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uma vida a serviço das famílias Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ Ano I- Número 2 - Novembro de 2011

uma vida a serviço das famílias - familiadecana.com.brEA784C45-83E2-4F53-B... · que eu vim fazer nesse mundo com essas mãos ... desse de mim, quem não fizer o ... A sua obra

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uma vida a serviço das famílias

Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ Ano I- Número 2 - Novembro de 2011

2 Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

Celebrar, porque fazer 80 anos é olhar para trás e ver que a vida é realmente uma grande dádiva de Deus.

Celebrar, porque fazer 80 anos é a própria celebração da vida. Celebrar porque fazer 80 anos é ser grato, é não deixar de se entu-siasmar e experimentar novas cores e novos sabores, e ainda tentar

algo de novo, de novo e de novo. Fazer 80 anos é contar o tempo não pelos anos vividos, mas pelas sementes que foram plantadas ao longo dos anos. Fazer 80 anos é colher os frutos dessas sementes...

Fazer 80 anos é isso e muito mais para qualquer pessoa es-pecial, que tem a alegria de celebrar essa data. E para o P.O., que soube fazer o melhor das oportunidades que apareceram ao lon-go dos seus 80 anos, soube cultivar e enobrecer os seus projetos, celebrar 80 anos é ter a certeza de que se está bem mais perto da bondade de Deus.

Celebra teus 80 anos, P.O., não pela quantidade dos que te amam, mas pela medida de seu coração, capaz de amar, preocupar-se, traba-lhar e ajudar a todos. Celebra teus 80 anos, não pelos anos que com-pletas, mas por aquilo fizeste nesses anos.

Alguém disse: “Não sei se a vida é curta ou longa, sei apenas que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas”. Padre Osvaldo, mesmo aos 80 anos, sempre soube como tocar nossos corações.

Celebra, porque os anos passam e ficam as lembranças. E é nosso dever torná-las sempre vivas.

Parabéns querido P.O.! Vamos celebrar!

Ariádina e José Afonso

Em meio às montanhas das Minas Gerais, lá para os lados do Triângulo Mineiro, no distrito de Macaúbas, zona rural de Patrocí-nio, nascia o sétimo filho do casal Antônio e Elvira. Seu nome seria Osvaldo. O ano era 1931, mês de novembro, e o mundo era bem diferente do de hoje. Osvaldo se juntou aos cinco irmãos, Severino, Maria, João e Lourdes. Ainda viriam Vanilda e Elza para completar a escada. A família Gonçalves muda-se para a cidade, começando aí uma nova etapa na vida. Patrocínio era uma cidade pequena e acolhedora e, na década de trinta, bem mais romântica e poética.

O FILHO - Osvaldo era um menino obediente, mas “arteiro”, definição de sua irmã Vanilda. Gostava de nadar no Poção, perto da fazenda do pai, mas tinha que burlar a vigilância da mãe, Dona Elvira, muito brava e rigorosa com os filhos, traços herdados pelo Osvaldo. Já do pai, ele herdou a franqueza, que, diga-se de passa-gem, é um traço marcante de toda a família.

O IRMÃO - Osvaldo era um irmão divertido e bem humora-do. Puxando pela memória de sua irmã Vanilda, descobrimos as brincadeiras preferidas do menino. Fechar as irmãs e as amigas num quarto escuro, colocar na boca um tição e depois, como uma alma do outro mundo, dizer com voz cavernosa: “O que é que eu vim fazer nesse mundo com essas mãos frias?”.

TRAVESSURAS - Gostava de andar de perna de pau; fazer armadilhas com lata cheia de água suja amarrada a um cor-dão, para que as pessoas tropeçassem na corda e se sujassem; roubar jabuticaba no quintal do vizinho e sair correndo da cachorra Rolica. Adorava, também, subir no pé de eucalipto do quintal. Lá nas grimpas, balançava freneticamente o galho, assustando Maria Ferreira, a empregada doméstica. Apavora-da, com medo de Osvaldo cair, ela gritava: “Sai daí de cima Osvaldo! Ocê ainda vai caí dessa árvore e esborrachá no chão. Pára com isso menino!”. Um dia ela perdeu a paciên-cia e foi chamar Dona Elvira. Nesse meio tempo, Osvaldo des-ceu do eucalipto e deitou-se no chão, fingindo-se de morto. Quando Maria Ferreira voltou da cozinha, esbravejando, por não ter encontrado Dona Elvira, seu desespero foi ainda maior. O menino Osvaldo estava “morto”. “Dona Elvira, pelo amor

de Deus, o Osvaldo morreu! Socorro, gente! Nossa Senhora da Abadia, São Jerô-nimo, Santa Bárbara Virgem...” Até que Osvaldo não se conteve e soltou uma gargalhada gostosa. Maria Ferrei-ra, correu atrás do menino, tentando lhe dar um corretivo. Mais tarde, ele não ficaria livre da reprimenda da mãe, sempre brava e exigente com os filhos.

A VOCAÇÃO - Osvaldo já demons-trava, naquela época, sua vocação sacer-dotal. Reunia as irmãs mais novas e as amigas e improvisava um altar, enfeitando-o com flor de jabodi. E ali celebrava a missa a seu modo. Na falta da hóstia, ele utilizava “beiju” de farinha de milho. Seu destino era mesmo o sacerdócio.

O MITO - O tempo passou, a família cresceu com a chegada dos netos, e Osval-do, que se tornara Padre em 1957, era um mito para todos.. Periodicamente, os familia-res recebiam em Patrocínio a visita do Padre Osvaldo, que morava em Belo Horizonte. Era o orgulho de Dona Elvira e um mistério para todos os sobrinhos. Essas visitas criavam grande ex-pectativa em todos. A rotina, na casa dos avós, sofria grande alteração. O almoço era servido na sala principal, que nor-malmente não era utilizada para essa finalidade. A comida, já farta, dobrava em variedades. Os sobrinhos deliravam com aquelas novidades, que a chegada do “Tio Padre” provocava.

A trajetória do menino de Ma-caúbas, faz com que o sentimento de todos os familiares seja único.

