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UNIDADE II – RECEITAS PÚBLICAS Atividade Financeira (arrecadação de receitas realização de despesas) - Na unidade II serão estudadas as questões relativas as receitas e na unidade seguinte as despesas públicas. Entre a previsão de arrecadação de receitas e a efetiva realização de despesas (gastos públicos), há uma série de etapas a serem perpassadas pelo ente público. - Assim, os tópicos receita e despesa serão estudados em sequência, porém com uma visão de conjunto, a fim de que seja evidenciado o caráter instrumental da atividade financeira mantida pelo Estado. - A arrecadação de receitas não constitui um fim em si mesma, constitui, ao contrário, um instrumento por meio do qual o Estado contempla as demandas da sociedade. - Aliomar Baleeiro já indicava que para que o Estado pudesse arrecadar dinheiro para fazer frente as suas despesas utilizava-se de poucos meios universais, tais como: Extorsões sobre outros povos ou recebimento de doações voluntárias; Renda produzida da exploração de bens e empresas estatais; Exigência coativa de tributos e penalidades Tomar ou forçar empréstimo 2.1. Entrada e Receita Aliomar Baleeiro, que se tornou um clássico em Direito Financeiro, formulou um conceito de receitas públicas de referência obrigatória. Segundo autor: “Receita pública é a entrada que, integrando-se ao patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondências no passivo , vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e positivo ”.

Unidade II - Receitas Públicas

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Receitas Públicas

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UNIDADE II RECEITAS PBLICAS

Atividade Financeira (arrecadao de receitas realizao de despesas)

- Na unidade II sero estudadas as questes relativas as receitas e na unidade seguinte as despesas pblicas. Entre a previso de arrecadao de receitas e a efetiva realizao de despesas (gastos pblicos), h uma srie de etapas a serem perpassadas pelo ente pblico.- Assim, os tpicos receita e despesa sero estudados em sequncia, porm com uma viso de conjunto, a fim de que seja evidenciado o carter instrumental da atividade financeira mantida pelo Estado. - A arrecadao de receitas no constitui um fim em si mesma, constitui, ao contrrio, um instrumento por meio do qual o Estado contempla as demandas da sociedade. - Aliomar Baleeiro j indicava que para que o Estado pudesse arrecadar dinheiro para fazer frente as suas despesas utilizava-se de poucos meios universais, tais como: Extorses sobre outros povos ou recebimento de doaes voluntrias; Renda produzida da explorao de bens e empresas estatais; Exigncia coativa de tributos e penalidades Tomar ou forar emprstimo

2.1. Entrada e Receita

Aliomar Baleeiro, que se tornou um clssico em Direito Financeiro, formulou um conceito de receitas pblicas de referncia obrigatria. Segundo autor:

Receita pblica a entrada que, integrando-se ao patrimnio pblico sem quaisquer reservas, condies ou correspondncias no passivo, vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e positivo.

Note que nem toda entrada ou ingresso constitui receita. O conceito traz duas caractersticas importantes para que uma simples entrada de dinheiro nos cofres pblicos possa ser considerada receita: 1) a definitividade da entrada, isto , ausncia de correspondncia no passivo; e 2) real incremento do patrimnio pblico.

Ex.: Se o ente pblico contrai um emprstimo para custear suas despesas, dever em algum momento restituir esse dinheiro. Assim, a entrada provisria, tem correspondncia no passivo (sada de dinheiro). Por outro lado, se o ente que est sendo restitudo de um emprstimo que concedeu, muito embora a entrada seja definitiva, no causa real incremento do patrimnio, mas mera recomposio. Assim, a receita pblica ocorre atravs de entradas definitivas de dinheiro e bens. Plcido e Silva define receita como "o complexo de valores recebidos pelo errio pblico, sejam provenientes de rendas patrimoniais, sejam resultantes de rendas tributrias, destinados a fazer frente despesa pblica". Pode-se destacar como exemplo: receitas tributrias; receitas de explorao do patrimnio; doaes;

* Ressalva: H quem defenda que tal conceito restritivo no foi incorporado pelo ordenamento brasileiro, j que o art. 11 da Lei 4320/64, ao falar de receitas pblicas, fala em operaes de crdito, responsveis pelo endividamento pblico, portanto, com contrapartida no passivo. Por outro lado, o conceito de Aliomar aproxima-se da idia de receita pblica trabalhada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000).

2.2. Movimentos de Caixa

So entradas que ingressam provisoriamente nos cofres pblicos, podendo neles permanecer ou no. Destinam-se a ser devolvidas. Sempre que faltar um dos pressupostos (definitividade ou no incremento do patrimnio) estaremos diante de uma hiptese de movimento de caixa, tambm denominada por alguns autores de movimentos de fundos ou entradas de caixa. Como Exemplos podemos destacar: depsito ou fiana realizado como garantir para participar da licitao ou para contratar com a administrao; Emprstimos pblicos, inclusive a espcie tributria emprstimo compulsrio (art. 148 da Constituio Federal), pois necessita de ressarcimento; Depsitos judiciais; Valor pago ao Estado pela venda de patrimnio; Indenizaes em geral recebidas pelo Estado;

2.3. Classificao das Receitas

H diversos critrios para a classificao das receitas, dentre as listadas por Oliveira (diviso dos servios; da vantagem auferida pelo poder pblico; quanto a periodicidade; quanto a origem). Trabalharemos com apenas duas classificaes que nos sero teis na aplicao do Direito Financeiro.

Quanto regularidade/periodicidade, as receitas pblicas classificam-se em:

- Ordinrias: arrecadas regularmente no exerccio financeiro. Ex.: impostos.

- Extraordinrias: decorrentes de situaes excepcionais, ou de carter transitrio, como guerra. Ex.: emprstimos compulsrios (art.148, I, CR/88), Imposto extraordinrio de guerra (art.154,II, CR/88).

Quanto origem

- Originrias: oriundas da explorao do prprio patrimnio do Estado ou atividades exercidas sob o que se denomina de direito pblico disponvel. So receitas voluntrias e contratuais. Ex.: tarifas ou preos pblicos.

- Derivadas: obtidas pelo Estado atravs de seu poder de imprio. So coercitivas. Ex.: tributos, multas, etc.

- Receitas transferidas: Embora provenientes do patrimnio particular (a ttulo de tributo), no so arrecadadas pela entidade pblica que vai utiliz-las. Sero abordadas de maneira mais detalhada quando do estudo da repartio de receitas, item 2.5.

2.3.1. Receitas Originrias

Em oposio s receitas derivadas, cuja marca a compulsoriedade, as receitas originrias so caracterizadas, sobretudo, pela voluntariedade presente nas relaes de que surgem. Isto significa que tais receitas so arrecadas a partir de relaes horizontais, equilibradas, entre Estado e particular. A voluntariedade deve ser bem compreendida, sob pena de ser confundida com voluntarismo. Cuida-se de noo fundada em relaes que se formam por meio da vontade dos que afluem para a formao de um determinado vnculo (Regis Fernandes de Oliveira). Trata-se da autonomia para formao de vnculos, uma lgica bem privatista. So, portanto, receitas oriundas da explorao do prprio patrimnio do Estado ou atividades exercidas sob o que se denomina de direito pblico disponvel. Caracterizam-se como receitas contratuais. So exemplos de receitas originrias: Doaes; Legados; Bens vacantes; Uso de bens pblicos de forma onerosa; Outorga pela explorao de servio pblico; Preo pblico; Prescrio aquisitiva; Receitas advindas de empresas estatais; Distribuio de royalties

Discusses sobre Taxa, Preos, tarifas

Trata-se da entrada nos cofres pblicos oriunda de uma relao em que o Estado se comporta como um particular, isto , explora economicamente a utilizao de seu prprio patrimnio ou da situao em que o servio pblico alvo de permisso ou concesso. O preo uma receita contratada, que tem seus limites estabelecidos no interior do mercado, muito diferente dos tributos, que tm seus limites estabelecidos pela Constituio e na lei.

