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UniSALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia Loiany Stely Gonçalves Lucas Kerbauy Cunha Tassiane de Oliveira Garcia Do Mundo Surdo à Narrativa: a escuta qualificada no trabalho com idosos a partir da perspectiva fenomenológica-existencial LINS SP 2017

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UniSALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Loiany Stely Gonçalves

Lucas Kerbauy Cunha

Tassiane de Oliveira Garcia

Do Mundo Surdo à Narrativa: a escuta qualificada no trabalho com idosos a

partir da perspectiva fenomenológica-existencial

LINS – SP

2017

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LOIANY STELY GONÇALVES

LUCAS KERBAUY CUNHA

TASSIANE DE OLIVEIRA GARCIA

Do Mundo Surdo à Narrativa: a escuta qualificada no trabalho com idosos a

partir da perspectiva fenomenológica-existencial

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia sob a orientação do Prof. Me. Aguinaldo José da Silva Gomes e orientação técnica da Profª. Ma. Jovira Maria Sarraceni.

LINS – SP

2017

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Cunha, Lucas Kerbauy; Garcia, Tassiane de Oliveira, Gonçalves, Loiany

Stely

Do Mundo Surdo à Narrativa: a escuta qualificada no trabalho com

idosos a partir da perspectiva fenomenológica-existencial / Lucas Kerbauy

Cunha; Tassiane de Oliveira Garcia; Loiany Stely Gonçalves. – – Lins, 2017.

52p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano

Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2017.

Orientadores: Jovira Maria Sarraceni; Aguinaldo José da Silva Gome.

1. Idoso. 2.Grupo. 3.Narrativa. 4 Fenomenologia. I Título.

CDU 159.9

CDU 159.9

C978m

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LOIANY STELY GONÇALVES

LUCAS KERBAUY CUNHA

TASSIANE DE OLIVEIRA GARCIA

Do Mundo Surdo à Narrativa: a escuta qualificada no trabalho com idosos a partir da

perspectiva fenomenológica-existencial

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium, para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovado em: ___/___/___

Banca Examinadora:

Pro. Orientador: Aguinaldo José da Silva Gomes

Titulação: Mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de

Mesquita Filho

Assinatura: ______________________________

1º Prof.: _____________________________________________________________

Titulação:____________________________________________________________

Assinatura:_______________________________

2º Prof.:_____________________________________________________________

Titulação:____________________________________________________________

Assinatura:_______________________________

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“Temos a ilusão de que moramos em um

mundo significativo em si e por si mesmo.

Mas, em si mesmo, o mundo é pura coisa. É

nossa linguagem que o transforma em um

mundo. Habitar o mundo é habitar a

linguagem”.

(Critelli)

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Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e das divindades, pois sem ele

nada até o momento seria possível.

Agradeço a minha família e, especialmente, minha mãe Tânia Domingues que

sempre se esforçou para me oferecer as melhores oportunidades.

Ao meu pai, Paulo Gonçalves, que me proporcionou estar cursando psicologia.

A minha avó que, dentre todos, foi a minha inspiração para este trabalho, e que

sempre esteve ao meu lado, me tornando a pessoa que sou hoje.

Ao meu namorado Wesley Souza, que é muito especial e importante para mim, pois

esteve sempre ao meu lado, me auxiliando, me dando muitas forças para continuar

e nunca pensar em desistir.

Aos meus queridos amigos que estiveram comigo nos bons e más momentos,

sempre me apoiando e me fortalecendo.

A equipe da Unidade Básica de Saúde Dr. Adalberto Ariano Crespo – Junqueira, que

me acolheu com imenso carinho e me ensinou grandes coisas. Sendo o local na

qual tive a melhor experiência profissional

E por fim, mas não menos importante, todos os professores e grandes mestres que

sempre são muito dedicados. Ao querido professor, orientador e grande mestre

Aguinaldo Gomes que acolheu ao tema, sempre me fazendo sair renovada de cada

orientação. Com isso, colaborou para impulsionar enormemente, e

consequentemente, para que este trabalho chegasse até o fim. A professora Elizete

Germano que nos auxiliou no transcurso da pesquisa. Chegando até a professora

Jovira que nos orientou.

Loiany Gonçalves.

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Existe um pouco de cada pessoa e das experiências adquiridas ao decorrer da vida

que acabam sendo partes fundamentais naquilo que nos tornamos e nos objetivos

que conquistamos. Tudo acontecendo exatamente como deve ser, ou seja,

previamente traçado por Deus. A ele, devo meus agradecimentos por estar aqui

hoje, concluindo essa etapa.

Agradeço também aos meus pais, Gilse e Denis, e minha avó Leilah, que foram a

força e amparo para que eu pudesse trilhar essa trajetória. Devo muito do que sou à

eles e ao amor incondicional que tenho recebido durante todos esses anos.

Assim, quero agradecer também a outra pessoa especial que apareceu em minha

vida; À Laís, minha namorada, obrigado por apoiar-me nos melhores e piores dias,

dedicando-se com tanto carinho.

Antes de terminar, deixo aqui meus agradecimentos ao grupo e todos aqueles

envolvidos neste trabalho, que todos possam seguir por caminhos maravilhosos e a

vida lhes reserve muitas vitórias. Que, enfim, sejamos ótimos profissionais!

Lucas Kerbauy

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Aos meus pais Clodoaldo e Sônia, pelo incentivo direcionado aos estudos, sem suas

palavras não seria possível a construção e realização deste sonho.

Venho também manifestar aqui dentre estas linhas o meu eterno agradecimento a

todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que este trabalho

fosse possível, em especial: Aos nove idosos pois sem sua presença não seria

possível a elaboração e realização desta pesquisa. Agradeço pelo momento vivido,

pela experiência de vida e conhecimento de cada um.

Ao professor e Me. Aguinaldo José da Silva Gomes, pela sua orientação, e

paciência, por me proporcionar grande aprendizado no âmbito profissional com a

elaboração deste estudo. Por quem sempre sentirei muito carinho e orgulho, afinal,

as flores de plástico não morrem, no meu caso, “jamais estará murcha a flor que

regou e floresceu em mim, estará sempre em minha memória”.

À professora e Ma. Elizeth Germano Mattos, por me proporcionar auxilio, físico e

emocional, em divertidas manhãs de sábado, à minha eterna gratidão pelo exemplo

de Ser Humano que é. Sinta-se imensamente abraçada não somente pelo incentivo

que carinhosamente me foi proporcionado, como à sua disponibilidade e estímulo

nos momentos em que mais necessitava de apoio.

Aos Mestres que fizeram parte desta conquista, Oscar Xavier, que nunca deixou de

perguntar à sua “querida aluna” como estava o andamento da pesquisa, Paulo

Sergio e Ana Elisa, que sempre serão espelhos para mim, no âmbito profissional, à

Jovira que nos possibilita uma orientação com excelência, entre outros que de

alguma forma se tornaram especiais.

Por fim e não menos importante ao pai das minhas filhas Anderson que sempre me

apoiou fortemente, lembrando-me sempre da força que mal sabia que tinha, e a

meus dois corações, Sofhia e Thayla por me proporcionar essa força para seguir

adiante, vindo unidas como um objetivo: à minha realização de vida, minhas filhas e

à graduação. Obrigada à Deus por toda conquista realizada.

Tassiane de Oliveira.

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RESUMO

Este trabalho apoiou-se na pesquisa participativa com uso da narrativa livre em uma Unidade Básica de Saúde da cidade de Lins-SP. O tipo de pesquisa é um relato de experiência usando a abordagem fenomenológica. Teve por objetivo vivenciar a eficácia dos grupos de escuta com idosos, propiciando a livre expressão e reflexão pessoal de cada indivíduo, tal como fomentar reflexões a respeito da importância do relato de história de vida oral a partir da narrativa livre, respeitando os fenômenos que surgirem durante os diálogos, promovendo o contato interpessoal e grupal dos participantes e revelar a importância do outro no compartilhamento da experiência do envelhecimento. A coleta de dados foi realizada durante o mês de Outubro de 2017 foram realizados cinco encontros introduzindo temas norteadores para que facilitasse na abertura do diálogo e interação grupal. A pesquisa foi realizada com ênfase na narrativa proposta por Dulce Critelli (2012) em seu livro: “História pessoal e sentido da vida- Historiobiografia” que se fundamenta da fenomenologia hermenêutica de Heidegger. As narrativas foram compreendidas priorizando o aqui e agora lhes dando a oportunidade de se expressarem de forma livre. Conseguiu-se assim compreender que o grupo de escuta pode ser usado como um meio que possibilita as narrativas do sujeito, o autoconhecimento, bem como a abertura para expressar suas emoções, pensamentos e lembranças. Palavras-chave: Idoso. Grupo. Narrativa. Fenomenologia

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ABSTRACT

This work was based on participatory research using free narrative in a Basic Health Unit in the city of Lins-SP. The type of research is an experience report using a phenomenological approach. The objective of this study was to experience the efficacy of listening groups with elderly people, promoting the free expression and personal reflection of each individual, as well as fostering reflections about the importance of oral history of life narrative, respecting the phenomena that arise during dialogues, promoting the interpersonaland group contact of participants and revealing the importance of the other in sharing the experience of aging. The data collection was carried out during the month of October in 2017. Five meetings were held introducing guiding themes to facilitate the opening of dialogue and group interaction. The research was carried out with emphasis on the narrative proposed by Dulce Critelli (2012) in her book: “História pessoal e sentido da vida -Historiobiografia" that is based on the hermeneutic phenomenology of Heidegger. The narratives were understood prioritizing the here and now giving them the opportunity to express themselves freely. It was thus understood that the listening group can be used as a way that enables subject narratives, self-knowledge, as well as openness to express their emotions, thoughts and memories. Keywords: Elderly. Group. Narrative. Phenomenology.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