80 Anos... Por que celebrar?

“Padre Osvaldo honrou o compromisso assumido perante Deus”. - Paulo Rezende

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Paulo Rezende

3Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

TEMPERAMENTONão há dúvidas de

que é um introvertido. Embora tenha uma sa-tisfação evidente de estar com, não é fácil fazer render uma con-versa com ele. Mas já foi mais difícil. Hoje, ele de vez em quando conta até piadas, que na sua boca adquirem uma graça inesperada. E nes-sa situação se permite, raaaramente alguns pa-lavrões. Não obstante, é uma pessoa cordial, que faz questão de apertar a mão de um a um, mes-mo que seja uma mul-tidão; com a ponta dos

dedos, mas olhos nos olhos. Não costuma elogiar as pessoas em público; não por “economia”, mas pela preocupação de não me-lindrar nem cometer injustiça por omissão.

SACERDOTE E RELIGIOSOÉ admirável seu amor pela Igreja, pela Congregação dos Sa-

grados Corações e pela sua vocação. Não sei se devo contar... Por mais de uma vez, percebendo que o afeto de alguma pessoa por ele resvalava para o lado pessoal, buscava salvaguardar-se confi-denciando a alguém com quem tivesse mais intimidade. Dedica-ção generosa e radical à sua missão de pastor é um traço saliente, bem visível. Quantas vezes, ultimamente, com tristeza sincera, tem manifestado preocupação com o minguar das vocações na sua Congregação. E não fica apenas na lamentação, mas tem tentado reiteradamente desenvolver um trabalho vocacional em favor de sua comunidade religiosa.

UM PEDAGOGOAquele que assume a missão de ensinar por palavras e

exemplos. Não compactua com o erro. Com estilo às vezes rude, corrige, repreende, corta na carne, o que não raro melindra quem acabou de conhecê-lo. Ao mesmo tempo, porém, reconhece que ele mesmo precisa de correição. “O Padre Osvaldo não tem jeito, veio com defeito de fabricação”, se penitencia para logo em se-guida cometer outros deslizes.

APEGO AO MAGISTÉRIO DA IGREJAO torna exigente com o que os serventes pregam nos en-

contros. Ninguém estreia palestra sem passar pelo “crivo” de pes-soas com mais experiência. Quando dispunha de mais tempo e o cansaço e a deficiência auditiva ainda não o obrigavam a cochilar, participava do ritual. Quantas vezes escutamos o julgamento cirúr-gico: “Rasgando as cinco primeiras páginas, a sua palestra começa a melhorar”. Um teste para a humildade e o desapego de si em prol do Reino de Deus. Na preparação para o segundo encontro de Re-visão, um casal nunca mais voltou ao Caná depois da corrigenda.

A seu exemplo e estímulo, a Família de Caná se esmera em pre-parar os seus serventes para o trabalho de apostolado. Por exigência dele, ninguém começa a trabalhar – nem que seja na cozinha - sem passar pela “escolinha de formação”. Há alguns anos, em uma carta convite aos serventes, disparou para escândalo de muitos: “Se depen-desse de mim, quem não fizer o Encontro de Espiritualidade (que anu-almente abre as atividades do Caná) não trabalharia durante o ano”.

UM VISIONÁRIO A sua obra em prol da Família, que cobre todo o espectro

do grupo familiar – casais, jovens, senhoras – e sua sensibilidade em perceber a gravidade do problema das drogas, ressalta a sua característica de visionário. Na flor dos seus 80 anos, quando mui-tos já jogaram a toalha, ele está mirando no futuro. Quem for à Fazenda, pouco antes da entrada, descobre uma área terraplena-da. E já dentro, uma turma de residentes atarefados em fabricar tijolos de cimento para o seu novo sonho: as Aldeias do Caná, para crianças e pais dependentes.

Nos seus aspectos contraditórios, a ele, mineiro da gema, bem se aplica a definição “Dentro de um peito de ferro, um gran-de coração de ouro”.

Traçar o perfil do Padre Osvaldo é construir um mosaico multicolorido e multifacetado.A começar pela aparência física. Para além das mudanças que o tempo imprime na face, muitas pessoas conservam a mes-

ma fisionomia a vida inteira. Quase sempre por falta de coragem de mudar. O Padre Osvaldo teve essa ousadia. Durante alguns anos, cultivou uma longa barba, que já começava a agrisalhar. Ninguém, que eu saiba, nunca lhe perguntou por quê. Fica o

mistério. Mas é um sintoma do seu temperamento independente, que não se deixa influenciar pelo que dizem ou pensam.

4 Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

A VEIA POÉTICA“O genial Chico Buarque de Holanda

define: “O poeta é como o cego, pode ver na escuridão”. Poeta menor que sou, desenvolvi admiração pelos grandes poetas da língua portuguesa. Poeta se encontra em todo lu-gar. Há poetas líricos, políticos, intelectuais, populares e até guerreiros. Há também os poetas que dedicam a vida ao cumprimen-to da árdua missão de trabalhar pelo Reino de Deus. É o caso do poeta Padre Osvaldo Gonçalves, nosso amado P.O.

Entre seus profícuos trabalhos literários, a sua veia poética resplandece no livro O MILAGRE DO CASAMENTO, reflexões em torno do episódio das bodas de Caná, João 2,1-11. Nele, Padre Osvaldo demonstra de forma vigorosamente poética que no casamento se podem realizar milagres, bastando que se aceite a orientação de Maria: cumprir a ordem de Jesus, enchendo as ta-lhas de água, que se transformará no melhor dos vinhos. Ao fazer a sua parte (encher as talhas) o casamento (vinho) será transfor-mado em uma vida feliz e equilibrada.

O padre poeta transita pelo texto de São João com desen-voltura ímpar através de pura e profunda poesia, que nos traz à lembrança a estética dos Salmos e os maravilhosos versos do padre francês Michel Quoist no livro Poemas Para Rezar. Milagre do Casamento contém orações em versos livres. Porque o poeta Padre Osvaldo sabe muito bem que oração em forma de poesia é oração em dobro.” (Danilo dos Santos Pereira)

O CATEQUISTAPara quem convive com o Padre Osvaldo fica clara a sua vocação

de catequista. Ele insiste, “oportuna e inoportunamente”, que não é cristão autêntico quem não busca aprender sobre a sua religião.

“Há quase vinte e um anos, quando a convite dos amigos João e Neli, fizemos o Encontro de Revisão Matrimonial, bebemos da fonte

de sabedoria do Padre Osvaldo, que dedicou sua vida ao compromisso de “fazer famílias felizes”.

Apóstolo leal de Cristo, Padre Osvaldo trans-mitiu a Danilo, a mim e aos nossos filhos os en-sinamentos de Jesus - amar, perdoar, construir nossa união alicerçados em Cristo, rocha que nos sustenta. Quantas palavras pacientemente repetidas, quanto olhar vigilante de quem cui-da, quantas ricas lições, nas palestras, livros, pre-gações, na sua coerência como pastor.

