civil em relação à execução de uma pena, especialmente com relação à aplicação das suas leis de sanções, que são: multas e arcar com o ônus de pagamento das taxas. A conclusão sobre a possibilidade de aplicar as sanções acima mencionadas, definindo limites e obrigações das partes para sua ocorrência.

O Mestre Felipe Cunha de Almeida analisou a possibilidade de, em ação de reparação civil, o deferimento de pedido quanto aos gastos relativos aos honorários contratuais, estes arcados pela parte que deu origem à de-manda.

A Especialista Gisleni Valezi Raymundo asseverou sobre o art. 475-P, do CPC, que foi inserido em uma das alterações legislativas relativamente recentes (2008) com o fim de regulamentar a competência para o trâmite do incidente processual do cumprimento de sentença. Trata-se de verdadeira competência concorrente e relativa prevista pelo Código de Processo Civil (CPC) como contribuição à efetividade do procedimento executivo. Com efei-to, a problematização que se pretende expor por meio do presente trabalho se debruça sobre a seguinte premissa: se a redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC, poderia ser aplicada aos casos de decisões que possuem o ca-ráter de provisoriedade e precariedade, tais como tutela antecipada e liminar em ações coletivas.

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Doutrina Penal

O Procurador Rômulo de Andrade Moreira comenta sobre o “estado de coisas inconstitucional” em que se encontra o sistema penitenciário brasi-leiro, e aduz que os ministros do Supremo, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347, ignoraram solenemente a imposição da elaboração e implementação de planos pela União e Estados, sob monitoramento judicial, além da exigência de fundamentação das deci-sões que não aplicarem medidas cautelares diversas da prisão e a imposição de penas proporcionais à gravidade do ilícito cometido.

Os Editores

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Doutrina

Do

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ri

na

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l

Cível

Do

ut

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na

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l

O CabimentO de multa e HOnOráriOs em CumprimentO de sentença

Wagner ribeiro rodrigues

Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, Graduado em Direito pelo Centro de Ensino Universitário do

Distrito Federal (UDF), Especialista em Direito junto à Escola Superior da Magistratura do Distrito Federal, Pós-Graduado em Direito pela Universidade Uniderp-Anhanguera, Doutorando em

Direito Ministrado pela Universidade Federal de Buenos Aires, Professor de Processo Civil na Faculdade de Guanambi/BA.

RESUMO: Cumprimento de sentença. Pena de multa. Cabi-mento. Possibilidade. Necessidade de intimação prévia do de-vedor. Honorários advocatícios. Fixação de ofício. Impossibili-dade. Necessidade de resistência do devedor ao cumprimento do título judicial.

PALAVRAS-CHAVE: Multa; cumprimento; impugnação; de-vedor; honorários; impossibilidade.

ABSTRACT: This article aims to bring together law enforce-ment officers about the importance of practical issues, em-phasizing the doctrinal and jurisprudential research, seeking to establish objective means of interpreting the coded system, without distancing themselves from norms of procedural law Regents of the matter. Search, by order, establish a particular parameter to the topic under focus, with legal considerations to the reform undertaken under the Code of Civil Procedure regarding the execution of a sentence, particularly regarding

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the implementation of its sanctions laws, which are: Penalty fines and bear the burden of payment of fees. The conclusion about the possibility of applying the aforementioned sanctions, setting limits and obligations of the parties for their occurrence.

KEYWORDS: Fine; compliance; disputes; fees.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Principais indagações a respeito do tema. Conclusões preliminares; 2 Consequências jurídicas acerca da pena de multa à luz da doutrina e jurisprudência; 3 Dos honorários ad-vocatícios, seu cabimento, hipóteses e consequências jurídicas; 3.1 Posicionamentos jurisprudenciais e doutrinários; 3.2 Dos hono-rários advocatícios – Indagações e reflexões sobre o tema; 3.2.1 Dos honorários advocatícios em cumprimento de sentença de acordo com o novo CPC; Considerações finais; Referências.

intrOduçãO

Entre inúmeros assuntos a serem abordados no âmbito do Proces-so Civil, a escolha do tema, cabimento de honorários advocatícios e multa em cumprimento de sentença, possui relevante importância no mundo ju-rídico atual, dada a reforma empreendida em nosso ordenamento pela Lei nº 11.232/2005.

Verdade que o assunto não é novo, mas o tema se faz atual, vez que as discussões doutrinárias, jurisprudenciais e acadêmicas travadas em sua volta persistem, possuindo várias correntes em defesa de teses diversificadas.

Não se busca, em poucas linhas, exaurir o tema ora discutido, mas tra-zer ao leitor uma ideia da complexidade da matéria, notadamente no cotejo da jurisprudência dos Tribunais pátrios, sua forma de aplicação ao caso con-creto e as divergências doutrinárias acerca do assunto.

O objetivo específico deste estudo é proporcionar ao leitor, além da reflexão, a busca na solução das diversas indagações a respeito do tema, suas consequências jurídicas atuais e futuras, sua influência no dia a dia e, sobre-tudo, a necessidade premente de entender o ordenamento processual civil brasileiro como um sistema unificado, buscando assim uma interpretação harmônica e sistemática de todos os dispositivos.

Foi utilizada como metodologia a pesquisa da jurisprudência de diver-sos tribunais brasileiros, inclusive das Cortes Superiores, extenso aprofunda-mento na doutrina e experiência profissional adquirida ao longo de mais de quinze anos de carreira profissional.

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1 prinCipais indagações a respeitO dO tema. COnClusões preliminares

É possível o arbitramento de honorários advocatícios e multa no cum-primento da sentença? Sendo positiva a resposta, em quais hipóteses? Como se posicionam os tribunais pátrios e a doutrina dominante?

Não podemos encarar um tema de grande relevância, como o discutido nessa oportunidade, como mera aplicação, no caso concreto, da jurisprudên-cia de qualquer Tribunal brasileiro, mesmo que do eg. Superior Tribunal de Justiça. Embora a Corte máxima, em matéria infraconstitucional, seja dotada de grandes conhecedores do direito, suas decisões não podem e tampouco devem vincular o intérprete, sob pena de modular o pensamento jurídico.

Talvez uma das maiores dificuldades enfrentadas na elaboração deste trabalho tenha sido a ausência de doutrinadores e julgados dos Tribunais, ap-tos a amparar a tese ora defendida, notadamente no que se refere aos honorá-rios advocatícios, vez que mesmo aqueles que pensavam de forma diferente passaram a adotar o posicionamento do eg. Superior Tribunal de Justiça, tal-vez por puro comodismo.

O objetivo primordial de nosso estudo foca na própria ideia reformista do legislador, ao estabelecer o cumprimento de sentença como fase do pro-cesso cognitivo, buscou dar maior celeridade ao rito procedimental brasilei-ro, colimando com a rápida solução do litígio e entrega da prestação jurisdi-cional.

Não quis dizer o legislador que ao jurisdicionado deve ser imposta sanções quando ele não deu causa à inexecução da obrigação, oriunda, nesta hipótese, do descumprimento da sentença.

Destarte, nos afeiçoa como positiva a resposta ao questionamento dan-tes formulado, em algumas hipóteses somente.

Ocorre que, após a reforma empreendida na parte pertinente à exe-cução de sentença, com o advento da Lei nº 11.232/2005, o legislador optou por classificar o cumprimento da sentença como fase do processo de conhe-cimento.

Pertinente à multa seria possível a sua aplicabilidade sempre que o de-vedor fosse previamente intimado para cumprir a sentença e quedasse inerte.

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A respeito do tema, trago a colação julgado atual do eg. Superior Tri-bunal de Justiça, pedindo vênias a seus prolatores para transcrição na íntegra do acórdão.

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL – AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRU-MENTO – RECURSO ESPECIAL – AÇÃO REVISIONAL – PREQUES-TIONAMENTO – AUSÊNCIA – SÚMULA Nº 282/STF – REEXAME DE FATOS E PROVAS – INADMISSIBILIDADE – HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ – MULTA PRE-VISTA NO ART. 475-J DO CPC – INTIMAÇÃO DO ADVOGADO – NE-CESSIDADE.

- A ausência de decisão acerca dos argumentos invocados pelo agravante em suas razões recursais impede o conhecimento do recurso especial. – O reexame de fatos e provas em recurso especial é inadmissível. – O acórdão recorrido que adota a orientação firmada pela jurisprudência do STJ não merece reforma. – Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, o devedor deverá ser intimado na pessoa de seu advogado, por publicação na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de quinze dias, a partir de quando, caso não o efetue, passará a incidir a multa de 10% (dez por cento) prevista no art. 475-J, caput, do CPC. Negado provimento ao agravo.1

2 COnsequênCias JurídiCas aCerCa da pena de multa à luz da dOutrina e JurisprudênCia

Muito se discutia quanto à imediata aplicação da sanção, no que per-tine à necessidade de intimação prévia do devedor para cumprir a ordem judicial imposta na sentença.

Contudo, acreditamos que a questão já se encontra pacificada, sendo certo que é ônus do devedor cumprir a sentença no prazo de 15 (quinze) dias, contados do trânsito em julgado, repita-se, independentemente de nova inti-mação, conforme, aliás, deixam claras as disposições elencadas no art. 475-J, caput2.

1 STJ, AgRg-Ag 1400677/PR, 3ª Turma, Relª Min. Nancy Andrighi, Julgado em 17.11.2011 e publicado no DJe em 25.11.2011.

2 Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de 15 (quinze) dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de 10% (dez por cento) e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.

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Posição essa ratificada pelo próprio Superior Tribunal de Justi-ça3, no julgamento do agravo regimental interposto no Recurso Especial nº 1165067/RJ, com relatoria da lavra da Ministra Nancy Andrighi.

Fazemos apenas um reparo, vez que, para a fixação da sanção de mul-ta, imperioso que a parte dispositiva da sentença faça alusão ao referido pra-zo de 15(quinze) dias, contados do trânsito em julgado, para que o devedor cumpra voluntariamente a sua obrigação, sob pena de incidir em pena de multa.

Quando o legislador estabelece, no art. 475-J, o termo independentemente de nova intimação, significa tão somente que não se faz necessária nova inti-mação do devedor para cumprir a sentença no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de multa, mas, em momento algum, deixa qualquer margem de inter-pretação para a inexistência da advertência prévia ao executado.

Assim, em algum momento, o devedor deve ser previamente adverti-do que possui o prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento da sentença e, se deixar transcorrer in albis o lapso temporal, incide na pena de multa independentemente de nova intimação.

Aliás, os tribunais pátrios, notadamente a Corte Superior, em matéria infraconstitucional, têm passado exatamente essa orientação, conforme res-paldo legal contido no julgado proferido Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 1058769/RS, com relatoria atribuída ao Ministro João Otávio de Noronha4.

3 “Processual civil. Agravo no recurso especial. Ação de cobrança. Fundamentação. Deficiente. Súmula nº 284/STF. Cumprimento de sentença. Art. 475-J do CPC. Multa. Intimação pessoal da parte vencida. Desnecessidade. A ausente ou deficiente fundamentação do recurso importa em seu não conhecimento. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal, pelo que é desnecessária a intimação pessoal do devedor. Agravo no recurso especial não provido.”

4 “AGRAVO REGIMENTAL – PROCESSO CIVIL – EXECUÇÃO – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – ART. 475-J DO CPC – MULTA – 1. A fase de cumprimento de sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em julgado da decisão. De acordo com o art. 475-J combinado com os arts. 475-B e 614, II, todos do CPC, cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e atualizada. 2. Observado pelo credor o procedimento relativo ao cumprimento do julgado na forma do art. 475-J do CPC e ciente o advogado da parte devedora acerca da fase executiva, o descumprimento da condenação a que lhe fora imposta implica na imposição de multa de 10% sobre o montante devido. 3. Agravo regimental provido para aplicar a multa prevista no art. 475-J do CPC.”

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3 dOs HOnOráriOs advOCatíCiOs, seu CabimentO, Hipóteses e COnsequênCias JurídiCas

O arbitramento de honorários advocatícios em cumprimento de sen-tença, sem qualquer oposição do devedor, nos parece completamente desca-bido e traduz em verdadeiro enriquecimento ilícito daqueles operadores do direito em face do devedor.

Se continuarmos tratando de execução, então devemos aplicar as nor-mas constantes no Livro II do Código de Processo Civil ao Livro I, o que nos leva a questionar sobre os princípios contidos no art. 620 do citado diploma legal.

Ora, se a execução deverá ser realizada pelo modo menos gravoso ao devedor, quando o credor puder fazê-la de vários modos, não nos parece justa a penalização daquele com o pagamento de verba honorária em mera fase do processo cognitivo.

Ou admitimos que a reforma veio com o intuito de dar rápida solução ao litígio, com a imediata entrega da prestação jurisdicional, ou permitimos que o processo seja apenas meio de ganhar dinheiro, sem fazer qualquer cen-sura à nobre profissão exercida pelos doutos advogados, notórios operadores do Direito.

Colocar em destaque as disposições preconizadas no art. 20 do diplo-ma processual para justificar o arbitramento de honorários advocatícios nes-sa fase do processo de conhecimento redunda em verdadeiro equívoco.

O art. 20 do Código de Processo Civil, anteriormente citado, diz tex-tualmente: “A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despe-sas que antecipou e os honorários advocatícios. Essa verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria”.

Quando tratamos de cumprimento de sentença, por uma dedução ló-gica, a prestação jurisdicional positiva de primeiro grau já se materializou, sendo certo que o ato que determina a expedição de mandado de penhora em face do devedor não pode ser classificado como sentença, mas como decisão interlocutória, não sendo aquela passível de arbitrar essa verba por expressa vedação legal.

Tanto se prega em discursos acadêmicos a interpretação harmônica das regras processuais, mas quando, necessariamente, devemos assim agir,

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desvia-se o foco, com o fim único de causar prejuízo ao devedor e enriqueci-mento sem causa a determinadas pessoas ou grupos.

Não estamos aqui a proteger, de forma demasiada, o devedor, como muitos dizem, mas apenas resguardamos a necessidade da aplicabilidade, no caso concreto, das regras de hermenêutica definidas pelo legislador ordiná-rio, cabendo ao intérprete a nobre função de interpretar a forma de sua vigên-cia, não causando prejuízos ou vantagens indevidas a quaisquer das partes.

Chega-se a cogitar a plena equiparação do cumprimento da sentença à execução de título extrajudicial, como fundamento para fixação de honorá-rios nessa fase executiva.

O processo civil é dividido em livros e, sem dúvida, sua classificação é feita em ordem cronológica, iniciando-se com o Livro I e findando com o Livro V.

Sendo assim, acreditamos absurda a tese da aplicação, pura e simples, das normas inerentes ao processo de execução, ao processo de conhecimento, por falta de expressa disposição legal.

O que sempre se ensina é que o Livro I destina-se ao processo de co-nhecimento, sendo certo que esta é a norma geral de todo o sistema proces-sual brasileiro, inclusive trabalhista, tributário, penal etc.

Não vislumbramos, em nosso ordenamento, qualquer dispositivo au-torizando a aplicação do Livro II – referente ao processo de execução – ao Livro I – processo de conhecimento.

Desta feita, acreditamos ser impossível argumentar que, em uma aná-lise teleológica, aplicam-se ao cumprimento de sentença as mesmas regras do processo de execução, notadamente no que se refere ao arbitramento de honorários advocatícios.

Para a fixação de honorários em cumprimento de sentença, o correto seria, a nosso ver, que o procedimento fosse cindido, continuando a ser tra-tado como execução de título judicial e não mero cumprimento de sentença.

Os honorários advocatícios somente podem ser objeto de arbitramento pelo julgador quando aquele efetivamente entrega a prestação jurisdicional final, qual seja, a sentença.

Mesmo quando o legislador se refere à execução de título extrajudicial, os honorários advocatícios, ao serem arbitrados com o despacho de inicial, são fixados em caráter precário, provisório, vez que podem ser revertidos

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quando do julgamento de eventuais embargos à execução interposto pelo devedor.

3.1 posicionamentos jurisprudenciais e doutrináriosO modelo proposto pelo Superior Tribunal de Justiça em diversos jul-

gados, a exemplo do REsp 978.545/MG5, não nos parece, com a devida vênia, enfrentar a questão da forma como colocada na reforma processual.

Fato reconhecido, no início pelo próprio Superior Tribunal de Justiça6, a impossibilidade de fixação de nova verba honorária em cumprimento de

5 “PROCESSO CIVIL – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – NOVA SISTEMÁTICA IMPOSTA PELA LEI Nº 11.232/2005 – CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS – POSSIBILIDADE – O fato de se ter alterado a natureza da execução de sentença, que deixou de ser tratada como processo autônomo e passou a ser mera fase complementar do mesmo processo em que o provimento é assegurado, não traz nenhuma modificação no que tange aos honorários advocatícios. – A própria interpretação literal do art. 20, § 4º, do CPC não deixa margem para dúvidas. Consoante expressa dicção do referido dispositivo legal, os honorários são devidos ‘nas execuções, embargadas ou não’. – O art. 475-I do CPC é expresso em afirmar que o cumprimento da sentença, nos casos de obrigação pecuniária, se faz por execução. Ora, se haverá arbitramento de honorários na execução (art. 20, § 4º, do CPC) e se o cumprimento da sentença se faz por execução (art. 475, I, do CPC), outra conclusão não é possível, senão a de que haverá a fixação de verba honorária na fase de cumprimento da sentença. Ademais, a verba honorária fixada na fase de cognição leva em consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado até então. – Por derradeiro, também na fase de cumprimento de sentença, há de se considerar o próprio espírito condutor das alterações pretendidas com a Lei nº 11.232/2005, em especial a multa de 10% prevista no art. 475-J do CPC. De nada adiantaria a criação de uma multa de 10% sobre o valor da condenação para o devedor que não cumpre voluntariamente a sentença se, de outro lado, fosse eliminada a fixação de verba honorária, arbitrada no percentual de 10% a 20%, também sobre o valor da condenação. Recurso especial conhecido e provido.”

6 “PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – INEXIGIBILIDADE – 1. Não é cabível, por ausência de disposição legal, novos honorários advocatícios pelo fato de o exeqüente ser obrigado a requerer o cumprimento de sentença. 2. Com a vigência da Lei nº 11.232, de 2005, a execução da sentença passou a ser uma fase do processo de conhecimento. 3. ‘As despesas processuais do cumprimento de sentença, naturalmente, correm por conta do executado, como consectário do inadimplemento. Não há, porém, como imputar-lhe nova verba advocatícia, uma vez que não há mais uma ação distinta para executar a sentença. Tudo se passa sumariamente como simples fase do procedimento condenatório. E, sendo mero estágio do processo já existente, não se lhe aplica a sanção do art. 20, mesmo quando se verifique o incidente da impugnação (art. 475-L). Sujeita-se este à mera decisão interlocutória (art. 475-M, § 3º), situação a que não se amolda a regra sucumbencial do art. 20, cuja aplicação sempre pressupõe sentença’ (THEODORO JÚNIOR, Humberto. As novas reformas do código de processo civil. 1. ed. Forense. p. 139). 4. Recurso especial não-provido.”

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sentença nos afeiçoa mais adequada, vez que privilegia o próprio sentido da reforma processual.

Vacilante a própria jurisprudência da referida Corte ao promover a equiparação do cumprimento da sentença à execução de título extrajudicial, vez que contrária ao próprio objetivo maior da reforma.

Acerca do tema, trago a colação o julgado a seguir transcrito:

PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – HONORÁRIOS ADVO-CATÍCIOS – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – ART. 475-J DO CPC – LEI Nº 11.232, DE 22.12.2005 – AUSÊNCIA DE PAGAMENTO ESPONTÂNEO APÓS O PRAZO QUINZENAL – CABIMENTO – ART. 20, § 4º, DO CPC – PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS – 1. Os honorários advocatícios, na nova sistemática inaugurada pela Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de 2005, são cabíveis nas hipóteses em que não ocorre o pagamento espontâneo da dívida após decorrido o prazo previsto no art. 475-J, do Código de Processo Civil, fixados pelo juiz à luz do § 4º, do art. 20, do mesmo diploma. 2. É que a novel lei adveio com o escopo de compelir o cumprimento da sentença; razão pela qual conjurar o ônus significa encorajar o não-cumprimento da sentença e atentar contra a mens legis. 3. O art. 475-R do CPC dispõe que se aplica ao cumprimento da sentença as regras da execução extrajudicial que, no art. 652-A do CPC, incluído pela Lei nº 11.382, de 6 de dezembro de 2006, prevê deva o juiz fixar honorários ao despachar a execução extrajudicial, porquanto, o descumprimento de obrigação constante de título extrajudicial equivale ao des-cumprimento da sentença. 4. É cediço na Corte Especial que: [...] A alteração da natureza da execução de sentença, que deixou de ser tratada como pro-cesso autônomo e passou a ser mera fase complementar do mesmo proces-so em que o provimento é assegurado, não traz nenhuma modificação no que tange aos honorários advocatícios. – A própria interpretação literal do art. 20, § 4º, do CPC não deixa margem para dúvidas. Consoante expressa dicção do referido dispositivo legal, os honorários são devidos “nas execu-ções, embargadas ou não”. O art. 475-I, do CPC, é expresso em afirmar que o cumprimento da sentença, nos casos de obrigação pecuniária, se faz por execução. Ora, se nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, a execução comporta o arbitramento de honorários e se, de acordo com o art. 475, I, do CPC, o cumprimento da sentença é realizado via execução, decorre logicamente destes dois postulados que deverá haver a fixação de verba honorária na fase de cumprimento da sentença. Ademais, a verba honorária fixada na fase de cognição leva em consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado até então. – Por derradeiro, também na fase de cumprimento de sentença, há de se considerar o próprio espírito condutor das alterações

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pretendidas com a Lei nº 11.232/2005, em especial a multa de 10% prevista no art. 475-J do CPC. Seria inútil a instituição da multa do art. 475-J do CPC se, em contrapartida, fosse abolida a condenação em honorários, arbitrada no percentual de 10% a 20% sobre o valor da condenação. [...] 7. Recurso especial conhecido e provido. (STJ, REsp 1165953/GO, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, Julgado em 24.11.2009 e publicado no DJe de 18.12.2009 – original sem o grifo)

Alguns Tribunais de Justiça Estaduais vinham defendendo uma posi-ção, a nosso ver, mais harmônica com o processo civil pós-reforma, não ad-mitindo o arbitramento dos honorários advocatícios nessa fase do processo de conhecimento.

Todavia, a maioria das Cortes estaduais tem se alinhado às posições do Superior Tribunal de Justiça, permitindo o arbitramento imediato dos hono-rários. Trago à colação algumas decisões, pedindo vênias a seus julgadores para transcrevê-las.

AGRAVO DE INSTRUMENTO – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – SINCRETISMO PROCESSUAL – 1. MESMO EM SE TRATANDO DE OUTRA FASE DE UM MESMO PRO-CESSO, TEM-SE COMO DEVIDOS OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, POSTO QUE, QUANDO NÃO HÁ O ADIMPLEMENTO VOLUNTÁRIO DA OBRIGAÇÃO, ISSO ACARRE-TA O ACOMPANHAMENTO E DILIGENCIAMENTO PROCESSUAL POR PARTE DO ADVOGADO, SENDO DEVIDO PARA TANTO REMU-NERAÇÃO, COMO NA FASE COGNITIVA – RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIMENTO E IMPROVIDO. (TJGO, AGI 74937-0/180, 4ª C.Cív., Rel. Des. Hélio Maurício de Amorim, Julgado em 17.09.2009 e publicado no DJe em 26.10.2009)

AGRAVO DE INSTRUMENTO – SUBSCRIÇÃO DE AÇÕES – BRASIL TE-LECOM – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – IMPUGNAÇÃO – HONO-RÁRIOS – Consoante a jurisprudência da Corte, cabível a fixação de ho-norários advocatícios em cumprimento de sentença. Agravo provido por decisão monocrática. (Agravo de Instrumento nº 70021068390, 1ª Câmara Especial Cível, TJRS, Relª Walda Maria Melo Pierro, Julgado em 31.08.2007)

AGRAVO DE INSTRUMENTO – DECISÃO MONOCRÁTICA – BRASIL TELECOM S.A. – INDENIZAÇÃO – COTAÇÃO DA AÇÃO – Critério fixa-do na sentença de primeiro grau e confirmado em sede de apelo. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – Havendo a ne-

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cessidade do trabalho do advogado, possível o arbitramento de honorários advocatícios. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO. (Agravo de Instru-mento nº 70021118161, 11ª C.Cív., TJRS, Rel. Luís Augusto Coelho Braga, Julgado em 28.08.2007)

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – IMPUGNAÇÃO – CONDENAÇÃO AOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA – Se possível o arbitramento de honorários advocatícios na fase de cumprimento da sentença, com mais razão ainda devem ser estes estabelecidos quando processada e julgada a impugnação. Necessário remunerar o profissional também nesta nova fase processual. Agravo provido em decisão monocrática. (Agravo de Instru-mento nº 70021214051, 16ª C.Cív., TJRS, Relª Helena Ruppenthal Cunha, Julgado em 31.08.2007)

AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO PROVISÓRIA (ART. 475-0, CPC) – INAPLICABILIDADE DA MULTA DE 10% PREVISTA NO ART. 475-J DO DEFERIDO CODEX – FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS AD-VOCATÍCIOS – POSSIBILIDADE (ART. 20, § 4º, DO CPC) – COBRANÇA DE DESPESAS PROCESSUAIS – POSSIBILIDADE – 1. CONSOANTE SE EXTRAI DA NORMA INSERTA NO ART. 475-J DO CPC A MULTA DE 10% (DEZ POR CENTO) ALI PRECONIZADA SOMENTE TEM CABI-MENTO NO PROCEDIMENTO DE CUMPRIMENTO DA SENTENÇA JÁ TRANSITADA EM JULGADO, COMO FORMA DE SE IMPOR OBSER-VÂNCIA AO PRINCÍPIO DA LEALDADE PROCESSUAL, JAMAIS EM SEDE DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE SENTENÇA, EM QUE AINDA NÃO SE TEM UMA CONDENAÇÃO DEFINITIVA, NÃO CONFIGU-RANDO, PORTANTO, UMA OBRIGAÇÃO CERTA, CUJA INÉRCIA DO POTENCIAL DEVEDOR POSSA CARACTERIZAR RECALCITRÂNCIA ENSEJADORA DE IMPOSIÇÃO DE MULTA – 2. O CABIMENTO DA FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS DE ADVOGADO NAS EXECUÇÕES EM-BARGADAS OU NÃO (CPC, ART. 20, § 4º) SEMPRE TEVE COMO FUN-DAMENTO O ART. 389 DO CC/2002 (CC/2016, ART. 1.056), O QUAL ESTABELECE QUE, “NÃO CUMPRIDA A OBRIGAÇÃO, RESPONDE O DEVEDOR POR PERDAS E DANOS, MAIS JUROS E ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA SEGUNDO ÍNDICES OFICIAIS REGULARMENTE ESTA-BELECIDOS, E HONORÁRIOS DE ADVOGADO”. ASSIM, OS HONORÁ-RIOS ADVOCATÍCIOS SÃO DEVIDOS TANTO NA SENTENÇA DE EN-CERRAMENTO DA FASE COGNITIVA QUANTO NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, TANTO NA EXECUÇÃO DEFINITIVA QUANTO NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA, TENDO EM VISTA QUE O QUE GERA A RESPONSABILIDADE POR TAL ÔNUS NÃO E APENAS A SUCUMBÊN-CIA, MAS O PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE – 3. E PERFEITAMENTE

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CABÍVEL A COBRANÇA DE DESPESAS PROCESSUAIS PARA DAR INÍ-CIO À EXECUÇÃO PROVISÓRIA DO JULGADO PELO CREDOR, POR FORÇA DO ART. 10 DO CPC, TANTO NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUANTO NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA, TENDO EM VISTA QUE EM AMBAS HAVERÁ A REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS A FIM DE CUMPRIR O JULGADO, ENSEJANDO SEU LEGAL E DEVI-DO RECOLHIMENTO – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO, AGI 76717-/180, 4ª C.Cív., Rel. Des. Kisleu Dias Maciel Filho, Julgado em 17.09.2009 e publicado no DJe em 09.12.2009)

O eminente jurista Luis Rodrigues Wambier7 ilustra bem a matéria, embora não adentre especificamente no tema sob análise.

Além disso, com a Lei nº 11.232/2005 (em vigor desde 23.06.2006) tam-bém as sentenças condenatórias ao pagamento de quantia passaram a ser executadas na mesma relação processual em que foram emitidas. Depois da fase cognitiva, que resulta na emissão da sentença, e não havendo o cumprimento voluntário da condenação pelo derrotado, tem vez uma fase executiva (que segue, em linhas gerais, os parâmetros típicos do processo executivo do Livro II do Código). Não haverá a instauração de um novo e específico processo para a execução de sentença. Conseqüentemente, não terá vez uma petição inicial executiva, bastando simples requerimento do exeqüente (art. 475-J, cf. Lei nº 11.23/2005). Os atos executivos serão prati-cados dentro do próprio processo em que se proferiu sentença e que fora precipuamente de natureza cognitiva até então. Em conseqüência, tampou-co haverá citação do executado. Ele será apenas intimado dos atos de cons-trição executiva. (ob. cit., p. 45/46)

Seguindo a mesma orientação, leciona o mestre Ernane Fidélis dos Santos8:

A grande transformação que sofre, agora, a execução, é que, com relação à por título judicial, desaparece a figura do processo autônomo, passando a sentença ou o título equivalente a serem considerados executivos e a terem força executiva por si próprios, ou seja, no próprio processo de conheci-mento, a relação processual formada perdura e se desenvolve na fase espe-

7 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. Execução. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. II, 2008.

8 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processo civil. Processo de conhecimento. 13. ed. São Paulo: Saraiva, v. I, 2009.

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cífica de realização do direito reconhecido. É de se observar, porém, que o desaparecimento do processo executório para títulos judiciais não se deve à supressão dele próprio, mas ao fato de alei criar nova forma executiva complementar no processo de conhecimento, de modo tal que a execução já passe a ter interpretação na própria pretensão de conhecimento. [...] A passagem do procedimento pra a fase executória depende de requerimento do credor, mas o pedido, não chegando a ser nova ação, senão condição de prosseguimento do processo, pode ser formulado sem maiores formalida-des, inclusive pela própria parte, por simples petição ou termo nos autos. Ao fazer o requerimento, o credor deverá apresentar o demonstrativo do débito até o respectivo momento, sendo evidente que os acessórios, como correção monetária e juros, continuarão a fluir até o momento do pagamen-to. (ob. cit., p. 265 e 282)

3.2 Dos honorários advocatícios – Indagações e reflexões sobre o tema

Se admitirmos o início do cumprimento da sentença mediante a pro-vocação direta da parte, então seria possível o arbitramento de honorários advocatícios sem a participação sequer do advogado.

Imaginemos a seguinte situação hipotética:

João possui em seu favor um título executivo judicial – sentença – em desfavor de José, decorrente de condenação transitada em julgado em obri-gação de pagar quantia certa. Passados os 15 (quinze) dias do prazo para seu cumprimento voluntário e ocorrendo a inércia de José, João comparece à secretaria da vara e informa ao seu diretor que José não cumpriu a obriga-ção, requerendo o seu imediato cumprimento, apresentando a memória dos cálculos.

Seria obrigatório que a petição fosse redigida por advogado?

A resposta somente pode ser negativa, pois sequer existe petição, mas apenas pedido verbal para cumprimento da sentença de forma coercitiva com apresentação da memória dos cálculos, pelo credor, diretamente à ser-ventia judicial.

O legislador contempla essa hipótese com o arbitramento prévio de honorários advocatícios sem a participação do advogado?

Na linha de interpretação dada pelo eg. Superior Tribunal de Justiça, a simples movimentação da máquina judiciária para satisfação do crédito com

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o pedido de cumprimento forçado da sentença já seria suficiente ao arbitra-mento dos honorários.

Posição, por óbvia, difícil de ser sustentada, vez que, sem dúvida, esta-ríamos premiando o profissional sem a sua atuação no feito, ou seja, permi-tindo de forma legal o enriquecimento sem causa.

Não estamos, com isso, afirmando que em todas as situações são inde-vidos honorários advocatícios no cumprimento da sentença, sendo cabível a mencionada verba em algumas hipóteses.

É claro que, nos parece justo, quando o credor ingressa com o pedido de cumprimento forçado da sentença, ao título executivo devem ser acresci-dos juros, correção monetária e multa, e, além disso, acaso haja, por parte do devedor, resistência ao seu cumprimento, com a interposição de impugna-ção, aí sim os honorários advocatícios são devidos decorrentes do julgamento da própria impugnação.

Aqui não se discute a natureza jurídica da decisão judicial que aprecia a impugnação, vez que pode ser sentença ou decisão interlocutória, depen-dendo de seu resultado no caso concreto colocado sob análise.

Embora os tribunais Estaduais continuem inclinando suas jurisprudên-cias na mesma direção do Superior Tribunal de Justiça, ou seja, permitindo, de forma deliberada, a fixação de honorários advocatícios na fase de cumpri-mento de sentença, continuamos defendendo a tese de sua inadmissibilidade pelo fato de ser mera fase do processo de conhecimento.

3.2.1 dos honorários advocatícios em cumprimento de sentença de acordo com o novo CpC

Ainda que não esteja em vigor, imprescindível que a abordagem da matéria faça considerações acerca do alcance da norma prevista no novo or-denamento processual civil vigente, em especial às regras definidas pelo le-gislador nos arts. 523, caput, e §§ 1º, 2º e 3º.

A norma está assim positivada:

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liqui-dação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o exe-cutado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acresci-do de custas, se houver.

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§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advoga-do de dez por cento.

§ 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1º incidirão sobre o restante.

§ 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedi-do, desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação.

Privilegia o legislador atual o cidadão que, embora relutante quanto ao seu dever de cumprir determinada obrigação de pagar, após o trânsito da decisão judicial que reconheceu a obrigação/dever de pagar quantia certa, o faz espontaneamente dentro do prazo de 15 (quinze) dias, contados do efeti-vo trânsito em julgado.

Assim, as dúvidas anteriores já expostas encontram-se superadas pela nova ordem jurídica, sendo certo que o devedor que não fizer o pagamen-to voluntário de sua obrigação no prazo assinalado de 15 (quinze) dias será compelido a acrescer à sua dívida o percentual de 10% (dez por cento) ati-nente à verba advocatícia, além da multa com idêntico valor em decorrência de sua mora.

Ressalvamos, todavia, que essa regra trazida pelo novo CPC somente será aplicável às novas demandas julgadas após sua entrada em vigor do novo código, sendo certo que as ações que já se encontravam tramitando con-tinuarão sob a eficácia das normas do CPC de 1973, conforme deixa claro o art. 1.046 do CPC 2015.

COnsiderações Finais

No capítulo I, procura-se colocar as principais dúvidas suscitadas a respeito do tema sob enfoque, chegando a conclusões preliminares acerca de cada uma das assertivas.

O capítulo II é dedicado à sanção relativa à pena de multa, concluindo que somente pode ser imposta ao devedor quando aquele foi previamente advertido quanto ao seu dever de cumprir voluntariamente a sentença no prazo de 15 (quinze) dias, contados do seu trânsito em julgado, permanecen-do inerte.

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O capítulo III trata dos honorários advocatícios, tecendo considerações acerca das hipóteses em que são fixados e quando efetivamente são devidos sem esquecer-se das consequências jurídicas de seu arbitramento.

O assunto atinente aos honorários advocatícios também foi abordado no capítulo IV, desta feita, à luz dos posicionamentos doutrinários e jurispru-denciais que delineiam a fixação da referida verba.

Por sua vez, no capítulo V, o enfoque maior foi concedido aos honorá-rios advocatícios, com indagações finais acerca de sua aplicabilidade e tam-bém levando o leitor a uma reflexão crítica que cerca o tema.

Depois de extensa dedicação à pesquisa doutrinária e jurisprudencial, aliada à experiência profissional, chegamos às seguintes conclusões.

A sanção relativa à pena de multa somente pode ser imposta ao deve-dor quando aquele foi previamente advertido quanto ao seu dever de cum-prir voluntariamente a sentença no prazo de 15 (quinze) dias, contados do seu trânsito em julgado, permanecendo inerte.

A expressão independentemente de nova intimação, contida no art. 475-J do ordenamento processual vigente, diz respeito à desnecessidade de nova intimação do devedor para, no prazo de 15 (quinze) dias, cumprir a sentença.

Destarte, o legislador não descarta o dever inerente ao credor de in-timar o devedor quanto ao lapso temporal que aquele possui para o cum-primento da sentença, sem que seja penalizado com a sanção pecuniária de multa no percentual de 10% (dez por cento), incidente sobre o montante da obrigação oriunda do título judicial.

Essa advertência a ser feita ao devedor, sem dúvida, é ônus que per-tence ao credor, somente sendo lícito exigir a sanção, após ter realizada a intimação prévia, podendo constar essa advertência no próprio dispositivo da sentença.

No tocante aos honorários advocatícios, talvez a parte mais polêmi-ca deste estudo, concluímos que não cabe o seu arbitramento de ofício pelo Magistrado, ao ser provocado inicialmente quanto ao descumprimento da sentença.

Ou seja, somente é lícito arbitrar a referida verba, uma vez que o deve-dor tenha resistido ao cumprimento da obrigação derivada da sentença, por intermédio de impugnação.

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O contrário, repetimos, traduz em enriquecimento sem causa de uma parte em detrimento de outra, sendo certo que existe vedação expressa em nosso ordenamento quanto à sua ocorrência.

reFerênCias

SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. Processo de conhecimento. 13. ed. São Paulo: Saraiva, v. I, 2009.

WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso Avançado de processo civil. Execução. 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 2, 2009.

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. Teoria geral dos recur-sos. Recursos em espécie. Processo de execução. 6. ed. São Paulo: Atlas, v. 2, 2010.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2010.

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HOnOráriOs COntratuais e a neCessidade de inClusãO nO mOntante devidO pela parte

adversa: dOutrina e JurisprudênCiaFelipe Cunha de almeida

Mestre em Direito Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Professor, Advogado, Especialista em Direito Civil e Processual

Civil com Ênfase em Direito Processual Civil, em Porto Alegre/RS.

RESUMO: O presente trabalhou analisou a possibilidade de, em ação de reparação civil, o deferimento de pedido quanto aos gastos relativos aos honorários contratuais, estes arcados pela parte que deu origem à demanda.

PALAVRAS-CHAVE: Reparação integral; responsabilidade civil; honorários contratuais; ressarcimento.

ABSTRACT: This worked examined whether, in civil damages ac-tion, the application for approval as the expenses related to the con-tractual fees, these borne by the party giving rise to the demand.

KEYWORDS: Full compensation; liability; contractual fees; compen-sation.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Neminem laedere e dever jurídico originá-rio e sucessivo; 2 Dano indenizável; 2.1 Artigo 389 do Código Civil; 2.2 Prova do dano material e dos honorários contratuais; 2.3 O prin-cípio da reparação integral; 2.4 Jurisprudência e o deferimento dos honorários contratuais; Conclusão; Referencias.

intrOduçãO

O presente tema aborda a questão referente à possibilidade de res-sarcimento relativo aos honorários contratuais. Ensina Álvaro Villaça Aze-vedo que a responsabilidade civil “[...] surge em face do descumprimento obrigacional”1.

1 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações e responsabilidade civil. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 243.

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O descumprimento anteriormente referido pode dar causa a deter-minada ação de indenização, como, por exemplo, seja por danos materiais e/ou extrapatrimoniais. Contudo, o objeto deste trabalho é a possibilidade de ser incluída, nos pedidos, a cobrança a título de honorários contratuais que a parte teve de gastar para o ajuizamento da demanda, ou então para a sua defesa.

Assim, com o objetivo de demonstrarmos a possibilidade de ressarci-mento frente aos gastos com honorários contratuais, estudaremos a respon-sabilidade civil em seus pressupostos, o dever geral de não lesar a ninguém e o princípio da reparação integral. Eis que são os caminhos percorridos até chegarmos à discussão sobre o cabimento ou não de pedidos da natureza aqui a ser estudada.

O assunto é controvertido no mundo jurídico e, como tal, merecedor da devida análise. Portanto, demonstraremos o posicionamento jurisprudencial acerca do tema, no sentido do deferimento de pedidos nesse sentido, traçan-do um paralelo com o princípio da reparação integral.

1 NemiNem laedere e dever JurídiCO OrigináriO e suCessivO

Em primeiro lugar, necessário faz-se analisar o dever geral de não lesar a ninguém para, somente após a sua verificação, falar-se em indenização pelo ilícito e, consequentemente, pleitear-se valores gastos a título de honorários contratuais.

San Tiago Dantas há muito dizia que o principal objetivo da ordem jurídica é proteger o lícito e reprimir o ilícito. De tal sorte que, para atingir esse fim, a ordem jurídica estabelece deveres que, dependendo da natureza, podem ser positivos, de dar ou fazer, ou negativos, de tolerar ou não fazer algo. Vamos ainda mais longe, ou seja, existe um dever geral de não prejudi-car a ninguém, expresso pelo Direito romano por meio da máxima neminem laedere2.

Quando há situação que viole determinado dever jurídico, resta confi-gurado o ilícito e, como regra, gera, para aquele que o violou, um novo dever jurídico, qual seja o de reparar o dano. De modo que Sérgio Cavalieri Filho

2 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 1.

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assevera que existem dois deveres jurídicos: um originário, ou primário, e outro sucessivo, ou também chamado de secundário, que será o de indeniza-ção quanto aos prejuízos. Quanto ao primeiro, o dever originário, trazemos o exemplo dado pelo mestre, qual seja o de que todos têm o dever de respeitar a integridade física do ser humano. Todavia, e como referido, aquele que lesa tal direito tem o dever jurídico de repará-lo3.

Neste aspecto é que entra a noção da responsabilidade civil, que reflete a ideia de obrigação, encargo. Melhor explicando, aponta o dever que deter-minada pessoa tem de reparar o prejuízo causado a outrem, eis que decorren-te da violação de um dever jurídico. Resumindo a ideia, a responsabilidade civil espelha que o dever jurídico sucessivo surge, emerge, no sentido de re-composição por dano que decorreu de violação de dever jurídico originário4.

Trazendo a teoria supracolocada para a prática, importante a leitura e análise do julgamento trazido que abordou a questão quanto ao dever jurídi-co originário e sucessivo. A fundamentação considerou que, como regra, não há falar em indenização por danos extrapatrimoniais no âmbito das relações familiares. Todavia, há situações que extrapolam a normalidade, como a vio-lência psíquica e física5. Portanto, o dever jurídico originário que foi violado

3 Idem, p. 2.4 Idem, ibidem.5 Ementa: “APELAÇÃO CÍVEL – DIVÓRCIO – ALIMENTOS – INDENIZAÇÃO POR

DANO MORAL – ABUSO E VIOLÊNCIA PSÍQUICA E FÍSICA – GRAVIDADE DOS DANOS SUFICIENTEMENTE PROVADAS – VALOR DA CONDENAÇÃO E VERBA ALIMENTAR MANTIDOS NO PATAMAR POSTO NA SENTENÇA – 1. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL – A gravíssima situação dos autos, em que a autora, desde menina (a partir dos 8 anos de idade), foi submetida a violência física e sexual, tendo, aos 25 anos, se casado com o agressor, configura, à saciedade, a dor, vexame, sofrimento e humilhação que, fugindo à normalidade, interferiram intensamente no comportamento psicológico da apelada, gerando sério desequilíbrio em seu bem-estar. 2. É certo que a jurisprudência em geral – e muito particularmente a deste Tribunal – é justificadamente recalcitrante em deferir danos morais no âmbito das relações familiares, dadas as peculiaridades que as cercam. O caso, porém, extrapola tudo o que se possa cogitar em termos de dano à pessoa, caracterizando dano moral mesmo que abstraída a conjuntura familiar em que foi praticado. 3. VALOR DA CONDENAÇÃO – A intensidade do dano e seqüelas emocionais, justificam a quantia – não obstante não haver valor suficiente para recompor as lesões psíquicas ou reparar os traumas e sofrimento vivido pela autora desde criança (“uma vida perdida”). De outro lado, cabia ao recorrente a prova de sua condição financeira e neste sentido foi de todo insuficiente o que trouxe aos autos. Várias foram as oportunidades de dilação probatória, sempre decorrendo o prazo sem manifestação do apelante – até que se encerrou a instrução, também sem inconformidade do demandado. 4. ALIMENTOS – A mesma fundamentação serve para desacolher o pedido de redução da verba

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foi a integridade física e psíquica da autora da ação. De modo que, como consequência, há um dever jurídico sucessivo, que é a indenização por danos morais, a qual trata a decisão em análise.

José de Aguiar Dias, em citação a Marton, assim lecionou sobre a res-ponsabilidade civil6:

Marton estabelece com muita lucidez a boa solução, quando define respon-sabilidade como a situação de quem, tendo violado uma norma qualquer, se vê exposto às consequência desagradáveis decorrentes dessa violação, traduzidas em medidas que a autoridade encarregada de velar pela ob-servação do preceito lhe imponha, providência essas que podem, ou não, estar previstas.

Finalizando, a responsabilidade é dever jurídico sucessivo, e tem como consequência a violação do primeiro, ou seja, do dever originário. Utiliza o autor, para melhor ilustrar o tema, as palavras de Larenz: “a responsabilida-de é a sombra da obrigação”7.

2 danO indenizável

Arnaldo Rizzardo leciona sobre os pressupostos da responsabilidade civil, sendo estes, resumidamente, a ação ou omissão do agente que, “[...] investindo contra alguém, ou deixando de atuar [...]”, fere direito ou patri-mônio de alguém. A culpa, na responsabilidade subjetiva, é perquirida; já

alimentar, prevalecendo o valor fixado pela sentença, ou seja, 40% do rendimento líquido da sua folha de pagamento, excetuados somente os descontos obrigatórios. Negaram provimento. Unânime. (Segredo de Justiça)” (Brasil, TJRS, 8ª C.Cív., Apelação Cível nº 70042267179, Rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 14.07.2011, Disponível em: <http://google8.tjrs.jus.br/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_processo_mask%3D70042267179%26num_processo%3D70042267179%26codEmenta%3D4249349+APELA%C3%87%C3%83O+C%C3%E7VEL.+DIV%C3%93RCIO.+ALIMENTOS.+INDENIZA%C3%87%C3%83O+POR+DANO+MORAL.+ABUSO+E+VIOL%C3%8ANCIA+PS%C3%E7QUICA+E+F%C3%E7SICA.+&site=ementario&client=buscaTJ&access=p&ie=UTF-8&proxystylesheet=buscaTJ&output=xml_no_dtd&oe=UTF-8&numProc=70042267179&comarca=Viam%E3o&dtJulg=14-07-2011&relator=Luiz+Felipe+Brasil+Santos>. Acesso em: 5 dez. 2012).

6 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. p. 3.

7 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. cit., p. 3.

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para os casos envolvendo a responsabilidade objetiva, essa discussão não é relevante para a busca da indenização. O nexo causal, por sua vez, tem de revelar a violação da norma e o dano; o liame entre eles. Já o dano deve ser indenizável, deve refletir negativamente no patrimônio da vítima, na forma de um prejuízo, deve ser bem tutelado pela ordem jurídica8.

Carlos Roberto Gonçalves assevera que indenizar significa reparar o dano causado à vítima, integralmente. Se possível, restaurando o status quo ante, isto é, devolvendo-se ao estado em que se encontrava antes da ocorrên-cia do ilícito9.

Orlando Gomes ensinava que o dano é definido como sendo10:

A diminuição ou subtração de um bem jurídico (Formica), a lesão de um interesse (Trabucchi). Para haver dano, é preciso, intuitivamente, que a di-minuição se verifique contra a vontade do prejudicado.

O dano consiste na diferença entre o estado atual do patrimônio que o sofre e o que teria se o fato danoso não se tivesse produzido (id quod interest).

Mas em que pese possamos cogitar da responsabilidade sem culpa, não se pode cogitar da responsabilidade sem dano, eis que uma ação de in-denização sem dano “é pretensão sem objeto”, mesmo que haja a violação de um dever jurídico, com ou sem culpa, com ou sem dolo do infrator: “Se, por exemplo, o motorista comete várias infrações de trânsito, mas não atropela nenhuma pessoa nem colide com outro veículo, nenhuma indenização será devida, malgrado a ilicitude de sua conduta”. Ainda, não será devida qual-quer indenização se o dano não for atual e certo, o que afasta, inclusive, a possibilidade de reparação de dano hipotético ou eventual11.

Fernando Noronha é preciso em suas lições12:

O dano pode ser caracterizado simplesmente como sendo o prejuízo resul-tante de uma lesão antijurídica de bem alheio. Numa noção mais esclare-cedora, poderá dizer-se que é o prejuízo, econômico ou não econômico, de

8 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 31-32.9 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 8. ed.

São Paulo: Saraiva, v. 4, 2013. p. 363.10 GOMES, Orlando. Responsabilidade civil. Atual. Evaldo Brito. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

p. 75.11 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. cit., p. 363-364.12 NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 579.

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natureza individual ou coletiva, resultante de ato ou fato antijurídico que viole qualquer valor inerente à pessoa humana, ou atinja coisa do mundo externo que seja juridicamente tutelada.

Finalizando este tópico, importante é a análise de julgamento que, em que pese ter constatado falha na prestação de serviço, afastou pedido de con-denação por danos extrapatrimoniais. Na fundamentação do voto e no tocan-te ao dano indenizável, assim posicionou-se o Relator13:

Por fim, verifica-se que não há qualquer elemento que indique que a situa-ção apresentada nos autos tenha gerado transtornos sérios à parte autora, ultrapassando a condição de mero aborrecimento ou dissabor.

Além disso, a parte autora não demonstrou nenhuma tentativa de dirimir a questão na esfera administrativa junto à ré, acerca das cobranças que atri-buiu como indevidas.

Ademais, ausente nos autos provas de que o autor tenha passado por algu-ma situação vexatória ou invasiva. Nestes termos, é de rigor o indeferimen-to do pleito indenizatório por danos morais.

13 Ementa: “APELAÇÃO CÍVEL – DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO – SERVIÇOS DE TELEFONIA – AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE COBRANÇA C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – I – Cobrança indevida. Constatada. No caso concreto a demandada não se desincumbiu do ônus de provar a contratação dos serviços para inserir a respectiva cobrança na fatura de telefone do consumidor, resta nítida a ocorrência de falha na prestação de serviços e, em consequência, o dever de indenizar (danos morais e materiais). II – Restituição em dobro. Art. 42, parágrafo único, do CDC. O CDC não exige o requisito da má-fé para acolhimento do pedido de devolução em dobro. III – Dedução do valor equivalente a tarifa mensal básica. Possibilidade, a fim de evitar enriquecimento sem causa. IV – Dano moral indenizável é aquele decorrente de uma experimentação fática grave, insidiosa da dignidade da criatura humana, e não conseqüências outras decorrentes de uma relação meramente contratual ou de percalços do cotidiano. V – Sucumbência mantida. Negaram provimento ao recurso do autor e deram parcial provimento ao recurso da ré. Unânime” (Brasil, TJRS, 16ª C.Cív., Apelação Cível nº 70060591799, Rel. Des. Ergio Roque Menine, Julgado em: 12.03.2015, Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_processo_mask%3D70060591799%26num_processo%3D70060591799%26codEmenta%3D6187456+dano+indeniz%C3%A1vel++++&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-8&lr=lang_pt&site=ementario&access=p&oe=UTF-8&numProcesso=70060591799&comarca=Comarca%20de%20Espumoso&dtJulg=12/03/2015&relator=Ergio%20Roque%20Menine&aba=juris>. Acesso em: 16 mar. 2015).

