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Disciplina de CULTURA E SOCIEDADE A IDENTIDADE E A RELAÇÃO COM O OUTRO Osvaldo Luís Meza Siqueira

Unidade1 3 CultSociedade AVA

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Disciplina de

CULTURA E SOCIEDADE A IDENTIDADE E A RELAÇÃO COM O OUTRO Osvaldo Luís Meza Siqueira

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Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Tuiuti do Paraná. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida e transmitida sem prévia

autorização.

Divisão Acadêmica: Marlei Gomes da Silva Malinoski

Divisão Pedagógica: Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder

Divisão Tecnológica: Flávio Taniguchi Neilor Pereira Stockler Junior

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Neilor Pereira Stockler Junior

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos”

Universidade Tuiuti do Paraná

Material de uso didático

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Universidade Tuiuti do Paraná

Reitoria

Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitoria de Planejamento e Avaliação

Afonso Celso Rangel dos Santos

Pró-Reitoria Administrativa

Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitoria Acadêmica Carmen Luiza da Silva

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Disciplina de CULTURA E SOCIEDADE

1º Bimestre Unidade 1.3

A IDENTIDADE E A RELAÇÃO COM O OUTRO

Osvaldo Luís Meza Siqueira

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NOTAS SOBRE O AUTOR

Possui graduação em Licenciatura em História pela Universidade Tuiuti do Paraná (1999) e especialização em Metodologia do Ensino de História pela Faculdade Internacional de Curitiba (2001) . Atualmente é professor da Universidade Tuiuti do Paraná, professor da Sociedade de Ensino Unificado, professor da Escola Social Madre Clélia e professor do Grupo Educacional UNINTER. Tem experiência na área de História , com ênfase em METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA.

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ORIENTAÇÃO PARA LEITURA

Citação Referencial

Destaque

Dica do Professor

Explicação do Professor

Material On-Line

Para Reflexão

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SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO .............................. ...............

OBJETIVOS DO ESTUDO ............................... ..................

PROBLEMATIZAÇÃO ................................... .....................

CONCEITUAÇÃO DO TEMA .............................. ...............

Construção da identidade ............................................................

Os imigrantes chegaram! .............................................................

Os inferiores e os maus ................................................................

O espaço urbano, lugar de diversas e plurais identidades ..........

SISTEMATIZANDO .................................... ........................

EXERCÍCIOS ......................................................................

REFERÊNCIAS ..................................................................

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CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

Nas duas unidades anteriores falamos sobre cultura e sobre soci-edade, como sendo dois componentes fundamentais para o entendimen-to do homem e de sua vida no meio social. Como vimos, todo homem está inserido em uma sociedade que influencia sua formação e comporta-mento. Esta influência carrega os padrões éticos e morais que irão se estabelecer e perpetuar através do componente cultural. É a cultura que nos conecta com o grupo e a comunidade a que pertencemos, dizendo quem somos e forjando nossa identidade.

INTRODUÇÃO AO ESTUDO

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Compreender os elementos fun-dantes da nossa identidade.

OBJETIVOS DO ESTUDO

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MAS COMO SE PROCESSA A CONSTRUÇÃO DESSA IDENTIDADE?

COMO CONSTRUÍMOS NOSSA NOÇÃO DE PERTENCIMENTO A UM OU OUTRO

GRUPO, NAÇÃO, ETNIA OU GÊNERO?

PROBLEMATIZAÇÃO

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CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

Como coloca Kathryn Woodward, a identidade é relacional. A i-dentidade depende, para existir, de algo fora dela: de outra identidade, de uma identidade que ela não é, que difere, mas que fornece as condições para que ela exista. Portanto, a identidade se distingue por aquilo que ela não é. Sendo assim, marcada pela diferença, seja ela qual for, de cor, de religião, de nacionalidade, de sexualidade, ou qualquer outra forma de contraposição que marque o diverso, o oposto, o outro. O denominado princípio da alteridade.

E quem é esse outro? Ele é o oposto, o diferente de mim. Aquele que não sou e que, portanto, serve de contrapondo para a construção de minha identidade. Segundo o filósofo búlgaro Tzvetan Todorov o que chamamos de eu só pode existir a partir do olhar sobre o outro. É apartir desta visão que o autor analisa os diversos olhares que foram construídos na conquista da América pelos portugueses e espanhóis. Segundo ele, cada outro é um sujeito que olha a partir do seu próprio eu.

