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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO E PROCESSO PENAL
TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO
LEANDRO DA SILVA DIAS
FALHAS JURÍDICAS NA ELABORAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL MILITAR
NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes / Instituto A Vez do Mestre como parte das exigências para obtenção do título de Pós-Graduado em Direito e Processo Penal.
Rio de Janeiro 2010
2
LEANDRO DA SILVA DIAS
MATRÍCULA K214903
FALHAS JURÍDICAS NA ELABORAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL MILITAR
NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro
2010
3
LEANDRO DA SILVA DIAS
FALHAS JURÍDICAS NA ELABORAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL MILITAR
NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro, março de 2010
Prof. FRANCIS RAJZMAN
ORIENTADOR
4
Dedico este trabalho à minha família, por incentivar e colaborar com a minha formação acadêmica durante esses anos.
5
AGRADECIMENTOS
É indispensável relatar que essa árdua e complexa missão é
trabalhosa, cansativa, requer muita paciência e aplicação integral; por
tal motivo, agradeço ao professor, por quem nutro um profundo
respeito, Juarez Resende, que junto comigo trabalhou com muita
calma e paciência. E principalmente ao Grande Arquiteto do
Universo, pelo amor e por ter colocado essa pessoa em meu caminho.
É válido ressaltar a participação especial de meus pais e irmão que
sinto um amor ardente.
6
“A força do direito deve superar o direito da força”.
Rui Barbosa
7
Resumo
DIAS, Leandro da Silva, Falhas Jurídicas na elaboração de Inquérito Policial Militar no
Âmbito da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro. 2010.
Monografia (Pós-Graduação em Direito e Processo Penal – Universidade Cândido Mendes /
Instituto a Vez do Mestre, Rio de Janeiro, 2010)
O Inquérito Policial Militar é o tema central deste trabalho. Após um período de três
anos de estudos, foram constatadas diversas falhas jurídicas na realização dos IPMS.
Em primeiro lugar, podemos citar a grande dificuldade de realizar a quebra de
paradigmas e estereótipos que foram construídos ao longo da existência das regras e costumes
militares.
Em seguida, a falta de congruências de alguns preceitos militares com a Constituição
Federal de 1988, as jurisprudências penais atualizadas, doutrinas recentes, princípios
constitucionais e processuais penais inerentes ao direito militar.
Além disso, a ausência de uma formação técnico-militar adequada nas Unidades de
Ensino especializadas, bem como outros problemas infra-estruturais são relevantes.
Logo, podemos concluir que a PMERJ precisa abandonar certas tradições fúteis, rever
e atualizar seus estudos jurídicos, e realizar maiores investimentos (educacionais e
financeiros) em sua área jurídico-militar existente.
Palavras-chaves: IPM; falhas jurídicas; PMERJ
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................10
1 BASE PRELIMINAR........................................................................................................13
1.1 Considerações fundamentais .......................................................................................... 13
1.2 Histórico do Inquérito Policial – IP ................................................................................ 15
1.3 Como o IPM vem sendo abordado do ponto de vista acadêmico militar ....................... 19
2 ASPECTOS NORMATIVOS DO IPM.............................................................................23
2.1 Princípios constitucionais que comportam o Processo Penal Militar ............................. 23
2.2 Aplicação do princípio do contraditório no inquérito policial militar ............................ 25
2.3 Questões controversas do IPM na realidade atual .......................................................... 28
3 ALTERAÇÕES PERTINENTES.......................................................................................33
3.1 O ponto de vista acadêmico do ideal ...............................................................................33
3.2 Como o IPM deve ser elaborado .................................................................................... 41
3.3 Como o aluno deve perceber o IPM ............................................................................... 49
CONCLUSÃO...................................................................................................................... 52
GLOSSÁRIO ........................................................................................................................ 54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 59
9
Lista de abreviaturas
AJMERJ – Auditoria da Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro
APM – Academia de Polícia Militar
CintPM – Corregedoria Interna da Polícia Militar
CintPMERJ –Corregedoria Interna da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
CF – Constituição Federal
CP – código Penal
CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito
CPM – Código Penal Militar
CPP – Código de Processo Penal
CPPM – Código de Processo Penal Militar
GPS – Global Positioning System
HC – Hábeas Corpus
IP – Inquérito Policial
IPM – Inquérito Policial Militar
M-5 – Manual de Inquérito Policial Militar e Auto de Prisão em Flagrante
MP – Ministério Público
MPM – Ministério Público Militar
PM – Polícia Militar
PMERJ – Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
QOA – Quadro de Oficiais Auxiliares
QOE – Quadro de Oficiais Especialistas
STJ – Superior Tribunal de Justiça
STM – Superior Tribunal Militar
TJ – Tribunal de Justiça
10
1 INTRODUÇÃO
Observada uma infração penal militar, há por parte do Estado a obrigação de punir
quem violou a norma proibitiva.
Hoje, diante dos inúmeros crimes militares cometidos por policiais militares na
sociedade, o Inquérito Policial Militar – IPM – torna-se peça fundamental para realizar a
apuração sumária do fato (autoria), que nos termos legais, configure crime militar. Sendo
assim, o Ministério Público Militar, detentor da ação penal, depois da análise do Inquérito em
questão, deduzirá em juízo, através do processo, configurando a pretensão punitiva do Estado;
exigindo do Estado-Juiz a aplicação da lei penal no caso concreto.
Além disso, há a responsabilidade da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro –
PMERJ – em descobrir infrações penais militares cometidas por policiais, a fim de honrar
compromisso com a sociedade fluminense que está cada vez mais descrente, com medo e sem
confiança na instituição.
Nesse contexto, o Inquérito Policial Militar torna-se peça-chave, e inicial que visa
desencadear todo esse processo. O Código de Processo Penal Militar, traz o conceito legal de
IPM, em seu art. 9°, que diz ser ele que “O Inquérito Policial Militar é apuração sumária de
fato, que, nos termos legais, configure crime militar, e de sua autoria”; sua natureza jurídica é
administrativa, já que a polícia é um órgão da Administração Pública que não está dotado de
poder jurisdicional, ele é um instrumento de apuração primária dos fatos, no intuito de trazer
ao órgão oficial de acusação, o Ministério Público, elementos que possam oferecer, ou não, a
ação penal militar.
Por esse motivo, falhas jurídicas em Inquéritos Policiais Militares podem gerar
sérios embaraços administrativos e judiciais. Ao observar os constantes erros jurídicos
encontrados nos Inquéritos realizados na corporação, a forma como policiais militares
aprendem a elaborar Inquéritos Policiais Militares nos Centros de Formação de Ensino e
11
Pesquisa, o papel da Corregedoria Interna da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro
nesse contexto, a forma como outras polícias militares abordam a questão, além de questões
doutrinárias pertinentes ao caso, fizeram com que surgisse o interesse em estudar o tema, sua
relevância, as prováveis causas, e possíveis soluções.
As inúmeras pesquisas de campo realizadas constataram enormes deficiências
jurídicas por parte dos oficiais da PMERJ na elaboração dos referidos Inquéritos, além disso,
são inúmeras as funções desempenhadas pelos Oficiais, e existe a necessidade de
implementação de novos métodos de ensino quanto ao tema nos Centros de Formação e
Pesquisa da PMERJ, da realização de reformulações na CINTPMERJ (Corregedoria Interna
da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro), da observação do tema (IPM) em outras
polícias do Brasil; e principalmente a importância de a sociedade fluminense ter melhores
técnicos judiciários militares para elucidar com eficiência infrações penais militares.
Na atualidade, questões controversas a cerca do IPM vem sendo discutidas, e
contribuem, no contexto, para as dificuldades encontradas na elaboração dessa peça de valor
probatório: seu sobrestamento, suas questões investigativas - analisando a existência ou não
de equívocos - seu caráter sigiloso, as divergências entre o Código de Processo Penal Militar e
a Constituição da República - principalmente no que tange à prisão do artigo 18 do código.
Nesse sentido, apresentaremos como principal objetivo do trabalho, propor o que
poderia ser uma reformulação no estudo do IPM na APM D. João VI; mudança quanto a
instrutores, metodologia, organização e ensino da disciplina de Prática Processual Militar, a
reestruturação do setor jurídico militar da CINTPMERJ, a realização de um estudo
comparativo, baseado em análise de dados concretos - no que diz respeito à forma como
outras Polícias Militares enxergam o IPM -, além de organizar um estudo eficiente abordando
as questões doutrinárias, de maior relevância e atuais, quanto aos IPMs.
12
Valendo-se do binômio de causa e conseqüências, algumas possíveis razões, também
serão apontadas no decorrer do desenvolvimento do trabalho, bem como as consequências que
daí surgiriam. É válido ressaltar que a principal razão, mas não única, para a ocorrência de
falhas jurídicas no processo de desenvolvimento de um IPM é o fato de não ser a atividade-
fim da Polícia Militar; tal marca faz, muitas vezes, com que o encarregado do IPM não tenha
tanta intimidade com o feito. Além disso, a função essencialmente administrativa da PM –
preventiva - deixa muitos oficiais ligados a tais funções. Assim sendo, há variadas razões para
esses erros, todavia percebemos que a árdua missão da PMERJ associada a baixos salários,
erros estruturais e funcionais, além de uma função que essencialmente não é inerente a essa
profissão fazem uma diferença exorbitante.
Logo, para facilitar a compreensão dessas falhas jurídicas constantes nos IPMs,
ocorreu uma divisão do estudo em capítulos e subcapítulos. No primeiro capítulo há a
abordagem do conceito, histórico, além do ponto de vista acadêmico-militar com relação aos
IPMs, no segundo, virão os aspectos normativos relativos ao inquérito, com os princípios
constitucionais que comportam o processo penal militar, e questões controversas do IPM na
atualidade. No último, serão avaliadas as alterações necessárias em contraponto às falhas que
ocorrem na elaboração do Inquérito Policial Militar. Nesse sentido, será analisado o ponto de
vista acadêmico ideal, como o Inquérito deve ser abordado, além de como o aluno deve
percebê-lo.
13
2 BASE PRELIMINAR
1.1 Considerações Fundamentais
O Inquérito Policial Militar tem por finalidade apurar fatos que configurem crime
militar1; com um caráter de instrução provisória, fornece elementos à propositura de uma
possível ação penal (MEHERI, 1992).
Apresenta características como o de procedimento escrito, que significa que todas as
peças do IPM serão, num só processo, reduzidas a escrito ou datilografadas, e neste caso,
rubricadas pela autoridade. Ressalta-se também a sua oficialidade, traduzida no fato de o
Inquérito ser uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais, não podendo ficar a cargo
do particular; já a oficiosidade significa que a atividade das autoridades policiais independe de
qualquer espécie de provocação, sendo a instauração do Inquérito obrigatória diante da notícia
de uma infração penal militar. O IPM é inquisitivo – os princípios do contraditório não são,
nele, aplicados – e indisponível, ou seja, após sua instauração não pode ser arquivado pela
Autoridade Policial.
Em relação ao sigilo, este é relativo, pois o inquérito pode ser conhecido pelas partes
inerentes ao processo. E durante o seu desenvolvimento, com a ocorrência das investigações
necessárias, pode o indiciado ficar detido, independentemente de flagrante delito, até 30 dias;
e pode também ficar incomunicável, desde que legalmente preso, por até 3 dias.