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2.1 artigo 389 do Código Civil

O Código Civil de 1916, segundo a doutrina de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, tratava-se de uma legislação à frente do seu tempo. E a prova de tal afirmativa, segundo os mencionados autores, foi quanto à aprovação e à reprovação de muitos dos seus dispositivos. Um dos artigos de lei que Clóvis Beviláqua tinha intenção de que integrasse a legislação revogada era exatamente a possibilidade de condenação a título de danos imateriais. O próprio caput do então art. 159 referia que quem violasse direito de outrem, ou causasse prejuízo, tinha o dever de indenizar, ou seja, ficava obrigado a reparar o dano. E, segundo os comentários ao Código pelo próprio Clóvis Beviláqua, a norma não fazia distinção entre danos materiais e imateriais e não excluía um em relação ao outro. É que a violação de direito poderia se dar tanto na esfera patrimonial como na esfera extrapatrimonial, não havendo, portanto, discriminação sobre qual o direito se tratava, ou seja, se recaía sobre prejuízos econômicos ou sobre questões que compunham a humanidade da pessoa. E resumiu assim Clóvis Beviláqua: “Onde a lei não distingue, não cabe ao intérprete fazê-lo”14.

A fundamentação anterior serve de alicerce para justificar a inclusão dos honorários contratuais nas perdas e danos previstas no art. 389 do Có-digo Civil. Somam-se a tais argumentos os ensinamentos de Sergio Cavalieri Filho. Ao comentar a norma em questão15, ensina o mestre que se trata de dever de indenização quando não cumprida determinada obrigação, seja a relação contratual ou extracontratual16.

Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, ao comentarem o art. 389 do Código Civil, apontam as Jornadas de Direito Civil relativas à norma em questão17:

Jornada VDirCivSTJ426: “Os honorários advocatícios previstos no CC 389 não se confundem com as verbas de sucumbência, que, por força do EOAB23, pertencem ao advogado”.

14 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil comentado. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 454-455.

15 “Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”

16 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. cit., p. 2-3.17 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Op. cit., p. 588.

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Jornada IIIDirCivSTJ161: “Os honorários advocatícios previstos no CC 389 e 404 apenas têm cabimento quando ocorre a efetiva atuação profissional do advogado”.

2.2 prova do dano material e dos honorários contratuais

A verba que se busca ver ressarcida pela parte perdedora insere-se na categoria de danos patrimoniais, eis que, segundo Yussef Said Cahali nos ensina, diferencia-se dos danos extrapatrimoniais18:

Segundo entendimento generalizado na doutrina, e consagrado nas legis-lações, é possível distinguir, no âmbito dos danos, a categoria dos danos patrimoniais, de um lado, dos danos extrapatrimoniais, ou morais, de ou-tro; respectivamente, o verdadeiro e próprio prejuízo econômico, o sofri-mento psíquico ou moral, as dores, as angústias e as frustrações infligidas ao ofendido.

Todavia, o conceito anterior deve ser contextualizado e, no caso con-creto, ser feita a prova de que foram efetuados gastos acerca de honorários contratuais, como prova do prejuízo material que se pretende ver ressarcido.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul considerou como prova do pagamento de honorários por meio da seguinte fundamentação19:

18 CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 18.19 Ementa: “APELAÇÃO CÍVEL – RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE INDENIZA-

ÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – CITAÇÃO PARA CONTESTAR DEMAN- DA JUDICIAL APÓS A REALIZAÇÃO DE ACORDO EM OUTRO PROCESSO – ME- RO EQUÍVOCO – MÁ-FÉ NÃO CARACTERIZADA – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS – PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO – CABIMENTO SOMENTE QUANDO PLEITEADOS NA PRÓPRIA AÇÃO EM QUE HOUVE A DESPESA COM A CONTRATAÇÃO DO ADVOGADO – RESGUARDO SIMULTÂNEO DO DIREITO MATERIAL SUBJETIVO DA PARTE E DE CONSIDERAÇÕES DE POLÍTICA JUDICIÁRIA – A versão esposada na inicial não encontra respaldo nos autos. O simples fato de a autora ter sido citada para contestar demanda judicial não é suficiente para causar constrangimento e/ou aborrecimento passível de indenização por danos morais. Os elementos constantes dos autos evidenciam tratar-se de mero equívoco (lapso da ré em não ter dado baixa à ação de cobrança ajuizada preteritamente no Foro de Brasília, após realizar acordo nos autos da ação revisional proposta pela autora em Porto Alegre). Sequer caberia indenização por danos morais, na peculiaridade do caso, mas não houve apelo da parte interessada, o que impede a reformatio in pejus. Quanto aos danos materiais – consubstanciado nas despesas que a autora teve para promover a sua defesa na ação de cobrança contra si ajuizada pelo réu – melhor sorte não lhe assiste. ‘O direito material vai além das regras de direito processual, permitindo a recomposição de tudo aquilo que a parte despendeu para fazer valer seus interesses (em juízo ou fora dele),

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inclusive as verbas comprometidas com a contratação de advogado. O desembolso realizado pela parte autora para a defesa de seus direitos em razão da conduta ilícita da parte ré constitui dano emergente que não pode ficar sem ressarcimento, sob pena da reparação não ser integral. Precedentes do STJ e desta Corte.’ (Apelação Cível nº 70052366978, 9ª C.Cív., TJRS, Rel. Tasso Caubi Soares Delabary, Julgado em 27.02.2013). O entendimento acima retratado, que respeita e reflete a inovação legal introduzida no novo Código Civil, através dos arts. 389, 395 e 404, deve ser adotado, porém, apenas quando a parte ajuíza demanda com base no titulo IV (Do Inadimplemento das Obrigações) do Livro I (Do Direito das Obrigações) da Parte Especial do CC, onde os referidos artigos estão contidos, abrangendo hipóteses de inadimplemento absoluto, inadimplemento relativo (mora), além da violação positiva do contrato. Ou seja, quando a parte ajuíza ação de indenização, com base em inadimplemento contratual, pode desde logo pleitear, como parte dos danos emergentes, o valor dos honorários contratuais, juntando cópia do contrato de honorários e fazendo a prova do efetivo pagamento. Por óbvio, também, que tal verba será submetida ao escrutínio do contraditório (quando se poderá alegar sua desproporcionalidade, desarrazoabilidade ou incompatibilidade com a tabela sugestão de honor judicial a respeito do tema, se vier a ser controvertido. Todavia, não pleiteado tal ressarcimento, no âmbito da própria ação indenizatória (ou em reconvenção, no caso da ação de cobrança que se revelou injusta), não mais poderá a questão vir a ser proposta, por razões de política judiciária. De fato, é de se levar a sério a interpretação consequencialista que a pretensão autoral acarretaria, diante da absurda irracionalidade sistêmica que representaria uma verdadeira duplicação de demandas, já que possível intuir que a cada demanda ajuizada, uma outra, ressarcitória, lhe seguiria. Tal possibilidade há de se levar em consideração na formação do precedente. O custo social de uma tal solução seria insuportável. Há limites para a criatividade dos juristas – e o primeiro deles é o bom-senso. De fato, a justiça comum, que já absorve a esmagadora maioria dos processos que tramitam na justiça brasileira, e que historicamente não tem tido condições de fazer frente à avalanche de processos que nos últimos vinte anos vem sendo despejados em suas prateleiras, simplesmente não conseguiria dar uma resposta efetiva a mais essa provável enxurrada de novos processos de massa. A esmagadora maioria de tais demandas provavelmente viria acompanhada de pedido de AJG, como já ocorreu nessa demanda. Com isso, o custo do funcionamento da máquina judiciária fatalmente seria suportado pelo contribuinte estadual – diante de eventual reforço do apare as causas que já tramitam na justiça comum teriam um maior retardo para sua solução, diante da atenção que tais novas demandas exigiria dos operadores da justiça. No caso em tela, em que se trata de nova ação ressarcitória, ajuizada separadamente da anterior ação de cobrança, onde a parte deveria ter promovido a reconvenção, não é de se dar curso à mesma, razão pela qual se nega provimento ao apelo. Apelo desprovido” (Brasil, TJRS, 9ª C.Cív., Apelação Cível nº 70061902029, Rel. Des. Eugênio Facchini Neto, Julgado em 26.11.2014, Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_processo_mask%3D70061902029%26num_processo%3D70061902029%26codEmenta%3D6060447+honor%C3%A1rios+contratuais+e+repara%C3%A7%C3%A3o+integral++++&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-8&lr=lang_pt&site=ementario&access=p&oe=UTF-8&numProcesso=70061902029&comarca=Comarca%20de%20Porto%20Alegre&dtJulg=26/11/2014&relator=Eug%C3%AAnio%20Facchini%20Neto&aba=juris>. Acesso em: 16 mar. 2015).

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De se ressaltar que o ressarcimento pleiteado a título de honorários não decorre da sucumbência experimentada pela parte ré nesta demanda, mas representa a recomposição patrimonial equivalente às despesas que a parte autora efetuou.

Antes do atual Estatuto da Advocacia, os honorários sucumbenciais des-tinavam-se à própria parte vitoriosa, para ajudá-la a custear suas despe-sas com o patrocínio da causa, sendo inacumuláveis com os honorários convencionais, exceto se existente cláusula expressa em contrato dispondo sobre a cessão total ou parcial do crédito decorrente da sucumbência pelo constituinte ao seu constituído. Com base nesse entendimento, talvez tives-se algum sentido dizer que a indenização pelos prejuízos incorridos com pagamento de advogados se resumiria ao valor arbitrado pelo juiz por oca-sião da aplicação da regra do art. 20 do Código de Processo Civil.

A partir da vigência da Lei nº 8.906, de 1994, no entanto, ficou definido que o destinatário dos honorários advocatícios (sucumbenciais e convencio-nais) é o próprio causídico, de modo que ambas as modalidades de verba honorária são cumuláveis entre si, conforme dispõe taxativamente o art. 23 desse diploma legal.

Os honorários sucumbenciais, porém, não se confundem com os honorá-rios convencionais. Na realidade, os honorários sucumbenciais são apenas uma parcela de toda remuneração fixada pelos serviços jurídicos prestados pelo advogado e se relacionam com o processo. Já os honorários conven-cionais representam dispêndio do credor e, consequentemente, perdas e danos pela necessidade de contratação de advogado para efetivar o cum-primento forçado da obrigação não satisfeita tempestivamente ou a conten-to, assim como para o impedimento da prática de ato ilícito ou para fins de evitar a sua continuidade.

Nessa toada, aquele que se vê obrigado a contratar advogado para plei-tear uma indenização por um ato ilícito invariavelmente sofre dano em seu patrimônio, visto que terá um prejuízo se tiver que deduzir os honorários contratuais ajustados com seu advogado da quantia obtida a título de repa-ração, eis que haverá um deságio do valor do dano recomposto ao final da contenda pelo abatimento do valor da honorária contratada com o advo-gado que patrocinou a causa, e, assim, o dano não será composto de modo integral, princípio primário em matéria de reparação de dano.

Não se pode olvidar, porém, que a causa primeira do dano não é a contra-tação onerosa de advogado, mas o ato ilícito da parte ré que reclamou a atuação do causídico.

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Cediço que o objetivo precípuo das perdas e danos é recolocar a vítima na situação em que ela se encontraria se o prejuízo não tivesse sido produzido. Assim, se a ré não tivesse cometido o ato ilícito discutido nesta demanda, a movimentação da máquina judiciária e, por conseguinte, a contratação de advogado seria desnecessária. Logo, quem deu causa à ação foi a ré, deven-do ser responsabilizada pelo pagamento integral dos honorários conven-cionados entre a autora e seu advogado.

Observe-se, nos termos do art. 402 do Código Civil, que as perdas e danos abrangem, além do que a parte deixou de lucrar, aquilo que ela efetivamen-te perdeu (danos emergentes).

Consoante prevê o art. 389 do Código Civil, “o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.

A par disso, o art. 403 do Código Civil prevê que as perdas e danos incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito da inexecução da obri-gação, mas sem prejuízo do disposto lei processual. Logo, na reparação não podem ser considerados os ônus pecuniários imputados ao vencido com base na legislação processual.

Não bastasse, o art. 404 do Código Civil agrupou diferentes elementos das perdas e danos, incluindo em seu rol novamente os honorários advocatí-cios, verbis:

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pa-gas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena conven-cional.

2.3 O princípio da reparação integral

O princípio da reparação integral vem insculpido na norma do art. 944 do Código Civil20.

Sergio Cavalieri Filho, quando aborda a função da responsabilidade ci-vil, explica que o anseio de buscar a obrigação do causador do dano à devida reparação tem como inspiração o mais elementar sentimento de justiça. De sorte que, existindo dano causado pelo ato ilícito, há o rompimento do equi-

20 “Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,

poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.”

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líbrio jurídico-econômico que existia antes, entre o agente e a vítima. Existe uma necessidade fundamental de se ver restabelecido o anterior equilíbrio, recolocando-se o prejudicado no status quo ante. Imperativo é o princípio da restitutio in integrum, ou seja, tenta-se, o mais perto do possível, repor a vítima ao estado anterior ao dano causado, pois, segundo o mestre aqui referido, “indenizar pela metade é responsabilizar a vítima pelo resto; limitar a repa-ração é impor à vítima que suporte o resto dos prejuízos não indenizados”21.

O mestre anteriormente referido, em conjunto com Carlos Alberto Menezes Direito, acerca da responsabilidade civil, assim ensinam: “O fim da responsabilidade civil é a restituição do lesado ao estado em que se encon-traria se não tivesse havido o dano”. Portanto, indenizar significa tornar o lesado indene, ou seja, significa a reparação total do dano sofrido22.

Paulo de Tarso Vieira Sanseverino ensina sobre o princípio aqui estu-dado23:

O princípio da reparação integral, ou da equivalência entre os prejuízos e a indenização, conforme já aludido, busca colocar o lesado, na medida do possível, em uma situação equivalente à que se encontrava antes de ocorrer o fato danoso.

Todavia, pondera o autor anteriormente citado que, muitas vezes, a tentativa de recolocação em estado anterior ao dano revela ficção, “pois, em muitas situações, como nos casos de dano morte, ou de certos danos à saúde, isso é operado de forma aproximativa ou conjectural”24.

O princípio da reparação integral também é inerente às relações de consumo25. Caracterizado como direito básico do consumidor, o direito bási-co à efetiva reparação consagra o princípio da reparação integral dos danos.

21 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. cit., p. 13.22 DIREITO, Carlos Alberto Menezes; CAVALIERI FILHO, Sergio. Comentários ao novo Código

Civil: da responsabilidade civil e das preferências e privilégios creditórios: arts. 927 a 965. 3. ed. Coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Forense, v. XIII, 2011. p. 371.

23 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da reparação integral: indenização no Código Civil. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 48.

24 Idem, ibidem.25 “Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...]. VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos

e difusos; [...].”

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Traduz-se, por assim dizer, no sentido de que todos os danos sofridos pelo consumidor, todos os prejuízos, devem ser reparados. Portanto, o Código de Defesa do Consumidor regula diferentemente do que ocorre com o art. 944, parágrafo único, do Código Civil26, segundo o qual este dispositivo possibilita a redução equitativa da indenização, considerando o grau de culpa do ofen-sor. Todavia, e como regra, o Código de Defesa do Consumidor consagrou a responsabilidade objetiva (subjetiva, entretanto, apenas para os profissionais liberais), o que faz com que não se admita qualquer tipo de mitigação da res-ponsabilidade ou do montante a título de condenação27.

Nas palavras de Sérgio Cavalieri Filho, “efetivo é tudo aquilo que atin-ge o seu objetivo real”. O Código de Defesa do Consumidor, portanto, é o que denomina o autor de “aporte normativo de todo um sistema de proteção voltado para a defesa do sujeito vulnerável em uma relação jurídica de con-sumo [...]28”.

Em continuidade, a reparação dos danos pode ter natureza material ou moral. Claudia Lima Marques ressalta a grandeza do princípio da reparação integral no sentido de proteção dos consumidores. É que o Código de Defesa do Consumidor “permite mesmo a quebra do dogma da separação patrimo-nial entre pessoa jurídica e seus sócios”29.

Para se reparar efetivamente os danos, utiliza-se o princípio da restitutio in integrum, sendo vedado, de forma expressa, qualquer tipo de ta-rifamento ou tabelamento de indenização, haja vista que esta deve ser a mais abrangente possível30. Complementa Flávio Tartuce no sentido de que31:

Em um primeiro momento, existindo danos materiais no caso concreto, nas modalidades de danos emergentes – aqueles já suportados pelo pre-judicado – ou lucros cessantes – a remuneração futura perdida –, terá o

26 “Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,

poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.”27 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2012. p. 179-180.28 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

p. 96.29 BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe.

Manual de direito do consumidor. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 78.30 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor, p. 96.31 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. São Paulo:

Método, v. 2, 2014. p. 508.

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consumidor direito à reparação de ambos, sendo vedado qualquer tipo de tarifação prevista, seja por lei, convenção internacional ou entendimento jurisprudencial.

2.4 Jurisprudência e o deferimento dos honorários contratuais

O Superior Tribunal de Justiça demonstra entendimento pelo ressarci-mento dos honorários contratuais. É que, segundo a Corte, a parte que deu causa ao processo fica obrigada ao pagamento de tal verba32; no mesmo sen-tido, a valorização do princípio da restituição integral33.

No Estado de Santa Catarina, também foi ressalvado o direito ao res-sarcimento pelos honorários contratuais, em que pese, em sede de sentença, o juiz ter indeferido tal pleito34:

32 Ementa: “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS – VALOR DEVIDO A TÍTULO DE PERDAS E DANOS – IMPROVIMENTO.

1. Aquele que deu causa ao processo deve restituir os valores despendidos pela outra parte com os honorários contratuais, que integram o valor devido a título de perdas e danos, nos termos dos arts. 389, 395 e 404 do CC/2002. (REsp 1.134.725/MG, Relª Min. Nancy Andrighi, 3ª T., DJe 24.06.2011).

2. Agravo regimental improvido” (Brasil, Superior Tribunal de Justiça, 3ª Turma, AgRg-EDcl-REsp 1412965/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Julgado em 17.02.2013. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1290218&num_registro=201303543931&data=20140205&formato=HTML>. Acesso em: 15 out. 2014).

33 Ementa: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL – VALORES DESPENDIDOS A TÍTULO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS – PERDAS E DANOS – PRINCÍPIO DA RESTITUIÇÃO INTEGRAL.

1. Aquele que deu causa ao processo deve restituir os valores despendidos pela outra parte com os honorários contratuais, que integram o valor devido a título de perdas e danos, nos termos dos arts. 389, 395 e 404 do CC/2002.

2. Recurso especial a que se nega provimento” (Brasil, Superior Tribunal de Justiça, 3ª T., REsp 1134725/MG, Relª Min. Nancy Andrighi, Julgado em 14.06.2011. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1069449&num_registro=200900671480&data=20110624&formato=HTML>. Acesso em: 15 out. 2014).

34 Ementa: “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS E COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA – INSCRIÇÃO DO NOME DO AUTOR EM ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO – DÉBITO INEXISTENTE – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA – REJEITADO O PEDIDO DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS – RECURSO DO REQUERIDO – APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – VÍTIMA DO EVENTO DANOSO – EXEGESE DO ART. 17 DO CÓDIGO CONSUMERISTA – PLEITO

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Ora, a partir do momento em que a parte requerida foi condenada no pro-cesso, tornou-se certo que ela deu causa a sua instauração, circunstância que permite caracterizar os honorários como dano emergente, equiparável a qualquer outra obrigação originária de um ato ilícito.

Sobre a possibilidade de condenação ao ressarcimento de honorários con-tratuais (independentemente da condenação sucumbencial) – tendo em vista que a contratação do advogado significou estipêndio de dinheiro, e portanto prejuízo –, não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: Os honorários contratuais decorrentes de contratação de serviços advocatícios extrajudiciais são passíveis de ressarcimento, nos termos do

DE REFORMA DA SENTENÇA AO ARGUMENTO DE NÃO TER PRATICADO QUALQUER ATO ILÍCITO – ADEMAIS, ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR PORQUANTO NÃO TERIA O AUTOR COMPROVADO SUAS ALEGAÇÕES – INSUBSISTÊNCIA – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO INEQUÍVOCA DA EXISTÊNCIA DE DÉBITO A JUSTIFICAR A ANOTAÇÃO DO NOME DO AUTOR NO CADASTRO DE INADIMPLENTES – ÔNUS QUE INCUMBIA AO DEMANDADO (ART. 6º, VIII, CDC) – FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO POR PARTE DO REQUERIDO QUE NÃO OPEROU COM A CAUTELA NECESSÁRIA NA CONCESSÃO DE CRÉDITO – APLICAÇÃO DA TEORIA DO RISCO DA ATIVIDADE ECONÔMICA – ILICITUDE DA INSCRIÇÃO EVIDENCIADA – RESPONSABILIDADE OBJETIVA RECONHECIDA – INTELIGÊNCIA DO ART. 14 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – DANO MORAL PRESUMIDO (IN RE IPSA) – SITUAÇÃO QUE EXTRAPOLA O MERO DISSABOR – PRIVAÇÃO INJUSTIFICADA DO USO DO NOME PERANTE O MERCADO DE CONSUMO – VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE ASSEGURADOS PELO ART. 5º, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – DEVER DE INDENIZAR MANTIDO – QUANTUM INDENIZATÓRIO – PEDIDO DE AMBAS AS PARTES PARA ALTERAÇÃO DO MONTANTE FIXADO NA SENTENÇA EM R$ 15.000,00 (QUINZE MIL REAIS) – APELAÇÃO DO REQUERIDO VISANDO À MINORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO E RECURSO ADESIVO DO AUTOR PUGNANDO PELA SUA MAJORAÇÃO – NECESSIDADE DE ADEQUAÇÃO DO QUANTUM À EXTENSÃO DO DANO À DIGNIDADE DA PARTE – INTELIGÊNCIA DO ART. 944 DO CÓDIGO CIVIL – OBSERVÂNCIA DO CARÁTER PEDAGÓGICO E INIBIDOR DA REPRIMENDA – INDENIZAÇÃO MAJORADA PARA R$ 20.000,00 (VINTE MIL REAIS) – RECURSO ADESIVO DO AUTOR – PLEITO DE RESSARCIMENTO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS – POSSIBILIDADE – PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL, QUE IMPÕE O DEVER DE RESSARCIR A INTEGRALIDADE DOS DANOS COMPROVADAMENTE ADVINDOS DO ATO ILÍCITO (INSCRIÇÃO INDEVIDA) – EXEGESE DOS ARTS. 389, 395 E 404 DO CÓDIGO CIVIL – RECURSO DE APELAÇÃO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA CONHECIDO E DESPROVIDO – RECURSO ADESIVO DO AUTOR CONHECIDO E PROVIDO” (Brasil, 6ª CDCiv., TJSC, Apelação Cível nº 2014.073769-8, Relª Des. Denise Volpato, Julgado em 16.12.2014. Disponível em: <http://app6.tjsc.jus.br/cposg/servlet/ServletArquivo?cdProcesso=01000T01C0000&nuSeqProcessoMv=null&tipoDocumento=D&cdAcordaoDoc=null&nuDocumento=7608571&pdf=true>. Acesso em: 16 mar. 2015).

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art. 395 do CC/2002. [...]. (REsp 1.274.629/AP, Relª Min. Nancy Andrighi, julgado em 16.05.2013)

O Tribunal de Justiça de São Paulo sinalizou entendimento análogo à devolução dos honorários contratuais. Contudo, ressalvou que deve ser des-contado o valor a título de honorários sucumbenciais, senão vejamos35:

Pois bem. Com relação à possibilidade de se incluir no ressarcimento por dano material os valores relativos aos honorários contratuais, a doutrina, em comentário ao art. 389 do Código Civil, se coloca da seguinte forma: Também se sabe que o art. 20 do Código de Processo Civil prevê o arbitra-mento de honorários advocatícios, a serem suportados pelo vencido como Forma de remuneração do trabalho prestado pelo patrono da parte vence-dora. Com base neste

cenário, permitir que todo o valor contratado pela apelante fosse devolvido sem descontar o valor já destinado ao advogado a título de sucumbência, faria a parte vencida ter de suportar duas vezes o custo pelo mesmo traba-lho do causídico.

Em que pese a diferença na destinação de cada uma das quantias os hono-rários contratuais são destinados à parte, para ressarci-la do pagamento, e os sucumbenciais destinam-se ao advogado não se pode duplicar o ressar-cimento pelo mesmo trabalho. Aliás, não obstante a autora alegar a con-tratação para auxílio na fase extrajudicial, ambos os contratos trazidos aos autos mencionam exclusivamente a propositura de ações, ou seja, refere-se à fase judicial (fls. 33/36).

35 Ementa: “PLANO DE SAÚDE – RESPONSABILIDADE DA RÉ PELOS HONORÁRIOS CONTRATUAIS COMO FORMA DE REPARAÇÃO INTEGRAL DOS DANOS MATERIAIS SUPORTADOS PELA AUTORA VERIFICADA – EXCLUSÃO DA PARCELA ARBITRADA A TÍTULO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS – DEVIDA CORREÇÃO MONETÁRIA QUE DEVERÁ INCIDIR A PARTIR DO DESEMBOLSO E JUROS DE MORA, DA CITAÇÃO – PREQUESTIONAMENTO – DESNECESSIDADE DE O ÓRGÃO JULGADOR ADUZIR COMENTÁRIOS SOBRE TODOS OS ARGUMENTOS LEVANTADOS PELAS PARTES – PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS – SU-CUMBÊNCIA RECÍPROCA VERIFICADA – INTELIGÊNCIA DO ART. 21, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC – SENTENÇA REFORMADA PARA O FIM DE JULGAR A DEMANDA PARCIALMENTE PROCEDENTE – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO” (Brasil, TJSP, 2ª CDPriv., Apelação Cível nº 0072948-14.2012.8.26.0100, Rel. Des. Neves Amorim, Julgado em 10.03.2015. Disponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=8282434&cdForo=0&vlCaptcha=qeyat>. Acesso em: 16 mar. 2015).

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Por este motivo, merece reforma a sentença para o fim de julgar a demanda parcialmente procedente e determinar o ressarcimento, pela ré, dos honorá-rios contratuais (fls. 33 e 35), descontando-se os honorários sucum benciais.

Em que pese tenhamos analisada a jurisprudência que autoriza o res-sarcimento dos gastos relativos aos honorários contratuais, a questão não é pacífica. A Corte gaúcha, como vimos, ora defere tais pleitos, ora não, con-forme entendimento refletido neste decisão. O fundamento, basicamente36, é no sentido de que tal contratação vincula apenas as partes contratantes, ou então que a verba honorária exigida da parte é, tão somente, a título de sucumbência37.

Por último, também é importante o alerta acerca da possibilidade de indeferimento dos honorários, quando a causa tramita perante o Juizado Es-pecial Cível: “Não necessitando o autor a contratação de advogado, pois dis-pensado no Juizado Especial Cível, e não sendo a causa complexa a deman-dar assessoramente de causídico, não há falar em condenação da requerida ao pagamento dos honorários contratuais38”.

36 TJRS, AC 70062609904, Rel. Des. Jorge Alberto Schreiner Pestana, 16ª C.Cív., J. 18.12.2014, DJe 22.01.2015; AC 70061219333, Rel. Des. Jorge Alberto Schreiner Pestana, 16ª C.Cív., J. 25.09.2014, DJe 03.10.2014.

37 Ementa: “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE COBRANÇA – REEMBOLSO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS – IMPROCEDÊNCIA – O contrato de honorários advocatícios obriga as partes contratantes. Liberdade de contratar entre o cliente e o advogado, que não atinge a parte vencida na ação originária. Arts. 421 e 422 do CC. Precedentes do Tribunal e do STJ. Apelação desprovida” (Brasil, TJRS, 16ª C.Cív., Apelação Cível nº 70058045808, Relª Desª Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 26.02.2015. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_processo_mask%3D70058045808%26num_processo%3D70058045808%26codEmenta%3D6170605+honor%C3%A1rios+contratuais+e+reembolso++++&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-8&lr=lang_pt&site=ementario&access=p&oe=UTF-8&numProcesso=70058045808&comarca=Comarca%20de%20Veran%C3%B3polis&dtJulg=26/02/2015&relator=Catarina%20Rita%20Krieger%20Martins&aba=juris>. Acesso em: 16 mar. 2015).

38 Ementa: “RECURSO INOMINADO – INDENIZATÓRIA – NULIDADE DA SENTENÇA – DANOS MATERIAIS – HONORÁRIOS CONTRATUAIS – SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO – COMERCIANTE – RESPONSABILIDADE – Não é nula a sentença, uma vez que incluído no pedido inicial o reembolso dos valores gastos com honorários contratuais, não restando configurada a nulidade da sentença que não é extra petita. Não necessitando o autor a contratação de advogado, pois dispensado no Juizado Especial Cível e não sendo a causa complexa a demandar assessoramente de causídico, não há falar em condenação da requerida ao pagamento dos honorários contratuais. O comerciante também pode

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COnClusãO

Como observado, encontramos os Tribunais atendendo pedidos de ressarcimentos, a título de honorários contratuais. Entendemos como salu-tar a medida, eis que privilegia a parte que não deu causa à determinada demanda.

Como se não bastasse, esses entendimentos sintonizam-se com o abor-dado princípio da reparação integral, inerente e presente à responsabilidade civil; cumpre, por assim dizer, as funções desta.

Não é por menos que trazemos as palavras de Pontes de Miranda, quando ensinava sobre a responsabilidade civil: “O ressarcimento prende-se à origem do homem, como reação ao mal, ao que fere ou ofende”39.

Ressaltamos, ao final, que, para o caso de honorários elevados, mas acertados entre as partes, o equilíbrio deve ser buscado pelo Magistrado, sob pena de, seriamente, comprometer o equilíbrio financeiro da parte que arcará com tal verba.

reFerênCias

AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações e responsabilidade civil. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

ser responsabilizado pelo defeito do produto. Inteligência do art. 13 e incisos da Lei nº 8.078/1990. Preliminar rejeitada. Recuso parcialmente provido. Unânime” (Brasil, TJRS, 1ª Turma Recursal Cível, Recurso Cível nº 71004510012, Rel. Pedro Luiz Pozza, Julgado em 18.02.2014. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_processo_mask%3D71004510012%26num_processo%3D71004510012%26codEmenta%3D5652155+honor%C3%A1rios+contratuais+e+reembolso++++&proxystylesheet=tjrs_index&ie=UTF-8&lr=lang_pt&access=p&client=tjrs_index&site=ementario&oe=UTF-8&numProcesso=71004510012&comarca=Comarca%20de%20Canela&dtJulg=18/02/2014&relator=Pedro%20Luiz%20Pozza&aba=juris>. Acesso em: 16 mar. 2015).

39 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado: parte especial: t. LVV: direito das obrigações: fatos ilícitos absolutos: atos-fatos ilícitos absolutos: atos ilícitos absolutos: responsabilidade danos causados por animais: coisas inanimadas e danos: estado e servidores: profissionais. 1. ed. Atual. Vilson Rodrigues Alves. São Paulo, Bookseller, 2008. p. 153.

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BRASIL. Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Distrito Federal, 1 de janei-ro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 5 jun. 2014.

______. Código de Defesa do Consumidor. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dis-trito Federal, 11 de setembro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>.

_______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Distrito Federal, 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 5 jun. 2014.

______. Superior Tribunal de Justiça, 3ª Turma, REsp 1134725/MG, Relª Min. Nancy Andrighi, Julgado em 14.06.2011. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/re-vista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1069449&num_registro=200900671480&data=20110624&formato=HTML>. Acesso em: 15 out. 2014.

______. 6ª CDCiv., TJSC, Apelação Cível nº 2014.073769-8, Relª Desª Denise Volpato, Julgado em 16.12.2014. Disponível em: <http://app6.tjsc.jus.br/cposg/servlet/ServletArquivo?cdProcesso=01000T01C0000&nuSeqProcessoMv=null&tipoDocumento=D&cdAcordaoDoc=null&nuDocumento=7608571&pdf=true>. Acesso em: 16 mar. 2015.

______. TJRS, 8ª C.Cív., Apelação Cível nº 70042267179, Rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 14.07.2011, Disponível em: <http://google8.tjrs.jus.br/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_proces-so_mask%3D70042267179%26num_processo%3D70042267179%26codEmenta%3D4249349+APELA%C3%87%C3%83O+C%C3%E7VEL.+DIV%C3%93RCIO.+ALIMENTOS.+INDENIZA%C3%87%C3%83O+POR+DANO+MORAL.+ABUSO+E+VIOL%C3%8ANCIA+PS%C3%E7QUICA+E+F%C3%E7SICA.+&site=ementario&client=buscaTJ&access=p&ie=UTF-8&proxystylesheet=buscaTJ&output=xml_no_dtd&oe=UTF-8&numProc=70042267179&comarca=Viam%E3o&dtJulg=14-07-2011&relator=Luiz+Felipe+Brasil+Santos>. Acesso em: 5 dez. 2012.

______. TJRS, 16ª C.Cív., Apelação Cível nº 70060591799, Rel. Des. Ergio Roque Menine, Julgado em: 12.03.2015, Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_pro-cesso.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_pro-cesso_mask%3D70060591799%26num_processo%3D70060591799%26codEmenta%3D6187456+dano+indeniz%C3%A1vel++++&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-8&lr=lang_pt&site=ementario&access=p&oe=UTF-

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-8&numProcesso=70060591799&comarca=Comarca%20de%20Espumoso&dtJulg=12/03/2015&relator=Ergio%20Roque%20Menine&aba=juris>. Acesso em: 16 mar. 2015.

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______. TJRS, 16ª C.Cív., Apelação Cível nº 70058045808, Relª Desª Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 26.02.2015. Acesso em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_proces-so_mask%3D70058045808%26num_processo%3D70058045808%26codEmenta%3D6170605+honor%C3%A1rios+contratuais+e+reembolso++++&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-8&lr=lang_pt&site=ementario&access=p&oe=UTF--8&numProcesso=70058045808&comarca=Comarca%20de%20Veran%C3%B3polis&dtJulg=26/02/2015&relator=Catarina%20Rita%20Krieger%20Martins&aba=juris>. Acesso em: 16 mar. 2015.

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apliCabilidade dO artigO 475-p, parágraFO ÚniCO, dO CódigO de prOCessO Civil (CpC),

nas deCisões prOFeridas em Caráter prOvisóriO em ações COletivas

(applicability of article p-475, SiNgle paragraph, from code of civil procedure (cpc), iN

proviSioNal deciSioNS iN claSS actioNS)gisleni Valezi raymundo

Advogada Pleno da Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras), Especialista em Direito Público e Teoria Geral do Direito.

RESUMO: O art. 475-P do CPC foi inserido em uma das alterações legislativas relativamente recentes (2008) com o fim de regulamentar a competência para o trâmite do incidente processual do cumpri-mento de sentença. Trata-se de verdadeira competência concorrente e relativa prevista pelo Código de Processo Civil (CPC) como contri-buição à efetividade do procedimento executivo. Com efeito, a pro-blematização que se pretende expor por meio do presente trabalho se debruça sobre a seguinte premissa: se a redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC, poderia ser aplicada aos casos de decisões que possuem o caráter de provisoriedade e precariedade, tais como tutela antecipada e liminar em ações coletivas.

PALAVRAS-CHAVE: Execução provisória; ação coletiva; compe-tência.

ABSTRACT: The art. 475-P, CPC, was inserted into one of the relati-vely recent legislative changes (2008) in order to regulate the power to the processing of the preliminary compliance with judgment. It is true competitor and relative competence provided by the Civil Procedure Code (CPC) as a contribution to the effectiveness of the enforcement procedure. Indeed, the questioning intended to be ex-posed by the present work focuses on premise: that the wording of art. 475-P, sole paragraph of the CPC, could be applied to cases of decisions that have the character of temporariness and precarious-ness, such as early and preliminary injunction in class actions.

KEYWORDS: Provisional execution; class action; jurisdiction.

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SUMÁRIO: 1 Contextualização: possibilidade de incidência da reda-ção do artigo 475-P, parágrafo único, do CPC, em cumprimento de decisão em tutela antecipada proferida em ação coletiva; 2 Inexis- tência de título executivo judicial (artigo 475-N do CPC) e interpre-tação sistemática de outros artigos do CPC; 3 Regras de competência e o juízo natural: segurança jurídica; 4 Regras previstas no Código de Defesa do Consumidor (CDC); 5 Ponderações finais e as dispo-sições do novo Código de Processo Civil (NCPC) sobre o assunto; Refe rências.

SUMMARY: 1 Background: incidence of possibility of article writing 475-P, sole paragraph of the CPC, in fulfillment of decision for inter-locutory relief given in collective action; 2 Absence of Judicial En-forcement (article 475-C of the Code.) and systematic interpretation CPC other items; 3 Rules competence and natural justice: legal cer-tainty; 4 Rules laid down in the Consumer Protection Code (CDC); 5 Final weights and the provisions of the new Civil Procedure Code (CPC) on the subject; References.

1 COntextualizaçãO: pOssibilidade de inCidênCia da redaçãO dO artigO 475-p, parágraFO ÚniCO, dO CpC, em CumprimentO de deCisãO em tutela anteCipada prOFerida em açãO COletiva

As reflexões acerca da problemática que circunda a redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC1 partem do estudo de um caso concreto em que pescadores e marisqueiros da região da Baía de Todos os Santos, em Salva-dor (BA), pretenderam executar, provisória e individualmente, na cidade de Araucária (PR), com amparo no art. 475-P, parágrafo único, do CPC, decisão de tutela antecipada proferida em ação coletiva ajuizada por Federação de Pescadores e Aquicultores do Estado da Bahia, em Salvador, já que os subs-tituídos teriam sido afetados por um incidente ocorrido em uma bomba de refinaria Landulpho Alves (BA), fato que teria interrompido o exercício da pesca por período determinado, bem como ocasionado dano ambiental.

Vale ressaltar que nenhum dos demandantes das execuções provisó-rias possuía domicílio em Araucária (PR) – caso se cogitasse pela aplicação

1 O legislador, em atenção ao princípio da satisfação da tutela jurisdicional, objetivou, com a redação atribuída ao referido artigo, facilitar a exequibilidade do título executivo e a atuação do exequente ao facultá-lo, em linhas gerais, a apresentar o incidente de cumprimento de sentença perante o juízo que processou a causa, juízo do local em que o executado possua bens ou no juízo de seu atual domicílio.

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do art. 101, II, do Código de Defesa do Consumidor (CDC) –, e que, por se tratar decisão em tutela antecipada que versava sobre o pagamento de verba alimentar, a demandada/executada havia depositado, em razão de determi-nação judicial, perante o juízo da Comarca de Salvador, mais de 62 milhões de reais para o pagamento de alimentos conforme determinado pela decisão provisória.

Com efeito, aparentemente, não haveria amparo processual que permi-tisse a execução provisória por diversos substituídos em comarca diversa do local onde ocorreu o dano ambiental, tampouco em comarca distinta de seus respectivos domicílios.

É com amparo nisso que se se faz necessário desenvolver o presente estudo, uma vez que, em um país de dimensões continentais, não se pode sobrepor a vontade de alguns jurisdicionados às regras de competência vi-gentes. Embora seja notório que em demandas coletivas essas mesmas re-gras sejam flexibilizadas para o fim de favorecer a satisfação jurisdicional dos substituídos, tal realidade não pode ter o condão de onerar o devedor e flexibilizar regras processuais.

Feitas essas considerações e contextualização introdutórias, passa-se a algumas reflexões sobre a amplitude da redação do art. 475-P, parágrafo úni-co, do CPC nas decisões proferidas em caráter provisório.

2 inexistênCia de títulO exeCutivO JudiCial (artigO 475-n dO CpC) e interpretaçãO sistemátiCa de OutrOs artigOs dO CpC

A abordagem inicial e literal do assunto em debate permite apontar que não há título executivo (nos termos daqueles elencados e tipificados no art. 475-N do CPC) no caso relatado no tópico precedente, mas apenas deci-são proveniente de cognição sumária razão pela qual, portanto, as regras de competência previstas pela redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC, não seriam aplicáveis ao caso, já que sua incidência se destina ao “cumpri-mento de sentença”, conforme indicado no art. 475-P, caput, do CPC2. Ade-mais, o próprio artigo estudado está inserido no Capítulo X denominado “Do

2 A discussão quanto à redação e ao alcance desse artigo seria inexistente caso se partisse da única premissa de que ele foi idealizado pelo legislador para ser aplicado aos casos de títulos executivos definitivos (definitivamente transitados em julgado com a formação de coisa julgada, a teor do que prevê o art. 475-N do CPC).

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Cumprimento de Sentença”, o que assinala que é necessária a existência de decisão de cognição exauriente para processamento do feito executório pe-rante juízo a ser escolhido pelo exequente para satisfação do direito e/ou cré-dito reconhecido. Com efeito, ao que parece, diante dessa primeira reflexão preliminar e necessária, é que o art. 475-P, parágrafo único, do CPC não com-porta alternativa à competência do juízo que proferiu a decisão na hipótese em que essa seja provisória3.

Em sentido contrário, vale anotar, é a opinião de Nelson Nery Júnior: “A execução provisória pode ser feita da mesma maneira que a definitiva [...] razão pela qual a ela também se aplicam as regras de competência previstas no CPC 475-P [...]” (p. 758).

Contudo, o assunto requer maiores digressões diante da amplitude de possível atuação em comarcas diversas pelos substituídos em ações coletivas em atenção ao princípio da máxima efetividade da tutela coletiva, da segu-rança jurídica por decisões conflitantes em sede provisória e das proporções que as decisões proferidas em lides multitudinárias possuem, a teor do que expressa pontualmente sobre a coisa julgada coletiva o doutrinador Hugo Nigro Mazzilli:

Entre as peculiaridades da coisa julgada coletiva, a primeira delas está, na-turalmente, na extensão da imutabilidade do decisum para além das partes formais do processo [...] assim, é evidente que a própria Lei Maior está a querer que a decisão da lide aproveite a todo o grupo lesado, uma vez que essa extensão é a própria razão de ser das ações de índole coletiva. (2006, p. 513)

Concomitantemente ao fato de que, no caso estudado, inexiste título executivo a ser executado provisoriamente perante diversos juízos, vale lem-brar que o art. 100, IV4, do CPC, ao prever que a competência é definida pelo local em que ocorreu o fato ou o ato, reforça a ideia de que o juízo que pro-

3 No caso de decisões precárias, em princípio, o verdadeiro “guardião” da exequibilidade e/ou cumprimento das decisões provisórias é o próprio juízo que as proferiu, de forma que a aceitação de outros juízos para o processamento de pedido de cumprimento de “sentença” nos termos do art. 475-P, parágrafo único, do CPC poderia gerar descompasso entre juízos diferentes e comprometer o princípio da segurança jurídica do próprio executado e o princípio do juízo natural com a possibilidade de decisões conflitantes.

4 A redação é a mesma para o novo Código de Processo Civil em seu art. 53, III, d: “É competente o foro: [...] III – do lugar: [...] d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento; [...]”.

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feriu a decisão em caráter precário é competente para a execução da medida judicial provisória.

Outros dispositivos do CPC permitem que se conclua da mesma for-ma. Da leitura dos arts. 461 e 461-A, ambos do CPC5 – e que se aplicam aos casos de tutela antecipada conforme art. 273, § 3º, do CPC6 –, infere se é o juí-zo que proferiu a decisão que “fixará prazo para cumprimento da obrigação” e “determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento”. No mesmo sentido é a redação do art. 84 do CDC utilizado especificamente para as demandas coletivas: “O juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento”.

Portanto, pela interpretação sistemática dos arts. 100, IV, 461, 461-A e 273, § 3º, todos do CPC, pode-se concluir, em um primeiro momento, que a redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC não se aplica ao cumprimento de decisões proferidas em caráter precário, já que o juízo que as proferiu é o verdadeiro e o único juízo natural para promoção de seu cumprimento.

Deve-se destacar, outrossim em uma reflexão possível, que, na execu-ção provisória, vige o sistema da ope legis (casos previstos em lei). Diante dis-so, poderia se cogitar que o juízo não poderia admitir a execução provisória de tutela antecipada, pois esse sistema trata de universo processual diverso: ope iudicis (obrigações determinadas pelo juízo). Isso porque a execução pro-visória já é uma exceção no sistema processual brasileiro, de forma que suas hipóteses de cabimento devem ser interpretadas restritivamente e não de for-ma ampliativa.

Sobre essa lógica acerca da interpretação restritiva nesses casos, o Su-perior Tribunal de Justiça (STJ), no âmbito de recurso repetitivo, já teve a oportunidade de decidir:

A multa diária prevista no § 4º do art. 461 do CPC, devida desde o dia em que configurado o descumprimento, quando fixada em antecipação

5 Os dispositivos equivalem aos arts. 536 e seguintes do novo Código de Processo Civil (NCPC), Capítulo IV, da Seção I, do Título I, do Livro I, da Parte Especial, cuja teleologia é a mesma.

6 Os arts. 300 e seguintes do NCPC, inseridos em seu Livro V, da Parte Geral, tratam do tema com a mesma finalidade. Vale ressaltar que, embora o NCPC trate das tutelas de urgência de forma diversa do atual CPC, não cabe aqui explicitar com precisão os requisitos específicos dessas novas modalidades de tutela, já que sua análise imprescinde de artigo específico para o assunto.

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de tutela, somente poderá ser objeto de execução provisória após a sua confirmação pela sentença de mérito e desde que o recurso eventualmente interposto não seja recebido com efeito suspensivo. Isso porque se deve prestigiar a segurança jurídica e evitar que a parte se beneficie de quantia que, posteriormente, venha se saber indevida, reduzindo, dessa forma, o inconveniente de um eventual pedido de repetição de indébito que, por vezes, não se mostra exitoso. Ademais, o termo “sentença”, assim como utilizado nos arts. 475-O e 475-N, I, do CPC, deve ser interpretado de forma restrita, razão pela qual é inadmissível a execução provisória de multa fi-xada por decisão interlocutória em antecipação dos efeitos da tutela, ainda que ocorra a sua confirmação por acórdão. Esclareça-se que a ratificação de decisão interlocutória que arbitra multa cominatória por posterior acórdão, em razão da interposição de recurso contra ela interposto, continuará ten-do em sua gênese apenas a análise dos requisitos de prova inequívoca e ve-rossimilhança, próprios da cognição sumária que ensejaram o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela. De modo diverso, a confirmação por sentença da decisão interlocutória que impõe multa cominatória decorre do próprio reconhecimento da existência do direito material reclamado que lhe dá suporte, o qual é apurado após ampla dilação probatória e exer-cício do contraditório. Desta feita, o risco de cassação da multa e, por con-seguinte, a sobrevinda de prejuízo à parte contrária em decorrência de sua cobrança prematura, tornar-se-á reduzido após a prolação da sentença, ao invés de quando a execução ainda estiver amparada em decisão interlocu-tória proferida no início do processo, inclusive no que toca à possibilidade de modificação do seu valor ou da sua periodicidade. (REsp 1.200.856/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 01.07.2014)

Da mesma forma, a concessão de tutela antecipada, porque fruto de cognição sumária, também constitui exceção processual, já que o processo civil visa à prolação de sentença com ou sem resolução de mérito, razão pela qual seu cumprimento deve ocorrer da forma prevista em lei. Não há lei, nesses termos, que permita que a satisfação da tutela deva ocorrer por meio de execução provisória.

Contudo, embora possam ser pontuadas essas reflexões pela excepcio-nalidade característica tanto do sistema de execução provisória quanto de tutela antecipada, é uma realidade – na atual dinâmica do processo – que o juízo, diante de seu “poder geral de antecipação da tutela”, consinta com a utilização de sistemas excepcionais para resguardar os direitos dos cidadãos, mesmo que não haja previsão legal para determinados procedimentos.

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É isso que pontua de forma clara Araken de Assis: “Enfim, é relativa-mente fácil catalogar as situações em que atos decisórios autorizam a exe-cução provisória [...], principalmente a antecipação liminar da tutela (arts. 273, 287 e 461, § 3º) [...]”. No mesmo sentido, Nelson Nery Júnior (Código de Processo Civil comentado. 10. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 756).

Todavia, no caso posto em discussão, citado no início deste artigo, me-rece ser pontuado o fato de que havia uma peculiaridade a mais e que pos-sibilitava pela conclusão de que a execução provisória de decisão proferida em caráter precário deveria ocorrer perante o juízo que proferiu a decisão, já que havia depósito em dinheiro perante o juízo de Salvador para garantir a exequibilidade da decisão proferida em tutela antecipada. Esse fato foi con-siderado no julgamento proferido no Agravo de Instrumento nº 1.194.553-2, pela 10ª Câmara Cível, do eg. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (julga-mento em 24 de julho de 2014 pelo Relator Arquelau Araujo Ribas, pertinente ao mesmo caso), quando se reformou a decisão que rejeitou a exceção de incompetência apresentada pela demandada por meio da qual se defendia pela impossibilidade de execução provisória perante a comarca de Araucária de decisão proferida em tutela antecipada pelo Juízo de Salvador, ao reputar competente para processamento e julgamento do feito a comarca da Salva-dor: “[...] informou na petição de exceção de incompetência (fl. 20) que de-positou à ordem do Juízo da 6ª Vara Cível de Salvador o importe de mais de 62 milhões de reais para levantamento das pessoas que fossem identificadas como pescadores, em estado de necessidade alimentar”.

Além disso, é ínsito ao caso o fato de que o juízo de Salvador deve-ria decidir quais eram os substituídos que possuíam a condição de titulari-zar direitos oriundos da demanda coletiva (o que foi reconhecido inclusive pelo eg. Superior Tribunal de Justiça – STJ – ao julgar REsp 1.318.917-BA, de relatoria do Ministro Antonio Carlos Ferreira pertinente ao mesmo caso). Isso porque, tratava-se de demanda que compreendia danos ocorridos em face de pescadores e marisqueiros que deveriam comprovar essa condição mediante inscrição na Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Bahia (Seap). Concomitantemente a isso, os substituídos deveriam demonstrar que suas atividades foram atingidas pelo dano ocasionado pela demandada, bem como sobre a necessidade alimentar pelo recebimento de alimentos em cará-ter provisório.

Por certo, o juízo de Salvador, porque tem jurisdição localizada em área marítima e conhecedor das peculiaridades do caso, possui totais condi-ções jurídicas e processuais para decidir se determinado demandante é titu-

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lar do direito reconhecido em âmbito da tutela coletiva na condição de subs-tituído. Ainda, depositado o dinheiro em juízo prolator da decisão precária para a satisfação da tutela antecipada, bem como inexistente domicílio dos demandantes em Araucária é contra a lei raciocinar que o art. 475-P, pará-grafo único, do CPC se aplicaria ao caso, já que a finalidade redacional desse artigo – conforme já indicado anteriormente – foi de justamente facilitar a satisfação da tutela jurisdicional para o fim de que os exequentes pudessem efetivamente “executar” a decisão judicial.

