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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP LUCIANA PINHEIRO FERREIRA DIETA E USO DO HÁBITAT DA ARARA-VERMELHA Ara chloropterus NO PANTANAL DE MATO GROSSO CAMPO GRANDE MS 2013

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

LUCIANA PINHEIRO FERREIRA

DIETA E USO DO HÁBITAT DA ARARA-VERMELHA Ara chloropterus NO

PANTANAL DE MATO GROSSO

CAMPO GRANDE – MS

2013

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LUCIANA PINHEIRO FERREIRA

DIETA E USO DO HÁBITAT DA ARARA-VERMELHA Ara chloropterus NO

PANTANAL DE MATO GROSSO

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós Graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da Universidade

Anhanguera-Uniderp, como parte dos

requisitos para a obtenção do título de

Mestre em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Orientação:

Profa. Dra. Neiva Maria Robaldo Guedes

Co-orientação:

Dr. Paulo de Tarso Zuquim Antas

CAMPO GRANDE – MS

2013

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Dedico aos meus pais Iarez e Ceila e aos meus irmãos Laura e Luis. Sem vocês esse trabalho não seria possível.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Iarez e Ceila, aos meus irmãos Laura e Luís

Fernando sem a dedicação e a percistencia deles em me ajudar nada seria

possível, por fazerem sempre o possível e o impossível para chegar até esse

objetivo, por não me deixarem desistir quando tudo parecia estar perdido, não

tenho nem palavras para expressar o amor de vocês.

Agradeço as minhas Tias Selma e Consuelo que me ajudaram de todas

as formas.

Sou grata à minha orientadora Profa. Dra. Neiva Guedes por tudo, por

também ser a principal pessoa que esteve em todos os momentos ruins e

bons, acreditando sempre em mim, onde não havia mais esperanças, foi minha

amiga, irmã, mãe, não deixou desistir de tudo, não tenho nem palavras para

dizer a grande gratidão que tenho por você.

A Família da minha orientadora por terem paciência nos momentos que

a professora esteve ausente para me ajudar

Agradeço ao Paulo Antas, pela oportunidade de estudar as araras pela

confiança, incentivo para que nunca desistisse de tudo, por acreditar em mim,

sem o senhor esse sonho também não seria possível.

Ao todo o pessoal da RPPN SESC Pantanal, pelo apoio logístico e por

permitir o desenvolvimento desta pesquisa em sua área.

Agradeço em especial a minha amiga Tatiana Colombo, pela amizade,

pela paciência, pelas valiosas contribuições, pelo seu tempo dedicado,

conselhos, puxões de orelha, mesmo de tão longe me deu forças para não

desistir.

A companhia dos colegas do mestrado Katiúcia, Karina, Roberto,

Leonel, Célia, Ana Claudia, pelas alegrias, preocupações, as caronas, e todos

os colegas que batalharam para o mesmo objetivo.

Aos grandes amigas e amigos que me incentivaram e auxiliaram de

diferentes formas: Maria do Carmo, Suzana Hirooka, Silvia Kataoka, Natally

Linhares, Adriana Oliveira, Tatiana Colombo, Ingrid Monteiro, Carol Felfili,

Cleide Arruda, Marcia Pascotto, Keila Nunes, Danielly Christine, Kesia Nobre,

Fernanda Tomborelli, Marcos Ferreira, Edison Rodrigues, Hosan Monteiro,

Rafaela Barros, Fernanda Fontoura, Iriz Hirooka, Rudi Laps, Luciana Pacheco.

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A todas as estagiárias da RPPN: Keila Nunes, Lorena Castilho, Jessiane

Mayara, Iriz Hirooka, Letícia Advincola que se tornaram amigos queridos,

pudemos compartilhar conhecimentos, a beleza e o encantamento do pantanal

e das araras.

A grande ajuda do Lucas Carrara com sugestões e os mapas.

A Larissa Tinoco, Emilia Alibio, Fernanda Fontoura ambas não mediram

esforços em me ajudar.

Agradeço a grande amiga Fernanda Fontoura pela grande amizade

conquistada, por estar por perto no momento difícil em não me deixar desistir

você também faz parte dessa conquista, obrigada por tudo

A Família da Fernanda Fontoura em especial a sua Mãe Tia Tânia pelo

carinho, amor e mãe, por me receberem em sua casa na etapa final, pela

palavra de Deus, sem palavras para dizer tamanha gratidão.

Ao Instituto Arara Azul e Projeto Arara Azul pela bolsa de estudos

concedida, através do mesmo conhecer o Pantanal Sul onde conheci pessoas

que talvez elas nem saibam que também foram importantes, Cezar Correa, Lia

Guedes, Grace Ferreira Obrigada.

Agradeço ao Prof. Dr. José Sabino, ao Prof. Dr. Rudi Laps por todas as

correções, sugestões e orientações durante este trabalho.

Agradeço todos os professores do Programa de Pós-graduação do

Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade

Anhanguera-Uniderp.

Agradeço a coordenação do Mestrado em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-Uniderp, pela

compreensão ao longo do mestrado e também a secretária Alinne Signorelli por

sempre atender prontamente minhas inúmeras solicitações ao longo deste

trabalho.

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“As dificuldades existem para serem vencidas.”

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Mapa de distribuição original da arara-vermelha Ara

chloropterus.......................................................................................................15

Figura 2. Localização da área de estudo da Reserva Particular do Patrimônio

Natural SESC Pantanal, município de Barão de Melgaço - Mato

Grosso...............................................................................................................30

Figura 3. Unidades de paisagem da RPPN SESC Pantanal ...........................33

Figura 4. Rádio - transmissor tipo mochila instalado no filhote de arara-

vermelha, mostrando o dorso e a parte ventral do corpo da ave......................35

Figura 5. Espécies vegetais consumidas por Ara chloropterus observadas em

184 visualizações na RPPN SESC Pantanal e seu entorno, entre 2006 e

2012...................................................................................................................38

Figura 6. Tipo de hábitat onde a Ara chloropterus foi observada em 447

visualizações na RPPN SESC Pantanal e seu entorno, entre 2006 e 2012.....39

Figura 7.Horário de atividade de Ara chloropterus na RPPN SESC Pantanal,

Mato Grosso, no período de 2006 a 2012.........................................................39

Figura 8. Horário de forrageamento de Ara chloropterus na RPPN SESC

Pantanal, Mato Grosso monitorado no período de 2006 a 2012.......................40

Figura 9. Tamanho dos grupos de Ara chloropterus observados (n=447) na

RPPN SESC Pantanal, Mato Grosso, no período de 2006-2012......................41

Figura 10. Mapa da RPPN SESC no Pantanal mostrando área de vida de

juvenil de Ara chloropterus nascido no ninho 54 e monitorado com rádio

transmissor tipo mochila, por 13 meses ...........................................................45

Figura 11. Mapa da ocupação e movimento das araras-vermelhas na RPPN

SESC Pantanal, Mato Grosso. Triângulo indica o registro de diferentes

comportamentos. Círculo o rastreamento do Juvenil com rádio........................46

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LISTA DE QUADROS E TABELA

Tabela 1. Número de meses, dias de observação no campo, avistamentos,

visualizações e taxa de avistamento de araras-vermelhas na RPPN SESC

Pantanal de Mato Grosso, durante sete anos...................................................36

Quadro 1. Espécies vegetais com respectivas famílias e item consumido que

foram registradas para dieta de Ara chloropterus na RPPN SESC Pantanal -

MT, no período de 2006 a 2012. .......................................................................37

Quadro 2. Distribuição temporal mensal dos itens utilizados por arara-vermelha

na RPPN SESC Pantanal, Mato Grosso...........................................................42

Quadro 3. Dados de dispersão do juvenil de Ara chloropterus do ninho (N) 54,

usando rádio transmissor tipo mochila monitorado na RPPN SESC Pantanal,

Mato Grosso......................................................................................................43

Quadro 4. Espécies vegetais, com respectivas Famílias, itens consumidos por

Arara-vermelha Ara chloropterus em trabalhos de campos realizados no Brasil

por vários autores..............................................................................................54

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SUMÁRIO

1 Introdução Geral ..........................................................................................10

2 Revisão de Literatura ..................................................................................13

2.1 Características gerais da família Psitacidae ..........................................13

2.2 Araras vermelhas Ara chloropterus ........................................................14

2.3 Telemetria ..................................................................................................18

2.4 Uso do hábitat ...........................................................................................19

3 Referências Bibliográficas ..........................................................................19

Artigo I..............................................................................................................26

Dieta e uso do habitat da arara-vermelha (Ara chloropterus) no Pantanal

de Mato Grosso................................................................................................26

Resumo ............................................................................................................26

Abstract ...........................................................................................................27

1 Introdução ....................................................................................................28

2 Material e Métodos .......................................................................................30

3 Resultados ....................................................................................................36

4 Discussão .....................................................................................................46

5 Conclusão .....................................................................................................49

6 Referências Bibliográficas ..........................................................................49

7 Conclusão Geral ..........................................................................................53

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1 Introdução Geral

A Família Psittacidae é distribuída em todo o mundo, sendo constituída

por 332 espécies (DEL HOYO et al., 1997; COLLAR, 1997). O Brasil destaca-

se como o país com maior riqueza de psitacídeos, com 85 espécies listadas

pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2011), e por este

motivo nosso país já foi chamado de “Terra dos Papagaios” nos primeiros anos

pós-descobrimento (SICK, 1997).

