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CANÇÃO DO LEÃO (ou a Incrível e Triste História de Solomon Linda e seus Desalma- dos Exploradores) POR CAIO NEHRING A HISTÓRIA Em 1939, acontece um milagre para o Zulu chamado Solomon Linda, na frente de um microfone do único estúdio de gravação da África. Abre a boca e de sua alma brota uma música mágica, escala perfeita de quinze notas que entram pelo microfone nos sulcos de um disco de 78 rotações. A música fez um sucesso danado no continente africano, decola em Londres, segue para a Améri- ca e se imortaliza: permanece 66 anos nas paradas mundiais, voltando a cada década sob diferentes nomes, formas e dis- farces. O título original no rótulo do disco era Mbube (palavra Zulu para Leão), interpretado por Solomon Linda e os Evening Birds. DA ÁFRICA PARA O MUNDO Artistas tão diversos como Phish, REM, Glen Campbell, Chet Atkins, Brian Eno, The Nylons e até o maestro brega Bert Kaempfert, a gravaram. Navajos cantaram-na em celebrações. Foi hino da equipe ingle- sa de futebol na abertura da Copa de 86! Hollywood colocou-a nas telas, e foi o sucesso mais executado continuamente nas rádios americanas. A composição mais famosa a vir da África penetrou tanto no in- consciente coletivo de tantas gerações, que se pode dizer que o mundo inteiro a conhece. De um jeito ou de outro. No meu caso, estava na praia, tomando um mate gelado com limão, sol a quarenta graus e essa música tocando no rádio Zenith da esteira ao lado. Eu tinha sete anos. Sua saga multicultural é um compacto da História da Música popular, que entra anêmica no séc. XX e se recupera com trans- fusões de ragtime, jazz, blues e soul vindo das artérias Africanas. Na natureza dessa transação, o fato histórico: A África sempre deu mais do que recebeu e acabou na miséria. Com um artista negro não seria diferente. Essa história é uma homenagem a Solomon Linda, Zulu que compôs uma canção iluminada, enriqueceu o homem branco com dinheiro e fama e morreu tão pobre, que nem lápide a família pode colocar no túmulo. O INÍCIO Tudo começa com a amizade entre um aristocrata britânico e um cantor afro americano famoso. Sir Henry B. Lock, da cúpula Colonial Inglesa era amigo de Or- pheus McAdoo, do lendário grupo vocal de spirituals, os Virginia Jubilee Singers. Indicado governador da Cidade do Cabo, Sir Henry rapidamente convida Orpheus e os Jubilee Singers para vir da Àfrica, onde cantam para multidões de nativos boquiabertos em cidades e vilinhas. Os Spirituals enfeitiçam os nativos, acostumados aos horríveis hinos dos missionários cristãos. McAdoo era seguidor do gospel, mas havia uma subversão rít- mica nas interpretações, prenúncios de funk e soul. Durante quatro anos, excursionam pelos mais remotos pontos da Àfrica. Num deles, uma escola no centro de um vale chama- do Msinga, vivia Solomon, um garotinho nascido em 1909. Fascinado com os Jubilees, incorpora seu canto às músicas Zu- lu que cantava com os amigos em festas. No começo de 1930 Solomon e seus amigos vão a Joanesbur- go tentar a sorte. Moram nas favelas e trabalham como mão de obra barata nas fábricas. Perplexo com a cidade, o esperto Solly transforma o cotidiano em canções a capella (apenas vocal, sem instrumentos) sobre o trabalho, amor, sobre como a polícia trata mal o Negro. Nasce o Solomon Linda and the Evening Birds, pioneiros do gênero Isicathamyia, vocalizações cheias de harmonias e ener- gia, as vozes graves contrapondo as agudas. O povo começa a gostar da música do grupo, que em dois anos é a atração mais quente da cidade. Adotam o terno de três peças, chapéu e sapato bicolor... Chiquérrimo. A música dos Zulus é marcada por poderosas batidas rítmicas dos pés no chão, que em conjunto fazem a terra tremer. Literal- mente. A dança que a música de Solomon inspirava devia ser controla- da, mais suave... No sapatinho. Quem viu o grupo vocal Ladysmith Black Mambazo, intérpretes consagrados do gênero lembra dos movimentos insinuantes, da dança dos pés sincronizados. Existiam legiões desses grupos entre os migrantes, que no fim de semana iam as Tea Parties, encontros regados à cerveja, misto de show e desafio entre corais. O prêmio em geral era uma vaca ou outro animal. Se você acha que a capella é só música coral suave e delicada, leva um choque com a intensidade vocal ao escutar um original dos Evening Birds. O som é tribal, uma fantástica teia de vozes usada como instrumento rítmico. Solomon acabou criando um novo estilo ao dobrar as vozes graves e injetar mais volume. Nascia uma estrela! Ele era o Elvis de seu tempo e espaço. Era o soprano e líder, cantando num falsetto de arrepiar, a mar- ca registrada da canção do Leão. A PRIMEIRA GRAVAÇÃO Em 1938 os Evening Birds são descobertos e gravam pela primeira vez. O