35
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ALIMENTOS E TUTELA JURISDICIONAL AUTOR LUIZ CLAUDIO SILVA JARDIM MARINHO ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ALIMENTOS E TUTELA JURISDICIONAL

AUTOR

LUIZ CLAUDIO SILVA JARDIM MARINHO

ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ALIMENTOS E TUTELA JURISDICIONAL

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto A Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil Por: Luiz Claudio Silva Jardim Marinho

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

3

RESUMO A obrigação alimentar pode derivar de diversas fontes ou causas

jurídicas, sendo pertinente, ao direito de família, a obrigação alimentar decorrente do casamento ou união estável, do poder familiar e a derivada da relação de parentesco. A ação de alimentos consubstancia o instrumento processual de que se vale o credor para obter a satisfação de sua pretensão de direito material e que sofreu inequívoca e direta influência causada por alterações interpretativas provocadas no direito de família após a nova ordem introduzida pela Constituição Federal de 1988, a merecer uma leitura consentânea com a nova realidade legislativa e principiológica. Os dispositivos da lei de regência – Lei nº 5.478/68 - devem ser interpretados e compreendidos dentro de princípios e garantias constitucionais que não podem ser afastadas ou mitigadas pelo intérprete, sobretudo diante da natureza assistencial e da finalidade da obrigação alimentar, a merecer a alteração legislativa introduzida pela Lei nº 11.232/05, no sentido de afastar a necessidade de um processo autônomo de execução. Urge que se aperceba dessa nova realidade legislativa e comportamental para que se possa alcançar o equilíbrio na fixação do valor a partir da análise da equação: possibilidade do alimentante e necessidade do alimentado.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

4METODOLOGIA

O presente trabalho buscou analisar as espécies de obrigação

alimentar e os critérios e pressupostos que norteiam sua fixação, observando

as diferenças entre as hipóteses e a forma de se alcançar algo próximo ao que

seja (ou pareça) justo, na medida em que justiça consubstancia valor subjetivo

e individual, cambiante ao tempo e em conformidade com a formação pessoal

de cada indivíduo.

O estudo que ora se apresenta foi levado a efeito a partir do método

da pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento em diversos tipos

de publicações, como livros e artigos, revistas e outros periódicos

especializados, além de publicações oficiais da legislação e da jurisprudência.

Por outro lado, como também é fácil perceber, a pesquisa foi

empreendida através do método dogmático positivista, uma vez que se

pretendeu identificar as diversas fontes e formas de obrigação alimentar

existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas,

sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro e com fundamento

exclusivo na dogmática desenvolvida pelos estudiosos que já se debruçaram

sobre o tema anteriormente.

Trata-se, ainda, de uma pesquisa aplicada, porque almeja produzir

conhecimento para aplicação prática, mas também qualitativa, porque procura

compreender a realidade a partir da interpretação e qualificação dos

fenômenos estudados; identifica-se, ainda, com a pesquisa exploratória,

porque buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão proposta,

além da pesquisa descritiva, porque visou a obtenção de um resultado

puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do tema.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

5SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 6

CAPÍTULO I

DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR..........................................................................8

1.1 - CLASSIFICAÇÃO..................................................................................9

1.2 - CARACTERÍSTICAS............................................................................10

1.3 - ESPÉCIES............................................................................................13

1.4 - ALIMENTOS GRAVÍDICOS.................................................................14

CAPÍTULO II

PRESSUPOSTOS DE FIXAÇÃO – ANÁLISE DO BINÔMINO NECESSIDADE

X POSSIBILIDADE............................................................................................16

CAPÍTULO III

ALIMENTOS E TUTELA JURISDICIONAL......................................................22

3.1 - DA AÇÃO DE ALIMENTOS.....................................................................23

3.2 – DA EXECUÇÃO DOS ALIMENTOS........................................................28

CONCLUSÃO....................................................................................................32

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................34

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

6INTRODUÇÃO

O Direito, em sua matriz existencial, se destina a regular a vida em

sociedade, com o objetivo de tornar pacífica a convivência entre os cidadãos.

E, como toda ciência social, sofreu – e ainda sofre - grandes

transformações conceituais a partir da evolução e complexidade das relações

intersubjetivas.

As relações familiares não passaram imunes às mudanças de

comportamento da sociedade e à nova ordem introduzida pela Constituição

Federal de 1988.

A família passa por uma releitura de valores e, nesta perspectiva,

sobreleva observar que o afeto substituiu a patrimonialidade intrínseca à família

liberal burguesa.

A ordem jurídica inaugurada com a Constituição Federal de 1988

alçou a dignidade da pessoa humana como fundamento da República

Federativa do Brasil, o que se observa pela leitura do artigo 1º, II,

reconhecendo, ainda, novos modelos de família, formadas pelo casamento,

pela união estável, a família monoparental e a família formada por situações

que envolvem tutela, guarda e adoção.

Mas não é só.

A proibição de discriminação dos filhos havidos dentro ou fora do

casamento e a consagração do princípio da igualdade entre homens e

mulheres (artigo 226, §§ 5º e 6º, da Constituição Federal) provocou a

necessidade de se repensar o Direito de Família, desconstruindo dogmas para

construir uma nova e moderna doutrina sobre o assunto.

Mesmo porque a dignidade da pessoa humana se erigiu em valor

máximo na nova ordem constitucional, o que impõe uma nova análise dos

institutos.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

7O atual Código Civil, em vigor a partir de janeiro de 2003, consolidou

as profundas alterações nas relações intrafamiliares, privilegiando o afeto como

seu elemento norteador, exigindo decisões coerentes com a principiologia de

eticidade, socialidade e operalidade, que nortearam o projeto de lei de Miguel

Reale.

A propósito das mudanças de paradigmas nas relações familiares e

no próprio Direito de Família, leciona Arnaldo Rizzardo (RIZZARDO, 2008, p.

XI):

Há consideráveis mudanças nas relações de família, passando a dominar novos conceitos em detrimento de valores antigos. Nesta visão, têm mais relevância o sentimento afetivo que o mero convívio. Em tempos que não se distanciam muito, recorda-se como se insistia na convivência do casal, mantendo-se muitos casamentos apenas formalmente, pois nada representavam no seu conteúdo pessoal e afetivo.

O presente trabalho consubstancia estudo sobre a obrigação

alimentar em todos os seus contornos, efeitos e vicissitudes, objetivando

apresentar uma releitura consentânea dos alimentos, características, fontes,

vetores de fixação e da lei que regulamenta a ação de alimentos – Lei nº

5.478/68 – com a nova perspectiva constitucional, valendo realçar, como vetor

norteador do estudo, o disposto no artigo 229 da Constituição Federal, que

realça o dever dos pais de assistir, de criar e de educar seus filhos menores e o

dever dos filhos de ajudar e de amparar seus pais na velhice, na carência ou

na enfermidade, estabelecendo um dever moral de solidariedade no âmbito dos

vínculos jurídicos mais próximos das pessoas (GUILHERME CALMON

NOGUEIRA DA GAMA, 2008, p. 484).