Algumas espécies de psitacídeos apresentam distribuição bem restrita,

como é o caso de Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) na caatinga do

estado da Bahia, e outras apresentam ampla distribuição, ocorrendo em grande

parte do país, como Arara-vermelha- grande (Ara chloropterus) e Papagaio-do-

mangue (Amazona amazonica) (SICK, 1997).

Nesse grupo há grande heterogeneidade em relação ao tamanho das

espécies, podendo variar de 13 a 98 cm de comprimento total, com peso em

média de 1050 a 1400 gramas, sendo a maioria das espécies socialmente

monogâmicas (SICK, 1997). O período reprodutivo varia de acordo com a

espécie, podendo ter influência das limitações genéticas, determinadas ao

longo da sua evolução impostas pelo ambiente, pelas condições climáticas,

números de sítios reprodutivos e quantidade de alimento disponível na região

(BIANCHI, 1998; GUEDES, 2003).

Araras ampliam cavidades pré-existentes, formadas a partir da quebra

de galhos de árvore vivas, ação de pica-paus, insetos (especialmente cupins),

fungos em árvores e palmeiras mortas (GUEDES, 1993a; GUEDES et al., 2006

e ANTAS et al., 2010), nidificando nessas cavidades. Porém, algumas espécies

Aratinga-da-patagonia (Cyanoliseus patagonicus) e outros psitacídeos com

nidificação em paredes rochosas como Arara-vermelha-grande (Ara

chloropterus), Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) e Arara-azul-de-lear

(Anodorhynchus leari) (GUEDES e HARPER, 1995). O número de ovos varia

de um a cinco dependendo da espécie e o período de incubação pode variar de

28-30 dias (espécies maiores) até 18 dias (espécies menores) (FORSHAW e

COOPER, 1989; COLLAR, 1997; SICK, 1997; ANTAS et al., 2010). O casal

divide as tarefas de cuidado com os filhotes, macho e fêmea ficando nas

proximidades do ninho (GUEDES, 1993a; GUEDES, 2011).

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Diversas são as ameaças aos psitacídeos dentre as principais

destacam-se a perda de hábitat, declínio de sua população devido à caça,

coleta de ovos e filhotes, desmatamento, a falta de uma fiscalização efetiva e

de uma política educacional (JUNIPER e PARR, 1998; SNYDER et al., 2000;

GUEDES e VICENTE, 2012), resultando que para todo globo terrestre 74

espécies de psitacídeos ameaçados de extinção em diferentes

graus(BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2011).

No Brasil, foram extintas as espécies arara-azul-pequena

(Anodorhynchus glaucus) depois da chegada dos europeus, ararinha-azul

(Cyanopsitta spixii) no ano 2000 e periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus)

encontra-se criticamente em perigo de extinção. Oito espécies estão

ameaçadas, cinco são vulneráveis e oito quase ameaçadas (BIRDLIFE

INTERNATIONAL, 2011; CBRO, 2011). Dentre as demais, 53 estão em risco e

estão perdendo seus hábitats por perturbações humanas (FORSHAW, 1989;

COLLAR, 1997; BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2011; GUEDES, 2012).

A arara-vermelha-grande (Ara chloropterus) mede cerca de 90 cm e

pesa entre 1250 e 1700 gramas, possui plumagem vermelha em quase todo o

corpo, as asas são azul escuro, com uma faixa esverdeada e as penas

vermelhas da longa cauda terminam em uma ponta azul. A face é branca, com

linhas de penas pequenas e vermelhas na região perioftálmica (ao redor dos

olhos), sua maxila é córnea com base e ponta pretas e mandíbula preta

(ANTAS, 2004; GUEDES, 2012). Sua dieta é constituída por sementes, frutos,

polpa, endosperma, arilo, folhas e nozes.

A distribuição de Ara chloropterus é estimada em 8.100.00 km²

(BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2011), sobrepondo parcialmente à área de

várias outras espécies de araras, incluindo Ara ararauna, Ara macao e

Anodorhynchus hyacinthinus (FORSHAW, 1989; ABRAMSON et al., 1995;

COLLAR, 1997), mas o tamanho da sua população global ainda é

desconhecido.

No Mato Grosso do Sul a espécie está se expandindo (GUEDES, 2012).

Desde 1999, bandos de araras-vermelhas, juntamente com araras-canindé são

monitoradas colonizando do interior para Campo Grande. Um grupo se

estabeleceu na Capital e outro recoloniza a divisa dos estados de Mato Grosso

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do Sul com São Paulo e Paraná (SCHERER-NETO e TERTO, 2011; GUEDES,

2012).

Embora a arara-vermelha seja uma espécie atraente e bastante utilizada

como animal de estimação em cativeiro, informações sobre sua história de

vida, biologia reprodutiva, comportamento e ecologia são escassos (GUEDES,

1993b; DEL HOYO et al., 1997; SICK, 1997; ANTAS et al., 2010).

No Brasil, desde 1991 o Projeto Arara Azul tem por objetivo principal

estudar Anodorhynchus hyacinthinus, porém também realiza estudos com A.

chloropterus na região do Pantanal no Mato Grosso do Sul (GUEDES, 1993b,

2003, 2011, 2012).

No Pantanal de Mato Grosso na RPPN SESC Pantanal, o projeto

Ecologia e Biologia Básica das Espécies de Araras realizam estudo com a

arara-vermelha desde 2001 (ANTAS et al., 2010).

No Peru, houve o monitoramento de ninhos naturais e instalação de

ninhos artificiais para A. ararauna, A. chloropterus e A. macao na Reserva da

Biosfera em Manu (NYCANDER et al., 1995).

Por outro lado, estudo de dieta e uso de habitat é importante no

entendimento da ecologia e comportamento das espécies além de bons

indicadores das condições do ambiente. Estudos que analisem o uso de hábitat

da espécie são extremamente relevantes e auxiliam nas futuras estratégias de

conservação e manejo (DUCA, 2007).

O objetivo do trabalho foi obter dados sobre o hábito alimentar da Ara

chloropterus, uso do hábitat da espécie na Reserva Particular do Patrimônio

Natural SESC Pantanal e seu entorno, no Pantanal de Mato Grosso.

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2 Revisão de literatura

2.1 Características gerais da família Psittacidae

As aves da família Psittacidae apresentam cabeça grande oval e larga

com o pescoço curto; possuem o bico forte, arredondado e com a parte

superior curvada abruptamente para baixo; tarso curto e os pés apresentam

dedos em disposição zigodáctila (ou seja, têm dois dedos voltados para frente

e dois para trás), permitindo também que a ave se desloque facilmente pelos

galhos das árvores; a língua é grossa e preênsil. Possuem plumagem colorida,

com predomínio do verde nos representantes brasileiros (FORSHAW, 1989;

COLLAR, 1997; SICK, 1997).

Os representantes dessa família são os papagaios, araras, periquitos,

maracanãs e afins, sendo consideradas as aves mais inteligentes do mundo.

Normalmente voam em bandos e na época da reprodução são vistas em

bandos menores ou aos pares. Para dormir, reúnem-se em áreas denominadas

dormitórios. Quando se sentem ameaçadas ficam estacionárias, geralmente

camufladas na vegetação e com os olhos fixos no perigo que supõe existir

(SICK, 1997).

A família Psittacidae é um dos grupos mais ameaçados do mundo, com

83 gêneros, 332 espécies, sendo que 26% das 86 espécies são consideradas

ameaçadas de extinção (IUCN, 2011). Das 85 espécies encontradas no Brasil

(CBRO, 2011), dezesseis estão incluídas na Lista das Espécies da Fauna

Brasileira Ameaçada de Extinção (MACHADO et al., 2008). Vivem aqui seus

maiores representantes, as araras.

Uma diversidade de fatores contribui para o declínio das espécies de

psitacídeos sendo a perda do hábitat e a captura para abastecer o mercado

ilegal de animais silvestres os principais fatores que contribuem para os

elevados níveis de ameaça que incidem sobre essa família (COLLAR e

JUNIPER, 1992; JUNIPER e PARR, 1998; SNYDER et al., 2000; WRIGHT et

al., 2001; GUEDES, 2011).

Entre os psitacídeos mais ameaçados destacam-se as araras, por

possuírem porte e colorido exuberante que despertam a atenção desde os

primeiros contatos. O uso de suas penas na arte plumária indígena é um

testemunho do interesse ancestral do homem por esse grupo de aves, sendo

caçadas por sua carne, penas e coletas de ovos desde o povoamento do

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continente. Filhotes ou adultos machucados em caçadas eram mantidos vivos

em cativeiro pelos grupos indígenas. (JUNIPER e PARR, 1998; SNYDER et al.,

2000; ANTAS et al., 2010; GUEDES, 2011).

Após o descobrimento do Brasil há quase cinco séculos todas as

espécies de araras estavam entre as espécies da fauna cujo principal interesse

era o de comercialização, sendo valorizada dentro do país ou exportado

(ANTAS et al., 2010). As grandes pressões ambientais e o comércio de aves

vivas nesse período, ambos especialmente acelerados ao longo do século XX,

causaram uma imensa redução da presença das araras na natureza. SICK

(1997) comenta que um único comerciante da Alemanha Ocidental tinha 200

araras-azuis (Anodorhynchus hyacinthinus), todas provenientes do Brasil.

