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UNIDADE 4 REÚSO DE ÁGUA E POTENCIAIS PERIGOS E RISCOS À SAÚDE HUMANA E AO MEIO AMBIENTE 1

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UNIDADE 4

REÚSO DE ÁGUA E POTENCIAIS PERIGOS E RISCOSÀ SAÚDE HUMANA E AO MEIO AMBIENTE

1

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Sumário

LISTA DE FIGURAS..........................................................................................3

LISTA DE TABELAS..........................................................................................3

INTRODUÇÃO..................................................................................................4

1 PERIGOS E RISCOS À SAÚDE HUMANA........................................................5

2 PERIGOS E RISCOS AO MEIO AMBIENTE....................................................19

3 NOÇÕES DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS SALINIZADAS................................22

3.1 Técnicas convencionais......................................................................23

3.2 Técnicas não convencionais................................................................24

4 NOÇÕES DE REMEDIAÇÃO DE ÁREAS CONTAMINADAS..............................24

5 NOÇÕES DE QUANTIFICAÇÃO E GERENCIAMENTO DE RISCOS..................33

6 EXEMPLOS COMENTADOS..........................................................................37

REFERÊNCIAS...............................................................................................39

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Vias de exposição a microrganismo patogênicos em sistemas de

reutilização de águas residuárias tratadas

Figura 2 - Exemplo de encapsulamento

Figura 3 - Esquema da metodologia de remediação de áreas contaminadas porExtração de Vapor e Injeção de Ar

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Principais patógenos detectados no esgoto

Tabela 2 - Vias de exposição consoante à utilização de águas residuárias

tratadas.

Tabela 3 - Diretrizes da OMS para irrigação agrícola de esgotos sanitários

Tabela 4 - Diretrizes do PROSAB para a prática de reúso agrícola

Tabela 5 - Parâmetros mínimos de qualidade microbiológica do efluente

aplicado na agricultura

Tabela 6 - Tempo de sobrevivência de microrganismos patogênicos no solo e

vegetais sob temperatura ambiente de 20-30oC

Tabela 7 - Concentração máxima tolerada no solo de vários elementos

químicos e compostos orgânicos baseada na proteção à saúde humana

Tabela 8 - Constituintes presentes em esgotos domésticos que apresentam

possíveis efeitos prejudiciais à saúde pública e aos recursos hídricos.

Tabela 9 - Vantagens e desvantagens dos processos de remediação

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INTRODUÇÃO

A palavra risco segundo CETESB (2013) está relacionada à chance de

algo acontecer, ou ainda, relacionada a certo efeito observável sobre um bem

que se quer proteger, podendo ser esse bem o homem, uma espécie vegetal

ou animal ou ainda propriedades e equipamentos. O risco é também definido

como a combinação entre a frequência de ocorrência de um acidente e a sua

consequência, e a adequada composição desses fatores possibilita estimar o

risco de um empreendimento, por exemplo. A palavra perigo significa a

contingência iminente de que algo errado venha a acontecer e pode estar

relacionada a uma ameaça física (real) ou de uma circunstância mais abstrata.

É possível classificar o perigo de diferentes maneiras. O perigo latente é aquele

que pode ser prejudicial, mas não afeta diretamente nada nem ninguém; o

perigo potencial, no entanto, está em uma posição capaz de afetar as pessoas,

suas propriedades ou o meio ambiente. Ainda, segundo HAAS et al. (1999),

perigo é o agente que pode causar efeito adverso à saúde humana.

Em tese, na maioria das aplicações de reúso agrícola, os riscos

sanitários e ambientais decorrentes de constituintes da água residuária seriam

praticamente inexistentes, já que a qualidade dessa água deveria ser

controlada adequadamente.

Infelizmente, não é sempre é assim. No Brasil, por exemplo, a prática de

irrigação com águas de reúso vem sendo, por muitas vezes, realizada sem

planejamento ou controle, sendo muitas vezes até inconsciente por parte do

produtor, que utiliza águas poluídas de córregos e rios ignorando que esa pode

ser uma prática prejudicial à saúde pública e ambiental (TINOCO, 2008).

Os microrganismos patogênicos podem provocar doenças nos seres

humanos e nos animais, algumas de grande gravidade. Também certas

substâncias, geralmente removidas de forma insuficiente no processo de

tratamento, são perigosas para a saúde humana quando ingeridas, e em

alguns casos também por contato com o corpo humano.

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Para que haja redução nos riscos ambientais e de saúde pública

associados à reutilização de águas residuárias, mesmo em sistemas

adequadamente planejados, é importante a adoção de instrumentos e

regulamentos de controle e investigação, de modo a conhecer os poluentes

presentes e controlar a quantidade de água residuária disposta no solo.

Geralmente a concentração de poluentes químicos perigosos em águas

residuárias tratadas é baixa, porém mecanismos de prevenção são sempre

importantes.

É necessário adotar maneiras que permitam a melhor e mais eficiente

utilização de tais recursos, no sentido de minimizar os riscos intrínsecos a essa

prática, que podem ser associados aos riscos à saúde pública, riscos

ambientais e até riscos econômicos (SCHAER, 2012).

Assim, é importante conhecer os perigos e avaliar os riscos inerentes ao

reúso agrícola, de maneira quantitativa e qualitativa, e para isso existem

métodos e modelos à disposição na literatura.

1 PERIGOS E RISCOS À SAÚDE HUMANA

Organismos patogênicos podem provocar doenças nos seres humanos e

animais, sendo algumas de grande gravidade. Determinadas substâncias,

também, geralmente removidas de modo insuficiente no processo de

tratamento, são perigosas à saúde humana quando ingeridas, e em alguns

casos também via contato com o corpo humano.

É importante que a aplicação de efluentes no solo seja feita de maneira

cuidadosa e com o devido acompanhamento técnico, de modo que os efluentes

sejam lançados no ambiente sem saturação de nutrientes e contaminantes de

natureza química ou biológica (MEHNERT, 2003).

A proteção à saúde pública, especificamente, deve ser precedida de

barreiras sanitárias à contaminação, que incluem desde o tratamento de

esgotos até o controle da exposição humana (PAGANINI, 1997).

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Hespanhol (2003) destaca que a presença de organismos patogênicos,

no solo ou nas culturas, não significa necessariamente a transmissão de

doenças. Barreiras protetoras, devido a fatores característicos dos

microrganismos (ex: dose efetiva, persistência, carga residual e latência), dos

hospedeiros (ex: imunidade natural adquirida, idade e sexo e condições de

saúde) e outros fatores associados aos padrões de higiene pessoal, por

exemplo, fazem com que o risco de provocar doenças seja inferior ao risco

potencial. No entanto, mesmo que esse risco real possa ser pequeno, é

necessário estabelecer critérios mínimos para a prevenção de doenças

infecciosas, por exemplo.

A quantidade e o tipo de microrganismos presentes nas águas

residuárias de uma determinada localidade dependem de diversos fatores, que

podem estar relacionados tanto ao estado de saúde e ao nível de imunidade da

população, como de fatores condicionantes da sobrevivência dos

microrganismos nas águas residuárias (MONTE; ALBUQUERQUE, 2010).

A presença de microrganismos patogênicos na água é uma preocupação

de destaque em projetos de reutilização, uma vez que a água reutilizada pode

constituir um veículo de transmissão de doenças e dessa maneira se tornar um

problema de saúde pública e/ou animal. As águas contêm grandes quantidades

de microrganismos, mas sua grande maioria é ubíqua e inofensiva ao homem.

