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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O NOVO PARADIGMA PARA A “ NAÇÃO MANGUEIRENSE” APLICABILIDADE NO MARKETING CULTURAL DA MANGUEIRA EDNA VITALINA DA COSTA ORIENTADOR MARY SUE RIO DE JANEIRO, JANEIRO, 2007.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O NOVO PARADIGMA PARA A “ NAÇÃO MANGUEIRENSE”

APLICABILIDADE NO MARKETING CULTURAL DA MANGUEIRA

EDNA VITALINA DA COSTA

ORIENTADOR MARY SUE

RIO DE JANEIRO, JANEIRO, 2007.

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O INSTITUTO A VEZ DO MESTRE não aprova nem reprova as

opiniões emitidas neste trabalho, que são de responsabilidade do Autor.

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Às duas mulheres que mais amo: minha mãe Lucy, que

sempre lutou para que eu fosse corajosa e guerreira, e à minha tia Neuma,

que sempre esteve com os braços abertos para me acolher e acalentar na

hora certa, a minha gratidão e respeito.

Agradecimentos

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Ao meu filho Guilherme Henrique que apesar da pouca idade soube

compreender a minha ausência e o meu cansaço, que o deixaram, muitas vezes, sem

atenção e sem muitas respostas.

Ao Marcos Antônio Rodrigues (Marquinhos) que muito me estimulou e

cuja ajuda foi fundamental no meu trabalho, subindo e descendo o morro da Mangueira

sem descanso. Meu profundo respeito pessoal e agradecimento.

À minha família, que aprendi a resgatar com harmonia, que me ensinou a

buscar a realização em novos desafios. Meu agradecimento sincero a Guesinha, Cici

,Valmir Machado, Nelcy, Mestre Delegado, Elmo , Álvaro Caetano, Nilton de Oliveira,

Chininha e a todos que me auxiliaram direta ou indiretamente.

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“Na corrida da vida, sábios são aqueles que aprendem a correr no seu rítmo,

pois nem sempre os que largam na frente são os melhores.”

SUMÁRIO

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1 INTRODUÇÃO .................................................................. 7

2 MANGUEIRA uma visão histórica ...................................... 3

3 A ESTRUTURA sócio-econômica da Mangueira ................... 12

3.1 LOCALIZAÇÃO Geográfica ............................................... 12

3.2 ASSOCIAÇÕES ................................................................. 16

3.3 SETOR Industrial ............................................................. 17

3.4 PROGRAMAS e Recursos Educacionais .......................... 19

3.5 FORÇA de Trabalho ........................................................ 20

3.6 SITUAÇÃO Demográfica ................................................. 23

4 A BANDEIRA verde e rosa .................................................. 28

5 O MARKETING cultural no desenvolvimento de novos paradigmas 43

6 CONCLUSÃO ........................................................................ 54

7 REFERÊNCIAS bibliográficas ................................................. 55

INTRODUÇÃO

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Mangueira, Estação Primeira ... sua história, seu povo, as grandes mudanças sociais ocorridas através dos projetos culturais realizados.

Nascida e criada na Mangueira não poderia jamais deixar de mostrar

a transformação e os benefícios ocorridos através do marketing cultural aplicado numa comunidade pobre, sacrificada e do samba, que se envergonhava de dizer onde morava, pois não conseguia emprego nem escola e acabava na marginalidade.

A estratégia desta modificação foi uma preparação muito grande da

Mangueira para captar recursos. O projeto, que a princípio parecia um sonho, avaliado pela Comissão Cultural da Escola, evidenciava as necessidades da própria Nação Mangueirense. Esta, sem vislumbrar objetivos imediatos nem ter a intenção de comercialização, buscou captar recursos junto à Xerox do Brasil e, posteriormente, em outras instituições brasileiras.

A empresa acreditou no projeto apresentado e aceitou e já são onze

anos de uma parceria que abriu caminho para outros projetos e parcerias que, hoje, são admirados e copiados no Brasil e até no exterior.

O tema pesquisado teve como base fontes bibliográficas secundárias

já existentes em diversas outras publicações bibliográficas. Embora não tenham sido feitas pesquisas de campo, muitos depoimentos foram tomados entrevistando-se figuras legendárias da instituição .

O desenvolvimento do estudo está apresentado em quatro partes a

saber : O relato da história do povoamento e da ocupação dos espaços no

morro da Mangueira, do surgimento da escola de samba e das curiosidades sobre os nomes dados às localidades.

Em seguida, apresenta-se a estrutura – sócio econômica, o

comércio, serviços , a topografia do lugar, escolas, hospitais que atendem à população da Mangueira, inclusive os agentes de saúde que são os próprios moradores.

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Relembramos, a seguir, os anos de glória da Mangueira, seus

sambas enredos , seus compositores famosos, convidados ilustres, passagens gloriosas e sua famosas bandeira verde e rosa .

Na parte final, os projetos culturais são relatados, mencionadas as

parcerias de sucesso – empresas que acreditaram no potencial do povo mangueirense – que promoveram a transformação da Nação Mangueirense.

MANGUEIRA UMA VISÃO HISTÓRICA

A Mangueira começou a ser habitada no final do século XIX por ex-

carroceiros do Imperador, pequenos empregados do Paço Imperial,

soldados e emigrantes nordestinos em geral. Sendo um dos redutos mais

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tradicionais do samba, a Mangueira sempre abrigou também uma série de

manifestações típicas dos seus moradores : o batuque, o jongo, a Folia de

Reis, a pernada, a macumba, o candomblé, tudo originado da rica mistura

das nossas raças .

No início, era um terreno bonito, cheio de árvores frutíferas,

principalmente mangueiras. E era justamente neste ponto que algumas

pessoas pediam para o trem parar, dizendo: “Vou descer nas

mangueiras”. E assim Mangueira foi batizada.

Em 1889, foi construída a Estação da Mangueira da Estrada de

Ferro Central do Brasil que depois passou a se chamar Estação Primeira.

Daí para a ocupação do morro, foi um “pulo”, pois, surgiram os

“arengueiros”, após a libertação dos escravos. Como muitos não tinham

para onde ir, foram ficando às margens do morro sem saber o que fazer.

Os portugueses que ali residiam resolveram ensinar um ofício aos ex-

escravos : alguns ensinavam a fazer tijolos, outros a fazer pão. Em função

disso, foram dando nomes aos lugares. Existem lugares na Mangueira

que até têm nomes esquisitos, como “Pendura Saia“ lugar onde as

escravas penduravam as saias de goma nas árvores e “Buraco Quente”,

onde os escravos brigavam até a morte; este é um local dos mais

conhecidos, fica no centro do Morro e foi, exatamente lá que foi fundada a

primeira quadra de samba, com o nome real de Travessa Saião Lobato,

em homenagem à duquesa que fazia parte da corte de Dom Pedro.

No “Buraco Quente” há ainda a Igreja de N. Sa. da Glória, a Escola

Humberto de Campos, que foi construída pelo prefeito Pedro Ernesto, “o

Chalé” nome histórico da residência de um fiscal – que hoje chama-se

vulgarmente de ‘’rapa’’ – que construiu um grande chalé que era avistado

pelas pessoas quando passavam na beira do morro. E, ainda, a

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Candelária, conhecida por ter sido a área doada à Irmandade da

Candelária para construção de um hospital que acabou não sendo

construído.

O Forte de Mangueira era um misto de armazém e botequim,

situado na rua Visconde de Niterói. O comércio era liderado por

portugueses que fixaram residência na Mangueira.

Entre os anos 1915 e 1917 apareceram alguns ranchos na

Mangueira. Em Santo Antônio, surgiu o Príncipe das Matas que era

comandado por Zé das Pastorinhas, no início dos anos 20. Surgiram

também os blocos Dona Tomásia e Dona Fé. Houve, numa época um

homem chamado Candinho, que era um dos arengueiros, que observou a

grande oportunidade e plantou a “semente” do que hoje é a Estação

Primeira de Mangueira.

Cultuada por iniciantes, a Mangueira começa a fortalecer as suas

raízes, Zé Espinguela resolve criar um grupo, que eram os bambas na

área, que gostavam de samba e uma boa briga. Foi solicitado ao senhor

Maçu (capataz do Paço Imperial), Cartola, Saturnino, Arturzinho Antônio,

Carlos Cachaça, Chico Porrão e Fiúza que formassem o bloco dos

arengueiros, e com estes baluartes nascia realmente a escola de samba,

pois para eles as brigas não mais serviam, eles queriam mostrar para

todos que esta nova idéia seria o embrião de toda ‘’nação mangueirense’’

de hoje.

Este novo quadro, seria toda a expectativa de coerência,

sinceridade e honradez para aqueles que queriam participar deste

movimento cultural. Saturnino, que foi eleito o primeiro presidente, soube

logo avaliar a riqueza artística que o morro estava produzindo, porém

havia limitações, pois, tudo o que se dizia ou pensava na época poderia

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ser para muitos uma expressão ideológica, mas Saturnino e seus

auxiliares estavam convictos que o contágio coletivo seria logo inserido no

coração de todos.