O IPM pode ser iniciado de diversas formas - de ofício (pela autoridade militar), por
determinação ou delegação da autoridade superior, por requisição do Ministério Público, em
decisão do Superior Tribunal Militar (STM), quando requerido pela parte ofendida (ou por
seu representante), ou pode ser motivado por uma sindicância feita no âmbito da jurisdição
1 Há, como exceção a esta regra, o processo e o julgamento dos crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil, os quais por força da Lei n.º 9.299/96 são da competência da Justiça Comum. Assim, tais fatos continuam possuindo a classificação de crime militar, e, portando, devem ser apurados por meio de IPM, contudo será a Justiça Comum e não a Auditoria Militar, no âmbito do estado, a competente para o processo e o julgamento de tais crimes.
14
militar. Assim, quando uma infração penal vem ao conhecimento, a autoridade militar dirigi-
se ao local da referida infração e toma algumas providências que irão sustentar o Inquérito,
como apreensão de objetos e colhimento das provas que tenham relação com a prática
delituosa; realiza a prisão do infrator e faz-se ouvir o ofendido, o próprio infrator e as
possíveis testemunhas. E ainda, dentre outras tantas providências, determina, se for o caso, o
exame de corpo de delito, e outras perícias.
O IPM, depois de apurar todas as conjecturas possíveis da infração penal, é
encerrado com um detalhado relatório que expõe todos os procedimentos que envolveram as
investigações, sem, contudo, expender opiniões, julgamentos ou qualquer juízo de valor,
devendo ainda, indicar as testemunhas que não foram ouvidas, bem como as diligências não
realizadas. Deverá, ainda, a autoridade justificar, em despacho fundamentado, as razões que a
levaram a classificação legal do fato, mencionando concretamente as circunstâncias, sem
prejuízo de posterior alteração pelo Ministério Público Militar, o qual não estará,
evidentemente, adstrito a essa classificação; Concluindo, o relatório diz se há infração penal a
ser punida ou indício de crime militar, e nesse caso observa a conveniência, ou não, da prisão
preventiva do indiciado.
Quando delegado, o IPM, ao ser encerrado, é enviado à autoridade delegante para a
sua homologação à solução, aplicação de penalidade (no caso de infração disciplinar), ou
determinação de novas diligências, se assim se verificar necessário. Ainda, se tal autoridade
discorda da solução dada ao Inquérito, pode avocá-lo e dar diferente resolução. Porém, a
autoridade não pode mandar arquivar o Inquérito, mesmo que se conclua pela inexistência do
crime. (Caso venha ocorrer o arquivamento do IPM, outro pode ser aberto, se novos fatos
relacionados à infração aparecerem - ressalvando-se a hipótese de caso julgado ou extinção de
punibilidade.).
15
Vale ressaltar ainda que o IPM não é indispensável à propositura da ação penal, já
que outros documentos podem supri-lo com igual finalidade; frisando que tal fato não
prejudica qualquer diligência que seja requisitada pelo Ministério Público; e mais, que
existem outras formas de investigações criminais, como o próprio Inquérito Policial realizado
pela polícia judiciária presente no artigo 4°, parágrafo único do código de processo penal, e as
investigações efetuadas pelas Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPI) as quais terão
poderes de investigação próprios das autoridades judiciárias; o Inquérito Civil Público,
instaurado pelo Ministério Público para a proteção do patrimônio público social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (CF art. 129,III), além de outros.
1.2 Histórico do Inquérito Policial– IP
Desde remota Antiguidade, sempre ocorreu processo investigatório para a apuração
de delitos, circunstâncias e seus autores. Tal fato influenciou nossa legislação contemporânea
de forma bastante significante.
Realizando uma breve passagem pelas sociedades politicamente organizadas da
Antiguidade, constatamos que no Egito, os crimes mais graves eram julgados pelo Tribunal
Supremo, composto de juízes escolhidos geralmente em Memphis2, Thebas3 e Heliópolis4, já
os crimes menores eram julgados nas Províncias, por um único juiz que possuía poderes de
polícia. Inexistia no Egito procedimento anterior.
2 Do site http://pt.wikipedia.org: Mênfis, a capital dos Reinos Antigo e Médio, era o mais importante centro urbano do Egito. Cidade do antigo Egito, atual Cairo. Foi fundada por Ménes com o nome de Muro Branco. A cidade foi a capital do reino do Egito durante todo o Antigo Império. Mênfis permaneceu como a maior cidade do tempo das dominações estrangeiras. 3 idem: capital da 4ª província do Alto Egito e da metade sul do país, Tebas às vezes é chamada "a cidade do sul" ou "a cidade”. 4 Adilson Mehmrri, Inquérito Policial (Dinâmica), ED Saraiva: Heliópolis era o nome que os gregos davam à cidade egípcia de Iunu ou Iunet Mehet ("O Pilar" ou "Pilar do Norte"). Na Bíblia esta cidade é chamada de On. Capital do XIII nomo do Baixo Egipto, foi uma das cidades mais importantes do ponto do vista religioso e político durante a época do Império Antigo. Situa-se a cerca de dez quilômetros a noroeste da atual cidade do Cairo.
16
Na Palestina havia 3 espécies de jurisdições: o Tribunal dos 235 e o Sinídio6, sendo o
rito do processo idêntico ao egípcio, público, com debates e instruções, e o julgamento sendo
proferido em segredo, em procedimento único.
Já na Grécia, eram 4 jurisdições – a Assembléia do Povo7, Aeropago8, os Efetas9 e
os Heliastas10. A primeira era o mais alto Tribunal da Grécia Antiga, o segundo tem
competência restrita a julgamentos de determinados crimes, já o tribunal dos Efetas julgava
homicídios premeditados, enquanto o Tribunal dos Heliastas era a jurisdição comum dos
atenienses. Nesse contexto, é que se pode constatar que entre os antigos atenienses já se
esboçava uma espécie de inquérito para apurar a probidade individual e familiar dos que eram
eleitos magistrados, chamados de estenomos – encarregados do serviço policial.
Já em Roma, a jurisdição criminal passou dos reis para o Senado e para a
Assembléia do Povo11, prevalecendo no processo romano os princípios do direito popular da
acusação12, a obrigação de prosseguir no feito até o final da sentença, o encargo da diligência
da instrução comissionado ao próprio acusador popular, publicidade e direito de julgamento
popular.
5 Adilson Mehmrri, Inquérito Policial (Dinâmica), ED Saraiva: O Tribunal dos Vinte e Três recebia as apelações, e os processos criminais relativos a crimes punidos com a pena de morte. 6 idem: O Sinédrio (assembléia) era a magistratura suprema dos hebreus, denominado também Tribunal dos Setenta, tendo em vista que era composto por setenta juízes. Interpretava as leis e julgava os senadores, profetas, chefes militares, cidades e tribos rebeldes. 7 Em Atenas a tarefa de fazer as leis competia à Eclésia, ou Assembleia do Povo, onde tinham lugar todos os cidadãos. Reunidos, discutiam as decisões a tomar e votavam-nas, de braço levantado. Qualquer cidadão podia subir à tribuna e exprimir a sua opinião. 8 idem: O Concelho do Aerópago era constituído por 9 arcontes que estavam a frente dos destinos da cidade. As leis propostas pelo aerópago eram votadas pela Eclésia, a assembléia popular, formada pelos cidadãos. 9 www.consciencia.org/aristoteles: O Tribunal dos Efetas era composto por 51 juízes escolhidos pelo Senado que julgavam aqueles que cometiam homicídio não premeditado. 10 idem: O Tribunal dos Heliastas era o órgão que se reunia na praça pública da cidade, sob o Sol (por isso a denominação "Heliastas") e tinha jurisdição comum. Como era composto por cidadãos, as suas decisões eram consideradas como proferidas pelo povo. 11Adilson Mehmrri, Inquérito Policial (Dinâmica), ED Saraiva: Órgão equivalente ao Senado, podendo vetar leis, mas não podendo ter 2 Cônsules; não podendo apresentar leis. 12 Do site http://pt.wikipedia.org: Existia para os romanos a reclamação ao povo (provocatio ad populum), que era uma reclamação de jurisdição. A provocatio ad populum só não era cabível nos casos de crimes políticos e militares.
17
É no direito romano que ganha o nome de júris de inquisitio, isto é, trabalhos
investigatórios para se apurarem as circunstâncias do crime e localizar o criminoso. O
magistrado delegava poderes a própria vítima ou parentes, transformando-os em acusadores; e
ao acusado era concedido o direito de promover inquisições, em busca de elementos
inocentadores. Mais tarde a função passou a ser exercida por agentes públicos formalmente
revestidos com poderes legais.
O Estado passou a realizar um autocontrole, com isso a pena só era aplicada se o
indiciado fosse submetido a um procedimento mais ou menos formal, para a apuração dos
fatos, estava assim ocorrendo o amadurecimento da Inquisitio.
No domínio dos Godos13 houve os sistemas de processo idêntico aos dos romanos; já
a dominação Serracena (Árabes e Mouros) houve a influência do domínio de polícia que se
refletiu em Portugal até o século XIV, quando existia a figura do “Alcaide-Mor”,
reminiscência do juiz ordinário e policial dos árabes, para denominar os chefes militares e
policiais portugueses.
Com a queda dos Mouros e a retomada dos espanhóis e romanos ao poder, ocorreu
um acentuado predomínio dos religiosos no sistema de processo, nas penas e julgamentos,
havendo violências e torturas. Era a Inquisição14 assumindo um papel devastador.
Mais tarde, a influência do Clero foi diminuída, estabelecendo-se a distinção entre
crimes eclesiásticos e crimes comuns, tendo a Inquisitio dado origem ao inquérito secreto, que
13 idem: Os godos eram povos germânicos que, de acordo com suas tradições, era originário das regiões meridionais da Escandinávia (especificamente de Gotland e Götaland). Eles migraram em direção ao sul e conquistaram partes do Império Romano na Península Ibérica e na Península Itálica. 14 idem: Inquisição (do latim Inquisitio Haereticæ Pravitatis Sanctum Officium) é um termo que deriva do acto judicial de inquirir, o que se traduz e significa perguntar, averiguar, pesquisar, interrogar etc. No contexto histórico europeu, conforme alguns entendimentos filosóficos atuais, a Inquisição foi uma operação oficial conduzida pela Igreja Católica a fim de apurar e punir pessoas por heresia. É a inspiradora dos tribunais, do direito à defesa do réu e da averiguação dos factos. Só funcionava para cristãos (católicos) e apenas em assuntos de fé e de moral.
18
marcadamente influiu no processo criminal, fato que se estende até os nossos dias com o
Inquérito Policial.
No Brasil colônia, até abril de 1821 a administração da justiça estava ligada a
Portugal. Contudo, nessa época, existia um movimento separatista, e assim, em 23 de maio de
1821, o Príncipe Regente, expediu decreto que regulava, entre outros direitos, o de proceder a
prisão, e logo depois negou cumprimento à lei da Corte Portuguesa que mandava extinguir os
Tribunais do Brasil, consolidando com isso, a independência judiciária do Brasil, um passo
definitivo para a independência política.
Já no Brasil-Império, as ordenações Filipinas não faziam menção ao Inquérito
Policial, nem havia a distinção entre polícia administrativa e judiciária.
Em 1871, a lei 2033, de 20 de novembro, regulamentada pelo decreto-lei n° 4824, de
28 de novembro do mesmo ano, trouxe a denominação “Inquérito Policial”, que tinha sua
definição no artigo 42:
“O Inquérito Policial consiste em todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias, e de seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instrumento escrito.”
