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UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

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"Cultura e Sociedade" foi organizado com textos e ilustrações elaborados pelos acadêmicos indígenas no contexto da sua qualificação no 3° Grau, no âmbito do projeto "3° Grau Indígena", a partir de atividades realizadas durante as etapas do curso. Neste primeiro volume, reunimos textos que abordam temas sobre arte, esporte, pintura, economia, casamento, entre outros, elaborados pelos acadêmicos indígenas durante as etapas presenciais do projeto.

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SEDUC-MT / UNEMAT / FUNAI / MECBARRA DO BUGRES - 2005

3º GRAU INDÍGENA

CULTURA E SOCIEDADE

v. 1

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GOVERNO DO ESTADO DE MATOGROSSO

Blairo Borges Maggi

Iraci Araújo Moreira

Governador

Vice-Governadora

Secretária de Estado de EducaçãoAna Carla Muniz

Mônica Agripina Botelho de Oliveira

Zilda Fernandes

Superintendente de Formação dosProfessores da Educação Básica

Flávia Nogueira

Antônio Carlos Máximo

Jackson Fernando de Oliveira

Sebastião Ferreira de Souza

Secretária de Estado de Ciência e Tecnologia

Secretário Adjunto de Políticas Educacionais

Sec. Adj. de Gestão Administrativa eFinanceira

Superintendente Adj. de Gestão e Formação

Coord. da Equipe de Educação EscolarIndígena na SEDUC

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATOGROSSO

Taisir Mahmudo Karim

Almir Arantes

Laudemir Luiz Zart

Neodir Paulo Travessini

Solange Kimie Ikeda Castrillon

Wilbum Andrade Cardoso

Marcos Francisco Borges

Julio César Geraldo

Reitor

Vice-Reitor

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

Pró-Reitor de Ensino e Graduação

Pró-Reitora de Extensão e Cultura

Pró-Reitor de Administração e Finanças

Pró-Reitor de Planejamento eDesenvolvimento Institucional

Coordenador do Campus Universitário deBarra do Bugres

PROJETO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS3º GRAU INDÍGENA

Elias Januário

Francisca Novantino Pinto de Ângelo

Coordenador do Projeto - UNEMAT

Representante Indígena

Zilda Fernandes

Maria Helena Sousa da Silva Fialho

Representante da SEDUC/MT

Representante da FUNAI

FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO

Mércio Pereira Gomes

Maria Helena Sousa da Silva Fialho

Presidente

Coord. Geral de Educação

UNIVERSIDADE FEDERAL DEMINAS GERAIS

Ana Lúcia Almeida GazzolaReitora

COORDENAÇÃO GERAL DE EDUCAÇÃOESCOLAR INDÍGENA - SECAD/MEC

Kleber Gesteira e MatosCoordenador

FACULDADE DE LETRAS - UFMG

Eliana Amarante de Mendonça

Maria Inês de Almeida

Diretora

Coord. Núcleo Transdisciplinar dePesquisas Literaterras: escrita, leitura,

traduções

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Barra do Bugres - MT2005

Série Práticas Interculturais

Projeto de Formação de Professores Indígenas3º Grau Indígena

CULTURA E SOCIEDADE

V.1

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Campus Universitário de Barra do BugresProjeto 3º Grau Indígena

Caixa Postal nº 9278390-000 - Barra do Bugres/MT - Brasil

Telefone: (65) 3361-1964www.unemat.br/indigena / [email protected]

Departamento de EducaçãoSEPS Q. 702/902 - Ed. Lex - 1º Andar

70390-025 - Brasília/DF - BrasilTelefone: (61) 3313 - 3711

UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso

FUNAI - Fundação Nacional do Índio

Editor:

Arte-final

Elias Januário

: Morena Tomich

ConsultorAntropológico:Diagramação:Revisão Final:Capa

Luís Donisete B. GrupioniDarlan SeconelloElias Januário / Fernando Selleri

: Ilustração deYabaiwá Juruna

SEDUC/MT - Secretaria de Estado deEducação de Mato Grosso

Superintendente de Formação dosProfessores da Educação Básica

Travessa B, S/N - Centro Político Administrativo78055-917 - Cuiabá/MT - Brasil

Telefone: (65) 3613-1021

SECAD - Secretaria de Educação Continuada,Alfabetização e Diversidade

SGAS, Quadra 607 lote 50, Sala 208/209Telefone: (61) 2104 8432/8067

Cep: 70.200-670Brasília - DF

Cultura e Sociedade.

Projeto de Formação de Professores Indígenas: 3º GrauIndígena. Série Práticas Interculturais.

1. Educação Indígena 2. Cultura Indígena 3. SociedadeIndígena I. Título.

CDU 376.74

Cultura e Sociedade V.1 / Barra do Bugres: UNEMAT, 2005.56 p.

Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Simone Cristina Gomes de Souza CRB1-413

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Sumário

Apresentação............................................................................................................................07Cultura Sabanê

O contato com o povo Umutina ................................................................................................ 24

......................................................................................................................... 08Pintura corporal Kaxinawá ....................................................................................................... 09Povo Tapirapé ........................................................................................................................... 10Esporte do povo Tapeba ........................................................................................................... 11Artesanato Ikpeng .................................................................................................................... 12Varópy (Nuvem) ........................................................................................................................ 12O povo Yudja ............................................................................................................................. 13O povo Irantxe ........................................................................................................................... 13A importância do pajé para o povo Baniwa .............................................................................. 14O porco dos olhos de fogo ....................................................................................................... 15A organização social do povo INY ............................................................................................ 16Beiju do Alto Xingu ................................................................................................................... 17História contada pelos mais velhos ......................................................................................... 17O pajé Haliti ............................................................................................................................... 18Arquitetura Paresi .................................................................................................................... 19Cotidiano ................................................................................................................................... 20Arte Kisêdjê (Suyá) ................................................................................................................... 21Arte e identidade ....................................................................................................................... 22Pinturas faciais Tukano ............................................................................................................ 23

Economia do Alto Xingu ........................................................................................................... 24Os Manchineri ........................................................................................................................... 25Cultura Apiaká .......................................................................................................................... 25A cultura dos Baniwa ................................................................................................................ 26Artesanato indígena ................................................................................................................. 27Terra Ticuna .............................................................................................................................. 28Casamento Paresi .................................................................................................................... 29Povo Baniwa ............................................................................................................................. 30Pinturas Xavante ...................................................................................................................... 31Chocalho ................................................................................................................................... 32

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Karajá vão à Alemanha ............................................................................................................. 32Karajá ........................................................................................................................................ 33As Marcas do Passado ............................................................................................................. 34A revitalização da cultura no povo Wassu ............................................................................... 35Camaragibe ............................................................................................................................... 35Caçuá ........................................................................................................................................ 36Contato ...................................................................................................................................... 37A importância do pajé ............................................................................................................... 38O casamento no Alto Xingu ...................................................................................................... 38A economia Kaingang .............................................................................................................. 39O casamento ............................................................................................................................. 39Corrida da tora de buriti ............................................................................................................ 40Arte Umutina ............................................................................................................................. 40História dos Pataxó Hã Hã Hãe ................................................................................................. 41Casamento Folhiço .................................................................................................................. 43Cultura Manchineri ................................................................................................................... 44Organização social dos Kamaiwrá .......................................................................................... 45Casamento Karajá .................................................................................................................... 46Clã Xavante ............................................................................................................................... 46Esporte Tuxá ............................................................................................................................. 47Aldeia Kuikuro .......................................................................................................................... 48Pintura Kaingáng ...................................................................................................................... 49A festa do Gavião Real .............................................................................................................. 50Economia Karajá ...................................................................................................................... 51Pintura Corporal Karajá ............................................................................................................ 51Esporte Kuikuro ........................................................................................................................ 52Festa do Milho ........................................................................................................................... 53Contato ...................................................................................................................................... 54Casa Nambikwara ..................................................................................................................... 54

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Apresentação

“Cultura e Sociedade” foi organizado com textos e ilustrações elaborados pelos acadêmicos

indígenas no contexto da sua qualificação no 3º Grau, no âmbito do projeto “3º Grau Indígena”, a

partir de atividades realizadas durante as etapas do curso.

O Projeto de Formação de Professores Indígenas - 3º Grau Indígena, é composto de três

cursos de Licenciatura : Ciências Sociais, Línguas, Artes e Literatura e Ciência da

Matemática e da Natureza. O projeto é uma iniciativa do Governo do Estado de Mato Grosso,

implementado numa parceria entre a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso,

Universidade do Estado de Mato Grosso e Fundação Nacional do Índio. Conta com o apoio do

Ministério da Educação, da Fundação Nacional de Saúde e da Prefeitura Municipal de Barra do

Bugres.

Neste primeiro volume, reunimos textos que abordam temas sobre arte, esporte, pintura,

economia, casamento, entre outros, elaborados pelos acadêmicos indígenas durante as etapas

presenciais do projeto.

Plena s s

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Cultura Sabanê

Jonado Sabanê - Nambikwara

O povo Sabanê possui um sistema de tradição em que os ensinamentos são transmitidos

de geração para geração, baseado em um processo de troca de saberes e de ensinamentos dos

costumes tradicionais. Ainda é utilizada a pintura facial e corporal nas festas e nos rituais. Através

dos nossos rituais transmitimos mensagens importantes para a sociabilidade do grupo. Essas

mensagens possuem significados que podem trazer informações sobre as famílias, nascimento

de um filho, a chegada da primeira menstruação, entre outras.

Festas e rituais indígenas marcam momentos especiais na vida das pessoas e nas

diferentes fases da sua vida. Dentro da sociedade Sabanê temos os rituais de iniciação da

puberdade feminina, que transforma a menina-moça em mulher adulta, apta para o casamento.

Esse ritual inicia-se no primeiro dia do sangramento, quando aparece a primeira

menstruação da menina-moça. A mãe da menina, com a ajuda dos velhos sábios da aldeia,

constroem então uma pequena casa ritual com folhas de palmeira e açaí, com uma pequena porta

voltada para o sol nascente, onde a menina fica em reclusão pelo período de um a três meses,

mantendo contato apenas com pessoas do sexo feminino. Neste período, a menina é considerada

sagrada, se ela olhar para um homem poderá ficar doente ou até mesmo morrer. Fica proibida a

entrada de homens na maloca de reclusão. Constitui tarefa dos homens a confecção do abanador,

que é feito com broto de naja, proveniente de uma palmeira, que serve para tapar as brechas da

casa de reclusão, pois a menina não pode ser vista, ficando livre dos olhares curiosos. Outra tarefa

masculina, é bater o broto de buriti (palmeira) para fazer os enfeites.