CAPÍTULO I – A VELHICE ....................................................................................... 13

1 DEFINIÇÃO DA VELHICE ..................................................................................... 13

1.1 Senescência e Senilidade ................................................................................... 14

1.2 Aspectos psicológicos do envelhecimento .......................................................... 16

2 RELAÇÕES SOCIAIS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO ........................ 19

2.1 A importância da família para o idoso ................................................................. 19

2.2 O Envelhecimento e a Elaboração de Perdas ..................................................... 21

2.3 Qualidade de vida na velhice .............................................................................. 21

CAPÍTULO II – MUNDO SURDO E HISTORIOBIOGRAFIA .................................... 23

1 O QUE É MUNDO SURDO .................................................................................... 23

1.1 Historiobiografia ................................................................................................... 24

2 ATOS, PALAVRAS E MUNDO ........................................................................... 25

2.1 Narrador de si mesmo ......................................................................................... 27

2.2 A opinião sobre si mesmo ................................................................................... 29

2.3 Memória e Promessa .......................................................................................... 30

CAPÍTULO III - MÉTODO ........................................................................................ 32

1 O METÓDO ............................................................................................................ 32

1.1 A Narrativa como Fenômeno ............................................................................... 32

1.2 Coleta de dados .................................................................................................. 34

2 DESCRIÇÃO DOS ENCONTROS ......................................................................... 34

2.1 Primeiro Encontro ................................................................................................ 34

2.2 Segundo Encontro ............................................................................................... 35

2.3 Terceiro Encontro ................................................................................................ 36

2.4 Quarto Encontro .................................................................................................. 37

2.5 Quinto Encontro ................................................................................................... 38

3 DISCUSSÃO E ANÁLISE ...................................................................................... 38

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 42

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43

APÊNDICES ............................................................................................................. 46

ANEXO ..................................................................................................................... 49

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INTRODUÇÃO

Já se investigou bastante tanto nas pesquisas científicas quanto na grande

mídia, os efeitos do aumento relevante da população idosa no Brasil, da mesma

maneira a quantidade de produtos, serviços e profissões que têm sido criados e

disponibilizados a esta população.

Com o surgimento destas especializações, a família passa a conceder aos

profissionais uma função importante do trabalho de atenção e assistência,

arruinando, a preservação das relações e dos afetos dentro do grupo familiar. Para

aliviar a culpa dos familiares em relação a redução do custo moral ou afetivo no

cuidado para com o indivíduo idoso, as instituições asilares se tornam a solução

mais adequada.

Essas reflexões e a vivencia com alguns idosos em uma Unidade Básica de

Saúde da cidade de Lins-SP, que apresentaram sinais de isolamento social nos

levaram a pergunta que impulsionou nosso trabalho: compartilhar a experiência do

envelhecimento através da narrativa pode proporcionar ao idoso uma melhor

qualidade de vida? Dotados dessa problemática e tendo como referencial teórico o

livro de Dulce Critelli “História pessoal e sentido da vida- Historiobiografia” nossa

hipótese foi que a partir da narrativa o idoso tem a possibilidade de se reconhecer

na experiência vivida para poder atribuir a mesma seu próprio significado e, assim,

ter uma melhor qualidade de vida.

Ao seguir os passos de Dulce encontramos a possibilidade da narrativa da

História Oral como mote principal desse trabalho. Assim, consideramos a partir da

autora, que numa narrativa pode-se rearranjar os eventos da vida para que se possa

lidar com os mesmos. A realidade pode se tornar suportável a partir da narrativa,

assim, ao contar nossa história podemos torná-las compreensíveis. Critelli (2012, p.

33) cita Hannah Arendt quando a última afirma que “um mundo que não pode ser

narrado não pode ser habitado”.

Por conseguinte, este trabalho encontra-se com a seguinte estrutura: Capítulo

I, abordamos a velhice sua definição e aspectos. Capítulo II, o mundo surdo e a

narrativa. Capítulo III, descrição do caminho metodológico, descrição dos encontros

e considerações a respeito do projeto realizado.

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CAPÍTULO I

A VELHICE

1 DEFINIÇÃO DA VELHICE

Definir a velhice é algo complexo, nisso, tal condição passa a ser alvo de

várias tentativas de definições. Pela etimologia, velhice vem de velho, do Latim

vetus, “velho, idoso”, isto é, “com anos, entrando em idade”, e em termos estritos

entende-se como idoso aquele que tem “muita idade”.

Vargas (1983), define velhice como um processo no desenvolvimento do

indivíduo, no qual se acentua a diminuição da vitalidade e o aumento da

vulnerabilidade em relação a diferentes âmbitos da vida.

De acordo com Neri (2005), a velhice retrata a última fase do ciclo vital, e à

medida que esse ciclo se estende, o indivíduo pode ser tomado por limitações como

perdas psicomotoras, dificuldade em adaptar-se e afastamento social.

A Política Nacional do Idoso, Lei n. 8.842, art. 2º/1994, considera o idoso

como a pessoa maior de sessenta anos de idade.

Simone de Beauvoir 1 (1990), revela um olhar mais critico em relação as

classificações da velhice, ou seja, seu posicionamento demonstra sua perspectiva

existencialista, assim, a autora destaca que:

A velhice não é um fato estático; é o resultado e o prolongamento de um processo. Em que consiste este processo? Em outras palavras, o que é envelhecer? Esta ideia está ligada à ideia de mudança. Mas a vida do embrião, do recém-nascido, da criança, é uma mudança contínua. Caberia concluir daí, como fizeram alguns, que nossa existência é uma morte lenta? É evidente que não. Semelhante paradoxo desconhece a verdade essencial da vida: ela é um sistema instável no qual se perde e se reconquista o equilíbrio a cada

1Simone Lucie Ernestine Marie Bertrand de Beauvoir foi escritora, intelectual, filósofa existencialista,

ativista política, feminista e teórica social francesa. Escreveu diversas obras literárias, dentre elas tratou também sobre o tema do envelhecimento, no livro “A Velhice”.

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instante; a inércia é que é o sinônimo de morte. A lei da vida é mudar. (BEAUVOIR, 1990, p 17)

Segundo Zimerman (2000), a partir do nascimento, o ser humano está em

constante contato com muitas pessoas, e, na trajetória da vida, passam por diversos

grupos e desempenham papeis sociais em diferentes momentos. Esta experiência

faz com que a pessoa se sinta pertencente a algo ou alguém, e tem certa

importância ao desempenhar suas atividades. O desempenho de tais atividades e o

contato social pode auxiliar quanto ao reforço do sentimento de valor pessoal, o que

facilita a adaptação do idoso às suas perdas.

Pode-se dizer que a partir do exposto acima, surge a importância de

reconhecer no idoso o seu papel de mediador na vida social. A velhice reflete o que

está em cada um de nós e na imagem que concebemos (GUSMÃO, 2011).

É possível destacar alguns pontos centrais em relação ao envelhecimento,

que alternam entre positivos e negativos. Debert (1999) aponta alguns desses itens

importantes: a qualificação da velhice como sinônimo de pobreza e abandono; o

envelhecer associado à solidão e à marginalidade; a inclusão da velhice como

problema econômico quanto a fins previdenciários.

Conforme citada anteriormente, Beauvoir (1990, p. 15) faz a seguinte reflexão

em relação à velhice:

A velhice modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e com sua própria história. Por outro lado, o homem não vive nunca um estado natural; na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela sociedade a qual pertence.

Diante do exposto, pode-se dizer que as definições e representações do

conceito de velhice, ou velho, sofreram muitas mudanças ao passar do tempo.

“Enquanto o sentimento íntimo de juventude permanece vivo, é a verdade objetiva

da idade que aparece uma aparência, tem-se a impressão de estar usando uma

máscara emprestada” (BEAUVOIR, 1990, p. 363).

1.1 Senescência e Senilidade

Hoje em dia, a medicina tem diferenciado os tipos de envelhecimento que

seriam “senescência e a senilidade”. Senescência seria basicamente definida como

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o processo do envelhecimento de um indivíduo natural e saudável, sem qualquer

comprometimento na manutenção das suas necessidades no curso da vida como: a

alimentação, locomoção, higiene e o relacionamento interpessoal. Senilidade é o

processo do envelhecimento que se encontra associado a diversos processos

decorrentes a doenças crônicas como: hipertensão arterial, a diabetes, e os maus

hábitos de vida, podendo assim, gerar incapacidades funcionais, possíveis

insuficiência dos órgãos levando o idoso à morte.

De acordo com Beauvoir (1990, p.126-127):

O envelhecimento desenrola-se desde o início da vida e prossegue ao longo da existência. Há fases de latência, nas quais ele é praticamente imperceptível, e outras de maior aceleração e evidência. São três as fases de evolução mais acentuada. A primeira, lá pelos 25 anos. Acontece aí uma decadência mais rápida, nem sempre perceptível para o sujeito, e em seguida ela prossegue de maneira lenta e regular. Depois dos 55 anos, acelera-se novamente a senescência, com deterioração das capacidades. Então o sujeito percebe as perdas e começa a ficar inquieto. Anos mais tarde, em torno dos 75 anos, as perdas vitais se transformam no ritmo habitual, com diminuição de vigor, quebra do estado emocional, acentuado desinteresse da vida cotidiana.

Isso não significa que velhice é sinônimo de doença, não existindo assim

doenças que se caracterizem ao idoso, porém o ser em envelhecimento demonstra

compartilhar de um maior número de doenças incapacitantes a mais do que um

jovem, devendo-se de fato e com relativa frequência pertencerem a um grupo de

portadores de um ou mais processos crônicos. Porém um idoso portador de algum

tipo de doença, mesmo que muito debilitado, sabemos que sua progressão de

melhora, mesmo que lentos, são muitas vezes gradativos, e em geral são resultados

alertadores. Apesar de muitos idosos apresentarem más condições de saúde devido

a doenças, muitos outros envelhecem sem qualquer incapacidade ou limitação,

mantendo uma boa saúde. Visando uma prática de hábitos de vida saudáveis,

mantendo o bem-estar físico e mental, é fundamental para que cada vez mais as

pessoas envelheçam com qualidade de vida.