Outras causas que favoreceram esse declínio foram à perda do hábitat,

a endogamia, o tamanho populacional reduzido, a destruição das espécies de

árvores utilizadas para ninho (GUEDES, 1993a; JUNIPER e PARR, 1998;

SNYDER et al., 2000; GALETTI et al., 2002; GUEDES, 2011).Tornando-se

urgente a sua proteção na natureza, bem como o estabelecimento de

programas de reprodução em cativeiro (SICK, 1997).

2.2 Araras-vermelhas Ara chloropterus

O gênero Ara inclui as araras grandes e coloridas, de caudas afiladas

muito longas e pele nua na face. As vozes são potentes e ressoam à grande

distância (GWYNNE et al.,2010). A espécie Ara chloropterus (G. R. Gray, 1859;

Ara: forte, chloro: verde, ptera: asa) conhecida como arara-vermelha-grande,

mede cerca de 93 cm e pesa entre 1250 e 1700 gramas (SICK,1997; GUEDES,

2012).Possui plumagem vermelha com penas da asa verdes e azuis e penas

superiores da cauda azuis. A face branca possui linhas de penas pequenas e

vermelhas na frente dos olhos. Bico é branco na parte de baixo (ABRAMSON

et al., 1995; FORSHAW, 1989; ANTAS, 2004; GUEDES et al., 2006; GUEDES,

2012).

Habita floresta de baixada úmida, mas também penetra em florestas

decíduas tropicais, matas de galerias, em savanas (GWYNNE et al.,2010). A

Ara chloropterus possui ampla distribuição geográfica, ocorrendo desde o leste

do Panamá, Colômbia, Suriname, Venezuela, Guianas, Brasil, Paraguai, leste e

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oeste do Equador, leste do Peru e noroeste da Bolívia até o Norte da Argentina

(ABRAMSON et al., 1995; COLLAR, 1997; SICK, 1997).

No Brasil era frequente no sudeste, tendo ocupado a Mata Atlântica até

a década de 1980, quando ainda era observada no sul da Bahia, Espírito Santo

e Paraná (ANTAS, 2004; STRAUBE, 2010; SCHERER-NETO e TERTO, 2011).

Atualmente ocorre em toda a região Norte, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,

Piauí, Tocantins, Maranhão, Minas Gerais e ainda no Pontal de

Paranapanema, nesta última região, situada no extremo oeste de São Paulo, é

considerada criticamente ameaçada de extinção (FORSHAW, 1989;

ABRAMSON et al., 1995; COLLAR, 1997; GUEDES, 2012) (Figura 1).

Figura 1. Mapa de distribuição original da arara-vermelha Ara chloropterus

(linha tracejada preta). Fonte: OLIVEIRA-MARQUES (2010) Modificado de:

COLLAR (1997).

No Pantanal do Mato Grosso do Sul vive em florestas, cordilheiras,

cerrados, capões, cerradões e mata semi-úmidas (GUEDES, 2003; GUEDES

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et al., 2006; GUEDES, 2012). No Pantanal de Mato Grosso vive no Cerradão,

Cerrado, Mata Ciliar do Rio Cuiabá, Campo com Murundus, Mata Ciliar do Rio

São Lourenço, Mata Seca (ANTAS, 2004). Em Jardim-MS, no local conhecido

como “Buraco das Araras” formam bandos e concentrações maiores, onde

dormem e se reproduzem (GUEDES, 2012). Na cidade de Campo Grande-MS,

as araras-vermelhas se adaptaram à movimentação das pessoas e ao trânsito.

Nesta cidade utilizam buritizais ao longo dos cursos d’água para dormitório e

alimentação (GUEDES, 2012).

As araras-vermelhas-grandes (Ara chloropterus) normalmente são

observadas em associações, formando grupos familiares de quatro a doze

indivíduos, raramente formando bandos tão grandes como Arara-azul

(Anodorhynchus hyacinthinus), Arara-canga (Ara macao) ou Canindé (Ara

ararauna) (GUEDES, 2012). No Pantanal de Barão de Melgaço - MT vivem em

casais ou solitárias (ANTAS, 2004).

A alimentação de A. chloropterus é variada, utilizando frutos,

endosperma, arilo, cocos, folhas, flores e brotos novos de folhagem (SICK,

1997; DEL HOYO et al.,1997). Na região noroeste do Paraná A. chloropterus

foi observada consumindo frutos de árvores exóticas como sete copas

(Terminalia catapa), mangueira (Mangifera indica) e cinamomo (Melia

azedarach), sendo este último considerado o mais importante na sua dieta na

região (SCHERER-NETO e TERTO, 2011). Têm-se registros nessa região o

consumo de cocos em duas espécies de palmeiras a bocaiúva (Acrocomia

aculeata) e o jerivá (Syagrus romanzoffiana) (SCHERER-NETO e TERTO,

2011).

No Mato Grosso do Sul as araras-vermelhas possuem uma dieta

variada, pois foi observado o consumo de jerivá (Syagrus romanzoffiana),

jatobá (Hymenaea sp), ingá (Inga uruguensis), tamarindo (Tamarindus indica),

sete copas (Terminalia catapa), manga (Mangifera indica), bocaiúva (Acromia

aculeta), castanha-do-pará (Bertholletia excelsea), jacarandá (Jacaranda

cuspidifolia), virola (Virola sp) e acuri (Scheelea phalerata) entre outros

(GUEDES, 2012).

Vários autores têm relatado em seus trabalhos as observações de

araras-vermelhas consumindo principalmente sementes, além de consumo de

brotos, folhas, flores néctar, polpa e látex (ROTH, 1984; PITTER e

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CHRISTIANSEN, 1995; RENTON, 2001; TUBELIS, 2006; VAUGHAN et al.,

2006; CONTRERAS-GONZÁLEZ et al., 2009; SCHERER-NETO e TERTO

2011; NUNES; SANTOS JR, 2011).

No Pantanal, as araras-vermelhas fazem seus ninhos em ocos de árvore

utilizando muitas vezes os mesmos ninhos das araras-azuis, disputando no

mesmo período reprodutivo ou intercalando a reprodução (GUEDES 1993a).

No Pantanal de Mato grosso foi observado à disputa de ninho de arara-

vermelha (Ara chloropterus) e Gavião-relógio (Micrastur semitorquatus)

(CARRARA et al., 2007).

Locais como Serra das Araras, no Rio de Janeiro e Araraquara, em São

Paulo foram denominações originadas pela sua presença. Na região do Mato

Grosso ocorre outra espécie de arara-vermelha, a Arara-canga (Ara macao), a

qual ocorre na região de Floresta Amazônica e que é parecida com a Ara

chloropterus (SICK, 1997; ANTAS, 2004).

GUEDES et al. (2006), em trabalhos de conservação das araras-

vermelhas (Ara chloropterus) e araras-azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) no

Pantanal Sul Matogrossense, analisaram as distribuições de ninhos naturais e

artificiais por meio do Sistema de Informações Geográficas (SIG) aplicado aos

dados coletados pelo projeto em 13 anos. Foram analisados 317 ninhos

naturais, sendo que 246 foram utilizados apenas pelas araras-azuis 12 pelas

araras-vermelhas e 59 ninhos foram utilizados, alternadamente, pelas duas

espécies. Os resultados mostraram que as araras-azuis não têm preferência

por um ambiente específico, mas tem preferência por uma espécie arbórea, o

manduvi (Sterculia apetala), para construção do ninho. Ao contrário das araras-

azuis, as araras-vermelhas utilizaram ninhos mais camuflados na vegetação,

no interior de matas (cordilheiras e capões) e se mostraram mais discretas no

sitio de nidificação.

No Pantanal de Mato Grosso, na Reserva Particular do Patrimônio

Natural (RPPN) - SESC desde 2001 vem sendo realizado um trabalho com as

três espécies de araras: Arara-canindé (Ara ararauna), Arara-azul

(Anodorhynchus hyacinthinus) e Arara-vermelha (Ara chloropterus), o objetivo

deste trabalho foi analisar a distribuição espacial das espécies na reserva

durante o ano todo, verificar o cuidado parental, avaliar o uso dos recursos

alimentares, monitorar e mapear o raio de ação e uso de recursos na RPPN e

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18

no entorno através da instalação de rádios transmissores em araras-azuis e

araras vermelhas (ANTAS et al., 2010).

2.3 Telemetria

Através da rádio telemetria se obtêm informações virtualmente

impossíveis de se conseguir por outros meios, pela limitação das demais

técnicas disponíveis (WHITE e GARROT, 1990).

O primeiro trabalho a utilizar rádio transmissor em grandes araras foi

realizado pelo Projeto Arara Azul no Pantanal de Mato Grosso do Sul, realizado

em 1995 no Pantanal de Nhecolândia (GUEDES, 1996; POZZA et al., 1998)

com juvenil de Anodorhynchus hyacinthinus. Foi possível observar locais de

dormida, horário de alimentação, horário de descanso, área de uso habitual,

deslocamentos e relacionamento interespecífico ativo com outras espécies de

aves. Posteriormente, no Pantanal de Miranda estudou-se o movimento de

dispersão de juvenis de arara-azul com instalação de rádio colar em 14

indivíduos no momento em que deixavam o ninho (SEIXAS e GUEDES, 2002).

