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ALEX: Cooperação transfronteiriça e desenvolvimento local no espaço rural do Alentejo / Extremadura (2004-2005) Valorização da multifuncionalidade e dinâmicas do sector agrícola - Marvão e Valencia de Alcántara UMA SÓ PAISAGEM? VALORIZAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE E DINÂMICAS DO SECTOR AGRÍCOLA NOS CONCELHOS DE MARVÃO E VALENCIA DE ALCÁNTARA 1/26

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Valorização da multifuncionalidade e dinâmicas do sector agrícola - Marvão e Valencia de Alcántara

UMA SÓ PAISAGEM?

VALORIZAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE E DINÂMICAS DO SECTOR AGRÍCOLA NOS

CONCELHOS DE MARVÃO E VALENCIA DE ALCÁNTARA

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Valorização da multifuncionalidade e dinâmicas do sector agrícola - Marvão e Valencia de Alcántara

1. IntroduçãoNo âmbito do projecto ALEX, a paisagem rural e o desafio da sua gestão para a multifuncionalidade, através da agricultura ou de outras formas inovadoras, constitui um estudo de caso à parte, de um tipo um pouco diferente dos outros estudos de caso, tendo também sido objecto de uma abordagem metodológica e análise particulares.

A paisagem rural desta região, tanto dum lado como do outro da fronteira, constitui uma paisagem cultural de elevado valor em termos patrimoniais, mas também em termos de biodiversidade e qualidade ambiental. O valor da paisagem é reforçado pelas características naturais próprias, influenciadas pela presença da Serra no conjunto da peneplanície, mas também por uma diversidade de sistemas de uso, ligados a variadas condições biofísicas e a diferentes escalas da estrutura da propriedade, no conjunto dos concelhos em estudo. Na lógica actual da procura da multifuncionalidade da paisagem, aqui esta constitui sem dúvida um dos recursos base para o desenvolvimento da actividade turística e de recreio, assim como para a capacidade de atracção da região para segunda residência ou como novo quadro de vida para os chamados “novos-rurais”.

Tal como todas as paisagens rurais na Europa e particularmente no Mediterrâneo, esta paisagem resultou de séculos de ocupação humana e do respectivo aproveitamento dos recursos disponíveis através de sistemas de produção agrícola específicos, adaptados às características e limitações da área. Esta paisagem tem vindo recentemente a ser cada vez mais valorizada por todas as funções que suporta, para além da produção. Algumas destas funções resultam de externalidades directas da agricultura, enquanto a maioria resulta da interacção desta actividade com o território no seu conjunto: produção de qualidade, conservação da natureza, qualidade ambiental, exploração da caça, suporte de qualidade de vida, apreciação estética e sensorial, turismo e recreio, património cultural, informação, etc.

No entanto, e apesar desta valorização e aproveitamento, estas outras funções não ligadas à produção, não garantem a conservação da própria paisagem, e raramente contribuem para a sua gestão. Ao mesmo tempo, a agricultura tradicional, sobretudo a agricultura mais diversificada e a em regime de pequena propriedade, encontra-se ameaçada de degradação ou mesmo desaparecimento, o que se prende de uma forma generalizada com os processos de globalização em curso. Simultaneamente, embora em processos que devem ser considerados separadamente, a comunidade rural em geral, e os chefes de exploração em particular, encontram-se em parte envelhecidos e sem dinamismo para enfrentar os novos desafios que se lhes colocam. Esta realidade e comum às regiões mais periféricas de toda a Península Ibérica, embora ocorra com intensidades e gravidades variáveis.

Assim, o próprio suporte da paisagem encontra-se ameaçado, sem que outros mecanismos de gestão da mesma pareçam emergir. Não é óbvio que os agentes locais de desenvolvimento, os técnicos e outros que poderiam contribuir para uma nova atitude e reconhecimento do valor da paisagem e da necessidade da sua gestão de uma forma renovada, estejam suficientemente sensibilizados ou preparados para a mudança que se afigura necessária. O mesmo pode ser dito também em relação aos chefes de exploração e aos proprietários. No contexto do sector agrícola, surgem algumas medidas, tais como as agro-ambientais, que poderiam contribuir para manter pelo menos parcialmente os valores da paisagem – mas resta compreender se de facto têm sido ou podem ser efectivas nesse papel, ou que outras medidas e apoios seriam necessários para tal. Por outro lado, o aproveitamento do turismo e do recreio, ou da procura da área para segunda residência, ou a exploração da caça, poderiam trazer recursos que permitissem contribuir para suportar alguns dos valores da paisagem. Mas também aqui, seria necessário que os chefes de exploração e os proprietários da terra tivessem os conhecimentos,

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visão e dinamismo suficientes para o fazer. É assim preciso avaliar se essa transferência é feita, e através de que mecanismos; ou se não é feita, o que é que o impede e como poderia ser desenvolvida. Por outro lado, a gestão da paisagem ultrapassa a lógica da exploração ou da freguesia e concelho, e estende-se nas condições da área de estudo claramente para os dois lados da fronteira. A troca de informação e o contacto transfronteiriço no sentido da definição de estratégias comuns, ou complementares em termos de funções, poderiam ser um contributo importante para a preservação do carácter da paisagem e assim também do aproveitamento da mesma para a dinâmica futura da área.

Esta questão da multifuncionalidade da paisagem rural e das novas formas de gestão que necessita, torna-se particularmente actual face às novas orientações da Comissão Europeia para os territórios rurais e para a Politica Agrícola Comum, e ao novo figurino desta Política a partir da Reforma Intermédia de 2003 e para o próximo QCA. O reconhecimento do Nova Agricultura Europeia, como actividade multifuncional, já foi estabelecido, e os mecanismos que deveriam suportar o desenvolvimento rural e outras funções, para além da produção, foram concebidos e estão a ser postos em prática. Mas torna-se urgente compreender de que forma estas novas orientações e medidas vão de facto afectar a paisagem e as áreas rurais no seu conjunto, sobretudo em regiões periféricas onde a produção tem sérias dificuldades em ser competitiva.

Tendo em conta o exposto anteriormente, definiu-se a paisagem rural na sua interacção com o a actividade agrícola, o turismo e recreio, e a conservação do património, como um estudo de caso. A aplicação da análise é feita com base no exemplo do concelho de Marvão, um concelho de pequenas dimensões mas com uma enorme diversidade em termos de estrutura das explorações agrícolas e dos sistemas de uso do solo. Este concelho foi estudado em pormenor, tanto através de informação estatística, como de informação cartográfica, como ainda de entrevistas a técnicos e a chefes de exploração. Complementarmente, uma análise feita através de entrevistas a agentes reguladores foi feita do lado espanhol, de forma a poder comparar a situação dos dois lados da fronteira.

Os objectivos deste estudo de caso são os de avaliar qual os processos de mudança em curso na agricultura e na paisagem, quais os factores que os motivam, e de compreender de que forma são encaradas as novas perspectivas que são geradas pela procura de outras funções que não a de produção, nomeadamente o turismo e recreio, e a conservação do património.

1.1. A Paisagem Rural e a procura da sua multifuncionalidade A paisagem rural - Tendências de transformação e desafios recentes

A paisagem rural é tradicionalmente entendida como um complexo harmonioso de agricultura, natureza e presença humana de baixa densidade.

As paisagens do Sul da Europa, e da Península Ibérica em particular, são características pela sua riqueza e diversidade, que reflecte uma longa e específica história da acção humana sobre condições naturais determinantes (Pinto-Correia & Mata Olmo 2005).

As paisagens consideradas de valor pela sua diversidade e especificidade são em geral as que mantiveram até à actualidade uma combinação de várias funções de uma forma relativamente equilibrada (Pinto-Correia & Vos 2004). Pela sua complexidade, e por terem sido mais tarde sujeitas aos mecanismos de globalização em curso, as paisagens do Mediterrâneo frequentemente mantiveram-se como paisagens multifuncionais até recentemente. Mas hoje em dia, quer pela especialização e concentração da agricultura, quer pela dificuldade na

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fixação da população rural, também as paisagens do Mediterrâneo se encontram num processo de simplificação e descaracterização.

As progressivas mudanças no sentido de homogeneização das paisagens e alienação do Homem destas, alteram as características que asseguravam o carácter de cada paisagem. Estas são substituídas progressivamente, pelo menos em parte, por outras mais comuns. A especialização e perca de características próprias resultam também numa segregação das várias funções que a paisagem assegura, ou seja, numa redução da sua multifuncionalidade (Pinto-Correia & Mata Olmo 2005).

1.2 Multifuncionalidade da paisagem rural A multifuncionalidade da paisagem refere-se às várias funções que por ela são asseguradas. Estas paisagens foram construídas e transformadas até hoje sobretudo através da função de produção, nomeadamente pela agricultura e floresta. Mas asseguram também funções de regulação (de matéria e energia, fluxos, e o funcionamento geral dos ecossistemas), funções de suporte (à habitação humana, recreio e turismo, conservação da natureza, identidade), e de informação (estética, espiritual, histórica, científica e educativa, inspiração artística, etc.) (Pinto-Correia & Mata Olmo 2005).

J. Brandt e H. Vejre (2004) definem três formas de organização espacial da multifuncionalidade, que podem ser aplicadas e diferentes escalas: a) uma combinação espacial de unidades espaciais com funções diferentes, b) várias funções na mesma unidade espacial mas em diferentes períodos de tempo, c) e a integração de funções diferentes na mesma unidade espacial, no mesmo período.