estúdio é de Eric Gallo, produtor ítalo-americano que começou vendendo discos de hillbilly para a classe trabalhado- ra. Agora produzia e gravava estilos musicais nos dialetos locais, Africaner, depois Zulu, Xhosa, o que viesse. Seu sócio, Griffith Motsieloa, era um gentleman e o primeiro pro- dutor negro da África do Sul. Ele não entendia o interesse de Gallo na cultura musical das favelas, mas fazer o que? Ele que- ria vender discos para os negros. Talvez desse certo. Tentaram o Afro-hillbilly, mas não pegou. Partiram então para o Isicathamyia. Das várias faixas que gravaram, a que nos interessa é Mbube. Pela música, Solomon e sua banda receberam 10 shillings em dinheiro e Gallo tornou-se o dono dos direitos autorais. A música é composta de três acordes básicos, sobre algo sem nexo como “Leão! Ei! Você é um Leão”, inspirado na caça as feras que atacavam o gado. Tudo começou no improviso e no 3º. Take, Griffith Motsieloa adicionou piano, banjo e guitarra e lá estava a música destinada à glória, com algo cativante na melo- dia central. Quase no fim da gravação, Solly respirou profundamente e soltou o falsetto na melodia de 15 notas que o mundo hoje as- socia às palavras “Na selva, na poderosa selva, o Leão dorme esta noite”. Griffith Motsieloa sacou no ato que Mbube era especial. Enviou a matriz à Londres, que prensou discos de 78 rotações, chegando às lojas no dia que a Polônia foi invadida durante a segunda guerra mundial. Haviam poucas rádios negras em 39 e Mbube foi veiculada de boca a boca pelos ouvintes de estações comunitárias dos sub- úrbios. Mbube explode e vende bem durante anos: Foi re-prensada tan- tas vezes que o master desintegrou! E assim, Solomon Linda torna-se o imbatível campeão de de- safios, um herói para os Zulus. Em 1948 já vendera 100.000 cópias! Só em Pretoria, Soweto e Joanesburgo. Mas O Leão não pertencia mais a Solomon. Fora capturado pelo civilizado homem branco. A CAPTURA DO LEÃO Do outro lado do mundo, em Greenwich Village, o cantor e to- cador de banjo Pete Seeger estava na pior. Desempregado, vivia num quarto de quinta com mulher e dois filhos. De família rica de NY, abandonara Harvard e caíra na estrada com seu banjo. Pesquisara o cancioneiro folk e a música de protesto social surgida da Depressão nos campos de trabalho da América. Em NY, juntou-se a banda de Woodie Gurthrie, a Lenda. Vestiam-se como os trabalhadores desempregados: camisas básicas de trabalho e jeans surrados. Escreviam canções de protesto, sucesso entre a derrotada classe operária. No violão de Gurthrie, um slogan gravado: Esta máquina mata fascistas. No banjo de Pete, a versão soft: Esta maquina cerca o ódio e o força a render-se. Era o protótipo hippie. Quando Hitler invade a Rússia, escrevem canções antinazistas e ganham uma certa fama. Convocado, Seeger vai tocar seu banjo no front. Dispensado em 45, sai pelas universidades e escolas ensinando música folclóri- ca americana. Não era o máximo da vida. E o dinheiro era pouco. Pra comple- tar, contrai pneumonia. Eis que Alan Lomax, um amigo, bate em sua porta. Lomax e seu pai já eram famosos por coletar pérolas da musica negra rural. Descobriram Leadbelly e Muddy Waters em suas andanças. Agora Lomax estava na Decca, aonde resgatara do lixo um pa- cote de discos de uma obscura gravadora africana, enviados na esperança de que fossem publicados na América. Quando escutou os discos, pensou...”Meu Deus! Pete tem que ouvir isso!”. Um deles era Mbube. Impressionou-se com o ritmo selvagem e alegre, um falsetto in- crível cortando o ar, vozes graves fazendo os baixos...Wow! Ele podia cantar assim. Caneta e papel na mão, transcreveu tudo. Não entendia bem as palavras. Cantavam algo como “Uyim- bube, Uyimbube”. Parecia com Wimo-weh. E foi o que es- creveu. Pete Seeger começou a ensaiar Wimo-weh, sua canção favorita durante 40 anos, com a nova banda folk, The Weavers. A canção ilumina seu repertório de velharias, na linha de Greensleves. Pete estava cansado de viver na dureza. Queria uma carreira, sucesso, sustentar a família. Conseguira emprego numa estação de TV, mas fora dispensado antes de começar, dedado como agitador radical... As coisas iam de mal a pior até conseguirem uns shows no Van- guard Village. Duzentos dólares por semana, comida e bebida de graça, duas semanas. E então, algo inexplicável acontece: multidões lotam os shows, a temporada vai para um mês, depois outro e mais outro... O sucesso dos Weavers era inexplicável. Canções que estavam ali há décadas, cantadas por negros e imigrantes... Mas jamais faziam “aquele” sucesso. Seis meses depois ainda lotavam o Vanguard. Até a granfinada de Times Square aparecia. Uma dessas figuras era Gordon Jenkins, músico de jazz, arran- jador de Benny Goodman e maestro de Sinatra. E