Apesar disso, existe uma zona cinzenta entre tarifa e taxa. Sob a perspectiva das cincias das finanas isto , no plano pr-jurdico as taxas podem se confundir com as tarifas (preos). O princpio financeiro que as informa o mesmo: remunerao de despesa estatal, ressarcimento ao Estado, etc. (Geraldo Ataliba). Apenas a taxa pode fazer frente ao exerccio de poder de polcia. Apenas preo pode fazer frente utilizao de bem pblico. A zona de confuso entre taxa e tarifa recai, portanto, sobre a remunerao de servio.

Como evidenciado pela figura acima, existe uma rea de incidncia exclusiva da taxa (poder de polcia) e uma rea de incidncia exclusiva do preo ou tarifa (explorao do patrimnio pblico). Veja como o STF j se pronunciou sobre ambas:"Dispositivo por meio do qual o Ministrio do Meio Ambiente, sem lei que o autorizasse, instituiu taxa para inspeo de importaes e exportaes de produtos da indstria pesqueira, a ser cobrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBAMA, com ofensa ao princpio da legalidade estrita, que disciplina o Direito Tributrio." (ADI 2.247-MC, Rel. Min. Ilmar Galvo, julgamento em 13-9-00, DJ de10-11-00). No mesmo sentido: ADI 1.982-MC,Rel. Min. Maurcio Corra, julgamento em 15-4-99, DJ de11-6-99.>> linha de raciocnio: inspeo > manifestao do poder de polcia -> taxa > tributo -> legalidade. Remunerao pela explorao de recursos minerais () no se tem, no caso, taxa, no seu exato sentido jurdico, mas preo pblico decorrente da explorao, pelo particular, de um bem da Unio (CF, art. 20, IX, art. 175 e ). (ADI 2.586, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 16-5-02, DJ de1-8-03).>> linha de raciocnio: explorao do patrimnio pblico -> preo -> fonte contratual.A zona cinzenta, como indicado pela figura, corresponde remunerao de servios. Na tentativa de desfaz-la, grande parte da doutrina do Direito Tributrio prope algumas distines precisas entre a cobrana por taxa e por tarifa.

TAXATARIFA OU PREO

- compulsoriedade- fonte legal- regime jurdico de direito tributrio- remunera servios estatais prprios, indelegveis.- cobrana da efetiva ou potencial utilizao doservio.- facultatividade- fonte contratual- regime jurdico de direito privado- remunera servios estatais imprprios, delegveis.- cobrana da efetiva utilizao do servio.

O esforo vlido, no sentido de enfatizar as conseqncias de uma cobrana ser do tipo taxa ou tarifa, mas remanesce a dvida principal...

>> Quais servios devem ser remunerados por taxa e quais por tarifas?

No RE 89876, o ex-Ministro Moreira Alves tentou enfrentar o problema, propondo uma classificao dos prprios servios pblicos, a partir da qual fossem identificados os servios remunerados por taxas e remunerados por tarifas. O Ministro aponta trs tipos de servios pblicos:

I) SERVIOS PBLICOS PROPRIAMENTE ESTATAIS

envolvem a soberania do Estado; indelegveis; s remunerveis por taxas; ex.: servio judicirio custas judiciais

A jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal firmou orientao no sentido de que as custas judiciais e os emolumentos concernentes aos servios notariais e registrais possuem natureza tributria, qualificando-se como taxas remuneratrias de servios pblicos, sujeitando-se, em conseqncia, quer no que concerne sua instituio e majorao, quer no que se refere sua exigibilidade, ao regime jurdico-constitucional pertinente a essa especial modalidade de tributo vinculado, notadamente aos princpios fundamentais que proclamam, dentre outras, as garantias essenciais (a) da reserva de competncia impositiva, (b) da legalidade, (c) da isonomia e (d) da anterioridade. (ADI 1.378-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-11-95, DJ de30-5-97). No mesmo sentido: ADI 3.260, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 29-3-07, DJ de 29-6-07.

II) SERVIOS ESSENCIAIS AO INTERESSE PBLICO

envolvem interesse da comunidade (a sua no utilizao ou prestao afeta a coletividade); so remunerados por taxa, exceto se forem objeto de permisso ou concesso, caso em que passam a ser remunerados por preos; ex.: coleta de lixo.

III) SERVIOS NO ESSENCIAIS

envolvem um interesse individual de cada usurio ( a sua no utilizao ou prestao afeta apenas cada possvel usurio); em regra, delegveis; podem ser remunerados por preo; ex.: servio telefnico.

A classificao do Ministro toma por base a essencialidade do servio. Mas ser que este um critrio rigoroso?

A noo de essencialidade cambiante, construda politicamente em cada poca, da constituir-se em uma noo muito subjetiva para embasar a classificao dos servios. Na esteira de Regis Fernandes de Oliveira, proponho que consideremos todos os servios pblicos como essenciais, at porque foram assim considerados pelo Constituinte quando inseridos entre as competncias dos entes federativos. Sabemos, portanto, se um determinado servio pblico, e, assim, essencial, identificando-o na CR/88 entre as competncias executivas ou materiais dos entes federativos. Sendo assim, todo servio pblico, divisvel e especfico, deve ser remunerado por taxa, exceto no caso de concesso ou permisso, quando se cobra preo ou tarifa. Isso porque a natureza privada do prestador direto do servio (a concessionria) incompatvel com o regime tributrio, que pressupe poder de imprio.

Em sntese: servio pblico aquele previsto constitucionalmente como de responsabilidade estatal. Em sendo divisvel e especfico e prestado por entidade pblica, tem que ser cobrado por taxa. Em sendo divisvel e especfico e prestado por meio de concesso ou permisso, ser cobrado por preo ou tarifa.

2.3.2. Receitas Derivadas

Como foi visto, a marca das receitas derivadas a compulsoriedade. Isto significa que tais receitas so arrecadas a partir do exerccio do poder de imprio do Estado, que trava relaes verticais com os indivduos, relaes desequilibradas, que dispensam a vontade do particular para que ocorram. Entre as receitas derivadas, encontram-se os tributos, multas, penalidade, confisco, etc.

2.3.2.1. Receitas Tributrias

Estudamos na Unidade I as normas fundamentais de Direito Financeiro, entre elas, as normas oramentrias e as que formam o que chamado de Regime Jurdico de Direito Tributrio. Para compreenso desse conjunto de normas (Capacidade Contributiva, Legalidade, Anterioridade, etc.) foi necessria uma rpida introduo relao tributria, oportunidade em que estudamos os elementos subjetivos (sujeito ativo e passivo) e objetivos (base de clculo, alquota, fato gerador, etc.) que compem os tributos. Mas afinal...

>> O que um tributo?

O art. 3, do CTN (Cdigo Tributrio Nacional Lei 5172/66) traz uma definio da qual partiremos:Tributo toda prestao pecuniria compulsria*, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que no constitua sano de ato ilcito**, instituda em lei *** e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada *****.

* Compulsria cobrada independentemente da vontade do particular.** Que no constitua sano de ato ilcito tributo no tem carter sancionatrio, no pago porque o particular cometeu alguma infrao, no que se difere das demais receitas derivadas (multas, penalidades, etc.)*** instituda em lei regra da legalidade tributria (art. 150, I, CR/88) tributao atividade restritiva do direito de propriedade, e toda restrio a direitos fundamentais tem que ser veiculada por lei (art.5 , II, CR/88).**** cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada se, de um lado, a tributao independe da vontade do contribuinte, de outro, no pode depender da escolha do agente fiscal. Em decorrncia da necessidade de segurana jurdica, da proteo da confiana do contribuinte, o Direito Tributrio trabalha com a tipicidade cerrada, que impe a descrio minuciosa da relao tributria na lei, de tal forma que a cobrana do tributo se d amplamente vinculada pela lei.