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Pintura corporal Kaxinawá

Joaquim Paulo de Lima - Kaxinawá

O povo Huni Kui (Kaxinawá) mantém vários tipos de pinturas no corpo, na cerâmica e nos

tecidos. Geralmente as pinturas corporais são feitas nos dias de festas de batismo de legumes e de

bananas. Para fazer as pinturas, são preparadas as tintas do jenipapo e do urucum, uma semana

antes da festa. Quem prepara e pinta o corpo são as mulheres, que conhecem e sabem identificar

as pinturas para os homens e para as mulheres, e também pelas divisões de clãs. Os grafismos

das pinturas estão relacionados com animais como a jibóia, o jacaré, a coruja, o lagarto, entre

outros. As pinturas feitas na tecelagem de algodão têm aproximadamente uns 50 padrões

geométricos, que as mulheres conhecem e fazem nos tecidos.

Durante o contato com os seringueiros nordestinos, esses padrões de pinturas foram

ameaçados de desaparecer.

Houve uma conscientização por parte da escola na década de 1980, que incentivou os

jovens a praticarem esses conhecimentos. Com isso tivemos bons resultados. As mulheres se

organizaram e fundaram uma Associação de Mulheres Artesãs, que hoje já administra dois

projetos de capacitação para mulheres de outras terras, que estavam passando pelo processo de

esquecimento. Foram conseguidas várias fiandeiras manuais e batedouros de algodão. A

tendência é produzir em grande quantidade para começar a comercializar com outras empresas

de artes. Esperamos que essa Associação possa também se fortalecer e manter os

conhecimentos tradicionais desses tecidos, apoiando economicamente a sobrevivência dessas

mulheres artesãs.

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Povo Tapirapé

Nivaldo Korira'i Tapirapé - Tapirapé

O povo Tapirapé pertence ao tronco lingüístico Tupi-guarani. Reside em duas Áreas

Indígenas (Urubu-Branco e Tapirapé - Karajá) nos municípios de Confresa e Santa Terezinha,

respectivamente, ambas no Estado de Mato Grosso.

Tem uma população de aproximadamente 650 pessoas. A maior parte da população está

concentrada na A.I. Urubu-Branco, onde existem 4 aldeias que se organizam da seguinte forma:

uma funciona como aldeia sede e as outras três estão anexadas a elas. Cada aldeia tem seus

caciques, comprometidos com sua comunidade de forma coletiva.

A participação das aldeias é fundamental na decisão de qualquer coisa, principalmente nas

festas, em que todos vão para a sede para discutir.

A reunião é realizada com freqüência para

solucionar problemas e decidir o que fazer sobre algo

que afeta a comunidade. Isso é muito importante, porque

fortalece a coletividade e a luta do povo Tapirapé. Esta

forma de organização coletiva vem passando de

geração em geração, até os dias de hoje.

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Esporte do povo Tapeba

Francisco Lopes Ferreira e Graciana Trajano do Nascimento - Tapeba

O povo Tapeba, localizado no município de Caucaia, no Estado do Ceará, encontra-sedistribuído em dez aldeias que participam ativamente dos movimentos realizados na conquista deseus direitos.

Temos muitos de nossos hábitos culturais preservados, e entre estes destacamos a práticade algumas modalidades esportivas como: futebol, arco e flecha, natação, corrida, arremesso delança, cabo de guerra e corrida com tronco da carnaubeira.

Algumas das modalidades citadas acima não são praticadas diariamente, e sim em algunsmomentos específicos, principalmente a corrida com tronco da carnaubeira, que só é praticada naFeira Cultural e Festa da Carnaúba, das Escolas Indígenas.

Falando um pouco desse esporte, podemos dizer que ele tem um significado especial, poissó os homens participam. Simboliza o respeito que temos pela “Carnaubeira”, já que é dela quetiramos os materiais para fazer nossos artesanatos, nossas casas e ainda vendemos o pó ou acêra, que dá uma renda para algumas famílias. As outras modalidades são desenvolvidas epraticadas no âmbito escolar, onde estamos desenvolvendo junto às crianças o hábito dessesesportes, para fortalecer cada vez mais a identidade cultural do nosso povo. O futebol é amodalidade mais praticada e preferida pela maioria dos homens e mulheres. Outro esporte quetem um significado importante é o cabo de guerra, pois este representa a nossa resistência emrelação aos massacres e discriminação que sofremos desde o início da colonização até os diasatuais.

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Artesanato Ikpeng

Korotowï Taffarel - Ikpeng

Há dez anos atrás não existia comercialização de artesanato entre opovo Ikpeng.Avenda era individual, cada um fazia o seu artesenato e

saia para vender em Brasília ou em São Paulo.Atualmente, com a criação da Associação Maygu Ikpeng, estásendo discutido quais tipos de artesanatos serãocomercializados, para onde vai e com quem vai ser feito ocontrato, porque existem alguns artesanatos que sãosagrados, não podendo serem usados em qualquer ocasião.

Embora tivemos essa discussão sobre comercialização,ainda tem algumas pessoas vendendo seus artesanatos por

fora da associação.Os artesanatos que são comercializados são: cocar branco,

cocar colorido, borduna de dois tipos, balaio, peneira, esteira,colares, bolsas, brincos, entre outros.

Varópy (Nuvem)

Ana Carina Paulo dos Santos - Terena

O surgimento da nuvem, segundo o povo Terena, ocorreu logo na chegada dos Terena noPantanal, aproximadamente na região de Miranda, Mato Grosso do Sul, vindo do Chaco perto doParaguai.

Contam que existia na aldeia uma índia muito bonita, chamada Varópy, e também um índiomuito forte e bonito chamado Ohoyó, que era apaixonado por Varópy. Ohoyó gostava tanto delaque fazia tudo o que ela queria, principalmente dar presentes.

Até que um dia Varópy foi no rio tomar banho, se afogou e morreu.A aldeia toda ficou triste, pois gostavam muito dela, principalmente Ohoyó. Todas as

manhãs Ohoyó ia ao rio para procurar o corpo de sua amada, mas nunca encontrou. Certo dia,Ohoyó chegou na beira do rio e ficou observando e viu que da água saia uma fumaça que subia atéo céu, ficando lá no alto. Para Ohoyó, aquela fumaça que se transformava em nuvem, era Varópy,que ficava lá em cima protegendo a aldeia.

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O povo Yudja

Yabaiwá Juruna - Juruna

O povo Yudja (Juruna) vive no Parque Indígena do Xingu, naaldeia Tuba Tuba, situada na margem esquerda do rio Xingu,pertencente ao município de Marcelândia - MT. Possuiaproximadamente 200 habitantes, que ocupam também duasaldeias pequenas, Pak-Samba e Pequizal, localizadas na margemdireita do rio Xingu e pertencentes ao município de São Félix doAraguaia. Nas aldeias temos escolas indígenas estaduais deensino fundamental, que possui o seu próprio material didático efunciona de acordo com a realidade da comunidade, valorizando acultura, as crença e os conhecimentos das pessoas mais velhas,mantendo, assim, a cultura sempre viva.

O Yudja é um grande produtor de artesanatos como: cerâmicas,bancos, cocar, peneiras, remos, entre outros, que o povotradicionalmente utiliza. Temos também vários tipos de pinturascorporais, que sempre estão desenhadas nos artesanatos dosYudja, para termos nossos valores.

O povo Irantxe

Bartolomeu Warakuxi e Geraldina Parecis - Irantxe

Somos o povo Irantxe e estamos divididos em seis aldeias, num total de 255 pessoas. Anossa aldeia chama-se Cravarí. É um lugar muito tranqüilo, onde nós valorizamos a nossa culturae sobrevivemos da caça, pesca e de alimentos que colhemos da roça.

Na nossa aldeia tem um rio muito grande, onde tem muito peixe.As crianças e os adultos gostam muito de ir pescar e tomar banho.Na aldeia também tem muitas árvores frutíferas, tanto do mato, como do cerrado. O pessoal

que mora lá é muito alegre, fazendo grande amizade com quem chega lá. É por isso quepreservamos a nossa aldeia, pois ela é o nosso lar e onde nos sentimos bem, por ser um lugar lindoe tranqüilo.

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A importância do pajé para o povo Baniwa

Acadêmicos Baniwa

O povo Baniwa, dentro da sua história, tem adotado a pajelança na sua cultura, como em

outras culturas indígenas espalhadas pelo país afora. Assim que os Hekoapimai procuraram o

Malikai, passaram por varios períodos de denominação dos inimigos.

No início, quando o Nhapirikoli deu o Malikai para seu irmão menor, usava apenas os

instrumentos que lhe davam poder, como o colar de dente-de-onça e o de parika. Um dia, o

compadre Anta roubou o Malikai dos dois, pois os mesmos não tinham guardado com segurança.

Foi justamente nestas circunstâncias que o Nhapirikoli ensinou novamente o seu irmão a voltar a

cheirar o Porika e tornar-se pajé novamente, e tendo o direito de praticar todos os movimentos da

pajelança.

O sábio Nhapirikoli levou-o para o mato para procurar dzto e marawathi, para fazer o

preparo e cheirar. Após ter cheirado a mistura, adquiriu o poder de ver o outro mundo. Com esse

conhecimento, os pajés Baniwa utilizavam o dzato para curar todas as enfermidades da sociedade

e também amenizar bastante as doenças dos brancos, não sendo necessário ir ao posto saúde.

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O porco dos olhos de fogo

Rosilene Cruz de Araújo - Tuxá

No passado, havia uma moça na aldeia Tuxá muito bonita, e havia um índio querendonamorá-la. Ficou muito tempo paquerando ela de longe, até que um dia o índio resolveu falar comela, e os dois começaram a namorar. Com o compromisso mais sério, o índio passou a freqüentar acasa da moça. Um certo dia na casa da moça, o papo estava bom, o índio perdeu a noção dotempo, saindo de lá bem tarde da noite.

O percurso que o índio deveria fazer até a sua casa era cheio de becos escuros que davampara o rio ou para o mato. Quando o índio foi se aproximando do beco, se deparou com um porco deolhos de fogo que vinha em sua direção. Os dois começaram a brigar, o índio carregava consigouma faca. Brigaram, brigaram e o porco cedeu, correndo pelo escuro em redor das casas. O índiotambém saiu correndo em linha reta, chegando no outro beco lá estava o porco, lutaramnovamente e o porco cedeu mais uma vez. No terceiro beco, o índio já cansado deparounovamente com o porco de olhos de fogo, que vinha cada vez mais feroz, porém um poucocansado. O índio conseguiu furá-lo com sua faca e novamente o porco entrou pelo beco. O índio jámuito cansado, sabendo que não tinha mais beco para chegar à sua casa, corria desesperadotremendo de medo. Chegando em sua casa, quando começou a subir os degraus de pedra, oporco apareceu na esquina de sua casa. O índio fraco bateu na porta, que não estava trancada,caindo já dentro e fechando rapidamente.

O índio conseguiu furá-lo com sua faca e novamente o porco entrou pelo beco. O índio, jámuito cansado, sabendo que não tinha mais beco para chegar à sua casa, corria desesperadotremendo de medo. Chegando em sua casa, quando começou a subir os degraus de pedra, oporco apareceu na esquina de sua casa. O índio fraco bateu na porta, que não estava trancada,

caindo já dentro efechando rapidamente.