CONCEITUAÇÃO DO TEMA

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É da diferença, e da não aceitação dela, que se forjam as segre-gações, intolerâncias e preconceitos. Como vimos na unidade anterior, foi em fins do século XIX, que grupos que brandiam entusiasticamente suas bandeiras nacionais se voltaram contra os estrangeiros com um forte sen-timento xenofóbico, isto é, de aversão. O nacionalismo, naquele momento da história, à medida que identificava e agregava alguns à nação, aliena-va outros, excluindo e segregando com fúria e ódio. No século XX, então, tal fúria e ódio forjados nas chamas do fervor nacionalista levariam ao holocausto antissemítico de 6 milhões de judeus nos campos de concen-tração e extermínio da Alemanha nazista.

A identidade surge como uma resultante das semelhanças e dife-renças entre os indivíduos e grupos humanos, mas também pode ser im-posta de forma intencional por um pensamento que irá se sobrepor de maneira a forjar as representações de pertencimentos e afastamentos que serviram de base para a construção da imagem do eu (nós) e do ou-tro, como, por exemplo, através de uma ideologia, como vimos na unida-de anterior.

As identidades são fabricadas por meio da marcação da diferença. Essa marcação da diferença ocorre tanto por meio de sistemas simbólicos de representação quanto por meio de formas de exclusão social. A identi-dade, pois, não é o oposto da diferença: a identidade depende da diferença. (WOODWARD, Kathryn. In SIL-VA (org) Identidade e diferença: a perspectiva dos es-tudos culturais, p.39-40)

A nação, portanto, não passaria de uma construção recente de ideólogos empenhados em produzir instru-mentos de legitimação e mobilização, através dos quais manipulariam emoções atávicas, medos e res-sentimentos das massas, pelo apelo a um sentimento de diferença cultural, do qual decorreria o equívoco da identidade nacional. (AZEVEDO, Cecília. In ABREU, SOIHET (org) Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologias, p.44)

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Ao firmar-se a partir da diferença, a identidade estabelece as não similaridades que levarão a não aceitação daquele que será visto como o “outro”. As similaridades que determinam a ligação entre os indivíduos podem estar ligadas a diversos aspectos, como por exemplo, a um pas-sado comum do qual preservam as mesmas memórias e representações, isto é, categorias de pensamento que expressam uma forma de interpre-tar e explicar a realidade.

No entanto, esse passado pode ser construído ou reconstruído de forma a servir de fator legitimador e agregador no presente. Foi o que aconteceu com relação à ideologia nazista, que baseou-se em uma su-posta ligação entre a Alemanha de Hitler e a glória do que foi o antigo Sacro Império Romano-Germânico do período medieval. Para a doutrina nazista, o governo de Hitler, significava o III Reich, isto é, o 3º império germânico (Alemão). O primeiro quando a Alemanha foi grande e podero-sa no medievo com o Sacro Império Romano-Germânico; o segundo, du-rante o século XIX, quando o país se unificou e se tornou poderoso atra-vés do colonialismo imperialista característico da época; e finalmente o de Hitler, o terceiro, e que supostamente duraria mil anos, mas que mal chegou a uma década. Outro exemplo, inclusive contemporâneo ao ante-rior, foi Benito Mussolini, líder do regime fascista na Itália que insistia em ligar seu governo com os césares (imperadores) do Antigo Império

A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito. É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos. Podemos inclusive sugerir que esses sistemas simbólicos tornam possível aquilo que somos e aquilo no qual podemos nos tornar. A representação, compre-endida como um processo cultural, estabelece identi-dades individuais e coletivas [...].(AZEVEDO, Cecília. In ABREU, SOIHET (org) Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologias, p.17)

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Romano. A Itália comandada por ele deveria reconquistar sua glória anti-ga, porém, a Itália do século XX não era, e não poderia ser, a Roma do passado. Poderíamos ainda pensar em mais um exemplo, o do grande general francês Napoleão Bonaparte, conquistador e imperador, que ten-tou ligar sua imagem a do lendário rei franco Carlos Magno.

