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Uma Trajetória Ambientalista: Diário de Paulo Nogueira-Neto

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    Dedico este livro, que parte de minha vida, alm dos filhos e noras, aos meus netos e consortes:Andr Pinto de Souza NogueiraEduardo Manoel Toledo NogueiraLuciana de Freitas Pupo Nogueira e Gabriel Pupo NogueiraOrlando Pinto de Souza NogueiraPaula Toledo Nogueira Forte e Marco Tullio Turazzi FortePaulo de Freitas Nogueira e Luciana Rodrigues Nogueira

    Tambm dedico este livro aos meus bisnetos e bisnetas:Gabriel Pupo Nogueira FilhoLucia Coutinho Nogueira ForteMarina Pupo NogueiraPaulo Henrique Rodrigues NogueiraTeresa Rodrigues NogueiraE aos que viro.

    Repito aqui com emoo algumas palavras que escrevi em 1963, na primeira pgina de minha tese de doutoramento no IB-USP:

    Lucia, pelo caminho que juntos percorremos,Com os ps, rompendo a poeira das estradas,Com os olhos, contemplando as estrelas do cu.

    Ela faleceu em 1995, mas sua lembrana estar tambm sempre em meu corao

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    Entrada da casa de PNN. No piso, abelha e flor desenhados por Aldemir Martins

    Quem Paulo Nogueira-Neto?

    O Dr. Paulo, como o chamamos carinhosamente, nasceu em So Paulo no dia 18 de Abril de 1922. Seus pais, Regina Coutinho Nogueira e Paulo Nogueira Filho, no sabiam que o filho se tornaria um cone na defesa, preservao e manuteno do meio ambiente no Brasil.

    Qual a sua formao acadmica?

    Nosso querido Dr. Paulo formou-se em Cincias Jurdicas e Sociais, pela Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo. Estudou tambm Histria Natural, na Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da USP. um grande pesquisador sobre o comportamento das abelhas indgenas sem ferro e debruou-se tambm sobre o comportamento de aves, como pombas, rolas e psitacdeos para a sua tese de Livre Docncia em 1980.

    Sei tambm que o Dr. Paulo Nogueira-Neto professor titular de Ecologia, alm de ter recebido o ttulo de Professor Emrito do Instituto de Biologia da USP. Ele tambm um dos responsveis pela Fundao do Departamento de Ecologia Geral no Instituto de Biocincias da USP. Impressiona a trajetria da sua vida e realizaes de nosso amigo conservacionista. No perodo de 1974 a 1986 dirigiu a Secretria Especial do Meio Ambiente- SEMA, do Ministrio do Interior. Atravs de suas iniciativas, e sob sua orientao, surgiram 3.200 mil hectares de reas protegidas em 26 estaes e reservas Ecolgicas. Um dos maiores legados Nao Brasileira foi a aprovao de leis ambientais bsicas desde 1981.

    Dr. Paulo chefiou tambm vrias delegaes oficiais brasileiras e recebeu por duas vezes a Ordem de Rio Branco. Foi vice-presidente do

    programa O Homem e a Biosfera (MAB) da UNESCO e presidente do Conselho Federal de Biologia. Em 1981, juntamente com Maria Theresa Jorge Pdua, recebeu o prmio Paul Getty, a principal lurea mundial na conservao da natureza e, em 1997, o prmio Duke of Edinburgh, da WWF internacional.

    Vou complementar nosso dilogo ressaltando a importncia de Dr. Paulo que, sem dvida, tem vivido para servir a sua Nao e o Planeta em uma das mais nobres causas exercidas por ser humano: a luta incessante pelo Bem-Estar em harmonia com o Meio Ambiente. Ele tambm membro do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente); ex-membro do Conselho do Meio Ambiente (CADES) da Prefeitura do Municpio de So Paulo; membro do CONSEMA (Cons. Estadual do Meio Ambiente); membro Conselho de Administrao da CETESB; Assessor do Programa de Educao Ambiental do Ministro da Educao; Vice-Presidente da S.O.S - Mata Atlntica; Vice Presidente da W.W.F-Brasil; Presidente da ADEMA-SP, (Associao de Defesa do Meio Ambiente); Ex-presidente da Comisso para Implantao da APA Capivari-Monos (SP); ex-membro do Board do World Resources Institute; Vice Presidente do International Bee Research Association; ex-membro do International Advisory Group do PP-G7 (assessor do World Bank); Presidente da Fundao Florestal do Estado de So Paulo. Recebeu a Ordem Nacional do Mrito Cientfico, no grau de Gr Cruz, em abril de 1999, no Palcio do Planalto. Patrocinou a criao da ARIE - Reserva Extrativista Nova Esperana, na regio de Xapuri, no Acre. cidado honorrio de Aiuaba (CE), Braslia (DF), Luziana (GO) e Cosmpolis (SP).

    Fbio vila Editor

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    produo da obra comeou. Nesse meio tempo, apreciei as quase quinze mil pginas, lendo-as como se fossem romance de um ser que inicialmente me pareceu em extino. Fui descobrindo um advogado da natureza, um eclogo, mas muito mais do que um ambientalista: um construtor de sonhos. A seleo de trechos dos Dirios possibilita a apreciao de pioneirismo e de competncia na soluo de problemas globais e locais e a ilustrao da histria evolutiva da questo ambiental e do desenvolvimento inter-cultural, com base no olhar de um ser conectado poltica, vista por ele de maneira estratgica, mas no menos sensvel, analisando-se a alma das pessoas, o interior das comunidades, dos gabinetes, das igrejas e das florestas.

    No Captulo II destas pginas, os leitores podero conhecer os bastidores das decises governamentais e os jogos de poder no tocante pauta ambiental, em particular os efeitos sobre a evoluo do controle e preveno da poluio; no Captulo III, podero conhecer os espaos reguladores das normas ambientais, com a formao das primeiras leis e instituies brasileiras na matria. De um golpe, no Captulo IV, acessam-se os meandros do surgimento das transfronteirias preocupaes com a questo da manuteno da vida no Planeta, o conceito de desenvolvimento sustentvel e a conduo das defesas ecolgicas pelas delegaes de inmeros pases, bem como pelas Naes Unidas e outras representaes internacionais.

    O Captulo V mais doce: permite ver as demarcaes de Unidades de Conservao e perceber o reconhecimento das aes de PNN. Nessa linha, o Captulo VI completa a paisagem, mediante visita aos biomas brasileiros, num esprito aventureiro especializado na flora,

    na fauna e em conquistas antrpicas de regies como a Amaznia e o Pantanal Mato-Grossense. O Captulo VII uma passagem para os espaos protegidos, desenhados em sobrevoos, e conta a histria das lutas pela preservao das espcies.

    Quase sem fim, o livro estende-se ao Captulo VIII para explicar a dinmica dos ambientalistas, das ONG e para sugerir como lidar com as iluses. Transformadas estas em realidade, no Captulo IX se enxerga um resultado palpvel no mbito da Academia, da Cincia e da Tecnologia.

    Tudo isso foi escrito, diariamente, desde 1972, por um s homem, que se mostra por inteiro, com ideologia, sim, porm acima de tudo com observncia de rgidos critrios de comportamento, com amor a Deus, famlia e aos amigos, alm de gratido por viver tanto e em tantos lugares (Captulo X).

    So cenas escritas, enfim, para chorar, rir, cansar de guerrilhar e lutar para sobreviver, ao longo de geraes.

    Agradeo, de corao e mente, a todos aqueles que contriburam para a escolha e a organizao das pginas dos Dirios. Cada um que por elas passou trouxe uma semente da sustentabilidade. Vejo-a como o estado de graa: quem folhear o livro poder, portanto, sentir emoes que ajudaro a todos na contnua busca de um ambiente ecologicamente equilibrado.

    Em So Paulo, aos 8 de dezembro de 2009

    Flavia Witkowski Frangetto

    Como espcie de celebrao de sua vida, Paulo Nogueira-Neto (PNN, como gosta de se intitular na redao de seu nome) oferece ao leitor partes de seu precioso Dirio, manuscrito durante mais de trinta anos. O prprio autor, no Captulo I (Razes para escrever), conta-nos o motivo de tanta escrita, ao longo de perodos distintos, decorridos em vrios cenrios.

    So passagens simples do dia a dia ou experincias ligadas a seu processo entusiasmado de conquistar o mundo, de obter xito nas causas ambiental e humana. H passagens grandiosas que marcaram a histria de nosso pas, bem como espao para as pequenas abelhas indgenas sem ferro, em especial as jatas, s quais PNN se dedica na qualidade de cientista amante da natureza. Em visita a seu meliponrio, podemos confirmar seu apreo pelas abelhas, ouvindo-o explicar que elas ali esto para se reproduzir e que o mel produzido ele quase sempre deixa l, para o deleite delas mesmas.

    Antes de encontrarem o rol de textos constantes desta obra, permitam-me revelar um pouco daquilo que auxiliou PNN a realiz-la.

    Em 2002, por gratido pelo prefcio de PNN a um livro que eu havia escrito, visitei-o na companhia de seu amigo Paulo Bastos Cruz. Enquanto bebamos um clice de vinho, contei que um alemo, somelier aposentado, possua em sua adega uma sala anexa repleta de prateleiras com livros encadernados na cor branca e cheios de rtulos de vinhos, postos entre pginas manuscritas em caligrafia gtica, contando-se passagens de sua vida, momentos de amizade, de guerra mundial e de inmeras degustaes de vinho. Eram seus dirios, eu disse, ao que PNN respondeu: Tambm tenho meus dirios.. Feliz e confiante, reagi: PNN, voc precisa public-los!.

    Sua pretenso, porm, no era essa. Disse que havia pensado em deixar, quando passasse desta para a outra vida, apenas trs cpias em doao: para a famlia, para a Universidade de Braslia e para a Universidade de So Paulo.

    Nessa hora, Paulo Bastos ajudou-me e foi incisivo ao afirmar a importncia da publicao, como parte da histria da luta ambiental no Brasil e no mundo.

    Em 2003, ao trmino de uma reunio ordinria da Adema-SP, sua Associao de Defesa do Meio Ambiente, surpreendi-me quando PNN me entregou uns cadernos azuis, amarrados por cordes de algodo, e proferiu: Flavia, quero que voc me ajude a transform-los em livro.

    O tempo passou, e tive a alegria de ler e reler seus dirios originais; em 2005 assinamos contrato com a Empresa das Artes, e a

    CARTA INTRODUTRIA

    Reino dos maados Jos Pedro de Oliveira Costa

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    O Mutum do Cerrado (Craxfasciolata), cujos casais criam facilmente e que, havendo comida, adotam os arredores arborizados das casas das fazendas

    Tal a interpenetrao entre a vida de Paulo Nogueira-Neto e sua luta pela conservao da natureza, que este livro de memrias pessoais acabou sendo um manual da histria do movimento conservacionista no Brasil, contada de dentro, com exemplar franqueza e sinceridade.

    Aps a seo introdutria uma breve histria da famlia e da carreira de Paulo , temos uma massa de dirios. Cada incidente identificado, individualizado e contado sob a tica especial de Paulo Neto federalista cristo. Solidrio, homem de famlia e de cl.

    incrvel a riqueza deste dirio. Paulo Neto ocupou diversas das mais altas posies administrativas no campo da conservao. Sua opinio foi sempre procurada e acatada. E, repito, a sinceridade e franqueza dos comentrios so de si mesmas fascinantes.

    livro para ler, reler, conservar com carinho.

    Paulo Vanzolini

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    Meio AMbiente no brAsil

    Apresentar esta publicao, intitulada Uma Trajetria Ambientalista: Dirio de Paulo Nogueira-Neto, reunindo os fatos mais significativos dos 45 anos da trajetria deste eminente cientista e homem pblico, representa sem dvida uma honra e um privilgio para o WWF-Brasil. tambm justa homenagem ao Presidente Emrito de seu Conselho Diretor, a quem muito deve em termos de orientao e inspirao, h mais de 14 anos.

    Patrono do ambientalismo em nosso pas, advogado, professor e pesquisador especializado em apicultura, prestou ao Brasil notvel contribuio cientfica, institucional e administrativa, tanto pioneira como abrangente. Cobriu dessa forma os mais diversos aspectos da proteo do Meio Ambiente e dos recursos naturais, alm de acrescentar considervel dimenso s reas protegidas dos vrios biomas brasileiros, das mais significativas de todo o planeta.