Nunca maisele quis ir para a casa damoça. Dizem que amoça já era prometida,por isso não podia secasar.

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Page 18: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

A organização social do povo INY

Daniel Coxini - Karajá

Entre o povo INY (Karajá) existe dois grupos. O primeiro é o Ioló Karajá e o segundo é o

Deridú Karajá. Não é escolhido pelo povo e nem pelo voto, é passado para o filho e o sobrinho,

funciona pela hierarquia dos familiares. O Iolo Karajá, possui seus próprios desenhos, como a

borduna, remo, arco, flecha, esteira e banco Karajá. Quem mantém o povo Karajá é o grupo

familiar, responsável pela ordem, como o tio, a tia e o cunhado. Quando saem para a casa dos

homens, os tios e as pessoas que são responsáveis carregam a esteira e o banco para casa do

Aruanã. Tocam músicas e cantigas, com um instrumento feito de cabaça que faz um som muito

forte.

O Iolo Karajá cuida da parte política e social da organização interna e aconselha as famílias

na parte cultural, como rituais, danças, casamentos e costumes. A maior festa que temos é o

Hetohoky (a festa do Cara Grande), iniciação da criança para a fase adulta, quando se fura os

lábios dos meninos.

O segundo grupo, Deridú INY (Karajá), que também é passado de pai para filho e sobrinho,

cuida da parte da política externa, da organização da roça, caçada, pescaria, segurança e contatos

com outros povos. Possuem também seus próprios desenhos e utensílios, são responsáveis pelo

treinamento dos jovens, para que eles possam aprender a usar o arco e flecha, a borduna, os

remos, as lutas de corpo a corpo. Ensinam a dançar e cantar.

Atualmente esse tipo de organização está funcionando em duas aldeias, Aldeia Santa

Isabel e Aldeia Fontoura, que seguem rigorosamente até hoje em dia. Outras aldeias estão

adotando eleição para cacique, como se fosse uma prefeitura e assim esquecendo parte da

cultura do povo INY.

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Page 19: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

Beiju do Alto Xingu

Amatiwana Matipu - Matipu

Primeiramente a mulher vai na roça buscar mandioca, depois ela traz para casa ondedescasca a mandioca e rala. Quando estiver tudo pronto, ela pega a esteira e a panela de barro ecomeça a coar. Fica coando até terminar.Após terminar, a mulher tira o polvilho branco e deixa forapara secar, por uma noite.

No dia seguinte, a massa está pronta para fazer o beiju. Então elaacende o fogo debaixo do tacho de barro, enquanto a tacho estiveresquentando a mulher fica peneirando o polvilho, para ficar fino. Quandoo tacho estiver bem quente ela começa a fazer o beiju, o beiju pode

demorar dois minutos em cima do tacho,depois vira, e fica mais dois minutos,

depois pode tirar para comer.É nosso costume comer o

beiju com o peixe.

História contada pelos mais velhos

Glaydson Artur do Vale Freitas - Wassu Cocal

Foi entrevistado o pajé da aldeia, o Sr. Zulca.Meus avós e bisavós contavam que havia um grande segredo numa pedra.A pedra, de ano em ano, se abria, onde tinha uma corrida de passarinhos. Todo ano o

pessoal ia para cima dela, só para ver a corrida de passarinhos de uma serra para outra. Quandoera criança, sempre ouvia a história e nunca me esqueci dela.

Contam os mais velhos, que esses passarinhos saudavam os antepassados da nossahistória.

Meus avós contavam também que os espíritos dos guerreiros que tinham morrido nasguerras também assistiam, e assim descansavam em paz, guardando a nossa aldeia.

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O pajé Haliti

Salomão Nezokemazokai - Paresi

O pajé é uma pessoa importante na comunidade Paresi “Haliti”, porque ele é quem cuida

das pessoas doentes até recuperarem a saúde. Ele também adivinha o tipo da doença que está

prejudicando a pessoa. Quando o pajé descobre o tipo de doença, imediatamente avisa à família,

esclarecendo se é possível curar rápido ou se vai demorar a curar, se é doença da própria etnia ou

é doença do não-índio.

O pajé também é conhecido pelo termo curandeiro, porque ele cura a pessoa com

enfermidade por meio de folhas, cipós e trepadeiras que ficam nos galhos ou nos troncos das

árvores. O pajé não cura sozinho, ele cura quando o espírito está junto e conversando com o pajé.

Antes de o espírito ir embora, ele deixa um medicamento invisível com ele para continuar curando

a enfermidade da pessoa. Quando o espírito conversa com o pajé, revela todas as coisas que irão

acontecer no futuro da família e da comunidade. Para tornar pajé, não é a pessoa que escolhe, o

espírito é que faz a opção desde criança e depois começa falar com ele no sonho, ou muitas vezes

o espírito aparece para a pessoa que escolheu. O espírito pode ser de pessoa que faleceu há muito

tempo atrás, e que fazia parte da família. Nós respeitamos o trabalho, as informações e tudo que o

pajé transmite de acordo com sua visão.

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Arquitetura Paresi

Valdomiro Nezokemae - Paresi

O povo Paresi teve sua origem na região conhecida como ponte de pedra, localizada nomunicípio de Campo Novo dos Parecis - MT.Ali, os ancestrais do povo Paresi Wazare, espalharamseus sub grupos Waymare, Kaxiriti, Enomaniyere e Kozarene. De lá eles vieram com esteconhecimento de construção da casa tradicional. A partir de 1960, com abertura da BR-364, queliga Cuiabá - MT a Porto Velho - RO, sofremos influências em alguns materiais para a construçãoda casa, por exemplo: a troca de urubamba e cipó, por arame e prego.

Mas a estrutura continua a mesma. Para construir uma casa tradicional, demora cerca deum mês, trabalhando em quatro pessoas. O material utilizado é: dezessete esteios, três madeirasde sete metros de altura e seis madeiras de três metros de altura, quarenta e oito caibros. Pararipá-la tem que tirar cem madeiras de palmiteiro, depois divide uma madeira por quatro ripas. Paracobrir a casa usa a palha de buriti e guariroba, aproximadamente vinte e cinco mil palhas. Nomadeiramento da casa é utilizado, de preferência, o quare-quare ou pindaiva. Desse modo oParesi constrói a casa até os dias atuais.

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Cotidiano

Takap Trumai Kayabi - Trumai

Sou Takap Pi-yu Kamalla Trumai Kayabi, da etnia Trumai. Meu pai era Kayabi e me colocouo nome Takap, esse nome é de origem Kayabi. Minha mãe é da etnia Trumai e colocou o nome dePi-yu Kamalla que são nomes dos meus avôs, que foram passados para mim. Sou professor dacomunidade Trumai, na aldeia Boa Esperança Awara'i. Eu cresci na comunidade Trumai, a minhacultura está ligada diretamente ao povo Trumai. O povo Trumai está dividido em quatro aldeias,aldeia Terra Preta, Boa EsperançaAwara'i, Estainne e Terra Nova.

Na minha aldeia não está previsto nenhuma festividade este ano, mas haverá grandesfestividades de Kwarup, em homenagem às pessoas que faleceram no ano passado, das quatrosetnias, Kuikuro, Kalapalo, Mehinaku e Kamaiurá. Esta festa será no mês de agosto de 2003, ondeserão convidadas as oito etnias para participarem da festa.

No Xingu também é realizado todo o ano uma grande assembléia daATIX,Associação TerraIndígena Xingu, onde se reúnem várias lideranças xinguanas para debateram questões deinteresse da comunidade.

Na aldeia Kamaiurá os professores Paltu e Wary estão realizando uma oficina onde osalunos tocam flauta, fazem pintura corporal e registros da história Kamaiurá.

Os Kayabi também estão realizando um projeto de Banco de Sementes da ProduçãoKayabi, para que não seja extinto.Ainda é uma experiência.

O Xingu é composto por 14 etnias, são elas:- Kuikuro, Matipu, Kalapalo, Nafukua, Aweti, Kamaiurá, Waura, Mehinaku, Yawalapiti,

Trumai, Ikpeng, Kayabi, Juruna, Tapayuna.

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Arte Kisêdjê (Suyá)

Tempty Suyá - Suyá

Esses enfeites os velhos e os jovens usam para dançar, só que as pessoas que dançammoram na casa dos homens (os jovens), já os velhos moram em suas casas. As mulheres nãodançam com esses enfeites, somente os homens usam para as festas.

Quando uma pessoa quer cantar, pode começar de manhã cedo. É aí que os padrinhos emadrinhas podem pintar eles, as famílias não pintam eles.Após a pintura, falam para o velho sair eir para o pátio da aldeia, para poder cantar fazendo um círculo no meio da aldeia. Esse enfeite ficaatrás, quando ele anda faz um barulho, e, a partir desse momento, os parentes podem arrumar acomida para o pessoal, que vão dançar até o fim da tarde.

A partir das quatro horas, as mulheres levam comida para a casa dos homens. O cantorcontinua cantando no meio da aldeia. Quando o pessoal termina de comer, pode pintar para eleencerrar, as pessoas dançam na casa dos homens. Quando as pessoas terminam de dançar eletermina o canto, e vai para sua casa para tirar o enfeite. Depois ele volta para a casa dos homens eos jovens vão até o rio para lavar o rosto e os pés, daí volta para casa dos homens, enquanto isso opessoal pode ir para suas casas. Demora um pouco e volta para a casa dos homens, para dançarjunto com ele.

Os velhos não deixam os jovens comerem a comida dosfamiliares, senão as moscas podem defecar nos jovens, por isso nósKisêdjê adolescentes não comemos a comida. Eles podem cantartodos os cantos deles, quando eles cantam os cantos dos parentesfalecidos, os parentes vivos choram por sentir falta deles. No choro elespodem falar as coisas que faziam quando estavam vivos. É assim quenós usamos os enfeites.

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Page 24: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

Arte e identidade

Sepé Ragati Kuikuro - Kuikuro

Aarte é um dos elementos que faz parte da indentidade dos povos indígenas.

O povo Kuikuro sempre praticou seus cantos, danças e pinturas. Produzem figuras

pintadas que são utililizadas nas festas que fazem parte da nossa vida cotidiana. Ainda hoje é

possível apreciar muitas dessas pinturas, danças e cantos.

Aarte integra a cultura e os valores dos diferentes povos indígenas do Xingu.

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Pinturas faciais Tukano

Clovis Batista Maia - Tukano

As pinturas faciais Tukano são usadas em dias de festas para comemorar as colheitas, as

pescarias ou receber outros povos que há muito tempo não se vê, como forma de agradecer a

visita de uma pessoa que estimamos muito. São usadas pelos homens, mulheres e crianças, nos

momentos importantes da comunidade. Amúsica está presente nos momentos de pintura do povo

Tukano.