o novo diretor musical da Decca Records. Adorou o show e resolveu bancar a gravação de um disco. Gravaram a primeira faixa em 1950, Goodnight Irene, canção de Leadbelly, amigo e mestre de Seeger. Sucesso imediato! No lado b, Tzena, Tzena, Tzena, canção Israelita adaptada que também emplacou. Como também The Roving Kind, releitura do séc. XIX que chegou a terceiro. Enfim uma carreira. Saíram do circuito alternativo para a baba dos cassinos e clubes da época. Vestiam ternos caros, usavam Brylcream nos cabelos, estavam na TV, rádios, faturando mais de três mil dólares por semana. Para os antigos camaradas de esquerda não pas- savam de hipócritas sugando a cultura negra. Sua resposta foi Wimoweh, fiel ao original a não ser pelo dedil- hado de Seeger no banjo. A prova de fogo era o vocal, que ele fazia na perfeição, usando as cordas vocais com tamanho es- forço que estava quase mudo aos 75 anos! Wimoweh era a “quente” do repertório, o que talvez explique a espera de um ano para gravá-la, quando já era sucesso em shows e tv. Jenkins produziu e incluiu orquestra. Seu arranjo tipo big band quase apaga o esplendor da canção original. Metais e cordas afundando a bela canção de Solomon. Mas Pete entregou-se de tal maneira que Wimoweh pegou de jeito e entrou nas paradas. Diferente de tudo o que fizeram, a Bilboard adorou, elegendo-a canção da semana. Vai estourar! na capa da Cash Box. Primeira página da Variety: In-crí-vel! Sucesso, aqui vou eu... Mas os direitos, registrados pelos edi- tores, Richmond & Brackman não incluíam Solomon. O ESQUECIMENTO DO WEAVERS Enlouquecida e paranóica, a América de 52 caçava Comunista até debaixo da cama. Listas eram publicadas, empregos perdi- dos, celebridades delatadas e intimadas. Em Washington, um antigo camarada de Pete Seeger abria o bi- co no Comitê de Atividades Anti-Americanas. Trabalhara com ele na organização esquerdista a Canção do Povo, fornecendo cantores para entreter camaradas nas mani- festações políticas. Estava entregando tudo. Wimoweh estreava na parada de sucessos e ele contava que os comunistas aproveitavam-se da ingenuidade sexual da juven- tude para recrutá-la para o movimento. E mais: conhecia todos os envolvidos! Eram três dos Weavers, incluindo Pete Seeger! A imprensa marrom enlouqueceu. Repórteres caem matando na gravadora, fazendo pressão nas TVs, revistas e nos clubes: Vocês estão promovendo comunistas! Isso é antiamericano! Daí pra frente tudo deu errado. Shows e aparições na tv cance- lados, discos banidos, intimações...E Wimoweh vai do sexto lu- gar ao esquecimento. Ninguém mais quer saber de um bando de comunistas! A Decca cai fora e no fim do ano, Seeger volta ao começo, en- sinando música folclórica para crianças a troco de merrecas e morando em espeluncas. PARA A ETERNIDADE, WIMOWEH Os Weavers estavam mortos, mas Wimoweh sobrevive e atrai cobras do Jazz como Jimmy Dorsey, cover em 52. A deusa Yma Sumac provoca frisson com a versão cocktail lounge. Incluída num álbum do Kingston Trio, ocupa por 178 se- manas consecutivas o segundo lugar das best-sellers! Con- siderando que Thriller, o single de Michael Jackson, ficou 50 se- manas entre o primeiro e segundo posto... Por essa época, o refrão de Wimoweh ecoava nas rádios da América. Qualquer adolescente conhecia os versos, ah-wim-ô- uei, ah-wim-ô-uei, ah-wim-ô-uei... A música miraculosa de Solly, adaptada por Seeger e pela qual não recebia um tostão furado. Na África, ninguém se preocupava em registrar músicas. Você vendia, comia e pagava as suas dívidas e os direitos eram de quem comprava. Ponto final. RUMO A HOLLYWOOD Em 61 a canção é re-adaptada por Creatore e Peretti, veteranos do showbiz e por um maestro Phd, George D. Weiss (co-autor de Can’t help falling in Love with you, gravada por Elvis). Man- tém o contracanto, mas a melodia de Solomon assume o centro do palco e ganha letra em inglês: In the jungle, the mighty jun- gle, The Lion sleeps tonight. The Lion sleeps tonight, remake de Wimoweh que era um remake de Mbube! Esta adaptação, gravada pelos Tokens, debaixo de camadas de estilos pop-rock, como um King Kong escondido dentro de um bloco de gelo cristalino. Weiss adicionou tambores tribais, can- tora de ópera, guitarra, baixo, e uma sinfônica. A RCA editou-a no lado B de uma insossa música chamada Tina, que afundou como prego na água. Meses depois é resgatada ao acaso por um DJ da WORC, rolando direto na programação. Brian Wilson quase bate o carro quando a escuta no rádio. Arranca um motherfucker dos lábios de Carole King, composito- ra de sucessos. Graças ao DJ, estoura de novo e no fim de 61 é a campeã em quatro paradas dos EUA! Em 62 era cabeça de qualquer parada do globo! Miriam Makeba cantou-a no aniversário de JFK, antes de Mari- lyn sussurrar ao