O Código Civil regulamentou o Direito de Família no seu livro IV,

dividindo-o em dois títulos principais: Do Direito Pessoal e Do Direito

Patrimonial, incluindo neste título as disposições sobre os alimentos.

O exame da obrigação alimentar se complementa, ainda, com a

análise da Lei nº 5.478/68 e dos dispositivos processuais relacionados à

execução (artigos 732 c/c 475-J e artigo 733, todos do Código de Processo

Civil).

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

8CAPÍTULO I

DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

O direito a alimentos se fundamenta, no Direito de Família, no

princípio fundamental da solidariedade familiar (GUILHERME CALMON

NOGUEIRA DA GAMA, 2008, p. 489).

Alimentos, em sentido amplo, representam aquilo que a pessoa

necessita para sua manutenção (alimentação, vestuário, moradia, assistência

médica, transporte, educação, lazer etc).

Consubstanciam prestações para satisfazer as necessidades vitais

de quem não pode provê-las por si (ORLANDO GOMES, 1999, p. 81).

O conteúdo da obrigação alimentar, como assinalado, é o

indispensável para o sustento, educação, vestuário, assistência médica,

moradia, transporte, educação, lazer etc.

Seu fundamento reside, portanto, no princípio da solidariedade

familiar que deve nortear as relações entre os membros da família, tendo por

finalidade assegurar o direito à subsistência e à vida.

As decisões judiciais têm evoluído no sentido de humanizar as

relações familiares, reconhecendo o afeto como elemento norteador das

entidades e relações familiares.

A obrigação alimentar, de outra parte - e não poderia ser diferente -

consubstancia a face patrimonial do direito de família, provocando amiúde

acentuado desgaste nas relações afetivas, na medida em que enfeixa a face

patrimonial de relações fundadas no afeto.

Os alimentos se destinam, de qualquer modo, a atender

necessidades de quem não tem condições de prover, por si só, às próprias

exigências de manutenção e vida digna, não sendo, todavia, fonte de

ociosidade ou estímulo ao ostracismo.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

91.1 – CLASSIFICAÇÃO

Os alimentos podem derivar de diversas causas jurídicas, o que os

faz adquirir características próprias. Podem ser classificados em:

- Alimentos legais ou legítimos – devidos em razão de expressa previsão legal.

Decorrem da existência de relação familiar entre as pessoas, abrangendo os

alimentos entre parentes e companheiros. São as hipóteses de alimentos

decorrentes do:

- casamento ou União Estável – previsão nos artigos 1.694, 1.702,

letra “d” e 1.704, todos do Código Civil.

- decorrentes do poder familiar - Os pais têm os deveres de guarda,

sustento e educação dos filhos, na forma determinada no artigo 1.566, IV. Com

a maioridade do alimentando, o dever alimentar busca fundamento na relação

de parentesco e se prorroga até os 24 anos de idade, critério empírico que

considera a idade na qual o alimentado deveria completar sua formação

educacional e se lançar definitivamente no mercado de trabalho, assegurando

sua própria subsistência.

- Decorrentes da Relação de Parentesco – artigos 1.696 a 1.698

(ascendentes, descendentes e irmãos unilaterais ou bilaterais). Nestas

hipóteses, em tese, os parentes são, reciprocamente, credores e devedores de

alimentos, concretizando-se a relação jurídico-alimentar com a presença do

binômio necessidade-possibilidade (GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA

GAMA, 2008, p. 534).

- Alimentos voluntários – resultam de uma declaração de vontade manifestada

por negócio inter vivos ou mortis causa e tem previsão no direito das

obrigações (557, IV – doação pura e 803 – constituição de renda) e no direito

das sucessões (1.920 – decorrentes de legado).

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

10- Ressarcitórios ou Indenizatórios – resultam como forma de reparação dos

danos materiais sofridos em razão de homicídio praticado pelo autor da ofensa

e prática de um ato ilícito – artigos 948, II e 950, ambos do Código Civil.

1.2 - CARACTERÍSTICAS

Os alimentos, como afirmado, merecem tratamento e proteção

especial do Estado, mercê de seu cunho assistencial, segundo o qual: os

alimentos são destinados a remediar necessidades cuja satisfação não pode

ser declinada nem adiada (LAFAYETTE RODRIGUES PEREIRA, 1956, p.

337).

Eis o motivo pelo qual recebem tratamento especial, porquanto

guardam íntima correlação com a própria vida e dignidade da pessoa humana,

ostentando as seguintes características:

- Direito personalíssimo – cuida-se de direito inerente à própria

pessoa que o titulariza, não sendo possível transferi-lo a outrem, uma vez que

a obrigação alimentar se destina a assegurar a sobrevivência do alimentando.

O artigo 1.700 do Código Civil deve ser interpretado no sentido de que a

obrigação, por si só, não se transmite aos herdeiros, mas sim a dívida vencida

e que será solvida de acordo com as forças da herança, tal como determinado

no artigo 23 da Lei nº 6.515/77.

Não se olvide, ainda, que a transmissão da obrigação aos herdeiros,

a que se refere o dispositivo legal, significa que a obrigação alimentar poderá

derivar de eventual relação de parentesco entre o alimentando e os herdeiros

do alimentante, a exigir, outrossim, a análise dos demais pressupostos de

cabimento.

- Indisponibilidade e Irrenunciabilidade – O direito não é apto a

renúncia ou cessão. O artigo 1.707 do Código Civil prevê que:

Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar ao direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

11 O caráter de indisponibilidade afasta qualquer possibilidade de

transação, admitindo-se, todavia, convenção sobre o valor e modo de

pagamento da prestação.

Destaque-se, outrossim, que Projeto de Lei nº 6.433/09, de autoria

do Deputado Paes de Lita (PTC-SP), prevê a possibilidade de renuncia do

cônjuge ao direito de receber alimentos, o que, atualmente, é vedado pelo

artigo 1.707 do Código Civil. A proposta de alteração legislativa tramita em

caráter conclusivo e será analisada pelas comissões de Seguridade Social e

Família e de Justiça e Cidadania.

- Intransmissibilidade – A intransmissibilidade dos alimentos constitui

consequência lógica de sua natureza personalíssima. Os alimentos são

intransmissíveis e a obrigação se extingue com o falecimento de algum

protagonista da relação jurídica, tendo o credor direito tão-somente ao crédito

das prestações vencidas até o falecimento do devedor e de acordo com as

forças da herança.