Dessa forma, não há nenhuma facilidade aos demandantes em execu-tar a decisão em cidade cuja distância do juízo natural supera os 2.000 quilô-metros. O fato de a demandada possuir bens em Araucária, já que possui uni-dade operacional em referida cidade (refinaria Presidente Getúlio Vargas), não atrai a competência para essa localidade, já que, no âmbito territorial da comarca de Salvador, também há unidade operacional (refinaria Landulpho Alves) da mesma demandada com bens a aptos a garantir a exequibilidade do crédito devido.

Portanto, é possível concluir que os elementos da antecipação estão vinculados à decisão do órgão prolator e ao seu juízo de valor sobre a existên-cia dos seus requisitos e os deslindes de seu alcance objetivo e subjetivo, quer seja para definir a titularidade dos substituídos e beneficiários da decisão ju-dicial, quer seja para delimitar a amplitude dos efeitos da tutela jurisdicional.

Sobre o assunto, há ainda a opinião alternativa ao caso oriunda da dou-trina de Theotonio Negrão para o qual a eleição de foro concorrente a que se refere a redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC deve estar vinculada a manifestação prévia do juízo natural, o qual poderia autorizar o foro que o exequente pretende ter o seu direito satisfeito:

Trata-se de foros concorrentemente competentes, elegíveis livremente pelo exequente. A opção do exequente, todavia, pode ser impugnada, nos casos em que o executado não tiver bens no local do juízo escolhido nem for ali domiciliado.

Em que pese o dispositivo inserto no art. 475-P, inciso II e parágrafo único, permitir a eleição de foro por competência territorial para a fase de execu-ção, tal possibilidade é condicionada à manifestação prévia do juízo natu-ral acerca da escolha do exequente (REsp 1.119.548/Castro Meira). (p. 572, 2011)

A partir da digressão sobre a interpretação de dispositivos do próprio CPC, é de se pontuar que as regras de competência e do juízo natural consti-

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tuem verdadeira garantia para as partes litigantes, mesmo no caso de proces-sos de caráter coletivo.

3 regras de COmpetênCia e O JuízO natural: segurança JurídiCa

Com efeito, das reflexões ponderadas ao longo do presente estudo, o que se infere é o fato de que as facilidades trazidas para satisfação de deter-minado crédito, por meio das alternativas introduzidas pelo art. 475-P, pará-grafo único, do CPC não significam que há uma inexistência de competência ou até mesmo uma “crise” das regras de competência, na medida em que as divisões de competências não são unas e transponíveis, assim como ocorre com a jurisdição, caso seja oposta exceção de incompetência em razão do território, mediante manifestação da parte interessada (a semelhança ocorreu no caso ora analisado em que a demandada opôs exceção de incompetência perante o juízo de Araucária nos cumprimentos provisórios de decisão pro-ferida em tutela antecipada promovidos por pescadores e marisqueiros de Salvador).

Nesse contexto, vale citar a explicação didática de Luiz Rodrigues Wambier sobre as diferenças entre os conceitos de competência e jurisdição:

São justamente as normas de competência que atribuem concretamente a função de exercer a jurisdição aos diversos órgãos da jurisdição, pelo que se pode conceituá-la como instituto que define o âmbito de exercício da atividade jurisdicional de cada órgão dessa função encarregado. (2004, p. 91/92)

O art. 87 do CPC7 define que a competência se fixa com o ajuizamento da demanda, o que preconiza o princípio da Perpetuatio iurisdictionis. Ou seja, alteração de fatos e de direito posteriores são irrelevantes para modificação de competência, entretanto, o próprio CPC excepciona essa regra em hipóte-ses previstas no mesmo artigo. Há outros dispositivos processuais, ademais, que excepcionam tal princípio entre os quais se inclui a redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC.

7 A redação de referido dispositivo é similar ao que dispõe o art. 43 do NCPC: “Determina--se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta”.

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Novamente, a exceção prevista no art. 475-P, parágrafo único, do CPC deve ser interpretada restritivamente para o fim de não violar o princípio previsto no art. 87 do CPC. Portanto, utilizada indevidamente a regra citada no presente caso, é manifesta a afronta ao art. 87 do CPC.

Ademais, o princípio previsto no art. 87 do CPC deve ser conjugado com a redação do art. 5º, XXXVII, do texto constitucional. Isso porque sua existência se funda na garantia constitucional de evitar a escolha e/ou dire-cionamento de juízos para julgamento da causa. Ou seja, ao jurisdicionado deve ser assegurada a constituição de juízo competente prévio conforme as regras de competência já fixadas pela lei.

Disso se pode concluir que a opção do demandante em ajuizar deman-da em foro (Estado do PR) distante de seu domicílio (Estado da BA) e do local do dano ambiental, direcionada ao juízo cuja decisão, aparentemente, que lhe melhor favoreça (já que o TJPR tem precedentes favoráveis aos pescadores em casos semelhantes de dano ambiental ocorridos no litoral paranaense) constitui manifesta ofensa ao juízo natural e às regras de modificação de com-petência (princípio da legalidade).

Ora, a garantia de processamento e julgamento pelo juízo/autoridade competente tem o objetivo de condicionar e limitar a atividade jurisdicional persecutória, já que ao cidadão é assegurada a proteção contra eventuais ar-bítrios e abusos originários da atuação do Poder Público.

Esse é o entendimento de Gilmar Ferreira Mendes sobre o tema, ao citar Celso de Mello, confira-se:

Um dos princípios essenciais do direito constitucional diz respeito ao pos-tulado do juiz natural, que traz ínsita a proibição das Cortes ad hoc ou dos tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII) [...].

Tal como observado por Celso de Mello, “o postulado do juiz natural re-veste-se, em sua proteção político-jurídica, de dupla função instrumental, que conforma a atividade legislativa do Estado e condiciona o desempenho pelo Poder Público das funções de caráter persecutório em juízo”. (2009, p. 615)

Ainda, no mesmo sentido, sobre a impossibilidade de discricionariedade quanto à escolha do juízo natural, o eg. STF já teve a oportunidade de jul-gar, nos seguintes termos: “O princípio do juiz natural não apenas veda a instituição de tribunais e juízos de exceção, como também impõe que as causas sejam processadas e julgadas pelo órgão jurisdicional previamen-

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te determinado a partir de critérios constitucionais de repartição taxati-va de competência, excluída qualquer alternativa à discricionariedade”. (HC 86889, Min. Menezes Direito, DJe 14.02.08)

Sobre o assunto, o eg. TJPR possui acórdão de necessário conheci - mento:

É certo que o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 101, inciso I, dispõe que nas relações entre fornecedor e consumidor a ação poderá ser proposta no domicílio do autor, visando à facilitação de sua defesa em juízo. No entanto, ao contrário do que foi alegado pelos agravados, a legislação con-sumerista não engloba a possibilidade de o consumidor optar em propor a demanda em qualquer localidade, pois, além de não haver fundamento legal para o demandante escolher o lugar para propor a ação, ao optar por foro que não é o seu domicílio e nem o do réu ou aquele onde o contrato foi celebrado, acaba quebrando o princípio do juiz natural. (TJPR, 15ª C.Cív., AI 0707326-1, Londrina, Rel. Des. Hamilton Mussi Correa, Unânime, J. 06.10.2010)

Por isso, embora possua um caráter eminentemente social – pois voltada a garantir a satisfação do direito reconhecido –, a regra contida no art. 475-P, parágrafo único, do CPC se submete aos mesmos princípios e regras de com-petência, cujo fundamento está expresso no próprio texto constitucional por meio das garantias processuais ao devido processo legal e da segurança jurí-dica (art. 5º, LV e XXXVI, do texto constitucional).

O assunto, ademais, merece abordagem conjunta com as regras proces-suais previstas no Código de Defesa do Consumidor, microssistema aplicado em casos de demandas coletivas.

4 regras previstas nO CódigO de deFesa dO COnsumidOr (CdC)

O art. 101, II, do CDC disciplina que a ação de responsabilidade civil pode ser proposta no domicílio do consumidor. A lei, ademais, admite a li-quidação e a execução de sentença a serem promovidas, o que está previsto no art. 97 do CDC. Contudo, não fixa regra de competência para tanto, desti-nada apenas à disciplina de execução e liquidação de ações coletivas previs-tas no art. 98 do CDC.

Referida regra de competência foi estipulada por meio da redação do art. 97, parágrafo único, do CDC, que dispunha: “Parágrafo único. A liquida-ção de sentença, que será por artigos, poderá ser promovida no foro do domi-

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cílio do liquidante, cabendo-lhe provar, tão-só, o nexo de causalidade, o dano e seu montante”. Ocorre que esse dispositivo foi vetado sob o argumento de que haveria violação ao princípio do devido processo legal ao dissociar os foros competentes do processo de execução e do processo de conhecimento, da seguinte forma constam as razões do veto:

Esse dispositivo dissocia, de forma arbitrária, o foro dos processos de co-nhecimento e de execução, rompendo o princípio da vinculação quanto à competência entre esses processos, adotado pelo Código de Processo Civil (art. 575) e defendido pela melhor doutrina. Ao despojar uma das partes da certeza quanto ao foro de execução, tal preceito lesa o princípio de ampla defesa assegurado pela Constituição (art. 5º, LV).

Disso se extrai que o próprio Poder Legislativo – ao manter o veto do Poder Executivo – confere interpretação autêntica aos dispositivos relativos à competência para o fim de assegurar o devido processo legal em casos de liquidações e execuções de vítimas em ações coletivas.

Não se pretende, com as constatações do presente trabalho, negar o fato de que em casos de ações coletivas se aplicam as regras do Código de Defesa do Consumidor (CDC) às normas de competência do CPC pelo do reenvio, como pela possibilidade de propositura de execução individual no domicílio do consumidor, entendimento já sedimentado pelo eg. Superior Tribunal de Justiça (STJ):

[...] 1.1. A liquidação e a execução individual de sentença genérica profe-rida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domicílio do be-neficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da sentença não estão circuns-critos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474,CPC e 93 e 103, CDC). (REsp 1243887/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, Julgado em 19.10.2011, DJe 12.12.2011)

No mesmo sentido, o col. Tribunal Superior do Trabalho (TST), por meio da Seção de Dissídios Individuais 2, já se pronunciou por meio do jul-gamento de Conflito de Competência (CC) nº 1421-83.2012.5.00.0000, de re-latoria do Ministro Alexandre Agra Belmonte, julgado em 28.08.2012, com publicação em 06.09.2012:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA – AÇÃO COLETIVA – DECISÃO COM EFEITOS ERGA OMNES – EXECUÇÃO INDIVIDUAL – A previsão cons-

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tante do art. 877 da CLT, surgida ainda sob a influência de estremado indi-vidualismo processual, não se mostra adequada e aplicável à hipótese das ações coletivas, cujo procedimento é específico e regulamentado na Lei de Ação Civil Pública, combinada com o Código de Defesa do Consumidor, ambos plenamente compatíveis com o Processo do Trabalho. Execução in-dividual que deve ser procedida no domicílio da exequente. Entendimento em contrário acaba por violar toda a principiologia do Direito Processual do Trabalho, impingindo aos beneficiários da ação coletiva um ônus pro-cessual desarrazoado, tornando ineficaz todo o arcabouço construído com enfoque no pleno, rápido e garantido acesso à jurisdição, violando a garan-tia constitucional do Devido Processo Legal Substancial. Conflito negativo de competência que se julga procedente, para declarar que a competên-cia para apreciar e julgar a execução individual, em relação à exequente Candida Maria Sales Leal, é da 4ª Vara do Trabalho de Fortaleza/CE.

Da mesma forma, a doutrina de Rodolfo de Camargo Mancuso aponta: “Se o autor é substituto processual de todos os interesses, não se pode limitar os efeitos de sua decisão judicial àqueles que estejam domiciliados no estrito âmbito da competência territorial do juiz” (2002. p. 313).

O que se extrai do assunto e pretende-se colocar em debate, em uma breve análise, de toda a contextualização ora trazida, é que as exceções proce-dimentais (execução provisória e tutela antecipada) têm sido desnaturadas e passaram a constituir regras, o que pode implicar violação ao devido proces-so legal dos sujeitos demandados, os quais também têm direito à tutela juris-dicional efetiva e à segurança jurídica, por meio da aplicação dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade às regras de processo e de competência (princípios que decorrem do devido processo legal substancial).

De fato, no atual estágio de desenvolvimento de regras processuais, so-bremaneira quando há direitos coletivos lato sensu envolvidos em causas que comportam execuções individuais de substituídos – notadamente na hipóte-se de existirem direitos individuais homogêneos –, as regras de competência têm sido utilizadas em favor do titular de direitos que normalmente são con-siderados hipossuficientes, já que os sujeitos passivos de demandas coletivas são, em sua maioria das vezes, sociedades de grande porte, conglomerados econômicos e o próprio Poder Público, os quais, em razão da extensão e da frequência de atuação, geram proporcionalmente mais danos do que aqueles sujeitos individualmente considerados.

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Para facilitar a satisfação de direitos do indivíduo isoladamente, a le-gislação foi adaptada ao transferir a competência para o local de seu domicí-lio em diversos dispositivos compreendidos em microssistemas processuais. São nesse sentido as regulamentações, para exemplificar, das seguintes leis: i) no CDC, conforme já apontado pelo art. 101, II; ii) no Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) no art. 80; e iii) no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) em seu art. 147, I.

A redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC foi introduzida ao Código com a mesma filosofia: facilitar a atuação do exequente para satisfa-ção de seu crédito ou tutela de seu direito.

Entretanto, a tutela jurisdicional também deve ser adequada aos réus em demandas coletivas, na medida da desigualdade já pressuposta pelo le-gislador que milita em favor dos autores (como regras de inversão do ônus da prova, possibilidade de escolha de foros, entre outros) em ações dessa natureza de relação jurídica como indicado adiante.

5 pOnderações Finais e as dispOsições dO nOvO CódigO de prOCessO Civil (nCpC) sObre O assuntO

Ocorre, contudo, que a “flexibilização” da competência para execuções individuais em ações coletivas – notadamente em casos de direitos indivi-duais homogêneos – têm tomado proporções que exorbitam os limites da lei, como no caso abordado ao longo do presente estudo, o qual, inclusive, trata de execução provisória de tutela antecipada em que não há título executivo8. Passa-se a ser crível que qualquer foro é competente para liquidar decisão proferida em demanda coletiva, diante da premissa de que os demandantes substituídos são hipossuficientes, sendo que as regras fixadoras de compe-tência vinculariam apenas as relações jurídicas processuais individuais.

De fato, o legislador, ao prever foros diversos daqueles enumerados nos arts. 94 e seguintes, do CPC, para o processamento de demandas decor-rentes de lides multitudinárias, pretendeu adaptar a lei à realidade de um país de dimensões continentais para facilitar o acesso ao Poder Judiciário, em atenção ao princípio da efetividade da tutela jurisdicional.

8 Ao contrário da execução provisória, é comum ao jurisdicionado brasileiro ser portador de um título executivo que lhe reconheça direitos, mas cuja efetividade inexista em razão dos subterfúgios utilizados pelos executados para frustrar a satisfação da tutela jurisdicional.

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As macrolides, por certo, se traduzem como realidade que se acentuou no cenário jurisdicional brasileiro em atendimento às espécies de relação ju-rídica existentes na atualidade com acentuada característica global e de ho-mogeneidade.

Contudo, o legislador não derrogou as normas de competência pré--existentes e que sempre regeram o sistema processual, tampouco permitiu que as escolhas de foros pudessem ocorrer conforme a discricionariedade dos demandantes, já que deve ser preservada a segurança jurídica dos de-mandados igualmente em observância ao devido processo legal.

Em outras palavras, não se proporcionou a existência de verdadeira “loteria” para o processamento e julgamento de demandas individuais de-correntes de títulos executivos coletivos, até porque – mesmo com a existên-cia de regras legais específicas para as referidas demandas individuais na fase de liquidação – o demandado em ações coletivas está sujeito às diversas interpretações que os diversos juízos das execuções e/ou liquidações podem realizar em decorrência de análise de um mesmo título executivo.

Porque genéricas as condenações decorrentes de ações coletivas (art. 95 do CDC), por vezes, os parâmetros das execuções individuais serão definidos quando da decisão de impugnação ao cumprimento de sentença ou até mesmo em âmbito recursal, o que, de fato, retira a uniformidade de decisões sobre o mesmo tema e pode causar verdadeira insegurança jurídica aos demandados.

Ou seja, o sistema de processo coletivo, majoritariamente previsto no CDC, preconiza pela uniformidade da decisão coletiva que deve ter eficácia erga omnes, contudo, cria uma não uniformidade ao permitir que diversos juízos liquidem e executem as execuções individuais de um único título exe-cutivo, os quais deverão decidir, por exemplo, se determinado exequente é substituído, qual a prova necessária para gozar dos efeitos do título executi-vo coletivo, entre outras matérias que influem decisivamente no resultado da execução provisória.

É isso que aponta Ricardo de Barros Leonel quando contextualiza que as liquidações individuais se darão, em sua generalidade, por artigos (pres-supondo a necessidade de produção de provas):

É provável também que, na maioria dos casos, ao menos com relação aos interesses individuais homogêneos, a liquidação seja realizada por artigos, dada a necessidade de provar fato novo para determinar o valor individual

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da condenação. [...] A dificuldade refere-se à existência de diversos lesados e à necessidade de especificação dos danos individualmente sofridos, pois a condenação genérica apenas fixa a responsabilidade quanto aos danos causados. (2002. p. 383/385)

Sobre o assunto, Fredie Didier, ao citar Teori Albino Zavascki, aponta pela existência de uma “liquidação imprópria” quando se discutem direitos individuais homogêneos:

A liquidação da sentença de condenação genérica, em tais casos, tem as suas peculiaridades.

A mais importante delas, sem dúvida, diz respeito à extensão do seu thema decidendum: nesta liquidação, apurar-se-ão a titularidade do crédito e o respectivo valor. Não se trata de liquidação apenas para a apuração do quantum debeatur, pois. Em razão disso, foi designada de “liquidação im-própria”. Trata-se de lição assente na doutrina brasileira.

Nesta liquidação, serão apurados: a) os fatos e alegações referentes ao dano individualmente sofrido pelo demandante; b) a relação de causalidade en-tre esse dano e o fato potencialmente danoso acertado na sentença; c) os fatos e alegações pertinentes ao dimensionamento do dano sofrido. (2008. p. 407)

Ainda que se considere que as partes que figuram no polo passivo das demandas coletivas possuam, em regra, condições para o amplo exercício de defesa, a legalidade também deve ser observada em relação a elas nas mes-mas condições do que é feito quanto aos hipossuficientes, ou seja, na propor-ção da desigualdade da relação jurídica processual já prevista pelo legislador.

Como ensina Humberto Theodoro Júnior, o processo consubstancia-se em estabelecimento de relação jurídica que deve gerar direitos e obrigações entre o juiz e as partes, e não apenas a um dos polos processuais:

Esse método, porém, não se resume apenas na materialidade da sequência de atos praticados em juízo; importa, também e principalmente, no estabe-lecimento de uma relação jurídica de direito público geradora de direitos e obrigações entre o juiz e as partes, cujo objetivo é obter a declaração ou a atuação da vontade concreta da lei, de maneira a vincular, a esse provimen-to, em caráter definitivo, todos os sujeitos da relação processual. (2001. p. 37)

Em sentido contrário, será defendida uma legalidade processual para umas das partes diferente da legalidade processual de outra parte da relação

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jurídica. Contudo, essa realidade não é ínsita ao processo, que se figura como verdadeira garantia para as partes, a fim de possibilitar a antevisão dos atos processuais e perante qual juízo eles poderão ser processados, limitando a atuação das próprias partes e do juiz, característica inerente do Estado Demo-crático de Direito, como ensina Cândido Rangel Dinamarco:

Constitui segurança para todos o sistema de limitações ao exercício do po-der pelo juiz, de deveres deste perante as partes e de oportunidades defini-das na lei e postas à disposição delas, para atuação de cada uma no proces-so segundo seu próprio juízo de conveniência (regras sobre procedimento, prova, recursos, etc.). A efetiva observância dessas limitações e deveres, mais a oferta dessas oportunidades mediante a racional interpretação e efetivação das regras formais do processo, são inerências da legalidade do Estado de direito. (2008, p. 360)

Quanto às disposições do novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.015/2015), cujo efeito ainda está suspenso em razão de considerável vacatio legis9 devido às dimensões das alterações processuais, arrisca-se a afir-mar que não há modificações quanto às ponderações dispostas na presente proposta reflexiva.

Com efeito, o art. 516 do NCPC10, que trata do tema, praticamente re-produz a atual redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC ainda vigente. Isso porque prevê em seus incisos as mesmas hipóteses de competência para os casos de cumprimento de sentença e apenas acrescenta, no inciso III, a pos-sibilidade de cumprimento de sentença de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo11 como decisão que poderá ser cumprida perante o juízo cível com-

9 A redação do art. 1.045 dispõe ser de um ano o prazo da vacatio legis: “Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da data de sua publicação oficial”.

10 “Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: I – os tribunais, nas causas de sua competência originária; II – o juízo que decidiu a causa

no primeiro grau de jurisdição; III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.”

11 Contudo, é interessante ponderar que a previsão de cumprimento de sentença de acórdão de Tribunal Marítimo é juridicamente impossível na medida em que a Presidenta Dilma vetou o art. 515, X, do NCPC, que atribuía à referida decisão colegiada a natureza jurídica de título executivo judicial. Adicione-se, ademais, que esse tipo de acórdão, tampouco, é

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petente, a semelhança do que já ocorria com a sentença penal condenatória, a arbitral e a estrangeira.

Ademais, adicione-se que outra alteração prevista em referido art. 516, parágrafo único, do NCPC traz a hipótese de competência concorrente em cumprimento de sentença para os casos de obrigação de fazer ou de não fa-zer, a semelhança do que ocorria apenas com as obrigações de pagamento de quantia, quais sejam: atual domicílio do devedor, local no qual estejam bens sujeitos à execução, local onde deva ser cumprida a obrigação de fazer ou de não fazer.

Em todas as hipóteses citadas, a remessa dos autos será solicitada ao juízo de origem, conforme previsão que já está expressa na atual redação do art. 475-P, parágrafo único, do CPC vigente. Disso se extrai que o juízo da causa principal, efetivamente, é o verdadeiro “guardião” da exequibilidade e/ou cumprimento das decisões provisórias, já que o NCPC reiterou previ-são normativa, que ainda está vigente, o que demonstra a real intenção do legislador em centralizar, no juízo de origem, uma espécie de controle de competência, a fim de resguardar as regras de divisão de julgamento.

Mais precisamente, no que se refere ao caso em comento, cumprimento provisório da sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, o NCPC, precisamente, prevê, na redação de seu art. 52212, que o cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente. Com efeito, o juízo competente, conforme assinalado anteriormente, é o do art. 516 do NCPC.

Portanto, conclusivamente ao debate ora exposto decorrente da apli-cação das regras de competência do art. 475-P, parágrafo único, do CPC (ou das disposições prospectivas dos arts. 516 e 522, ambos do NCPC) às decisões proferidas em caráter precatório infere-se que o intérprete deve preferir pela solução que respeite o princípio da legalidade e a teleologia da norma pro-cessual, a qual possui o condão de facilitar a exequibilidade do crédito, bem

título executivo extrajudicial, já que não está previsto no art. 784 do NCPC. Disso se conclui que o veto, de fato, implicou “letra morta” de referida competência para cumprimento de sentença de acórdão de Tribunal Marítimo que não reúne as condições de executividade, como liquidez, certeza e exigibilidade, quer seja porque não é título executivo judicial, quer seja porque não é título executivo extrajudicial.

12 “O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente.”

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como a correta satisfação da tutela jurisdicional, mas sem deixar de respeitar a observância do princípio da legalidade para ambas as partes.

A teleologia da discussão ora proposta se alinha, inclusive, com as dis-posições do NCPC, para o qual as regras de competência em decisões de caráter provisória devem se orientar pela jurisdição do juízo competente, conforme apontado ao longo do presente arrazoado diante das ponderações expostas com amparo na legislação processual individual e coletivas vigen-tes, as quais conferem ao jurisdicionado segurança jurídica de processamento de causa perante o juízo adequado para a apreciação do feito.

Não há como acolher a tese, nesses termos, de que as normas de com-petência são escolhidas pela discricionariedade do jurisdicionado para o fim de buscar determinado juízo que lhe pareça mais propício a emanar decisão mais favorável, até mesmo diante do fato de que, no caso em análise, não existe título executivo a ser executado por juízo estranho às peculiaridades da lide que possui apenas decisão a título precário (no âmbito de antecipação da tutela jurisdicional).

reFerênCias

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Doutrina

Do

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Penal

uma vitória pírriCa: O JulgamentO da arguiçãO de desCumprimentO

de preCeitO Fundamental nº 347rômulo de andrade moreira

Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia, Professor de Direito Processual Penal da Universidade Salvador –

Unifacs, na Graduação e na Pós-Graduação (Especialização em Direito Processual Penal e Penal e Direito Público), Pós-Graduado, Lato Sensu,

pela Universidade de Salamanca/Espanha (Direito Processual Penal), Especialista em Processo pela Universidade Salvador – Unifacs (Curso

então coordenado pelo Jurista J. J. Calmon de Passos), Membro da Association Internationale de Droit Penal, da Associação Brasileira de Professores de Ciências Penais, do Instituto Brasileiro de Direito

Processual e Membro Fundador do Instituto Baiano de Direito Processual Penal (atualmente exercendo a função de Secretário), Associado ao

Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, Integrante, por quatro vezes, de bancas examinadoras de concurso público para ingresso na carreira do Ministério Público do Estado da Bahia, Professor Convidado dos Cursos

de Pós-Graduação dos Cursos JusPodivm (BA), FUFBa e Faculdade Baiana. Autor das obras Curso temático de direito processual penal

(2010) e Comentários à Lei Maria da Penha (2014) (este em coautoria com Issac Guimarães); A prisão processual, a fiança, a liberdade provisória

e as demais medidas cautelares (2011), Juizados especiais criminais – O procedimento sumaríssimo (2013), Uma crítica à teoria geral do processo e A nova lei de organização criminosa, além de coordenador do livro Leituras complementares de direito processual penal (2008). Participante em várias

obras coletivas. Palestrante em diversos eventos realizados no Brasil.

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Em junho de 2015, o Partido Socialismo e Liberdade ajuizou Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347, pedindo que se reco-nheça a violação de direitos fundamentais da população carcerária e, diante disso, imponha a adoção de providências para sanar lesões a preceitos fun-damentais previstos na Constituição Federal, decorrentes de atos e omissões dos poderes públicos da União, dos estados e do Distrito Federal no trata-mento da questão prisional no País.

Segundo o partido político, a ação constitucional é o instrumento mais adequado para este fim, na medida em que não faltam normas jurídicas ga-rantindo o respeito aos direitos humanos dos presos, mas sim “vontade polí-tica” para implementá-las:

Não há cenário fático mais incompatível com a Constituição do que o sistema prisional brasileiro. O problema é sistêmico e decorre de uma mul-tiplicidade de atos comissivos e omissivos dos Poderes Públicos da União, dos estados e do Distrito Federal. A gravidade do quadro e a inapetência dos poderes políticos, da burocracia estatal e das demais instâncias jurisdicionais para enfrentá-lo evidenciam a necessidade de intervenção do STF.

Na inicial, sustenta-se que o equacionamento de que o “estado de coi-sas inconstitucional” do sistema penitenciário envolverá necessariamente a realização de despesas voltadas à criação de novas vagas prisionais, à melho-ria das condições dos estabelecimentos existentes e dos serviços prestados aos detentos. Para exemplificar o “abismo” entre norma e realidade, são lis-tados alguns dos principais problemas do sistema carcerário, como superlo-tação (que qualifica de mais grave), dificuldade de acesso à Justiça, falta de assistência aos detentos, direito à educação e ao trabalho e tortura, sanções ilegítimas e uso da força.

Também é apontado o elevado número de presos provisórios como um dos mais graves problemas do sistema prisional: “Há consenso de que muitas dessas pessoas não deveriam estar presas. Existe, no Brasil, uma banalização na decretação das prisões processuais, o que, além de violar os direitos à li-berdade e à presunção de inocência, agrava significativamente o quadro de superlotação do nosso sistema carcerário”. Entre as medidas que o Supremo deve impor aos poderes públicos, segundo o Partido Político, estão a elabo-ração e implementação de planos pela União e Estados, sob monitoramento judicial; a realização de audiências de custódia; a exigência de fundamenta-ção das decisões que não aplicarem medidas cautelares diversas da prisão e a imposição de penas proporcionais à gravidade do ilícito cometido.

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Pede-se, por fim, a concessão de liminar para que, entre outras medi-das, todos os juízes e tribunais motivem expressamente as razões que im-possibilitam a aplicação das medidas cautelares alternativas à prisão e pas-sem a considerar fundamentadamente o dramático quadro fático do sistema penitenciário brasileiro no momento de concessão de cautelares penais, na aplicação da pena e durante o processo de execução penal. No mérito, o par-tido pede ao Supremo que julgue a ação procedente e determine ao Governo Federal que elabore e encaminhe à Corte, em três meses, um plano nacional visando à superação dos problemas apontados, dentro de um prazo de três anos. O Relator é o Ministro Marco Aurélio.

Pois bem.

No dia 27 de agosto de 2015, o Plenário do Supremo Tribunal Federal iniciou o julgamento da cautelar na referida arguição de descumprimento de preceito fundamental. Após o voto do Relator da ação, o julgamento foi suspenso. O Relator votou no sentido de determinar aos Juízes e Tribunais que lancem, em casos de determinação ou manutenção de prisão provisória, a motivação expressa pela qual não aplicam medidas alternativas à privação de liberdade; que passem a realizar, em até 90 dias, audiências de custódia, com o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contados do momento da prisão; que considerem, fun-damentadamente, o quadro dramático do sistema penitenciário brasileiro no momento de concessão de cautelares penais, na aplicação da pena e durante o processo de execução penal; e que estabeleçam, quando possível, penas al-ternativas à prisão. À União, o Relator determina que libere o saldo acumula-do do Fundo Penitenciário Nacional para utilização na finalidade para a qual foi criado, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos.

O Ministro Marco Aurélio observou que o tema do sistema prisional está na “ordem do dia” do Tribunal, e tem sido matéria de várias ações, como a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5170, que discute direito de inde-nização de presos por danos morais, o Recurso Extraordinário nº 592581, que discute a possibilidade de o Judiciário obrigar os estados e a União a reali-zarem obras em presídios, e a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5356, sobre a inconstitucionalidade de norma que estabelece o bloqueio de sinal de rádio e comunicação em área prisional.

De acordo com o Ministro, o Brasil tem a terceira maior população car-cerária do mundo, que ultrapassava, em maio de 2014, 711 mil presos: “Com o déficit prisional ultrapassando a casa das 206 mil vagas, salta aos olhos o

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problema da superlotação, que pode ser a origem de todos os males”, dis-se, assinalando que a maior parte desses detentos está sujeita a condições como superlotação, torturas, homicídios, violência sexual, celas imundas e insalubres, proliferação de doenças infectocontagiosas, comida imprestável, falta de água potável, de produtos higiênicos básicos, de acesso à assistên-cia judiciária, à educação, à saúde e ao trabalho, bem como amplo domínio dos cárceres por organizações criminosas, insuficiência do controle quanto ao cumprimento das penas, discriminação social, racial, de gênero e de orien-tação sexual. Diante disso, segundo o Relator, no sistema prisional brasileiro ocorre violação generalizada de direitos fundamentais dos presos no tocante à dignidade. “O quadro é geral, devendo ser reconhecida a inequívoca falên-cia do sistema”, afirmou.

Nesse contexto, o Ministro declarou que, além de ofensa a diversos princípios constitucionais, a situação carcerária brasileira fere igualmente normas reconhecedoras dos direitos dos presos, como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e a Convenção contra a Tortura, além da pró-pria Lei de Execução Penal. De acordo com o Relator, a violação aos direitos fundamentais nas prisões tem reflexos também na sociedade e não serve à ressocialização. “A situação é, em síntese, assustadora: dentro dos presídios, violações sistemáticas de direitos humanos; fora deles, aumento da crimina-lidade e da insegurança social”, disse.

Para o Ministro Marco Aurélio, o afastamento do estado de inconstitu-cionalidade pretendido na ação só é possível diante da mudança significativa do Poder Público. “A responsabilidade pelo estágio ao qual chegamos não pode ser atribuída a um único e exclusivo Poder, mas aos três – Legislativo, Executivo e Judiciário –, e não só os da União, como também os dos estados e do Distrito Federal”, afirmou. Há, segundo ele, problemas tanto de formu-lação e implementação de políticas públicas quanto de interpretação e aplica-ção da lei penal. “Falta coordenação institucional.” Afirmou, ainda, ser papel do Supremo diante desse quadro é retirar as autoridades públicas do estado de letargia, provocar a formulação de novas políticas públicas, aumentar a deliberação política e social sobre a matéria e monitorar o sucesso da imple-mentação das providências escolhidas, assegurando a efetividade prática das soluções propostas. “Ordens flexíveis sob monitoramento previnem a supre-macia judicial e, ao mesmo tempo, promovem a integração institucional”, concluiu.

No dia 3 de setembro de 2015, foi retomado o julgamento da medida cautelar. Nesta oportunidade, o Ministro Edson Fachin seguiu, em parte, o

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voto do Ministro Marco Aurélio, considerando que a ação deve ser admitida e, quanto à cautelar, propôs o acolhimento de pedidos referentes a audiência de custódia, mutirão carcerário e fundo penitenciário. Ele votou pela conces-são da medida para determinar a todos os juízes e tribunais que passem a realizar audiências de custódia, no prazo máximo de 90 dias, de modo a via-bilizar o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até 24 horas contadas do momento da prisão. O Ministro também entendeu que o Conselho Nacional de Justiça deve coordenar mutirões carcerários, “a fim de viabilizar a revisão de todos os processos de execução penal em curso no País que envolvam a aplicação de pena privativa”. Em seu voto, o Ministro Fachin determinou, ainda, o descontingenciamento das verbas existentes no fundo penitenciário, cabendo à União providenciar o cumprimento da decisão em até 60 dias a partir da publicação do acórdão.

O Ministro Luís Roberto Barroso também votou no sentido da con-cessão da cautelar quanto aos três pontos, apenas ampliando o prazo de cum-primento para um ano e acrescentando que também os Tribunais de Justiça realizem mutirões carcerários. Além disso, concedeu de ofício a cautelar para determinar que o Governo Federal encaminhe ao Relator, no prazo de um ano, diagnóstico da situação em termos quantitativos e pecuniários, para que a Corte tenha elementos adequados para julgar o mérito da ação.

O Ministro Teori Zavascki votou pelo deferimento da cautelar para determinar a realização de audiências de custódia o mais breve possível, se-gundo os critérios do Conselho Nacional de Justiça, que futuramente deverá normatizar a questão. Também concedeu o pedido quanto ao fundo peni-tenciário, a fim de que não ocorra contingenciamento pelo Poder Executivo. “Aparentemente o problema está na falta de projetos, e não na falta de di-nheiro, mas essa tese eu já ouvi em outras oportunidades, e concordo que seja uma medida adequada”, disse.

Finalmente, no último dia 9 de setembro de 2015, o Supremo Tribunal Federal concedeu parcialmente a cautelar, a fim de determinar aos Juízes e Tri-bunais que passem a realizar audiências de custódia, no prazo máximo de 90 dias, de modo a viabilizar o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até 24 horas contadas do momento da prisão. Os Ministros tam-bém entenderam que deve ser liberado, sem qualquer tipo de limitação, o sal-do acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos.

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Por maioria dos votos, a Corte acolheu proposta do Ministro Luís Roberto Barroso para determinar à União e ao Estado de São Paulo que for-neçam informações sobre a situação do sistema prisional. Vencidos, neste ponto, os Ministros Marco Aurélio (Relator), Cármen Lúcia e o Presidente da Corte, Ministro Ricardo Lewandowski. Durante a sessão, votaram seis Minis-tros: Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Celso de Mello, Ricardo Lewan-dowski e Gilmar Mendes.

A Ministra Rosa Weber acompanhou o Relator ao deferir os pedidos quanto à audiência de custódia, com observância dos prazos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça e ao contingenciamento de recursos, aco-lhendo o prazo de 60 dias, sugerido pelo Ministro Edson Fachin. O Ministro Luiz Fux seguiu integralmente o voto do Relator. Ele considerou que alguns Juízes não motivam suas decisões, apesar da exigência legal. “Portanto, há um estado de coisas inconstitucional”, disse o Ministro, ao ressaltar a impor-tância de o Supremo analisar a questão, uma vez que o acórdão da Corte deve ter efeito pedagógico.

Ao votar no mesmo sentido do Relator, a Ministra Cármen Lúcia ressal-tou a necessidade de haver um diálogo com a sociedade a respeito do tema. Segundo ela, existem, no País, 1.424 unidades prisionais, das quais apenas quatro são federais. “Ou seja, os estados respondem pelos presos que deve-riam ser de responsabilidade da União”, afirmou ao apresentar alguns dados sobre o sistema. “Os números demonstram o estado de coisas inconstitucio-nal”, acrescentou. Ela citou a experiência de parceria público-privada em pe-nitenciária de Minas Gerais. “Apesar dos problemas, acho completamente diferente de tudo o que eu já visitei no País.” De acordo com a Ministra, a situação de urgência deve ser superada. Novos modelos devem ser pensados para se dar cumprimento às leis. “Faliu esse tipo de penitenciária que vem sendo feito.”

O Ministro Gilmar Mendes votou pelo deferimento do pedido cautelar quanto à obrigação da realização das audiências de custódia e em relação ao descontingenciamento do fundo penitenciário. Ele avaliou que a utilização da tecnologia da informação na execução penal apresentaria muitos bene-fícios, entre eles estatísticas confiáveis da situação prisional do País, tendo em vista que atualmente existem dados incompletos e defasados, afirmando não haver dúvida de que os Juízes devem considerar a situação prisional na decisão judicial. Nesse sentido, propôs a criação de plano de trabalho para oferecer treinamento aos juízes sobre o sistema prisional e medidas alternati-vas ao encarceramento.

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O Relator foi acompanhado integralmente pelo Ministro Celso de Mello. Para ele, os recursos direcionados ao sistema prisional não pode ter outra destinação. “Os recursos financeiros que integram o fundo penitenciá-rio nacional têm uma vocação própria, uma destinação específica e com essas medidas de bloqueio de recursos subverte-se a função precípua que justifica a imposição da sanção penal”, destacou o Ministro Celso de Mello.

O Ministro Ricardo Lewandowski seguiu totalmente o voto do Relator. Assim como outros Ministros, ele reconheceu, no caso, o “estado de coisas inconstitucional”, ao explicar que essa foi uma medida desenvolvida pela Corte Nacional da Colômbia a qual identificou um quadro insuportável e permanente de violação de direitos fundamentais a exigir intervenção do Po-der Judiciário de caráter estrutural e orçamentário. “Essa é uma interferência legítima do Poder Judiciário nessa aparente discricionariedade nas verbas do fundo penitenciário brasileiro”, afirmou.

Por que uma “vitória de Pirro”? Porque o Supremo Tribunal Federal apenas concedeu parcialmente a cautelar em relação às audiências de custó-dia, cuja previsão já está estampada no art. 7º da Convenção Americana dos Direitos Humanos (e implementadas na maioria dos Estados) e para deter-minar o descontingenciamento do fundo penitenciário (o que já está, de certa forma, disposto na lei – Funpen –, falta cumprir). Ou seja, das oito cautelares requeridas na petição inicial, apenas duas foram deferidas.

Assim, nada obstante todos os Ministros reconhecerem o “estado de coisas inconstitucional” em que se encontra o sistema penitenciário brasilei-ro, ignoraram solenemente a imposição da elaboração e implementação de planos pela União e Estados, sob monitoramento judicial, além da exigência de fundamentação das decisões que não aplicarem medidas cautelares di-versas da prisão e a imposição de penas proporcionais à gravidade do ilícito cometido.

Ademais, também não se tratou da questão relativa à exigência de mo-tivação expressa das decisões que impossibilitam a aplicação das medidas cautelares alternativas à prisão e passem a considerar fundamentadamente o dramático quadro fático do sistema penitenciário brasileiro no momento de concessão de cautelares penais, na aplicação da pena e durante o processo de execução penal.

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Aguardemos, então, o julgamento do mérito. Por enquanto, repetimos apenas uma “vitória de Pirro”1.

1 A expressão “vitória de Pirro” vem de uma história que se conta a respeito do Rei de Épiro (319-272 a.C.), no noroeste da Grécia, desde a Batalha de Ásculo em 279 a.C. Quando alguém lhe deu os parabéns pela vitória sobre as legiões romanas (ele foi um dos raros generais que, efetivamente, derrotaram um exército romano, nada obstante à custa de muitos soldados), Pirro respondeu: “Outra vitória dessas vai ser minha ruína!”.

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Jurisprudênciacível

STJSuperior Tribunal de JuSTiça

AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 742.655 – RJ (2015/0167769-7)Relator: Ministro Moura RibeiroAgravante: United Airlines Inc.Advogados: Alfredo Zucca Neto e outro(s)

Leonardo Romeiro BezerraAgravado: Marcus Vinicius Gomes BitencourtAdvogados: Otávio Simões Brissant e outro(s)

Tarcisio Burlandy de Melo

EMENTA

Civil e prOCessual Civil – agravO regimental nO agravO em reCursO espeCial – indenizaçãO

pOr danOs mOral e material pela perda de uma CHanCe – pOssibilidade de deCidir

agravO em reCursO espeCial de FOrma mOnOCrátiCa – ObservÂnCia dO dispOstO

nO art. 254, i, dO ristJ – reCOnHeCimentO dOs alegadOs danOs pelas instÂnCias

Ordinárias – revOlvimentO dO arCabOuçO FátiCO-prObatóriO inadmissível – inCidênCia

da sÚmula nº 7 desta COrte – análise da

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divergênCia JurisprudenCial que tambÉm esbarra na menCiOnada sÚmula – reCursO nãO prOvidO

1. Analisar o pleito de afastamento ou redução de indenização por danos moral e material pela perda de uma chance que o autor diz ter suportado esbarra no enunciado da Súmula nº 7 desta Corte, uma vez que demanda o inevitável revolvimento do arcabouço fático-proba-tório carreado aos autos.

2. A necessidade de reexame de matéria fática probatória impede a admissão do recurso especial que se funda em divergência jurispru-dencial.

3. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indi-cadas, acordam os Senhores Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu-nal de Justiça, por unanimidade, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente) e Marco Aurélio Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 03 de setembro de 2015 (data do Julgamento).

Ministro Moura Ribeiro Relator

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Ministro Moura Ribeiro (Relator):

Trata-se de agravo regimental interposto por United Airlines Inc. ques-tionando decisão monocrática de minha relatoria que negou provimento ao agravo em recurso especial, assim ementada:

CIVIL – PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – DANOS MORAIS E MATERIAIS – REDUÇÃO DO QUANTUM – IMPOS-SIBILIDADE – REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO – SÚ-MULA Nº 7 DO STJ – AGRAVO NÃO PROVIDO.

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Em seu recurso, a agravante sustenta que (1) a decisão não poderia ter sido proferida de forma monocrática, uma vez que o recurso que interpôs não foi inadmitido ou tido por prejudicado; (2) não há que se falar em reexa-me de provas; (3) inaplicável, ao caso, a teoria da perda de uma chance, na medida em que não foi demonstrado que havia oportunidades concretas de o autor celebrar negócios caso estivesse presente no congresso na cidade de São Francisco/EUA; (4) não houve comprovação do nexo causal e do alegado dano moral sofrido pelo autor; (5) a indenização fixada por danos morais e materiais (perda de uma chance) se mostra excessiva e por isso deve ser re-duzida; e, (6) demonstrou a alegada divergência.

Pleiteia, assim, que a decisão monocrática seja reconsiderada por esta Terceira Turma.

Contraminuta apresentada (e-STJ, fls. 426-443).

É o relatório.

EMENTA

Civil e prOCessual Civil – agravO regimental nO agravO em reCursO espeCial – indenizaçãO

pOr danOs mOral e material pela perda de uma CHanCe – pOssibilidade de deCidir agravO em reCursO espeCial de FOrma mOnOCrátiCa –

ObservÂnCia dO dispOstO nO art. 254, i, dO ristJ – reCOnHeCimentO dOs alegadOs danOs pelas

instÂnCias Ordinárias – revOlvimentO dO arCabOuçO FátiCO-prObatóriO inadmissível –

inCidênCia da sÚmula nº 7 desta COrte – análise da divergênCia JurisprudenCial que tambÉm esbarra

na menCiOnada sÚmula – reCursO nãO prOvidO1. Analisar o pleito de afastamento ou redução de indenização

por danos moral e material pela perda de uma chance que o autor diz ter suportado esbarra no enunciado da Súmula nº 7 desta Corte, uma vez que demanda o inevitável revolvimento do arcabouço fático-proba-tório carreado aos autos.

2. A necessidade de reexame de matéria fática probatória impede a admissão do recurso especial que se funda em divergência jurispru-dencial.

3. Agravo regimental não provido.

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VOTO

O Exmo. Sr. Ministro Moura Ribeiro (Relator):

O caso dos autos cuida de ação indenizatória ajuizada por Marcus Vinicius Gomes Bitencourt contra United Airlines Inc. em que ele sustenta a necessidade de ser reparado em danos morais e materiais (perda de uma chance) que sofreu pela ausência no evento denominado “Legal Aspects of Venture Financings in Brasil (Aspectos Legais de Capital de Risco)”, reali-zado em São Francisco – Califórnia/EUA, em razão de cancelamento de seu vôo e sua não recolocação em outro.

Em primeira instância, a ação foi julgada procedente para condenar a United Airlines Inc. ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de dano moral e R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) pelo dano material em razão da perda de uma chance, devidamente corrigidos e com juros de mora de 1% ao mês (e-STJ, fls. 150-153).

Interposto recurso de apelação pela United e adesivo por Marcus Vini-cius, o eg. Tribunal de origem entendeu por negar provimento ao principal e dar provimento ao adesivo para majorar a indenização por dano moral para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) (e-STJ, fls. 276-295).

Contra essa decisão, United ingressou com recurso especial que não foi admitido em razão dos óbices do enunciado da Súmula nº 7 desta Corte; do art. 541, parágrafo único, do CPC; e, do art. 255, § 1º, do RISTJ (e-STJ, fls. 361-366).

Inconformada, United manejou, então, agravo em recurso especial que não foi provido, ensejando, assim, o presente regimental (e-STJ, fls. 406-408).

Inicialmente, há que se ressaltar que o art. 254, I, do RISTJ confere ao relator a possibilidade de proferir decisão no sentido de dar ou negar provi-mento ao agravo interposto contra a inadmissão do recurso especial inter-posto.

No mais, o presente agravo não se revela apto a alterar o conteúdo do julgado impugnado em razão do óbice do enunciado da Súmula nº 7 desta Corte.

É que, ao analisar o contexto fático-probatório constante dos autos, as instâncias de origem bem reconheceram os danos moral e material pela per-da de uma chance.

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Pela r. sentença ficou consignado que:

Tratando-se de matéria aqui deduzida sobre relação de consumo, de acor-do com o art. 3º, § 2º, da Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumi-dor – CDC), são aplicáveis as normas e princípios preconizados na aludida lei. Destaca-se, desde logo, o seu art. 14, que prevê a responsabilidade ob-jetiva do fornecedor de serviços, somente se eximindo de responsabilida-de quando provar a existência de uma das hipóteses excludentes do nexo causal (art. 14, § 3º, I e II).

[...]

No caso em tela restou incontroverso o cancelamento do vôo do autor, bem como que não foi redirecionado para outro voo a tempo de proferir a palestra marcada para o dia 04.12.2013.

A empresa ré se limitou a informar em sua contestação que o cancelamento do vôo ocorreu por questões de segurança, não tendo, no entanto, juntado qualquer documento comprovando tal fato.

A empresa ré também não comprovou que redirecionou a parte autora para outro vôo a tempo de chegar ao destino para proferir a tão esperada palestra.

[...]

A Ré não se preocupou em atender às legítimas expectativas despertadas no con-sumidor, deixando de adotar as providências necessárias para que os fins comuns previstos no negócio jurídico, o que ofende o princípio da boa-fé objetiva por viola-ção de dever anexo ao contrato.

Em outros termos, o aludido inadimplemento contratual, assim como o modo pelo qual atuou a parte ré, afronta os princípios da boa-fé objetiva e da confiança, impedindo a obtenção das vantagens provenientes do con-trato, explorando a vulnerabilidade jurídica e econômica da parte Autora, ávida por conforto e segurança no momento do repouso.

[...]

Por derradeiro, passo a examinara indenização por dano material, tendo como base a teoria da perda de uma chance.

É oportuno ressaltar que ao contrário do lucro cessante a perda de uma chance não necessita de prova concreta para sua configuração, haja vis-ta que no lucro cessante deve-se ter um parâmetro inicial para fixação da perda, enquanto na segunda a perda foi da oportunidade, não havendo mensuração pretérita para sua quantificação.

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A única premissa que se deve ter em mente é se a suposta chance era séria e real, proporcionando a parte autora oportunidade concreta negada e que possuía grande probabilidade de acontecer, mas que foi interrompida por fato alheio de terceiro.

[...]

No caso em tela restou sobejamente comprovada a perda concreta de maior visibi-lidade do autor perante a comunidade internacional, bem como a possibilidade de captação de novos clientes para seu portfólio, sendo necessário ressaltar a magni-tude do evento, tendo em vista os palestrantes constantes do documento de fl. 73.

Se não bastasse, a possibilidade de demonstração da capacidade intelectual do autor para um número expressivo de pessoas (o evento seria transmitido pela internet para cerca de 700 empresas associadas ao organizador do evento) também deve ser levada em consideração para fixação do valor indenizatório.

Tendo como parâmetro o principio da razoabilidade e da proporcionali-dade e em especial a dimensão do evento como possibilidade concreta de captação de novos cliente, entendo que o dano material deve ser arbitrado em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).

Por sua vez, o eg. Tribunal a quo, ao majorar a indenização pelos danos morais suportados pelo autor e manter os danos materiais pela perda de uma chance, pontuou que:

Os danos morais estão perfeitamente delineados e a sua configuração, in re ipsa, no caso concreto, encontra respaldo na jurisprudência maciça deste Tribunal de Justiça.

[...]

Resta, pois, a análise da verba compensatória arbitrada e, a nosso sentir, razão assiste ao Autor.

DANOS MORAIS – FATOS JURÍDICOS RELEVANTES

O Autor é advogado, sendo sócio de escritório renomado, com conhecimento notó-rio e específico em investimento de risco. De tal sorte, o Autor foi o único brasilei-ro convidado para apresentar palestra em um dos mais importantes e respeitados eventos dos Estados Unidos sobre capital de risco (venture capital).

Ressalte-se que o evento para o qual fora convidado para palestrar o Autor era voltado para um público muito específico de investidores; logo, legítima a sua frus-

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tração pela não participação naquele que lhe proporcionaria projeção internacional em sua área de atuação.

Assevere-se, por oportuno, que todas as despesas do Autor foram custea-das pela organização do evento, inclusive os bilhetes aéreos.

Descabida, pois, a alegação da Ré de que caberia ao Autor o agendamento da data de embarque com maior antecedência.

Como convidado, sujeita-se o palestrante às determinações daquela.