O envelhecimento ainda está ligado à deterioração do corpo, ao declínio e à incapacidade. “Na base da rejeição ou da exaltação acrítica da velhice, existe uma forte associação entre esse evento do

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ciclo vital com a morte, a doença, o afastamento e a dependência (NERI & FREIRE, 2000, p. 8)

Ao observar uma consideração no crescimento da população idosa, a

assistência ao idoso deve prezar por sua qualidade de vida, mesmo que venham as

perdas naturais do processo de envelhecimento, porem há possibilidades de

prevenção e manutenção se tratando de perdas fundamentais em qualquer fase da

vida do ser humano, se tratando de idosos, essas fases tornam-se evidentes.

É um desafio para profissionais implementar projetos dos quais idosos

participem, alcançando a reabilitação do estado de vida emocional do idoso no

processo de envelhecimento, contribuindo de tal forma que auxiliem em devidas

estratégias no fortalecimento do idoso com sua família de origem, fortalecendo esse

vínculo, percebendo um equilíbrio em relação a saúde e doença desse idoso, sendo

assim nessa busca de esforços contribuindo sempre de forma participativa nos

encontros, podemos contribuir para tornar-se possível ações para a promoção de

saúde desse idoso, construindo em seu estado emocional uma lição, afim de fazer

com que esse idoso perceba que nossa intenção é a de prevenir ou reconstruir

lições perdidas ao decorrer do tempo, utilizando das suas perdas praticas, para que

o estado emocional e afetivo desse idoso possa se fortalecer junto a sua saúde tanto

mental quanto física, o fazendo perceber que ele é importante.

1.2 Aspectos psicológicos do envelhecimento

É importante entender que o envelhecimento é uma nova etapa na vida do ser

que está em processo ativo nesta fase. Além disso, também é importante que haja

compreensão nestas mudanças do aspecto psicológico dos idosos, alterando a

forma de pensar dessas pessoas para que, então, sejam compreendidas.

Tratando-se de psicologia, ao verificar a fragilidade em que o idoso se

encontra, acaba-se por enfrentar obstáculos frente à sociedade. Sabemos que cada

ser tem seu modo de percorrer os próprios caminhos ou simplesmente não sabem

onde podem percorrer esse caminho. Também sabemos que as pessoas não

passam por diversas fases da vida sob a mesma forma, principalmente tratando-se

de envelhecimento, todas da mesma maneira, percebe-se que, sequer praticarão

todos das mesmas experiências. “A velhice se faz presente em todas as dimensões

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do ser. O organismo do homem idoso tem singularidades que lhe são próprias”.

(HERMÓGENES, 1996, p.77).

São vários fatores que poderão influenciar nesta fase do envelhecer, e

também o modo de como este mundo é percebido por cada idoso, tendo em vista

sua cultura e seu papel na sociedade do processo humano de envelhecer para a

independência e autonomia da pessoa idosa. Representando um desafio ao realizar

intervenções tanto para profissionais quanto pesquisadores nas áreas que

abrangem o público idoso. (BRASIL,1994)

Atualmente, estratégias são alcançadas para ter um envelhecimento ativo,

assim conquistas são planejadas e traçadas à medida que necessitam, não por uma

sobrecarga da sociedade para os que envelhecem, mas para garantir uma

longevidade representante de um curso de vida humano.

Etapas sucessivas compõem a vida humana, cada uma com suas características. Velhice não é apenas uma questão pessoal de desgaste físico. É, em certo sentido, o ponto mais alto da existência, embora, na linguagem mais frequente, seja comum falar de decadência ou declínio, como específicos da idade avançada. (BEAUVOIR, 1990, p.121-122)

Frente às demandas de novas estratégias de intervenções, em contribuição

vem à psicologia, com uma pesquisa voltada ao público idoso.

O interesse da psicologia sobre o envelhecer é recente, e o envelhecimento

não surgiu com a atualidade e modernidade, mas com esforço crescente à

acadêmicos e a própria sociedade que tem um olhar voltado ao público idoso,

observa-se também uma necessidade de verificação à correta manutenção de

funcionalidade a partir dessa população para uma escuta acerca das fases vividas

ao decorrer da vida, até a fase em que se encontram.

Tratando-se dos aspectos psicológicos de cada indivíduo, nem sempre sua

idade cronológica deve ser apurada, mas seu curso de vida, até mesmo por

estarmos diante de uma realidade nem sempre concreta ao dividir grupos de

pessoas pertencentes ao público idoso, tanto por se tratar de alguém aparentemente

jovem, quanto ser fisicamente jovem e saudável, seria interessante também propor

que pessoas da mesma idade, de configurações distintas pertencentes ao mesmo

grupo se propõem a participar da mesma pesquisa por exemplo, configurações

estas como a classe social, educação, nível de escolaridade, ambientes ao decorrer

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das fases do desenvolvimento. Ainda mais, como é o caso da pesquisa a ser

realizada compromete-se a relação familiar, perdas ou como é o caso apareçam

sintomas de diversos sentimentos como de solidão, tristeza, estresse, isolamento e

depressão, se tratando de aspectos psicológicos, ao dividir-se o grupo de idosos

escolhidos e realizar diferentes temas, o grupo imediatamente ficaria dividido

registrando uma diferença de níveis e configuração de várias fases da vida de cada

indivíduo.

O envelhecimento é um processo complexo, pluridimensional, revestido por aquisições individuais e coletivas, fenômenos inseparáveis e simultâneos. Por mais que o ato de envelhecer seja individual, o ser humano vive na esfera coletiva e como tal, sofre as influências da sociedade. A vida não é só biológica, ela é social e culturalmente construída, portanto pode-se dizer que os estágios da vida apresentam diferentes significados e duração (BRÊTAS, 2003, p. 298)

Contudo, o envelhecimento da população resultou no interesse de pesquisar

fatores capazes de amenizar a chance das populações experimentarem a velhice

como uma fase triste e depressiva, enfatizando-a como uma fase satisfatória no

curso de vida do idoso. Além disso, nas últimas décadas os avanços na qualidade

de vida da população mais velha são significativos, pois são enfrentados desafios,

como por exemplo, intervenções eficazes para prevenir e tratar as condições

patológicas do indivíduo.

Vários declínios psicológicos são observados e identificados em idosos, essas

alterações são de inúmeras ordens. Do ponto de vista comportamental, as

observações indicam que manifestam uma redução da capacidade de

processamento, uma dificuldade em selecionar as informações e uma diminuição em

tarefas cognitivas.

Em estudo realizado com idosos Freitas et. al (2006) diz que a doença traz

consigo um fator emocional de regressão, no sentido de acentuar sentimentos de

fragilidade, insegurança e dependência. O estado de doença acarreta algumas

repercussões psíquicas inevitáveis como, preocupações, angústias, medos,

alterações na autoimagem e algum nível de dependência.

Por essa necessidade do idoso em ser ouvido no processo de

envelhecimento, a psicologia será significativa na elaboração teórica e pratica da

dinâmica de regulação das perdas ao longo da vida do idoso.

Beauvoir (1990, p.129), termina dizendo que:

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É no corpo que aparecem as características mais evidentes do envelhecer. A senescência vai modificando também a conduta: os relacionamentos pessoais já não são os mesmos de períodos anteriores da vida, todo o afetivo e o emocional do sujeito têm outras feições e expressões, a presença entre os parentes, amigos e conhecidos tomam formas distintas, a própria história pessoal e até o sentido da existência passam a apresentar outros significados. A sociedade, por sua vez, reserva ao idoso novos lugares, papéis e status, dando-lhe um tratamento bem diverso do que lhe concedia nas etapas anteriores de sua vida.

2 RELAÇÕES SOCIAIS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

2.1 A importância da família para o idoso

Designa-se como família, o conjunto de indivíduos que possuem ancestrais

em comum ou que sejam ligados por laços afetivos. Assim, nesse âmbito familiar

pode existir parentesco consanguíneo ou não.

Na sociedade, a família representa um grupo social primário, no qual as

pessoas estão inseridas e, juntas, desenvolvem-se moralmente e materialmente

durante o tempo em que compartilham vivência e experiências umas com as outras.

De acordo com Gomes (2002, p. 20):

[...] família é um grupo de pessoas vivendo numa mesma estrutura hierarquizada que convive com a proposta de uma adjetiva duradoura incluindo uma relação de cuidados entre os adultos e deles para com as crianças e idosos que aparecem neste contexto.

Como lembra Zimerman (2000) a família está em constante transformação,

desenvolve-se com o passar do tempo, agregando e perdendo membros, além de

contar com o envelhecimento dos mesmos.

Segundo Leme (1996) o membro idoso integrado na família contribui de

diversas formas na estrutura familiar. Por se tratar de uma pessoa com idade

avançada, carrega consigo parte fundamental sobre a história e as gerações dos

constituintes da família. Sendo assim é fundamental para o idoso sentir-se útil dentro

das condições nas quais está inserido, visando a estabilidade do seu equilíbrio

psíquico como indivíduo.

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Ainda de acordo com Leme (1996) a velhice apresenta, entre outras

dificuldades, uma queda na capacidade de adaptação. Esta queda pode afetar o

idoso de forma mais profunda, sendo desde a perda dos entes queridos à situações

mais comuns e corriqueiras como mudanças de casas, de horários, entre outros

acontecimentos que entram em conflito com seus costumes.