microfone ‘Happy Birthday, Mr President’. To- cou na plataforma de lançamento da Appolo. Foi interpretada pelos Springfields, Spinners e Tremeloes. Volta em 73 com Robert John, o blues man branco e em 82, na releitura de Tight Fit. Quem mais? Manu Dibango, They might be giants, e até banda heavy metal alemã. Entrou na trilha sonora de Ace Ventura: Um detetive diferente. Foi quando a Disney incluiu-a na trilha sonora de O Rei Leão. Depois que o filme estourou, usou-a nas montagens da Broad- way, que deu a volta ao mundo. Foi lançado em dvd, vídeo e no cd-bônus de cantigas tradi- cionais que vinha com o vídeo americano, ganhador de um dis- co de Ouro. A cena? Explicando o astral Hakuna Matata a Simba, Timon en- toa um In the jungle, the might jungle...no retorno a floresta. A REDENÇÃO DO LEÃO Wimoweh tem 65 anos e continua ativa. Estimam-se 160 gravações das três versões, 10 filmes e uns 20 comerciais. O que significa tudo isso em direitos autorais e lucros? O que aconteceu com a família de Salomon Linda, que morreu na mis- éria e foi enterrado numa vala comum sem ver um centavo desses milhões? Mbube/ Wimoweh gerou US$ 72 milhões em royalties. Em 1989, a disputa pelos direitos de The Lion sleeps tonight en- tre a Organização Richmond, editores dos Weavers, e Weiss, o maestro da letra em inglês, entra em tribunal de NY. O juiz declara a adaptação de Weiss uma composição separada e diferente da de Linda. Como pode? Enquanto o Espólio da Família Linda é o depositário dos royal- ties a receber por Mbube e Wimwoeh, não tem direitos sobre a adaptação registrada por Weiss e utilizada pela Disney. Hoje, 42 anos depois da morte do pai e vivendo na pobreza em Sowetto, suas filhas começam a receber um adicional. Uma centenária lei inglesa de direitos autorais diz que todos os direitos de uma canção revertem para a família do autor 25 anos após sua morte. A Suprema Corte da África do Sul designou um promotor para cuidar do espólio e tentar recuperar esses dire- itos. A lei também enquadrou a gravadora original, a Gallo, que colocou advogados para cuidar do caso e certificar-se que justiça seja feita ao ‘pai’do Leão. Ninguém tinha obrigação legal nem contrato com Solomon, ninguém se preocupava com um Zulu. Para todos os efeitos, era apenas uma canção antiga da África. E parece que nem Solomon se preocupava com essas coisas. Mbube tornou-o uma lenda na cultura Zulu e isso era um desti- no glorioso sob alguns aspectos. Todos acenavam para Linda nas ruas, pagavam drinks, refeições. Era convidado para apresentações especiais, ganhava o suficiente para comprar ternos e sapatos para trabalhar, casar de novo e mandar uma vitrola nova para os garotos da missão de Msinga. Linda desconhecia a ganância. A maior parte do dinheiro vinha dos desafios, ainda hoje parte da vida urbana. Todo fim de semana, Solly e a turminha alugavam um carro e iam de cidade em cidade, sempre vitoriosos. Os rivais tentavam de tudo, até poções, para tornar suas vozes tão potentes como a de Solly. Sem sucesso. Os Evening Birds subiam no palco e cantavam até o êxtase. A platéia enlouquecia com tamanha energia em festas que var- avam a madrugada. Cego pela adulação que recebia na África, nem se perturbou quando seu Leão dominou as paradas mundiais. Sua escalada de sucesso, fama e fortuna de Wimoweh nos EUA, ainda tirou um sorriso dos lábios de um Solly doente des- de 59, quando desmaiara no palco, antes de morrer em Out- ubro de 62. “Ele ficou feliz, apenas feliz”, disse Philda, uma de suas filhas – “Nem sabia se devia receber alguma coisa por Mbube”. De sua grande família, restam três filhas, unidas após a morte da mais velha, de Aids em 2002. Desde que os direitos autorais passaram para a família, um pro- motor público está processando a Disney, o conglomerado mais ativo no uso da canção. Dos incalculáveis milhões que lhes são devidos, 15 milhões so- mente em solo africano, receberam 15 mil dólares até hoje. E um cheque de mil dólares, enviado por Seeger. Delphi, Elizabeth e Philda ainda vivem numa favela urbana de Soweto. Demoraram 18 anos para colocar uma lápide na cova comum do pai, que em uma tarde de 1939, foi visitado por anjos em um estúdio de Joanesburgo. HAPPY END? Howie Richmond publicou Stones e Pink Floyd por um tempo. É bilionário. Peretti, falecido, sempre ganhou uns 10% do que Richmond fat- urava. Portanto... Creatore aposentou-se e vive de royalties dos muitos sucessos de seu currículo. Weiss? É um compositor de sucesso no cinema e musicais, vivendo entre as dezenas propriedades que possui pelo mundo e os barcos, uma de sua paixões. UMam ÚSICA LINKS ESCUTE A VERSÃO ORIGINAL DE MBUBE NA www.amazon.com CD: MBUBE ROOTS (ZULU CHORAL MUSIC FROM SOUTH AFRICA, 1930'S-1960'S) VARIOUS ARTISTS INTERNATIONAL - AFRICA