No entanto, alguns microrganismos são patogênicos e sua presença pode fazer

da água um potente veículo de transmissão de doenças, algumas, inclusive,

muito perigosas (MONTE; ALBUQUERQUE, 2010).

Citando a legislação brasileira quanto aos aspectos de reúso, foi lançada

a Resolução N° 121/2010 com o objetivo de estabelecer diretrizes e critérios

para a prática de reúso direto não potável de água na modalidade agrícola e

florestal, definida na Resolução CNRH n° 54/2005. Em seu artigo 5°, é

destacado que a aplicação de água de reúso para fins agrícolas e florestais

não pode apresentar riscos ou causar danos ambientais e à saúde pública e no

artigo 8° consta que qualquer acidente ou impacto ambiental, decorrente da

aplicação da água de reúso que possa comprometer os demais usos da água

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no entorno da área afetada, deverá ser informado imediatamente ao órgão ou

entidade competente e ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica pelo

produtor, distribuidor e usuário da água de reúso.

Hespanhol (2002) destaca como grupos de risco associados aos

sistemas de reúso agrícola: (i) os operários agrícolas e suas famílias, (ii)

manuseadores e transportadores de colheitas, (iii) os consumidores de

culturas, carne e leite originários de campos irrigados com esgotos e (iv)

populações situadas nas proximidades de campos irrigados por meio de

aspersores.

Os patógenos presentes nas águas residuárias e susceptíveis de

disseminação no ambiente classificam-se nos seguintes grupos: bactérias,

helmintos, protozoários e vírus (MEHNERT 2003; BARRELLA 2008). Na tabela

abaixo são listados os gêneros e espécies de patógenos mais comuns nas

águas residuárias dentro dos quatro grupos supracitados, assim como as

doenças a que dão origem.

Tabela 1 – Principais patógenos detectados no esgoto1

Patógenos Doenças ou sintomas causados noorganismo

BactériasCampylobacter jejuni GastroenteriteEscherichia coli enteropatogênica GastroenteriteSalmonella spp. Febre tifoide e gastroenteriteShigella spp. Disenteria bacilarVibrio cholerae CóleraYersinia spp. Gastroenterite agudaHelmintosAscaris lumbricoides Distúrbios digestivos e dores abdominaisHymenolepis nana HimenolepíaseNecator americanus AncilostomoseStrongyloides stercolaris EstrongiloidíaseTaenia saginata TeníaseTaenia solium Teníase, cisticercoseTrichuris trichiura Dores abdominais, diarreias, anemia, perda de

pesoProtozoáriosBalantidium coli Diarreia, disenteriaEntamoeba histolytica Disenteria amébicaCryptosporidium Gastroenterites, criptospodirioseGiardia intestinalis Giardíase

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VírusRotavírus humanos Gastroenterite aguda com diarreia graveAdenovírus humanos Gastroenterite, infecções respiratórias e

conjuntiviteNorovírus Gastroenterites epidêmicas com grave diarreiaAstrovírus humanos GastroenteriteParvovírus humanos GastroenteriteCoronavírus humanos Gastroenterite e doenças do trato respiratórioTorovírus humanos GastroenteriteVírus da hepatite A HepatiteVírus da hepatite E HepatitePoliovírus Paralisia, meningite, febreCoxsackievírus Meningite, pneumonia, hepatite, febreEchovírus Meningite, paralisia, encefalite, febre

Fonte: Bosh, 1998; Gerba; Smith Jr, 2005

A possibilidade de transmissão de patógenos, em qualquer modalidade

de reúso, pode colocar em risco diversos grupos populacionais. De acordo com

Blum (2003), os problemas podem ocorrer principalmente como consequência

do contato das pessoas com a água de reúso, como por exemplo, contato por

ingestão de alimentos crus e verduras irrigadas, consumidas cruas; por

ingestão direta da água; contato através da pele; contato por inalação de

aerossóis (ex: sistemas de irrigação por aspersão), contato por meio da visão e

do olfato (ex: descargas sanitárias), dentre outros.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1989), os

nematoides possuem alta frequência de infecção, seguida pelas bactérias,

vírus e tremátodes e cestoides. Tais patógenos, provenientes geralmente de

excretas humanas, são encontradas no esgoto doméstico principalmente no

efluente primário. Por exemplo, estima-se que 1,5 bilhões de pessoas estejam

infectados pelo A. lumbricoides no mundo, chegando a uma prevalência de

73% no sudeste asiático e cerca de 8% nas Américas Central e do Sul.

Inclusive em países como os Estados Unidos há 4 milhões de pessoas

infectadas, localizadas principalmente em comunidades de imigrantes vindos

de países em desenvolvimento (DRUMOND et al., 2004). Já o efluente

secundário, denominado de águas cinzas, possui menor quantidade de

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patógenos, e pode ser considerado um efluente com baixo risco de

contaminação, quando comparado ao primário.

A exposição de seres humanos ao risco induzido pela reutilização de

águas residuárias tratadas pode ser muito variável. A figura abaixo apresenta

um esquema do percurso do risco associado à presença de organismos

patogênicos na água de reúso. A forma de exposição aos patógenos varia de

acordo com a finalidade e a forma da reutilização, como indicado na tabela 2.

Figura 1 – Vias de exposição a microrganismo patogênicos em sistemas dereutilização de águas residuárias tratadas

Fonte: Acervo do autor

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Tabela 2 - Vias de exposição consoante à utilização de águas residuárias tratadas.

Fonte: Nota do Autor

Os helmintos são vermes parasitas e algumas de suas espécies podem

ter grande importância para a saúde pública por parasitarem o homem. A

maioria dos helmintos não é microscópica, porém seus ovos ou cistos podem

ser. Como exemplos de helmintos, mais especificamente os platelmintos,

têm-se a Taenia solium e a Taenia saginata. Outro grupo importante é o dos

nemátodos, e os gêneros de maior interesse devido às doenças que causam

são Trichinella, Necator, Ascaris e Filaria.

Dentre os agentes patogênicos existentes no efluente doméstico, os

vírus apresentam maior sobrevivência no solo, sendo que a taxa de inativação

desses agentes é mais lenta do que a das bactérias após a aplicação de

efluentes no solo. Tal resistência aos fatores ambientais promove uma

elevação do risco potencial de contaminação por vírus entéricos (MEHNERT,

2003). Um estudo, por exemplo, evidenciou a presença de vírus entéricos em

águas utilizadas na irrigação de hortas no Estado de São Paulo (ALMEIDA,

2007).

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Dentre os vírus que estão presentes no meio ambiente e oferecem

grande risco à saúde da população estão os entéricos e podem ser citados os

poliovírus, calicivírus, rotavírus, o vírus da hepatite A e alguns adenovírus. Tais

patógenos são eliminados em grandes concentrações pelas fezes de

indivíduos infectados e podem permanecer viáveis por muitos meses no

ambiente. Dessa maneira, podem contaminar lençóis freáticos e águas para

consumo humano, assim como ser altamente tolerantes aos processos de

tratamento de esgoto aplicados para controle bacteriano (MEHNERT 2003;

TOZE, 2006).