De acordo com Cerveny e Berthoud (1997, p.118):

Na fase de maturidade, adultos, pais e filhos desenvolvem suas interações, organizam e desorganizam, integram e desintegram, constroem e desconstroem padrões, normas, regras, valores e crenças familiares. Preenchem as lacunas de seu desenvolvimento com fatos que se perpetuam intergeracionalmente, transmitidos pelas lealdades de vínculos, afetos e sangue.

Conforme Debert (1999) menciona: “O ideal de independência representado

pela recusa dos pais idosos em morar com os filhos, quando gozam de boa saúde,

vigora ha mais tempo do que geral se imagina.” Este dado é um fator comprovado,

boa parte dos idosos apesar de ser dependente de cuidados, prefere continuar

morando em sua casa e pagar por cuidados, do que ir morar na casa de seus filhos.

A convivência familiar implica em situações adversas, que podem ocasionar

conflitos entre os membros da família, acarretando alterações na rotina diária, o que

acaba por ocasionar o estresse.

Pode-se mencionar também que a interação familiar é essencial para o bem-

estar do idoso. A família tem posição de destaque em todas as fases da vida, mas

ela vai se alterando à medida que os membros envelhecem, essencialmente

relacionado aos papeis que serão exercidos pelos membros (ZIMERMAN,2000).

Na velhice há um processo de autoconhecimento, busca interior, o que gera o

desenvolvimento pessoal do idoso. Sua vida pode ter uma riqueza interior muito

maior do que quando era jovem. Sad, (2001) menciona que dessa maneira, é

possível chegar à plenitude, com pensamentos e modos diferentes de aproveitar o

viver.

Dessa forma é de extrema importância, que a família, por tratar-se de

pessoas mais intima e próxima ao idoso, contribua para que este assuma um papel

significante dentro do grupo familiar, respeitando suas individualidades e

necessidades. Com isto, a convivência entre os integrantes da família deve ser um

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centro de abertura para que a pessoa idosa consiga se realizar na busca do

equilíbrio e felicidade.

2.2 O Envelhecimento e a elaboração de perdas

É quase impossível encontrar algum ser humano, ao longo da história da

civilização, que não tenha vivido algum tipo de perda.

A perda de acordo com Ferreira (1986) pode ser compreendida como a

ausência de alguma coisa que se dispunha; da presença de alguém; falta, morte, a

perda de vidas ou material.

No transcurso da existência, todo ser humano, independente da longevidade

ou brevidade, vivencia eventos significativos saturados de elementos finais de

estado de vida, cuja dissolução de uma condição não resulta no óbito, mas em uma

nova condição social. O idoso particularmente passa pelo processo de perda da

aparência jovial, perda crescente de energia, alterações no humor e falha da

memória, problemas com linguagem entre outros. “O envelhecimento tem a marca

de perdas sucessivas que se acumulam ao longo da vida”. (FÄRBER, 2012, p.7)

2.3 Qualidade de vida na velhice

Falar em qualidade de vida significa entrar em um assunto atual e importante;

todavia, bastante polêmico e complexo. Discernir as condições que viabilizam

envelhecer bem, com boa qualidade de vida e senso pessoal de bem-estar é tarefa

de várias disciplinas no campo das ciências biológicas, da psicologia e das ciências

sociais.

Qualidade de vida é “a percepção que o indivíduo tem de sua posição na vida dentro do contexto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que incorpora de uma maneira complexa a saúde física de uma pessoa, seu estado psicológico, seu nível de dependência, suas relações sociais, suas crenças e sua relação com características proeminentes no ambiente” (OMS, 1994, p.1)

Os preceitos, atualmente, para a avaliação de qualidade de vida na velhice

fazem parte de múltiplas disciplinas científicas. Como aponta Negreiros (2007), a

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longevidade, saúde biológica e mental, competência social, produtividade, status

social e o relacionamento com a família e amigos são elementos que ajudam a

determinar ou indicar o bem-estar na velhice.

Ao envelhecer, é esperado que apareçam as doenças, perdas de papéis

ocupacionais e afetivas, podendo ocasionar angustias e ansiedades dependendo da

história pessoal e da disponibilidade de suporte afetivo de cada um. Partindo-se

desse princípio, entende-se que uma velhice satisfatória é amplamente medida pela

subjetividade, e correspondente ao sistema de valores que subsiste num período

histórico, determinado para uma dada unidade sociocultural (BALTES e

BALTES,1990 apud NERI, 1993).

É difícil definir um consenso exato para o termo qualidade de vida, pois a

mesma engloba aspectos subjetivos e objetivos de cada indivíduo.

Uma boa qualidade de vida na velhice não é atributo ou responsabilidade de indivíduos isolados, mas produto de uma adequada interação de fatores individuais e socioculturais, onde as oportunidades educacionais ao longo da vida tem um papel fundamental (DUARTE e DIOGO, 2000, p.46)

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CAPÍTULO II

MUNDO SURDO E A HISTORIOBIOGRAFIA

1 O QUE É O MUNDO SURDO

Bem sabemos o que é tecnicamente ouvir ou não (surdez) quando

abordamos as palavras através do Dicionário, no primeiro caso, ato de entender o

sentido da palavra, escutar pelo sentido da audição. Não ouvir segue na contramão

da escuta pela surdez daquele que não ouve ou que ouve mal. Ainda no mundo

técnico a surdez pode implicar naquilo que é secreto, esconso, tramado, maquinado

as ocultas. Alcançamos ainda nesse passeio pelo Aurélio, o insensível, impassível e

indiferente. Mas o mundo técnico pode reduzir, deixar escapar uma melhor

compreensão, fincar num lugar explicado e classificado, o que não abarcaria a ideia

da surdez nesse trabalho, pois não falamos apenas dela, surdez, mas do lugar onde

ela se manifesta, qual seja, o mundo, o mundo surdo, assim, segue considerarmos

primeiro de que mundo aqui falamos. (FERREIRA, 1986)

Para elucidar fenomenologicamente o "mundo" é de grande importância

elucidar o trabalho de Heidegger (2015) a partir de sua grande obra intitulada Ser e

Tempo que foca o "ser-no-mundo", ou seja, de o homem que se relaciona com as

coisas, com os outros e consigo mesmo, o mundo se estruturando, assim, a partir da

coexistência. Trata-se da perspectiva de um homem lançado no mundo tendo que

ser num sistema dialético e vivendo no coletivo, nesta relação o homem acaba por

se entregar nas correntes do cotidiano, tendo como tarefa fundamental o encontro

com aquilo que lhe é próprio e singular, a partir da angustia vivenciada na

inautenticidade do impessoal cotidiano, se distanciando do próprio ser, de sua

essência e reais potenciais, vivendo uma vida inautêntica. “Crescemos com os

outros falando de nós, sobre como somos e como poderíamos ser ou deixar de ser”

(CRITELLI, 2012, p.97)

O mundo-surdo de que falamos nesse trabalho se caracteriza sobremaneira

em um mundo vivido nessa impropriedade como escape da indeterminação, que

oferece respostas prontas cuja escuta se revela modelada por determinações (que

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se tornam o avesso da indeterminação) coletivas e impessoais, assim, escuta-se

sem compreender, sem amplitude, sem acolher o que se fala na singularidade desse

falar, ou seja, ouve-se o idoso, porém não escuta a pessoa-idosa. Ocupa-se, em tal

contexto, um campo existencial reduzido (CRITELLI, 2012) em que o horizonte de

possibilidades se torna velado, deixando obscurecida a liberdade e as possibilidade,

inclusive da própria finitude.

Dulce Critelli (2012) que sustenta as indagações desse estudo a partir de

sua discussão sobre a Historiografia, revela a importância da narrativa e da escuta

autentica num mundo que “não consegue nos abrigar e acolher como faz com os

elementos naturais.” (CRITELLI, 2007. p. 17). Um mundo inóspito segue dizendo a

mesma autora, mundo ocupado pela técnica, cuja demanda se mostra engessada

em determinações que orientam o viver, porém, no aprisionamento de tal condição

existencial (campo existencial reduzido). Heidegger chama isso de impropriedade,

mundo impessoal que, se não é uma desventura por se tratar de um modo de ser

ontológico do ser-aí, por certo se revela como lugar a ser percebido como

inautêntico diante da possibilidade de existir na autenticidade, ou seja, ser-próprio

em meio à impropriedade.

Assim, vivemos como se vive, escolhemos como todos escolhem, somos

professores como se é professor, alunos como se é aluno, enfim idosos como se é

um idoso. O idoso, personagem desse estudo, tem suas características

determinadas por conceitos de envelhecimento como vimos nos capítulos anteriores,

suas demandas revelam encaixes em tais conceitos. Quando se ouve a partir de tais

conceitos se distancia da singularidade e, visto a partir da impessoalidade, desenha-

se o distanciamento do olhar, com isso, o mundo se mostra em si mesmo e um

mundo assim é nada, é pura coisa segundo Critelli (2012).

Mundo-surdo esse que não ouve o singular, mundo surdo esse que parte do

mesmo lugar (impessoal), que não ouve histórias singulares, que se distancia da

narrativa, é “um mundo que não pode ser narrado (e por certo) não pode ser

habitado” (ARENDT, 1933 apud CRITELLI, 2012, p.33, grifo nosso).

1.1 Historiobiografia

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Dulce Critelli em seu livro História pessoal e sentido da vida utiliza o termo

historiobiografia fundamentada na filosofia, no método terapêutico-educativo e na

atividade do pensar que resulta compreensão.

A historiobiografia por sua vez é a construção de uma autobiografia alicerçada

no relato de experiências vividas pelo indivíduo. Através de seus atos e palavras, os

indivíduos vão construindo uma história pessoal, é na narrativa que a pessoa

recolhe a imagem do seu "eu", ressignificando sua existência, resgatando os

caminhos trilhados, projetos concluídos e interrompidos, os gestos, palavras e qual o

sentido que temos na vida. “Interessa à Historiobiografia a recuperação da história

da história pessoal através das narrativas [...]” (CRITELLI, 2012, p.101)

Os homens são ontológicos no fundo do seu ser, buscando sentido e

significado para tudo o que experimentamos e com que entramos em contato, é

nessa busca ontológica que o ser é capaz de encontrar explicações no cenário de

sua existência.

