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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PS-GRADUAO LATO SENSU
PROJETO A VEZ DO MESTRE
APLICAO DOS PRINCPIOS DA QUALIDADE EM INSTITUIES
FILANTRPICAS
Angela Rangel de Souza Machado
Orientadora
Professora Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2007
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
2 PS-GRADUAO LATO SENSU
PROJETO A VEZ DO MESTRE
APLICAO DOS PRINCPIOS DA QUALIDADE EM INSTITUIES
FILANTRPICAS
Apresentao de monografia Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obteno do grau de especialista em Administrao
da Qualidade.
3 AGRADECIMENTOS
A Deus, fonte de toda sabedoria, amor e graa.
s instituies que gentilmente se dispuseram a
responder ao questionrio apresentado e prestar
informaes:
Casa do Menino Jesus de Praga
Lar das Moas Cegas de Santos
Obras Sociais Irm Dulce
AMAS-Sete Pontes que tem me permitido discutir
com a alta direo e colaboradores o tema aqui
abordado
Aos amigos e parentes, cujos nomes no sero
citados, por serem muitos, que ao longo da vida me
deram suporte para transpor dificuldades e sempre
me estimularam e se entusiasmaram com a minha
caminhada.
Ao Felipe, que leu, discutiu e criticou este trabalho.
Rita, pela reviso
4 DEDICATRIA
Dedico ao Levi, companheiro de longa
jornada, com quem posso contar a cada
dia e de quem recebo estmulo e amor e
que em mim acredita de forma
incompreensvel.
Dedico aos meus filhos Levi, Felipe e
Rita, cujas existncias so sopro de vida
na minha vida, so estmulo, so orgulho,
so esperana.
Dedico s minhas noras, Marina e
Marcela, por serem aquelas que
caminham com os meus filhos, e se os
fazem felizes, fazem a mim tambm.
Finalmente uma homenagem pstuma,
queles que me geraram, Lucdio e
Athnilda, cuja garra na luta pela
sobrevivncia e dedicao aos filhos, foi o
alicerce de tudo.
Angela Rangel
5 RESUMO
O crescente nmero de instituies sem fins lucrativos, hoje no
mais
sustentadas apenas por grupos que delas participam e conhecem sua ao,
bem como a complexidade das leis sociais e fiscais tm exigido muito mais que
uma administrao domstica baseada na paixo pelo servio. necessrio
pensar modelos de gesto para estas instituies. Percebes-se, neste sentido,
que nfima a bibliografia especfica existente.
O presente trabalho apresenta a importncia da utilizao de gesto da
qualidade nestas instituies, e da obteno de certificaes que permitam o
reconhecimento pblico das mesmas, para sua sobrevivncia e melhoria
contnua.
6 METODOLOGIA
num sentido de otimizao de recursos que este trabalho se prope a
analisar a gesto e a administrao de instituies sem fins lucrativos voltadas
para atendimento das populaes carentes. No pretenso, entretanto,
analisar o encaminhamento das aes institucionais, nem a prtica profissional
dos sujeitos que lidam com o cotidiano da assistncia, nem tampouco discutir
as razes para a relevncia hoje imprimida responsabilidade social das
empresas. Por isso, no h qualquer abordagem acerca de viso poltica ou
ideolgica das prticas sociais adotadas pelas instituies, mas, to somente,
sobre a forma como estas instituies so geridas administrativamente para
produzir eficincia e eficcia naquilo a que se propem realizar.
Para o desenvolvimento do tema apresentado foram analisadas
ferramentas da qualidade, em especial a norma ISO 9001-2000 e o modelo de
excelncia, conforme apresentado pela Fundao Nacional da Qualidade
FNQ, alm de outros livros, textos, pesquisa bibliogrfica, pesquisa pela
Internet e revistas. Ademais, foi realizado um trabalho de imerso no campo
visitas a uma instituio sem fins lucrativos e contatos via correio eletrnico
com outras 03 instituies.
Os conceitos aqui utilizados so oriundos da bibliografia apresentada e
discutida durante as aulas do curso de Administrao da Qualidade. Outrossim,
ressalta-se que, como integrante da ADI (TRT) Assessoria de
Desenvolvimento Institucional, a autora pode vivenciar na prtica a
implementao de modelo de gesto pela qualidade, com certificao ISO
9001-2000 no TRT-Rio. Esta experincia possibilitou pensar a utilizao deste
instrumental em instituio sem fins lucrativos.
Este trabalho adota uma perspectiva metodolgica de cunho
exploratrio. A partir de dois modelos tericos distintos ser feita uma
descrio do percurso de implantao da gesto da qualidade em algumas
instituies e sua comparao com o desenvolvimento de outras instituies
que no adotaram nenhum modelo especfico. A seguir sero apresentadas
sucintamente as instituies estudadas:
7
O LMC - Lar das Moas Cegas , instituio situada na cidade de Santos
- SP, que tem como misso prestar servios na rea de educao e sade
com o compromisso de capacitar social e profissionalmente os nossos clientes
na comunidade em que vivem (material de propaganda da instituio) atende
pessoas com deficincia visual, obteve no ano de 2005 o selo de qualidade
pela ISO, primeiro selo concedido, no Brasil, a instituio com esta
especificidade de atendimento. Isso representou um ganho, visto que a
instituio tornou-se mais conhecida e respeitada, alm de ter melhorado
substancialmente seus indicadores de desempenho. Por isso a inteno de
incluir esta instituio especfica no escopo de pesquisa desta monografia.
A AMAS-Sete Pontes Associao Metodista de Ao Social uma
instituio pequena, localizada no municpio de So Gonalo RJ, que, pelo
seu estatuto, pode desenvolver qualquer tipo de atividade social, mas que tem
voltado sua atuao para crianas e adolescentes, com repercusso nas
famlias. A autora h alguns anos tem colaborado com a instituio na
elaborando projetos, avaliaes, reunies e algumas outras atividades. No
presente, vem discutindo com a alta direo o estabelecimento de uma gesto
voltada para a qualidade, razo de ser includa no escopo de pesquisa desta
monografia, embora a instituio ainda no esteja trabalhando segundo
nenhum modelo de qualidade. A AMAS dirigida por um Conselho Diretor,
responsvel pelo planejamento das atividades desenvolvidas pelos
colaboradores.
A CMPJ - Casa do Menino Jesus de Praga uma instituio pequena,
localizada na cidade Porto Alegre RS, que tem como misso prestar servios
de assistncia social filantrpica a crianas com leso cerebral profunda e
deficincia motora permanente, oriundas de famlias extremamente pobres ou
desestruturadas na regio metropolitana de Porto Alegre RS. (material de
propaganda da instituio). Recebeu em 2005 a certificao ISO, tendo sido a
primeira, no Brasil, nesta categoria. A implantao de um sistema de gesto
na instituio contribuiu para grandes melhorias da organizao e foi fruto da
certeza de tal necessidade por empresa que investe em responsabilidade
8 social e financiou a consultoria que permitiu a certificao. O trabalho realizado
pela CMJP a razo de ter sido a instituio includa no escopo desta
Monografia.