Tenho presenciado tantos exemplos desse apóstolo, que me sinto privilegiada por haver encontrado tamanha confiança e dedicação, nestes tempos de aridez, secula-rismo, caminhos controversos e individualismo.”

(Zeneida Rena Pereira)

É fruto desse zelo apostólico o pequeno catecismo EM BUS-CA DE COMUNHÃO. Para viver em consonância (=comunhão) com a Igreja de que você é membro, você precisa conhecer a fé que ela professa. Quantas vezes o vimos nos Encontros, brandir o livrinho e proclamar com voz inusitadamente inflamada: “Se você não sabe pelo menos o que está neste livrinho, você não pode se considerar cristão verdadeiro!”

O MÍSTICO E HOMEM DE ORAÇÃOÉ fato corriqueiro vê-lo na capela, ajoelha-

do diante do sacrário, absorto na oração. E em todos os encontros que levam a sua marca há uma tônica: aprender a orar a experimentar vá-rias maneiras de orar.

Traduzem essa preocupação, os livros O MILAGRE DO CASAMENTO, o recente EM ORAÇÃO COM A BÍBLIA NA MÃO e o opúsculo HORA DE ORAÇÃO NO LAR. Todos eles estimulam o hábito da oração em família e a prática de várias formas de oração: inspirada pela palavra de Deus, de adoração e louvor, de agradecimento, de reparação e de súplica.

PREOCUPAÇÃO COM O SOCIAL

É evidente que a sua opção pas-toral pela Família é um reflexo da sua percepção da importância do papel dessa “rede humana” no contexto so-cial, como sua célula primária e ori-ginal. E, a partir disso, a gravidade do problema das drogas como ameaça ao indivíduo, à família e à sociedade como um todo. Veio daí toda a inspiração e a força para o trabalho de atenção ao de-pendente químico.

No livro EU ME ENVOLVI COM OS DRO-GADOS, o Padre Osvaldo narra a saga pio-

neira da Fazenda Recanto de Caná e dos seus desdobramentos, a Comunidade Feminina Padre Eustáquio e a Comunidade “Eu Que-ro a Vida”. Nele se revela um narrador de linguagem colorida, es-pontânea e coloquial, capaz de captar o lado pitoresco e anedótico mesmo em situações delicadas e até mesmo trágicas.

Atendendo a uma imperiosa necessidade do espírito, o ato de escrever nos revela, nos desnuda.Os livros do Padre Osvaldo trazem à luz as facetas da sua personalidade e as preocupações de uma pessoa atenta

à realidade e comprometida até o âmago com as causas em que acredita e às quais dedica a sua vida.

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5Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

O apóstolo da família

“Não é difícil responder. Em 1974, em freqüentes reuniões prepa-rando-nos para o 1º Encontro de Revisão Matrimonial, cresceu por ele grande admiração e respeito. Mas... ainda em 1974, no decorrer do 2º Encontro, aquele tombo! Durante uma experiência de oração (eu ainda estava aprendendo), na presença de todos, aquela chamada de atenção seca e direta. Tudo ruiu. Tranquei-me por muito tempo, o respeito deu lugar ao medo, não conseguia abrir a boca perto dele. Desistir? Nem pensar! Aprendi com ele que estava ali não a serviço do Padre Osvaldo, mas de Deus. E experimentei, ao vivo e em cores, a per-feição que ele exige de si e dos outros nas coisas de Deus.

Continuamos firmes e fomos des-cobrindo tantos aspectos da sua perso-nalidade: firme, determinado, ousado, corajoso, sincero, autêntico, leal, dedi-cado inteiramente à sua vocação, para citar alguns. Aprendi a conviver com o seu jeito de ser e amo-o tal e qual ele é. E testemunhamos, em contrapartida, o quanto ele nos ama. Wagner e eu nos sentimos privilegiados por Deus pelo que o Padre Osvaldo nos ensinou a ser, a viver e a construir famílias.”

Ângela do Wagner 1º Encontro de Revisão Matrimonial (1974)

“Eu teria muito para dizer: a garra, a luta, a fé inabalável (“Deus provê”, ele diz sempre), a capacidade de perdoar, o seu jeito humano, atencioso (da maneira dele, que tão bem entendemos), carinhoso (sem muito blábláblá), coisas que só um pai amoroso possui.

Mas, o que mais me cativou nestes últimos tempos, foi sua proposta de mudança. Hoje é mais comunicativo, chega e cum-primenta, pegando na mão de cada um, sorri e até conta pia-das. E isto, amigo, para nós da velha guarda, que o conhecemos carrancudo (seu sorriso era quase uma careta), é uma grande vitória. Ele conseguiu vencer a si próprio. Ele en-sina sempre a lutarmos contra nossos vícios, nossos problemas, vencendo os obstáculos: ele conseguiu isso. É exemplo que temos que seguir para sermos felizes. Afinal não é esse nos-so ideal? Queremos ser felizes, não é mesmo? E, por tudo isso, eu posso dizer de sã consciência: EU SOU FELIZ!

Adelina Blasi Baracat – Encontro de Senhoras

Ter por perto um homem como o PO no período da adolescên-cia foi um privilégio meu e de vários outros jovens do Prodes. Seus exemplos nos moviam para um caminho que nos tornavam pessoas melhores. Percebíamos, através das atitudes coerentes e da sobrie-

dade diante do trabalho que ele realizava, que sem seriedade não se conquista o respeito do semelhante.

Convivendo com o Padre Osvaldo, fomos conhecendo-o melhor. Vimos muitas vezes a expressão séria e as palavras duras e diretas com que nos chamava atenção, mas também conhecemos o sorriso satisfei-to com uma boa atitude nossa. Hoje, já mãe, percebo que este sorriso era um sorriso de pai, contente com o crescimento de seus filhos; afinal, o Padre Osvaldo sempre foi para todos nós um pouco o “pai Osvaldo”.

Tenho o privilégio de ainda continuar a aprender com ele, pois parte daquele grupo de amigos ainda está ativo no Caná. A cada trabalho que fazemos na Fazenda é possível amadurecer um pouco com as observa-ções que ele faz. Algumas vezes severas, outras bem-humoradas, mas sempre com a intenção de nos fazer crescer, de aperfeiçoar o trabalho, de tornar as coisas melhores. Diante de si-tuações temerosas, lá vem ele com a velha expressão que não cansamos de escutar: “Coragem”. Escutar isso dele e pensar em tudo o que ele construiu é como uma in-jeção de força e entusiasmo, e nos mostra quão pouco ainda fazemos.