UMamÚSICAhaa/Random Stuffs/uma_musica.pdf · 2006-06-09 · Adotam o terno de três peças, chapéu e sapato bicolor... ... homem branco. A CAPTURA DO LEÃO Do outro lado do mundo,

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CANÇÃO DO LEÃO(ou a Incrível e Triste História de Solomon Linda e seus Desalma-dos Exploradores)POR CAIO NEHRING

A HISTÓRIAEm 1939, acontece um milagre para o Zulu chamado SolomonLinda, na frente de um microfone do único estúdio de gravaçãoda África. Abre a boca e de sua alma brota uma música mágica, escalaperfeita de quinze notas que entram pelo microfone nos sulcosde um disco de 78 rotações. A música fez um sucesso danadono continente africano, decola em Londres, segue para a Améri-ca e se imortaliza: permanece 66 anos nas paradas mundiais,voltando a cada década sob diferentes nomes, formas e dis-farces.O título original no rótulo do disco era Mbube (palavra Zulu paraLeão), interpretado por Solomon Linda e os Evening Birds.

DA ÁFRICA PARA O MUNDOArtistas tão diversos como Phish, REM, Glen Campbell, ChetAtkins, Brian Eno, The Nylons e até o maestro brega BertKaempfert, a gravaram. Navajos cantaram-na em celebrações. Foi hino da equipe ingle-sa de futebol na abertura da Copa de 86! Hollywood colocou-anas telas, e foi o sucesso mais executado continuamente nasrádios americanas. A composição mais famosa a vir da África penetrou tanto no in-consciente coletivo de tantas gerações, que se pode dizer que omundo inteiro a conhece. De um jeito ou de outro.No meu caso, estava na praia, tomando um mate gelado comlimão, sol a quarenta graus e essa música tocando no rádioZenith da esteira ao lado. Eu tinha sete anos.Sua saga multicultural é um compacto da História da Músicapopular, que entra anêmica no séc. XX e se recupera com trans-fusões de ragtime, jazz, blues e soul vindo das artériasAfricanas. Na natureza dessa transação, o fato histórico: A África sempredeu mais do que recebeu e acabou na miséria. Com um artista negro não seria diferente.Essa história é uma homenagem a Solomon Linda, Zulu quecompôs uma canção iluminada, enriqueceu o homem brancocom dinheiro e fama e morreu tão pobre, que nem lápide afamília pode colocar no túmulo.

O INÍCIO Tudo começa com a amizade entre um aristocrata britânico eum cantor afro americano famoso. Sir Henry B. Lock, da cúpula Colonial Inglesa era amigo de Or-pheus McAdoo, do lendário grupo vocal de spirituals, os VirginiaJubilee Singers. Indicado governador da Cidade do Cabo, Sir Henry rapidamenteconvida Orpheus e os Jubilee Singers para vir da Àfrica, ondecantam para multidões de nativos boquiabertos em cidades evilinhas.Os Spirituals enfeitiçam os nativos, acostumados aos horríveishinos dos missionários cristãos. McAdoo era seguidor do gospel, mas havia uma subversão rít-mica nas interpretações, prenúncios de funk e soul.Durante quatro anos, excursionam pelos mais remotos pontosda Àfrica. Num deles, uma escola no centro de um vale chama-do Msinga, vivia Solomon, um garotinho nascido em 1909.Fascinado com os Jubilees, incorpora seu canto às músicas Zu-lu que cantava com os amigos em festas.No começo de 1930 Solomon e seus amigos vão a Joanesbur-go tentar a sorte. Moram nas favelas e trabalham como mão deobra barata nas fábricas. Perplexo com a cidade, o esperto Solly transforma o cotidianoem canções a capella (apenas vocal, sem instrumentos) sobre otrabalho, amor, sobre como a polícia trata mal o Negro.Nasce o Solomon Linda and the Evening Birds, pioneiros dogênero Isicathamyia, vocalizações cheias de harmonias e ener-gia, as vozes graves contrapondo as agudas. O povo começa a gostar da música do grupo, que em doisanos é a atração mais quente da cidade. Adotam o terno detrês peças, chapéu e sapato bicolor... Chiquérrimo.A música dos Zulus é marcada por poderosas batidas rítmicasdos pés no chão, que em conjunto fazem a terra tremer. Literal-mente. A dança que a música de Solomon inspirava devia ser controla-da, mais suave... No sapatinho.Quem viu o grupo vocal Ladysmith Black Mambazo, intérpretesconsagrados do gênero lembra dos movimentos insinuantes, dadança dos pés sincronizados.Existiam legiões desses grupos entre os migrantes, que no fimde semana iam as Tea Parties, encontros regados à cerveja,misto de show e desafio entre corais. O prêmio em geral erauma vaca ou outro animal.Se você acha que a capella é só música coral suave e delicada,leva um choque com a intensidade vocal ao escutar um originaldos Evening Birds. O som é tribal, uma fantástica teia de vozesusada como instrumento rítmico. Solomon acabou criando um novo estilo ao dobrar as vozesgraves e injetar mais volume. Nascia uma estrela! Ele era o Elvisde seu tempo e espaço. Era o soprano e líder, cantando num falsetto de arrepiar, a mar-ca registrada da canção do Leão.