A OSID Obras Sociais Irm Dulce uma instituio filantrpica que se
diferencia das demais pelo seu tamanho e complexidade de atendimentos.
Sendo inicialmente e por longos anos dirigida pela irm Dulce, que, baseada
em princpios de amor ao prximo, realizou relevante trabalho, carecia de viso
administrativa. Embora filantrpica a instituio recebe grandes somas
referentes a convnios, j que lida com a rea de sade. Conforme declarao
de representante do Setor da Qualidade, sua antiga dirigente consciente de
que no lhe restava muito tempo para dirigir a obra, preocupou-se em escolher
algum para o seu lugar e esta nova administrao sentiu a necessidade de
mudanas para que houvesse sustentabilidade. Investiu na adoo de modelo
de gesto e obteve certificao ISO, em 2002 e recertificao em 2005. Tem
como misso amar e servir aos mais pobres, oferecendo atendimento gratuito
na sade, educao e assistncia social, razo de tambm ser includa no
escopo desta Monografia.
H, portanto, no escopo de pesquisa desta monografia 04 instituies
filantrpicas, de portes variados, pequeno, mdio e grande, sendo 03 com
certificao ISO e uma dando os primeiros passos nesta mesma direo.
Publicaes diversas, reportagens e participao da autoria em cursos
ministrados para a rea do terceiro setor, permitiram conhecer a situao de
outras instituies que no foram foco especfico da pesquisa, quer certificadas
ou no, que, embora no citadas especificamente, at por falta de autorizao
para tal, serviram como embasamento para a reflexo que este trabalho
apresenta.
Ao final, como anexo, so fornecidos exemplos de planejamento e
descrio de processos de trabalho, inclusive com fluxogramas e
organogramas.
9
SUMRIO
Introduo 10
Captulo I Trajetria da Filantropia 11
Captulo II Consideraes acerca da certificao 20
Captulo III Gesto da Qualidade 26
Captulo IV Planejamento Estratgico 33
Captulo V Outros elementos importantes 43
Concluso 49
Bibliografia 96
Atividades culturais 98
ndice 99
Folha de Avaliao 100
10 INTRODUO
Analisar a prtica de instituies sem fins lucrativos, hoje, requer
retomarmos alguns aspectos histricos que possibilitaram sua existncia e
condicionaram sua organizao. No se imagina, entretanto, realizar uma
arqueologia da filantropia neste breve trabalho, e sim chamar a ateno de
alguns pontos histricos fundamentais e importantes na compreenso da
insero hodierna destas instituies na sociedade.
A visualizao da trajetria histrica das instituies leva compreenso
de suas formas de funcionamento no mundo moderno. Alm do mais, com o
processo de modernizao, novas exigncias e expectativas permeiam o
cotidiano destas instituies. Uma das mais atuais diz respeito qualidade da
gesto. Se durante vrios sculos no se questionou a dedicao dos
dirigentes e trabalhadores destas instituies, no contexto atual estes atores
no so apenas confrontados pelos seus ideais, mas tambm so
questionados se a forma como desenvolvem seus trabalhos gera os melhores
resultados possveis. Neste questionamento esto embutidos os conceitos,
principalmente, de eficcia e eficincia, conceitos intrnsecos modernidade.
Se durante anos estas nunca foram questes sensveis s instituies
sem fins lucrativos, atualmente constituem os parmetros pelos quais as
agncias e empresas financiadoras (verso moderna dos doadores individuais)
definem seus investimentos. Ora, como no se adequar ento? Esta, todavia,
no uma tarefa simples para a maioria das instituies sem fins lucrativos,
por isso, muitos dos conceitos de mercado utilizados atualmente so
inaplicveis, mas, por outro lado, passveis de adaptao. E so justamente
essas adaptaes que ainda carecem de ser realizadas.
Um dos caminhos possveis para o incremento da gesto dessas
instituies a certificao de qualidade, que leva em considerao no
apenas aspectos externos s organizaes, mas, sobretudo, permite a
elucidao dos processos internos prprios a cada instituio.
11 CAPTULO I
TRAJETRIA DA FILANTROPIA
Alguns autores remontam a origem das instituies de assistncia
Idade Mdia (SPOSATI et al, 1985). Todavia, na era moderna que se
encontra mais facilmente os principais traos das instituies de caridade.
Rejeita-se desde j os argumentos que atrelam estas instituies ao
surgimento do capitalismo. possvel verificar que estas instituies
constituem-se num perodo histrico anterior ao surgimento do capitalismo.
Pode-se afirmar que as primeiras instituies filantrpicas eram ligadas
igreja catlica. Os orfanatos, manicmios e hospitais organizados por grupos
de pessoas da igreja catlica no incio do sculo XVII eram os nicos lugares
em que os indigentes encontravam acolhida. Numa poca em que a medicina
era praticada por mdicos que iam s casas das pessoas, um sujeito
desprovido de recursos financeiros suficientes para arcar com os custos de
uma consulta mdica estava fadado morte. O nico lugar que lhe prestaria
algum tipo de assistncia era justamente as instituies da igreja.
Interessante notar que o mesmo Estado, que neste perodo negava
qualquer tipo de assistncia aos sujeitos integrantes da nao, passou a ver
nestas instituies uma forma de se livrar de seus mais incmodos cidados.
J neste perodo o Estado contribua financeiramente com a manuteno de
manicmios e hospitais, depositrios de mendigos, loucos e pobres. Os
orfanatos eram o destino das crianas desprezadas pelos pais e pela
sociedade. No toa a Frana do sculo XVII criou a roda dos enjeitados,
uma porta giratria onde as crianas eram colocadas. Tal porta garantia o
anonimato de quem as abandonava. Nesses orfanatos as crianas aprendiam
alguma profisso para serem introduzidas na sociedade. Numa poca em que
no existia o conceito de criana, esses pequenos adultos desenvolviam
precocemente trabalhos fsicos que lhes impossibilitavam um desenvolvimento
saudvel. A expectativa de vida para esses sujeitos era mnima. No havia
neste perodo a preocupao do Estado em garantir a vida de seus integrantes.
Esta perspectiva era eminentemente crist. As atribuies do Estado se
12 limitavam garantia dos interesses do Estado Absolutista, portanto, da nobreza
reinante.
Tal situao, presente num perodo de substituio do modo de
produo feudal pelo modo de produo capitalista, ia de encontro aos
interesses da nascente burguesia. Este grupo, partindo do ideal da
acumulao, queria arrancar do Estado direitos de se desenvolverem
economicamente. A Revoluo Francesa em 1789 marca um novo perodo na
histria da humanidade. considerada como o acontecimento que deu incio
Idade Contempornea. Aboliu a servido e os direitos feudais na Frana e
proclamou os princpios universais de liberdade, igualdade e fraternidade. A
partir de ento fora institudo o critrio da meritocracia em substituio
aristocracia. Isto significa dizer que um indivduo poderia se desenvolver
economicamente apenas por seus mritos e no por pertencer a uma casta da
sociedade.