    Paulo Nogueira-Neto, fiel sua tradio familiar, e com o apoio discreto e constante de sua esposa Lucia e filhos, abriu novos caminhos e formou geraes de dedicados ambientalistas nas reas federal, distrital e no governamental. Aceitou, sem vacilar, o comando da incipiente Secretaria Especial do Meio Ambiente do antigo Ministrio do Interior, logo aps a conferncia das Naes Unidas para o Ambiente Humano em 1972, e representou o Brasil na famosa Comisso Brundtland e em reunies internacionais sobre o Meio Ambiente.

    Desde ento, participa dos principais foros e iniciativas voltadas para a proteo ambiental, sob diversos aspectos, acompanhando a evoluo do quadro legislativo e operacional como membro qualificado do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), rgo por ele criado e onde se fazem representar as vrias instncias setoriais e governamentais, com a participao da sociedade.

    Metodicamente, reuniu essa longa e profunda experincia em suas anotaes neste dirio, verdadeira histria do ambientalismo brasileiro, abrangendo fatos significativos e identificando personagens que acreditam no progresso social e econmico em equilbrio com a natureza.

    Que este valioso registro seja motivo de reflexo e esperana para seus leitores, e os anime a defender as nobres causas esposadas durante as ltimas dcadas por Paulo Nogueira-Neto, confiando em seus princpios e realizaes, em prol do desenvolvimento sustentvel.

    lvaro de Souza Presidente do Conselho Diretor

    O WWF-Brasil uma organizao no governamental brasileira dedicada conservao

    da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservao

    da biodiversidade e de promover o uso racional dos recursos naturais em benefcio

    dos cidados de hoje e das futuras geraes. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado

    em Braslia, desenvolve projetos em todo o pas e integra a Rede WWF, a maior rede

    independente de conservao da natureza, com atuao em mais de 100 pases e o

    apoio de cerca de 5 milhes de pessoas, incluindo associados e voluntrios.

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    UmA ObRA RefeReNCIAl em eCOlOgIA e sUsTeNTAbIlIDADe

    Este dirio de Paulo Nogueira-Neto testemunha o pensamento quotidiano de um cientista que des-vendou os segredos da natureza. Por isso, suas reflexes e propostas, acerca do desenvolvimento sustentvel expresso que ajudou a criar quando integrou, nos anos 1980, a Comisso Brundtland da ONU , constituem relevante contribuio para a luta contra as mudanas climticas, em prol de um habitat mais saudvel e pela viabilizao de um futuro melhor para a humanidade.

    Um dos fundadores do Departamento de Ecologia Geral do Instituto de Biocincias da Universidade de So Paulo (USP), o professor doutor j demonstrou, em termos prticos, ser possvel conciliar a prosperidade econmica com os preceitos da preservao. Ao dirigir a Secretaria Especial de Meio Ambiente, no Governo Federal, criou 26 estaes e reservas ecolgicas, totalizando 3,2 milhes de hectares. Ademais, numerosas leis ambientais em vigor brotaram de sua atuao no assessoramento a parlamentares.

    O professor titular em Ecologia da USP fez palestras em todo o mundo, presidiu o Programa O Homem e a Biosfera, da Unesco, e recebeu os mais importantes prmios nacionais e internacionais da rea. Atuante em numerosos organismos tcnicos e multilaterais, no Brasil e no exterior, muito nos honrou quando aceitou meu convite para integrar o Conselho de Meio Ambiente da Fiesp, criado quando assumiu a presidncia da entidade. O apoio desta publicao do livro Trajetria de um ambienta-lista: dirio de Paulo Nogueira-Neto congruente com a destacada presena do ambientalista no colegiado. Afinal, sua participao ajudou-nos a entender de modo pleno o conceito da produo economicamente vivel, ecologicamente correta e socialmente justa!

    Paulo Skaf Presidente da Federao e do Centro das Indstrias do Estado de So Paulo (Fiesp/Ciesp)

    UmA vIDA DeDICADA NATURezA

    Historicamente, o movimento ambientalista ganhou destaque no Brasil na dcada de 1970, reper-cutindo notcias de desastres e impactos ambientais, tais como o acidente de Bhopal, na ndia, o vazamento da Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrnia, e a contaminao por mercrio na Baa de Minamata, no Japo. O mesmo ocorreu em pases desenvolvidos, onde a sociedade civil era mais or-ganizada e consciente de seus direitos, e a imprensa gozava de liberdade de informao.

    Nessa poca, a luta em nosso Pas era travada por entidades ambientalistas, acadmicos, artistas e at indivduos que eram contra a degradao ambiental, como a absurda iniciativa de estabelecimen-to dos contratos de risco para explorao da Amaznia, visando o pagamento da dvida externa bra-sileira, o uso indiscriminado de agrotxicos, a supresso dos resqucios da Mata Atlntica e o convite oficial para a vinda de indstrias poluidoras ao Brasil.

    Enquanto ambientalistas desenvolviam, junto sociedade, um importantssimo trabalho de resis-tncia pela preservao do Meio Ambiente, Paulo Nogueira-Neto atuava no Governo Federal como o primeiro secretrio de Meio Ambiente na difcil tarefa de conscientizar autoridades e parlamentares sobre a relevante e crescente importncia do desenvolvimento sustentvel.

    Com essa trajetria, tornou-se um dos maiores nomes da causa ambiental no Brasil e com muita ha-bilidade, gentileza no trato com todos, capacidade tcnica de convencimento, cuidado de no impor derrota a ningum, mas agregar pessoas a causa, Paulo Nogueira-Neto considerado uma unanimi-dade entre os ambientalistas.

    Figura mpar neste tema, registrou diariamente, durante mais de 30 anos, em cerca de 14 mil pginas, fatos importantes relacionados ao Meio Ambiente, que agora so revelados ao pblico neste que pode ser considerado o Dirio Secreto do Meio Ambiente.

    Com toda uma vida dedicada causa, agora reproduzida neste livro, fiel ao conceito que cunhou, de que o Meio Ambiente une, e parafraseando este personagem histrico de nosso movimento ambienta-lista, resta dizer que, pela sua pessoa, sua contribuio e sua histria, Uma Trajetria Ambientalista: Dirio de Paulo Nogueira-Neto.

    Walter Lazzarini Presidente do Cosema (Conselho Superior de Meio Ambiente Fiesp-IRS)

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    481 biomas brasileiros483 A floresta amaznica e

    seus problemas ambientais525 Mata Atlntica535 Araucria541 Pantanal e Cerrado549 Caatinga

    555 vises da natureza557 Paisagens579 Baleias e outros animais

    617 Dilogos em prol do ambiente ecologicamente equilibrado619 Renovar, proteger e conservar647 Administrao Ambiental Paulista678 Algumas ONGs ambientalistas e sua ao708 Viagens diversas e refeies memorveis

    733 Cincia e vida735 Trajetrias acadmicas762 Algumas consideraes cientficas

    e scio-ambientais

    773 Intimidades no ambiente interno e externo775 tica, ajudas e princpios diversos796 Atividades religiosas819 Algumas passagens marcantes840 Caminhando juntos nas estradas da vida863 Algumas Polticas Internacionais875 Uma ideologia de desenvolvimento

    sustentvel

    S U M R I O

    19 Razes para escrever 21 Os fundamentos de uma

    trajetria ambientalista

    41 Desafios da era ambiental43 Administrao e poltica

    ambiental federal104 guas Poludas149 Uma poca de grandes mudanas206 Educao Ambiental

    213 Ambiente Regulatrio215 Legislao Ambiental245 Parlamento Ambiental da

    Federao Brasileira

    277 preocupao ambiental no planeta279 O Conselho Federal de Biologia e

    outros Conselhos com ao ambiental

    283 Comisso Brundtland306 Programa das Naes Unidas

    para o Meio Ambiente (PNUMA)em Nairbi e outrosforos internacionais

    343 Unio Internacional para aConservao da Natureza (IUCN)

    356 Debate Mundial

    379 Reconhecimento de terras protegidas381 Unidades de conservao436 Matas da Santa Genebra & Jureia455 Duque de Edimburgo & outros prmios

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    POR PAULO NOGUE IRA-NETORAzES PARA ESCREVER

    PNN

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    Antes de mais nada, quero salientar que apresento neste livro fatos e fotos da minha vida e da histria ambiental da Federao Brasileira. So, sobretudo, comentrios que constituem a minha viso pessoal dos acontecimentos, assuntos e circunstncias. Considero que sou eu mesmo e as minhas circunstncias, como dizia Ortega y Gasset. Pelo menos basicamente sou tudo isso, incluindo minha f em Deus, as influncias de minha famlia e de minhas numerosas amizades. Cada um de ns tem a sua personalidade e as suas circunstncias, que podemos melhorar ou agravar no decorrer das nossas vidas, pelo nosso livre arbtrio.

    Nasci em 18 de abril de 1922, na Avenida Anglica, esquina com a Rua Baronesa de Itu, na casa de meus avs paternos, Ester e Paulo Almeida Nogueira. Disseram-me ter sido parto prematuro. Corria o ano do centenrio da Independncia, na qual tomou parte, como um dos seus lderes, meu antepassado Jos Bonifcio de Andrada e Silva, O Patriarca. Foi o primeiro Naturalista brasileiro do lado materno da minha famlia. Durante minha mocidade, recebi certa influncia das minhas origens Andradas. Minha me mantinha estreita amizade com suas primas tambm descendentes do Patriarca. Lembro-me bem das tias Dora, Vanda e do tio Adolfo, como eu os chamava. Tambm fui colega nas arcadas da Faculdade de Direito, de um primo Andrada, Martim Francisco, que se tornou um Juiz de Direito muito considerado. Infelizmente morreu cedo. Na Academia Paulista de Letras sou colega de uma prima

    Andrada, muito querida de todos, Ana Maria Martins. Tambm em Braslia, em 1981, o lder do Governo no Congresso, o meu primo mineiro Bonifcio de Andrada foi importante, junto com o lder da oposio Modesto da Silveira, na aprovao unnime da importante Lei 6.902/81, que dispe sobre as reas de Proteo Ambiental (APAs) e as Estaes Ecolgicas.

    A Histria principal dos Andradas vem do sculo 18, quando o jovem santista Jos Bonifcio foi estudar em Coimbra, em Portugal. L ele conheceu o professor Domenico Vandelli, contratado pelo Governo Portugus. Vandelli lecionou em Coimbra entre outras atividades. Foi um notvel botnico, de quem Jos Bonifcio se tornou um grande amigo e depois at co-sogro.

    Domenico Vandelli, tambm meu antepassado, merece ser mais conhecido. Nasceu e se formou em Pdua, no que hoje parte da Itlia. Foi amigo de Lineu. Organizou em Lisboa, Coimbra e Ajuda as primeiras estruturas biolgicas ambientais portuguesas. Aps a vitria inicial do General napolenico Junot sobre os portugueses, a Frana enviou a Portugal o naturalista Geophrey Saint-Hilaire, com a misso de trazer colees de Histria Natural. Assim, Vandelli, diretor do Museu da Ajuda, teve que ceder cerca da metade das colees biolgicas portuguesas aos museus da Frana. Ao fazer isso, penso que a ttulo de consolo diante das realidades europeias de ento, Vandelli teria manifestado a esperana de que esse material fosse adequadamente estudado na Frana. Mais tarde, em consequncia indireta da derrota do exercito francs do General

    Os fUNDAmeNTOs De UmA TRAjeTRIA AmbIeNTAl IsTA

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    na cidade, ficou enfermo, mas sobreviveu. O vizinho Municpio de Paulnia deve a ele o seu nome. Seu irmo Arthur Nogueira, meu tio bisav, tambm deu seu nome a uma cidade prxima. Meu bisav materno Manoel Ferraz de Campos Salles foi presidente da Repblica, na virada do sculo 19 para o sculo 20. Consertou as finanas brasileiras da poca e prestigiou os Estados, prestgio que modestamente procurei dar a eles tambm na Sema. Sou profundamente Federalista. Dediquei uma parte do meu tempo a visitas a Governadores para pedir a eles a instituio de Secretarias e outras entidades ambientalistas estaduais. Hoje h no Conama uma rede inter-estadual, a Abema.