>> Quais so os tributos?

O art. 5, do CTN, diz, de modo taxativo, que tributos so impostos, taxas e contribuies de melhoria. O art. 4, do CTN, diz que a natureza jurdica de um tributo deve ser identificada a partir de seu fato gerador, sendo irrelevante para tal identificao a denominao e a destinao dadas ao tributo. De fato, para distinguir imposto (1), taxa (2) e contribuio de melhoria (3), basta olhar para o fato gerador de cada uma dessas espcies.

(1) Se uma determinada cobrana realizada pelo Estado em funo de um fato relativo ao contribuinte e no a uma atividade especfica mantida pelo Estado, temos que tal cobrana tem a natureza de imposto (art. 16, CTN). Ex.: Se um particular proprietrio de um carro, incidir sobre ele a obrigao de pagar o IPVA (imposto sobre a propriedade de veculo automotor).

(2) Se uma determinada cobrana realizada pelo Estado em funo de um fato por ele produzido, qual seja, a prestao de um servio pblico especfico e divisvel, prestado ao contribuinte ou posto sua disposio (a); ou o exerccio regular de poder de polcia (b), temos que tal cobrana tem a natureza de taxa (art. 77, CTN). Ex. (a): Se um municpio presta o servio de coleta domiciliar de lixo, um servio suja utilizao pode se dar separadamente por cada um dos seus usurios, incidir sobre os potenciais ou efetivos usurios a obrigao de pagar a taxa de servio de coleta de lixo. Ex. (b): Se um municpio realiza a atividade de fiscalizao de bares e restaurantes (exerccio regular de poder de polcia*), pode em funo dela cobrar taxa de polcia. Nos termos do art. 78, do CTN:

Considera-se poder de polcia atividade da administrao pblica que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prtica de ato ou absteno de fato, em razo de interesse pblico concernente segurana, higiene, ordem, aos costumes disciplina da produo e do mercado, ao exerccio de atividades econmicas dependentes de concesso ou autorizao do Poder Pblico, tranqilidade pblica ou ao respeito propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

* No exemplo da fiscalizao de bares e restaurantes, temos uma atividade da administrao pblica municipal que limita o direito de propriedade (j que o proprietrio obrigado a franquear a entrada dos agentes fiscalizadores) para proteger o interesse pblico relativo higiene atividade que se amolda com perfeio noo de poder de polcia, da a sua cobrana ter natureza de taxa A taxa de polcia , portanto, a cobrana que a Administrao Pblica faz pelo seu sim ou no, isto , quando cabe a ela autorizar (em sentido amplo) algum ato ou absteno do particular.

(3) Se uma determinada cobrana realizada pelo Estado em face de um outro fato por ele produzido, qual seja, a construo de uma obra pblica, de que decorra valorizao imobiliria, temos que tal cobrana tem a natureza de contribuio de melhoria (art. 81, CTN). Ex.: Se um municpio constri uma praa de recreao que repercute na valorizao dos imveis adjacentes, poder cobrar contribuio de melhoria.

Distinguir imposto, taxa e contribuio de melhoria apenas pelo contedo material do fato gerador (fato produzido pelo contribuinte, fato produzido pelo Estado servio, poder de polcia, construo de obra pblica) possvel porque utilizamos a idia de tributos vinculados e no vinculados, isto , tributos que dependem ou no de contraprestao estatal especfica. Taxa e contribuio de melhoria so tributos vinculados e impostos so tributos no vinculados. Veja como o STF compreende a idia de vinculao de um tributo:

(...) A materialidade do fato gerador da taxa sempre e necessariamente um fato produzido pelo Estado, na esfera jurdica do prprio Estado, em referibilidade ao administrado ou uma atuao estatal diretamente referida ao contribuinte, que pode consistir ou num servio pblico ou num ato de polcia. (ADI 447, voto do Min. Carlos Velloso, julgamento em 5-6-91, DJ de 5-3-93).Entretanto, com a CR/88, passou-se a reconhecer, quase que consensualmente, no ordenamento jurdico brasileiro 5 modalidades de tributo: (1) imposto, (2) taxa, (3) contribuio de melhoria, (4) outros tipos de contribuies e (5) emprstimos compulsrios todas previstas no texto constitucional e compatveis com o conceito de tributo do art. 3 do CTN, acima citado. Veja, a respeito das diferentes espcies tributrias, o entendimento consolidado do STF: Os tributos, nas suas diversas espcies, compem o Sistema Constitucional Tributrio brasileiro, que a Constituio inscreve nos seus artigos 145 a 162. Tributo, sabemos todos, encontra definio no artigo 3 do CTN, definio que se resume, em termos jurdicos, no constituir ele uma obrigao que a lei impe s pessoas,de entrega de uma certa importncia em dinheiro ao Estado. As obrigaes so voluntrias ou legais. As primeiras decorrem da vontade das partes, assim, do contrato; as legais resultam da lei, por isso so denominadas obrigaes ex lege e podem ser encontradas tanto no direito pblico quanto no direito privado. A obrigao tributria, obrigao ex lege, a mais importante do direito pblico, nasce de um fato qualquer da vida concreta, que antes havia sido qualificado pela lei como apto a determinar o seu nascimento. (Geraldo Ataliba, Hermenutica e Sistema Constitucional Tributrio, in Diritto e pratica tributaria, volume L, Padova, Cedam, 1979). As diversas espcies tributrias, determinadas pela hiptese de incidncia ou pelo fato gerador da respectiva obrigao (CTN, art. 4), so a) os impostos (CF, art. 145, I, arts. 153, 154, 155 e 156), b) as taxas (CF, art. 145, II), c) as contribuies, que so c.l) de melhoria (CF, art. 145, III), c.2) sociais (CF, art. 194), que, por sua vez, podem ser c.2.1) de seguridade social (CF, art. 195, CF, 195, 4) e c.2.2) salrio educao (CF, art. 212, 5) e c.3) especiais: c.3.1.) de interveno no domnio econmico (CF, art. 149) e c.3.2) de interesse de categorias profissionais ou econmicas (CF, art. 149). Constituem, ainda, espcie tributria, d) os emprstimos compulsrios (CF, art. 148). (ADI 447, Rel. Min. Octvio Gallotti, voto do Min. Carlos Velloso, julgamento em 5-6-91, DJ de 5-3-93)

(4) As contribuies diversas (que no as de melhoria) so colocadas como um tipo autnomo de tributo em razo de no serem vinculadas a uma contraprestao estatal especfica e por terem a marca da destinao constitucionalmente determinada, em outras palavras, a CR/88 diz de antemo o destino a ser dado s receitas provenientes dessas contribuies. Ex.: A contribuio sobre iluminao pblica (art. 149-A) um tributo cujo destino da receita arrecadada j vem dado pela prpria Constituio, isto , o recurso obtido com essa tributao necessariamente ser utilizado para custear o servio de iluminao pblica prestado pelo ente estatal.

