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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS RELIGIOSOS Egie Siqueira da Silva Dourado Orientador Prof. ANSELMO SOUZA Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS RELIGIOSOS

Egie Siqueira da Silva Dourado

Orientador

Prof. ANSELMO SOUZA

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS RELIGIOSOS

Apresentação de Monografia à Universidade

Candido Mendes – Instituto A Vez do Mestre

como requisito parcial para a conclusão do

Curso de Pós Graduação “Lato Sensu” em

Direito Público e Tributário.

Por: Egie Siqueira da Silva Dourado

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, obrigada por tudo. À minha

querida mãe, que sem ela eu não teria chegado

até aqui. Ao meu esposo que consistiu em

verdadeira inspiração para a elaboração desse

trabalho. O presente trabalho é fruto de extensa

pesquisa que não seria possível sem a valiosa

contribuição do Professor Anselmo Souza,

Orientador deste Projeto.

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RESUMO

A importância do estudo da Imunidade Tributária, especialmente para

os Templos Religiosos, está na delimitação do conceito de Templo Religioso, na

especificação do que é Religião, conforme a Carta Magna de 1988 assegura o

culto e a liberdade de consciência e de crença.

A relevância social desta pesquisa está no fato de esclarecer quais são

os verdadeiros espaços destinados ao culto religioso que são abrangidos pela

Imunidade Tributária assegurada pelo Código Tributário Nacional. Esse tema da

Imunidade Tributária para os Templos Religiosos é um excelente tema para a

Monografia, já que todos tem uma Religião, além de que constantemente vem

crescendo o número de novas igrejas, ou novos templos; e a dúvida da

população está na questão que será abordada delimitando até onde vai a

imunidade tributária dos templos religiosos. Cabendo ressaltar que, mesmo as

pessoas que não tem uma religião, acreditam em algo que embasa sua vida

espiritual.

O sentido do termo Imunidade Tributária tem origem no latim. A

significação do vocábulo é ser ou estar livre de, dispensado de, resguardado de

ou contra, isento, incólume, liberado etc. Assim, o vocábulo imunidade, aplicado

especificamente ao Direito Tributário, significa que pessoas, bens, coisas, fatos

ou situações deixam de ser alcançados pela tributação.

É importante também esclarecer que a imunidade tributária veio

difundir a separação do Estado e a Igreja, podendo-se afirmar que vivemos em

um estado laico, e de tal modo teremos várias religiões, e estas terão a

imunidade tributária, que ressalte-se: não alcança o templo propriamente dito,

mas sim o local onde é possível professar a fé e expressar a liberdade de

consciência e de crença relacionadas ao culto religioso.

Passando-se à análise da renúncia fiscal com sede constitucional,

independente do vocábulo a ser utilizado, temos como ponto fundamental a

imunidade, que é a limitação constitucional ao poder de tributar, diferente de

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isenção, que é uma concessão voluntária do Estado, em determinadas situações,

cabendo salientar que a constituição é o ápice do sistema jurídico, sendo certo

que os mandamentos nela contidos, modificados somente por emenda

constitucional, e, em muitos casos, como os direitos sociais (dentre eles a

imunidade tributária) as regras não podem ser mudadas.

É certo, portanto, que qualquer limitação às imunidades tributárias só

podem ocorrer mediante Lei Complementar, salientando-se que a única Lei

Complementar que traz requisitos para o gozo das imunidades pelas referidas

entidades é o Código Tributário Nacional. Então se tem que qualquer restrição ou

regulamentação do gozo das imunidades tributárias efetivado por outra

regulamentação que não Lei Complementar, padece de nulidade, sendo, por

conseguinte inválido, desencadeando sua inconstitucionalidade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................. 07

CAPÍTULO 1 – A Imunidade Tributária.......................................... 09

1.1 – Conceito de Templos Religiosos............................................10

1.2 – Proteção aos Templos Religiosos..........................................15

1.3 – A Proteção da Imunidade Tributária......................................18

1.4 – Razão de ser da Imunidade Tributária ..................................21

CAPÍTULO 2 – Imunidade Tributária dada aos Templos de

Qualquer Culto................................................................................. 24

2.1 – A Importância da Religião ......................................................27

2.2 – A Presença da Religião nas Diversas Culturas...................30

2.3 – O Papel da Igreja Interligado ao Estado Laico....................33

2.4 – A Questão da Maçonaria ser Considerada Religião...........35

CAPÍTULO 3 – Lojas Maçônicas, Templos Positivistas e Centros

Espíritas.............................................................................................38

3.1 – O Alcance da Imunidade Tributária aos Diversos Segmentos

Religiosos..........................................................................................39

3.2 – A adequação da Maçonaria ao Conceito de Templos de

Qualquer Culto..................................................................................40

CONCLUSÃO.....................................................................................43

BIOGRAFIA .......................................................................................45

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INTRODUÇÃO

A importância do estudo da Imunidade Tributária para os Templos

Religiosos está na delimitação do conceito de Templo Religioso, na especificação

do que é Religião, conforme a Carta Magna de 1988 assegura o culto e a

liberdade de consciência e de crença. A relevância social desta pesquisa está no

fato de esclarecer quais são os verdadeiros espaços destinados ao culto religioso

que são abrangidos pela Imunidade Tributária assegurada pelo Código Tributário

Nacional.

Esse tema da Imunidade Tributária para os Templos Religiosos é um

excelente tema para a Monografia, já que todos tem uma Religião, além de que

constantemente vem crescendo o número de novas igrejas, ou novos templos; e

a dúvida da população está na questão que será abordada delimitando até onde

vai a imunidade tributária dos templos religiosos. Cabendo ressaltar que, mesmo

as pessoas que não tem uma religião, acreditam em algo que embasa sua vida

espiritual.

A Constituição da República Federativa do Brasil elenca os direitos

fundamentais, dentre os quais está a liberdade de culto, além do mais o Código

Tributário Nacional assegura também a Imunidade Tributária aos Templos de

Qualquer Culto.

Contudo tem-se a questão do que se deve compreender como Templo

de Qualquer Culto.

É importante também esclarecer que a imunidade tributária veio

difundir a separação do Estado e a Igreja, podendo-se afirmar que vivemos em

um estado laico, e de tal modo teremos várias religiões, e estas terão a

imunidade tributária, que se ressalte: não alcança o templo propriamente dito,

mas sim o local onde é possível professar a fé e expressar a liberdade de

consciência e de crença relacionadas ao culto religioso.

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Um ponto importante a ser destacado está no fato de analisar o que

compreende o patrimônio religioso, qual seja a renda e os serviços relacionados

com as atividades efetivamente ligadas às entidades religiosas.

O conceito de Templos Religiosos está respaldado na Constituição da

República Federativa do Brasil, além de que a Imunidade Tributária concedida

pelo Código Tributário Nacional aborda sobre a delimitação do significado de

Templos de Qualquer Culto.

A imunidade Tributária dada aos Templos de Qualquer Culto não

alcança o templo em si, a estrutura da construção do Templo, mas sim, a

entidade que mantem o Templo, ora a igreja.

O Art. 5º, VI, CF/88, aborda sobre a inviolabilidade da liberdade de

consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos

e garantida a proteção aos locais de culto e suas liturgias, na forma da Lei, e para

garantir o efetivo cumprimento desta garantia é que foi vedado, através da

imunidade tributária aos templos de qualquer culto, a cobrança de qualquer

imposto sobre os templos de qualquer culto.

Este trabalho pretende expor a dimensão dos templos de qualquer

culto, que também está sendo aceito como templo, a loja maçônica, o templo

positivista e o centro espírita.

A finalidade da imunidade tributária aos templos de qualquer culto é

garantir ao cidadão sua liberdade de crença, já que estão imunes também os

templos com poucos adeptos, assegurando que todos possam ter garantidos

seus direitos ao livre exercício dos cultos religiosos e a proteção aos locais de

culto, não importando a nomenclatura da religião, desde que não ofenda a moral,

nem os bons costumes, nem venham a atentar contra a segurança nacional.

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CAPÍTULO 1 – A Imunidade Tributária

Em uma primeira análise sobre o tema abordado, pode-se mencionar

que a Constituição Federal de 1988 garante a Imunidade Tributária para Templos

de qualquer culto, ou seja, os Municípios, Estados, Distrito Federal e União não

podem instituir impostos sobre os Templos de qualquer Culto, já que o imposto

que é instituído pelas três esferas governamentais não são aplicáveis às

entidades religiosas.

Necessário se faz tecer algumas considerações acerca da competência

tributária, que é a faculdade que as pessoas políticas têm de instituir os tributos, e

por esta razão devem descrever, legislativamente, as hipóteses da incidência

tributária, os respectivos sujeitos ativos e sujeitos passivos, as bases de cálculo e

as respectivas alíquotas.

Importante se faz explicitar que a competência tributária tem suas

delimitações esboçadas pela Carta Política Federal que delineou as diretrizes dos

tributos. Neste diapasão, a imunidade tributária ajuda a delimitar o campo

tributário, sendo certo que as regras de imunidade servem também para delimitar,

no sentido negativo, as competências dos entes políticos, representando o ato

legiferante de criação de tributos uma competência tributária que foi exercida, em

face da regra que imuniza o ente, revelando um elemento de incompetência

tributária.