Esta revoluo proporcionou a possibilidade das primeiras Constituies
escritas de reconhecerem a existncia de determinados direitos fundamentais
aos homens. Assumem particular relevo no rol desses direitos, os direitos
vida, liberdade, propriedade e igualdade perante a lei. A adoo destes
direitos produto do pensamento liberal burgus do sculo XVIII, notadamente
de cunho individualista. Externava-se desta maneira a necessidade de
delimitao de uma zona de no interveno do Estado, caracterizando-se
como direito de defesa, demarcando uma esfera de autonomia individual frente
ao poder do Estado. Tais direitos so chamados hoje de direitos de primeira
gerao. Entretanto, mesmo o Estado garantindo este leque de direitos aos
indivduos, a maior parcela da sociedade encontrava-se ainda excluda da
possibilidade de sua utilizao.
Assim, o efetivo direito vida s era exercido pelos mais abastados. A
imensa parcela pobre da sociedade ainda estava deles descoberta, pois sofria
de fome e de doenas, aspectos que no diziam respeito ao Estado. Neste
perodo as instituies de caridade reforaram seu papel na sociedade e
ampliaram seu campo de atuao. Isto fica claro principalmente na proliferao
das Santas Casas de Misericrdia, reconhecido local de abrigo para os pobres.
13 A partir do incio do sculo XX e principalmente, aps a Segunda Guerra
Mundial, os pases ocidentais passaram a incluir em suas Constituies os
direitos chamados de segunda gerao, que no mais se caracterizam pela
ausncia do Estado, mas, ao contrrio, pela sua interveno. So os chamados
direitos sociais, que incluem desde o direito educao e sade at ao lazer.
Apenas neste momento histrico o Estado passou a adotar efetivamente o
direito vida como um direito comum a todos os cidados, portanto, mais de
cem anos aps sua enunciao. Desta forma, o papel que era relegado s
instituies de caridade passou a ser assumido pelo Estado. Entretanto, h
uma enorme distncia entre a enunciao dos direitos e sua efetiva
materializao na realidade. As instituies filantrpicas, neste sentido, no
sofreram inicialmente nenhum golpe capaz de aniquil-las por completo. Mas, a
partir de ento, enfrentariam novos desafios.
Cabe ressaltar que, no caso do Brasil, a atuao na esfera social
sempre ocorreu deslocada das necessidades especficas dos grupos humanos.
Em geral esta atuao pauta-se numa perspectiva paternalista, sem qualquer
ao transformadora ou mesmo fruto de uma anlise mais profunda das
causas da misria. Alm disso, observa-se um deslocamento das aes e das
reivindicaes populares. As aes efetuadas, em geral oriundas de interesses
polticos e realizadas pelos polticos, de forma desordenada e burocratizada,
acabam muitas vezes por consumir maior recurso na burocracia que no
atendimento. A partir da cria-se um crculo vicioso em que, na medida que
cresce a pauperizao da fora de trabalho, a assistncia vai se
transformando, em muitos casos, numa prtica de dominao. Conforme
afirmou Sposati, identifica-se claramente no caso brasileiro, salvo excees,
que at 1930 a conscincia coletiva no apreendia a pobreza como uma
questo social. O Estado s a percebia como um caso de polcia, tendo
ateno apenas de seus aparelhos repressivos. Os problemas sociais eram
mascarados e ocultados sob forma de fatos espordicos e excepcionais. A
pobreza era tratada como disfuno pessoal dos indivduos (SPOSATI, 1985,
p.41). A prtica da assistncia social antecede qualquer estudo e reflexo
sobre a mesma e, no poderia, portanto, apresentar-se estruturada.
14 Apesar da forma do Estado referir-se ao tema da pobreza ter mudado, a
percepo coletiva sobre este tema parece permanecer intacta. O ideal
meritocrtico conserva-se presente na sociedade. O pensamento liberal-
burgus, que afirma o esforo pessoal como condio suficiente para livrar um
indivduo da situao de misria, dificulta o desenvolvimento real de aes
tanto estatais quanto da sociedade civil nesta rea. Cabe ressaltar, portanto, o
alerta feito por alguns pensadores europeus de que o acesso igualitrio a
determinadas possibilidades de desenvolvimento social s possvel numa
sociedade com um patamar mnimo de igualdade entre os cidados,
caracterizada principalmente por uma conscincia poltica, ativismo social,
educao, e uma cultura j estabelecida de participao social. Talvez seja
esta a misso principal das instituies de assistncia hoje.
A histria da assistncia social no Brasil, assim como a do resto do
mundo, dialoga a todo o momento com as conscincias coletivas e o
pensamento dominante. Da solidariedade individual, familiar e de alguns
grupos, as necessidades provenientes do crescimento da misria ou das
concentraes humanas fez com que as instituies sociais fossem se
organizando. A histria da filantropia no Brasil tambm est profundamente
ligada a aes da igreja. Cabe relembrar que o prprio preconceito moral que
levava moas que engravidavam fora do casamento, sobretudo nas classes
privilegiadas, a desfazer-se de seus filhos anonimamente levou criao de
instituies que recebiam estas crianas; o preconceito e desconhecimento
cientfico sobre algumas doenas levaram criao de hospitais que isolavam
pessoas doentes, como, por exemplo, os portadores de hansenase. Em todas
estas aes a igreja sempre esteve presente e, como mencionado
anteriormente, o grande marco de sua presena foi a criao de inmeras
Santa Casa de Misericrdia no Brasil.
Os primeiros hospitais brasileiros foram as Santas Casas da Misericrdia. At hoje existe controvrsia sobre qual teria sido a primeira fundada em nosso territrio. Alguns apontam a de Olinda, ento em 1540, capital da Capitania de Pernambuco, seguida pela de Santos, em 1543 ou 1551. Outros atribuem a precedncia a esta ltima, fundada por Brs Cubas. A Santa Casa da Misericrdia de Vitria (Esprito
15 Santo) teria surgido entre 1545 e 1555. A data de 1564 indicada como a fundao da Santa Casa de Ilhus. A da Bahia teria ocorrido entre 1549 e 1572. (PINTO, 2003, pg. 35)
Diante de uma perspectiva to dramtica para as populaes mais
pobres, na dcada de 1930 surgem movimentos sociais mais organizados.
Aliado a isso so criadas escolas de servio social e a profisso
regulamentada. Cabe destacar que em 1806, conforme registra Way (2006,
pg. 12 e 17) foi criada no Rio de Janeiro a primeira instituio de servio
social registrada como tal do Brasil o Instituto Central do Povo (ICP).
Sua origem remonta ao desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro,
na segunda metade do sculo XIX. Neste perodo o Cais do Porto estava em
processo de ampliao. Os trabalhadores envolvidos nesta empreitada a
maioria analfabetos - comearam a construir suas casas no chamado morro da
favela, hoje morro da providncia, bem prximo ao Cais do Porto. Esta foi a
primeira favela do Brasil, cujo tipo de aglomerado deu origem ao nome favela.