    Em homenagem minha origem republicana, quando fui secretario federal do Meio Ambiente, atrs da minha mesa coloquei na parede um grande retrato do meu bisav Campos Salles, ao lado do retrato do Presidente do momento. Quando me disseram que no podia fazer isso, respondi: - no vou remover o retrato do Presidente Campos Salles. E tenho certeza de que ningum vai querer brigar com ele. E assim foi durante os 12 anos e meio que fiquei no cargo de Secretario do Meio Ambiente. Quando deixei de ser Secretario (Federal) do Meio Ambiente, sa do prdio da Secretaria carregando debaixo do brao o retrato do Presidente Campos Salles. Outra ao minha de carter nepotista foi um ato designando Jos Bonifcio como o Patrono da Ecologia Brasileira. Mas foi um nepotismo esclarecido, que certamente no prejudicou a Repblica.

    Minha meninice decorreu numa poca politicamente agitada. Meu pai, Paulo Nogueira-Filho, mais conhecido como Paulito, foi um dos fundadores e lideres do Partido Democrtico, da oposio. Morvamos numa boa casa, na Alameda Itu. Meu pai ia frequentemente ao Rio Grande do Sul, a Pedras Altas, para conspirar no preparo da Revoluo de 1930, com Assis Brasil, um dos lideres gachos, mais tarde Ministro da Agricultura. Num dos retornos de meu pai a So Paulo, os

    amigos e familiares preparam l em casa uma grande festa, na qual eu deveria declamar uma poesia. Puseram-me no crculo de amigos e minha me me disse: - Paulo, conte a seu pai a grande novidade... A novidade? Fiquei algum tempo matutando sobre o que seria a to importante novidade. Em seguida exclamei: - a novidade que o lixeiro passou aqui ontem e disse: - uma vergonha que uma casa to bonita tenha uma lata de lixo to furada. !! Risadas gerais. Eu no ri. At hoje considero muito justa a reclamao do lixeiro defensor do Meio Ambiente Urbano.

    Segundo me contaram, aps a vitria da Revoluo de 1930, quando desembarcou de um navio no Rio de Janeiro, Assis Brasil j ministro foi carregado por uma multido entusiasmada. Quanto mais ele gritava, mais era aplaudido. Acontece que ele gritava: esto roubando a minha carteira!!! O que trouxe dificuldades financeiras ao amigo de meu pai.

    Meu pai teve que vender a casa, devido s dividas do jornal Dirio Nacional. Este tinha poucos anncios, pois raros eram os comerciantes que se aventuravam a anunciar em jornal da oposio.

    Meu av Paulo de Almeida Nogueira gostava muito de criar patos do mato. Tambm chegou a comprar uma floresta em Campinas, para preserv-la. Era um caador, mas com certo esprito conservacionista. Caava pombas, marrecos e perdizes selvagens. Tambm permitia que os netos caassem aves comedoras de frutas do pomar da fazenda, exceto sabis, pelos quais tinha muita estima. At hoje me arrependo de ter caado sanhaos e saras.

    A sade de minha me Regina era frgil. Ela precisou morar longo tempo em Campos do Jordo, devido a um fungo pulmonar, mas felizmente se recuperou desse problema de sade. Nas frias, convivendo l com as araucria, aprendi a admir-las, o que mais tarde me levou a defend-las, inclusive como

    Junot em Portugal e da vitria do exercito ingls comandado por Wellesley com apoio de portugueses, Vandelli foi preso e desterrado para os Aores. Depois, em 1810, seguiu para a Inglaterra. O Governo Portugus respondeu ao Governo Britnico (Reino Unido) que no fazia objeo alguma solicitao inglesa para receber Vandelli, iniciativa patrocinada pelo destacado naturalista Britnico Sir Joseph Banks, Presidente da Royal Society de Londres. Vandelli, atravs de seu filho Antonio, insistiu veementemente no ter sido colaboracionista napolenico. Foi depois absolvido em Portugal, mas continuou na Inglaterra at o fim das guerras napolenicas. Da Inglaterra, em 1815, voltou a Lisboa, onde morreu em 1816. Esses e muitos outros dados sobre a vida de Domenico Vandelli esto numa excelente biografia sua escrita por Joo Carlos Brigola, no livro publicado em 2008 sobre Vandelli e seus trabalhos, intitulado O Gabinete de Curiosidades de Domenico Vandelli. um trabalho realizado pela Fundao Paribs com apoio do Jardim Botnico. Teve diversos colaboradores, entre os quais Fernanda Camargo-Moro, Joo Carlos Brigola, Lorenay Kury, Jos Augusto Pdua e Andrea Noronha (363 p.). O salvamento de Domenico Vandelli, conseguido atravs de uma rede internacional de grandes naturalistas, mostra que h mais de 200 anos o ambientalismo j era respeitado. Vandelli foi importante para o Brasil, pelas expedies filosficas (cientificas) que planejou, pelos trabalhos de fundo ambientalista que escreveu e por ter sido professor e amigo de Jos Bonifcio e de outros brasileiros. O Jardim Botnico do Rio de Janeiro fez uma exposio em 2008, em homenagem a Domenico Vandelli, na qual foi distribudo o interessante livro escrito sobre ele, acima referido. A Fundao Paribs publicou igualmente a ampla correspondncia dele com Lineu. Veja tambm o importante livro Napoleo Bonaparte, Imaginrio e Poltico em Portugal, em 1808-1810, da autoria de Lucia Maria B. Pereira Neves, com relatos e comentrios sobre essa agitada era.No vou relatar aqui as viagens cientificas pela Europa e os cargos elevados que Jos Bonifcio desempenhou em

    Portugal. Contudo, Domenico Vandelli e Jos Bonifcio permaneceram em Portugal quando o mundo portugus europeu desabou com a vinda de Don Joo VI ao Brasil. Jos Bonifcio lutou contra os invasores franceses, assumindo o posto de tenente-coronel, comandante do Corpo Militar Acadmico (da Universidade de Coimbra). Foi elogiado pelo comandante em chefe do Exrcito, marechal Beresford. Encarregava-se pessoalmente dos reconhecimentos mais arriscados e marchava sempre na vanguarda das tropas sob seu comando (O. Tarquino de Sousa (974 p. 48-50).

    Nessa poca, tumultuada, o filho de Domenico Vandelli, chamado Alexandre Antonio e tambm cientista, se casou em Portugal com a filha mais velha de Jos Bonifcio e da sua esposa, a irlandesa Narcisa Emilia OLeary. Essa filha se chamava Carlota Emilia. Mais tarde, j no Rio de Janeiro, Jos Bonifcio providenciou a vinda ao Brasil de Alexandre Antonio, Carlota Emilia e sua famlia. A filha mais velha desse casal, Narcisa Emilia, casou-se com Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho. Ele divergiu do Patriarca, que foi depois seu sogro, na questo da tutoria do jovem Don Pedro II. Foi ministro dos Negcios Exteriores do Imprio. Foi tambm senador. Recebeu o titulo de Visconde de Sepetiba. Um dos seus bigrafos, S. A. SISSON, afirmou que numa fase mais tranquila de sua vida, o Visconde de Sepetiba escreveu sobre o plantio do ch e sobre as abelhas. Portanto esse meu antepassado j fazia algo do que fao hoje, mas ainda no encontrei esses seus trabalhos. Ele teve uma posio de destaque na vida poltica do Imprio Brasileiro. Gostava de ler sobre as Cincias Naturais e se interessou inclusive pelos fenmenos magnticos, no fim de sua vida (Biografia escrita por Helio Viana, em 1943, p. 190-203).

    Tambm tenho antepassados Republicanos. Meu bisav paterno Jos Paulino Nogueira, republicano histrico, foi Intendente (Prefeito) de Campinas. Durante a grande epidemia de febre amarela que houve l no sculo 19, permaneceu

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    outros membros da famlia a seguirem a sua crena. Indiretamente tambm me motivou, embora ele tenha falecido antes do meu nascimento. Sua herana espiritual chegou at mim atravs de minha me. Na Faculdade esse meu av apresentou e publicou uma tese de vanguarda, sobre o uso do gramofone (vitrola) como meio de prova. Era algo muito avanado para a poca. Ocupou-se tambm do Direito Internacional Privado.

    Quero ainda destacar a influncia e amizade do meu tio materno Jos Salles Oliveira Coutinho, mdico e cidado exemplar, casado com tia Vera Hermany Oliveira Coutinho. Ele sabia contar histrias do passado de uma maneira muito atraente. Infelizmente morreu sem deixar um dirio e eu no fiz anotaes, o que lamento profundamente.

    Em 1936, minha famlia mudou-se em So Paulo para uma casa da esquina da Avenida Brasil e Rua Mxico, que minha me chamou de Vila Abissnia, devido guerra que havia na Etipia, na frica. Essa casa foi muito importante para mim, para meu irmo e para toda a nossa turma de rapazes, pois era o centro de nossas reunies com amigos e colegas. s vezes era tambm o local de nossas pequenas conspiraes contra o regime ditatorial do Estado Novo imposto por Getulio Vargas em 1937. Hoje a casa uma agncia do Banco do Brasil.

    Pouco antes de entrar na Faculdade de Direito, em plena guerra e voluntariamente, fiz meu servio militar aos 16 e 17 anos, em 1938, como soldado raso de cavalaria, no Peloto Quadro do 4 Esquadro do 2 Regimento de Cavalaria Divisionria. Ca 11 vezes do cavalo. Participei de cargas de cavalaria em terrenos desconhecidos por ns, perto do atual Aeroporto de Congonhas. Essas cargas eram coisa ultra-emocionante. No se realizam mais, neste mundo mecanizado. Fazamos tambm outros exerccios algo arriscados, como o em terra e a cavalo. Em pleno galope, segurando no arreio, pulvamos em terra e com impulso voltvamos ao cavalo.

    Havia riscos. Na turma anterior minha morreu um soldado. Aprendi porm a enfrentar o medo, o que muito me valeu na vida. As atividades no quartel comeavam diariamente s 5 horas da manh, horrio que no me deixou saudades.

    tambm dos tempos de minha mocidade e muito contriburam para a formao do nosso grupo de jovens amigos, as atividades em torno de uma publicao que fundamos chamada Amrica. A sede do grupo era a casa da Avenida Brasil esquina da Rua Mxico. Mais tarde essa turma recebeu o nome muito peculiar, de Alarga a Rua, palavras que num dia de ano novo nosso Amigo Hermann Revoredo clamava na Praa do Patriarca e que parecia ter dito em apoio ao prefeito Prestes Maia, que reformou o centro da Capital Paulista. H mais de 60 anos nos reunimos mensalmente, para expor ideias, comentar fatos e dar risadas, descontraidamente. A turma era composta por Augusto Rocha Azevedo, Caio Caiubi, Carlos S. Sarmento, Eduardo Assumpo, Fabio Moraes de Abreu, Geraldo Camargo Vidigal, Herman Revoredo, Jos Bonifcio Coutinho Nogueira, Jos Carlos Moraes de Abreu, Marcelo C. Vidigal, Olavo Egydio Setbal e Paulo Nogueira-Neto. Agora (2009) somente os ltimos 6 esto vivos. (Agusto, Geraldo, Jos Carlos, Marcelo, Paulo, Sarmento).

    Em 1941, como fazia nas frias, fui visitar meu pai, que estava exilado em Buenos Aires. O avio usado nessas viagens era um DC-3, que voava a 3.000 m de altura. Uma das rotas era So Paulo-Curitiba, Foz de Iguau, Assuno-Buenos Aires. Logo que o avio subia em Curitiba, aps uns 15 minutos de voo, olhando para baixo, somente eram vistas florestas. No se via qualquer sinal de vida humana, at as proximidades de Foz de Iguau. As florestas eram to imensas e contnuas que eu escrevi nessa poca, numa revista na Faculdade de Direito, que elas durariam para sempre. Ledo engano. Alm de serem relativamente poucas as matas que resistem ainda aqui e ali, nessa regio sobrou em larga escala apenas o Parque Nacional do Iguau, no Brasil e na Argentina.

    membro de uma Comisso do Ministrio do Meio Ambiente que tinha esse objetivo.

    Com o meu nico irmo Jos Bonifcio tive uma sequncia de trs governantas inglesas, a ltima das quais, Annie Jerred, foi por ns considerada como membro da famlia. Repousa no Cemitrio da Consolao, no mesmo tmulo onde esto a minha me e minha amada esposa Lucia. At hoje mantemos na famlia a tradio britnica de servir na festa de Natal um plum pudding pegando fogo, que faz muito sucesso. Tambm destaco a colaborao lusitana de Adlia de Almeida na educao de meus filhos, e atualmente na governana de minha casa, bem como a cooperao de minhas secretrias Sandra Comerata e Alessandra G. Muniz. Na rea rural, Isaura Nunes, Gilberto Silva, Vicente e Maria Caixeta, Luciene e Zico Campana.