Ainda no Pantanal de Mato Grosso do Sul, a rádio telemetria foi testada

no programa de repovoamento de papagaios verdadeiros, que tinha como

objetivo fornecer dados para determinar sucesso ou fracasso do programa de

repovoamento. O monitoramento trouxe resultados de custos do programa de

repovoamento e o rádio usado foi de o tipo colar (SEIXAS e MOURÃO, 2000;

SEIXAS e GUEDES, 2002).

No Pantanal de Mato Grosso na RPPN SESC Pantanal as araras-azuis,

tiveram duas formas de colocação do rádio transmissor. No início receberam

rádios transmissores juvenis prestes a abandonar o ninho tendo os rádios

instalados na base das retrizes maiores das penas da cauda, as retrizes

centrais. Posteriormente esse modelo foi substituído pela forma de mochila

com o rádio fixo às costas, semelhante ao utilizado para o tuiuiú (Jabiru

mycteria) (ANTAS e NASCIMENTO, 1996; ANTAS et al., 2010). E de forma

pioneira as araras-azuis adultas também receberam rádios transmissores.

(ANTAS et al., 2010).

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19

2.4 Uso do hábitat

A maioria dos animais não apresenta uma distribuição uniforme na

natureza. Frequentemente usam os habitats através de uma combinação de

fatores como história de vida, disponibilidade de recursos, habilidade de

dispersão e risco de predação, entre outros (CARNEIRO et al., 2012). Este

autor comenta que os padrões de uso de habitat geralmente são influenciados

por processos ecológicos que ocorrem em diferentes escalas espaciais.

Idealmente, o caminho mais efetivo para conservação de uma

população animal é a proteção do habitat do qual a espécie é dependente.

Entretanto para ser efetivo é preciso conservar o ambiente requerido em todos

os ciclos de vida. Por exemplo, a sobrevivência e dispersão de juvenis podem

ter um efeito importante na dinâmica de uma população, mas poucos estudos

são realizados nesta fase de vida das aves (CARNEIRO et al., 2012).

Trabalhos que examinaram o uso do habitat por aves juvenis durante o período

de abandono do ninho, sugerem que o uso do habitat é também influenciado

pela oferta de alimento e condições de forrageamento (SEIXAS e GUEDES,

2002, ANTAS et al.,2010). Este trabalho tem a intenção de aprofundar os

conhecimentos sobre os itens alimentares, tamanho e uso do habitat de juvenis

de arara- vermelha ao deixar o ninho.

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Artigo I

Dieta e uso do habitat e área de vida da arara-vermelha (Ara chloropterus)

no Pantanal de Mato Grosso

Luciana Pinheiro Ferreira

Resumo

Arara-vermelha (Ara chloropterus) é uma espécie com ampla distribuição,

ocorrendo desde o Panamá até noroeste da Bolívia. Não se sabe o tamanho

atual da população na natureza, mas por perda, fragmentação ou supressão do

hábitat tem tamanho populacional reduzido ou até mesmo, extinção local. Por

outro lado, grupos de araras-vermelhas tem se adaptado a convivência urbana,

como observado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. No Pantanal, não

costumam formar bandos grandes, como as outras araras. Em outros locais, é

possível vê-las em associações maiores. O objetivo deste trabalho foi obter

dados sobre o hábito alimentar e uso do habitat por Ara chloropterus na

Reserva do Patrimônio Particular Natural – RPPN SESC Pantanal no Mato

Grosso. No período de 2006 a 2012 foram realizadas observações de araras se

alimentando, voando, dormindo, reproduzindo, seus ambientes utilizados e os

movimentos de juvenis que saíram do ninho. Em um juvenil, foi instalado rádio

transmissor tipo mochila. Pela primeira vez foi registrado o consumo de dez

espécies vegetais, sendo seis inéditos para a reserva e destas, cinco para o

Pantanal. A espécie mais consumida foi a tarumarana (Buchenavaria

tomentosa). Os itens variaram de acordo com a disponibilidade de frutos e

meses do ano. O juvenil com o rádio transmissor foi monitorado por 210 dias,

voou 4 km assim que saiu do ninho e percorreu 14 km em duas semanas. Ele

utilizou vários ambientes da reserva, sendo o campo com murundus o mais

utilizado e fez grandes deslocamentos, tendo uma área de uso do habitat de

12.402 hectares. Esse juvenil também frequentou locais antropizados, o que

indica a necessidade de conciliar a conservação com o desenvolvimento

sustentável. Os resultados indicam a necessidade de mais estudos com esta

espécie na região.

Palavras-chave: Biologia, Alimentação, Dispersão, Desenvolvimento

Sustentável, RPPN SESC Pantanal.

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27

DIET AND HABITAT USE OF THE RED-AND-GREEN MACAW (Ara

chloropterus) PANTANAL OF MATO GROSSO

Abstract

The red-and-green macaw (Ara chloropterus) is a species with a wide

distribution, occurring from Panama to northwestern Bolivia. Colorful, easy to

adaptate in captivity, is quite required to serve as a pet. The current population

size in the wild is not known, but the loss, deletion or fragmentation of habitat

has reduced population size or even local extinction. On the other hand, groups

of red-and-green macaws has adapted to urban life, as noted in Campo

Grande, Mato Grosso do Sul. In the Pantanal, A. chloropterus not usually form

large flocks like other macaws, however, in other regions, is possible to see

them in larger associations. The object of this study was to obtain informations

about the feeding habits, habitat use and size of the living area of Ara

chloropterus. The study was conducted in the Private Natural Heritage Reserve

- RPPN SESC Pantanal in Mato Grosso, Brazil. During the period from 2006 to

2012 observations were made of macaws feeding, flying, sleeping and

reproducing in the Reserve. The juvenile was fitted with backpack transmitter.

The consuption of ten plant species was recorded for the first time where six

unpublished for the Reserve and five of these unpublished for the Pantanal.

Tarumarana (Buchenavaria tomentosa) was the most plant species consumed.

The alimentary items varied according to the availability of fruits and months of

the year. An individual monitored for 210 days flew 4 km after leave the nest

and traveled 14 km in two weeks, doing large displacements with 12,402 ha of

habitat use area. The most used environment at RPPN was the savannah but

also attended anthropized local, which indicates the need to conciliate

conservation with sustainable development. The results indicate the need for

more studies of this species in this area.

Key-words: Biology, Feeding, Dispersal, Sustainable Development, RPPN

SESC Pantanal

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28

1 Introdução

A arara-vermelha ou arara-vermelha-grande (Ara chloropterus) (Gray,

1859) pertencente ao gênero Ara é uma das grandes araras ocorrentes no

Brasil. Mede 90-95 cm de comprimento e pesa 1250 a 1700 gramas (SICK,

1997). A coloração predominante é vermelha com parte superior das asas

azuis e verdes, face branca com pequenas linhas de penas vermelhas

(JUNIPER e PARR, 1998). Difere da outra arara vermelha, chamada de arara-

canga Ara macao, parente mais próximo e do mesmo gênero Ara,

principalmente pelas penas verdes no lugar das amarelas nas asas e as linhas

na face nua.

Ocorre desde o leste do Panamá até a Argentina (FORSHAW e

COOPER, 1989; JUNIPER e PARR, 1998). No Brasil sua distribuição natural

inclui a região Norte, Centro Oeste, Nordeste, Sudeste e o estado do Paraná

no Sul (DEL HOYO et al., 1997; SICK, 1997; FORSHAW, 1989; COLLAR,

1997; JUNIPER e PARR,1998; GUEDES, 2003; SCHERER-NETO et al., 2009;

STRAUBE, 2010; GUEDES, 2012). Na região centro-oeste, além do Pantanal,

a espécie tem sido registrada em áreas urbanas (GUEDES, 2012).

Ara chloropterus alimentam-se de frutos, sementes, folhas e flores.

Englobando toda a área de distribuição DEL HOYO et al. (1997), cita 31

espécies vegetais incluídas na dieta alimentar dessa espécie. Estudos

realizados no Paraná (SCHERER-NETO et al.,2009;SCHERER-NETO e

TERTO, 2011), citam 13 espécies vegetais que são consumidas pelas araras

vermelhas, sendo três exóticas. No Mato Grosso do Sul (GUEDES, 2012)

relatam uso de 10 espécies para dieta da arara-vermelha. OLIVEIRA-

MARQUES (2010) registra o consumo de 10 espécies nos estados de

Rondônia, Acre, Pará, São Paulo, Piauí, Paraná e Amazônia. ANTAS et al.

(2002) relata nove espécies sendo consumidas pelas araras vermelhas no

Mato Grosso.

Araras vermelhas vivem em casais, bandos ou grupos e podem conviver

com as araras- azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) e araras-canindé (Ara

ararauna) (GUEDES, 2003; GUEDES et al., 2006). Deslocam-se a grandes

distâncias à procura de alimentos ou locais de reprodução e repouso

(SCHERER-NETO e TERTO, 2011).

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Araras nidificam em cavidades de grandes árvores ou falhas em

paredões rochosos, dependendo do local de ocorrência (GUEDES, 1993; DEL

HOYO et al., 1997; SICK, 1997; COLLAR, 1997; GUEDES, 2003; GUEDES,

2012). No Pantanal, preferem ninhos naturais no interior da mata, de

cordilheiras ou capões, mas utilizam com sucesso ninhos artificiais (GUEDES,

2012). São discretas nos locais de reprodução, não deixando muitos indícios

como as araras azuis. Não começam a cavidade, mas aumentam e reformam

os ninhos. A postura é de um a quatro ovos de cor branca, incubados por cerca

de 28 dias (GUEDES, 2003). Os filhotes são nidícolas e permanecem nos

ninhos por aproximadamente 97 dias.