Embora com muitas dificuldades os arengueiros ficaram firmes, em

seus pensamentos. Zé Espinguela convocou a turma para um pagode em

sua casa e este pagode resultou no Primeiro Concurso de Samba e deles

participaram bambas de três redutos: Mangueira, Estácio e Oswaldo Cruz

(atual Portela). Não se pode deixar de ressaltar que Zé Espinguela era

descendente de italianos, era obscuro para a cultura oficial, porém muito

importante para o crescimento do samba do Rio.

Zé Espinguela, fundador da Mangueira e criador dos concursos

entre escolas de sambas, não parou por aí; com a sabedoria que lhe era

peculiar, foi convidado para ser Assessor Especial de Folclore de Villas-

Lobos, nosso grande maestro que, freqüentador da Mangueira,

costumava vir tocar violão com Aluísio e Cartola. Quando os orixás

avisaram-lhe que estava no fim dos seus dias na terra, Espinguela veio

com suas iaôs se despedir da Mangueira; era noite e todos os barracos

que existiam acenderam velas para ver aquele bloco de iluminados

desfilar cantando um samba do querido Espiguela.

Com o tempo foram se destacando outros fundadores. Mestre

Maçu, por exemplo, que, desde o início, ao mesmo tempo que era líder na

Mangueira, exercia sua profissão de “chofer de carroça” na cidade

grande. Sempre muito galante e cortês com as mulheres, Mestre Maçú,

era porém, valente em suas posições. Fazia parte da roda de samba, e,

com a agilidade de um tigre, ninguém conseguia jogá-lo no chão. Mestre

Maçú, com sua gentileza e a maestria no dançar, foi escolhido na época

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o primeiro mestre-sala fazendo par com Raimunda.Ele foi presidente da

Mangueira de 1942 a 1950

A identificação dos mestres foi ficando mais clara dos anos 30 em

diante. Cartola, um homem magro que usava óculos escuros e chapéu

Panamá, foi o principal responsável pela fama de um morro, de um bairro

pontilhado de barracões de zinco e de uma escola de samba que virou

sinônimo de cultura carioca. Se o romantismo do passado tornou a

Mangueira sinônimo de vida musical e festiva, hoje simpatizantes

engravatados ajudam a manter o mito como quem cuida de uma grife.

Cartola não nasceu na Mangueira mas era como se fosse. Filho de

Sebastião e Dona Aída, Cartola morava em Laranjeiras e veio morar no

Morro aos 11 anos. Quando menino, já tinha o gosto pela música;

aprendera a tocar cavaquinho (passando depois para violão) e começa a

participar da vida dos ranchos, pois na época, os ranchos já faziam parte

dos bairros da zona sul.

Foi exatamente em Laranjeiras que Cartola ficou apaixonado pelos

Arrepiados, nas cores verde e rosa, que iriam consagrar a futura Estação

Primeira de Mangueira.

O menino Angenor descobriu o Morro de Mangueira quando a

situação econômica da família ficou apertada, devido ao nascimento de

outros três filhos, vindo assim a ocorrer mudança para um lugar mais em

conta, no caso o “Buraco Quente” do Morro de Mangueira.

O garoto foi obrigado a trabalhar. Primeiro, em uma gráfica

tomando, em seguida, o ofício de pedreiro conforme seu relato. Cartola

obteve este apelido porque quando começou a trabalhar na obra, para

que o cimento não caísse em sua cabeça, ele usava uma cartola, que

passou a usar não apenas no trabalho, mas também na rua. Todas as

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noites ele a escovava e pela manhã ia trabalhar de cartola. Então os

companheiros passaram a chamá-lo de “Cartola” e até hoje ninguém o

conhece pelo seu nome e sim por Mestre Cartola.

Depois da fundação do Bloco dos Arengueiros e da Mangueira de

Cartola passou a ter fama fora do morro. Nesta época o círculo de

amizade se ampliou. Compositores e cantores compravam músicas de

autores desconhecidos. Reza a história que Francisco Alves e Mário Reis

pagaram-lhe os direitos e gravaram como se fossem deles os sambas

“Que infeliz sorte”, “Divina dama’’, e ‘’Qual foi o mal que eu te fiz”. Cartola

juntamente com outro compositor Paulo da Portela, lançaram o programa

“A voz do Morro” na Rádio Cruzeiro do Sul e com eles juntou outro grande

nome, Heitor dos Prazeres . Assim formaram o conjunto Carioca que

passou a se apresentar por toda São Paulo. Com a morte de sua esposa

Deolinda, Cartola se afastou da escola por sete anos, mas seu amigo

Carlos Cachaça junto com Dona Eusébia Silva do Nascimento (D. Zica)

foram buscá-lo. Cartola e Zica tiveram muita dificuldade no começo da vida

a dois. Cartola era lavador de carros (na década de 50) em Ipanema, e

certa vez quando ele entrou no bar, foi reconhecido pelo jornalista Sérgio

Porto, o Stanislaw Ponte Preta. Após conversarem bastante, Sérgio Porto

resolveu ajudá-lo e lhe arrumou emprego no Diário Carioca. Graças ao fato

de Cartola ser uma pessoa muito simples, a legião de amigos não poderia

ser diferente, e com isto foram surgindo ao longo da vida outros empregos

e Cartola foi se erguendo de novo.

Cartola gravou pela primeira vez um disco solo, em 1974. Aos 67

anos gravou seu segundo LP (As rosas não falam), em 1977. Em 1979

gravou “Verde Que Te Quero Rosa” e em 1979 Cartola, aos 70 anos,

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lança seu último disco, pois, no ano seguinte, faleceu em conseqüência de

um câncer.

Carlos Moreira de Castro mais conhecido como Carlos Cachaça

adquiriu este apelido obviamente por gostar muito de cachaça. Funcionário

da Central do Brasil, não poderia deixar de ser mencionado, pois sua

contribuição foi muito valiosa para a “Nação Mangueirense”. Além de ser

uns dos fundadores da Mangueira , foi parceiro de Cartola por mais de

cinqüenta anos, e juntos ganharam muitos carnavais que enaltecem a

Mangueira até hoje. Carlos Cachaça, acreditando na sua longevidade,

consumia duas garrafas de cachaça por dia e está vivo, até hoje, contando

com noventa e nove anos de idade.

Houve outra pessoa muito importante na história da Mangueira que,

junto com Cartola, o ajudou muito a ampliar o seu conhecimento musical,

Noel Rosa, conforme o relato de Dona Neuma. “Conheci Noel Rosa em

1953, ele veio para Mangueira pelos braços de Cartola. Foi recebido com

muito carinho por todos que lhe ofereciam uma dedicação de mãe para

filho.Tinha uma doença, que na época não havia cura, então Dona

Deolinda uma senhora que era rezadeira tinha uma afeição tão grande

pelo Noel que levantava bem cedo acendia o fogo de carvão esquentava

água, e quando Noel chegava ela o colocava em uma bacia bem grande,

dava-lhe banho e depois fazia um caldo de galinha ou de carne dava a ele

na boca. Eu me lembro que ele suava muito por causa da doença e nós,

as crianças, secávamos com toalha limpa. Então, Noel melhorava ia

ensinar as músicas da escola, nós cantávamos o Hino Nacional e o Hino

da Bandeira em três vozes, Heitor Villas-Lobos também ajudava. A nossa

maior alegria foi quando em 1935 Noel nos convidou para gravar um disco

com ele (Quantos Beijos e Pobre de Quem), eu me orgulho muito por ter

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sentado no “Buraco Quente” junto com Noel e aprender a cantar todo os

hinos e entender como era importante saber, pois, na minha época quem

não sabia cantar os hinos não sabia nada.

Em 1940 houve pela primeira vez um show de samba refinado no

Cassino Atlântico organizado pelo saudoso Sílvio Caldas com

participação de Dona Neuma e Cartola, fato inédito na época, pois, foi a

primeira vez que acontecia um evento do morro em um bairro tão nobre

da Zona Sul. Sílvio Caldas foi quem deu o primeiro surdo para a escola.

Outro fato importante : no ano 1941 a Mangueira homenageou o

prefeito do Distrito Federal Pedro Ernesto e ficou em segundo lugar; este

prefeito subiu o morro em 20 de janeiro 1935, perguntou qual era a maior

necessidade da comunidade e todos responderam : uma escola pública;

dito e feito. O prefeito mandou construir a escola.

A casa de Dona Neuma foi elo de grandes transformações do morro

para a cidade antes de ser construído o Palácio do Samba. Políticos,

poetas e outras grandes celebridades, como Juscelino Kubitschek, saiam

com ela para conhecer as vielas do morro

Durante a gestão do prefeito Negrão de Lima , houve um acidente

gravíssimo no morro que foi uma violenta batida de dois trens onde várias

pessoas morreram. Ao constatar que não havia nenhuma linha telefônica, o

prefeito tratou de providenciar uma para a casa de Dona Neuma, pois a

mesma fica em frente à linha férrea . Este foi o primeiro telefone do morro;

depois deste presente, a casa de Dona Neuma ficou sendo posto

telefônico. Ao constatar qualquer urgência, os moradores não hesitavam

em pedir para telefonar.