Como vimos na unidade anterior, uma ideologia exerce uma fun-ção de cimento, tornando a sociedade em uma unidade que se estabele-ce a partir de crenças que se tornam comuns pela força das tradições ou da invenção de tradições conforme o historiador Eric Hobsbawn, por ve-zes, fornecendo um passado comum e glorioso que servirá de fator de agregação e identidade.

As práticas tradicionais existentes — canções folclóri-cas, campeonatos de ginásticas e de tiro — foram mo-dificadas, ritualizadas e institucionalizadas para servir a novos propósitos nacionais. Às canções folclóricas tra-dicionais acrescentaram-se novas canções na mesma língua, muitas vezes compostas por mestres-escola e transferidas para um repertório coral de conteúdo patri-ótico-progressista. (HOBSBAWM, Eric. A invenção das tradições p.14)

Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. Alias, sempre que possível, tenta-se estabe-lecer continuidade com o passado histórico apropriado. (HOBSBAWM, Eric. A invenção das tradições p.9)

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OS IMIGRANTES CHEGARAM!

No século XIX, os países europeus viviam uma situação política agitada por uma série de movimentos e processos revolucionários, como as lutas pela unificação da Alemanha e da Itália. As transformações trazi-das pela industrialização, tanto na Alemanha quanto na Itália, levaram a uma gradual ruína do trabalho artesanal disperso por suas províncias, enquanto seu atraso em relação aos outros países no processo de de-senvolvimento industrial se tornou responsável por um excedente popula-cional em termos de mão-de-obra disponível que o sistema de produção não teve como absorver e que significou o grande contingente imigratório para a América e em especial para o Brasil.

A grande maioria daqueles que emigraram, trabalhavam na agri-cultura em uma estrutura ainda aos moldes servis do período feudal, o que não tinha mais lugar em meio a um sistema capitalista em pleno de-senvolvimento, neste sentido, a emigração serviu para aliviar as tensões que a miséria causava principalmente no campo. A vida da população campesina, que tinha na terra sua única fonte de subsistência, era muito difícil, e o desenvolvimento do capitalismo só fez piorar, com o aumento dos impostos sobre a terra, com o endividamento dos pequenos proprie-tários e com a diminuição dos preços de seus produtos artesanais devido à concorrência da indústria.

Para o governo brasileiro no século XIX, havia um grande interes-se na recepção de imigrantes como mão-de-obra e com o objetivo de po-voar as grandes áreas ainda vazias no país. Por sua cultura e etnia os imigrantes europeus eram muito bem vindos, principalmente aqueles de origem camponesa, que se instalassem em pequenas propriedades, or-ganizadas a partir do trabalho familiar, trazendo novas técnicas agrícolas que acabariam por ser assimiladas pelos habitantes da terra. É bastante

Essa dispersão das pessoas ao redor do globo produz identidades que são moldadas em diferentes lugares e por diferentes lugares. (AZEVEDO, Cecília. In ABREU, SOIHET (org) Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologias, p.17)

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significativo nesse sentido o decreto de 1808, baixado pelo Príncipe Re-gente Dom João VI que concedia a posse de terras a estrangeiros no Brasil. Desta maneira, inaugurava-se no país uma política de portas aber-tas para imigrantes.

Em sua maioria, os imigrantes italianos que vieram para o Brasil eram da zona rural, das regiões do Vêneto, ao norte da Península Itálica. Camponeses simples e fervorosamente católicos. Portanto, eram vênetos e não italianos já que quando muitos deles saíram da Europa a unificação da Itália, ocorrida por volta de 1860, ainda não estava constituída. Suas lembranças e suas tradições tinham a ver com uma região que ainda não era a Itália. Este fator se não lhes dava uma unidade em torno de uma nacionalidade de origem, lhes fornecia, por outro lado, uma unidade reli-giosa e cultural que os identificava e unia em um mesmo modo de ser do Vêneto.