Estes são conceitos operacionais que servem para a avaliação da forma como várias funções são suportadas por uma paisagem; no entanto, a multifuncionalidade no seu grau mais completo diz respeito à paisagem em sentido holístico e portanto à integração de várias funções no mesmo espaço e no mesmo tempo (Pinto-Correia & Mata Olmo 2005).

Os complexos sistemas agrícolas tradicionais em muitas áreas do Mediterrâneo asseguravam, a parte de produção agrícola, inúmeras outras funções. Entre estes nomeiam-se a qualidade ambiental, preservação da natureza e da identidade local ou de lazer e recreio (Pinto-Correia & Vos 2004).

Actualmente a diminuição da viabilidade económica e/ou social da produção na paisagem rural leva a uma transformação. Os sistemas de uso do solo tradicionais estão assim sob pressão e em vias ou ameaçados de substituição por outros sistemas de uso – o que resulta frequentemente numa redução da sua multifuncionalidade. Este processo resulta num paradoxo, uma vez que as funções como as de conservação da natureza, turismo, suporte de identidade, educação, etc., são valorizadas hoje em dia muito mais do que a produção – mas não contribuem para construir ou manter as paisagens que melhor as suportam (Pinto-Correia & Mata Olmo 2005).

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2. O estudo de caso2.1. A paisagem do Norte Alentejano e de Marvão

A paisagem do Alentejo tradicionalmente associada às longas vistas de planícies ligeiramente onduladas com pastagens, montados e cereais, encontra-se em Marvão surpreendida por uma zona serrana, de mais importante elevação Alentejana que contrasta com as vastas planícies que se estendem para sul. Esta paisagem pertence ao grupo das unidades de paisagens P do Alto Alentejo (Cancela d’Abreu et al. 2004).Na classificação das Unidades das Paisagens de Portugal (Cancela d’Abreu et al. 2004), este território foi considerado como de “uma paisagem suave, de malha larga, no geral associada a montados e ao seu uso silvopastoril, com ligeiras variações de densidade e textura, apenas interrompida pelos aglomerados e pelo mosaico de policultura que lhes está associado, bem como por algumas manchas diferenciadas, devido a características particulares do relevo, presença da água, litologia e solos”.1

O maciço da Serra de São Mamede, com a crista rochosa onde se encontra o Castelo de Marvão, foi designado como uma unidade da paisagem Nº 88 – Serra de S. Mamede. O carácter desta unidade de paisagem “evidencia-se em primeiro lugar pelo relevo, diferenciado da peneplanície circundante tanto pela altitude (máximo de 1025 m no alto de S. Mamede, extensas superfícies com cotas superiores a 600 m), como pelas imponentes cristas quartzíticas que rematam a maior e mais expressiva elevação do Alentejo.” 2

A valorização da paisagem e os aspectos naturais específicos da Serra de São Mamede resultaram na sua classificação como o Parque Natural em 1989.3 A área inicial foi alargada em 2004, sendo o Plano de Ordenamento foi aprovado apenas no início de 2005. As características particulares da paisagem na área da Serra, muito diversificada e em extremo contraste com a peneplanície, constitui um dos aspectos mais valorizados em termos dos objectivos e gestão do Parque. A paisagem é considerada como um património natural e cultural, mas também como suporte de várias actividades que trazem riqueza e reconhecimento à região. O sucesso da adesão do público ao Parque verifica-se através do número de visitantes.4

A escolha da paisagem do concelho de Marvão para o estudo caso deu-se a sua especificidade no Norte Alentejano – proximidade da fronteira e continuação do fenómeno geográfico e biofísico da Serra de São Mamede para o lado Extremeño. Área de Valencia de Alcántara abrange duas paisagens espanholas: 18.04 Sierra de San Mamede (dentro de tipo de paisajes 18 - Sierras cuartcíticas de la penillanura extremeña) e 48.03 penillanura de San Vicente de Alcántara (dentro de tipo de paisajes 48 – Penillanuras suroccidentales adehesadas sobre granitos y esquistos).5

Uma outra razão foi a sua riqueza patrimonial, especificidade de formas de uso do solo, tradição agrícola e potencial turístico. A paisagem pode aqui ser considerada como um importante recurso para o futuro, especialmente no contexto de turismo cultural, valores de identidade e da riqueza patrimonial e natural. No estudo foram focadas as capacidades e constrangimentos para o seu desenvolvimento a uma escala local.

1 Cancela d’Abreu, A., Pinto-Correia, T., Oliveira, R. 2004, Contributos para Caracterização e Identificação da Paisagem em Portugal Continental, DGOTDU, Lisboa2 Idem3 “Criado a 14 de Abril de 1989, o PNSSM tem uma área de 31.750 hectares e abrange parte dos concelhos de Arronches, Castelo de Vide, Marvão e Portalegre, no Norte Alentejano.” h ttp://ecosfera.publico.pt/noticias/noticia1010.asp de 20-05-2002; consultado 31.8. 20054 Entre 1998 e 2002 o Parque registou mais de 400 mil turistas, segundo números da Região de Turismo http://ecosfera.publico.pt/noticias/noticia1010.asp de 20-05-2002; consultado 6 de Setembro de 20055 Mata Olmo, R., Sanz Herráiz, C. 2003, Atlas de los paisajes de España, Universidade Autónoma, Madrid

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2.2 Breve caracterização do concelho de Marvão O concelho de Marvão situa-se na vertente Norte da Serra de S. Mamede, distrito de Portalegre, Alto Alentejo. A área total de concelho é de 15 458 km2. A Este e a Norte faz fronteira com Espanha. Mais de 15km desta fronteira é demarcada pelo Rio Sever.

Os principais acessos a Espanha encontram-se entre a Portagem e a vila espanhola El Piño – fronteira com passagem de viaturas que dá acesso a Valencia da Alcántara e outro apenas de peões na povoação portuguesa de Galegos, e a de Segura de lado Espanhol.

2.2.1 LocalizaçãoAs quatro freguesias de concelho apresentam grandes diferenças de paisagem e de sistemas agrícolas.A localização em altitude, numa crista rochosa, da vila e do castelo de Marvão (freguesia de Santa Maria), contrasta com vale de Porto de Espada e terras próximas dentro da maior freguesia de São Salvador de Aramenha. A freguesia de Beirã é caracterizada pelas suas colinas pedregosas e partes de vale com muros que cercam campos de cultivo intensivo. A freguesia de Santo António é a mais jovem e industrial. A sua paisagem é de encostas rochosas pouco férteis, e de pouca área mais fértil com frequentes saliências dos quartzitos no vale. Três das quatro freguesias: Santa Maria de Marvão, Santo António das Areias e São Salvador da Aramenha, estão abrangidas pelo Parque Natural da Serra de São Mamede.

Fig. 1 Localização do concelho e sedes das freguesias (http://www.cm-marvao.pt/)

Segue-se a documentação fotográfica dalguns aspectos da paisagem e uso do solo no concelho.

Img. 1 Porto de Espada – souto misto com olivalImg. 2 Beirã - agricultura mais intensiva no vale e sobreiros nas encostas rochosasImg. 3 Santo António das Areias – hortas com regadio e muros de pedra no sopé de colinas rochosas

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2.2.2 Apontamentos da história de MarvãoPossidónio Laranjo Coelho descreveu em 1924 uma extensamente a situação agrícola, económica e cultural no Norte Alentejano, num livro recentemente reeditado pela Câmara Municipal de Marvão.6 As considerações de início do século retratam a imagem produtiva da paisagem do concelho na época. “Entre as culturas lenhosas predominam, sobretudo, os frondosos soutos de castanheiros e castinçais, afamados pelas suas esplêndidas madeiras e pelas castanhas que produzem as melhores que entram no mercado de Lisboa, para onde são quási todas exportadas.” 7

Capítulos de agricultura centram-se na descrição de produção local dos cereais e das frutícolas - castanha, peras, maçãs, castas de vinha e olivais. “Pêra do Bispo, de bexiga, carvalhal, galega, etc. sendo porém, a melhor de todas a afamada pêra garrida, que se dá, especialmente, na privilegiada região do Vale de Ródão, Abenaia e Abegôa, fertilíssima em pomares, bela nos cantos amenos e pitorescos da sua formosa paisagem e copada arborização.” Pag. 264Enquanto as afamadas peras de Marvão perderam a sua importância durante o século vinte, o reconhecimento de castanha prevaleceu. Com o desenvolvimento do conceito de D.O.P. (e I.G.P. – para produtos de salsicharia) no Distrito de Portalegre, foram certificadas quatro variedades de castanha: Clarinha, Bárea, Enxerta e Bravo com a marca Castanha de Marvão. Sua produção está permitida nos concelhos de Castelo de Vide, Marvão e Portalegre.8 Laranjo Coelho contempla também a importância desta produção para a economia da zona toda, sendo as castanhas essenciais para exportação. Eis a razão de grave preocupação quanto à possível perda deste produto (caso de tinta do castanheiro, que continua a ser uma ameaça ainda hoje): “Uma doença, ao que parece ainda desconhecida e que se julga ser de origem criptogâmica, caminha com uma rapidez assustadora, trazendo graves perturbações à economia do concelho. O mal denuncia-se na árvore pelo amarelecer das suas folhas, começando, em seguida, a secar as hastes mais tenras. Por debaixo da casca, na extensão perpendicular de uns 30 a 50 centímetros, aparece, pouco depois, uma camada de bolor de 2 centímetros, mais ou menos viscosa, de côr acinzentada, exalando um cheiro nauseabundo de putrefacção.” Pag.262Sobre a beleza da paisagem com soutos e castinçais refere o Possidónio Coelho, que se refere ao Mousinho da Silveira: “o glorioso estadista, que em Marvão começara a sua carreira de Juiz de fora, não hesitou em a comparar a outras que observava nas terras que percorreu durante a sua forçada emigração pelo estrangeiro, cognominando a paisagem de Marvão a melhor do mundo9.” Não apenas a paisagem, mas também uma riqueza patrimonial encontra-se em Marvão – especialmente dentro da vila candidata a património mundial.