A presença de vírus em efluentes não tratados de maneira adequada

pode contribuir para o desenvolvimento de doenças em indivíduos mais

susceptíveis. Um ponto importante e preocupante é que a dose infectante dos

vírus é geralmente muito baixa, tendo variação de uma a dez unidades

infecciosas. Quando uma célula parasitada por um vírus morre, ocorre sua lise,

ou seja, há um rompimento celular e liberação para o organismo de um grande

número de novos vírus originados por reprodução do vírus parasita. Para

exemplificar, 1 (um) grama de fezes de uma pessoa infectada com o vírus de

hepatite pode conter de dez mil a cem mil doses infecciosas de vírus de

hepatite (TOZE, 2006).

Mais de 100 tipos de vírus presentes em águas contaminadas por

descargas de esgoto podem causar ampla variedade de doenças no homem.

Geralmente as infecções são assintomáticas, porém podem estar associadas a

quadros mais graves como paralisias, meningite asséptica, encefalites,

distúrbios cardíacos, hepatites, diarreias e outras enfermidades (LECLERC et

al., 2002).

Outra questão que deve ser considerada é quanto às características do

solo, as quais podem influenciar o movimento de partículas virais em direção à

água subterrânea, tais como o tipo e o pH do solo, a água da chuva, cátions,

taxa de fluxo e orgânicos solúveis e dessa maneira favorecer a persistência de

patógenos no ambiente (FONG; LIPP, 2005).

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Para evitar problemas de saúde aos consumidores e trabalhadores que

irrigam e manuseiam culturas é importante que sejam cumpridos padrões de

qualidade sanitária das águas residuárias destinadas ao uso na agricultura.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), representada pelo Grupo

científico sobre diretrizes para o uso de esgotos em agricultura e aquicultura,

desenvolveu critérios para a proteção de grupos de risco relacionados ao reúso

agrícola. Tais critérios foram estabelecidos considerando características gerais

de países em desenvolvimento, similares às condições brasileiras (WHO,

1989). Em 2006 a OMS publicou novas diretrizes, adicionando ferramentas de

avaliação de risco em diferentes cenários de exposição, conforme pode ser

visto na Tabela 3.

Tabela 3 - Diretrizes da OMS para irrigação agrícola de esgotos sanitários

Fonte: Adaptado de WHO, 2006b

As pesquisas realizadas no Brasil com relação ao reúso de águas

residuárias têm avançado por meio de iniciativas como a do PROSAB -

Programa de Pesquisas em Saneamento Básico, o qual é financiado por

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instituições governamentais, como FINEP e CNPq. Por meio da aplicação de

padrões tecnológicos de tratamento de esgotos, esse programa possibilitou o

entendimento e desenvolvimento de técnicas de tratamento simplificadas e de

critérios que assegurem o atendimento aos padrões de qualidade

microbiológica de efluentes (BASTOS; BEVILACQUA, 2006). Segue a Tabela 4,

que ilustra as diretrizes do PROSAB para a prática do reúso agrícola.

Tabela 4 - Diretrizes do PROSAB para a prática de reúso agrícola

Fonte: Adaptado de Bastos e Bevilacqua, 2006

Diversos países vêm desenvolvendo seu conjunto de leis e

regulamentações visando gerir as atividades de reúso, baseando-se

geralmente nas recomendações de órgãos importantes como a OMS

(Organização Mundial da Saúde) e a USEPA (Agência de Proteção Ambiental

dos Estados Unidos), que possuem prática reconhecida e respeitada

internacionalmente na formulação de diretrizes e leis em meio ambiente e

saúde (ASANO, 2002). A Tabela 5 ilustra os critérios de segurança

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estabelecidos pela OMS de acordo com o tipo de cultivo e o nível de risco

associado.

Tabela 5 - Parâmetros mínimos de qualidade microbiológica do efluente aplicado naagricultura

Fonte: Modificado de WHO, 2006b.

A tabela 6 lista um resumo das informações sobre o tempo de

sobrevivência no solo e em vegetais de organismos patogênicos encontrados

nos esgotos.

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Tabela 6 - Tempo de sobrevivência de microrganismos patogênicos no solo e vegetaissob temperatura ambiente de 20-30oC

Fonte: WHO, 1989

*Obs: os valores fora dos parênteses referem-se aos máximos observados na literatura, os

valores entre parênteses aos mais habitualmente verificados.

Com relação às substâncias químicas que representam risco à saúde, a

OMS indica limites máximos toleráveis para a concentração de contaminantes

no solo, baseados na Avaliação Quantitativa de Risco Químico (AQRQ),

adotada em muitos países para o desenvolvimento do padrão de potabilidade

de água, como recomendações de proteção à saúde humana (Tabela 7) (WHO,

2006b). É importante destacar a importância dessa verificação, pois estes

produtos químicos não são eliminados com o cozimento dos vegetais e podem

representar vários riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

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Tabela 7 - Concentração máxima tolerada no solo de vários elementos químicos e

compostos orgânicos baseada na proteção à saúde humana

Fonte: WHO, 2006b

A diversidade de compostos orgânicos sintéticos existentes é de grande

preocupação ambiental, uma vez que muitos não são biodegradáveis e podem

ter propriedades carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas, além de outros

com capacidade inibidora de fertilidade (MONTE; ALBUQUERQUE, 2010).

O conhecimento incipiente sobre a identidade e composição de muitos

compostos, assim como sobre seus efeitos em processos de reutilização da

água, leva a vários receios e questionamentos. Tais receios têm fundamento,

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pois esses constituintes da água de reúso podem afetar componentes bióticos

e abióticos do meio ambiente, seja ele natural ou controlado, como instalações

agrícolas. Além disso, há a possibilidade de que esses componentes entrem na

cadeia alimentar humana por diversas vias. Os grupos de poluentes químicos

mais relevantes no contexto da reutilização da água são: sais, metais pesados,

substâncias tensoativas, sólidos em suspensão, halogenetos orgânicos,

pesticidas, disruptores endócrinos, produtos farmacêuticos e poluentes

orgânicos persistentes (MONTE; ALBUQUERQUE, 2010).

O desenvolvimento dos métodos de análise tem permitido a identificação

de compostos químicos chamados de poluentes emergentes. Os disruptores

endócrinos, por exemplo, possuem origem antropogênica e alguns também de

origem natural. Essas substâncias têm a capacidade de alterar o sistema

natural de produção de hormônios, podendo provocar desequilíbrios nos seres

humanos e nos animais. São conhecidos, por exemplo, casos de feminização

de peixes machos. Como exemplos de disruptores endócrinos, pode-se citar

hormônios naturais (humanos e animais), sintéticos (pílulas anticoncepcionais),

além de cosméticos, produtos de higiene doméstica, pesticidas, produtos

químicos industriais, farmacêuticos e alguns metais (MONTE;

ALBUQUERQUE, 2010).

Outros poluentes emergentes que geram preocupação são compostos

provenientes de desinfecção por cloragem, como a N-nitrosodimetilamina

(NDMA), que possui alto poder cancerígeno. Nessa categoria há também os

percloratos, utilizados em processos de fabricação de explosivos e pirotecnia,

que podem se acumular em plantas regadas com água contaminada,

desfolhando-as. Além disso, tais compostos podem estar presentes em

produtos oriundos de animais alimentados com essas plantas, como o leite e

derivados (MONTE; ALBUQUERQUE, 2010).

De modo a proteger a saúde pública dos grupos de risco, torna-se

necessário a adoção de medidas mitigadoras indispensáveis, tais como

tratamento dos esgotos, seleção e restrição de culturas, técnicas de aplicação

dos esgotos e controle da exposição humana. É importante ressaltar que esse

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controle deve ser gerenciado por autoridades responsáveis pela operação dos

projetos de reúso, para que as ações estejam alinhadas visando maior

efetividade (HESPANHOL, 2002).

