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UNEGRO, UM PROJETO DE RAÇA, CLASSE E GÊNERO NO BRASIL
Alexandre Francisco Braga1
RESUMO: Este artigo destina-se ao X Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as
Negros/as realizado na Universidade Federal de Uberlândia, no qual abordaremos a trajetória
da Unegro (União de Negras e Negros Pela Igualdade) na construção de um projeto de raça e
classe para o Brasil. Utilizamos como método historiográfico a narrativa militante em
documentos institucionais e produções bibliográficas sobre os temas das lutas negras com
enfoque no problema de raça e classe. Destacaremos, pois, nessa trajetória, o engajamento
performático com contribuição e influência do pensador marxista Clóvis Moura (1925-2003),
trazendo a lume elementos que articulam a luta contra o racismo com uma proposta de
emancipação humana, portanto, para além da questão identitária.
Palavras-chave: Unegro, raça, classe, Clóvis Moura.
1 INTRODUÇÃO
A Unegro2 foi fundada em 14 de julho de 1988, na cidade de Salvador, na Bahia, em
reunião que aconteceu no interior da Biblioteca Pública do Estado, no bairro de Barris, num
rompimento da noção de que o racismo era um fenômeno isolado de separação entre brancos
e negros na sociedade brasileira. Nesses 30 anos de ativismo, a entidade vem consolidando
1Estudante de graduação em Ciências do Estado na Faculdade de Direito da UFMG e Presidente da Unegro em
Minas Gerais. E-mail: [email protected].
2 Como resolução de seu 5º Congresso Nacional realizado em 2016 em São Luís, no Maranhão, a entidade
passou a se chamar União de Negras e Negros Pela Igualdade. Anteriormente, era apenas União de Negros Pela
Igualdade.
2
um projeto de crítica social não só contra o racismo e o sexismo, mas, também, contra o
capitalismo. Com quase 12 mil filiados em 25 estados da Federação, a atual direção nacional
da Unegro foi eleita durante seu 5º Congresso Nacional, realizado em São Luís, no Maranhão,
em junho de 2016. Como organização do Movimento Negro, a entidade enfatiza a articulação
entre as lutas de raça, de gênero e de classe, uma vez que
acreditávamos que isso tinha que estar articulado com a visão de classe e
com uma visão das relações de gênero, porque qualquer projeto de
superação do racismo no Brasil teria que estar conjugado também com
superação de outras formas de opressão que justificam essas hierarquias
racial, social e de gênero, que fundamentam a estrutura social brasileira.
Essa foi a razão da criação da Unegro. (ALBERTI,PEREIRA, 2005, p. 5).
Para cumprir esses objetivos, a Unegro utiliza os fundamentos teóricos de escritores e
escritoras de origem afro-brasileira, como o sociólogo Clóvis Moura. Clóvis Moura que foi
um sociólogo da práxis negra cujas indagações eram os dilemas da constituição da nação com
destaque para a marginalização da população negra num processo que chamou de um racismo
“tipicamente à brasileira”. No entanto, e diferentemente de Gilberto Freyre (1900-1987),
Moura buscou valorizar a resistência dos negros e seu importante papel na transformação ou
destruição de sua condição de escravo, portanto, seu caráter dinâmico na história do País em
que deu à análise dos quilombos e das numerosas insurreições escravas uma nova
interpretação da formação da sociedade brasileira. Conforme Mesquita (2003, p. 557),
“Clóvis Moura observou que a sociedade brasileira se formou através de uma contradição
fundamental, senhores versus escravos, e em sendo as demais contradições decorrentes
dessa, pautadas por extrema violência, aspecto central do sistema escravista”.
Clóvis Moura remete ao pensamento marxista quando relaciona o negro como o
sujeito histórico da sua própria transformação e quando observa que as relações de produção
têm como base o racismo como elemento estrutural e estruturante no Brasil. Portanto, da
mesma forma que Marx entendia a classe operária como sujeito da revolução; e esta
3
descoberta foi feita a partir da experiência com os movimentos sociais mais avançados de sua
época, em que Clóvis coloca no negro o sujeito revolucionário e protagonista de sua
autoemancipação dentro de uma práxis histórica negra.
2 CONTEXTO HISTÓRICO
Organizada em 25 estados da Federação mais o Distrito Federal, entre os quais (AC,
AL, AM, AP, BA, CE, DF ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RN, RO, RR,
RS, SC SE, SP, TO), a organização foi fundada com os seguintes objetivos:
● Lutar contra o racismo em todas as suas formas de expressão;
● Empenhar-se na preservação e desenvolvimento da cultura negra;
● Defender o livre direito de escolha da orientação sexual dos homens e mulheres negras;
● Defender os direitos culturais da população negra;
● Externar solidariedade e apoio à luta dos povos africanos e povos oprimidos de todo o mundo;
● Lutar pelo exercício da cidadania em todos os setores da vida social do País;
● Defender de uma sociedade justa, fraterna, sem exploração de classe, de raça ou baseada na
exploração entre os sexos.