    Foi muito cordial o meu relacionamento com meu nico irmo, Jos Bonifcio Coutinho Nogueira. Ele teve uma vida pblica intensa, ocupando a Secretaria da Agricultura e mais tarde a Secretaria da Educao do Estado de So Paulo, alm de ter exercido atividades importantes no setor privado.

    Entre 1930 e 1932, moramos cerca de dois anos no Rio de Janeiro, onde meu pai trabalhava no Governo Federal. Contudo, na Revoluo de 1932, na qual ele tambm participou com deciso e entusiasmo, fomos derrotados. Meu pai saiu do Rio disfarado de pescador e desembarcou no litoral Norte Paulista, para se engajar na Revoluo. Antes do seu trmino, passando pelo Paraguai procurou comprar armamentos na Argentina para as tropas constitucionalistas de So Paulo. Mas no conseguiu fazer essa aquisio. Escreveu depois e publicou a maior e mais detalhada Histria da Guerra Cvica de 1932, aps consultar tambm os arquivos do Exrcito. Hoje ele repousa no Obelisco do Parque Ibirapuera, junto a outros revolucionrios. Durante a revoluo, eu e meu irmo Jos Bonifcio andvamos na calada da Praia de Copacabana, com distintivos

    revolucionrios bem visveis no peito. Eram distintivos feitos clandestinamente no Rio de Janeiro. Certo dia, minha me e outras senhoras foram falar com o Ministro da Marinha e o convidaram a aderir revoluo. O Ministro deve ter tomado um susto com essa audcia, mas no as prendeu. Ainda havia certo cavalheirismo, naqueles tempos.

    Aps a derrota da Revoluo de 1932, voltamos a residir em So Paulo. Fomos ento morar com os meus avs paternos, na casa grande onde nasci e que parecia um mini castelo. Tinha no poro uma grande cozinha e uma respeitvel adega de vinhos. Tambm guardavam l uma coisa que muito me interessava. Era um balde de madeira com uma aparelhagem mecnica dentro, que fazia gostosos sorvetes. Era acionada com uma manivela manual. No andar trreo da casa havia salas e sales. Numa delas existia uma grande poltrona na qual meu av presidia reunies informais, um bate-papo da famlia e de convidados, aps o jantar. Eu pensava: - um dia chegar a minha vez de sentar nessa cadeira. Esse dia porm nunca chegou, pois os tempos mudaram. A cadeira est hoje aposentada, num canto da sede da Fazenda So Quirino. Sou o nico que a vi nos seus dias de glria e agora no exlio domstico. Em cima, no 2 andar, num dos lados da casa existia uma torre, com uma escada interna. Na verdade a torre no servia para nada, mas era algo imponente.

    Meus estudos, no ensino mdio, foram feitos no Ginsio So Bento, de So Paulo, onde participei de um grupo de amigos (com os seus nmeros de matricula), da qual faziam parte: Alexandre Thiollier (341) Jaime Augusto da Silva Telles (582), Manoel Martins de Figueiredo Ferraz (548), Fabio Marcondes Machado (que morreu ainda ginasiano) e alguns outros. Com esse grupo, fiz exames vestibulares. Entramos primeiro no Pr-Jurdico e depois na Faculdade de Direito do Largo So Francisco, onde meu av materno Jos Bonifcio Oliveira Coutinho foi professor de Direito Privado Internacional. Ele era profundamente catlico. Incentivou

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    fardados batiam continncia, uns para os outros. Isso me ensinou que mesmo numa guerra, os seres humanos so capazes de se entender e de se respeitar, quando querem.

    Sempre fui profundamente democrata e federalista. Por pouco no morri, no dia 9 de novembro de 1943, ao ser com muitos colegas alvejado a tiros pela Policia Especial do chamado Estado Novo, aps uma manifestao, contra o regime ditatorial. Dezenas de colegas ficaram feridos bala e pelo menos um dos alvejados morreu. Naquele tempo no havia balas de borracha. Quando consegui sair da linha de fogo entrei num bar onde um guarda-civil fingiu que me prendia, junto com o Almeidinha, um colega meu. Ele nos levou Praa da S, onde nos soltou. Devia ser um simpatizante da nossa causa. Refugiei-me ento na casa das minhas tias Helena e Leonor, filhas do ex-Presidente da Repblica Campos Salles, meu bisav.

    Tambm fui um grafiteiro cvico. Quando Getulio Vargas queimou e proibiu as bandeiras dos Estados, pintamos, principalmente num muro branco do Clube Paulistano, uma grande bandeira paulista. No foi tarefa fcil, a que realizei com alguns colegas. Essa bandeira tem muitas listas negras, que tivemos que simplificar em nmero. Se uma rdio-patrulha nos pegasse,

    seriam anos de cadeia. Tambm pintamos outras bandeiras menores. Hoje selecionaria melhor essas atividades de grafiteiro cvico, para no prejudicar outras pessoas. Me limitaria a locais pblicos, pois o nosso objetivo era cvico.

    Foi tambm quando estava na Faculdade de Direito que comecei a estudar as abelhas indgenas nativas, sem ferro. Recebi de presente uma colnia de Jatas do meu sogro Manoel Joaquim Ribeiro do Valle, um bom homem, casado com minha tambm saudosa sogra Lavnia. Ela viveu mais tempo e muito apoiou as pesquisas meliponcolas que realizei na Fazenda Aretuzina (em So Simo SP). Comecei a estudar essas abelhas quando ainda era estudante de Direito, em 1944. Hoje mantenho vrias estaes experimentais de Meliponnios (abelhas sociais indgenas sem ferro) localizadas em So Simo (SP), Cosmopolis (SP), Campinas (SP), So Paulo (SP), Luzinia (GO). Dois outros meliponrios esto em Porto Feliz (SP) e Camburi (SP) pertencem ao meu filho Luiz Antonio.

    Minhas atividades no estudo das abelhas indgenas sem ferro esto relacionadas com sua origem e distribuio, gentica, comportamento e criao (Meliponicultura). J publiquei dois livros sobre o assunto e tenho um terceiro praticamente pronto. Alem disso escrevi um livro sobre o Comportamento animal e as razes do comportamento humano. Dei, na USP, cursos sobre Animais Sociais. As abelhas indgenas so meus instrumentos bsicos no estudo da Ecologia. Nas questes genticas sobre essas abelhas tenho teorias que em parte divergem das do meu amigo de longa data e muita estima, professor dr. Warwick Estevam Kerr.

    At hoje prezo muito minhas origens acadmicas. Almoo mensalmente tambm com meus antigos colegas das arcadas do Largo de So Francisco e uso ainda a minha carteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Meus conhecimentos jurdicos foram teis quando trabalhei com deputados e senadores de ambos os partidos ento existentes e com

    PNN - Pioneiro da atual Meliponicultura

    Isso me deu uma enorme lio. No futuro, sobreviver principalmente a biodiversidade que estiver em Unidades de Conservao! O resto ir desaparecer ou vai se modificando.

    Foi durante o meu agitado curso na Faculdade de Direito que comecei a me interessar de perto pela defesa do Meio Ambiente e pelas outras grandes questes nacionais. Com meus colegas, lutei nos anos 1940 contra a ditadura fascista e unitria de Getulio Vargas, que quase acabou com a Federao Brasileira. Meu pai, junto com os fundadores da USP Armando Salles de Oliveira, Julio Mesquita Filho, Paulo Duarte e tambm o ex-Secretario da Agricultura Luiz Piza Sobrinho, ficaram exilados durante cerca 8 anos, principalmente na Argentina. Eu os visitava l, nas minhas frias universitrias. Em Buenos Aires fiz uma slida amizade com o estudante, depois engenheiro, Jorge Ardig, at o seu falecimento em 2008. Trocvamos ideias sobre um futuro melhor para os nossos pases. Essa amizade pode ter tido alguma influncia na melhora das relaes entre a Argentina e o Brasil, no tempo em que havia divergncias sobre recursos naturais. Comentarei isso mais adiante.

    Um episdio marcante de minha juventude merece ser contado. Tinha uns 18 anos de idade e estava passando as frias em Buenos Aires, tranquilo e satisfeito. Nessa ocasio, meu pai e outros exilados polticos brasileiros, fizeram um manifesto ou carta coletiva impressa, contra o Estado Novo de Getulio Vargas. Como levar essa manifestao ao Brasil? Meu pai e outros resolveram a difcil questo, difcil pelos perigos que isso representaria, mandando a carta-manifesto endernada num conjunto de uma dzia de livros. As capas duras externas desses livros indicavam tratar-se de uma enciclopdia. Quem faria o perigoso transporte? PNN estava de partida para o Brasil e achou natural levar esses livros no navio em que partiu de Buenos Aires rumo a Santos. Quando a nave parou diante desse porto, espera do prtico que a pilotaria at o cais, como fazem todos os navios, tive uma enorme surpresa.

    Junto com o prtico, veio tambm o meu av Paulo de Almeida Nogueira. Ele se aproximou de mim e disse:- jogue fora tudo o que estiver trazendo contra o Governo, pois voc ser revistado quando desembarcar. E agora? Fiquei logo pensando. Se jogasse no mar os livros subversivos, seria considerado um covarde pelos exilados brasileiros, inclusive por meu pai. Por outro lado, como desobedecer ao meu querido av, que se deu difcil tarefa de vir a bordo com o piloto prtico? Se eu fosse preso, ficaria provavelmente alguns anos na priso e ningum ganharia nada com isso. Apesar da presena do meu av, precisava resolver sozinho. Achei, com firmeza, que nesse caso tinha uma misso a cumprir na luta contra o Estado Novo de Getulio. Resolvi cumprir minha misso at o fim e isso foi feito. Meu av nunca soube da enciclopdia que eu levava. A polcia porturia no suspeitou de minha bagagem. Que eu me lembre, ningum soube de minha deciso tomada a bordo do navio, pois ela foi ento secreta e pessoal. Mas tive a satisfao de ter cumprido uma perigosa misso, contra o Estado Novo fascista. Graas ao bom Deus!! Essa foi a primeira misso difcil, entre outras que cumpri ao longo de minha vida.

    Numa dessas frias estava com meu irmo JB e com o amigo Ruy Mesquita, hoje Diretor do Estado, a bordo de um navio de passageiros norte americanos, no rumo de Montevideo. Em certo momento, noite, o comandante avisou os passageiros que perto da rea em que nos encontrvamos, estava sendo travada uma batalha naval, entre britnicos e alemes. No dia seguinte passamos perto do Couraado Graf von Spe em chamas, semiafundado no mar raso, expelindo grossas nuvens de fumaa negra. Aps uma escala em Montevideo, aportamos em Buenos Aires. Cruzadores britnicos tambm chegaram l, desembarcando feridos e muitos outros marinheiros. Nas ruas, esses marinheiros se encontravam muitas vezes com marinheiros alemes que haviam chegado pouco antes, vindos de Montevideo. Vi vrias vezes ambos os grupos se encontrarem nas ruas de Buenos Aires. Quando isso acontecia, alemes e britnicos

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    esse carro foi roubado por um bandido perigoso, que matou uma das suas vtimas em outro assalto a um carro. Dei muita carona aos colegas, sempre amigos e amigas, que compreenderam que eu no estava me exibindo. Mas tratei de ter carros menos vistosos. Nessa poca, eram raros os alunos que tinham automveis. No era como hoje. S possu meu primeiro carro alguns anos depois de casado, na pacata So Paulo de ento, que tinha muitos bondes e nibus. A gente acabava conhecendo outros passageiros e surgiam assim conversas cordiais. Estava escrito em todos os bondes: Veja ilustre passageiro, o belo tipo faceiro, que tem a seu lado; no entanto acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o o rum creosotado. Dizem que o autor desses versos teria sido o poeta Olavo Bilac. Diga-se de passagem que o creosoto venenoso e no deve ser ingerido nem posto sobre a pele. Provavelmente era outro produto com esse mesmo nome.

    Quando me graduei pela segunda vez na USP, em 1964, o professor dr. Ernesto Marcus, Chefe do Departamento de Zoologia e um dos veteranos professores europeus que implementaram nossa Universidade, me convidou para ser um dos seus assistentes. Esse convite me abriu as portas para fazer uma carreira docente na rea das Cincias Naturais, na USP. Trabalhei inicialmente com o saudoso professor Walter Narchi, no campo geral dos invertebrados. Mais tarde fui um dos fundadores do Laboratrio das Abelhas. Depois ajudei a fundar o departamento de Ecologia do Instituto de Biocincias da USP. Subi na carreira universitria atravs de concursos, passando pela Livre Docncia, como norma na USP e nas outras Universidades do Estado de So Paulo. Trata-se de um ttulo de origem alem. Cheguei a professor Titular, e mais tarde fui eleito unanimemente prof. Emrito, pela Congregao do Instituto de Biocincias da USP. um elevado grau no mundo universitrio.