Vale dizer, o crédito do alimentando se limita ao patrimônio deixado

pelo devedor, não podendo suplantá-lo.

- Incompensável – Não é permitida a compensação dos alimentos

com dívidas pessoais do credor (artigos 373 e 1.707, ambos do Código Civil);

o que se pagou de alimentos não pode ser repetido ou compensado com

outros créditos.

Não é incomum o alimentante almejar deduzir da obrigação alimentar

eventuais gastos com o credor, como viagens, compra de peças de vestuário,

calçados, diversão etc, havendo remansoso entendimento no sentido de que se

trata de pagamento voluntário e incompensável com a obrigação principal.

- Irrestitutibilidade – Os alimentos provisórios recebidos durante a

ação judicial não podem ser devolvidos se a demanda vier a ser julgada

improcedente. Guarda íntima correlação com a característica da irrepetibilidade

dos alimentos.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

12- Reciprocidade entre os parentes e os ex-cônjuges – Cuida-se de

característica expressamente prevista no artigo 1.696 do Código Civil, segundo

o qual:

O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em graus, uns em falta de outros.

- Alternatividade da obrigação – expressa no artigo 1.701 do Código

Civil. Significa que o alimentante pode fornecer prestação pecuniária ao

alimentando ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de

educação, quando menor de idade, podendo, inclusive, prestar alimentos como

a entrega de gêneros alimentícios, rendimentos de bens etc.

- Irretroatividade – Os alimentos são devidos a partir da data da

citação, consoante preceitua o parágrafo segundo do artigo 13 da Lei nº

5.478/68, não sendo possível obrigar o devedor a pagá-los por período anterior

ao ato de comunicação processual. A exigibilidade da obrigação tem como

termo inicial a data em que efetivada a citação para responder à ação de

alimentos.

- Variabilidade – esta característica guarda correlação com os

pressupostos de fixação da obrigação alimentar (possibilidade de quem paga e

necessidade de quem recebe), o que significa que qualquer alteração na

equação possibilidade-necessidade projetará efeito direito no valor da

obrigação. Em síntese, a pensão alimentícia pode variar de acordo com a

capacidade financeira de ambos ou com o incremento ou redução da

necessidade do credor.

- Ausência de solidariedade – não há solidariedade entre os

parentes. A obrigação alimentar é divisível, uma vez que a fixação deve ser

proporcional à capacidade contributiva do devedor (artigo 1.698 do Código

Civil).

- Imprescritibilidade – O direito aos alimentos é imprescritível, o que

não se confunde com a prescrição que incide sobre a exigibilidade das

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

13prestações, estas submetidas ao prazo prescricional de dois anos (artigo 206, §

2º, do Código Civil). A prescrição alcança, ademais, tão-somente a prestação

periódica anterior a dois anos e não o direito subjetivo do credor. Eis o motivo

pelo qual se afirma que a prescrição atinge a pretensão e não o direito

subjetivo.

1.3 – ESPÉCIES

O artigo 1.694, caput, e o parágrafo segundo do Código Civil adotou

classificação que inexistia no Código Civil revogado (1916) e que apresenta

distinção entre os alimentos em civis ou naturais.

Alimentos civis ou côngruos – são aqueles necessários para manter o padrão

de vida compatível com o alimentante. Destinam-se a manter a qualidade de

vida, a condição social, o status da família, de acordo, inclusive, com as

necessidades intelectuais e morais (artigo 1.704 do Código Civil), limitando-se

o valor da obrigação, todavia, à capacidade econômica da pessoa obrigada.

Alimentos naturais ou necessários – São aqueles indispensáveis à própria

sobrevivência do alimentando e que significam o mínimo para subsistência

(artigo 1.920 do Código Civil), excluindo-se qualquer destinação para

manutenção da condição social. Ostentam caráter assistencial e visam apenas

assegurar a sobrevivência do alimentando. O cônjuge considerado culpado

pela separação, pela nova diferenciação introduzida pelo atual Código Civil,

tem direito a alimentos naturais ou necessários, se não tiver qualquer parente

em condições de prestá-los e nem aptidão para o trabalho, (artigo 1.704,

parágrafo único, do Código Civil).

Os alimentos naturais derivam da aplicação do princípio da solidariedade e

dignidade da pessoa humana.

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

14

1.4 – ALIMENTOS GRAVÍDICOS

Os alimentos gravídicos consubstanciam obrigação alimentar devida

pelo genitor a partir da gravidez da gestante e decorrem da exigência de

responsabilidade parental que deve existir desde a concepção; reafirmam a

igualdade de direitos e deveres entre os pais, dispensando até mesmo a

comprovação da viabilidade da gravidez.

A Lei nº 11.804 de 5.11.2008, dentro da tutela de proteção à

dignidade da pessoa humana, disciplinou o direito de alimentos da mulher

gestante com a finalidade de proteger os direitos do nascituro, consagrando o

princípio da proteção integral.

O artigo 2º do Código Civil preceitua que a personalidade civil da

pessoa começa do nascimento com vida, mas coloca os direitos do nascituro

sob proteção especial e efetiva da ordem jurídica.

A lei assegura à gestante, em síntese, o direito de receber alimentos

desde a concepção até o parto.

Os alimentos gravídicos se destinam a suportar o pagamento de

despesas correspondentes ao período de gestação como alimentação especial,

assistência médica e psicológica, exames médicos, internação, procedimento

cirúrgico, medicamentos, cuidados especiais etc.

O escopo da norma se dirige à tutela da mãe e do nascituro.

No que tange ao aspecto processual, deve o Juiz fixar, liminarmente,

se convencido da existência de indícios de paternidade, os alimentos

gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, quando, então, serão

convertidos em pensão alimentícia em favor da criança (artigo 6º), podendo

ocorrer, inclusive, revisão do valor inicialmente fixado, uma vez que a natureza

das despesas são alteradas, da gestação para o sustento.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

15Cuida-se, a rigor, de decisão a ser proferida em cognição sumária,

com base em indícios de paternidade, daí a necessidade de a gestante

apresentar alguma prova, mesmo que indiciária, conquanto não resolutiva, para

obter tutela em sua pretensão.

Neste particular, deve ser ressaltado que os critérios norteadores de

fixação da obrigação alimentar são distintos da norma inserta no artigo 1.694

do Código Civil (possibilidade e necessidade), uma vez que se correlacionam

às despesas com a gestação, devendo o juiz observar, inclusive, se a gestante

possui plano de saúde, seu estado de saúde, se haverá custos de parto, se a

gestação demanda maiores cuidados, se envolve risco etc.