Por isso e por toda a admiração e carinho que tenho por ele, rogo a Deus que lhe dê muitos e muitos anos de saú-de e nos conceda a graça de aprender muito ainda com ele.

Carla Pena (Jurassic Prodes)

Conheci o Padre Osvaldo em meados de 1987... Jamais esquecerei a primeira vez que o vi, numa noite de terça-feira, de pé, diante de umas15 pessoas, no Recanto de Caná, um senhor quase raquítico, cabelos grisa-lhos, óculos quadrados e enormes, olhar extremamente disciplinado, fa-zendo uma reflexão sobre o Evangelho. Entre um caso e outro sobre o dia a dia na recém-inaugurada Fazenda de Caná éramos surpreendidos com gargalhadas do próprio Padre Osvaldo que, mesmo entre as dificuldades de manter o programa de recuperação, sorria surpreendentemente!

Querido “P.O.”, na comemoração dos seus 80 anos, quero agradecer-lhe por tantas boas iniciativas! Muito obrigado e parabéns!!! Lembre-se, meu querido: uma de suas iniciativas mudou para sempre a minha exis-tência; tive a oportunidade de ir viver na Fazenda de Caná em 11/08/1987, uma manhã de segunda-feira, como 13º pionei-ro daquele lar e permaneci os nove meses de tratamento. Hoje, passados mais de duas décadas, encontro-me com 43 anos, livre de qualquer tipo de escravidão, mui-to bem empregado e prestes a aposentar; e, o mais importante, casado e com uma família maravilhosa. Continuo sonhando com o futuro!!! Vida longa a você, querido e insubstituível Padre. Osvaldo!

Adão Eustáquio Vieira

350 associados, nos termos do Estatuto Social. Cerca de 350 voluntários, nas mais diversas áreas de serviço. 30 funcionários, na Ad-ministração e na equipe técnica. Mais de 1.700 contribuintes financeiros. Um total de mais de 2.400 pessoas.

Esse é o batalhão que responde ao comando decidido e firme do Padre Osvaldo. A um aceno dele, saem dos pontos mais distantes da Grande BH e de outras cidades, deixando casa, família, roda de amigos, lazer, e respondem presente aos desafios da Família de Caná. Ninguém é forçado a nada, todos cerram fileiras em nome de uma causa pela qual se apaixonaram, movidos pela paixão, pela abnega-ção, pela incondicional entrega dele, o líder, Padre Osvaldo Gonçalves. A causa é FAZER FAMÍLIAS FELIZES. Sem mencionar os incontáveis amigos e empresários, sempre prontos a socorrê-lo nos momentos de aperto.

Onde reside o poder de sedução deste homem, franzino, caladão, de semblante sereno mas normalmente sério, de reações bruscas e rudes, de uma franqueza chocante?

O que cativa neste homem? Fizemos esta pergunta a algumas pessoas que o acompanham fielmente há muitos e muitos anos.

6 Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

O sacerdote e o religioso“Contemplar, viver e anunciar ao mundo o Amor Reparador de Deus!”

Lembro de uma música muito conhecida, cujo refrão traduz bem o significado da Vida Religiosa inspirada nos Corações de Jesus e de Maria: “UM CONSAGRADO PARA AMAR, UM CONSAGRADO PRA SE DOAR, UM AMOR QUE NÃO BUSCA INTERESSES SEUS, É O MAIS PURO AMOR, O AMOR DE DEUS!”

Encontrei este meu querido irmão, o P.O., como é chamado na Família de Caná, em 1995, quando conheci a Fazenda Recan-to de Caná e a realidade daqueles que buscam resgatar sua vida tomada pelas drogas. Não posso deixar de recordar o meu noviciado, na Fazenda, em companhia dos padres Henrique Baltussem e Ri-cardo Gomes, em 1996, precioso tempo de graça,

de alimento dos valores fundamentais da Vida Religiosa dos Sagrados Corações e aprendizado de como vivê-los na vida e na missão.

Quando falamos em “consagração” à vocação religiosa, pen-samos em duas coisas fundamentais: dedicação e entrega! O testemunho de vida do P.O. sintetiza os valores fundamentais do carisma Sagrados Corações, porque seu testemunho de vida diz algo muito real da pessoa de Jesus Cristo para as famílias de hoje.

1. CONSAGRAÇÃO AOS SAGRADOS CORAÇÕES: “Nos-sa consagração está em procurarmos Jesus como a fonte primei-ra e mais profunda de sua identificação com a vontade do Pai... Nossa devoção deve levar-nos a contemplar com frequência o amor do Pai revelado em Jesus e a presença fiel de Maria nos de-sígnios de salvação”. Então, por sua contemplação e vivência da vontade salvadora de Deus na vida de nosso povo, eter-na gratidão, bom Deus!

2. REPARAÇÃO: “A reparação deve chegar também ao peca-do social, que aparece pela ação dos homens nas estruturas da so-ciedade... Contém amor, bondade, zelo, simplicidade, fraternidade, solidariedade diante das situações concretas das pessoas e gru-pos”. Então, por seu testemunho do Amor reparador de Deus na vida de nosso povo, eterna gratidão, bom Deus!

3. ZELO APOSTÓLICO: “Nossa opção pela Obra de Deus é uma opção pelo ser humano tal como Deus quer; não é uma fuga do que interessa ao ser humano, mas um novo sentido para sua vida... Nossa comunidade religiosa é chamada a ser cúmplice do Bom Samaritano e abrir uma pousada para cada ser humano que encontra ferido em seu caminho”. Então, por sua opção radical pela Sua Obra, eterna gratidão, bom Deus!

4. EUCARISTIA: “A renovação da doação de Jesus, lembrada na celebração eucarística, obriga-nos a reafirmar nossa vontade

de doação em conformidade com a dele... Somos chamados a ‘ser para o outro’; lutar contra a violência com a força do amor e do direito; buscar e servir preferencialmente os pobres e mar-ginalizados”. Então, por ser a Eucaristia o centro de sua vida e missão, eterna gratidão, bom Deus!

5. FRATERNIDADE CORDIAL: “Num mundo desconfiado, que separa as pessoas, o seguimento do amor manifestado em Cristo deve nos levar a acentuar a comunidade vivida em relacio-namentos simples, de íntima comunhão, para que sejam um tes-temunho e um chamado a realizarmos a fraternidade”. Então, por valorizar a humanidade de Jesus em sua relação com as pesso-as, eterna gratidão, bom Deus!