    No campo cultural, fui eleito membro da Academia Paulista de Letras, hoje (2009) presidida pelo ilustre Desembargador Jos

    Renato Nalini. A origem e as carreiras diferentes de cada um dos seus 40 membros, todos dedicados em torno da defesa e do estudo de questes ligadas lngua portuguesa e sua literatura, torna as reunies uma interessante troca semanal de ideias. A defesa do Meio Ambiente bem vista na Academia, como assunto de interesse pblico.

    Curiosamente, como minhas funes em Braslia me tivessem atrasado na carreira na USP, um dos meus antigos alunos do curso bsico, Jos Galizia Tundisi, mais tarde eclogo dos mais ilustres, foi um dos meus examinadores nos concursos para Professor Livre Docente e mais tarde para Professor Titular. Caso provavelmente nico na Federao Brasileira. At hoje o titulo que mais aprecio o de Professor. Aos professores de qualquer grau pertencem as chaves que abrem o caminho para um pas e um mundo melhor e mais desenvolvido. Em 2006 recebi o premio anual Guerreiro da Educao, dado pela CIEE e pelo jornal O Estado de So Paulo. Saudado pelo Paulo Vanzolini e por Ruy Mesquita, foi uma ocasio de muita emoo, dessas que nos fazem pensar nos que se foram e alegres pelas lembranas felizes.

    L pelos anos de 1955-1956, o Governador Jnio Quadros resolveu transformar as terras devolutas do Pontal de Paranapanema, no Estado de So Paulo, numa Reserva Florestal, como se dizia ento. Tive ocasio de voar vrias vezes sobre essa rea. Havia uma oportunidade nica para salvar essa regio, onde a floresta primitiva ainda estava intacta. Contudo, apesar dos principais jornais paulistas (O Estado de So Paulo e a Folha da Manh) da poca terem sido favorveis iniciativa do Governador, a Assembleia Legislativa estava contra e o respeitvel pblico no se interessou pelo assunto. Percebendo essa tragdia j prxima, juntamente com Jos Carlos Reis de Magalhes e Lauro Travassos Filho, comeamos a enviar cartas Assembleia, em nome de entidades (ONGs) ainda no implantadas, pedindo a efetivao da Reserva Florestal. Um dos deputados fez declaraes

    outras pessoas, na formulao de importantes normas do Direito Ambiental. hoje um novo e conceituado ramo do Direito.

    Com Antonio Brandillione, Enio Sandoval Peixoto, Francisco Lanari do Val (mdico), Geraldo Vidigal, Jayme da Silva Telles, Joo Evangelista, Ligia Fagundes Telles, Manoel Elpidio Pereira de Queiroz, Manoel Martins de Figueiredo Ferraz, Naldo Caparica, Paulo Nogueira-Neto, Raif Kurban, Rui lvaro Pereira Leite e com outros antigos colegas, das Arcadas de So Francisco, sob a coordenao de Rui lvaro Pereira Leite almoamos juntos uma vez por ms.

    Em relao aos colegas Bilogos, me encontro com eles, principalmente na sede do Conselho Federal de Biologia, em Braslia do qual fui duas vezes presidente. Hoje o Conselho presidido por Maria do Carmo Brando Teixeira, que conta com uma excelente equipe com Gilda Salatino como Secretaria Executiva. Depois de mim foi dirigido por Evandro Rodrigues Brito, P. Ferrer de Morais, Jorge P. Ferreira, Gilberto Chaves e Noemi Tomita. A sala do Conselho tem o meu nome, o que devo amizade dos colegas.

    Com certa frequncia vou ao Laboratrio das Abelhas da USP em So Paulo, do qual sou fundador e colaborador. O Laboratrio foi chefiado por minha sucessora Vera L. Imperatriz-Fonseca e agora por Isabel Alves dos Santos. Esto l tambm a Astrid A. P. Kleinert, Marilda Cortopassi Laurino, Sergio Dias Hilrio, Mariana Imperatriz Fonseca, Denise A. Alves e outros pesquisadores ou colaboradores. O Instituto de Biocincias da USP, ao qual perteno como professor Emrito, agora dirigido por Wellington Delitti.

    Casei-me em 1944, ainda estudante de Direito, com Lucia Ribeiro do Valle. Tivemos 3 filhos; todos homens, com suas mulheres: Paulo Jr. e Daniela; Luiz Antonio e Paula; Eduardo Manoel e Christina. A todos muito considero e estimo. Tenho 3 netos casados: Paulo e Luciana Rodrigues Nogueira, Luciana e Gabriel Pupo

    Nogueira; Paula e Marco Tlio Forte, alm de 3 netos solteiros: Eduardo, Orlando e Andr. J possuo 5 bisnetos: Gabriel e Marina, Paulo-Henrique, Tereza e Lucia. Tenho em profunda estima eles todos. Fui muito feliz com minha esposa Lucia, que faleceu em 1995. Fomos casados 50 anos. Ela me faz muita falta, mas com o apoio de filhos, noras e netos, sobrinhos e de dedicados amigos, tenho sobrevivido bem, com a graa de Deus. Tambm me ajuda saber que h uma Vida Eterna ao nosso alcance, onde haveremos de nos reencontrar, quando partimos desta nossa vida passageira. Sou profundamente cristo, catlico e com esprito ecumnico.

    Nove anos aps a minha diplomao como Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais, incentivado por Lucia, minha querida esposa, e por meu carismtico amigo Paulo Emilio Vanzolini, grande zologo de renome mundial, resolvi deixar de ser autodidata na Biologia, Ecologia e Comportamento Animal. Corria o ano de 1955. Fiz exame vestibular, com grande receio de ser reprovado, mas entrei em 3 lugar. Tornei-me, assim, aluno no setor de Histria Natural (curso noturno) da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da USP. Sou hoje professor titular emrito (eleito) de Ecologia Geral do Instituto de Biocincias da USP. Ajudei a formar l o Departamento de Ecologia e o Laboratrio das Abelhas. No vou entrar aqui em detalhes sobre minhas atividades como estudante de Histria Natural, mas para mim foi uma poca maravilhosa. Da mesma idade dos Professores e amigo deles e tambm companheiro dos meus novos colegas estudantes, entrei firme nos domnios da Biologia e da Geologia. Recebi at um convite para ser Gelogo da Petrobrs, que no aceitei por ser sobretudo um Bilogo.

    Quero, porm, contar um detalhe que revela algo sobre aqueles tempos. Inicialmente estacionava meu carro longe do Casaro da Alameda Glete, onde eram dados os cursos de Histria Natural. Fazia isso para que os meus jovens colegas no soubessem de meu patrimnio automobilstico, um Ford bem avanado para a poca. Mais tarde

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    Clio Vale, Gustavo Fonseca, Hugo Werneck, Jos Carlos Carvalho (o qual depois foi um bom Ministro do Meio Ambiente), Jos Cludio Junqueira Ribeiro (autor de muitas resolues importantes no Conama), Roberto Messias Franco (meu sucessor na Sema e atuante presidente do Ibama - 2008-2009). Estabeleceram tambm mais tarde a Fundao Biodiversitas, uma entidade conservacionista muito ativa.

    No Nordeste geral, destacou-se o eclogo Jos Vasconcelos Sobrinho. Em Sergipe, Luiz Carlos Rezende organizou bem e chefiou o rgo estadual do Meio Ambiente. No Cear sobressaram-se Dardano de Andrade Lima e A. Renato Lima Arago. Existe l um Conselho de Poltica Ambiental do Estado, no qual o dedicado amigo Antonio Renato Lima Arago representa a Sociedade Civil. Na Serra das Almas, na Chapada de Ibiapaba, h um RPPN de 5.000 hectares, da Associao Caatinga. Esta dirigida por Roberto Macedo, que preside tambm a Federao das Indstrias do Estado do Cear. A Associao Caatinga procura incentivar atividades, como a criao da abelha JANDAIRA, capaz de elevar o nvel de vida das populaes locais. Deve ser ressaltado esse tipo de integrao scio-ambiental.

    No Estado do Amazonas foi constituda uma estrutura ambiental moderna e atuante, pelo ex-secretario Virgilio Viana e presidida pelo ex-ministro Furlan. A Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Mamirau-Amanam, estabelecida pelo saudoso Marcio Ayres, competentemente gerida por Ana Rita Alves, sob a esclarecida presidncia do professor Jos Galizia Tundisi (sou membro do Conselho de Administrao). uma das joias do Estado do Amazonas. Est no mbito do Ministrio da Cincia e Tecnologia. Se houvessem na Amaznia 100 unidades de conservao to ativas como Mamirau, a natureza estaria l bem protegida nas suas reas mais importantes, ao custo de meio bilho de reais por ano. Isso realizvel. Lembro que o programa FAC de desenvolvimento consumir 504 bilhes.

    Tambm na Amaznia se destacam o Museu Goeldi e a Embrapa em Belm do Par, e em Manaus o INPA, com eficientes diretores ambientalistas do porte de Enas Salatti, do professor Warwick E. Kerr e do professor Marcos L. B. Barros. Este dirigiu tambm o Ibama. O presente diretor o professor A. Luiz Val, meu colega no Conselho Administrativo Mamirau. Clara Pandolfo, na Amaznia, merece aplausos por defender a ecologia na Sudam, coisa nem sempre apreciada no passado.

    No incio das atividades ambientalistas, no ps-guerra, Camilo Viana, com grande dificuldade pessoal, conseguiu no Estado do Par difundir atividades educativas e outras visando proteger o Meio Ambiente. De um modo geral, como j disse, o Museu Goeldi o grande pilar dos conhecimentos ambientalistas do Par. Contudo, o Estado tem ao Norte do Rio Amazonas grandes planos e possibilidades de preservao. Ao Sul do Rio Amazonas ainda possui possibilidades de conservao, mas tem tambm imensos problemas. Um plano do Governo do Estado sobre o uso do solo, prevendo nessa regio do Par grandes Unidades de Conservao, foi aprovado tambm pelo Conama, em 2008. Participei dessa reunio.

    No Estado do Acre, Chico Mendes, Marina Silva e outros lderes como Miguel Scarcelo, Carlos Eduardo de Deus, o governador Jorge Viana, conseguiram profundas mudanas na orientao oficial, que se tornou mais ambientalista. Consegui estabelecer at a ARIE (rea de Relevante Interesse Ecolgico) Seringal Nova Esperana. Contudo vejo com preocupao a atual (2008-2009) formao de pequenas pastagens em reas Protegidas de Desenvolvimento Sustentvel. A meu ver necessrio subsidiar, subsidiar mesmo, a guarda das florestas e o bom uso dos recursos florestais. o que faz a Europa com a sua agricultura, para ocupar o territrio dos seus pases, como se sabe.

    No Rio Grande do Sul, Jos Lutzemberg e outros ambientalistas em 1971 fundaram a Agapan,

    imprensa, contra uma das nossas entidades. Preocupados com isso, em 1956 constitumos e registramos devidamente a Associao de Defesa da Flora e da Fauna. Depois ela se transformou na Associao de Defesa do Meio Ambiente - So Paulo, a Adema SP. Apesar da nossa luta, a Assembleia Legislativa no aprovou a Reserva Florestal. Aprendemos tambm com a derrota.

    Mais tarde, em outro Governo, o Secretario da Agricultura e meu amigo, primo de Lucia, Renato Costa Lima, conseguiu com destemor, destemor mesmo, salvar da destruio uma grande floresta vizinha ao Pontal, o Morro do Diabo (nome infeliz). A causa ambientalista obteve, assim, uma vitria, embora parcial.