O artigo 11 estabelece a aplicação subsidiária da Lei nº 5.478/68 e

do Código de Processo Civil, devendo ser considerado, ainda, apesar do

silêncio da lei, a aplicação da principiologia extraída do Código Civil de 2002.

Os alimentos gravídicos, desta forma, se inserem no modelo de

tutela de dignidade da pessoa humana, tendo o condão de proteção da

genitora e do nascituro durante o período de gestação, assegurando-lhes o

mínimo indispensável para subsistência.

É preciso se afirmar, por derradeiro, que os alimentos gravídicos não

apresentam qualquer desconformidade com a teoria geral dos alimentos no

direito de família, em especial com relação à fonte da obrigação, na medida em

que a paternidade responsável se inicia com a gestação.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

16CAPÍTULO II

PRESSUPOSTOS DE FIXAÇÃO

ANÁLISE DO BINÔMINO NECESSIDADE X POSSIBILIDADE

Os alimentos têm previsão no subtítulo III do capítulo VI do livro IV do

Código Civil, especialmente nos artigos 1.694 a 1.710.

A causa jurídica que lhe dá suporte é o vínculo de parentesco ou

marital (ou de união estável).

A obrigação alimentar – qualquer que seja sua fonte ou causa

jurídica – não prescinde da análise de seus pressupostos de cabimento e dos

critérios para a justa fixação.

Neste compasso, preceitua o parágrafo segundo do artigo 1.694 do

Código Civil que os alimentos devem atender as necessidades do credor para

viver de modo compatível com sua condição social, ressaltando o parágrafo

primeiro, ainda, que os alimentos devem ser fixados na proporção das

necessidades do alimentário e dos recursos do alimentante.

Cuida-se, com efeito, de positivação expressa da regra geral

segundo a qual são devidos alimentos civis e de que os alimentos devem ser

fixados de acordo com o denominado binômio necessidade – possibilidade,

referência para aferição do justo valor da obrigação alimentar a viger entre as

partes.

A necessidade é o principal elemento na análise da existência da

obrigação, porquanto inexistirá obrigação alimentar se não houver necessidade

do alimentando, o que se verifica a partir da idade do alimentando, sua

formação educacional, estado de saúde, padrão de vida, enfim condições

pessoais que permitam avaliar a possibilidade de sua reinserção no mercado

de trabalho e de assegurar a própria subsistência, assinalando-se, mais uma

vez, que os alimentos não se prestam a estimular a ociosidade.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

17A obrigação alimentar, de qualquer sorte, é gravada com a cláusula

rebus sic standibus, o que significa que o valor deve ser mantido se não houver

qualquer alteração na situação fática envolvendo os protagonistas da relação

jurídica.

Em outras palavras, o valor só poderá ser modificado se houver

alteração das condições objetivas e subjetivas (possibilidade e necessidade).

A modificação na situação fática pode acarretar a exoneração ou

revisão da obrigação alimentar, para extingui-la, majorá-la ou reduzi-la, se

houver incremento ou mitigação da capacidade financeira de quem presta os

alimentos ou alteração significativa das necessidades do alimentando.

A revisão da obrigação alimentar, deste modo, é indispensável para

a preservação do equilíbrio na equação necessidade-possibilidade e decorre

da característica da variabilidade da obrigação alimentar.

Aliás, a necessidade de análise das possibilidades do devedor

ratifica a natureza divisível da obrigação e a impossibilidade de considerá-la

solidária, o que impede, inclusive, o ajuizamento da ação de alimentos em face

de apenas um dos devedores.

Isso porque cada devedor deve contribuir na exata medida de suas

possibilidades.

A partir de tais premissas e considerando a inexistência de tarifação

legal ou normativa, deve o juiz se manter atento às circunstâncias fáticas de

cada caso e, ainda, ponderado e equilibrado na análise do binômio

necessidade de quem pede e possibilidade de quem paga, para que possa

fixar o justo valor da obrigação alimentar.

Deve o juiz considerar, deste modo, as condições pessoais dos

envolvidos, a idade, o estado de saúde, a capacidade financeira, a formação

educacional, a possibilidade de inserção no mercado de trabalho, o padrão de

vida, hábitos regulares etc, para fixar a obrigação alimentar consistente no

pensionamento em dinheiro e na periodicidade mais adequada, observada a

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

18possibilidade, ainda, de as partes transigirem quanto ao pensionamento in

natura ou em periodicidade diversa da mensal.

Neste particular, vale ressaltar que nada impede a fixação da

obrigação alimentar em período quinzenal, mensal, trimestral ou semestral,

resguardada a preservação de interesse dos incapazes.

Não resta dúvida, por outro lado e em algumas hipóteses, da

dificuldade de o juiz obter ampla cognição sobre a real capacidade econômica

do devedor. Eis o ponto nevrálgico a ser descortinado.

E tal fato ocorre, sobretudo, nas hipóteses de inexistência de vínculo

formal de trabalho pelo alimentante, hipótese em que o pagamento não poderá

ser efetuado através de mero e singelo desconto do percentual convencionado,

ou judicialmente determinado, em folha de pagamento ou sob a forma de

desconto em benefício previdenciário.

No caso de profissionais autônomos ou trabalhadores sem vínculo

empregatício formal, os rendimentos podem ser (e amiúde são) escamoteados

com o desiderato de reduzir o valor da contribuição.

Nestas hipóteses, infelizmente comuns na prática judiciária, deve o

juiz se valer de sua inteligência e ampliar o conhecimento acerca dos hábitos

do alimentante, o que pode ser feito através da expedição de ofícios às

administradoras de cartões de crédito e instituições financeiras para que

informem acerca da existência de movimentações financeiras em nome do

devedor.

É preciso estar atento, inclusive, para a eventualidade de o devedor

se valer de terceira pessoa para implementar suas movimentações financeiras,

utilizando-a como testa-de-ferro; ou, ainda, constituir pessoa jurídica com o

objetivo de lhe transferir todo o patrimônio amealhado, buscando mascarar sua

real e confortável situação financeira.

Nestas hipóteses, tem plena aplicação a denominada teoria da

desconsideração da personalidade jurídica, na qual o credor deverá

demonstrar que a sociedade funciona como um alter ego do devedor.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

19Não se pode desprezar, ainda, o exame dos sinais exteriores de

riqueza, o que significa que o local de residência, a marca e modelo do

automóvel, viagens turísticas, os restaurantes que frequenta, a utilização de

roupas de grife etc, podem indicar um padrão de vida incompatível com o valor

declarado dos rendimentos.

Não se desconsidere que tais sinais de riqueza não são de fácil

comprovação no curso de uma demanda. Todavia, a oitiva de testemunhas

pode auxiliar a busca pela verdade real, devendo a defesa técnica se mostrar

atenta ao desenvolvimento do processo, sobretudo aos pontos controversos e

a necessidade de comprovar suas teses.