Esses objetivos foram aprovados numa época de grandes agitações políticas e
ideológicas no Brasil, pois o País acabara de sair de quase 25 anos de ditadura militar. No
Congresso Nacional, Tancredo Neves fora eleito com o apoio de importantes políticos que
4
antes davam sustentação ao governo militar, entre eles José Sarney (que foi Presidente da
Câmara pela extinta Arena) e Antônio Carlos Magalhães, por meio da recém-fundada “Frente
Liberal”. Sarney torna-se vice na chapa de Tancredo Neves, na eleição indireta. (ROCHA,
2013, [s.d.] p. 18).
Porém, com a morte de Tancredo Neves (1985) a presidência foi parar nas mãos de
José Sarney, cuja promessa principal era fazer uma nova Constituição, em 1985. Apesar da
confusão política que se instalara, esse ano reserva alguns traços; a herança da ditadura
cobrará rapidamente a fatura, inflação alta, descontentamento com as poucas mudanças no
plano institucional. Ou seja, a morte de Tancredo resultou por dificultar a transição da
Ditadura a Democracia. (ROCHA, [s.d.], 2013). Nesse turbilhão, é aprovada a Emenda
Constitucional nº 26, em de 17 de novembro de 1985, para convocar a Assembleia
Constituinte a se reunir em fevereiro de 1987, com os Deputados e Senadores eleitos em
novembro de 1986, somados aos Senadores biônicos, de 1982.
Durante o ano de 1986, o mundo surpreendeu-se com a subida de Mikhail Gorbachev
ao governo da União Soviética e com o anúncio de duas ações acachapantes: a Perestroika e a
Glasnost, ambas punham fim ao socialismo naquele país. Do lado americano, a propaganda
“American way of life” ganhou como nunca o mundo, favorecida por uma conjuntura
econômica excepcional, superada a crise do petróleo dos anos 1970. Ainda contando com a
fraqueza do outro lado do muro, os anos 1980 foram marcados pelos ideários americanos do
liberalismo. Conforme Rocha ([s.d.]), esse período ficou marcado por:
O ataque é imenso às principais conquistas dos trabalhadores: a
flexibilização dos contratos de trabalho, as reformas na previdência social e
o corte dos subsídios aos programas de assistência às comunidades mais
carentes estão entre estas medidas, que visam diminuir a presença e a
intervenção do Estado na economia. Aquela realidade bipolar que
favorecera os trabalhadores do mundo ocidental já não era tão necessária,
5
pois com a iminente queda do muro de Berlim, as potências ocidentais
cuidaram rapidamente de maximizar seus ganhos financeiros, retirando uma
parte significativa das conquistas sociais. (ROCHA, 2013, p. 1).
Ainda no cenário geopolítico externo, houve a queda do Muro de Berlim (1989), na
Alemanha, o fim da Guerra Fria e registrara-se um afastamento do Brasil em relação aos
parceiros africanos. Nessa época, a política externa brasileira para a África sofre
demasiadamente, pois sua manutenção, pelo menos nos moldes que vinha sendo
desenvolvida, vê-se comprometida até mesmo no âmbito diplomático. Do ponto de vista das
políticas internacionais em direção ao continente africano, as ações perdem espaço, e sua
legitimidade passa a ser contestada, sob a alegação de que essa região era deficitária
(RIBEIRO, 2009, p.299). É sob a influência e os impactos desse contexto macropolítico que a
Unegro foi fundada, em 14 de julho de 1988. Cenário que congregava a desesperança pelo fim
dos regimes socialistas em diversos continentes e países, aumento da hegemonia norte-
americana nas políticas públicas e o avanço do ideário neoliberal. No âmbito doméstico, a
eleição de Fernando Collor de Mello (1989) aos 29 anos de idade, via eleições diretas, com
82 milhões de brasileiros comparecendo às urnas e inflação na ordem de 1.198,54%, é outra
marca do período.
3 PARTICIPAÇÃO INSTITUCIONAL
Diante do cenário adverso narrado anteriormente, a Unegro tem buscado traçar
estratégias de ação política que consigam extrair benefícios para a população negra e gerar
alternativas de combate ao racismo, preconceito, à discriminação racial imposto à população
6
negra, bem como na busca de justiça social a todos indistintamente. Essa intensificação se dá
através de formulação de diagnóstico e propostas para superação do racismo, ações
comunitárias, articulação em fóruns do movimento social e do Movimento Negro,
participação nos conselhos paritários - governo e sociedade civil - de formulação política para
promoção da igualdade racial ou promoção universal de direitos. Na esfera governamental3, a
Unegro compôs o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), Conselho
Nacional de Políticas de Juventude (Conjuve), o Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS), o Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) e o Conselho Nacional de Saúde
(CNS). A Unegro fez parte, ainda, de comissões temáticas voltadas para acompanhar e
monitorar políticas públicas específicas como por meio do Programa Diálogos Governo –
Sociedade Civil: Brasil Sem Miséria, realizado em 2012, e no Comitê Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONATRAP), instituído pelo Decreto nº 7.901, de 04
de fevereiro de 2013, pelo Ministério da Justiça. A entidade justifica essa participação da
seguinte forma:
Esta convicção política sustenta as raízes do nosso crescimento,
respeitabilidade e aliança com amplos setores progressistas da sociedade.