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O contato com o povo Umutina

Luizinho Ariabô Quezo e Maria Alice de S. Cupudunepá - Umutina

Os índios Umutina viviam em grandes malocas, espalhadas pelas matas da região do valedo Seputuba até o Alto Paraguai. Eram nômades, mudavam sempre quando a caça e a pescaficavam escassas. Haviam muitos índios antes do contato, segundo contam os mais velhos. Ocontato com esses índios deu-se por volta do ano de 1911, pelo extinto Serviço de Proteção aoÍndio (SPI).

Com a chegada do SPI, também vieram as epidemias e as doenças, como: tuberculose,sarampo e coqueluche, que quase dizimou a população indígena. Muitos deles fugiram paradentro das matas, restando apenas 23 índios órfãos que foram levados ao Posto Indígena criadopelo SPI, onde o mesmos sofreram ameaças e castigos, ficando proibídos de falarem sua língua,de realizarem suas festas e rituais. Nos anos 30, o SPI foi buscar no Utiarity, povos como os Paresie os Nambikwara para residirem no mesmo local.

Não tiveram nenhum respeito com os povos envolvidos, colocando, assim, em choque suasculturas. O encontro de povos trouxe muitas conseqüências que vêm passando de geração parageração. Atualmente residem nesta aldeia oito povos: Umutina, Paresi, Bororo, Bakairi, Kayabi,Terena, Irantxe e Nambikwara.

Economia do Alto Xingu

Jeika Kalapalo - Kalapalo

A economia está sempre presente nas aldeias do Alto Xingu, onde moram os povosKalapalo, Kuikuro, Matipu, Kamaiurá, Nafukuá, Yawalapiti, Waurá,Aweti e Mehinaku. Esses povostem costumes semelhantes. O meu povo faz flechas para matar os peixes e caçar animais no matopara o sustento da família.

Os homens fazem as roças, plantam mandioca, milho e outros alimentos. Meu povocontinua usando as flechas para matar os peixes e usam armas para caçar. Na minha sociedade,as mulheres colhem a mandioca, os homens pescam e caçam. Hoje em dia os funcionários daFUNAI, os professores, os auxiliares de enfermagem recebem salário, outros fazem artesanatospara vender na cidade, ganhando dinheiro para comprarem comida dos não-índios. Na aldeiatambém usamos coisas de não-índios. A economia da sociedade envolvente tem influenciado naeconomia do índio. Produzimos muitas coisas tradicionais, meu povo, por exemplo, produz opolvilho para fazer beiju e mingau. Esses são alguns elementos da economia noAlto Xingu.

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Page 27: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

Os Manchineri

Jaime Sebastião Prishico Manchineri - Manchineri

O povo Manchineri pertence ao tronco lingüístico Aruak, habita a região do alto rio Yaco,Estado doAcre, fronteira do Peru com o Brasil.

Também ocupa parte do território do Peru, na região do rio Alto Urubamba, rio Madre deDios e rio Ucayali.

Nesse país, os Manchineri somam um número de aproximadamente 7.500 pessoas,distribuídos em várias aldeias. No Peru são identificados com o nome de “Piro”, colocado peloscolonizadores. No Brasil existem aproximadamente 850 pessoas, divididas em 6 comunidades,vivendo na Terra Indígena Mamoadate.

No século XIX, os Manchineri foram escravizados pelos seringalistas, fazendo com queparte da sua cultura tradicional fosse perdida.

Na década de 70, com a chegada da FUNAI, o povo começou a se reunir para reorganizarsuas comunidades, onde pudessem retomar suas atividades cotidianas que os nossos ancestraisexecutavam.

Hoje, os Manchineri se dedicam mais à agricultura e à criação de pequenos animaisdomésticos, para comercializar no mercado ou para sustento da família. Estamos buscando novasalternativas como a extração de óleo de copaíba, semente de mogno e outras variedades queexistem na nossa Terra Indígena.

Cultura Apiaká

Robertinho Morimã e José Maria Crixi - Apiaká

Na aldeia Apiaká, temos trabalhado várias formas de revitalizar nossa cultura: através dasdanças, onde cada uma tem um significado, na arte e na comida, com o preparo da chicha emingau que é usado nos rituais.

Preparamos também os instrumentos (flautas) para serem usados nas festas, pinturacorporal e vestimenta, como cocar, saia, arco, flecha e borduna. Os Apiaká compartilham acomida, sempre nos reunimos para comermos juntos os pratos típicos. Nos esforçamos paramanter nossa cultura e estamos muito alegres de estarmos estudando com nossos parentes noProjeto 3º Grau Indígena, podendo, dessa forma, conhecer outras culturas diferentes da nossa.

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A cultura dos Baniwa

Marcelino Fontes - Baniwa

Desde a criação do mundo, que segundo o povo Baniwa ocorreu na cachoeira do Vapui, no

rio Ayari, que vêm sendo praticadas todas as festas tradicionais, como o ritual de Daburi, dança de

mawako, dança de japurutu, cariçu, surubim (Kolirina) e dança de Wana (embaúda). Além dessas

danças, realiza-se também a cerimônia da primeira menstruação (reclusão) e a passagem da

adolescência para a puberdade para os meninos.

A cerimônia e o ritual são idênticos aos das meninas, trocando apenas o benzimento do

Kariamã (cardápio feito de todos as caças e peixes existentes na região, colocado no prato ou

vasilhame de cerimônia). Todas essas manifestações culturais ocorrem freqüentemente na aldeia,

conforme o calendário do povo Baniwa. Dentre as manifestações citadas acima, o japurutu e

cariçu são as mais utilizadas durante o ano todo, as restantes são praticadas em casos especiais.

Esses dois instrumento (japurutu e cariçu) são utilizados quando fazem Wayori e na abertura de

uma festa qualquer que o povo Baniwa realiza.

A dança de Surubim Kolirina, Wana e Kapetiapane adabi, ocorrem quando realizam a

entrega de frutas ou peixe a alguém especial da aldeia. É também usado para os cunhados que

visitam a aldeia dos parentes do outro rio, como por exemplo, do rio Vaupés e o do rio Negro.

Todos os anos o povo Baniwa do alto rio Içana e do alto rioAyari, comemoram a semana dos

povos indígenas. Cada aldeia tem a sua especificidade na comemoração do evento. No caso da

aldeia de Ukuki Cachoeira, acontece em duas ocasiões, no mês de abril e junho, quando é o

aniversário da aldeia e do cacique fundador. Nessa aldeia vivem cerca de 5 etnias. Por isso, os

Baniwa daquela comunidade falam no mínimo 2 línguas diferentes. Refletindo sobre sua história,

os Baniwa estão revendo o passado e fazendo grandes mudanças na parte cultural, retomando

antigas manifestações artísticas.

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Page 29: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

Artesanato indígena

Wary Kamaiurá - Kamaiurá

Os Kamaiurá fazem diversos artesanatos em suas aldeias. Entre eles destacam-se a rede,

o banco e o tukanap.

O banco é feito pelos homens, serve para sentar, é pintado com Tapaka (pintura de peixe).

O banco é muito importante para o meu povo.

A esteira é um trabalho realizado pelas mulheres, que serve para espremer a massa de

mandioca ou para guardar as penas das aves.

A rede também é feita pelas mulheres, ela serve para

dormir. Até hoje existem redes trançadas com barbante e

com fibra de buriti.

O Tukanap é utilizado na festa, principalmente no

Kwarup. É feito pelos homens, que utilizam penas das

araras e dos tucanos.

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Terra Ticuna

Raimundo Leopardo Ferreira - Ticuna

Desde o século XVII, o alto rio Solimões já era habitado pelos povos que vivem atualmentenas suas margens, estendendo-se ao longo do rio e seus afluentes.

Segundo historiadores, naquela época, os Ticuna enfrentavam muitos conflitos com outrospovos como os Ãwanes, atualmente Kambebas, que se tornaram inimigos dos Ticuna. Na épocaos Ticuna já sabiam fazer canoa de madeira, fabricavam utensílios de vários tipos, como os depesca e caça, praticavam agricultura e produziam farinha. Realizavam rituais como festas,danças, pajelanças, enquanto os povos de outras etnias não praticavam. A briga foi constante,guerreavam muito. Os Kambeba, segundo a mitologia, morreram afogados nas águas do rio,porque sua embarcação era de cerâmica, e um jacarerana caiu de testa na canoa, que furou eafundou. Como os Kambeba não sabiam nadar, acabaram morrendo nas águas do rio, por issohoje estão quase extintos.

Anos depois, os colonizadores chegaram para tomar posse das terras do povo Ticuna,obrigando-os a trabalharem como escravos nas lavouras de cana-de-açúcar, para o benefício dospatrões que implantaram pequenos engenhos nas áreas de Santa Rita do Vel, Vendaval, Bananale Belém do Solimões. Os Ticuna prestavam serviço em troca de pequenas quantias de mercadoriacomo sabão, açúcar, sal, tecido, teçado, machado, etc. Os Ticuna trabalhavam e nuncaconseguiam pagar suas dívidas aos patrões, que ficavam rico enquanto muitos Ticuna ficavamviciados em bebidas alcoólicas.

Depois de algumas ações feitas pelo SPI, os Ticuna lutaram para conseguir a libertação dasmãos dos patrões que exploravam a extração de borracha da região.

Na década de 70, os Ticuna continuaram lutando para a demarcação das suas terras.Vários líderes, como caciques, professores e monitores de saúde reuniram-se para buscarsoluções para criar organizações indígenas, a primeira organização foi o CGTT (Conselho Geralda Tribo Ticuna), criado na década de 80, com a participação dos caciques das aldeias, lideradopor Nino Fernandes, Pedro Inácio, Alírio Mendes, Paulo Mendes, Pedro Mendes. Em seguidaforam criadas mais duas organizações: OGPTB (Organização Geral dos Professores Ticuna) eOSPTAS (Organização de Saúde do Povo Ticuna doAlto Solimões).

A luta pela terra continua até hoje, com os líderes Ticuna articulando documentos para aPresidência da República, para serem demarcadas todas as terras indígenas Ticuna. Atualmente,o povo Ticuna possui 25 áreas demarcadas, 20% ainda faltam demarcar, pois não sãohomologadas legalmente. Hoje os Ticuna são mais de 30 mil habitantes, nas quase 120 aldeias daregião.

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Page 31: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

Casamento Paresi

Salomão Nezokemazokai - Paresi

No casamento Paresi, o pai da menina escolhe um rapaz trabalhador, caçador e obediente,que tenha um bom relacionamento com as outras pessoas. A menina tem quer ser trabalhadora erespeitosa diante do esposo, sogro e da comunidade.

Quando o menino ou a menina se gostam, os pais falam com os dois juntos antes decasarem, dizendo que ao casar devem respeitar o esposo e a esposa. O rapaz deve sertrabalhador e caçar para sustentar a mulher e os filhos.

Amenina e o menino podem casar com o filho do tio e da tia, irmão da mãe ou irmã do pai. OsParesi não podem casar com a filha ou filho da irmã da sua mãe. Quando a filha casa com um rapazde outra aldeia, a mãe leva a rede da menina e arma perto da rede do rapaz, até que os dois sejuntem. Após os pais entregarem a menina para o rapaz, os dois passam a andar sempre juntos,comerem juntos, até se casarem de verdade.