A Mangueira que é agora uma instituição com a mistura de escola

com tantas atividades, virou marca de sucesso. O samba virou comércio,

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muito comércio, mas mudou para melhor. No passado, perseguiam os

sambistas, não deixavam as pessoas cantarem. Hoje a Mangueira é

divulgada por ela mesma.

Mesmo com os benefícios externos, a nova Mangueira vive de

tradição apesar de toda propaganda; tradição, sim, de opiniões de seus

ilustres Baluartes e do ritmo cadenciado da bateria. Os novos

administradores são inovadores, mas têm o cuidado de preservar as

tradições da Escola de Samba.

A boa administração é reconhecida até por adversários. A

Mangueira percebeu que só tinha dois caminhos: profissionalização ou

deterioração; então com visão ampla os dirigentes observaram que o

lazer seria o melhor meio para ajudar a comunidade.

A Mangueira hoje, sendo uma instituição filantrópica e sem fins

lucrativos, não possuindo dono ou patrono, busca no mercado, forma de

parcerias e meios para execução de seus projetos sócio-culturais.

Hoje as formas de recursos não são suficientes para manter e

realizar velhos projetos, pois a ampliação dos mesmos é uma

necessidade constante, devido à grande procura pelos serviços da

comunidade. Existe a profunda convicção de que o programa social da

Mangueira hoje é um exemplo para o mundo.

Esta é a visão histórica de um infinito contexto que retrata a vida de

um povo que resplandece com melodia e tradição, a princípio sem

tecnologia, mas que atravessou fronteiras, passo a passo com a história,

enriquecendo os seus valores.

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A ESTRUTURA SÓCIO- ECONÔMICA DA MANGUEIRA

O Objetivo deste capítulo é apresentar as estruturas geográficas e

sócio-econômicas da Mangueira,e ainda os elementos sócio-

culturais,assim como,algumas referências que se façam necessárias

3.1 Localização Geográfica

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A Mangueira fica localizada na Zona Norte da cidade, limitada pelos

bairros de São Cristóvão, São Francisco Xavier, Benfica e Maracanã.

Dentro de sua área geográfica, observamos:

- Altura do morro - 210 metros ;

- Inclinação – 25 m a leste;

- Clima - de montanha, pois é muito próximo à Quinta da Boa

Vista, e com área muito verde propiciando uma temperatura

amena;

- Linhas de Ônibus que passam no morro:

- 284 Pça Tiradentes a Pça Seca em Jacarepaguá

- 621 Pça Saens Penã a Vila da Penha

- 622 Pça Saens Penã ao Grajaú

- 711 Rio Comprido a Rocha Miranda

- Usina –Caxias (Intermunicipal)

- 629 Pça Afonso Pena a Irajá

- Conde de Bonfim a Nova Iguaçu (Intermunicipal)

- Metrô

- Trens da Central do Brasil (hoje Flumitrens)

Centro Comercial

Vale lembrar que todo o Complexo da Mangueira é rodeado de

bares e botequins de onde muitos retiram o seu próprio sustento.A

atividade desta natureza é de economia informal, atingindo 50% dos casos.

Existem supermercados próximos ao morro e de fácil acesso como:

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- Supermercado Mundial;

- Supermercado Paes Mendonça;

- Supermercado Campeão;

- Boulervad (Paes Mendonça);

- Super Box.

Clubes mais próximos

- Garnier;

- Magnatas;

- Sindicato dos Metalúrgicos.

A infra-estrutura sócio-econômica da localidade é formada por

amplas e diferentes instituições e comerciantes que geram benefícios para

a população, como por exemplo:

Batalhão Logístico do Exército

Veterinária Municipal

Presídios

Posto Policial de PM

Postos Médicos (comunitários)

Hospital Barata Ribeiro

Instituto Bras. de Geografia Estatística(IBGE)

Corpo de Bombeiros

Posto da Guarda Municipal

Cheches

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Farmácias

Padarias

Açougues

Pequenas Lanchonetes

Pequenos Armazéns

Na base alta do morro existia o Cemitério dos Cachorros, mas com a

transformação por causa da urbanização, este espaço está sendo

reservado para uma nova vila olímpica.

Pontos de Atração no Morro

01. Sede do GRESEP ( atual Palácio do Samba)

02. Buraco Quente ( Travessa Saião Lobato )

03. Primeira sede da escola ( Atual Associação de Moradores)

04. Casa do Seu Euclides, fundador da Mangueira, onde a escola

nasceu

05. Casa da Tia Fé ( antiga sede do rancho Pérolas do Egito)

06. Local de saída do Bloco dos Arengueiros

07. Casa atual de Carlos Cachaça

08. Primeira casa de Carlos Cachaça

09. Ciep - Vila Olímpica

10. Casa de D.Neuma e de Saturnino, fundador e o primeiro

presidente da Mangueira

11. Casa de Dona Zica - Cartola

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12. Casa onde Cartola morou com sua primeira esposa Deolinda

13. Casa do Tio Jair

14. Casa do Delegado

15. Chalé

16. Santo Antônio (de onde saiam as Pastorinhas do seu Laurindo,

pai de Cecília e avô de Pelado).

17. Pagode do Faria

18. Morro do Telégrafo onde a Mangueira começou a ser povoada

e onde foi instalado o primeiro posto de telefonia do Rio de

Janeiro.

Fato Histórico: A Mangueira foi crescendo e se formando pelo lado

do bairro de São Cristóvão que se chamava Vertente Norte, foi a primeira

parte a ser urbanizada com ruas calçadas e casa de alvenaria; São

Cristóvão nesta época era considerado bairro muito nobre.

3.2 Associações

Hoje existem na Mangueira associações interligadas que se

preocupam com a comunidade. A princípio isto não existia, era cada um

por si; mas com esta ligação houve mais união que se fortaleceu muito

mais com o trabalho em conjunto.

A Associação do Buraco Quente, é a mais importante para esta

evolução, todas as reuniões são realizadas lá. O presidente resolve

problemas como casas que precisam de reformas, esgotos que ficam a céu

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aberto, manutenção de uma ambulância que auxilia os moradores doentes

para locomoção, mão de obra mais barata ,pedreiros e eletricistas.

Todas as outras associações são favorecidas mediante tais

decisões. Os presidentes de cada associação são moradores da

Mangueira, sendo assim, cada problema é facilmente resolvido.

3.3 Setor Industrial

Pode-se encontrar na área que é restrita à Mangueira algumas

fábricas produtivas gerando para a população Mangueirense,

oportunidades de emprego :

No ramo alimentício - Kibon e Barbosa e Marques ( Queijos Regina ), Red

Indian (azeitonas)

de Construção civil - Alumínio Alcoa , Companhia de Cerâmica Brasileira

(azulejos).

No ramo de cosméticos - Leite de Rosas (fabricante de perfumes, talco)

A Cooperativa – Nasceu na própria Mangueira , onde se desenvolve um

trabalho em Hospitais do Municípios auxiliando hospitais como Pedro

Ernesto, Hospital de Campo Grande e outros. Esta Cooperativa nasceu da

Associação do morro para ajudar pessoas que não estavam conseguindo

emprego.

Existem também mães de famílias que já fazem parte do mercado

de trabalho ajudando os maridos, fazendo doces, bordados em toalhas de

mesa e panos de pratos. Algumas são artesãs, outras levam grupos de

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crianças para escola, outras até tomam conta de crianças menores para

que os pais possam trabalhar. Com o que recebem as famílias

mangueirenses vão melhorando, como podem, os seus orçamentos

familiares.

Alguns anos atrás participar da cooperativa era privilégios só das

pessoas que queriam enaltecer seus nomes, elas se associavam só com o

dinheiro que a Prefeitura repassava e não havia preocupação com os

problemas que a comunidade apresentava. Com a parceria de algumas

empresas privadas, fez-se com que os moradores se interessassem mais

em aprender a se desenvolver em outros tipos de serviços

profissionalizantes, como curso de informatização e camareira. Com o

passar do tempo a Mangueira deixou de ser uma comunidade fraca

dominada por pessoas que não tinham nenhum preparo psicológico para

lidar com situações difíceis. Hoje a comunidade se desenvolve com mais

otimismo, as pessoas entendem que o saneamento básico é importante

para se manter alerta em relação às doenças. Os garis e os agentes de

saúde também são responsáveis, por esta compreensão, eles auxiliam nas

campanhas feitas através de cartazes e pequenos lembretes colocados

nas paredes das casas. Na Mangueira, os moradores se conscientizaram

de que a educação e o lazer, fazem parte de um quadro importantíssimo

na saúde com a ajuda dos associados, pois, nas associações da

mangueira os moradores contribuem, com uma pequena taxa para

manutenção, cada sede instalada no morro tem os seus próprios

dirigentes; com todas estas melhorias a vida no morro será bem mais

prazerosa se houver a união de todos.

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Com estas medidas reduziu-se o número de moradores,

principalmente crianças e, conseqüentemente, a taxa de mortalidade

decresceu.

3.4 Programas e Recursos Educacionais

Hoje com o mundo totalmente globalizado há necessidade que de as

pessoas saibam como lidar com as mudanças que existem na Mangueira

O Projeto Oficinas Profissionalizantes que é desenvolvido pela Vice-

presidente Social, Célia Regina, tem como principal objetivo promover o

enriquecimento profissional, cultural e social da comunidade da

Mangueira.