O grupo dos operários rurais e suas famílias e manuseadores de

culturas, por exemplo, está sujeito aos riscos relacionados às infecções

parasitárias provocadas por helmintos. Para evitar a ocorrência de transtornos

como esse, Hespanhol (2002) recomenda medidas protetoras, como uso de

calçados e luvas apropriadas para redução da infecção por helmintos;

imunização contra febre tifoide e hepatites A e B; fornecimento de instalações

médicas adequadas para o tratamento de doenças diarreicas e promoção de

campanhas de educação sanitária.

Ao grupo dos consumidores, as recomendações para mitigação de

riscos são: cozimento total de carne e vegetais e fervura do leite; realização de

vigilância sanitária da carne, em que há risco potencial de ocorrência de

teníases (Taenia solium e T. saginata); paralisação da aplicação de esgotos

pelo menos duas semanas antes de liberar plantéis em que há risco de

cisticercose (Cysticercosis bovis e C. cellulosae) e paralisação da irrigação de

árvores frutíferas duas semanas antes da colheita, além de proibir colheita de

frutas do chão; promoção de campanhas de educação sanitária; estímulo a

padrões elevados de higiene pessoal e alimentar; instalação de sinalização de

advertência em áreas irrigadas com esgotos (HESPANHOL, 2002).

Estudos mostraram que nos municípios de Araraquara e Ribeirão Preto,

interior de São Paulo, as águas superficiais utilizadas para irrigação de

hortaliças estavam fora dos limites aconselhados pela OMS, uma vez que

foram encontrados cistos de amebas (E. histolytica), ovos de Ancilostoma

duodenale e vários enteroparasitos (BONILHA, 1986).

Segundo Hespanhol (2002), não há evidências epidemiológicas de que

aerossóis advindos da irrigação com aspersores provoquem riscos

significativos de infecção a populações que vivem no entorno de áreas

irrigadas. Porém, de modo a buscar sempre a segurança da saúde pública e

visando a minimização de problemas de odor, sugere-se manter distância

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mínima de 100 metros entre áreas irrigadas com águas de reúso e casas e

estradas.

2 PERIGOS E RISCOS AO MEIO AMBIENTE

A aplicação do reúso de água no ambiente agrícola, como por exemplo o

reúso de esgotos, é uma forma efetiva de controle da poluição e uma

alternativa viável para aumentar a disponibilidade hídrica em regiões áridas e

semiáridas, principalmente (HESPANHOL, 2002). No entanto, caso esse reúso

seja realizado de forma desordenada e não regulamentada, pode trazer uma

série de problemas às culturas irrigadas e ao meio ambiente em seu entorno,

incluindo fauna, flora e recursos hídricos.

Ao contrário dos fertilizantes químicos industrializados, os efluentes

tratados não possuem concentrações controladas de nutrientes, podendo

alguns destes ser excessivos e outros deficientes para determinadas culturas

(AQUINO, 2007).

De acordo com Medeiros (2005), os resultados da aplicação de águas

residuárias nas propriedades físicas e químicas do solo geralmente surgem

apenas após um longo período de utilização. Alguns pesquisadores, por

exemplo, registraram aumento na concentração de nutrientes após 15 anos de

irrigação com efluente de esgoto, a partir de detecção da eficiência metabólica

da microflora do solo (MELI et. al., 2002). Já outros estudos observaram efeitos

negativos sobre a população de fungos micorrízicos arbusculares, após 90

anos de irrigação com efluente de esgoto, e associaram esse resultado ao

acúmulo de fósforo e de metais pesados (ORTEGA-LARROCEA et al., 2001).

As principais características de um solo em processo de degradação são

a diminuição do nível do lençol freático, salinização da superfície do solo e da

água, redução das águas superficiais, alta erosão não natural do solo,

vegetação nativa esparsa, sendo os maiores processos de desertificação em

regiões áridas a erosão hídrica, a erosão eólica, a salinização, a saturação e a

compactação do solo (ANDRADE; CRUCIANI, 1998).

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A salinização dos solos é um problema crescente em todo o mundo,

supõe-se que bilhões de hectares de solos sofram com esse problema, e

grande parte das áreas irrigadas sofrem com a diminuição da produção como

consequência do grande aporte de sais (HORNEY et al., 2005).

A salinidade possui efeitos negativos que estão diretamente

relacionados ao crescimento e produção dos vegetais, podendo levar, em

casos extremos, a perda de toda a cultura. Além disso, pode prejudicar a

estrutura do solo, pois a absorção de sódio provoca a dispersão das frações de

argila diminuindo a permeabilidade do solo (NUNES, 2008).

Um dos principais fatores que contribui para a salinização dos solos é a

água utilizada no processo de irrigação, que pode conter altos teores de sais,

contribuindo diretamente para o aumento da concentração salina que atuando

em conjunto com altas evaporações promovem a acumulação de sais solúveis

no solo (BERNARDO, 2005).

O entendimento sobre o processo de salinização ajuda na tomada de

decisões a fim de se evitar seus efeitos e reduzir a probabilidade de diminuição

dos rendimentos das culturas (AYERS e WESTCOT, 1991).

Segundo Diniz (1999), o processo de salinização dos solos acontece

devido a dois fatores principais:

1. Mineralógico: Resultado da transformação dos elementos trocáveis da

crosta terrestre em solúvel;

2. Climatológico e Manejo Inadequado do Solo: A temperatura local

provoca a redução do teor de umidade e como consequência, aumenta a

concentração de sais dos solos.

Os riscos à saúde e ao meio ambiente relacionados ao reúso de água

são grande motivo de preocupação da sociedade, e uma das preocupações é

quanto à poluição dos recursos hídricos (NARDOCCI, 2003). Outros riscos

ambientais derivados da prática do reúso são a contaminação do solo, falta de

vazão ecológica e comprometimento da flora e fauna.

A utilização de esgotos na irrigação pode acarretar consequências

negativas, sendo a poluição uma das mais importantes. A poluição por nitratos,

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particularmente, pode ser muito prejudicial aos aquíferos subterrâneos, fontes

de abastecimento de água. Quando há sobre o aquífero uma camada de solo

insaturada e altamente porosa, pode haver percolação de nitratos e

consequente poluição. No entanto, se a camada superior ao aquífero for

profunda e homogênea, essa é capaz de reter nitratos, reduzindo a

possibilidade de contaminação. Além disso, a assimilação de nitrogênio pelas

culturas reduz as chances de contaminação por nitrato, porém isso dependerá

das taxas de assimilação pelas plantas e de aplicação de esgotos no solo

(HESPANHOL, 2002).

Pouco se sabe ainda sobre o potencial contaminante de um sistema de

irrigação com efluentes domésticos a lençóis de água subterrâneos e ao solo

(MEHNERT, 2003). Nesse sentido, a aplicação de efluentes no solo deve ser

feita de modo controlado.

O esgoto doméstico, que pode ser utilizado para reúso em diversas

finalidades, é constituído por excretas de humanos e animais e águas cinza

(oriundas de lavagens, banhos e cozimento); pode também ser constituído por

esgoto proveniente do comércio e de algumas indústrias (BARRELLA, 2008).

Fazem parte da composição do esgoto doméstico água, sólidos orgânicos e

inorgânicos, além de outros elementos e microrganismos. É possível encontrar

praticamente qualquer substância nas águas residuais, uma vez que são

anualmente introduzidos no mercado cerca de 10 mil novos compostos

(METCALF; EDDY, 2003).