Pela DEDICAÇÃO E ENTREGA do Padre Osvaldo, muitos po-dem dizer: Aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria toda honra e toda glória!

Pe. Eribaldo Pereira Santos ss.cc. (irmão de Congregação)

Dar testemunho sobre a vida e do Padre Osvaldo é poder ser e estar consciente de que a nossa vocação de religiosos não consiste em trabalhar para, mas em pertencer a Jesus. Uma vez que pertencemos a Ele, o trabalho se torna um meio para traduzir na prática o seu amor por Ele. O trabalho incansável, portanto, não é um fim, mas um meio.

O Padre Osvaldo não somente faz, ele busca fazer concreta-mente, pois é um homem de oração constante, fiel às suas obriga-ções e convicções de religioso, sacerdote dos Sagrados Corações, homem de Eucaristia diária e adoração diária, faça chuva ou faça sol. Homem do silêncio, sempre aberto e disponível para acolher, confortar, animar e ajudar jovens, casais, famílias repletas de dores, a encontrar o caminho verdadeiro.

Vivendo, durante dez anos, a experiência de participar do caris-ma do Padre Osvaldo, posso afirmar que tem a sua vida traduzida na prática do amor: o amor traduzido na prática é serviço. Aprendi com ele que a fé em ação através da oração, e a fé em ação através do serviço, são a mesma coisa: o mesmo amor, a mesma compaixão.

Não me sai da lembrança um fato: após a celebração de Natal, na Fazenda Recanto de Caná, Padre Osvaldo, numa noite fria, com certeza cansado, sai com seu carro pelas ruas de Belo Horizonte com cobertores e comida para amenizar o sofrimento dos irmãos de rua. Isso manifesta a grandeza da solidariedade que brota do coração deste filho dos Sagrados Corações, animado pelos exemplos de São Damião de Molokai e do bem-aventurado Eustáquio.

Obrigado ao Senhor, por ter se servido de você, Padre Osvaldo, para realizar gran-des coisas, porque você creu mais no amor de Deus que na própria fraqueza.

Que os Sagrados Corações continuem abençoando sua vida, sua vocação, seu tra-balho. Saúde e Paz!

Com carinho, Pe. Geraldo Abílio Ribeiro

7Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

O grande desafioPara entender o tamanho do desafio que o Padre Osvaldo

assumiu ao “se envolver com os drogados”, nada melhor do al-guns “flashes” da própria narrativa dele.

“Um dia no Recanto de Caná, apareceu-me a mãe do Marcos, trazendo o problema do filho dependente de drogas; achava que eu tinha o remédio e podia fazer um milagre. Pouco depois vem o próprio Marcos. Mulato de bom porte, não tinha 18 anos, trazia ver-dadeiras chagas, muito feias e rebeldes. Havia lugar para o Marcos, nos barracões velhos onde tínhamos iniciado o trabalho do Caná.

Então, a notícia começou a espalhar-se como correm notícias de milagre. E vieram outras mães chorando, e mais jovens com a esperança de um “toque de mágica”... No final de 1979, estávamos com uma pequena comunidade. Estava dado o primeiro passo. Ousado e imprudente, mas com a maior boa vontade do mundo.

E agora, o que fazer com esse pessoal? Pensei em desistir, pois não estávamos preparados para um trabalho como esse. Paguei caro, acreditei que o fracasso fora total e que o assunto estava en-cerrado. Fora uma aventura, em minha vida, um sonho impossível!

No entanto, aqui vai mais da metade da minha vida. Uma dedica-ção sem tréguas, um cotidiano sempre repetido, das 6 às 22 horas, du-rante anos a fio, carregando pessoas boas, mas cheias de problemas difíceis. Podia ter feito de outra maneira e não ter colocado tanto peso nas minhas costas, mas eu não soube fazer diferente.”

Não menores são os desafios, para o dependente e sua família.

Cláudio Martins Nogueira, Supervisor Terapêutico da Fazen-da de Caná, Psicólogo Clínico, e especialista em dependência quí-mica, comenta o primeiro desafio: a adesão ao tratamento.

“A família passa por alguns obstáculos: aceitar a doença; acei-tar ajuda; aderir ao tratamento. Isso se faz nas reuniões de con-

vencimento. O objetivo é munir a família de ferramentas para sensi-bilizar e convencer o dependente a

se tratar. O Amor Exigente propõe uma posição clara e direta: “Não aceitar mais o uso da droga do seu familiar e deixar clara a disposição de todos em ajudar no tratamento.”

O dependente também é encaminhado para a reunião de

partilha com outros recuperandos, em que a troca de experiências é fundamental para entender a doença e possibilitar o apoio mútuo.

São mudanças essenciais para sensibilizar o dependente a se tratar:

a - Não facilitar as coisas para o dependente, como pagar as contas, emprestar dinheiro.

b - Focar no tratamento: os membros da família também es-tão doentes e precisam de tratamento.

c - Viver e deixar viver: a vida da família gira em torno do dependente; ela precisa voltar a viver e deixar que o de-pendente assuma as suas responsabilidades e sofra as

conseqüências dos seus atos.d - Não existem milagres, solução mágica, sem esforço e

trabalho. É necessário muito estudo, perseverança e determinação para restituir o equilíbrio emocional e a sobriedade à família.

e - Estabelecer limites e confrontos, normas e regras para o bom funcionamento da casa.”

O segundo desafio é completar os 9 meses de tratamento. Cerca de 30% apenas conseguem a façanha. Geraldo Magno Possa, Supervi-sor Administrativo da Fazenda Re-canto de Caná, pesquisou entre os residentes os maiores obstáculos.

Bem sinteticamente: 1º - acei-tação da doença, fissura, saudades da droga, convívio com os colegas, dificuldades de aceitar as regras; 2º - saudades da família e preocupa-ções com pendências, tempo que resta para término do tratamento, achar que está pronto pra sair; 3º - ansiedade pela primeira saída de visita, autossufici-ência, medo da recaída e de ter faltado aprender mais coisas.