Conforme o relato orgulhoso de Célia Regina, hoje funcionam doze

oficinas profissionalizantes, mas até dezembro serão trinta.

"O projeto, explica dona Célia, é para investir na comunidade.

Aperfeiçoar para valorizar e crescer, com parceria com as empresas.

Temos hoje o crédito das empresas Embeleze, Petrobrás, Leite de Rosas e

Valmari, o crédito que estas empresas dão ao projeto gera segurança para

a comunidade, a oficina funciona na Quadra da Mangueira são 180

pessoas que estão reagindo, saindo daquele “estado passivo”. “Tenho total

confiança” – diz Célia – “de que conseguiremos mais empresas para se

filiar às outras, e nos ajudar no desempenho da qualidade das profissões”.

Este espaço privilegiado é para buscar caminhos que levam ao

desenvolvimento, e à melhor qualidade de vida quanto ao crescimento

profissional. A divulgação positiva assegura etapa vencida e canaliza

caminhos que estão sendo percorrido, tendo o desejo de fazer sempre o

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melhor. Os programas educacionais sempre são conduzidos com ética,

obedecendo aos princípios da moralidade para que seja obtida a

verdadeira finalidade que é o bem estar social.

A Mangueira, sempre teve como função social investir com

segurança no bem–estar da comunidade. A garantia dessas condições dá

direito e cidadania aos moradores para que eles possam atingir o ideal que

é ingressar na sociedade.

Todos devem tomar consciência que o desenvolvimento se acelera e

não passa despercebido, principalmente, por outras comunidades. A

Mangueira, junto com os moradores assumiram um papel importantíssimo

na sociedade; ela não é vista mais como um povo “favelado e carente”;

mas como uma comunidade que tem força de vontade e dedicação no que

faz.

3.5 Força de Trabalho

A necessidade de novos empregos certamente proporciona desafios

constantes e o ingresso crescente de jovens no mercado de trabalho faz

com que se formem grandes perspectivas educacionais de progresso para

as novas gerações nesse sentido detacamos a atração do Camp

Mangueira, que desenvolve atividades pedagógicas num potência geradora

de novos empregos.

Existe uma capacitação profissional inerente à qualidade de serviços;

o investimento com auxílio de outras empresas desenvolve uma infra-

estrutura básica de todo complexo da Mangueira. Mas para que este

potencial seja aproveitado, é preciso que as associações entrem nos mais

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diversos segmentos para o crescimento dessas atividades, obtendo efeitos

extremamente benéficos para o desenvolvimento.

O Camp Mangueira já atendeu a mais de cinco mil adolescentes.

Hoje graças ao auxílio de parceiros e conveniados, atendem-se 1.200

jovens entre 14 e 16 anos.

Além do curso de que todos participam, existem outros recursos

indispensáveis aos jovens. Em primeiro lugar, todos têm que estar

matriculados em uma escola, trabalhando durante o dia e estudando à

noite.

Visando atender aos jovens maiores de 18 anos, o Camp Mangueira

abriu uma nova frente , através do Centro de Encaminhamento ao Mercado

de Trabalho.

Existem, além do curso de profissionalização, aulas de jazz, xadrez,

coral isto tudo visando uma maior participação sócio-cultural. Mudanças

geram novas oportunidades, é assim, que os jovens da Mangueira

pensam, por isso, é que a satisfação desta mudança é vivamente vista nos

semblantes dos jovens, como também a motivação e as oportunidade que

surgem.

A qualificação do desempenho desses pequenos jovens chamados

de patrulheiros é atribuída às grandes oportunidades adquiridas com a sua

própria força de trabalho. Sobre a nova ótica do mercado deste jovens, há

novas cabeças com novas vontades, que serão requisitadas com

irreversível pensamento de mudar, sempre para melhor.

No Camp Mangueira os jovens sabem onde chegar, eles se

espelham nos compromissos que assumem com seus educadores e com a

organização.

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A flexibilidade da organização mobiliza a comunidade para entender

que é muito importante a participação de todos os jovens no mercado de

trabalho pois a competitividade é muito grande. Existe hoje um projeto

“Dançando Para não Dançar” (que teve início em outras comunidades,

depois chegou até à Mangueira),de dança clássica para crianças, onde as

mesmas são preparadas para competir com crianças de classe média, e,

sendo aprovadas, farão o curso de oito anos no Teatro Municipal. A

felicidade de participar é muito grande, pois como a comunidade ainda é

carente, será uma vitória se as crianças passarem neste exame de

realização pessoal.

O Camp Mangueira se reformula sempre com a intenção de

implantar o bem-estar social com garantia de saúde, educação e

cidadania, questionando e resolvendo problemas de emprego desses

adolescentes.

Este quadro que está sendo apresentado agora faz parte de outros

benefícios que o Camp – Mangueira fornece para os adolescentes, tendo

como estrutura:

- Clube escolar

- Ateliê de corte e costura

- Centro de Educação para o Trabalho

- Cursos de datilografia

- Auditórios para palestras

- Cursos de Computação

3.6 Situação Demográfica

3.6.1 Dados Populacionais

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A Mangueira tem uma população, em média, de sessenta mil

habitantes, entre crianças, adultos e idosos, com as seguintes

caraterísticas.

Faixa Etária Percentual SalárioMínimo

0-14 anos 18,4% 01

15-59 anos 62,2% 04

+ 60 anos 19,4% 02

Natalidade 9,8 por mil -

Mortalidade 8,6 por mil -

Mortalidade infantil quase nula -

Fertilidade 1,8 ( por mulher) -

Expectativa de vida homens : 73,4 mulheres: 80,5 -

Segundo a pesquisa dos próprios agentes de saúde comunitários o

índice de mulheres que usam anticoncepcionais é em média 20% na idade

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reprodutiva, 10% tomam injeção local e 30% aderem à camisinha; todos

estes medicamentos são doados pelo posto médico comunitário.

3.6.2 Dados Sobre Educação

Índice de Escolaridade Freqüência

Analfabetos : Acima de 40 anos 5%

Alunos : 1º grau 70%

Alunos : 2º grau 30%

Creches : 05 80%

Escolas : 04 95%

As primeiras Escolas (localizadas dentro do próprio morro)

Adolfo Bloch ( Técnico)

Ernesto Faria (segundo grau)

Marechal Trompowisck ( segundo grau)

Humberto de Campos ( primeiro grau)

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Existem outros Colégios na redondeza que favorecem à

comunidade, em bairros próximos.

- Escola Municipal Humberto de Souza Mello ( em Vila Isabel)

- Colégio Maria Imaculada (em São Francisco Xavier)

- Escola Uruguai (em Benfica)

- Escola Municipal Gonzaga da Gama (em Benfica)

- Colégio Pedro Segundo ( em São Cristóvão)

- Escola Tempo Feliz ( em Benfica)

Existe um número limitado de jovens que cursam o nível superior.

3.6.3 Religião

Terreiros Números Freqüência

Candomblé/Umbanda 10 10%

Igrejas existentes

Católica 04 20%

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Universal 01 60%

Batista 02 3%

Ebeneze 02 1%

Templos

Kardecista 02 5%

Cabe às Associações tentar resgatar com verdadeira força e trabalho

a união da comunidade da Mangueira, onde se possa construir a partir de

idéias e pensamentos relevantes para o bem estar da nação

mangueirense. Conclui-se, que a comunidade com relativa perseverança

em sua trajetória histórica, desenvolveu uma capacidade de resolução e

problemas e conflitos internos, balanceando e contrapondo em harmonia

situações sociais do núcleo da própria comunidade.

Capítulo IV

A BANDEIRA VERDE ROSA : UM SÍMBOLO EM EXPANSÃO

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O objetivo deste capítulo e as suas abordagens no contexto da

monografia é contar um pouco do significado da Bandeira Verde Rosa bem

como sua criação e particularidades observadas ao longo da história do

samba, quando vários sambas enredos de tantas vitórias alcançadas,

fizeram da própria bandeira o expoente poético da tradição da Estação

Primeira.

Antigamente a bandeira era representada por estandartes oriundos

de ranchos tradicionais que existiam na época. Quem empunhava estes

estandartes eram homens chamados de “Guardiães de estandartes” .

A primeira bandeira surgiu em 1929. Era rosa e tinha no meio um

pandeiro com seis távolas. De cada távola saía um raio verde que ia até o

final do retângulo rosa. Este pandeiro foi mudado, algum tempo depois,

para um pandeiro de oito távolas sendo que de cada uma partia um raio

verde .

A cada ano a bandeira da Mangueira tinha um símbolo diferente. Era

um violão, um pandeiro, um tamborim que era acrescentado ou retirado

fazendo a diferença.

Na gestão do Presidente Barra Mansa, a bandeira foi confeccionada

na Casa Lucena. Por sugestão do gerente, neste ano, foi colocado um

clarim, que significava o triunfo.