O missionrio norte americano fundador da instituio prestava assistncia
direta aos trabalhadores. Desta forma, reivindicava junto s autoridades aes
que resultaram melhorias dentro e fora da instituio, como a construo de
parque pblico infantil, a oferta de servios odontolgicos e outros. O ICP no
foi a primeira instituio a prestar servios filantrpicos no Brasil, posto que
antecedida por outras de carter especfico, mas foi a primeira de servio social
propriamente dita, face abrangncia de seus servios. Outros tipos de
instituies governamentais e no governamentais de carter assistencial
foram sendo criadas, novas vises de mundo desenvolveram-se e, em
especial, a partir do golpe militar de 1964 outros tipos de associaes
formaram-se, tanto de carter eminentemente reivindicatrio quanto de carter
poltico.
A partir da dcada de 1970, observa-se uma proliferao intensa de
organizaes no governamentais no pas. Cada vez mais, novos aspectos
foram englobados, como, por exemplo, a preocupao com a preservao da
natureza. Diferente do que ocorria no passado, tais instituies passaram a ser
sustentadas no s por igrejas, mas tambm por pequenos grupos de pessoas,
16 por empresas preocupadas com as questes sociais e mesmo pelo Estado.
Cabe considerar que tais instituies, em geral, foram guiadas no por
princpios e mtodos administrativos, mas pela prpria paixo causa.
Entretanto, as recentes transformaes sociais e, sobretudo, da legislao,
exigiram uma especializao da gesto dessas instituies. Muitas passaram
por perodos difceis e precisaram estabelecer novas formas de captao de
recursos e de administrao. A maneira tradicional de organizao destas
instituies, que remonta talvez ao sculo XVII, baseada no puro altrusmo e
entrega total da vida do sujeito que se dedica causa, necessitou passar por
uma intensa mudana devido s novas exigncias da sociedade e das
transformaes dos prprios problemas sociais.
Se antes estas instituies se dedicavam a algo que no era da alada
do Estado, agora, com a garantia dos direitos sociais, elas concorrem com
este. Concorrem muito mais pela diferena de ideal do que pela prpria prtica.
At porque ao assumir efetivamente determinada questo social, o Estado
inviabiliza o desenvolvimento de aes da sociedade civil naquela esfera.
Exemplo disso a educao, se o Estado introduz em determinada
comunidade uma escola com alto padro de ensino, qualquer projeto nesta
mesma rea, que viesse sendo desenvolvido at ento pela sociedade civil na
regio, perde sentido de existir. Fica claro desde j que as instituies de
assistncia inserem-se nas lacunas deixadas pelo Estado.
Importante ainda destacar que no passado as instituies contavam
como muitas mulheres voluntrias, uma vez que no exerciam atividades
profissionais externas ao lar e podiam dedicar-se com seus conhecimentos e
talentos prestao de servios voluntrios. No havia a legislao trabalhista
exigindo que tais instituies tenham seus empregados registrados e com
todos os direitos como qualquer outra empresa. No havia a corrida Justia
Trabalhista que h hoje. No havia a legislao da rea educacional e
sanitria que h hoje e as mudanas eram mais lentas, podendo perpetuar por
anos a mesma tecnologia e recursos usados para atender s necessidades.
Hoje essas instituies necessitam de profissionais remunerados e
especializados, de renovao constante de seus recursos tecnolgicos e da
17 mais eficiente administrao, sobretudo, porque, embora no governamentais,
muitas dessas instituies recebem recursos pblicos e tm obrigaes de
prestar contas, devendo orientar-se pelos mesmos princpios que regem a
administrao pblica. Discutir sobre a forma de gesto e administrao
dessas instituies constitui, portanto, tarefa premente para a garantia da
efetividade, eficincia e eficcia dos servios prestados. Como diz Pinto
O desenvolvimento de sistemticas de avaliao e de monitoramento tem tido prioridade no programa Gesto da Poltica de Assistncia Social, permitindo o monitoramento das entidades e instituies que compem a rede de atendimento de assistncia social, o acompanhamento pelo gestor local da qualidade dos servios prestados pelas entidades de assistncia social e a identificao dos destinatrios. (PINTO, 2003, pg, 68)
De acordo com Queiroz (2007), temos assistido a um investimento na
gesto organizacional das empresas em atrelar sua imagem a uma
Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Isso se diferencia da prtica at
ento vigente voltada apenas para a produo, as vendas, os lucros e os
ganhos. A partir da dcada de 90, com a globalizao e expanso do mercado,
as empresas perceberam a necessidade de se alinharem aos padres
internacionais, onde a responsabilidade social um fator importante e traz,
para a empresa, os lucros decorrentes de uma boa imagem.
O mercado, antes distante, para no dizer indiferente s questes de interesse pblico, comea a ser penetrado pelas aes de responsabilidade social, e, passa a ver nas organizaes sem fins lucrativos canais para concretizar o investimento do setor privado empresarial na rea social, ambiental e cultural. (ROCHA et al, 2007, pg.1)
Ao se envolverem com o princpio da responsabilidade social, seja por
uma compreenso solidria, seja por exigncias contemporneas, as empresas
requerem, para definio de onde aplicar seus recursos, que as instituies
estejam organizadas e sigam exigncias da administrao moderna. Hoje h,
ainda, uma viso mesmo de troca, onde ganham empresa e instituio.
18 Com relao s parcerias entre as empresas e organizaes sociais, o leque de possibilidades de intercmbio imenso; no entanto, o cenrio em que essas relaes esto se desenvolvendo hoje e continuaro a se desenvolver no futuro exige um novo tipo de prtica. A prtica paternalista das empresas diante das sociedades beneficentes, medida pela filantropia, e, de seu lado, estas mesmas sociedades olhando e reverenciando as empresas como patronos, parece, felizmente, estar com os dias contados. Esse assistencialismo fundamentado na relao de dependncia intermediada pela doao d, ou deve dar, lugar a uma prtica baseada no compartilhamento de objetivos e de troca de experincias, sendo a filantropia estratgica, conforme o conceito abordado em algumas de nossas cenas, um dos passos nesse sentido (SANTOS, 2006, pg.68).
Cabe ressaltar que esta tendncia das empresas segue a um padro
desenvolvido nas ltimas dcadas nos EUA. Neste pas as pessoas com
grandes fortunas investem maciamente em fundaes de assistncia.
Entretanto, mais do que uma ao estritamente solidria, grande parte dessas
fundaes surgem como uma estratgia de driblar a lei de heranas norte-
americana que tem elevadas taxas para as fortunas deixadas como herana,
mas tem iseno completa para doaes feitas a instituies filantrpicas. Tais
instituies permanecem sobre o comando da famlia, que usufrui de todos os
recursos deixados. H alguns anos o senado norte-americano props uma lei
para extinguir o imposto sobre a herana, entretanto, os prprios empresrios
trataram de tir-la de cena. O gasto com propaganda para a empresa em
grande parte substitudo pelo status social das fundaes pertencentes a estas
empresas.
Por este motivo a captao de recursos no Brasil distinta da realizada
naquele pas. O convencimento aqui tem que ser muito mais voltado para o
aspecto solidrio. Por outro lado, conforme mencionado no incio deste tpico,
as empresas brasileiras j perceberam os benefcios de atrelarem suas
imagens a instituies de assistncia. Uma forma semelhante usada nos
EUA de substituir a propaganda direta pelo reconhecimento social.