Por outro lado, a vida em comunidade na colônia acabou por for-mar um sentimento de identidade e reconhecimento entre os italianos e

Um caso extremo de divergência entre nacionalismo e Estado-Nação era a Itália, a maior parte da qual tinha sido unificada sob Savoia em 1859- 1860, 1866 e 1870. Não havia precedente histórico posterior à Roma antiga para uma única administração de toda a área compreendida entre os Alpes e a Sicília, que Metterni-ch descrevera com grande precisão como uma “mera expressão geográfica”. No momento da unificação, em 1860, estimou-se que não mais de 2,5% de seus habi-tantes falavam a língua italiana no dia-a-dia, o resto falava idiomas tão diferentes que os professores envia-dos pelo Estado italiano à Sicília na década de 1860, foram confundidos com ingleses. Provavelmente uma porcentagem bem maior, mas ainda uma modesta mi-noria, teria se sentido naquela data como italianos. Não é de admirar que Massimo d’ Azeglio (1792- 1866) exclamasse em 1866: “Fizemos a Itália; agora precisa-mos fazer os italianos”. (HOBSBAWM, Eric J. A era do capital: 1848 – 1875, p.147)

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também outras etnias de imigrantes que compartilhavam as mesmas vi-cissitudes e dificuldades. As similaridades das questões de sobrevivência compartilhadas tiveram função fundamental na assimilação entre os gru-pos, a partir do cotidiano, da organização social e da religiosidade.

No processo de integração dos colonos à comunidade local, a igreja exerceu um papel fundamental, pois abriu uma ponte entre os dife-rentes grupos que acabavam por participar e compartilhar do mesmo lo-cal para sua devoção.

Podemos perceber que o fenômeno da construção de uma identi-dade, portanto, não se apega apenas a fatores como raça, etnia, religião ou sexo, mas também a outros fatores determinantes que podem consti-tuir similaridades que de outra forma não o seriam, como no caso dos imigrantes, que apesar de representarem etnias diversas, e, portanto, identidades diferentes, se sentem identificados pelo fato de todos serem estrangeiros recém-chegados a uma nova terra, mesmo que, muitos de-les na agora distante Europa, houvessem sido até antagônicos.

As organizações religiosas são veículos de sociabilida-de, pois agregam, numa mesma comunidade/espaço, segmentos diferentes do universo social que possuem como ela a crença. Essa reunião permite que pessoas de diferentes etnias estabeleçam contatos e relações sociais. (WAWZYNIAK. In PIERONI; DeNIPOTI, Sabe-res brasileiros:ensaios sobre a identidade. Séculos XVI a XX, p.114)

A complexidade da vida [...] exige que assumamos dife-rentes identidades, mas essas diferentes identidades podem estar em conflito. Podemos viver, em nossas vidas pessoais, tensões entre nossas diferentes identi-dades quando aquilo que PE exigido por uma identidade interfere com as exigências de uma outra. [...] As de-mandas de uma interferem com as demandas de outra e, com frequência, se contradizem. (WOODWARD, Kat-hryn. In SILVA (org) Identidade e diferença: a perspecti-va dos estudos culturais, p.31-32)

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OS INFERIORES E OS MAUS

Se negro ou branco, de um time de futebol ou outro, de uma ida-de ou outra, de um bairro ou outro, de uma nacionalidade ou outra, de uma religião ou outra, ou qualquer outro exemplo que queiramos dar, di-ferenças se destacam assim como as similaridades para a construção das mais diversas identidades.

Ao longo da história o homem forjou sua identidade a partir da mulher, construindo um imaginário que o colocava como melhor e superi-or, deixando para o feminino, os aspectos ruins de ser humano. A mulher era o ser incompleto, imperfeito e que ao longo da história se tornou para muitas tradições a portadora do mal. Ao construirmos nossa identidade nos destacamos como melhores, mais capazes, bonitos, da melhor cida-de, do melhor país, da classe superior, da verdadeira religião, e assim por diante.

Nesse sentido, os povos europeus, principalmente na segunda metade do século XIX, criaram uma ideologia para justificar seu domínio imperialista e colonialista sobre regiões pobres do mundo como uma a chamada missão civilizadora, que justificava seu domínio, não como uma exploração, mas como uma forma de civilizá-los, já que eram povos infe-riores. De acordo com o primeiro ministro francês em 1880, Jules Ferry, “é preciso dizer abertamente que as raças superiores têm direitos sobre as raças inferiores (...) porque têm um dever para com elas – o dever de civilizá-las.” Esse pensamento baseava-se na suposta superioridade da raça branca europeia, em sua superioridade biológica, em seu maior de-senvolvimento tecnológico e no cristianismo com única fé verdadeira.