As regras de distribuição do ônus da prova, no campo probatório

tradicional, se resolvem pelo disposto no artigo 333 do Código de Processo

Civil, segundo o qual compete ao autor a prova do fato constitutivo de seu

direito.

No caso de obrigação alimentar, todavia, não se pode trabalhar com

uma metodologia ortodoxa e sem atentar para a realidade social que salta aos

olhos.

A rigor, o artigo 2º da Lei nº 5.478/68 dispõe que o autor da ação de

alimentos deverá expor suas necessidades, comprovando, apenas, o

parentesco ou a obrigação de alimentar do devedor.

O dispositivo legal não exige, deste modo, a prova resoluta da

capacidade financeira do devedor.

Isso ocorre porque não há como se impor ao alimentando a

comprovação dos ganhos efetivos do alimentante, mormente porque, em

muitas situações, ambos não mantêm qualquer convivência, diálogo ou

informações confidenciais.

A ruptura de um relacionamento afetivo, no caso de separação

judicial, é frequentemente marcada por disputas, mágoas e ressentimentos,

quiçá mais intensos do que o amor que uniu o casal.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

20Não se pode exigir do credor, ademais, algo que ele não poderá

efetivamente comprovar, motivo pelo qual poderá o juiz proceder à inversão do

ônus da prova, para exigir do devedor a prova idônea de seus rendimentos e,

em caso de dúvida, se valer das informações fiscais e bancárias necessárias à

melhor cognição.

De qualquer modo, o Judiciário e o Ministério Público não podem se

acomodar com a mera informação prestada pelo alimentante; devem buscar

amplo conhecimento sobre a situação fática, sobre as necessidades do

alimentando, cotejando e ajustando o necessário, o indispensável e o

supérfluo, assim como as reais possibilidades do alimentante, com a quebra de

sigilo fiscal, bancário etc, com o único e primordial objetivo de que seja

proferida uma sentença materialmente justa.

Neste compasso, deve o Ministério Público observar e suprir a

eventual falta de diligência ou desatenção técnica da alimentanda, sobretudo

quando a questão envolver o interesse de incapaz.

Os agentes do Estado não podem se contentar com uma verdade

formal, ou seja, aquela extraída tão-somente das provas produzidas nos autos.

A primazia da dignidade da pessoa humana e a solidariedade existente nas

obrigações alimentares exigem uma atuação pró-ativa e com o objetivo de

trazer justiça ao caso concreto, quantificando a obrigação de acordo com a

natureza do vínculo e observados os pressupostos de fixação.

Maria Berenice Dias (2008, p. 482) realça, com acerto, que o valor da

obrigação deve ser fixado, ainda, com fundamento no princípio da

proporcionalidade, ressaltando que:

A regra para a fixação (CC, 1.694 § 1º e 1.695) é vaga e representa apenas um standard jurídico. Dessa forma, abre-se ao juiz um extenso campo de ação, capaz de possibilitar o enquadramento dos mais variados casos individuais. Para definir valores, há que se atentar ao dogma que norteia a obrigação alimentar: o princípio da proporcionalidade. Esse é o vetor para a fixação dos alimentos. Tradicionalmente, invoca-se o binômio necessidade-possibilidade, ou seja, perquirem-se as necessidades do alimentando e as possibilidades do alimentante para estabelecer o valor da pensão. No entanto, essa mensuração é feita para que se respeite a diretriz da

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

21proporcionalidade. Por isso se começa a falar, com mais propriedade, em trinômio: proporcionalidade-possibilidade-necessidade.

E, mais diante, conclui sobre os critérios de fixação (2008, p. 483):

Cabe ao juiz fixar os alimentos. Para isso, precisa dispor dos meios necessários para saber das necessidades do credor e das possibilidades do devedor. Não trazendo o alimentante informações sobre os seus ganhos, fixa a pensão por indícios que evidenciem seu padrão de vida.

Deve-se buscar, deste modo, todos os meios possíveis e legítimos

para a justa fixação do valor da obrigação.

Eis o principal valor a ser tutelado: a justiça, sem a qual de nada

adiantam leis, códigos, doutrinas, jurisprudências etc. A justiça, conquanto

subjetiva, é valor a ser perseguido por todos operadores do direito e todos

aqueles comprometidos com uma sociedade justa e ética.

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

22CAPÍTULO III

ALIMENTOS E TUTELA JURISDICIONAL

O direito à percepção de alimentos – como todo direito substancial –

necessita de proteção instrumental para sua fruição.

Vale dizer, de nada adianta a existência do direito subjetivo se não

houver uma forma judicial de protegê-lo ou repará-lo.

Se o alimentante não cumprir espontaneamente a obrigação, deverá

o credor buscar judicialmente o adimplemento da obrigação.

A ação de alimentos é o instrumento jurídico-processual apto à

deflagração da pretensão de percepção de alimentos quando o interessado

possui comprovação de plano da causa jurídica.

Sua previsão encontra ressonância na Lei 5.478 de 25 de julho de

1968, cuja longevidade decorre, sobretudo, da possibilidade de se imprimir

uma releitura teleológica dos dispositivos que frontalmente colidem com a nova

ordem constitucional e até mesmo pragmática, na medida em que a realidade

forense é diversa daquela que estimulou sua edição.

De qualquer sorte, a aplicação de legislação editada há mais de

quarenta anos se descortina possível tão-somente pela simplicidade de suas

normas e pela possibilidade de interpretá-las e aplicá-las em conformidade com

as novas diretrizes principiológicas.

Nesta perspectiva, deve o aplicador interpretar a Lei nº 5.478/68 com

os ventos democráticos e principiológicos da Constituição Federal de 1988 e

com o atual Código Civil, ambos fundados numa nova ordem na qual a

dignidade da pessoa humana e a eticidade se sobrelevam em detrimento de

interesses meramente patrimoniais.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

233.1 – DA AÇÃO DE ALIMENTOS

A ação de alimentos possui procedimento especial, regulado pela

Lei nº 5.478/68, em que a prova da existência do dever alimentar (prova pré-

constituída) se afigura indispensável para que o interessado possa se valer de

seu rito concentrado, o que proporciona maior celeridade na entrega da

prestação jurisdicional.

Vale dizer, o manejo da ação de alimentos pelo procedimento da Lei

nº 5.478/68 somente é cabível quando o interessado possui prova pré-

constituída do fato gerador da obrigação alimentar (certidão de casamento,

certidão de nascimento etc).

Resulta daí a impossibilidade de o companheiro se valer, a princípio,

do rito da Lei nº 5.478/68 se não houver comprovação de plano da existência

da entidade familiar, devendo buscar, nesta hipótese, a via comum e ordinária

para deflagrar sua pretensão.