Quanto ao status de conservação da espécie é definido com

preocupação menor (Least Concern- LC) na Lista Vermelha da IUCN (IUCN,

2011). No Brasil, a espécie não consta em nenhuma das listas nacionais

oficiais de espécies ameaçadas. Isso ocorre devido à ampla extensão da área

de distribuição e aos poucos estudos realizados com a espécie. GUEDES

(2012) relata a migração e estabelecimento da espécie em área urbana de

Campo Grande, MS, desde 1999. Entretanto, foi observada uma tendência de

diminuição das populações globais da espécie (IUCN, 2011; GUEDES e

VICENTE, 2012), que desde 1981 encontra-se no Anexo II da Convenção

sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em

Perigo de Extinção (CITES). Em diferentes regiões do globo, muitas

populações animais estão diminuindo devido alteração, fragmentação ou

destruição do seu habitat.

Como a maioria dos animais que compõem a fauna brasileira, esta

arara apresenta variações populacionais ao longo de sua área de distribuição.

Essas flutuações e suas causas devem ser investigadas. Além disso, a falta de

conhecimento de informações ecológicas básicas impede que medidas de

manejo sejam adequadamente adotadas para conservação destas espécies.

Este trabalho, pretende conhecer os principais itens da dieta alimentar e

uso do habitat da arara vermelha na RPPN SESC Pantanal, com o objetivo de

aumentar o conhecimento sobre a espécie e as suas relações ecológicas.

Desta forma, poderá se recomendar prioridades de pesquisa e medidas de

conservação para a biodiversidade.

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30

2 Material e Métodos

Área de estudo

Este estudo foi conduzido em uma área de 106.782 mil hectares que

atualmente compõe a Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN SESC

Pantanal (16º 17´S; 56º 57´W), localizada entre os rios Cuiabá e São Lourenço,

no município de Barão de Melgaço, nordeste do Pantanal Matogrossense

(Figura 2)(ANTAS et al.,2010). O clima da região é do tipo tropical de savana

(AW), de acordo com a classificação de Köppen, caracterizado por quatro

estações distintas: “enchente” (Outubro a Dezembro), “cheia” (Janeiro a

Março), “vazante” (Abril a Junho) e “estiagem” (ou “seca”) (Julho a Setembro)

(DOUROJEANNNI, 2006). A temperatura média anual do ar oscila entre 22°C e

32ºC e a precipitação média anual entre 1100 e 1200 mm (HASENACK et al.,

2003).

Figura 2. Localização da área de estudo na Reserva Particular do Patrimônio

Natural SESC Pantanal, município de Barão de Melgaço - Mato Grosso. Fonte:

SESC (2008) e CORDEIRO (2004).

A vegetação onde a reserva está inserida, nasce da interação entre três

grandes biomas sul-americanos: o Cerrado, o Chaco e a Floresta Amazônica

(ANTAS et al., 2010). A fitofisionomia da RPPN SESC Pantanal é composta

pelo cerrado e cerradão (savana arbórea e savana florestada) 41,16%, 24,35%

é formado por Matas (principalmente matas de Cambará); e 34,49% são

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campos entre capões de cerrado e cerradão; campo úmido e campo sujo;

vegetação aquática e áreas degradas pelas antigas fazendas (CORDEIRO,

2004; HASENACK et al., 2010). A vegetação forma um mosaico ambiental com

grande diversidade de animais e plantas. Na Figura 3 está representada o

mapa com as principais unidades da paisagem da RPPN SESC Pantanal. Na

sequência é apresentada uma breve descrição das principais formações e

espécies vegetais (SESC, 2008; ANTAS et al., 2010)

- Matas densa/ Matas ciliares inundáveis (rios e corixos): com

inundação estacional, onde se encontra o sarã (Alchornea castaneifolia), ingá

(Inga uruguensis), biueiro (Bergeroni asericea) e pombeiro (Combretum sp.),

sendo que alguns biueiros podem atingir mais de 15 metros de altura, tem

presença do gonçaleiro (Astronium fraxinifolium) e aroeira (Myracrodrum

urundeuva), duas madeiras de lei muito procuradas, além de figueiras (Ficus

sp.) e do jatobeiro-mirim (Hymenea courbaril), alguns com grandes dimensões,

com palmeiras acuri (Scheelea phalerata) no estrato inferior.

-Mata com Acuri: fisionomia densamente florestada, floresta

semidecídua, onde o sub-bosque é dominado pela palmeira acuri, (Scheelea

phalerata) (Arecaceae).

-Cambarazal: matas dominadas por cambará (Vochysia divergens)

(Vochysiaceae) sazonalmente inundadas, com dossel alto e homogêneo.

-Mata Seca ou aberta, semidecídua ou semicaducifólia: dominada

pelo angico (Anadenanthera colubrina), cedro (Cedrella fissilis), o jatobeiro-

mirim (Hymenaea courbaril), chegando este até 25 metros de altura, e a

ximbuva (Enterolobium contortisiliquum), também alcançando 25 metros de

altura, junto com as aroeiras (Myracrodruon urundeuva) e gonçaleiros

(Astronium fraxinifolium) enquanto o sub-bosque apresenta adensamentos

extremos da taboca (Guadua sp.) nas áreas mais secas.

-Tabocal: formação monodominante fisionomia florestal com estrato arbóreo

emergente esparso e subbosque dominado por taquaras (Guadua sp.)

(Taboca/Poaceae), ocorre em extensas áreas no extremo sul da RPPN SESC

Pantanal.

-Transição: savana gramínea-lenhosa, savana arborizada e savana florestada.

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-Arbustivo: domínio de estrato arbustivo. Estrato arbóreo ausente ou muito

esparso, fisionomia comum nas regiões baixas alagadiças dos campos da

planície inundável do rio Cuiabá.

-Campo com cordilheiras: áreas de formação semi- deciduais estreitas e

contínuas, não inundáveis, mas altas no relevo.

-Campo com murundus: formação savânica com fisionomia de cerrado possui

uma matriz herbácea e elementos arbóreos agregados em elevações do

terreno, geralmente associadas aos cupinzeiros.

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33

Figura 3. Unidades de paisagem da RPPN SESC Pantanal (Fonte: HASENACK e CORDEIRO, 2010).

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34

Coleta de dados

Os trabalhos de campo foram realizados durante o estudo realizado pelo

Projeto de Ecologia e Biologia Básica das Espécies de Araras da RPPN SESC

Pantanal, que incluía o monitoramento das três espécies de araras,

(Anodorhynchus hyacinthinus, Ara ararauna e Ara chloropterus).

Para coleta de dados de alimentação foram feitas incursões mensais

com duração de 15 dias no período de 28 de julho de 2006 a 21 de julho de

2012. A frequência média de viagens por ano foi de sete meses, sendo que

variou de três a doze meses por ano, totalizando 540 dias quando foram

registradas todas as observações de encontro com as araras-vermelhas.

Para monitoramento do filhote com rádio transmissor, as viagens a

campo também tiveram duração de 15 dias, entre o período de 14 de

dezembro de 2008 a 15 janeiro de 2010, com periodicidade mensal, totalizando

180 dias de trabalho de campo. Cada saída de campo era acompanhada por

um guarda-parque ou brigadista da RPPN. As observações foram realizadas

das 04:00h da manhã prosseguindo até o crepúsculo. Os percursos foram

realizados a cavalo, a pé, carro de boi, trator, caminhão e/ou quadriciclo, barco,

canoa e avião.

Uma vez encontrados exemplares de A. chloropterus estes foram

acompanhados pelo maior tempo possível, sendo anotadas as seguintes

informações: data, hora, hábito alimentar, comportamental (pousadas, em voo,

no ninho) e se estavam sozinhas ou em grupos. Os pontos de registro foram

marcados com G.P.S. (Global Positioning System) e para cada localização

registrou-se um ponto. Nos registros também foram utilizados: caderneta de

campo, bússola e máquina fotográfica (modelo Sony Super Steady Shot

2.5”LCD Monitor 12x optical zoom).

Para instalação do rádio- transmissor, os juvenis foram capturados do

ninho, na fase pré- voo, uma semana antes da saída e levados até o chão, em

segurança. O rádio tipo backpack (tipo mochila), pesando de 18 a 20 gramas,

era do modelo TW4, fabricado pela Biotrack Ltd. Antes da instalação foi feita

uma preparação adicional com acrílico odontológico para aumentar a

resistência mecânica dos rádios contra as bicadas das araras. Foi feita uma

pintura para camuflar o rádio. Ele foi fixado nas costas, com o uso da fita de

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teflon para fixação nas asas da ave. Depois de fixado o rádio foi feita uma

amarração peitoral e abdominal com perna ventral de fixação (Figura: 4).

Figura 4. Rádio - transmissor tipo mochila instalado no filhote de arara-

vermelha, mostrando o dorso e a parte ventral do corpo da ave. Foto: Flávio

Kulaif.

Para recepção dos sinais foi utilizado o receptor Telonics TR-4 composto

por bateria, circuito elétrico com a antena metálica de 30 centímetros de

comprimento direcional Telonics RA-2AK e cabo coaxial RW-2.