Critelli (2012, p.70) afirma:

[...] é o testemunho dos outros e sua memória que nos protegem de vagar pelo mundo como fantasmas. Desta forma, não é irrelevante que os idosos carecem contar aos outros a sua vida. Encontrando depositários para sua história e para sua existência. Eles se salvam para seus ouvintes e para si mesmos.

2 ATOS PALAVRAS E MUNDO

Podendo ser um pouco mais específicos, dizer que todo agir e falar de um

indivíduo seja ele jovem ou idoso, mais especificamente, em um mundo que pode ou

não ouvi-lo, são basicamente interpretações ou um conjunto de sentidos do

cotidiano, como crenças, verdades, anseios, projetos, princípios morais entre outros.

Estes são tratados como elementos que se ramificam ao decorrer das fases em que

o mesmo passa durante a vida, dando corpo as interpretações, e quando habitados

no mundo, é também ocupado especificamente a elas.

Atos e palavras, portanto, não tem seus significados dados apenas pela intenção do sujeito agente, mas da confluência dos outros, que lhe dão testemunho e também agem como seus colaboradores para a finalização do que começou. Atos e palavras dependem da sua revelação através do discurso para, inclusive, revelarem quem é seu

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agente e dependem do tempo, das ações subsequentes deflagradas e do seu encerramento. Atos e palavras são só atos e palavras e são significativos apenas na conformação de um conhecimento. (CRITELLI, 2012. p. 63).

Essa rede de relações significativas denominada de mundo, expressa-se,

nem sempre, coerente nas conversas que mantemos entre nós ou pelos objetos que

compõem nosso ambiente.

Interpretações ambientais para os atos e as palavras de acolhimento no aqui

e agora, dando o limite de seu significado. O testemunho de um idoso e também a

escuta que oferecemos para suas ações, retiram de suas interpretações às suas

lentes inflexíveis a partir do momento das quais são acolhidas.

Portanto, o mundo pode tornar-se surdo a medida que a teia de relações

humanas, na qual ele se apoia, e o mantém torna-se fragilizada, acabando por se

misturar. Quer dizer, a identidade dos indivíduos passa a ser controlada por outros

indivíduos, sejam eles membros da família do idoso ou cuidadores externos,

permeando com a teia da qual é membro e do mundo surdo que os constitui. Sendo

assim, essa teia de relações humanas passa a revelar o mundo surdo na qual o

articula, revelando que um indivíduo é de fato no aqui e agora. Um fenômeno que

passa a ser especulado e ouvido, podendo assim ser acolhido. “Só quando narrada,

essa história é capaz de revelar uma biografia” (CRITELLI, 2012, p.67)

É impossível subtrair um indivíduo de um emaranhado, chamado de vida

cotidiana. Em pouco tempo, passa a ser impossível assimilar o fato de que um

indivíduo, no qual controlava sua vida quando jovem, possa ter sua identidade, em

uma fase idosa, se encontrando no isolamento de tal trama. Essa trama de relações

que se apresenta e se posiciona como um sujeito que articula junto aos outros, e

que não seja frágil ao ponto de ser excluído de determinada trama como sendo um

indivíduo que perde sua possibilidade de pensar, falar e agir.

Nisso, é passível do nosso conhecimento que, como relatada por Critelli, a

identidade de um indivíduo está tramada, inexoravelmente, com as pessoas das

quais tem convívio e com o mundo no qual é habitante. Assim, seus costumes,

condicionamento, emoções e sensações são conjuntos que vem atuando e

transferindo o atrelamento a tal trama e ao mundo. Mundo este onde o indivíduo é

sua própria existência, em que esses indivíduos, por serem únicos, trazem o que há

de novo para seu mundo, este que é classificado em nossa presente pesquisa como

surdo ou não. Com isso, tudo o que é jogado nele, resulta de suas particularidades e

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próprios nexos, pelo qual é elaborado por sintaxes particulares que embora não são

tão independentes.

Pois, seria através de relatos e das histórias que se é organizado o seu

mundo em meio a este complexo de interpretações. Neste, pode-se realizar fazendo

um caminho pessoal na qual se inicia com o nosso nascimento e termina com nossa

morte. Entre o, ainda, oculto caminho, é por meio do nascimento e da morte que

construímos uma história que ao decorrer dos anos vai se revelando. Uma pergunta

que perdura desde a nossa existência: quem somos nós como seres neste mundo?

O que está espalhado e espelhado em nossas histórias? Diante a essas indagações,

pode-se dizer que a nossa pesquisa está atenuada a realizar o que se é narrado ao

oculto, porém não mais oculto por já ter se passado anos de vida, mas estar próximo

à morte, assim essa história passa a poder ser de fato uma biografia sobre cada

idoso.

Através dos relatos e das histórias, nos organizamos em meio a esse complexo de interpretações e nele sulcamos um caminho pessoal. Esse caminho começa com nosso nascimento e termina com nossa morte. Entre nascimento e morte construímos uma história que nos revela. Quem somos está espalhado e espelhado nessa história. Só quando narrada essa história é capaz de revelar uma biografia. (CRITELLI, 2012. p. 67)

2.1 Narrador de si mesmo

Critelli (2012, p. 37) menciona que: “mergulhados nos afazeres diários,

atendendo às urgências do cotidiano, desenvolvemos e fortalecemos nossa

condição de atores, mas ignoramos a possibilidade de sermos narradores de nosso

viver”.

Derivada do latim, narro, a palavra “narrador” é definida como aquele que

conta a história, que narra os fatos ocorridos.

Existem diversos tipos de narrador, dentre eles, pode-se citar o narrador em

primeira pessoa, que pode ser dito como o contador de sua autobiografia, àquele

que narra os fatos ocorridos em sua própria vida, ou seja, esse narrador é o

personagem, e narra a si mesmo.

De acordo com Critelli, para as outras pessoas, a narrativa sobre si mesmo é

beneficiada pelo fato de que mantém distância da ação por suas posições de

expectadores. Além disso, ainda é mencionado pela autora:

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Os outros, nossos expectadores, têm a vantagem de estarem instalados num lugar de onde é possível, digamos assim, olhar o panorama, ter uma visão mais abrangente de nossas ações no contexto em que elas ocorrem. Assim como o coro das tragédias gregas, os outros podem nos ver, localizar nossos atos, compreender as motivações e intenções daqueles que conosco contracenam e prever suas possíveis decorrências, consequências e fins.(CRITELLI 2012, p.37-38)

Nesse sentido, pode-se dizer que o homem só terá aprendido a narrar-se,a

partir do momento em que ele puder explicar às outras pessoas sobre seus feitos,

bem como as consequências de seus atos, o por quê e para que fez algo, e o

momento em que for capaz de comparar suas intenções com o resultado de suas

ações a até mesmo julgar seus atos e palavras.

Ser narrador de si mesmo é um processo de difícil aprendizado, tendo em

vista que, quem narra os fatos pode se iludir quanto ao que narra. Nisso, a autora

divide esse processo em cinco níveis, sendo que o primeiro nível é ser o autor de

seus próprios atos. O segundo, diz respeito a ser o expectador de si mesmo e de

suas ações. O terceiro está relacionado em como narrar a si mesmo. O quarto define

que a narração conduz o homem, ou seja, pode haver um julgamento de si mesmo

com base na observação e pensamento sobre as consequências dos atos sobre os

outros, incluindo o mundo em que se vive. O quinto, e último, refere-se ao

julgamento, ou seja, é aquele em que o homem promove sua existência, sendo este

um nível no qual a ética e a moral predominam, pois se leva em consideração o

pensamento sobre os outros que recebem nossos atos sendo ele bom ou mal.

É a construção de uma narrativa autobiográfica que nos prepara para o julgamento. Somente quando podemos julgar a nós mesmos e, então, escolher e dirigir nossas ações, é que ganhamos a condição de autoria de nossa existência. (CRITELLI 2012, p.39).

O homem é um nato contador de histórias. Essas histórias retratam o sentido

dos fatos da vida, em que muitas das vezes, parecem ser incoerentes ou até mesmo

casuais. Em relação a construção da história.

No extenso caminho entre nosso nascimento e nossa morte, acumulam-se nossos enfrentamentos dos fatos da vida – a construção de nossa história. [...] A narrativa [...] captura a personagem que temos sido, fomos e podemos ser. É a narrativa

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que descortina os fios de sentido que nos conduziram e motivaram e não os havíamos percebido. (CRITELLI 2012, p.39).

Em suma, narrar a si mesmo é ser autor de sua própria existência, descobrir a

biografia de sua própria vida, e também, aprender a ser expectador e compreender a

história que uma vida realiza.

2.2 A opinião sobre si mesmo

Critelli (2012) afirma que, a narrativa de uma história se baseia em um ponto

de vista no qual ela se torna possível.

A partir deste conceito, pode-se dizer que a narração de uma história é

denominada no início do ponto de vista do narrador ou também de outras pessoas.

A autopercepção é tarefa das mais difícies, embora não seja de todo impossível. Não temos, como os outros, nenhuma condição de olhar para nossos feitos e palavras desde a exteriodidade. Em contrapartida, observamo-nos pela perspectiva de nossos desejos, de nossos sentimentos e sensações, de nossos motivos e intenções. É nessa quase interioridade que se instaura a opinião que formamos sobre nós mesmos. Esse é um dos pontos de acesso que temos a nós mesmos, mas que é vedado aos outros, a menos que falemos deles e os revelemos. Apenas através de discursos os desejos e, sobretudo, os propósitos e as intenções podem se tornar visíveis para os outros. ( CRITELLI, 2012, p.73).