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Page 32: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

Povo Baniwa

Marcelino Fontes - Baniwa

O povo Baniwa, pertencente ao tronco lingüístico ARUAK, habita a região do alto rio Negro,na margem do rio Içana e seus afluentes. Também ocupa território dos países vizinhos, na regiãodo baixo rio Xié, baixo Uaupés, baixo rio Negro até a capital do estado doAmazonas (Manaus). Nolado brasileiro são, aproximadamente, 4.100 habitantes.

Na Colômbia, ocupam a região do alto rio Içana e alto rio Uaupés. Na Venezuela, moram emcomunidades ao longo do rio Quênia. Nestes dois países, os Baniwa somam um númeroaproximado de 2.500 pessoas e são denominados de Coripaco e Wakoenai.

Atualmente, os Baniwa moram em aldeias/comunidades relativamente pequenas, variandode 20 a 150 indivíduos, constituídas de pequenas casas, onde vivem várias famílias.

A construção das casas é feita a partir do processo conhecido como barreamento, ondemadeiras trançadas são preenchidas com barro. Geralmente as casas possuem três cômodos:uma sala, um quarto e uma cozinha. No entanto, não há um padrão específico da divisão doscômodos. O telhado é feito de um trançado de caibro e ripas, coberto com folhas de aranã(palmeiras). O chão, após nivelado, é preenchido de terra a qual é socada com pilão grande debase retangular.

Os líderes são denominados de capitães ou Benawe. Além dos trabalhos de roça, pesca ecaça, os Baniwa trabalham como professores contratados pelo SEMEC e agentes de saúdeindígena contratado pelo Distrito Sanitário.

A estrutura de parentesco é patrilenear e sua organização social é feita pela divisão emfratrias, ou seja, um conjunto de grupos locais ordenados como uma família.

O quadro religioso é formado por crenças tradicionais, incorporadas a elas práticascatólicas ou evangélicas. As crenças tradicionais se baseiam nos mitos e nos rituais relacionadosaos primeiros ancestrais.

Desde os primeiros contatos com os brancos, através das tropas de resgates, os Baniwaenfrentaram uma série de violência envolvendo massacres, escravização e epidemias.No final do século XVIII e início do século XIX, os Baniwa aproveitaram a desorganização dosgovernos coloniais português e espanhol para se organizarem.

A partir da intensificação da exploração de borracha, predominou o mais severo regime detrabalho. Hoje o povo Baniwa está passando por uma série de problemas, como a questão damineração, entre outros fatores relacionado à política de governo.

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Pinturas Xavante

Paulo Tsererãwe Dumhiwe - Xavante

Apintura do adolescente "Wapté" simboliza a virgindade (ilustração 01).

A pintura dos jovens e rapazes "Ritéi’wa" simboliza a passagem da adolescência para a

fase adulta, que se dá após a perfuração da orelha (ilustração 02).

A pintura metade vermelha e metade preta, cabelo pintado de urucum, representa o noivo

(ilustração 03).

O padrinho, responsável pelo "Wapté", aconselha o afilhado a respeitar os mais velhos,

ensina-o a caçar e a formar roça-de-toco, a pintura é preta e vermelha (ilustração 04).

O pacificador usa pintura preta com carvão, cabelo pintado de urucum e pó branco na nuca,

essa pintura é feita em ocasião de guerra (ilustração 05).

01 02 03 04 05

Desenho: Máximo Uratse Tsi´omwe - Xavante

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Page 34: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

Desenho:G

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Bakairi

Chocalho

Magno Amaldo da Silva - Bakairi

O chocalho é um objeto utilizado nas cerimônias e rituais, com o objetivo de manter o ritmoconforme a música, serve especialmente para manter em harmonia os espíritos, que atraídospelos cantos, se fazem presentes. Ele faz parte de um complexo ritual, de representaçõesespirituais sagradas, que convivem em harmonia entre si e entre os seres vivos, durante arealização de um determinado ritual.

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Page 35: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

Karajá

José Hani - Karajá

Na fronteira entre os estados do Tocantins e Mato Grosso, o rio Araguaia forma a maior ilha

fluvial do mundo, a ilha do Bananal. Com uma biodiversidade singular, a ilha acolhe alguns dos

povos indígenas do Brasil, entre eles o povo "In" (lê-se Inam), mais conhecido como Karajá, Javaé

e Xambiowa.

Nós, povo Karajá, acreditamos que habitavámos o fundo do rio Araguaia. Ali não havia

morte nem doenças, mas era um lugar frio e não tinha muito espaço. Um dia um homem casado

encontrou um saída na Ilha do Bananal e conheceu a superfície da Terra. Daí ele voltou para seu

lugar de origem e contou o que viu durante seu passeio lá fora. Todos ficaram encantados com a

imensidão e a beleza do Rio Araguaia e logo batizaram como "Bero Hok?" que significa grande rio.

A família de "Koboi" não saiu para cá, porque ele é pançudo demais, saiu só a metade. Mesmo

assim, ele percebeu que nesse lugar a morte existia, porque ele viu uma árvore derrubada, o que

nunca havia visto antes lá no fundo.

Nossa história é muito antiga, o povo Karajá é, antes de tudo, um povo vitorioso. Em mais de

300 anos de contado, resiste vivo, forte, apesar do avanço dos moradores das cidades vizinhas e

da religião.Ainda hoje mantemos nossa língua nativa nas aldeias.

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Page 36: UNEMAT - Cultura e Sociedade vol. 1

As Marcas do Passado

Andila Inácio Belforte - Kaingáng

A dor das feridas me transpassa a alma,Vinda do silêncio e da escuridão do meu passado,

Subindo além das estrelas nas asas dos meus "Kujá*".Quem pode ver o passado, presente e o futuro como eles?

Me confortam, me animam e me dão forças.Mas parece que eu mesma, já não quero levantar.

Meu algoz, de uma nuvem, continua a me espreitar.O Kujá percebendo tudo, a nuvem se encaminhou.

Como ousa continuar ferindo meu povo?Um mundo de paz é tudo que eles querem.No equilíbrio entre a natureza e o homem,Onde estão vossos Kujá, para vos orientar,Alertá-los do perigo, que logo vem por aí.

Quão tola é a tua "Civilização"!Com tuas mãos construístes sua própria destruição.

Do meu povo roubaste tudo,De alguns a própria razão de viver,

Quando então se entregam ao alcoolismo,Numa tentativa frustrada de poder de tudo esquecer.

A palavra paz para ele já não existe,Porque ela provinha de tudo que lhes tirou.

Onde estão as matas e os rios, as riquezas e tudo mais?Não vejo nada que guardaste para ti.

Por acaso conheces o significado da Paz?O que guardas para os teus frutos amanhã?Um mundo destruído pela vossa ganância,Em que a terra não produzirá seu sustento,

A água e o ar, você também envenenou.Amamos sobremaneira as nossas crianças,

Fazemos tudo que possa garantir a elas um futuro melhor.E você "Civilizado", como se julga?

Condenas assim a tua própria descendência?* pajé

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A revitalização da cultura no povo Wassu

Glaydson Artur do Vale Freitas - Wassu Cocal

O processo de revitalização da cultura no povo Wassu é lento, pois o processo decolonização na minha aldeia foi muito forte e violento. Muitos índios morreram de doenças emaltratos, discriminados pela sociedade envolvente.

Com tudo isso, perdemos muita coisa da nossa cultura, como por exemplo, o dialeto ou alíngua, porém preservamos o toré (dança) e o ouricuri (religião) e alguma coisa do artesanato, masestamos com metas para resgatar muita coisa através da valorização da cultura de cada um, ouseja, incentivando o indivíduo que faz artesanato a ensinar aos outros, e assim por diante. Jáocorreram progressos significativos na nossa aldeia.

Além de revitalizarmos a cultura, também estamos preocupados quanto a manutenção epreservação, para não ser esquecida ou perdida.

Estamos pensando em escrever livros sobre a nossa cultura, para que possamosdisponibilizar fontes de pesquisas para nossos filhos. Preservar a cultura é um direito de todos ospovos, ensiná-la aos mais novos (quando for permitida) é dever de todos da aldeia.

Camaragibe

Glaydson Artur do Vale Freitas - Wassu Cocal

Na minha aldeia, os anciões contam que existe um acontecimento muito interessante emum rio que chamamos "CAMARAGIBE". Contam que várias pessoas quando iam tomar banho,ouviam uivos e viam parentes que tinham morrido há muito tempo, chamando para que elesdesenterrassem uma botija, porém ninguém tinha coragem de tirá-la.

Mas um dia, um índio estava tomando banho e, de repente, ouviu uma voz chamando-o eapontando um local que já estava um pouco cavado, ele então entendeu que era aquele local queestava a suposta botija. Começou então a cavar, enquanto era atingido por pedras (pequenas),galhos de paus e por punhados de areia. Quando ele avistou a botija, começou a cavardesesperado e olhou para traz, mas não viu ninguém, e ao retornar os olhos para onde estava abotija, viu que não mais estava lá. Conta-se também que este homem morreu de causadesconhecida, depois de poucos dias do acontecimento.

"Esta história foi contada pelo saudoso guerreiro da aldeia Wassu Cocal, o Sr. Paulo Rufinoda Silva”.

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Caçuá

Iolanda dos Santos Mendonça - Potyguara

O caçuá é um cesto-cargueiro entrecruzado, retangular, de fundo côncavo, provido de duasvigas de madeira, os gambões, que funcionam como reforço em suas extremidades. Trançado earqueado de cipó jape canga, geralmente tecido em tear, recebe dois aros torcidos em forma decírculo, da mesma matéria prima inseridas internamente nas suas extremidades, permitindo umacabamento lateral de forma bojuda, com remate reforçado.

Essa peça é muito utilizada na região para o transporte de coco, mandioca, carvão e outrosmateriais. Acomodada no ombro dos cavalos ou jumentos, sempre em par, um de cada lado,pendurado em ganchos de madeira, chamados de cambito e que são amarrado nos cabeçotes dacangalha. É bastante usado também para transportar crianças até o roçado ou ao mangue.Também para transportar marisco, manga, mangaba, etc. É um trançado que serve como meio detransporte de carga, feito pelo artesão senhor Janjão, da aldeia São Francisco.

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Contato

Rosilene Cruz de Araújo - Tuxá

O povo Tuxá, auto denominado de "Nação Proká de Arco, Flecha e Maraká”, teve seuprimeiro contato com os conquistadores europeus no início da primeira metade do século XVI.

Os Tuxá restringiram-se ao vale do rio São Francisco e às margens dos grandes afluentes,onde podiam pescar. Houve um notável declínio no número de índios, sendo reduzidos eaculturados aos costumes dos não-índios. Entre os fatores que levaram a esse rápido decréscimoda população indígena Tuxá, estão as guerras contra os colonizadores, as doenças introduzidas, aruína econômica e a miscigenação com a população envolvente.