Para auxiliar na busca do indivíduo com rádio transmissor e obter a

direção do sinal do rádioforam utilizadas seis torres de vigilância instaladas nos

Postos de Proteção Ambiental na RPPN SESC Pantanal. Para o

monitoramento, foram feitas buscas por terra, água (rios, baías e corixos) e ar.

A localização do filhote foi registrada quando ele foi visualizado ou

houve recepção dos sinais de triangulação. Os pontos foram marcados com

GPS e plotadas em carta usando o programa GPS Trackmaker Pro o qual

também possui módulo para cálculo de áreas e distâncias. Para a triangulação

dos pontos, foi usada bússola e corrigida a declinação magnética local de cada

leitura.

Para a determinação do padrão de uso de habitat foram incluídos dados

de observação, alimentação e informações obtidas com a telemetria.

Os pontos externos registrados foram ligados pelo método do Polígono

de Mínima Convexidade, que consiste em traçar um polígono convexo (i.e.,

nenhum dos ângulos internos excede 180°) de menor área possível e que

englobe todos os pontos registrados. Este método foi escolhido devido à

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simplicidade de uso e vasta utilização na ornitologia (LOPES e MARINI, 2005;

RUBIO, 2007; ANTAS et al., 2010).

Foram realizadas observações subsequentes até que as áreas

acumuladas das áreas de vida permanecessem constantes ou não houvesse

mais recepção de sinal, sendo então avaliadas. Para o traçado dos polígonos e

cálculo da sua área foi utilizado o software MapSource (WHITE e GARROT,

1990).

3 Resultados

Alimentação e uso do hábitat

No período de sete anos, durante 540 dias de trabalho de campo, com

observações diretas e uso da telemetria, foram feitos 348 avistamentos de

arara-vermelha A. chloropterus, durante 36 meses, totalizando 606

visualizações. O tamanho do esforço amostral desta pesquisa, por ano é

apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Número de meses, dias de observação no campo, avistamentos,

visualizações e taxa de avistamento de araras-vermelhas na RPPN SESC

Pantanal de Mato Grosso, durante sete anos.* Rastreamento de juvenil com

telemetria.

Ano Nº

meses

Nº dias

Observações

avistamentos

Visualizações

Taxa de

avistamento

2006 5 75 21 42 0,28

2007 5 75 34 76 0,45

2008* 2 30 38 60 1,26

2009* 12 180 213 320 1,28

2010 6 90 23 53 0,25

2011 3 45 5 19 0,11

2012 3 45 14 36 0,31

Total 36 540 348 606 3,84

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Verificou-se que a arara-vermelha A. chloropterus é uma espécie

presente, mas não frequente na RPPN SESC Pantanal. Embora o esforço

amostral tenha sido grande, com mais de 12 horas de busca em 540 dias de

esforço, durante sete anos, a média foi de um avistamento a cada 3 dias.

Praticamente 50% dos avistamentos foram realizados em 2009, com 180 dias

de campo, porque um juvenil foi monitorado com rádio transmissor.

Em 2011 as araras-vermelhas quase não foram avistadas na reserva,

também sendo poucos dias em campo. Em 45 dias de campo, apenas 19

visualizações foram registrados em cinco avistamentos. Dados acumulados do

período analisado mostram que A. chloropterus esteve presente em todos os

meses do ano, sendo mais avistada nos meses de julho e agosto e menos

frequente nos meses de maio, setembro e outubro. A. chloropterus consumiu

10 espécies vegetais na RPPN SESC Pantanal e seu entorno. (Quadro 1).

Quadro 1. Espécies vegetais com respectivas famílias e item consumido que

foram registradas para dieta de Ara chloropterus na RPPN SESC Pantanal -

MT, no período de 2006 a 2012. Nomenclatura de acordo com POTT e POTT

(1994).* Espécies inéditas para a reserva; **sp não identificada

Família Espécie Nome Popular Item consumido

Euphorbiaceae Alchornea

castaneifolia* Sarã Semente

Leguminosae Anadenanthera*

colubrina Angico Semente

Combretaceae Buchenavaria

tomentosa Tarumarana Semente

Leguminosae Dipteryx alata Cumbaru Semente

Moraceae Ficus sp Figueira Fruto

Sterculiaceae Guazuma ulmifolia Chico - magro Fruto

Bignoniaceae Jacaranda

cuspidifolia* Bolacheira Semente

Sapindaceae Sapindus saponaria* Saboneteira Fruto

Verbenaceae Vitexcymosa Tarumã Fruto/Semente

Leguminosae Andira sp** Morcegueira Semente

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Seis espécies vegetais são inéditas para a alimentação da arara-

vermelha na reserva e cinco para o Pantanal.

Estas espécies pertencem a sete famílias, sendo Leguminosae a mais

consumida em 42,8% das observações. A parte do vegetal mais consumido foi

semente 60% seguida pelo fruto. O Tarumã (Vitex cymosa) foi observado o

consumo da semente e do fruto.

A espécie vegetal mais consumida foi o Tarumarana (Buchenavaria

tomentosa) (45%), seguido da figueira (Ficus sp) (26%), sarã (Alchornea

castaneifolia) (14%), tarumã (Vitex cymosa) (5%) e as demais espécies chico-

magro (Guazuma ulmifolia),angico (Anadenanthera colubrina),saboneteira

(Sapindus saponaria), cumbaru (Dipteryx alata), bolacheira (Jacaranda

cuspidifolia) e morcegueira (Andira sp) (10%)(Figura: 5).

Figura 5. Espécies vegetais consumidas por Ara chloropterus observadas em

184 visualizações na RPPN SESC Pantanal e seu entorno, entre 2006 e 2012.

O hábitat mais utilizado foi o Campo com Murundus (47%) seguido de

Cambarazal (22%), Mata Ciliar Inundável (8%), Mata Seca (8%), e o restante

Campo com Cordilheira, Antropizada (entorno da reserva), Transição, Mata

Densa, Mata com Acuri (15%) (Figura: 6).

1%

45%

1%

5%

14% 1%

2%

26%

2%

3% Chico-magro

Tarumarana

Angico

Tarumã

Sarã

Saboneteira

Cumbaru

Figueira

Bolacheira

Morcegueira?

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Figura 6. Tipo de hábitat onde a Ara chloropterus foi observada em 606

visualizações na RPPN SESC Pantanal e seu entorno, entre 2006 e 2012.

Com relação ao horário do dia, o período com maior movimento das

araras-vermelhas circulando na reserva foi no período da manhã,

concentrando-se nas horas mais frescas do dia (06:30h às 09:30h) com pico às

7:30h(Figura:7).

Figura 7. Horário de atividade de Ara chloropterus na RPPN SESC Pantanal,

Mato Grosso, no período de 2006 a 2012.

47%

5%

22%

5%

8%

0%

2%

8%

3%

Campo com murundus

Antropizada

Cambarazal

Campo com cordilheira

Mata ciliar inundável

Mata com acuri

Mata densa

Mata seca

Transição

0

10

20

30

40

50

60

70

80

de

ob

se

rva

çõ

es

Horário de Atividade

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No período de calor mais intenso (12:30h às 13:30h) foi observado uma

queda nas atividades, retornando no final da tarde (15:30h às 17:30h).

Analisando uma amostra de 184 registros de forrageamento de Ara

chloropterus verifica-se que ela variou pouco do padrão de movimentação. O

pico de alimentação foi maior no período da manhã, às 7:30h, seguido por

outro pico, menor às 10:30h. No período da tarde, elas voltaram a se alimentar,

com menos observações, das 14:30h às 17:30h (Figura 8).

Figura 8. Horário de forrageamento de Ara chloropterus na RPPN SESC

Pantanal, Mato Grosso monitorado no período de 2006 a 2012.

Durante todo o período do estudo, verificou-se que das 606

visualizações de Ara chloropterus na RPPN SESC Pantanal, o tamanho dos

grupos variou de um a sete indivíduos, sendo que a maioria (65%) foi de

casais, pares ou duplas, conforme pode-se constatar na Figura 9. O maior

grupo avistado na reserva foi de sete indivíduos, apenas uma vez em 25 de

fevereiro de 2007.

0

5

10

15

20

25

de

ob

se

rva

çõ

es

Horário

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41

Figura 9. Tamanho dos grupos de Ara chloropterus observados (n=606) na

RPPN SESC Pantanal, Mato Grosso, no período de 2006-2012.

Foi observada a presença constante de indivíduos de arara-vermelha na

época da cheia, nos meses de março e abril, no cambarazal e na mata ciliar

inundável, consumindo sementes de sarã (Alchornea castaneifolia) e semente

de morcegueira? (Andira sp.) No mês de maio de 2007 as araras-vermelhas

foram encontradas no consumindo sementes de angico (Anadenanthera

peregrina). Em agosto e setembro de 2010, novembro de 2010 e julho 2012

foram avistadas no campo com murundus na figueira (Fícus sp.). Esta

observação corrobora com registros de SCHERER-NETO e TERTO, (2011) no

Noroeste do Paraná.

Em setembro de 2011 as araras-vermelhas foram observadas no campo

com murundus consumindo sementes de Jacarandá (Jacaranda cuspidifolia),

este registro também foi realizado nas observações feitas por GUEDES (2012)

no Mato grosso do Sul. Em julho de 2012 as araras-vermelhas foram

detectadas consumindo saboneteira (Sapindus saponaria), na mata seca na

RPPN SESC Pantanal (Quadro 2).