O termo “imperialismo” designa a dominação de uma nação rica sobre outras pobres e sem desenvolvimento. Entre os séculos XV e XVI, quando os países europeus, em função de sua expansão comercial, con-quistaram toda a América, essa prática de dominação ficou conhecida como colonialismo. Já no século XIX e XX, as disputas entre as nações industrializadas geraram uma nova fase de dominação, voltada principal-mente para África e Ásia, mas também para os países da América Latina, que, apesar de já terem conquistado sua independência política, continu-avam submetidos à dependência econômica. Essa nova ação imperialista foi denominada neocolonialismo ou imperialismo.

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Terminada a 2ª Guerra Mundial (1939–1945), os diversos países da África, Ásia e Oceania que integravam os impérios coloniais europeus foram, pouco a pouco, conquistando a independência, principalmente, devido ao enfraquecimento econômico dos países dominadores, devido ao conflito. Se nas primeiras décadas do século XX, os europeus orgulha-vam-se em possuir impérios coloniais, depois da guerra era vergonhoso, nenhum país queria ser taxado de opressor e imperialista. A própria ONU em 1945, fundamentada no direito de autodeterminação dos povos, tor-nou-se um fórum internacional contra o colonialismo. Também, as duas grandes potências do pós-guerra, Estados Unidos e União Soviética, as-sumiram posições favoráveis à descolonização, interessadas em desen-volver sua própria influência.

Os povos submetidos acabam também por fortalecer suas identi-dades étnicas e nacionais como forma de resistência contra a dominação e a exploração. Assim como, grupos discriminados em diferentes socie-dades se agregam em identidades marcadas pelos aspectos que repre-sentam o motivo do preconceito sofrido seja étnico, religioso, social, de sexualidade, de classe ou outro.

Por vezes, não de forma rara, demonizamos aquele que repre-senta o outro, colocando-o na posição de inimigo e como a própria perso-nificação do mal. Este fenômeno ocorre principalmente em guerras. Am-bos os lados do conflito demonizam seu algoz, por muitas vezes descon-siderando sua própria condição humana.

Na sociedade em que vivemos há uma dinâmica de construção de situações de apartação social e cultural que confinam os diferentes grupos socioculturais em espaços diferenciados, onde somente os considerados iguais têm acesso. Ao mesmo tempo, multiplicam-se as grades, os muros, as distâncias, não somente físi-cas, como também afetivas e simbólicas entre pessoas e grupos cujas identidades culturais se diferenciam por questões de pertencimento social, étnico, de gênero, religioso, etc. (CANDAU, In MOREIRA; CANDAU (org) Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas peda-gógicas, p. 31)

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O ESPAÇO URBANO, LUGAR DE DIVERSAS E PLURAIS IDENTIDADES

A cidade enquanto lugar da coletividade, compõe-se de grupos diversos que dividem a vida urbana, compartilhando seus espaços. Deve-mos perceber a cidade como uma extensão do próprio indivíduo e dos grupos que a ocupam, homens ou mulheres, diretamente relacionados com seus acontecimentos e destino. Portanto, se relacionados, envolvi-dos e participantes dos assuntos da cidade, bem como, das decisões que determinam seus rumos e forma de governo. Com este pensar, podemos entender o conceito que defini a palavra cidadania e o que ela envolve, já que a palavra se volta ao morador participante dos assuntos de sua cida-de, devidamente informado e atuante na vigilância de seu bem, que é a própria cidade que habita. Para tanto, é importante que o indivíduo se sinta comprometido com o meio em que vive, como agente e parte inte-grante dele, percebendo sua atualidade e conhecendo seu passado.