Nesta hipótese, não se desconsidere que poderá postular o direito

imediato ao recebimento de alimentos (provisórios), com fundamento no

instituto da antecipação dos efeitos da tutela de mérito, a que se refere o artigo

273 do Código de Processo Civil, nos casos em que, existente prova

inequívoca, se convencer o juiz da verossimilhança da alegação da parte

autora.

O inciso II do artigo 100 do Código de Processo Civil estabelece a

competência do foro do domicílio ou da residência do alimentando para a ação

em que se pedem alimentos, tendo revogado a regra inserta no artigo 26 da Lei

nº 5.478/68, segundo a qual é competente para as ações de alimentos o juízo

na qual reside o devedor.

A legitimidade para pleitear alimentos ou prestá-los pertence ao

cônjuge (ou companheiro) e aos parentes mais próximos, sendo certo que a

pretensão pode ser direcionada em face de outros parentes no caso de falta ou

incapacidade econômica (artigo 1.697 do Código Civil).

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

24Nestas hipóteses, a legitimidade na linha colateral é limitada aos

irmãos germanos ou unilaterais (parentesco de 2º grau na linha colateral).

O artigo 4º da Lei nº 5.478/68 determina que o juiz fixe, ao despachar

a petição inicial, os alimentos provisórios a serem devidos pelo alimentante até

o julgamento da demanda, destacando-se presumidas as necessidades do

menor.

Não tratou o legislador, com efeito, de conferir poder discricionário ao

magistrado, mas de lhe impor o dever de estabelecer provisoriamente o valor

da contribuição alimentar destinada a assegurar a subsistência do necessitado.

Os alimentos se destinam a assegurar o direito à vida e subsistência

e, portanto, sua relevância assume especial proteção do Estado, mercê do bem

jurídico que se encontra sob tutela.

Não se olvide, de outra parte, que o sustento da prole incumbe a

ambos os genitores, na exata medida de suas possibilidades financeiras.

Os alimentos provisórios ostentam natureza de antecipação da tutela

e são fixados liminarmente no despacho inicial proferido na ação de alimentos,

o que significa que o juiz, numa análise preliminar, antecipará para o início do

litígio aquilo que ele, em tese, concederia na sentença definitiva, louvando-se

nas afirmações prestadas pelo autor na petição inicial.

O artigo 6º da lei de regência determina que as partes devam estar

presentes à audiência de conciliação, instrução e julgamento, acompanhados

de suas testemunhas1 e produzindo todas as provas compatíveis com a

natureza da demanda.

O dispositivo demonstra a natureza concentrada do respectivo ato

processual, no qual o réu oferece resposta, as partes prestam depoimento

pessoal, produzem todas as provas e se manifestam em alegações finais,

ouvindo-se, em seguida, o Ministério Público para que, de imediato, seja

proferida sentença. 1 O artigo 8º da Lei nº 5.478/68 preceitua que as partes comparecerão à audiência acompanhados de, no máximo, três testemunhas, apresentando, nesta ocasião, as demais provas.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

25O artigo 7º, por sua vez, ao dispor que o pedido deverá ser arquivado

no caso de não comparecimento do autor, é exemplo emblemático acerca da

necessidade de se interpretar a norma com os olhos voltados para a realidade

forense.

Consigne-se, de início, que, na verdade, não se trataria de

arquivamento do pedido, mas sim de arquivamento dos autos do processo. O

pedido é algo abstrato e os autos do processo documentam sua representação

física.

Mas não é só.

A providência adequada, pela melhor sistemática processual, não é

simplesmente determinar o arquivamento dos autos. Isso porque a relação

jurídica processual permaneceria “em aberto”, constando nos cadastros,

inclusive, como demanda sem qualquer andamento e sem sentença.

Arquivar provisoriamente os autos não resolve o direito material e

contraria a moderna filosofia processual, que exige, de alguma forma, a

conclusão da relação processual.

O Juiz deverá determinar, na verdade, a suspensão da decisão

liminar que fixou os alimentos provisórios, considerando o aparente

desinteresse do autor, e, em seguida, deverá determinar sua intimação para

dar andamento ao processo, no prazo de 48h, sob pena de extinção.

É o que determina o disposto no parágrafo primeiro do artigo 267 do

Código de Processo Civil.

Se a parte, regularmente intimada a fazê-lo, não der qualquer

impulso à relação processual, deverá o juiz julgar extinto o processo,

condenando-a no pagamento das custas e honorários do advogado constituído

pela parte adversa, procedendo-se ao arquivamento definitivo dos autos.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

26A redação do artigo 13 preceitua que a Lei nº 5.478/68 se aplica às

ações de revisão de sentenças proferidas em pedidos de alimentos e suas

respectivas execuções.

A revisão, na verdade, não é da sentença, mas sim do valor do

pensionamento, a partir de uma alteração nos pressupostos fáticos, o que só é

possível se houver algum desequilíbrio no festejado binômio necessidade do

alimentando - possibilidade do alimentante.

O parágrafo segundo do respectivo dispositivo preceitua que os

alimentos, em qualquer caso, retroagem à data da citação, o que significa que,

a partir do momento em que o réu passa a ser devedor do valor

correspondente aos alimentos provisórios liminarmente fixados, a partir do

momento em que é comunicado da existência da demanda.

Os alimentos provisórios são substituídos por alimentos definitivos

quando fixados na sentença de mérito, prevalecendo, doravante, este valor

como efetivamente devido, mormente porque determinado após o exaurimento

da cognição da causa e quando o juiz já dispõe de todos os elementos para

aferir o justo valor da obrigação e formar sua convicção.

A sentença que fixa o valor da obrigação pode ser desafiada por

recurso de apelação desprovida de efeito suspensivo, a teor do que dispõe o

artigo 14, o que significa que os alimentos fixados na sentença (denominados

alimentos definitivos) passarão a ser imediatamente devidos pelo alimentante.

O artigo 520, II, do Código de Processo Civil, caminha na mesma

trilha, ao preceituar que a apelação interposta contra a sentença que condenar

à prestação de alimentos será recebida somente no efeito devolutivo.

Busca-se, com tal metodologia, conferir maior efetividade e justiça às

decisões definitivas.

A redação do artigo 15 é merecedora de críticas.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

27Segundo o dispositivo legal, a decisão judicial sobre alimentos não

transita em julgado, fazendo parecer ao intérprete literal que a sentença que

fixa os alimentos não forma coisa julgada, o que não é verdadeiro, na medida

em que a possibilidade de exoneração ou revisão não é da sentença, mas sim

da obrigação alimentar, o que ocorre em decorrência de alteração no substrato

fático (possibilidade e necessidade).