(5) Os emprstimos compulsrios so tidos pela jurisprudncia majoritria como uma espcie autnoma de tributo por terem destinao constitucionalmente determinada (tm que ser empregados em despesas extraordinrias, decorrentes de calamidade pblica, guerra externa ou sua iminncia art. 148, I, CR/88) e principalmente por terem correspondncia no passivo do Estado, isto , entram nos cofres pblicos sob a condio de sua restituio aos particulares. Tal caracterstica, exclusiva, entre os tributos, dos emprstimos compulsrios, torna a sua natureza jurdica discutvel. Por serem emprstimos (portanto, restituveis), no se encaixam no conceito predominante de receita pblica; mas por serem compulsrios justificam-se como tributos. Isso possvel, j que o conceito de tributo do art.3, do CTN, no condicionado ao enquadramento da cobrana como receita pblica.

Embora o art. 5, do CTN, enumere apenas 3 modalidades de tributos, possvel reconhecer outras a partir do texto constitucional; isso porque o CTN uma lei anterior Constituio, considerada recepcionada nos limites de sua compatibilidade com a norma maior.

>> Como identificar a natureza jurdica de um tributo?

Ainda na esteira da recepo do CTN pela CR/88, imperiosa se faz a releitura o art. 4, do CTN, j citado; porquanto diz serem irrelevantes para a determinao da natureza jurdica do tributo fatores (denominao e destinao) que passam a ser essenciais diante do reconhecimento das 5 possibilidades tributrias.

J vimos que para distinguir imposto, taxa e contribuio de melhoria basta analisar o contedo material do fato gerador (detectando se o fato produzido pelo contribuinte ou pelo Estado). Porm, uma contribuio diversa pode ter fato gerador semelhante ao de um imposto, a exemplo da CIDE e das contribuies sociais, que podem incidir sobre a importao de produtos estrangeiros ou servios (art. 149, 2, II, CR/88), fatos produzidos pelo contribuinte, tambm geradores de imposto (art. 153, I, CR/88). Em casos tais, passa a ser necessrio analisar a destinao e a denominao dadas cobrana.2.4. Tratamento das receitas na Lei 4320/64 Receitas correntes e de capital

Este diploma legal estatui normas gerais de direito financeiro e, em seu art.11, classifica as receitas pblicas a partir de categorias econmicas. Com esse critrio focado o comportamento econmico desempenhado pelo ente pblico para obter as receitas. A classificao legal de receitas tem o objetivo de padronizar a projeo oramentria, o que propicia uma maior possibilidade de acompanhamento e controle da atividade financeira do Estado.

Assim, quanto categoria econmica as receitas se dividem em:- Art. 11, 1 - RECEITAS CORRENTES - compreendem as receitas de natureza contnua.

tributrias (j vimos) de contribuies (tambm tributrias) patrimoniais (resultado financeiro da fruio do patrimnio pblico, seja decorrente de bens imobilirios ou mobilirios, seja advindo de participao societria). agropecurias (decorrentes de atividades ou exploraes agropecurias, compreendendo a agricultura, pecuria, extrao de produtos vegetais, etc.) industriais (provenientes das atividades industriais assim consideradas pelo IBGE. Ex.: indstria de extrao mineral). de servios (oriundas de atividades caractersticas da prestao de servios, tais como servio de transporte, servio hospitalar, etc.) transferncias correntes (recursos obtidos de outras entidades, pblicas ou privadas, a serem empregados em despesas correntes).

- Art. 11, 2 - RECEITAS DE CAPITAL compreendem as receitas de natureza eventual. operaes de crdito (recursos decorrentes de emprstimos obtidos pelo ente pblico) amortizao de emprstimos (recursos decorrentes do retorno de valores emprestados pelo ente pblico) alienao de bens (recursos resultantes da converso em espcie pela venda de bens e direitos pertencentes entidade pblica ex.: venda de um prdio pblico, de aes) transferncias de capital (recursos obtidos de outras entidades, pblicas ou privadas, a serem empregados em despesas de capital). supervit do oramento corrente (resultante do balanceamento dos totais das receitas correntes e despesas correntes no constitui item de receita oramentria, j que formado por valores j computados no oramento).

Simulao de supervit do oramento corrente:

RECEITAS CORRENTESR$ 100.000,00DESPESAS CORRENTESR$ 50.000,00

RECEITAS DE CAPITALR$ 100.000,00DESPESAS DE CAPITALR$ 150.000,00

TOTAL DE RECEITASR$ 200.000,00TOTAL DE DESPESASR$ 200.000,00

H SUPERVIT DO ORAMENTO CORRENTERC DC = R$ 50.000,00

NO H SUPERVIT ORAMENTRIOTOTAL R TOTAL D = 0

Importante:

- supervit do oramento corrente a diferena entre as receitas correntes e as despesas correntes, serve para medir se o ente est conseguindo custear seus gastos fixos com as receitas que arrecada continuamente, ou seja, para medir uma administrao equilibrada. No deve ser confundido com o supervit oramentrio, que a diferena entre todas as receitas estimadas (correntes e de capital) e todas as despesas esperadas (correntes e de capital, incluindo as despesas com pagamento de dvida). Nem deve ser confundido com o supervit primrio, que a diferena entre todas as receitas estimadas e as despesas esperadas, excetuando-se os gastos com pagamento de juros da dvida. Esse ltimo instituto utilizado para saber quanto o ente pblico economizou exatamente para poder pagar juros da dvida do governo.

- no confunda receita patrimonial com alienao de bem a primeira proveniente da mera explorao dos bens pblicos (ex.: aluguel, arrendamento, etc.) por isso, de natureza contnua (corrente); j a segunda proveniente da alienao dos bens pblicos (transferncia da prpria propriedade do bem), por isso, de natureza eventual (de capital).

Importante, ainda:

- o que determina a categoria econmica de uma receita do tipo transferncia a categoria econmica da despesa que ser custeada com o repasse. Adiante-se que despesa corrente aquela destinada manuteno de servios anteriormente criados, ou construo de obras de mera conservao ou adaptao de bens imveis; e despesa de capital aquela voltada ao incremento das aes estatais, como so os investimentos. Assim, se um ente federativo recebe um repasse a ser aplicado em gasto corrente (como pagamento de pessoal), essa entrada ser computada como transferncia corrente. E se recebe um repasse a ser aplicado em gasto de capital (como a construo de um novo hospital), essa entrada ser computada como transferncia de capital.

2.5. Repartio das Receitas Pblicas: O papel dos Fundos de Repartio

- A temtica de repartio das receitas tributrias s se coloca com propriedade em realidades federativas.

- A escolha federativa passa pela opo de um modelo de poder poltico descentralizado, composto por mltiplos centros de tomada de deciso distinto, portanto, do modelo unitrio, em que as decises polticas recaem sobre um nico centro de tomada de deciso.

O federalismo traz algumas conseqncias importantes para o Direito Financeiro: repartio constitucional das competncias, autonomia dos entes, discriminao constitucional das rendas tributrias (repartio da competncia e receitas tributrias).

- Nos termos do art. 18, CF/88, a organizao poltico-administrativa da Repblica Federativa do Brasil compreende a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, todos autnomos, nos termos desta Constituio.Percebe-se, assim, que a autonomia dos entes federativos deve ser compreendida nos limites contornados pela Constituio. Juridicamente, no se pode afirmar qualquer hierarquia entre Unio, estados, Distrito Federal e municpios, pois se colocam em uma mesma categoria: entes federativos autnomos, todos submetidos aos ditames constitucionais.

- Para que haja efetiva autonomia, os entes federativos precisam exercer suas competncias em diversos aspectos, quais sejam: administrativo, normativo, e financeiro. autonomia administrativa, instrumentalizada por competncias materiais, de execuo; autonomia normativa (poder/dever de inovar no ordenamento jurdico), instrumentalizada por competncias legislativas; autonomia financeira - pedra de toque do federalismo: trata-se de possuir meios fticos, recursos financeiros para exercitar todas as demais competncias. instrumentalizada por competncias tributrias.