Os grupos sobreviventes têm sido forçados às influências aculturadoras de tantasgerações. Nenhum grupo conservou mais que umas poucas palavras de sua língua materna,porém tudo isso não importa para o povo Tuxá. Eles se consideram índios. São como tais,considerados pelo Governo Federal e muito admirados e respeitados pelos povos das cidadesadjacentes a sua aldeia Tuxá.

Passaram-se quinhentos anos de dominação cultural européia, e a comunidade Tuxá aindasobrevive, tendo em vista o fato que elas foram, por tantos anos, vítimas de perseguições peloscoronéis locais. Perderam a maior parte de suas terras para esses coronéis e com elas foramtambém muitas coisas de suas raízes e de suas lembranças. Suas terras ficaram restritas às ilhasno Vale do Rio São Francisco, terras férteis e de boa qualidade, onde a população Tuxá vivia forte esaudável, com diversidade de alimentos. Até então, havia grande união entre a comunidade Tuxá,culturalmente forte, boa organização. Eram conhecidos como os povos indígenas mais fortes daBahia, até que veio a CHESF (Companhia Hidroelétrica do Vale do São Francisco) que, pensandounicamente em seu progresso, desestruturou totalmente a comunidade Tuxá e os povos foramdivididos. Para não morrerem debaixo das águas do rio, tiveram que sair, deixar suas casas em diae hora marcada, pois abririam as comportas da barragem de Itaparica.

Parte da comunidade Tuxá, por falta de opção de terra, foi se aldeiar entre serras próximas acidade de Iborama. A situação ficou precária. Solidão depressiva tomou conta da população. Osofrimento estava estampado na face daquele povo. Muitos morreram na esperança de rever seusparentes que em suas terras deixaram, arrependidos, sem solução, não tinham condições devoltar, pois a CHESF não permitia. Perderam seus direitos, já que havia sido comprada parte daterra para estas comunidades que se encontravam no morrinho. Outra parte da comunidade Tuxáficou ali mesmo, em um topo mais alto, esperando a CHESF cumprir com suas promessas eentregar-lhes seus projetos.

Apesar de muita luta, o povo Tuxá se encontra, hoje, resistente, forte e capaz.

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A importância do pajé

Terezinha Amazokairo - Nambikwara

O pajé tem um papel fundamental na aldeia. Ele, além de ser curandeiro ou até conselheiro,é um grande conhecedor da medicina natural.

Quando tem alguém doente na aldeia, logo o pajé é procurado para fazer o ritual da cura,mas isso só acontece durante a noite, para que os espíritos cheguem e auxiliem o pajé em seutrabalho.

No entardecer, as pessoas se reúnem na casa do doente, para cantarem músicasespecíficas para os espíritos. O pajé, sentado ao lado do paciente começa o ritual de cura.

A cantoria vai até o amanhecer do dia. Durante esse, período o paciente é submetido avárias regras: tomar banho de ervas e raízes até que tenha melhorado. O trabalho realizado pelopajé é muito importante, mas está ficando desacreditado pelos mais jovens.

O casamento no Alto Xingu

Amatiwana Matipu - Matipu

NoAlto Xingu o rapaz se casa após ele namorar muito com a moça. O pai e a mãe da meninaficam preocupados com a filha para não ficar grávida, por este motivo eles combinam o casamentoda filha, que é feito por uma pessoa especialista que sabe fazer o casamento. Não é qualquer umque pode levar a rede durante o casamento. Somente a pessoa que sabe conversar com pai e amãe do rapaz e sabe convencer a pessoa, porque às vezes a mãe do rapaz não aceita ocasamento do filho, por isso, tem que procurar a pessoa que conversa bem, para poder convencereles. Quando o pai e a mãe do rapaz aceitam o casamento do filho, ele pode casar. Assim, apessoa que foi buscar a rede do rapaz, a leva para a casa da menina para poder morar junto com osogro. No dia seguinte, ele começa a trabalhar para o sogro e a sogra.Antes de tudo, ele vai buscarlenha para a sogra, essa lenha a sogra vai distribuir para cada irmã ou irmão, para que eles possamrespeitar o marido da filha, porque na nossa sociedade os sogros e as sogras não podem chamar ogenro pelo nome. O marido da menina também não pode chamar pelo nome o sogro e a sogra,senão terá que pagar para eles com alguma coisa, por exemplo, se o genro chamar o nome dasogra, ele deverá ir pescar para ela como pagamento. Se a sogra chamar o genro dela, ela podefazer o beiju em pagamento.Assim por diante.

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A economia Kaingang

Andila Inácio Belfort, Márcia Nascimento e Sandro Alves da Silva - Kaingang

O Kaingang é um dos povos indígenas mais numerosos do Brasil, moram nos estados doParaná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e somam, aproximadamente, 30 mil índiosespalhados por várias reservas indígenas. A economia desse povo é baseada, principalmente, naagricultura, 70% das lavouras Kaingang são mecanizadas e 30% é feita por tração animal oumanual.

As culturas de soja e milho quase na totalidade são destinadas ao comércio. Outras culturascomo feijão, arroz, trigo, batata doce, mandioca, etc, são reservadas para o consumo das famílias.O artesanato é outra fonte de renda da família Kaingang, as mulheres estão sempre conciliando osafazeres da casa com o artesanato.

Os homens, na entre-safra, também ajudam a fazer artesanato e levam para as grandescidades ou pontos turísticos para comercializá-los.

Algumas famílias criam animais, como: galinhas, porcos, bois e vacas de leite. O Estadotem ajudado bastante nesse sentido, principalmente na agricultura.

O casamento

Makaulaka Mehinako - Mehinako

As sociedades do alto Xingu são formadas pelos povos que possuem a mesma tradição,costumes, cultura e o modo de organização, são eles: Mehinako,Aweti, Kuikuro, Kalapalo, Matipu,Nahukuá, Yawalapiti, Kamayurá e Waurá.

Porém, cada povo possui uma história um pouco diferente, mas semelhantes. Uma dessashistórias é o mito de origem das coisas que existem nesse mundo. No casamento, a realização eparticipação nas festas têm alguns detalhes iguais: o casamento é realizado a partir do número dejovens que há. Se um rapaz namora uma menina, os pais devem aceitar o casamento. Depois queos pais aceitarem o casamento eles chamarão dois sobrinhos para ir até a casa do rapaz pegar suarede e conversar com os pais sobre o namoro do filho. Após o casamento, a família da moçarespeitará o rapaz e assim também será com a família do rapaz em relação a menina. No diaseguinte o rapaz irá buscar e rachar madeira especial para lenha. Os sogros a usarão. Esse é ocomeço do trabalho, depois ele deverá trabalhar para sustentar sua família.

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Corrida da Tora de Buriti

Paulo Tsererãwe Dumhiwe - Xavante

Cada povo indígena tem esporte nativo. Ele costuma serrealizado na aldeia. Para o índio, o esporte é uma festa, pois anima atodos, principalmente os velhos. Os participantes ficam felizes com oscolegas do grupo etário. Na corrida com tora de Buriti, por exemplo, osperdedores ficam tristes com os colegas. Mas os índios vivem felizes eajudam-se.

Hoje, os índios acadêmicos estão participando do mini-campeonato de futsal que está sendo realizado no período noturno naEscola Agrícola. Este campeonato é para todos, portanto, tem aparticipação do time de não-índios. Sem esporte não há alegria,pratique esporte e respeite a torcida.

Desenho:Vicente T. Rãitãté

Arte Umutina

Acadêmicos Umutina

Aarte Umutina era muito rica, por isso era destinada somente para o ritual doAdoê.A saia tubular de algodão, pintada com tinta de urucum, era usada pelas mulheres Umutina

até 1940. Elas fiavam o algodão e depois colocavam no tear para tecer a saia. Atualmente asmulheres confeccionam as saias e blusas com a seda de tucum, enfeitadas com penas coloridas.

A saia de broto de buriti é confeccionada e usada pelos homens. Os vestuários sãofundamentais nas festas tradicionais. Esses costumes vêm sendo preservados ao longo do tempo,de geração em geração.

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História dos Pataxó Hã Hã Hãe

Erlon Santos de Souza - Pataxó

A história do povo Pataxó Hã Hã Hãe, assim como demais povos indígenas brasileiros,principalmente pequenos grupos que habitavam o litoral, está ligado à chegada dos europeus àAmérica, no final do século XV, início do século XVI, que teve como conseqüência a invasão dasTerras do Brasil e dizimação em massa das populações indígenas em termos físico e cultural, alémda destruição de seu habitat natural, que logo foi alterado.

Aregião nordeste foi palco de maior parte destes acontecimentos, no início do século XVI, equem mais sofreu o impacto da colonização. Primeiro, por ter recebido o colonizador, segundo porter sido um ponto estratégico de defesa contra invasores europeus, por último, por ter clima eterras propícias ao cultivo de uma nova cultura de grande valor comercial na Europa, a cana-de-açúcar.

É nesse cenário da história do Brasil, enfocando a região Nordeste, que aparecem os povosindígenas, num primeiro momento vistos como povos atrasados, sem cultura, almas queprecisariam ser salvas. É sob esse pretexto que os invasores, junto com a igreja, se apossam dasterras, e dá-se início ao processo de dispersão de muitos grupos indígenas, que passariam aprocurar proteção em aldeamentos jesuítas, ou refugiavam-se no interior da colônia, fugindo daperseguição religiosa, imposta nos aldeamentos, e do trabalho forçado nas grandes fazendas.Isso não quer dizer que as populações indígenas dessa época não reagiam às ofensivas. Muitasrevoltas indígenas foram constatadas, fazendo resistência aos invasores, mas são poucos osdocumentos que retratam as lutas indígenas em defesa de seu território. A presença docolonizador no nordeste brasileiro foi devastadora, culminando com a ação dos jesuítas e asfrentes de expansão pastoris, chegando a ponto de decidir o destino dos povos indígenas.

Estes povos indígenas passaram a sofrer todo tipo de discriminação, desde a ocupação desuas terras, à discriminação física e cultural, passando a ser tratados como ninguém. Sendoencurralados e confinados em aldeamentos missionários que se seguiu forçosamente ao longodos anos, passando a ser preparados como trabalhadores rurais nas frentes de trabalhos, eservirem como mão-de-obra barata nas fazendas circunvizinhas da região, e até mesmo nosaldeamentos, integrando a comunhão nacional.

Por outro lado, não existir propriamente uma nação indígena, e sim grupos indígenas, tem

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facilitado em muitos aspectos a desintegração de muitos povos, fazendo com que estesmigrassem para outras regiões do país, unindo-se a pequenos grupos para continuarem a existir,como é o caso do Pataxó Hã Hã Hãe.