Sobre este compromisso apoiamos as nossas responsabilidades políticas e
institucionais com o firme propósito de construção de uma sociedade com
mais democracia, livre, justa e solidária. (UNEGRO,[s.d.]).
3 Em 2009, a Unegro participou da I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e, em seguida, passou a
fazer parte do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
7
4 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
Na esfera jurídico-política4, a Unegro vem atuando para viabilizar a regularização
jurídica, historiográfica e documental das comunidades de matrizes africanas as quais lhe têm
envido demandas de solicitação de apoio. Foram encaminhadas e feitas tratativas políticas
visando aprovar no Parlamento as utilidades públicas de comunidades tradicionais de matriz
africana e articulações junto aos cartórios no sentido de atualizar a documentação dessas
comunidades, conforme determina o novo Código de Processo Civil e o (Mrosc) - Marco
Regulatório das Organizações da Sociedade Civil, conforme a Lei 13.019/2014. Nesse
aspecto, foram assessoradas para aprovarem seus Títulos de Utilidade Pública as
comunidades: Associação de Resistência Cultural da Comunidade Quilombola Manzo
Ngunzo Kaiango, com sede no município de Belo Horizonte, por meio da Lei Estadual nº
2.527, de 2011, Associação de Parentes e Amigos da Família Juviano com aprovação da Lei
Estadual nº 20.066, em 4 de abril de 2012, e Associação Quilombola Teodoro Fazenda
Sertãozinho, do município de Capinópolis, com a aprovação da Lei Estadual nº 22.934 de 12
janeiro de 2018.
4 Claro, por regularização fundiária não estamos falando da posse definitiva da terra, mas de ações nos cartórios,
visando regularizar a documentação das associações com o objetivo de pleitear essa posse.
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O Título de Utilidade Pública da Unegro foi aprovado por meio da Lei Municipal nº
10.300, em 1º de Novembro de 2011, junto à Câmara Municipal de Belo Horizonte, e Lei
Estadual nº 22.104, em 2017, junto à Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
1.4 Ativismo Social
Na sequência dessas ações institucionais e políticas, a Unegro deu continuidade a uma
série de articulações junto aos demais movimentos sociais para além da questão racial. Numa
estratégia focada na ampliação das lutas sociais não só de caráter universal, mas, e bem como,
voltadas para tematizar a luta contra toda forma de opressão e contra o sistema capitalista,
seja por meio da solidariedade internacional, marchas e protestos políticos que foram e são
realizados tendo em perspectiva a unidade popular e o fortalecimento da classe trabalhadora e
dos segmentos identitários.
Anda no período constitucional, a Unegro realizou três seminários: o “Seminário
em Defesa da Criança e do Adolescente,” cujo objetivo foi o de envolver entidades do
Movimento Negro e do movimento popular em torno da defesa do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que acabara de ser criado nessa época, o Seminário “Raízes da Discriminação
Racial”, planejado para fazer um balanço e uma reflexão sobre as relações raciais no Brasil a
partir de um perspectiva histórica, e o Seminário, em agosto de 1990, com o tema “Criança e
Aids,” para refletir sobre a incidência dessa doença na população infantil, ambos na cidade de
Salvador, na Bahia.
Em seguida, no ano de 1991, a Unegro participou da Comissão Organizadora do I ENEN -
(Encontro Nacional de Entidades Negras), - que deliberou pela criação da Conen –
Coordenação Nacional de Entidades Negras, iniciativa na qual a Unegro tornou-se membro da
sua estrutura diretiva. Ainda nesse ano, a Unegro participou do processo de construção do II
9
Encontro Nacional de Mulheres Negras - Estratégias e Perspectivas, também na capital da
Bahia. Já em 1992, são fundadas seções da Unegro nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 1994, nos dias 13 e 14 de maio, aconteceu o I Seminário “O Negro na Educação”. Para
celebrar os 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro de 1995,
realizou-se em Brasília a “Marcha de 300 anos de Imortalidade de Zumbi dos Palmares”. O
evento teve como ponto principal a cobrança junto ao governo brasileiro de políticas públicas
de elevação da qualidade de vida da população negra.