A mencionada incompetência tributária se perfaz quando ocorre a

delimitação de zonas de não-tributabilidade, posto que há determinados campos

de competências nos quais não poderá haver tributação, sendo a imunidade

matéria de ordem constitucional, não-incidência constitucionalmente qualificada,

em que pese a materialização da dispensa constitucional de pagamento de

tributo; ao passo que a isenção, dispensa legalmente qualificada, encontrando-se

no campo da incidência tributária, se materializando em dispensa legal de

pagamento de tributo.

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É de suma importância expor que na isenção a hipótese de incidência

ou fato gerador ocorre, surgindo, neste momento, o liame obrigacional, mas o

lançamento do tributo é dispensado. Assim, na imunidade não se há de falar em

relação jurídico-tributária, pelo fato de que a regra imunizadora está afastada do

âmbito da incidência tributária.

É de bom alvitre explicitar que a não-incidência é a ausência de

elementos do fato imponível ao conceito descrito na hipótese de incidência

tributária, isto é, o acontecimento fático não corresponde à descrição que a Lei

faz com perfeição.

Indubitável é que a imunidade tributária é um fenômeno de natureza

constitucional, sendo uma não-incidência constitucionalmente qualificada, as

normas constitucionais que, direta ou indiretamente, tratam da matéria, fixam a

incompetência dos entes tributantes para vincular, determinadas pessoas, em

função de sua natureza jurídica ou coligadas a determinados fatos, bens ou

situações.

Neste momento, passaremos à analisar a Imunidade Tributária

especificamente atrelada aos Templos Religiosos.

1.1 – Conceito de Templos Religiosos

Ao analisarmos o conceito de Templo no Novo Dicionário da Língua

Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, tal vocábulo é definido

como edifício público destinado ao culto religioso, como templo cristão e igreja.

Aliomar Baleeiro entende que o vocábulo "templo”, no dispositivo

constitucional, não abrange apenas a materialidade do edifício, mas compreende

o próprio culto. Ao serem analisados os conceitos de templos, locais de culto

religioso e casas paroquiais, residência de padres, de pastores, de rabinos, de

sacerdotes muçulmanos, dentre outros do gênero, pode-se chegar a concluir que

de forma alguma, tais locais tem benefício da imunidade.

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Indubitável é que o templo, como sacro edifício, é imune da mesma

forma que suas rendas (de cerimônias, se forem objeto de cobrança) o são,

sendo certo que para as rendas serem imunes, devem ser reaplicadas no próprio

culto. Caso as rendas auferidas por meio das atividades religiosas sejam

destinadas a outros fins, dentro ou fora do país, serão tributáveis.

Ademais, relativamente às rendas provindas dos conventos e de outras

instituições religiosas, são tributáveis, embora aplicadas nos cultos, posto que

foram auferidas fora dos templos.

Passando-se à análise dos veículos de transporte utilizados pelo

Templo de qualquer culto, bem como para os serviços de culto, ou ainda, para

serviços de atendimentos de doentes e moribundos, Aliomar Baleeiro leciona que

os mesmos estão incluídos no termo "templo"; sendo, portanto, não tributáveis.

A questão a ser discutida está na finalidade de proteção à imunidade,

onde tal proteção encontra respaldo apenas no lugar onde se pratica o culto ou

também os anexos desse imóvel relacionados com o culto.

Um exemplo para tal indagação está no fato de ser ou não possível

separar a nave de uma igreja ou catedral do seu átrio ou da sacristia onde se

guardam os materiais e alfaias que são necessários ao culto, ainda são

questionados o pátio onde os fiéis estacionam os seus veículos para a tão só

finalidade de participar do culto.

Mister se faz observar que parte doutrina tem sido mais restritiva no

assunto estudado do que as fazendas públicas interessadas nessa questão.

Pontes de Miranda, na vigência da Constituição de 1967, prelecionava

que "ficaram imunes a impostos os templos de qualquer culto; não, porém, as

casas de residência dos padres, pastores, rabinos etc., salvo se dentro do próprio

edifício do templo".

Insta expor que José Cretella Júnior ensina a não confundir "templos,

locais de culto, com casas paroquiais, locais de residência, nem com escolas

dominicais, fora do edicto do templo, residências de padres, de pastores, de

rabinos de ministro, de sacerdotes budistas, muçulmanos, evangélicos, em que

tais locais não são imunes a tributos.

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É certo que o templo, como sacro edifício, é imune, tendo-se como

afirmativa que Templo não paga imposto, embora seja edifício. O edifício do

templo, em que se celebre culto, não efetua pagamento de imposto predial, nem

territorial, tampouco de transmissão inter vivos, em caso de alienação.

Para Roque Carrazza, que tem como fundamento os termos do art 150,

VI da CF, em que defende que são imunes à tributação por via de impostos: os

templos de qualquer culto (aí compreendidos seus anexos, tendo como exemplo,

a casa paroquial, a casa do pastor, a casa do rabino, o Seminário, o Convento, o

Centro de Formação de Pastores, etc., não sendo imunes, porém, as rendas

provenientes de alugueres de imóveis, da venda de objetos sacros, da

exploração comercial de estacionamentos, mesmo que os rendimentos assim

obtidos reverterem em benefício do culto...”

Segundo a lição de Hugo de Brito Machado, não há como algum

imposto incidir sobre os templos de qualquer culto, já que Templo não significa

apenas a edificação, mas tudo quanto seja ligado ao exercício de atividade

religiosa.

Um dado a ser destacado é que não pode haver imposto sobre missas,

batizados ou qualquer outro ato religioso, tampouco sobre qualquer bem que

esteja a serviço do culto, contudo pode incidir imposto sobre bens pertencentes à

Igreja, desde que não sejam instrumentos desta.

Relativamente aos prédios alugados, por exemplo, assim como os

respectivos rendimentos, podem ser tributados, mas ao analisar a casa paroquial,

ou o convento, ou qualquer outro edifício para atividades religiosas, ou para

residência dos religiosos já não é possível a tributação.

Para Hugo de Brito Machado não há requisito que a lei possa

estabelecer. Basta que se trate de culto religioso para haver a imunidade da

tributação.

Sacha Calmon Navarro Coelho manifesta o entendimento de que

atualmente os templos de todas as religiões são comumente edifícios, portanto,

não há impedimento, porém, como lembrado por Baleeiro, que o templo ande

sobre barcos, caminhões ou vagonetes, ou seja um terreno não edificado.

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Insta salientar que o templo, dada a isonomia de todas as religiões, não

é só a catedral católica, mas também a sinagoga, a casa espírita Kardecista, o

terreiro de candomblé ou de umbanda, a igreja protestante, shintoísta ou budista

e a mesquita maometana.

Com relação ao IPTU, não podem os Municípios tributar os prédios ou

terrenos onde se exerce o culto (os templos), já que a expressão templo de

qualquer culto abrange o lugar de livre acesso aos fiéis, destinado a meditação

teológica e a íntima sintonia com o Criador, onde se realizam os atos de

adoração e louvor a Deus.

Pode-se vislumbrar na expressão Templo, o prédio da Igreja ou

Sinagoga, com os símbolos, imagens e objetos sacros e suas dependências,

mesmo que compartimentos dele sejam utilizados para a residência do padre,

pastor ou rabino, ou para ensino de religiosos, o terreno contíguo e acessórios do

templo, como o espaço destinado ao adro ou aglomeração de fiéis, em dias de

festas religiosas ou cerimônias que atraem grande número de pessoas da

comunidade.

Cumpre expor que até mesmo o barracão ou terreno sem edificação

desde que nesse lugar se oficie, preponderantemente e com habitualidade, o

culto, pode se falar em imunidade tributária.

Cumpre, ainda, expor as considerações de Aliomar Baleeiro, que

aborda sobre o tema da imunidade relativa aos templos de qualquer culto, onde

diz que a imunidade somente produzirá todos os frutos almejados pela

Constituição quando for interpretada sem distinções sutis nem restrições,

mesquinhas.

Cumpre ressaltar que a conquista constitucional da liberdade religiosa

é verdadeira consagração de maturidade de um povo, conforme salientado por

Themístocles Brandão Cabalcanti, que discorre ser tal conquista verdadeiro

desdobramento da liberdade de pensamento e manifestação.

Alguns Estados laicos trazem nos enunciados das suas Constituições a

liberdade religiosa, abordando que cada indivíduo adota a religião de sua

preferência, sob a ótica subjetiva, podendo professá-la, sob a ótica objetiva, onde

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professar a religião implica o direito de dedicar-se às práticas e rituais

costumeiramente vinculados a essa religião. O que consagram as Constituições é

o direito de praticar os atos individuais e coletivos próprios das religiões nos

lugares e eles destinados.

A liberdade de culto tem profundas raízes históricas e é reconhecida

inclusive nos Estados Unidos da América desde a primeira emenda, de 1784, que

aborda sobre o Congresso não fazer lei relativa ao estabelecimento de religião ou

proibir o livre exercício desta; ou restringindo a liberdade de palavra ou de

imprensa; o direito do povo de reunir-se pacificamente e de dirigir petições ao

governo para a reparação de seus agravos.