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Quadro 2. Distribuição temporal mensal dos itens utilizados por arara-vermelha

na RPPN SESC Pantanal, Mato Grosso.

Espécie/

mês Ja

n

Fe

v

Ma

r

Ab

r

Ma

i

Ju

n

Ju

l

Ag

o

Se

t

Ou

t

No

v

Dez

Chico-

magro X X

Tarumarana X X X

Angico X

Tarumã X

Sarã X

Saboneteira X

Cumbaru X

Bolacheira X

Andirasp X

Figueira X X X X

Uso do habitat

Foram instalados quatro rádios transmissores em juvenis de Ara

chloropterus, sendo que um deles foi monitorado por trezes meses. Esse

juvenil (N.54) voou no dia 15 de dezembro de 2008 e foi acompanhado por 210

dias de observação. O resultado do monitoramento é detalhado Quadro 3.

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Quadro 3. Dados de dispersão do juvenil de Ara chloropterus do ninho (N) 54,

usando rádio transmissor tipo mochila monitorado na RPPN SESC Pantanal,

Mato Grosso. N- Ninho; SSA- Sinal sem avistamento do juvenil; JA- Juvenil

avistado; SS- Sem Sinal; MC-Campo com Murundus; MD- Mata Densa;

CAMB- Cambarazal; MCI- Mata Ciliar Inundável; TS- Transição; ANT-

Antropizada.

Idade após a

saída do

ninho (N)

Tipo de

rastreamento Resultado Tipo de hábitat

Dois dias -

dez 08 Terrestre JA 4 km do N MS

Seis dias -

dez 08 Terrestre JA 12 km do N CM/MS/MD/CAMB

1 mês - jan 09 Terrestre/Aéreo SSA 14 km do N CM/MS/MD/MCI/TS

3 meses - mar

09 Aéreo SSA 32 km do N CM/MD/CAMB/MCI

4 meses - abr

09 Barco SSA 32 km do N CAMB/MCI

5 meses - mai

09

Barco/Aéreo/Ter-

restre JA 18 km do N CM/CAMB

6 meses – jun

09 Terrestre JA 11 km do N CM

7 meses – jul

09 Terrestre/Aéreo SS -

8 meses –

ago 09 Terrestre SSA CM

9 meses – set

09 Terrestre/Aéreo SS -

10 meses -

out 09 Terrestre/Aéreo SS -

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Continuação do quadro 4

Durante o rastreamento do juvenil do N.54, foi observado que ele

explorou bem o local onde nasceu, um ambiente de Mata Seca. No primeiro

mês, ele se movimentou com os pais para vários ambientes como campo de

murundus a 14 km do ninho. Depois foi registrado no entorno da reserva na

comunidade de Pimenteira, em área antropizada. O sinal foi perdido em janeiro

2009. O juvenil se movimentava com os adultos para local longe onde não

pegava o sinal. Ficou desaparecido durante dois meses reaparecendo em outra

área da reserva completamente diferente do qual foi visto pela última vez. Em

20 de março de 2009, o juvenil foi localizado através do monitoramento aéreo,

na região de Mata Ciliar inundável, a 24 km da última posição. Ele estava a 32

km de distância do seu local de nascimento. Posteriormente foi monitorado em

um ambiente de Mata Ciliar inundável, seguindo Cambarazal, Baías e Corixos.

No mês de julho de 2009, com sete meses após a saída do ninho, o

juvenil não foi localizado. Foram feitos sobrevoos com boa cobertura em toda

região da reserva e em seu entorno, porém sem sucesso de localização.

Durante semanas foram feitas busca por terra, mas o mesmo não foi

encontrado. Posteriormente, em agosto de 2009 obteve-se sinal do filhote, por

poucos dias, sendo setembro, outubro, novembro, sem sinal do juvenil com

rádio sendo encontrado em dezembro de 2009 na região de campo com

murundus a 14 quilômetros do ninho. Seu último sinal foi 15 de janeiro de 2010

na região de campo com murundus.

O tamanho do uso do habitat desse juvenil durante 13 meses foi 12. 402

hectares, e os resultados de movimentação e uso de hábitat das araras-

vermelhas baseado neste indivíduo, foram maiores que os encontrados para 15

Idade após a saída

do ninho (N)

Tipo de

rastreamento Resultado

Tipo de

hábitat

11 meses – nov 09 Terrestre/Aéreo SS -

12 meses – dez 09 Terrestre/Aéreo SSA 14 km do N CM

13 meses – jan 10 Terrestre SSA 12 km do N

último sinal CM

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araras-azuis juvenis, 4.000 hectares, na mesma região (ANTAS et al., 2010).

SEIXAS et al., (2002) também relatam uso de área de 2 até 12 hectares para

12 juvenis de A. hyacinthinus saídos do ninho no Pantanal em Mato Grosso do

Sul, exceto um indivíduo que foi localizado a 35 km, um mês após a saída do

ninho.

O uso do habitat do juvenil do N. 54, monitorado durante 13 meses, foi

de 12.402 hectares (Figura. 10).

Figura 10. Mapa da RPPN SESC no Pantanal de Mato Grosso mostrando (em

tracejado) o uso do habitat do juvenil de Ara chloropterus nascido no ninho 54 e

monitorado com rádio transmissor tipo mochila, por 13 meses. Legenda: MPC-

Método do Polígono Convexo; HSPC- Hotel SESC Porto Cercado Pantanal;

PSM- Posto Santa Maria; PSJ- Posto de São Joaquim; PRC- Posto Rio Cuiabá;

PNSC Posto Nossa Senhora do Carmo; PSA- Posto de Santo André; PSL-

Posto São Luis.

A figura 11 mostra todos os registros de observação de arara-vermelha

Ara chloropterus, na RPPN SESC Pantanal de Mato Grosso durante os sete

anos deste estudo.

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Figura 11. Mapa da ocupação e movimento das araras-vermelhas na RPPN

SESC Pantanal, Mato Grosso. Triângulo indica o registro de diferentes

comportamentos. Círculo o rastreamento do Juvenil com rádio. Fonte: Software

ARC VIEW GIS 3.2.

4 Discussão

Alimentação e uso do hábitat

O tamanho dos grupos observados na RPPN SESC Pantanal confirma

que a presença das araras-vermelhas na reserva está limitada a grupos

pequenos, diferentemente da arara-azul Anodorhynchus hyacinthinus, na

região (ANTAS et al., 2010). Porém, SCHERER-NETO e TERTO (2011)

avistaram grupos com até 23 indivíduos em propriedades rurais no noroeste do

Paraná. Esses resultados sugerem que em ambiente natural, a disponibilidade

do recurso está mais dispersa, enquanto que em ambientes antropizados,

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especialmente com perda ou diminuição do hábitat, a fonte de recurso está

concentrada, o que leva a congregação de bandos.

Com relação às 10 espécies vegetais registradas para alimentação das

araras vermelhas, seis foram citadas pela primeira vez para a RPPN SESC

Pantanal sarã (Achornea cataneifolia), angico (Anadenanthera culubrina),

figueira (Ficus sp), bolacheira (Jacaranda cuspidifolia), saboneteira (Sapindus

saponaria) e morcegueira (Andira sp). Cinco destas também nunca tinham sido

registradas para o Pantanal. Acrescentando ao trabalho de ANTAS et al.,

(2002, 2010) este estudo totaliza 19 espécies que servem para alimentação da

A. chloropterus na reserva.

Nos primeiros estudos na RPPN SESC Pantanal, ANTAS et al., (2002)

fizeram um registro de nove espécies, onde foi observada a arara-vermelha

consumido o endocarpo da bocaiúva (Acrocomia aculeata). O consumo de

frutos desta palmeira também foi observado na região do Parque Estadual

Morro do Diabo em Teodoro Sampaio-SP, no noroeste do Paraná, no Pantanal

e em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul (OLIVEIRA-MARQUES, 2010;

SCHERER-NETO e TERTO, 2011; GUEDES, 2012). Neste estudo, a

tarumarana (Buchenavaria tomentosa) foi à espécie com o período mais

extenso, sendo observada a alimentação no período de maio a agosto.

Em outros trabalhos de campo, GUEDES (2012) citou 11 espécies que

fazem parte da dieta da A. chloropterus no Pantanal e em Campo Grande, no

Mato Grosso do Sul, sendo que a bolacheira (Jacaranda cuspidifolia), foi

confirmada neste estudo para o Pantanal de Mato Grosso. SCHERER-NETO e

TERTO (2011) documentaram 13 espécies vegetais para dieta de arara-

vermelha no Paraná, sendo uma corroborada neste trabalho, a figueira (Fícus

sp.) OLIVEIRA-MARQUES (2010) na região norte e nordeste do Brasil relatam

10 espécies vegetais sendo consumidas por arara-vermelha, sendo uma delas

o chico - magro (Guazuma ulmifolia) observado neste estudo.

Somando os trabalhos de campo, citados acima para o Brasil, obtém-se

uma lista com 40 espécies vegetais que tem brotos, flores, frutos ou sementes

consumidas pela A. chloropterus (Quadro 4). SICK (1997) registrou duas

espécies: sapucaia (Lecythis pisonis) e a castanha-do-pará (Bertholletia

excelsea) para dieta de arara-vermelha.