O terceiro grande desafio é man-

ter a sobriedade. Julio Cezar Mon-

nerat, especialista em Dependência Química pela UFSJ, responsável pelo Programa de Prevenção da Recaída da Família de Caná, esclarece: “Quanto empenho é necessário para se livrar da dependência das drogas! A inter-nação resulta em desintoxicação, mas nem sempre em abstenção definitiva da droga. A manutenção da sobrieda-de é uma tarefa que depende de vá-rios fatores, entre os quais:

a - O encontro de um sentido para vida, através de uma es-piritualidade integrada numa comunidade de fé (partici-pação nas atividades de sua Igreja);

b Autodisciplina no seguimento de um plano de modifica-ção de vida;

c - Frequência e participação nos grupos de autoajuda;d - A convivência e o afeto familiar, partilhando e cooperan-

do no lar;e - O cuidado com a autoestima, integrando-se e se relacio-

nando com pessoas de boa índole, evitando a solidão e fazendo atividades esportivas em grupo.

Além disso, é necessário deixar a ansiedade de lado e viver cada dia, valorizando as pequenas mudanças, lembrando que a felicidade é um estado de espírito, e reside no sentido que se impri-me à própria vida.”

8 Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

O RECANTO DE CANÁ, A SEDE

Tudo começou aqui. Os en-contros funcionavam de manei-ra precária em desconfortáveis barracões, nuns beliches mam-bembes. Capacidade pequena, cerca de trinta pessoas. Tempo de chuva, nem pensar em qual-quer atividade. Sob a liderança do Mundinho, foi organizada a rifa de uma Brasília, na época, “top” de linha da Volkswagen. Formaram-se equipes, todo o pesso-al do Caná – pouca gente então - saiu vendendo carnês e correndo atrás do pagamento. O Padre Osvaldo desdobrava-se, fabricando tijolos de cimento e, com as próprias mãos, revestindo de mar-morite todo o piso. O certo é que, em 1978, inaugurava-se a nossa casa. Modesta, mas para quem a viu nascer, um monumento...

A FAZENDA RECANTO DE CANÁ

O “gênio” construtor permaneceu hibernando quase dez anos. Em 1977, inicia-se a saga da assistência aos dependentes químicos, aqui mesmo no Recanto de Caná. Os “drogados” meio que misturados ao pessoal dos encontros, todo mundo no Caná preocupado com a segurança do Padre Osvaldo, até mesmo com a possibilidade do seu envolvimento com a polícia. Esse cara é um louco!...

A certa altura ele mesmo percebe que a situação era insustentá-vel e que o atendimento aos dependentes pedia um ambiente rural. Ele mesmo conta, no seu livro “Eu me envolvi com os drogados”:

A COMUNIDADE PADRE HENRIQUE

“Fiquei de olho em um imó-vel distante 23 km da nossa sede, uma área com pouco mais de 17 hectares, com belas paisagens, bosque muito precioso, com um riacho deslizando em cascatas, so-bre pedras recobertas de musgo. Em 1984, a Congregação dos Sa-grados Corações fez uma doação à nossa entidade. Com os seis mil dólares corri ao proprietário do ter-reno que eu já vinha namorando. Ele se dispôs a vendê-lo, recebendo aquele dinheiro como parte do pagamento. Decidimos construir ali uma casa modesta, para abrigar um caseiro com a família. Já estáva-mos com alguns internos quando terminou a construção da “casa do caseiro”. Então nos transferimos para lá. Os internos mesmos escolhe-ram o nome: FAZENDA RECANTO DE CANÁ. A inauguração oficial ocorreu no dia 31 de maio. Estávamos no ano de 1987”.

“Bem depressa a casa estava pequena demais, tivemos que construir cozinha e refeitório maiores, sala de recreio e dormitó-rio. Não podia faltar uma capela. Mesmo sem dinheiro, colocamos o problema nas mãos de Deus e fomos dando passos. O dinheiro “caía do céu” na medida do necessário. A sala de recreio ficou sen-do dormitório, e a construção deste foi adiada. Em setembro de 1988, já foi inaugurada oficialmente a parte construída. Convida-mos Dom Serafim para celebrar a Eucaristia e trazer a bênção da Igreja, para o nosso trabalho.”

A CASA DA ACOLHIDA

“Em 1992, a Associação Feminina de Assistência Social, por iniciativa de sua Presiden-te, Maria Ângela de Queiroz, doou à Família de CANÁ uma área, anexa ao nosso terreno. Havia diversas benfeitorias e uma sede grande, adequada ao nosso trabalho. Lá instala-mos imediatamente a Casa da Acolhida.” A Comunidade da Aco-lhida, na medida das necessidades, foi sendo acrescida de novos módulos para ampliar a capacidade e o conforto.

COMUNIDADES DOM BOSCO

E SÃO DAMIÃO

“Comecei a sonhar com uma casa para abrigar menores. Com-partilhando esse ideal com um empresário simpático às minhas idéias, ele se dispôs a ajudar fi-nanceiramente sob três condi-ções: dar à casa o nome de Dom Bosco, preservar o seu anonima-to e apressar a construção. Juntamente com a Casa Dom Bosco e, aproveitando o projeto arquitetônico e ‘dinheiro que cai do céu’, construímos a Casa São Damião. Pouco mais tarde, o mesmo em-presário financiou inteiramente uma capela, com bancos e tudo, para 100 pessoas, que atende às comunidades da Acolhida, Dom Bosco e São Damião”. Por falta de recursos financeiros e de pesso-al preparado, a experiência com menores acabou sendo suspen-sa, e a Casa Dom Bosco passou a abrigar dependentes adultos.

COMUNIDAD

EU QUERO A VIDA

“Paramos, mas não deixa-mos de sonhar. E fizemos um desafio, esperando um sinal de Deus: Se aparecerem os recur-sos para uma construção mais adequada, em lugar separado das outras comunidades, acre-ditamos que é para ir em frente. E o sinal veio. Em 2001, o INSTI-TUTO MARISTA DE SOLIDARIEDADE ofereceu-nos uma doação para construir uma casa para 30 internos. Recebemos a oferta com alegria e entusiasmo, sempre com o sonho de criar uma comunidade exclusiva para menores. A construção foi feita. Demos à casa o nome de “Eu

quero a vida”, mas a criação da comunidade foi sendo adiada, pela dificuldade de encontrar pessoas para dirigir e recursos para manter”.

Uma, duas, três, quatro, cinco, seis... Pronto? Que nada! Já existe uma área terraplanada, na Fazenda, e vários milheiros de tijolos de cimento já prontos e em fabricação, para o pro-jeto das Aldeias de Caná. E o projeto de erguer na sede um centro de difusão da Entronização do Sagrado Coração. E que mais? Só Deus sabe!...