Ao se pensar a história de uma cidade, olhamos para os diferen-tes momentos da vida dos homens naquele espaço, suas diferentes in-tenções e necessidades de ocupação ao longo do tempo, suas convivên-cias e relações entre diferentes grupos sociais. Como o local da vida das pessoas, devemos vê-la como reflexo daqueles que a habitam, onde deli-mitam seus espaços, estabelecem costumes e hábitos de convivência. Em virtude desta vida em comum, a cidade é um lugar marcado pela dife-rença e por antagonismos e segregações (apartheids) que acabam por criar afastamentos e ódios.

Ao mesmo tempo que a diferença afasta, nos espaços urbanos, as praças, as ruas, os shoppings, as igrejas, as escolas encurtam as dis-tâncias. É no espaço da cidade que se encontram e entrecruzam os di-versos grupos humanos fazendo saltar aos olhos as diferenças e as into-lerâncias. O desafio que se impõe então é promover o respeito mutuo entre os diferentes, mas não um respeito que leve apenas a tolerância, pois quando tolero me obrigo a aceitar o “outro” mesmo que a contra gos-to sem propiciar o diálogo e a inter-relação entre os diferentes.

Ao pensarmos nossa sociedade contemporânea, a percebemos plural e diversa, a partir dos diferentes matizes culturais que a moldam.

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Reconhecer essa multiplicidade cultural trás a importância de desestrutu-rar as categorias que têm dividido e rotulado a sociedade humana em culturas, histórias, religiões, tradições, saberes, etnias, preferências sexu-ais e nacionalidades, assumindo outro paradigma, o de evidenciar os pro-cessos de construção destas categorias e representações, explicitando como temos aprendido os significados das diferenças que nos apartam e antagonizam. Nesse sentido, o multiculturalismo se apresenta como um indicador do caráter plural das sociedades contemporâneas, não para levar à aceitação ou à tolerância da diferença, mas ao diálogo entre as culturas que relaciona e integra, proporcionando o entendimento e a inter-relação, pois o que define o homem não é a similaridade mas a diferença. Ou seja, salienta Clifford Geertz, ao procurar entender a singularidade de cada grupo, de cada cultura, se vai compreender mais a própria humani-dade.

Tendemos a uma visão homogeneizadora e estereoti-pada de nós mesmos, em que nossa identidade cultu-ral é muitas vezes vista como um dado “natural”. Des-velar essa realidade e favorecer uma visão dinâmica, contextualizada e plural das nossas identidades cultu-rais é fundamental, articulando-se a dimensão pessoal e coletiva destes processos de hibridização e de nega-ção e silenciamento de determinados pertencimentos culturais, sendo capazes de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los constitui um exercício fundamental. (CANDAU, In MOREIRA; CANDAU (org) Multicultura-lismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas, p. 26)

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Como Pudemos perceber, o fenômeno da construção de uma identidade não se apega apenas e necessariamente a fatores como raça, etnia, religião ou sexo, mas também a outros aspectos que podem consti-tuir similaridades. Ao contrário de diversos grupos humanos marcados por profundas diferenças, nos tornamos, na verdade, nos dias atuais, do-nos de identidades plurais forjadas por uma sociedade composta pelos mais diversos matizes. Perceber esse aspecto é fundamental para o rom-pimento de visões essencialistas e de segregação, contudo, como vimos, não de forma rara, tendemos a demonizar aquele que representa o outro.

SISTEMATIZANDO

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EXERCÍCIOS

Todos os exercícios estão disponíveis na página da disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem em http://cead.utp.edu.br , para responde-los é necessá-rio fazer login.

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BURKE, P. O que é história cultural? 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

HOBSBAWN, Eric. A Era dos impérios: 1875-1914 . 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

HOBSBAWN, Eric. Sobre a história . 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

MOREIRA, A. F. CANDAU, V. M.(Orgs) Multiculturalismo: diferenças culturais e Práticas pedagógicas . Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2008.

ORTIZ, R. Cultura Brasileira & Identidade Brasileira . São Paulo: Brasi-liense, 2003.

PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisio-neiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 3ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000

SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia . Rio de Janei-ro: Jorge Zahar Ed, 2006.

REFERÊNCIAS

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Coordenadoria de Educação a Distância

Coordenação Marlei Gomes da Silva Malinoski

Divisão Pedagógica Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder

Editoração Neilor Pereira Stockler Junior

Disciplina de CULTURA E SOCIEDADE