A PRIMEIRA GRAVAÇÃOEm 1938 os Evening Birds são descobertos e gravam pelaprimeira vez.O estúdio é de Eric Gallo, produtor ítalo-americano quecomeçou vendendo discos de hillbilly para a classe trabalhado-ra. Agora produzia e gravava estilos musicais nos dialetos locais,Africaner, depois Zulu, Xhosa, o que viesse.Seu sócio, Griffith Motsieloa, era um gentleman e o primeiro pro-dutor negro da África do Sul. Ele não entendia o interesse deGallo na cultura musical das favelas, mas fazer o que? Ele que-ria vender discos para os negros. Talvez desse certo.Tentaram o Afro-hillbilly, mas não pegou. Partiram então para oIsicathamyia.Das várias faixas que gravaram, a que nos interessa é Mbube. Pela música, Solomon e sua banda receberam 10 shillings emdinheiro e Gallo tornou-se o dono dos direitos autorais.A música é composta de três acordes básicos, sobre algo semnexo como “Leão! Ei! Você é um Leão”, inspirado na caça asferas que atacavam o gado. Tudo começou no improviso e no3º. Take, Griffith Motsieloa adicionou piano, banjo e guitarra e láestava a música destinada à glória, com algo cativante na melo-dia central.Quase no fim da gravação, Solly respirou profundamente esoltou o falsetto na melodia de 15 notas que o mundo hoje as-socia às palavras “Na selva, na poderosa selva, o Leão dormeesta noite”.Griffith Motsieloa sacou no ato que Mbube era especial. Envioua matriz à Londres, que prensou discos de 78 rotações,chegando às lojas no dia que a Polônia foi invadida durante asegunda guerra mundial.Haviam poucas rádios negras em 39 e Mbube foi veiculada deboca a boca pelos ouvintes de estações comunitárias dos sub-úrbios. Mbube explode e vende bem durante anos: Foi re-prensada tan-tas vezes que o master desintegrou! E assim, Solomon Linda torna-se o imbatível campeão de de-safios, um herói para os Zulus. Em 1948 já vendera 100.000cópias! Só em Pretoria, Soweto e Joanesburgo. Mas O Leãonão pertencia mais a Solomon. Fora capturado pelo civilizadohomem branco.

A CAPTURA DO LEÃODo outro lado do mundo, em Greenwich Village, o cantor e to-cador de banjo Pete Seeger estava na pior. Desempregado, vivianum quarto de quinta com mulher e dois filhos. De família rica de NY, abandonara Harvard e caíra na estradacom seu banjo. Pesquisara o cancioneiro folk e a música deprotesto social surgida da Depressão nos campos de trabalhoda América. Em NY, juntou-se a banda de Woodie Gurthrie, aLenda. Vestiam-se como os trabalhadores desempregados: camisasbásicas de trabalho e jeans surrados. Escreviam canções deprotesto, sucesso entre a derrotada classe operária. No violãode Gurthrie, um slogan gravado: Esta máquina mata fascistas.No banjo de Pete, a versão soft: Esta maquina cerca o ódio e oforça a render-se. Era o protótipo hippie. Quando Hitler invade a Rússia, escrevem canções antinazistas eganham uma certa fama. Convocado, Seeger vai tocar seu banjo no front. Dispensado em45, sai pelas universidades e escolas ensinando música folclóri-ca americana. Não era o máximo da vida. E o dinheiro era pouco. Pra comple-tar, contrai pneumonia. Eis que Alan Lomax, um amigo, bate emsua porta. Lomax e seu pai já eram famosos por coletar pérolasda musica negra rural.Descobriram Leadbelly e Muddy Waters em suas andanças.Agora Lomax estava na Decca, aonde resgatara do lixo um pa-cote de discos de uma obscura gravadora africana, enviados naesperança de que fossem publicados na América.Quando escutou os discos, pensou...”Meu Deus! Pete tem queouvir isso!”. Um deles era Mbube. Impressionou-se com o ritmo selvagem e alegre, um falsetto in-crível cortando o ar, vozes graves fazendo os baixos...Wow! Elepodia cantar assim. Caneta e papel na mão, transcreveu tudo. Não entendia bem as palavras. Cantavam algo como “Uyim-bube, Uyimbube”. Parecia com Wimo-weh. E foi o que es-creveu. Pete Seeger começou a ensaiar Wimo-weh, sua canção favoritadurante 40 anos, com a nova banda folk, The Weavers.A canção ilumina seu repertório de velharias, na linha deGreensleves. Pete estava cansado de viver na dureza.Queria uma carreira, sucesso, sustentar a família. Conseguira emprego numa estação de TV, mas fora dispensadoantes de começar, dedado como agitador radical... As coisas iam de mal a pior até conseguirem uns shows no Van-guard Village. Duzentos dólares por semana, comida e bebida de graça, duassemanas. E então, algo inexplicável acontece: multidões lotamos shows, a temporada vai para um mês, depois outro e maisoutro...O sucesso dos Weavers era inexplicável. Canções que estavamali há décadas, cantadas por negros e imigrantes... Mas jamaisfaziam “aquele” sucesso.Seis meses depois ainda lotavam o Vanguard. Até a granfinadade Times Square aparecia.Uma dessas figuras era Gordon Jenkins, músico de jazz, arran-