Examinadas, porém, por outro ângulo as colocações da empresa aérea Ré, poder-se-ia concluir que o serviço de transporte aéreo dispensado aos con-sumidores brasileiros seria de risco e, o que é pior, a ser suportado pelo passageiro, sem qualquer ônus, o que não se admite.

DANO MORAL – FUNÇÕES PUNITIVA E PEDAGÓGICA

Levando-se em consideração o caráter punitivo-pedagógico do dano mo-ral, tem-se que o valor arbitrado no presente feito deve ser majorado.

[...]

Por tudo o que foi exposto, atento às particularidades do caso concreto, à gravidade e à reiteração do comportamento antijurídico da ré, bem assim, a sua condição econômica, considero pertinente a majoração da verba compensatória pelos danos morais sofridos pelo Autor, arbitrando-a em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

A PERDA DE UMA CHANCE

[...]

Como bem ressaltado no julgamento pelo e. Superior Tribunal de Justiça do REsp 1291247/RJ, sob a relatoria do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, “não se exige a comprovação da existência do dano final, bastando prova da certeza da chance perdida, pois esta é o objeto de reparação”, conforme ementa verbis:

[...]

Diante disso, a frustração de efetiva projeção internacional do Autor em sua área de atuação não pode ser entendida como mero dano hipotético, sendo razoável admitir que, com a participação no evento em questão, o Autor auferiria lucros direta e indiretamente decorrentes desta projeção internacional, a qual restou inviabilizada diante da perda da chance de exposição, em razão da má prestação de serviço ofe-recido pela Ré.

[...]

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No caso concreto, o Autor, profissional liberal de grande renome na área da ad-vocacia, com conhecimento notório em investimento de risco, teve frustrada a sua participação para palestrar para um público específico de investidores, em evento internacional de destaque que contava com cerca de mil participantes, entre inscri-tos presenciais e on line.

As probabilidades de fechamento de pelo menos uma boa oportunidade de trabalho (uma consultoria, um parecer), ou de aproximação/estreitamento de relacionamen-to profissional são, em muito, favoráveis ao Autor – justamente pelos atributos que o levaram a ser o único brasileiro convidado para palestrar no evento em tela.

[...]

À conta de tais fundamentos, voto no sentido de se negar provimento ao recurso de apelação cível interposto pelo Réu e de se dar provimento ao recurso adesivo, para, reformando-se parcialmente a r. sentença guerrea-da, majorar-se a verba compensatória dos danos morais para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

A respeito da aplicação da Teoria da Perda de uma Chance, Sérgio Cavalieri Filho, citando o professor Caio Mario, ensina que a reparação da per-da de uma chance repousa em uma probabilidade e uma certeza; que a chance seria realizada e que a vantagem perdida resultaria em prejuízo (Programa de responsabi-lidade civil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 75).

Além disso, o mesmo autor na já citada obra, doutrina que:

caracteriza-se essa perda de uma chance quando, em virtude da condu-ta de outrem, desaparece a probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a vítima, como progredir na carreira artística ou militar, arrumar um melhor emprego, deixar de recorrer de uma sentença desfavorável pela falha do advogado, e assim por diante. Deve-se, pois, entender por chance a probabilidade de se obter um lucro ou de se evitar uma perda. [...] Não se deve, todavia, olhar para a chance como perda de um resultado certo porque não se terá a certeza de que o evento se realiza-rá. Deve-se olhar a chance como perda da possibilidade de conseguir um resultado ou de se evitar um dano; devem-se valorar as possibilidades que o sujeito tinha de conseguir o resultado para ver se são ou não relevantes para o ordenamento. Essa tarefa é do juiz, que será obrigado a fazer, em cada caso, um prognóstico sobre as concretas possibilidades que o sujeito tinha de conseguir o resultado favorável (p. 77-78).

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No mesmo sentido, Sérgio Cavalieri Filho e Carlos Alberto Menezes Direito lecionam que:

[...] a doutrina francesa, aplicada com frequência pelos nossos Tribunais, fala na perda de uma chance (perte d’une chance), nos casos em que o ato ilícito tira da vitima a oportunidade de obter uma situação futura melhor, como progredir na carreira artística ou no trabalho, conseguir um novo emprego, deixar de ganhar uma causa pela falha do advogado etc. É pre-ciso, todavia, que se trate de uma chance real e séria, que proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura espera-da (Comentários ao Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, v. XIII, 2004. p. 95).

Dessa forma, para se chegar à conclusão diversa daquela a que chegou o eg. Tribunal a quo, ou seja, de que Marcus Vinícius, autor-recorrido, não su-portou danos moral e material pela perda de uma chance indenizáveis, seria inevitável o revolvimento do arcabouço fático-probatório carreado aos autos, procedimento sabidamente inviável nesta instância superior diante do óbice da Súmula nº 7 desta Corte.

“A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial.”

Esse, inclusive, é o posicionamento desta Corte:

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO – RE-CURSO ESPECIAL – TRIBUTÁRIO – ISS – INCIDÊNCIA SOBRE OS SERVIÇOS BANCÁRIOS CONGÊNERES – LEGITIMIDADE – SÚMULA Nº 424/STJ – VERIFICAÇÃO DO CORRETO ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE DESEMPENHADA NA LISTA DE SERVIÇOS – SUPOSTA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 333, I, DO CPC, 204 DO CTN E 3º DA LEF – QUESTÕES ATRELADAS AO REEXAME DE MATÉRIA DE FATO – ÓBI-CE DA SÚMULA Nº 7/STJ

[...]

3. O reexame de matéria de prova é inviável em sede de recurso especial (Súmula nº 7/STJ).

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg-AREsp 370.396/ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., Jul-gado em 03.12.2013, DJe 10.12.2013)

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Com efeito, no caso, não se mostraria plausível nova análise do con-texto fático-probatório por parte desta Corte Superior, a qual não pode ser considerada uma terceira instância recursal.

Por fim, o recurso também não merece ser conhecido em relação à ale-gada divergência jurisprudencial.

É que o reiterado posicionamento desta Corte é no sentido de que a necessidade de reexame de matéria fática impede a admissão do recurso es-pecial que também se funda em divergência jurisprudencial.

A propósito, vejam-se precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – EXE-CUÇÃO – CÁLCULOS APRESENTADOS PELO CREDOR – NECESSIDA-DE DE ACOLHIMENTO – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO – SÚMULA Nº 211/STJ – PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL – REVOLVI-MENTO FÁTICO-PROBATÓRIO – VEDAÇÃO – SÚMULA Nº 7/STJ

[...]

3. A necessidade de reexame de matéria fática impede a admissão do apelo especial fundado em divergência jurisprudencial.

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg-AREsp 457.678/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª T., Jul-gado em 02.10.2014, DJe 07.10.2014)

Recurso Especial. Civil. Responsabilidade civil. Cirurgião e anestesiologis-ta. Recurso com fundamento nas alíneas a e c do art. 105, III, da CF. Reexa-me fático-probatório. Súmula nº 07/STJ. Incidência.

[...]

O reexame do conjunto fático-probatório da causa obsta a admissão do recurso especial tanto pela alínea a, quanto pela c do permissivo constitu-cional.

Recurso especial não conhecido.

(REsp 765.505/SC, Relª Min. Nancy Andrighi, 3ª T., Julgado em 07.03.2006, DJ 20.03.2006, p. 271)

Além disso, há que se esclarecer, diversamente do alegado pela recor-rente United, que, nos acórdãos que indicou em seu inconformismo (AgRg--AREsp 656.877/TO; AgRg-AREsp 584.804/SP; e, AgRg-AREsp 542.197/RS)

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como justificativa para a redução da condenação moral, este relator não fi-xou o valor para o caso de cancelamento de vôo nos patamares neles men-cionados, mas, sim, negou provimento aos recursos das companhias aéreas que pleiteavam a redução dos valores fixados pelas instâncias de origem por entender que aos casos também incidiam o enunciado da Súmula nº 7 desta Corte.

Dessarte, mantém-se a decisão proferida, por não haver motivos para sua alteração.

Nessas condições, pelo meu voto, nego provimento ao agravo regimental interposto.

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2015/0167769-7

Processo Eletrônico AgRg-AREsp 742.655/RJ

Números Origem: 00200104895530160 01507132820138190001 1507132820138190001 201400488939 2014014429 201524557677 3012804157573 4071735112108

Em Mesa Julgado: 03.09.2015

Relator: Exmo. Sr. Ministro Moura Ribeiro

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. João Pedro de Saboia Bandeira de Mello Filho

Secretária: Belª Maria Auxiliadora Ramalho da Rocha

AUTUAÇÃO

Agravante: United Airlines Inc.

Advogados: Alfredo Zucca Neto e outro(s) Leonardo Romeiro Bezerra

Agravado: Marcus Vinicius Gomes Bitencourt

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Advogados: Otávio Simões Brissant e outro(s) Tarcisio Burlandy de Melo

Assunto: Direito do Consumidor

AGRAVO REGIMENTAL

Agravante: United Airlines Inc.

Advogados: Alfredo Zucca Neto e outro(s) Leonardo Romeiro Bezerra

Agravado: Marcus Vinicius Gomes Bitencourt

Advogados: Otávio Simões Brissant e outro(s) Tarcisio Burlandy de Melo

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia Terceira Turma, ao apreciar o processo em epí-grafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Terceira Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regi-mental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente) e Marco Aurélio Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator.

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STJSuperior Tribunal de JuSTiça

AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 643.074 – SC (2014/0329481-6)Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas CuevaAgravante: OTM Soluções Logísticas Ltda.Advogados: Giselis Darci KremerMoysés Borges Furtado NetoAgravado: Allianz Seguros S/AAdvogado: Pedro Elias NetoAgravado: Rafael Martins Ferreira de LimaAgravado: Roberto Martins Ferreira de LimaAgravado: Maria Rosemar MartinsAdvogados: Ciro José Silva de Morais

Giancarlos Buche Luciane Correa Mendes

Interes.: Mariano Galeano Florentin

EMENTA

agravO regimental nO agravO em reCursO espeCial – direitO Civil – respOnsabilidade Civil – aCidente de trÂnsitO – mOrte dO espOsO e genitOr dOs autOres –

indenizaçãO pOr danOs mOrais e materiais – viOlaçãO dO art. 535 dO CpC – nãO OCOrrênCia – arts. 26, 34, 38 e 39 dO CódigO de trÂnsitO brasileirO –

arts. 39 e 51 dO CódigO de deFesa dO COnsumidOr – art. 765 dO CódigO Civil – ausênCia de

prequestiOnamentO – sÚmula nº 211/stJ – dever de indenizar – reexame de prOvas – impOssibilidade –

sÚmula nº 7/stJ – independênCia entre JuízOs Cível e Criminal – CObertura seCuritária – danOs mOrais –

exClusãO expressa – sÚmula

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nº 83/stJ – valOr da indenizaçãO – razOabilidade – reduçãO – impOssibilidade – JurOs de mOra – termO iniCial – sÚmula nº 54/stJ

1. Não viola o art. 535 do Código de Processo Civil, nem importa negativa de prestação jurisdicional, o acórdão que adota, para a reso-lução da causa, fundamentação suficiente, porém diversa da pretendi-da pela parte recorrente, para decidir de modo integral a controvérsia posta.

2. A ausência de prequestionamento da matéria suscitada no re-curso especial, a despeito da oposição de embargos declaratórios, impe-de o conhecimento do recurso especial (Súmula nº 211/STJ).

3. A reforma do julgado demandaria o reexame do contexto fáti-co-probatório, procedimento vedado na estreita via do recurso especial, a teor da Súmula nº 7/STJ.

4. Consoante a jurisprudência consolidada nesta Corte Superior, a absolvição no juízo criminal, em virtude da relativa independência en-tre tal juízo e o juízo cível, apenas vincula este quando restar reconheci-da pelo primeiro a inexistência do fato ou restar evidenciada a negativa de autoria, o que não se verificou na hipótese dos autos.

5. A apólice de seguro contra danos corporais pode excluir da co-bertura tanto o dano moral quanto o dano estético, desde que o faça de maneira expressa e individualizada para cada uma dessas modalidades de dano extrapatrimonial. Precedentes.

6. A consonância do acórdão recorrido com a jurisprudência sedimentada nesta Corte Superior implica na incidência da Súmula nº 83/STJ, segundo a qual “não se conhece do recurso especial pela diver-gência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida”, que é aplicável a ambas as alíneas autorizadoras.

7. O Superior Tribunal de Justiça, afastando a incidência da Sú-mula nº 7/STJ, tem reexaminado o montante fixado pelas instâncias ordinárias a título de danos morais apenas quando irrisório ou abusi-vo, circunstâncias inexistentes no presente caso, em que não se pode afirmar exorbitante a indenização de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) fixada em prol dos dois filhos e da esposa de falecido em acidente de trânsito causado por empregado da empresa demandada e condutor de veículo de sua propriedade.

8. Em caso de responsabilidade extracontratual, os juros morató-rios fluem a partir do evento danoso (Súmula nº 54/STJ).

9. Agravo regimental não provido.

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Terceira Turma, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha e Paulo de Tarso Sanseverino votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 03 de setembro de 2015 (data do Julgamento).

Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva Relator

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva (Relator): Trata-se de agravo regimental interposto por OTM Soluções Logísticas Ltda. contra a de-cisão (e-STJ fls. 943/951) que conheceu do agravo para negar seguimento ao recurso especial.

Naquela oportunidade, concluiu-se pela impossibilidade de acolhida das pretensões da recorrente em virtude (i) da não configuração da aludida ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil; (ii) da ausência de prequestio-namento dos arts. 26, 34, 38 e 39 do Código de Trânsito Brasileiro, 39, inciso I, e 51, incisos I e IV, do Código de Defesa do Consumidor e 765 do Código Civil; (iii) da incidência das Súmulas nºs 7, 54 e 83/STJ e (iv) da razoabilida-de do valor fixado pela Corte local a título de indenização por danos morais (R$ 50.000,00 – cinquenta mil reais – para cada um dos três autores da deman-da, ora agravados).

Nas razões do presente regimental (e-STJ fls. 955/987), reitera a empre-sa agravante todas as considerações anteriormente expendidas nas razões de seu apelo nobre.

Sustenta, inicialmente, que ao contrário do que decidido, é patente a ofensa do art. 535 do CPC pelo tribunal de origem.

No mérito, aduz ser inaplicável ao caso a inteligência da Súmula nº 83/STJ bem como ser prescindível, para o acolhimento de suas pretensões recursais, o revolvimento da matéria fático-probatória.

No mais, sustenta ser exorbitante a indenização fixada, pugnando tan-to por sua redução quanto pela alteração do termo inicial dos juros de mora

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sobre tal quantia, sob a alegação, nesse particular, de ser inaplicável a Súmula nº 54/STJ.

Ao final, requer a reconsideração da decisão agravada ou, alternativa-mente, que seja o feito submetido ao órgão julgador colegiado competente.

É o relatório.

VOTO

O Exmo. Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva (Relator): A irresigna-ção não merece prosperar.

Os argumentos expendidos nas razões do regimental são insuficientes para autorizar a reforma da decisão agravada, que está assim fundamentada:

“Trata-se de agravo interposto por OTM Soluções Logísticas Ltda. contra decisão que inadmitiu o recurso especial. No apelo nobre, fundamentado no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, insurge-se a recorrente contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina.

Noticiam os autos que, em maio de 2011, Maria Rosemar Martins e seus fi-lhos Rafael Martins Ferreira de Lima e Roberto Martins Ferreira ajuizaram ação indenizatória em desfavor da ora recorrente, afirmando-a civilmente responsável pela morte de Marins Ferreira de Lima, companheiro e pai dos autores respectivamente, que teria falecido, em 20.07.2010, em virtude dos graves ferimentos que sofreu em acidente automobilístico envolvendo veí-culo de propriedade daquela e que, no momento do sinistro, era conduzido por Mariano Galeano Florentin, seu empregado.

O Juízo de primeiro grau julgou parcialmente procedente o pedido inicial para

‘[...] condenar solidariamente a empresa OTM Soluções Logísticas Ltda. e a seguradora Allianz Seguros S/A ao pagamento de indenização por dano material dos prejuízos tidos com a motocicleta; dano mate-rial consistente no pensionamento equivalente a 2/3 do valor da pen-são por morte, sendo 1/3 para cada um dos autores, desde 20.08.2010 até 29.01.2015. O valor da pensão deverá ser atualizado pelo INPC e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir de cada vencimento mensal; ao pagamento de indenização por dano moral para cada um dos autores, devendo o valor ser atualizado pelo INPC a partir da sen-

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tença e com juros de mora de 1% ao mês a partir de 20.07.2010’ (e-STJ fls. 305/306).

Naquela oportunidade, o juízo primevo também decidiu que

‘[...] No tocante a responsabilidade da seguradora, ela é solidária e deve ser limitada aos valores apontados na apólice e atualizados pelo INPC desde a data do fato até o pagamento, nos seguintes limites: danos materiais limita-dos a R$ 75.000,00, sendo reconhecidos como danos materiais as despesas com a motocicleta e a pensão mensal; os danos morais devem ser limitados na quantia de R$ 145.000,00, pois deve responder por ele a responsabili-dade civil por danos corporais e danos morais (códigos 5302 e 903)’ (e-STJ fl. 305).

Inconformadas, tanto a empresa ré quanto a seguradora litisdenunciada interpuseram recursos de apelação (e-STJ fls. 370/402 e 314/350).

A Corte de origem, por unanimidade de votos dos integrantes de sua Ter-ceira Câmara Cível, deu parcial provimento a ambos os recursos nos se-guintes termos:

‘[...] À vista do exposto, dá se parcial provimento ao recurso da ré e ao recurso da litisdenunciada para: a) afastar a condenação aos danos ma-teriais referentes ao conserto e pagamento do financiamento da motoci-cleta; b) determinar que os danos morais sejam reduzidos somente da co-bertura específica contratada para esse tipo de prejuízo; c) reduzir os ho-norários advocatícios para 15 (quinze por cento) do valor da condenação’ (e-STJ fls. 501/502).

O aresto naquela ocasião exarado, em que também restou indeferido pedi-do de adiamento do julgamento dos recursos, recebeu a seguinte ementa:

‘APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – ACIDENTE DE TRÂNSITO – ÓBITO DO MOTOCICLISTA – SOBRESTAMENTO DA AÇÃO CIVIL ATÉ O JUL-GAMENTO DO PROCESSO CRIMINAL – FACULDADE DO JUIZ – COLISÃO ENTRE VEÍCULOS QUE TRAFEGAVAM NA MESMA DIREÇÃO E SENTIDO – PRESUNÇÃO DE CULPA DO MOTORISTA QUE TRAFEGA NA RETAGUARDA – VIOLAÇÃO DAS REGRAS BÁ-SICAS DE TRÂNSITO – DEVER DE INDENIZAR – DANOS MATE-RIAIS – PREJUÍZOS COM O CONSERTO E O FINANCIAMENTO DA MOTOCICLETA – CARÊNCIA PROBATÓRIA – RESSARCIMENTO AFASTADO – PENSÃO MENSAL – BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO

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– NATUREZAS DISTINTAS – DEVER DE SUSTENTO PRESUMIDO – FIXAÇÃO EM 2/3 (DOIS TERÇOS) DOS RENDIMENTOS INFORMA-DOS AO ÓRGÃO PREVIDENCIÁRIO – DANO MORAL CONFIGU-RADO – QUANTUM COMPENSATÓRIO – FIXAÇÃO QUE SEGUE OS CRITÉRIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE – MANUTENÇÃO – COBERTURA SECURITÁRIA – DANOS MORAIS – CONTRATAÇÃO ESPECÍFICA EM CLÁUSULA INDEPENDENTE – DEDUÇÃO RESTRITA AO VALOR PREVISTO NA APÓLICE EXCLU-SIVAMENTE PARA ESSE TIPO DE PREJUÍZO – PENSÃO MENSAL – ENQUADRAMENTO COMO DANO MATERIAL HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – JUSTIÇA GRATUITA – ADEQUAÇÃO NECESSÁ-RIA – APELOS DA RÉ E DA LITISDENUNCIADA PARCIALMENTE PROVIDOS.

A suspensão da ação civil de indenização para aguardar a apuração dos fatos na justiça criminal é faculdade concedida ao magistrado, na forma dos arts. 110 e 265, IV, a, e § 5º, do Código de Processo Civil’ (TJSC, AI 2011.066451-6, de Braço do Norte, Rel. Des. Luiz Carlos Freyesleben, J. em 17.11.2011).

Presume-se culpado o motorista que abalroa o veículo que segue à sua frente, de modo que responderá por todos os danos causados, porquanto é sua a obrigação de guardar distância segura que lhe permita tempo e espa-ço na realização de eventual manobra defensiva.

A indenização por danos materiais advindos de acidente de trânsito com-preende a recomposição de todos os prejuízos suportados pela vítima, des-de que devidamente comprovados.

São cumuláveis o benefício previdenciário por morte e a pensão alimentícia decorrente de acidente de trânsito.

A pensão vitalícia pela morte do chefe de família deve ser fixada a razão de 2/3 dos seus rendimentos até a data em que a vítima completaria 70 (setenta) anos de idade, levando-se em conta o aumento da expectativa de vida do brasileiro.

O dano moral é o prejuízo de natureza não patrimonial que afeta o estado anímico da vítima, seja relacionado à honra, à paz interior, à liberdade, à imagem, à intimidade, à vida ou à incolumidade física e psíquica. Assim, para que se encontre um valor significativo a compensar este estado, deve o magistrado orientar-se por parâmetros ligados à proporcionalidade e à razoabilidade, ou seja, deve analisar as condições financeiras das partes

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envolvidas, as circunstâncias que geraram o dano e a amplitude do abalo experimentado, a fim de encontrar um valor que não seja exorbitante o suficiente para gerar enriquecimento ilícito, nem irrisório a ponto de dar azo à renitência delitiva.

‘Consoante o entendimento jurisprudencial deste Superior Tribunal de Justiça, a previsão contratual de cobertura dos danos pessoais abran-ge os danos morais tão somente se estes não forem objeto de exclusão expressa ou não figurarem como objeto de cláusula contratual inde-pendente, o que não ocorre na espécie. Hipótese da Súmula nº 402 do Superior Tribunal de Justiça.’ (REsp 862928/PR, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 4ª T., J. em 10.11.2009)

‘A pensão mensal está afeta à categoria danos materiais, cujo ressar-cimento está previsto no art. 950 do Código Civil. Deve enquadrar-se, portanto, no valor do seguro previsto para aquela modalidade de co-bertura até o limite da apólice.’ (AC 2010.059720-5, de Videira, Relª Desª Maria do rocio Luz Santa Ritta, J. em 06.12.2010)

‘Sendo a parte beneficiária da gratuidade da justiça, os honorários ad-vocatícios devem pautar-se pelo teto de 15% sobre o valor da condena-ção, nos termos do art. 11, § 1º, da Lei nº 1.060/1950’ (e-STJ fls. 474/745).

Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (e-STJ fls. 538/549).

Ainda inconformados com o teor do julgado, a empresa ré interpôs o recur-so especial ora em apreço.

Em suas razões recursais (e-STJ fls. 552/597), a recorrente apontam, além da existência de dissídio jurisprudencial, violação dos seguintes dispositi-vos legais com as respectivas teses:

(i) art. 535 do Código de Processo Civil – porque seria nulo o acórdão exarado quando do julgamento dos declaratórios, por não terem sido sanados os vícios ali apontados como existentes;

(ii) arts. 110, 265, inciso IV, alíneas a e b, 397 e 398, do CPC – porque em virtude da relação de prejudicialidade supostamente existente entre a presente ação indenizatória cível e a ação penal promovida em desfa-vor do preposto da ora recorrente, condutor do veículo contra o qual se chocou a motocicleta da falecida vítima, o processo cível deveria ter permanecido sobrestado ou, pelo menos, ter sido adiado o julgamento dos recursos de apelação ali interpostos, para que se evitasse contradi-ção entre os julgados no tocante à culpa pelo sinistro (já que na esfera

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penal seu preposto foi absolvido e, na cível, entendido como o único responsável pelo acidente);

(iii) arts. 26, 34, 38 e 39 do Código de Trânsito Brasileiro – porque o acidente teria consistido em colisão lateral e a prova testemunhal – de-monstrativa da imprudência e da culpa da vítima pelo ocorrido e do fato de ter sido seu estado prévio de saúde o real causador de sua morte – teria sido desconsiderada pela Corte local;

(iv) arts. 884 e 948, inciso II, do Código Civil – porque o pensionamento mensal arbitrado seria indevido, em virtude de serem os autores capa-zes de prover seu próprio sustento e por já receber a primeira autora pensão previdenciária pelo mesmo fato objeto da presente demanda indenizatória;

(v) art. 945 do Código Civil – porque a vítima teria concorrido para a ocorrência do acidente;

(vi) arts. 186, 407, 884, 927 e 944 do Código Civil – porque a indenização por danos morais, no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um dos três dependentes da vítima, seria exorbitante, proporcio-nando-lhes verdadeiro enriquecimento sem causa. Além disso, os juros de mora deveriam incidir sobre a referida verba indenizatória a contar da data de seu arbitramento e não da data do evento danoso como res-tou consignado no aresto hostilizado;

(vii) arts. 39, inciso I, e 51, incisos I e IV, do Código de Defesa do Con-sumidor e 765 do Código Civil – porque, no tocante a cobertura securi-tária, deveria a seguradora litisdenunciada ser condenada ao ressarci-mento dos valores expendidos pela recorrente a título de indenização por danos morais até o limite da rubrica de seguro por acidentes corpo-rais contratada, por ser nula de pleno direito a cláusula contratual que delimita de modo expresso cobertura securitária por danos morais; e

(viii) art. 20, § 3º, do CPC – porque a Corte local não teria apreciado ade-quadamente os critérios para fixação da verba honorária advocatícia, visto que, no caso, os patronos dos recorridos não teriam atuado com suficiente grau de zelo profissional, pelo que seria necessária a redução do percentual fixado para a verba honorária advocatícia sucumbencial.

Com as contrarrazões apresentadas pela seguradora litisdenunciada (e-STJ fls. 662/672) e pelos autores da demanda indenizatória (e-STJ fls. 696/708), o recurso especial foi inadmitido o recurso na origem (e-STJ fls. 559/560),

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o que ensejou a interposição do recurso de agravo em apreço (e-STJ fl. 740/808).

É o relatório,

DECIDO.

Ultrapassados os requisitos de admissibilidade do agravo, passa-se ao exa-me do recurso especial, que, todavia, não merece prosperar.

Primeiramente, impõe-se reconhecer que não assiste razão à recorrente quando afirma que malferido o art. 535 do CPC. Agiu corretamente o Tri-bunal de origem ao rejeitar os embargos declaratórios por inexistir omis-são, contradição ou obscuridade no aresto embargado, ficando patente, em verdade, o intuito infringente da irresignação, que objetivava a reforma do julgado por via inadequada.

A propósito:

‘PROCESSO CIVIL – AGRAVO – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDA-DE – NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL – INEXISTÊN-CIA DE OMISSÃO OU CONTRADIÇÃO

1. O art. 535 do Código de Processo Civil dispõe sobre omissões, obs-curidades ou contradições existentes nos julgados. Trata-se, pois, de recurso de fundamentação vinculada, restrito a situações em que se ve-rifica a existência dos vícios na lei indicados.

2. Afasta-se a violação do art. 535 do CPC quando o decisório está claro e suficientemente fundamentado, decidindo integralmente a contro-vérsia. [...]’.

(AgRg-Ag 1.176.665/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 4ª T., Julga-do em 10.05.2011, DJe 19.05.2011)

‘RECURSO ESPECIAL – NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIO-NAL – INOCORRÊNCIA [...]

1. Os embargos de declaração consubstanciam-se no instrumento pro-cessual destinado à eliminação, do julgado embargado, de contradição, obscuridade ou omissão sobre tema cujo pronunciamento se impunha pelo Tribunal, não se prestando para promover a reapreciação do jul-gado. [...]’

(REsp 1.134.690/PR, Rel. Min. Massami Uyeda, 3ª T., Julgado em 15.02.2011, DJe 24.02.2011)

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Acrescente-se que a jurisprudência desta Corte há muito se encontra paci-ficada no sentido de que ‘se os fundamentos do acórdão não se mostram suficientes ou corretos na opinião do recorrente, não quer dizer que eles não existam. Não pode confundir ausência de motivação com fundamenta-ção contrária aos interesses da parte’ (AgRg-Ag 56.745/SP, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 1ª T., Julgado em 16.11.1994, DJ 12.12.1994).

Impõe-se reconhecer que os conteúdos normativos dos arts. 26, 34, 38 e 39, do Código de Trânsito Brasileiro, 39, inciso I, e 51, incisos I e IV, do Código de Defesa do Consumidor e 765 do Código Civil, apontados como malferi-dos, não foram objeto de debate no acórdão recorrido, apesar da oposição de embargos declaratórios, não havendo falar, assim, sequer no implícito prequestionamento das questões federais por eles disciplinadas.

Desatendido, portanto, o requisito do prequestionamento, nos termos da Súmula nº 211/STJ: ‘Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo’.

Nesse sentido:

‘AGRAVO REGIMENTAL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECUR-SO ESPECIAL – EXECUÇÃO – PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSI-DADE – INTERESSE DO CREDOR – PREQUESTIONAMENTO – SÚ-MULA Nº 211/STJ – REEXAME DE PROVAS – SÚMULA Nº 7/STJ

1. O princípio da menor onerosidade ao devedor deve estar em harmo-nia com o interesse do credor.

2. O prequestionamento, entendido como a necessidade de o tema objeto do re-curso haver sido examinado pela decisão atacada, constitui exigência inafastá-vel da própria previsão constitucional, ao tratar do recurso especial, impondo--se como um dos principais requisitos ao seu conhecimento. Não examinada a matéria objeto do especial pela instância a quo, mesmo com a oposição dos embargos de declaração, incide o Enunciado nº 211 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.

3. A verificação da afronta ao princípio da menor onerosidade do deve-dor, insculpido no artigo 620 do Código de Processo Civil, esbarra no óbice da Súmula nº 7 deste Tribunal.

4. Agravo Regimental improvido.’

(AgRg-AREsp 158.707/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3ª T., Julgado em 22.05.2012, DJe 05.06.2012 – grifou-se)

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‘AGRAVO REGIMENTAL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AUSÊN-CIA DE PREQUESTIONAMENTO – SÚMULA Nº 211/STJ – AÇÃO RESCISÓRIA – VIOLAÇÃO À COISA JULGADA – VERIFICAÇÃO – IMPOSSIBILIDADE – REEXAME DE PROVAS – SÚMULA Nº 7/STJ

1. Carece do necessário prequestionamento a matéria não debatida pelo Tri-bunal de origem, ainda que opostos embargos de declaração. Incidência da Súmula nº 211/STJ.

2. A alteração das conclusões do aresto impugnado, no tocante à supos-ta ofensa à coisa julgada e consequente pertinência do pleito rescisório, demanda o reexame das provas constantes dos autos, providência ve-dada em sede especial, a teor da Súmula nº 07/STJ.

3. Agravo regimental desprovido.’

(AgRg-Ag 1.327.008/GO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª T., Julgado em 15.03.2012, DJe 21.03.2012 – grifou-se)

Não prospera, também, a pretensão recursal de reforma do acórdão ora hostilizado no tocante à reconhecida independência entre os juízos cível e criminal e à limitação da cobertura securitária ao que expressamente con-signado na apólice.

Com efeito, o acórdão recorrido está em harmonia com a orientação desta Corte tanto no sentido de que, ‘diante da relativa independência entre as instâncias cível e criminal, a absolvição no juízo criminal apenas vincula o juízo cível quando reconhecer a inexistência do fato ou atestar não ter sido o increpado seu autor’ (AgRg-EDcl-REsp 1.160.956/PA, Rel. Min. Francisco Falcão, 1ª T., DJe de 07.05.2012) quanto no sentido de que ‘a apólice de se-guro contra danos corporais pode excluir da cobertura tanto o dano moral quanto o dano estético, desde que o faça de maneira expressa e individua-lizada para cada uma dessas modalidades de dano extrapatrimonial’ (REsp 1.408.908/SP, Relª Min. Nancy Andrighi, 3ª T., DJe de 19.12.2013).

Incide na espécie a Súmula nº 83/STJ, segundo a qual ‘não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se fir-mou no mesmo sentido da decisão recorrida’, aplicável a ambas as alíneas autorizadoras.

Nesse sentido:

‘AGRAVO REGIMENTAL – AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – [...] – DECISÃO DO ACÓRDÃO REGIONAL EM CONSONÂNCIA COM

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O ENTENDIMENTO DESTA CORTE – INCIDÊNCIA DA SÚMULA/STJ Nº 83 – DECISÃO AGRAVADA MANTIDA – IMPROVIMENTO

[...]

2. Aplica-se o Enunciado nº 83 da Súmula do Superior Tribunal de Jus-tiça quando o recurso especial tiver fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional.

[...]’

(AgRg-AREsp 10.808/SE, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3ª T., Julgado em 28.06.2011, DJe 01.07.2011)

‘[...] SÚMULA Nº 83 DO STJ – RECURSO ESPECIAL PELA ALÍNEA A – PRESCRIÇÃO QUINQUENAL – SÚMULA Nº 291/STJ

1. A jurisprudência do STJ entende que a Súmula nº 83 não se restringe aos recursos especiais interpostos com fundamento na alínea c do per-missivo constitucional, sendo também aplicável nos recursos fundados na alínea a.

[...].’

(AgRg-Ag 1.151.950/DF, Relª Min. Maria Isabel Gallotti, 4ª T., Julgado em 07.04.2011, DJe 29.04.2011)

No mais, a despeito de todo o esforço argumentativo expendido pela recor-rente, o que se evidencia da leitura de seu extenso arrazoado recursal é o intuito de submeter todo o acervo fático-probatório carreado aos autos ao reexame desta Corte Superior.

Não merece conhecimento, portanto, sua irresignação, no que diz respei-to às pretensões de que seja: (i) rediscutida eventual necessidade de so-brestamento da presente ação cível em virtude do trâmite de ação penal promovida contra o condutor do veículo de propriedade da recorrente, seu empregado; (ii) reconhecida, a partir do minucioso exame das provas testemunhais e documentais acostadas nos autos, a suposta culpa con-corrente da vítima pelo acidente do qual resultou sua morte ou, ainda, a pré-existência de doença crônica que tenha contribuído para tal desfecho; (iii) afastada a indenização material consistente no pagamento, em prol dos autores, de pensão mensal, e (iv) redimensionada a verba honorária advo-catícia sucumbencial.

As soluções de todas essas questões, pelo que facilmente se pode extrair da leitura do voto condutor do aresto ora hostilizado (e-STJ fls. 448/502), de-

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correram do detido exame da Corte estadual sobre as circunstâncias fático--probatórias que permearam a presente demanda.

Nesse cenário, além de o mero inconformismo da recorrente com as solu-ções encontradas pela Corte local não justificar a interposição do recurso especial, a alteração das premissas fáticas e das consequentes conclusões destas resultantes encontram intransponível óbice na inteligência da Sú-mula nº 7/STJ, que, pelo menos na via especial, veda a incursão desta Corte Superior no exame da matéria probatória.

Quanto à pretensão recursal de reduzir o valor arbitrado a título de inde-nização por danos morais, inviável também o seu acolhimento na estreita via do recurso especial.

O Superior Tribunal de Justiça, afastando a incidência da Súmula nº 7/STJ, tem reexaminado o montante fixado pelas instâncias ordinárias apenas quando irrisório ou abusivo, circunstâncias inexistentes no presente caso, em que não se pode afirmar desarrazoado o arbitramento da indenização no valor de R$ 50.000,00 (cem mil reais) para cada um dos três autores.

Não se pode dizer que a referida quantia destoa dos parâmetros adotados por esta Corte em precedentes análogos, ao revés, revela-se perfeitamente adequada, especialmente diante das peculiaridades do caso concreto, no qual a conduta culposa do preposto da ora recorrente ensejou a morte do genitor dos autores Rafael Martins Ferreira de Lima e Roberto Martins Fer-reira e cônjuge da autora Maria Rosemar Martins. É inarredável, assim, a aplicação à espécie do óbice inserto no mencionado Verbete Sumular nº 7/STJ.

Finalmente, no que concerne ao termo inicial de incidência de juros mora-tórios sobre o montante indenizatório arbitrado, o Tribunal de origem, ao fixá-lo na data da ocorrência do evento danoso, esposou orientação perfei-tamente consonante com a literalidade da Súmula nº 54/STJ:

Não merece, pois, nenhum reparo o aresto recorrido.

Em vista do exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao recurso especial” (e-STJ fls. 943/951).

Não prosperam as alegações postas no regimental, incapazes de alterar os fundamentos da decisão impugnada.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2014/0329481-6 AgRg-AREsp 643.074/SC

Números Origem: 038110229646001 038110229646002 20130779600 20130779600000100 20130779600000200 20130779600000201 20130779600000300 20130779600000301 38110229646001 38110229646002 7003259024

Em Mesa Julgado: 03.09.2015

Relator: Exmo. Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. João Pedro de Saboia Bandeira de Mello Filho

Secretária: Belª Maria Auxiliadora Ramalho da Rocha

AUTUAÇÃO

Agravante: OTM Soluções Logísticas Ltda.

Advogados: Moysés Borges Furtado Neto Giselis Darci Kremer

Agravado: Allianz Seguros S/A

Advogado: Pedro Elias Neto

Agravado: Rafael Martins Ferreira de Lima

Agravado: Roberto Martins Ferreira de Lima

Agravado: Maria Rosemar Martins

Advogados: Giancarlos Buche Ciro José Silva de Morais Luciane Correa Mendes

Interes.: Mariano Galeano Florentin

Assunto: Direito civil – Responsabilidade civil – Indenização por dano ma-terial – Acidente de trânsito

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AGRAVO REGIMENTAL

Agravante: OTM Soluções Logísticas Ltda.

Advogados: Moysés Borges Furtado Neto Giselis Darci Kremer

Agravado: Allianz Seguros S/A

Advogado: Pedro Elias Neto

Agravado: Rafael Martins Ferreira de Lima

Agravado: Roberto Martins Ferreira de Lima

Agravado: Maria Rosemar Martins

Advogados: Giancarlos Buche Ciro José Silva de Morais Luciane Correa Mendes

Interes.: Mariano Galeano Florentin

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia Terceira Turma, ao apreciar o processo em epí-grafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a).

Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha e Paulo de Tarso Sanseverino votaram com o Sr. Ministro Re-lator.

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TrF 1ª r.Tribunal regional Federal da 1ª região

Poder JudiciárioAgravo de Instrumento nº 0075043-89.2011.4.01.0000/RR (D) Processo Orig.: 0001407-23.1999.4.01.4200Relator: Desembargador Federal José Amilcar MachadoAgravante: Fazenda NacionalProcurador: Cristina Luisa HedlerAgravado: Brasil e Andrade Ltda.

EMENTA

prOCessual Civil e tributáriO – agravO regimental em agravO regimental em agravO de instrumentO

– deCretaçãO de perda de ObJetO dO primeirO regimental – reCOnsideraçãO – reapreCiaçãO dO primeirO reCursO – impugnaçãO de deCisãO

mOnOCrátiCa denegatória de seguimentO a agravO de instrumentO – prazO em dObrO para reCOrrer –

intimaçãO pessOal dO representante – interpOsiçãO intempestiva – exeCuçãO FisCal – pedidO de

redireCiOnamentO aO sóCiO da empresa-exCutida – alegaçãO de dissOluçãO irregular – questãO nãO

analisada em primeirO grau – inviabilidade dO exame primeirO na instÂnCia reCursal – maniFesta imprOCedênCia – agravO regimental nãO prOvidO

1. Constatado o equívoco da decisão que julga prejudicado, por perda de objeto, o Agravo Regimental interposto contra a decisão dene-gatória de seguimento a Agravo de Instrumento, recebe-se como pedido de reconsideração o segundo Agravo Regimental para, revogando-se o decisum inicialmente exarado, proceder-se ao reexame do primeiro re-curso.

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2. Intimado da decisão agravável o representante do ente público aos 23.05.2012 e tendo 10 (dez) dias para recorrer, o prazo em dobro para a interposição do Agravo Regimental findou-se aos 02.06.2012 o qual, prorrogado para o primeiro dia útil subseqüente, recaiu aos 04.06.2012, revelando-se intempestivo o Regimental apresentado perante esta Cor-te de Justiça Regional já aos 07.06.2012.

3. “A intimação pessoal da Fazenda Nacional, que marca o termo inicial do prazo para interposição de recurso, ocorre já no momento em que os autos são recebidos no serviço de protocolo administrativo do ente público notificado, mostrando-se irrelevante, a partir daí, a data em que o representante judicial do órgão intimado vem a tomar efetiva ciência da decisão judicial. Precedentes do STJ.” (TRF 1ª Região: EDSL 0057014-54.2012.4.01.0000/DF, Corte Es-pecial, na relatoria para o acórdão do Desembargador Federal Reynaldo Fonseca, e-DJ1 de 23.04.2014, p. 26).

4. É defeso à instância recursal decidir incidentes do processo que não tenham sido apreciados pelo Juízo da causa, sob pena de se incorrer em supressão de um grau de jurisdição pelo que, em não tendo sido ventilada na decisão impugnada a matéria objeto da controvérsia, fica impedido o seu acesso à instância recursal, inviabilizando-se a análise de tese não examinada na instância de origem.

5. Manutenção do decisum monocrático recorrido que, amparado no art. 557, caput, do Código de Processo Civil, negou seguimento, por manifesta improcedência e confronto com jurisprudência dominante deste Tribunal, ao Agravo de Instrumento interposto pela exeqüente contra a decisão de primeiro grau exarada em Execução Fiscal, dene-gatória do pleito de redirecionamento da Ação ao sócio da empresa ex-cutida, ao fundamento de ausência do nome respectivo na CDA, como também, por ausência de motivação idônea, não tendo analisado o Juízo da causa a alegação, deduzida nesta instância recursal, de dissolução irregular da devedora. Precedentes.

6. Agravo Regimental de fls. 100 e 101 recebido como pedido de reconsideração para, tornada sem efeito a decisão monocrática à fl. 77 dos autos eletrônicos, reexaminar o Agravo Regimental de fls. 66/74 e negar- lhe provimento.

ACÓRDÃO

Decide a Turma, à unanimidade, receber como pedido de reconsidera-ção o Agravo Regimental às fls. 100 e 101; tornar sem efeito a decisão mono-crática à fl. 77; e, em reexame do Agravo Regimental às fls. 66/74, negar-lhe provimento.

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7ª Turma do TRF da 1ª Região .

Brasília, 1º de setembro de 2015.

Desembargador Federal José Amilcar Machado, Relator

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Desembargador Federal José Amílcar Machado, Relator: Trata-se de segundo Agravo Regimental, com pedido de reconsideração, in-terposto pela União (Fazenda Nacional) contra a decisão monocrática desta relatoria que, nos termos do art. 557, caput, do Código de Processo Civil, jul-gou prejudicado e negou seguimento, ante suposta superveniente prolação de sentença e consequente novação do título judicial recorrido, ao anterior Agravo Regimental interposto pela Fazenda Nacional pretendendo a refor-ma do decisum monocrático proferido pelo Desembargador Federal Catão Alves, a quem sucedi nesta Corte, denegatória de seguimento, por manifesta improcedência, ao Agravo de Instrumento deduzido pela ora agravante con-tra a decisão interlocutória de primeiro grau que, em Execução Fiscal, inde-ferira o seu pedido de inclusão do sócio-gerente no pólo passivo da relação processual, por ausência de motivação idônea da exequente e ausência do nome do sócio na Certidão de Dívida Ativa respectiva (decisão de primeiro grau digitalizada à fl. 36 de 102 – autos eletrônicos).

A recorrente sustenta a inexistência de decisão apta a provocar a perda de objeto de seu primeiro recurso regimental, persistindo inalterado o seu interesse processual no julgamento do mérito do recurso (fls. 100 e 101).

Vieram-me os autos conclusos.

É o relatório.

Desembargador Federal José Amilcar Machado, Relator.

DECISÃO

1. Trata-se de recurso de agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, para reforma de decisão de Juiz que, em execução fiscal, indeferira

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pedido de inclusão no pólo passivo da relação processual de sócio da Execu-tada e prosseguimento da Execução contra ele.

2. Alega a Agravante que o sócio deve ser incluído no pólo passivo da relação processual, tendo em vista a dissolução irregular da empresa.

3. A decisão agravada não merece reparo.

4. Entendo, data venia, que a análise neste Tribunal da questão referente à dissolução irregular da empresa Executada é vedada por não ter sido anali-sada pelo prolator da decisão agravada.

5. Outro não é o entendimento desta Egrégia Corte:

“SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO – AÇÃO CAUTELAR INCI-DENTAL – NÃO-COBERTURA DO FCVS – ILEGITIMIDADE PASSIVA DA CEF – INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – FORO DO CON-TRATO – PREJUÍZO AO MUTUÁRIO – AFASTAMENTO – MATÉRIA NÃO APRECIADA PELA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA – NÃO-CO-NHECIMENTO

[...]

3. O recurso de agravo de instrumento deve se restringir à matéria apreciada pela decisão interlocutória que o motivou, não podendo o Tribunal conhecer de questões não apreciadas pelo Juiz a quo, sob pena de supressão de instância, em clara viola-ção ao princípio do duplo grau de jurisdição.

4. Agravo de instrumento a que se dá provimento parcial para determinar a remessa dos autos para a Justiça do Distrito Federal.” (Ag 2002.01.00. 034088-7/DF, Rel. Juiz Fed. David Wilson de Abreu Pardo (Convocado), 6ª T., Unânime, DJ 04.06.2007 – p. 91.) (Grifei)

“PROCESSO CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – IMISSÃO DO IN-CRA NA POSSE DO IMÓVEL SUJEITO À DESAPROPRIAÇÃO – ALEGA-ÇÕES DE EXISTÊNCIA DE DIVERSAS IRREGULARIDADES – TEMAS NÃO TRATADOS PELO JUIZ A QUO – IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLI-SE PELO TRIBUNAL – SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA – DECISÃO MAN-TIDA

1. Não cumpre ao Tribunal analisar matéria não ventilada no Juízo a quo. O agravo de instrumento deve restringir-se às bases da decisão recorrida.

2. O Juiz a quo, ao imitir o INCRA na posse do imóvel sujeito à desapro-priação, agiu de acordo com o disposto no art. 6º, I, da Lei Complementar nº 76/1993.

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3. A decisão agravada não impôs multa.

4. Agravo de instrumento improvido.

5. Agravo regimental prejudicado.” (Ag 2003.01.00.029993-7/MG, Rel. Des. Federal Hilton Queiroz, 4ª T., Unânime, DJ 23.04.2004, p. 37.) (Grifei)

Pelo exposto, sendo manifestamente improcedente, nego, com fundamento no art. 557 do Código de Processo Civil, seguimento ao recurso de Agravo de Instrumento.

Sem manifestação, arquivem-se os autos.

Publique-se e intimem-se.

Brasília, 10 de maio de 2012.

Desembargador Federal Catão Alves

DECISÃO

Chega-me ao conhecimento, por meio de consulta processual, que foi proferida decisão/arquivados nos autos que deram origem a este agravo. Deste modo, este recurso está prejudicado por novação de título judicial.

Assim sendo, julgo prejudicado o agravo, razão pela qual nego-lhe se-guimento, com fulcro no art. 557, caput, do Código de Processo Civil.

Publique-se. Intimem-se.

Não havendo recurso, remetam-se os autos à Vara de Origem.

Brasília, 6 de fevereiro de 2015.

Desembargador Federal José Amilcar Machado, Relator

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO SECRETARIA JUDICIÁRIA

26ª Sessão Ordinária do(a) Sétima Turma

Pauta de: Julgado em: 01.09.2015

AgRg-AI 0075043-89.2011.4.01.0000/RR

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Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Jose Amilcar Machado

Revisor: Exmo (a). Sr(a).

Presidente da Sessão: Exmo(a). Sr(a). Desembargador Federal Jose Amil-car Machado

Proc. Reg. da República: Exmo(a). Sr(a). Dr(a). José Cardoso

Secretário(a): Antônio Luiz Carvalho Neto

Agrte.: Fazenda Nacional

Procur.: Cristina Luisa Hedler

Agrdo.: Brasil e Andrade Ltda.

Nº de Origem: 14072319994014200 Vara: 1ª

Justiça de Origem: Tribunal Regional Federal Estado/Com.: RR

SUSTENTAÇÃO ORAL CERTIDÃO

Certifico que a(o) egrégia(o) Sétima Turma, ao apreciar o processo em epígrafe , em Sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

AGRAVO REGIMENTAL

A Turma, à unanimidade, recebeu como pedido de reconsideração o agravo regimental às fls. 100 e 101; tornou sem efeito a decisão monocrática à fl. 77; e, em reexame do agravo regimental às fls. 66/74, negou-lhe provimen-to, nos termos do voto do Relator.

Participaram do Julgamento os Exmos. Srs. Desembargador Federal Hercules Fajoses e Juiz Federal Antonio Claudio Macedo da Silva (Conv.), nos termos do Ato Presi/Asmag nº 1400 de 31.08.2015. Ausente, por motivo de férias, a Exma. Sra. Desembargadora Federal Ângela Catão.

Brasília, 1º de setembro de 2015.

Antônio Luiz Carvalho Neto Secretário(a)

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TrF 4ª r.Tribunal regional Federal da 4ª região

Agravo Legal em Agravo de Instrumento nº 0002941-46.2015.4.04.0000/RSRelator: Des. Federal Joel Ilan PaciornikAgravante: Antônio Ricardo Costa MoelerAdvogado: Anselmo Framarin e outroAgravado: União Federal (Fazenda Nacional)Procurador: Procuradoria-Regional da Fazenda NacionalAgravada: Decisão de Folhas

EMENTA

agravO legal em agravO de instrumentO – impenHOrabilidade de bem de Família – nãO

COnFigurada – substituiçãO da penHOra – art. 15 da leF – impOssibilidade

1. Acerca da impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 1º da Lei nº 8.009/1990, forçoso destacar que o art. 5º da referida lei estabelece que essa proteção abrange apenas um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.

2. Consoante a regra inserta no art. 15, inciso I, da Lei nº 6.830/1980, somente é possível a substituição da penhora a pedido do executado, sem a concordância do credor, por dinheiro ou fiança bancária.

3. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, de-cide a Egrégia 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por una-nimidade, negar provimento ao agravo legal, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

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Porto Alegre, 09 de setembro de 2015.

Desembargador Federal Joel Ilan Paciornik Relator

RELATÓRIO

Trata-se de agravo legal interposto por Antônio Ricardo Costa Moeler em face de decisão monocrática que negou seguimento ao agravo de instru-mento, sob entendimento de que legítima a recusa da exequente acerca da substituição dos bens oferecidos em garantia do débito.

O agravante, em síntese, alega a impenhorabilidade do imóvel de Ma-trícula nº 5.053, nos termos dos arts. 1º, 3º e 5º da Lei nº 8.009/1990, por se tratar de bem de família. Defende que o direito a moradia não pode ser tirado da família. Sustenta que os bens indicados para substituição oferecem maior garantia pra execução. Assegura, ainda, que os carros penhorados estão su-cateados e apenas causando despesas.

É o relatório.

Levo em mesa.