19 As empresas financiadoras dos projetos (steakholders), exigem das
instituies que financiam, um trato tcnico e cientfico do dinheiro destinado.
Assim, a afirmao feita anteriormente a respeito das mudanas na forma de
gesto e administrao de instituies sociais fica mais forte com a
constatao do pargrafo acima. Apesar do surgimento da preocupao com
gesto tcnica estar associada a exigncias dos parceiros, absolutamente
plausvel imaginar que mesmo instituies sem fins lucrativos devam otimizar a
utilizao de seus recursos.
Nos ltimos anos, tem sido desenvolvida amplamente a concepo de gerncia social das entidades sociais. O investimento no social passa a merecer um tratamento muito semelhante a outros investimentos. preciso investir e obter resultados. preciso saber mensurar, dos pontos de vista qualitativo e quantitativo, aquilo que se obteve por meio da implementao de um programa social. Sem criar estratgias sobre as vrias dimenses do processo de avaliao, no possvel mensurar impactos de um programa social nem saber se os seus objetivos foram atingidos (SANTOS, 2006, p.79).
Santos complementa comentando que at a dcada de 70 a
administrao no era um conceito muito usado ao se fazer meno ao terceiro
setor, pois pertencia ao mundo dos negcios e no a organizaes orientadas
por valores. Hoje, entretanto, as prprias organizaes do terceiro setor j
percebem a importncia de melhor administrar, preocupando-se inclusive com
sua contabilidade, j que esta uma rea que fornece informaes
necessrias tomada de decises.
20 CAPTULO II
CONSIDERAES ACERCA DA CERTIFICAO
O que leva uma instituio a desejar uma certificao e a optar por um
tipo de certificao e no por outro? Seria o custo da certificao ou a maior
visibilidade das instituies certificadoras? Atualmente so muitos os selos e
prmios de qualidade, que variam de tipo e de reas a que se destinam. Por
este motivo essencial neste momento realizar uma comparao sucinta entre
os dois certificados de maior conhecimento pblico, os quais trabalharemos
mais amide nesta monografia: o NBR ISO 9001-2000 e o Modelo de
Excelncia (FNQ).
Primeiramente, cabe ressaltar que ambos os modelos apresentam
alguns princpios comuns. As duas abordagens exigem da organizao uma
identificao dos pontos fortes e dos pontos fracos; primam pela avaliao
frente a modelos genricos; valorizam a capacitao e aprendizagem;
fornecem uma base para possibilitar a melhoria contnua; e, prevem
disposio para o reconhecimento externo.
A principal diferena entre os dois, reside no escopo de sua aplicao.
Segundo Maranho (2000, p.47) as normas da famlia NBR ISO 9000
fornecem requisitos para sistemas de gesto da Qualidade e diretrizes para
melhoria do desempenho; a avaliao dos sistemas de Qualidade determina o
atendimento desses requisitos. Isto porque os modelos de excelncia
carregam consigo critrios que permitem avaliar comparativamente o
desempenho de organizaes, e, principalmente, servem a todas as partes
interessadas na instituio. O autor ressalta ainda que os critrios de
avaliao dos modelos de excelncia fornecem a base para uma organizao
comparar o seu desempenho com o desempenho de outras organizaes
(idem).
De fato h semelhanas muito grandes entre a ISO e o modelo de excelncia
e embora seja o modelo de excelncia muito mais abrangente, torna-se de
21 aplicao mais fcil, por ser menos burocrtico, j que as ferramentas por ele
utilizadas so muito menos determinadas, conforme abaixo:
O Modelo de Excelncia da Gesto, em funo de sua flexibilidade e simplicidade de linguagem e, principalmente, por no prescrever ferramentas e prticas de gesto especfica, pode ser til para a avaliao, o diagnstico e o desenvolvimento do sistema de gesto de qualquer organizao, do setor pblico ou privado, com ou sem finalidade de lucro, seja de porte pequeno, mdio ou grande. (introduo do manual do modelo de excelncia da Fundao Nacional da Qualidade, do ano de 2007)
O prmio da Fundao Nacional da Qualidade (FNQ), que no Rio de
Janeiro corresponde ao PQRio, baseado no modelo de excelncia, faz uma
anlise bem mais abrangente da organizao, pois a v como um todo,
avaliando no s determinado processo de trabalho mas os seus resultados. A
certificao ISO, no entanto, pode ser feita apenas para processos de trabalho
especficos, ainda que isso, na verdade, sempre implique nos outros diversos
trabalhos correlacionados, mas no conduz, necessariamente a melhores
resultados globais.
Cabe ressaltar, no entanto, que para adoo do modelo de excelncia,
todos os passos construdos para implantao da ISO so necessrios, ainda
que com detalhes diferenciados, mas na verdade um caminho.
Antes, entretanto, de entrar especificamente na discusso terica,
cumpre destacar que administrar com qualidade no requer, necessariamente,
que a instituio venha a ser certificada. No entanto, ao estar preparada para
receber um selo de qualidade, a instituio motiva seus empregados e propicia
a visibilidade e credibilidade ao trabalho realizado. Alm disso, cabe esclarecer
que a certificao no eterna, as empresas esto sujeitas a perd-la caso
no mantenha os parmetros acordados com a instituio certificadora.
O quadro a seguir (quadro 1) apresenta uma comparao entre os
custos para obteno do selo ISO e da FNQ. Percebe-se, claramente, a partir
dos itens abaixo relacionados, que a ISO requer, para sua implantao, um
dispndio financeiro muito maior do que a FNQ.
22
Quadro 1 Custos para implantao da certificao
ISSO MODELO DE EXCELNCIA (FNQ)
Os auditores contratados so pagos,
com preos diferenciados entre as
empresas e depende do porte da
empresa contratante.
Os avaliadores realizam a avaliao
gratuitamente, pois feito atravs
de voluntariado, com troca entre as
empresas.
Cursos sobre a norma em geral so
pagos.
Os cursos so gratuitos, quando
feitos on-line.
A norma comprada e proibida sua
reproduo.
A norma disponibilizada na
Internet.
H, ainda, muitos outros prmios e selos, inclusive especficos para o
setor filantrpico, como o prmio Bem Eficiente, concedido s 50 melhores
entidades sem fins lucrativos, que analisa 42 critrios para avaliao da
instituio. Interessante que este prmio no divulga os critrios e os altera
ano a ano, para que as instituies demonstrem que so eficientes
independentemente de critrios exigidos para premiao e no que se
adequem a critrios a fim de serem premiadas.
Este trabalho, no entanto, no pretende estudar critrios para a
concesso de prmios especficos, mas pode afirmar que aqueles necessrios
implantao do modelo ISO ou do Modelo de Excelncia so essenciais para
o alcance daqueles estabelecidos por qualquer outro organismo.
2.1. Motivao dos colaboradores
A administrao, atualmente, reconhece que qualquer organizao, para
realizar sua misso, precisa de colaboradores motivados. Muito tem sido
escrito a respeito e muitos so os incentivos oferecidos pelas empresas para
manter seus melhores empregados e para alcanar de cada um o melhor
desempenho, atravs de benefcios sociais diferenciados, premiaes e outros
atrativos.