Tab. 1 Distribuição dos monumentos classificados no concelho de Marvão.10

6 IBN MARUÁN – revista cultural do concelho de Marvão Nº11; 2001; edição especial - facsimile da edição de 1924 de Terras de Odiana: Subsídios para a sua história documentada /Medobriga – Aramenha – Marvão/ por Possidónio M. Laranjo Coelho; capítulos de agricultura da zona e tratamento de produtos frutícolas e agrícolas 261- 283: O concelho na divisão regional agrícola e agronómica. – Zonas de cultura. – Queijeiras e lavouras.7 Idem, pag.2628 Com a criação de marca de Mação de Portalegre (variedade Bravo de Esmolfe) e Cereja de São Julião - Portalegre, deu-se a maior protagonismo na produção destes frutos, podendo ser este cultivados sob marca também no concelho de Marvão.9 Conforme a Vida e obra do autor Mousinho da Silveira, pag.153 vol.VI da Biblioteca dos Grandes Portugueses.10 fonte: http://www.monumentos.pt/scripts/zope.pcgi/ipa/pages/frameset?nome=ipa&upframe=upframe3&downframe=ipa.html

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Monumentos classificados no concelho de Marvão freguesias conjuntos de monumentos pontes elementosSão Salvador da Aramenha Ruínas Romanas / Cidade romana de Ammaia

Ponte da Madalena Ponte da Portagem Ponte da Ribeira das Trutas

Caleiras da Escusa

Santa Maria de Marvão

Castelo de Marvão / Fortificações de Marvão Aglomerado urbano situado dentro do perímetro do Castelo e Muralhas de Marvão Convento de Nossa Senhora da Estrela / Antigo Hospital da Misericórdia de Marvão / Santa Casa da Misericórdia de Marvão / Lar da Misericórdia

Pelourinho de Marvão

Cruzeiro manuelino da Estrela

Beirã Estação arqueológica romana da Herdade dos Pombais

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2.2.3 Características biofísicas da paisagem de MarvãoGeologia e litologia A área representa uma grande diversidade geológica, sendo de especial interesse os quartzitos, os xistos, os calcários e os granitos. O maciço montanhoso é formado pelo dobramento hercínico dos sedimentos paleozóicos e rochas duras intercaladas nos sedimentos, trata-se de uma presença rara na mancha do Devónico, em Portugal. As salientes cristas quartzíticas da Serra, são acompanhadas pelo Patamar de Fortios (Portalegre), com altitudes entre os 400 e 500 m, e a Plataforma de Alvarrões.Em termos litológicos dominam granitos, acompanhados no interior da serra pelos xistos, grauvaques, calcários e quartzitos. A estes associa-se uma variedade de solos, dominada pelos solos litólicos não húmicos de quartzitos associados a solos mediterrâneos pardos de xistos ou grauvaques.11

ClimaAs temperaturas mais amenas representam médias anuais entre 13 e 14º C, e a precipitação anual entre 700 e 800 mm é já mais elevada. Contudo, característico para clima dos arredores da Serra é uma prolongada e bem marcada estação seca e fortes amplitudes térmicas diárias. Vegetação potencial e naturalNa floresta espontânea predomina o carvalho negral, sendo acompanhado pela azinheira. Nas plantações culturais foram adicionados sobreiros e castanheiros, dos segundos restam actualmente apenas pequenas manchas residuais. Uso do solo actual Os montados das encostas da serra são muitas vezes mistos de azinho, sobro ou de carvalho negral, por vezes misturados também com os soutos. Entre estes encontra-se um mosaico de pastagens e plantações de pinheiros ou eucaliptos. Nos vales, um intensivo mosaico agrícola misto das pequenas propriedades e parcelas, alberga olivais, pomares, pastagens cereais e hortícolas. Muitas divisões de parcelas encontram-se ainda em muros secos de pedra. “Os povoados integram-se coerentemente na paisagem, reservando-se os vales para a agricultura mais intensiva, os planaltos para culturas de sequeiro ou pastagens, as encostas para as matas.” 12

Protecção da natureza e habitatsPara além do Parque Natural da Serra de S. Mamede, quase toda a área está incluída no Sítio S. Mamede incluído na Lista Nacional de Sítios da Rede Natura 2000. Esta área está definida como de “grande diversidade de habitats e especialmente importante do ponto de vista fitogeográfico pois é o limite sul de muitas espécies e comunidades vegetais de distribuição mais atlântica (por exemplo os carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e de Quercus pyrenaica) devido às características geomorfológicas da serra. Salientam-se ainda as formações de castanheiros (...), e os montados de sobro e azinho (...). No total, registam-se vinte e três (vinte e quatro, de acordo com a resolução do Conselho de Ministros n.º 142/97) Habitats Naturais, sendo cinco prioritários. No que diz respeito à fauna, (...) é de referir a presença irregular do lince-ibérico (...), lontra (...) e rato de Cabrera (...). Inclui também a gruta mais importante do país e uma das mais importantes da Europa, abrigando uma colónia de criação de (...) morcego-de-peluche (...). Importantíssima também como gruta de hibernação para outras espécies (...). Em relação à herpetofauna este Sítio é relevante para o lagarto-de-água (...) e para duas espécies de cágados. Esta área suporta uma avifauna notável pela sua diversidade, que inclui algumas espécies de grande relevância conservacionista.” (ICN, 1996).

11 Brandão, C. 2005, Interpretação da paisagem rural e desafios futuros à sua gestão – estudo caso PNSSM - Vale Porto de Espada, UÉ, trabalho de fim de curso12 Cancela d’Abreu, A., Pinto-Correia, T., Oliveira, R. 2004, Contributos para Caracterização e Identificação da Paisagem em Portugal Continental, DGOTDU, Lisboa

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2 .3 Caracterização geral da área de estudo 2.3.1 A populaçãoEm Marvão, segundo o censo de 2001, residem 4035 habitantes. A freguesia mais populacional é a de São Salvador de Aramenha (1 527), e menos é a Beirã (596). A distribuição de população pelos sectores de actividade económica corresponde a crescente importância dos serviços e sempre menor percentagem de população empregada na agricultura. Em Valencia de Alcántara, a distribuição é parecida, mas mais equilibrada. Número de habitantes, conforme os Censos de Población de 2001, é 6 096.

% População por sector de actividade I II IIIMarvão em 1991 26,17 28,94 44,89Marvão em 2001 10,20 26,80 62,99Valencia de Alcántara em 1991 23,07 27,93 48,99Valencia de Alcántara em 2001 11,93 29,30 58,77

Tab.2 Evolução da distribuição da população dos dois concelhos nos sectores de actividade na última década.

O concelho de Marvão encontra-se altamente envelhecido, que demonstram também as elevadas taxas de analfabetismo e de mortalidade. 75% de população ultrapassa os 55 anos de idade e mais de 21% de população em 2001 era analfabeta. O maior envelhecimento verifica-se na freguesia de Santa Maria de Marvão, onde a população reformada é quase o triplo da população na idade activa. A este facto corresponde também a maior percentagem de analfabetismo nesta freguesia (30,8%), quase o dobro de média do Alentejo (17.1%) e mais que triplo de média nacional (9%). As taxas de analfabetismo em Valencia de Alcántara são muito menores, no entanto ultrapassam quatro vezes a media nacional Espanhola.Taxa de Analfabetismo em 1991 em % Taxa de Analfabetismo em 2001 em %Portugal 11 Portugal 9Marvão 25,7 Marvão 21,8Espanha 2,87 Espanha 2,6Valencia de Alcántara 11,54 Valencia de Alcántara 8,9Tab.3 Taxas de analfabetismo em Marvão e Valencia de Alcántara comparadas com as médias dos países.

Uso agrícola do territóriosuperfície da unidade geográfica km2 ha

Nº total das explorações

Área SAU total (ha)

SAU média por exploração (ha)

% do território é SAU em 1999

CC - Marvão 154,6 15460 561 11831,62 21,06 76,53

CC - Valencia de Alcántara 594,23 59423 849 38725 63,61 65,17

Tab.4 Representação agrícola nos concelhos de estudo.

Concelho de Valencia de Alcántara, a superfície agrícola utilizável corresponde aos dois terços do território concelhio. Sua distribuição pelas explorações agrícolas constitui uma média três vezes maior do que a de Marvão. Em Marvão, concelho bastante menor do que o seu vizinho, SAU corresponde a mais que três quartos do território, apesar de maior parte deste terreno apresentar pouca fertilidade. A parte do concelho menos fértil encontra-se a Norte, onde os afloramentos rochosos de maciço granítico, cobertos de matos ou esparsos montados de sobro são apenas atravessados por pequenas manchas de terra arável. Esta situação relaciona-se com as condições ecológicas e mantêm-se relativamente estável, tal como se pode confirmar pela observação e comparação dos mapas Corine Landcover de 1990 e 2000 (fig.2).