Cada homem tem uma perspectiva que o permite enxergar a si mesmo e

dirigir-se a sua própria existência. Para definir o eu, miramos a partir de uma opinião,

para então elaborar a opinião sobre si mesmo.

O modo em que encontramos a nós mesmos, e a maneira pela qual nos

vemos não está baseada somente em observação. Há uma complexidade que

envolve nosso modo de percepção.

Perceber a si mesmo é uma tarefa complexa, visto que ao analisar o próprio

eu, não temos a percepção do que os outros tem de nós mesmos. Observamos a

nós mesmos com base em nossos desejos, motivos e intenções.

Pelo fato de estarmos sempre andando por aí e participando de inúmeras situações, forjamos a impressão de que olhamos para nós mesmos, para os outros e para o mundo de múltiplos e diferentes ângulos, mas isso não é verdade. Entre todas as perspectivas, há

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sempre uma, mais perene que nos acompanha, dirige e organiza durante nosso viver [...].(CRITELLI, 2012, p.79)

A maneira como o homem age é adaptada pelo pensamento que ele tem de si

mesmo, que por consequência molda o próprio caráter, dirige sua fala e seus atos.

“Como agimos e em nome de que agimos, são questões sobre as quais nossas

opiniões decidem [...] com mão de ferro. O que chamamos de caráter não é algo

inato, mas adquirido como hábito [...]”. (CRITELLI, 2012, p.74). Assim, construí-se

uma espécie de identidade sobre a própria existência com base na opinião de si

mesmo.

Para Critelli (2012), cada homem tem uma opinião sobre si mesmo. Cada um

de nós está inserido em uma perspectiva que fornece uma lente que torna possível

enxergar a si mesmo e por conseguinte dirigir sua própria existência.

2.3 Memória e Promessa

Mesmo que não vistos desde a exterioridade como os outros veem, os idosos,

por terem mais experiência de vida, desenvolvem uma compreensão de si mesmos,

como em um autorretrato, na qual auxilia para uma visão mais aguçada sobre si e

para referir-se ao mundo. Com isso, apenas por serem quem realmente são, ou

seja, este autorretrato ajuda a ser quem eles são ou pretendem ser. Sendo assim,

esse fenômeno seria fundamentado a uma auto referência, ou seja, a consciência,

tendo uma melhor capacidade de percepção entre si e um ambiente.

Sabemos que os homens são dotados de consciência, e isso significa poder

se ver em si e também poder realizar um conhecimento de si mesmo como em

pensamentos, sentimentos, palavras e ações geradas tanto pelo ambiente como por

indivíduos deste meio.

A memória é um fato importante na existência humana. Pois através dela tudo o que foi se preserva. A memória é guardiã do passado, mas é também protetora do futuro. Todo projetar-se humano sobre o que ainda não é e pode ser depende da memória da própria projeção [...]. (CRITELLI, 2012, p.77)

Pode-se dizer que o ser humano é uma criatura viva e que sabe exatamente

ter discernimento sobre tudo o que se passa no ambiente em que se encontra,e até

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mesmo fora dele, sendo possível distinguir praticamente tudo o que se encontra no

mundo. Cada homem tem sua própria opinião formada, mas é a diversidade de

opiniões a respeito de algo, que afirma sua existência.

A perspectiva pode fornecer uma lente para enxergarmos a nós mesmos e

nos dirigirmos na existência durante nossa coexistência.

Ao andar pelo mundo em diversos ambientes, participando de inúmeras

situações, forjamos a impressão de estarmos olhando para nós, para o outro e para

o mundo de diversos lados, mas não se trata de verdade, o que pode nos manter

fortes em nossa opinião seja a reciprocidade, que passa a sustentar nossa

identidade e existência, claramente contida na história de vida de cada indivíduo.

Tais opiniões vão surgindo na modelagem cotidiana do nosso caráter e

acabam por se aflorarem, pois, esta, dirige nossos atos e palavras para agirmos, e

porque agimos, são questões sobre as quais nossas opiniões decidem ocultamente,

o caráter não é algo inato, sendo assim não nasce conosco, mas é adquirido como

um hábito recorrente às situações que passamos ao longo da vida.

O passado nos torna sólidos, oferecendo-nos uma identidade e caráter, mas

vivemos em nome do futuro, construindo fantasias e imaginamo-nos sendo de uma

ou de outra maneira amanhã. Ao nos projetar o futuro nós nos comprometemos com

diversas coisas como: casar, ter filhos, ser mais feliz, emagrecer, comprar um carro.

Como afirma Critelli p.79 “Essas promessas, no mais das vezes, são inconscientes

para nós, enquanto promessas. Mas são suficientemente ativas para nos encherem

de vergonha se não as cumprimos [...]”

As opiniões, no entanto, são apenas pontos de vista e de partida para o

conhecimento de tudo o que há e para o autoconhecimento. O que conhecemos de

nós mesmos (e o que os outros conhecem de nós) ganha sentido quando articulado

numa história. Só numa história o sentido das vivências se revela e adquire

plausibilidade. “A história (da história) é a amarração, é a arrumação das ocorrências

com um fio de sentido, no qual se abre o seu rumo, a sua direção” (CRITELLI, 2006,

apud CRITELLI, 2012, p. 75).

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CAPITULO III

MÉTODO

1 O MÉTODO

O projeto de pesquisa, registrado na plataforma Brasil, atendendo a resolução

466 e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do UniSalesiano, conforme o

parecer 2.128.393 em 20 de junho de 2017.

O ambiente ofereceu total sigilo e conforto aos participantes da pesquisa, em

uma sala, com a porta fechada, com uma mesa redonda ao centro e cadeiras em

volta. Ao final de cada encontro, os idosos desfrutaram de um café da manhã

acompanhados de bolo, biscoitos, café e chá.

O método utilizado para a pesquisa foi o de descrição da experiência vivida

em grupo. Foi proposto um encontro semanal com duração de, aproximadamente,

uma hora cada no decorrer de um mês, totalizando cinco encontros.

Foram convidados 12 participantes idosos. A escolha foi intencional, conforme

critérios estabelecidos: ter 60 anos ou mais; ser residente na área próxima à

Unidade Básica de Saúde, apresentar funções físicas, sensoriais e cognitivas que

possibilite responder aos instrumentos de pesquisa e ser voluntário. Todos os

participantes foram esclarecidos quanto ao anonimato (os idosos foram identificados

nas falas com as iniciais dos nomes) e tiveram acesso ao Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A) e a leitura da Carta de Informação ao

Participante (APÊNDICE B). Logo, os procedimentos de coleta somente foram

aplicados aos que concordaram com os termos da pesquisa.

1.1 A Narrativa como Fenômeno

A presente pesquisa tem como referência a abordagem fenomenológica,

resultando em um meio metodológico para investigar as vivências dos participantes,

e com ênfase na narrativa proposta por Dulce Critelli, que se fundamenta da

fenomenologia hermenêutica de Heidegger. Com Heidegger, seguimos como

postura teórica e filosófica a própria existência que se compreende na experiência

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vivida. A narrativa que considera a dimensão do mundo vivido, revela a possibilidade

de nos aproximarmos do outro sem que se perca o horizonte que é a existência

(DUTRA, 2002).

Por meio da narrativa, colocamos em prática diversas estruturas em ação

como a memória, a linguagem e a expressão. Seguindo as indicações de Heidegger

sobre a coexistência, a filósofa Critelli (2012) convoca cada existente a tornar-se

narrador de si mesmo. Ser narrador de si mesmo é conhecer-se, apropriando-se da

biografia que nasce na trama de narrativas próprias e dos outros com quem se

relaciona. Os outros são integrantes fundamentais da existência de cada um.

Segundo ela, numa narrativa pode-se rearranjar os eventos da vida para que se

possa lidar com os mesmos. A realidade pode tornar-se suportável a partir da

narrativa, assim, ao contar nossa história, podemos torná-las compreensíveis. Critelli

(2012, p. 33) cita Hannah Arendt quando a última afirma que “um mundo que não

pode ser narrado não pode ser habitado”.

Nesse sentido, o trabalho realizado, foi voltado, mais especificamente, pela

interação do grupo e nos sentimentos que surgiram ao entrar em contato com tais

fenômenos no decorrer dos encontros, priorizando o aqui e agora, dando-lhes a

oportunidade de expressar-se, de forma livre, a partir da narrativa, como afirma

Guimarães (2008, p. 73).

A fenomenologia não se interessa imediatamente pelos objetos ou pelos fatos, mas pelos sentidos que neles podem ser percebidos. Fenomenologia é o ato de perceber e descrever as essências ou sentidos dos objetos. Enquanto as ciências positivas buscam suas verdades nos fatos, a fenomenologia descreve essas verdades a partir da percepção das essências dos fatos, pois é nelas que os seus sentidos se revelam tais quais são.

Assim, é possível perceber que a narrativa propicia um ponto de vista

diferente ao passo de permitir que se reconstruam momentos já vividos. Nesse

contexto, buscamos proporcionar a livre expressão da narrativa e dos sentimentos

dos participantes, conforme destacam Silva; Lopes; Diniz (2008, p. 255):

O termo fenomenologia significa estudo dos fenômenos, daquilo que aparece à consciência, daquilo que é dado, buscando explorá-lo. A própria coisa que se percebe, em que se pensa, de que se fala, tanto sobre o laço que une o fenômeno com o ser de que é fenômeno, como sobre o laço que o une com o Eu para quem é fenômeno.

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1.2 Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada na Unidade Básica de Saúde “Dr. Adalberto

Ariano Crespo, situada no bairro Junqueira na cidade de Lins-SP.

A pesquisa contou com a participação de nove idosos, sendo oito do sexo

feminino e um do sexo masculino, os encontros foram realizados no mês de outubro

de 2017, totalizando cinco encontros.