Associados à história dos povos indígenas do Brasil, a trajetória histórica dos Pataxó Hã HãHãe na Bahia, não é muito diferente. Marcado por guerras, prisões e massacres, este povo, empequenos grupos, vem resistindo ao longo do tempo ao tratamento que lhe foi dispensado, emparte pela sociedade nacional, procurando preservar o que lhes restava de sua cultura, de seuscostumes e hábitos, que passariam a ser alterado com os aldeamentos forçados, impostos peloServiço de Proteção ao Índio (SPI) e sociedade envolvente. Sendo que, mais tarde, são expulsosde suas terras, por conseqüência da invasão de seu território por pequenos posseiros e pelogrande latifúndio, que agiam em conjunto com funcionários do referido órgão.

A introdução da lavoura cacaueira na região, atividade que já vinha ocupando lugar dedestaque na economia nacional desde meados do século XVIII, contribuiu muito para o processode expulsão do povo Pataxó Hã Hã Hãe de suas terras.

Para falar da história Pataxó Hã Hã Hãe é preciso conhecer particularmente cada grupo queo constitui, conhecer a sua trajetória e caminhos percorridos, até sua chegada a T.I. CaramuruCatarina Paraguaçu, passando a constituir pequenas faixas de terra para sua sobrevivência.

Hoje, vivem na área da T.I. Caramuru Catarina Paraguaçu, aproximadamente sete povosdiferentes, localizados em três aldeias: Caramuru, Panelão e Bahetá, nos seguintes municípios:Camacam, Itaju da Colônia e Pau Brasil. Estes povos, independente de sua história particular,marcada por conflitos com fundiários, passaram a constituir uma história única, a história PataxóHã Hã Hãe.

São considerados na composição atual do grupo conhecido como Pataxó Hã Hã Hãe asseguintes etnias: os Kamakã, os Kiriri - Sapuyá, os Hã hã hãe, os Baenã, os Tupinambá, osGuerém e os Pataxó. Todos etnicamente conhecidos hoje como Pataxó Hã hã hãe, que passou aconstituir a diversidade sóciocultural do grupo historicamente constituído no baluarte dasinvasões, repressão cultural e física e na luta de recuperação de suas terras, que foram usurpadasno passado.

Sendo assim, pode-se dizer que somos hoje fruto de um passado repressivo, mas que, aolongo da história e dos contatos, não perdemos a nossa característica interior, que é deixar desermos índios, que é o que fomos, o que somos e o que seremos.

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Casamento Folhiço

Leidiane Pego de S. Sezinando - Tupinikim

Casamento é a união entre duas pessoas onde uma irá ligar-se a outra.O casamento Tupinikim também se define assim, duas pessoas unindo-se entre si pela tão

bela, sublime e inexplicável força do amor.Devido ao processo de colonização e das mudanças sofridas ao longo do tempo por

intermédio dos não-índios, o casamento Tupinikim passou por diversas transformações, mas umadelas ainda está viva na memória dos mais velhos, chamada de “Folhiço”, que acontecia daseguinte forma.

O rapaz que gostasse da moça e pretendia se casar, comunicava seu desejo aos pais dapretendida e a ela. Se os pais permitissem, o rapaz ia até a casa do cacique para ser abençoado eungido para uma caçada.

Ao comunicar ao cacique o seu desejo, o cacique determinava um prazo para o rapaz ircaçar um animal feroz, como a onça. Tinha que ser sozinho.

Partindo para a caçada, os pais da moça, juntamente com a comunidade preparavam olocal para a cerimônia do casamento folhiço.

No centro da aldeia, onde se realizaria a cerimônia, juntavam folhas e amontoavam, essesmontes chegavam a ter um metro de altura. Preparavam também o mel, e assim todos esperavamo jovem guerreiro.

Passando o prazo determinado pelo cacique, se o rapaz não voltasse, o local da cerimôniavirava local de luto e a aldeia lamentava chorando. Porém, se o jovem guerreiro retornasse com acaça, o jovem casal ajoelhava no meio do folhiço e o cacique iniciava a cerimônia. Todosdançavam alegremente ao som dos instrumentos até o raiar do dia, comendo a carne da caça ebebendo mel.

Atualmente, o casamento já não é mais como nessa cerimônia, muitas coisas se perderamao longo do tempo. No entanto, apesar do tempo ter sobrado os folhiços do centro da aldeia, elejamais levará da memória a pureza com que era realizada a Cerimônia do Folhiço pelos índiosTupinikim.

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Cultura Manchineri

Jaime Sebastião Prishico Manchineri - Manchineri

Durante as pesquisas com os mais velhos, nos foi contado que antigamente o nosso povofazia muitas atividades culturais tradicionais, como as danças, cantorias, fiação de algodão etecelagem para vestimenta (cusma), que é usado pela mulher e pelo homem. Essas tecelagenseram enfeitadas com desenhos tradicionais. Também utilizamos para pintar o rosto, o braço, aperna ou o corpo inteiro.

Com o contato com os seringalistas do nordeste,perdemos muito dos nossos conhecimentos que erampraticados na vida cotidiana.Avida de meu povo mudou muito.Atualmente só tem quatro mulheres que ainda sabem fazertudo que os nossos ancestrais faziam.

Para possibilitar que todos conheçam os enfeites dastecelagens, comecei a mostrá-los aos alunos dentro daescola, fazendo atividades com os alunos da 3ª e 4ª séries. Osalunos gostaram. Agora está sendo usado como enfeite debraços, rosto, perna e camisetas. Também recebemosartesanatos de unas parentes que residem no Peru. Eles noscontam que temos 33 tipos diferentes de desenhos.Atualmente estamos fazendo 05 tipos de desenhos. Na escolaestamos revitalizando a nossa identidade. A escola é umespaço muito na revitalização cultural de um povo. Estesdesenhos são usados na pintura corporal ou para enfeitar aroupa tradicional.

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Organização social dos Kamaiwrá

Aisanain Páltu Kamaiwrá - Kamaiwrá

Na comunidade Kamaiwrá, o cacique passa a sua função para o seu filho e as mulheresfazem o mesmo. Cada pai tem a sua responsabilidade com os seus familiares. Dentro de sua casa,cada família tem sua roça e trabalham todos coletivamente, ajudando uns aos outros, cada pessoapesca e caça dividindo certinho. Não existe fome dentro da aldeia, pois todos se ajudam.

As pessoas da aldeia que sabem outros tipos de danças, músicas, rezas vão passando paraseus filhos. Existem os trabalhos coletivos como a roça comunitária, em que todos participam: osadultos, os meninos e os velhos. Durante o serviço eles trocam idéias, os velhos contam ashistórias de como surgiu a roça para o povo Kamaiwrá.

Existem pescarias coletivas, em que todos vão acampar num lugar distante da aldeia(homens, mulheres e meninos). Esta pescaria acontece nos meses de julho e agosto, para a festado Kuarup.

Antigamente o cacique Kamaiwrá sempre saía de madrugada para passar sua mensagempara a comunidade, para que todos respeitassem os visitantes. Atualmente o cacique sai três

vezes por semana, falando para sua comunidade acordar cedo, nãotratar mal seus filhos, tratar bem e levar seus filhos para a roça, para

que eles possam conhecer as atividades, como plantar e colher osprodutos da roça, não brigar com seus familiares, essa é amensagem do cacique atualmente.

Na aldeia sempre tem vários tipos de danças e músicas,onde todos participam das festas. Em relação ao casamentoKamaiwrá, alguns homens casam com duas ou três mulheres.

Os rapazes Kamaiwrá ficam em reclusão por um ou doisanos, onde eles se preparam para serem adultos. Durante a

reclusão, eles aprendem várias coisas, como fazer cesto, arco eflecha.Aprendem música e treinam para serem lutadores.

O povo Kamaiwrá vive em uma grande aldeia, onde moram 480pessoas. Nosso povo está localizado no Parque Indígena do Xingu, que

fica no extremo norte do Estado de Mato Grosso.

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Clã Xavante

Gaspar Waradzéré Tsiwari - Xavante

O povo Xavante é dividido em dois clãs denominados Öwawẽ, que significa água imensa eoutro Poredza’õnõ, que significa girino que sobrevive na água.

Dentro da comunidade, o povo se une para rituais, guerra, danças cerimoniais e caçadas.Segundo os mitos, o povo Xavante surgiu de dois pauzinhos que se transformaram nos primeirosseres humanos. Após isso, ambos pintaram cada pauzinho, um pintou com uma listra horizontal eoutro na ponta. A partir daí surgiram duas mulheres que se multiplicaram. Assim aumentou acomunidade Xavante.AsociedadeA’uwẽ - uptabi, que significa povo autêntico, viviam da caça e dapesca, fazendo rituais. Sem doença, o nosso povo cantava e dançava.

Os pajés tiram as doenças do corpo e tem a sabedoria dada pelo Höimana’u’ö, que significaDeus da Natureza. O casamento e a furação de orelha para ser homem, isto é, a passagem deadolescente para homem, tudo isso faz parte da nossa vida. Nós, Xavante, amamos a nossacultura.

Casamento Karajá

José Hani - Karajá

Antes da chegada dos europeus, existia uma liberdade imensa entre o povo Inỹ. Conviviamem harmonia e liberdade, não existia divisão. O casamento era bem organizado, o quepraticamente não existe mais hoje em dia. Quando acontecia o casamento, a família da moçareunia-se para fazer a cerimônia do casamento. A moça respeitava sua família, não brigava e nemse manifestava, as promessas eram feitas pelas famílias, uma espécie de acordo.

Assim, por decisão da família, começa a fazer a esteira grande, especialmente para o casal.Quando a esteira fica pronta, quer dizer que a família pode ir à casa do rapaz e combinar com afamília dele. A partir dos acertos, a cerimônia já pode ser concluída. Cerimônia que se chamaharibie (pedido de casamento). É um casamento demorado, o rapaz pode pensar para tomar essadecisão.

Quando o rapaz pensa muito antes de dar a resposta, não significa que o rapaz não quercasar, mas sim que quer desfrutar de sua juventude.

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Esporte Tuxá

Rosilene Cruz de Araújo - Tuxá

Desde antigamente o povo Tuxá se reúne uma vez no ano para brincar junto. Crianças,jovens e adultos brincam como se fossem todos crianças. Os adultos e os velhos participam dasmodalidades caindo na gargalhada, fazendo todos rirem muito.

Uma das modalidades é o “pau de sebo”. Acontece mais ou menos assim: enfia-se no chãoum pau de mais ou menos 02 metros e meio de altura, antes disso passa-se sebo em torno de todoo pau (pedaço de madeira) para ficar bem liso, na ponta dele pendura um prêmio, e aí oscandidatos vão tentar subir para pegar o prêmio. É muito difícil, pois o sebo (a gordura) dificulta aprova. Tem que ter muita agilidade e prática.

Outra prova interessante é o “quebra pote”. Em um pote feito de argila, colocamos um gato(animal) dentro dele, fechamos a boca do pote e amarramos pendurando em uma corda comespaço livre. Amarramos uma venda nos olhos do candidato e colocamos um pau na mão delepara que possa encontrar o pote e quebrá-lo. Quebrando o pote, o gato sai correndo assustado etodos saem correndo para pegar o gato. São várias as modalidades que se dão durante todo umdia. Tem também a corrida de saco, o cabo de aço, etc.