No âmbito cultural, a Unegro lançou, em 1995, o “Troféu Clementina de Jesus”, com
o objetivo de homenagear mulheres e homens negros que se destacaram na defesa e afirmação
social e racial do povo negro na Bahia e participou do Congresso Continental dos Povos
Negros das Américas, realizado em São Paulo. No âmbito internacional, entre os dias 06 e 8
de Dezembro de 1996, uma delegação da Unegro participou do II Encontro Afrocaribenho e
Latinoamericano de Mulheres, realizado em São José da Costa Rica. Já a “Marcha 24 horas
Contra o Desemprego, a Violência e Pela Paz,” realizada em 17 de abril de 1999, teve apoio
do movimento Hip Hop. Ano que foi fundada, ainda, a Unegro em Minas Gerais e que
aconteceu o II Encontro Nacional de Entidades Negras, no Rio de Janeiro. Durante as
celebrações do “Brasil São Outros 500”, em 2000, a Unegro publicou a primeira edição de sua
agenda institucional com fatos protagonizados por negros na história de formação da
sociedade brasileira. Também, em novembro desse ano, a Unegro enviou representação para a
Conferência da CLPL (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), na cidade mineira de
Belo Horizonte.
Visando afirmar seu caráter internacionalista e sua preocupação com a solidariedade
internacional, a Unegro esteve presente no dia 24 de novembro de 2000 no Encontro de
Embaixadores dos Países Africanos e do Caribe, em Brasília, e na Conferência Preparatória
Regional das Américas, em Santiago, no Chile. Enviando cinco representantes para a “III
Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas
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Correlatas de Intolerância,” promovida pela ONU (Organização das Nações Unidas), em
Durban, na África do Sul, em 2001.
A partir de 2003, logo após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Unegro
compõe e ajuda a construir diversos instrumentos de participação popular e controle social,
como as conferências temáticas das Cidades, Saúde, Segurança Alimentar, Juventude,
Direitos Humanos, LGBT, Educação, Promoção da Igualdade Racial, tanto na qualidade de
delegada como na condição de convidada e membra de comissão organizadora.
No período compreendido entre 2000 a 2018, a Unegro participou, no Brasil e no
exterior, das edições do Fórum Social Mundial (FSM), e de duas edições do Fórum Social
Brasileiro (FSB). Sendo que em 2008 a entidade organizou o “I Colóquio Internacional de
Mulheres Negras”, cujo evento teve a participação de delegações de oito países. Em 2009,
participou do “Rutas de Aprendizaje pasos, tones y sones: experiencias exitosas de
valorización de musicalidades afrolatinoamericanas como activos culturales, en contextos
rurales,” promovida pela Fundação Acua, Procasur, do Chile, e em parceria com o Fundo de
Desenvolvimento da Agricultura e do “Etnoeducación para el Desarrollo: una visión desde lo
afro”, em Guayaquil, no Equador, organizado pelo Convênio Andrés Bello.
Como resultado do encontro “Etnoeducación para el Desarrollo,” no Equador foi
aprovada a proposta do representante da Unegro, Alexandre Braga, de fundação da
Organização Latino-Americana de Entidades Negras (OLAEN5), composta pelas
equatorianas: Afroamerica XXI, Asoc de Mujeres Afroecuatorianas Luchando por la
Igualdad, Centro Afro Guayaquil, Mujeres Progresistas, Desarrollo Afro Artesanal,
Fundación de Desarrollo Social y Cultural Afroecuatoriano, Proyecto de Desarrollo
5 Apesar de ter aprovada sua fundação, a Olaen ainda precisa de efetivação e de nova reunião de caráter
organizativo para dar continuidade de construção dessa associação.
11
Afroecuatoriano, Cámara Artesanal Esmeralda, Federación Unión Jaime Hurtado, Asociación
de Mujeres Negras, Fundación Cimarrones Siglo XXI, Asoc. Nuevo Despertar, Fudine,
Femuafro, Grupo de Jóvenes en la Lucha, Org. el Canalete, Asomuneg Provincia del Guayas,
Fundacion de Negros del Ecuador “Gral Juan Otamendi,” as colombianas: Fushpac, Fundafro
- Ineafro, Corporación Jorge Artel, Movimiento Cívico Social y Cultural, Valores de Nuestra
Etnia; as chilenas: Organización Cultural y Social Afrochilena Lumbanga e Oraperle; as
peruanas: Asoc. Cultural Afroyapatera e Lundu; a boliviana: Fundafro Pedro Andavarez
Peralta; e as brasileiras: Unegro e Koinonia. A Olaen ainda segue como projeto para ser
efetivado nos próximos encontros latino-americanos.