É importante destacar também que a aplicação de esgotos por longos

períodos pode levar à criação de ambientes favoráveis à proliferação de

vetores transmissores de doenças, como mosquitos e algumas espécies de

caramujos. Desse modo, devem ser empregadas técnicas integradas de

controle de vetores, para proteger os grupos de risco correspondentes

(HESPANHOL, 2002).

A tabela 8 ilustra alguns constituintes do esgoto doméstico que

representam risco à saúde humana e aos recursos hídricos (METCALF; EDDY,

2003).

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Tabela 8 - Constituintes presentes em esgotos domésticos que apresentam possíveisefeitos prejudiciais à saúde pública e aos recursos hídricos.

Constituinte ImportânciaNutrientes Descargas de nitrogênio, fósforo e

carbono em ambientes aquáticos quefavorecem o crescimento acelerado dealgas e cianobactérias.

Compostos orgânicos refratários Compostos que resistem aos métodosconvencionais de tratamento de esgotos,incluindo fenóis, pesticidas esurfactantes.

Poluentes prioritários Compostos orgânicos e inorgânicos detoxidez aguda, suspeitos oucomprovadamente carcinogênicos,mutagênicos e teratogênicos.

Metais pesados Acima de determinadas concentrações,os metais apresentam toxicidade.

Microrganismos patogênicos Transmissores de doenças infecciosas. Fonte: METCALF; EDDY, 2003

A contaminação do solo, o acúmulo de compostos tóxicos e orgânicos e

o aumento da salinidade nas camadas insaturadas do solo dependem de vários

fatores, incluindo as características e a origem das águas de reúso e o modo

como a irrigação é realizada. A salinização do solo, por exemplo, pode afetar a

germinação e a densidade das culturas, além de seu desenvolvimento

vegetativo, promover a redução de produtividade e até levar à morte

generalizada das plantas. Assim, caso não haja sistema de drenagem e

irrigação adequadas, há grandes possibilidades de que solos se tornem salinos

(CODEVASF, 2010).

3 NOÇÕES DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS SALINIZADAS

O manejo inadequado do solo é, muitas vezes, o principal fator

diretamente ligado ao processo de salinização. Em vista da crescente

necessidade de produção, diferentes técnicas podem ser utilizadas nos

processos de recuperação de áreas salinizadas, como por exemplo, o uso de

vegetação halófita, aplicação de condicionadores químicos e orgânicos,

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lavagem do solo e técnicas de mecanização como aração e subsolagem

(CAVALCANTE et al., 2010).

3.1 Técnicas convencionais

O principal objetivo das técnicas de recuperação de áreas salinizadas é

a redução dos teores dos sais solúveis e do sódio em uma condição que não

afete o desenvolvimento das culturas (BARROS et al., 2004).

A lavagem do solo e a aplicação de corretivos químicos são as técnicas

mais utilizadas. Essas técnicas baseiam-se no processo de solubilização dos

sais e deslocamento do teor de sódio trocável do complexo de troca pelo cálcio

e a consequente remoção pela água de percolação (CAVALCANTE et al., 2010;

MIRANDA et al., 2011).

Em solos exclusivamente sódicos e que sofrem pouco intemperismo e

em que as fontes de cálcio não forneçam suporte para afetar significativamente

a recuperação desses solos devido à baixa solubilidade o emprego de

condicionadores químicos, como o gesso, enxofre elementar, sulfato de

alumínio, cloreto de cálcio e ácido sulfúrico, constitui uma alternativa para a

recuperação química e física desses solos (QADIR et al., 2007). Porém, dentre

os diferentes tipos de corretivos, o gesso é o mais empregado, devido à

facilidade de manuseio e disponibilidade no mercado e o seu baixo custo

(BARROS et al., 2009).

Basicamente, os critérios estabelecidos para remediação e manejo de

solos salinizados baseiam-se no movimento da água no solo e tem como

objetivo favorecer as condições de umidade, aeração e balanço de sais ao

sistema radicular das culturas. Para isso, é necessária a implantação de um

sistema de drenagem subterrânea em áreas irrigadas (ARAÚJO et al., 2011;

CAVALCANTE, 2010).

As principais desvantagens do uso dessas técnicas são os custos

elevados e o longo tempo requerido para a recuperação, principalmente em

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grandes áreas e com maiores necessidades de correção (BARROS et al.,

2004; LEITE et al., 2010).

3.2 Técnicas não convencionais

A fitoextração de sais solúveis constitui uma das alternativas de baixo

custo para a recuperação de solos salinos. Trata-se de uma eficiente estratégia

para a recuperação de solos salinizados, podendo ser comparada às

estratégias que utilizam corretivos químicos (QUADIR et al., 2007). Esse

processo possui baixo custo de implantação e manutenção quando

comparados aos processos que utilizam o tratamento com corretivos químicos.

No processo de fitorremediação deve-se utilizar plantas halófitas, que

são plantas adaptadas a altos níveis de salinidade no solo e com capacidade

de acumular grandes quantidades de sais em seus tecidos (ZHU, 2001). Essas

características das plantas halófitas são fundamentais para o sucesso da

fitoextração de sais em solos salino-sódicos.

Dentre as plantas halófitas com potencial de fitorremediação de áreas

salinizadas o gênero Atriplex vem-se destacando em regiões semiáridas por se

estabelecer facilmente e ter boa aceitação do gado (AGANGA et al., 2003).

4 NOÇÕES DE REMEDIAÇÃO DE ÁREAS CONTAMINADAS

Após diversos incidentes ao longo dos anos em todo o mundo, com

resultados danosos à fauna, flora e saúde humana, a sociedade passou a

entender que a utilização de determinadas substâncias e a produção e

disposição inadequada de resíduos caracterizavam-se como fatores de risco à

qualidade dos serviços ambientais e, em contrapartida, à manutenção das

atividades econômicas (FIEMG, 2011).

Atualmente, constituem elementos chave para a gestão ambiental de

empresas e governos as iniciativas relacionadas à mitigação ou eliminação de

contaminantes no solo, na água ou no ar. As águas industriais destinadas ao

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reúso agrícola, por exemplo, podem conter contaminantes tóxicos como metais

e semimetais (ex: mercúrio, chumbo, cromo, cádmio e arsênio). Em geral, os

teores totais de metais pesados em efluentes podem ser considerados baixos.

Entretanto, sucessivas aplicações, associadas à incorporação de matéria

orgânica de rápida degradação e pouco estabilizada podem ocasionar acúmulo

no solo. Mudanças nas condições físico-químicas do solo podem promover a

liberação dessas substâncias, disponibilizando-os à absorção pelas plantas

e/ou para a percolação no solo (BERTONCINI; MATTIAZZO, 1999). A absorção

de metais pesados pelas plantas pode reduzir a produtividade agrícola e, no

organismo humano, são acumulativos e podem provocar doenças. Dessa

forma, é necessário um gerenciamento sustentável da utilização de águas

residuárias, de forma a evitar graves consequências (FRANCO, 2008).

As principais causas de contaminação que podem ser citadas são

incidentes de disposição inadequada de resíduos e emissões no passado e no

presente, manejo incorreto de substâncias perigosas nos processos industriais,

perdas durante o processo produtivo, armazenamento e estocagem

inadequada de produtos químicos, vazamentos nos processos, acidentes,

dentre outros (CETESB, 1999).