3.2.2 Caracterização das explorações agrícolasNa área de Marvão prevalece, ao contrário da maioria do Alentejo, um tipo de agricultura familiar de pequena dimensão. A dimensão média das explorações do concelho (21,09 ha) ultrapassa por pouco o limite de 20 ha designado por Cordovil (198*) no Alentejo como

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pequena exploração. Desde 1979 para 1999 verifica-se uma grande diminuição das explorações muito pequenas (de 409 para 273) e aumento das muito grandes (de 8 para 21).Variação da dimensão média das explorações, ao nível das freguesias mostra a Tabela 5. Revela-se um aumento significativo da dimensão média, nalguns casos quase para o dobro (Santa Mª de Marvão e São Salvador da Aramenha). Esta situação reflecte as condições naturais da área. As dimensões mais pequenas destas duas freguesias reflectem as terras menos rochosas e uso do solo mais intensivo. Já as dimensões médias de explorações em São Santo António das Areias e em Beirã, onde o terreno é pouco fértil, aproximam-se às que são características de Castelo de Vide.13

Tab.5 Evolução da dimensão média das explorações de freguesias de Marvão.

Em Valencia de Alcántara a percentagem das explorações muito pequenas corresponde à estado de Marvão, no entanto as explorações maiores estão muito mais frequentes de lado Espanhol do que Português. A localização espacial de explorações muito pequenas corresponde ao território mais próximo à fronteira Portuguesa (dados da Oficina Agrária de Valencia de Alcánatara).

Distribuição comparativa das explorações conforme as classes de SAU

2,1%

48,0%

13,1%

18,7%

18,1%

0,5%

48,7%

31,3%

10,2%

9,3%

0 ha

0,1 - 5 ha

5 - 20 ha

20 - 50 ha

50 + ha

Marvão

Valencia de Alcántara

Graf.1 Distribuição comparativa das explorações de Marvão e valência de Alcántara conforme classes de SAU.

Aspecto social da agriculturaPopulação agrícola familiar é a mais importante para agricultura na zona de Marvão.14 A percentagem da população residente nas explorações familiares é bastante superior a população empregada no sector primário, comprovando a necessidade de outras fontes de rendimento, assim como origem e uma base suplementar de sustento de muitas famílias.A percentagem mais elevada de população residente nas explorações familiares encontra-se na freguesia de São Salvador da Aramenha. Aí, concretamente a aldeia de Porto de Espada é a mais representativa para uma agricultura familiar tradicional, de pequenas explorações e parcelas muito compartimentadas com grande exigência em mão de obra.

13 A dimensão média da exploração no concelho de Castelo de Vide é 36.47 ha.14 De lado espanhol não foi possível aceder ao dado comparativo.

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Dimensão média das explorações

1989 1999Nº explorações SAU (ha)

Dimensão média (ha)

Nº exploraçõoes SAU (ha)

Dimensão média (ha)

CC - Marvão 849 10017,2 11,80 561 11831,6 21,09FG - Beirã 111 3202,1 28,85 63 3774,11 59,91FG - Santa Maria de Marvão 121 1058,1 8,74 69 1036,45 15,02FG - Santo António das Areias 144 2708,64 18,81 128 3260,59 25,47FG - São Salvador da Aramenha 473 3048,31 6,44 301 3760,47 12,49

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Representação de população agrícola dentro da população das freguesias

População residente em 2001

População das explorações agrícolas familiares em 1999

% de população pertencente às explorações familiares

Nº médio das pessoas por exploração

CC - Marvão 4419 554 26,45 2,11FG - Beirã 690 61 18,70 2,11FG - Santa Maria de Marvão 802 67 16,21 1,94FG - Santo António das Areias 1301 127 20,14 2,06FG - São Salvador da Aramenha 1626 299 39,85 2,17

Tab.6 População do concelho de Marvão residente e pertencente às explorações agrícolas.

Rendimento das explorações agrícolas e dos seus proprietários Este dado verifica-se dificilmente comparável, sendo que de lado Espanhol está calculado apenas para os chefes de explorações enquanto de lado português está incluído no cálculo todo o aglomerado doméstico. No entanto podemos apontar algumas tendências gerais.Agricultura como a única fonte de rendimento familiar está a diminuir, especialmente no concelho de Marvão. Mesmo quando o chefe de exploração se dedica a agricultura na totalidade, é significante a ajuda dos seus familiares ao rendimento doméstico de outras fontes. A especialização e maior tamanho duma parte das explorações em Valência levam a maior rentabilidade, mas mesmo neste área, a proporção dos chefes com rendimento exclusivamente da exploração diminui.15

Origem do rendimento dos agricultores

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

interior

exterior

interior

exterior

interior

exterior

1979

/198

219

8919

99

Valencia de Alcántara

Marvão

Graf.2 Origem do rendimento do agregado doméstico dos produtores singulares das explorações familiares em Marvão e do rendimento dos chefes de explorações agrícolas em Valencia de Alcántara.

Tab.7 Distribuição dos produtores singulares conforme o seu sexo. A proporção de chefes de exploração masculinos e femininos, a desenvolver actividade no concelho, indica uma crescente importância feminina. Na realidade trata-se de explorações familiares, onde diferentes parcelas pertencem a cada um dos membros do casal, ou de explorações onde o homem tem um emprego fora da exploração, sendo a mulher que é titular, enquanto o trabalho é feito em conjunto, ou complementarmente, aproveitando os tempos livres daquele que está empregado. No primeiro caso, a exploração corresponde à fonte de rendimento principal, enquanto no segundo caso se trata de rendimento secundário.

15 Dos trinta chefes das explorações entrevistados em Marvão, 23 dos consideram a actividade agrícola como a sua ocupação principal e sete como a actividade secundária. Maioria dos entrevistados com idade de reforma, indicam a agricultura como a principal fonte do seu “rendimento”, embora seja mais em forma de sustento material – de consumo próprio do que complemento monetário a reforma.

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Sexo do produtor singular CC - Marvão CC – Valencia de Alcántara1979 1989 1999 1989 1999

Produtor singular masculino 724 811 476 594 752Produtor singular feminino 21 36 78 24 88

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3. Metodologia3.1 Análise feita por indicadores Numa primeira fase, foi realizada uma caracterização da agricultura e do uso do solo no concelho de Marvão, no sentido de compreender evolução deste sector de actividade e o seu impacto na estrutura e diversidade da paisagem. Uma caracterização através de indicadores baseou-se especialmente nos Recenseamentos gerais agrícolas (anos 1979, 1989 e 1999). Como as fontes complementares foram consultados os Censos populacionais de 2001 e os mapas de Corine Land Cover (1990 e 2000). Esta caracterização foi feita sempre que possível até ao nível de freguesia. Seguidamente foram consultados os dados espanhóis de Censos agrários (1982, 1989, 1999) e Censos de Población (1991 e 2001).

3.2 Análise com base em entrevistas Numa segunda fase, procedeu-se à realização de entrevistas semi-estruturadas, junto tanto de chefes de exploração como de técnicos ligados ao sector agrícola, à conservação da natureza e à gestão do património e da actividade turística. Estas entrevistas a técnicos foram realizadas tanto do lado português, relativas ao território de Marvão, e também do lado espanhol, relativamente ao território abrangido pelo estudo. 3.2.1 As entrevistasPara obtenção de informações sobre o tema da multifuncionalidade da paisagem, e de forma que as questões se adequassem aos tipos de entrevistados, formularam-se dois guiões distintos: um para os técnicos responsáveis pelas actividades relacionadas com temática em estudo e outro para os chefes de exploração. Os dois guiões encontram-se em anexo.O guião de entrevista aplicado aos chefes de exploração é composto por perguntas semiabertas e abertas. As poucas perguntas fechadas referem-se à caracterização do entrevistado e da sua propriedade. As perguntas foram agrupadas em sete conjuntos. A primeira parte da entrevista caracteriza o chefe de exploração e a sua exploração. As seguintes perguntas referem-se a: opinião em relação à multifuncionalidade da paisagem, os seus usos e a sua gestão; opinião em relação ao futuro; relação com a fronteira; posição perante os instrumentos da PAC, e particularmente as medidas agro-ambientais; e perante o Parque Natural de Serra de São Mamede. Nas entrevistas aos técnicos repetiu-se a parte sobre a multifuncionalidade e instrumentos da PAC, sendo mais focada a área específica de cada um dos técnicos.3.2.2 A amostraComo se afirmou acima, foram considerados dois grupos de entrevistados – os chefes de exploração e os técnicos. Para identificação dos indivíduos a entrevistar foram contactadas várias entidades locais, nomeadamente a Zona Agrária de Marvão, a Caixa de Crédito Agrícola e o Parque Natural da Serra de São Mamede. Posteriormente a amostra foi sendo construída pelo sistema de “bola de neve” (Patton 1998), através de referências dos entrevistados a outras pessoas de possível interesse para o projecto. Os técnicos entrevistados representam as entidades agrícolas, de gestão local e outras, especificamente ligadas à produção, paisagem e a preservação da natureza.A amostra de chefes de exploração foi construída com objectivo de maior variedade possível, e a maior representatividade possível em termos de características do concelho, quanto à dimensão das explorações e sua distribuição. A intenção era a de abranger todos os escalões de SAU representados no concelho, assim como todas as freguesias, na tentativa de aproximar a distribuição dos entrevistados à distribuição real. Resultado da comparação dos entrevistados com a distribuição de total das explorações e seus chefes mostram tabelas 8 e9.

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Explorações agrícolas conforme SAU (Cordovil) em 1999Entrevistados conforme o tamanho da sua

exploração em 2005CC - Marvão Nº explor. % Nº entrevistados %sem SAU 3 0,53 0 0muito pequena 273 48,66 8 26,67pequena 176 31,37 10 33,33média 88 15,69 6 20grande 21 3,75 6 20

total 561 100 30 100

Tab.8 Comparação da representação de propriedades conforme tamanho no concelho e entre os entrevistados.