Em 2012, a Unegro recebeu a premiação na categoria “Rescate de Valores Culturales,” da
Corparación Procasur, do Chile. Em 2014, após o encerramento do Encontro Nacional de Mulheres da
Unegro, em Vitória no Espírito Santo, as participantes emitiram a seguinte declaração:
Para a Unegro, a maior distorção da democracia brasileira se dá no campo
da representação política, daí a necessidade de reformas no sistema político,
mais destacadamente a reforma política. Defendemos uma reforma que
democratize a nação, incorpore o povo, fortaleça as instituições partidárias,
garanta a presença de mulheres e negras nas listas partidárias. Para isso
somaremos aos esforços dos movimentos sociais que crescentemente têm
pautado a reforma política. Além da reforma política será necessário um
processo de convencimento da população negra visando maior participação
política e consciência que a responsabilidade inicial de ascender negras e
negros no poder não pode ser delegada a segundos. Consideramos que as
forças políticas que atualmente governam o país são as únicas com
condições de assumir novos compromissos com a população negra com
vista a superar a dívida histórica que a nação tem com as mulheres negras.
12
Por isso, defendemos a continuidade de Dilma Rousseff na Presidência da
República com a certeza que aprofundará a mudança. (UNEGRO, 2014a).
Com essa Declaração, a Unegro se posicionou em prol da reeleição da presidenta
Dilma Rousseff e, sem seguida, associou-se à Frente Brasil Popular contra o golpe de Estado
que realizou o impeachment da presidenta, em 2016. Anteriormente à experiência da Frente
Brasil Popular, a Unegro participou da CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais)6,
fundada em 2003 para articular as lutas dos movimentos sociais, da cidade e do campo. A
CMS congregou em suas fileiras as centrais sindicais, entidades estudantis e movimentos
populares, feministas e negros. Nesse ínterim, a entidade emitiu a seguinte opinião sobre a
Palestina:
Mais uma vez estamos assistindo ao novo massacre contra o povo palestino.
Desde 2007, Israel mantém um violento bloqueio aéreo, terrestre e marítimo
na região, e para isso usa a força militar e o controle dos meios de
comunicação para perpetrar um verdadeiro genocídio contra o povo
palestino. Crianças, idosos, mulheres e a população civil em geral são os
alvos dos violentos ataques militares que têm destruído hospitais e casas dos
cidadãos de bem. E, para o êxito dessa destruição em massa, o governo de
Israel vem pondo abaixo até escolas para aniquilar de vez a resistência
palestina. Por isso, precisamos fazer com que a pressão internacional e a
mobilização dos movimentos sociais façam os sionistas pararem com mais
essa agressão no Oriente Médio. Assim, e no bojo dessas mobilizações,
reafirmamos a independência, a autonomia e a soberania do Estado da
Palestina, como ficou aprovado na Declaração de Independência da
Palestina em 15 de Novembro de 1988 quando a OLP (Organização para a
6 Em 2014, a CMS foi substituída pela Frente Brasil Popular.
13
Libertação da Palestina) obteve apoio para essa causa por mais de 130
países, cujo território compreendia Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza.
Além disso, nos solidarizamos com a causa palestina e em defesa da paz,
exigindo o fim do massacre e a autodeterminação dos povos oprimidos do
mundo, pois a luta palestina também é uma luta do Movimento Negro, já
que os horrores da escravidão e do Holocausto são episódios corriqueiros
naquela região, praticados; agora, pelo governo israelense. (UNEGRO,
2014b).
De lá para cá, a entidade vem realizando diversas ações políticas pela volta da
normalidade democrática e contra os retrocessos sociais advindos do novo governo no poder,
em especial as ações através do movimento “Lula livre”, voltadas para pressionar pela soltura
do ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva. Tais objetivos e metas foram diagnosticados
durante o I Seminário de Planejamento Estratégico realizado entre os dias 13 e 15 de julho de
2018, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Estadual do Maranhão, cuja execução a
Unegro pretende fazer até o final de 2020.
5 PRÁXIS MARXIANA
Foi o próprio Karl Marx quem escreveu sobre sua preocupação do avanço do racismo
nas sociedades de classes, pois “a divisão da sociedade até o infinito nas raças mais diversas,
que se enfrentam umas às outras com pequenas antipatias” (MARX, p.1, 2010) já que o
racismo e as demais desigualdades são inerentes e estruturantes do capitalismo:
14
(...) a escravidão e a servidão articularam-se de modo singular com o
capitalismo nas mais distintas formações sociais, adaptando-se a diferentes
realidades e costumes ou simplesmente dissolvendo e destruindo tradições
não compatíveis com a lógica do capital. Assim, a divisão social e o conflito
são marcas estruturais da sociedade capitalista, uma sociedade que só pode
ser compreendida se dividida em classes, as classes em grupos, e os grupos
em indivíduos, num processo permanente de classificação de indivíduos e
de grupos sociais por critérios de pertencimento nacional, racial, sexual e de
gênero (…) (ALMEIDA, 2016, p. 1).