Pode-se afirmar que o Padre Osvaldo é um construtor por vocação: a construção de tijolo e cimento complementando uma sólida construção humana e espiritual, duas faces da mesma moeda. Em meados da

década de 90, após terminar mais uma obra na Fazenda, descarregou: “Nunca mais ponho a mão em um tijolo”. Depois disso, muita parede ele já fez subir e, ao que tudo indica, vem mais coisa por aí.

9Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

FAMÍLIA DE CANÁ, O MAIOR EMPREENDIMENTO

Um rápido olhar sobre a atuação da Família de Caná no âm-bito da promoção da Família e o seu papel de protagonismo e referência na área da atenção aos dependentes de álcool e outras drogas dá a medida do espírito empreendedor do Padre Osvaldo, criador e motor incansável de toda essa ciranda de atividades. É uma roda gigantesca, que tem o seu eixo no Caná, estende seus raios pela Grande BH e atinge o interior e até outros estados.

São mais de cinco mil casais que, a partir de 1974, se abaste-ceram nos Encontros de Revisão Matrimonial, Renovar, de Outo-no, de Espiritualidade e na Escola de Formação de Serventes, so-mente na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Patrocínio e Iguatama. A partir de Ipatinga, onde a equipe do Caná implan-tou a Revisão Matrimonial, mais de quatro mil casais tinham sido beneficiados, já no longínquo 1991. Igualmente uns três milhares de jovens aprenderam a satisfação de “ser útil” nos encontros de Adolescentes e Parada PRODES.

A Fazenda Recanto de Caná, fazendo uma estimativa pelos números atuais, terá acolhido para tratamento nos seus vinte e quatro anos de existência bem uns três mil dependentes quími-cos. Sem mencionar as cerca de trezentas pessoas que, semanal-mente, lotam a sede da Associação em busca de ajuda.

PROMOÇÃO DA FAMÍLIA EDITORA

Mas o Padre Osval-do resolveu se aventu-rar também no campo empresarial. Sempre em vista da causa maior, a promoção do Reino de Deus através do serviço à Família. Jovem padre, em 1967, veio do inte-rior para a Capital com a incumbência de implan-tar a PROMOÇÃO DA FA-MÍLIA EDITORA.

Quem conta é o nosso irmão Ronan da Teresinha. Aparece um dia, no banco em que trabalhava, o Padre Osvaldo, convocando-

o para ir até a sua gráfica paginar as revistas da Editora, REI-NO e A TURMA. Na oficina instalada no prédio do antigo Cine Padre Eustáquio, o Ronan Viglione encontrou nada mais que uma ou duas impressoras, alguma composição de linotipo e uns clichês. “Onde estavam as caixas de tipos, componedores, entrelinhas”...? “É preciso essas coisas todas”? perguntou um surpreso Padre Osvaldo. Pelo jeito, ele sabia bem pouco de tipografia. Saíram às pressas, ele e o Ronan, para comprar o equipamento indispensável. Conta o Ronan que tiveram que improvisar um fio com uma lâmpada na ponta para que ele pudesse trabalhar, na gráfica às escuras.

A equipe cresceu, com a chegada do Sílvio, José Carlos, Ha-milton, Gesualdo, Vicente, o Paulo motorista, o Pedro de Mercês do Pomba, e a gráfica se modernizou com a compra de impresso-ras offset, linotipo e outros equipamentos de ponta.

Os carros-chefes da Edi-tora eram as revistas REINO – de formação religiosa e promoção da Entronização do Sagrado Coração – e A TURMA – totalmente dedi-cada à catequese, ambas de boa penetração no meio paroquial. A Edito-ra lançou também nu-merosos títulos de boa aceitação, na área da ca-tequese. Alguns, porém, de literatura infantil, por motivos vários, ficaram encalhados nos depó-sitos. Até bem pouco tempo o Padre Osvaldo tentava sem sucesso, distribuindo até gratuitamente, desencalhar os famigerados TURMINHA DA DONA CYNARA e AS VALENTIAS DO COELHO. Afinal, os múlti-plos encargos assumidos depois, inviabilizaram a Empresa. A revista Reino foi desativada e A Turma passou para a adminis-tração da Arquidiocese, sobrevivendo até hoje.

A CONFECÇÃO DE JEANS

Na mente uma idéia: o Lar das Crianças, espaço onde, sob os cuidados de uma mãe social, se pudesse acolher crianças, di-gamos, sem lar. Para variar, e os recursos materiais? Dono de um largo círculo de amigos e admi-radores, o Padre Osvaldo recebe do senhor Itaci, empresário do ramo de confecções, uma pro-posta de parceria.

Em galpão, nos fundos de uma casa de propriedade da Congregação, na Rua Vereador Geraldo Pereira, anexa ao Caná, foram instaladas as oficinas de confecção, sob a batuta da Ivo-ne do Oldack, costureira expe-riente. As peças de jeans – calças e casacos – já eram mandadas cortadas pelo senhor Itaci. Era só costurar, entregar e faturar.

A certa altura, o Padre Osvaldo foi convencido de que po-deria alçar “voo solo”, sem a tutela do Itaci. Na mesma ocasião, a Ivone se vê obrigada a deixar a oficina, para cuidar do mari-do doente. Há uma mudança de gestão e dos rumos do negó-cio. Resolve-se confeccionar a chamada “modinha”, destinada ao público feminino. Monta-se uma lojinha nas dependências da casa, sob a responsabilidade da Nilza do Mundinho. Sem orientação de uma estilista, as peças não caíram no gosto do exigente mercado feminino. As vendas despencaram, um vo-lumoso estoque de tecidos encalhou e os prejuízos se acumu-laram. E terminou mais um sonho.

ava sem sucesso, distribuindo

10 Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

“Me pediram para falar sobre o nosso projeto para salvar os menores dependentes ou a caminho das drogas. Disse que era ain-da um sonho. Alguém procurou motivar-me: “Sonho que se sonha só é só um sonho; sonho que se sonha a dois é realidade”. Mas, na verdade, o trabalho com os menores não é apenas um sonho.”

“Quem está mais próximo de nós, no trabalho do CANÁ, sabe que já fizemos uma tentativa anterior de ajudar os menores com menos de 14 anos. (Para isso foi construída a Casa Dom Bosco). E sabe também que paramos por nos sentirmos sem recursos: de es-trutura material, de educadores e de um projeto pedagógico.”