Portanto, pode-se discorrer sobre o conceito de cidadania sendo

dividido em três elementos: civil, que é composto dos direitos necessários à

liberdade individual de ir e vir, a liberdade de imprensa, de pensamento, o direito

à propriedade e de fazer contratos válidos e o direito à justiça, e a liberdade de fé;

político, ao analisar-se a participação do exercício do poder político, como

membro do organismo investido de autoridade ou como eleitos dos membros de

tal organismo; e social, que refere-se ao bem estar econômico e a segurança de

levar o indivíduo uma vida civilizada de acordo com os padrões vigentes na

sociedade.

É certo que sob a ótica de Marshall, a liberdade de fé estaria entre os

direitos de cidadania de primeira geração.

Na França, a Declaração de Direitos de 1789 trouxe em seu enunciado,

especificamente no artigo 10 que ninguém deve ser inquietado por suas opiniões,

mesmo religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública

estabelecida pela lei, assegurando a livre opinião relativa à religião.

Igualmente, a liberdade aqui abordada figurou expressamente em

quase todas as Constituições brasileiras: no artigo 20 da de 1967, artigo 31 da de

1946, artigos 25 e 34 da de 1937, artigos 17 e 18 da de 1934 e artigo 11 da de

1891, além de ter figurado expressamente em quase todas as Constituições

brasileiras: no artigo 20 da de 1967, artigo 31 da de 1946, artigos 25 e 34 da de

1937, artigos 17 e 18 da de 1934 e artigo 11 da de 1891.

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Alguns doutrinadores tratam a liberdade religiosa como sinônimo e

democracia. O Culto pode ser definido como o conjunto de práticas religiosas que

manifestam a crença quando é externada e o ato de Cultuar pode ter como

significado a honra ou redenção de homenagem à divindade. Contudo, a

Constituição brasileira, ao tratar de “templos de qualquer culto” não se refere

propriamente a essas práticas, mas à liberdade garantida à prática das diversas

religiões, que livremente honram suas divindades, contanto que o bom costume e

a ordem pública não sejam ofendidos, posto que da essência da idéia de culto

está a visão de honra à divindade, não se inserindo na referida categoria as

instituições que, embora praticantes de rituais e até denominadas de templos, ao

referirem-se aos seus locais de reunião, não cultuam divindades.

Tais estudos desembocam na questão de um eventual templo de culto

demoníaco estar ou não amparado pela imunidade, cabendo mencionar o que

sustenta SARAIVA FILHO quando aborda sustenta que não quando menciona

que a imunidade religiosa não abrange os templos de inspiração demoníaca,

tampouco cultos satânicos, por contrariar a teleogia do texto constitucional e em

homenagem ao preâmbulo da nossa Constituição que diz ser a mesma

promulgada sob a proteção de Deus.

1.2 – Proteção aos Templos Religiosos

Tem-se por embasamento legal que os Templos Religiosos são

igualmente imunes à tributação por meio de impostos, consoante consigna o art.

150, VI, ''b'', da CF. Tal imunidade, via de regra, não alcança o templo

propriamente dito, ou seja, o local destinado a cerimônias religiosas, todavia, a

entidade mantenedora do templo, no caso, a igreja.

Por tal motivo, é que cabe, uma reflexão acerca de quais os impostos

que poderiam alcançar os templos de qualquer culto caso não houvesse tal

preceptivo na Lei Fundamental.

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Ademais, sobre o imóvel onde o culto se realiza poderia incidir o

imposto predial e territorial urbano (IPTU); sobre o serviço religioso, o imposto

sobre serviços de qualquer natureza; sobre as esmolas, dízimos, espórtulas,

doações em dinheiro, o imposto sobre a renda; sobre a aquisição de bens

imóveis, o imposto sobre a transmissão "inter vivos", por ato oneroso, de bens

imóveis (ITBI); e, assim, sucessivamente. Destarte, nenhuns destes impostos,

nem outros quaisquer, podem incidir sobre os templos de qualquer culto, posto

que há norma que imuniza as referidas tributações.

Cabe mencionar que os entes tributantes não podem, nem mesmo por

meio de impostos, embaraçar o exercício de cultos religiosos, de tal modo que a

Constituição garante a liberdade de crença e a igualdade entre as crenças, cujo

primado já vem proclamado em seu art. 5.º, VI, .

Um dado a destacar é que a imunidade sob análise advém da cisão

entre a Igreja e o Estado, que teve como marco a Proclamação da República,

valendo expor que durante o Império, tinha-se, no Brasil, uma religião oficial: a

religião católica apostólica romana. As outras religiões eram toleradas, mas

apenas a católica recebia especial proteção do Estado.

Conforme exposto por Carrazza (2004, p. 663), a referida cisão entre

Estado e Igreja era, a um tempo, bom e mau para a religião católica. Bom, porque

a Igreja Católica tinha todas as facilidades, já que os bispos, sacerdotes e

religiosos em geral eram considerados funcionários civis do Império, fazendo jus

a salário e aposentadoria, e mau, porque, com isso, a Igreja Católica perdeu

quase que totalmente sua autonomia.

Deste modo, havia no Brasil da época, um verdadeiro césaro-papismo,

semelhantemente ao que existiu na própria Roma, quando do governo de

Constantino, sendo certo que, sob o aspecto jurídico nenhuma injustiça fora

sofrida pelos eclesiásticos que discordavam do governo e eram encarcerados, já

que, sendo considerados funcionários públicos, tinham dever de obediência ao

Imperador.

Com a proclamação da República, que se inspirava no positivismo de

Augusto Comte, foi imediatamente realizada a separação entre a Igreja e o

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Estado, momento em que tornou-se laico, deixando de dispensar maior proteção

a uma religião em particular, mesmo sendo majoritária, para tolerar todas as

religiões.

Evidentemente, o Estado tolera todas as religiões que não ofendem a

moral, nem os bons costumes, nem, tampouco, fazem perigar a segurança

nacional, havendo a presunção que a religião é legítima e que só cederá passo

diante de prova em contrário, a ser produzida pelo Poder Público.

Vale ressaltar que o vocábulo templo tem sido interpretado de maneira

lata, com certa liberalidade, sendo considerados templos não apenas os edifícios

destinados à celebração pública dos ritos religiosos, isto é, os locais onde o culto

é professado, mas, também, os seus anexos, que são considerados todos os

locais que viabilizam o culto.

Desta forma, há de serem considerados "anexos dos templos em

termos de religião católica, a casa paroquial, o seminário, o convento, abadia,

cemitério etc., desde que, é evidente, não sejam empregados em finalidade

econômica. Levando-se em consideração a religião for protestante, são anexos a

casa do pastor, o centro de formação de pastores etc. Já analisando a religião

israelita, são anexos, a casa do rabino, o centro de formação de rabinos etc.

Também cumpre mencionar que em todo o caso, a imunidade não se

desdobra às rendas advindas de alugueres de imóveis, da locação do salão de

festas da paróquia, de venda de objetos sacros, da exploração comercial de

estacionamentos, etc., ainda que os rendimentos assim obtidos revertam em

benefício do culto.

Tal distinção é feita simplesmente porque estas não são funções

essenciais de nenhum culto. Com efeito, nenhum culto existe para, por exemplo,

fabricar e vender cigarros. As atividades espirituais não se coadunam com tais

práticas, que, sob o pálio da licitude, têm escopos nitidamente temporais.

Portanto, os templos religiosos, são assim classificados como locais em

que se buscam refúgio e se professam a fé, não devendo haver interesses

obscuros, tampouco que visem o lucro, mas sim devem obedecer ao que

preceitua a Magna Carta quando concede liberdade de culto.

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1.3 – A Proteção da Imunidade Tributária

Inicialmente cumpre expor que a imunidade tributária contemplada na

Carta Magna decorre dos princípios constitucionais nela elencados atuando como

estimulo a concretização de tais princípios e limitando o poder de tributar.

Indubitavelmente seu objetivo é preservar valores políticos, religiosos,

sociais e éticos, colocando a salvo da tributação certas situações e pessoas.

Dessa forma impõe obediência com relação à Imunidade Tributária às

Pessoas Políticas, aos Templos de Qualquer Culto, os Partidos Políticos e suas

Fundações, Entidades Sindicais dos Trabalhadores e das Instituições

Educacionais e de Assistência Social, livros, periódicos, jornais e o papel

destinado à sua impressão, sendo esta última imunidade objeto de vasta

discussão nos tribunais acerca da concessão da imunidade tributária, no que

tange aos informativos eletrônicos.

Relativamente às Pessoas Políticas faz-se necessário mencionar que a

Imunidade tem razão de ser no fato de haver imunidade recíproca, que decorre

naturalmente do Princípio Federativo, que impede que uma pessoa política

interfira em outra, e do Princípio da Isonomia, que trata as pessoas políticas com

igualdade, não permitindo que haja tributação entre as referidas pessoas através

de impostos.