A ferramenta para a coleta de dados foi proposta por temas norteadores, e a

partir deles, respeitar os fenômenos que se apresentaram na narrativa, ou seja,

acolhendo os caminhos que os discursos apresentam, sem direcioná-lo, dando-lhes

autenticidade.

O lugar do idoso como narrador privilegiado em uma comunidade repleta de memórias, palavras e práticas que podem ser socializadas e compartilhadas por todos. [...]A perda do lugar de narrador implica na nossa incapacidade de contar e recontar, de dar e receber conselhos, e de nos orientar durante a vida – orientação prática e plural. A narração se situa, desta forma, como um tipo de transmissão oral e comunitária. (DOMINGUES, 2014, p.557)

2 DESCRIÇÃO DOS ENCONTROS

2.1 Primeiro encontro

O primeiro contato com a Unidade Básica de Saúde e com os participantes,

deu-se no dia 04 de outubro de 2017, por volta das 09 horas, que foi acordado

mediante ao horário estabelecido por contato telefônico e convite impresso. Estavam

presentes três idosos, dos quais, duas eram mulheres e um homem entre 60 a 72

anos. Em seguida, os pesquisadores fizeram a leitura da Carta de Informação ao

Participante e do Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

As propostas deste encontro foram os temas família e perdas, possibilitando

aos idosos a narrativa livre, reflexão e interação grupal sobre os temas proposto.

Os pesquisadores propiciaram um tempo necessário para que os idosos

pudessem sanar suas dúvidas com relação aos objetivos e aos temas trabalhados.

Este encontro exigiu mais dedicação e atenção. A confiança, o respeito

mútuo, o acolhimento e o bem-estar experimentados são estimuladores da adesão,

do bom desenvolvimento do grupo e da continuidade das atividades. O passo

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seguinte é estabelecer o enquadre, permitindo que o trabalho se realizasse dentro

de certos limites, proporcionando segurança e funcionando como referência.

Explicou-se sobre as questões éticas na condução dos grupos, que incluem a

participação voluntária e informada, a confidencialidade, a segurança e a

tranquilidade, uma postura não invasiva, o respeito à diversidade e a não imposição

de valores. Deve-se informar sobre o sigilo, o compromisso com o grupo, o direito de

expressão de cada pessoa e o respeito a expressão dos outros participantes; deixou

claro que todas as contribuições e opiniões merecem respeito, mesmo que as

pessoas não concordem com o exposto; que nenhum participante precisasse impor

o que pensa e sente aos demais; que, quando um participante estiver falando, os

demais devem ouvi-lo com atenção até que ele termine de falar.

Possibilitando dar atenção aos seguintes participantes desta pesquisa, iremos

citar um caso por encontro, como segue:

O Sr. “A” foi feliz durante o percurso de vida, onde teve filhos com sua, até

então, esposa que se encontra também presente na sala. A Sra. “B”, casados a 47

anos, ambos moravam em um sítio, local na qual eram felizes, até que seu filho

enfrentou uma doença, onde o mesmo relata:

“Vish, lá moravam todos, e ‘nóis acordava’ cedo demais, naquele tempo era

bom demais, lá todo mundo tomava café cedo, almoçava cedo, jantava mais cedo

ainda e já ia “dormi”, mas depois que meu ‘fi’ morreu, eu vim pra cá porque vendi

meu sitio, estranhei tudo, tive que me acostumar com tudo”

“lá ‘nóis’ vivia bem”

Por fim, o encontro foi encerrado com um café da manhã para todos.

2.2 Segundo encontro

O segundo encontro com os participantes ocorreu no dia 10 de outubro de

2017, às 09 horas, como combinado com os participantes no encontro anterior.

Estavam presentes nove idosos, dos quais, oito eram mulheres e um homem, entre

60 a 72 anos. Os pesquisadores fizeram a leitura da Carta de Informação ao

Participante, do Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e apresentou aos novos

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participantes presentes sobre a estrutura estabelecida no primeiro encontro. A

proposta deste encontro foi o tema família, possibilitando aos idosos a narrativa livre,

reflexão e interação entre os participantes do grupo.

Neste encontro observamos o seguinte caso:

A Sra. “L” relata ter uma família muito abençoada atualmente, onde seus

filhos e netos estão sempre disponíveis a ela:

“Ah fia, meus filhos são muito bons comigo, minha filha nem se fale, é muito

boazinha, tem uns netos amorosos, vão sempre na minha casa, vira e mexe, eles

tão sempre lá”

“Adoro minha família”

Por fim, o encontro foi encerrado com um café da manhã para todos.

2.3 Terceiro encontro

O terceiro encontro ocorreu no dia 17 de outubro de 2017, às 09 horas, como

estabelecido nos encontros precedentes. Estavam presentes oito idosos, dos quais,

todos eram mulheres. A proposta deste encontro foi de continuar com o tema família

e iniciar com perdas.

Neste encontro veremos o seguinte caso:

A Sra. “L” relata que era feliz na infância e juventude porem sua mãe a

alertava do seu namorado, que não seria bom companheiro para ela a mesma

sofreu traição deste.

“Eu vou dizer uma besteira sabe, mas eu jamais toquei neste assunto depois

que minhas filhas nasceram...”

“Eu tive um marido, tive um filho com ele, e era feliz, era cabeleireira e tinha

um salão, uma jovem cliente foi vista pela minha irmã paquerando ele, e ele

correspondia, eu não acreditei na minha irmã, e nem fui atrás, mas um dia ele entrou

em casa, disse que ia sair, e nunca mais voltou, quando notei que o guarda-roupa

estava vazio, fiquei muito triste, e fui na casa da jovem, confirmei que ele estava lá”

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“foi minha maior alegria na juventude, mas minha maior decepção, ele deixou eu e

meu filho na rua, comíamos de favor, até que novamente fui surpreendida pela vida,

me dando até hoje um ótimo marido e pai”. Ela, então, finaliza: “sei que não é a

morte de ninguém, mas é uma coisa que me dói muito, e eu sofri muito”

Ao observar a possível redução dos participantes do grupo, no fim, os

pesquisadores reservaram um tempo para que os comentários, percepções e

emoções pudessem ser compartilhados.

2.4 Quarto encontro

O quarto encontro ocorreu no dia 20 de outubro de 2017, às 09 horas, como

estabelecido nos encontros anteriores. Estavam presentes cinco idosos, dos quais,

todos eram mulheres. A proposta deste encontro foi o de continuar com o tema

perdas, possibilitando uma narrativa livre dos participantes.

Neste encontro veremos o seguinte caso:

Sra. “V”, moradora de um barraco no fundo de uma casa, idosa esta que se

encontra muito deteriorada com o percurso do tempo, nos traz o seguinte relato:

“Óia, eu vou contar pra vocês a minha vida, eu fui dada quando criança, morei

igual cachorro no quintal de uma casa de família, onde eu era vestida com saco de

arroz, não tinha nem chinelo, usava garrafa pra não machucar meu pé, fuji pra não

ser vendida mas fui dada e casei cedo com um homem de 53 anos, eu tinha 15, fui

praticamente dada pra esse homem, que eu tinha nojo, ele me fez ‘senti’ que eu era

a pior mulher do mundo, comi o pão que o diabo amassou, tive filho com esse

homem, sofri, porque ele me espancava, judiava, maltratava, e não tinha ninguém

pra me ajudar, eu sofri muito, mas quando ele morreu, eu me libertei. Ele era casado

comigo e com outras 4”

“E hoje eu sofro porque tenho que viver pedindo, e meus netos nem ligam pra mim,

passam na porta de casa porque é caminho pra uma outra vó.”

“Ah fias ‘óia’, o que eu passei, não desejo pra ninguém viu, já catei lixo pra comer.

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No fim, os pesquisadores reservaram novamente um tempo para que os

comentários, percepções e emoções pudessem ser compartilhados.

2.5 Quinto encontro

O quinto encontro ocorreu no dia 24 de Outubro de 2017, às 09 horas, como

estabelecido nos encontros anteriores. Estavam presentes no local (UBS) três

idosos, porém, não puderam comparecer ao grupo em decorrência de uma das

integrantes, que não estava se sentindo bem após a caminhada, na qual elas

estavam participando anteriormente. Então, as outras participantes a

acompanharam até a sua casa. O objetivo deste encontro era o de revisar todos os

encontros, dando uma avaliação geral e finalizar com uma despedida do grupo.

Entretanto, pela falta de todos os pacientes, não foi possível realizar a. A avaliação

geral do grupo não foi afetada, tendo em vista que os pesquisadores coletavam ao

final de cada encontro uma revisão e a opinião dos participantes.

3 DISCUSSÃO E ANÁLISE

O homem é constituído de sentidos. Ele manifesta suas experiências

conforme a intensidade que ele lhe confere; faz escolhas e costura o sentido de sua

vida em cima dessas vivências e vai desenhando o percurso de sua história através

desses recortes, costurados e emoldurados ao seu modo-de-ser.

O homem atribui uma importância para o envelhecimento ao evoluir ou com o

passar dos anos, como muitos idosos falam. Por esse motivo, as transformações

visíveis devem fazer sentido para o ser nesta fase, já que precisam ser vistos como

sinais de sabedoria, enriquecimento e vivencia. Não sendo correto desprezá-las e

desvalorizá-las. Além de ser uma fase do qual todos esperamos, nem todos

chegamos, por meio de diversos acontecimentos.

A abordagem fenomenológica na condução do grupo nos permitiu participar

do entrelaçamento com o contexto no qual os participantes estavam imersos, pois é

a partir dele que os fenômenos deste grupo surgiram significativamente.