- Ressalta-se que s ocorrer efetiva autonomia administrativa se existir autonomia financeira. Sem a autonomia financeira no h que se falar em qualquer autonomia federativa, pois sem recursos os entes encontram-se de mo atadas para exercer suas competncias ou acabam tendo uma diminuio de sua autonomia frente a poltica de busca de recursos como favores polticos dos entes federados.

Sistema de Partilha

- O sistema de partilha de receitas no Brasil se d conforme quadro esquemtico

Unio Arts. 153, 154, 148 e 149 caput e 195 -CF/88

Na fonte: Competncia Tributria

Estados arts. 155 e 149, 1 -CF/88

Sistema de PartilhaDF art. 147- CF/88

Municpios arts. 156, art. 149, 1 e 149-A CF/88

Entes Federados Individualmente De forma DiretaObrigatrias Tributrias

No Produto: Transferncias Intergovernamentais

Via Fundos p/ partilha FPM e FPEDFEntes FederadosDe forma IndiretaVoluntrias

- Partilha na fonte:

A partilha das receitas tributrias na fonte ocorre com a distribuio das competncias tributrias, momento em que o texto constitucional indica expressamente qual ente vai instituir, prev e arrecadar o tributo. As competncias tributrias relativas a impostos e contribuies encontram-se taxativamente previstas na Constituio por tratarem-se de competncias exclusivas/privativas, contudo para as demais espcies tributrias: taxas, contribuies de melhoria, a competncia comum devendo ser observados alguns requisitos para a sua cobrana.

- As competncias tributrias encontram-se previstas e repartidas na Constituio Federal. A Constituio apenas prev a possibilidade de criao dos tributos e a reparte entre Unio, estados, DF e municpios, cabendo aos entes a efetiva criao dos tributos, em observncia s normas tributrias.

A constituio faz uma distribuio detalhada no que se refere aos impostos, mas o mesmo no ocorre com taxas e contribuies de melhoria. Isso se deve ao carter no-vinculado do tributo do tipo imposto, em contraposio ao carter vinculado de taxas e contribuies de melhoria.

As taxas e contribuies de melhoria tm como fato gerador um fato relacionado a alguma ao especfica do Estado (prestao de servio pblico divisvel e especfico ou regular exerccio de poder de polcia taxa; construo de uma obra pblica que valorize imveis adjacentes contribuio de melhoria). Assim, a competncia para instituir taxas e contribuies de melhoria aferida pela competncia de realizar essas aes estatais.

Taxas competncia tributria comum o que determina a competncia para instituir uma taxa a competncia administrativa referente ao servio pblico especfico ou ao exerccio do poder de polcia em questo (art. 77 e seguintes do CTN)

Ex.: concesso de passaporte ato administrativo de competncia federal taxa a ser cobrada pela Unio; licena para construo competncia material do municpio, que, portanto, ter a competncia para instituir a respectiva taxa.

Contribuio de melhoria competncia comum ser do ente que realizar a obra pblica. (art. 81 e 82 do CTN)

J no que se refere aos impostos, a mesma lgica no pode ser utilizada, uma vez que o fato gerador do imposto um fato relacionado a uma ao do contribuinte (ser proprietrio de um veculo automotor IPVA) e no a uma ao estatal especfica. Por isso, a Constituio detalhou a repartio da competncia para instituir impostos.

Art. 153 CF/88 impostos federais (II, IE, IR, IPI, IOF, ITR e IGF)Art. 154 CF/88 Impostos residuais competncia da Unio Imposto extraordinrio de guerra competncia da Unio Art. 148 CF/88 Emprstimos Compulsrios competncia da UnioArt. 195 Contribuies sociais competncia da UnioArt. 149, caput Contribuies em geral.

Art. 155, CF/88 impostos estaduais (IPVA, ICMS, ITCD)Art. 149, 1 - Regime prprio de Previdncia dos Servidores Estaduais

Art. 156, CF/88 impostos municipais (ex.: IPTU, ISSQN, ITBI)Art. 149, 1 - Regime prprio de Previdncia dos Servidores MunicipaisArt. 149-A Contribuio para o custeio de Iluminao Pblica

Obs.: as competncias tributrias estaduais, municipais e do DF foram previstas de modo exaustivo pelo Constituinte; j a Unio possui, alm da competncia tributria discriminada no art. 153, CF/88, uma FAIXA RESIDUAL DE COMPETNCIA TRIBUTRIA.

Art. 154, I, CF/88 - A Unio poder instituir:I - mediante lei complementar, impostos no previstos no artigo anterior, desde que sejam no-cumulativos e no tenham fato gerador ou base de clculo prprios dos discriminados nesta Constituio;

** S a Unio tem faixa residual e quase no a utiliza (pois a arrecadao partilhada com outros entes federativos). Observe a exigncia de lei complementar para instituio de impostos residuais. Lembre-se de que medida provisria no pode ser utilizada para tratar de matria reservada lei complementar.

- Partilha no produto:

- Embora todos os entes federativos sejam dotados de competncia tributria prpria, essencial sua autonomia financeira, isso no o bastante para fazer frente as necessidades pblicas com base na partilha de competncias administrativas de cada ente, alm de que boa parte dos tributos fica concentrada nos poderes da Unio. O produto da arrecadao de entes maiores (Unio e Estados), portanto, precisa ser partilhado com entes menores (Estados e Municpios).- H, ainda, o objetivo no sistema de partilha de receitas de diminuir as desigualdades entre as diversas regies brasileiras, uma vez que trat-las de modo padronizado no contribui para que as desigualdades sejam atenuadas. Da a necessidade da forma de partilha no produto.

A partilha no produto a distribuio dos recursos arrecadados com a tributao: o ente maior repassa ao ente menor parcela do que arrecadou ao exercer a sua competncia tributria, a partir de critrios que tentam beneficiar com um repasse maior os entes economicamente menos favorecidos. - Seu fundamento concretizar um dos objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: art. 3, III, CF/88 erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

-Transferncias Intergovernamentais

As transferncias intergovernamentais correspondem ao mecanismo de repasse financeiro entre entes federativos, os quais colocam em prtica a partilha no produto, e podem ser caracterizadas segundo os critrios explicitados a seguir:

quanto natureza

obrigatrias determinadas em lei ou pela Constituio (para distribuir riquezas, atenuar desigualdades).voluntrias repassadas a partir de uma liberalidade do ente federativo, a ttulo de cooperao, troca de favores, etc. (so conceituadas pelo art. 25, LRF).

quanto forma

diretas - sem intermediao de fundos especiais (repasse sai direto da conta de um ente federativo e vai para a conta do ente beneficiado).indiretas - com intermediao de fundos especiais (passa por uma reserva especial fundo).

quanto ao destino

vinculadas - ente beneficiado obrigado a aplicar o repasse recebido em fim especfico.no-vinculadas - ente beneficiado tem discricionariedade na aplicao dos recursos recebidos.Passemos anlise das transferncias previstas na Constituio.Art. 157. Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal:I - o produto da arrecadao do imposto da Unio sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer ttulo, por eles, suas autarquias e pelas fundaes que institurem e mantiverem;II - vinte por cento do produto da arrecadao do imposto que a Unio instituir no exerccio da competncia que lhe atribuda pelo art. 154, I.O art. 157 prev transferncias obrigatrias (j que determinadas na CF/88), diretas (porque no mencionam fundos) e no-vinculadas, porque no especificam um fim a ser observado na aplicao dos recursos recebidos.