As áreas contaminadas contêm substâncias com potencial de causar

dano ao meio, à fauna, flora e à saúde humana, com riscos mais ou menos

elevados, que variam conforme sua tipologia química ou biológica e sua

quantidade, por exemplo. Além disso, essas áreas podem se tornar fontes de

contaminação secundárias, o que amplia seus perigos para além do local

diretamente afetado, por meio de diversas vias (VIANA, 2010).

São vários os riscos associados às áreas contaminadas. Há o risco à

saúde humana e ao meio ambiente, risco à segurança dos indivíduos e da

propriedade, redução do valor imobiliário, restrições ao desenvolvimento

urbano e o risco de contaminação dos recursos hídricos, como áreas

subterrâneas com potencial de abastecimento público (SÁNCHEZ, 2001).

É importante ressaltar que a recuperação total da qualidade ambiental

de áreas contaminadas é geralmente muito difícil e onerosa, o que acaba por

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inviabilizar sua concretização (GÜNTHER, 2006). Assim, as práticas atuais de

remediação visam, em geral, à recuperação das áreas para um uso futuro

específico, remediando para tal finalidade, o que faz do processo algo menos

oneroso, mais prático e menos restritivo quanto aos limites ambientais

almejados.

A USEPA define o termo remediação como um conjunto de ações

corretivas aplicáveis a uma determinada área contaminada por resíduos

perigosos. Na prática, tais ações minimizam os efeitos da contaminação, o que

significa que dificilmente essa área será recuperada completamente

(BERTENFELDER, 1992).

Os principais objetivos do processo de gerenciamento de áreas

contaminadas são produzir informação sobre áreas contaminadas e a sua

disponibilização; eliminar ou reduzir riscos à saúde humana e ao meio

ambiente; evitar danos aos bens e ao público no presente, na remediação e no

futuro; permitir o uso adequado presente ou futuro da área; responsabilizar o

causador do dano e suas consequências (VIANA, 2010).

Com o intuito de limpar o solo e as águas subterrâneas de substâncias

tóxicas, a Environmental Protection Agency (EPA) formulou, em 1986, a

primeira sequência de procedimentos de correção para áreas contaminadas.

Tais ações foram desenvolvidas em cinco fases, tendo inicialmente uma vistoria

para avaliação preliminar da área, seguido pela proposição de técnicas de

remediação até, finalmente, a implantação de métodos corretivos e

estabilizadores (BERTENFELDER, 1992).

O manual de gerenciamento de áreas contaminadas, elaborado pela

CETESB (CETESB, 1999) foi o primeiro protocolo brasileiro sobre áreas

contaminadas. Esse documento define a remediação como a aplicação de

técnica ou conjunto de técnicas em uma área contaminada, que visa à remoção

ou contenção dos contaminantes presentes, com o objetivo de assegurar uma

utilização para a área, com limites aceitáveis de riscos aos bens a proteger.

As medidas de remediação devem ser aplicadas até o alcance dos

níveis desejados, de modo a promover o saneamento da área, a eliminação de

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perigos ou o confinamento de contaminantes. Atualmente há várias formas de

recuperação de áreas contaminadas e a escolha das metodologias mais

adequadas é de extrema importância para a recuperação da área envolvida

(VIANA, 2010).

O processo de recuperação de áreas contaminadas visa à adoção de

medidas corretivas que permitam recuperá-las para um uso compatível com

metas definidas para serem alcançadas após a intervenção, por meio da

adoção do princípio da aptidão para o uso. Tal processo é formado por diversas

etapas, a saber: investigação detalhada; avaliação de risco; investigação para

remediação; projeto de remediação; remediação e monitoramento (CETESB,

1999).

As técnicas de remediação podem ser divididas em três tipos: processos

in site (sem remoção do material), on site (remoção e tratamento no local) e off

site (tratamento fora do local) (SCHIANETZ, 1999). Essas técnicas possuem

diversas vantagens e desvantagens e devem ser bem avaliadas (Tabela 9).

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Tabela 9 - Vantagens e desvantagens dos processos de remediação

Fonte: Schianetz, 1999

Dentre as principais formas de recuperação de áreas contaminadas,

estão: 1) a atenuação natural monitorada; 2) o encapsulamento; 3) a extração

de vapor e injeção de ar e 4) tratamentos termais.

A remediação pela atenuação natural monitorada é baseada em

processos naturais de depuração ambiental. Por se tratar de uma reação

natural do meio ambiente, é uma forma de recuperação barata, pois não

demanda construção ou escavação, não resulta em resíduos para disposição,

não expõe trabalhadores aos contaminantes, não causa distúrbios na

vizinhança ou outros impactos no ambiente e atua no subsolo. É importante

salientar que nesse método é necessário rigoroso acompanhamento das

condições ao longo do tempo, para medição das substâncias presentes e das

condições ambientais, visando garantir que os contaminantes não se difundam

para outros locais (CETESB, 1999; VIANA, 2010; SENAI-RS, 2011).

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Existem quatro principais maneiras diferentes de limpeza ambiental

natural, dentre elas a biodigestão, em que bactérias ou protozoários, por

exemplo, se alimentam dos próprios contaminantes, resultando em água ou

gases inofensivos. No entanto, uma efetiva biodigestão dependerá de

condições do meio e da própria natureza das substâncias presentes. Outra

maneira funciona como um sequestro de substâncias perigosas; há na

natureza alguns tipos de solos que podem servir como agregadores de

contaminantes, adsorvendo ou confinando os mesmos e impedindo sua

dispersão. Há também a diluição de poluentes à medida que se misturam com

água limpa, havendo redução de sua concentração, sendo esse mais um

processo natural de depuração ambiental. Outro tipo de processo é quando

alguns contaminantes específicos, a base de óleos e solventes, por exemplo,

mudam para a fase gasosa e evaporam, sendo eliminados da área e

destruídos pelos raios solares (VIANA, 2010).

Outra metodologia pra recuperação de áreas contaminadas é o

encapsulamento, indicado para ações em que a retirada de contaminantes

possa ser altamente dispendiosa ou inviável. Trata da aplicação de uma

cobertura sobre a substância contaminante, que é capaz de evitar que a água

da chuva infiltre no solo e o carreie para outras áreas, como águas

subterrâneas, lagos e rios. Esse método também impede o contato físico de

receptores (ex: fauna e seres humanos) com a substância, além de seu

espalhamento pelo vento, por exemplo. Tal metodologia não é um meio de

eliminação da contaminação, mas sim de seu confinamento. Assim, é

importante que seja usada em conjunto com outras metodologias (VIANA,

2010).

O encapsulamento corresponde ao empilhamento de camadas, e pode

ser feito com brita e asfalto ou com uma rede de geomembranas, argila,

mantas plásticas e solo (Figura 2). Geralmente a camada superior é constituída

por solo fértil, o que possibilita o desenvolvimento de cobertura vegetal, o que

reduz o impacto das gotas de chuva e a erosão, além de suas raízes

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removerem acúmulos de água que poderiam infiltrar para níveis inferiores

(VIANA, 2010).

Figura 2 - Exemplo de encapsulamento

Fonte: Viana,

2010

A extração de vapor e injeção de ar atua de duas maneiras distintas.

Primeiramente, a extração de vapor retira os contaminantes na forma de vapor

que estão presos nas partículas do solo, acima da água subterrânea. Isso é

feito por meio vácuo, sugando o ar presente com os contaminantes via poços

de extração, que passam por filtros que separam o contaminante do ar limpo.