Insta salientar que os Partidos Políticos e suas fundações também são

contemplados pela imunidade aqui estudada, em decorrência de seus fins

públicos, cabendo mencionar que em casos de dúvida, sempre serão

solucionadas em benefício dos partidos políticos, pois eles complementam a

organização estatal.

Algumas exigências estão explícitas no Código Tributário Nacional, que

tendem a preservar o objetivo da imunidade, que é o de atrair as instituições ou

entidades beneficentes para secundar a ação do Poder Público, sem qualquer

intuito lucrativo, isto é, sem desvio de finalidade institucional.

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Portanto, os requisitos ou exigências legais se referem aos meios

adequados que se insurgem para assegurar a efetiva consecução da finalidade

institucional das entidades imunizadas, com a finalidade de evitar locupletamento

ilícito de seus membros ou administradores, pois este não é o fim ao qual é

visado.

De tal modo, as imunidades tributárias, para serem reconhecidas, não

necessitam de outros atos por parte do Estado, tais como declaração de utilidade

pública ou certificado de entidade beneficente ou filantrópica, bastando a

comprovação do preenchimento dos requisitos já mencionados.

Indubitável é que não pode lei ordinária ou lei de hierarquia inferior, ou

simples atos administrativos, modificar o que a Constituição e a Lei

Complementar estabeleceram, como é o caso da cassação da imunidade quando

a entidade remunera seus dirigentes, o que, por qualquer ângulo que se analise,

é muito diferente de distribuição de rendas ou lucros.

Insta esclarecer que, quando se trata de entidades sem fins lucrativos

não está sendo abordado que para se obter o beneficio da imunidade se faz

necessário a gratuidade na prestação deste serviço, mas sim que, após o

adimplemento de suas despesas, os recursos sejam integralmente aplicados no

país. Ora, a Instituição somente não poderá visar à distribuição de lucros, quer

seja para seus fundadores, associados, filiados mantenedores, ou outros mais.

A exigência da Constituição Federal pela não existência de fim lucrativo

foi corretamente traduzida pelo art.14 do Código Tributário Nacional, quando

estabeleceu a não-distribuição de patrimônio ou renda, quando se fala em

entidade sem fim lucrativo, significa que o criador, ou instituidor, ou mantenedor,

ou associado, ou filiado, não intenta fim de lucro para si, o que, obviamente, não

impede que a entidade aufira resultados positivos, tais como ingressos

financeiros, eventualmente superiores às despesas na sua atuação.

Em suma, quem cria a entidade é que não pode visar a lucro, e se

porventura houve algum ingresso financeiro líquido positivo (superávit), não se

trata de lucro.

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As instituições filantrópicas inserem-se em um contexto que favorece o

seu desenvolvimento, uma vez que o Estado beneficia tais instituições pela

imunidade tributária. Todavia para isto o mesmo estabelece determinadas

obrigações a serem cumpridas integralmente pela instituição sob pena de perder

o beneficio.

Segundo a dicção da alínea c do inc. VI do art. 150 da Constituição,

são imunes à tributação por meio de impostos o patrimônio, a renda ou os

serviços dos partidos políticos, incluindo-se as suas fundações, as entidades

sindicais dos trabalhadores, as instituições de educação e de assistência social,

atendidos os requisitos da lei, em que tais requisitos devem ser observados não

só pelas instituições de educação e assistenciais, senão, também, pelos partidos

políticos e suas fundações e pelas entidades sindicais dos trabalhadores.

Em sede das Normas Gerais em Matéria de Legislação Tributária tal lei

só pode ser uma lei complementar, por conseguinte ela vai regular imunidades

tributárias, que são limitações constitucionais ao poder de tributar.

Acrescente-se, pois, que a lei complementar deve, no caso, cuidar

somente de aspectos formais, ou seja, assegura o apontamento das medidas

hábeis a assegurar a eficácia do preceito constitucional em discussão, não lhe

sendo dado reduzi-lo, inquiná-lo ou invalidá-lo.

De tal modo, os partidos políticos e suas fundações, os sindicatos de

empregados e as instituições educacionais ou assistenciais só podem gozar da

imunidade a impostos se obedecerem à algumas condições, tais como não

visarem a fins lucrativos; aplicarem todos os seus recursos no País; e

escriturarem suas receitas em livros próprios e de modo apropriado.

Ainda sob a ótica da ausência de fins lucrativos exige tanto a não-

distribuição de seu patrimônio ou de suas rendas como também o investimento

na própria entidade dos resultados econômicos positivos obtidos. Não sendo

afastada da imunidade a remuneração dos funcionários e administradores, desde

que seja equivalente aos serviços por eles prestados à entidade. Por fim, a

exigência de escrituração, em livros próprios, das suas receitas é um modo de

fornecer ao Fisco instrumentos aptos a investigar o cumprimento dos requisitos já

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mencionados, que são um dever instrumental tributários, ora obrigação acessória,

devendo ser cumprido pela entidade interessada, sob pena de não poder gozar a

imunidade.

Da mesma forma, são imunes a impostos as entidades sindicais dos

trabalhadores, sendo excluídas as entidades patronais da benesse, conforme

assegura a Constituição Federal, pretendendo favorecer a sindicalização dos

trabalhadores, máxime daqueles que exercem misteres economicamente mais

humildes.

É certo que, quando o Estado, através do legislador constituinte,

estabelece as imunidades, não está fazendo nenhum favor ao particular, porém

quem favorece o particular é o público, vez que realiza funções que suprem e em

muitos casos até substituem o que é dever do Estado.

Portanto, torna-se injusta a tributação daquele que auxilia ao Estado,

ou até mesmo o substitui, no atendimento de serviços de interesse coletivo, como

o fazem a maioria das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos,

pois, o objetivo do tributo é justamente o de viabilizar a prestação de tais

serviços; aliás, o particular tem feito melhor e a menor custo o atendimento à

população no que tange a direitos de todos e dever do Estado.

1.4 – Razão de ser da Imunidade Tributária

Já no Império Romano havia o immunitas que exonerava certas

pessoas ou situações, tais como os templos religiosos e bens públicos, de

contribuir para com os tributum que sustentavam o Estado. Já na Idade Média os

privilégios das imunidades eram gozados pelo clero e pelos nobres frente ao

poder do Rei, sendo certo que a tributação recaía sobre os pobres de forma

arbitrária e extremamente onerosa, sem qualquer submissão à capacidade

contributiva das pessoas.

Insta salientar que um dos principais fatores que deflagraram a

Revolução Francesa, no Século XVIII, era o clero e a nobreza não concordar que

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tivessem que pagar tributos, estando isentos de quase todos estes, os quais

eram exigidos dos pobres sem consideração da capacidade contributiva.

Assim que surgiu o Estado Liberal ocorreu certa democratização das

imunidades, deixando de ser um privilégio, passando a representar uma garantia

de exoneração fiscal de determinadas atividades sociais.

Contemporaneamente a idéia da imunidade tributária está vinculada ao

direito das coisas e aos direitos morais, pois a imunidade preexiste ao poder

tributário como qualidade essencial da pessoa humana e correspondente ao

direito público subjetivo que assegura a pretensão à incolumidade diante da

ordem tributária objetiva.

Ainda se pode discorrer sobre o fato de que a imunidade tributária

alcança quaisquer tributos, tais como o imposto, a taxa e as contribuições de

melhoria.

Insta salientar que no Brasil as associações e fundações só podem

existir se tiverem como objetivos ações que atendam à coletividade, ou ao

interesse público.

Por conseguinte, a Constituição Federal estabelece, com relação às

imunidades de impostos sobre o patrimônio renda e serviços, bem como com

relação à contribuição patronal da previdência pública de determinadas pessoas

jurídicas sem fins lucrativos, estipulado é que não tendo título de utilidade pública,

ou de filantropia, não pode a pessoa jurídica gozar do direito às imunidades.

Portanto, a cobrança de impostos federais, estaduais e municipais, é

proibida constitucionalmente, referente às organizações civis sem fins lucrativos,

definidas como entidades de assistência social ou de educação, bem como das

fundações instituídas por partidos políticos, e que preencham os requisitos da lei.

Conclui-se que o objetivo da imunidade é impedir, por motivos que o

constituinte considerou de especial relevo, que os poderes inerentes à tributação,

pressionados por seus déficits orçamentários, invadam áreas, que no interesse

da sociedade devam ser preservados, através da instituição de tributos.

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Examinando as imunidades tributárias, pode-se verificar que cada uma

delas tem objetivo de preservar determinados princípios e regras que foram

eleitos pela Constituição como intocáveis para o país.

No que se refere à vedação concernente à tributação recíproca,

preserva-se o princípio federativo, com relação a tributação dos partidos políticos,

preserva-se a democracia representativa, já quando há proibição da tributação

dos livros, jornais e periódicos, procura-se não criar empecilho à difusão de

idéias.

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CAPÍTULO 2 – Imunidade Tributária dada aos Templos de

Qualquer Culto

O princípio que torna um ente imune do ponto de vista tributário atinge

o patrimônio, a renda e os serviços concernentes às finalidades essenciais das

entidades beneficiadas. É importante também mencionar que o referido princípio

esteve previsto desde a Constituição Republicana de 1891.