Desembargador Federal Joel Ilan Paciornik Relator

VOTO

Inicialmente, cumpre esclarecer que a decisão agravada, de fato, nada mencionou acerca do imóvel de Matrícula nº 5.053, que também está constri-to judicialmente (fl. 151).

Ainda assim, forçoso registrar que a alegação de impenhorabilidade do referido bem não veio acompanhada de qualquer prova hábil a justificar a pretensão.

O art. 5º da Lei nº 8.009/1990 estabelece que proteção imposta no art. 1º da referida lei abrange apenas um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Oportuno transcrever os apontados dispositivos:

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“Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comer-cial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natu-reza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.”

“Art. 5º Para os efeitos da impenhorabilidade, de que trata esta lei, consi-dera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.

Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possui-dor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade re-cairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil.”

Nada comprova, nos autos, que o imóvel era o único de propriedade do recorrente, e onde ele residia com sua família.

Desta maneira, não assiste razão ao agravante quanto a esse ponto. E, da mesma sorte, os demais argumentos expostos também não merecem gua-rida, pois já foram devidamente analisados e enfrentados no decisum recorri-do. Atente-se:

[...]

De acordo com a regra inserta no art. 15 da Lei nº 6.830/1980, somente é possível a substituição da penhora, sem a concordância do credor, por dinheiro ou fiança bancária. É certo, de outro lado, que esta regra merece temperamentos, sobretudo quando o pedido de substituição da penhora efetuado pelo devedor tenha a aceitação do credor ou quando os bens ofe-recidos revelem maior aptidão à satisfação do crédito. Neste sentido:

AGRAVO LEGAL – EXECUÇÃO FISCAL – SUBSTITUIÇÃO DA PENHO-RA – RECUSA DA EXEQUENTE – REUNIÃO DAS EXECUÇÕES – FA-CULDADE DO MAGISTRADO – 1. A substituição da penhora por iniciativa do devedor no rito das execuções fiscais está submetida à observância do art. 15, I, da LEF, segundo o qual “em qualquer fase do processo, será deferida pelo Juiz: I – ao executado, a substituição da penhora por depósito em dinheiro ou fiança ban-cária”. 2. A substituição constitui direito subjetivo do executado apenas nos casos

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de oferecimento de dinheiro ou fiança bancária, ficando a aceitação de outros bens à aquiescência da Fazenda Nacional. 3. A reunião de processos nos termos do artigo 28 da LEF constitui faculdade do magistrado instrutor do feito. 4. Agravo legal desprovido. (TRF 4ª R., 5006756-34.2013.404.0000, 1ª T., Relª p/ Ac. Maria de Fátima Freitas Labarrère, juntado aos autos em 05.06.2013). Grifei

TRIBUTÁRIO – PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – SUBSTITUI-ÇÃO DA PENHORA – BEM IMÓVEL – ANUÊNCIA DA FAZENDA PÚBLI-CA – POSSIBILIDADE

1. A substituição da penhora é direito do devedor, que poderá obtê-la em qualquer fase do processo e independentemente da anuência do credor, nos casos previstos no art. 15, inciso I, da Lei nº 6.830/1980. Fora desses casos, o direito à substituição permanece, porém condicionado à concordância da Fazenda Pública, como é o caso dos autos.

2. Hipótese em que requerida pelo devedor a substituição da penhora por bem imó-vel, apesar da anuência da Fazenda Pública, o Tribunal de origem entendeu por bem manter o decreto de indeferimento.

3. A execução realiza-se no interesse do credor (art. 612 do CPC), que inclusive po-derá, querendo, dela desistir (art. 569 do CPC). Dessa forma, tendo o credor anuído com a substituição da penhora, mesmo que por um bem que guarde menor liquidez, não poderá o juiz, ex officio, indeferi-la. Ademais, nos termos do art. 620 do CPC, a execução deverá ser feita pelo modo menos gravoso para o executado.

4. Aplicação do princípio da demanda (art. 2º do CPC).

Recurso especial provido.

(REsp 1377626/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., J. 20.06.2013, DJe 28.06.2013). Grifei

TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – SUSPENSÃO POR FORÇA DO PARCELAMENTO DO DÉBITO – SUBSTITUIÇÃO DA PENHORA – BENS IMÓVEIS IDÔNEOS E SUFICIENTES – POSSIBILIDADE – 1. De re-gra, apenas se pode cogitar da substituição de penhora, sem a concordância da exequente, quando se trata de substituição por depósito em dinheiro ou fiança bancária. Contudo, em situações excepcionalíssimas, a regra inserta no art. 15 da Lei nº 6.830/1980 poderá ser relativizada, atentando-se sempre ao caso concreto. 2. No caso, é razoável autorizar a substituição, sobretudo porque a execução fiscal está suspensa, face à inclusão dos débitos em pro-grama de parcelamento, que vem sendo regularmente adimplido, e porque os bens imóveis de propriedade da agravante constituem garantia suficien-

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te e idônea a garantir a execução fiscal no caso de um futuro descumpri-mento do parcelamento. 3. Agravo de instrumento provido. (TRF 4ª R., AI 2009.04.00.009038-7, 1ª T., Des. Fed. Joel Ilan Paciornik, por unanimida-de, DE 29.07.2009)

Na hipótese, todavia, o executado pretenda a substituição dos veículos pe-nhorados por imóveis situados em localidade distinta da do Foro da execu-ção, cuja suficiência sequer restou demonstrada.

Além disso, a Fazenda Nacional rejeitou o pedido de substituição, sob fun-damento de que esses imóveis foram também oferecidos em outra execução fiscal (nº 5010517-48.2011.404.7112) e aceitos pela credora. Assim, defendeu que a liquidez de tais bens restará totalmente abrangida pelo referido feito executivo, tendo em vista o vultoso valor da dívida (R$ 239.963,90).

Nessas circunstâncias, mostra-se legítima a recusa da exequente acerca da substituição ofertada. Isso porque a pretendida substituição, além de não atender aos parâmetros dispostos no art. 15 da LEF, é significativamente prejudicial à credora e acarreta em notório prejuízo ao crédito tributário.

[...]

Ante o exposto, voto por negar provimento ao agravo legal.

Desembargador Federal Joel Ilan Paciornik Relator

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 09.09.2015

Agravo de Instrumento nº 0002941-46.2015.4.04.0000/RS

Origem: RS 00355519620078210014

Relator: Des. Federal Joel Ilan Paciornik

Presidente: Jorge Antonio Maurique

Procurador: Dr. Lafayete Josué Petter

Agravante: Antônio Ricardo Costa Moeler

Advogado: Anselmo Framarin e outro

Agravado: União Federal (Fazenda Nacional)

Procurador: Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional

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Certifico que o(a) 1ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epí-grafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A turma, por unanimidade, decidiu negar provimento ao agravo legal.

Relator Acórdão: Des. Federal Joel Ilan Paciornik

Votante(s): Des. Federal Joel Ilan Paciornik Des. Federal Jorge Antonio Maurique Juiz Federal Marcelo Malucelli

Leandro Bratkowski Alves Secretário de Turma

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EmEntário Civil

açãO de anulaçãO – títulO de CrÉditO – deCisãO mOnOCrátiCa

34031 – “Agravo regimental no agravo de instrumento. Ação de anulação de título de crédito. Decisão monocrática que conheceu do agravo de instrumento para negar segui-mento ao recurso especial. Irresignação da autora. 1. O exame dos pressupostos gerais de admissibilidade do recurso especial, como cabimento, legitimidade, interesse, tempesti-vidade e regularidade formal, são aferidos preliminarmente, de forma que, não tendo a Corte local se pronunciado expressamente sobre tais pontos, e passado diretamente à análise dos pressupostos constitucionais do reclamo, presumem-se preenchidos os pri-meiros requisitos, motivo pelo qual não há que se falar em afronta à Súmula nº 123/STJ. 2. Os embargos de declaração representam recurso de fundamentação vinculada ao sane-amento de omissão, contradição, obscuridade ou erro material, não se prestando, ao mero reexame da causa como pretende a parte. 3. Inexiste contradição em afastar a violação do art. 535 do CPC e, ao mesmo tempo, não conhecer do mérito do recurso por ausência de prequestionamento, uma vez que é perfeitamente possível o julgado se encontrar devida-mente fundamentado sem, no entanto, ter decidido a causa à luz dos preceitos jurídicos desejados pelo postulante, pois a tal não está obrigado. 4. É inadmissível o recurso espe-cial que não impugna fundamentos do acórdão recorrido, aptos, por si sós, a manterem a conclusão a que chegou a Corte estadual (Súmula nº 283 do STF). Precedentes. 5. Agravo regimental desprovido.” (STJ – AgRg-AI 1.230.075 – (2009/0174076-1) – 4ª T. – Rel. Min. Marco Buzzi – DJe 11.09.2015 – p. 1559)

açãO resCisória – COntradiçãO – nãO OCOrrênCia

34032 – “Embargos de declaração. Ação rescisória. Vícios do art. 535 do CPC. Contradi-ção. Não ocorrência. Alteração da verdade dos fatos. Recurso manifestamente protelató-rio. Litigância de má-fé. Aplicação de multa. 1. Os embargos de declaração, cujos pres-supostos estão relacionados no art. 535 do Código de Processo Civil, visam a eliminar contradição, desfazer obscuridade ou suprir omissão a respeito de questão jurídica de especial relevância para o desate da lide. Ausentes essas hipóteses, não prosperam os embargos. 2. A contradição que autoriza a oposição dos embargos declaratórios é aquela

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existente entre a fundamentação da decisão e seu respectivo dispositivo, e não entre a de-cisão e outro julgado. 3. Reputa-se litigante de má-fé a parte que altera a verdade dos fatos, provoca incidentes manifestamente infundados e interpõe recurso com o intuito mani-festamente protelatório, ficando sujeita às penalidades legais. 4. Embargos de declaração rejeitados com aplicação da multa prevista no art. 18 do CPC.” (STJ – EDcl-AgRg-AR 5.402 – (2014/0135471-1) – 2ª S. – Rel. Min. João Otávio de Noronha – DJe 11.09.2015 – p. 1096)

alienaçãO FiduCiária – COnstituiçãO dO devedOr em mOra mediante nOtiFiCaçãO

extraJudiCial – desneCessidade de intimaçãO pessOal

34033 – “Agravo regimental em agravo em recurso especial. Ação de busca e apreensão. Alienação fiduciária. Constituição do devedor em mora mediante notificação extrajudi-cial. Desnecessidade de intimação pessoal. Precedentes. Súmula nº 83/STJ. Agravo não provido. 1. Esta Corte consolidou entendimento no sentido de que, para a constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do devedor, ainda que não pessoalmente. Precedentes. 2. A alegação de ajuizamento de ação revisional e depósito judicial dos valores não foi objeto de discussão no acórdão recorrido, apesar da oposição de embargos de declaração, não se configurando o prequestionamen-to, o que impossibilita a sua apreciação na via especial (Súmulas nºs 282/STF e 211/STJ). 3. O Superior Tribunal de Justiça não reconhece o prequestionamento pela simples inter-posição de embargos de declaração (Súmula nº 211). Persistindo a omissão, é necessária a interposição de recurso especial por afronta ao art. 535 do Código de Processo Civil, sob pena de perseverar o óbice da ausência de prequestionamento. 4. A ausência de pre-questionamento dos dispositivos tidos como contrariados no recurso especial obsta o seu conhecimento também pela alínea c do permissivo constitucional. 5. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 715.516 – (2015/0120060-7) – 4ª T. – Rel. Min. Luis Felipe Salomão – DJe 10.09.2015 – p. 1872)

alienaçãO FiduCiária – nOtiFiCaçãO extraJudiCial

– COmprOvaçãO da mOra – nOtiFiCaçãO pessOal

– desneCessidade

34034 – “Agravo regimental no agravo em recurso especial. Alienação fiduciária. No-tificação extrajudicial. Comprovação da mora. Notificação pessoal. Desnecessidade. Sú-

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mula nº 83/STJ. Incidência. 1. A notificação extrajudicial expedida por cartório de títulos e documentos e entregue no domicílio do devedor é meio hábil à comprovação da mora do devedor, sendo dispensada, portanto, a sua notificação pessoal. Súmula nº 83/STJ. 2. Agravo regimental desprovido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 635.932 – (2014/0326257-6) – 3ª T. – Rel. Min. João Otávio de Noronha – DJe 11.09.2015 – p. 1337)

arrendamentO merCantil – pagamentO dO ipva –

respOnsabilidade sOlidária dO arrendante

34035 – “Processual civil e tributário. Embargos à execução fiscal. Arrendamento mer-cantil. Responsabilidade solidária do arrendante pelo pagamento do IPVA. Súmula nº 83/STJ. Transmissão definitiva do bem em razão do fim do contrato. Inexistência de prequestionamento. Súmula nº 211/STJ. 1. O acórdão recorrido está em consonância com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, em arrendamento mer-cantil, o arrendante é responsável solidário para o adimplemento da obrigação tributá-ria concernente ao IPVA, por ser ele possuidor indireto do bem arrendado e conservar a propriedade até o final do pacto. Incidência da Súmula nº 83/STJ. 2. No que concerne à alegação de que houve a transmissão definitiva do bem, o tribunal de origem não analisou a questão. O STJ entende ser inviável o conhecimento do Recurso Especial quando os arti-gos tidos por violados não foram apreciados pelo Tribunal a quo, a despeito da oposição de Embargos de Declaração, haja vista a ausência do requisito do prequestionamento. Persis-tindo a omissão, cabia ao agravante ter alegado, nas razões do Recurso Especial, violação ao art. 535 do CPC, ônus do qual não se desincumbiu. Aplicação da Súmula nº 211/STJ. 3. Agravo Regimental não provido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 711.812 – (2015/0110506-7) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 10.09.2015 – p. 1722)

busCa e apreensãO – pedidO de COnversãO em exeCuçãO – CÉdula de CrÉditO banCáriO

34036 – “Processo civil. Ação de busca e apreensão com pedido de conversão em execu-ção. Cédula de crédito bancário. Ausência do original. Petição inicial. Determinação de emenda não atendida pela parte autora. Inépcia. Extinção do processo sem julgamento de mérito. 1. Se o autor não cumpre as determinações de emenda à inicial, o juiz deve indeferi-la, julgando extinto o processo, sem resolução do mérito, com fulcro no art. 267, inciso I, do Código de Processo Civil. 2. Determinada a emenda da inicial, para juntada

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da via original da Cédula de Crédito Bancário, e, deixando a parte de proceder à emenda, transcorrendo in albis o prazo, e não apresentando qualquer justificativa para o atraso ou a não juntada, correta a rejeição da inicial. 3. Recurso não provido.” (TJDFT – Proc.Cív. 20140210023475 – (887737) – 4ª T.Cív. – Rel. Des. Cruz Macedo – DJe 11.09.2015 – p. 179)

CessãO de CrÉditO – ausênCia de nOtiFiCaçãO – exigibilidade

da dívida COmprOvada

34037 – “Agravo regimental no recurso especial. Civil. Cessão de crédito. Ausência de notificação. Exigibilidade da dívida comprovada. Reexame de prova. Súmula nº 7/STJ. Agravo improvido. 1. A ausência de notificação do devedor acerca da cessão do crédito (art. 290 do CC/2002) não torna a dívida inexigível, tampouco impede o novo credor de praticar os atos necessários à preservação dos direitos cedidos. 2. O Tribunal de origem concluiu que foi comprovada a origem da dívida. No caso, essa conclusão não pode ser al-terada nesta Corte, pois demandaria o reexame do conjunto fático-probatório, o que atrai o óbice da Súmula nº 7 desta Corte. 3. Agravo regimental improvido.” (STJ – AgRg-REsp 1.481.621 – (2014/0235398-3) – 4ª T. – Rel. Min. Raul Araújo – DJe 11.09.2015 – p. 1568)

COntratO de representaçãO COmerCial – HipOssuFiCiênCia da representante – Cláusula de eleiçãO de FOrO – nulidade

34038 – “Agravo regimental no agravo em recurso especial. Processual civil. Contrato de representação comercial. Hipossuficiência da representante. Cláusula de eleição de foro. Nulidade. Súmula nº 83/STJ. 1. O acórdão recorrido está em perfeita sintonia com a juris-prudência deste Tribunal, firmada no sentido de que a regra de competência prevista no art. 39 da Lei nº 4.886/1965 é relativa e destinada à proteção do representante comercial, podendo ser livremente alterada pelas partes, salvo se verificada a hipossuficiência da parte ou o prejuízo ao acesso à Justiça. Incidência da Súmula nº 83/STJ. 2. Agravo regi-mental não provido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 683.773 – (2015/0061677-7) – 3ª T. – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – DJe 10.09.2015 – p. 1807)

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COntratO de segurO de vida em grupO – prazO determinadO

– resCisãO – pOssibilidade – Cláusula abusiva

34039 – “Civil e processual civil. Agravo regimental no recurso especial. Contrato de se-guro de vida em grupo. Prazo determinado. Rescisão. Possibilidade. Cláusula abusiva. Não configuração. Pagamento de eventuais sinistros no decorrer do processo. Responsa-bilidade da seguradora. Devolução dos prêmios. Impossibilidade. Precedentes. Incidência da Súmula nº 83 do STJ. Decisão mantida. 1. Os segurados não apresentaram argumento novo capaz de modificar a conclusão adotada, que se baseou em entendimento aqui con-solidado para dar provimento ao recurso especial. Incidência da Súmula nº 83 do STJ. 2. A Segunda Seção deste Tribunal Superior pacificou a matéria, por ocasião do julga-mento do Recurso Especial nº 880.605/RN, no sentido da inexistência de abusividade da cláusula contratual que dispõe sobre a não renovação de contrato de seguro de vida em grupo em hipótese de contrato por prazo determinado. 3. Tendo em conta o efeito apenas devolutivo do recurso especial, permanecem hígidos os efeitos da tutela antecipada defe-rida na origem, enquanto não sobrevier o seu trânsito em julgado, e, por isso, a seguradora será responsável pelo pagamento de eventuais sinistros. Por isso, a não implementação dos riscos previstos não enseja ao segurado a restituição dos prêmios pagos. 4. Agravo re-gimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.401.734 – (2013/0134724-6) – 3ª T. – Rel. Min. Moura Ribeiro – DJe 10.09.2015 – p. 1833)

desaprOpriaçãO indireta – presCriçãO – direitO real

– presCriçãO vintenária

34040 – “Processual civil e administrativo. Desapropriação indireta. Prescrição. Direito real. Prescrição vintenária. Súmula nº 119/STJ. Código Civil de 2002. Art. 1.238, parágra-fo único. Prescrição decenal. Redução do prazo. Regra de transição. Lei nº 11.960/2009. Ausência de prequestionamento. Súmula nº 211/STJ. 1. Com fundamento no art. 550 do Código Civil de 1916, o STJ firmou a orientação de que ‘a ação de desapropriação indireta prescreve em 20 anos’ (Súmula nº 119/STJ). 2. O Código Civil de 2002 reduziu o prazo do usucapião extraordinário para 10 (dez) anos (art. 1.238, parágrafo único), devendo--se, a partir de então, observadas as regras de transição previstas no Codex (art. 2.028), adotá-lo nas expropriatórias indiretas. Precedentes: REsp 1.300.442/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 26.06.2013; REsp 944.351/PI, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T., DJe 15.04.2013. 3. Especificamente no caso dos autos, considerando que o prazo prescricional foi interrompido em setembro de 1996, com a publicação do Decreto expropriatório, e que não decorreu mais da metade do prazo vintenário previsto no Código revogado, conso-ante a disposição do art. 2.028 do CC/2002, incide o prazo decenal a partir da entrada em vigor do novel Código Civil (11.01.2003). Assim, tendo em vista que a ação foi proposta

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em 08.08.2007, antes do transcurso de 10 (dez) anos da vigência do novel Código Civil, não se configurou a prescrição. 4. É inadmissível Recurso Especial quanto a questão ina-preciada pelo Tribunal de origem (art. 5º da Lei nº 11.960/2009), a despeito da oposição de Embargos Declaratórios. Incidência da Súmula nº 211/STJ. 5. Agravo Regimental não provido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 424.803 – (2013/0369110-5) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 10.09.2015 – p. 1599)

despeJO – indenizaçãO pelO FundO de COmÉrCiO – direitO à

reparaçãO pela mudança, perda dO lugar e desvalOrizaçãO

dO FundO de COmÉrCiO

34041 – “Recurso especial. Ação de despejo. Indenização pelo fundo de comércio (art. 52, § 3º, da Lei nº 8.245/1991). Instâncias ordinárias que asseveraram inexistir direito à re-paração pela mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio, face à não manifestação da pretensão renovatória da locação comercial por parte do locatário (art. 51, § 5º, da referida lei). Insurgência do réu. Recurso especial desprovido. A con-trovérsia reside na vinculação ou não do pleito indenizatório previsto no art. 52, § 3º, da Lei nº 8.245/1991, ao direito de renovação compulsória do contrato de locação comercial. 1. Violação ao art. 535 do CPC não configurada. Inexistência de negativa de prestação jurisdicional, porquanto clara e suficiente, embora sucinta, a fundamentação adotada pelo Tribunal de origem para o deslinde da controvérsia, revelando-se desnecessário o enfren-tamento de cada um dos argumentos declinados pela parte. 2. Inviabilidade de o locatário pleitear, na defesa exercida no bojo da ação de despejo, indenização pelos prejuízos e eventuais lucros cessantes que tiver face a mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio (art. 52, § 3º, da Lei nº 8.245/1991), haja vista que os já referidos fun-damentos, aptos a autorizarem o seu deferimento, somente podem ser verificados após a entrega do imóvel. 3. Para a concessão da indenização pelo fundo de comércio, não basta a ocorrência dos fatos descritos na norma (art. 52, § 3º da Lei nº 8.245/1991 – não der o pro-prietário o destino alegado; não iniciar as obras determinadas pelo Poder Público ou que declarou pretender realizar em três meses da entrega), sendo imprescindível que esses decorram de um ato de retomada insincera do imóvel por parte do locador, circunstância também somente verificável posteriormente à procedência da demanda. 4. No caso dos autos, evidencia-se que o locador encaminhou comunicação ao locatário (fl. 29) com mais de seis meses de antecedência do término do contrato locatício (21.12.2005), manifestando sua intenção de retomada do imóvel para a realização de obras e ampliação da edificação, não tendo o réu exercido qualquer pleito renovatório judicial. 5. O direito à indenização pelo fundo de comércio (art. 52, § 3º, da Lei nº 8.245/1991) está intrinsecamente ligado ao direito à renovação locatícia compulsória (art. 51 do referido diploma legal), destinan-do-se aquela, exclusivamente, a penalizar o locador pela retomada insincera do imóvel, frustrando uma legítima expectativa à renovação contratual, hipótese não verificada nos

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autos, haja vista não ter o locatário manifestado a pretensão judicial renovatória, nos ter-mos do § 5º do art. 51 da mesma lei. 6. Recurso especial desprovido.” (STJ – REsp 1.216.537 – (2010/0184326-8) – 4ª T. – Rel. Min. Marco Buzzi – DJe 11.09.2015 – p. 1558)

divórCiO – partilHa de bens Cumulada COm alimentOs

34042 – “Processual civil. Ação de divórcio e partilha de bens cumulada com alimentos. Alimentos endereçados ao filho menor do casal. Rejeição liminar. Óbice judicial. Conteú-do decisório lesivo. Aferição. Recorribilidade. Agravo. Admissibilidade. Pedidos. Cumu-lação. Pretensões sujeitas ao procedimento ordinário e compatíveis entre si. Cúmulo obje-tivo. Viabilidade e legalidade. Indeferimento da inicial. Impossibilidade. 1. O ato judicial que determina o aditamento da inicial, conquanto seja qualificado como despacho de mero expediente e, outrossim, impregnado de natureza simplesmente ordinatória, encer-ra conteúdo decisório quando, exacerbando-se do limite do simples impulso processual, indefere a cumulação do pedido de oferta de alimentos à filha menor comum dos litigan-tes com os pedidos de decretação do divórcio e partilha do patrimônio comum, ensejando ao cônjuge que invoca a tutela judicial prejuízos processual e material, tornando-se, pois, passível de recurso ante os efeitos materiais que irradia, devendo ser sujeito ao reexame. 2. Consubstancia verdadeiro truísmo que, de acordo com o estabelecido pelo art. 292 do Código de Processo Civil, a cumulação de pedidos somente é legalmente admitida quan-do, estando ou não enlaçados por vinculação de conexão, sejam compatíveis entre si, seja competente para deles conhecer o mesmo juízo e adequado para todos o mesmo proce-dimento, resultando da aferição desses requisitos a propriedade da cumulação almejada (§ 1º). 3. Emergindo os pedidos de decretação de divórcio e de oferta de alimentos ende-reçados ao filho menor comum da mesma causa de pedir remota – casamento –, sendo perfeitamente compatíveis entre si, estando sujeitos à jurisdição do mesmo juízo e sido formulados no ambiente do procedimento comum ordinário, não subsiste nenhum óbice para que sejam formulados de forma cumulada e assim transitem e sejam resolvidos, in-clusive porque, agregada à satisfação do exigido para a formulação cumulada, consubs-tancia imperativo legal sua tramitação de forma cumulada como forma de materialização dos princípios da economia e efetividade processuais (CPC, art. 292, § 2º). 4. Conquanto os alimentos endereçados ao filho menor do casal que litiga em sede de ação divórcio sejam titularizados materialmente pelo próprio infante, inexiste lastro para se reputar como incompatível a cumulação do pedido destinado à sua fixação no ambiente da lide instaurada, inclusive porque sua resolução deve necessariamente dispor sobre a guarda do menor e do regime de visitação que vigerá, pois compreendidos como efeito anexo da dissolução do vínculo que enlaçara os genitores, compreendendo-se nessa acessoriedade, por extensão, a disposição dos alimentos que devem ser prestados ao filho pelo genitor desguarnecido da sua guarda por não emergir desse cúmulo objetivo nenhum prejuízo aos seus interesses e direitos porquanto necessariamente deve ser representado pelos pais. 5. Agravo conhecido e provido. Unânime.” (TJDFT – PC 20150020172015 – (891684) – 1ª T.Cív. – Rel. Des. Teófilo Caetano – DJe 11.09.2015 – p. 90)

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exeCuçãO – imóvel HipOteCadO – desaprOpriaçãO –

multipliCidade de penHOras – COnCursO de CredOres

34043 – “Processual civil. Recurso especial. Execução. Imóvel hipotecado. Desapropria-ção. Multiplicidade de penhoras. Concurso de credores. Preferência do crédito fiscal em face do crédito com garantia real. Súmula nº 83 do STJ. Ofensa ao art. 535 do CPC. Ofensa a coisa julgada. Súmulas nºs 282 e 356, do STF. Recurso não provido. 1. O crédito tributário somente é preterido em sua satisfação por créditos decorrentes da legislação trabalhista e por créditos decorrentes de acidente de trabalho e, na falência, pelas importâncias resti-tuíveis, pelos créditos com garantia real e créditos extraconcursais (REsp 1.360.786/MG, Relª Diva Malerbi, Desª Fed. Convocada, 2ª T., DJe 27.02.2013). Incidência da Súmula nº 83 do STJ. 2. A ausência de indicação clara e precisa das questões omissas, contradi-tórias ou obscuras configura deficiência na fundamentação, o que impede a abertura da instância especial, a teor do Enunciado nº 284 da Súmula do STF, aplicável por analogia, no recurso especial. 3. O conteúdo normativo dos dispositivos legais apontados como vio-lados em relação à coisa julgada não foi objeto de debate prévio nas instâncias de origem. Ausente, portanto, o devido prequestionamento nos termos das Súmulas nºs 282 e 356 do STF, aplicável, por analogia, no recurso especial. 4. Determinar a instauração de concurso de credores não implica definição imediata sobre quais credores receberão preferencial-mente. Ausência de prejuízo. 5. Recurso especial não provido.” (STJ – REsp 1.440.768 – (2013/0410088-6) – 3ª T. – Rel. Min. Moura Ribeiro – DJe 11.09.2015 – p. 1434)

exeCuçãO – títulO exeCutivO extraJudiCial – CHeque –

ausênCia de CitaçãO – presCriçãO

34044 – “Processual civil. Execução. Título executivo extrajudicial. Cheque. Ausência de citação. Prescrição. Prazo de seis meses. Extinção do processo com resolução de mérito. 1. Compete ao exequente promover a citação do executado, a qual deve ocorrer dentro de prazo razoável, sob pena de perpetuação do feito e violação do princípio constitucional da razoável duração do processo. 2. Transcorrido o prazo de 06 (seis) meses, contados do 30º (trigésimo) dia da emissão do cheque, ausente a citação, tem-se operada a prescrição para o ajuizamento da ação executiva, a qual deve ser pronunciada de ofício (Código de Pro-cesso Civil, arts. 219, § 5º e 269, IV). 3. Recurso não provido.” (TJDFT – PC 20090110461784 – (887758) – 4ª T.Cív. – Rel. Des. Cruz Macedo – DJe 11.09.2015 – p. 172)

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exeCuçãO – títulO extraJudiCial – adJudiCaçãO

de bens penHOradOs

34045 – “Agravo regimental no agravo (art. 544 do CPC). Autos de agravo de instrumen-to dirigido contra o deferimento de adjudicação de bens penhorados no âmbito da execu-ção de título extrajudicial. Decisão monocrática negando provimento ao agravo, mantida a inadmissão do recurso especial. 1. Razões do regimental que não impugnam especifi-camente os fundamentos invocados na deliberação monocrática. Em razão do princípio da dialeticidade, deve o agravante demonstrar de modo fundamentado o desacerto da decisão agravada. Incidência da Súmula nº 182/STJ: ‘É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada’. 2. Agravo regimental não conhecido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 540.812 – (2014/0143769-1) – 4ª T. – Rel. Min. Marco Buzzi – DJe 11.09.2015 – p. 1485)

exeCuçãO – títulO extraJudiCial – dupliCatas

34046 – “Recurso especial. Execução. Título extrajudicial. Duplicatas. Omissão inexis-tente. Prequestionamento ausente. Imóvel. Bem de família. Descaracterização. Reexame de provas. Súmula nº 7/STJ. Acórdão recorrido. Jurisprudência desta corte. Dissonância. Penhora. Fração ideal de coproprietário. Possibilidade. 1. Cinge-se a controvérsia a definir se é possível a penhora de fração ideal dos recorridos sobre o imóvel que se encontra em condomínio e servindo de residência para sua genitora. 2. A jurisprudência desta Corte consolidou o entendimento de ser possível a penhora de fração ideal de imóvel caracte-rizado como bem de família. 3. A fração ideal de bem indivisível pertencente a terceiro não pode ser levada à hasta pública, devendo a constrição judicial incidir apenas sobre as frações ideais de propriedade dos executados. 4. Recurso especial conhecido em parte e provido.” (STJ – REsp 1.457.491 – (2014/0116414-6) – 3ª T. – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – DJe 11.09.2015 – p. 1440)

HOnOráriOs de advOgadO – CuradOr espeCial – CabimentO

34047 – “Processual civil. Honorários advocatícios. Curador especial. Cabimento. Prece-dentes do STJ. 1. a jurisprudência do STJ entende que são devidos honorários de advogado ao curador especial pela parte sucumbente ou pelo Estado quando não houver Defensoria Pública. 2. Recurso Especial não provido.” (STJ – REsp 1.540.725 – (2015/0152982-0) – 2ª T. – Rel. Min. Herman Benjamin – DJe 11.09.2015 – p. 1271)

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HOnOráriOs de advOgadO – víCiO de natureza resCisória

– desCabimentO da Querela NullitatiS – errO material

– nãO COnFiguraçãO

34048 – “Agravo regimental no recurso especial. Processual civil. Honorários advocatí-cios. Base de cálculo. Inobservância do art. 20, § 3º, do CPC. Trânsito em julgado. Vício de natureza rescisória. Descabimento da querela nullitatis. Erro material. Não configuração. Coisa julgada inconstitucional. Descaracterização. 1. É possível, de modo excepcional, o controle de nulidades processuais, sobretudo as de natureza absoluta, após o trânsito em julgado da decisão por meio de impugnações autônomas, como embargos à execução, ação anulatória (querela nullitatis) e ação rescisória, cabíveis conforme o grau de nulidade no processo originário. 2. A querela nullitatis é instrumento utilizado para impugnar sen-tença contaminada pelos vícios mais graves de erros de atividade (errores in procedendo), nominados de vícios transrescisórios, que tornam o ato judicial inexistente, não se sanan-do com o transcurso do tempo. 3. Se a insurgência é contra a parte da sentença que fixou a base de cálculo dos honorários advocatícios sem observar os ditames do art. 20, § 3º, do CPC, o vício é de caráter rescisório, de modo que o instrumento processual adequado é a ação rescisória, apta a discutir a existência de violação literal de dispositivo de lei. 4. O equívoco no arbitramento da verba honorária não é considerado erro material, pois somente os desacertos numéricos cometidos quando da elaboração da conta caracterizam esse vício. Logo, os critérios de cálculo utilizados quanto aos honorários advocatícios es-tão protegidos pela coisa julgada. A ausência de impugnação tempestiva da base de cálcu-lo fixada atrai a aplicação do brocardo jurídico dormientibus non sucurrit jus (o direito não socorre aos que dormem). Precedentes. 5. Não havendo vício transrescisório ou eventual coisa julgada inconstitucional, mas vício rescisório, descabida é a querela nullitatis. 6. Agra-vo regimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.524.632 – (2011/0197256-4) – 3ª T. – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – DJe 11.09.2015 – p. 1453)

JuizadO espeCial – relaçãO de COnsumO – COmpra de aparelHO

Celular em estabeleCimentO COmerCial – víCiO de qualidade

34049 – “Juizado especial. Relação de consumo. Compra de aparelho celular em esta-belecimento comercial. Produto com vício de qualidade. Condenação na devolução da quantia paga. Art. 18, § 1º, inc. II, CDC. Pretensão de reforma. Substituição por produto em perfeitas condições para uso. Ônus da prova. Não comprovação pela ré. Recurso des-provido. Sentença mantida. 1. Narra a petição inicial a compra de dois aparelhos celulares no estabelecimento comercial da demandada, no valor total de R$ 2.208,00 (dois mil, du-zentos e oito reais). Todavia, o Autor sustentou que um dos telefones já possuía um chip de

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terceiro, tratando-se, portanto, de um produto usado. Por conseguinte, retornou à empre-sa e, após uma espera de alguns dias, foi efetuada a troca do aparelho por outro, que tam-bém apresentou falha no carregamento da bateria, resultando, por fim, no ajuizamento da presente ação. Pretende-se a devolução da quantia paga pelos dois aparelhos, além dos prejuízos com deslocamento até a sede do estabelecimento da requerida e a compensação por danos morais. 2. Em sede de sentença, os pedidos iniciais foram julgados parcialmen-te procedentes, para condenar a ré a restituir ao autor o valor de R$ 899,00 (oitocentos e noventa e nove reais), referente a um dos aparelhos celulares com vício de qualidade, que impedia sua utilização pelo consumidor. 3. A teor do que estabelece o art. 18 do Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor e o fabricante respondem solidariamente pelos vícios de qualidade do produto, que o torne impróprio ou inadequado ao consumo a que se destina. 4. Diante do vício que impossibilite o uso do produto, pode o consumidor optar pelo desfazimento do negócio e restituição da quantia paga, ou substituição do produto por outro da mesma espécie, em condições de uso (art. 18, § 1º, CDC). 5. Dentro do sistema de distribuição do ônus da prova no Código Processo Civil, compete ao autor comprovar os fatos constitutivos de seu direito e, ao réu, os fatos desconstitutivos, impeditivos ou modificativos. 6. Cabia ao fornecedor o ônus de provar a ausência de falha no produto vendido ao autor ou que o vício teria se originado por sua culpa exclusiva, mas desse ônus não desincumbiu. Portanto, correta a sentença que determinou a devolução da quantia de-sembolsada pelo consumidor pelo único aparelho que apresentou problema. 7. Condeno a recorrente nas custas processuais e nos honorários advocatícios, os quais fixo em 10% (dez por cento) do valor da condenação. 8. Decisão proferida na forma do art. 46 da Lei nº 9.099/1995, servindo a ementa de acórdão.” (TJDFT – JE 20140310241584 – (892411) – 1ª T.R.J.E. Distrito Federal – Rel. Juiz Luís Gustavo B. de Oliveira – DJe 11.09.2015 – p. 265)

lOCaçãO – FiadOr – dÉbitOs veriFiCadOs nO períOdO

reFerente à prOrrOgaçãO dO COntratO – ausênCia

de Cláusula

34050 – “Agravo regimental no agravo de instrumento. Locação. Fiador. Débitos verifi-cados no período referente à prorrogação do contrato. Ausência de cláusula estipulando a responsabilidade do fiador até a entrega das chaves. Agravo regimental desprovido. 1. A Corte de origem consignou no acórdão objurgado que ‘não tem cláusula alguma impondo a responsabilidade dos fiadores no caso de prorrogação da locação por tempo indeter-minado. Assim, os fiadores se obrigaram somente pelo tempo certo de duração do con-trato, razão pela qual não podem ser responsabilizados pelas obrigações contraídas pelo locatário após tal prazo e sem sua anuência’. 2. Infirmar as conclusões do julgado, como ora postulado, encontra óbice nas Súmulas nºs 5 e 7/STJ. 3. Ademais, o entendimento do Tribunal local está em consonância com a pacífica jurisprudência desta Corte Superior, que afasta a responsabilidade do fiador pelos débitos contraídos sem a sua anuência, nos

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termos da Súmula nº 214, que dispõe que ‘o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu’. 4. Agravo regimental a que se nega provi-mento.” (STJ – AgRg-AI 1.367.645 – (2010/0204596-5) – 4ª T. – Rel. Min. Raul Araújo – DJe 11.09.2015 – p. 1564)

nota:Trata-se de agravo interno contra decisão monocrática da lavra desta relatoria por meio da qual se negou provimento ao agravo de instrumento, por entender que as conclu-sões do v. acórdão recorrido estão no mesmo sentido da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.Inconformado, o agravante pugna pela reforma da decisão monocrática, argumentan-do, em síntese, que “os fiadores jamais se exoneraram da fiança prestada, sendo que, prorrogado o contrato por prazo indeterminado, os Agravados somente poderiam ser desobrigados por notificação expressa”, e que “a prorrogação do contrato por prazo indeterminado, nos termos do art. 46, § 1º da Lei nº 8.245/1991, jamais tendo havido aditamento escrito ao contrato de locação, mostrando-se incabível a utilização da Sú-mula nº 214 do STJ para se justificar a suposta exoneração dos fiadores”.O Tribunal a quo, de acordo com o contexto probatório constante nos autos, concluiu que o fiador não seria responsável pelo pagamento dos débitos locativos constituídos depois de findo o prazo do contrato de locação, porquanto não havia cláusula o respon-sabilizando até a efetiva entrega das chaves.O STJ negou provimento ao agravo regimental, aduzindo que incide, na espécie, a Sú-mula nº 83/STJ, que dispõe que “não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida”.Sobre a duração das garantias contratuais é oportuno trazer as lições de Jesualdo Eduardo de Almeida Júnior:“Esta questão foi uma das mais problemáticas que envolviam o contrato de locação.Via de regra, os contratos vinham garantidos pela fiança e detinham cláusula de reno-vação automática em caso de seu término. E surgia a pergunta: o fiador seria responsá-vel na renovação automática da qual não anuíra expressamente?A lei limitava-se a determinar, no seu art. 39, in litteris: ‘Salvo disposição contratual em contrário, qualquer das garantias da locação se estende até a efetiva devolução do imóvel’.A jurisprudência vacilou intermitentemente até a edição da Súmula nº 214 do Superior Tribunal de Justiça, que dispôs: ‘O fiador na locação não responde por obrigações resul-tantes de aditamento ao qual não anuiu’.Desse modo, o fiador somente permaneceria responsável pelos débitos do contrato se houvesse anuído expressamente no aditamento.Porém, a nova redação do art. 39 da Lei nº 8.245/1991 é manifestamente desvantajosa aos fiadores, uma vez que impôs: ‘Salvo disposição contratual em contrário, qualquer das garantias da locação se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que pror-rogada a locação por prazo indeterminado, por força desta lei’.Portanto, pela parte inicial do artigo, vê-se que se trata de cláusula dispositiva, ficando ao arbítrio das partes estipularem se haverá a manutenção ou não da garantia em caso de renovação automática do contrato. Entretanto, no silêncio, o fiador se mantém res-ponsável pelas dívidas do afiançado/locatário até a efetiva entrega do imóvel.

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Além disso, há duas novas possibilidades do locador exigir do locatário novo fiador ou garantia contratual. E são:‘Art. 40.[...]II – ausência, interdição, recuperação judicial, falência ou insolvência do fiador, decla-radas judicialmente.[...]X – prorrogação da locação por prazo indeterminado uma vez notificado o locador pelo fiador de sua intenção de desoneração, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante 120 (cento e vinte) dias após a notificação ao locador.’O inciso II é uma mera adaptação de nomenclatura ao inserir a recuperação judicial da Lei nº 11.101/2005.Todavia, há de se atentar ao inciso X. Por ele, numa interpretação lógica, percebe-se que prorrogado o contrato por prazo indeterminado, o fiador se mantém a ele vinculado. Mas, faculta-se-lhe notificar o locador da sua intenção de desonerar-se, ficando apenas obrigado aos efeitos da fiança durante os 120 (cento e vinte) dias subsequentes à noti-ficação.Desse modo, parece inequívoco que o fiador possa denunciar sua garantia prestada nos casos de prorrogação do contrato por prazo indeterminado.Caso isso aconteça, o ‘locador poderá notificar o locatário para apresentar nova garan-tia locatícia no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de desfazimento da locação’ (art. 40, parágrafo único, nova redação).Repita-se: caso o fiador se desonere unilateralmente, caberá ao locatário providenciar nova garantia em um prazo de 30 (trinta) dias. Se não o fizer, o contrato de locação será resolvido, extinguindo-se.Como se verá abaixo, a situação permite, inclusive, ação de despejo por um rito mais célere.” (Inovações da lei de locação. Disponível em: http://online.sintese.com.)

multa COminatória – FixaçãO na tutela anteCipada –

COndiçãO resOlutiva

34051 – “Agravo regimental no recurso especial. Civil e processual civil. Apelação. Jun-tada de documentos novos. Possibilidade. Multa cominatória. Fixação na tutela antecipa-da. Condição resolutiva. Pleito improcedente. Insubsistência da medida coercitiva. Efeito retroativo. Preclusão da questão. Não ocorrência. Exame de ofício. 1. A jurisprudência deste Tribunal Superior é no sentido de ser possível a juntada de documentos novos na fase recursal, desde que não se trate de documento indispensável à propositura da ação, não haja má-fé na ocultação do documento e seja ouvida a parte contrária. 2. As astreintes fixadas em antecipação de tutela ficam pendentes de condição resolutiva, qual seja, a pro-cedência do pedido principal. Logo, se improcedente o pleito formulado na ação, a multa cominatória perde efeito retroativamente. Precedentes. 3. A decisão que arbitra astreintes

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não faz coisa julgada material, visto que é apenas um meio de coerção indireta ao cumpri-mento do julgado, podendo ser modificada a requerimento da parte ou de ofício, seja para aumentar ou diminuir o valor da multa ou, ainda, para suprimi-la. 4. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.362.266 – (2013/0006627-3) – 3ª T. – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – DJe 10.09.2015 – p. 1829)

reCursO espeCial – Civil – CessãO de CrÉditO – ausênCia de nOtiFiCaçãO – presCindibilidade

34052 – “Agravo regimental no agravo em recurso especial. Civil. Cessão de crédito. Ausência de notificação. Prescindibilidade. Exigibilidade da dívida comprovada. Agravo improvido. 1. A ausência de notificação do devedor acerca da cessão do crédito (art. 290 do CC/2002) não torna a dívida inexigível, tampouco impede o novo credor de praticar os atos necessários à preservação dos direitos cedidos. 2. Agravo regimental improvido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 695.042 – (2015/0097312-0) – 4ª T. – Rel. Min. Raul Araújo – DJe 11.09.2015 – p. 1523)

relaçãO de COnsumO – COnsumidOr – COnCeitO –

pessOa JurídiCa – aquisiçãO dO material para Cadeia prOdutiva – inexistênCia

34053 – “Processual civil. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Consumi-dor. Conceito. Pessoa jurídica. Aquisição do material para cadeia produtiva. Inexistência de relação de consumo. Incidência das Súmulas nºs 7 e 83 do STJ. Vulnerabilidade não analisada pelas instâncias de origem. Supressão de instância. Decisão mantida. 1. A con-sonância entre a decisão recorrida e a jurisprudência do STJ obsta o conhecimento do recurso especial, nos termos da Súmula nº 83 do STJ. 2. Na espécie, o posicionamento adotado na decisão recorrida coincide com a orientação desta Corte Superior, no sentido de que, em regra, considera-se consumidor aquele que retira o produto do mercado e o utiliza em proveito próprio. 3. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a Súmula nº 7 do STJ. 4. No caso concreto, o Tribunal de origem, com base nos elementos de prova dos autos, concluiu que a recorrente adquiriu os materiais da agravada para utilizá--los como insumo de sua cadeia produtiva, o que impede a caracterização de relação de consumo. Alterar esse entendimento demandaria o reexame de provas, o que é inviável

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em recurso especial, ante o óbice das referidas súmulas. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 236.130 – (2012/0203963-0) – 4ª T. – Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira – DJe 11.09.2015 – p. 1465)

representaçãO prOCessual – advOgadO sem prOCuraçãO nOs

autOs – reCursO inexistente – regularizaçãO dO FeitO

34054 – “Processual civil. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Advogado sem procuração nos autos. Recurso inexistente. Regularização do feito. Não cabimento. Art. 13 do CPC. Decisão mantida. 1. Nesta Corte Superior, é pacificado o entendimento de ser inexistente, na instância especial, recurso interposto por advogado sem procuração nos autos, a teor da Súmula nº 115 do STJ. 2. Inaplicável, nesta instância, a providência prevista no art. 13 do CPC, considerando-se não sanável tal vício por juntada posterior de mandato ou substabelecimento, pois a regularidade da representação processual é aferida no momento da interposição do apelo nobre. 3. Agravo regimental não provi-do.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 652.210 – (2015/0003861-8) – 3ª T. – Rel. Min. Moura Ribeiro – DJe 10.09.2015 – p. 1792)

respOnsabilidade Civil – açãO de indenizaçãO pOr aCidente

de trÂnsitO – reduçãO parCial e permanente da CapaCidade labOrativa – arbitramentO

34055 – “Agravo regimental no agravo em recurso especial. Direito civil. Responsa-bilidade civil. Ação de indenização por acidente de trânsito. Redução parcial e perma-nente da capacidade laborativa. Arbitramento de pensão vitalícia parcial e permanente. Art. 1.539 do Código Civil de 1916, atual art. 950 do Código Civil de 2002. Cabimento. 1. É cabível do arbitramento de pensão vitalícia àqueles que sofreram lesão permanente e parcial à sua integridade física, resultando em redução de sua capacidade laborativa/profissional, consoante interpretação dada ao art. 1.539 do Código Civil de 1916, atual art. 950 do Código Civil de 2002. Precedentes. 2. O Tribunal de origem, fixou a tese de que, na ausência de comprovação de remuneração auferida pela atividade laboral/profissional pelo lesionado, adota-se o valor de 1 (um) salário mínimo, como base de cálculo inicial para fixação da proporção da perda de sua capacidade remuneratória, em sintonia com precedentes desta Corte, na forma do AgRg-EREsp 1076026/DF, Rel. Min. João Otávio de

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Noronha, 2ª S., Julgado em 22.06.2011, DJe 30.06.2011. 3. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 636.383 – (2014/0327551-7) – 4ª T. – Rel. Min. Luis Felipe Salomão – DJe 10.09.2015 – p. 1851)

respOnsabilidade Civil – HOnOráriOs COntratuais

– açãO JudiCial – pretensãO regularmente resistida –

ressarCimentO – impOssibilidade

34056 – “Processo civil. Administrativo. Ação de indenização. Honorários contratuais. Ação judicial. Pretensão regularmente resistida. Ressarcimento. Impossibilidade. Exercí-cio do direito de defesa. Licitude. 1. Debate-se na demanda a responsabilidade civil do INSS em ressarcir a parte que lhe moveu ação judicial para o pagamento de benefício pre-videnciário pelas despesas referentes aos honorários advocatícios contratuais, a título de perdas e danos. 2. A mera resistência à pretensão deduzida em juízo não é suficiente para caracterizar a conduta do réu como ato ilícito, ressalvadas, obviamente, situações excep-cionais em que efetivamente constatado o abuso no exercício do direito. 3. Dessa feita, não se cogita de perdas e danos, nem de condenação da parte contrária ao ressarcimento dos honorários contratuais, pois a sucumbência sofrida no âmbito processual, via de regra, encontra-se regulada nos arts. 20 a 35 do CPC, não compreendendo, portanto, o ressarci-mento das despesas com honorários contratuais. Precedentes: AgRg-AREsp 477.296/RS, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, 4ª T., DJe 02.02.2015. AgRg-AREsp 516.277/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª T., DJe 04.09.2014. AgRg-REsp 1.229.482/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª T., DJe 23.11.2012. 4. Recurso especial a que se nega provimento.” (STJ – REsp 1.480.225 – (2014/0228593-6) – 2ª T. – Rel. Min. Og Fernandes – DJe 11.09.2015 – p. 1216)

segurO de vida – suiCídiO OCOrridO antes de

COmpletadOs dOis anOs de vigênCia dO COntratO

– indenizaçãO indevida

34057 – “Agravo regimental. Agravo em recurso especial. Direito civil. Seguro de vida. Suicídio ocorrido antes de completados dois anos de vigência do contrato. Indenização indevida. Art. 798 do Código Civil. 1. De acordo com a redação do art. 798 do Código Civil de 2002, a seguradora não está obrigada a indenizar o suicídio ocorrido nos dois primeiros anos após a contratação do seguro. 2. O legislador estabeleceu critério objetivo para regu-