Art. 158. Pertencem aos Municpios:I - o produto da arrecadao do imposto da Unio sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer ttulo, por eles, suas autarquias e pelas fundaes que institurem e mantiverem;II - cinqenta por cento do produto da arrecadao do imposto da Unio sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imveis neles situados, cabendo a totalidade na hiptese da opo a que se refere o art. 153, 4, III; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 42, de 19.12.2003)III - cinqenta por cento do produto da arrecadao do imposto do Estado sobre a propriedade de veculos automotores licenciados em seus territrios;IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadao do imposto do Estado sobre operaes relativas circulao de mercadorias e sobre prestaes de servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao.Pargrafo nico. As parcelas de receita pertencentes aos Municpios, mencionadas no inciso IV, sero creditadas conforme os seguintes critrios:I - trs quartos, no mnimo, na proporo do valor adicionado nas operaes relativas circulao de mercadorias e nas prestaes de servios, realizadas em seus territrios;II - at um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos Territrios, lei federal.Transferncias obrigatrias, diretas e no-vinculadas.

** Ateno no repasse de ICMS aos municpios: dos repasses realizado a partir de critrios fixados em lei estadual (art. 158, pargrafo nico, II, CF/88), mas esta no pode chegar s raias de excluir qualquer municpio do repasse.

>> transferncia obrigatria gera direito subjetivo de recebimento do repasse ao ente beneficiado.

Art. 159. A Unio entregar:I - do produto da arrecadao dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados (IR + IPI) 48 % por cento na seguinte forma: (Redao dada pela Emenda Constitucional n 55, de 2007 antes era 47%)a) 21,5% - FPE; FPDF;b) 22,5% - FPM;c) 3% - Fundos Regionais;d) 1% - FPM, que ser entregue no primeiro decndio do ms de dezembro de cada ano; (Includo pela Emenda Constitucional n 55, de 2007).>> AtenoCom a EC55/2007 houve um aumento do repasse para o Fundo de Participao dos Municpios, mas um aumento peculiar. O percentual repassado mensalmente (22,5%) permaneceu o mesmo. O que ocorreu foi a criao de um novo percentual (1%) para o FPM a ser repassado anualmente nos 10 primeiros dias do ms de dezembro.Transferncias obrigatrias, indiretas (pois intermediadas por fundos especiais) e no vinculadas. Quanto ao destino, em se tratando de transferncias indiretas, devemos analisar a lei que institui o fundo, pois nela pode ou no haver previso de um fim especfico a ser observado na aplicao dos recursos recebidos.

Art. 159. A Unio entregar:II - do produto da arrecadao do imposto sobre produtos industrializados, dez por cento aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das respectivas exportaes de produtos industrializados.Transferncia obrigatria, direta e no vinculada.

III - do produto da arrecadao da contribuio de interveno no domnio econmico prevista no art. 177, 4, 29% (vinte e nove por cento) para os Estados e o Distrito Federal, distribudos na forma da lei, observada a destinao a que se refere o inciso II, c, do referido pargrafo. (EC 44/2004).Transferncia obrigatria, direta e vinculada (a CF/88 prev uma destinao especfica a ser dada ao repasse pelos Estados e DF financiamento de programas de infra-estrutura de transportes art. 177, 4, II, c, CF/88).

FUNDOS PBLICOS FINANCEIROS

- Segundo Hely Lopes de Meirelles, fundo financeiro toda reserva de receita para a aplicao determinada em lei.- O art. 71 da Lei n. 4320/64, define o fundo pblico como o produto de receitas especficas que, por lei, se vinculam a realizao de determinados objetivos ou servios, facultada a adoo de normas peculiares de aplicao.- Sabe-se que a Constituio Federal em seu art. 167, inciso IV veda toda a forma de vinculao oramentria, apenas prevendo a afetao de recursos para a manuteno do desenvolvimento do ensino (art. 212) e para financiar aes e servios pblicos de sade (198, 2), conforme abaixo transcrito:

Art. 212. A Unio aplicar, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municpios vinte e cinco por cento, no mnimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferncias, na manuteno e desenvolvimento do ensino. 1 - A parcela da arrecadao de impostos transferida pela Unio aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, ou pelos Estados aos respectivos Municpios, no considerada, para efeito do clculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir.

Art. 198. As aes e servios pblicos de sade integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema nico, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:[...] 2 A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios aplicaro, anualmente, em aes e servios pblicos de sade recursos mnimos derivados da aplicao de percentuais calculados sobre:(Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)I - no caso da Unio, a receita corrente lquida do respectivo exerccio financeiro, no podendo ser inferior a 15% (quinze por cento);(Redao dada pela Emenda Constitucional n 86, de 2015)II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadao dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alnea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municpios;(Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)III - no caso dos Municpios e do Distrito Federal, o produto da arrecadao dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alnea b e 3.(Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000) 3 Lei complementar, que ser reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecer:(Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)RegulamentoI - os percentuais de que tratam os incisos II e III do 2;(Redao dada pela Emenda Constitucional n 86, de 2015)

Regulamentando o tema, atualmente temos em vigor a Lei Complementar n. 141/2012, que assim dispe:

Art. 5o A Unio aplicar, anualmente, em aes e servios pblicos de sade, o montante correspondente ao valor empenhado no exerccio financeiro anterior, apurado nos termos desta Lei Complementar, acrescido de, no mnimo, o percentual correspondente variao nominal do Produto Interno Bruto (PIB) ocorrida no ano anterior ao da lei oramentria anual. [...] 2o Em caso de variao negativa do PIB, o valor de que trata o caput no poder ser reduzido, em termos nominais, de um exerccio financeiro para o outro. [...]Art. 6o Os Estados e o Distrito Federal aplicaro, anualmente, em aes e servios pblicos de sade, no mnimo, 12% (doze por cento) da arrecadao dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam o art. 157, a alnea "a" do inciso I e o inciso II do caput do art. 159, todos da Constituio Federal, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municpios.[...] Art. 7o Os Municpios e o Distrito Federal aplicaro anualmente em aes e servios pblicos de sade, no mnimo, 15% (quinze por cento) da arrecadao dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam o art. 158 e a alnea "b" do inciso I do caput e o 3o do art. 159, todos da Constituio Federal. Pargrafo nico. (VETADO). Art. 8o O Distrito Federal aplicar, anualmente, em aes e servios pblicos de sade, no mnimo, 12% (doze por cento) do produto da arrecadao direta dos impostos que no possam ser segregados em base estadual e em base municipal.

- Quanto aos tipos de fundos, cabe destacar que os mesmos podem ter dois significados, quais sejam: Fundos de destinao: utilizados para vinculao de receitas para aplicao em determinada finalidade. Tem fundamento constitucional no inciso II do 9 do art. 165 da CF, cabendo a Lei Complementar dispor sobre a instituio e funcionamento dos mesmos.A receita obtida pelo fundo durante determinado exerccio pode passar para o exerccio seguinte, se sua instituio no estabeleceu termo final. H balano patrimonial e financeiro que o demonstra e nesses casos no haver retorno de recurso ao errio ao final do exerccio. (art. 173 da Lei n. 4320/64)So exemplos de fundos de destinao no mbito federal: Fundos de Desenvolvimentos das Regies (FNO, FNE, FCO); o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da Educao FUNDEP; o Fundo de Combate e Erradicao da Pobreza (FCEP). Fundos de participao: Tem carter tributrio e tem previso constitucional no art. 159 da CF/88. Tem como finalidade a reserva de recursos para distribuio a pessoas jurdicas determinadas. A distribuio ocorre por meio do Fundo de Participao dos Estados e do Distrito Federal e Fundo de Participao dos Municpios. - Os fundos de participao dos Estados, DF e dos Municpios so compostos por parcelas da arrecadao de IR e IPI feita pela Unio. O FPE e o FPDF, como j visto, compem-se de 21,5% (IR + IPI) e o FPM, de 22,5% mensais (IR + IPI) + 1% (IR + IPI) anual (repassado nos 10 primeiros dias de dezembro). Os entes federativos, at esse momento de intermediao dos fundos, so tratados como categorias (estados, municpios) igualdade formal, o que no individualiza suas necessidades.- A etapa mais importante para atenuar desigualdades presentes entre os entes federativos a do clculo da cota parte de cada estado e de cada municpio (igualdade material), a partir de critrios que possibilitem que os entes mais necessitados sejam aqueles a receberem uma quota-parte mais significativa.- A funo de calcular essas quotas, a partir de critrios previamente definidos em Lei Complementar, , nos termos da CF/88, do Tribunal de Contas da Unio.