23 No caso de uma instituio filantrpica a questo da motivao dos
funcionrios mais complexa, pois no h, em geral, como faz-lo atravs de
prmios e maiores salrios. No precisa estabelecer metas que venham a
trazer lucro, porque tais instituies no visam o lucro. Como, ento, motivar
aqueles que no estejam motivados pelo ideal da instituio?
Em recente palestra no MAN, Bernardinho economista, tcnico da
campe seleo brasileira de voleibol e ilustre palestrante respondeu
categoricamente pergunta de um gestor de instituio pblica acerca de
como motivar os servidores: reconhecimento. De fato, no servio pblico, no
h como conceder prmios e vantagens financeiras, o que no impede a
existncia do reconhecimento.
A autora pode pessoalmente observar a importncia do reconhecimento
no servio pblico, ao participar no ms de maio de 2007 de uma auditoria na
Stima Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, quando ao final, declarada que a
Vara seria recomendada certificao, seus funcionrios comemoravam como
se fosse uma vitria olmpica, a alegria era contagiante.
Ningum naquela unidade trabalhou menos para que ela fosse
certificada. Pelo contrrio, foram precisas muitas reunies, muito estudo, muita
determinao. Mas aquele era o momento de glria: todos se sentiram
reconhecidos pelo trabalho que desempenharam, alm da convico de que a
implantao do modelo, com aplicao de novas ferramentas trouxe melhor
qualidade na prestao jurisdicional que realizam e ampliou o campo do
conhecimento.
Os Tribunais so instituies compostas principalmente de sujeitos
oriundos da rea do Direito, assim todas as suas funes tradicionalmente tm
sido desempenhadas por pessoas desta rea de formao. O que se observa
que nem sempre todas as funes so desempenhadas com qualidade. Fato
notrio para a populao em geral. Todavia, uma onda de modernizao tem
se espraiado por muitos rgos pblicos, dentre eles, o TRT do Rio de Janeiro.
Isto tem gerado o surgimento de diversas experincias que tm elevado a
qualidade dos servios prestados por estas instituies populao.
24 No caso especfico do TRT, a importncia da certificao est, conforme
acepo de um Juiz do Rio de Janeiro, no fato de que os juzes sempre
souberam tudo de lei, mas no entendiam nada de administrao e que agora
isto est mudando. Alm dessa fala, destaca-se a proposio de um
desembargador em reunio com outros juzes e servidores: quem que
pensava que aqui no Tribunal um dia estaramos todos sentados assim, juzes
e servidores, discutindo, sem fronteiras de hierarquia? A recente
transformao nos rumos da gesto do TRT Rio tem gerado comentrios
positivos dos servidores deste rgo, muito se ouve que atualmente j no se
trabalha s apagando fogueiras, mas planejando conjuntamente com juzes e
servidores.
Por mais que no faa parte do escopo desta monografia, a experincia
relatada do TRT Rio exemplifica e traz elementos importantes para a
comprovao daquilo que a literatura e palestrantes vem afirmando acerca da
motivao atravs do reconhecimento. Tal estratgia pode perfeitamente ser
utilizada pelas instituies filantrpicas.
O reconhecimento no vem, no entanto, s da alta direo ou da
sociedade. No caso, por exemplo, do projeto Educarte, com a integrao de
uma psicloga equipe, o trabalho realizado pelas educadoras passou a ser
estudado, planejado e avaliado. Na fala de uma educadora social: tem sido
muito bom ver que as crianas esto muito mais colaborativas, que
demonstram que esto felizes e gostando mais da forma como o trabalho vem
sendo realizado com elas.
Neste exemplo o reconhecimento veio do usurio, criana atendida e
levantou a auto-estima da educadora, que viu no seu trabalho progresso e
percebeu que a instituio est preocupada tanto com seu usurio, quanto com
a capacitao de seus empregados, ainda que no possa oferecer vantagens
financeiras.
Nesta mesma instituio, a autora ouviu de outros empregados (durante
uma reunio onde estavam sendo discutidas a misso, viso e valores) que
agora saberiam explicar melhor o que faziam na instituio. Antes estes
25 profissionais no viam o todo do trabalho, no se reconheciam como parte
integrante do processo, mas apenas como executores de determinadas tarefas.
Cabe ressaltar que tal instituio est muito longe de ter um sistema de gesto
da qualidade implantado, mas os primeiros passos dados j demonstram a
possibilidade de melhorias contnuas.
Em outro caso, em entrevista ao Lar das Moas Cegas de Santos, o
representante desta instituio declarou que a partir da certificao houve um
comprometimento geral para cumprimento das exigncias da Norma,
estimulando os colaboradores na busca de superaes, evidenciando a unio e
determinao de todos por um objetivo comum.
Nestes exemplos pode-se perceber que a implantao de um processo
de qualidade em instituies filantrpicas tem como um dos principais efeitos o
esclarecimento do sentido da existncia das instituies. A partir desta
compreenso coletiva possvel identificar um maior engajamento dos sujeitos.
Cabe destacar que muitas instituies filantrpicas nascem do sonho de uma
pessoa ou de um grupo de pessoas que no tm condies de sozinhos
levarem seus ideais. Neste sentido h a necessidade de contratao de
pessoal para auxiliar na busca do projeto inicialmente sonhado. Entretanto, as
pessoas que so contratadas nem sempre comungam ou esto a par desses
sonhos, por isso, nem sempre so engajadas no processo, apenas executam
suas funes. O processo de qualificao cria a oportunidade desses sujeitos
perceberem que suas atuaes so fundamentais na consecuo de um
determinado projeto.
26 CAPTULO III
GESTO DA QUALIDADE
O caminho de uma organizao rumo excelncia no uma linha reta e tampouco pode ser comparado a uma corrida de curta distncia. Ao contrrio, a melhor analogia seria com a de uma maratona. Trata-se de um caminhar cheio de obstculos, que a organizao s consegue suplantar com constncia de propsitos e mobilizao de todas as suas competncias (Site da Fundao Nacional da Qualidade Critrios de Excelncia 2007).
3.1. Conceitos bsicos de qualidade
H uma extensa quantidade de conceitos sobre qualidade, uns mais
gerais, outros relacionados a itens da qualidade. De acordo com CAMPOS
(1992) a qualidade constitui-se como um produto ou servio que atenda
perfeitamente, de forma confivel, de forma acessvel, de forma segura e no
tempo certo s necessidades do cliente. Assim, segue o autor, em outros
termos pode-se dizer projeto perfeito, sem defeitos, baixo custo, segurana do
cliente, entrega no prazo certo, no local certo e na quantidade certa.