No entanto, em 1882, o ministro da justiça, Conselheiro Ferreira de Moura, nomeou
uma comissão de juristas ilustres encarregada de elaborar projeto de nova estrutura
administrativa da justiça. O artigo 18 do referido projeto abolia os Inquéritos Policiais,
justificando que os mesmos facilitavam o abuso da autoridade e dificultavam mais ainda a
defesa do indiciado. Mas em 1892, o Código de Processo Penal, apesar de não recepcionar
essa denominação, tratou sobre procedimentos na coleta de informações; e em 1924, no
código do então Distrito Federal, surgiu a investigação, sendo restabelecida pela lei n° 5515
de 13 de agosto de 1928.
19
Em 1942, foi instituído o Código de Processo Penal que hoje se encontra em vigor
em nosso ordenamento jurídico, e que trata, em seu Título II, do Inquérito Policial. Na
exposição de motivos do CPP, o então Ministro Francisco Campos justifica as razões para a
permanência do Inquérito Policial:
“Foi mantido o Inquérito Policial como processo preliminar ou preparatório de ação penal, guardadas as suas características atuais. O ponderado exame da realidade brasileira que não é apenas a dos centros urbanos, senão também a dos remotos distritos das comarcas do interior, desaconselha o repúdio ao sistema vigente. O preconizado juízo de instrução, que importaria limitar a função da autoridade policial a prender criminosos, averiguar a materialidade dos crimes e indicar testemunhas, só é praticável sob as condições de que as distâncias dentro do seu território de jurisdição sejam fácil e rapidamente superáveis."
Realizando uma análise concisa, constata-se que há vantagens e desvantagens do
sistema adotado pelo legislador, sendo certo também que modernamente surgem outras
manifestações de ilustres juristas pátrios, condenando o sistema, com propostas diversas.
Logo, percebemos também através de todas as constatações que o Inquérito Policial
apresenta uma vasta história, passando por sucessivas mudanças que influenciaram a vida de
várias sociedades politicamente organizadas.
1.3 Como o IPM vem sendo abordado do ponto de vista acadêmico militar
O IPM é abordado de diferentes formas dentro do mesmo sistema acadêmico militar,
sendo incluído didaticamente em uma disciplina denominada Prática Processual, a qual
possui uma carga horária de ensino de apenas 40h/a para um conteúdo extremamente denso.
Para o Curso de Formação de Oficiais a disciplina é ministrada somente no último
ano de formação acadêmica dos Alunos Oficiais Policiais Militares, e apresenta um problema
grave, qual seja a permanência de instrutores que durante muito tempo ficam sem as devidas
20
atualizações, influenciando de forma significativa na situação jurídica dos militares. O mais
grave é que, mesmo a corporação percebendo, no decorrer dos anos, a deficiência dos
Oficiais, de maneira geral, só veio apresentar algumas reformulações nesse quadro a partir do
ano de 2006.
Sendo assim, em 2007, com algumas melhorias já implementadas – porém com a
permanência de certos erros, como a baixa carga horária da disciplina Prática Processual – foi
confeccionada uma ementa15 com o intuito de identificar os diversos tipos e peculiaridades
dos procedimentos investigatórios utilizados na Corporação, de conscientizar da importância
dos diversos processos existentes na mesma, e discriminar os diferentes tipos de
procedimentos administrativos empregados na Polícia Militar; além de, mais especificamente,
caracterizar a autuação de flagrante delito por cometimento de crime militar, confeccionar
uma autuação em flagrante delito partindo de um problema hipotético, de caracterizar a
resistência a prisão e confeccionar um auto de resistência a prisão na hipótese cabível, de
caracterizar os procedimentos éticos utilizados na Corporação e a forma como são utilizados,
caracterizar o crime de deserção e a confeccionar hipoteticamente um procedimento de
deserção. Vale destacar que todos esses temas, complexos na sua natureza, são ministrados
em apenas 40 horas/aulas.
Os objetivos declarados na referida ementa são, entre outros, habituar o cadete à
elaboração dos diversos procedimentos investigatórios empregados na PMERJ; o IPM está
inserido nas Unidades Programáticas, em seu segundo item, a qual conta também com
Averiguação, Sindicância e Autuação, ou seja, os itens concernentes aos métodos de
investigação. As técnicas de ensino e a avaliação da aprendizagem seguem os padrões
acadêmicos regulares.
15 Ementa n° 048, da Divisão de ensino, da Academia de Polícia Militar D. João VI/Seção Técnica de Ensino.
21
Já o curso de formação de Oficiais Especialistas (QOA/QOE)16, apresenta, de acordo
com diferente documento, outro procedimento, mais vasto e completo, com objetivos mais
concretos e determinados, como o de reconhecer o embasamento legal (e termos técnico-
jurídicos) do IPM e da sindicância. O programa elaborado é também mais extenso e completo,
e inclui o estudo do aparelho policial do Estado. Esses oficiais, em especial, além de já
possuírem vasta experiência profissional, muitos já têm curso de nível superior e conhecem
bastante a prática de procedimentos administrativos na PMERJ, logo possuem uma grande
vantagem quando comparados com os futuros oficiais combatentes (os alunos do Curso de
Formação de Oficiais). Nesse caso, evidencia-se que em um mesmo ambiente acadêmico a
disciplina apresenta enfoques distintos nos dois grupos – que, não obstante, exercerão na
mesma profissão, as mesmas atividades.
Além das diferenças, é possível constatar algumas semelhanças que afetam ambos os
grupos: os oficiais que são bons instrutores são ocupados com outras funções, além de não
serem estimulados a dar aula, já que não são remunerados por isso; há falta de aparelho
logístico para completar as instruções; a demanda de serviço externo de policiamento
extensivo é excessiva, dificultando a regularidade das instruções a serem dadas; não há
indicação de doutrina para as instruções, somente a consulta aos manuais; há excessiva
preocupação com formalidades processuais, negligenciando as verdadeiras importâncias
jurídicas, e também com a prática quanto aos processos, com o ensino de pouca teoria,
funcionamento e aplicação de forma geral.
Outra questão relevante são as constantes publicações na 4ª parte do Boletim da
PMERJ17 em assuntos inerentes a Inquérito Policial Militar, que vêm por dificultar o ensino
16 Os Oficiais Especialistas são antigos graduados que ingressaram no quadro de oficiais da PMERJ. São responsáveis pela administração e especialidades burocráticas da Corporação. 17 O Boletim da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro é o documento através do qual se passam todas as informações que estão relacionadas à Corporação; sendo a 4ª parte especificamente de assuntos ligados à Justiça e Disciplina.
22
por parte dos instrutores, tendo em vista as sucessivas alterações quanto à formalidade do
IPM. As informações tornam-se conflitantes, as da sala de aula com as da Corregedoria.
A abordagem acadêmica no que diz respeito ao Inquérito Policial Militar, é, desta
feita, o início, ou a base, de todos os problemas que envolvem, hoje, a elaboração desse
documento. Mesmo com as correções e evoluções que vêm acontecendo no sistema de ensino
na Academia de Polícia Militar, estas não acompanham ainda, em dinâmica, aquelas que
ocorrem no mundo jurídico. Todas as questões mencionadas, inerentes a essa profissão,
acabam por influenciar, impreterivelmente e principalmente, as instruções que deveriam ser
primadas pela excelência; e ainda, pormenorizando, se dentro de um mesmo sistema, para um
mesmo objetivo, um único assunto é ministrado de formas diferentes, ao se debaterem, irão,
pela lógica, criar conflitos, dúvidas, e as falhas, que serão objetos deste estudo.
23
2 ASPECTOS NORMATIVOS DO IPM
2.1 – Princípios constitucionais que comportam o direito processual penal militar:
A Constituição Federal de 1988 proporcionou ao Processo Penal Brasileiro – e
dentre ele o Processo Penal Militar – contornos fixados no bojo da Magna Carta. É, então, em
princípio um processo balizado constitucionalmente, assim como deve ser em um Estado
Democrático de Direito.
Orientam, nesse sentido, o Processo Penal Militar, entre outros, os seguintes
princípios: Devido Processo Legal; Juiz Natural; Estado de Inocência; Contraditório; da
Oralidade; Verdade Real; Publicidade; Oficialidade; Iniciativa das partes e Impulso Oficial;
Inadmissibilidade das provas ilícitas. Explicados a seguir:
Em se tratando do princípio do devido processo legal, esse apresenta enorme
relevância no IPM, pois tal princípio assegura a pessoa o direito de não ser privada de sua
liberdade e de seus bens, sem a garantia de um processo desenvolvido na forma que
estabelece a lei; além de garantir a ampla defesa, englobando o direito de ser ouvido, de ter
defesa técnica, de se manifestar sempre depois da acusação18.
Já o juiz natural apresenta previsão legal no artigo 5°, LIII, da Constituição Federal,
que relata o fato de que ninguém será sentenciado senão pelo juiz competente, estando todas
as garantias institucionais e pessoais previstas no texto constitucional19.
O estado de inocência informa que ninguém será culpado até o trânsito em julgado
da sentença penal condenatória, o que passa a ter aplicação no Inquérito Policial Militar, na
medida em que o indiciado apresenta apenas indícios de autoria e materialidade, não sendo
portanto declarado, nesta fase, acusado20.
18 Paulo Rangel: “Direito Processual Penal”; pág 3. Ed. Lúmen Júris. 19 Fernando da Costa Tourinho Filho: “Processo Penal – volume II”; pág. 65. Ed Saraiva. 20 Paulo Rangel: “Direito Processual Penal”; pág 23. Ed. Lúmen Júris.
24
No caso do princípio da oralidade, se afirma que o processo se baseia no mesmo,
quando ele é predominantemente oral e que procura afastar as notórias causas de lentidão do
processo predominantemente escrito. Embora não ocorra a eliminação do uso dos registros da
escrita, já que isto seria impossível em qualquer procedimento da justiça. Assim, podemos
entender o porque da leitura do compromisso do escrivão ao indiciado21.
Na verdade real, o juiz deve investigar como os fatos ocorreram na realidade, não se
atendo com a verdade formal existente nos autos. Desse modo, comprova-se, nesse princípio,
o valor probatório do IPM22.
No princípio da publicidade, em se tratando IPM, a regra é a publicidade popular,
pois, o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil – lei federal 8.906/94 -, estabelece como
direito do advogado o de examinar em qualquer repartição policial militar autos do
inquérito23.
Já o princípio da oficialidade nos relata que os órgãos incumbidos da persecução
criminal não podem ser privados, sendo a pretensão punitiva do Estado deduzida por agentes
públicos24.
Na iniciativa das partes, percebe-se que o juiz não poderá dar início ao processo sem
a provocação da parte, que no caso do Inquérito Policial Militar é o Ministério Público
Militar, promotor privativo da ação penal pública militar25.
O princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas declara que as provas obtidas
por meios ilícitos constituem provas vedadas, ou seja, produzidas em contrariedade a uma
norma legal específica. Podem ser classificadas como provas ilícitas ou ilegítimas. A primeira
21 Julio Fabrine Mirabete: “Curso de Processo Penal”; pág 45. Ed. Atlas. 22 Idem. Pág. 44. 23 23 Fernando da Costa Tourinho Filho: “Processo Penal – volume II”; pág. 46. Ed Saraiva. 24 Julio Fabrine Mirabete: “Curso de Processo Penal”; pág 47idem. Ed. Atlas. 25 Idem. Pág. 49.
25
seriam as provas produzidas com violação de regra de direito material; as segundas, violariam
as regras de natureza meramente processual.26
2.2 – Aplicação do princípio do contraditório no inquérito policial militar
No atual processo penal, denominado de constitucional, a vítima tem sido relegada a
um segundo plano, muitas vezes marginalizada, como se fosse culpada pelos atos praticados
pelo infrator, que desrespeita as leis previamente estabelecidas pelo Poder Legislativo. No
Estado de Direito, onde existe uma proteção ao acusado, se faz necessário o estabelecimento
de regras voltadas à preservação da integridade das pessoas que sofrem uma ação violenta, ou
mesmo ilegal, prevista na lei penal, comum ou militar.