A sentença produz coisa julgada material e a possibilidade de revisão

do valor da obrigação decorre da alteração do binômio necessidade x

possibilidade, o que faz surgir uma nova causa de pedir e que não ofende a

soberania da coisa julgada.

Mesmo porque se cuida, a rigor, de relação jurídica continuativa,

cambiante e que flutua de acordo com as condições atuais das partes;

qualquer alteração da situação fática permitirá a revisão do valor para reduzi-lo

ou majorá-lo, sempre com o objetivo de que seja justo o valor da obrigação.

Eis o motivo pelo qual se afirma que a sentença que fixa os

alimentos é gravada com a cláusula rebus sic standibus, o que significa, em

síntese, que a obrigação deve ser mantida enquanto inalterada aquela situação

fática que a justificou.

A obrigação alimentar, como visto, pode ser prestada em valor

pecuniário ou in natura (quando envolver hospedagem, sustento, educação

etc), sendo certo que, neste caso, deverá contar com expressa concordância

do credor, na forma disciplinada no artigo 25 da Lei de Alimentos, que exige a

obrigatoriedade da concordância do credor.

A responsabilidade dos avós é subsidiária e complementar, sendo

necessário, inicialmente, verificar a possibilidade de os pais, devedores

originários, suportarem o pagamento da prestação e somente na eventualidade

de não terem condições de suprir total ou parcialmente as necessidades do

credor dos alimentos é que ocorrerá a responsabilidade subsidiária e

complementar dos avós.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

28Controversa a possibilidade de ajuizamento da demanda diretamente

em face dos avós. Cristiano Chaves de Faria (2005, p. 48) sustenta que há

necessidade de exaurimento dos meios de cobrança dos alimentos em relação

aos pais para, somente depois, direcionar a pretensão em face dos avôs.

Maria Berenice Dias (2008, p. 421), por sua vez, entende que se

deve admitir a propositura conjunta em face dos pais e dos avôs ou nas

hipóteses em que demonstradas, de plano, a impossibilidade ou possibilidade

parcial dos devedores originários de suprir as necessidades do alimentante,

hipótese em que seria possível a inclusão imediata dos avós.

Deste modo, para se chamar os demais parentes (avós, netos ou

irmãos), deve ser prontamente comprovada a impossibilidade de os devedores

mais próximos suportar a obrigação de acordo com a necessidade do

alimentando.

A ação de alimentos possui, enfim, procedimento extremamente

simplificado, quiçá em decorrência da natureza dos bens sob tutela e da

própria concentração dos atos processuais, o que contribui para sua

longevidade.

3.2 – DA EXECUÇÃO DOS ALIMENTOS

O inadimplemento da obrigação alimentar faz exsurgir o direito

subjetivo de o credor buscar a tutela jurisdicional para satisfação do crédito.

O presente estudo se correlaciona às execuções de alimentos

lastreadas em título executivo judicial (sentença condenatória ou

homologatória de acordo de pensionamento).

No sistema implantado pelo Código de Processo Civil de 1973, o

credor era obrigado a deflagrar uma segunda demanda – ação de execução –

dando azo ao surgimento de uma nova relação jurídico-processual, com nova

citação do devedor para pagar o débito ou oferecer resposta, podendo o

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

29condenado se valer, inclusive, da ação de embargos do executado, com todas

suas vicissitudes.

A Lei nº 11.232/05 teve a virtude de adotar um regime sincrético,

provocando a reunião em um único processo das ações cognitiva e execução,

criando a fase de cumprimento de sentença e dispensando a necessidade de

ajuizamento de ação autônoma de execução.

A ação de execução de alimentos sobrevive, contudo, nos casos em

que as partes celebraram acordo extrajudicial, hipótese em que o credor

deverá se valer do procedimento da execução por quantia certa contra devedor

solvente, em virtude da inexistência do crivo judicial na formação do título

executivo.

A execução de alimentos fixados em sentença (condenatória ou

homologatória) foi alcançada pela nova sistemática processual, sobretudo no

que se refere à cobrança de prestações vencidas há mais de três

mensalidades, hipótese em que o credor deverá se valer do cumprimento de

sentença a que se refere o artigo 475-J do Código de Processo Civil.

A execução da obrigação alimentar pode ocorrer, deste modo,

com fundamento nos artigos 732 c/c 475-J e 733, todos do Código de Processo

Civil, o que significa a possibilidade de eleição pelo credor do procedimento

através de mecanismo expropriatório ou pela prisão do devedor, fundada no

artigo 733 do CPC.

Todavia, para que o credor possa postular a prisão civil do devedor

como instrumento coercitivo para compeli-lo ao pagamento, deve a execução

se limitar à cobrança das três últimas prestações anteriores ao ajuizamento da

demanda.

Isto porque se considera que a execução pelo rito do artigo 733 do

CPC, com a possibilidade de prisão civil, deve estar gravada pela atualidade

das prestações, o que demonstra a necessidade premente do credor,

sobretudo porque os alimentos se destinam à satisfação das necessidades

relacionadas à própria subsistência do alimentante.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

30Em outras palavras, o credor que se manteve inerte por longo tempo

e sem se valer da tutela jurisdicional não ostenta a necessidade premente para

se valer de poderoso instrumento processual que permite a restrição do direito

de liberdade do devedor.

Tal entendimento resultou na adoção do verbete nº 309 pela Súmula

de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, segundo o qual:

O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

As prestações anteriores a três meses deverão ser buscadas através

do cumprimento de sentença a que se refere o artigo 475-J do Código de

Processo Civil, com a redação introduzida pela Lei nº 11.232/2005.

Nesta hipótese, o devedor condenado ao pagamento da obrigação

alimentar deve ser intimado para pagamento no prazo de quinze dias, findo o

qual será o valor do débito acrescido de multa no percentual correspondente a

10%, expedindo-se, em seguida, a requerimento do credor, mandado de

penhora e avaliação, tudo na forma disciplinada no artigo 475-J.

A multa consubstancia, ontologicamente, sanção pelo não

pagamento da obrigação alimentar a que o devedor foi condenado ou se

comprometeu por acordo homologado por sentença judicial.

O devedor poderá oferecer impugnação no prazo de quinze dias

contados da data de intimação para pagamento (artigo 475-J, § 1º, do CPC),

ficando limitado a arguir questões relacionadas a falta ou nulidade da citação,

se o processo correu à revelia; inexigibilidade do título; penhora incorreta ou

avaliação errônea; ilegitimidade das partes; excesso de execução ou qualquer

causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como o pagamento,

compensação, transação, novação ou prescrição, desde que superveniente à

sentença (artigo 475-L do CPC).