jador de Benny Goodman e maestro de Sinatra. E o novo diretormusical da Decca Records. Adorou o show e resolveu bancar agravação de um disco. Gravaram a primeira faixa em 1950, Goodnight Irene, canção deLeadbelly, amigo e mestre de Seeger. Sucesso imediato!No lado b, Tzena, Tzena, Tzena, canção Israelita adaptada quetambém emplacou. Como também The Roving Kind, releitura doséc. XIX que chegou a terceiro. Enfim uma carreira.Saíram do circuito alternativo para a baba dos cassinos e clubesda época. Vestiam ternos caros, usavam Brylcream nos cabelos,estavam na TV, rádios, faturando mais de três mil dólares porsemana. Para os antigos camaradas de esquerda não pas-savam de hipócritas sugando a cultura negra.Sua resposta foi Wimoweh, fiel ao original a não ser pelo dedil-hado de Seeger no banjo. A prova de fogo era o vocal, que elefazia na perfeição, usando as cordas vocais com tamanho es-forço que estava quase mudo aos 75 anos!Wimoweh era a “quente” do repertório, o que talvez explique aespera de um ano para gravá-la, quando já era sucesso emshows e tv.Jenkins produziu e incluiu orquestra. Seu arranjo tipo big bandquase apaga o esplendor da canção original. Metais e cordasafundando a bela canção de Solomon. Mas Pete entregou-se de tal maneira que Wimoweh pegou dejeito e entrou nas paradas.Diferente de tudo o que fizeram, a Bilboard adorou, elegendo-acanção da semana. Vai estourar! na capa da Cash Box. Primeirapágina da Variety: In-crí-vel!Sucesso, aqui vou eu... Mas os direitos, registrados pelos edi-tores, Richmond & Brackman não incluíam Solomon.

O ESQUECIMENTO DO WEAVERSEnlouquecida e paranóica, a América de 52 caçava Comunistaaté debaixo da cama. Listas eram publicadas, empregos perdi-dos, celebridades delatadas e intimadas.Em Washington, um antigo camarada de Pete Seeger abria o bi-co no Comitê de Atividades Anti-Americanas. Trabalhara com ele na organização esquerdista a Canção doPovo, fornecendo cantores para entreter camaradas nas mani-festações políticas. Estava entregando tudo.Wimoweh estreava na parada de sucessos e ele contava que oscomunistas aproveitavam-se da ingenuidade sexual da juven-tude para recrutá-la para o movimento. E mais: conhecia todosos envolvidos! Eram três dos Weavers, incluindo Pete Seeger!A imprensa marrom enlouqueceu. Repórteres caem matando nagravadora, fazendo pressão nas TVs, revistas e nos clubes:Vocês estão promovendo comunistas! Isso é antiamericano!Daí pra frente tudo deu errado. Shows e aparições na tv cance-lados, discos banidos, intimações...E Wimoweh vai do sexto lu-gar ao esquecimento. Ninguém mais quer saber de um bandode comunistas! A Decca cai fora e no fim do ano, Seeger volta ao começo, en-sinando música folclórica para crianças a troco de merrecas emorando em espeluncas.

PARA A ETERNIDADE, WIMOWEHOs Weavers estavam mortos, mas Wimoweh sobrevive e atraicobras do Jazz como Jimmy Dorsey, cover em 52. A deusa Yma Sumac provoca frisson com a versão cocktaillounge. Incluída num álbum do Kingston Trio, ocupa por 178 se-manas consecutivas o segundo lugar das best-sellers! Con-siderando que Thriller, o single de Michael Jackson, ficou 50 se-manas entre o primeiro e segundo posto...Por essa época, o refrão de Wimoweh ecoava nas rádios daAmérica. Qualquer adolescente conhecia os versos, ah-wim-ô-uei, ah-wim-ô-uei, ah-wim-ô-uei... A música miraculosa de Solly,adaptada por Seeger e pela qual não recebia um tostão furado.Na África, ninguém se preocupava em registrar músicas. Vocêvendia, comia e pagava as suas dívidas e os direitos eram dequem comprava. Ponto final.

RUMO A HOLLYWOOD Em 61 a canção é re-adaptada por Creatore e Peretti, veteranosdo showbiz e por um maestro Phd, George D. Weiss (co-autorde Can’t help falling in Love with you, gravada por Elvis). Man-tém o contracanto, mas a melodia de Solomon assume o centrodo palco e ganha letra em inglês: In the jungle, the mighty jun-gle, The Lion sleeps tonight. The Lion sleeps tonight, remake deWimoweh que era um remake de Mbube!Esta adaptação, gravada pelos Tokens, debaixo de camadas deestilos pop-rock, como um King Kong escondido dentro de umbloco de gelo cristalino. Weiss adicionou tambores tribais, can-tora de ópera, guitarra, baixo, e uma sinfônica. A RCA editou-ano lado B de uma insossa música chamada Tina, que afundoucomo prego na água. Meses depois é resgatada ao acaso por um DJ da WORC,rolando direto na programação. Brian Wilson quase bate o carro quando a escuta no rádio. Arranca um motherfucker dos lábios de Carole King, composito-ra de sucessos.Graças ao DJ, estoura de novo e no fim de 61 é a campeã emquatro paradas dos EUA! Em 62 era cabeça de qualquer paradado globo! Miriam Makeba cantou-a no aniversário de JFK, antes de Mari-lyn sussurrar ao microfone ‘Happy Birthday, Mr President’. To-cou na plataforma de lançamento da Appolo. Foi interpretadapelos Springfields, Spinners e Tremeloes. Volta em 73 comRobert John, o blues man branco e em 82, na releitura de TightFit.Quem mais? Manu Dibango, They might be giants, e até bandaheavy metal alemã. Entrou na trilha sonora de Ace Ventura: Umdetetive diferente. Foi quando a Disney incluiu-a na trilha sonorade O Rei Leão. Depois que o filme estourou, usou-a nas montagens da Broad-way, que deu a volta ao mundo.Foi lançado em dvd, vídeo e no cd-bônus de cantigas tradi-cionais que vinha com o vídeo americano, ganhador de um dis-co de Ouro.A cena? Explicando o astral Hakuna Matata a Simba, Timon en-toa um In the jungle, the might jungle...no retorno a floresta.