O fundamento de não haver tributação das entidades beneficiadas

está na separação entre o Estado e Igreja, imposta naquela época, sendo

imprescindível mencionar o princípio da neutralidade entre o Estado e Igreja,

salientando o princípio da liberdade de crença religiosa.

As Constituições estabelecem limites ao poder de tributar ao definir

imunidades, assim como os estabelece ao enunciar diversos outros que são

intransponíveis senão através da própria Constituição.

Em que pese serem os impostos o principal instrumento de

arrecadação, podem ser utilizados pelo Poder Público para promover a

intervenção na economia: para o bem ou para o mal.

As imunidades tributárias são inúmeras, sendo a dos templos

religiosos apenas uma delas. São as imunidades vedações ou proibições

jurídicas absolutas, porque veiculadas pela lei de maior força e importância do

ordenamento jurídico: a Constituição.

A nossa história é repleta de exemplos de criatividade em matéria de

instituir impostos, quanto se cuida de imunidade, portanto, não se está cuidando

dos impostos existentes ou expressamente previstos pela Constituição, mas de

todos os impostos, presentes e futuros.

É de saber notório que a imunidade do partido político preserva o

princípio democrático, a imunidade recíproca a federação e a dos templos a

liberdade de culto, é importante também expor as imunidades não podem ser

revogadas, não podendo sequer ser objeto de deliberação emenda constitucional

tendente a suprimir a referida imunidade que constitui um direito.

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Corroborando a idéia de que a imunidade é sempre norma

constitucional, denegatória de poder tributário, temos uma norma de

competência, constitucionalmente posta, que resulta da subtração da norma de

atribuição de poder pela imunidade; as imunidades são endógenas em relação às

normas atributivas de poder tributário, já que lhes delimitam a extensão, atuando

dentro delas para que sejam reduzidas o âmbito da abrangência; são, portanto,

negações parciais, se analisadas isoladamente.

Em se tratando de matéria de imunidade tributária dos templos, a

Constituição ressalva que ela se restringe à finalidades essenciais, referindo-se

tão somente aos impostos, sendo, então, imunidades impositivas.

A imunidade concedida aos Templos de Qualquer Culto tem levado

legisladores federais, estaduais e municipais, autoridades administrativas, juízes

e tribunais a conjeturar o significado de templo, especificamente sobre o

significado de culto e sobre o que são finalidades essenciais, na esperança de

estabelecer os exatos limites entre a liberdade religiosa de um lado e os abusos

em nome dela, de outro.

Consoante afirmativa oficial da Secretaria da Receita Federal do

Ministério da Fazenda, pode-se concluir que um imóvel rural pertencente a um

Templo, em rigor, não teria alcançado a imunidade do ITR, já que tal imunidade

não diz respeito ao templo propriamente dito, isto é, ao local destinado a

cerimônias religiosas, mas, sim, a entidade mantenedora do templo, a igreja.

Tem havido certa liberdade ao considerar o significado de Templo,

quando se refere não apenas aos edifícios destinados à celebração pública dos

ritos religiosos, isto é, aos locais onde o culto se professa, mas, também, aos

seus anexos.

Podem ser considerados anexos dos templos todos os locais que

tornam possível ou viabilizam o culto, de tal modo, o são, em termos de religião

católica, a casa paroquial, o seminário, o convento, a abadia etc., desde que, é

claro, não sejam empregados em fins econômicos. Se a religião for protestante,

são anexos a casa do pastor, o centro de formação de pastores etc. Se a religião

for a israelita, a casa do rabino, o centro de formação de rabinos etc.

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A imunidade tributária somente se estende aos imóveis da igreja que

tenham funções essenciais de culto, não sendo considerados como essenciais,

por exemplo, as rendas provenientes de aluguéis de imóveis, da venda de

objetos sacros, da exploração comercial de estacionamentos, da venda de licores

etc., ainda que os rendimentos assim obtidos revertam em benefício do culto.

Por fim, o imóvel rural de templo de qualquer culto somente será

alcançado pela imunidade tributária se vinculado às finalidades ou funções

essenciais da igreja, ou seja, no qual funcione centro de formação de religiosos

(como seminário, convento etc.), admitida a produção de alimentos tão-somente

para consumo próprio dos internos, portanto, sem destinação comercial.

Para efeito de imunidade considera-se templo não apenas aquele

espaço físico delimitado em que o culto é celebrado mas se estende o seu

conceito e, por conseguinte a Imunidade, aos seus anexos e espaços contíguos,

utilizados em atividades a ele, direta ou indiretamente, ligadas, desde que tais

atividades não sejam de natureza econômica, em cujo escopo não se encontre o

lucro." (Apelação nº 10.123/94 - 4ª CC do TA/RJ - decisão unânime)”.

Em relação aos templos religiosos, a Constituição Federal quer

resguardar através da imunidade tributária, constante do art. 150, a ampla

liberdade religiosa e de culto, tornando-a livre da incidência de impostos em

geral. Portanto, são insuscetíveis de incidência tributária os locais destinados ao

culto religioso, assim entendidos aqueles onde se reúnem pessoas com a

finalidade de professar a fé religiosa.” TJDFT. Embargos Infringentes em APC

15262000-DF, j. em, 25.10.2000, 1ª Cam. Civ., v.u., DJU, 18.4.2001, p. 23.

É certo que todos os tributos são criados por lei federal, ou estadual,

ou municipal, de acordo com a competência definida pela Constituição, sendo

vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípiosefetuar a

cobrança do imposto sobre os templos de qualquer culto.

Ademais, quando há referência aos templos, significa dizer que a

imunidade contempla o prédio, edificação ou qualquer outro lugar onde se

exerçam os ofícios religiosos, ressalte-se até mesmo terrenos, veículos, barcos

ou navios. Esses lugares é que estão protegidos pela imunidade.

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No que diz respeito ao IPTU, distingue, por isso, Sacha Calmon

Navarro Coelho, que não podem os municípios tributar os prédios ou terrenos

onde se exerce o culto, ora, os templos.

Numa interpretação restritiva, que não é unânime na doutrina, podem

tributar com o imposto predial ou o territorial os terrenos paroquiais, da mitra, das

ordens religiosas, das seitas e religiões, que se voltem a fins econômicos,

podendo-se citar os prédios alugados, terrenos arrendados para estacionamento,

conventos e seminários, lotes vagos, etc.

Contudo, na hipótese de o patrimônio imóvel de qualquer religião

estiver afetado, ainda que lucrativamente, a fins educacionais ou assistenciais, e

desde que estejam devidamente cumpridos os antepostos da lei complementar

tributária, a questão passa a quadrar-se nos limites da imunidade das instituições

de educação e assistência, obstando aos municípios o exercício da competência

tributária impositiva. Mas aí, já não se trata de imunidade dos templos de

qualquer culto.

2.1 – A Importância da Religião

Em uma primeira análise da importância da questão religiosa, que tem

ocupado lugar de grande destaque em meio às discussões de sua inter-relação

com as ciências humanas, é possível chegar à interrogação quanto à possível

existência de uma sociologia cristã.

Porém há de se indagar qual seria o ponto de equilíbrio entre essas

duas partes, no contexto da redução da sociologia a uma ciência simplesmente

racional, divorciada do transcendental e baseada em observações rígidas de

certo grupo social, ou talvez no contexto de discorrer com clareza o mistério

transcendental, que possui um lugar de destaque em meio a esta discussão.

Primeiramente é importante o entendimento da sociologia como um

todo, assim como sua principal definição e característica com o mundo num todo.

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Para abordarmos a sociologia, é necessário a abordagem acerca do

significado de sociedade, que é a relação entre indivíduos, algum grupo de

indivíduos que têm mais ou menos uma relação consciente um para com o outro.

A relação existente entre os indivíduos não se trata de uma relação

baseada em crenças políticas, religiosas ou coisa parecida, mas sim tratamos de

indivíduos que pensam e por isso existem em uma relação dentro de um sistema

geral sócio-político ao qual estão sujeitos.

É certo que a família é a forma mais básica de sociedade, pois dois

indivíduos de sexos opostos se relacionam entre si de forma consciente, e a partir

deles dá-se origem a filhos, onde proporciona todos os tipos de relações básicas

que compõem as características de uma sociedade: superioridade, subordinação

e igualdade. A partir da célula família temos a origem de toda a sociedade

existente no atual contexto.

Um grande desafio existente hoje é entender a decadência que a

instituição família tem sofrido em no contexto moderno perdendo suas raízes

sócio-culturais, sendo opinião da maioria dos autores que investigam o conceito

de sociologia e demais características que a cercam, que o sistema capitalista é o

grande responsável por esta mutação.

Outro fator de grande importância que tem proporcionado a ruptura na

estrutura familiar esta relacionado ao novo posicionamento feminista diante da

sociedade, que nos tempos atuais, as mulheres tem passado a assumir um papel

de quase igualdade diante do homem em meio ao capitalismo e nas relações da

divisão de trabalho, sendo gerado, portanto cada vez mais uma ruptura nos laços

de dependência humana no contexto familiar.