Posteriormente, são condensados em estado líquido ou adsorvidos por

materiais sólidos e dispostos adequadamente. Já a injeção de ar é feita abaixo

da linha da água subterrânea, propiciando uma volatilização mais rápida dos

poluentes. Esse ar serve também para a atenuação dos contaminantes por

microrganismos aeróbios, que se beneficiam da disponibilidade a mais de

oxigênio. A água subterrânea também acaba sendo agitada, facilitando a

passagem dos contaminantes para o estado gasoso (Figura 3) (CETESB,

1999; VIANA, 2010; SENAI-RS, 2011).

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Figura 3 - Esquema da metodologia de remediação de áreas contaminadas porExtração de Vapor e Injeção de Ar

Fonte: Viana, 2010

A outra técnica de remediação é a de tratamentos termais, cujo

principal objetivo é mobilizar o contaminante no solo ou água por meio do

aquecimento. Após o aquecimento, o contaminante é coletado por intermédio

de poços que direcionam o fluxo até a superfície, onde pode ser realizada a

disposição correta ou inertização. Tal método possui grande eficiência quando

os contaminantes são compostos por substâncias pouco solúveis em água

(VIANA, 2010; SENAI-RS, 2011).

Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, Canadá e países da

Europa, a técnica bioquímica de remediação, mais conhecida como

biorremediação, vem sendo bastante utilizada em trabalhos que se baseiam,

por exemplo, no tratamento de solos contaminados por hidrocarbonetos de

petróleo. De acordo com Andrade et al. (2010), no Brasil, os projetos de

biorremediação ainda são incipientes.

A biorremediação é uma técnica de importância mundial, já que o

aumento das atividades antrópicas está degradando, cada vez mais, os

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ecossistemas naturais. Os sistemas biológicos geralmente utilizados nessa

prática são microrganismos e plantas (fitorremediação). É importante observar

os fatores abióticos do ambiente, como tipo e textura do solo, teor de oxigênio,

umidade, temperatura, pH, dentre outros, para o sucesso do procedimento de

biorremediação (BERGER, 2005).

Dentre as categorias de biorremediação, a fitorremediação é um

tratamento que utiliza plantas como agentes remediadores, e que visa a reduzir

teores de contaminantes a níveis seguros para o ambiente e à saúde humana

(ANDRADE et al., 2007). Esse processo é dividido em várias técnicas, cada

uma especializada em um determinado tipo de contaminante ou na remediação

de meios específicos, dentre elas a fitoextração, fitodegradação,

fitovolatilização, rizofiltração, fitoestabilização e rizodegradação.

O Brasil possui algumas legislações que tratam direta ou indiretamente

da temática da contaminação ambiental, a começar pela Política Nacional de

Meio Ambiente - Lei 6.938/1981, e posteriormente a própria Constituição

Federal de 1988, que estabelece os princípios da política nacional do meio

ambiente e em seu Artigo 225 define o princípio de que toda sociedade tem

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do

povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações (BRASIL, 1988).

A Resolução Conama 02/1991 dispõe sobre adoção de ações corretivas,

de tratamento e de disposição final de cargas deterioradas, contaminadas ou

fora das especificações ou abandonadas. Há também a Lei 9605/1998,

conhecida como a Lei de Crimes Ambientais, dispõe sobre as sanções penais e

administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

Outra legislação muito importante e diretamente relacionada à

contaminação é a Resolução Conama 420/2009, que define critérios e valores

orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas

e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas

por essas substâncias em função de atividades antrópicas. Também disciplina

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que, caso sejam detectadas concentrações de substâncias químicas que

ofereçam risco à saúde humana, os órgãos competentes deverão desenvolver

ações específicas para a proteção da população e do meio ambiente. A lei

também define princípios básicos de gerenciamento de áreas contaminadas,

determinando que o órgão ambiental competente institua procedimentos e

ações de investigação e de gestão que contemplem as etapas de identificação,

diagnóstico e intervenção da área contaminada (BRASIL, 2009).

Já a Lei 12.305/2010 estabelece, em um de seus artigos que, sem

prejuízo de iniciativas de outras esferas governamentais, o Governo Federal

deverá estruturar e manter instrumentos e atividades voltados para a promoção

de descontaminação de áreas órfãs (áreas cujos responsáveis pela disposição

de resíduos e/ou rejeitos não sejam identificáveis ou individualizáveis) e, caso

forem identificados responsáveis pela contaminação posteriormente, estes

deverão ressarcir integralmente o valor empregado ao poder público.

O Brasil também dispõe das normas técnicas da ABNT, que visam

orientar o gerenciamento de áreas contaminadas e de amostragem de solo e

águas subterrâneas, além de normas técnicas preventivas, que definem

medidas para correto manuseio, armazenamento e transporte de produtos e

resíduos perigosos. Dentre as normas existentes, merece destaque a NBR

15515-1, referente ao passivo ambiental em solo e água subterrânea; a NBR

10004, que define critérios de classificação e os ensaios para a identificação

dos resíduos conforme suas características; a NBR 13221, sobre transporte

terrestre de resíduos, que visa evitar danos ao meio ambiente e proteger a

saúde pública (FIEMG, 2011).

Todas as leis e resoluções mencionadas, somadas àquelas do Conselho

Nacional de Meio Ambiente – Conama, além de manuais, normas e guias

técnicos, colaboram para a normatização da proteção ambiental e da saúde

humana, incluindo a regulamentação das áreas contaminadas.

5 NOÇÕES DE QUANTIFICAÇÃO E GERENCIAMENTO DE RISCOS

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Para a reutilização de água para fins agrícolas, alguns aspectos devem

ser considerados. Essa preocupação aumenta em relação aos cuidados que se

deve ter em relação às águas oriundas de fonte naturais, pois as águas de

reúso podem conter agentes infectantes e poluentes (HESPANHOL, 2002). A

maior limitação em relação ao reúso da água na agricultura encontra-se nos

riscos à saúde humana, como infecções parasitárias e acúmulo de metais

pesados que são transferidos aos organismos meio da cadeia alimentar

(SIEBE, 2006).

Esses riscos são, na maioria das vezes, decorrentes de tratamentos

ineficientes das águas residuárias, expondo a saúde das pessoas envolvidas

na irrigação, como os trabalhadores diretos ou os consumidores dos alimentos

(FAO, 2003).

A avaliação de riscos visa fornecer informações aos gestores do risco,

no caso os agentes governamentais, legisladores e reguladores. Basicamente,

a avaliação de riscos contempla a caracterização dos perigos à saúde; a

estimativa da probabilidade de ocorrência desses perigos, a qual está ligada ao

tipo e intensidade de exposição ao fator de risco e o número de casos afetados

por tais efeitos (MONTE; ALBUQUERQUE, 2010).

A avaliação de riscos é uma abordagem que visa à identificação e

estimação dos perigos de uma atividade, projeto ou área, sobre bens, pessoas

ou o meio ambiente. Nesse processo, devem ser propostas medidas de

gerenciamento, tanto preventivas quanto ações emergenciais em um eventual

acidente, visando à diminuição dos riscos e minimização das consequências

adversas. Ela é composta por diferentes etapas, dentre elas o gerenciamento

de riscos, que é uma ferramenta que utiliza os resultados provenientes da

avaliação de riscos visando à redução das frequências e consequências de

perigos e acidentes. Esse processo exige o conhecimento da legislação

vigente, além de considerar custos, disponibilidade de tecnologia e fatores

políticos (CARPENTER, 1995; VIANA, 2010).