    Em outros Estados, nessa ocasio, entre 1955 e 1974 tambm surgiram alguns pequenos grupos ambientalistas. Cada um desses grupos caberia dentro de uma KOMBI ou dentro de um micro-nibus. O grupo do Rio de Janeiro tinha ou ainda tem, vivos, a presena (por ordem alfabtica) dos ambientalistas: Adelmar Coimbra Filho, Alceo Magnanini, Anita Gilz, Axel Grael, Burle Max, Carlos Minc, Denise Rambaldi, Evandro Brito e esposa, Fernanda Colagrossi, Fernando Chacel, Haroldo Mattos de Lemos, Haroldo Strang, Ibsen Gusmo Cmara (Almirante), A. Inag, Israel Klabin, Jairo Costa, Jos Augusto de Pdua, Jos Candido de Melo Carvalho, Jos Frejat, Jos Luiz Belart (Almirante), Jos Santa Rita, Lucia Chayb, Luiz Emydio de Melo Filho, Luiz Hermany, Luiz Simes Lopes, Maria Teresa Gouveia, Mauricio Lobo, Modesto da Silveira, Pedro Martinelli, Ren Capriles, Sergio Anibal, Wanderbuild Duarte de

    Barros, Yara Schaeffer-Novelli, Yara Verocai e depois muitos, muitos outros.

    Muitas dessas pessoas constituram em 1958 a Fundao Brasileira para a Conservao da Natureza, da qual tambm fui fundador. Mais tarde, Yara Verocai da Feema teve papel decisivo na redao e aprovao da Resoluo do Conama que estabeleceu os EIA-RIMA, no licenciamento ambiental. Anita Gilz chefiou com grande competncia o ativo grupo que a Sema mantinha no Rio de Janeiro. Isso nos permitiu criar l vrias unidades de conservao, como a APA de Cairuu. Maria Teresa Gouveia e outros colaboradores tambm trabalharam com Anita Gilz. No Estado do Rio, aps um perodo difcil com Brizola, est havendo um renascimento ambiental, com o estabelecimento de unidades de conservao na Serra do Mar situados entre as unidades dos Parques da Bocaina, Ilha Grande, Cairuu, trs Picos e Desengano. Saliento a criao do Parque de Cunhambebe (38.000 hectares), descrito em artigo de Andr Ilha na importante revista ECO 21, em 2008. Ele, Carlos Minc e outros ambientalistas, alguns j aqui citados, fizeram um trabalho notvel no Estado Fluminense. Criar Unidades de Conservao uma meta prioritria. Sergio Anbal representou firme, sempre com boa viso das questes, a querida e pioneira FBCN (Fundao Brasileira para Conservao da Natureza).

    Em Minas Gerais, entre os mais destacados ambientalistas estavam ngelo Machado,

    PNN com sua me Regina Coutinho Nogueira numa reunio

    PNN e sua noiva, Lucia Ribeiro do Valle, na fazenda So Quirino, em Campinas-SP

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    Distritos Industriais a ter um controle srio da poluio. Tambm nesse Estado existe um forte movimento ambientalista (Gamb) liderado por Renato Cunha. H l uma boa organizao ambiental estadual. No Conama, Durval Olivieri, representando o Estado da Bahia, fez uma srie de propostas interessantes.

    Nestas extensas apresentaes, no menciono os nomes das pessoas aqui citadas por ordem de importncia, pois cada uma teve papis importantes. Preferi a antiga e segura ordem alfabtica.

    Em So Paulo, os ambientalistas que inicialmente (antes ou nos anos de 1970) dos quais me recordo foram: Adriana Mattoso, Adriano Murguel Branco, Antonio Brito da Cunha, Antonio Carlos Diegues, Antonio Philippi Jr., Araqum Alcntara, Aristides de Almeida Rocha, Arlindo Philippi Jr, Astrid A. P. Kleinert, Augusto Gerassi Neto, Augusto Miranda, Aziz Ab Saber, Beruja Correa de Souza, Cacilda Lanuza G. Silveira, Camal Rameh, Carlos A. Joly, Carlos Pedro Jens, Carlos Sanseverino, Clayton Lino, Cristina Adams, Crodovaldo Pavan, Ecojureia, Edis Milar, Eduardo Jorge (secretrio), Eduardo Khum, Elizabeth Hffling, Emilio Miguel Abel (Estado), Ernesto Zwarg, Eurico Cabral de Oliveira, Fabio Feldmann, Fausto Pires, Fernando Rei, Fernando Reinach, Ferno Bracher. Ferno Lara Mesquita, Flavio Fava de Morais (Folha de So Paulo), Francisco T. van Acker, Franco Montoro (senador e governador), Frederico Hoene, Fredimar Correa, Galdino I. Souza-Neto, Gilberto Kassab, Harri Lorenzi, Helena Carrascosa von Glen, Hermann von Ihering, Hermes Moreira de Souza, Hermgenes Leito, Jacques Marcovich, Joo C. Baslio, Joo Paulo Capobianco, Jorge Wilheim, Jos Carlos Boliger Nogueira, Jos Carlos Reis de Magalhes, Jos de Anchieta (Padre), Jos Geraldo de Jacobina Rabello, Jos Goldemberg, Jos Luiz Timoni, Jos Pedro de Oliveira Costa, Jos Reis, Jos Serra, Kronca, Lauro Travassos Filho, Lindolfo Guimares, Luiz Edmundo Magalhes, Luiz Marigo, Luiz Roberto Tommasi, Mrcia Hirota, Maria Garcia, Maria Lucia Bellenzani, Marilda Cortopassi-

    Laurino, Mario Autuori, Mario Mantovani, Mario Mazzei Guimares, Mauro Victor, Mercia Diniz, Moyses Khulman, Nelson Nefusi, Noemi Tomita, Olavo Egydio Setbal (ex-prefeito de So Paulo), Otavio Okano, Paulo Affonso Leme Machado, Paulo Bastos Cruz, Paulo Duarte, Paulo Egidio Martins, Paulo Emilio Vanzolini, Paulo Reis de Magalhes, Pedro Jacobi, Pedro Jens, Randau Marques, Randolfo Marques Lobato, Regis Guillemont, Renato Costa Lima, Renato della Togna, Ricardo Montoro, Roberto Klabin, Roberto Melo Alvarenga, Rodrigo Lara Mesquita, Rosa Kliass, Rosely A. Sanches, Rubens Born, Samuel Murguel Branco, Schenckel, Sergio de Almeida Rodrigues, Silvana Santos, Silvia Czapski, Sonia Fonseca, Stela Goldenstein, Sylvia Mc Dowell, Tsugui Tomioca Nilson, Vera Bononi, Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, Waldemar Paioli, Walter Lazzarini Filho, Wania Duleba, Werner Zulauf.

    preciso lembrar tambm que essa velha guarda bandeirante foi muito reforada nos anos 1980 ou depois por ambientalistas de grande valor, como o secretrio Xico Graziano, Ana Lucia Faria, Antonia Pereira de Vio, Antonio A. Faria, Antonio Gerassi, Adema-SP, Bench-Marqueting Ambiental, Boni (Jos Bonifcio) Coutinho Nogueira Filho, Carlos Bocuhy, Carlos Nobre, Carlos Sampiero, Celso Monteiro de Carvalho, Cibele da Jureia, Cludio Alonso, Cludio Lembo, Cludio Pdua, Cleusa de Aguiar, Ciro Porto, Daniel Turia, Daniela M. Coutinho, Eduardo Jorge, Eduardo Khum, Elizabeth (Bety) Hffling, Evaristo Eduardo de Miranda, Fabio vila, Fabio Dib, Fabio Olmos, Faraone de Americana, Felipe Gomes, Fernanda Bandeira de Mello, Fernando de Barros, Fernando Cardoso Reis, Fernando Reinach, Fiesp, Flavia W. Frangetto, Germano Seabra Jr, Heitor Jacques Lamac, Helosa Oliveira, Isabel Alves dos Santos, Ivan Sazima, Joo Baggio, Joo Winter, Jos Amaral Wagner Neto, Jos de vila, Jos Eli da Veiga, Jos Renato Nalini, Jos Roberto Rodrigues, Laura Tetti, L. Visoto, Llia Marino, Letcia Brando, Liana John, Liege Petroni, Lucia Mendona, Luciano Pires Castanho, Marcos Egydio Martins, Manoel Joaquim Ribeiro do Valle,

    que logo cresceu e fez intensa campanha para defender o meio ambiente e propagar uma ideologia verde. Tambm no RS, quero lembrar o professor Augusto Carneiro, Cludio de Arajo (Sideral), Claudio Langoni, Fernando Quadrado, Harry Amorim Costa (Taim), Hilda e Patrcia Zimermann, Luiza Dias, Magda e Sofia Renner e Giselda Castro (Movimento Democrtico Feminino), Jair Soares (secretrio e governador), Jair Sarmento, Nelson Jorge (Sudesul), Petry Leal, Thadeu Santos, Tuiskon Dick (UFRS), William Belton (aves) e outros, nos tempos da aurora ambientalista. Mais recentemente Lisiane Becker (Mira Serra). Tambm no Rio Grande do Sul, houve um grande movimento de esquerda e ambientalista, que Augusto Carneiro relatou no seu importante livro (2002) sobre a Histria local do Meio Ambiente. Existiram ento alas de esquerda que discutiam entre si, mas de modo to discreto, que na ocasio nem as percebi como sendo diferentes. A grande figura do Jos Lutzemberg respeitada por todos.

    Em Santa Catarina, em Florianpolis, na Universidade Federal o professor Joo de Deus Medeiros e seus colegas lutaram pelas causas ambientais. Nas serras centrais, na regio de Atalanta, a famlia Shaffer e seus amigos fundaram e dirigem a Premavi, produtora em larga escala de mudas de arvores nativas. Defendem a Natureza. No litoral, Jos Truda Palazo Jr. e outros ambientalistas conseguiram estabelecer a valiosa APA da Baleia Franca. Na regio de Blumenau o professor Lauro Bacca e seus companheiros trabalharam muito na criao do Parque Nacional de Itaja e em outras atividades ambientalistas.

    No Paran, no inicio das atividades do Conama, Ccero Bley Superintendente da Surhema e seus tcnicos, e tambm Denis Schwartz Filho, Roberto Lange (que morreu num reconhecimento ambiental no Rio Iguau) e muitos outros se destacaram na defesa dos recursos naturais. Tambm o Governo do Estado se preocupa com a defesa da araucria. Participei de uma reunio sobre o assunto, convocado pela Federao das

    Indstrias. Luciano e Raquel Pizzatto publicaram o benvindo Dicionrio Socioambiental Brasileiro.

    No Brasil Central, na regio da Chapada dos Veadeiros, atravs da ONG OCA e por uma ao ambiental importante, Paulo Maluhy e Lamberto Wiss conseguiram salvar grandes reas de cerrados juntamente com Patrcia Pinto, Miguel von Behr e outras pessoas. Tambm o incansvel conselheiro Clarismino Luiz Pereira Jr., o empresrio Malzoni, o prof. Rizzo e o notvel jornalista e ex-secretario do Meio Ambiente da Sematec do D.F., Mary Baiochi, Washington Novais e outros, cada um sua maneira, lutaram e lutam para salvar a Natureza nessa regio e na Federao Brasileira.

    Em Mato Grosso contei com a colaborao intensa de Gabriel Muller e pessoas da sua famlia, Guilherme de Abreu Lima, Paulo Rezende. O Estado chegou a ter uma boa orientao em relao ao Meio Ambiente florestal, coisa que depois mudou consideravelmente, mas que parece se recuperar. Quanto grande Estao Ecolgica do Iep, cuja rea foi generosamente doada Sema pela Assembleia Legislativa e pelo Governo do Estado, ela foi confiscada rea ambiental pela Funai, quase completamente, de modo inusitado e injusto, anulando seus limites num decreto-surpresa, como est relatado neste livro.