Explorações agrícolas familiares em 1999 Chefes das explorações entrevistados em 2005CC - Marvão Nº expl. % Nº entrevistados %FG - Beirã 61 11,01 2 6,67FG - Santa Maria de Marvão 67 12,09 4 13,33FG - Santo António das Areias 127 22,92 9 30FG - São Salvador da Aramenha 299 53,97 15 50

total 554 100,00 30 100

Tab.9 Comparação dos agricultores entrevistados e existente no concelho de Marvão.

3.2.3 O decorrer das entrevistasAs entrevistas decorreram, numa primeira fase, em Junho e Outubro de 2005, em várias localidades do concelho incluindo tanto as propriedades particulares como a sede de Zona Agrária de Marvão ou a Cooperativa de Porto de Espada. A segunda parte das entrevistas realizou-se nos meses de Dezembro 2005 e Janeiro 2006.No decorrer verificaram-se dificuldades em contactar suficiente quantidade de chefes de explorações de pequena dimensão. Esta dificuldade deve-se especialmente ao facto de estes serem frequentemente chefes de exploração a tempo parcial, e assim não plenamente integrados nas actividades e contexto de cooperativas ou outras entidades através das quais foram feitos os contactos.De lado espanhol o contacto foi direccionado especialmente com intenção confrontar as opiniões portuguesas sobre agricultura de ambos os lados de fronteira com a visão Espanhola sobre a situação. Procurou-se não só a opinião dos técnicos, mas também a dos praticantes agrícolas, representantes das explorações especializadas e alternativas.16 Assim foi entrevistado apenas um agricultor – ganadeiro e dois técnicos: representante de Oficina Agrária e da ZEPA Tajo Internacional.

4. Análise comparativa 4.1 Estado actual do uso do solo No caso de Valencia de Alcántara dominam fortemente as pastagens permanentes. Dada a não existência de categoria de culturas permanentes, as pastagens sob coberto, especialmente montado de sobro e azinho, estão incluídas na categoria de pastagens conjunto com as pastagens livres; enquanto o montado sem pastagem está geralmente incluído na categoria de matas e florestas. Tipo de agricultura Marvão descreve-se mais pormenorizadamente a seguir.

16 Apesar de contactos estabelecidos, não foi possível realizar as entrevistas por razão de pouca disponibilidade dos representantes destas explorações dedicadas à cortiça e à caça.

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Valorização da multifuncionalidade e dinâmicas do sector agrícola - Marvão e Valencia de Alcántara

Formas de uso do solo em 1999

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

Marvão Valencia de Alcántara

terra arável lim pa

pas tagens perm anentes

m atas e flores tas

culturas perm anentes

culturas sob coberto

outras terras

Graf.3 Gráfico comparativo de uso do solo nas explorações de ambos os lados de fronteira.

4.2 Análise espacial - ocupação e formas de uso do solo em Marvão

Corine Land Cover - 1990 e 2000

0 2000 Meters N

1990 2000

Classes novas em 2000 - E qu ipamentos desportivos e de lazer e planos de água

Classes de uso do soloAgricultura com espaços naturaisCulturas anuais de regadioCulturas anuais de sequeiroEquipamentos desportivos e de lazerEspaços florestais degradados, cortes e novas plantaçõesFlorestas de folhosasFlorestas de resinosasFlorestas mistasMatosOl ivaisPlanos de águaSistemas agro-florestaisSistemas cul turais e parcelares complexosTecido urbano descontínuo

Fig.2 Tipos de ocupação do solo presentes nas freguesias de Marvão (Corine Land Cover)

Análise espacial baseou-se na cartografia do Corine Land Cover, sendo esta entendida como a base comparativa para outras características de uso do solo (dados de RGA e INE). Comparação da cartografia de ocupação do solo entre 1990 e 2000 revela uma relativa estabilidade da maioria do território concelhio. A persistência de ocupação do solo; i.e. localização dos mesmos tipos de ocupação nos mesmos sítios; é de 94.7%.17 Como principais alterações destacam-se as novas manchas do campo de golfe de Marvão e da albufeira da Apartadura. Contudo a cartografia revela um maior dinamismo na área sul –

17 Pinto-Correia, T. et al. 2006, Estudo sobre o Abandono em Portugal Continental- análise das dinâmicas da Ocupação do Solo, do Sector Agrícola e da Comunidade Rural – Tipologia de Áreas Rurais, Évora

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freguesia de São Salvador de Aramenha. Nesta zona encontram-se os solos mais férteis e a compartimentação de terra é maior. A parte menos fértil no norte do concelho permanece quase com o mesmo padrão, enquanto na parte central - sul aumentam áreas de plantações de resinosas, o que sem dúvida contribui para uma descaracterização da paisagem tradicional. Uma diminuição de 3,47% (do território do concelho) da classe de espaços florestais degradados/ cortes/ novas plantações, é possível explicar através do aumento (3,03%) de classe de florestas resinosas e da classe de florestas mistas.

Uso do solo em MarvãoA forma típica de uso de solo da área é de combinação de áreas de policultura intensiva de hortas familiares (especialmente batatas com rega sob copas de oliveiras) nas manchas de solo mais fértil; e as encostas rochosas com culturas permanentes como olival, souto, montado ou mesmo florestações de pinheiro bravo. Em termos epaciais dominam as culturas forrageiras em conjunto com os prados destinados a pastagem. Importantes partes da SAU estão ocupadas por soutos e castinçais, e montados de sobreiro, os últimos até em terrenos rochosos. Os olivais, tradicionalmente muito importantes, tendem a diminuir. Em relação à redução do olival, é significativo notar que o livro de Possidónio M. Laranjo18 menciona o progresso de criação dos lagares – de dois em 1758 para oito em 1915 - sendo que na actualidade funciona apenas um lagar em Porto de Espada, sendo este o que era mencionado como o único com um mecanismo aperfeiçoado, segundo o mapa de lagares aperfeiçoados no país, de 1907.19 Entretanto, e em parte em terrenos anteriormente ocupados por olival, surge a cultura da vinha, pouco comum até há alguns anos, mas com tendência a aumentar. A distribuição das formas do uso do solo em pormenorização até à freguesia encontra-se no gráfico seguinte (Nº4). Neste destacam-se as freguesias do Norte com grande prevalência de pastagens e culturas sob coberto. Em oposição estão as freguesias do Sul, com as formas de uso do solo mais equilibradas, o caso típico é São Salvador de Aramenha.

Distribuição de usos do solo em Marvão

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

FG - SãoSalvador daAramenha

FG - Beirã FG - Santa Mariade Marvão

FG - SantoAntónio das

Areias

Terra arável lim pa

Matas e flores tas semculturas sob-coberto

Pastagens perm anentes emterra lim pa

Total de culturasperm anentes

Superfície com rega

Total de culturas sob-cobertode m atas e flores tas

Horta fam iliar em culturaprincipal

Graf.4 Formas de ocupação e uso do solo conforme as diferentes freguesias do concelho de Marvão

Uma produção típica da área é a de frutos secos, concretamente das castanhas, que conforme a sua especificidade, foram reconhecidas com uma marca de denominação de origem protegida

18 Laranjo Coelho, P.M. 1924, Terras de Odiana (fac-simile re-editada pela CM Marvão)19 O actual dono, neto do acima referido, foi entrevistado em Junho em Porto de Espada. Seu cepticismo em relação ao desenvolvimento da agricultura sobressai não apenas em relação à gerência do lagar, mas a produção de cereais, frutos secos e vinha na zona.

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(D.O.P.). No entanto, o aumento de pomares no seu conjunto pode verificar-se apenas na freguesia de São Salvador da Aramenha, enquanto noutras freguesias as áreas de pomar apenas oscilaram ou diminuíram (tab.10). A Castanea sativa encontra-se aqui no limite-sul da sua área de distribuição, no entanto nas condições favoráveis no sopé da Serra de São Mamede, desenvolveu-se em variedades especialmente saborosas como Baria ou Clarinha.

Pomares de castanheiros em 1989 em 1999% área % explor. % área % explor.

FG - Beirã 0,00 0,00 0,00 0,00FG - Santa Maria de Marvão 9,60 22,31 7,05 11,59FG - Santo António das Areias 0,29 3,47 0,64 2,34FG - São Salvador da Aramenha 9,70 18,39 10,70 26,91CC - Marvão 3,79 14,02 3,52 16,40

Tab.10 Variação de presença de pomares de castanheiro nas freguesias de Marvão.

4.3 Caracterização comparativa de outros aspectos de agricultura

PecuáriaForam desenvolvidas duas análises de pecuária: uma com componente temporal – desenvolvimento de efectivos animais (números absolutos de animais das explorações nos dias de passagem de recenseador) – e uma comparativa com o território de outro lado da fronteira. No âmbito temporal, destaca-se grande diminuição dos suínos (-12%) e aumento de gado ovino (7%) e caprino (1%) no concelho de Marvão, especialmente na década de oitenta. O primeiro já tradicionalmente tinha algum peso, outro foi provavelmente associado por sua adequação às zonas rochosas e de montanha. O mesmo não se verifica em Valencia de Alcántara, onde aumentou apenas gado bovino e suíno. Para uma maior clareza de dados prosseguiu-se com a comparação da situação de produção animal dos dois lados da fronteira.Em ambas localidades constata-se a prevalência de gado bovino, sendo o lado português mais extremo (56,3% Marvão, 54% Valência de Alcántara). Este resultado poderia ser entendido como a resposta directa aos incentivos económicos dos subsídios. Uma notável diferença encontra-se na presença de gado porcino – sendo este muito mais numeroso de lado da

Valencia.20 Da parte Portuguesa é notável a maior presença de ovinos (26% em comparação aos 20%) e os caprinos (10% Marvão e 2,3% Valência de Alcántara). Ainda notável é a produção das aves, embora pouco forte em relação aos outros animais (1,65% de lado Português e 0,53% de lado Espanhol).