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lar a matéria, tornando irrelevante a discussão a respeito da premeditação da morte, de modo a conferir maior segurança jurídica à relação havida entre os contratantes. 3. Agravo regimental provido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 548.330 – (2014/0173508-7) – 3ª T. – Rel. Min. João Otávio de Noronha – DJe 10.09.2015 – p. 1780)

sentença arbitral – açãO anulatória – prOlaçãO

34058 – “Recurso especial. Ação anulatória de sentença arbitral. 1. Prolação de sentença arbitral parcial. Admissão, com esteio na Lei nº 9.307/1996 (antes mesmo das alterações promovidas pela Lei nº 13.129/2015), no Código de Processo Civil (com redação dada pela Lei nº 11.232/2005) e, principalmente, no regulamento de arbitragem acordado ex-pressamente pelos signatários do compromisso arbitral (Uncitral). Ajuizamento de ação anulatória, no prazo de 90 (noventa) dias, nos termos do art. 33, § 1º, da Lei nº 9.307/1996, contados do respectivo trânsito em julgado, sob pena de decadência. Inobservância. 2. delimitação subjetiva da arbitragem. Contratos coligados. Litisconsórcio necessário e unitário. Não caracterização. 3. Recurso especial provido. 1. No âmbito do procedimento arbitral, nos termos da Lei nº 9.307/1996 (antes mesmo das alterações promovidas pela Lei nº 13.129/2015), inexiste qualquer óbice à prolação de sentença arbitral parcial, espe-cialmente na hipótese de as partes signatárias assim convencionarem (naturalmente com a eleição do Regulamento de Arbitragem que vierem a acordar), tampouco incongruên-cia com o sistema processual brasileiro, notadamente a partir da reforma do Código de Processo Civil, veiculada pela Lei nº 11.232/2005, em que se passou a definir ‘sentença’, conforme redação conferida ao § 1º do art. 162, como ato do juiz que redunde em qualquer das situações constantes dos arts. 267 e 269 do mesmo diploma legal. 1.1 Em se transpor-tando a definição de sentença (ofertada pela Lei nº 11.232/2005) à Lei nº 9.307/1996, é de se reconhecer, portanto, a absoluta admissão, no âmbito do procedimento arbitral, de se prolatar sentença parcial, compreendida esta como o ato dos árbitros que, em definitivo (ou seja, finalizando a arbitragem na extensão do que restou decidido), resolve parte da causa, com fundamento na existência ou não do direito material alegado pelas partes ou na ausência dos pressupostos de admissibilidade da tutela jurisdicional pleiteada. 1.2 A ação anulatória destinada a infirmar a sentença parcial arbitral – único meio admitido de impugnação do decisum – deve ser intentada de imediato, sob pena de a questão decidi-da tornar-se imutável, porquanto não mais passível de anulação pelo Poder Judiciário, a obstar, por conseguinte, que o Juízo arbitral profira nova decisão sobre a matéria. Não há, nessa medida, qualquer argumento idôneo a autorizar a compreensão de que a impug-nação ao comando da sentença parcial arbitral, por meio da competente ação anulatória, poderia ser engendrada somente por ocasião da prolação da sentença arbitral final. Tal incumbência decorre da própria lei de regência (Lei nº 9.307/1996, inclusive antes das alterações promovidas pela Lei nº 13.129/2015), que, no § 1º de seu art. 33, estabelece o prazo decadencial de 90 (noventa dias) para anular a sentença arbitral. Compreendendo--se sentença arbitral como gênero, do qual a parcial e a definitiva são espécies, o prazo

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previsto no aludido dispositivo legal aplica-se a estas, indistintamente. E, segundo restou devidamente consignado no acórdão recorrido, a possibilidade de julgamento fatiado, por meio do proferimento de sentença parcial, foi expressamente admitido pelas partes, a par-tir do Regulamento de Arbitragem da Uncitral por elas eleito. 2. A indiscutível coligação e conexão entre os contratos celebrados, para o fornecimento, intermediação e aquisição de gás natural, a evidenciar, portanto, o nexo de funcionalidade dos ajustes, não subtrai a autonomia e a individualidade da relação jurídica inserta em cada contrato, com partes e objetos próprios. Por contratos coligados compreende-se a celebração de dois ou mais contratos autônomos, mas que guardam entre si um nexo de funcionalidade econômi-ca, a propiciar a consecução de uma finalidade negocial comum. 2.1 O objeto da ação promovida pela Termopernambuco em face da Copergás, perante o Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem, consiste em saber se a Copergás, ao proceder ao aludido repasse de valores por ocasião da revenda do gás natural à Termopernambuco, infringiu ou não a cláusula que estipulou o preço no contrato entre elas estabelecido (GSA Downstream), para a aquisição de gás natural. O ‘preço’ nada mais é do que a própria obrigação contra-tual assumida pela Termopernambuco no âmbito do GSA Downstream. Por consectário, a composição do preço pelo qual a Termopernambuco adquire gás natural da Copergás é matéria necessariamente disciplinada no mencionado ajuste (GSA Downstream) e, por óbvio, enseja a vinculação somente das partes contratantes. 2.2 Não se olvida que a conse-cução do negócio econômico em comum, perseguido pelas partes e viabilizado pela coli-gação dos contratos, depende, naturalmente, do cumprimento das obrigações contratuais de todos os envolvidos, no bojo dos respectivos ajustes. Indiscutível, nessa medida, que as partes de cada relação contratual tenham reciprocamente interesses jurídico e econômico quanto à perfectibilização dos ajustes como um todo. Essa circunstância, todavia, não tor-na um dos contratantes titular dos direitos e obrigações discutidos no bojo do outro con-trato coligado. 2.3 A partir da delimitação do objeto da contenda arbitral, pode-se antever com segurança que o provimento de mérito perseguido na arbitragem, independente de seu desfecho, não teria o condão de repercutir diretamente na esfera jurídica da Petrobras, que, é certo, não titulariza a relação jurídica representada pelo contrato GSA Downstream. Por consectário, não se haveria de cogitar, igualmente, que o provimento arbitral regu-laria de modo uniforme a situação jurídica dos supostos litisconsortes (a Copergás e a Petrobras). 3. Seja pela fluência do prazo decadencial da ação anulatória para infirmar o comando exarado na sentença parcial arbitral, seja principalmente pela não conformação de litisconsórcio passivo necessário e unitário a ser integrado pela Petrobrás no âmbito da arbitragem, dá-se provimento ao presente recurso especial, para reconhecer a validade da sentença arbitral definitiva no tocante à delimitação subjetiva da arbitragem, determi-nando-se, por conseguinte, a remessa dos autos ao Tribunal de origem para prosseguir na análise dos fundamentos remanescentes, estes sim, relacionados à sentença arbitral final.” (STJ – REsp 1.519.041 – (2015/0014442-9) – 3ª T. – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – DJe 11.09.2015 – p. 1450)

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sentença estrangeira COntestada – divórCiO –

requisitOs para HOmOlOgaçãO

34059 – “Sentença estrangeira contestada. Divórcio. Requisitos para homologação da sentença estrangeira. Preenchimento. Homologação deferida. 1. Há de ser rejeitada a pre-liminar de nulidade da citação por edital, realizada nos presentes autos com observância das regras previstas nos arts. 231 e 232 do Código de Processo Civil, porquanto eviden-ciada infrutífera a ativa tentativa de localização da parte contrária pelo requerente. 2. É devida a homologação da sentença estrangeira de divórcio, porquanto foram atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 3. A presença do carimbo com a expressão ‘filed’ é suficiente para a comprovação do trânsito em julgado da sentença norte-americana. Precedentes. 4. Pedido de homologa-ção da sentença estrangeira deferido.” (STJ – SEC 8.883 – (2013/0331796-5) – C.Esp. – Rel. Min. Raul Araújo – DJe 11.09.2015 – p. 1085)

nota:Trata-se de pedido de homologação de sentença estrangeira, proveniente do Superior Tribunal de Nova Jersey, Divisão de Equidade, Vara de Família, Condado de Essex, nos Estados Unidos da América, que julgou procedente pedido de divórcio à revelia.Realizada a citação por edital, a Defensoria Pública da União, na qualidade de curadora especial, apresentou contestação, requerendo, preliminarmente, a nulidade da citação ficta, e, no mérito, o indeferimento do pedido de homologação, em razão da não de-monstração do trânsito em julgado da sentença estrangeira.O Parquet requereu diligência, deferida pelo eminente Relator que determinou que a “requerente faça prova concreta de que não reside mais nos seguintes endereços: 185 Kimberly Rd Union, NJ 07083 e PO Box Union, NJ 07083”.A requerente manifestou-se às fls. 186/189, informando o envio de correspondências para os endereços indicados, as quais retornaram, juntando os documentos devida-mente traduzidos.Deferida e cumprida a diligência, embora sem êxito na localização do requerido, os autos foram encaminhados novamente ao d. órgão do Ministério Público Federal que se manifestou pelo deferimento do pedido de homologação da sentença estrangeira,O STJ deferiu o pedido de homologação da sentença estrangeira.Em estudo de José Russo sobre a homologação de sentença estrangeira veremos:“Vimos a forma como pode acontecer o divórcio de casal cujo matrimônio ocorreu em território brasileiro.De outra parte, o Poder Judiciário pátrio por diversas vezes é provocado no sentido de promover a homologação de sentença estrangeira de divórcio, a fim de que esta adqui-ra eficácia no Brasil.Nenhuma outra palavra poderia trazer maiores esclarecimentos ao assunto do que a lição magistral do consagrado mestre J. C. Barbosa Moreira: ‘Na homologação de sentença estrangeira, o modelo que se tem em vista é a sentença de igual conteúdo que porventura fosse proferida pela Justiça brasileira. O modelo, por

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si só, seria apto a produzir, no território nacional, os efeitos próprios. A sentença es-trangeira, não: a lei considera-a “capaz de adquirir eficácia” no país, mas subordina tal aquisição a um ato formal de reconhecimento, praticado por órgão judiciário nacional. Esse ato, no sistema pátrio, é precisamente a homologação.Com o ato formal de reconhecimento, a sentença estrangeira passa a surtir, no território nacional, efeitos iguais aos que surtiria uma sentença brasileira de igual conteúdo. Isso não quer dizer, porém, que, para tornar admissível a homologação, seja necessário que no Brasil se pudesse efetivamente obter, acerca da matéria decidida no outro Estado, sentença de igual conteúdo, ou até qualquer sentença: a espécie talvez escape, em ter-mos absolutos, à cognição da nossa Justiça. O modelo, a que a homologação assimila a sentença estrangeira, é concebido in abstracto, sendo irrelevante a indagação quer sobre a coincidência entre o respectivo conteúdo e o de alguma sentença que in concreto se houvesse de proferir no território nacional, quer sobre a possibilidade mesma de proferir-se aqui tal sentença.O ato formal de reconhecimento (homologação, conforme a técnica do direito brasi-leiro) é acontecimento futuro e incerto a que a lei subordina a eficácia, no território nacional, da sentença estrangeira. Por isso, costuma a doutrina atribuir-lhe a função de verdadeira condição legal (condicio iuris).’” (Comentários ao Código de Processo Civil, v. V. p. 68)O mandamento do art. 483 do Código de Processo Civil é de fundamental importância na elucidação da matéria. Vejamos:“Art. 483. A sentença proferida por tribunal estrangeiro não terá eficácia no Brasil senão depois de homologada pelo Supremo Tribunal Federal.Parágrafo único. A homologação obedecerá ao que dispuser o regimento interno do Supremo Tribunal Federal.”

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JurisprudênciaPenal

STFSupremo Tribunal Federal

01.09.2015 Segunda Turma

AgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 768.382

Distrito Federal

Relator: Min. Teori Zavascki

Agte.(s): Erickson Drumond Guimarães

Proc.(a/s)(es): Defensor Público-Geral do Distrito Federal e Territórios

Agdo.(a/s): Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

Proc.(a/s)(es): Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios

EMENTA

prOCessual penal – agravO regimental nO reCursO extraOrdináriO COm agravO –

viOlaçãO aO art. 93, ix, da CF/1988 – inOCOrrênCia – neCessidade de análise da legislaçãO

inFraCOnstituCiOnal pertinente – OFensa COnstituCiOnal reFlexa – reexame de FatOs e prOvas – sÚmula nº 279 dO stF – reinCidênCia – art. 61, i, dO CódigO penal – COmpatibilidade

COm Os prinCípiOs dO NoN biS iN idem e da individualizaçãO da pena (re 453.000/rs,

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rel. min. marCO aurÉliO – tema 114) – agravO regimental a que se nega prOvimentO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, por unanimidade, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Não participou, justificadamente, deste julga-mento, o Senhor Ministro Gilmar Mendes.

Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia.

Brasília, 1º de setembro de 2015.

Ministro Teori Zavascki Relator

RELATÓRIO

O Senhor Ministro Teori Zavascki (Relator):

Trata-se de agravo regimental contra decisão que negou provimento a agravo em recurso extraordinário aos fundamentos de que (a) a fundamenta-ção do acórdão recorrido se coaduna às diretrizes assentadas no julgamento do AI 791.292-QO-RG (Rel. Min. Gilmar Mendes, Tema 339); (b) o acolhi-mento da tese recursal demanda a análise da legislação ordinária de regência e da matéria fático-probatória; (c) o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu, por unanimidade, que o instituto da reincidência não ofende os prin-cípios do non in bis idem e da individualização da pena (art. 5º, XXXVI e XLVI, CF/1988).

Sustenta a parte agravante, em suma, que não incide a Súmula nº 279 do STF. No mais, repisa as razões de mérito do extraordinário.

É o relatório.

VOTO

O Senhor Ministro Teori Zavascki (Relator):

1. A decisão agravada é do seguinte teor:

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2. No que toca à alegação de afronta ao art. 93, IX, da Constituição Federal, relativa à suposta negativa de prestação jurisdicional, deve ser observado entendimento assentado por esta Corte, do qual não divergiu o acórdão recorrido, no julgamento do AI 791.292-QO-RG (Min. Rel. Gilmar Mendes, DJe de 13.08.2010), cuja repercussão geral foi reconhecida, para reafirmar jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que:

[...] o art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão.

3. Ademais, para refutar as premissas fáticas utilizadas pelo Tribunal de origem em relação à aplicação da pena, além de exigir análise da legislação infraconstitucional (Código Penal), demandaria a reapreciação do conjunto fático-probatório dos autos, o que não é cabível no âmbito do recurso extra-ordinário, conforme estabelece a Súmula nº 279 do STF.

Nesse sentido:

RECURSO – Extraordinário. Inadmissibilidade. Circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal. Fixação da pena-base. Fundamenta-ção. Questão da ofensa aos princípios constitucionais da individualização da pena e da fundamentação das decisões judiciais. Inocorrência. Matéria infraconstitucional. Ausência de repercussão geral. Agravo de instrumento não conhecido.

Não apresenta repercussão geral o recurso extraordinário que verse sobre a questão da valoração das circunstâncias judiciais previstas no art. 59, do Código Penal, na fundamentação da fixação da pena-base pelo juízo sen-tenciante, porque se trata de matéria infraconstitucional. (AI 742.460-RG, Rel. Min. Cezar Peluso – Tema 182).

“Não é possível utilizar o extraordinário para, a pretexto de violação do princípio da individualização da pena, discutir o excesso ou a insu-ficiência da pena concretamente cominada. Ofensa à Constituição, se houvesse, seria meramente reflexa, não sendo cabível o extraordinário, conforme jurisprudência uníssona do Supremo Tribunal Federal (v.g.: ‘Inviável em recurso extraordinário o exame de ofensa reflexa à Consti-tuição Federal e a análise de legislação infraconstitucional’(RE 660.186-AgR/RS, 1ª T.,Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 13.12.2011).

4. Finalmente, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 453.000/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 03.10.2013, cuja repercus-

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são geral foi reconhecida (Tema 114), decidiu, por unanimidade, que o ins-tituto da reincidência, previsto no art. 61, I, do Código Penal, não ofende os princípios do non bis idem e da individualização da pena (art. 5º, XXXVI e XLVI, CF/1988).

5. Diante do exposto, nego provimento ao agravo.

O recurso não traz qualquer subsídio apto a alterar esses fundamen-tos, razão pela qual deve ser mantido incólume o entendimento da decisão agravada.

2. Diante do exposto, nego provimento ao agravo regimental. É o voto.

SEGUNDA TURMA EXTRATO DE ATA

AgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 768.382

Proced.: Distrito Federal

Relator: Min. Teori Zavascki

Agte.(s): Erickson Drumond Guimarães

Proc.(a/s)(es): Defensor Público-Geral do Distrito Federal e Territórios

Agdo.(a/s): Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

Proc.(a/s)(es): Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Terri- tórios

Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Não participou, justificadamente, deste julgamento, o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Ausente, justificada-mente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. 2ª Turma, 01.09.2015.

Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. Presentes à sessão os Se-nhores Ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes e Teori Zavascki. Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo Gustavo Gonet Branco.

Ravena Siqueira Secretária

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STJSuperior Tribunal de JuSTiça

Recurso em Habeas Corpus nº 58.393 – MG (2015/0083445-1)Relator: Ministro Reynaldo Soares da FonsecaRecorrente: André Gonçalves de Andrade (preso)Advogado: Defensoria Pública do Estado de Minas GeraisRecorrido: Ministério Público do Estado de Minas Gerais

EMENTA

reCursO OrdináriO em habeaS corpuS – tráFiCO de entOrpeCentes e assOCiaçãO para O narCOtráFiCO

(Hipótese) – prisãO preventiva (requisitOs) – gravidade dOs FatOs; intranquilidade pÚbliCa;

sensaçãO de impunidade (meras COnJeCturas) – drOga apreendida (reduzida quantidade) –

COndições pessOais FavOráveis (agente primáriO, de bOns anteCedentes) – COnstrangimentO

ilegal (COnFiguradO) – reCursO prOvidO1. A prisão preventiva é espécie de prisão provisória; dela se exi-

ge venha sempre fundamentada, vez que ninguém será preso senão por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competen-te (Constituição da República, art. 5º, inciso LXI). Mormente porque a fundamentação das decisões do Poder Judiciário é condição absoluta de sua validade (CRFB, art. 93, inciso IX).

2. É certo que a gravidade abstrata do delito de tráfico de entorpe-centes não serve de fundamento para a negativa do benefício da liberda-de provisória, tendo em vista a declaração de inconstitucionalidade de parte do art. 44 da Lei nº 11.343/2006 pelo Supremo Tribunal Federal.

3. Caso em que o decreto que impôs a prisão preventiva ao re-corrente não apresentou motivação concreta, apta a justificar sua segre-gação, tendo se limitado a abordar, de modo abstrato, a gravidade e

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as consequências do crime de tráfico, como a “intranquilidade social” e a “sensação de impunidade”, máxime diante das peculiaridades do caso concreto, em que o acusado foi flagrado com 29,39g de cocaína e R$ 225,00.

4. Condições subjetivas favoráveis ao recorrente, conquanto não sejam garantidoras de eventual direito à soltura, merecem ser devida-mente valoradas, quando não for demonstrada a real indispensabilida-de da medida constritiva (Precedentes).

5. Recurso ordinário provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indi-cadas, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Jus-tiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Newton Trisotto (Desembargador Convo-cado do TJ/SC), Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ/PE), Felix Fischer e Gurgel de Faria votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 1º de setembro de 2015 (data do Julgamento).

Ministro Reynaldo Soares da Fonseca Relator

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator):

Valho-me do relatório constante da decisão de e-STJ fls. 108/109, nes-tes termos:

Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus, com pedido liminar, inter-posto por André Gonçalves de Andrade contra acórdão proferido pelo Tri-bunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

Consta dos autos que o recorrente foi preso em flagrante no dia 11.11.2014, custódia essa convertida em preventiva, pela suposta prática das condutas descritas nos arts. 33 e 35, da Lei nº 11.343/2006.

Irresignada, a defesa impetrou habeas corpus na Corte de origem, que dene-gou a ordem, recebendo o acórdão a seguinte ementa (e-STJ fl. 77):

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HABEAS CORPUS – ASSOCIAÇÃO E TRÁFICO DE DROGAS – REVO-GAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA – IMPOSSIBILIDADE – PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA MEDIDA CONSTRITIVA – GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA – APLICAÇÃO DE OUTRAS MEDI-DAS CAUTELARES – INVIABILIDADE – ORDEM DENEGADA.

Não há falar em constrangimento ilegal se a decisão que converteu a prisão em flagrante delito do paciente em preventiva encontra-se devidamente fundamentada com o fim de se resguardar a ordem pública.

Presentes os requisitos para a manutenção da prisão preventiva, não se mostram adequadas e necessárias a aplicação de medidas cautelares diver-sas da ordem constritiva.

O fato de o paciente ser primário e de bons antecedentes não tem, a prin-cipio, o condão de garantir eventual direito de responder ao processo em liberdade, devendo as condições pessoais ser analisadas em conjunto com os demais elementos probatórios dos autos.

Na presente oportunidade, a defesa reafirma que o decreto constritivo é carente de fundamentação. Sustenta que a gravidade abstrata do delito não pode ser considerada fundamento idôneo para manter a prisão cautelar, alegando descumprimento ao princípio da presunção de inocência. Reitera não estarem presentes nenhum dos requisitos previstos no art. 312 do Có-digo de Processo Penal, que autorizam a decretação da medida extrema.

Diante disso, pede, liminarmente e no mérito, a concessão da liberdade provisória.

O pleito urgente foi indeferido (e-STJ fls. 108/109).

A douta Subprocuradoria-Geral da República, ao manifestar-se, opi-nou pelo desprovimento do recurso (e-STJ fls. 120/126).

É o relatório.

VOTO

O Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator):

Cinge-se a controvérsia em verificar se há fundamentação idônea para a segregação cautelar do recorrente.

Consta do auto de prisão em flagrante que André Gonçalves de Andrade foi surpreendido com “18 microtubos contendo cocaína totalizando

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29,39g (vinte e nove gramas e trinta e nove centigramas), além da importância em dinheiro R$ 225,00 em notas trocadas” (e-STJ fl. 28).

Comunicado acerca do flagrante, o Juízo da 1ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte/MG, atendendo a pedido ministerial, converteu a prisão de André em preventiva, em 03.12.2014. Eis os termos da decisão, no que inte-ressa (e-STJ fls. 27/33):

[...] Verifico que os autuados foram presos em flagrante pelo crime de trá-fico de drogas e, em análise dos autos, vê-se que encontram presentes fortes indícios do envolvimento dos requerentes com o tráfico de drogas.

Assim, para concessão ou não da liberdade provisória, deve ser analisado o caso concreto, bem como a periculosidade do agente e das drogas que, no caso em tela, tem alto poder destrutivo, por se tratar de 18 microtubos conten-do cocaína totalizando 29,39g (vinte e nove gramas e trinta e nove centigramas), além da importância em dinheiro R$ 225,00 em notas trocadas, fl. 12 APFD (grifamos).

Nesta etapa da persecução penal, portanto, deve prevalecer o in dubio pro societate, ou seja, entre o interesse individual e o interesse público (que se traduz na garantia da ordem pública), prepondera este último.

Além disso, conforme vem destacando o em. Desembargador Judimar Biber em suas recentes decisões: “[...] O próprio legislador, reconhecendo o dado da realidade de que o consumo de drogas e sua disseminação com-pleta vêm aumentando paulatinamente e organizando-se de uma forma desalentadora, gerando níveis de insegurança inaceitáveis, resolveu adotar uma política mais efetiva contra o traficante.

Partiu o legislador da observação de que a situação de liberdade aos presos em fla-grante por delitos desta natureza colocaria em risco a própria objetividade jurídica que se quis tutelar na norma de proibição, gerando não apenas a intranquilidade pública, mas a sensação de impunidade, a incentivar a própria recidiva da ação, de modo a justificar o afastamento da possibilidade jurídica do magistrado conceder liberdade provisória aos presos em flagrante regular por delito desta natureza.

E, ao adotar tal posição política, não deixou ao Magistrado a possibilidade de ava-liar a conveniência ou a oportunidade de se afastar da vedação, que somente seria possível dentro de uma absoluta condição de excepcionalidade, que inexiste nos autos.

[...].”

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Sabe-se que para o decreto da prisão preventiva não se pode exigir a cer-teza que o acusado será condenado, uma vez que, o reconhecimento da negativa é questão de fato e, somente no decorrer da instrução criminal é que poderá ser apurado.

Demonstrados, portanto, o fumus boni iuris (pressupostos da prisão preven-tiva) e o periculum in mora (fundamentos da prisão preventiva) e presentes as condições de admissibilidade, é de se manter o decreto de custódia cau-telar.

Também a Lei Processual Penal se satisfaz com a simples presença dos in-dícios de autoria (art. 312, CPP).

Por outro lado, a garantia da ordem pública, como motivo da preservação da prisão em flagrante, não reside apenas na habitualidade de violação da lei penal, mas também na periculosidade social do agente, na própria cre-dibilidade da justiça em razão da gravidade do crime e de sua repercussão.

Desse modo, não se pode alegar constrangimento ilegal, quando a preser-vação da prisão em flagrante se recomenda, porque presentes as hipóteses que autorizam a prisão preventiva, notadamente como garantia da ordem pública.

A gravidade do delito, por si só, não impede, necessariamente, a concessão da liberdade provisória, porém tal fato, a par da periculosidade dos au-tuados e, a possibilidade da reiteração criminosa, não pode ser de todo des-considerada, pois conduta como tal revela-se motivadora para a decretação da segregação cautelar, a título de garantia da ordem pública.

[...] Verifica-se, após minuciosa análise do APFD, que as condutas dos au-tuados demonstram a periculosidade e que os mesmos encontram-se a serviço do tráfico, o que permite a decretação da preventiva em consonância com os ditames processuais e constitucionais.

Em recente decisão no Habeas Corpus nº 1.0000.12.044036-7/000 Em. De-sembargador Alberto Deodato Neto enfatizou “que o crime de tráfico de drogas possui extrema gravidade, embora não tenha vitima determi-nada. Seu poder de disseminação facilita o uso de substâncias geradoras de dependência ou entorpecentes a acaba favorecendo a prática de outros crimes.

Acuada pela violência direta e ‘em guerra’ contra o banditismo, a população está intranquila e reclama, com razão, uma resposta rápida e eficaz. E, diante desse fato, não pode o Judiciário se omitir. Não podem os juízes fechar os olhos e ignorar a

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si tuação atual do nosso país. Assim o recolhimento da paciente, como ato excepcio-nal, é medida de melhor guarida, como forma de garantir a ordem pública”.

[...] É vedada a concessão de liberdade provisória a acusado de tráfico.

“O preso cautelarmente sob acusação de tráfico de drogas, não tem di-reito a liberdade provisória” (sic). “A lei antidrogas de 2006 é especial em relação ao Código de Processo Penal quanto à Lei de Crimes He-diondos, já que trata de apenas um crime especifico: o tráfico de entor-pecentes. Por isso, a proibição contida nessa lei especial de 2008 não teria sido revogada com a alteração da Lei dos Crimes Hediondos, realizada em 2007, vigendo ainda a impossibilidade de liberdade provisória ao preso por tráfico”.

Deste modo, não se trata de punir antecipadamente os autuados ao contrá-rio, em crime desta natureza, que caminha a passos largos, a prisão preven-tiva apresenta-se como medida necessária, ainda mais em face dos aconte-cimentos fáticos imputados aos mesmos.

[...] Insta ressaltar também que o conceito de ordem pública não restringe a prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas também a acautelar o meio social trazendo a paz necessária para a manutenção de uma sociedade or-deira, o que se faz necessário em face aos fatos aos requerentes imputados. [...]

“[...] Não se pode olvidar, ademais, a prática delitiva que, muitas vezes, possui sua origem no tráfico de entorpecentes, tem se intensificado nas cidades mineiras, reclamando a sociedade medidas ágeis e eficazes por parte das autori-dades competentes, para contenção da criminalidade.

Nesse diapasão, o magistrado não pode ficar alheio às condições de sua época e fechar os olhos à gravidade dos delitos como o dos autos, com base, apenas, em suposto direito subjetivo do réu à liberdade provisória, que, in casu, não se verifica [...]” (parte do voto proferido pelo em. Desemb. Ediwal José de Morais – HC 1.0000.07.461246-6/000).

Assim, a meu sentir, presentes todos os requisitos ensejadores da prisão cautelar, homologado o flagrante, justifica-se a conversão da prisão em flagrante de Matheus Trindade Batista e André Gonçalves Andrade, em prisão preventiva, em face do que, defiro o pedido. (grifos nossos)

Irresignada com a segregação provisória, a defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal estadual, que denegou a ordem, desta forma (e-STJ fls. 79/83):

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[...] Analisando os autos constata-se a existência de elementos concretos que demonstram a necessidade da segregação cautelar do paciente para a garantia da ordem pública, sobretudo diante da gravidade concreta do delito, evidenciada pela quantidade de droga apreendida – 29,39 (vinte e nove gramas e trinta e nove centigramas) de cocaína, acondicionada em 18 (dezoito) micro--tubos plásticos, conforme se infere do Laudo de Constatação Preliminar de Drogas (fl. 18).

[...] Ao invés do alegado no presente writ, percebe-se que a decisão profe-rida pela d. Magistrada singular, por meio da qual converteu em preven-tiva a prisão em flagrante delito, analisou devidamente a necessidade da segregação cautelar do paciente para a garantia da ordem pública, tendo demonstrado de maneira concreta e satisfatória a existência dos motivos que ensejaram a medida constritiva.

[...] Destarte, medida que se impõe é a manutenção da custódia cautelar, eis que presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva, constantes do art. 312, do CPP.

[...] Ademais, o fato de o paciente ser primário e de bons antecedentes não tem, a princípio, o condão de garantir eventual direito de responder ao processo em liberdade, devendo as condições pessoais ser analisadas em conjunto com os demais elementos probatórios dos autos.

[...] Por fim, ressalte-se estar preenchida a condição de admissibilidade da prisão preventiva, prevista no inciso I, do art. 313, do CPP, uma vez tratar--se de crime doloso a conduta em tese praticada pelo paciente, punida com pena privativa de liberdade máxima superior a 04 (quatro) anos.

Face ao exposto, presentes os requisitos autorizadores da prisão preventi-va, denego a ordem. (grifos acrescidos)

Daí o presente recurso ordinário, onde a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais sustenta, em síntese, a inexistência de fatos concretos que justifiquem a manutenção da segregação do paciente, visto que “a gravida-de do fato não justifica, por si só, a decretação da prisão preventiva” (e-STJ fl. 93).

O reclamo assevera, ainda, que “a soltura do recorrente não trará qual-quer perigo à ordem pública, diante de ausência de provas concretas de que o mesmo estaria a praticar novos crimes” (e-STJ fl. 97).

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Ora, é da jurisprudência pátria a impossibilidade de se recolher alguém ao cárcere se inexistentes os pressupostos autorizadores da medida extrema, previstos na legislação processual penal.

No ordenamento jurídico vigente, a liberdade é a regra. A prisão antes do trânsito em julgado, cabível excepcionalmente e apenas quando concre-tamente comprovada a existência do periculum libertatis, deve vir sempre ba-seada em fundamentação concreta, não em meras conjecturas.

É de ver, ainda, que a prisão preventiva se trata propriamente de uma prisão provisória; dela se exige venha sempre fundamentada, uma vez que ninguém será preso senão por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente (Constituição da República, art. 5º, inciso LXI). Mor-mente porque a fundamentação das decisões do Poder Judiciário é condição absoluta de sua validade (CRFB, art. 93, inciso IX).

Quer-me parecer, no entanto, de nenhuma sustentabilidade os funda-mentos locais para a preventiva.

Inicialmente, quando, genericamente, se fundamentou o decreto de prisão, levou-se em consideração o fato de a cocaína ter alto poder destrutivo. Nesse ponto, o acórdão considerou, ainda, que os 29,39g de cocaína importa-vam numa grande quantidade de droga.

Não se pode sustentar, entretanto, que a cocaína tenha poder destruti-vo superior a outras drogas, como v.g. o crack, ou a heroína. Ademais, menos de 30g de entorpecentes não é uma expressiva quantidade, a mostrar-se, pura e simplesmente, necessária a custódia cautelar.

Em casos semelhantes, já tratei como grande a quantidade de substân-cia entorpecente, quando me deparei, por exemplo, com 476kg de maconha (HC 321.372/SC, DJ de 12.08.2015).

Também considerei capaz de justificar o cárcere provisório, quando a variedade de droga apreendida era tamanha – 251 sacolés e 112 cápsulas de cocaína, 182 sacolés de zirre (ou seja, maconha com crack), 182 pedras de crack, 343 sacolés de maconha pronta para venda, um invólucro de maconha prensada e bruta, e 90 sacolés de cocaína (HC 325.711/RJ, Julgamento em 25.08.2015).

Tratam-se de situações bem diferentes do caso presente, contudo.

Em seguida, entendeu o decreto preventivo que a liberdade do acusa-do conspirava contra a ordem pública, “gerando não apenas a intranquilida-

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de pública, mas a sensação de impunidade”. Afirmou-se que “não podem os juízes fechar os olhos e ignorar a situação atual do nosso país”, bem como que a prática delitiva “tem se intensificado nas cidades mineiras”.

Nesse aspecto, é de ver que expressões como “intranquilidade pública” e “sensação de impunidade” não justificam a prisão recaída sobre o recorren-te, porque se tratam de meras presunções.

A propósito, para a preservação da ordem pública e para cessar a sen-sação de impunidade, outros meios existem, evidentemente, não se tratando o cárcere de meio único.

O discurso judicial que se apresenta puramente teórico, carente de real elemento de convicção não justifica a prisão. A circunstância de a cidade de Belo Horizonte/MG ter histórico de vários casos de tráfico semelhantes não é bastante para a segregação do recorrente, caso não tenham sido informados as circunstâncias pessoais do acusado ou modus operandi excepcionais.

Por fim, o decreto de prisão considerou que é vedada a concessão de liberdade provisória a acusado de tráfico de entorpecentes.

Todavia, o Pleno do Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitu-cionalidade da expressão “e liberdade provisória”, constante do art. 44 da Lei nº 11.343/2006, determinando a apreciação dos requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal, para que, se for o caso, seja decretada a segregação cautelar.

É certo, portanto, que a gravidade abstrata do delito de tráfico de dro-gas não serve de fundamento para a negativa do benefício da liberdade provi-sória, tendo em vista a declaração de inconstitucionalidade susomencionada.

A propósito, assim constou do Informativo/STF nº 665, de 7 a 11 de maio de 2012:

O Plenário, por maioria, deferiu parcialmente habeas corpus afetado pela 2ª Turma impetrado em favor de condenado pela prática do crime descrito no art. 33, caput, c/c o art. 40, III, ambos da Lei nº 11.343/2006, e determinou que sejam apreciados os requisitos previstos no art. 312 do CPP para que, se for o caso, seja mantida a segregação cautelar do paciente.

Incidentalmente, também por votação majoritária, declarou a inconstitu-cionalidade da expressão e liberdade provisória, constante do art. 44, caput, da Lei nº 11.343/2006 (Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia

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e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos). A defesa sustentava, além da inconstitucionalidade da vedação abstrata da concessão de liberdade provisória, o excesso de prazo para o encerramento da instrução criminal no juízo de origem.

Discorreu-se que ambas as Turmas do STF teriam consolidado, inicialmen-te, entendimento no sentido de que não seria cabível liberdade provisória aos crimes de tráfico de entorpecentes, em face da expressa previsão legal.

Entretanto, ressaltou-se que a 2ª Turma viria afastando a incidência da proibição em abstrato. Reconheceu-se a inafiançabilidade destes crimes, derivada da Constituição (art. 5º, XLIII). Asseverou-se, porém, que essa ve-dação conflitaria com outros princípios também revestidos de dignidade constitucional, como a presunção de inocência e o devido processo legal.

Demonstrou-se que esse empecilho apriorístico de concessão de liberdade provisória seria incompatível com estes postulados. Ocorre que a dispo-sição do art. 44 da Lei nº 11.343/2006 retiraria do juiz competente a opor-tunidade de, no caso concreto, analisar os pressupostos de necessidade da custódia cautelar, a incorrer em antecipação de pena. Frisou-se que a inafiançabilidade do delito de tráfico de entorpecentes, estabelecida consti-tucionalmente, não significaria óbice à liberdade provisória, considerado o conflito do inciso XLIII com o LXVI (ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança), ambos do art. 5º da CF. Concluiu-se que a segregação cautelar mesmo no tráfico ilícito de entorpecentes deveria ser analisada assim como ocorreria nas demais constrições cautelares, relativas a outros delitos dispostos no ordenamento. Impenderia, portanto, a apreciação dos motivos da decisão que denegara a liberdade provisória ao paciente do presente writ, no intui-to de se verificar a presença dos requisitos do art. 312 do CPP. Salientou-se que a idoneidade de decreto de prisão processual exigiria a especificação, de modo fundamentado, dos elementos autorizadores da medida (CF, art. 93, IX). Verificou-se que, na espécie, o juízo de origem, ao indeferir o pedido de liberdade provisória formulado pela defesa, não indicara ele-mentos concretos e individualizados, aptos a justificar a necessidade da constrição do paciente, mas somente aludira à indiscriminada vedação le-gal. Entretanto, no que concerne ao alegado excesso de prazo na formação da culpa, reputou-se que a tese estaria prejudicada, pois prolatada senten-ça condenatória confirmada em sede de apelação, na qual se determinara a continuidade da medida acauteladora, para a garantia da ordem pública.

O Min. Dias Toffoli acresceu que a inafiançabilidade não constituiria causa impeditiva da liberdade provisória. Afirmou que a fiança, conforme esta-

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belecido no art. 322 do CPP, em certas hipóteses, poderia ser fixada pela autoridade policial, em razão de requisitos objetivos fixados em lei.

Quanto à liberdade provisória, caberia ao magistrado aferir sua pertinên-cia, sob o ângulo da subjetividade do agente, nos termos do art. 310 do CPP e do art. 5º, LXVI, da CF. Sublinhou que a vedação constante do art. 5º, XLIII, da CF diria respeito apenas à fiança, e não à liberdade provisória. O Min. Ricardo Lewandowski lembrou que, no julgamento da ADI 3112/DF (DJe de 26.10.2007), a Corte assinalara a vedação constitucional da prisão ex lege, bem assim que os princípios da presunção de inocência e da obriga-toriedade de fundamentação de ordem prisional por parte da autoridade competente mereceriam ponderação maior se comparados à regra da ina-fiançabilidade. O Min. Ayres Britto, Presidente, consignou que, em direito penal, deveria ser observada a personalização. Evidenciou a existência de regime constitucional da prisão (art. 5º, LXII, LXV e LXVI) e registrou que a privação da liberdade seria excepcional.

Assim, não é crível presumir que o recorrente, em liberdade, represen-te risco à ordem pública. “Não havendo elementos hábeis e específicos a jus-tificar a custódia, resta configurada ilegalidade na decretação da preventiva, tendo em vista que a fundamentação baseada genericamente na garantia da ordem pública não encontra amparo na jurisprudência desta Corte, mormen-te considerando a quantidade da droga apreendida (16 cápsulas tipo eppen-dorf, contendo cocaína, com peso líquido de 4,29g)” (HC 325.851/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, 5ª T., J. em 04.08.2015, DJ de 17.08.2015).

A prisão provisória – que não deve se confundir com a prisão-pena (carcer ad poenam) – não detém o objetivo de atribuir punição ao agente que, em tese, praticou uma conduta típica.

A finalidade específica do cárcere cautelar deve ser a de possibilitar o desenvolvimento válido e regular do processo penal. Vale dizer, somen-te há de ser decretado quando houver nos autos elementos concretos que indiquem a real possibilidade de obstrução na colheita de provas, ou a real possibilidade de reiteração da prática delitiva, ou a existência de organização criminosa, que necessite ser urgentemente desarticulada, ou quando o agente demonstre uma intenção efetiva de não se submeter à aplicação da lei penal.

Afirmações genéricas e abstratas de gravidade do delito e de clamor social não são bastantes para justificar a custódia preventiva. Mais ainda quando o recorrente guarda condições pessoais favoráveis, como primarie-dade e bons antecedentes.

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Outra não é a orientação deste Superior Tribunal:

[...] 4. No caso, a segregação antecipada mostra-se desproporcional, reve-lando-se devida e suficiente a imposição de medidas cautelares alterna-tivas, dada a apreensão de reduzida quantidade de estupefaciente, a de-monstrar que não se trata de tráfico de grande proporção, e às condições pessoais do agente, primário, com residência fixa, ocupação lícita e que freqüenta curso universitário.

5. Condições pessoais favoráveis, mesmo não sendo garantidoras de even-tual direito à soltura, merecem ser devidamente valoradas, quando de-monstrada a possibilidade de substituição da prisão por cautelares diver-sas, adequadas e suficientes aos fins a que se propõem.

6. Habeas corpus não conhecido, concedendo-se, contudo, a ordem de ofício, para revogar a custódia preventiva da paciente, mediante a imposição das medidas alternativas à prisão previstas no art. 319, I, IV e V, do Código de Processo Penal, expedindo-se alvará de soltura em seu favor, salvo se por outro motivo estiver preso. (HC 318.813/SP, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo, 5ª T., J. em 16.06.2015, DJ de 03.08.2015)

PENAL E PROCESSUAL – HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RE-CURSO – INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA – TRÁFICO DE DROGAS – PRISÃO PREVENTIVA – DECRETO CONSTRITIVO CARENTE DE FUN-DAMENTAÇÃO – CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENTE

[...] 2. Segundo reiterada jurisprudência desta Corte de Justiça e do Supre-mo Tribunal Federal, a prisão cautelar, por constituir medida de caráter excepcional, somente deve ser imposta, ou mantida, quando demonstrada concretamente a sua necessidade, não bastando a mera alusão genérica à gravidade do delito.

3. A decisão que decretou a prisão preventiva do paciente não apresentou motivação concreta apta a justificar a sua segregação, tendo se limitado a abordar, de modo abstrato, a gravidade e as consequências do crime de tráfico, máxime diante das peculiaridades do caso concreto – quantidade e a natureza da droga apreendida (100,15 gramas de maconha).

4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício. (HC 313.240/MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, 5ª T., J. em 26.05.2015, DJ de 08.06.2015)

[...] III – A prisão cautelar deve ser considerada exceção, já que, por meio desta medida, priva-se o réu de seu jus libertatis antes do pronunciamento

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condenatório definitivo, consubstanciado na sentença transitada em julga-do. É por isso que tal medida constritiva só se justifica caso demonstrada sua real indispensabilidade para assegurar a ordem pública, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal, ex vi do art. 312 do Código de Processo Penal.

IV – No caso, o decreto que impôs a prisão preventiva ao paciente, flagrado com aproximadamente 6g de cocaína e R$ 156,00, não apresenta a devida fundamentação, uma vez que a simples invocação da gravidade genérica do delito não constitui fundamento suficiente para autorizar a segregação cautelar com fundamento na garantia da ordem pública (Precedentes).

Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício revogar a prisão preventiva do paciente, salvo se por outro motivo estiver preso, e sem pre-juízo da decretação de nova prisão, desde que concretamente fundamenta-da, ou outras medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do Código de Processo Penal. (HC 317.889/SP, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª T., J. em 12.05.2015, DJ de 18.05.2015)

Ante o exposto, dou provimento ao recurso, para determinar a soltura de André Gonçalves Andrade, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que seja decretada nova custódia, com base em fundamentação concreta, caso demonstrada sua necessidade.

É o voto.

Ministro Reynaldo Soares da Fonseca Relator

CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA

Número Registro: 2015/0083445-1

Processo Eletrônico RHC 58.393/MG

Matéria criminal

Números Origem: 0000126357201519 10000141017764001 10177645720148130000 31045864020148130024

Em Mesa Julgado: 01.09.2015

Relator: Exmo. Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca

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Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Felix Fischer

Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Áurea M. E. N. Lustosa Pierre

Secretário: Bel. Marcelo Pereira Cruvinel

AUTUAÇÃO

Recorrente: André Gonçalves de Andrade (preso)

Advogado: Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais

Recorrido: Ministério Público do Estado de Minas Gerais

Corréu: Matheus Trindade Batista

Assunto: Direito penal – Crimes previstos na legislação extravagante – Cri-mes de tráfico ilícito e uso indevido de drogas – Associação para a produ-ção e tráfico e condutas afins

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia Quinta Turma, ao apreciar o processo em epí-grafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.”

Os Srs. Ministros Newton Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC), Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ/PE), Felix Fischer e Gurgel de Faria votaram com o Sr. Ministro Relator.

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TrF 2ª r.Tribunal regional Federal da 2ª região

XVI – Recurso em Sentido Estrito nº 2012.50.01.010409-2Nº CNJ: 0010409-55.2012.4.02.5001Relator: Desembargador Federal Messod Azulay NetoRecorrente: Ministério Público FederalRecorrido: Paulo Cesar VasconcelosAdvogado: Defensoria Pública da UniãoOrigem: 1ª Vara Federal Criminal de Vitória/ES (201250010104092)

EMENTA

penal e prOCessual penal – reCursO em sentidO estritO interpOstO pelO ministÉriO pÚbliCO

Federal – Crime de COntrabandO – art. 334, § 1º, alíneas c e d, dO Cp – utilizar, em estabeleCimentO

COmerCial, máquina Caça-níquel de Origem estrangeira, em prOveitO própriO e alHeiO, sem a dOCumentaçãO devida – reJeiçãO da

denÚnCia – presença de indíCiOs suFiCientes de autOria e materialidade – reCursO prOvidO

I – Recurso em sentido estrito do Ministério Público Federal em face de sentença que rejeitou a denúncia pela prática do crime de con-trabando (art. 334, § 1º, c e d, do CP), sob o fundamento de ausência de lastro probatório mínimo quanto à materialidade delitiva.

II – Procedem as alegações do Parquet, na medida em que devem ser respeitados os princípios básicos do Direito Penal (devido processo legal, contraditório) para que surja o devido equilíbrio entre o direito à liberdade do acusado e o direito à proteção da sociedade; de fato, o princípio da instrumentalidade das formas é fundamental para garantir a dignidade humana, a celeridade e eficácia da prestação jurisdicional,

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entretanto, não pode limitar o objetivo primordial do Direito Penal, qual seja, prevenção das condutas ilícitas e defesa dos cidadãos de bem.

III – De fato, no momento da deflagração da ação penal, além da materialidade do crime, basta a presença de indícios de autoria. Há laudo específico atestando a origem estrangeira das máquinas apreen-didas.

IV – Recurso em sentido estrito a que se dá provimento. Denúncia recebida, nos termos da Súmula nº 709/STF.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os presentes autos, em que são partes as acima indi-cadas, acordam os Membros da Segunda Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, dar provimento ao recurso em sentido estrito do Ministério Público Federal, nos termos do Relatório e Voto, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2013 (data do Julgamento).

Des. Fed. Messod Azulay Neto Relator 2ª Turma Especializada

RELATÓRIO

Trata-se de recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Públi-co Federal contra a decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara Federal Criminal de Vitória/ES (fls. 74/77) que rejeitou a denúncia ofertada em face de Paulo César Vasconcelos, que lhe imputava a prática da conduta ilícita descrita no art. 334, § 1º, c e d, do Código Penal, ao fundamento de falta de justa causa para a ação penal, ante a ausência de prova mínima de materialidade delitiva.

Narra a denúncia, em síntese, que o denunciado recebeu, manteve em depósito e utilizou, em proveito próprio e alheio, no exercício de atividade comercial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada da do-cumentação legal e que sabia ser produto de importação fraudulenta e intro-dução clandestina no território nacional, eis que, no dia 02.02.2009, por volta das 19h15min, a Polícia Civil encontrou no estabelecimento comercial “Bar do Paulinho”, localizado na rua Álvaro de Azevedo, 32, Riviera da Barra,

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Vila Velha/ES, 03 (três) máquinas de origem estrangeira para exploração de jogos de azar, conhecidas como “caça-níqueis”.

O magistrado a quo assevera que, para que a conduta possa ser tipifi-cada no art. 334 do Código Penal, é necessária a demonstração concreta da origem estrangeira das máquinas apreendidas em poder do acusado, e que sequer o Auto de Infração e Termo de Apreensão e Guarda Fiscal são conclu-sivos acerca da origem das máquinas.

Em seu recurso em sentido estrito (fls. 78/89), o Ministério Público Fe-deral sustenta a reforma da decisão ora atacada para que a denúncia seja recebida, determinando-se o prosseguimento da ação penal.

Argumenta, em síntese, que há nos autos laudo de exame de equipa-mentos eletrônicos realizado pelo Departamento de Criminalística da Polícia Civil/ES, que comprova a origem estrangeira das máquinas apreendidas em poder do acusado.

Contrarrazões do recorrido às fls. 98/105.

Mantida a decisão que rejeitou a denúncia por seus próprios funda-mentos (fl. 106), vieram os autos a esta Egrégia Corte.

Parecer do Ministério Público Federal (fls. 112/131) opina pelo pro-vimento do recurso em sentido estrito, com o consequente recebimento da denúncia.

É o relatório.

Des. Fed. Messod Azulay Neto Relator 2ª Turma Especializada

VOTO

“ementa: penal e prOCessual penal – reCursO em sentidO estritO interpOstO pelO ministÉriO

pÚbliCO Federal – Crime de COntrabandO – art. 334, § 1º, alíneas c e d, dO Cp – utilizar, em

estabeleCimentO COmerCial, máquina Caça-níquel de Origem estrangeira, em prOveitO própriO e alHeiO, sem a dOCumentaçãO devida – reJeiçãO

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da denÚnCia – presença de indíCiOs suFiCientes de autOria e materialidade – reCursO prOvidO

I – Recurso em sentido estrito do Ministério Público Federal em face de sentença que rejeitou a denúncia pela prática do crime de con-trabando (art. 334, § 1º, c e d, do CP), sob o fundamento de ausência de lastro probatório mínimo quanto à materialidade delitiva.

II – Procedem as alegações do Parquet, na medida em que devem ser respeitados os princípios básicos do Direito Penal (devido processo legal, contraditório) para que surja o devido equilíbrio entre o direito à liberdade do acusado e o direito à proteção da sociedade; de fato, o princípio da instrumentalidade das formas é fundamental para garantir a dignidade humana, a celeridade e eficácia da prestação jurisdicional, entretanto, não pode limitar o objetivo primordial do Direito Penal, qual seja, prevenção das condutas ilícitas e defesa dos cidadãos de bem.

III – De fato, no momento da deflagração da ação penal, além da materialidade do crime, basta a presença de indícios de autoria. Há laudo específico atestando a origem estrangeira das máquinas apreen-didas.

IV – Recurso em sentido estrito a que se dá provimento. Denúncia recebida, nos termos da Súmula nº 709/STF.”

Como relatado, o Ministério Público Federal insurge-se contra a deci-são proferida pelo Juízo da 1ª Vara Federal Criminal de Vitória/ES que rejei-tou a denúncia ofertada em face de Paulo César Vasconcelos pela prática da conduta ilícita descrita no art. 334, § 1º, c e d, do Código Penal, ao fundamento de falta de justa causa para a ação penal, ante a ausência de prova mínima de materialidade delitiva.

O recorrente sustenta a reforma da decisão guerreada para que a de-núncia seja recebida, determinando-se o prosseguimento da ação penal.

Argumenta, em síntese, que há nos autos laudo de exame de equipa-mentos eletrônicos realizado pelo Departamento de Criminalística da Polícia Civil/ES, que comprova a origem estrangeira das máquinas apreendidas em poder do acusado.

Assiste razão ao Ministério Público Federal.

A materialidade delitiva restou demonstrada através do Laudo de Exa-me de Equipamentos Eletrônicos nº 2609/2009, acostado às fls. 67/70, que constata a existência de componentes eletrônicos de origem estrangeira nas máquinas examinadas.

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Além da perícia realizada, o Relatório de Fiscalização (fls. 25/31) ela-borado por auditor-fiscal da Secretaria da Receita Federal do Brasil, que goza de presunção de legitimidade e veracidade, também demonstra a origem alienígena das máquinas apreendidas no comércio do ora recorrido.

Destarte, verifica-se que a materialidade delitiva encontra-se cabal-mente demonstrada nos autos.

Com relação ao dolo do acusado, merece ser ressaltado que já havia me manifestado, de par com os membros desta Turma, pela impossibilidade do prosseguimento da ação penal, na maioria dos casos, ao fundamento de que seria inviável que os donos dos estabelecimentos comerciais pudessem saber da origem estrangeira das máquinas caça-níqueis.