Ademais, o cristianismo através de tendências e ideologia tem de tal

forma contribuído para a humanização dos sexos, aceitando de certa forma a

idéia de igualdade perante Deus, além do fato de que no contexto da

congregação a mulher é igual ao, podendo ser analisado o capitalismo que tem

se tornado cada vez mais selvagem, contribuindo, desta forma, para o

esfriamento das relações humanas e familiares.

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Por outro lado temos a questão da religião, que pode ser entendida

como uma linguagem composta por um sistema simbólico de comunicação e

pensamento, um conjunto de práticas e representações revestidas de algo

sagrado, ao contrário da psicologia que apresenta uma natureza totalmente

subjetiva, a religião é dotada de comprovações objetivas. A criação religiosa

sempre objetiva buscar a totalidade da realização, um leque de significados,

nunca sujeita à expressão aberta e inequívoca.

Aprofundando esta definição acerca de religião, nos deparamos com a

questão do termo sagrado,que apresenta caráter positivo, que há oposição no

que é profano, algo que representa caráter negativo, tendo-se por base estes

dois opostos para nortear o estudo da religião.

Passando-se à análise da fé, que pode ser entendida como sendo o

significado que as pessoas dão à sua vida e pela compreensão existente acerca

de seu grupo, não estando ligada à crer em Deus especificamente, mas sim em

buscar um diferente ponto de coerência para sua vida. Quando olhamos para

tantas religiões, como o cristianismo, budismo, islamismo, entendemos que a

ação da fé ali é grupal e compartilhada entre elas. Através da fé se chega à

religião em sua experiência e ritos.

Com o ponto de partida no fato de que a idéia do grupo é o centro da

religião e fé podemos com certeza entender a preocupação notória delas com a

sociedade.

Então é preciso olhar para a família e entender que o mal está

instalado na sociedade. Quando analisamos a fé e a religião, precisamos

entender que precisamos tê-las no meio de nossas famílias de forma verdadeira

e prioritária a primeiro momento para que a moralidade possa ser resgatada em

meio à sociedade.

Portanto, quando se estuda a sociologia, tem-se a religião como

ferramenta principal para este trabalho de entender os problemas sociais e

concluir que grande parte dos males da sociedade é fruto de uma geração

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individualista e sem uma comunhão religiosa verdadeira, que molde caráter ético

moral.

É importante também explicitar que a necessidade do ser humano pela

fé e religião, ou seja, uma necessidade social cria repercussão no mundo jurídico,

isto é, a partir de uma necessidade social, tem-se uma regulamentação para o

exercício da fé, que é objeto do estudo ora abordado, no contexto da imunidade

tributária concedida ao templos de qualquer culto, que são o meio pelo qual

possibilita que o ser humano professe sua fé.

Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e

inseparável da cultura humana, é muito provavelmente sempre continuará sendo.

2.2 – A Presença da Religião nas Diversas Culturas

A presença da Religião nas diversas culturas pode ser verificada no

fato de não haver registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia,

Sociologia ou qualquer outra ciência social, de um grupamento humano em

qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa.

Assim, as religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana,

assim como as artes e técnicas.

A maioria dos movimentos humanos de grande importância teve a

religião como impulsor, as mais terríveis guerras tiveram legitimação religiosa,

estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do

conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como ponto forte os grupos

religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade tiveram um

vínculo ao poder político e social.

A palavra Religião, ao ser analisada, pode-se explicitar que deriva do

termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino, tal definição

engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso,

abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de

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pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo

Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.

Já a palavra Seita, derivada da palavra latina "Secta", nada mais é do

que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas

como tal também pode ser englobado no termo Religião.

A heresia é outro termo mal compreendido, que tem como significado

um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante, de tal

modo, o Cristianismo foi uma Heresia Judaica, ao passo que o Protestantismo

uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta, e assim por diante.

A Mitologia é um conjunto de contos e lendas que desemboca em uma

concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões,

contudo, suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental

da crença religiosa.

O Misticismo pode ser compreendido como qualquer coisa que diga

respeito a um plano sobre material, como por exemplo, um Mistério.

Atualmente, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso

sobrevive e cresce, cabendo mencionar aqui que a grande maioria da

humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a

Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo

estatutos políticos e sociais.

É certo que há várias formas de religião, e são muitos os modos que

vários estudiosos utilizam para classificá-las, contudo, as características que são

comuns às religiões, aparecem com maior ou menor destaque em praticamente

todas as divisões.

Uma das características é a cronológica, pois as formas religiosas

predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos estágios culturais de

qualquer sociedade, e outra modalidade que é utilizada para classificá-las de

acordo com sua solidez de princípios e sua profundidade filosófica, o que irá

separá-las em religiões com e sem Livros Sagrados.

Relativamente à presença da Religião nas diversas culturas, é possível

citar as Religiões Panteístas, que são as mais antigas, dominando em

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sociedades menores e mais primitivas, podendo ser encontrada nos primórdios

da civilização mesopotâmica, européia e asiática, e também nas culturas das

Américas, África e Oceania.

Já as Religiões Politeístas podem até ser confundidas com as

Panteístas, todavia surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma

cultura, isto é, quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai

se tornando Politeísmo.

É certo que a Religião Monoteísta é mais recente, e atualmente a mais

disseminada, sendo quantitativamente ainda a Religião dominante de mais de

metade da humanidade.

Ainda que possa parecer estranho, existem religiões Ateístas, que

negam a existência de um ser supremo central, mesmo que admitam a existência

de entidades espirituais diversas, tais religiões geralmente surgem como uma

reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos

aspectos se confunde com o Panteísmo, mesmo possuindo características

exclusivas.

A divisão aqui apresentada também traça uma hierarquia de

rebuscamento filosófico nas religiões, sendo certo que as Panteístas por serem

as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou qualquer estabelecimento mais

sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta

esteja mudando tal fato. Ao analisarmos as religiões politeístas, algumas das

vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas

nenhuma possui uma revelação propriamente dita. Tal fato é um privilégio do

Monoteísmo. Não há dúvidas que todas as grandes religiões monoteístas

possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. Contudo, as Ateístas

também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal,

não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como

tratados filosóficos.

Um ponto importante é que jamais uma dessas formas religiosas

deixou de existir totalmente, especialmente nos dias atuais onde a intolerância

religiosa não é mais tolerada na maior parte do mundo.

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Os diversos tipos de religiões se misturam e se confundem, o que

explica porque qualquer tentativa de se classificar as religiões é tão complexa.

2.3 – O Papel da Igreja Interligado ao Estado Laico

É necessário fortalecer os instrumentos democráticos, em especial o

Congresso Nacional, e trazer à reflexão de todo o povo brasileiro os temas

importantes para que o avanço continue, sendo imprescindível correlacionar os

principais temas relevantes das religiões com o Estado democrático e de direito.

Indubitável é que os brasileiros e as brasileiras entraram no terceiro

milênio com renovada esperança nos valores democráticos, perceptível, entre

outras coisas, pela eleição de um presidente oriundo dos movimentos sociais.

Contudo, a convivência democrática requer vigilância e

aperfeiçoamento constantes para consolidar direitos, garantir a liberdade e a

pluralidade.

Ao contrário dos avanços históricos e sem garantir a ampla discussão

que a questão merecia, foi assinado um "Acordo entre a República Federativa do

Brasil e a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil", que

poderá colocar em risco o Estado democrático e de direito.

O referido acordo aborda temas muito discutidos, especialmente em

seu artigo 11 em que há um aspecto importantíssimo, que é a responsabilização

do Estado na tarefa de transmissão do ensino religioso.

É sabido que para um Estado Laico, cada religião deve se

responsabilizar pela transmissão de seus valores e doutrina. A educação deve

garantir uma formação de boa qualidade e com base em parâmetros científicos e

universais.

Deve-se fazer uso dos recursos públicos de forma responsável para o

benefício de toda a coletividade e não para disseminar preceitos reservados de

um grupo, mesmo que seja uma religião tradicional em determinado local.

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O conteúdo do referido Acordo, ainda considerando que setores da

Igreja Católica tiveram importante papel no apoio à luta por democracia, poderia

ser considerado tendente a recriminar as outras denominações religiosas uma

vez que não as trata como iguais.

Poder-se-ia abordar sobre uma descaracterização da razão de ser do

caráter laico do Estado brasileiro, que reconhece e garante a existência e a

expressão de todas as crenças, mas não pode privilegiar nenhuma.

Deve-se frisar que o comportamento da Igreja Católica, ou de qualquer

outra religião, ao tentar que suas idéias e posições prevaleçam não busca o

fortalecimento dos princípios democráticos e laicos, no qual o respeito à

diversidade e à pluralidade sejam garantidos.

É certo que no Estado laico as religiões são totalmente separadas do

Poder, já nos estados religiosos o Chefe do Poder Religioso é, também, o Chefe

do Poder Político. É o caso dos países muçulmanos e nos países religiosos

fundamentalistas, como Afeganistão, qualquer outra religião é proibida e os

seguidores são massacrados, isto é, se um País Muçulmano Fundamentalista

vier a assumir o poderio bélico, todos os demais serão convertidos ou

exterminados.