Graf.5 Comparação de produção animal nos dois lados de fronteira em 1999.

Caracterização sócio-cultural dos produtores agrícola

20 Os dados estatísticos não distinguem, entre o gado porcino intensivamente criado nas pocilgas e os porcos pretos / cerdo ibérico que em regime extensivo vagueiam pelos montes. No entanto, para gestão da paisagem diferença destes dois regimes tem grande relevância.

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Gado em Marvão e em Valencia de Alcántara

Valencia de Alcántara

Marvão

bovinos ovinos caprinos suinos equideos aves coelhos

Agricultores com 65+ anos

0% 20% 40% 60%

Marvão

Valencia deAlcántara

19991989

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Graf.6 A idade e o avanço de envelhecimento é um facto dentro das características sociais de agricultura da zona. Verifica-se de ambos os lados de fronteira, embora mais aguda está de lado português.

Da comparação dos níveis de educação da população e dos chefes de explorações agrícola de ambos os lados de fronteira sobressai uma grande presença de agricultores sem nível de instrução oficial e um grande falta de agricultores com níveis superiores de educação no concelho de Marvão.

Educação de agricultores e de população em Marvão

23,58%

41,30%

11,32%

19,16%

4,64%

40,43%

43,86%

5,42%

7,94%

2,35%

sem nível de instrução oficial

1º ciclo

2º ciclo

3º ciclo+secundário

médio+superiorPRODUTOR SINGULAR em 1999

POPULAÇÃO RESIDENTE em 2001

Graf.7 Comparação de educação entre a população em geral e população agrícola – produtores singulares.

Educação de agricultores e de população em Valencia de Alcántara

42,86%

22,08%

14,28%

10,39%

1,30%

9,09%

36,29%

25,81%

19,31%

6,38%

2,61%

9,60%

analfabetos e sin estudos

1ª grado

ESO, EGB, bachilerato elemental

bachillerato superior

FP grado médio

Grado superior + diplomatura

População em 2001

Agricultores em 2001

Graf. 8 Educação dos agricultores no concelho de Valencia de Alcántara.

Comparação dos níveis de instrução da população de concelho de Marvão e das suas explorações agrícolas revela uma prevalência de pessoas com primeiro ciclo, antiga quarta classe, tanto entre a população residente como entre os agricultores. Este facto dê-se especialmente ao nível de escolaridade obrigatória na sua juventude.21 A maior prevalência de produtores agrícolas sem nível de instrução corresponde à maioria dos produtores com idade avançada e muito baixo nível de instrução. Ao mesmo tempo, a maior percentagem de população residente com educação superior ao 2º ou 3º ciclo, deve-se ao maior número de jovens, que entre os agricultores quase não figuram.Em Valencia de Alcántara as percentagens de analfabetos entre agricultores estão superiores aos de Marvão e devem estar associados também à idade avançada. No entanto a diferença nas outras classes entre agricultores e população não é significante.

21 4ª classe obrigatória até 198*

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5. Avaliação do reconhecimento da paisagem rural na base das entrevistas5.1 Papel da paisagem para a multifuncionalidade do espaço rural O papel da paisagem e do património para o turismo e recreio Verifica-se a partir da análise das entrevistas uma predominância da opinião de que a paisagem é uma mais valia importante para o turismo da na área (90% dos agricultores e 88% dos técnicos). Dois técnicos consideram a paisagem como um recurso ainda não suficientemente explorado, cuja gestão conjunta com o património deveria ser melhor desenvolvida. 86% dos trinta chefes de exploração e 77% dos nove técnicos entrevistados reconhecem o património arquitectónico e arqueológico como um recurso importante para o turismo da área. O que é considerado de valor na paisagem?A maioria dos entrevistados pronuncia-se também a favor de considerar os monumentos não separáveis da paisagem, reconhecendo o património como uma parte integrante da paisagem (86% dos agricultores e 88% dos técnicos). No entanto dois dos técnicos entrevistados pronunciaram a opinião que: “maioria das pessoas não o entendem assim”. Os chefes de exploração não responderam com tanta unanimidade. Dos dezassete chefes de exploração, oito pronunciaram-se positivamente. Apesar da maioria considerar a integridade entre a paisagem e os monumentos, apareceram várias outras opiniões. Foi várias vezes repetida a opinião de que é necessário proteger o que os antepassados nos deixaram: “é nossa memória histórica (tanto arquitectónica como de uso agrícola) …”. E também que para os monumentos arquitectónicos já existe uma gestão definida para a sua protecção, enquanto a paisagem tal regulativos ainda carece.Contudo, verifica-se difícil identificar as componentes dentro da paisagem que são consideradas como de mais valor pelos chefes de exploração – das respostas sobressai um entendimento mais holístico da paisagem, confirmando que para os seus utilizadores a paisagem tem valor como um todo. Neste entendimento inclui-se o conceito da paisagem cultural, sendo positivamente avaliada a intervenção contínua do homem (mosaico de campos agrícolas, montado, soutos, etc.).

5.2 Opinião face à multifuncionalidade da paisagem MarvãoComo a função da paisagem mais importante, para além da produção, foi considerado igualmente entre agricultores e técnicos, o turismo (especialmente o turismo no espaço rural / agro-turismo). Técnicos ressaltaram ainda estética, lazer e biodiversidade – corredores ecológicos. Os agricultores mencionaram mais a importância de caça e valor estético.Das opções sugeridas, quatro dos chefes de exploração escolheram como a função mais importante a Preservação da identidade (carácter da paisagem, história e memória, folclore); enquanto três escolheram igualmente Preservação do património paisagístico, arquitectónico e arqueológico e Preservação da qualidade ambiental. Entre os técnicos, os mais avaliados foram Conservação da natureza e Preservação da qualidade ambiental, e no segundo plano Recreio e turismo e preservação do património arquitectónico e paisagístico.Valencia de AlcántaraComo a função não produtiva mais importante foi considerada a preservação da natureza (habitats e espécies). Como a segunda mais importante foi mencionada a preservação de qualidade ambiental (ar, água etc.); e terceira a preservação do património arquitectónico,

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arqueológico e paisagístico. Quarto lugar de importância ocupa igualmente o recreio e turismo com a preservação da identidade. Outros tipos de uso do território, considerados como importantes, foram: valor cinegético, turismo rural e riqueza da vegetação.Funções não agrícolas mais importantes em São MamedeAs actividades não produtivas e tipos de recreio referidos pelos agricultores entrevistados como sendo desenvolvidos ou na paisagem de São Mamede ou nas próprias explorações, encontram-se na tabela seguinte (Nº11). As opiniões dos técnicos e chefes de exploração divergem especialmente nos vários tipos de turismo e lazer, como por exemplo pic-nics e turismo de habitação.Em relação à gestão específica das explorações para o desenvolvimento destas funções não produtivas, apenas quatro agricultores realiza algumas actividades específicas. Todas estas relacionadas com a gestão de cogumelos – recolha, inserção das espécies etc.MODALIDADE (função/actividade desenvolvida ou considerada como importante)

TÉCNICOS AGRICULTORES Agricultores na sua propriedade

Caça 6 10 11Apicultura 3 6 2Turismo de habitação 6 0 0Percursos (pedestres, btt…) 6 9 0Pic-nics 0 13 2Recolha de cogumelos 5 3 0Plantas aromáticas, medicinais 2 9 11Desportos radicais (rappel, slide, paraquedas) 1 5 5gastronomia 1 0 1 Tab.11 As funções não agrícolas consideradas mais importantes e praticadas na zona de São Mamede.

Relação à candidatura de Marvão à Ptrimonio da Humanidade83% dos agricultores considera, que a paisagem tem grande influencia na candidatura de Marvão, no entanto apenas 23% acha que sua aprovação pode trazer melhorias para a população e gestão da paisagem e 53% deles acha, que os benefícios vão inverter-se apenas no turismo e no interior de vila.Todos os técnicos concordam na importância da paisagem na candidatura de Marvão, mas maioria exprime desconfiança em relação ao reinvestimento dos possíveis lucros deste novo turismo na paisagem e na sua gestão. Ao contrário, levantam preocupações sobre as subidas de preços imobiliários e gestão inadequada de território envolvente não regulada.

5.3 Gestão actual da agricultura Formas de uso do solo dos entrevistadosMaioria de chefes das explorações entrevistados é dono dos terrenos muito compartimentados com grande variedade de usos de solo, que herdaram dos seus antepassados.

Nº de culturas por cada exploração Nº de explorações com este Nº de culturas diferentes1 22 63 104 65 36 3

Tab. 12 Análise de número de culturas mais frequentes dos 30 chefes de explorações agrícola entrevistados.

Olival: com as pastagens sob coberto de copas - 16 agricultores com culturas sob coberto - 6 agricultoresÁrea agrícola aberta: com pastagens – 9 agricultores

com horta apenas – 4 agricultores

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com cultura de sequeiro – 2 agricultorescom cultura de regadio (batatas, milho etc.) – 5 agricultores

Montado sem culturas sob coberto tem 9 agricultores, maioria do qual esta compartida Castinçal / souto de castanheiros sem uso sob coberto tem 8 agricultores.Floresta de pinho tem 7 dos agricultores entrevistados.Em termos de extensão espacial, mais área das explorações dos entrevistados ocupa o montado sem uso sob coberto e com as pastagens. Segunda cultura mais representada espacialmente é o olival, especialmente com as pastagens sob coberto. Este é seguido pelas pastagens abertas.Em Valencia de Alcántara, a mais típica exploração dedica-se à criação extensiva do gado e trabalha maioria das terras em arrendamento. Existindo, no entanto, na área adjacente à fronteira, explorações de menor tamanho e características semelhantes às de Marvão.