Ocorre, porém, que melhor refletindo sobre tal questão, modifiquei meu posicionamento, no sentido de que deve ser permitido ao Ministério Pú-blico Federal prosseguir na instrução criminal com vistas à busca da verdade real, em respeito aos princípios da igualdade, do devido processo legal, do contraditório, e nesta fase processual, do in dubio pro societate.

Firmei este entendimento pelas seguintes constatações: a participação da parte ré é fundamental para a concretização do esquema criminoso, que possui imensa repercussão social por envolver criminalidade organizada; as máquinas são abertas semanalmente ou quinzenalmente e suas peças con-têm a indicação de serem estrangeiras; e, por fim, o fato ilegal é notório e de conhecimento de todos, principalmente, daqueles que praticam este tipo de contravenção.

Pode-se concluir, ainda, que aquele que recebe e deposita tais máqui-nas, desacompanhadas de qualquer documentação fiscal e sem preocupação com a origem das mesmas, assume o risco de introduzir clandestinamente mercadoria no país, como no caso em comento.

É importante ressaltar que, na hipótese vertente, o dolo do ora recorri-do é evidenciado pelo fato de o mesmo já ter sofrido apreensão de 4 (quatro) máquinas caça-níqueis no dia 28.12.2006, sendo processado na Ação Penal nº 2009.50.01.004171-0 (fls. 43/49).

Frise-se, por fim, que, no momento da deflagração da ação penal basta a presença de indícios de autoria ou de participação no delito, não se exigin-

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do que a acusação demonstre, de imediato, a autoria de maneira inquestioná-vel, nos termos do julgado que ora trago à colação.

“PROCESSUAL PENAL – CONTRABANDO – MÁQUINAS DE CAÇA--NÍQUEIS – INDÍCIOS MÍNIMOS DE AUTORIA – PRESENÇA DE JUSTA CAUSA – RECEBIMENTO DA DENÚNCIA – IN DUBIO PRO SOCIETATE

1. Omissis. 2. A conduta imputada ao acusado na denúncia, em tese, se enquadra ao tipo penal descrito no art. 334, § 1º, alínea c, do Código Penal, uma vez que o mesmo, no exercício da função de ‘caixa’ do estabelecimen-to comercial, era o responsável pelos pagamentos dos ‘prêmios’ obtidos pelos usuários das máquinas de caça-níqueis, bem como era o interlocutor do ‘maquineiro’. 3. Ainda que se considere verídica a declaração do de-nunciado de que, de fato, não é o proprietário do bar e das máquinas de caça-níqueis nele apreendidas, tem-se que o mesmo agira, no mínimo, na condição de coautor ou partícipe do crime, estando presente, portanto, a justa causa, que constitui um mínimo de suporte probatório para lastrear a acusação. 4. Para o recebimento da inicial acusatória se faz necessário apenas a demonstração da tipicidade objetiva aparente, a subsunção do fato à norma penal, e indícios de que denunciado seja o autor ou que tenha participado desta conduta aparentemente delituosa, tendo em vista que o princípio informador neste momento processual é o in dubio pro societate, não se exigindo a mesma certeza necessária ao juízo condenatório, onde passa a viger o princípio in dubio pro reo.”

(TRF 2ª R., RSE 2009.51.01.490192-5, 2ª T.Esp., Desª Fed. Liliane Roriz, DJ 15.03.2010)

Sendo assim, entendo que procedem as alegações do Parquet no senti-do de dar prosseguimento à ação. Com efeito, devem ser respeitados o siste-ma acusatório e os princípios básicos do Direito Penal (devido processo legal e contraditório) para que surja o devido equilíbrio entre o direito à liberdade do acusado e o direito à proteção da sociedade; de fato, o princípio da instru-mentalidade das formas é fundamental para garantir a dignidade humana, a celeridade e a eficácia da prestação jurisdicional, entretanto, não pode limitar o objetivo primordial do Direito Penal, qual seja, prevenção das condutas ilí-citas e a defesa dos cidadãos de bem; e para conseguir tal objetivo, não pode se furtar, o magistrado, a uma análise criteriosa de cada caso concreto.

Não se tratando de nulidade da decisão ora atacada, mas de sua refor-ma, cabível o Verbete nº 709 da Súmula do STF, in verbis:

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“Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.”

Face ao exposto, dou provimento ao recurso em sentido estrito do Mi-nistério Público Federal, para, nesta data, receber a denúncia e determinar o prosseguimento da ação e da instrução probatória.

É como voto.

Des. Fed. Messod Azulay Neto Relator 2ª Turma Especializada

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EmEntário PEnal

assOCiaçãO CriminOsa

31322 – “Habeas corpus. Associação criminosa, falsidade ideológica majorada, peculato majorado, inserção de dados falsos em sistemas de informações, fraude à licitação, la-vagem de dinheiro e crime de responsabilidade de prefeito. Writ substitutivo de recurso ordinário. Falta de cabimento. Verificação de eventual coação ilegal à liberdade de loco-moção. Viabilidade. Pretensão de trancamento do inquérito policial. Instauração por meio de denúncia anônima. Improcedência. Ausência de demonstração da alegação. Existência de informação em sentido contrário. Irregularidades verificadas por meio de vistoria or-dinária realizada pelo Tribunal de Contas do Município. Coação ilegal. Ausência. 1. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, em recentes decisões, não ad-mitem mais a utilização do habeas corpus como sucedâneo do meio processual adequado, seja o recurso ou a revisão criminal, salvo em situações excepcionais. 2. Apesar de se ter solidificado o entendimento no sentido da impossibilidade de utilização do habeas corpus como substitutivo do recurso cabível, este Superior Tribunal analisa, com a devida aten-ção e caso a caso, a existência de coação manifesta à liberdade de locomoção, não tendo sido aplicado o referido entendimento de forma irrestrita, de modo a prejudicar eventual vítima de coação ilegal ou abuso de poder e convalidar ofensa à liberdade ambulatorial. 3. Não prospera a alegação de que o procedimento investigatório que ensejou a deflagra-ção de ação penal contra o paciente foi instaurado por meio de denúncia anônima, uma vez que teve início em 10.02.2010, tendo o surgimento dos indícios das irregularidades sido coletados por meio de vistoria ordinária realizada na Prefeitura municipal no ano de 2009, de responsabilidade do Tribunal de Contas dos Municípios. 4. Tendo o impetrante se limitado a afirmar que o procedimento investigatório foi realizado por meio de de-núncia anônima, sem apresentar um elemento que indicasse a procedência da afirmação, e existindo informação verossímil em sentido inverso, não há falar em trancamento do inquérito policial que deu início à mencionada ação penal. Precedente. 5. Writ não co-nhecido.” (STJ – HC 238.671 – (2012/0070952-9) – 6ª T. – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – DJe 26.08.2015)

Crime COntra a liberdade sexual

31323 – “Habeas corpus. Crime contra a liberdade sexual. Apelação julgada. Ausência de intimação pessoal do defensor dativo. Nulidade. Inocorrência. Prévia anuência do de-

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fensor de ser intimado via imprensa. Ausência de ilegalidade patente. Ordem denegada. 1. A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de reconhecer a obrigatoriedade de intimação pessoal de defensor dativo, não bastando, em regra, a simples publicação via imprensa. 2. A hipótese, contudo, apresenta peculiaridade que modifica o quadro fático e autoriza decisão em sentido diverso. Isso porque o próprio defensor nomeado assinou termo firmando o compromisso de ser intimado pela imprensa oficial. E diante da expres-sa e prévia concordância do defensor dativo, não há falar em nulidade. Incide, inclusive, o disposto no art. 565 do Código de Processo Penal. 3. Writ denegado.” (STJ – HC 327.001 – (2015/0139457-3) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 17.09.2015)

Crime de esteliOnatO

31324 – “Recurso ordinário em habeas corpus. Direito penal. Crime de estelionato. Art. 171, caput, do CP. Extinção da punibilidade pelo ressarcimento da vítima. Aplicação da regra especial do § 2º do art. 9º da Lei nº 10.684/2003. Impossibilidade. 1. Por se tra-tar de norma especial, dirigida a determinadas infrações de natureza tributária, a causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da Lei nº 10.684/2003 (pa-gamento integral do crédito tributário) não se aplica ao delito de estelionato do caput do art. 171 do Código Penal. Precedentes. 2. Recurso ordinário a que se nega provimento.” (STF – RO-HC 126.917 – São Paulo – 2ª T. – Rel. Min. Teori Zavascki – J. 25.08.2015)

Crime de reduçãO à COndiçãO análOga à de esCravO

31325 – “Processual penal. Habeas corpus. Arts. 149 e seguintes do Código de Processo Pe-nal. Incidente de insanidade mental. Indeferimento. Decisão definitiva. Recurso próprio. Ampla dilação probatória. Ordem não concedida. 1. A decisão que indefere a instauração de incidente de insanidade mental do réu, conforme previsto no art. 149 e seguintes do Código de Processo Penal, desafia recurso próprio, que admite a ampla dilação proba-tória, para o revolvimento de provas apreciadas pelo magistrado de piso. 2. É vedada a análise de argumentos que demandam ampla dilação probatória na estreita via do habeas corpus. 3. Ordem denegada.” (TRF 1ª R. – HC 0026382-40.2015.4.01.0000/BA – Rel. Juiz Fed. Conv. Pablo Zuniga Dourado – DJe 28.08.2015)

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desCaminHO

31326 – “Agravo regimental no recurso especial. Descaminho. Insignificância. Parâme-tro. Dez mil reais. Recurso especial representativo de controvérsia nº 1.112.748/TO. Por-taria nº 75/2012 do Ministério da Fazenda. Inaplicabilidade. Agravo regimental a que se nega provimento. 1. Em sede de crime de descaminho, em que o bem jurídico tutelado é a ordem tributária, a irrisória lesão ao Fisco conduz à própria atipicidade material da con-duta. 2. Definindo o parâmetro de quantia irrisória para fins de aplicação do princípio da insignificância em sede de descaminho, a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justi-ça, no julgamento do Recurso Especial Representativo de Controvérsia nº 1.112.748/TO, pacificou o entendimento no sentido de que o valor do tributo elidido a ser considerado é aquele de R$ 10.000,00 (dez mil reais) previsto no art. 20 da Lei nº 10.522/2002. 3. Tal parâ-metro não está necessariamente atrelado aos critérios fixados nas normas tributárias para o ajuizamento da execução fiscal, regida pelos critérios de eficiência, economicidade e pra-ticidade e não sujeita a um patamar legal absoluto, mas decorre de construção jurispru-dencial erigida a partir de medida de política criminal em face do grau de lesão à ordem tributária que atribua relevância penal à conduta, dada a natureza fragmentária do direito penal. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-REsp 1.519.823 – (2015/0054053-4) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 26.08.2015)

estatutO da Criança e dO adOlesCente

31327 – “Estatuto da Criança e do Adolescente. Habeas corpus. Apelação julgada. Writ substitutivo de recurso especial. Inviabilidade. Via inadequada. Medida socioeducativa de internação. Aplicada. Ato infracional análogo ao crime previsto no art. 157, § 2º, I, II e V, do Código Penal. Ocorrência do inciso I do art. 122 do aludido estatuto. Cons-trangimento ilegal não evidenciado. Não conhecimento. 1. Tratando-se de habeas corpus substitutivo de recurso especial, inviável o seu conhecimento. 2. Diante da prática de ato infracional equiparado ao crime de roubo circunstanciado (concurso de agentes, empre-go de arma de fogo e restrição de liberdade das vítimas), está autorizada a aplicação da medida socioeducativa de internação, nos termos do art. 122, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Na espécie, a imposição da referida medida não evidencia constrangi-mento ilegal, tendo em vista o ato infracional praticado. 3. Habeas corpus não conhecido.” (STJ – HC 323.912 – (2015/0113188-7) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 17.09.2015)

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estuprO de vulnerável

31328 – “Penal e processo penal. Recurso ordinário em habeas corpus. Estupro de vul-nerável. Art. 217-A do CP. Consentimento da vítima e relacionamento amoroso com o agente. Irrelevância. Caráter absoluto da presunção de violência. Recurso a que se nega provimento. 1. É absoluta a presunção de violência na prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos, de forma que o suposto consenti-mento da vítima, sua anterior experiência sexual ou a existência de relacionamento amo-roso com o agente não tornam atípico o crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A do CP. Precedentes do STJ. 2. Recurso ordinário improvido.” (STJ – Rec-HC 59.974 – (2015/0124724-7) – 5ª T. – Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca – DJe 28.08.2015)

exeCuçãO penal

31329 – “Habeas corpus substitutivo de recurso próprio. Descabimento. Execução penal. Reconhecimento de falta grave sem regressão de regime prisional. Interrupção do prazo para novos benefícios, exceto livramento condicional, indulto e comutação. Aplicação do Enunciado nº 441 da Súmula desta Corte e do entendimento fixado no EREsp 1.176.486/SP. Habeas corpus não conhecido. Constrangimento ilegal evidenciado. Ordem concedida de ofício. O Superior Tribunal de Justiça, seguindo o entendimento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, passou a inadmitir habeas corpus substitutivo de recurso pró-prio, ressalvando, porém, a possibilidade de concessão da ordem de ofício nos casos de flagrante constrangimento ilegal. A homologação da falta grave e a regressão de regime são institutos distintos, não prevalecendo a tese de que a homologação sem a determina-ção de regressão prisional impede a interrupção do lapso temporal para nova progressão de regime. Seguindo o disposto no Enunciado nº 441 da Súmula deste Tribunal, a Tercei-ra Seção desta Corte, por ocasião do julgamento do EREsp 1.176.486/SP, uniformizou o entendimento de que o cometimento de falta grave no curso da execução penal enseja a interrupção do prazo para a concessão de benefícios, exceto para o livramento condicio-nal, o indulto e a comutação de pena. A ausência de ressalva no acórdão atacado constitui constrangimento ilegal ao paciente, na medida em que implica maior tempo no cárcere para concessão dos benefícios de livramento condicional, comutação de pena e indulto. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para determinar que a falta grave em análise não seja considerada como nova data base apenas para concessão de livramen-to condicional, comutação e indulto de pena, salvo previsão expressa em sentido diverso nos decretos concessivos.” (STJ – HC 312.981 – (2014/0343750-5) – 6ª T. – Rel. Min. Ericson Maranho – DJe 28.08.2015)

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FurtO qualiFiCadO

31330 – “Recurso especial. Direito penal. Furto qualificado em continuidade delitiva. Art. 155, § 4º, I e IV, c/c o art. 70 do CP. Porte ilegal de arma de fogo. Art. 14 da Lei nº 10.826/2003. Res furtiva portada em subtrações. Post factum impunível. Mero exauri-mento do crime de furto. Absolvição em razão princípio da consunção. Súmula nº 7/STJ. 1. Em razão do princípio da consunção, o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 14 da Lei nº 10.826/2003) deve ser absorvido pelo de furto porque a arma encontrada com o réu fazia parte dos bens subtraídos, evidenciando o mero exaurimento do delito, post factum impunível. 2. Para a configuração de qualquer delito, faz-se necessá-rio que a conduta do acusado esteja revestida de dolo ou culpa. Se não há dolo, ainda há possibilidade de punição a título de culpa. Mas, em observância aos princípios da tipicida-de e legalidade, somente há culpa caso o tipo legal preveja o crime culposo, nos termos do art. 18, parágrafo único, do Código Penal. 3. Desconstituir a conclusão a que chegaram as instâncias ordinárias implica necessariamente a incursão no conjunto probatório dos autos, revelando-se inadequada a análise da pretensão especial, em função do óbice da Súmula nº 7/STJ. 4. Na via especial, o Superior Tribunal de Justiça não é sucedâneo das instâncias ordinárias, sobretudo quando envolvida, para a resolução da controvérsia, a apreciação do acervo de provas dos autos, o que é incabível em tema de recurso espe-cial, a teor da Súmula nº 7/STJ. 5. Recurso especial improvido.” (STJ – REsp 1.503.548 – (2014/0340000-1) – 6ª T. – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – DJe 26.08.2015)

habeaS corpuS

31331 – “Agravo regimental. Habeas corpus. Processual penal. Súmula nº 691/STF. Fla-grante ilegalidade. Não ocorrência. 1. De acordo com a Súmula nº 691 do STF, não com-pete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar, sob pena de indevida supressão de instância. A jurisprudência desta Corte admite seu abrandamento apenas em casos teratológicos e excepcionais, o que não ocorre no caso. 2. Agravo regi-mental a que se nega provimento.” (STF – AgRg-HC 129.141 – Minas Gerais – 2ª T. – Rel. Min. Teori Zavascki – J. 01.09.2015)

HOmiCídiO

31332 – “Habeas corpus substitutivo. Não cabimento. Homicídio qualificado. Nulidades. Inversão na ordem de oitiva de testemunhas. Inquirição por cartas precatórias. Audiên-

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cias marcadas para o mesmo dia no juízo deprecado. Advogado intimado que não dili-genciou no sentido da remarcação. Inexistência de constrangimento ilegal. Prisão caute-lar. Superveniência de sentença condenatória. Custódia mantida. Perda de objeto. 1. O Superior Tribunal de Justiça, em recentes decisões, não têm mais admitido a utilização do habeas corpus como sucedâneo do meio processual adequado, seja o recurso ou a revisão criminal, salvo em situações excepcionais. 2. A teor do disposto no art. 222 do Código de Processo Penal e da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a inversão da oitiva de testemunhas de acusação e defesa não configura nulidade quando a inquirição é feita por meio de carta precatória, cuja expedição não suspende a instrução criminal. 3. O defensor constituído pelo ora paciente foi devidamente intimado acerca da expedição das cartas precatórias e, mesmo podendo fazê-lo, não diligenciou no sentido da remarcação das au-diências nos Juízos deprecados, as quais foram designadas para o mesmo dia. Inexistência de ilegalidade. 4. Habeas corpus não conhecido.” (STJ – HC 274.584 – (2013/0247283-2) – 6ª T. – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – DJe 26.08.2015)

31333 – “Habeas corpus substituto de recurso. Duplo homicídio qualificado. Direito de re-correr em liberdade. Apelação criminal. Recurso exclusivo da defesa. Expedição de man-dado de prisão antes do trânsito em julgado da condenação. Ausência dos requisitos do art. 312 do CPP. Constrangimento ilegal evidenciado. Parecer pela concessão da liberdade. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício. 1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilida-de quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. Esse entendimento objetivou preservar a utilidade e a eficácia do mandamus, que é o instrumen-to constitucional mais importante de proteção à liberdade individual do cidadão ameaça-da por ato ilegal ou abuso de poder, garantindo a celeridade que o seu julgamento requer. 2. A privação antecipada da liberdade do cidadão acusado de crime reveste-se de caráter excepcional em nosso ordenamento jurídico, e a medida deve estar embasada em decisão judicial fundamentada (art. 93, IX, da CF), que demonstre a existência da prova da mate-rialidade do crime e a presença de indícios suficientes da autoria, bem como a ocorrência de um ou mais pressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal. Exige-se, ainda, na linha perfilhada pela jurisprudência dominante deste Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, que a decisão esteja pautada em motivação concreta, vedadas considerações abstratas sobre a gravidade do crime. 3. Na espécie, o acórdão impugnado não apontou a presença dos vetores contidos no art. 312 do Código de Processo Penal, agravando a situação do réu, em recurso exclusivo da defesa, ao determinar a expedição do mandado de prisão, situação que configura reformatio in pejus. Precedentes do STF e do STJ. 4. O exaurimento dos recursos nas instâncias ordinárias, por si só, não exime o Tribunal de fundamentar a segregação cautelar do acusado, em especial quanto à neces-sidade da prisão antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Precedentes do STF e desta Corte. 5. Habeas corpus não conhecido. Acolhido o parecer ministerial. Ordem concedida, de ofício, para restabelecer a decisão singular que facultou ao paciente o direi-to de recorrer em liberdade.” (STJ – HC 308.788 – SP (2014/0293903-9) – 5ª T. – Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca – DJe 08.09.2015)

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nota:O vertente acórdão trata de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado contra acór-dão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Consta dos autos que o paciente foi condenado pelo Tribunal do Júri à pena total de 33 (trinta e três) anos e 9 (nove) meses de reclusão, facultado o direito de recorrer em liberdade, pela prática da conduta descrita no art. 121, § 2º, I (por duas vezes), c/c o art. 69, ambos do Código Penal. A defesa interpôs recurso de apelação alegando, em preliminar, violação aos princípios da ampla defesa e do devido processo legal em razão das supostas nulidades proces-suais: oitiva de testemunha em surpresa à Defesa, ante a alegada inaplicabilidade, em Plenário, do art. 209 do Código de Processo Penal; e ausência de possibilidade de apre-sentação de peça probatória em Plenário, com ofensa ao art. 159, § 6º, do Código de Processo Penal.O relator acolheu os argumentos da defesa. A prisão antes do trânsito em julgado, em-bora possível, deve estar embasada em decisão judicial fundamentada, que demonstre a existência da prova da materialidade do crime e a presença de indícios suficientes da autoria, bem como a ocorrência de um ou mais pressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal.O relator observou ainda que não houve recurso do Ministério Público contra a decisão de primeiro grau, o que impediria o TJSP de agravar a situação do réu no julgamento de recurso exclusivo da defesa.A sentença havia assegurado ao paciente o direito de recorrer em liberdade, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo, ao julgar a apelação do réu, além de não acolher seu pedido de revisão da sentença, determinou a expedição de mandado de prisão.Diante do exposto, não conheço do presente habeas corpus, mas concedeu a ordem, de ofício, para assegurar ao paciente o direito de recorrer em liberdade.Vale trazer trecho do voto do relator:“Em situações análogas, confiram-se os seguintes julgados desta Corte Superior:PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO QUALIFICADO – EXPE-DIÇÃO DE MANDADO DE PRISÃO ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO – AU-SÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS PREVISTOS NO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCES-SO PENAL – ILEGALIDADE – LIMINAR DEFERIDA – ORDEM CONCEDIDA – I – A prisão cautelar deve ser considerada exceção, já que, por meio desta medida, priva-se o réu de seu jus libertatis antes do pronunciamento condenatório definitivo, consubs-tanciado na sentença transitada em julgado. É por isso que tal medida constritiva só se justifica caso demonstrada sua real indispensabilidade para assegurar a ordem pública, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal, ex vi do art. 312 do Código de Processo Penal. (Precedentes). II – No caso dos autos, o v. acórdão do eg. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo negou provimento à apelação e determinou a expedição de mandado de prisão em desfavor do ora paciente, sem sequer mencionar a presença dos pressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal para justificar a necessidade de impor ao paciente a segregação cautelar. III – Ao se pronunciar, o douto Subprocura-dor da República, em parecer acostado às fls. 263-268, manifestou-se ‘pela concessão da ordem’. Ordem concedida para, confirmando a liminar, revogar a prisão cautelar decretada em desfavor do paciente para que posas aguardar em liberdade o trânsito em julgado da Apelação, salvo se por outro motivo estiver preso, e sem prejuízo da

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decretação de nova prisão, desde que concretamente fundamentada, ou de outras me-didas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do Código de Processo Penal. (HC 304.024/SP, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª T., Julgado em 25.11.2014, DJe 16.12.2014)HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO – EXECUÇÃO PRO-VISÓRIA – SENTENÇA QUE CONCEDEU AO PACIENTE O DIREITO DE RECOR-RER EM LIBERDADE – APELO JULGADO – ESGOTAMENTO DA VIA ORDINÁ-RIA – PRISÃO DETERMINADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM – AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DOS MOTIVOS AUTORIZADORES DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR – INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL – INCONSTITUCIONALIDADE DA AN-TECIPAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA PENA DECLARADA PELO PLENÁRIO DO STF – EXEGESE DO ART. 5º, LVII, DA CF – CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFI-GURADO – ORDEM CONCEDIDA – 1. Viola o princípio da presunção de inocência a expedição de mandado de prisão pelo simples esgotamento das vias ordinárias, pois o Supremo Tribunal Federal, em razão do disposto no inciso LVII do art. 5º da Constitui-ção da República, decidiu pela inconstitucionalidade da execução provisória da pena. 2. Tratando-se de paciente primário, que respondeu ao processo em liberdade e que teve deferido na condenação o direito de recorrer solto, resta caracterizado o constran-gimento ilegal quando o Tribunal impetrado ordena a prisão cautelar antes do trânsito em julgado sem indicar os motivos pelos quais, após o julgamento do Recurso de apela-ção, seria necessário o recolhimento do sentenciado ao cárcere, à luz do art. 312 do CPP. 3. Ordem concedida para determinar que o paciente aguarde em liberdade o trânsito em julgado da condenação, se por outro motivo não estiver preso. (HC 253.950/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª T., Julgado em 14.05.2013, DJe 24.05.2013)HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO – REQUISITOS ART. 312, CPP – GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO – DETERMINAÇÃO, PELO TRIBUNAL LOCAL, DE EXPEDIÇÃO DO MANDADO DE PRISÃO, SEM NENHU-MA MOTIVAÇÃO – HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO – ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO – 1. O Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se à nova jurisprudência da Corte Suprema, também passou a restringir as hipóteses de cabimento do habeas corpus, não admitindo que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao recurso ou ação cabível, ressalvadas as situações em que, à vista da flagrante ilegalidade do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade do paciente, seja cogente a concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus. 2. A jurisprudência desta Corte Superior é reman-sosa no sentido de que a determinação de encarceramento do réu antes de transitado em julgado o édito condenatório deve ser efetivada apenas se presentes e demonstrados os requisitos trazidos pelo art. 312 do Código de Processo Penal. 3. É cogente a funda-mentação concreta da decisão que suprime a liberdade humana, sob as balizas contidas no referido dispositivo, o que afasta a invocação da mera gravidade abstrata do delito, ou o recurso a afirmações vagas e descontextualizadas de que a prisão é necessária para garantir a ordem pública ou econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei pe-nal. 4. No caso dos autos, o acórdão proferido no julgamento da apelação não ofereceu nenhuma motivação, limitando-se a determinar a expedição dos mandados de prisão. 5. A determinação de expedição de mandado de prisão, pelo Tribunal de Justiça, antes do trânsito em julgado da condenação, como simples decorrência do julgamento da apelação, sem amparo em juízo de cautelaridade lastreado em dados concretos que indiquem a necessidade da custódia processual, viola a garantia constitucional inserta no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal. 6. Habeas corpus não conhecido, mas concedido de ofício, para que os pacientes possam aguardar em liberdade o trânsito

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em julgado da ação penal, se por outro motivo não estiverem presos, sem prejuízo de sobrevir novo ato judicial satisfatoriamente apoiado em dados concretos que indiquem a necessidade de providências de natureza cautelar. (HC 239.651/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, DJe 14.04.2014)“HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO – CONDENA-ÇÃO – 1. DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE – INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DE APELAÇÃO – EXPEDIÇÃO DO MANDADO DE PRISÃO – AUSÊNCIA DE TRÂN-SITO EM JULGADO – INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS DO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – 2. ORDEM CONCEDIDA – 1. A expedição de mandado de prisão sem aduzir fundamentos concretos que justifiquem a necessidade da segregação cautelar do paciente, que permaneceu solto durante a instrução criminal e teve assegu-rado o direito de recorrer da sentença em liberdade, caracteriza constrangimento ilegal passível de correção na presente via processual. 2. Habeas corpus concedido para garan-tir ao paciente o direito de aguardar em liberdade o trânsito em julgado da condenação. (HC 241.157/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª T., DJe de 31.08.2012)”

31334 – “Recurso ordinário em habeas corpus. Homicídio culposo na direção de veículo automotor. Art. 302, parágrafo único, II, da Lei nº 9.503/1997. Recebimento da denúncia. Rejeição da defesa preliminar. Ausência de fundamentação. Ilegalidade. Não existência. Recurso não provido. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme em as-sinalar que ‘não sendo a hipótese de absolvição sumária do acusado, a decisão do Juízo processante que recebe a denúncia não demanda fundamentação complexa, sob pena de antecipação prematura de um juízo meritório que deve ser naturalmente realizado ao término da instrução criminal, em estrita observância aos princípios da ampla defesa e do contraditório’ (AgRg-AREsp 440.087/SC, Relª Min. Laurita Vaz, 5ª T, DJe de 17.06.2014). 2. A decisão que rejeita a resposta à acusação, apresentada na fase do art. 396-A do Código de Processo Penal, consubstancia mero juízo de admissibilidade da imputação, em que se trabalha com verossimilhança e não com certeza. A motivação do ato decisório neste momento da persecução penal deve, portanto, ater-se à admissibilidade da imputação, de modo a evitar o prematuro julgamento do mérito. 3. Não ocorreu a apontada ilegalidade a ensejar o provimento deste recurso, pois o Juiz de primeiro grau fundamentou, mini-mamente, a admissibilidade da imputação, ao rejeitar a defesa preliminar, dizendo que, pela natureza meritória, deixava o exame das teses defensivas para momento posterior e oportuno. Embora a defesa tenha feito alusão à ‘falta de justa causa’ e à ‘tipicidade subje-tiva da conduta’ – matérias então aventadas –, na verdade, postulou a absolvição sumária e aduziu razões que dizem respeito ao mérito da impetração (que demanda dilação pro-batória para a formação da convicção), o que foi afastado pelo magistrado. 4. Recurso não provido.” (STJ – Rec-HC 42.668 – (2013/0380559-5) – 6ª T. – Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz – DJe 26.08.2015)

inCêndiO

31335 – “Processo penal. Recurso em habeas corpus. Incêndio. Prisão cautelar. Ausência de motivação idônea. Ocorrência. Falta de indicação de elementos concretos a Justificar

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a Medida. Recurso provido. 1. A prisão processual deve ser configurada no caso de situ-ações extremas, em meio a dados sopesados da experiência concreta, porquanto o ins-trumento posto a cargo da jurisdição reclama, antes de tudo, o respeito à liberdade. In casu, prisão provisória que não se justifica ante a fundamentação inidônea. 2. Não cabe ao Tribunal de origem, em sede de habeas corpus, agregar novos fundamentos para justifi-car a medida extrema. 3. Recurso provido, confirmando a liminar, para que o recorrente possa aguardar em liberdade o trânsito em julgado da ação penal, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que o Juízo a quo, de maneira fundamentada, examine se é caso de aplicar uma das medidas cautelares implementadas pela Lei nº 12.403/2011, ressalvada, inclusive, a possibilidade de decretação de nova prisão, caso demonstrada sua necessidade.” (STJ – Rec-HC 59.452 – (2015/0107856-0) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 17.09.2015)

inquÉritO pOliCial

31336 – “Processual penal. Recurso ordinário em habeas corpus. Inquérito policial. Pedi-do do Ministério Público. Arquivamento determinado. Possibilidade de desarquivamento do inquérito. CPP, art. 18. Notícias de novas provas. Investigação reaberta com base nos mesmas peças informativas. Impossibilidade. Bis in idem. Recurso provido. I – Após o ar-quivamento do inquérito policial, por ordem da autoridade judiciária e a requerimento do Ministério Público, a retomada da persecução estatal, seja pelo desarquivamento do inqué-rito policial, seja pelo oferecimento de denúncia, fica condicionada à existência de outras provas. II – Para o caso de reabertura das investigações policiais, o art. 18 do Código de Pro-cesso Penal prevê que ‘Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia’. Por sua vez, a Súmula nº 524/STF condiciona o oferecimento da denúncia à efetiva existência de nova prova. III – No caso dos autos, o Ministério Público Federal, ao requerer o arquivamento do primeiro Inquérito Policial (instaurado contra o recorrente para apurar a suposta prática dos delitos tipificados no art. 1º, IV, da Lei nº 8.137/1990 e no art. 288 do Código Penal), destacou que ‘não se fazem presentes as elementares do delito de quadrilha ou bando. Não há nos autos efetivamente indícios de que Paulo Roberto Brunetti e outras pessoas tenham combinado recursos e esforços para a prática reiterada ou não, de crimes fiscais mediante falso documental. Não foi, aliás, apreendido qualquer título da dívida pública falsificado que tenha sido utilizado de maneira criminosa pelos investigados. No que diz respeito ao delito contra a ordem tributária, não consta que a Receita Federal constituiu, em caráter definitivo, crédito contra as empresas mencionadas nos autos em razão do uso indevido de títulos da dívida pública para compensação de débitos ou outra finalidade [...]. Isto posto, requer o arquivamento dos autos por falta de base ou fundamento para a denúncia’ (fl. 370, e-STJ). IV – Diante da instauração de novo Inquérito Policial – dessa vez, para apurar a suposta ocorrência dos delitos tipificados no art. 2º, I, da Lei nº 8.137/1990 e no art. 288 do Código Penal –, o recorrente aponta violação ao art. 18 do CPP, pois o novo procedimento de investigação foi

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reaberto com base, tão só, nas mesmas peças informativas que resultaram na instauração do inquérito anteriormente arquivado. V – O v. acórdão objeto do recurso, ao destacar que ‘do cotejo entre as duas Portarias, verifica-se que o objeto delas é aparentemente diferente, não sendo o caso de, neste momento e à vista dos elementos constantes dos autos, cogitar de duplicidade de inquéritos, muito embora ambos estejam lastreados nas mesmas peças informativas’, deixa de observar a disposição contida no art. 18 do Código de Processo Penal. VI – Em síntese, o art. 18 do CPP exige notícia de prova nova. A Súmula nº 524/STF exige fato novo (prova nova). Esta, para fins de oferecimento da denúncia, aquela, para fins de investigação policial. Todavia, a nova qualificação dos fatos não se presta para nenhuma das duas situações. Nesse sentido: ‘não constitui fato ensejador da denúncia, após o arqui-vamento, a mera qualificação diversa do crime, que permanece essencialmente o mesmo’ (RHC 3.111/RJ, 5ª T., Rel. Min. Assis Toledo, DJ de 28.02.1994). Daí, mutatis mutandis no art. 18 do CPP. Doutrina. Recurso ordinário provido, para, concedendo a ordem, determinar o trancamento do segundo inquérito policial instaurado contra o ora recorrente, ressalvada a possibilidade de reabertura das investigações, na hipótese da existência de notícias de novas provas, ou, por mais razão, novas provas.” (STJ – RHC 41933 – (2013/0355117-2) – 5ª T. – Rel. Min. Felix Fischer – DJe 19.06.2015)

lesãO COrpOral

31337 – “Recurso em habeas corpus. Lesão corporal. Violência doméstica. Excesso de pra-zo para formação da culpa. Supressão de instância. Prisão preventiva. Fundamentos con-cretos. Risco de reiteração delitiva. Ausência de constrangimento ilegal. Parecer acolhido. 1. O alegado excesso de prazo para o encerramento da instrução criminal não foi objeto de debate nem de decisão no Tribunal estadual. 2. A prisão cautelar só pode ser imposta ou mantida quando evidenciada, com explícita e concreta fundamentação, a necessidade da rigorosa providência. 3. No caso, o histórico criminal do agente – condenado por crime da mesma natureza, cumprindo pena pelo crime de atentado violento ao pudor e possui-dor de anotação recente por ter ameaçado a mesma ofendida – revela fundado receio de reiteração na prática criminosa e autoriza, por si só, o decreto de prisão preventiva como forma de garantir a ordem pública, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal. 4. O risco de reiteração delitiva pode ser extraído inclusive de inquéritos e ações penais em curso. Precedentes. 5. Recurso conhecido em parte e, nessa parte, improvido.” (STJ – Rec-HC 59.162 – (2015/0105186-1) – 6ª T. – Rel. Min. Sebastião Reis Júnior – DJe 26.08.2015)

pena

31338 – “Penal e processo penal. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Ofen-sa ao art. 112 da LEP. Progressão de regime. Exame criminológico. Faltas graves e fugas.

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Motivação idônea. Acórdão em conformidade com a jurisprudência desta Corte. Súmula nº 83/STJ. Agravo regimental a que se nega provimento. 1. Conforme a jurisprudência desta Corte Superior pode ser determinada a realização de exame criminológico para a progressão de regime, desde que de maneira fundamentada e de acordo com as peculia-ridades do caso concreto. Incidência do Enunciado nº 83 da Súmula deste STJ. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 718.331 – (2015/0129411-2) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 17.09.2015)

pOsse ilegal de arma de FOgO

31339 – “Agravo regimental no agravo em recurso especial. Posse ilegal de arma de fogo de uso permitido e posse ilegal de munição de uso restrito. Violação aos arts. 156 e 402 do CPP e aos arts. 31 e 32 da Lei nº 10.826/2003. Inocorrência. 1. Inexiste em violação ao art. 402 do Código de Processo Penal quando consta nos autos que ‘não cuidou a defesa de demonstrar que se viu impedida de formular os requerimentos de diligências que con-sidera imprescindíveis devido a qualquer óbice ilegal imposto pelo d. Juízo sentenciante’. 2. Afastada a suposta fragilidade probatória e sendo irrelevante a constatação do potencial lesivo do artefato, por se tratar de crime de mera conduta, não há que se falar em absol-vição. 3. É atípica a conduta relacionada ao crime de posse de arma de fogo, acessórios e munição, seja de uso permitido ou de uso restrito, se praticada no período compreendido entre 23 de dezembro de 2003 a 23 de outubro de 2005. 4. O termo final foi prorrogado até 31 de dezembro de 2008 somente para os possuidores de armamentos de uso permitido e, com a publicação da Lei nº 11.922, de 13 de abril de 2009, novamente prorrogado para 31 de dezembro de 2009. 5. É típica a conduta praticada, em 13.06.2010, pelo recorrente, condenado por infração aos arts. 12 e 16 da Lei nº 10.826/2003. 6. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 596.196 – (2014/0265955-2) – 5ª T. – Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca – DJe 28.08.2015)

prisãO em Flagrante

31340 – “Processual penal. Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário. Não cabimen-to. Nova orientação jurisprudencial. Prisão em flagrante convertida em preventiva. Recep-tação qualificada (art. 180, caput, do Código Penal). Alegada ausência de fundamentação do decreto prisional. Inocorrência. Segregação cautelar devidamente fundamentada na garantia da ordem pública e assegurar a aplicação da lei penal. Reiteração delitiva. Cons-trangimento ilegal não caracterizado. Habeas corpus não conhecido. I – A Primeira Turma do col. Pretório Excelso firmou orientação no sentido de não admitir a impetração de habeas corpus substitutivo ante a previsão legal de cabimento de recurso ordinário (v.g.:

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HC 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 11.09.2012; RHC 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 01.08.2014 e RHC 117.268/SP, Relª Min. Rosa Weber, DJe de 13.05.2014). As Turmas que integram a Terceira Seção desta Corte alinharam-se a esta dicção, e, desse modo, também passaram a repudiar a utilização desmedida do writ substitutivo em de-trimento do recurso adequado (v.g.: HC 284.176/RJ, 5ª T., Relª Min. Laurita Vaz, DJe de 02.09.2014; HC 297.931/MG, 5ª T., Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe de 28.08.2014; HC 293.528/SP, 6ª T., Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 04.09.2014 e HC 253.802/MG, 6ª T., Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 04.06.2014). II – Portanto, não se admite mais, perfilhando esse entendimento, a utilização de habeas corpus substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica o não conhecimento da impe-tração. Contudo, no caso de se verificar configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a concessão da ordem de ofício. III – A prisão cautelar deve ser considerada exceção, já que, por meio desta medida, priva--se o réu de seu jus libertatis antes do pronunciamento condenatório definitivo, consubs-tanciado na sentença transitada em julgado. É por isso que tal medida constritiva só se justifica caso demonstrada sua real indispensabilidade para assegurar a ordem pública, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal, ex vi do art. 312 do Código de Processo Penal. A prisão preventiva, portanto, enquanto medida de natureza cautelar, não pode ser utilizada como instrumento de punição antecipada do indiciado ou do réu, nem per-mite complementação de sua fundamentação pelas instâncias superiores (HC 93.498/MS, 2ª T., Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 18.10.2012). IV – Na hipótese, o decreto prisional se encontra devidamente fundamentado em dados concretos extraídos dos autos, que jus-tificam a imposição da segregação cautelar ao paciente, em virtude da necessidade de se garantir a ordem pública, notadamente se considerado que o paciente é contumaz na prática criminosa – como bem destacou o d. Juízo de primeira instância – o que denota a periculosidade social do paciente, tendo em vista o fundado receio de reiteração delitiva. Habeas corpus não conhecido.” (STJ – HC 322.424 – (2015/0098804-1) – 5ª T. – Rel. Min. Felix Fischer – DJe 17.09.2015)

prisãO preventiva

31341 – “Habeas corpus substitutivo de recurso próprio. Tráfico ilícito de entorpecentes. Revogação da prisão preventiva. Impossibilidade. Fundamentação idônea. Garantia da ordem pública. Periculosidade concreta do paciente. Existência de condições pessoais fa-voráveis não impede a decretação da custódia cautelar. Ausência de flagrante ilegalida-de. Habeas corpus não conhecido. O Superior Tribunal de Justiça, seguindo entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, passou a não admitir o conhecimento de habeas corpus substitutivo de recurso previsto para a espécie. No entanto, deve-se analisar o pedi-do formulado na inicial, tendo em vista a possibilidade de se conceder a ordem de ofício, em razão da existência de eventual coação ilegal – esta Corte Superior tem entendimento pacífico de que a custódia cautelar possui natureza excepcional, somente sendo possível sua imposição ou manutenção quando demonstrado, em decisão devidamente motivada,

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o preenchimento dos pressupostos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal – CPP – na hipótese dos autos estão presentes elementos concretos a justificar a imposição da segregação antecipada, uma vez que as instâncias ordinárias, soberanas na análise dos fatos, entenderam que restou demonstrada a periculosidade concreta do paciente, tendo o Magistrado de primeiro grau destacado a qualidade e a considerável quantidade de droga encontrada – um total de 29 pedras de crack e 1 porção de cocaína –, além do dinheiro e do material apreendido, como instrumentos para embalagem da droga e uma balança de precisão, que pressupõe preparo e mercancia habitual de entorpecentes. Assim, entendeu evidenciado o risco ao meio social, recomendando a custódia cautelar para garantia da ordem pública. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que a presença de condições pessoais favoráveis, como primariedade, domicílio certo e em-prego lícito, não impede a decretação da prisão cautelar, notadamente se há nos autos ele-mentos suficientes para justificar a segregação preventiva. Habeas Corpus não conhecido.” (STJ – HC 323.981 – (2015/0113881-1) – 6ª T. – Rel. Min. Ericson Maranho – DJe 28.08.2015)

rOubO

31342 – “Habeas corpus. Impetração substitutiva de recurso especial. Impropriedade da via eleita. Art. 157, caput, do Código Penal (três vezes). Continuidade delitiva específica. Motivação adequada. Flagrante ilegalidade não evidenciada. Writ não conhecido. 1. Tra-tando-se de habeas corpus substitutivo de recurso especial, inviável o seu conhecimento. 2. Hipótese em que a Corte estadual fundamentou adequadamente a incidência da conti-nuidade delitiva específica, prevista no parágrafo único do art. 71 do Código Penal. Levou em conta, para o aumento consignado, além do número de delitos, também as circunstân-cias judiciais. 3. Writ não conhecido.” (STJ – HC 329.076 – (2015/0159095-3) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 17.09.2015)

31343 – “Habeas corpus impetrado em substituição a recurso próprio. Descabimento. Rou-bo duplamente circunstanciado. Critério matemático de aumento de pena na terceira fase da dosimetria. Fundamentação inidônea. Enunciado nº 443 da súmula do Superior Tribu-nal de Justiça – STJ. Pena-base fixada no mínimo legal. Circunstâncias judiciais favoráveis. Regime inicial de cumprimento da pena. Enunciados nºs 440 da Súmula do STJ e 718 e 719 da Súmula do Supremo Tribunal Federal – STF. Habeas corpus não conhecido. Concessão da ordem, de ofício, para reduzir as penas do paciente e fixar o regime inicial semiaberto. O STJ, seguindo entendimento firmado pelo STF, passou a não admitir o conhecimento de habeas corpus substitutivo de recurso previsto para a espécie. No entanto, deve-se analisar o pedido formulado na inicial, tendo em vista a possibilidade de se conceder a ordem de ofício, em razão da existência de eventual coação ilegal – nos termos do disposto no Enun-ciado nº 443 da Súmula desta Corte, ‘o aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes’. Ressalva do entendimento deste Relator – na hipótese, o aumento da pena em fração superior a 1/3 seguiu o critério matemático, a evidenciar a necessidade de aplicação da fração mínima – dispõe o Enun-

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ciado nº 440 da Súmula desta Corte que ‘fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito’. No mesmo sentido, são os Enunciados nºs 718 e 719 da Súmula do STF – no caso dos autos, após fixada a pena-base no mínimo legal, pois favoráveis as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal, o regime inicial fechado foi fixado sem fundamentação idônea, ou seja, sem a in-dicação das circunstâncias judiciais desfavoráveis, previstas no art. 59 do Código Penal. Habeas corpus não conhecido. Concessão da ordem, de ofício, para reduzir a reprimenda do paciente e fixar o regime inicial semiaberto.” (STJ – HC 328.582 – (2015/0154707-0) – 6ª T. – Rel. Min. Ericson Maranho – DJe 17.09.2015 – p. 1195)

31344 – “Processo penal. Recurso em habeas corpus. Roubo circunstanciado. Prisão caute-lar. Ausência de motivação idônea. Ocorrência. Falta de indicação de elementos concretos a justificar a medida. Recurso provido. 1. A prisão processual deve ser configurada no caso de situações extremas, em meio a dados sopesados da experiência concreta, porquan-to o instrumento posto a cargo da jurisdição reclama, antes de tudo, o respeito à liberda-de. In casu, prisão provisória que não se justifica ante a fundamentação inidônea. 2. Não cabe ao Tribunal de origem, em sede de habeas corpus, agregar novos fundamentos para justificar a medida extrema. 3. Recurso provido para que o recorrente possa aguardar em liberdade o trânsito em julgado da ação penal, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que o Juízo a quo, de maneira fundamentada, examine se é caso de aplicar uma das medidas cautelares implementadas pela Lei nº 12.403/2011, ressalvada, inclusive, a possibilidade de decretação de nova prisão, caso demonstrada sua necessidade.” (STJ – Rec-HC 61.230 – (2015/0158346-8) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 17.09.2015)

substÂnCia tóxiCa

31345 – “Recurso especial. Direito penal. Importação de substancia tóxica (art. 56 da Lei nº 9.605/1998) e transporte de agrotóxico (art. 15 da Lei nº 7.802/1989). Adequação típica. 1. Inexistindo elementos no sentido de que o denunciado, tendo recebido na rodoviária de Foz de Iguaçu mala com produto que sabia ter procedência estrangeira para transporte dentro do território nacional, tenha ajustado ou aderido à importação antes da sua con-sumação, não se pode falar em participação na importação de substância tóxica (art. 56 da Lei nº 9.605/1998) mas em delito autônomo de transporte de agrotóxico (art. 15 da Lei nº 7.802/1989). 2. A participação na modalidade de coautoria sucessiva, em que o partíci-pe resolve aderir à conduta delituosa após o início da sua execução, exige, além do liame subjetivo comum a todo concurso de agentes, que a adesão ocorra antes da consumação do delito. 3. Recurso provido.” (STJ – REsp 1.449.266 – (2014/0092305-5) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 26.08.2015)

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tráFiCO de drOgas

31346 – “Habeas corpus. Penal. Tráfico transnacional de drogas. Análise das circunstân-cias judiciais do art. 59 do CP. Incidência da majorante da transnacionalidade (art. 40, I, da Lei nº 11.343/2006). Inexistência de bis in idem. Delação premiada (art. 41 da Lei de Drogas). Fixação de fração intermediária (1/2). Proporcional à colaboração do paciente. Aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. Impossibilidade. 1. Esta Corte já decidiu, reiteradas vezes, pela inviabilidade jurídica de se proceder, na via estreita do habeas corpus, ao reexame dos elementos de convicção con-siderados pelo magistrado sentenciante na avaliação das circunstâncias judiciais, sendo autorizado apenas o controle da legalidade dos critérios utilizados, com a correção de eventuais arbitrariedades (HC 105.802, DJe de 04.12.2012), o que não ocorreu no caso. 2. Improcede a alegação de que a incidência do aumento pela transnacionalidade (art. 40, I, da Lei nº 11.343/2006) configura bis in idem, mormente porque o paciente foi condena-do pela conduta de transportar droga, e não a de exportar. A incidência da majorante, que tem como objetivo apenar com maior severidade a atuação do traficante direcionada para além das fronteiras do País, não exige o transporte efetivo para o exterior, basta que se identifique a intenção. Precedentes. 3. As instâncias ordinárias concluíram que o paciente não forneceu dados suficientes para a identificação dos principais membros do grupo criminoso, não fazendo jus, portanto, à incidência da causa de diminuição da pena prevista no art. 41 da Lei de Drogas em sua fração máxima. Nesse contexto, revela-se inviável a utilização do habeas corpus para reexaminar fatos e provas com vistas a verifi-car o efetivo nível de colaboração do paciente com a investigação criminal. Precedentes. 4. A não aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 pressu-põe a demonstração pelo juízo sentenciante da existência de um conjunto probatório apto a afastar pelo menos um dos critérios, que são autônomos, descritos no preceito legal: (a) primariedade; (b) bons antecedentes; (c) não dedicação a atividades criminosas; e (d) não integração à organização criminosa. Nesse juízo, não se pode ignorar que a nor-ma em questão tem a clara finalidade de apenar com menor grau de intensidade quem pratica de modo eventual as condutas descritas no art. 33, caput e § 1º, em contraponto ao agente que faz do crime o seu modo de vida, o qual, evidentemente, não goza do referido benefício (Cf. justificativa ao Projeto de Lei nº 115/2002 apresentada à Comissão de cons-tituição e Justiça e de Redação). No caso, demonstrou-se a efetiva dedicação do paciente à atividade criminosa, sendo inviável a utilização do habeas corpus, a fim de reexaminar o que decidido pelas instâncias ordinárias. 5. Ordem denegada.” (STF – HC 127.221 – São Paulo – 2ª T. – Rel. Min. Teori Zavascki – J. 25.08.2015)

31347 – “Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário. Tráfico de drogas. Prisão pre-ventiva justificada. Garantia da ordem pública. Expressiva quantidade de droga apreen-dida (998 gramas de maconha). Envolvimento anterior dos acusados com o mesmo de-lito. Risco de reiteração delitiva. Ausência de constrangimento ilegal. Habeas corpus não conhecido. 1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da or-