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Ao relacionar o livro de Dulce Critelli (2012) percebíamos envolvidos naquilo

que a autora revela como arrumar os fatos e transformá-los em compreensivos, mas

sobremaneira em acontecimento que se olha de novo e não outra vez, ou seja, um

novo olhar se põe como acontecimento. Alguns relatos dos idosos revelavam os

fatos vistos ou experimentados em um novo significado e, então, passem a existir,

Sra. “V”, ao narrar sobre sua vida parece ressignificar seu momento:

“Falando e relembrando sobre aquele lá (ex-marido) eu me lembro como meu

marido (atual marido) é “bão” pra mim hoje”.

Aos olhos descuidados pode parecer simples tal fala, mas não se trata tão

somente da fala, mas da relação que se estabelece entre o falar e o escutar. Não

houve intervenção, comparações ou mesmo explicações quanto ao que se falava,

havia o respeito pelo que se falava e, nesse contexto, se percebia a aceitação do

que se falava como condição singular.

Seguindo os passos da autora: um relato, ou comentário, sugere os passos

que uma pessoa pode dar diante de algum acontecimento, quando a Sra. “M.L” fala

sobre os problemas que tem com o filho:

“Se um dia eu precisar de alguma coisa eu vou pedir fia, eu não vou roubar

não, você lembra (se volta a outra participante que estava no grupo) quando eu

estava com fome e te encontrei na feira e te pedi uma banana, é isso que eu faço,

não tenho vergonha de pedir não”.

As narrativas surgiam espontaneamente nos encontros e nelas

vivenciávamos situações em que percebíamos que todo ser humano acumula uma

infinidade de relatos a respeito de si, que vai construindo e acumulando ao longo de

sua existência. E a Sra. “B” por vezes nos presenteava com suas narrativas:

“Vish... eu já vivi tanta coisa nessa minha vida, parece até mentira, já sofri, já fui

feliz, mas a gente tinha uma vida sofrida fia, se eu for contar tudo, a gente fica aqui

até amanhã”.

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Em sua narrativa, havia um amanhã com algo que estendia sua existência,

um contar de novo que parecia um viver de novo e não outra vez, pois havia novos

gostos, novas sensações, novas escutas. Há outras coisas para contar quando há

alguém que possa ouvir, ouvir sem restrições, sem delimitações.

Ao fazer o resumo final com os participantes foi possível certificar o conceito

em que Dulce Critelli (2012) defende: os homens precisam de algum esquema lógico

através do qual os fatos da vida possam ser articulados, com base no relato do Sr.

“A”:

“Ah! É muito “bão” vocês ouvir “nóis” n´w, essas coisas de veio, fica falando

de passado, o estudo “docêis” é importante fia”.

Percebemos que a escuta grupal para com esses idosos, não foi somente

significativa para eles, que inúmeras vezes demonstraram satisfação por serem

ouvidos e deixavam visível em suas expressões faciais. Percebíamos no trabalho e

experienciamos todo o desenvolver do grupo sem lançar expectativas, cuidando

para não acrescentar um saber teórico previamente determinado, por isso a cada

sessão o modo como se configurou o grupo dependia de quem estava presente

nele. A atmosfera compartilhada abriu condições para certos estados afetivos e

afastaram outros, permitiu que assuntos específicos pudessem emergir e não

outros. E desta forma, o clima que se constituiu tornou cada sessão peculiar

permitindo a nós e aos idosos-participantes vivenciar algo novo.

Irradia-se aqui, nossa reflexão de que é capaz sim, de realizar o que

cogitamos e sonhamos para que o trabalho seja significativo, contudo, devemos

estar disponíveis para acolher, os novos desafios e imprevistos que pudessem surgir

no caminho. De modo geral, a presente proposta trouxe a nós pesquisadores uma

sensação gratificante, pois, foi possível perceber o quão valioso o grupo e a escuta

fora importante para os idosos presentes.

Deve-se ter claro que esta monografia teve como objetivo retratar as fases do

envelhecimento, nesse tipo de proposta, o objetivo não é determinar qual

abordagem é mais apropriada para que o psicólogo use em condução de grupos ou

em outras formas de atendimento, e sim, de demonstrar a importância de se ouvir o

sujeito idoso com autenticidade, não apenas ouvir o idoso, mas o escutar de fato,

para que naquele momento saiba que o aqui e agora pertença a ele na singularidade

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de seu sentido para a vida. Oferecendo-lhe a oportunidade de refletir sobre suas

autobiografias e compreendê-las.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos pensar o processo vivido como a constituição de uma fina tessitura,

costuras e fios que se entrelaçaram para formar algo novo, um processo coletivo, no

qual cada sujeito pôde produzir as suas marcas nesta confecção tramada.

A partir dos elementos abarcados na realização prática e levantamento

teórico deste trabalho, é possível compreendermos que é importante o grupo de

escuta com idosos como uma forma de atuação profissional do psicólogo.

No decurso do trabalho com grupo de escuta ao idoso, posicionamo-nos

como ouvintes de suas narrativas, ilustrando a importância do compartilhamento da

experiência do envelhecimento, engajados a compreender o ser em sua totalidade.

De acordo com a afirmação de Bize e Vallier (1985, p.99-100)

A preparação para o envelhecimento deve ser uma atitude de vida que envolve a todos nós, individual e coletivamente, criando assim condições para melhor compreendermos essa etapa da vida. Podemos prevenir determinadas situações, mas, acima de tudo, devemos construir desde cedo meios e a consciência para o aumento de uma longevidade digna. A primeira e básica é a partilha de informações acerca dessa fase da vida.

Compreendemos que o ofício do psicólogo, ainda que possa ter diferentes

preceitos, estes percorrem pela experiência da compreensão do homem em suas

relações com os outros no mundo. Nosso trabalho nos permitiu ter a possibilidade

de adentrar em um espaço de revelação do modo de ser dos membros do grupo e

de explicitação dos sentidos que permeiam cada experiência relatada.

A medida que o fenômeno se mostra de modo perspectivo, este estudo

representa uma faceta ao olhar para a narrativa em grupo como um significativo

meio de resultar em uma qualidade de vida ao indivíduo idoso. Portanto, outras

perspectivas devem ser investigadas, a fim de somar e aprofundar os aspectos

levantados na presente investigação.

A guisa da conclusão é a recuperação da história da história pessoal por meio

das narrativas nas quais os indivíduos, plurais ou singulares, acondicionaram,

conservaram, resguardaram e projetaram sua existência pessoal e seu destino e na

qual escrevem o sentido da vida.

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APÊNDICES

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Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

(T.C.L.E)

Eu ......................................................................................................................... , portador do

RG n°. ............................................................, atualmente com ............. anos, residindo na

................................................................................................................................... , após leitura da

CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA PESQUISA, devidamente explicada pela

equipe de pesquisadores Loiany Stely Gonçalves, Lucas Kerbauy Cunha e Tassiane de Oliveira

Garcia, apresento meu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO em participar da pesquisa

proposta, e concordo com os procedimentos a serem realizados para alcançar os objetivos da pesquisa.

Concordo também com o uso científico e didático dos dados, preservando a minha identidade.

Fui informado sobre e tenho acesso a Resolução 466/2012 e, estou ciente de que todo trabalho

realizado torna-se informação confidencial guardada por força do sigilo profissional e que a qualquer

momento, posso solicitar a minha exclusão da pesquisa.

Ciente do conteúdo, assino o presente termo.

Lins-SP.......... de ............... de 2017.

.............................................................

Assinatura do Participante da Pesquisa

.............................................................

Aguinaldo José da Silva Gomes - Pesquisador Responsável

Endereço:Rua: Antônio do Espírito Santo,8-18

Telefone: (14) 32385796

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Apêndice B - Carta de Informação ao Participante da Pesquisa

Esta pesquisa é sobre “Do Mundo Surdo à Narrativa: a escuta qualificada no

trabalho com idosos a partir da perspectiva fenomenológica-existencial” e está

sendo desenvolvida pelos alunos Loiany Stely Gonçalves, Lucas Kerbauy Cunha e

Tassiane de Oliveira Garcia do curso de Psicologia do Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium – Lins –SP sob a orientação do Professor Aguinaldo José da Silva

Gomes.

Os objetivos do estudo são proporcionar a escuta qualificada aos participantes,

fortalecer as trocas dialógicas, e o compartilhamento de experiências e possibilitar que

o participante possa se perceber, nas suas necessidades e potencialidades. A

finalidade deste trabalho é contribuir para a ampliação do tema sobre a qualidade de

vida, no âmbito do processo de envelhecimento, benefícios no âmbito social e da

psicologia.

Solicitamos a sua colaboração para participar dos encontroas grupais que

acontecera uma vez por semana, durante 1 mês, totalizando cinco encontros, como

também sua autorização para apresentar os resultados deste estudo em eventos da

área de saúde e publicar em revista científica nacional e/ou internacional. Por ocasião

da publicação dos resultados, seu nome será mantido em sigilo absoluto. Informamos

que essa pesquisa oferecera riscos mínimos, pois a escuta será qualificada para que

os conteúdos apareçam naturalmente, através do relato da história de vida, caso surja

algum constrangimento será disponibilizado todos os recursos para a minimização do

danos, sendo encaminhado para o serviço de psicologia para a avaliação. Caso concorde com os termos e condições apresentadas, uma vez que os

dados obtidos serão utilizados para pesquisa e ensino (respeitando sempre sua

identidade), o senhor (a) deve assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e

esta Carta de Informação ao Participante da Pesquisa, ressaltando que o senhor (a)

tem total liberdade para solicitar sua exclusão da pesquisa a qualquer momento, sem

ônus ou prejuízo algum.

Por estarem entendidos, assinam o presente termo.

Lins SP, ___de _____ de 2017

_________________________________________

Aguinaldo José da Silva Gomes Pesquisador Responsável

Endereço: Rua: Antônio do Espírito Santo,8-18 Telefone: (14) 32385796

_________________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

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ANEXO

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ANEXO A – Aprovação do comitê de ética e pesquisa

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