Manuel Pereira Filho – o Beleléu, que foi presidente da Mangueira,

idealizou o símbolo atual que foi desenhado por Darque Dias Moreira – o

Sinhozinho, também ex-presidente da Mangueira. Tem o seguinte

significado: a coroa – a Mangueira é a Rainha do Samba; o surdo –

simbolizando o samba; os louros – simbolizando as vitórias.

Beleléu registrou o símbolo no Departamento de Censura e este se

tornou definitivo.

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Em 1962, na gestão de Roberto Paulino, a bandeira foi

confeccionada pelo famoso especialista “Arnaldo- o rei das flâmulas.”

Os dois lados da bandeira são igualmente bordados e luxuosamente

acabados em canutilho de metal dourado e pedrarias. O pano utilizado é

tafetá de seda pura verde e rosa. O retângulo é todo contornado de franja

em fio de metal dourado. O nome da Escola (G.R.E.S. Estação Primeira de

Mangueira) e as datas são bordadas em canotilho crespo, brilhante, de

metal dourado. A estrela bordada a ouro, no canto esquerdo da bandeira,

significa os vinte e cinco (25) anos de sua fundação, que ocorreu em 28 de

abril de 1928.

A bandeira é, para a Nação Mangueirense, o pavilhão mais

importante e que influencia bastante na tomada de decisão, fazendo crer

que o lema “amor e esperança” lance sempre desafios.

As cores que deram significado à marca criada

As cores da Mangueira – verde e rosa foram idealizadas por Cartola.

Segundo depoimento dele mesmo, nada tinha a ver com as cores do

rancho “Príncipe das Matas”, que já havia desaparecido há muito tempo.

Foi uma homenagem ao rancho “Arrepiados”do qual seu pai, Sebastião de

Oliveira, era componente.

Para Cartola, o rosa significa o AMOR e o verde a ESPERANÇA, é o

amor predomina como uma realidade entre os homens. Com as referidas

conotações AMOR e ESPERANÇA, a Mangueira se fortaleceu , enraízou

seus troncos, marcando, assim, uma tragetória para a cultura carioca e,

especialmente, brasileira.

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A trajetória da Grande Campeã e sua Evolução Cultural

- Os Anos dos Campeonatos

A Estação Primeira de Mangueira foi campeã do Carnaval 18 vezes .

Foi tetracampeã em 1950 (1947/1950) . Começou sua história com um

tricampeonato em 1934 (1932/1934). Ganhou ainda quatro bicampeonatos,

em 1933/1934; 1960/1961; 1967/1968 e em 1986/1987 .

- Título dos Sambas:

A relação dos títulos e seus respectivos enredos

1932 - Na Floresta (Cartola e Carlos Cachaça)

“Podam-se os galhos, colhem-se as frutas e outra vez se semeia e

no fim deste labor surge outro compositor com o mesmo sangue na veia.”

Cartola com a poesia que lhe era peculiar revelou com este samba a

plenitude do nascimento do grupo de compositores e que cada um poderia

chegar, semear sua semente e colher bons frutos (filhos).

1956 – Getúlio Vargas o grande Presidente (Paderinho)

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“No ano de 1883 no dia 19 de Abril nascia Getúlio Vargas ,foi eleito

deputado para defender as causas do nosso país,de 1930 para cá foi o

presidente mais popular’’

Como todos bem sabem, Getúlio Vargas, na época, foi o presidente

que conseguiu a aponsentadoria para a população, obviamente que a

Mangueira teve que homenagear.

1960 – Gloria ao Samba ( Hélio Turco, Pelado e Cícero)

“Samba, melodia divina, tú és mais empolgante quando vens da

folia, samba original e verdadeiro, orgulho do folclore brasileiro.”

Samba nascido do jongo retrata a importância das melodias simples,

por meio dos quais os poetas do morro cantavam, em verso e prosa, toda

essência do samba.

1961 – Recordações do Rio Antigo (Hélio Turco, Pelado e

Cícero)

“Rio, cidade tradicional, seu panorama deslumbrante é uma tela

divinal; Rio de Janeiro das igrejas e castelos das serestas ao luar no

cenário tão singelo”

O autor conta a história de como o Rio era diferente de agora, como

as coisas eram bonitas, as pessoas sentavam nas praças os seresteiros

cantavam para as suas amadas.

1962 – Casa Grande e Senzala (Jorge Zacaia, Leléo e

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Comprido)

“Negros escravos e senhores pelo mesmo ideal irmanados a

desbravar, procurando evoluir para unidos conseguir a sua libertação,

trabalho nos canaviais ,antes do amanhacer já estavam de pé no engenho

de açucar ou penerando café”.

Este samba canta a memória dos escravos que sofreram tanto até

conseguirem a libertação, que trabalhavam nos engenhos com sol e chuva.

Havia, ainda, os rapazes que, apesar de serem brancos, também eram

“escravos”, motivo, pelo qual o autor do samba usou a expressão “lutando

pelo mesmo ideal irmanados”.

1963 – Exaltação à Bahia (Helio Turco, Pelado e Comprido)

“Formosa Bahia seu relicário é tão vibrante, estado lendário, quantas

catedrais exuberantes, fostes no Brasil a primeira capital.”

A exaltação deste samba é contar a história e as belezas da Bahia

por ser o mais lendário de todos os estados tendo sido o primeiro estado a

ser descoberto pela caravela de Pedro Álvares Cabral, e por isso escohida

a primeira capital do país; é chamada de rainha da beleza universal.

1964 – História de um Preto Velho (Hélio Turco, Pelado e Comprido)

“Era uma vez um preto velho que foi escravo retornando à senzala

para historiar o seu passado”.

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Este samba conta a hitória de um preto velho que ao voltar à sua

antiga senzala descreve o quando sofreu e como ele se sentiu quando

obteve a sua libertação.

1965 – Exaltação ao Quarto Centenário (Hélio Turco, Pelado e

Comprido)

“Rio de Janeiro, palco de lendárias tradições de trovadores em

seresta, divinas recordações da corte, velhos lampiões de gás, imponentes

chafarizes e saudosos carnavais”.

Neste samba recorda-se a história, as tradições e as belezas do Rio

de Janeiro mostrando todo glamour da Cidade Maravilhosa.

1966 - Exaltação a Villa- Lobos ( Jurandir e Cláudio)

“Da natureza verdejante, ao som da brisa murmurante, nasceram,

com angelical fulcor, as trovas que o poeta inspirou”.

Homenagem a Villas-Lobo que não poderia deixar de ser

mencionado, pois o maestro contribuíu com uma grande parte do seus

conhecimentos com os compositores da Mangueira, o que ajudou muito a

ampliar o idealismo pois, todos os mangueirenses desejavam a glória.

1967- O Mundo Encantado de Monteiro Lobato

(Hélio, Darci, Jurandi, Batista, Luiz e Dico)

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“Quando uma luz divinal iluminava a imaginação de um escritor

genial, tudo era maravilha, tudo era sedução ó quanta alegria e fascinação.

Relembro aquele mundo encantado, fantasiado de dourado, ó doce ilusão”.

Este samba homenageia um dos maiores escritores brasileiros da

história infantil, Monteiro Lobato, e conta com muita alegria passagens

hitóricas, da beleza de ser criança.

1968 – Samba, Festa de um Povo. ( Helio Turco, Darci e Dico)

“Um cenário deslumbrante do foclore brasileiro a Mangueira

apresenta a história do samba verdadeiro. Música, de origem bem distante,

de uma era bem marcante, que enalteceu nosso celeiro.”

Na cultura popular o que mais faz é reverenciar a música brasileira,

a Mangueira mostra neste enredo que a entoação de várias canções acaba

sendo um festival de alegria, emoção e fantasia, mostrando uma

integração de todas as raças.

1969 – Mercadores e suas Tradições

“Brasil dos mercadores, aventureiros e sonhadores, que

desbravaram o sertão deste imenso rincão”.

Este trecho mostra a impôrtancia que os mercadores ambulantes do

Brasil abriram caminhos significativos para a cultura do povo brasileiro,

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tanto na parte da linguagem, como também tendo filho em cada lugar que

eles passavam .

1970 – Um Cântico à Natureza (Nei , Aílton e Dilmo)

“Boa noite meu Brasil saudações ao visitantes, trago neste enredo

fatos bem marcantes os modernos bandeirantes”.

Este enredo conta a história de Santos Dumont, mostrando que do

Oiapoc ao Chuí até o sertão distante com a invensão do avião o (grande

pássaro de aço), desbravando todo o país.

1972 – Rio, Carnaval dos Carnavais (Padeirinho, Nílton Russo

e Moacir)

“Vejam que maravilha temos a festa mais linda deste meu país, esta

é mais uma que brilha, como este povo é feliz, oriundo dos romanos e dos

negros africanos”.

Conta em parte a alegria de um povo durante o carnaval,

identificando que em todo universo não existe nada igual, só neste rio

tradicional.

1973 – Lendas do Abaeté (Jajá, Preto Rico e Manoel)

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“Iaiá mandou ir à Bahia no Abaeté para ver sua magia, sua lagoa e

sua história sobrenatural que a Mangueira trás para este carnaval”.

Lendas tradicionais tão bela que a Bahia tem, mistérios crendices

popular, focalizando a brancura da área com a água escura da lagoa, e o

monstro que vive lá.