Na realidade, porém, o sonho data de mais tempo e se concre-tizou no Lar das Crianças. Sob os cuidados de uma mãe social, até 14 crianças conviviam como numa família, freqüentando escola pública, recebendo assistência médica, odontológica e pedagógi-ca de voluntários. Após alguns anos, o Lar das Crianças foi transfe-rido para outra instituição, sobretudo por falta de “mães sociais” à altura da tarefa. Mas os frutos foram muitos e gratificantes.

Com a palavra o Cássio de Jesus, que passou pelo Lar e hoje, ca-sado e pai, é cameraman na RedeTV e dono da HEMIAH, empresa de Photo & Vídeo.

“Falar dos 80 anos de vida do Padre Osvaldo é fácil para mim. Tendo recebido sua ajuda, torna-se até agra-dável falar dessa ajuda e da intimidade do pai que ele foi para mim. Mas eu quero hoje revelar um aspecto do Padre Osvaldo que muita gente des-conhece, a intimidade que ele tem com Deus.

Todo mundo sabe que eu vim da periferia, de um ambiente muito pobre e sofrido. Além de ter me resgatado dessa situação, o Padre Os-valdo me proporcionou uma oportunidade maior, me deu uma noção de vida e uma caminhada de fé. Nada foi forçado, por obrigação. Tudo a partir da sua intimidade com Deus, que a gente enxergava no dia a dia. Posso testemunhar a coragem com que enfrentou os desafios, até mes-mo de fé, ao encarar a missão nova e visionária de lidar com dependentes

químicos. Certamente inspirado pelo Espírito Santo, ele enxergou, muito além, o sofrimento das famílias vitimadas e desfiguradas pelas drogas. Isso num tempo em que não se dava destaque ao assunto, um bicho-de-sete-cabeças, que hoje ocupa as manchetes e as redes sociais.

Não conheci meu pai biológico. O Padre Osvaldo é o pai que eu ga-nhei. Um pai diferente, que me acolheu e me ensinou, não com sermões e castigos, mas com muito carinho, valores muito fortes: a importância de um lar, a educação e, sobretudo o maior patrimônio que uma pessoa pode ter - a caminhada com Deus, a presença de Deus no lar.

Eu choro à toa; mas hoje é só alegria, pelo privilégio de ter o senhor como referência. Não esqueço as suas palavras: “Alegria e coragem só têm sentido quanto a gente conhece a intimidade com Deus”. Parabéns! Mais 80 anos de vida!”

Cássio de Jesus

Os laços, firmados numa relação intensa de amor, não se

romperam até hoje, como provam as mensagens abaixo.

“Boa tarde. Eu morei em uma creche que o Padre Osvaldo mantinha aí em frente, entre 1982 e 1987. Ainda existe esta cre-che? Como anda o Padre Osvaldo? Como faço para falar com ele? Foi uma emoção muito forte achar esse site e ver algumas fotos; está um pouco mudado, mas ainda tem muitos detalhes da minha época. Passamos muitos momentos bons aí; o Padre Osvaldo era como um pai pra nós. Mande abraços a ele por mim; tenho certeza que ele se lembrará.”

Robson Ribeiro

“Oi, tudo bem? Meu nome é Cris-tiano. Morei no Caná na rua Henrique Gorceix,17, no ano de 1987. Gostaria de saber se vocês têm fotos dos meninos dessa época. Alguns nomes destes me-ninos: Cristiano Oliveira, Cássio de Jesus, Lucas de Jesus, Ana Paula Guilherme, Orlândia da Silva Neves, Agenor da Sil-va Neves, Marcos Aurélio da Silva Neves, Paulo Pinto Ramos, e Conceição. Um grande abraço, aguardo respostas!”

Cristiano de Oliveira

“Paramos, mas não dei-xamos de sonhar”, diz o Pa-dre Osvaldo. Em 2001, uma doação dos Irmãos Maristas possibilitou a construção da Casa “Eu Quero a Vida”, que, entretanto, ficou incompleta e desocupada. Em 2008 a Prefei-tura de Ribeirão das Neves ce-lebrou convênio para abrigar menores em situação de risco social, aproveitando a disponi-

bilidade da “Eu Quero a Vida”. A nova tentativa durou pouco mais de um ano.

O sonho mais uma vez se concretizou em 2010. A Comuni-dade atualmente recebe dependentes da faixa etária de 12 a 17 anos, funcionando, porém, abaixo da sua capacidade. E o Padre Osvaldo conclui:

“Nunca sonhei sozinho; tudo o que existe de concreto, no meu trabalho, foram outros que realizaram comigo. Mas agora que lhe falei, e você ouviu atentamente, o meu sonho passa a ser seu. E eu desejo isso ardentemente.”

Honório e Conceição

11Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ - Ano I - Número 2 - Novembro de 2011

Eu vistoesta camisa

* Ano I * Número 2 * Novembro de 2011Publicação da ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ

Rua Henrique Gorceix, 80 Padre Eustáquio - BELO HORIZONTECEP 30720-360– MG Telefone: (31) 34629221e-mail: [email protected] Site: www.familiadecana.com.br

CNPJ nº 16.881.294/0001-48

Entidade filantrópica

de utilidade pública

* Decreto Federal – Proc. MJ 2042/97 de 20/06/97* Lei Estadual 9.073 de 11/12/84* Lei Municipal 6.372 de 18/08/93 (Belo Horizonte)* Lei Municipal 2.958, de 30/11/06 (Ribeirão das Neves)

Conselho Nacional

de Assistência Social - CNAS

Certificado nº 28.984.016095/94-01

Presidente: José Afonso Pinto de AssisDiretor: Padre Osvaldo GonçalvesRedator: José Wagner Leão Colaboradores:

- Adão Eustáquio Vieira - Adelina Blasi Baracat- Ângela Dolores L. de Carvalho- Carla Pena- Cássio de Jesus- Cláudio Martins Nogueira- Danilo dos Santos Pereira- Padre Eribaldo Pereira Santos- Padre Geraldo Abílio Ribeiro- Paulo Rezende- Geraldo Magno Possa- Ronan Viglione- Júlio Monnerat- Zeneida Rena Pereira

Tiragem: 10.000 exemplaresArte e Impressão: FUMARC

g

Arte e Impre

pssão: FUMARCes

A Família de Caná agradece,

de coração, a todos aqueles

que contribuíram para tornar realidade

esta edição da revista

EU VISTO ESTA CAMISA

ASSOCIAÇÃO FAMÍLIA DE CANÁ

Rua Henrique Gorceix, 80 Padre Eustáquio - Belo Horizonte