Essa compreensão veio oriunda das reflexões de Angela Davis, em Mulheres, Raça e
Classe, publicado em 1981, cuja essência traz, dentro da tradição marxiana da 3º
Internacional, o foco no problema racial como elemento de reprodução da sociabilidade do
capital. Isto é, o capitalismo é um sistema social que usa a violência e o conflito como fatores
imprescindíveis da vida social, e não o contrário. (ALMEIDA, 2016). Dessa forma, não é
possível viver na sociedade capitalista sem racismo e sem exclusão social, como apontou o
Movimento dos Panteras Negras, o cineasta Malcom X e diversas organizações políticas
ligadas à luta pelos direitos civis dos negros e negras. Assim, é não só plenamente possível,
mas é necessária a construção de um projeto de raça e classe no Brasil, como propõe a
Unegro. Isto é, é atual a luta pela construção de uma sociedade socialista pautada no fim das
desigualdades de raça e gênero, cuja retomada da agenda de lutas sociais nos Estados Unidos,
na América do Sul, na África e Europa mostram a força dos movimentos identitários que
estão conduzindo tais iniciativas para além do marco político do proletariado, até então nossa
única possibilidade. Na verdade, são sua maior expressão da subjetividade e de organicidade
da nova cara da classe trabalhadora, focadas nessas relações conflituosas deixadas pelas
contradições pelas quais o capital se engendrou, na medida em que nosso proletariado
brasileiro é de maioria negra, periférica, e que acabou de sair de um conturbado processo de
15
escravismo colonial. (MOURA, 1983). Todavia, sobre esse perfil do proletariado, Clóvis
Moura enfatiza ainda que,
Numa sociedade assimétrica e contraditória como a brasileira, no entanto,
alguns que negam a existência de um problema específico do Negro no
Brasil, acham que o Negro é elemento cujos movimentos fogem ao
simétrico, e, por isto, são separatistas, desagregadores e procuram desunir e
separar o que se devia unir: o proletariado. (MOURA, 1983, p. 126).
Daí trata-se de ir além da caracterização da divisão racial do trabalho no Brasil, numa
perspectiva de abolir o trabalho cativo – contra os negros e negras -, mas, e igualmente,
abolir as próprias “relações escravistas na estrutura da nossa sociedade atual”, conforme
Moura (1983, p. 131), visto que “não é um fato fortuito, epifenomênico, mas faz parte desta
realidade econômica, política, ideológica e cultural” da nossa sociedade (MOURA, 1983, p.
134). Pois, de acordo com Marx, na Crítica do Programa de Gotha, a libertação dessa classe
é uma obra que tem que ser conduzida pelos próprios trabalhadores, já que, eliminando as
diferenças de classes, estaria desaparecida toda forma de desigualdade social, política e racial
derivadas dessas diferenças. (MARX, 2012, p. 39). Isto posto, em nossa compreensão,
enfatizar a luta identitária focada no elemento negro, ou melhor, no proletariado negro, é
enfatizar uma ala proletária que ultrapassou o escravismo, mas vive as piores conseqüências
do capitalismo tardio e, por isso, visa eliminar o caráter capitalista que moldam as relações
econômicas, sociais e políticas brasileiras. Assim como Marx soube identificar o perfil do
“povo trabalhador” alemão majoritariamente camponês, e não como proletários, essa
característica se aplica com o povo trabalhador brasileiro, majoritariamente negro. Ainda,
também, não na esfera da circulação ou da distribuição - justa ou humana – mas na esfera da
produção, que é segregada, racista e que continua carregando consigo traços da abolição da
escravatura, não efetivada. Portanto, estamos falando de um Movimento Negro como agente
da mudança histórica e que emprega a epistemologia feminina negra para esse objetivo, como
propõe Collins (2000) em seu livro Black Feminist Thought. Ou seja, uma prática e uma
16
teoria como noções libertadoras, que não valorizem o status quo e tragam, além disso, um
pensamento crítico da realidade (HOOKS, 2013).
Por esse ângulo da práxis marxiana e fundamentados num marco teórico da
emancipação humana, refutamos e não encontramos contradição entre a pauta negra e a atual
lutas de classes baseada na recuperação do protagonismo dos movimentos sociais, sejam eles
nacionais ou transnacionais. Por meio dessa perspectiva, discordamos de autores como Ennes
e Marcon (2014) ou Siqueira (2002, p.3), quando essa pesquisadora afirma que:
Os “novos” movimentos sociais desenvolvem ações particularizadas
relacionadas às dimensões da identidade humana, deslocada das condições
socioeconômicas predominantes, de modo que suas práticas não se
aproximam de um projeto de sociabilidade diferenciada das relações sociais
capitalistas, ou seja, não se voltariam para a transformação das atuais formas
de dominação política e econômica, no sentido da construção de sociedade
baseada na organização coletiva e no desenvolvimento das potencialidades
humanas na direção não capitalista. (SIQUEIRA, 2002, p.3).