1974 – Mangueira em Tempo de Floclore (Jajá , Preto Rico e

Manuel)

“Hoje venho falar de tradições da região do meu país, do seu

costume popular, conto a magia do ritual das lendas encantadas,

acongada,boi bumbá, salve o santo saravá, a rendeira, a baiana e sinhá e

Zé pereira com seu bumbo triunfal”.

Fatos históricos da cultura popular, cantado de várias regiões ao

mesmo tempo, glorificando a cultura de cada povo.

1975 – Imagens Poética de Jorge de Lima (Tolíto, Mozart)

“Na epopéia triunfal que a literatura conquistou em síntese de um

sonho que um poeta tão tristonho assim se consagrou”.

Mangueira conta uma época grandiosa de Jorge de Lima, poeta de

Alagoas que escreveu contos de um povo bem pobre, mais com uma

riqueza de detalhes e requintes muito bem elaboradas.

Este tema intelectual deu o vice-campeonato para a escola.

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1984 – Yes, nós temos Braguinha (Jajá, Jurandi, Hélio Turco,

Comprido e Arroz )

“Vem ouvir de novo meu cantar, canta Mangueira, vem ouvir as

pastorinhas, a luz de um pássaro cantou yes nós temos Braguinha, bela

época onde o poeta se inspirou”.

Este ano foi a inauguração do Sambódromo, a verde e rosa realizou

um belo carnaval . Sagrou – se campeã com a exaltação a vida e obra de

João de Barros, o Braguinha. Pela primeira vez a verde rosa foi até ao final

do desfile, mais chegando lá a escola fez meia volta, condagrando de vez

campeã e super campeã.

1986 - Caymmi mostra ao mundo o que a Banhia e a

Mangueira têm (Ivo, Paulinho e Lula)

“Mangueira vê no céu dos orixás para exaltar Caymmi e a velha

Banhia, e pelos terrenos de magia, carnaval o mundo vibra de alegria,

será que tudo já mudou, onde andará o alerquim tão sonhador, chora

pierrô chora, porque a colombina foi embora, é no balanço que eu quero

ver balançar é no balanço que a Mangueira vai passar”.

A inspiração que Caymmi transmitiu para a Mangueira em relação ao

samba, remanesceu um belo desfile dando muitas glórias para a escola

dado a sutileza de seus versos.

1987 - O Reino das Palavras Carlos Drummond de

Andrade (Rody, Verinha e Bira do Ponto)

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“Mangueira de mãos dadas com a poesia trás para os braços do

povo este poeta genial Carlos Drummond de Andrade suas obras são

faladas de um reino de verdade”.

Este título foi retirado de um verso do poeta, verso que se encontra

no poema Procura da Poesia, publicado pela primeira vez em 1945. A

compreenão desse título é para dizer que as palavras são estremamente

importante na vida do ser humano, as palavras são usadas no cotidiano

bom dia, boa tarde, melhor dizendo a palavra em forma de arte, matéria-

prima são captadas e depois traduzidas pela beleza que esclarece

obedecendo a normas do artísta.

1988 – Cem Anos de libertade, Realidade ou Ilusão (Helio

Turco, Jurandi e Alvinho)

“Será que já raiou a liberdade ou se foi pura ilusão, será que a lei

aúrea tão sonhada a tanto tempo assinada, não foi o fim da escravidão,

hoje dentro da realidade onde está a liberdade, onde está que ninguém viu,

moço não se esqueça que o negro também construiu a riqueza do nosso

Brasil”.

Este enredo conta a realidade de ontem e de hoje dos negros

brasileiros que estão livres dos açoites da senzalas mas presos na miséria

da favela. As dificuldades nos estudos, no trabalho, nos cargos de chefia,

são mostradas no samba como os negros mesmo não estando nas

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senzalas sofrem pois, mesmo não existindo o transporte de burros, eles

ainda mais andam pendurados nas portas dos trens.

1989 – Trinca de Reis (Fandinho, Ney e Adilson do Violão)

“Lá do alto Mangueira anuncia trinca de reis o Rio trouxe alegria,

Valter Pinto,Carlos Machado e Chico Recarey”.

Este trecho é muito interessante pois conta dos três reis da noite que

tanto contribuíram para a nossa cultura com as casas de shows.

Valter Pinto revoluciou o teatro de revista, Carlos Machado fez teatro

musical e Chico Recarey trouxe de voltar os jogos da roleta e do bacará

dando ênfase, a alegria das noites cariocas.

1992 – Se Todos fossem iguais a você (Helio Turco Jurandir e

Alvinho)

“Vem, vem ama a libertade vem cantar e sorrir ter um mundo melhor

vem meu coração está em festa eu sou a Mangueira em tom maior salve, o

samba de terreiro salve o Rio de Janeiro seus encantos naturais”.

Este enrêdo, não poderia deixar de ressaltar a grandeza de Tom

Jobim e o amor que ele nutria pelo Rio de Janeiro, Mangueira escreveu

passo a passo da vida de Tom ,e com muita alegria ele retribuíu com outra

melodia.

.

1994 – Atrás da Verde Rosa só não vai quem já morreu (Fer-

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nando Lima, Davi Correa, Paulinho e Carlos Sena)

“Me leva que eu vou sonho meu atrás da verde rosa só não vai quem

já morreu “.

A alegria deste carnaval foi contar a história dos quatros baianos que

tanto contribuíram para a nossa música brasileira. Maria Bethania, Gilberto

Gil, Caetano Veloso e Gal Costa.

1998 – Chico Buarque da Mangueira (Csypai, Villas-Boas ,

Nelson Rosa e Carlinhos das Camisas)

“Hoje, meu samba saiu pra falar de você

Grande Chico iluminado

E na Sapucaí eu faço a festa

E a minha Escola

Chega dando o seu recado”

Esta parte do samba simboliza com grande enfâse, alegria e carinho

que a Mangueira homenageou ao Chico Buarque, como não poderia deixar

de ser a Mangueira foi campeã, e ganhou o estandarte de ouro como a

melhor escola deste carnaval.

As letras apresentadas, com os seus respectivos autores fizeram

homenagens de carnavais campeões e também campeões de grande

repercusões. Vale ainda ressaltar que muitos dos homenageados

retribuiram à Mangueira, as suas homenagens. Pode-se citar o caso :

Os quatros baianos fizeram um samba (Onde o Rio é mais baiano)

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Gal, Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso

“A Bahia Estação Primeira do Brasil ao ver a Mangueira nela inteira

se viu, refletiu-se sua face verdadeira, que alegria não ter sido em vão que

ela expediu as ciatas pra trazerem o samba pro Rio pois o mito surgiu

dessa maneira e agora estamos aqui do outro lado do espelho, com o

coração na mão, isso é a confirmação de que a Mangueira é onde o Rio é

mais baiano.”

Tom Jobim

“Mangueira estou aqui na plataforma da estaçào primeira, o morro

veio me chamar, de terno branco, e chapéu de palha, vou me apresentar à

minha nova parceira (majestosa) mandei subir o piano pra Mangueira a

minha música não é de levantar poeira mas pode entrar no barração onde

a cabrocha pendura, a saia ao amanhecer da quarta-feira, Mangueira,

Estação Primeira, pela vida inteira Mangueira.

O grande poeta Carlos Drummond de Andrade

“Mangueira Desfila, Mangueira tem uns astros... A nação

mangueirense, essa nação altiva e pobre, toda musical celebre lá no morro

suas glórias que vêm de muito longe, antes do samba, e no samba se

fazem nacional. este é Cartola, tímido e divino dizendo adeus a amores já

passado saudando amores novos e florentes. Vêm Maçu, Juvenal e

Saturnino, Nelson Sargento, Padeirinho, e outros.

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Todos vão desfolhando a rosa verde, mais trescalante do que a

manga-rosa. (Ó mestre-sala, lírica invenção de Estação Primeira entre as

primeiras!) Um grupo valoroso de mulheres passa,e refulge sua tradição:

Tia Tomásia, dama de Arengueiros, Dona Neuma, Dona Zica Dona Miúda

rainha negra, das frutas e do forno, outras mais, outras mais... Doce

desfile, alma do Carnaval abertura em flor!”.

O poeta escreveu com o seu próprio punho esta mensagem para a

todos os mangueirense.

Fazer samba enrêdo, além do apoio dado pela sinopse do

carnavalesco que cria as idéias, depende de uma grande dose de intuíção

e inspiração do compositor, que até hoje ainda não foi possível, chegar a

conclusão de onde vem.

Capítulo IV

O Marketing Cultural no Desenvolvimento dos Novos Paradigmas.

Este capítulo registrará informações como as mudanças,

aconteceram com auxílio das empresas à Mangueira. Como surgiram os

patrocinadores que tiveram a idéia de financiar a escola junto com a

comunidade para um bem comum, e como construir um futuro melhor com

uma infraestrutura sólida.

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Em 1987, houve uma mudança na filosofia da Escola no sentido de

se preocupar com os seus integrantes e com a sua comunidade. Esta

mudança surge mediante o processo de uma análise onde os dirigentes da

escola observaram a necessidade de desenvolver diversos projetos

sociais, culturais, educacionais e profissionais.