Se a vítima apresentar uma acusação que não seja verdadeira, com o intuito de
prejudicar o acusado, em razão de questões pessoais, caberá ao Ministério Público denunciá-
la pelo crime de denunciação caluniosa previsto no CP, ou no CPM. O sistema processual
estabelece as regras essenciais para o exercício responsável dos direitos e garantias
fundamentais.
No vigente sistema processual, o acusado é obrigado a depor, apesar de seu
depoimento não ficar sujeito ao compromisso legal. O valor do interrogatório é limitado, uma
vez que a própria confissão judicial, ou extra-judicial, não é suficiente para que o infrator seja
condenado pelo Juiz ou Tribunal.
O Ministro Francisco Campos27 na mensagem enviada ao então Presidente da
República, Getúlio Vargas, exposição de motivos, esclarece que a confissão do acusado não é
26 Fernando da Costa Tourinho Filho: “Processo Penal – volume II”; pág. 60. Ed Saraiva. 27 http://www.dhi.uem.br. Acessado em 23/11/09 às 01:00h.
26
prova suficiente para que este seja condenado, sendo indispensável a produção de outras
provas para que a culpabilidade fique devidamente demonstrada.
O Inquérito Policial Militar possui assim como o Inquérito Policial, a característica
de ser inquisitivo, mas isto não significa que a pessoa objeto de investigação ficará sujeito a
atos incompatíveis com a atual processualística. A fase policial ainda que de forma restrita
encontra-se subordinada aos princípios constitucionais28.
A CF de 1988 estabeleceu que o acusado poderá permanecer em silêncio em seu
interrogatório policial. Neste sentido, não existe impedimento para que reperguntas sejam
feitas após as indagações do presidente do Inquérito Policial, civil ou militar.
A Lei Federal nº 10.792/200329 que alterou a sistemática do interrogatório em juízo
deve ser aplicada ao inquérito policial, que tem por objetivo fornecer os elementos
necessários à propositura de uma ação penal, comum ou militar.
A nova Lei não disse expressamente que o interrogatório realizado na Polícia ficaria
sujeito ao contraditório, mas a sua aplicação nesta seara é decorrente dos princípios que regem
o atual processo penal, comum ou militar. Além disso, se o indiciado pode ficar em silêncio,
ou até mesmo mentir em seu interrogatório, qual o prejuízo para Administração Pública, ou
mesmo para o andamento das investigações se o advogado por intermédio do Delegado de
Polícia, ou Oficial das Forças Armadas, ou Forças de Segurança, apresentar suas reperguntas?
(Princípio da Congruência ou Homogeneidade)
28 Damásio E. de Jesus: “Código de Processo Penal Anotado”; pág 5. Ed. Saraiva.
29 O legislador ordinário ao elaborar a Lei Federal nº 10.792/2003 estabeleceu que esta modificaria o Código de Processo Penal, mas não faz nenhuma menção ao Código de Processo Penal Militar, Decreto-lei 1001, de 1969. No Estado de Minas Gerais, o Juiz-Auditor que responde pela titularidade da 2ª Auditoria Judiciária Militar desde a entrada em vigência da Lei Federal vem permitindo a realização de reperguntas por parte do Ministério Público e da Defesa, com fundamento no art. 3 º, do CPPM.
27
Os defensores do caráter inquisitivo do inquérito policial poderiam afirmar que as
investigações ficariam prejudicadas, ou que haveria um prejuízo na busca dos elementos,
indícios, de autoria e materialidade. Segundo a doutrina, o ônus da prova no processo penal
pertence a quem alega, e não cabe ao próprio acusado oferecer as provas necessárias para a
demonstração de sua culpabilidade.
A busca das provas não pode e não deve se limitar ao depoimento do acusado, e nem
mesmo ao depoimento das testemunhas. As provas técnicas, que em regra não se repetem em
juízo, são essenciais para a demonstração da culpabilidade, e elucidação dos fatos imputados a
uma pessoa30.
Neste sentido, não existe nenhum prejuízo na realização de reperguntas quando do
interrogatório realizado na fase policial. O Delegado de Polícia como presidente do Inquérito
Policial, ou o Oficial como presidente do Inquérito Policial Militar, poderão indeferir as
reperguntas que considerem impertinentes, ou divorciadas dos fatos que estão sendo apurados.
O Juiz quando da realização do interrogatório em juízo, realizado em sessão pública,
interroga o acusado, que inclusive poderá se retratar de sua confissão realizada na Polícia, e
até mesmo apresentar uma nova versão. Percebe-se, que o interrogatório como meio de prova
possui um alcance limitado, e a aplicação do princípio do contraditório que foi estabelecido
por intermédio da Lei Federal não modificará a sua substância.
Na realidade, a participação do advogado no interrogatório realizado na fase policial
afastará eventuais alegações de coação por parte dos agentes policiais, que muitas vezes são
apresentadas pelos réus como forma de desacreditar o trabalho sério realizado pelas
autoridades policiais, civis ou militares.
30 Damásio E. de Jesus: “Código de Processo Penal Anotado”; pág 23. Ed. Saraiva.
28
Por fim, o acolhimento do princípio do contraditório no interrogatório realizado na
fase policial por enquanto depende da discricionariedade das autoridades policiais, que
poderão indeferir ou não a realização de reperguntas apresentadas pelos advogados
regularmente constituídos.
Antes do advento da Lei Federal, a maioria dos juízes não permitia a realização de
reperguntas, impedindo o exercício do contraditório. A evolução da processualística
modificou a sistemática até então adotada, passando a permitir a realização de reperguntas por
parte do MP e da Defesa.
O inquérito policial militar é essencial na busca da apuração dos fatos e deve
permanecer no sistema processual brasileiro militar, mas ao mesmo tempo deve acompanhar a
evolução, o aperfeiçoamento da ciência penal e processual penal, que são essenciais na
preservação do Estado de Direito.
2.3 - Questões controversas do IPM na realidade atual
O Código de Processo Penal Militar – CPPM, datado de 1969, tem alguns artigos
visivelmente derrogados pela nova ordem constitucional. Em especial três desses artigos
geram questões extremamente controversas, e suscitam discussões na doutrina e na
jurisprudência. O artigo 16, que trata do sigilo do IPM; o artigo 17, da incomunicabilidade do
indiciado; e o artigo 18, regra a detenção do indiciado, determinada pela autoridade militar.
Sigilo do Inquérito
“O inquérito é sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que dele tome
conhecimento o advogado do indiciado” (artigo 16 do CPPM).
29
A faculdade permitida pelo comando legal, de que o encarregado pode permitir, se
quiser, que o advogado do indiciado tome conhecimento do contido nos autos, está mitigada
ao extremo. O fato é que os advogados e defensores públicos podem examinar, em qualquer
repartição policial, ainda que sem procuração, autos de flagrante e inquéritos, em andamento
ou terminados, podendo copiar peças e tomar apontamentos.
Os membros do Ministério Público, no controle externo da atividade de polícia
judiciária militar, uma de suas funções institucionais, terão livre acesso a quaisquer
documentos relativos à atividade-fim policial. E a não observância desses dispositivos pelo
encarregado do IPM poderão caracterizar, em tese, o delito de abuso de autoridade, previsto
na lei 4898/95 – atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício
profissional31.
Porém, mesmo com o sigilo mitigado, O IPM não se tornou uma investigação
aberta. De acordo com Alexandre José de Barros Leal32, “na maioria das vezes é necessário
que as diligências policiais ocorram da forma mais discreta possível, a fim de que não se
frustrem os objetos da inquisa”.
Dentro dessas ressalvas legais, pode-se falar em sigilo das investigações, até mesmo
para que não sejam prejudicadas; mas não em sigilo do inquérito, cujas peças vêem-se
reunidas em um só processo, formando os autos, que poderão, desta feita, ser manuseados a
qualquer tempo por advogados, defensores públicos, promotores e procuradores da justiça.
A questão também é polêmica na jurisprudência:
“Inquérito policial. Advogado. Acesso Irrestrito. Limites. Em julgamento marcado por intenso debate, a 2ª Turma do STJ decidiu, por maioria, que o desenvolvimento das investigações do inquérito policial pode ocorrer de forma sigilosa, não caracterizando cerceamento de defesa para os
31 Lei 4898/95, art. 3°, alínea j. 32 Alexandre José Barros Leal: “Inquérito Policial e Auto de Prisão em Flagrante nos Crimes Militares”; pág 16. Ed Saraiva.
30
envolvidos. (STJ, 2ª Turma, Resp. n° 12.516, julgado em 03.09.2002, Boletim Informativo Juruá, volume 327)33” “1ª Turma derruba proibição de vista de inquéritos por advogados. Em decisão unânime, A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, determinou que a proibição de vista integral dos autos de inquérito viola os direitos do investigado. Ao deferir o HC, o Relator apontou a prerrogativa do advogado de acesso aos autos, regulada pelo Estatuto da Advocacia34 ( STF, 1ª Turma, Relator Min. Sepúlveda Pertence, HC n° 82354-PR, julgado em 10.08.2004.)35”
Incomunicabilidade do preso
“O encarregado do inquérito poderá manter incomunicável o indiciado, que estiver
legalmente preso, por três dias no máximo.” (artigo 17 do CPPM)
Primeiramente, por indiciado legalmente preso entende-se aquele que foi autuado
em flagrante, ou encontra-se recolhido por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judicial competente, ou detido por ordem escrita e fundamentada do encarregado do inquérito.
Em seguida, ressalta-se que, nesse sentido, o Código de Processo Penal Militar
diferiu do Código de Processo Penal (artigo 21), já que neste a incomunicabilidade do
indiciado depende sempre de despacho fundamentado do juiz, enquanto naquele, do texto
infere-se uma faculdade do encarregado. Porém, ambos dispositivos encontram-se revogados
pelo artigo 136, § 3°, inciso IV, da Constituição, que dispõe, ao tratar do Estado de Sítio e
Estado de Defesa, ser vedada a incomunicabilidade do preso.
De acordo com Júlio Fabbrine Mirabete36, lembrando Tourinho Filho:
“Não sendo permitida a incomunicabilidade nas situações excepcionais, em que o Governo deve tomar medidas enérgicas para preservar a ordem pública e a paz social, podendo, para isso, restringir, direitos com maior razão não se pode permiti-la em situação de normalidade”.
33 www.stj.gov.br. Acessado em 6/01/10 às 22:00hs. 34 art.7°, inciso XIV, Lei 8.906/94 35 www.stf.gov.br. Acessado em 08/01/10 às 23:30hs. 36 Julio Fabrine Mirabete: “Curso de Processo Penal”; pág 91. Ed. Atlas.
31
Em sentido contrário, pela não-revogação do artigo 17, tem-se Alexandre José de
Barros37. Já José da Silva Loureiro Neto38 inicialmente admitia a incomunicabilidade do
indiciado (1992:04), porém, mudou sua posição, passando a considerá-lo inaplicável, em
razão do referido artigo 136 da Magna Carta.