    Na Bahia, Antonio Carlos Magalhes foi um governador de carter forte e centralizador. Ele, porm, compreendia a importncia do Meio Ambiente. Certa vez resolveu fechar uma fbrica, produtora de pigmento negro em p, que fazia muita poluio junto Salvador. Telefonou-me indagando se podia fechar a fbrica. Expliquei que nesse caso, segundo a legislao, isso no era possvel, mas que ele poderia determinar uma reduo na produo da fbrica. No teve dvidas. Reduziu muito a produo dessa empresa altamente poluidora, que achou melhor cessar as suas atividades. Na Bahia o polo industrial de Camaari foi, na Federao Brasileira, um dos primeiros

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    Marcio Ayres, Marclio Caron, Marcos Barroso Barros, Marcos de S Correa, Marlia Ceclia Brito, Maria do Carmo Brando Teixeira, Maria Dolce Ricas, Maria Messias, Maria Perpetua Silva do Nascimento, Maria Thereza Jorge Pdua, Marina Silva, Mario Freming, Mario Mantovani, Mario Moraes, Mary Baiocchi, Mauro Reis, Mercia Diniz, Michel Golding, Miguel Osrio de Almeida, Miguel S. Milano, Miguel Scarcelo, Miguel von Behr, Milton Cabral, Miriam Prochnow, Moacyr B. Arruda, Nadirene G. Ikawa, Nairio Simes, Nelson Papavero, Neylor Calazans, Nicolau von Behr, Nilo Diniz, Nilson Teixeira Mendes, Osny Duarte Pereira, Pablo Torango, Patrcia Costa Gomes, Paulo Artaxo, Paulo Bastos Cruz, Paulo Dutra, Paulo Egler, Paulo Emilio Vanzolini, Paulo Finotti, Paulo Heringer, Paulo Luiz Tavares, Paulo Maluhy, Paulo Menezes, Paulo Melo Barreto, Paulo Nogueira-Neto, Paulo Rezende, Pedro Eymar de Mello, Pedro Gondim, Pedro Ferrer de Morais, Pedro Leito, Pedro Ubiratan Azevedo, Phil Fearnside, Regina Gualda, Regina Bezerra, Renato Lima Arago, Renato Barbosa, Ren e Rud Capriles, Ricardo Braga, Ricardo P. Rosario, Ricardo Soavinski, Rosa Lemos de S, Roberto Andrade, Roberto Cavalcanti, Roberto Lange, Rogrio Marinho, Roberto Klabin, Roberto Messias Franco, Roberto Monteiro, Roberto Smeraldi, Rodrigo Agostinho, Rogrio Marinho, Rmulo Melo Barreto, Rosalvo de Oliveira Jr, Rubens Ricupero, Samira Crespo, Sebastio Azevedo, Sergio Besserman Vianna, Sueli So Martinho, Sergio Amaral, Severino Oliveira, Silvestre Gorgulho, Tnia Munhoz, Thereza Urban, Vigold Shaffer, Virgilio Viana, Warwick Estevam

    Kerr, Wanderbuilt Duarte de Barros, Wilson Lopes Machado, Wilson Mantovani (WWF-BR), Zlia Azevedo Campos.

    Quanto ao amigo Joo Baptista de Andrade Mons, devo dizer que sem o seu apoio pessoal amplo e construtivo, no teria podido manter minhas atividades federais at hoje (2009). Houve tambm um decisivo apoio de Henrique Brando Cavalcanti, Jos Pedro de Oliveira Costa, Antonio Renato Arago, Regina Gualda, Rogrio Marinho, Zlia Azevedo Campos (in memoriam) e Ana Maria Cruz. Nos ltimos anos tambm Nilo Diniz merece ateno especial por colocar em marcha efetiva o Conama, a grande voz ambiental, assim como a secretaria executiva e depois ministra Isabela Monica Teixeira, que trabalhou comigo na Sema, sempre com entusiasmo e eficincia ambientais. Ainda no que se refere histria do Conama, saliento a colaborao prestada ao menos inicialmente por parte de Paulo Affonso Leme Machado e depois tambm por Antonio Herman Benjamim, Clarismino Luiz Pereira Jr, Claudio Alonso, Durval Olivieri, Francisco Iglesias, Francisco Soares, Gustavo Trindade, Jos Claudio Junqueira Ribeiro, Roberto Monteiro, Rodrigo Agostinho, Samira Crespo, entre outros.

    Quanto aos que ajudaram a fazer este livro, em outra parte h um agradecimento igualmente especial.

    Estas listas de nomes, todos importantes, incluem geralmente pessoas que trabalharam comigo. Contudo, alm desses ambientalistas h muitos outros que tambm lutaram pelo Meio Ambiente, em diversas circunstncias. Veja por exemplo, as centenas de nomes constantes no livro Biodiversidade Brasileira publicado pelo Ministrio do Meio Ambiente. Veja igualmente o livro Galeria dos Ecologistas, de Joo Toledo Cabral (1997), tambm com muitos outros nomes. Por outro lado, neste livro h numerosos nomes de pessoas no citadas em outras publicaes. Existem hoje milhares de ambientalistas, pelo Brasil afora. Assim, as

    PNN e seu co, chamado Pirata

    Marcos de S Correa, Maria Ins Pagani, Mariana Imperatriz Fonseca, Marilda B. Gianpietro, Marco Antonio Barbieri, Mauricio Truffani, Marilene Giraldelli, Mary Lombas, Mauro Wilken, Mnica Montoro, Neusa Marcondes, Marcelo B. Viana, Nelson Reis, Parque Tiso (conselheiros), Paulo Magalhes Bressan, Paulo Saldiva, Paulo Skaf, Pedro Passos, Patrcia C. Gomes, Pedro Stech, Pedro Ubiratan Azevedo, Renato Ribeiro do Valle, Rodrigo Agostinho, Rodrigo Victor, Rui Assis Brasil, Sandra Steinmetz, Svio de Tarso, Suzana Pdua, Toni (Antonio Carlos) Coutinho Nogueira, Volf Stein Baum e Walter Wagner Neto.

    A Fiesp sob a Presidncia atuante de Paulo Skaf, tem um conselho ambiental de alto gabarito, voltado para o desenvolvimento sustentvel. dirigido por Walter Lazzarini. Este foi presidente da Cetesb de abril de 1991 a abril de 1993. Durante esse tempo fez um notvel trabalho, equacionando os efluentes de 1244 empresas que poluam o Rio Tiet. Houve uma reduo substancial da carga poluidora. Fez o primeiro concurso pblico para contratar funcionrios da Cetesb, admitindo 724 pessoas que deram grande impulso aos trabalhos da entidade. Esta uma das maiores e mais atuantes organizaes do mundo no controle poluio.

    Na rea federal, tambm antes ou por volta de 1974 e mais tarde, seguem-se em ordem alfabtica, os nomes de Abema, Adilson (auditor), Adriana Ramos, Alceo Magnanini, Alfredo Sirkis, Alvamar Queiroz, Aloysio Chaves, Aloysio Costa Jr., Ana Alexandre Moura, Analzita Muller, Ana Maria Cruz, Ana Maria Giulietti, Ana Rita Alves, lvaro de Souza, ngelo Rizzo, Andria Vulcano, Andr Trigueiro, Antonio Gorgonio, Antonio Hermann Benjamim, Antonio Augusto de Lima, Antonio Inag, Arnaldo Jardim, Archer (Major), Aspsia Camargo, Augusto Ruschi, Aureliano Chaves (vice-presidente), Bautista Vidal, Brulio Souza Dias, Camilo Viana, Carlos Alberto Xavier, Carlos Celso Amaral e Silva, Carlos Edgard de Deus, Carlos Minc, Carlos M. Scaramuzza, Carlos Nobre, Celeste B. Cunha, Celeste Brito Marques, Celeste Guimares, Celso Shenkel, Chico Mendes,

    Cristina Chiodi, Ccero Bley, Clarismino Luiz Pereira Jr, Clara Pandolfo, Claudia Shaalmann, Claudio Alonso, Claudio R. B. Langoni, Claudio Magretti, Claudio Padua, Clovis Nova da Costa (General), Cesar Victor, Cludio Maretti, Julian Czapski, Dalgas Frish, Daniel Serique, David Cavalcanti, David C. Oren, Denise Hamu, Denis Schwarz Filho, Dominique Louette, Durval Olivieri, Edgard Kleber, Eduardo Souza Martins, Eduardo Viola, Elisa Cavalcanti, Elizabeth C. P. Costa, Enas Salatti, Eremita Oliveira da Silva, Erika Kokay, Estanislau Monteiro de Oliveira, Eugenio Bruck, Eurico Borba, Evandro R. Brito, Evaristo Eduardo de Miranda, Fantilde Casenave, Fernanda Colagrossi, Fernando de Barros, Fernando Csar Mesquita, Fernando Gabeira, Fernando Henrique Cardoso (presidente), Francisco Chagas, Francisco Iglesias, Francisco Pessoa, Francisco Soares, Frazo (brigadeiro), Fredimar Correa, Garo Batmanian, Gilberto Gil, Guilherme Leal, Gumercindo Rodrigues, Gustavo Fonseca, Gustavo Souto Maior, Gustavo Trindade, Harlem Incio dos Santos, Harri Amorim Costa, Henrique Brando Cavalcanti, Heitor Gorgulino, Ibsen Gusmo Cmara (almirante), Isabela Monica Teixeira, Ieda Paixo, Israel Klabin, Jair Sarmento da Silva, Joo Baptista de Andrade Mons, Joo B. da Cruz, Joo Carlos de Carli, Joo de Deus, Joo Luiz Ferreira, Joo Pedro Cappas e Sousa (luso-brasileiro), Jorge Francisconi, Jorge Viana, Jos Candido de Melo Carvalho, Jos Claudio Junqueira Ribeiro, Jos Galizia Tundisi, Jos Israel Vargas, Jos Lazaro de Araujo Filho, Jos L. Cato, Jos Luiz Belart (almirante), Jos Luiz de Castro Aguiar, Jos Pedro de Oliveira Costa, Jos Roberto Fonseca, Jos Roberto Marinho, Jos Vasconcelos Sobrinho, Judith Corteso, Julio Gouchovski, Lamberto Wiss, Lauro Bacca, Leopoldo Magno Coutinho, Leopoldo Brando, Letcia Soares de Camargo, Lionel Gonalves, Lisiane Becker, Lourdinha Davies de Freitas, Lucia Chayb, Lucrecia dos Santos, Luiz A. Salomo, Luiz Gylvan Meira Filho, Luiz Incio Lula da Silva (presidente), Luiz C. Joels, Luiz Carlos Ferreira, Luiz Carlos Rezende, Luiza Menezes, Luiz Paulo Tavares, Luiz Paulo Pinto, Luizalice Labarrere, Mrcia Rodrigues, Marc Dourogeanni, Marcelo Furtado, Mrcia Sobral,

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    Essa iniciativa, infelizmente, teve vida curta, pois quando o ministro saiu do cargo, o novo tinha outras ideias. Voltei a So Paulo.

    Toda a organizao da rede de ao ambiental existente na Federao Brasileira, comeou como resultado da Conferncia de Estocolmo, em 1972, qual no compareci. O Brasil enviou uma delegao, chefiada pelo ministro do Interior, General Costa Cavalcante e Secretariada por Henrique Brando Cavalcanti. Naquela poca, apenas 16 pases possuam uma entidade governamental central de Meio Ambiente. A delegao foi para l com grandes restries quanto defesa ambiental, mas o secretrio Henrique Brando Cavalcanti conseguiu reverter situao. No final o Brasil assinou a Declarao de Estocolmo sem ressalvas. Henrique, diga-se de passagem, mais tarde foi ministro do Meio Ambiente, com grande satisfao de nossa parte.

    No seu retorno ao Brasil, vindo de Estocolmo, Henrique conseguiu obter do Governo um Decreto criando a Secretaria Especial do Meio Ambiente. Em fins de 1973 ele me convidou a ir a Braslia e me deu para ler o Decreto recm publicado, criando a nova Secretaria. Pediu a minha opinio. Eu a dei com muita franqueza. O Decreto estava insuficiente, mas servia bem para um inicio. Ento eu no sabia isso, mas o Decreto foi o Projeto que Henrique apresentou ao ministro Leito de Abreu, da Casa Civil, com uma redao que pudesse ser aprovada, naquela poca ainda difcil para o Meio Ambiente. Com grande surpresa para mim, quando terminei de falar o Henrique me perguntou: - Mas voc aceitaria ser o secretrio do Meio Ambiente? Entrevi imediatamente a fascinante possibilidade de fazer algo de muito novo e muito positivo. Era um imenso e maravilhoso desafio, desses que a gente recebe s uma vez na vida. Respondi que concordaria, se Lucia minha esposa tambm estivesse de acordo, pois isso iria modificar a sua pacata vida paulistana, muito ligada sua famlia. Consultada, Lucia imediatamente concordou. Ela sempre me apoiou e colaborou

    comigo, nos 50 anos de nossa vida conjugal, antes de falecer em 1995. Os anos que passamos em Braslia foram dos melhores de nossas vidas. noite eu estudava ou escrevia no nosso apartamento (316-C) funcional. Ou jantvamos em alguma embaixada, pois Lucia era considerada como campe de bridge e ns falvamos ingls e francs. Fizemos bons amigos. Nos EUA nos hospedvamos em casa de Beatrice Mayerson e Lemoine bem como me lembro dos jantares de Tom Lovejoy numa antiga estalagem (botequim) de 200 anos, num bosque nativo que tem perus selvagens (eu os vi).