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Estes resultados reforçam que Ara chloropterus é uma espécie

generalista quanto à alimentação, sem haver uma espécie de planta ou

conjunto de plantas capazes de indicar uma especialização de consumo em

toda sua área de distribuição (COLLAR, 1997; DEL HOYO et al., 1997;

JUNIPER e PARR, 1998; ANTAS et al., 2002, 2010; OLIVEIRA-MARQUES,

2010; SCHERER-NETO e TERTO, 2011; GUEDES, 2012). Das 13 espécies

observadas por SCHERER-NETO e TERTO (2011) três eram espécies

exóticas como manga (Mangifera indica), sete copas (Terminalia catapa) e

cinamomo (Melia azedarch).

Itens vegetais mais consumidos pelas araras vermelhas neste trabalho

foram às sementes e frutos, o que difere de SCHERER-NETO e TERTO (2011)

que observou flores e brotos. Entretanto, consumir outros itens das plantas por

escassez de alguma outra oferta de alimento é uma boa estratégia de

sobrevivência dos generalistas. Desta forma, futuros estudos são necessários

para entender a importância dos componentes na dieta de A. chloropterus.

Com relação ao uso do habitat, o ambiente mais utilizado foi campo com

murundus associados ao cerrado, cerradão com campo com cordilheiras e

capões, mesmo quando próximo a ambientes alagados, o que reforça que A.

choropterus é uma espécie de floresta, estando sempre associada às matas.

Porém, isso não impossibilita que ela seja observada nas áreas abertas como

vazantes, corixos, cambarazal e outros ambientes inundáveis. Ela pode ser

vista voando ou se alimentando.

Uso do hábitat do juvenil

A instalação de rádio transmissor em juvenis de arara-vermelha foi um

dado inédito para essa espécie. Alguns estudos já instalaram rádio transmissor

em psitacídeos brasileiros (GUEDES, 1996; POZZA et al., 1998; SEIXAS et al.,

2002; ANTAS et al., 2010), porém este é o primeiro a instalar um rádio

transmissor em juvenis de araras-vermelhas, o que foi um passo importante

para o entendimento da biologia e reprodução da espécie. O juvenil nasceu no

ninho N. 54, um manduvi (Sterculia apétala), localizado num ambiente de mata

seca.

Desta forma, o uso do hábitat de arara-vermelha está ligada diretamente

a disponibilidade e abundância de oferta alimentos. Na RPPN SESC Pantanal,

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o juvenil fez deslocamentos enormes em busca do recurso, usando vários tipos

de ambientes, mas usou apenas uma parte da reserva, ligada principalmente

ao campo com murundus, sendo a reserva o maior domínio de vegetação ser

campo com murundus, ainda um enigma nessa região da RPPN SESC

Pantanal, Mato grosso.

5 Conclusão

O presente estudo acrescenta importantes informações sobre dieta, área

de vida e uso de hábitat de Ara chloropterus, lançando as bases para um

melhor entendimento da biologia, mostrou que o uso de rádio telemetria é uma

ferramenta a mais para coletas de dados onde se podem ter mais informações

sobre movimentos dos juvenis de arara- vermelha após a saída do ninho,

mesmo sendo ainda um só juvenil tenha sido monitorado os resultados foram

pontuais e esporádicos, eles foram importantes para interpretações, mesmo

que preliminares do uso do habitat pelas araras vermelhas. Estudos mais

aprofundados sobre a biologia de arara-vermelha são ainda necessários para o

desenvolvimento de estratégias conservacionistas para esta espécie, de ampla

distribuição, mas ainda tão pouco estudada.

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7. Conclusão Geral

A arara–vermelha (Ara chloropterus) é uma espécie com ampla

distribuição na natureza, ocorrendo desde o sul da América Central até o sul da

América do Sul. Entretanto, seu tamanho populacional não é conhecido. Por

outro lado, é uma ave bastante requisitada como animal de estimação, pela

beleza da plumagem colorida e também pela fácil adaptação ao cativeiro e

interação com o homem. É comum em zoológicos e criadouros. Existem

poucas informações sobre alimentação, reprodução, comportamento e relações

ecológicas da espécie em seu hábitat natural. A maior parte do conhecimento

sobre Ara chloropterus provem de trabalhos em cativeiro.

A modificação da paisagem e fragmentação do hábitat tem sido um dos

temas mais discutidos na biologia da conservação, sendo reconhecida como

uma das ameaças mais severas para a manutenção da biodiversidade global.

Araras vermelhas passam por esse processo, com a perda de hábitat em

ambientes florestais naturais, diminuem população, migram para áreas urbanas

e acabam se adaptando aos novos ambientes. O caminho mais eficiente para

proteger populações animais é proteger o seu hábitat. Assim, conhecer

aspectos da história de vida, alimentação, comportamento, tamanho e uso de

área, mesmo que de parte da vida dos indivíduos, ajuda melhorar o

conhecimento sobre a espécie e a direcionar futuras pesquisas e diretrizes

para manejo e conservação.

Neste trabalho foi verificado que arara vermelha se alimentou de 10

espécies vegetais na RPPN SESC Pantanal. Bastante associada ao

Cerrado/Cerradão, Cordilheiras, Capões e Mata Ciliar, frequentou vários

ambientes da Reserva ao longo do ano, muito embora, tenha sido mais

frequente numa parte da reserva. O horário de maior atividade foi no início da

manhã e ao final da tarde. Embora em pequenos grupos, foi vista em quase

todos os meses do ano. O indivíduo juvenil que foi monitorado por 13 meses

fez grandes deslocamentos, inclusive para áreas antropizadas dentro e fora da

reserva. Araras vermelhas estiveram bastante associadas com a oferta e

disponibilidade de recursos alimentares. Mais estudos são necessários para

conhecer a dinâmica da espécie e importância dos elementos da paisagem.

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Quadro 4. Espécies vegetais, com respectivas Famílias, itens consumidos por Arara-vermelha Ara chloropterus em trabalhos

de campos realizados no Brasil por vários autores. * a = neste estudo; b = Antas et al. (2002); c = Oliveira-Marques

(2010); d = Antas et al. (2010); e = Scherer Neto e Terto (2011); f = Guedes (2012).

Família Espécie Nome

Popular

Item

Consumido Local Fontes*

Euphorbiaceae Alchornea castaneifolia Sarã Semente MT a

Palmae Acrocomia aculeate Bocaiuva/ Macaúba Semente MT/SP/PR/MS b, c, e, f

Leguminosae Anadenanthera peregrine Angico Semente MT a

Tiliaceae Apeiba tibourbou Jangadeiro Semente MT b

Arecaceae · Astrocaryum sp Tucum Fruto PA c

Arecaceae Attalea funifera Piaçava Fruto PI c

Anacardiaceae Astronium graveolens Guarita Broto PR e

Lecythidaceae Bertholletia excelsea Castanha-do-Pará Sementes PA/PI c, f

Combretaceae Buchenavia tomentosa Tarumarana Fruto MT a, b

Meliaceae Cabralea glaberrima Canjarana Fruto PR e

Lecythidaceae Cariniana entrelensis Jequitibá-branco Fruto PR e

Euphorbiaceae Croton floribundus Capixingui Fruto PR e

Caryocaraceae Caryocar coriaceum Pequi Fruto PI/RO c

Leguminosae Dipteryx alata Cumbaru Fruto MT a, b

Leguminosae Esterolobum contortisiliquem Ximbuva Fruto MT b

Moraceae Ficus sp Figueira Fruto MT/PR a, e

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Continuação

Família Espécie Nome

Popular

Item

Consumido Local Fontes*

Sterculiaceae Guazuma ulmifolia Chico-magro Fruto MT/ AM a,b, c

Euphorbiaceae Hevea sp Seringueira Fruto AM c

Leguminosae Hymenaea courbaril Jatobá-mirim Fruto MT d

Leguminosae Hymenaea sp Jatobá Fruto MT/ MS b, f

Leguminosae Hymenaea stigonocarpa Jatobá-do-cerrado Fruto MT b

Leguminosae Inga uruguensis Ingá Fruto MS f

Bignoniaceae Jacaranda cuspidifolia Jacarandá Semente MT /MS a, f

Fabaceae Machaerium stitatum Farinha-seca Fruto PR e

Anacardiaceae Mangifera indica Manga Fruto PR e, f

Arecaceae Maxiliana regia Inajá Fruto PA c

Meliaceae Melia azedarch Cinamomo Fruto PR e

Palmae Orbignya phlerata Babaçu Fruto PI c

Fabaceae Peltophorum dubium Canafistula Flores PR e

Fabaceae Pterogyne nitens Amendoim-bravo Fruto PR e

Vochysiaceae Qualea multiflora Pau-terra Semente MT b

Arecaceae Scheelea phalerata Acuri Semente MT/MS d, f

Sapindaceae Sapindus saponaria Saboneteira Fruto MT a

Arecaceae Syagrus romanzoffiana Jerivá Fruto PR e, f

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Continuação

Família Espécie Nome

Popular

Item

Consumido Local Fontes*

Fabaceae Tamarindus indica Tamarindo Fruto MS f

Combretaceae Terminalia catappa Sete-copas Fruto SP/PR c, e, f

Verbenaceae Vitex cymosa Tarumã Fruto MT a, b

Myristicaceae Virola sp Bicuiba Fruto MS f

Vochysiaceae Vochysia divergens Cambará Semente MT b

Leguminosae Andira sp Morcegueira Fruto MT a