Existem ainda controvérsias sobre algumas outras questões do CPPM. Assim, o
artigo 406 assevera que durante o interrogatório o acusado ficará de pé, salvo se seu estado
de saúde não o permitir. Porém, de acordo com a legislação militar aplicável à espécie, a lei
6.880 de 09.12.1980 – Estatuto dos Militares –, que em seus artigos 73 a 75 estabelece as
prerrogativas dos militares, estas serão preservadas para o efeito da aplicação da lei penal
militar, quando pratica, ou quando contra ele é praticado crime militar; prerrogativa esta
estendida ao militar da reserva ou reformado. (artigo 13 do CPPM)
O artigo 407 do Código discorre sobre as testemunhas da defesa. De acordo com o
diploma, cada um dos acusados poderá indicar o máximo de três testemunhas, e requerer,
ainda, que as testemunhas referidas ou as informantes sejam ouvidos. Nesse caso, o debate
está no fato de poder existir aí uma indevida restrição à defesa, não sendo assegurado a
igualdade das partes no princípio constitucional do contraditório, já que o Ministério Público,
em ocasião da denúncia, pode oferecer o rol com até seis testemunhas (artigo 77, h),
descontando-se aí as referidas e informantes.
A questão já foi apreciada pelo Supremo Tribunal Federal. O HC n° 88.855-RJ,
julgado em 09 de outubro de 2001, tendo como relatora a ministra Ellen Grace, asseverando
que os parágrafos 2° e 3° do artigo 407 não foram recebidos pela CF de 1988, uma vez que
previam tratamento diferenciando às partes no processo, sendo, nesse caso, incompatíveis
com os princípios da isonomia e da ampla defesa (art. 5°, caput e LV). Com esse
37 Alexandre José de Barros: ““Inquérito Policial e Auto de Prisão em Flagrante nos Crimes Militares”; pág 55. Ed Saraiva. 38 José da Silva Loureiro Neto: “Processo Penal Militar”; pág 04. Ed Atlas.
32
entendimento, a Turma concedeu39 em parte hábeas corpus impetrado contra o acórdão do
Superior Tribunal Militar para, confirmando a liminar anteriormente deferida, assegurar ao
paciente a oitiva do mesmo número de testemunhas permitida à acusação pelo artigo 77, h, do
CPPM, sem limitação quanto ao número de testemunhas.
39 “Jurisprudência Penal Militar” (Tribunal Militar. Justiça Militar do Estado) Rio de Janeiro RJ - Brasil, 2002.
33
3 ALTERAÇÕES PERTINENTES
3.1 O ponto de vista acadêmico do ideal
Um dos assuntos polêmicos do processo penal durante a Assembléia Nacional
Constituinte, especialmente quando se discutiam os direitos e garantias individuais e a
competência da polícia judiciária, foi o referente ao conceito, valor e doutrina dos inquéritos
policiais, bem como a competência de sua realização, em se tratando da polícia militar.40
O conceito de polícia judiciária comum se aplica à polícia judiciária militar, no
campo restrito da competência do direito castrense, definida no artigo 8° do Código Penal
Militar. Assim, em face da interpretação extensiva, permitidas pelo próprio código, há a
possibilidade de ampliação de suas regras ao direito castrense, aplicável em face do “status”
jurídico do militar estadual e da justiça militar respectiva.
Essa questão ficou bem expressa quando das discussões de competência, havidas
perante a Assembléia Nacional, especialmente quando ficou esclarecido, pelo Relator
Bernardo Cabral, em resposta ao deputado Ricardo Fiúza, que foi muito bom que formulasse
a indagação, porque foi exatamente pela supressão da palavra “privativamente”41 – antes no
texto da Polícia Civil, dando-lhe ampla competência –, que se mostrou o caminho para não se
retirar da Polícia Militar sua competência de fazer inquérito.
No direito castrense, a inquisitoriedade do inquérito recebe reforço, substancial, pela
circunstância da posição hierárquica do responsável em relação ao indiciado. Por isso é
preciso compreendê-lo também nos parâmetros dos direitos fundamentais, para que não seja
instrumento de arbítrio.
40 Avilmar Santos Ferreira: “Inquérito Policial Militare Sindicância – Procedimentos para instauração, doutrina, prática e legislação”; pág. 19. Ed. Del Rey. 41 Idem; pág 25
34
Ainda, pela definição do CPPM, Inquérito Policial são “as diligências necessárias à
verificação da existência de um crime”. Essas diligências, presididas e orientadas por uma
autoridade de polícia judiciária militar, devem obedecer a uma sequência disciplinada, lógica
e ordenada, mas sem permitir que a posição hierárquica influencie no constrangimento dos
indiciados, vítimas e testemunhas. Já que, caso contrário, tornando-se instrução de arbítrio,
viria a comprometer, seriamente, a validade jurídica do trabalho.
Como procedimento persecutório – de caráter administrativo – ou instrução
provisória, é o inquérito que dará origem ao processo criminal; caracterizando, então como
resultado prático daquilo que Marcelo Caetano42 chama “de exercício do constrangimento
executório para reprimir a violação da ordem.”Quando bem executado, constitui o
instrumento valioso de que servirá o Ministério Publico – titular da pretensão punitiva do
Estado, na jurisdição militar, para promover a ação penal e sustentá-la.
No mesmo caminho, e dentro das “funções” do inquérito, as provas, mormente as
perícias, contidas no bojo dos autos, quando produzidas com a observância das formalidades
legais, têm caráter instrutório, e não se repetem em juízo. E da mesma forma, os
interrogatórios bem conduzidos, os depoimentos claros e eloqüentes, os indícios bem
retratados, poderão servir de elementos e convicção ao julgar.
“Em que pese certa limitação de seu valor probatório, o IPM é a peça importante no procedimento processual castrense. É dever indeclinável do encarregado promover, diligentemente, todo o esforço e ensejar meios de inteligência para dar ao Ministério Público e aos julgadores, os elementos básicos para a fundamentada instauração do processo e, ao final, o julgamento isento”
Acórdão do TJ/MG (autos de Apelação n° 1.395)43
Destarte, qualquer omissão pode ensejar a responsabilidade criminal do
Encarregado, principalmente, quando em homicídio, envolvendo o abuso de autoridade ou a
42 “Exemplo prático de Inquérito Policial Milita – Parte comentada”. Ministério do Exército; volume II. 1976. 43 “Jurisprudência Penal Militar” – Tribunal Militar. Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. 1989.
35
violência arbitrária, praticados por policiais militares, suspeita-se de parcialidade na
investigação.
Apesar de a polícia investigatória não possuir regras rígidas no direito brasileiro, ela
está presente em todas as ações executadas no inquérito, como na coleta de provas, na
determinação de diligências para a localização de pessoas, armas, objetos etc, na escolha de
testemunhas, nas inquirições. E nesse sentido, é fundamental o pleno conhecimento dos
direitos e garantias individuais, com o espírito que as novas regras constitucionais vieram
trazer.
O planejamento inicial e a condução criteriosa da polícia investigatória determinam
o sucesso ou o fracasso na apuração do fato. E é nesse sentido que preceituam os artigos 10, §
2° e 12 do CPPM, quando estabelecem providências a serem tomadas antes do início do
inquérito; que mal elaborado, mal conduzido e não chega nada a definir a autoria, com lastros
de provas claras e inquestionáveis será um mero amontoado de papéis sem valor, que, não
fornecem subsídios ao MP.
Os estudiosos dizem que a feitura um inquérito comporta, de um lado, a investigação
– em conseqüência do planejamento inicial, empregar-se-ão técnicas variadas para a definição
das questões surgidas – e, de outro, a composição de provas – em conseqüência dos dados
levantados, quando a autoridade policial definirá seu ponto de vista a respeito do que foi
apurado, mostrando o suporte em que se fundamenta.
A investigação via de regra, desenvolve-se para consecução de um triplo objetivo,
sendo eles a de identificar os autores do delito; trilhar e localizar os mesmos e provar sua
culpa.
“Na atualidade, a investigação, além de consistir na apuração da prática do crime e sua autoria, ainda deve abranger a pessoa do indiciado, para que a justiça criminal tenha elementos com que apreciar, de maneira segura, a personalidade do delinqüente. Daí distinguir-se, na investigação, não só a
36
“informactio delicti” ou a investigação criminal, como ainda a investigação criminológica”
Frederico Marques44
Perseguindo essa meta, usam-se instrumentos que contribuirão para levar adiante os
objetivos traçados, ou sejam, a informação, interrogação, instrumentação. E informação é
trabalho de campo; o conhecimento que o investigador reúne de outras pessoas. Ocorrido o
delito, procura rastreá-lo, conversa com pessoas ligadas ao fato, ambiente ou cenário
delituosos. Com habilidade pode recolher subsídios valiosos que o levarão a um ou mais
suspeitos. E de conhecimento em conhecimento forma um quadro que lhe facilita o
esclarecimento do evento investigado.
A observação de policiais experientes tem mostrado que descobrir o autor do crime é
a fase mais simples da investigação; obter provas, para manter a acusação na justiça é, na
maioria das vezes, uma tarefa complexa, e isso se torna mais difícil, em face das exigências da
própria Justiça sobre a espécie, suficiência e maneira de apresentação das provas. Assim, uma
investigação somente pode ser considerada bem-sucedida se suficientes provas informativas,
materiais e complementares são apresentadas; o que, vale dizer, “as testemunhas
inteligentemente entrevistadas, o acusado eficientemente interrogado, todos os vestígios
devidamente apurados e elucidados, e o caso acuradamente relatado”45.
Segundo regras do Processo Penal, constituem atos probatórios a declaração do
indiciado – incluindo-se a confissão – e declaração das testemunhas; acareação; perícias e
exames; reconhecimento de pessoas e coisas; e documentos.
Sabe-se que o sistema de provas, a serviço da justiça, tem variado através dos
séculos. Primitivamente, a apreciação era deixada empiricamente, ao sabor das impressões. O
flagrante delito era a forma típica do processo penal, Vejo, depois, o sistema em que era
44 Frederico Marques: “Apontamentos sobre o Código de processo penal Brasileiro”; pág 71 45 Augusto Mondin: “Manual de Inquérito Policial”; pág 66. Ed. Sugestões Literárias.
37
invocado o julgamento divino. Sucedeu-o o sistema em que os meios e seus graus de valor
eram fixados e aferidos de antemão pela Lei.46
O sistema atual é o da íntima, livre convicção do juiz, afivelado à norma legal,
consubstanciada no artigo 297 do Código de Processo Penal Militar: “O juiz formará a sua
convicção pela livre apreciação do conjunto das provas colhidas em juízo. Na consideração de
cada prova, o juiz deverá confrontá-la com as demais verificando se entre elas há
compatibilidade e concordância.”
Os meios de prova são admissíveis em juízo, desde que não atentem contra a moral,
a saúde, ou a segurança individual ou coletiva, ou contra a hierarquia e disciplina militares,
eis o que dimana do artigo 295 do CPPM, e consagrado na regra explícita do direito
constitucional da liceidade de tais meios e da inviolabilidade de direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, sem submissão à tortura, tratamento degradante ou
desumano.
Diante do exposto, até o presente momento, percebe-se que no regime inquisitorial
do inquérito, a apuração da responsabilidade criminal não se procede em juízo, mas perante a
polícia, que tem em mãos os instrumentos para captar as provas e até meios para induzir sua
valoração. Essa era a verdade que Vicente Rao quis demonstrar quando propugnava a
eliminação do espúrio inquérito policial, trocando pelo juizado de instrução47.
Quando se trata, por exemplo da relação indiciado-polícia cresce ainda mais o vigor
inquisitorial deste procedimento, cujo caráter de sigilo a própria lei veio garantindo ao longo
do tempo.