No final do dia, dançam o Toré, tomam caldo de ossada de boi, mocotó de bode ou porco ebebem a jurema. Dançam e cantam até

tarde da noite.

Pau de seboQuebra pote

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Aldeia Kuikuro

Mutuá Mehinaku - Mehinaku

A aldeia Kuikuro fica no Parque Indígena do Xingu, é redonda, tem 25 casas e cerca de 300pessoas. Na aldeia temos o campo de futebol, a pista de pouso, as estradas das roças, as estradasdos rios para tomar banho, as estradas para caçar e para pegar madeira para construir casas.Temos a escola, a casa da televisão, o gerador, a farmácia e a casa dos homens no centro daaldeia, onde tem bancos para os homens e rapazes se reunirem.

Em volta da aldeia têm muitas coisas plantadas: bananeira, mangueiras, macaúbas,laranjeiras, mamoeiros, canaviais, pimenteiras e pés de fumo para os pajés.

A comunidade da aldeia Kuikuro tem motor de popa de 40 HP, barcos, canoas, remos,armadilhas para pegar peixes e também o cipó (timbó) para matar, envenenar os peixes dosriozinhos na época da seca. Temos bicicletas, alguns carrinhos de mão, ferramentas, moto-serra,rádios e toca-fitas. Temos também o rádio amador para a comunicação com as aldeias e postos.

Na aldeia praticamos vários cantos, danças e histórias.

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Pintura Kaingáng

Márcia Nascimento - Kaingáng

Na cultura Kaingáng existem duas pinturas faciais muito simples aos olhos de quem vê,porém com o conteúdo muito forte e significativo para o povo, pois em torno dessas duas pinturasgira toda a organização social e cultural desse povo. Essas pinturas, bolinha e traço desenhadasno rosto da pessoa, significam as duas metades tribais, ou seja, os dois clãs, em que se divide opovo.Aprimeira pintura representa o clã chamado Kanhru e o segundo o clã Kamẽ.

Conhecer sua metade tribal é fundamental na hora de arrumar casamento, pois as pessoasdo mesmo clã não podem casar entre si, pois as mesmas possuem graus de parentescos, nãoadmitindo-se então qualquer tipo de relação amorosa entre eles.

Usa-se também essas pinturas nos funerais, onde as pessoas que pertencem ao mesmoclã do falecido estão impedidas de realizar qualquer atividade, como a preparação do corpo para ofuneral, cabendo esse papel ao clã oposto. Neste funeral todas as pessoas são pintadas conformeos seus clãs.

Também é feito o uso dessas pinturas numa outra situação muito importante, o julgamentode uma pessoa (quando se comete um crime). Nesse júri, por exemplo, se o criminoso for demetade Kamẽ, a parte de defesa será do clã oposto, o Kanhru, e a acusação será feita pelospróprios parentes, ou seja, pelas pessoas do mesmo clã. Isso ocorre justamente para que não hajabriga na ocasião. Essas metades tribais são passadas de pais para filhos. O filho ou a filha recebesempre a marca do pai, ou seja, o clã do pai.

Kanhyu Kame~

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A festa do Gavião Real

Acadêmicos Rikbaktsa

Desde os tempos passados que a festa do Gavião Real é de grande importância para opovo Rikbaktsa. Quando um indivíduo mata o Gavião Real, como de costume, não pode arrancaras penas dele. A pessoa, para não ser vista entre as outras, ao chegar perto da aldeia, pendura oGavião Real em um galho seco e segue para a aldeia, vai até a casa dos homens e avisa os maisexperientes. Com isso, os homens escolhem um deles para buscar o Gavião.

Se for o clã da arara cabeçuda que matou, quem busca é o clã da arara amarela, que levaaté o local onde estão os homens para arrancarem as penas. Começam a arrancar as penaspequenas e depois as penas maiores da asa. Feito isso, o cacique escolhe duas mulheres do clãda arara cabeçuda para cozinhar, depois de cozido, o cacique chama os mais velhos para desfiar acarne do Gavião Real.

A chicha é preparada por três mulheres do clã da araracabeçuda, e o mingau de gavião também é preparado portrês mulheres do clã da arara amarela. A chicha é feitade banana verde ou madura. O mingau de GaviãoReal é preparado com castanha do Brasil, misturadocom massa de mandioca. Enquanto a chicha e omingau são feitos, na casa dos homenspreparam-se as penas maiores de GaviãoReal para ser furada. Depois da furaçãodas penas maiores, um jovem do clãda arara cabeçuda busca a chichapara o homem que furou a asa doGavião Real. Depois disso, levam apanela de chicha e a panela de mingaupara a casa dos homens, ali é servidoprimeiro para os velhos e depois édistribuído para as famílias. Assim é ocostume do povo Rikbaktsa.

Desenho: Paulinho Rikbaktsa

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Economia Karajá

Daniel Coxini - Karajá

Antes do contato com a sociedade não-índia, chamada “civilizado”, o nosso povo INỸMahadu (Karajá) vivia um sistema de organização equilibrada, onde a economia era social, com adivisão da alimentação para cada grupo de família. Não tinha o comércio, mas cada um tinha suaobrigação de contribuir dentro da sociedade INỸ (Karajá) . Quando caçavam e pescavam tudo eradividido. Cada família contribuía na produção dos alimentos. Não vendia nenhum produto paraoutros, eram doados para a comunidade, por isso toda a comunidade tinha saúde. Não temosasilos, creches e não temos mendigo. Na nossa aldeia todos são beneficiados.

Atualmente mudaram o sistema. Ficamos conhecendo o comércio e o dinheiro que comprabens de consumo. Com isso na economia destaca-se o comercio de artesanatos, bonecos decerâmicas, remo Karajá, cestaria, colares, plumagens, Rahetô Karajá, cocar Karajá, etc.

Também temos um projeto agrícola, com plantação de bananas, são 9.600 pés, 7.000 pésde abacaxi, mandioca com 17 hectares. Isto é para o consumo e não para vender.

Pintura Corporal Karajá

Daniel Coxini - Karajá

A pintura corporal para o povo Karajá é muito importante. Através dela sãoclassificadas as sociedades Karajá. Existem pinturas por grupo de famílias e dentrode cada família as pinturas são diferentes para crianças, moças, rapazes,mulheres, homens e velhos.

Também é usada nos utensílios domésticos, nos adereços pessoais, noremo, arco, flecha, esteira, cestaria, nas cerâmicas, panela, pente, maracá,Aruanãe tipos de espíritos a que pertencem. A diversidade da pintura Karajá é grande emuito rica.

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Esporte Kuikuro

Acadêmicos Kuikuro

Deste antigamente meu povo já usava a bola para divertimento. Ela chama-se Taügi e éfeita de leite da mangaba. Durante a safra do pequi, o povo Kuikuro pratica este esporte.

Quando a comunidade quer realizar essa atividade, primeiro reúnem-se na casa doshomens para programar o dia da festa. Em seguida, eles vão ao pomar de mangaba para recolhero líquido, toda a comunidade participa. Quando termina a fabricação das bolinhas, eles se pintamna casas dos homens, apenas homens podem participar. Em cada lado, podem ficar entre 15 e 20pessoas. Eles jogam a bolinha na linha, se errar, já perde o jogo.

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Festa do Milho

Jacira Rodrigues S. Cueni - Bakairi

Primeiro a comunidade faz uma reunião para indicar quem será o dono da festa. Quando é

indicado o dono, marca a saída para a caçada, cada um vai para onde quizer, mas antes de sair

para caçar, fica uma semana caçando tamanduá, veado, tatu ou pescando. Eles assam a carne

dos bichos.

As mulheres ficam em casa preparando os alimentos (beiju, farinha), fazendo tinta de

jenipapo e limpando a área onde vai ser a festa. Quando chega na quinta-feira, as mulheres vão

para a roça pegar o milho verde para fazer mingau para os caçadores, que estarão chegando na

sexta-feira de manhã. Ao chegarem, já tem o mingau de milho pronto, quando os caçadores

chegam as mulheres distribuem o mingau para os vizinhos, no outro dia, no sábado, todos

preparam para a festa buscando milho, lenha para assar o milho verde.

Quando chega as 3 horas da manhã, de domingo, todo mundo levanta para preparar a

comida como: pirão de peixe, carne de veado, carne de tamanduá socado no pilão e acompanhado

de beiju. Enquanto as mulheres preparam a comida, os homens assam o milho. Às 6 da manhã, as

pessoas reúnem-se na casa da festa levando a comida, pintados de urucum e jenipapo. O dono da

festa coloca a lona no chão em frente da casa, as comidas são colocadas sobre a lona, quando

todos estiverem reunidos cada um com seu par, para distribuir o milho assado para todos que ali

estão. Feito isso, começam a jogar o milho primeiro na direção onde o sol nasce, depois para o

norte, poente e sul. Terminando de jogar o milho para todos os lados, começam a distribuir a

comida, colocando os pedaços de beiju dentro do apá, com a carne socada ou o pirão de peixe em

cima do beiju, e saem distribuindo.

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Contato

Acadêmicos Rikbaktsa

Os Rikbaktsa habitavam a região noroeste de Mato Grosso, muito antes da colonizaçãoeuropéia. O povo tem sofrido, ao longo da história, muitas perdas causadas pela invasão.Antigamente, usávamos somente a canoa de casca de caju com remo, que servia para atravessaro rio e mesmo para caçar e pescar.

O primeiro contato do povo Rikbaktsa com os não-índios foi por meio dos seringueiros, quetrabalhavam na extração de látex nativo.Ao avistarem os Rikbaktsa subindo o rio numa canoa, nãosabendo o nome deles, chamaram de povo “Canoeiro”.

Os Rikbaktsa percorriam longas distâncias pelos riosAripuanã,Arinos, Sangue, Papagaio eprincipalmente Juruena. A população Rikbaktsa era de aproximadamente 5.000 pessoas. Nasdécadas de 40 e 50 começaram os conflitos com os seringueiros que habitavam as margens dosrios, que trouxeram doenças desconhecidas como a gripe, o sarampo e a tuberculose, causandoepidemias violentas que dizimaram o nosso povo para cerca de 200 pessoas.

Nesse período algumas crianças perderam seus pais e foram levadas para o internato deUtiariti, da Missão Anchieta, onde foram obrigados a conviver com várias etnias diferentes e aseguir a cultura do mundo do branco.

Atualmente, estamos com três áreas indígenas demarcadas e homologadas: ÁreaIndígena Escondido, município de Cotriguaçu, MT; Área Indígena Japuíra, município de Juara,MT; e Área Indígena Erikbaktsa, município de Brasnorte, MT.

Casa Nambikwara

Aroldo Nambiquara - Nambikwara

Nesta casa redonda, os Nambikwara colocam as meninasmoça de onze a doze anos de idade em reclusão. Ficam durante ummês na casa, a partir da primeira menstruação da menina. Isso émuito importante para nossa comunidade, porque se faz a festa damenina moça, que tem muito significado para o nosso povo.

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