    H alguns meses atrs, o Henrique me contou algo que eu ainda no sabia, mas que indica a sua confiana na minha atuao. Ele me disse que o convite que me fez no foi previamente submetido ao ministro do Interior, General Costa Cavalcanti. Explicou depois ao ministro a sua escolha e no houve problemas. Comecei minhas atividades na Secretaria Especial do Meio Ambiente no dia 14 de janeiro de 1974, em Braslia, sempre com permisso da USP para o meu afastamento anual, coisa que se repetiu durante 14 anos. Sempre mantive contato com meus colegas da USP, que muito ajudaram na defesa da Estao Ecolgica da Jureia. Tambm tive a boa vontade de Carlos Telles Correa, neto do famoso Botnico Pio Correa e grande proprietrio local de florestas. At hoje ele luta nessa regio, agora para explorar racionalmente o palmito. Grandes re-organizadores da Jureia

    Trs geraes; Paulo Nogueira-Neto, Paulo Freitas Nogueira e Paulo Nogueira Jr.

    Lucia Ribeiro do Valle Nogueira

    listagens que apresento aqui, so certamente incompletas. Procurei reunir os ambientalistas que conheo melhor, em grupos segundo principalmente pocas e reas de ao. Contudo muitos atuaram sucessivamente em vrios lugares e tempos.

    Tambm em ordem alfabtica, entre os grandes comunicadores ambientalistas brasileiros esto Andr Trigueiro, Augusto Ruschi, Dalgas Frish, a Eco 21, a EPTV (Campinas, Ribeiro Preto e Sul de Minas), o Estado de So Paulo, a Folha de So Paulo, a Folha do Meio Ambiente, a Pesquisa (Fapesp), o Marcos S Correa, as Organizaes Globo, a Paula Saldanha, a Rede Vida, a TV-Cultura, a Terra da Gente, a Silvia Czapski e a mdia em geral.

    Cito aqui os ambientalistas de outras terras: Al Gore (EUA), alm de Antony Rilands (Reino Unido), Beatrice Berle Mayerson (EUA), Bob Schneirla (Banco Mundial), Celso Schenckel (Unesco), Chris Diewald (Banco Mundial) os membros da Comisso Brundtland (Naes Unidas), Claude Martin (WWF), o Duque de Edinburgo, Gerardo Budowski (IUCN), Ghillean Prance (Reino Unido), Ignacy Sachs (Frana), Marita Kock-Wesser (Alemanha - BR), Paul Martin (WWF), Robert Sayre (EUA), Ronald A. Foresta (EUA), Russel Mittermeier (EUA), Tom Lovejoy (EUA), Warren Dean, WWF (Internacional) e vrias ONGs, como os Amigos da Terra, o Bird Life, o Conservation International, o Greenpeace, o TNC, e outros. Alguns nomes esto listados entre os brasileiros, por residirem aqui.

    Quero tambm lembrar os nomes dos funcionrios iniciais (1974) da Secretaria Especial do Meio Ambiente: Zlia Azevedo Campos, Regina Gualda, Hidely Rizzo, Clovis Nova da Costa (general), Paulo Dutra, Carlos Celso do Amaral e Silva. Mais tarde, entre os muitos e valorosos funcionrios da Sema, do Ibama, do Ministrio do Meio Ambiente e ambientalistas, das ONGs, tive a muito importante e grande ajuda de Joo Baptista de Andrade Mons, da Isabela Monica Teixeira

    (ministra), Maria Ceclia Brito e outras pessoas citadas neste livro.

    Um fato que parece ter sido esquecido, que a Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente teve um primeiro anteprojeto preparado, por iniciativa prpria, pelos funcionrios do Minter (Ministrio do Interior) Belizrio Nunes, Aloysio Nunes e Maria Laura Oliveira, sob a direo do primeiro. Mais adiante, voltarei ao assunto.

    Menciono tambm com destaque os ministros (na ordem cronolgica) com os quais trabalhei: Costa Cavalcanti, Rangel Reis, Mario Andreazza, Joo Alves Filho, Flavio Peixoto da Silveira, Denis Schwartz, Rubens Ricupero e Sergio Amaral, Henrique B. Cavalcanti, Jos Sarney Filho, Jos Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc e Isabela Teixeira, alm dos presidentes Emilio Garrastazu Mdici (dois meses), Ernesto Geisel, Joo Batista Figueiredo, Jos Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Incio Lula da Silva. Tambm no Estado de So Paulo trabalhei com os secretrios Renato Costa Lima, Jos Bonifacio Coutinho Nogueira, Fabio Feldemann, Jos Goldemberg, Pedro Ubirat Azevedo e Xico Graziano. Todos atuaram ou ainda atuam com destaque, no setor ambiental do Estado e da Federao Brasileira. Tanto na rea Federal, como na Estadual e na Municipal, nunca participei de poltica partidria, embora a respeite como estrutura democrtica importante.

    Depois de exercer meu cargo na Sema, fui durante cerca de dois anos (1986 a 1988) secretrio do Meio Ambiente, Cincia e Tecnologia (Sematec) do Distrito Federal, no Governo de Jos Aparecido de Oliveira. Trabalharam comigo, entre outros, Benjamim Sicsu, Luzialice Guimares Laberrere, Vnia Ferreira Campos, Walmira Mecenas. Sou tambm Cidado Honorrio de Braslia, por indicao do deputado Antonio Jos Cafu e deciso da Assembleia Distrital. Depois da Sematec trabalhei alguns meses, com o ministro Jos Aparecido, no Ministrio da Cultura, onde criamos um rgo de assessoria ambiental, para atividades conjuntas.

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    companheiro de mocidade e at tempos recentes, Olavo Egidio Setbal, (in memoriam) pelos muitos anos de amizade e ajuda ao longo da nossa vida. At mesmo em Braslia, quando ele foi ministro do Exterior, ns e nossas esposas nos encontrvamos freqentemente, como fazamos na turma do Alarga-a-Rua, de So Paulo.

    Grande parte de minhas atividades diz respeito tambm ao estudo do comportamento, da gentica e da criao das abelhas indgenas sem ferro, as Meliponini. Contudo, no houve espao fsico para que esses trabalhos fossem aqui relatados. Eles constituiro um outro livro, j praticamente redigido, o Dicionrio da Meliponicultura e das Abelhas Indgenas Sem Ferro. Na Ecologia, o meu trabalho com essas abelhas foi de investigao cientfica. Para se ter uma ideia da sua importncia desses insetos no mundo real, deve ser destacado que muitas das rvores e arbustos dos grandes biomas da Federao Brasileira so polinizados (fertilizados) por essas abelhas.

    Na Federao Brasileira h centenas, ou talvez milhares de ONGs. Geralmente so pequenas entidades, de mbito local, que tratam de problemas que pedem solues urgentes. No decorrer deste livro vou me referir a muitas dessas teis e valorosas entidades. Aqui, porm, vou tratar de grandes ONGs, das quais fiz ou fao parte. Assim, fundei a associao para a Defesa da Flora e de Fauna, com Jos Carlos Reis Magalhes e Lauro Travassos Filho, em 1956. Depois o nome mudou para Associao para a Defesa do Meio Ambiente, a mais antiga entidade civil ambientalista brasileira em existncia. Represento a Presidncia da Repblica no Conama Conselho Nacional do Meio Ambiente. Sou presidente, por eleio, da Cmara Tcnica das Unidades de Conservao, no Conama do qual fui um dos seus fundadores. Na atual crise aguda, que abala o Cdigo Florestal de 1965 e seus complementos, sou favorvel ao dialogo para resolver os graves problemas existentes. Dialogo significa discutir, trocar idias, aceitar ou negar propostas. Este

    livro mostra, claramente, o poder construtivo do dialogo. Infelizmente, porm, nem todos entendem assim. Fui um dos fundadores da SOS Mata Atlntica, durante o Governo (SP) Montoro. Depois se tornou uma das maiores ONGS da Federao Brasileira. Fui durante anos seu Vice Presidente, at junho de 2010. Deixei esse cargo quando a entidade tomou outro rumo. No optaram pelo dialogo, com os ruralistas. Evidentemente, o dialogo que sugeri seria dentro dos princpios constitucionais do Artigo 225 da Constituio Federal, que afirma: todos tem Direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado. A meu ver, se o dialogo falhar, resta a possibilidade de promover novas campanhas do tipo ficha limpa, tambm necessrias (em menor escala) proteo ambiental. Resta, ainda, o recurso de promover aes na Justia, em casos concretos, visando o cumprimento da Constituio Federal.

    Em So Paulo, o secretrio Xico Graziano, o secretrio Adjunto Pedro Ubirat Azevedo e o diretor executivo da Fundao Florestal Jos Amaral Wagner Neto fizeram uma reorganizao muito importante no que se refere s Unidades de Conservao e em outros assuntos. Meu mandato como Presidente da Fundao Florestal terminou mas continuo colaborando.

    Na rea Federal o WWF-Brasil tem um excelente corpo tcnico, visando principalmente ajudar as Unidades de Conservao. Jos Roberto Marinho, Mario Freming, lvaro de Souza, Garo Batmamien. Denise Hamu, Cludio Pdua, Carlos Scaramuza, Rosa Lemos de S, Magretti, Elizabeth Costa, e muitos outros deram um status elevado WWF-Brasil, aqui e no mundo. Sou o Presidente honorrio. Tambm perteno ao Conselho Ambiental da Fiesp, bastante atuante, secretariado por Walter Lazzarini.

    Tambm sou membro honorrio atuante do Cosema (Conselho Estadual do Meio Ambiente SP) e do Conselho Superior do Parque Zoolgico de So Paulo. Como podem ver, continuo trabalhando em defesa do Meio Ambiente.

    foram Jos Amaral Wagner-Neto (diretor executivo, Fundao Florestal) e Jos Pedro de Oliveira Costa ambos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SP), alem de antigos moradores locais, ONGs ambientalistas e funcionrios estaduais de muitos mritos e conhecimentos.

    Citei aqui muitos nomes ligados poca dos anos 1970 ou anteriores. Outros nomes, muitos outros nomes, igualmente importantes, que trabalharam em seguida, para firmar o ambientalismo moderno na Federao Brasileira, esto tambm citados neste livro. O ano de 1974 foi um marco na histria do nosso ambientalismo, pois indica o incio das atividades da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Federal), que levou, mais tarde, criao do Ibama e por fim, criao do Ministrio do Meio Ambiente.

    Uma das minhas atividades, desde 1993, diz respeito proteo vida de seringueiros e castanheiros da regio de Xapuri-Brasileia-Epitaciolndia e outras reas prximas no Estado do Acre. Consegui a criao, por Decreto Federal, da rea de Relevante Interesse Ecolgico (Arie) Seringal Nova Esperana, com o objetivo de proteger as plantas necessrias s atividades de castanheiros e seringueiros. Para ajudar l pessoas necessitadas, em 2005 fundei uma ONG, a Ao Social e Ambiental So Quirino (Asasqui). Essa entidade auxilia dezenas de famlias. Quase todos os dias converso com a minha secretria Alessandra Gomes Muniz e com nossos assistidos, sobre a ajuda possvel para cada caso. Estamos a mais de 3.000 km de distncia do Acre, mas diariamente o telefone nos coloca l. Raramente algum de fora nos auxilia e nenhum recurso recebemos dos Governos. Contudo uma ajuda nos foi prestada por algumas pessoas no Acre, bem como pelo mdico e sobrinho Manoel Joaquim Ribeiro do Valle, pelo mdico Jorge Ortiz, pela Santa Casa de Misericrdia de So Paulo e durante certo perodo pela Universidade So Marcos. A Maria Jeane Neves do Nascimento recebeu muita ateno. Ela esteve sob minha guarda legal durante parte

    da sua infncia, quando Lucia (minha esposa) e eu a recebemos em nossa casa paulistana, vinda das florestas do Acre, para um tratamento mdico. Morou conosco durante anos. Agora j est na Faculdade Anhanguera de Psicologia. Reside em Campinas e conta com meu apoio. Tenho casas e um meliponrio experimental em Xapuri, onde so feitas pesquisas com abelhas indgenas sem ferro (Meliponini). A ao da Asasqui no Acre consiste principalmente em providenciar meios s pessoas enfermas para que elas possam ter acesso a consultas mdicas, exames, remdios, estadia e transporte para Rio Branco, capital do estado acreano. No interior do Acre frequentemente as pessoas doentes no tm recursos para fazer uma viagem a Rio Branco, da qual depende a sua sade e s vezes a