46 ACOSTA, Walter. O processo Penal, 8ª edição, 1971. pág 221 47 JUIZADO DE INSTRUÇÃO, Revista “o Alferes”. Ano 6, n° 16, jan/mar 88; Ed. Da PMMG, Belo Horizonte.
38
1. O interrogatório
O policial militar indiciado será interrogado, competindo ao encarregado, nos termos
do artigo 13 do CPPM, tomar-lhe as declarações. Mas além da imposição legal, há o peso
hierárquico contra o primeiro, pois nem mesmo há a obrigatoriedade de defensor, que estará
presente no processo, fora a regra da incomunicabilidade do mesmo.
“No interrogatório se procura apurar não os antecedentes do indiciado, mas sua vida “ante-acta”, sua conduta, sua personalidade, convindo, entretanto, perquirir até que ponto a tal procedimento inquisitorial, permitido no CPP e CPPM, é cabível aplicar-se o princípio da recepção, face aos novos ditames constitucionais de proteção da intimidade e da vida privada.”
Frederico Marques48.
Em se tratando de confissão, há de se ressaltar que ela não é suficiente para
comprovar a responsabilidade penal de uma pessoa, uma vez que o direito brasileiro não elege
a confissão como prova absoluta. Portanto, o inquérito não tem por finalidade única a
obtenção da confissão, e ainda que esta seja feita, não estão incluídas outras providências para
a comprovação do fato delituoso e de sua autoria, validando-se as hipóteses levantadas no
início ou no curso do trabalho.
Assim, o interrogatório em juízo nada tem do ato pré-processual da audição do
indiciado pelo encarregado do IPM, pelo que ali não se pode ver a figura da confissão, que
pode ser conseqüência ou não do interrogatório, e está demarcada no artigo 307 do CPPM.
“Para que tenha valor de prova, a confissão deve, como na lei processual comum, ser feita perante autoridade competente, ser livre, espontânea e expressa; versar sobre o fato principal; ser verossímil; ter compatibilidade e concordância com as demais provas do processo.”
48 Frederico Marques: “Apontamentos sobre o Código de processo penal Brasileiro”; pág 84
39
2. A prova testemunhal
Um tipo de prova muito utilizada, aliás, a que tem sido mais utilizada, é a
testemunhal; prova pessoal, cuja adoção é inspirada na presunção de veracidade das
afirmações que cada qual prestar. O valor probante do testemunho se atinge através de vários
critérios de avaliação, sendo certo que, em juízo há de ser indagado o depoente, em respeito
ao princípio que dimana o artigo 352 do Código de Processo Penal Militar, que é
mandamental49.
Os depoimentos têm importante crédito com prova, embora não prevalente na
composição dos elementos necessários à formação de convicção, observando-se o disposto no
já citado artigo 297 do código.
Particularmente, no tocante ao reconhecimento, como prova testemunhal, não é este
meio ou elemento de prova, mas um ato instrutório informativo, destinado a robustecer o
pressuposto e avaliar a credibilidade de um elemento de prova, é elemento para avaliação
dela, e não elemento probatório.
3. As perícias e os exames
Perícias são os exames feitos por quem tenha habilitação técnica e compromisso
legal, preexistentes quando se tratar de peritos já integrados no serviço público, ou, na
ocasião, prestado perante o juízo ou a autoridade que preside o IPM, com a finalidade de
elucidar a justiça, tecnicamente, sobre a existência ou não de um fato, que pode configurar a
prática de um crime.
49 Este recomenda, em primeiro lugar, que deve ser o indagado relatar o que souber e o que lhe for perguntado
sobre os fatos que lhe foram descritos, não bastando que confirme aquilo que houver respondido, quando ouvido
na fase do inquérito perante o encarregado.
40
A perícia pode ser formada como uma prova plena, prevalente sobre as outras. No
entanto, deve ela, como as demais, formar o quadro probatório, ou seja, harmonizar-se com
elas. De acordo com o professor Roberto Lyra50:
“A perícia auxilia o juiz no conhecimento do fato e, como tal, não passível de avaliação técnico-processual. Ela não atua, porém, no convencimento, do contrário, estaria cindida a função jurisdicional, por natureza indivisível”
Quando a infração for daquelas que deixam vestígios, torna-se obrigatória a perícia
denominada corpo de delito, que não poderá ser suprida pela confissão do acusado, como
redundará, se não existente, em nulidade incansável.
4. A prova documental
Documento é todo objeto que representa em si, reunida e fixada, a manifestação, por
parte de uma pessoa, de um pensamento, de uma vontade, ou a enunciação de um fato
próprio, ou a narração de um conhecimento.
O código estatui da exibição em juízo do documento e sua juntada, com a audiência
das partes, na redação do artigo 379, que constitui formalidade essencial do processo, sob
pena de nulidade. Sua apresentação conta com prazo, que é até que os autos estejam conclusos
para julgamento.
Quanto ao valor dos documentos, lembre-se Espíndola Filho51, enfatizando que,
enquanto os documentos públicos valem por si mesmos, os particulares necessitam ser
autenticados “quer pela expressa declaração de seu autor, quer pelo reconhecimento de letra e
firma, pelo escrivão”.
50 “Exemplo prático de inquérito policial militar” – Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro; pág 104. 51 Idem. Pág 11.
41
A valoração da prova é uma das fases do processo penal, pelo que qualquer dos
indícios não pode ser descartado. Além disso, o conjunto pode levar ao que se chama de prova
indiciária, que na lição de Galdino Siqueira52, definindo o indício como “o fato, circunstância
acessória que se liga ao crime”, permite inferir que o crime foi consumado, que um
determinado indivíduo nele tomou parte, ou que há crime e foi consumado de tal ou qual
maneira.
Para que o indício seja prova, além do requisito de causalidade, próxima ou remota,
impõe a lei que a circunstância conhecida seja coincidente com a prova colhida no processo,
direta ou indireta, porém, necessariamente, outra.
Sendo assim, infere-se que o inquérito e, necessariamente, o processo penal militar
veio ser, mais do que o comum, afetado pelo conjunto de regras constitucionais, que deram
nova direção aos direitos fundamentais no Brasil. E não podia ser diferente. O Código,
elaborado num período em que se tinha como objetivo o combate ao terrorismo e crime
político53, haveria de ser marcado por regras civilizadas de conveniência humana, ajustado
aos princípios do Estado Democrático de Direito.
3.2 Como o IPM deve ser elaborado
O Inquérito Policial Militar é a apuração sumária do fato, que nos termos legais,
configura crime militar, e sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade
precípua é a de ministrar elementos necessários à propositura da ação penal. São, porém,
efetivamente instrutórios da ação penal os exames, perícias e avaliações realizados
regularmente no curso do inquérito.
52 Roberto Menna Barreto de Assunpção: “Direito Penal e Processual Penal Militar – Teoria Essencial do Crime Doutrina e Jurisprudência, Justiça Militar da União”;pág 69. Ed. Destaque. 53 Revista do Superior Tribunal Militar. Ano IV, n° 04; 1978
42
A finalidade do IPM é, assim, fornecer elementos à instauração da ação penal, e o
seu valor probante está na seriedade de sua elaboração com a realização de perícias,
avaliações, que não mais se repetem em juízo54.
O encarregado do IPM deve restringir-se à apuração completa do fato, ou fatos,
definidos na portaria da sua designação. Surgindo outras infrações, não insertas no contesto da
Portaria que determinou a abertura do IPM, cabe-lhe extrair cópias dos elementos e
encaminhá-los à autoridade delegante, sugerindo a instauração de outro inquérito ou
solicitando as providências legais cabíveis.
1. A autuação do IPM
Autuar um IPM é elaborar sua capa, devendo nela estar inserida o nome do
Ministério correspondente, o escalão imediatamente superior e o escalão considerado,
incumbido de elaborar o IPM; o nome do encarregado e do escrivão do Inquérito; o nome do
indiciado – ou indiciados.
2. A instauração
O Inquérito Policial Militar é instaurado mediante portaria. A autoridade militar que
exerce cargo de direção ou comando procede ao inquérito ou delega a outro militar, como o
Encarregado, para elaborá-lo. Este é, no caso, a autoridade delegada, incumbida de proceder à
apuração do fato delituoso.
Ao receber um ofício ou portaria que lhe designa para, como Encarregado, proceder
a apuração de um delito, o militar baixa, de imediato, a portaria instaurando o IPM. Sendo
assim, o Inquérito é instaurado pela portaria do encarregado e não pelo ofício ou portaria da
autoridade delegante.
54 Vicente Grego Filho: “Manual do Processo Penal”; pág. 91. Ed. Saraiva.
43
O IPM pode ser conseqüência de requerimento de parte ofendida, ou de quem
legalmente a represente, ou em virtude de representação devidamente autorizada de quem
tenha conhecimento da infração penal, cuja repressão caiba à Justiça Militar. E caso a
autoridade delegante tenha dúvida sobre a existência da infração penal, procederá a uma
sindicância, cujo resultado determinará a necessidade, ou não, da instauração do Inquérito. É
ainda aconselhável que, mesmo não se tratando de crime militar, com inquérito policial
instaurado na Polícia Civil ou flagrante lavrado, a autoridade militar proceda a uma
sindicância sobre fatos, desde que envolva militar.
O rigorismo processual se ausenta das sindicâncias. O escrivão é dispensável, nada
obstando que o sindicante solicite o concurso de um auxiliar para o cumprimento da missão.
Por fim, o sindicante concluirá se, do que resultou apurado, houve ou não indícios de
infração penal militar, a fim de ser instaurado ou não o competente Inquérito Policial Militar.
Este deve ser o mais objetivo possível, fornecendo à autoridade delegante todos os subsídios
que se fizeram necessários à completa elucidação dos fatos, emitindo ,inclusive, parecer,
submetendo-o à consideração superior, qual sendo a inexistência de crime ou de transgressão
disciplinar; a transgressão disciplinar, declinando, quais dispositivos legais infringidos;
recomendação à instauração do IPM, face a existência de indícios de infração penal militar.
3. O escrivão do IPM
O escrivão será designado pela autoridade delegante na própria portaria de
instauração do Inquérito.Tal designação procede dos devidos cuidados face ao posto do
indiciado. Assim, se oficial, a designação recairá em segundo ou primeiro-tenente. A lei55 não
permite a nomeação de posto inferior ao de segundo-tenente como escrivão de IPM quando o
55 Código de Processo Penal Militar, artigo 11.
44
indiciado for oficial. Porém, caso o indiciado não seja oficial, a escolha recairá em sargento,
sub-tenente ou sub-oficial. Tal designação cabe ao encarregado.
4. O sigilo
O escrivão, colaborador do Encarregado do Inquérito, funciona sob o compromisso
de manter sigilo. Este é indispensável ao êxito das investigações, com o objetivo de não
prejudicar as diligências delas decorrentes. Tal sigilo não abrange o advogado56, no entanto.
5. A polícia judiciária Militar
As autoridades enunciadas no artigo 7° do CPPM detêm a polícia judiciária militar;
elas podem investigar qualquer infração penal militar para promover a apuração do fato
delituoso através do IPM. Porém, quando da indicação do militar deve-se atentar para a
hierarquia. O Encarregado do IPM será oficial, e sempre que possível, não inferior ao posto
de capitão ou capitão-tenente57.
6. A assistência do Ministério Público Militar
A solicitação de assistência do membro do MPM é faculdade do Encarregado. Mas,
tal faculdade não interfere na atribuição de controle externo da atividade de polícia judiciária
por parte do Ministério Público. Essa assistência é sempre recomendável, se não necessária.
Cabendo-lhe a titularidade da ação penal, estabelecerá, com o encarregado do IPM, as linhas
mais importantes da infração penal a ser apurada.