Art. 161. Cabe lei complementar:II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159, especialmente sobre os critrios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o equilbrio scio-econmico entre Estados e entre Municpios;Pargrafo nico. O Tribunal de Contas da Unio efetuar o clculo das quotas referentes aos fundos de participao a que alude o inciso II.- O Cdigo Tributrio Nacional (CTN), lei 5.172 de 1966 (recepcionada pela CF/88 como lei complementar), estabelece algumas normas sobre o rateio dos fundos, atualmente, previstos no art. 159, I, da CF/88. Assim, o CTN tratou do tema relativo a forma de partilha dos valores relativos ao Fundo de participao dos Estados e Municpios, no art. 87, CTN. Atualmente essa regra utilizada para clculo dos valores de rateio entre os Municpios, os estados tm legislao especfica e discusses sobre a forma de partilha que geraram at mesmo ADI analisada recentemente pelo STF.- Conforme o texto do CTN, a distribuio dos recursos do FPM deve ser proporcional ao coeficiente individual de participao de cada ente federativo, calculado pelo TCU. So utilizados como critrios para determinao desse coeficiente individual, que dar ensejo quota parte de cada municpio: I fator representativo da populao de cada estado e de cada municpio, II razo inversa da renda per capita; III superfcie. Os dados para o clculo do TCU so fornecidos pelo IBGE.

Alterao da legislao sobre a partiha do produto Fundo de Participao dos Estados:A forma de partilha dos valores relativos ao Fundo de participao dos Estados, anteriormente prevista no art. 87, CTN, que se utilizava como critrios para determinao do coeficiente individual partilhvel por cada Estado, o fator representativo da populao de cada estado, a razo inversa da renda per capita e a superfcie, foi alterada pela Lei Complementar n. 62/1989 que previu entre os critrios para a partilha dos valores, que o rateio dos mesmos deveriam se dar por meio de coeficientes fixos respeitando a distribuio regionalizada dos recursos destina 85% do Fundo para os Estados das Regies Centro-Oeste, Nordeste e Norte, e 15% para os das Regies Sudeste e Sul.Tal regra de partilha desigual entre as diversas regies que compe nosso pas, somados aos coeficientes fixos sem nenhuma alterao ao longo dos anos, foi objeto da ADI de n. 875/DF, por serem considerados inconstitucionais por afronta ao princpio da isonomia. O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional parte da legislao que regula o FPE. A consequncia dessa ao do STF foi a necessidade de aprovao de nova legislao para o Fundo at dezembro de 2012, sob pena de no haver, a partir de 2013, suporte legal para que a Unio transfira os recursos do FPE aos Estados. Em 2013 tivemos a aprovao da Lei Complementar n 143 que alterou dispositivos da Lei Complementar n. 62/1989 para retirar os critrios de partilha que feriam a isonomia, estabelecendo novas normas sobre o clculo de entrega dos recursos do Fundo de Participao dos Estados, mantendo-se a legislao sobre a participao dos Municpios. A lei determinou o fim da distribuio regionalizada, porm os coeficientes individuais de participao dos Estados e do Distrito Federal constantes de seu Anexo nico continuariam a ser aplicados at 31 de dezembro de 2015. Ademais, a partir do marco inicial do exerccio financeiro de 2016, cada Estado receberia um valor igual ao que seria repassado em 2015, que seria corrigido pelo ndice de Preos ao Consumidor Amplo IPCA e acrescido de 75% (setenta e cinco por cento) da variao do Produto Interno Bruto PIB de 2014. Diz o inciso III, que somente o que excedesse esse valor seria repassado aos entes de acordo com os novos critrios de distribuio baseados na populao e renda per capita. Outrossim, a partir da reflexo crtica sobre o novo tratamento fornecido ao tema, impossvel afirmar que uma soluo definitiva ficou estabelecida com a chegada da Lei Complementar n 143/2013, pois a nova criterizao se encontra vinculada ao crescimento econmico da nao, um condio futura e incerta, que no pode ser prevista.Enfim, essa sujeio criada pela nova redao do dispositivo s faz manter aqueles velhos e inconstitucionais coeficientes individuais de participao, que ferem as noes de isonomia tributria e prejudicam o pleno exerccio da autonomia federativa.

Operacionalizao da partilha: - De acordo com o art. 87, CTN, interpretado conforme CF/88, compete ao Banco do Brasil a funo de destacar os percentuais relativos ao FPE, FPDF e FPM da conta Receita da Unio, automaticamente, medida em que for recebendo as comunicaes do recolhimento do IR e do IPI.- E, ainda, de acordo com o pargrafo nico do citado artigo, os totais relativos a cada imposto, creditados mensalmente a cada um dos Fundos, sero comunicados pelo Banco do Brasil S.A. ao Tribunal de Contas da Unio at o ltimo dia til do ms subseqente.>> Ateno: os valores, destacados pelo BB da conta da Unio, so creditados mensalmente nos FPE/ FPDF (21,5%), e FPM (22,5%). O mesmo no ocorre com os valores relativos ao 1% do FPM previsto na aliena d, do art. 159, I, CF/88, pois so creditados apenas nos dez primeiros dias de dezembro, ou seja, anualmente. Visualizao das etapas:

- Os fundos no possuem personalidade jurdica prpria, ou seja, no titularizam interesses prprios, correspondem a meros lanamentos fiscais.- A fiscalizao dos fundos de competncia do Tribunal de Contas da Unio e dos Estados.

Anlise Crtica das Transferncias Obrigatrias Indiretas:

Com essa sistemtica, sobretudo antes da aprovao de nova legislao sobre a forma de partilha dos Fundos de Participao dos Estados, divergncias acirradas sobre a justia dessa forma de distribuio vm sendo tratada pela doutrina. Ao mesmo passo que a partilha no produto por meio dos Fundos de Participao tm constitudo importantes instrumentos de redistribuio de renda nacional, em relao aos estados de situao econmica mais delicada Roraima, Amap, Sergipe, etc; acaba por beneficiar, com isso, estados que menos arrecadam dentro da sua competncia tributria.

Isso ocorre porque no utilizado entre os critrios de rateio qualquer fator que retrate o esforo fiscal prprio do ente federativo, o que tm estimulado uma postura fiscal passiva.

Os estudos sobre Fundos de Participao mostram que atualmente os municpios arrecadam apenas cerca de 31,7% do que possuem como receita disponvel, pois o restante (a maior parte) obtido por meio de repasses obrigatrios (28% corresponde a valor recebido da Unio e 40,3% a valor recebido de estado).

>> Que estmulo ao esforo fiscal prprio pode ter um Estado que recebe, a ttulo de FPE, volume de recursos em mdia 9,5 vezes maior do que a receita proporcionada pelo ICMS?

Os estudiosos do tema propem que o esforo fiscal de cada ente federativo seja, ainda que minimamente, levado em considerao no rateio dos valores dos fundos de participao. Assim, possivelmente ser promovido no apenas um federalismo mais equilibrado, mas tambm um federalismo emancipatrio, que no estimule a dependncia fiscal. Contudo, importante refletir que os Estados e Municpios encontram limitaes ao seu poder de tributar estabelecidas no s pela distribuio de competncias tributrias, limitaes constitucionais ao poder de tributar e limitaes fticas, materiais relacionadas a realidade de cada ente federado, e o federalismo fiscal no Brasil da forma como foi vislumbrado prejudica a busca de qualquer tipo de autonomia financeira.