Passando-se à análise do estado laico, que separa a religião do poder

público, pode-se denotar que o Brasil, mesmo sendo caracterizado como Estado

Laico, a Igreja ainda determina algumas questões pertinentes à Legislação

Brasileira, como o aborto, estudo de células tronco, casamento entre pessoas do

mesmo sexo e etc.

Contudo, deve ser abordado também que os responsáveis por legislar

são pessoas, e como tais tem um caráter interior que predomina na elaboração

de leis ou mesmo nas votações, então é subjetiva a questão de aprovar algo, que

esteja levando em consideração os preceitos religiosos, posto que transcende do

ser humano, a elaboração o votação de leis que venham a fazer parte da

estrutura de um país.

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Não se pode dizer, por conseguinte, que um Estado Laico ainda

continua a adotar preceitos religiosos, mas sim, depende de cada cultura para

que haja uma renovação legiferante.

E em várias partituras públicas, certamente poderá ser encontrados

crucifixos em vários lugares. Por isso, mesmo estando em um Estado Laico, as

pessoas mesmo com o livre arbítrio de retirarem tais crucifixos, optam por deixá-

los no local, se assim concordam com sua utilização.

É possível também citar a França, quando os franceses tentaram

impedir as mulheres mulçumanas de frequentarem as universidades públicas

com véu, para um Estado laico deveria também impedir que os cristãos

carregassem crucifixos. Um Estado laico verdadeiro funciona mais logicamente

do que o religioso, porém basta saber se esta classificação é apenas teórica,

como Brasil, ou prática, como na França.

2.4 – A Questão da Maçonaria ser Considerada Religião

Inicialmente é possível mencionar alguns julgados do Supremo na

década de 50, onde se considerou imune somente o imóvel no qual estivesse

instalado o templo, limitando a imunidade tributária concedida aos templos de

qualquer culto, vedando à entidade tributante de lançar impostos sobre templo

de qualquer culto, assim entendidos a igreja, o seu edifício, e dependências,

onde um lote de terreno, isolado, não poderia ser considerado o solo do edifício

do templo.

Contudo, desde o mencionado julgamento, os nobres julgadores do

Supremo vieram evoluindo seu pensamento, sofrendo os reflexos do vertiginoso

progresso tecnológico que desencadeou severas mudanças nos contextos

econômico, social e político de todo o planeta, de forma que a restrição da

imunidade foi gradativamente abandonada, passando o Supremo Tribunal

Federal a adotar uma postura mais liberal e ampliativa.

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Assim, pode-se verificar mais recentemente julgados que reconheciam

o benefício da imunidade, com relação ao IPTU, ainda que sobre imóveis

alugados ou utilizados como escritório e residência de membros da entidade

imune, ressaltando-se, ainda, julgados relativos à imunidade sobre o ISS, ainda

que sobre preço cobrado em estacionamento de veículos.

É certo que toda a mudança verificada nos tribunais acabaram por

favorecer também alguns grupos que mesmo asseverando que não estão

inseridos no conceito de Religião, acabam por utilizar-se da benesse da

imunidade tributária.

Passaremos, então, ao estudo da imunidade tributária do ponto de

vista em que é delimitada para determinar quais são os Templos de Qualquer

Culto que são amparados pela Imunidade Tributária, já que, como visto, a

referida imunidade visa o alcance da proteção da liberdade de culto, assegurada

pela Magna Carta.

Sendo a questão a ser discutida encontra respaldo na grande

divergência de ser a Maçonaria um templo para utilizar-se da Imunidade aqui

discorrida.

Consoante a PEC 176-A/1993, o Congresso Nacional discutiu a cerca

imunidade tributária dos cultos religiosos. O autor do projeto, deputado Eduardo

Jorge, assim fundamentou sua proposição no sentido de assegurar que as

imunidades tributárias que se pretende suprimir decorrem, quase todas, da

Constituição de 1946.

Neste sentido, poucas foram introduzidas em nosso Direito pela

Constituição de 1988. Em 1946, saía o país de um prolongado período ditatorial e

os constituintes da época, sequiosos por liberdade de pensamento, pensaram

consegui-lo e garanti-lo através de normas constitucionais.

Neste diapasão o que pode-se observar é que de lá para cá, ao

atravessarmos um período negro da nossa história, foi que os cuidados tomados

pelo legislador constitucional não foram suficientes para impedir a queda da

democracia e a conseqüente perda das liberdades constitucionais.

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Além do mais, o constituinte de 1946 não poderia prever que medidas

baixadas com a melhor das intenções fossem utilizadas, anos mais tarde, para

promover a evasão fiscal, abrigando-se à sombra da Lei Maior uma série de

contribuintes que nem de longe poderiam pleitear os benefícios tributários

concedidos pela Constituição.

Por último, caberia dizer que a revogação dessas imunidades fortalece

a posição daqueles que, pensam que todas as camadas da sociedade devem

contribuir para o fim comum, cada uma, é evidente, de acordo com as suas

possibilidades, que nossa Lei Magna chama de capacidade econômica.

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CAPÍTULO 3 – Lojas Maçônicas, Templos Positivistas e Centros

Espíritas

Passando-se à análise das questões mais complexas, ora a de

delimitar os templos que serão considerados como de qualquer culto e que

receberão a imunidade tributária, verifica-se alguns pontos importantes, tais como

a questão das Lojas Maçônicas, dos Templos positivistas e dos Centros Espíritas.

Em toda parte do mundo, os maçons juntam-se, formando lojas

maçônicas, que vale ressaltar que não são os edifícios onde se reúnem, mas a

própria organização de modo a trabalhar nos graus simbólicos da Maçonaria.

As diversas maçonarias nacionais estão divididas por Oficinas, que

podem ser constituídas por Lojas ou Triângulos Maçônicos, independente do rito

praticado.

Já os Templos Positivistas são destinados a um culto de amor e

reconhecimento pelos parentes, pelos grandes homens, pelas instituições sociais,

pela pátria e pelos antepassados.

Trata-se, portanto, de um sistema de vida moralizador, um regime sem

distinções de classe, cor e raças, de uma vida sem conflitos, tendo como principal

interesse o coletivo, e que organiza a vida social pelos moldes científicos.

Tem-se ainda que mencionar o fato de direcionar seus ideais pela

ordem e progresso, ou seja, os dizeres contidos na Bandeira de nossa Pátria.

Passando-se à análise dos Centros Espíritas, tem-se o fato de a

Magna Carta não especificar quais religiões são alcançadas pela imunidade.

Em rigor, a imunidade tributária não alcança o templo propriamente

dito, isto é, o local destinado a cerimônias religiosas, mas, sim, a entidade

mantenedora do templo, a igreja.

Portanto, são considerados 'templos' não apenas os edifícios

destinados à celebração pública dos ritos religiosos, isto é, os locais onde o culto

se professa, mas, também, os seus anexos.

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Apesar da clareza do dispositivo constitucional, há Prefeituras que

desrespeitam a nossa Carta Magna e insistem em cobrar impostos de alguns

templos, cabe destacar que não cabe ao Poder Público interpretar a Constituição.

Dessa forma são imunes de impostos a casa pastoral, o edifício de

educação religiosa, a casa do zelador e qualquer outro imóvel que seja usado

para finalidades essenciais das igrejas, centro espíritas ou terreiros, ficando fora

dessa imunidade apenas os imóveis que são usados comercialmente ou que

cobrem pelos serviços prestados, como é o caso dos colégios.

As igrejas, centros espíritas e terreiros que estejam sendo cobradas

pelas Prefeituras de maneira contrária ao que estabelece devem recorrer da

cobrança, forçando assim a Prefeitura a se enquadrar no que decidiu o Supremo

Tribunal Federal.

3.1 – O Alcance da Imunidade Tributária aos Diversos Segmentos

Religiosos

É de suma importância a definição das finalidades essenciais dos

templos de qualquer culto, para compreensão do alcance da imunidade nas

atividades desenvolvidas pelas organizações religiosas, a fim de que não reste

esvaziado o comando Constitucional que assegura a referida imunidade.

A finalidade mencionada representa um elo entre o culto e o

patrimônio, bem como com as rendas da instituição religiosa, consubstanciando-

se nas atividades que propiciam tanto a manutenção do templo como a prática do

culto, tendo como fundamento de validade o princípio maior da liberdade de culto,

previsto na Constituição Federal como cláusula pétrea.

Em tal ponto há de se considerar a importância do desenvolvimento do

significado mais adequado para a expressão finalidades essenciais, de acordo

com as melhores indicações da hermenêutica jurídica, descabendo a aplicação

do sentido encontrado nos dicionários.

Deve, então, o intérprete judicial buscar neste particular o verdadeiro

sentido da norma, isto é, a interpretação literal neste aspecto como defende

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alguns autores, revelando uma pobreza de conhecimento quanto à verdadeira

intenção do legislador constituinte.

Portanto, mais que o significado básico das palavras, deve-se buscar

aqui o significado contextual, conforme preconiza a hermenêutica jurídica. Para

tanto, imprescindível a ponderação quanto ao fim a que se destina, devendo

haver sentido e condições em cada norma.