Relação à instituição do PNSSM e gestão dos valores naturais Existe uma geralmente assumida visão de direito total de decisões de gestão da sua propriedade entre os chefes das explorações que leva a mínima vontade de aceitar intervenção de outras entidades, especialmente se esta não está a alguma compensação. Estas intervenções podem incluir as directivas de protecção contra erosão, contra incêndios ou outros).Assim 83,3% vêem a presença do PNSSM como negativa, no entanto apenas 28% teve alguma experiência concreta (restrições de construção, danos causados pelos animais protegidos etc.). As maiores queixas contra o Parque Natural são a falta de diálogo com os chefes de explorações e gestão insuficiente na prevenção contra fogo. O segundo problema está a ser criticado também de lado Espanhol – da parte de agricultores e cidadãos em geral.Em Valencia de Alcántara, no entanto, a relação entre os chefes de explorações e entidades de protecção da natureza esta equilibrada, existindo o diálogo mais aberto.

5.4 Gestão futura da agricultura As visões futuras da paisagem de São Mamede passam pela diminuição da produção agrícola. Especialmente os respondentes de lado espanhol prevêem desaparecimento de pequenas propriedades e maior florestação da zona.Os agricultores portugueses acham geralmente que a situação irá piorar (76%), diminuindo actividade agrícola conforme a diminuição de apoio. Muito frequentes palavras eram: “cenário ardido e agricultura em decadência”. 82% dos agricultores vêem o futuro no crescente abandono agrícola das terras, no entanto 24% deles já conhecem o seu sucessor na exploração. Os técnicos avistam também a diminuição da produção agrícola, aumento de tamanho das explorações e dedicação à conservação da natureza e turismo.Gestão actual das explorações agrícolas em toda a Extremadura obedece a Ley 19/1995 de Modernización de Explotaciones Agrícolas (última actualização 4.6.2004), que estabelece a figura de Explorações prioritárias.22 Por influência desta legislação, está a mudar a estrutura das propriedades para cumprir as exigências do subsídio específico. Trata-se não apenas de formas de uso do solo, mas também de tamanho geral das explorações. Esta mudança significa a maior flexibilidade económica e cooperação das explorações entre si, mas também a perda de estrutura tradicional de minifúndio

5.5 Tendências e potencialidades na relação paisagem – agricultura Nas respostas de maioria dos chefes de exploração reflecte-se uma ligação forte entre o papel produtivo da agricultura e o seu papel criador da paisagem, e também a dificuldade da sua 22 As explorações prioritárias estão definidas como as explorações que durante todo ano empregam no mínimo um e no máximo quatro trabalhadores a tempo inteiro. Cargas horárias de diferentes tipos de trabalhos agrícolas para o cálculo estão oficialmente divulgadas neste decreto lei Extremeño.

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separação. No entanto, surge entre alguns técnicos e também entre alguns – poucos – dos mais jovens agricultores – a aceitação da possível diminuição da importância das funções produtivas da paisagem, em conjunto com um aumento da importância das outras funções, mais prezadas actualmente. 12% dos técnicos aponta para o perigo de não regulado, que poderia descaracterizar a zona. (O caso de habitação para golf já realizado na Portagem está a ser criticado também por muitos chefes das explorações.) De lado de Valencia de Alcántara está assumida a especialização de algumas explorações – para caça, turismo de habitação ou agro-turismo, no entanto estas actividades estão raramente compatíveis com a continuação da produção agrícola.Uma das sugestões levantadas pelos técnicos entrevistados é a combinação de protecção da natureza com a produção específica local. “Deveria existir uma medida específica para suportar a produção dos artigos D.O.P., que estivessem incentivar a classificação.” (APAFNA e NATURalentejoCARNES)Desenvolvimento dos produtos certificados poderia passar por sua promoção pelo Parque Natural de Serra de São Mamede. Sendo assim possível desenvolver uma ideia complexa de comercialização de produto ligada ao cuidado duma determinada paisagem: imagem/ marca/ preço. “Pessoas estão sensíveis às questões do que é biológico, natural, etc.” (Associação dos Agricultores de Portalegre) No entanto faltam as iniciativas concretas e comuns para a sua realização.

5.6 Subsídios e medidas agro-ambientais em Marvão

AplicaçãoApesar dos dados estatísticos mostrarem relativamente pequena aderência às medidas compensatórias, resultados das entrevistas aos chefes de explorações sobre a situação actual referem sua muito maior aplicação e popularidade, especialmente por causa de pouca exigência na implantação. No âmbito do espaço Norte Alentejano, Marvão representa uma área bastante aderente às medidas alternativas de gestão de território, este facto confirma a sua especificidade dentro desta unidade espacial. No entanto a situação actual revela alguns problemas na sua aplicação, que estão mais pormenorizados em seguir.

Aderência aos subsídios

Medidas agro-ambientais no ano agrícola de 1998/1999

Indemnizações compensatórias no ano agrícola de 1998/1999

Unidade Geográfica Nºexplor. SAU (ha) expl. tot. % Nºexplor. SAU (ha) expl. tot. %N1 - Continente 59091 3736140 382163 15,46 47477 3736140,15 382163 12,42RA - Alentejo 3555 1924043 35906 9,90 5028 1924043,34 35906 14CC - Marvão 83 10463,54 561 14,80 38 10463,54 561 6,77

Tab.13 Aderência aos subsídios das explorações no concelho de Marvão conforme RGA.

A avaliação da utilização das medidas agro-ambientais, e outras, como instrumento de apoio à conservação e gestão da paisagem rural

Visão dos chefes de exploraçõesDos 30 chefes da exploração entrevistados 10 recebe actualmente o apoio das medidas agro-ambientais. Como as medidas mais atractivas nesta zona revelam-se a protecção integrada e olival tradicional.A mais representada das medidas agro-ambientais é a Protecção Integrada, maioritariamente aplicada às vinhas e aos olivais do GRUPO I - Protecção e Melhoria do Ambiente, dos solos e da água. 20% dos chefes de exploração entrevistados estão a aplicá-la neste período. A medida de Olival Tradicional do GRUPO III era a mais utilizada no período anterior (1994-1999). Onze chefes de exploração usufruem ou usufruiu deste suporte. No entanto a nova exigência de localização do olival em terrenos com um declive superior (IQFP igual a 2, 3, 4 ou 5)23 para poder ser objecto desta medida, excluiu muitas das parcelas anteriormente consideradas – sendo que esta limitação é dificilmente compreendida pelos interessados, para

23 Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica, 2004, Medidas Agro-Ambientais, MADRP

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os quais este apoio era importante. Também por esta razão a maioria dos chefes das explorações opina, que as alterações no último quadro de apoio não foram de todo benéficas.Entre outras medidas e suportes estão neste zona ser mais aplicadas as Indemnizações Compensatórias, para produtores de zonas desfavorecidas. A maioria dos chefes de exploração têm direito a este subsídio por sua exploração se encontrar no âmbito do Parque Natural. Os condicionantes resumem-se às boas práticas agrícolas, o que faz deste suporte um dos mais populares. Esta medida aplicam 13 entrevistados (43%).De importância secundária são os Prémios de diferentes animais. Ainda de mencionar é a aplicação de ajudas à produção de azeite – especialmente na freguesia de São Salvador de Aramenha. Os produtores podem aproveitar aqui o único lagar do concelho, ou mais frequentemente, recorrer aos lagares espanhóis com maior capacidade.

Agro-ambientais Nº de InquiridosGRUPO I – Protecção e melhoria do ambiente, dos

solos e da águaProtecção integrada 2 (olival), 4 (vinha)

Sistemas Forrageiros Extensivos 1Agricultura Biológica 1 (olival)

GRUPO II – Preservação da Paisagem e das Características Tradicionais nas Terras Agrícolas

Apoio à Apicultura 1

GRUPO III – Conservação e Melhoria de Espaços Cultivados de Grande Valor Natural

Olival Tradicional 11Pomares tradicionais (Marvão só

castanheiros)1

GRUPO IV – Conservação de Manchas Residuais de Ecossistemas Naturais em Paisagens

Dominantemente Agrícolas

Preservação de Bosquetes ou Maciços Arbustivo/Arbóreo com Interesse Ecológico/Paisagístico

1

GRUPO V – Protecção da Diversidade Genética Manutenção de Raças Autóctones 1Tab. 14 Medidas agro-ambientais aplicadas no Concelho do Marvão e número de agricultores que aderiram.

Outros subsídios e medidas Nº de inquiridosIndemnizações compensatórias 13Regulamento 2080 (Arborização de áreas agrícolas) sobreiros, azinheiras e alfarrobeiras 1Forragem desidratada / seca ao sol 1Culturas arvenses de sequeiro 1Prémio aos produtos Lácteos 2004 2Prémio por ovelha e cabra 8Prémio por vaca em aleitamento VACAS ALEITANTES 5Adiantamentos – Ajuda à Produção – Azeite 10

Tab.15 Outras medidas aplicadas no concelho do Marvão.