Obviamente, como alegam os autores e a autora citados, há no atual quadro político
dos movimentos sociais uma perda da dimensão produtiva e econômica na condução das lutas
políticas. No entanto, no caso da Unegro, é esse o fator classista, a fonte e origem do conflito
racial no âmbito das interações humanas e laborais no Brasil, e não o contrário. Portanto, a
construção da gemeinwesen7 do proletariado proposta por Frederich Engels (1820-1895) é
absolutamente realizável e está na ordem do dia das lutas sociais de matrizes negras. Da
mesma forma, essa iniciativa é compatível com uma práxis marxiana, como propõe Clóvis
7 Construção da comunidade do proletariado em vez de ditadura do proletariado como polemizou Engels acerca
dessa expressão. Conf.: Marx (2012. p.56).
17
Moura, hodiernamente. Seja no plano político da emancipação humana, seja no plano das
lutas sociais de caráter identitário, esse programa negro, que é socialista e classista e
antirracista ao mesmo tempo, congrega uma nova feição do proletariado brasileiro. Um
programa que é, também, ao mesmo tempo, um chamado à mobilização contra o caráter da
negropolítica neoliberal (MBEMBE, 2016) e um chamado contra seu momento ontonegativo
(CHASIN, 2012), na medida em que a cena política é imprescindível para a realização desse
projeto social pautado e vocacionado para a sociabilidade do trabalho (CHASIN, 2012). É
Justamente esse o compromisso da Unegro ao comemorar 30 anos de vida militante, inclusive
no momento em que essa opção está registrada no Artigo 41 do Estatuto da Unegro de Minas
Gerais, ao proclamar que fica “instituído o Prêmio Clovis Moura para as pessoas (jurídica e
física) que se destacaram na luta pela promoção da igualdade racial”, (UNEGRO, 2014b), e
que através dessa premiação faz uma justa homenagem a um dos destacados pensadores que
uniram, umbilicalmente, uma proposta de raça e de classe para a edificação dessa sociedade
socialista no Brasil, o sociólogo Clóvis Moura.
6 A CONVERGÊNCIA NEGRA DO BRASIL
Reunidas no dia 21 de janeiro de 2016, durante o Fórum Social Temático de Porto
Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, lideranças do Movimento Negro representando 21
organizações nacionais, regionais e estaduais de 13 Estados, declararam a conformação de
uma unidade tático e política que recebeu o nome de “Convergência Negra do Brasil”, pela
qual foram publicados alguns pontos de vistas sobre a realidade brasileira, a luta negra e a
necessidade de um diálogo para a construção da unidade da luta de combate ao racismo,
18
iniciado, anteriormente, em reunião das organizações negras na cidade de Salvador (Bahia),
em de novembro de 2015. A Convergência Negra é composta por ABPN (Associação
Brasileira de Pesquisadores Negros e Negras), APN’s (Agentes Pastorais Negros), CEN
(Coletivo de Entidades Negras), Círculo Palmarino, Conajira (Comissão Nacional de
Jornalistas pela Igualdade Racial), Conaq (Coordenação Nacional das Comunidades
Quilombolas), Conen (Coordenação Nacional de Entidades Negras), Enegrescer (Coletivo
Nacional de Juventude Negra), FNMN (Fórum Nacional de Mulheres Negras), Fonajune
(Fórum Nacional de Juventude Negra), MNU (Movimento Negro Unificado), Quilombação,
Rede Afro LGBT, Rede Amazônia Negra, Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular
para Negras/os e Classe Trabalhadora) e Unegro.
O Programa Político da Convergência Negra está voltado para cumprir as seguintes
metas e perspectivas de mobilização da população negra brasileira:
1) Contra a redução da maioridade penal;
2) Combater o extermínio/genocídio juventude negra8;
3) Aprofundar as políticas e ações afirmativas no País, com destaque nas mulheres
negras;
8 Em relação aos casos de genocídio da juventude negra, a Unegro, entre outras ações, denunciou o Caso Toni à
Comissão de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos). O estudante de Guiné-Bissau,
Toni Bernardo, foi assassinado, em setembro de 2011, numa pizzaria de Cuiabá, depois de ser espancado por
policiais da Polícia Militar do Mato Grosso. Porém, o Comando da corporação optou pela absolvição
administrativa dos dois militares. Na petição junto à OEA, a Unegro pede, além de punição dos acusados, a
coibição aos episódios de violência policial no Brasil. Cf.:< http://copopular.com.br/cidades/id-
91513/caso_toni__governo_brasileiro_pode_sofrer_sancoes_internacionais_pela_morte_de_estudante_africano>
. Acesso em: 05 jun. 2018.