A solicitação sertã feita diretamente ao Procurador Geral de Justiça Militar; em caso
de urgência, por ofício, telegrama ou rádio.
56 Lei 8906/94 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil), artigo 7°, inciso XIV 57 Hélio Tornaghi: “Curso de Processo Penal “– volume I; pág 29. Ed. Saraiva.
45
7. A seqüência de atos do IPM
Primeiramente, a conclusão do escrivão, submetendo os autos ao Encarregado, que
profere o despacho, dando as ordens para o integral cumprimento e relacionadas com a
apuração do ilícito penal. Em seguida, o escrivão assinala o dia em que os autos retornaram ao
Encarregado com o despacho, é o recebimento; e expede, nos autos, uma certidão, termo
processual em que é certificado o cumprimento das ordens emanadas do Inquérito. “De cada
documento junto, a que precederá despacho do encarregado do inquérito, o Escrivão lavrará o
respectivo termo, mencionando a data.” (CPPM, artigo 21, parágrafo único).
8. As perícias e exames
Toda vez que a infração deixar vestígio, é obrigatório o exame corpo de delito,
direto ou indireto.
O encarregado do Inquérito atenta para as respostas dos quesitos constantes do Auto
de Exame de Corpo de Delito, para, se for o caso, proceder a exame complementar, definidor
da gravidade da lesão – a natureza da lesão influencia na qualidade e quantidade da pena. O
exame pericial é prova de excepcional importância, que analisada com as demais provas,
fornece às autoridades subsídios valiosos à convicção e decisão da causa.
O mesmo Encarregado pode, ainda, requisitar à polícia civil e repartições civis e
militares, informações, medidas, pesquisas e exames necessários ao complemento e subsídio
do Inquérito; e preceder à reprodução simulada dos fatos, para dirimir dúvidas.
A Avaliação é direta e indireta, caso não seja possível pelo desaparecimento ou
subtração da coisa, sem recuperação. Nesta circunstância os peritos se louvam nos elementos
contidos nos autos e através de pesquisas e diligências.
46
A autópsia é indispensável em caso de morte. Através dela é que se define a causa
mortis, cujo conhecimento é necessário para evitar o chamado crime impossível – matar quem
já se encontra morto. Em regra, há um prazo de seis horas para o exame.
Os peritos são, preferencialmente, Oficiais da ativa; e realizada a perícia é lavrado o
competente Auto de Avaliação, que dispensa Termo de Compromisso de Perito e qualquer
outro despacho, se realizados em dia e hora previamente designados e na presença do
Encarregado do IPM. Tal documento é preciso, simples e objetivo, não comportando
divagações.
9. As buscas
No desenvolvimento da apuração do ilícito penal militar, se necessário, procede-se à
busca domiciliar ou pessoal. Estas são, muitas vezes, dispensável, e outras necessárias à
apuração da materialidade e da autoria do crime. A execução do mandado de busca e
apreensão é feita por oficial, e obedece a hierarquia do posto de quem a vai sofrer, se militar.
10. Prova testemunhal
É a função da testemunha, em relação ao processo, que lhe dá denominação própria.
Existem testemunhas de acusação, arroladas pelo MP com a denúncia, e as testemunhas de
defesa são as arroladas pelo defensor do réu. Existe, ainda, a testemunha informante e a
referida; a primeira é a pessoa que depõe, mas não presta compromisso, a segunda é aquela
mencionada em algum depoimento. Por fim, o juiz, que dirige a ação penal, pode ouvir novas
testemunhas, não referidas, no intuito de esclarecer a verdade, são as testemunhas
suplementares.
47
11. A prisão do indiciado
A Constituição da República impõe que a prisão de qualquer pessoa, salvo em caso
de flagrante delito ou nos crimes propriamente militares, somente se faça mediante ordem
judicial fundamentadas. Mas o artigo 18 do Código Penal Militar autoriza o Encarregado do
IPM a deter o indiciado até 30 dias durante as investigações policiais.
Expedido o mandado de prisão, seus executores serão, sempre, militares de posto
superior ao do indiciado preso.
A prisão do indiciado influencia diretamente na confecção e conclusão do Inquérito
Policial Militar. Esse prazo é de 40 dias, quando o indiciado se encontra solto. Porém, se
preso, o prazo cai pela metade, só começando a fluir da data que se efetivara prisão. Nesse
caso, pela ocorrência de dias entre a expedição do mandado e o cumprimento da ordem de
prisão, em alguns casos, o IPM é concluído em trinta ou quarenta dias com o indiciado preso.
E, nessa circunstância, não tem prorrogação do Inquérito, a não ser “por dificuldade
insuperável, a critério do ministro de Estado competente” (artigo 20, § 2° do CPPM).
Cumprido o mandado de prisão, o Encarregado do IPM comunicará, imediatamente,
à autoridade judiciária competente – o Juiz-Auditor da respectiva jurisdição, declinando os
motivos que a determinaram.
12. O relatório
O IPM é encerrado com um detalhado relatório, no qual o Encarregado menciona as
diligências realizadas, as pessoas ouvidas e os resultados obtidos. Concluindo, diz se existe
infração disciplinara punir ou indício de crime, pronunciando-se neste momento,
justificadamente, sobre a conveniência da prisão preventiva do indiciado. Tal relatório será
elaborado, preferencialmente, com o Inquérito já devidamente montado, facilitando sua
feitura.
48
Se o IPM foi delegado, o Encarregado deve enviá-lo à autoridade de que recebeu à
delegação, para que lhe homologue ou não a solução, aplique a penalidade, no caso de ter sido
apurada a infração disciplinar, ou determine novas diligências, se as julgar necessárias. Se
discordar da solução dada, a autoridade delegante pode avocá-lo, e dar solução diversa.
Concluído e devidamente preparado o IPM, o Encarregado expede ofício à
autoridade delegante encaminhando-o, juntamente com os instrumentos do crime e objetos
que interessem à sua prova.
13. A solução
Compete a autoridade delegante a solução do Inquérito Policial Militar,
homologando ou discordando da conclusão, e nessa hipótese avocando e solucionando como
entender. Porém a solução da mesma não é definitiva. O IPM tem que ser encaminhado à
apreciação da justiça militar, a quem cabe a decisão final.
Sendo assim, em qualquer circunstância, a autoridade militar não pode arquivar os
autos do IPM, mesmo que este seja conclusivo da inexistência de crime ou de infração
disciplinar a punir. E ainda, mesmo tratando-se de crime comum. A auditoria da Justiça
Militar da CJM correspondente, decide qual das hipóteses se verificou, tipificando o crime ou
julgando-se ela mesma incompetente, com a conseqüente remessa à autoridade competente.
Porém, um possível arquivamento do IPM não impede a instauração de outro
inquérito, se surgirem novos fatos. Salvo a coisa julgada e a extinção da punibilidade.
49
3.3 Como o aluno deve perceber o IPM
O aluno deve perceber o IPM analisando as providências obrigatórias antes da
instauração do mesmo, sendo elas, primeiramente, a de dirigir-se ao local do crime
providenciando para que não se altere o estado das coisas; em seguida, apreender os
instrumentos e todos os objetos que tenham relação com o fato, efetuar a prisão do infrator,
observando o Código Penal Militar, e colher todas as provas que sirvam para o esclarecimento
do fato e suas circunstâncias. E não se pode esquecer que em caso de dúvida sobre a
existência da infração penal militar, se procede a uma Sindicância cujo resultado determina ou
não a necessidade da instrução do Inquérito Policial Militar.
É, ainda, de suma importância respeitar e obedecer aos direitos e deveres do
advogado58. Bem como reparar que as considerações pertinentes ao IPM se encontram no
Código Penal Militar, entre os artigos 9° e 28. Sendo que, as características mais importantes
a serem observadas pelo aluno são a sua forma por excelência, o seu caráter sigiloso e
administrativo; o fato de que depois de iniciado, não pode ser arquivado; o seu prazo – de 40
dias, quando o indiciado se encontra solto, e metade se ele está preso. E o fato de ser
dispensável se o Auto de Prisão em Flagrante for suficiente para a elucidação do fato.
O seu roteiro pode resumir-se na apuração do fato, seguida do conhecimento pela
Autoridade de Polícia Militar Judiciária – APMJ, e por fim as providências iniciais.
O aluno também deve observar a ordem das peças do IPM, começando pela capa da
autuação, a portaria do encarregado – quando um oficial recebe um ofício ou portaria que lha
designou para, como encarregado, proceder à apuração do fato delituoso, deve, de imediato,
baixar a portaria instaurando o IPM. Segue a folha de designação do Escrivão, a de
compromisso do mesmo, de sigilo e fidelidade, e a de portaria da autoridade delegada –
58 Lei 8906/94 – Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.
50
portaria de nomeação do encarregado. A folha seguinte é o documento que deu origem ao
IPM.
Em seguida numeram-se as folhas de acordo com a quantidade de folhas de cada
documento. A Conclusão, o Despacho, o Recebimento, a Juntada, os documentos Expedidos,
o Relatório, e o termo de remessa dos autos do IPM.
O aluno deve atentar para não executarem excessivo número de formalidades,
procedimentos não observados pelos encarregados do inquérito. Deve perceber que as
principais fontes legais para a confecção de um IPM são Constituição Federal de 1988, o
CPPM, o CPM e o Manual de inquérito policial Militar e Auto de Prisão em Flagrante – o M-
5. Saber que o Comandante Geral da PMERJ é a maior autoridade no exercício da
competência originária dentre as autoridades de polícia judiciária militar, que delega aos
Encarregados do IPM a atribuição de polícia judiciária militar.
O aluno tem que saber que os encarregados de IPM também podem ser
responsabilizados administrativamente e/ou criminalmente por erros cometidos durante a
apuração. E que o IPM é um procedimento administrativo inquisitorial, onde não incidem as
garantias constitucionais de ampla defesa e contraditório, sendo ele um instrumento de suma
importância para a administração da justiça.
Os erros mais graves cometidos por encarregados
Face o exposto, através de análise de resultados desenvolvidos durante a pesquisa de
campo, foram constatados diversas falhas comuns à elaboração de IPM por parte dos
encarregados, podendo-se ressaltar a falta de autuação nas peças exordiais nos autos do IPM;
51
a falta de auditoria via GPS59, quando necessário; falta de ficha disciplinar60 do Indiciado e
Ofícios de apresentação.
O Relatório é, na maioria das vezes, bastante sucinto, não descrevendo de forma
detalhada o que foi apurado, conforme prevê o M-5 – objetivo do IPM, diligências realizadas
e resultados obtidos, e conclusão. Em síntese, cumprir rigorosamente o disposto no artigo 22
do CPPM, principalmente quanto à necessidade do Pedido de Prisão Preventiva do indiciado.
Ainda tem a falta de comunicação à CIntPM quando concedida prorrogação de prazo
pela promotoria em exercício junto à AJMERJ; quando da confecção do relatório não
mencionar se houve transgressão de disciplina por parte dos envolvidos no procedimento.
Porém, o erro mais graves concernente na confecção de um Inquérito Policial Militar
é a falta de perícia nos crimes que deixam vestígios, e o atraso na remessa dos autos à CIntPM
para posterior solução do Comandante Geral; Esse fato acarreta prejuízos tanto para a
administração como para a justiça.
59 Procedimento pelo qual é possível realizar o rastreamento de viaturas operacionais, sendo possível saber data, hora e local onde a mesma se encontrava em determinado momento. 60 Relatório que contém todas as punições sofridas pelo Policial Militar ao longo de sua carreira.