Opiniões dos técnicosOs técnicos avaliaram o impacte das medidas agro-ambientais na paisagem de Marvão com muita ambivalência. Geralmente julgam o impacte positivo mas acentuam a necessidade de reavaliação das medidas actuais. Dois técnicos acham, que a melhora do ambiente é bastante visível, enquanto três consideram, que não têm tido muito impacte (ou por não ou por pouca aderência e curto tempo de implantação).55% dos técnicos entrevistados concorda, que a razão de aderência dos agricultores é o impulso económico dos subsídios. E 44% considera, que a mais valia das medidas se relaciona com a preservação do ambiente e conservação das espécies e habitats e a maior sensibilização dos chefes de explorações quanto às questões ambientais, um maior cuidado e melhor gestão da componente agrícola.Dois (22%) acham, que falta coordenação com a protecção da natureza (PNSSM), e que a melhor forma da sua inclusão seria criação de plano zonal. Quatro técnicos (44%) não consideram as medidas adequadas ao seu território, faltando algumas específicas para a zona. Estas são, entre outras o apoio aos produtos certificados e incentivos a sua produção; protecção dos sobreiros e prevenção de incêndios, novos apoios a olival e pomar de castanheiros a aos sistemas tradicionais em geral.

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5.6.1 Visões de subsídios de outro lado de fronteiraA maioria dos chefes das explorações de Marvão (60%) desconhece os subsídios de lado Espanhol, no entanto 27% considera, que lá existe uma variedade maior e as retribuições monetárias estão superiores.O agricultor Espanhol entrevistado acha as medidas menos variadas e mais exigentes do lado Espanhol do eu do lado Português. O director de Oficina agrária de valência de Alcántara considera as medidas agro-ambientais com muito menos aceitação e aplicação em Espanha do que em Portugal. No entanto acha, que em Espanha existem bastante incentivos do estado para uma “estrutura comercial comum” dos agricultores, que ajuda bastante ao desenvolvimento. O director da ZEPA Tajo Internacional mencionou as medidas específicas lançadas pela Direcção Geral do Ambiente para cada uma das zonas protegidas e assim mais localmente adequadas: concretamente suporte para outro tipo de cercas do que de arame farpado, construção de pequenas barragens para o acesso à agua de fauna selvagem etc.)24

5.7. O papel da fronteira Visão geral da situaçãoExiste uma visão positiva da abertura da fronteira após 1986. Especialmente em relação à troca de cultura e de possibilidade de viajar, assim como de proveito económico pessoal de lado português (abertura física e mental para outro país, aumentada pela possibilidade de adquirir bens de primeira necessidade mais baratas). De lado Espanhol a abertura é vista como um favorecimento de comércio. Existem dois grandes fluxos nesta área: grande procura por parte dos Espanhóis da restauração e equipamentos de lazer (Portagem) enquanto Portugueses viajam através da fronteira para os divertimentos nocturnos, feiras e hipermercados (Valencia de Alcántara, Badajoz).

Relativamente à agricultura e paisagemHá uma procura relativamente fraca de produtos específicos portugueses da zona (D.O.P.) de lado Espanhol. Mas há uma procura considerável de artigos mais baratos espanhóis por parte dos agricultores Portugueses (farinhas alimentares para o gado, feno, aveia etc.), como confirmado por 65% dos entrevistados.No contexto produtivo, a posição dos agricultores de Marvão é bastante negativa e depressiva desde a irritação dos produtores (contra os Espanhóis por conseguirem os produtos mais baratos, 44%) até à crítica de maior alcance das condições existentes (falta de política agrícola portuguesa claramente definida e proteccionismo fiscal do mercado agrícola Espanhol, 35%). A relação dos agricultores de ambos os lados da fronteira é quase unicamente pessoal, não de enriquecimento profissional (com excepção de participação nas feiras e aquisição de alguma literatura de especialidade em Espanha). Os técnicos sentem igualmente o impacte económico negativo geral assim como a inexistência do impacte directo no desenvolvimento rural.Do lado Espanhol existe uma visão mais positiva sobre a abertura, especialmente relacionada com o aumento de mercado para os seus produtos agrícola. O lado Português é considerado pelos Espanhóis como geralmente o mais desfavorecido.

6. Discussão A paisagem resultante de séculos de ocupação humana e interacção com as limitações da área tem vindo a ser mais valorizada por todas as funções que suporta, para além da produção. Este processo de mudança da opinião sobre valores da paisagem foi detectado também em Marvão. No entanto a visão clara sobre a possível gestão destes recursos da paisagem re-inventados ainda falta. Enquanto a paisagem está entendida como um complexo, a gestão específica 24 Esta opinião refere-se ao plano zonal., já previamente mencionado pelo Sr. Chambel do PNSSM.

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abrange apenas algumas destas funções e actividades alternativas no território (conservação da natureza, turismo, etc.), nem sempre os desenvolvendo suficientemente (produção de qualidade, exploração da caça, património cultural, etc) e omitindo muitas outras (apreciação estética e sensorial, recreio, suporte de qualidade de vida, etc.).De ponto de vista prático, nem sempre aumento de variedade de usos das explorações agrícolas leva a maior multifuncionalidade da paisagem. Bastante frequentes são os casos de abandono do uso do solo no mosaico tradicional para as actividades alternativas (coutos de caça, agro-turismo).Existe uma dificuldade no entendimento de novas formas de gestão da paisagem entre os chefes das explorações. Esta reflecte-se não só uma resistência aos novos suportes, como também a rejeição das restrições ligadas à gestão dos recursos para o bem comum que se encontram nas propriedades agrícolas. Há agricultores, que se identificam com a forma antiga de gestão “Não deve haver subsídios nenhuns. A gente deve trabalhar mais para ganhar a vida como antigamente”. A esta opinião e associa-se uma considerável parte de agricultores, que apesar de usufruir dos subsídios, não vêem positivamente o impacte na sua soberania sobre as suas terras assim como a influência do Parque na sua gestão pessoal. E provavelmente aí se encontra uma grande parte da razão da rejeição da instituição do PNSSM.Apesar de faltar as iniciativas mais concretas no sentido de desenvolvimento de produtos da zona específicos, tanto de lado português como espanhol, parece, que há possibilidades futuras de cooperação. Como uma destas actividades com futuro pode ser mencionada a intenção de chefe da cooperativa de Porto de Espada em promover “a castanha de Marvão” na base de colaboração com as redes distributivas de Cooperativa de Vale del Jerte (já fora da área de estudo). Este caso confronta-se, entre outros problemas, com pouca fé da parte de agricultores e de inexistência de incentivos para colaboração da parte de estado Português. No entanto, este caso bebe da experiência de outro lado de fronteira, onde estas barreiras já foram ultrapassadas, e como tal cooperação deveria ser promovido. Uma das possibilidades parece estar a nova forma de visão de INTERREG, de gestão conjunta do território transfronteiriços baseada na escala local.

7. Conclusão Uma imagem dos processos de mudança da paisagem e agricultura e do e seu entendimento entre vários actores foi procurada através de diversas fontes.Estudo encontrou em Marvão e Valencia de Alcántara o reconhecimento da paisagem como um recurso e base para o desenvolvimento de turismo e recreio, mas também de potencial de funções e vivências alternativas. Confirmou, que não só os visitantes, mas cada vez mais os técnicos e próprios agricultores da zona estão valorizar a paisagem como uma riqueza importante da zona. No entanto a compensação financeira por manutenção destes valores da paisagem e para o uso da população em geral continua ainda distante do horizonte dos entrevistados – tanto dos agricultores como dos técnicos da área. Há ainda poucas actividades baseadas na intenção de aproveitamento deste recurso. Para que surgissem os mecanismos de apoio a estas actividades, o tecido social deveria estar mais entusiasmado e preparado, facto que não se revela no cenário actual.

8. Bibliografia APAFNA, 2000, Produtos certificados do Norte Alentejano, PortalegreBlas Morato, R. 2004, Valencia de Alcántara: Estudio de Planeamento Estratégico; tesis – FFL Universidad de Extremadura, CáceresBrandt J. and Vejre H. 2004, Multifunctional Landscapes – motives, concepts and perceptions. In: Brandt J. and Vejre H. (Eds.), Multifunctional Landscapes. Vol. 1: Theory, Values and History. WIT Press, Boston

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9. Índice1. Introdução ......................................................................................................................................... 2

1.1. A Paisagem Rural e a procura da sua multifuncionalidade ......................................... 3 1.2 Multifuncionalidade da paisagem rural .......................................................................... 4

2. O estudo de caso ............................................................................................................................... 5 2.1. A paisagem do Norte Alentejano e de Marvão ............................................................. 5 2.2 Breve caracterização do concelho de Marvão ............................................................... 6 2.3 Caracterização geral da área de estudo ........................................................................ 9

3. Metodologia .................................................................................................................................... 12 3.1 Análise feita por indicadores ...................................................................................... 12 3.2 Análise com base em entrevistas ............................................................................... 12

4. Análise comparativa ...................................................................................................................... 13 4.1 Estado actual do uso do solo ...................................................................................... 13 4.2 Análise espacial - ocupação e formas de uso do solo em Marvão ............................ 14 4.3 Caracterização comparativa de outros aspectos de agricultura ................................ 16

5. Avaliação do reconhecimento da paisagem rural na base das entrevistas ................................. 18 5.1 Papel da paisagem para a multifuncionalidade do espaço rural ................................ 18 5.2 Opinião face à multifuncionalidade da paisagem ........................................................ 18 5.3 Gestão actual da agricultura ........................................................................................ 19 5.4 Gestão futura da agricultura ........................................................................................ 20 5.5 Tendências e potencialidades na relação paisagem – agricultura ............................... 20 5.6 Subsídios e medidas agro-ambientais em Marvão ...................................................... 21 5.7. O papel da fronteira ................................................................................................... 23

6. Discussão ........................................................................................................................................ 23 7. Conclusão ....................................................................................................................................... 24 8. Bibliografia .................................................................................................................................... 24 9. Índice ............................................................................................................................................... 25

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