O primeiro patrocinador foi a Xerox do Brasil, que acreditando nos

projetos apresentados pelos dirigentes da escola, resolveu participar

deste desafio que até então ninguém ousava enfrentar, nascendo assim

uma parceria que já dura dez anos. Com o sucesso que a Xerox obteve e

com o que a Mangueira alcançou, foi sendo ampliado o conjunto de

parcerias com empresas como : Bingo Arpoador, Sonrisal, Leite de Rosas,

etc..

A Xerox do Brasil, como pioneira em ajudar uma escola de samba

observou que poderia conciliar a propanda da empresa com imagem da

escola.

O pensamento sobre os projetos que a comunidade tinha em

relação às mudanças, tanto do lado social como do lado cultural,era

abrangente quanto ao sistema social interno da Mangueira que buscava

viabilizavar o futuro das crianças carentes já existentes.

Não resta a menor dúvida que foi muito difícil inserir estas crianças

dentro de um contexto de normas e regras que para elas era muito rígido.

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A decisão da Mangueira em estabelecer este acordo foi da maior

importância para as crianças do morro, levando-se em conta que os

dirigentes tiveram a necessidade de preparar as crianças com bastante

paciência e muito cuidado, porém, com a constante preocupação com a

recuperação das mesmas.

Essa situação começou a evoluir entre 1987-88 quando a

comunidade da Mangueira se revelou em condições para tais

mudanças, considerando a importância e revalorização da sua cultura,

esse reconhecimento foi assinalado pela recuperação que engloba a

estratégia e política interna do morro.

Este processo de mudança significou a consolidação de uma

democracia, que implicou numa acentuada dinâmica interna na

comunidade, que possibilitou imediatamente uma estabilização política,

estabilização esta que representou a principal linha de continuidade e

equilíbrio marcado pelo povo sofrido, que até então não tinha nenhum

crédito perante a sociedade.

O engajamento sócio-cultural da Mangueira faz acontecer inúmeros

projetos para melhoria de qualidade de vida da comunidade

mangueirense. Este é um sonho que se tornou realidade. Destacando- se

os seguintes projetos:

Vila Olímpica _ Projeto I

Se no morro da Mangueira estão a História e a tradição da verde e

rosa, do outro lado da linha do trem, fica a Vila Olímpica.Tudo começou

com um projeto e hoje se conhece a Mangueira não apenas no carnaval

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mais sim, pelo programa implantado que deu certo e que muitos hoje

querem conhecer e copiar.

A Vila Olímpica fica em uma área de 36mil metros quadrados, doada

pela Rede Ferroviária Central do Brasil. Este projeto, que deu certo, é

reconhecido pela United International Nations Children’s Emergency Fund

(Unicef) e pela maior rádio-emissora da Inglaterra (BBC) de Londres como

uns dos melhores programas de integração social do mundo, onde a

assistência ao menor carente é maciça.

Um projeto nascido em julho de 1987 com uma quadra improvisada e

um campo de terra, e hoje movimenta R$ 1 milhão por ano e se ramifica

em programas de educação, saúde, cultura e trabalho.

Para participar de qualquer atividade da Vila é preciso ficar, pelo

menos quatro horas por dia em sala de aula. Antes ou depois da escola,

meninos e meninas frequentam as quadras, os campos e as pistas de

atletismo, praticam aulas de violão, guitarra, street dance, etc.. O que quer

dizer que as práticas não ocorrem sempre na Vila Olímpica, situada na

base do morro os seus 36 mil metros quadrados de áreas. De lá os

adolescentes são indicados e encaminhados para diversas empresas.

Através do Centro de Educação para o Trabalho, o Camp Mangueira,

mais de 500 meninos são empregados anualmente em 180 empresas de

pequeno, médio e grande porte; por isso, a Mangueira hoje tem o menor

índice de criminalidade infanto-juvenil do estado do Rio de Janeiro

Em seus 10 anos de funcionamento, a Vila Olímpica vem crescendo

em projetos sociais e esportivos, fazendo dos mangueirense verdadeiros

campeões, e sendo motivo de orgulho para todos. Tanto, que a Mangueira

recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para Educação,

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Ciência e Cultura (UNESCO) como o melhor projeto social desenvolvido

nos países de terceiro mundo.

A Vila Olímpica já está formando atletas campeões, como a

corredora Tamara Rodrigues, de 15 anos, um exemplo claro do sucesso

desse projeto. Ela é atleta, esforçada, aplicada nos estudos, mora no Morro

da Mangueira e foi recebida pelo presidente Fernando Henrique, que teceu

muitos elogios ao trabalho que está sendo realizado pela Mangueira.

Os projetos de sucesso são quase sempre de longo prazo. Há 10

anos, a subsidiária brasileira da Xerox investe 600.000 dólares anuais

numa Vila Olímpica instalada ao lado da favela da Mangueira. Quem cuida

do projeto é um departamento de relações com a comunidade, que tem

como uma de suas tarefas medir os resultados do projeto. Antes da vila

olímpica, as escolas da região tinham uma ocupação de apenas 40% das

vagas, hoje esse índice está em quase 100%. Talvez os clientes da Xerox

jamais soubessem disso se não fosse o fato do presidente americano Bill

Clinton ter servido de garoto-propaganda do projeto. Em sua visita ao

Brasil, no ano passado, Clinton chegou a jogar uma pelada com os garotos

da Mangueira.

A Xerox calcula que 32 milhões de pessoas tenham lido as matérias

veiculadas em jornais e revistas da época. O projeto também ganhou 132

minutos de veiculação gratuita nas emissoras de TV.

Projeto Educação – Projeto II

Tem como objetivo possibilitar ao jovens sua ascensão social,

através do resgate de sua autovalorização. Os jovens de hoje da

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Mangueira têm o horizonte bem definido e caminhos que irão seguir,

diferentemente de outros tempos, como muitos relatam, não havia

perspectiva de vida e alguns acabavam na marginalidade.

O CIEP atende cerca 780 alunos que estudam e aprendem uma

profissão, mais de 50% são moradores do local. Quando o CIEP foi

inaugurado, como todos os outros, a infraestrura não era bem conhecida,

os moradores ficaram apreensivos pela fama que a escola tinha, mas aos

poucos os pais foram se conscientizando da importância que a escola

traria para seus filhos. A adaptação era lenta mas os próprios professores

lançaram mão das suas responsabilidades e mostraram para a Nação

Mangueirense sua dedicação ao trabalho.

No CIEP existe hoje além das aulas, atividades recreativas como

colônias de férias e vários esportes, como natação, hidroginástica, que são

praticados pelos pequenos mangueirenses, onde professores

especializados os orientam.

A Mangueira, na sua essência e equilíbrio, equaciona a oportunidade

de abranger a sua imagem perante as ocasiões mostrando aos seus

patrocinadores a percepção e preocupação com sua própria imagem. A

Mangueira, assim como os seus patrocinadores, depositam total confiança

e credibilidade na imagem, que possibilitam valores corporativos,

proprocionando a certeza de que o melhor sempre será feito, para a

continuidade da união.

Os cursos têm caráter preparatório, passibilitando que o jovem possa

ser encaminhado como estagiário para as vagas disponíveis nas empresas

conveniadas Xerox do Brasil, Casas Sendas, Golden Cross e Caixa

Econômica Federal entre outras, até completar 18 anos.

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Projetos Sócio- culturais – Projeto III

Abrange os sub projetos “Orquestra Afro- Brasileira”, Mangueira do

Amanhã” e “Centro Sócio-Cultural, que têm como principais objetivos a

preservação da identidade cultural, o incentivo ao estudo regular e o

atendimento à clientela carente de rua que vive no Centro da cidade.

1. Orquestra Afro – Brasileira - Atende a 50 integrantes do Grêmio

Recreativo e Cultural Mangueira do Amanhã. São 10 horas de ensaios e

estudos semanais em atividades de duas horas de duração. A idéia desse

projeto foi do maestro Henrique Souza Brandão que sempre quis ensinar

música para crianças carentes.

Os patrocinadores do projeto são o : Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), a Secretaria de Desenvolvimento Social do

Trabalho e Ação Social do Governo do Rio e o Ministério da Previdência.

O projeto a ser realizado será de construir conservatório de música

dentro da comunidade, para que as crianças no futuro possam alcançar a

altura de músicos de qualidade.Todas as crianças que participam desse

projeto recebem uma bolsa de R$ 50 reais.

2. Mangueira do Amanhã – Uma escola de samba mirim fundada

pela cantora Alcione, é um dos primeiros projetos sociais da Mangueira.

Para ser integrante é necessário que a criança tenha obtido

aprovação escolar, o que é um ótimo incentivo aos estudos.

3. Centro Sócio-Cultural – A Mangueira presta um atendimento

diurno às crianças de rua, adolescentes e idosos, que vivem nas ruas,

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oferecendo atividades sócio-culturais, recreativas, educacionais e de

iniciação profissional. Oferece café-da-manhã, almoço e lanche a todos.