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dem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. Esse entendimento objetivou preservar a utilidade e a eficácia do mandamus, que é o instrumento constitucional mais importante de proteção à liberdade individual do cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder, garantindo a celeridade que o seu julgamento requer. 2. A privação antecipada da liberda-de do cidadão acusado de crime reveste-se de caráter excepcional em nosso ordenamento jurídico (art. 5º, LXI, LXV e LXVI, da CF). Assim, a medida, embora possível, deve estar embasada em decisão judicial fundamentada (art. 93, IX, da CF), que demonstre a exis-tência da prova da materialidade do crime e a presença de indícios suficientes da autoria, bem como a ocorrência de um ou mais pressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal. 3. Na hipótese, a prisão preventiva foi determinada para a garantia da ordem pú-blica, encontrando-se justificada na expressiva quantidade de droga encontrada em poder dos pacientes (aproximadamente um quilo de maconha) e no envolvimento anterior com o mesmo delito, sendo concreto, portanto, o risco de reiteração delitiva. 4. Habeas Corpus não conhecido.” (STJ – HC 324.548 – (2015/0119599-6) – 5ª T. – Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca – DJe 28.08.2015)

tráFiCO de entOrpeCentes

31348 – “Habeas corpus. Tráfico ilícito de entorpecentes. Condenação. Causa especial de diminuição. Quantum de incidência. Natureza das drogas. Ilegalidade manifesta. Inexis-tência. Fixado o regime inicial fechado e negada a substituição da pena com base na gravi-dade abstrata do delito. Constrangimento ilegal. Ocorrência. Regime aberto e substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Possibilidade em tese. Aferição in concreto deve ser realizada pelo tribunal de origem. Não conhecimento. Concessão de ofício. 1. O estabelecimento do redutor na fração de 1/3 não se mostrou, de modo fla-grante, desarrazoado, diante da natureza das drogas apreendidas, a atrair a incidência do art. 42 da Lei nº 11.343/2006. O quantum de redução aplicado fica indene ao crivo do habeas corpus, pois é matéria que demanda revolvimento fático-probatório. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 2. Esta Corte, na esteira do posicionamento do Supremo Tribunal Federal, entende ser possível nas condenações por tráfico de drogas, em tese, a fixação de regime menos gravoso, bem como a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, sempre tendo em conta as particularidades do caso concreto. 3. In casu, foi fixado o regime inicial fechado e negada a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos com base, exclusivamente, na gravidade abstrata do delito, em manifesta contrariedade ao hodierno entendimento dos Tribunais Superiores. 4. Ainda não sobreveio trânsito em julgado da condenação, razão pela qual os autos devem ser remetidos ao Tribunal de origem para que fixe o regime inicial de cumprimento de pena à luz das balizas delineadas pelo art. 33, §§ 2º e 3º, do Código Penal. 5. Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de que, a fim de que, afastado o fundamento referente à gravidade in abstrato do delito, determinar que o Tribunal de origem, analisando o caso concreto, fixe o regime inicial de cumprimento de pena e avalie a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos,

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à luz das balizas delineadas pelos arts. 33, §§ 2º e 3º, e 44 e incisos, do Código Penal.” (STJ – HC 330.296 – (2015/0171026-3) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 17.09.2015)

31349 – “Habeas corpus. Tráfico ilícito de entorpecentes. Condenação. Dosimetria. Pena--base. Quantidade e natureza. Exasperação justificada. Constrangimento ilegal. Ausên-cia. Reincidência. Cometimento anterior do crime de posse de entorpecente para uso próprio. Abolitio criminis. Não ocorrência. Mera despenalização. Condenação definitiva anterior. Reincidência. Configuração. Causa especial de diminuição de pena. Reincidên-cia. Circunstância que impede a aplicação do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. Regime semiaberto. Impossibilidade. Paciente reincidente. Substituição da pena. Impossibilidade. Pena superior a 4 anos. Não conhecimento. 1. As instâncias ordinárias adotaram funda-mentos concretos para justificar a exasperação da pena-base acima do mínimo legal, não parecendo arbitrário o quantum imposto, tendo em vista a quantidade e a natureza das drogas apreendidas – 13 porções de crack (109 g) e 4 porções de maconha (44 g) – ( art. 42 da Lei nº 11.343/2006). 2. Esta Corte, na esteira do posicionamento perfilhado pelo Su-premo Tribunal Federal (Questão de Ordem no Recurso Extraordinário nº 430.105-9/RJ), consolidou o entendimento de que, com o advento da Lei nº 11.343/2006, não ocorreu a descriminalização (abolitio criminis) da conduta de posse de substância entorpecente para consumo pessoal, mas, tão somente, a mera despenalização, pelo fato de o art. 28 da Lei nº 11.343/2006 não impor pena privativa de liberdade ao usuário de drogas. 3. Compro-vada a existência de condenação definitiva anterior pela prática do delito previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, não é possível a aplicação da causa especial de diminuição prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, haja vista que o paciente não preenche os requisitos legais, porquanto é reincidente. 4. Inviável fixar o regime semiaberto para o início do cumprimento da pena, por tratar-se de réu reincidente (art. 33, § 2º, alínea b, do Código Penal). 5. A substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos submete-se à regência do art. 44 do Código Penal, segundo o qual só faz jus ao benefício legal o condenado a pena inferior a 4 anos. Na espécie, tendo a reprimenda final alcançado 6 anos de reclusão, não é possível a pretendida substituição. 6. Habeas corpus não conhe-cido.” (STJ – HC 299.988 – (2014/0183902-5) – 6ª T. – Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 17.09.2015)

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Índice AlfAbético e Remissivo cÍvel e PenAl

Doutrina

Civil, ProCessual Civil e ComerCial

assunto

CóDigo De ProCesso Civil

• aplicabilidade do artigo 475-P, Parágrafo Único, do Código de Processo Civil (CPC), nas Decisões Proferidas em CaráterProvisório em ações Coletivas (Gisleni valezi raymundo) ............. 49

Honorários aDvoCatíCios

• Honorários Contratuais e a Necessidade de inclusão no mon-tante Devido pela Parte adversa: Doutrina e Jurisprudência(Felipe Cunha de almeida) .............................................................. 27

sentença

• o Cabimento de multa e Honorários em Cumprimento de sen-tença (Wagner ribeiro rodrigues) .................................................... 9

autor

FeliPe CunHa De almeiDa

• Honorários Contratuais e a Necessidade de inclusão no mon-tante Devido pela Parte adversa: Doutrina e Jurisprudência .......... 27

gisleni valezi raymunDo

• aplicabilidade do artigo 475-P, Parágrafo Único, do Código de Processo Civil (CPC), nas Decisões Proferidas em Caráter Provisório em ações Coletivas ........................................................ 49

Wagner ribeiro roDrigues

• o Cabimento de multa e Honorários em Cumprimento de sen-tença .................................................................................................. 9

PeNal e ProCessual PeNal

assunto

aDPF• uma vitória Pírrica: o Julgamento da arguição de Descumpri-

mento de Preceito Fundamental nº 347 (rômulo de andrademoreira) ........................................................................................... 69

autor

rômulo De anDraDe moreira

• uma vitória Pírrica: o Julgamento da arguição de Descum-primento de Preceito Fundamental nº 347 ...................................... 69

aCórDão Na íNteGra

Civil, Processual Civil e Comercial

assunto

bem De Família • agravo legal em agravo de instrumento – impenhorabilidade

de bem de família – Não configurada – substituição da pe-nhora – art. 15 da leF – impossibilidade (trF 4ª r.) ...................111

Dano moral

• Civil e processual civil – agravo regimental no agravo em re-curso especial – indenização por danos moral e material pela perda de uma chance – Possibilidade de decidir agravo em recurso especial de forma monocrática – observância do dis-posto no art. 254, i, do ristJ – reconhecimento dos alegados danos pelas instâncias ordinárias – revolvimento do arcabouço fático-probatório inadmissível – incidência da súmula nº 7 des-ta Corte – análise da divergência jurisprudencial que tambémesbarra na mencionada súmula – recurso não provido (stJ) ....... 77

exeCução

• Processual civil e tributário – agravo regimental em agravo re-gimental em agravo de instrumento – Decretação de perda de objeto do primeiro regimental – reconsideração – reaprecia-ção do primeiro recurso – impugnação de decisão monocrática denegatória de seguimento a agravo de instrumento – Prazo em dobro para recorrer – intimação pessoal do representan-te – interposição intempestiva – execução fiscal – Pedido de redirecionamento ao sócio da empresa-excutida – alegação de dissolução irregular – Questão não analisada em primeiro grau – inviabilidade do exame primeiro na instância recur- sal – manifesta improcedência – agravo regimental não provido(trF 1ª r.) .................................................................................... 105

resPonsabiliDaDe Civil

• agravo regimental no agravo em recurso especial – Direito civil – responsabilidade civil – acidente de trânsito – mor-te do esposo e genitor dos autores – indenização por danos morais e materiais – violação do art. 535 do CPC – Não ocorrência – arts. 26, 34, 38 e 39 do Código de trânsito Bra-sileiro – arts. 39 e 51 do Código de Defesa do Consumidor – art. 765 do Código Civil – ausência de prequestionamento – súmula nº 211/stJ – Dever de indenizar – reexame de provas – impossibilidade – súmula nº 7/stJ – independência entre juízos cível e criminal – Cobertura securitária – Danos morais – exclusão expressa – súmula nº 83/stJ – valor da indeniza-ção – razoabilidade – redução – impossibilidade – Juros demora – termo inicial – súmula nº 54/stJ (stJ) .............................. 89

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Revista JuRídica 455índice cível e Penal

setembRo/2015

PeNal, ProCessual PeNal

assunto

Crime De ContrabanDo

• Penal e processual penal – recurso em sentido estrito inter-posto pelo ministério Público Federal – Crime de contrabando – art. 334, § 1º, alíneas c e d, do CP – utilizar, em estabele-cimento comercial, máquina caça-níquel de origem estrangei-ra, em proveito próprio e alheio, sem a documentação devida – rejeição da denúncia – Presença de indícios suficientes de autoria e materialidade – recurso provido (trF 2ª r.) .................. 155

Provas

• Processual penal – agravo regimental no recurso extraordinário com agravo – violação ao art. 93, iX, da CF/1988 – inocor-rência – Necessidade de análise da legislação infraconstitu-cional pertinente – ofensa constitucional reflexa – reexame de fatos e provas – súmula nº 279 do stF – reincidência – art. 61, i, do Código Penal – Compatibilidade com os prin-cípios do non bis in idem e da individualização da pena (re 453.000/rs, rel. min. marco aurélio – tema 114) – agravo regimental a que se nega provimento. (stF) ................................ 137

tráFiCo De entorPeCente

• recurso ordinário em habeas corpus – tráfico de entorpe-centes e associação para o narcotráfico (hipótese) – Prisão preventiva (requisitos) – Gravidade dos fatos; intranquilidade pública; sensação de impunidade (meras conjecturas) – Droga apreendida (reduzida quantidade) – Condições pessoais favo-ráveis (agente primário, de bons antecedentes) – Constrangi-mento ilegal (configurado) – recurso provido (stJ) ..................... 141

emeNtário

Civil, Processual Civil e Comercial

assunto

ação De anulação – título De CréDito – DeCisão monoCrátiCa

• agravo regimental no agravo de instrumento. ação de anula-ção de título de crédito. Decisão monocrática que conheceu do agravo de instrumento para negar seguimento ao recurso especial. irresignação da autora. .......................................34031, 117

ação resCisória – ContraDição – não oCorrênCia

• embargos de declaração. ação rescisória. vícios do art. 535 do CPC. Contradição. Não ocorrência. alteração da verdade dos fatos. recurso manifestamente protelatório. litigância de má-fé. aplicação de multa. 1. os embargos de declaração, cujos pressupostos estão relacionados no art. 535 do Código de Processo Civil, visam a eliminar contradição, desfazer obs-curidade ou suprir omissão a respeito de questão jurídica de especial relevância para o desate da lide. ausentes essas hipó-teses, não prosperam os embargos. ..................................34032, 117

alienação FiDuCiária – Constituição Do DeveDor em mora meDiante notiFiCação extrajuDiCial – DesneCessiDaDe De inti-mação Pessoal

• agravo regimental em agravo em recurso especial. ação de busca e apreensão. alienação fiduciária. Constituição do de-vedor em mora mediante notificação extrajudicial. Desneces-sidade de intimação pessoal. Precedentes. súmula nº 83/stJ. agravo não provido. ...........................................................34033, 118

alienação FiDuCiária – notiFiCação extrajuDiCial – ComProva-ção Da mora – notiFiCação Pessoal – DesneCessiDaDe

• agravo regimental no agravo em recurso especial. alienação fiduciária. Notificação extrajudicial. Comprovação da mora. Notificação pessoal. Desnecessidade. súmula nº 83/stJ. in-cidência. 1. a notificação extrajudicial expedida por cartório de títulos e documentos e entregue no domicílio do devedor é meio hábil à comprovação da mora do devedor, sendo dispen-sada, portanto, a sua notificação pessoal. súmula nº 83/stJ.2. agravo regimental desprovido ........................................34034, 118

arrenDamento merCantil – Pagamento Do iPva – resPonsabi-liDaDe soliDária Do arrenDante

• Processual civil e tributário. embargos à execução fiscal. arren-damento mercantil. responsabilidade solidária do arrendante pelo pagamento do iPva. súmula nº 83/stJ. transmissão definitiva do bem em razão do fim do contrato. inexistência de prequestionamento. súmula nº 211/stJ ............................34035, 119

busCa e aPreensão – PeDiDo De Conversão em exeCução – Cé-Dula De CréDito banCário

• Processo civil. ação de busca e apreensão com pedido de conversão em execução. Cédula de crédito bancário. ausên-cia do original. Petição inicial. Determinação de emenda não atendida pela parte autora. inépcia. extinção do processo sem julgamento de mérito. 1. se o autor não cumpre as determi-nações de emenda à inicial, o juiz deve indeferi-la, julgando extinto o processo, sem resolução do mérito, com fulcro no art. 267, inciso i, do Código de Processo Civil. 2. Determinada a emenda da inicial, para juntada da via original da Cédula de Crédito Bancário, e, deixando a parte de proceder à emenda, transcorrendo in albis o prazo, e não apresentando qualquer justificativa para o atraso ou a não juntada, correta a rejeiçãoda inicial. 3. recurso não provido .......................................34036, 119

Cessão De CréDito – ausênCia De notiFiCação – exigibiliDaDe Da DíviDa ComProvaDa

• agravo regimental no recurso especial. Civil. Cessão de crédito. ausência de notificação. exigibilidade da dívida comprovada. reexame de prova. súmula nº 7/stJ. agravo improvido. 1. a ausência de notificação do devedor acerca da cessão do crédito (art. 290 do CC/2002) não torna a dívida inexigível, tampouco impede o novo credor de praticar os atos necessários à preser-vação dos direitos cedidos. 2. o tribunal de origem concluiu que foi comprovada a origem da dívida. No caso, essa conclusão não pode ser alterada nesta Corte, pois demandaria o reexame do conjunto fático-probatório, o que atrai o óbice da súmulanº 7 desta Corte. 3. agravo regimental improvido ............. 34037, 120

Contrato De rePresentação ComerCial – HiPossuFiCiênCia Da rePresentante – Cláusula De eleição De Foro – nuliDaDe

• agravo regimental no agravo em recurso especial. Processu-al civil. Contrato de representação comercial. Hipossuficiên-cia da representante. Cláusula de eleição de foro. Nulidade. súmula nº 83/stJ. 1. o acórdão recorrido está em perfeita sintonia com a jurisprudência deste tribunal, firmada no sen-tido de que a regra de competência prevista no art. 39 da lei nº 4.886/1965 é relativa e destinada à proteção do repre-sentante comercial, podendo ser livremente alterada pelas partes, salvo se verificada a hipossuficiência da parte ou o prejuízo ao acesso à Justiça. incidência da súmula nº 83/stJ. 2. agravo regimental não provido ...................................... 34038, 120

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índice cível e penalRevista JuRídica 455

setembRo/2015

Contrato De seguro De viDa em gruPo – Prazo DeterminaDo – resCisão – PossibiliDaDe – Cláusula abusiva

• Civil e processual civil. agravo regimental no recurso especial. Contrato de seguro de vida em grupo. Prazo determinado. rescisão. Possibilidade. Cláusula abusiva. Não configuração. Pagamento de eventuais sinistros no decorrer do processo. responsabilidade da seguradora. Devolução dos prêmios. im-possibilidade. Precedentes. incidência da súmula nº 83 do stJ.Decisão mantida. ............................................................... 34039, 121

DesaProPriação inDireta – PresCrição – Direito real – Pres-Crição vintenária

• Processual civil e administrativo. Desapropriação indireta. Pres-crição. Direito real. Prescrição vintenária. súmula nº 119/stJ. Código Civil de 2002. art. 1.238, parágrafo único. Prescri-ção decenal. redução do prazo. regra de transição. lei nº 11.960/2009. ausência de prequestionamento. súmulanº 211/stJ ......................................................................... 34040, 121

DesPejo – inDenização Pelo FunDo De ComérCio – Direito à reParação Pela muDança, PerDa Do lugar e Desvalorização Do FunDo De ComérCio

• recurso especial. ação de despejo. indenização pelo fundo de comércio (art. 52, § 3º, da lei nº 8.245/1991). instâncias ordinárias que asseveraram inexistir direito à reparação pela mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de co-mércio, face à não manifestação da pretensão renovatória da locação comercial por parte do locatário (art. 51, § 5º, da re-ferida lei). insurgência do réu. recurso especial desprovido. a controvérsia reside na vinculação ou não do pleito indenizatório previsto no art. 52, § 3º, da lei nº 8.245/1991, ao direito de reno-vação compulsória do contrato de locação comercial ....... 34041, 122

DivórCio – PartilHa De bens CumulaDa Com alimentos

• Processual civil. ação de divórcio e partilha de bens cumulada com alimentos. alimentos endereçados ao filho menor do casal. rejeição liminar. óbice judicial. Conteúdo decisório lesivo. afe-rição. recorribilidade. agravo. admissibilidade. Pedidos. Cumu-lação. Pretensões sujeitas ao procedimento ordinário e com- patíveis entre si. Cúmulo objetivo. viabilidade e legalidade. inde-ferimento da inicial. impossibilidade .................................. 34042, 123

exeCução – imóvel HiPoteCaDo – DesaProPriação – multiPliCi-DaDe De PenHoras – ConCurso De CreDores

• Processual civil. recurso especial. execução. imóvel hipote-cado. Desapropriação. multiplicidade de penhoras. Concurso de credores. Preferência do crédito fiscal em face do crédito com garantia real. súmula nº 83 do stJ. ofensa ao art. 535 do CPC. ofensa a coisa julgada. súmulas nºs 282 e 356, do stF.recurso não provido .......................................................... 34043, 124

exeCução – título exeCutivo extrajuDiCial – CHeque – ausên-Cia De Citação – PresCrição

• Processual civil. execução. título executivo extrajudicial. Che-que. ausência de citação. Prescrição. Prazo de seis meses. extinção do processo com resolução de mérito. 1. Compete ao exequente promover a citação do executado, a qual deve ocorrer dentro de prazo razoável, sob pena de perpetuação do feito e violação do princípio constitucional da razoável duração do processo. 2. transcorrido o prazo de 06 (seis) meses, con-tados do 30º (trigésimo) dia da emissão do cheque, ausente a citação, tem-se operada a prescrição para o ajuizamento da ação executiva, a qual deve ser pronunciada de ofício (Có-digo de Processo Civil, arts. 219, § 5º e 269, iv). 3. recursonão provido ........................................................................ 34044, 124

exeCução – título extrajuDiCial – aDjuDiCação De bens Pe-nHoraDos

• agravo regimental no agravo (art. 544 do CPC). autos de agra-vo de instrumento dirigido contra o deferimento de adjudicação de bens penhorados no âmbito da execução de título extrajudi-cial. Decisão monocrática negando provimento ao agravo, man-tida a inadmissão do recurso especial. 1. razões do regimental que não impugnam especificamente os fundamentos invocados na deliberação monocrática. em razão do princípio da dialeti-cidade, deve o agravante demonstrar de modo fundamenta-do o desacerto da decisão agravada. incidência da súmula nº 182/stJ: ‘É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agra-vada’. 2. agravo regimental não conhecido ....................... 34045, 125

exeCução – título extrajuDiCial – DuPliCatas

• recurso especial. execução. título extrajudicial. Duplicatas. omissão inexistente. Prequestionamento ausente. imóvel. Bem de família. Descaracterização. reexame de provas. súmula nº 7/stJ. acórdão recorrido. Jurisprudência desta corte. Disso-nância. Penhora. Fração ideal de coproprietário. Possibilidade. 1. Cinge-se a controvérsia a definir se é possível a penhora de fração ideal dos recorridos sobre o imóvel que se encontra em condomínio e servindo de residência para sua genitora. 2. a jurisprudência desta Corte consolidou o entendimento de ser possível a penhora de fração ideal de imóvel caracterizado como bem de família. 3. a fração ideal de bem indivisível per-tencente a terceiro não pode ser levada à hasta pública, deven-do a constrição judicial incidir apenas sobre as frações ideais de propriedade dos executados. 4. recurso especial conhe-cido em parte e provido ..................................................... 34046, 125

Honorários De aDvogaDo – CuraDor esPeCial – Cabimento

• Processual civil. Honorários advocatícios. Curador especial. Cabimento. Precedentes do stJ. 1. a jurisprudência do stJ entende que são devidos honorários de advogado ao cura-dor especial pela parte sucumbente ou pelo estado quando não houver Defensoria Pública. 2. recurso especial não pro-vido .................................................................................... 34047, 125

Honorários De aDvogaDo – víCio De natureza resCisória – DesCabimento Da querela nullitatis – erro material – não ConFiguração

• agravo regimental no recurso especial. Processual civil. Hono-rários advocatícios. Base de cálculo. inobservância do art. 20, § 3º, do CPC. trânsito em julgado. vício de natureza rescisória. Descabimento da querela nullitatis. erro material. Não configu-ração. Coisa julgada inconstitucional. Descaracterização. 1. É possível, de modo excepcional, o controle de nulidades pro-cessuais, sobretudo as de natureza absoluta, após o trânsito em julgado da decisão por meio de impugnações autônomas, como embargos à execução, ação anulatória (querela nullitatis) e ação rescisória, cabíveis conforme o grau de nulidade no pro-cesso originário. 2. a querela nullitatis é instrumento utilizado para impugnar sentença contaminada pelos vícios mais graves de erros de atividade (errores in procedendo), nominados de vícios transrescisórios, que tornam o ato judicial inexistente, não se sanando com o transcurso do tempo. 3. se a insur-gência é contra a parte da sentença que fixou a base de cál-culo dos honorários advocatícios sem observar os ditames do art. 20, § 3º, do CPC, o vício é de caráter rescisório, de modo que o instrumento processual adequado é a ação rescisória, apta a discutir a existência de violação literal de dispositivo de lei. 4. o equívoco no arbitramento da verba honorária não é con-

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Revista JuRídica 455índice cível e Penal

setembRo/2015

siderado erro material, pois somente os desacertos numéricos cometidos quando da elaboração da conta caracterizam esse vício. logo, os critérios de cálculo utilizados quanto aos ho-norários advocatícios estão protegidos pela coisa julgada. a ausência de impugnação tempestiva da base de cálculo fixada atrai a aplicação do brocardo jurídico dormientibus non sucurrit jus (o direito não socorre aos que dormem). Precedentes. 5. Não havendo vício transrescisório ou eventual coisa julgada inconstitucional, mas vício rescisório, descabida é a querela nullitatis. 6. agravo regimental não provido ....................... 34048, 126

juizaDo esPeCial – relação De Consumo – ComPra De aParelHo Celular em estabeleCimento ComerCial – víCio De qualiDaDe

• Juizado especial. relação de consumo. Compra de aparelho celular em estabelecimento comercial. Produto com vício de qualidade. Condenação na devolução da quantia paga. art. 18, § 1º, inc. ii, CDC. Pretensão de reforma. substituição por pro-duto em perfeitas condições para uso. Ônus da prova. Não comprovação pela ré. recurso desprovido. sentença mantida ........................................................................................... 34049, 126

loCação – FiaDor – Débitos veriFiCaDos no PeríoDo reFerente à Prorrogação Do Contrato – ausênCia De Cláusula

• agravo regimental no agravo de instrumento. locação. Fiador. Débitos verificados no período referente à prorrogação do con-trato. ausência de cláusula estipulando a responsabilidade do fiador até a entrega das chaves. agravo regimental desprovi-do. 1. a Corte de origem consignou no acórdão objurgado que ‘não tem cláusula alguma impondo a responsabilidade dos fiadores no caso de prorrogação da locação por tempo indeter-minado. assim, os fiadores se obrigaram somente pelo tempo certo de duração do contrato, razão pela qual não podem ser responsabilizados pelas obrigações contraídas pelo locatário após tal prazo e sem sua anuência’. 2. infirmar as conclusões do julgado, como ora postulado, encontra óbice nas súmulas nºs 5 e 7/stJ. 3. ademais, o entendimento do tribunal local está em consonância com a pacífica jurisprudência desta Corte superior, que afasta a responsabilidade do fiador pelos débitos contraídos sem a sua anuência, nos termos da súmula nº 214, que dispõe que ‘o fiador na locação não responde por obriga-ções resultantes de aditamento ao qual não anuiu’. 4. agravo regimental a que se nega provimento ............................... 34050, 127

multa Cominatória – Fixação na tutela anteCiPaDa – ConDição resolutiva

• agravo regimental no recurso especial. Civil e processual civil. apelação. Juntada de documentos novos. Possibilidade. multa cominatória. Fixação na tutela antecipada. Condição resolutiva. Pleito improcedente. insubsistência da medida coercitiva. efeito retroativo. Preclusão da questão. Não ocorrência. exame de ofício. 1. a jurisprudência deste tribunal superior é no sen-tido de ser possível a juntada de documentos novos na fase recursal, desde que não se trate de documento indispensável à propositura da ação, não haja má-fé na ocultação do documen-to e seja ouvida a parte contrária. 2. as astreintes fixadas em antecipação de tutela ficam pendentes de condição resolutiva, qual seja, a procedência do pedido principal. logo, se impro-cedente o pleito formulado na ação, a multa cominatória perde efeito retroativamente. Precedentes. 3. a decisão que arbitra astreintes não faz coisa julgada material, visto que é apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser modificada a requerimento da parte ou de ofício, seja para aumentar ou diminuir o valor da multa ou, ainda, para suprimi-la. 4. agravo regimental não provido ...................................... 34051, 129

reCurso esPeCial – Civil – Cessão De CréDito – ausênCia De notiFiCação – PresCinDibiliDaDe

• agravo regimental no agravo em recurso especial. Civil. Cessão de crédito. ausência de notificação. Prescindibilidade. exigibili-dade da dívida comprovada. agravo improvido. 1. a ausência de notificação do devedor acerca da cessão do crédito (art. 290 do CC/2002) não torna a dívida inexigível, tampouco impede o novo credor de praticar os atos necessários à preservação dosdireitos cedidos. 2. agravo regimental improvido .............. 34052, 130

relação De Consumo – ConsumiDor – ConCeito – Pessoa juríDiCa – aquisição Do material Para CaDeia ProDutiva – ine-xistênCia

• Processual civil. agravo regimental no agravo em recurso espe-cial. Consumidor. Conceito. Pessoa jurídica. aquisição do mate-rial para cadeia produtiva. inexistência de relação de consumo. incidência das súmulas nºs 7 e 83 do stJ. vulnerabilidade não analisada pelas instâncias de origem. supressão de instância. Decisão mantida. 1. a consonância entre a decisão recorrida e a jurisprudência do stJ obsta o conhecimento do recurso especial, nos termos da súmula nº 83 do stJ. 2. Na espécie, o posicionamento adotado na decisão recorrida coincide com a orientação desta Corte superior, no sentido de que, em re-gra, considera-se consumidor aquele que retira o produto do mercado e o utiliza em proveito próprio. 3. o recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem revolvi-mento do contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a súmula nº 7 do stJ. 4. No caso concreto, o tribunal de origem, com base nos elementos de prova dos autos, con-cluiu que a recorrente adquiriu os materiais da agravada para utilizá-los como insumo de sua cadeia produtiva, o que impede a caracterização de relação de consumo. alterar esse entendi-mento demandaria o reexame de provas, o que é inviável em recurso especial, ante o óbice das referidas súmulas. 5. agravoregimental a que se nega provimento ............................... 34053, 130

rePresentação ProCessual – aDvogaDo sem ProCuração nos autos – reCurso inexistente – regularização Do Feito

• Processual civil. agravo regimental no agravo em recurso especial. advogado sem procuração nos autos. recurso ine-xistente. regularização do feito. Não cabimento. art. 13 do CPC. Decisão mantida. 1. Nesta Corte superior, é pacificado o entendimento de ser inexistente, na instância especial, re-curso interposto por advogado sem procuração nos autos, a teor da súmula nº 115 do stJ. 2. inaplicável, nesta instância, a providência prevista no art. 13 do CPC, considerando-se não sanável tal vício por juntada posterior de mandato ou substabe-lecimento, pois a regularidade da representação processual é aferida no momento da interposição do apelo nobre. 3. agravo regimental não provido ..................................................... 34054, 131

resPonsabiliDaDe Civil – ação De inDenização Por aCiDente De trânsito – reDução ParCial e Permanente Da CaPaCiDaDe laborativa – arbitramento

• agravo regimental no agravo em recurso especial. Direito civil. responsabilidade civil. ação de indenização por acidente de trânsito. redução parcial e permanente da capacidade labo-rativa. arbitramento de pensão vitalícia parcial e permanente. art. 1.539 do Código Civil de 1916, atual art. 950 do Código Civil de 2002. Cabimento. 1. É cabível do arbitramento de pensão vitalícia àqueles que sofreram lesão permanente e parcial à sua integridade física, resultando em redução de sua capaci-dade laborativa/profissional, consoante interpretação dada ao art. 1.539 do Código Civil de 1916, atual art. 950 do Código Civil de 2002. Precedentes. 2. o tribunal de origem, fixou a

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Índice cÍvel e PenalRevista JuRÍdica 455

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tese de que, na ausência de comprovação de remuneração au-ferida pela atividade laboral/profissional pelo lesionado, adota--se o valor de 1 (um) salário mínimo, como base de cálculo inicial para fixação da proporção da perda de sua capacidade remuneratória, em sintonia com precedentes desta Corte, na forma do agrg-eresp 1076026/DF, rel. min. João otávio de Noronha, 2ª s., Julgado em 22.06.2011, DJe 30.06.2011. 3. agravo regimental não provido ..................................... 34055, 131

resPonsabiliDaDe Civil – Honorários Contratuais – ação ju-DiCial – Pretensão regularmente resistiDa – ressarCimento – imPossibiliDaDe

• Processo civil. administrativo. ação de indenização. Honorários contratuais. ação judicial. Pretensão regularmente resistida. ressarcimento. impossibilidade. exercício do direito de de-fesa. licitude. 1. Debate-se na demanda a responsabilidade civil do iNss em ressarcir a parte que lhe moveu ação judicial para o pagamento de benefício previdenciário pelas despesas referentes aos honorários advocatícios contratuais, a título de perdas e danos. 2. a mera resistência à pretensão deduzida em juízo não é suficiente para caracterizar a conduta do réu como ato ilícito, ressalvadas, obviamente, situações excep-cionais em que efetivamente constatado o abuso no exercício do direito. 3. Dessa feita, não se cogita de perdas e danos, nem de condenação da parte contrária ao ressarcimento dos honorários contratuais, pois a sucumbência sofrida no âmbito processual, via de regra, encontra-se regulada nos arts. 20 a 35 do CPC, não compreendendo, portanto, o ressarcimento das despesas com honorários contratuais. Precedentes: agrg--aresp 477.296/rs, rel. min. antônio Carlos Ferreira, 4ª t., DJe 02.02.2015. agrg-aresp 516.277/sP, rel. min. marco Buzzi, 4ª t., DJe 04.09.2014. agrg-resp 1.229.482/sP, rel. min. Paulo de tarso sanseverino, 3ª t., DJe 23.11.2012. 4. re-curso especial a que se nega provimento ......................... 34056, 132

seguro De viDa – suiCíDio oCorriDo antes De ComPletaDos Dois anos De vigênCia Do Contrato – inDenização inDeviDa

• agravo regimental. agravo em recurso especial. Direito civil. seguro de vida. suicídio ocorrido antes de completados dois anos de vigência do contrato. indenização indevida. art. 798 do Código Civil. 1. De acordo com a redação do art. 798 do Código Civil de 2002, a seguradora não está obrigada a inde-nizar o suicídio ocorrido nos dois primeiros anos após a contra-tação do seguro. 2. o legislador estabeleceu critério objetivo para regular a matéria, tornando irrelevante a discussão a respeito da premeditação da morte, de modo a conferir maior segurança jurídica à relação havida entre os contratantes. 3. agravo regimental provido ............................................. 34057, 132

sentença arbitral – ação anulatória – Prolação

• recurso especial. ação anulatória de sentença arbitral. 1. Pro-lação de sentença arbitral parcial. admissão, com esteio na lei nº 9.307/1996 (antes mesmo das alterações promovidas pela lei nº 13.129/2015), no Código de Processo Civil (com redação dada pela lei nº 11.232/2005) e, principalmente, no regulamento de arbitragem acordado expressamente pelos signatários do compromisso arbitral (uncitral). ajuizamento de ação anulatória, no prazo de 90 (noventa) dias, nos termos do art. 33, § 1º, da lei nº 9.307/1996, contados do respectivo trânsito em julgado, sob pena de decadência. inobservância. ........................................................................................... 34058, 133

sentença estrangeira ContestaDa – DivórCio – requisitos Para Homologação

• sentença estrangeira contestada. Divórcio. requisitos para homologação da sentença estrangeira. Preenchimento. Ho-

mologação deferida. 1. Há de ser rejeitada a preliminar de nulidade da citação por edital, realizada nos presentes autos com observância das regras previstas nos arts. 231 e 232 do Código de Processo Civil, porquanto evidenciada infrutífera a ativa tentativa de localização da parte contrária pelo requerente. 2. É devida a homologação da sentença estrangeira de divór-cio, porquanto foram atendidos os requisitos previstos no art. 15 da lei de introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-a a 216-N do ristJ, bem como constatada a ausên-cia de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à digni-dade da pessoa humana (liNDB, art. 17; ristJ, art. 216-F). 3. a presença do carimbo com a expressão “filed” é suficien-te para a comprovação do trânsito em julgado da sentença norte-americana. Precedentes. 4. Pedido de homologação da sentença estrangeira deferido ........................................... 34059, 135

PeNal e ProCessual PeNal

assunto

assoCiação Criminosa

• Habeas corpus. associação criminosa, falsidade ideológica majorada, peculato majorado, inserção de dados falsos em sis-temas de informações, fraude à licitação, lavagem de dinheiro e crime de responsabilidade de prefeito. Writ substitutivo de recurso ordinário. Falta de cabimento. verificação de eventual coação ilegal à liberdade de locomoção. viabilidade. Pretensão de trancamento do inquérito policial. instauração por meio de denúncia anônima. improcedência. ausência de demonstração da alegação. existência de informação em sentido contrário. irregularidades verificadas por meio de vistoria ordinária reali-zada pelo tribunal de Contas do município. Coação ilegal. au-sência. 1. o supremo tribunal Federal e o superior tribunal de Justiça, em recentes decisões, não admitem mais a utilização do habeas corpus como sucedâneo do meio processual ade-quado, seja o recurso ou a revisão criminal, salvo em situações excepcionais. 2. apesar de se ter solidificado o entendimento no sentido da impossibilidade de utilização do habeas corpus como substitutivo do recurso cabível, este superior tribunal analisa, com a devida atenção e caso a caso, a existência de coação manifesta à liberdade de locomoção, não tendo sido aplicado o referido entendimento de forma irrestrita, de modo a prejudicar eventual vítima de coação ilegal ou abuso de poder e convalidar ofensa à liberdade ambulatorial. 3. Não prospera a alegação de que o procedimento investigatório que ensejou a deflagração de ação penal contra o paciente foi instaurado por meio de denúncia anônima, uma vez que teve início em 10.02.2010, tendo o surgimento dos indícios das irregularida-des sido coletados por meio de vistoria ordinária realizada na Prefeitura municipal no ano de 2009, de responsabilidade do tribunal de Contas dos municípios. 4. tendo o impetrante se limitado a afirmar que o procedimento investigatório foi realizado por meio de denúncia anônima, sem apresentar um elemento que indicasse a procedência da afirmação, e existindo infor-mação verossímil em sentido inverso, não há falar em tranca-mento do inquérito policial que deu início à mencionada ação penal. Precedente. 5. Writ não conhecido ......................... 31322, 163

Crime Contra a liberDaDe sexual

• Habeas corpus. Crime contra a liberdade sexual. apelação julgada. ausência de intimação pessoal do defensor dativo. Nulidade. inocorrência. Prévia anuência do defensor de ser intimado via imprensa. ausência de ilegalidade patente. ordem denegada. 1. a jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de reconhecer a obrigatoriedade de intimação pessoal de de-

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fensor dativo, não bastando, em regra, a simples publicação via imprensa. 2. a hipótese, contudo, apresenta peculiaridade que modifica o quadro fático e autoriza decisão em sentido diverso. isso porque o próprio defensor nomeado assinou termo firman-do o compromisso de ser intimado pela imprensa oficial. e dian-te da expressa e prévia concordância do defensor dativo, não há falar em nulidade. incide, inclusive, o disposto no art. 565 do Có-digo de Processo Penal. 3. Writ denegado ....................... 31323, 163

Crime De estelionato

• recurso ordinário em habeas corpus. Direito penal. Crime de estelionato. art. 171, caput, do CP. extinção da punibilidade pelo ressarcimento da vítima. aplicação da regra especial do § 2º do art. 9º da lei nº 10.684/2003. impossibilidade. 1. Por se tratar de norma especial, dirigida a determinadas infrações de natureza tributária, a causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da lei nº 10.684/2003 (pagamento in-tegral do crédito tributário) não se aplica ao delito de estelionato do caput do art. 171 do Código Penal. Precedentes. 2. recursoordinário a que se nega provimento .................................. 31324, 164

Crime De reDução à ConDição análoga à De esCravo

• Processual penal. Habeas corpus. arts. 149 e seguintes do Código de Processo Penal. incidente de insanidade mental. indeferimento. Decisão definitiva. recurso próprio. ampla dilação probatória. ordem não concedida. 1. a decisão que indefere a instauração de incidente de insanidade mental do réu, conforme previsto no art. 149 e seguintes do Código de Processo Penal, desafia recurso próprio, que admite a ampla di-lação probatória, para o revolvimento de provas apreciadas pelo magistrado de piso. 2. É vedada a análise de argumentos que demandam ampla dilação probatória na estreita via do habeas corpus. 3. ordem denegada .............................................. 31325, 164

DesCaminHo

• agravo regimental no recurso especial. Descaminho. insignifi-cância. Parâmetro. Dez mil reais. recurso especial represen-tativo de controvérsia nº 1.112.748/to. Portaria nº 75/2012 do ministério da Fazenda. inaplicabilidade. agravo regimen-tal a que se nega provimento ............................................ 31326, 165

estatuto Da Criança e Do aDolesCente

• estatuto da Criança e do adolescente. Habeas corpus. ape-lação julgada. Writ substitutivo de recurso especial. inviabili-dade. via inadequada. medida socioeducativa de internação. aplicada. ato infracional análogo ao crime previsto no art. 157, § 2º, i, ii e v, do Código Penal. ocorrência do inciso i do art. 122 do aludido estatuto. Constrangimento ilegal não evidenciado. Não conhecimento ............................................................. 31327, 165

estuPro De vulnerável

• Penal e processo penal. recurso ordinário em habeas corpus. estupro de vulnerável. art. 217-a do CP. Consentimento da vítima e relacionamento amoroso com o agente. irrelevância. Caráter absoluto da presunção de violência. recurso a que se nega provimento. 1. É absoluta a presunção de violência na prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos, de forma que o suposto consentimento da vítima, sua anterior experiência sexual ou a existência de relacionamento amoroso com o agente não tornam atípico o cri-me de estupro de vulnerável previsto no art. 217-a do CP. Pre-cedentes do stJ. 2. recurso ordinário improvido ............. 31328, 166

exeCução Penal

• Habeas corpus substitutivo de recurso próprio. Descabimento. execução penal. reconhecimento de falta grave sem regres-

são de regime prisional. interrupção do prazo para novos be-nefícios, exceto livramento condicional, indulto e comutação. aplicação do enunciado nº 441 da súmula desta Corte e do entendimento fixado no eresp 1.176.486/sP. Habeas corpus não conhecido. Constrangimento ilegal evidenciado. ordem concedida de ofício. o superior tribunal de Justiça, seguindo o entendimento da Primeira turma do supremo tribunal Federal, passou a inadmitir habeas corpus substitutivo de recurso próprio, ressalvando, porém, a possibilidade de concessão da ordem deofício nos casos de flagrante constrangimento ilegal. ...... 31329, 166

Furto qualiFiCaDo

• recurso especial. Direito penal. Furto qualificado em continui-dade delitiva. art. 155, § 4º, i e iv, c/c o art. 70 do CP. Por-te ilegal de arma de fogo. art. 14 da lei nº 10.826/2003. res furtiva portada em subtrações. Post factum impunível. mero exaurimento do crime de furto. absolvição em razão princípio da consunção. súmula nº 7/stJ. .......................................... 31330, 167

Habeas CorPus

• agravo regimental. Habeas corpus. Processual penal. sú-mula nº 691/stF. Flagrante ilegalidade. Não ocorrência. 1. De acordo com a súmula nº 691 do stF, não compete ao supremo tribunal Federal conhecer de habeas corpus im-petrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar, sob pena de indevida supressão de instância. a jurisprudência desta Corte admite seu abrandamento apenas em casos teratológicos e excepcionais, o que não ocorre no caso. 2. agravo regimen-tal a que se nega provimento ............................................ 31331, 167

HomiCíDio

• Habeas corpus substitutivo. Não cabimento. Homicídio qualifi-cado. Nulidades. inversão na ordem de oitiva de testemunhas. inquirição por cartas precatórias. audiências marcadas para o mesmo dia no juízo deprecado. advogado intimado que não di-ligenciou no sentido da remarcação. inexistência de constrangi-mento ilegal. Prisão cautelar. superveniência de sentença con-denatória. Custódia mantida. Perda de objeto. ................ 31332, 167

• Habeas corpus substituto de recurso. Duplo homicídio qualifica-do. Direito de recorrer em liberdade. apelação criminal. recurso exclusivo da defesa. expedição de mandado de prisão antes do trânsito em julgado da condenação. ausência dos requisitos do art. 312 do CPP. Constrangimento ilegal evidenciado. Pare-cer pela concessão da liberdade. Habeas corpus não conhe-cido. ordem concedida de ofício. ...................................... 31333, 168

• recurso ordinário em habeas corpus. Homicídio culposo na direção de veículo automotor. art. 302, parágrafo único, ii, da lei nº 9.503/1997. recebimento da denúncia. rejeição da de-fesa preliminar. ausência de fundamentação. ilegalidade. Nãoexistência. recurso não provido. ....................................... 31334, 171

inCênDio

• Processo penal. recurso em habeas corpus. incêndio. Prisão cautelar. ausência de motivação idônea. ocorrência. Falta de indicação de elementos concretos a Justificar a medida. recurso provido. 1. a prisão processual deve ser configurada no caso de situações extremas, em meio a dados sopesa-dos da experiência concreta, porquanto o instrumento posto a cargo da jurisdição reclama, antes de tudo, o respeito à li-berdade. in casu, prisão provisória que não se justifica ante afundamentação inidônea. .................................................. 31335, 171

inquérito PoliCial

• Processual penal. recurso ordinário em habeas corpus. in-quérito policial. Pedido do ministério Público. arquivamento

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determinado. Possibilidade de desarquivamento do inquérito. CPP, art. 18. Notícias de novas provas. investigação reaberta com base nos mesmas peças informativas. impossibilida-de. Bis in idem. recurso provido. i – após o arquivamento do inquérito policial, por ordem da autoridade judiciária e a requerimento do ministério Público, a retomada da persecu-ção estatal, seja pelo desarquivamento do inquérito policial, seja pelo oferecimento de denúncia, fica condicionada à existência de outras provas .............................................. 31336, 172

lesão CorPoral

• recurso em habeas corpus. lesão corporal. violência domés-tica. excesso de prazo para formação da culpa. supressão de instância. Prisão preventiva. Fundamentos concretos. risco de reiteração delitiva. ausência de constrangimento ilegal. Parecer acolhido. 1. o alegado excesso de prazo para o en-cerramento da instrução criminal não foi objeto de debate nemde decisão no tribunal estadual ........................................ 31337, 173

Pena

• Penal e processo penal. agravo regimental no agravo em re-curso especial. ofensa ao art. 112 da leP. Progressão de re-gime. exame criminológico. Faltas graves e fugas. motivação idônea. acórdão em conformidade com a jurisprudência desta Corte. súmula nº 83/stJ. agravo regimental a que se nega provimento. 1. Conforme a jurisprudência desta Corte superior pode ser determinada a realização de exame criminológico para a progressão de regime, desde que de maneira fundamen- tada e de acordo com as peculiaridades do caso concreto. in-cidência do enunciado nº 83 da súmula deste stJ. 2. agravoregimental a que se nega provimento ............................... 31338, 173

Posse ilegal De arma De Fogo

• agravo regimental no agravo em recurso especial. Posse ilegal de arma de fogo de uso permitido e posse ilegal de munição de uso restrito. violação aos arts. 156 e 402 do CPP e aosarts. 31 e 32 da lei nº 10.826/2003. inocorrência ............. 31339, 174

Prisão em Flagrante

• Processual penal. Habeas corpus substitutivo de recurso ordi-nário. Não cabimento. Nova orientação jurisprudencial. Prisão em flagrante convertida em preventiva. receptação qualificada (art. 180, caput, do Código Penal). alegada ausência de fun-damentação do decreto prisional. inocorrência. segregação cautelar devidamente fundamentada na garantia da ordem pú-blica e assegurar a aplicação da lei penal. reiteração delitiva. Constrangimento ilegal não caracterizado. Habeas corpus nãoconhecido .......................................................................... 31340, 174

Prisão Preventiva

• Habeas corpus substitutivo de recurso próprio. tráfico ilícito de entorpecentes. revogação da prisão preventiva. impossi-bilidade. Fundamentação idônea. Garantia da ordem pública. Periculosidade concreta do paciente. existência de condições pessoais favoráveis não impede a decretação da custódia cautelar. ausência de flagrante ilegalidade. Habeas corpus não conhecido. o superior tribunal de Justiça, seguindo entendi-mento firmado pelo supremo tribunal Federal, passou a não ad-mitir o conhecimento de habeas corpus substitutivo de recurso previsto para a espécie. .................................................... 31341, 175

roubo

• Habeas corpus. impetração substitutiva de recurso especial. impropriedade da via eleita. art. 157, caput, do Código Penal (três vezes). Continuidade delitiva específica. motivação ade-quada. Flagrante ilegalidade não evidenciada. Writ não conhe-

cido. 1. tratando-se de habeas corpus substitutivo de recurso especial, inviável o seu conhecimento. ............................ 31342, 176

• Habeas corpus impetrado em substituição a recurso próprio. Descabimento. roubo duplamente circunstanciado. Critério matemático de aumento de pena na terceira fase da dosime-tria. Fundamentação inidônea. enunciado nº 443 da súmula do superior tribunal de Justiça – stJ. Pena-base fixada no míni-mo legal. Circunstâncias judiciais favoráveis. regime inicial de cumprimento da pena. enunciados nºs 440 da súmula do stJ e 718 e 719 da súmula do supremo tribunal Federal – stF. Habeas corpus não conhecido. Concessão da ordem, de ofí-cio, para reduzir as penas do paciente e fixar o regime inicialsemiaberto. ........................................................................ 31343, 176

• Processo penal. recurso em habeas corpus. roubo circuns-tanciado. Prisão cautelar. ausência de motivação idônea. ocorrência. Falta de indicação de elementos concretos a jus-tificar a medida. recurso provido. 1. a prisão processual deve ser configurada no caso de situações extremas, em meio a dados sopesados da experiência concreta, porquanto o ins-trumento posto a cargo da jurisdição reclama, antes de tudo, o respeito à liberdade. in casu, prisão provisória que não se justifica ante a fundamentação inidônea. 2. Não cabe ao tri-bunal de origem, em sede de habeas corpus, agregar novos fundamentos para justificar a medida extrema. 3. recurso provido para que o recorrente possa aguardar em liberdade o trânsito em julgado da ação penal, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que o Juízo a quo, de maneira fundamentada, examine se é caso de aplicar uma das medidas cautelares implementadas pela lei nº 12.403/2011, ressalvada, inclusive, a possibilidade de decretação de nova prisão, caso demonstrada sua necessidade .......................................... 31344, 177

substânCia tóxiCa

• recurso especial. Direito penal. importação de substancia tó-xica (art. 56 da lei nº 9.605/1998) e transporte de agrotóxico (art. 15 da lei nº 7.802/1989). adequação típica. 1. inexistindo elementos no sentido de que o denunciado, tendo recebido na rodoviária de Foz de iguaçu mala com produto que sabia ter procedência estrangeira para transporte dentro do território nacional, tenha ajustado ou aderido à importação antes da sua consumação, não se pode falar em participação na impor-tação de substância tóxica (art. 56 da lei nº 9.605/1998) mas em delito autônomo de transporte de agrotóxico (art. 15 da lei nº 7.802/1989). 2. a participação na modalidade de coautoria sucessiva, em que o partícipe resolve aderir à conduta delituosa após o início da sua execução, exige, além do liame subjetivo comum a todo concurso de agentes, que a adesão ocorra antesda consumação do delito. 3. recurso provido ................... 31345, 177

tráFiCo De Drogas

• Habeas corpus. Penal. tráfico transnacional de drogas. análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. inci-dência da majorante da transnacionalidade (art. 40, i, da lei nº 11.343/2006). inexistência de bis in idem. Delação premia-da (art. 41 da lei de Drogas). Fixação de fração intermediá-ria (1/2). Proporcional à colaboração do paciente. aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da lei nº 11.343/2006. impossibilidade. 1. esta Corte já decidiu, reiteradas vezes, pela inviabilidade jurídica de se proceder, na via estreita do habeas corpus, ao reexame dos elementos de convicção considerados pelo magistrado sentenciante na ava-liação das circunstâncias judiciais, sendo autorizado apenas o controle da legalidade dos critérios utilizados, com a correção de eventuais arbitrariedades (HC 105.802, DJe de 04.12.2012), o que não ocorreu no caso. .............................................. 31346, 178

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• Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário. tráfico de dro-gas. Prisão preventiva justificada. Garantia da ordem pública. expressiva quantidade de droga apreendida (998 gramas de maconha). envolvimento anterior dos acusados com o mesmo delito. risco de reiteração delitiva. ausência de constrangimen-to ilegal. Habeas corpus não conhecido. .......................... 31347, 178

tráFiCo De entorPeCentes

• Habeas corpus. tráfico ilícito de entorpecentes. Condenação. Causa especial de diminuição. Quantum de incidência. Natu-reza das drogas. ilegalidade manifesta. inexistência. Fixado o regime inicial fechado e negada a substituição da pena com base na gravidade abstrata do delito. Constrangimento ilegal. ocorrência. regime aberto e substituição da pena privativa de

liberdade por restritiva de direitos. Possibilidade em tese. aferi-ção in concreto deve ser realizada pelo tribunal de origem. Não conhecimento. Concessão de ofício. ................................ 31348, 179

• Habeas corpus. tráfico ilícito de entorpecentes. Condenação. Dosimetria. Pena-base. Quantidade e natureza. exasperação justificada. Constrangimento ilegal. ausência. reincidência. Cometimento anterior do crime de posse de entorpecente para uso próprio. abolitio criminis. Não ocorrência. mera despenali-zação. Condenação definitiva anterior. reincidência. Configu-ração. Causa especial de diminuição de pena. reincidência. Circunstância que impede a aplicação do art. 33, § 4º, da lei nº 11.343/2006. regime semiaberto. impossibilidade. Paciente reincidente. substituição da pena. impossibilidade. Pena supe-rior a 4 anos. Não conhecimento. ..................................... 31349, 180