52
CONCLUSÃO
Ao longo do trabalho pode-se perceber que o Inquérito Policial Militar, no âmbito da
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, é caracterizado por particularidades, tendo um
toque híbrido, pois embora a Polícia Militar exerça uma atividade de natureza civil, com base
no policiamento ostensivo e na preservação da ordem pública, a lei prevê a aplicação das
normas processuais previstas no Código de Processo Penal Militar, bem como prevê a
existência de um órgão na esfera Estadual para processar e julgar os integrantes da Instituição.
O capítulo I trouxe as considerações fundamentais, com o conceito de IPM, as suas
principais características, o valor, a doutrina, e a sua finalidade. E para embasar o presente
trabalho foi necessário buscar o seu histórico, remontando desde a Antiguidade até o presente
momento, mostrando a sua evolução, junto à evolução do próprio Direito.
Pode-se perceber que não existe uma padronização na maneira de abordar o tema
IPM, mesmo que dentro de um único sistema acadêmico; sendo essa constatação feita através
da análise de dois grupos (QOA/QOE e CFO), que aprendem de maneira diferenciada sobre o
mesmo assunto.
No capítulo 2 vieram os aspectos normativos do Inquérito Policial Militar, sendo
analisados primeiramente os princípios constitucionais que comportam o Direito Processual
Penal Militar, dentre outros, o do Devido Processo Legal, do Estado de Inocência, e da
Inadmissibilidade das Provas Ilícitas; tendo o princípio do Contraditório e da ampla Defesa
um destaque relevante, já que muitos são os entendimentos e argumentos para a aplicação ou
não do Contraditório no Inquérito Policial Militar, por parte de autores e dos tribunais, porém
não se pode negar que sendo cidadão sujeito de direitos, o exercício da defesa lhe é devido e
deve ser permitido pelo encarregado.
Ainda no mesmo capítulo, estão algumas das questões divergentes do IPM, em face
da atual realidade em que vive o Direito. Nesse sentido destacam-se o artigo 16 do CPPM,
53
que trata do sigilo do procedimento, o artigo 18 que regra a detenção do indiciado, e o 17 que
fala sobre a controversa incomunicabilidade do preso.
O terceiro capítulo vem concluir com o ponto de vista acadêmico do ideal de
diversos doutrinadores, de como deve ser um Inquérito policial Militar, além de
jurisprudências penais militares, antigas e recentes. Procedendo, discute-se como o IPM deve
ser confeccionado em seu aspecto formal, analisando, dentre outras etapas, sua autuação, o
papel do escrivão, sua seqüência de atos, e relatório. Em seguida, destarte, é abordada a
maneira como o aluno oficial PM deve perceber o Inquérito supracitado; um procedimento
apuratório de simples confecção.
Sendo assim, o objetivo do trabalho é abordar as falhas jurídicas concernentes ao
Inquérito Policial Militar, comparando-as com o que deveria ser feito, o seu ideal.
Vê-se que na estrutura jurídica do Inquérito Policial Militar, e do processo, a polícia
judiciária está situada num plano, onde há necessidade da inquisitoriedade, do sigilo, da
pronta eficiência da força, da atuação que escaparia ao controle do judiciário, a menos que se
lhe desse a competência num juizado de instrução, que subordinasse, como política científica,
as autoridades policiais não no sentido político-administrativo, mas para o efeito de
auxiliarem a prática em diligências necessárias à descoberta dos crimes e de todas as
circunstâncias que possam influir na sua classificação. Além disso, proporcionar não só ao
estudante de Direito que esteja na condição de militar , mas também ao Civil , uma visão
inovadora do Direito Militar , cada vez mais estudado , difundido e em ascensão no mundo
jurídico atual.
54
Glossário
Abertura – termo que se usa no início do processado a partir do segundo volume do IPM
para a indicação do mesmo.
Acareação – Confronto de duas pessoas em cujas declarações existem divergências a serem
esclarecidas.
Arresto – apreensão e depósito de quaisquer bens pertencentes ao indiciado, visando garantir
a execução da sentença que futuramente reconhecer sua obrigação como devedor.
Assentada – termo lavrado no início, interrupção e encerramento dos trabalhos de audição de
pessoas no IPM.
Autópsia – exame médico feito no interior do cadáver, para descobrimento da causa da
morte.
Auto – peça escrita, de natureza judicial, constitutiva do processo que registra a narração
minuciosa, formal e autêntica de determinações ordenadas pela autoridade competente.
Autuação – termo lavrado pelo escrivão para a reunião da portaria e demais peças que a
acompanham que deram origem ao inquérito (capa do IPM).
Avaliação – ato realizado por peritos com a finalidade de apurar o valor da coisa destruída,
deteriorada ou desaparecida que foi objeto da infração penal.
Avocação – chamamento a si da solução final do IPM, o que ocorre quando o Comandante
não concorda com a conclusão apresentada.
Busca – procura ou pesquisa visando encontrar pessoal ou material que tenha relação de uma
forma ou de outra com o fato delituosos.
Carta precatória – documento que se remete a uma autoridade solicitando-lhe a audição de
pessoa que se encontra em sua jurisdição.
55
Certidão – ato através do qual o escrivão dá conhecimento ao encarregado do inquérito do
cumprimento ou não das determinações contidas no seu despacho. Serve também para
assinalar a ocorrência de algum fato relevante, de interesse futuro dos autos.
Citação – chamamento do réu em juízo para ver-se processar. Emana de ordem judicial. O
réu não pode ser interrogado (no processo) sem antes ser citado. Há um caso de citação pela
autoridade policial, quando esta desenvolve o processo sumário.
Compromisso – juramento prestado pelo escrivão ou peritos de cumprirem fielmente as
determinações do encarregado do inquérito e do CPPM e guardarem sigilo do que tiverem
conhecimento. Ainda, juramento prestado pela testemunha de dizer a verdade em seu
depoimento.
Conclusão – ato do qual o escrivão, após o término dos trabalhos oriundos do despacho, faz a
entrega dos autos ao encarregado do inquérito.
Corpo de delito – conjunto de elementos sensíveis ao fato delituoso, constatados através de
exames periciais, que visam materializar, tipificar e qualificar a infração.
Crime militar – ilícito penal praticado nas condições previstas no artigo 9° e 10.
Delegação – atribuição de poderes de polícia judiciária militar para a instauração de IPM, que
poderá ser retomada, tornando-se insubsistente o ato que a outorgou, por razões legais
administrativas.
Despacho – ato através do qual o encarregado do inquérito determina providências a sem
tomadas pelo escrivão.
Detenção – recolhimento em local próprio, por tempo permitido por lei, que o encarregado do
IPM pode impor ao indiciado policial-militar. Por se tratar de medida privativa de liberdade é
instrumento que deve ser utilizado em último caso e com devida comunicação ao MM Juiz
Auditor.
56
Diligência – ação levada a efeito para a apuração do fato delituosos que motivou o inquérito;
são os atos praticados visando a elucidação das circunstâncias, autoria e materialização da
infração cometida.
Encarregado – nome que se atribui ao oficial a quem se destinou a portaria para a
instauração do IPM.
Escrevente – militar designado para executar os trabalhos de datilografia quando o escrivão
designado para o inquérito não for datilógrafo. Trata-se de situação excepcional.
Escrivão – militar (primeiro ou segundo tenentes, subtenente ou sargento) designado para
executar os trabalhos de datilografia e demais providências determinadas pelo encarregado
IPM, previstas no CPPM. É o responsável pela estética, formalização e guarda dos autos. Ao
escrivão também pode ser dada missão de levantar subsídios, realizar diligências
complementares esclarecedoras, do que lavrará um respectivo termo, relatando os trabalhos.
Exame – estudo, pesquisa, averiguação de um estado de coisa.
Exumação – ato de se proceder ao desenterramento do cadáver para nele se processar o
exame cadavérico.
Homologação – aprovação da solução (conclusão final) apresentada pelo Encarregado do
IPM.
Idoneidade – bom conceito social (moral e profissional), que torna uma pessoa digna e de
credibilidade.
Impedimento – situação existente que obsta a participação de determinada pessoa digna de
credibilidade.
Incomunicabilidade – proibição a um preso de se comunicar com outrem.
Indiciado – pessoa sobre a qual pairam acusações da prática ou mesmo indícios do
cometimento do fato delituoso. Nos IPMs destinados à Justiça Militar do Estado somente
policiais-militares podem ser indiciados, visto que esta não tem competência para julgar civis.
57
Informante – testemunha da qual a lei não exige o compromisso de dizer a verdade em seu
depoimento.
Inquirição – tomada de depoimento de testemunhas.
Intimação – ato de compelir alguém a comparecer perante o encarregado do inquérito.
Juntada – ato através do qual o escrivão faz a anexação ao processo de documentos vindo às
mãos do encarregado do inquérito e que interessam ao IPM.
Nomeação – designação de pessoa para o exercício de determinada função no IPM.
Notificação – ciência dada para a prática de ato devido e futuro. Geralmente para
comparecimento em local, data e horário determinados para a execução do ato. Em juízo a
testemunha é notificada.
Ofendida – pessoa física ou jurídica atingida diretamente pelo ato delituoso.
Perícia – exame técnico procedido por perito, retratado através de laudo pericial.
Perito – técnico designado para examinar e dar parecer sobre assunto de sua especialidade.
Portaria – documento através do qual a autoridade designa e delega a competência a um
oficial para instaurar um IPM. Indica, também, no caso do IPM, a abertura dos trabalhos, na
qual o Encarregado dá as primeiras ordens sobre a condução do trabalho. A primeira é a
“portaria de designação”, a segunda é a “de instauração do IPM”.
Prazo – período de tempo estipulado legalmente para determinado ato ou realização de um
trabalho.
Prorrogação – dilação do prazo anteriormente fixado, por circunstâncias imprevistas no
decorrer do inquérito.
Provas – conjunto de elementos que promovem o convencimento da certeza da existência do
fato de sua autoria.
58
Qualificação – dados que individualizam uma pessoa, utilizado no início de cada tomada de
declaração.
Quesitos – perguntas previstas em legislação para cada caso específico além de outras
julgadas convenientes pelo encarregado do inquérito, a serem feitas pelo perito.
Recebimento – ato praticado pelo escrivão todas as vezes que receber do encarregado os
autos para providências. Reconhecimento – termo através do qual se procede a confirmação
ou não da identificação de uma pessoa ou coisa.
Relatório – documento final do IPM, ou do Auto de Prisão em Flagrante no qual seu
encarregado descreve minuciosamente fato apurado e faz conclusão final, cujo nome é
“solução”, que poderá ser ou não homologada pelo Comandante da OPM.
Remessa – ato de entrega do inquérito após seu término, à autoridade delegante.
Requisição – pedido formulado pelo encarregado do IPM, solicitando a uma autoridade o
comparecimento de pessoas, fornecimento de documentos, materiais, ou ainda outras
providências necessárias ao inquérito.
Restituição – devolução do bem ou lesado a terceiro de boa fé feita pelo encarregado do
inquérito, da qual se lavra o respectivo termo.
Seqüestro – apreensão de bens em posse do indiciado ou de terceiro por serem produtos da
infração penal adquiridos com proventos da mesma.
Solução – conclusão final a que chega o encarregado do IPM na qual se manifesta sobre a
existência ou não do crime, contravenção penal ou transgressão disciplinar e as providências a
serem adotadas.
Termo – documento que formaliza os atos praticados no curso do inquérito.
Testemunha – pessoa chamada a depor no inquérito, por ser conhecedora do fato de uma
forma qualquer.
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