Para outros autores a qualidade est ligada a um conjunto de elementos
inter-relacionados utilizados na direo e controle de uma organizao. Ela
orienta as polticas e os objetivos da instituio, assim como os meios e
processos para atingir esses objetivos. DEMING (1986) adota uma perspectiva
semelhante s citadas e acrescenta que qualidade significa um grau previsvel
de uniformidade e confiabilidade, a baixo custo, e adequado ao mercado. A
qualidade deve ter como objetivo as necessidades do usurio (idem), tanto
aquelas presentes quanto as futuras. Para uma das principais certificadoras da
qualidade, a Norma NBR ISO 9001:2000, qualidade o grau no qual um
conjunto de caractersticas inerentes atende requisitos. Por fim, Carr e
Littman1, numa perspectiva mais ampliada, afirmam que qualidade mais que
1 Autores citados por Manuel Teixeira, em apostila.
27 um conjunto de tcnicas de controle da qualidade, uma filosofia de gesto
que inclui toda a organizao.
3.2. Vantagens de se adotar um Sistema de Gesto
Inicialmente cabe registrar que ISO uma Organizao Internacional
para Padronizao (International Organization for Standardization - ISO) que
efetua padronizao/normalizao em 148 pases. ISO no propriamente
uma sigla, mas aluso ao prefixo grego que significa igualdade. O trabalho da
ISO consiste em aprovar normas internacionais em todos os campos tcnicos,
exceto nos campos da eletrotcnica. Isto permite que um mesmo conceito
utilizado no Brasil seja compreendido em qualquer um dos outros pases que
adotam a mesma norma.
Desta forma, obter uma Certificao pela ISO 9001:2000, ou apenas
implementar o modelo pode trazer diversos benefcios, tais como:
a) Reduo da variabilidade dos processos e dos produtos pela
padronizao das atividades, proporcionando maior controle
sobre os processos.
b) Maior domnio da empresa sobre sua tecnologia em funo do
controle de seus processos (codificao e difuso do
conhecimento individual).
c) Reduo das perdas pelo maior nvel de organizao interna,
pela preveno das falhas operacionais, pela reduo do
retrabalho e pela cultura de aprendizagem e melhoria contnua
que se instala na Organizao.
d) Maior confiana da Direo e da Gerncia sobre a capacidade
de atender os requisitos dos clientes.
e) Maior confiana dos clientes sobre a capacidade da
Organizao atender aos seus requisitos, gerando maior
satisfao.
28 f) Maior motivao dos empregados pelo melhor entendimento
das implicaes do seu trabalho cotidiano e pelo seu
envolvimento nas decises.
g) Aumento da produtividade.
h) Melhor desempenho organizacional pela promoo da
capacitao
i) Melhoria da imagem da organizao
Adotar um sistema de gesto, portanto, possibilita um melhor
planejamento e controle das rotinas de trabalho, o que permite eliminar os
passos desnecessrios. A padronizao das tarefas e a definio de
responsabilidades individuais colabora com a maior segurana e agilidade aos
trabalhos; a criao de um Sistema de Controle para identificao e tratamento
das anomalias verificadas durante o processo evita que os trabalhos sejam
refeitos; a realizao dos trabalhos buscando melhorias na qualidade aumenta
a satisfao dos usurios, dos parceiros e da sociedade; e, a reduo dos
custos operacionais gera, conseqentemente, um aumento da produtividade.
A possibilidade de implantao de um sistema como estes reside nos
processos de padronizao das rotinas. A Norma ISO define processo como
um conjunto de atividades inter-relacionadas ou interativas que transforma
insumos (entradas) em produtos (sadas). Por se tratar de uma adequao
que diz respeito a toda organizao indispensvel, e, inclusive uma das
exigncias da prpria norma, que a alta direo da organizao esteja
comprometida com o sistema de gesto a ser implantado, desde o incio de sua
implantao, sem nunca se afastar de tal compromisso. Justamente por esta
ltima exigncia sabe-se que o sucesso da conduo de uma organizao
depende, sobretudo, de uma direo transparente e sistemtica, que leve em
considerao simultaneamente as necessidades de todas as partes
interessadas.
3.3. Princpios da Norma NBR ISO 9000 2000 - Aplicabilidade no mbito
filantrpico
29 Oito princpios gerais so a base constituinte da Norma NBR ISO 9000.
Eles dizem respeito forma como as empresas devem se organizar e planejar
suas atividades, mas, mais que isso, dizem respeito forma como as
empresas devem pensar.
a) Foco no cliente A organizao depende do cliente e por isso
necessrio que no s atenda as suas necessidades, mas que as
exceda.
b) Liderana Os lderes estabelecem unidade de propsito. Devem
criar e manter um ambiente interno tal que as pessoas fiquem envolvidas
no propsito de alcanar os objetivos da organizao.
c) Envolvimento de pessoas Todas as pessoas que constituem a
organizao, independente da funo que desempenhem precisam estar
envolvidas, colocando todas as suas habilidades a servio da
organizao. As pessoas precisam se sentir valorizadas.
d) Abordagem de processo As atividades e os recursos devem ser
gerenciados como um processo, a fim de se alcanar melhores
resultados.
e) Abordagem sistmica para gesto A identificao, compreenso
e gerenciamento dos processos inter-relacionados como um sistema
contribuem para a eficcia e eficincia da organizao e para que esta
alcance seus objetivos
f) Melhoria contnua Precisa ser objetivo permanente da
organizao. Nada esttico. Aquilo que no se desenvolve tende a
desaparecer.
g) Abordagem factual para a tomada de decises Decises para
serem eficazes precisam ser tomadas com base em informaes e dados
devidamente analisados. S se consegue conhecer e gerenciar aquilo
que medido. Necessrio, portanto, a construo e adoo de
Indicadores de Desempenho.
30 h) Benefcios mtuos nas relaes com os fornecedores Uma
relao de benefcios mtuos aumenta a capacidade de uma instituio
agregar valor.
Tais princpios, no entanto, necessitam de, no mnimo, algumas
adequaes para poderem ser aplicados a outras instituies que no sejam
produtoras de valor financeiro. Em primeiro lugar, em uma instituio sem fins
lucrativos ou no setor pblico a palavra cliente no muito apropriada,
devendo ser utilizado o termo usurio. Em segundo lugar, deve-se atentar ao
que est implcito no princpio da competitividade a idia de que sem cliente
no h negcio, de que necessria a satisfao do cliente para fideliz-lo
no se aplica ao caso, uma vez que, face grande demanda da sociedade e
escassez de instituies, o usurio no tem grandes opes de escolha. No
entanto, isto no afasta a conscincia de que o usurio a razo de ser da
instituio e que esta, at pela sua motivao de existir, dever preocupar-se
com sua satisfao e exceder mesmo suas expectativas. Ressalte-se que
essas duas ponderaes se aplicam integralmente ao caso de instituies que
alm de prestarem servios gratuitos mantm alguma forma de produo ou
comercializao de bens para sustento da instituio.
Exemplo dessa preocupao com as expectativas dos usurios pode ser
encontrada na fala de um representante da OSCID, no ano de implantao do
SGQ, foi iniciada a Pesquisa de Satisfao, uma importante ferramenta para a
medio das expectativas, percepes dos usurios e implementao de
melhorias, sendo estendida, em 2005, a todos os ncleos da OSCID. A
pesquisa d uma viso sistmica do atendimento e apoiada pelo Sistema de
Reclamaes do Cliente, que colhe queixas dos usurios que so direcionadas
para uma melhoria imediata da assistncia. A pesquisa vem demonstrando um
percentual de satisfao elevado dos usurios que utilizam os servios.