4. Clube Escolar – Funciona num espaço cedido pelo CIEP, os

alunos e a equipe de 14 professores colocam em prática o convênio

assinado entre a Mangueira e a Secretaria Municipal de Educação, que

garante lazer e ocupação às crianças de vários bairros.

Este projeto é recente, foi criado em junho deste ano, está

caminhando muito bem, cada aluno tem a oportunidade de desenvolver

seus dons artísticos.

“A filantropia corporativa desse final de século nada tem a ver com

aquelas campanhas de distribuição de sopa ou de agasalhos. O objetivo é

fazer acontecer. Isso pode ser conseguido melhorando escolas, dando

noções de cidadania aos moradores da favela, reintegrando ex-drogados à

sociedade.”1

“O presidente seduzido pela notícia que chegou até aos Estados

Unidos da América a respeito das atividades sócio-culturais da Mangueira

fez questão de visitá-la”2.

___________

1 VASSOLO, Claudia. Fazer o bem compensa? Revista Exame, Rio de

Janeiro, v. 31, n. 9, 22.04.98. p. 30

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2 CARVALHO, Francisco (Chiquinho da Mangueira) (informação oral)

Com todos esses programas de melhoria da qualidade de uma

comunidade, não poderia deixar de ser mencionado o depoimento de uma

pessoa bastante conceituada, Siro Darlan de Oliveira. “Ao mencionar as

razões que fazem a Mangueira ser um exemplo para o mundo inteiro,

prova-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente é realizável em

nosso país. A Mangueira já cumpre a lei antes mesmo ela ser criada em

1990, provando assim, que a criança tratada no contexto familiar e

comunitário com cultura, é uma criança alegre, respeitada e amada. Uma

criança com auto-estima alta não comete infrações, não usa drogas e nem

se prostitue.

Há, porém mais trabalhos a elogiar. A Mangueira já é um produto de

exportação. Ela saiu da sua comunidade e montou um barracão no centro

da cidade, que é o centro de toda a problemática de crianças de rua, e nele

atende crianças que vivem na rua. Há quatro anos se verifica o índice zero

de criminalidade entre crianças e jovens da Mangueira. E quando alguém é

seduzido pelo tráfico, ele é imediatamente recuperado com a ajuda do

Chiquinho, da Alcione da Tia Alice e da Tia Neuma e por todos aqueles

que fazem da Mangueira o que ela é hoje: um ambiente saudável,

reconhecido internacionalmente e amado por este imenso Brasil”1.

___________

1 OLIVEIRA, Siro Darlan de. Juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude

do Rio de Janeiro (Informação oral)

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Marketing Cultural

A Mangueira, como qualquer empresa tem que ser vista e ter uma

imagem boa junto à população. O apoio cultural contribuiu muito para a

imagem da escola.

A escola tem que ter profissional preparado em desenvolvimento

sócio-cultural, para negociar e defender qualquer problema que houver, de

uma maneira geral as empresas multinacionais é que investem mais na

área cultural, do que as nacionais. Nos países do primeiro mundo isso já

acontece com mais frequência, a cultura e a empresa estão interligadas.

Através das estratégias de comunicação, os dirigentes da Mangueira

planejam e implementam os patrocínios culturais, como forma de captar

recursos e definir melhor caminho.

Todas as atividades que são desenvolvidas, culturais e comunitárias

na Mangueira, são aplicadas doses de bom senso para se fazer um

trabalho grandioso nas comunidades carentes.

O Marketing Cultural hoje é necessário. O Prof. Philip Kotler, na base

das suas idéias, deixa claro a sua opinião em relação ao próprio Marketing

Cultural dizendo: “o ser humano conhece quatro formas de obter um bem:

a coerção, a autoprodução, a súplica – bastante utilizada por muitos

produtores culturais – e a troca, que é o meio mais salutar. Ninguém tem

que passar o pires para ninguém. Ficar pedindo pelo amor de Deus para

ajudar a cultura. É preciso mostra que o projeto é importante, que há um

público que vai valorizar esse projeto. Oportunidade e adequação são as

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palavras chaves nesse novo negócio”1. “Marketing cultural é apresentar

soluções para as empresas, apresentar trocas equilibradas” 2.

Seguindo a mesma linha de raciocínio de Kother, a Mangueira

resolveu arregaçar as mangas, e foi à luta, à procura de patrocinadores

mostrando os seus projetos. Os dirigentes bem sabiam que era preciso ter

muita paciência para conseguir tal ajuda, mas não desistiram, sendo por

iste motivo que todos os projetos em pauta já foram concretizados.

___________

1 KOTLER, Philip, FOX, Karen F. A. Marketing estratégico para

instituições educacionais. São Paulo : Atlas, 1994.

2 MARKETING CULTURAL. São Paulo : Baluarte Cultural e Marketing,

1998 – . Mensal

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CONCLUSÃO

A Mangueira com novos paradigmas apresenta projetos culturais

sempre adequados à estrutura da própria comunidade – a Nação

Mangueirense.

Esta mudança logicamente alterou todos os hábitos do morro, porém,

os moradores sentem na nova estrutura uma realização benéfica à medida

que vêem viabilizados os projetos do samba e os projetos de vida através

das atividades culturais, artísticas e educacionais criadas para suas

crianças e adolescentes.

A parceria de empresas com as favelas são projetos viáveis e de

resultados positivos para os dois lados envolvidos , pois se a parte carente

(favela) se beneficia , a parte da empresa também é amplamente

gratificada , principalmente pelo aspecto ético e social.

A viabilização dos projetos gera lucros consideráveis para a empresa

patrocinadora do projeto, que ganha credibilidade por parte não só da

comunidade carente como de toda a população brasileira.

Muito mais que uma simples ajuda mútua das partes envolvidas ,

toda a população do estado e porque não dizer do Brasil, ganha na

diminuição da criminalidade, ganha no controle de doenças passíveis de

contaminação (epidemia), na dimunuição do analfabetismo e no aumento

de oferta de mão de obra para empregos. O aumento da concientização da

população carente de sua própria cidadania gera a aceitação por parte das

classes sociais mais elevadas.

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de sucesso. Rio de Janeiro : F. Alves, 1996. 137 p. 2. COBRA, Marcos. Marketing básico : uma perspectiva brasileira.

3. ed. São Paulo : Atlas, 1986. 762 p. : il. 3. _______________, ZWARG, Flávio Arnoldo. Marketing de serviços :

conceito e estratégias. São Paulo : McGraw-Hill, c1987. 284 p. : il.

4. COURTIS, John. Marketing de serviços. São Paulo : Nobel, 1991.

124 p. 5. GODRI, Daniel. Marketing de ação. Curitiba : Educa, 1990. 70 p. : il.

6. GOTTEL, Simone Ribeiro. Telemarketing : o alo futuro do mercado. Rio de Janeiro, 1996. 106 p. : il. TM (Gr.) – FCPERJ, 1996.

7. GRACIOSO, Francisco. Marketing : uma experiência brasileira. São Paulo : Cultrix, 1971. 170 p.

8. HELLER, Robert. Marketing pessoal : a proposição específica do sucesso. São Paulo : Makron Books, 1990. 128 p. (Eficácia empresarial)

9. KOTLER, Philip, FOX, Karen F. A. Marketing estratégico para instituições educacionais. São Paulo : Atlas, 1994. 440 p. : il.

10. LEVITT, Theodore. O novo papel da administração. São Paulo : Nova Cultural, 1986. 106 p. : il. (Harvard de administração ; v. 1)

11. MARKETING CULTURAL. São Paulo : Baluarte Cultural e Marketing, 1998 – . Mensal

12. MARKETING CULTURAL : manual de estratégias para captação de patrimônio. São Paulo : Baluarte Cultural e Marketing, 1998 – . Parte integrante da revista de igual título.

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13. MARKETING cultural ao vivo : depoimentos / Silvio Da-Rin, Candido José Mendes de Almeida. Rio de Janeiro : F. Alves, 1992. 184 p. (Letras e comunicação).

14. PENTEADO, José Roberto Whitaker. Marketing de idéias : a promoção da produtividade no terceiro mundo. São Paulo : Pioneira, 1983. 181 p. : il. (Biblioteca Pioneira de administração e negócios).

15. RICHERS, Raimar. O que é marketing. 8. ed. São Paulo :

Brasiliense, 1986. 107 p. : il. (Primeiros passos, 27) 16. SILVA, Marília T. Barbosa da, OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de.

Fala Mangueira. Rio de Janeiro : J. Olympio, 1980. 17. TAVARES, Andrea Alfradique. Moda : um retrato da sociedade :

aspectos históricos, econômicos e conjunturais. Rio de Janeiro, 1996. 81 p. : il. TM (Gr.) – FCPERJ, 1996.

18. CONEXÃO Mangueira. Rio de Janeiro : GRESEP da Mangueira,

1998. Disponível: http://www.mangueira.com.br. 02.12.1998 Depoimentos (Informação verbal) § D. Neuma (Neuma Gonçalves da Silva)

§ Rodrigues, Marcos Antonio (Mestre-sala atual)

§ Machado, Marcia da Silva

§ Gomes, Neucy da Silva

§ Alvaro (Compositor)

§ Santos, Elmo José dos

§ Machado, Valmir

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