Para que haja maior eficiência no gerenciamento de riscos, é importante

que seja implantado um Programa de Gerenciamento de Riscos (PRG); assim,

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há maior garantia de que um empreendimento que utilize substâncias ou

processos perigosos esteja funcionando de acordo com padrões adequados, e

passando por manutenções periódicas (VIANA, 2010).

A redução dos riscos está relacionada à elevação dos custos com

prevenção; dessa forma, é necessário definir a dimensão do risco, ou o risco

aceitável. Um risco é aceitável, por exemplo, quando está abaixo de um limite

definido arbitrariamente; quando está abaixo de um nível já tolerado; quando

está abaixo de uma fração do total da carga de doença na comunidade;

quando os profissionais de saúde dizem que é aceitável, dentre outros

(HUNTER; FEWTRELL, 2001). É importante ressaltar que há uma grande

quantidade de organismos nos alimentos consumidos diariamente e, desta

forma, mesmo com a adoção de tratamentos, o risco zero jamais será

alcançado.

A qualidade da água para irrigação pode ser estabelecida a partir de

modelos de Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico (AQRM), que

possibilitam a estimativa de riscos em base probabilística. A AQRM foi

empregada incialmente pela USEPA com o objetivo de estimar os riscos à

saúde humana relacionados ao consumo da água e propor formas de

tratamento para alcançar o risco tolerável de infecção por patógenos (HAAS et

al., 1999; PARKIN, 2007).

A AQRM possui três etapas fundamentais. A primeira delas é a

identificação e caracterização do perigo, que está relacionada a uma

caracterização inicial da exposição e dos efeitos adversos com a elaboração de

um modelo que descreva o agente patogênico ou o ambiente de interesse,

definindo população e cenários de exposição (WHO, 2006a).

A segunda etapa da AQRM é a de avaliação da exposição. Nessa etapa,

é estimada a quantidade de patógenos ingeridos por indivíduo ou população

para cada evento de exposição (PÁDUA, 2009), e emprega-se uma equação

que faz uso da concentração de microrganismos em águas de reúso, assim

como o volume ingerido de água cinza, considerando as rotas de exposição

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(COHIM e KIPERSTOK, 2007). O agente patogênico, neste exemplo, é a

Escherichia coli:

Dose = conc. de E. coli na água cinza (NMP/mL) x Volume ingerido (mL)

A outra etapa da AQRM é a análise dose-resposta, em que o risco de

infecção é dado a partir do modelo dose-resposta, que busca relacionar a Dose

de E. coli administrada ao usuário e a probabilidade de infecção em uma única

exposição.

Muitos estudos experimentais forneceram informações sobre

dose-resposta para vários microrganismos. Esses estudos permitiram o ajuste

de modelos matemáticos para expressar a probabilidade de infecção resultante

da ingestão de um número de organismos. Um deles é o modelo exponencial e

o outro é o modelo beta-Poisson. O modelo beta-Poisson expressa maior

heterogeneidade na interação microrganismo-hospedeiro do que o exponencial

(HAAS et al., 1999).

Modelo exponencial: Pi = 1 – exp (- d/k)

Modelo beta-Poisson:

PI = probabilidade de infecção para uma única exposição

d: número de organismos ingeridos por exposição (dose)

N50: dose infectante média

k: parâmetro característico da interação agente-hospedeiro

Após a aplicação do modelo dose-resposta e considerando o risco de

infecção em uma única exposição é possível determinar o risco para múltiplas

exposições durante o período de um ano (Pn), conforme equação a seguir:

Pn = 1 − (1 − Pi)n

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Pn: risco anual

Pi: probabilidade de infecção do usuário para uma única exposição

(equação do modelo exponencial ou modelo beta-Poisson) e n é o número ou

frequência de exposições no ano.

A AQRM fornece aos gestores de riscos informações sobre a

probabilidade de efeitos prejudiciais à saúde humana diante da exposição aos

microrganismos patogênicos presentes em águas menos nobres, além de

descrever valores máximos permitidos (VMP) e grau de tratamento requerido.

Assim, a AQRM pode oferecer tanto informações quantitativas quanto

qualitativas, o que dependerá do risco a ser enfrentado e das informações

disponíveis (SOLLER, 2006).

6 EXEMPLOS COMENTADOS

Um exemplo de reúso de águas residuárias para fins agrícolas é o Vale

do Mezquital, no México. Segundo Alvarez (1999), a região é um exemplo

único, devido à grande área cultivada (83.000 ha entre 1993 e 1994) e ao longo

tempo de experiência na utilização das águas residuárias para a irrigação -

registros apontam tal uso desde o final do século XIX.

Segundo GALAN (2006), depois da China, o México é o país que mais

utiliza águas residuárias na agricultura a nível mundial. No país, 83% do

efluente recuperado é utilizado na irrigação, 10% em atividades urbanas e 7%

no setor industrial.

A região metropolitana do vale do México, que possui população de 18

milhões de habitantes, produz 1.660 milhões de m3 de águas residuárias/ano,

equivalente a 53 m3/s. Segundo LÉON; Cavallini (1999), desse volume, o Vale

do Mezquital recebe anualmente cerca de 1.350 milhões de m3. O esgoto é

transportado por um complexo de canais e reservatórios ao longo de 60 km

(STRAUSS; BLUMENTHAL, 1989). Essas águas são um recurso valioso e são

destinadas às regiões áridas e semiáridas.

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No México, o reúso é uma prática aceita e promovida pelas instituições

responsáveis pela gestão de recursos hídricos. No entanto, o modelo de reúso

sem tratamento pode ocasionar problemas graves, como o risco à saúde

humana e do meio ambiente. A prática de irrigação com esgoto bruto apresenta

riscos à saúde de agricultores e consumidores em função dos contaminantes

químicos e biológicos presentes no esgoto. Porém, as tentativas de reversão

dessa situação têm encontrado fortes oposições dos agricultores no México,

uma vez que o esgoto bruto representa não apenas uma fonte de água, mas

também de nutrientes que fertilizam o solo (BLUMENTHAL et al., 2001).

Outro exemplo de reúso a nível internacional é o caso da cidade de

Brunsvique, na Alemanha. Na década de 1950 foi criada uma associação de

usuários para aproveitamento dos esgotos da cidade; o esgoto é coletado na

estação de tratamento e conduzido por gravidade por uma adutora até as

estações de bombeamento em áreas que são irrigadas por aspersão. Em

muitos anos de operação não foram constatados casos de infecção, o que

demonstra que as medidas de segurança adotadas são eficientes. O uso de

água reciclada para fins agrícolas próximas a áreas urbanas pode ser

vantajoso, uma vez que os irrigantes visam receber grandes quantidades de

água reciclada em vez de água pura de fontes convencionais (GUIDOLIN,

2000).

Nos Estados Unidos, mais especificamente no estado da Califórnia, em

Bakersfield, a irrigação com efluentes de esgoto tratado para cultivo de

algodão, cereais e pastagens permanentes tem sido feita ao longo de mais de

65 anos, durante todo o ano em decorrência da falta de chuva na região.

Também na Califórnia, em Tuolumme, mais de 500 hectares destinados à

produção de feno e pasto são irrigados com efluente de esgoto tratado

coletado em área urbana; em Santa Rosa, a distribuição de efluente de esgoto

tratado irriga cerca de 1600 hectares de terras cultivadas com aveia, capim e

culturas de inverno para alimentação de animais domésticos (AYERS;

WESTCOT, 1985).

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