19
4) Autonomia das mulheres negras e participação nos espaços de poder público e
privado;
5) Lutar pela efetivação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008;
6) Avançar na pauta quilombola, nenhum quilombo sem suas terras regularizadas e
tituladas e com políticas públicas para melhoria da qualidade de vida;
7) Combater a intolerância e violência religiosa, garantir a laicidade do Estado e
proteger a liberdade de culto;
8) Criminalizar a homofobia;
9) Pela aprovação da PL 4471/12, que põe fim aos autos de resistência;
10) Democratização dos meios de comunicação, e
11) A cultura afro-brasileira é parte fundamental da cultura geral no Brasil, e neste
sentido, atuaremos pela ampliação da sua inclusão nas políticas públicas, bem como
em toda e qualquer discussão do movimento negro brasileiro, enquanto instrumento de
transformação social.
Por meio dessas propostas a Convergência Negra tem como meta construir um projeto
político para o povo negro no Brasil. Durante as Eleições Municipais de 2016, a
Convergência Negra publicizou a “Carta Aberta da Convergência Negra Sobre as Eleições
Municipais de 2016 – Plataforma Mínima aos Candidatos,” em que afirmou que a:
manutenção e fortalecimento da arquitetura institucional das políticas públicas de
promoção da igualdade racial com a criação de órgãos específicos de políticas de
20
igualdade racial nos municípios onde não existem e fortalecimento onde existem. E
aprovação de orçamentos condizentes com as necessidades destes órgãos, além disso,
é fundamental que tais estruturas tenham um caráter participativo, daí a necessidade
não só da existência dos mesmos, mas também de conselhos participativos paritários
entre representantes governamentais e das entidades do Movimento Negro.
(CONVERGÊNCIA NEGRA, 2016).
A partir da divulgação dessa Carta Aberta, a Convergência Negra objetivou promover
uma reflexão sobre o combate ao genocídio da juventude negra, com posicionamento
explícito e firme contra a redução da maioridade penal e a violência policial e implantação de
políticas públicas para jovens negras e negros, em especial dos bairros periféricos. Também
estiveram presentes nas pautas de reivindicações desse documento uma defesa das políticas de
ação afirmativa com corte racial e de gênero, implantação de medidas para ampliação da
presença de mulheres negras nos espaços de poder, bem como reivindicar das direções dos
partidos políticos a destinação de parcela do Fundo Especial de Assistência aos Partidos
Políticos, conforme artigo 17 da Resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nº23.464, de
17 de dezembro de 2015, para custear atividades, formação e promoção étnico e racial dos
filiados e filiadas, e com o emprego desse Fundo para o sustento de candidaturas negras. Com
base nessa plataforma eleitoral as entidades do Movimento Negro pretendem diminuir, nos
próximos processos eleitorais, a segregação racial entre brancos e negros no Brasil, com
fortalecimento do empoderamento étnico racial das mulheres negras, dos jovens e dos
ativistas sociais que lutam em defesa da causa da promoção da igualdade racial.
A Unegro atua tanto na Frente Brasil Popular quanto na Convergência Negra como
polos de ativismo social mais amplo, buscando a unidade das diversas organizações sociais e
coletivos que lutam por causas humanitárias no País, sejam elas de cunho racial, de classe, de
gênero ou emancipatória e visando fortalecer a luta de combate ao racismo que é estruturante
da sociedade brasileira.
21
7 CONCLUSÃO
Ao completar 30 anos de atuação política a Unegro, consolidou uma práxis negra no
Brasil, seja por meio da participação em conselhos de políticas governamentais (Conselho
Nacional de Assistência Social, Conselho Nacional de Política Cultural, Conselho Nacional
de Promoção da Igualdade Racial), seja em articulação com movimentos sociais, como Frente
Brasil Popular, ou por meio da Convergência Negra, inspirada no sociólogo Clóvis Moura.
Nessa trajetória de construção dessa práxis negra, a Unegro vem empreendendo um
campo sociopolítico de recuperação da afirmação pela emancipação humana, portanto, de
superação da sociedade de classes, e da confirmação da impossibilidade de um construto
social plasmado no atual modelo social onde o capital exerce hegemonia. Pois não é possível
viver sem racismo no capitalismo! Dessa forma, esse campo político joga por terra as
elaborações das correntes pós-modernas ou identitárias que tentam negligenciar o principal
obstáculo para consolidação desse projeto de uma sociedade sem racismo, sem machismo e
sem preconceitos de sexo, a sociedade dos trabalhadores e trabalhadoras livremente
associados, na medida em que se volta o olhar para o principal antagonismo que é a
sobrevivência econômica e material dos povos, entre os quais os negros e negras. E cuja
predominância, nos nossos dias, é a exploração dessas camadas e povos.
Em prol dessa perspectiva, a articulação vem sendo realizada a partir de um olhar para
além da simples luta contra o racismo, mas alinhada à construção de uma sociedade sem todas
as formas opressão, em contraponto ao establishment e em prol da sociedade socialista, com
um olhar de raça e de classe, e de gênero.
22
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