No caso dos templos de qualquer culto, busca o Texto Constitucional,

através da norma imunizante, assegurar a eficácia de outra norma, relativa à

liberdade de culto, expressamente garantida na Magna Carta.

Desta feita, pode-se que numa visão sistêmica e abrangente, procura-

se evitar o cometimento de abusos por parte das instituições, quais sejam, os

templos de qualquer culto, os partidos políticos, as entidades sindicais dos

trabalhadores, bem como as instituições de educação e de assistência social.

Contudo, se a interpretação deste dispositivo não for acompanhada de

equilíbrio, certamente ocorrerão abusos, exageros, por parte do Poder Público no

momento da arrecadação, o que fatalmente atingirá algumas entidades

mencionadas e a consecução de suas atividades, que mereceram o incentivo do

constituinte originário, mediante a outorga da norma imunizante.

Hoje em dia, é fato público e notório as dificuldades enfrentadas pelas

organizações religiosas junto ao fisco, que insiste em interpretar da maneira mais

restritiva possível este incentivo constitucional, tornando quase inócua a garantia

constitucional em tela. Portanto, há de ser verificado cada caso específico, para

adequar o conceito de Templo de qualquer culto, ao templo que será imune do

ponto de vista tributário.

3.2 – A adequação da Maçonaria ao Conceito de Templos de

Qualquer Culto

Cabe aqui tecer algumas considerações a respeito da Maçonaria, já

que é questão de grande divergência quando se trata de imunidade tributária

concedida aos templos de qualquer culto.

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Neste diapasão, tem-se o pedido de imunidade tributária pela

Maçonaria, ainda que seja divergente a opinião de enquadrar a Maçonaria como

Religião, já que seus próprios dirigentes afirmam tratar-se de uma filosofia de

vida, contudo, houve pedido de imunidade tributária referente ao templo aqui

discorrido, alegando a entidade que não se pode instituir tributos sobre imóveis

que abrigam templos de qualquer culto e/ou sobre o patrimônio de entidades que

pratiquem assistência social, observados requisitos da lei.

Dessa forma, há questionamento de decisão que não reconheceu

imunidade tributária prevista no texto constitucional.

O julgamento da questão está no fato da isenção não estar

caracterizada, pois não pode haver reconhecimento da imunidade tributária à

maçonaria na medida em que esse tipo de associação não se enquadra em

nenhuma das hipóteses previstas no dispositivo constitucional.

Em contrapartida, houve reconhecimento da imunidade que está

condicionado à observância dos princípios contidos no texto constitucional.

Foi abordado o fato de que o favor constitucional não é absoluto e o

seu deferimento, mesmo em face dos objetivos institucionais da entidade

previstos em seus atos constitutivos, poderá ser suspenso quando não cumpridas

as disposições legais.

Há exigência do cumprimento dos requisitos do artigo 14 do CTN,

sendo condição indispensável para o gozo da imunidade tributária outorgada pela

Constituição, há também incidência da Súmula 279/STF, segundo a qual para o

simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.

Houve entendimento que a maçonaria é uma ideologia de vida e não

uma religião, assim, a entidade não poderia ser isenta de pagar o IPTU. Segundo

tal entendimento, a prática maçom não tem dogmas, não é um credo, é uma

grande família, que ajuda-se mutuamente aceitando e pregando a idéia de que o

homem e a humanidade são passíveis de melhoria, aperfeiçoamento, que prega

e professa uma filosofia de vida tão somente.

Contudo, a imunidade não se confunde com isenção tributária. A

imunidade não pode ser condicionada por qualquer norma infraconstitucional.

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Cabe ainda ressaltar que o artigo 8º, § único da Lei Complementar nº 363/2001

assim dispõe: “Ficam isentos do pagamento do imposto sobre a propriedade

predial e territorial urbana– IPTU os imóveis construídos e ocupados por templos

maçônicos e religiosos, de qualquer culto, ficando remidos os respectivos débitos

inscritos e não inscritos na dívida ativa, ajuizados e por ajuizar”.

É, sobretudo, uma questão de alta indagação, cuja complexidade

emerge da própria natureza semi-secreta da maçonaria, o que dificulta a busca

do seu caráter religioso.

A par disso, não se mostra possível destacar a natureza dos ritos

praticados pela entidade maçônica tão-somente pela leitura dos seus atos

constitutivos.

Ressalte-se que tal questão tem início ao ser debatida nos tribunais,

não tendo a Suprema Corte se manifestado a respeito do tema.

Todavia, é apresentada como razoável o entendimento segundo o qual

as lojas maçônicas são abarcadas no conceito de templo, já que estando

especificada a destinação religiosa do prédio, a imunidade independe de

requerimento, cabendo lembrar, ainda, que a Constituição Federal, ao

estabelecer a imunidade tributária em relação aos templos de qualquer culto, não

estabeleceu condições, sendo certo que “a imunidade tributária concedida

constitucionalmente aos templos religiosos não está sujeita a qualquer condição

implementada por qualquer outra norma de hierarquia inferior.

Diferentemente do que se passa com a isenção, nem sempre é ocioso

enfatizar, a imunidade tributária não é favor legal, nem está sujeita a qualquer

requerimento, mas sim há diversas discussões acerca do tema da imunidade

tributária, especialmente no que concerne ao fato da Maçonaria ser considerada

religião, ou no fato de sua cerimônia ser ou não considerada culto, para desta

forma estar habilitada para a imunidade tributária enquadrando-se no conceito de

Templo de Qualquer Culto.

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CONCLUSÃO

Por todo o exposto no presente trabalho, é de se notar que o

Dispositivo Constitucional que aborda sobre a Imunidade Tributária para Templos

de qualquer Culto é ainda pouco aplicado ou aproveitado pelas entidades

religiosas.

Uma possível justificativa para o não aproveitamento da Imunidade

Tributária pelos Templos Religiosos pode ser a escassez de entendimento da

abrangência do dispositivo da Lei que trata da Imunidade Tributária para os

Templos de qualquer culto, conforme estudado, ou, até mesmo, por falta de

conhecimento de quanto representa financeira e economicamente os impostos

para a sua entidade religiosa.

O Dispositivo Constitucional que aborda sobre os impostos não serem

passivos de instituição sobre o “Patrimônio, a Renda e os Serviços relacionados

com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas”, dá um sentido

à Imunidade Tributária para Templos de qualquer Culto abrangendo o seu

patrimônio, a sua renda e os serviços relacionados com suas atividades

essenciais.

É de saber notório, que fazem parte do Patrimônio dos Templos de

qualquer Culto com imunidade tributária, os seus edifícios onde são realizadas as

cerimônias de adoração e louvor, tenham sido eles construídos para esta única

finalidade ou mesmo uma casa adaptada para este fim.

E também são objeto do Patrimônio dos Templos de Qualquer Culto os

móveis e equipamentos adquiridos para permitir a realização das cerimônias

religiosas, reuniões ou cultos de adoração e louvor tais como, equipamentos de

som e imagem, instrumentos musicais, cadeiras, bancos, veículos, computadores

e qualquer outro item de ativo fixo, relacionado com as finalidades essenciais

para o desenvolvimento das atividades religiosas, sejam eles adquiridos no

mercado interno ou importados.

É importante mencionar que também fazem parte da Renda dos

Templos de qualquer Culto com imunidade tributária o recebimento de doações

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através dos dízimos dos fiéis, outras doações ou contribuições espontâneas, a

renda auferida pelas “aplicações financeiras” dos recursos doados pelos fiéis,

aluguéis de imóveis de propriedade da entidade religiosa com imunidade

tributária, contanto que a renda seja revertida em benefício da entidade religiosa.

A venda de itens necessários para o desempenho nas atividades da

entidade religiosa, tais como, livros, revistas, cd’s, dvd’s e manuais também estão

no montante da Renda dos Templos de Qualquer Culto que é imune no sentido

tributário.

Não se pode olvidar que fazem parte dos Serviços relacionados com

as atividades essenciais de Templos de qualquer culto com imunidade tributária,

o consumo de energia elétrica, o consumo de água, a conta de telefone e todo o

serviço contratado pela entidade religiosa, necessária para o desempenho de

suas atividades essenciais, tais como, serviços gerais de construção,

manutenção, reformas e limpeza.

Deve-se destacar também o fato de o Templo de qualquer Culto com

imunidade tributária que possuir outras atividades relacionadas e que

representem atividades essenciais e cujo resultado financeiro destas atividades

sejam revertidos para a entidade religiosa, não deve haver impostos incidentes

sobre estas atividades.

Portanto, pode-se concluir que toda esta carga tributária não deve

incidir sobre os Templos de qualquer Culto, porque são imunes, de acordo com o

artigo 150 da Constituição Federal; e se alguma entidade religiosa está efetuando

pagamento dos impostos que há imunidade tributária pelo dispositivo

constitucional, trata-se de inconstitucionalidade, passível de recuperação do que

já foi pago, através de Ação Administrativa ou Judicial.

Por conseguinte, há de se concluir que os templos de qualquer culto

estão protegidos contra a incidência de impostos existentes ou que venham a

existir e inconstitucional é qualquer lei que disponha em sentido contrário.

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BIBLIOGRAFIA

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