A impugnação não ostenta, como regra, efeito de suspender o

prosseguimento da execução, ressalvada a possibilidade de concessão de

efeito suspensivo pelo juiz, se for verificada a relevância dos fundamentos do

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

31impugnante e a possibilidade de que a execução lhe cause dano grave, de

difícil ou incerta reparação (artigo 475-M), ficando o credor autorizado, neste

caso, a prestar caução idônea e suficiente e requerer o prosseguimento da

execução.

A execução com fundamento no artigo 733 do Código de Processo

Civil, por sua vez, admite a possibilidade de coação física.

Neste particular, deve ser salientado que a prisão do alimentante não

constitui pena, mas sim medida coercitiva destinada a compeli-lo ao

pagamento do débito alimentar.

O artigo 733 do Código de Processo Civil dispõe que a prisão pode

ser decretada pelo prazo de um a três meses.

O artigo 19 da Lei nº 5.478/68, por outro lado, preceitua que a prisão

pode ser decretada por até sessenta dias.

O conflito entre os prazos de prisão são evidentes.

O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, firmou o entendimento,

segundo o qual deve ser aplicado o princípio da especialidade da lei de

alimentos, mormente porque o prazo menor é mais benéfico ao réu, sobretudo

quando se cuida de restrição ao direito de liberdade, não tendo a prisão,

ademais, natureza satisfativa da obrigação.

O credor dispõe, atualmente, de qualquer sorte, de inúmeros

instrumentos destinados à satisfação de seu crédito, podendo se valer,

inclusive, de penhora de quaisquer bens2 ou de bloqueio de ativos financeiros

existentes em nome do executado, no que se convencionou denominar

penhora on-line.

2 O inciso III do artigo 3º da Lei nº 8.009/90 preceitua que a impenhorabilidade do bem de família é inoponível ao credor de pensão alimentícia.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

32CONCLUSÃO

A obrigação alimentar no Direito de Família se origina do poder

familiar, da relação de parentesco ou do matrimônio (ou união estável), não

sendo prescindível a cognição da classificação, características e espécies,

assim como dos pressupostos, para se alcançar uma justa fixação do valor

correspondente ao pensionamento mensal.

A fixação do valor da obrigação alimentar somente será justa na

medida em que o juiz buscar ampla e exauriente cognição sobre a situação

fática, mirando-se com prudência e equilíbrio na análise da capacidade

financeira de quem presta os alimentos, sendo certo que a imposição de valor

incompatível com os pressupostos da obrigação, se elevado, provocará

inevitável inadimplemento e necessidade de o credor se valer da tutela

jurisdicional para cobrança das prestações, com todas as vicissitudes

intrínsecas a uma demanda judicial.

A fixação de valor diminuto, por outro lado, consagrará injustiça e

colidirá com a paternidade responsável e dignidade da pessoa humana.

A fixação do valor justo passa, por vezes, por profunda análise sobre

a situação fática dos envolvidos e não se pode prescindir do ativismo judiciário.

Uma vez inadimplida a obrigação, por qualquer motivo, deve o titular

do direito subjetivo se valer da ação de alimentos regulada na Lei nº 5.478/68,

empregando-lhe uma leitura consentânea com a realidade forense e

principiologia inaugurada pela ordem constitucional de 1988 e corroborada pelo

Código Civil em vigor a partir de janeiro de 2003.

A instituição de um processo sincrético pela Lei nº 11.232/05

simplificou a execução dos créditos alimentares, conquanto mantida a ação de

execução autônoma para os créditos alimentares originados de títulos

executivos extrajudiciais.

Subsiste, outrossim, a execução com fundamento no disposto no

artigo 733 do Código de Processo Civil, restando possível a coerção pessoal

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

33(prisão civil) como instrumento idôneo a compelir o devedor ao cumprimento da

obrigação, desde que a demanda seja fundamentada no inadimplemento das

três prestações anteriores à data de distribuição da demanda.

Aliás, o entendimento acerca da limitação de três prestações como

fundamento da deflagração da execução pelo rito da coerção pessoal,

conquanto inexistente no ordenamento jurídico, restou consolidado pela edição

do enunciado nº 309 da Súmula de Jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça, descortinando-se como medida de justiça por diferenciar o credor

premido pela necessidade daquele que se manteve inerte.

Isso porque a prisão do devedor de alimentos só deve ser decretada

se o credor necessitar dos alimentos, o que se convencionou evidenciado

quando a postulação se referir às três últimas prestações.

O credor que se acomoda com o inadimplemento e não busca de

imediato a tutela jurisdicional enfeixa comportamento incompatível com a

necessidade de que é gravada a obrigação alimentar e com a restrição à

liberdade do devedor.

Nesta hipótese, conquanto legítima a possibilidade de cobrança do

crédito, não haverá possibilidade de o credor se valer do procedimento da

coerção pessoal, podendo manejar a execução com fundamento no disposto

nos artigos 732 e 475-J, ambos do Código de Processo Civil, com expropriação

dos bens do devedor para satisfação do crédito.

A tranquilidade e a segurança das relações jurídicas se originam,

como observado, de uma justa e equilibrada fixação do valor da obrigação

alimentar, e, para tanto, deve o Juiz manter-se atento às circunstâncias fáticas

envolvidas para que possa arbitrar um valor justo e passível de atender as

necessidades de quem pede e adequado às possibilidades e capacidade

financeira de quem suporta a obrigação alimentar.

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

34BIBLIOGRAFIA

CAHALI, Yussef Said, Dos Alimentos. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 1987.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2008.

______. Direito de Família e o novo Código Civil. Belo Horizonte: Del Rey,

2005.

FARIAS, Cristiano Chaves de. Alimentos Decorrentes do Parentesco. In:

CAHALI, Francisco José; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Alimentos no

Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2005.

FERST, Marklea da Cunha. Alimentos & Ação de Alimentos. Curitiba: Juruá

Editora, 2009.

GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito Civil – Família. São Paulo:

Atlas, 2008.

GOMES, Orlando. Direito Civil. FamíliaI. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

MADALENO, Rolf e ou. Direito de Família. Processo, Teoria e Prática. Rio de

Janeiro: Forense, 2008.

PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito de Família. Rio de Janeiro: Freitas

Bastos, 5ª ed., 1956.

RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Atualizada até

a Ementa Constitucional nº 53/2006.

BRASIL. Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968. Dispõe sobre a ação de

alimentos e dá outras providências. Atualizada até a Lei nº 10.741, de 1º de

outubro de 2003.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · existentes no ordenamento jurídico e o tratamento conferido a cada uma delas, sob o ponto de vista específico do direito positivo

35BRASIL. Lei nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo

Civil. Atualizado até a Lei nº 11.418, de 19.12.2006.