Importante:

O art. 160 da Constituio Federal prev em relao s transferncias obrigatrias a vedao a Unio de restrio de entrega dos mesmos aos Estados e Municpios:

Art. 160. vedada a reteno ou qualquer restrio entrega e ao emprego dos recursos atribudos, nesta seo, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, neles compreendidos adicionais e acrscimos relativos a impostos.Contudo, preciso ficar atento a exceo prevista no pargrafo nico do referido artigo, uma vez que ser possvel condicionar a entrega de recursos em alguns casos como pagamento de obrigaes junto a Unio, e cumprimento dos percentuais mnimos a serem garantidos a sade, conforme abaixo destacado:[...]Pargrafo nico. A vedao prevista neste artigo no impede a Unio e os Estados de condicionarem a entrega de recursos:(Redao dada pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)I - ao pagamento de seus crditos, inclusive de suas autarquias;(Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)II - ao cumprimento do disposto no art. 198, 2, incisos II e III.(Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)

Quanto aos repasses voluntrios cabe destacar que o tema tratado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

2.6. Receita Pblica na Lei de Responsabilidade Fiscal - (LC 101/2000)

Conforme explicado quando da exposio do contedo programtico do nosso curso de Direito Financeiro, a Lei de Responsabilidade Fiscal, por repercutir em toda a matria a ser estudada, ser compreendida de forma gradativa, no avanar das unidades.

Neste momento, em que estudamos o item das receitas pblicas, sero enfatizados os reflexos que a LRF produz especificamente sobre a questo das receitas. Por outro lado, no possvel compreender as alteraes que o referido diploma traz a um item da atividade financeira, se descontextualizadas dos objetivos gerais da lei.

A LRF tem como alvo principal a austeridade nas contas das trs esferas do governo, busca coibir a malversao de recursos estatais, por meio do controle do endividamento pblico e do estmulo a uma gesto fiscal responsvel.

O estmulo gesto fiscal responsvel, passa pelo estmulo ampla arrecadao de recursos pblicos. Todo ente federativo recebe constitucionalmente uma gama de atribuies, cujo cumprimento depende de possibilidades financeiras. Ocorre que muitos governantes acabam incorporando a idia de polticas fiscais, para atrair investimentos para a regio, ou mesmo por finalidades eleitoreiras; abrindo mo da arrecadao de receitas inseridas dentro da sua competncia. Assim, por comodidade, por um excesso eventual de arrecadao ou em razo de repasses recebidos de outros entes, alguns municpios deixam de instituir os tributos que lhe competem, a exemplo do IPTU. Essa postura pode comprometer a efetiva autonomia do ente federativo. Outro aspecto importante se refere a renncia de receitas, temas que receberam especial ateno na Lei de Responsabilidade Fiscal.

2.6.1. Vedaes a transferncias voluntrias:

Art. 11, LC 101/2000Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gesto fiscal a instituio, previso e efetiva arrecadao de todos os tributos da competncia constitucional do ente da Federao. Pargrafo nico. vedada a realizao de transferncias voluntrias para o ente que no observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos.

Com a redao acima transcrita, o art. 11, da LRF, tratou a competncia tributria como um dever. O ente federativo deve instituir, prever e arrecadar os tributos de sua competncia (definida na Constituio Federal) para que sua gesto fiscal possa ser considerada responsvel. Alm disso, nos termos do pargrafo nico, se o ente no exercita sua competncia tributria no que tange aos impostos, fica impedido de receber transferncias voluntrias. >> Mas o que so transferncias voluntrias?O artigo 25 da Lei de Responsabilidade Fiscal prev, ainda, que somente podero ser realizadas transferncia tributrias a entes que atendam os requisitos indicados no inciso IV do referido artigo:

Art. 25. Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferncia voluntria a entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federao, a ttulo de cooperao, auxlio ou assistncia financeira, que no decorra de determinao constitucional, legal ou os destinados ao Sistema nico de Sade.

1oSo exigncias para a realizao de transferncia voluntria, alm das estabelecidas na lei de diretrizes oramentrias: I - existncia de dotao especfica; II -(VETADO) III - observncia do disposto noinciso X do art. 167 da Constituio (VEDAO EXPRESSA); IV - comprovao, por parte do beneficirio, de:a) que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, emprstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor, bem como quanto prestao de contas de recursos anteriormente dele recebidos;b) cumprimento dos limites constitucionais relativos educao e sade; c) observncia dos limites das dvidas consolidada e mobiliria, de operaes de crdito, inclusive por antecipao de receita, de inscrio em Restos a Pagar e de despesa total com pessoal; d) previso oramentria de contrapartida.[...] 3o Para fins da aplicao das sanes de suspenso de transferncias voluntrias constantes desta Lei Complementar, excetuam-se aquelas relativas a aes de educao, sade e assistncia social.

O art. 25, da LRF, conceitua as transferncias voluntrias. So repasses financeiros entre entes federativos, movidos por uma idia de auxlio, assistncia, troca de favores. No decorrem de obrigao legal ou constitucional, mas da voluntariedade do ente que realiza o repasse. Ex.: Unio celebra convnio com o Municpio de Juiz de Fora para que este a auxilie em alguma tarefa material ligada UFJF (autarquia federal instalada em JF). Em troca do auxlio material, a Unio realiza um repasse financeiro ao Municpio de JF.*** Ateno para a exceo prevista no 3 do art. 25, da LRF: as transferncias voluntrias relativas a aes de educao, sade e assistncia social no so comprometidas com o no exerccio da competncia tributria pelo ente contemplado pelo repasse.

2.6.2. Renncia de ReceitaO art, 14 da LRF, conceitua como renncia de receita a concesso ou ampliao de incentivo ou benefcio de natureza tributria. Para impedir que tais renncias se dem de forma irresponsvel e com cunho poltico, estabeleceu alguns requisitos que devem ser obrigatoriamente observados para a concesso de tais benefcios quem venham a configurar renncia de receita. Assim a previso expressa do art. 14 da LRF abaixo transcrito:Art. 14. A concesso ou ampliao de incentivo ou benefcio de natureza tributria da qual decorra renncia de receita dever estar acompanhada de estimativa do impacto oramentrio-financeiro no exerccio em que deva iniciar sua vigncia e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes oramentrias e a pelo menos uma das seguintes condies: I - demonstrao pelo proponente de que a renncia foi considerada na estimativa de receita da lei oramentria, na forma do art. 12, e de que no afetar as metas de resultados fiscais previstas no anexo prprio da lei de diretrizes oramentrias; II - estar acompanhada de medidas de compensao, no perodo mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevao de alquotas, ampliao da base de clculo, majorao ou criao de tributo ou contribuio.

>> Paralelo entre o art. 11 e o art. 14 da LRFArt. 11Art. 14

Trata da hiptese do

da competncia tributria (no instituio, no previso, no arrecadao).

A hiptese sancionada.

Obs.: o no exerccio da competncia tributria, quanto aos impostos, associado a uma sano institucional: no receber transferncias voluntrias, salvo as excepcionadas pelo art. 25, 3, LRF.

Trata da hiptese da

na competncia tributria (arrecadao menor).

A hiptese regrada.

Obs.: so estabelecidas algumas condies para que a renncia fiscal possa ocorrer. A renncia fiscal tcnica corrente de governo, importante para atrair investimentos para o ente federativo, no pode ser proibida, mas apenas regrada.