A REDENÇÃO DO LEÃOWimoweh tem 65 anos e continua ativa. Estimam-se 160 gravações das três versões, 10 filmes e uns 20comerciais.O que significa tudo isso em direitos autorais e lucros? O queaconteceu com a família de Salomon Linda, que morreu na mis-éria e foi enterrado numa vala comum sem ver um centavodesses milhões? Mbube/ Wimoweh gerou US$ 72 milhões em royalties. Em 1989, a disputa pelos direitos de The Lion sleeps tonight en-tre a Organização Richmond, editores dos Weavers, e Weiss, omaestro da letra em inglês, entra em tribunal de NY. O juiz declara a adaptação de Weiss uma composição separadae diferente da de Linda. Como pode?Enquanto o Espólio da Família Linda é o depositário dos royal-ties a receber por Mbube e Wimwoeh, não tem direitos sobre aadaptação registrada por Weiss e utilizada pela Disney. Hoje, 42 anos depois da morte do pai e vivendo na pobreza emSowetto, suas filhas começam a receber um adicional.Uma centenária lei inglesa de direitos autorais diz que todos osdireitos de uma canção revertem para a família do autor 25 anosapós sua morte. A Suprema Corte da África do Sul designou umpromotor para cuidar do espólio e tentar recuperar esses dire-itos. A lei também enquadrou a gravadora original, a Gallo, quecolocou advogados para cuidar do caso e certificar-se quejustiça seja feita ao ‘pai’do Leão.Ninguém tinha obrigação legal nem contrato com Solomon,ninguém se preocupava com um Zulu. Para todos os efeitos, eraapenas uma canção antiga da África.E parece que nem Solomon se preocupava com essas coisas.Mbube tornou-o uma lenda na cultura Zulu e isso era um desti-no glorioso sob alguns aspectos.Todos acenavam para Linda nas ruas, pagavam drinks,refeições. Era convidado para apresentações especiais, ganhavao suficiente para comprar ternos e sapatos para trabalhar, casarde novo e mandar uma vitrola nova para os garotos da missãode Msinga. Linda desconhecia a ganância.A maior parte do dinheiro vinha dos desafios, ainda hoje parteda vida urbana. Todo fim de semana, Solly e a turminha alugavam um carro eiam de cidade em cidade, sempre vitoriosos. Os rivais tentavam de tudo, até poções, para tornar suas vozestão potentes como a de Solly. Sem sucesso.Os Evening Birds subiam no palco e cantavam até o êxtase. Aplatéia enlouquecia com tamanha energia em festas que var-avam a madrugada.Cego pela adulação que recebia na África, nem se perturbouquando seu Leão dominou as paradas mundiais.Sua escalada de sucesso, fama e fortuna de Wimoweh nosEUA, ainda tirou um sorriso dos lábios de um Solly doente des-de 59, quando desmaiara no palco, antes de morrer em Out-ubro de 62.“Ele ficou feliz, apenas feliz”, disse Philda, uma de suas filhas –“Nem sabia se devia receber alguma coisa por Mbube”.De sua grande família, restam três filhas, unidas após a morteda mais velha, de Aids em 2002.Desde que os direitos autorais passaram para a família, um pro-motor público está processando a Disney, o conglomerado maisativo no uso da canção.Dos incalculáveis milhões que lhes são devidos, 15 milhões so-mente em solo africano, receberam 15 mil dólares até hoje. Eum cheque de mil dólares, enviado por Seeger.Delphi, Elizabeth e Philda ainda vivem numa favela urbana deSoweto. Demoraram 18 anos para colocar uma lápide na cova comumdo pai, que em uma tarde de 1939, foi visitado por anjos em umestúdio de Joanesburgo.

HAPPY END?Howie Richmond publicou Stones e Pink Floyd por um tempo. Ébilionário.

Peretti, falecido, sempre ganhou uns 10% do que Richmond fat-urava. Portanto...

Creatore aposentou-se e vive de royalties dos muitos sucessosde seu currículo.

Weiss? É um compositor de sucesso no cinema e musicais,vivendo entre as dezenas propriedades que possui pelo mundoe os barcos, uma de sua paixões.

UMa mÚSICA

LINKS ESCUTE A VERSÃO ORIGINAL DE MBUBE NAwww.amazon.com CD: MBUBE ROOTS (ZULU CHORAL MUSIC

FROM SOUTH AFRICA, 1930'S-1960'S) VARIOUS ARTISTSINTERNATIONAL - AFRICA