Alm disso, declara que notvel os benefcios alcanados,
principalmente porque foi estabelecida uma poltica voltada a conhecer e
atender os requisitos dos clientes/usurios, do cliente/patrocinador, a direo
mostrou o seu comprometimento com a Poltica da Qualidade, participando das
31 reunies mensais de anlise crtica com todos os lderes, as necessidades de
recursos, avaliando as melhorias e o atendimento das expectativas dos
usurios, que compreendem os requisitos legais e as metas quantitativas e
qualitativas do patrocinador.
Num outro exemplo, uma representante do LMC afirma que a satisfao
dos usurios vem crescendo constantemente, sendo medida atravs de
pesquisas elaboradas pela rea de gesto da qualidade, onde os
questionamentos advindos das pesquisas so debatidos em reunio da alta
direo, e transformados em aes administrativas. Solicitaes dos alunos
que outrora eram consideradas impossveis, hoje uma realidade, a exemplo
do Centro Aqutico do LMC.
necessrio ressaltar que o conceito de cliente extrapola a viso
tradicional de que cliente quem procura a organizao. Existe uma cadeia
de clientes internos e externos. Cada empregado, cada setor, ao mesmo
tempo cliente e fornecedor. Isto permite a viso geral da organizao e no a
isolada de cada rea. O cumprimento da misso da organizao , portanto,
tarefa de todos, que a realiza ao atender com eficincia e eficcia cada cliente
interno ou externo.
O Lar das Moas Cegas relata uma outra experincia nesse processo de
qualificao da gesto: um de seus representantes narra que com foco na
melhoria contnua, os servios prestados pela instituio tornaram-se mais
eficazes, conseguindo a alta direo diagnosticar a necessidade de aumento
do quadro dimensionado, contratando mais colaboradores especializados e
criando novos setores a exemplo do RI (Relaes Institucionais) com o
objetivo de promover, criar, manter e melhorar o relacionamento do LMC com
outras organizaes; a TI (Tecnologia da Informao) que tem por finalidade
manter e atualizar a rede e equipamentos de informtica, bem como, criar
softwares acompanhando o avano tecnolgico e do NOCT (Ncleo de
Orientao e Capacitao para o Trabalho) tendo como meta a insero do
deficiente visual no mercado de trabalho. Antes da certificao eram mais ou
32 menos 50 colaboradores e cerca de 150 atendimentos, hoje o quadro compe
cerca de 100 colaboradores com atendimento a 650 deficientes visuais.
Uma terceira adequao necessria para pensar a aplicao dos
princpios da Norma NBR ISO 9000 s instituies sem fins lucrativos diz
respeito a uma diferenciao entre as instituies filantrpicas e o servio
pblico e as organizaes com fins lucrativos. As instituies sem fins
lucrativos recebem doaes, quer em espcie, quer em bens e servios, tanto
de pessoas fsicas quanto jurdicas, e do Estado. Pode-se afirmar ento que a
instituio sem fins lucrativos podem considerar como seu fornecedor o doador
de valores e servios, que deve receber da instituio a garantia da eficiente
prestao de servios e ter seu nome conhecido, respeitado e valorizado
perante os usurios. Assim, como no poderia deixar de ser, as compras e
parcerias devem ser realizadas segundo princpios ticos e legais.
Um representante do LMC sustenta que a Instituio passou a ser vista
como uma entidade administrada como empresa, contando assim, com
alianas estratgicas com seus fornecedores, baseadas no envolvimento dos
mesmos em projetos realizados pela instituio. Tais fornecedores passaram a
colaborar com doaes, patrocnios e divulgaes. Exemplo disso foi a parceria
firmada com a Unimed de Santos para venda e administrao de Planos de
Sade, alm da firmada com o Santos Futebol Clube, que mantm todo
material esportivo do Goalball (equipe para-olmpica do LMC). O resultado
desta parceria pode ser conferido pela importante participao deste time em
campeonatos regionais e nacionais.
33 Captulo IV
PLANEJAMENTO ESTRATGICO
Planejar conhecer e entender o contexto; saber o que se quer e como atingir os objetivos; saber como se prevenir; calcular os riscos e buscar minimiz-los; preparar-se taticamente; ousar as metas propostas e superar-se de maneira contnua e constante. Planejar no s vislumbrar o futuro, mas tambm uma forma de assegurar a sobrevivncia e continuidade dos negcios. (CHIAVENATO,2003, prefcio)
Planejamento estratgico o uso de metodologia atravs da qual a
organizao define como vai mobilizar os seus recursos para alcanar os
objetivos estabelecidos. um planejamento global a curto, mdio e longo
prazo. A partir do contato com as instituies sem fins lucrativos pode-se
perceber que h grandes dificuldades das mesmas delimitarem os cortes
necessrios ao seu atendimento. Por fora do desejo de servir, que em geral
move os dirigentes das instituies, h dificuldade de negar tipo ou quantidade
de atendimento. Dificuldade tanto de expressar a negao a quem procura os
servios quanto entre os prprios dirigentes e servidores da instituio. Se os
cortes no so estabelecidos, mais difcil a deciso.
Neste sentido, um abrangente estudo do hoje auto anlise com
representantes de todas as reas da instituio, poder ajudar a delimitar o que
fazer e o quanto fazer. Assim, uma representante do LMC afirmou que apesar
de uma longa trajetria de sucesso, o LMC era conhecido pela comunidade
como um abrigo e internato apenas para moas cegas ou como um ponto de
referncia entre uma rua famosa e uma das principais avenidas da Baixada
Santista, os servios prestados e a sua importncia na sociedade no eram
difundidos.
possvel afirmar a necessidade de instituies deste tipo ensejarem
discusses que visem responder a perguntas como: o que estamos fazendo?
Quanto estamos fazendo? Para quem estamos fazendo? Por que estamos
34 fazendo? Que significado tem para os usurios o que estamos fazendo? Que
significado tem para a sociedade o que estamos fazendo? Que significado tem
para a instituio e para cada empregado ou voluntrio o que estamos
fazendo? Quanto custa o que estamos fazendo? Temos feito com segurana
de que h recursos? Qual a relao entre servios X recursos X resultados?
Aprofundadas estas respostas outras perguntas podero ser feitas: Deve
ser mantido o que se faz? Deve ser mantida a forma como se faz? O que pode
melhorar? O que deve mudar? Com as respostas s questes citadas, a
instituio deve avanar e fazer uma anlise da ambincia interna e externa. A
esse respeito, argumenta Hunger e Wheelen
Antes que possa iniciar uma formulao estratgica, uma organizao deve fazer a anlise do ambiente externo para identificar possveis oportunidades e ameaas e do ambiente interno, em busca de pontos fortes e pontos fracos. A anlise ambiental constituda pelo monitoramento, pela avaliao e pela divulgao, para pessoas-chave na organizao, de informaes obtidas nos ambientes externo e interno. uma ferramenta usada por corporaes para evitar surpresas estratgicas e para assegurar a sade da empresa a longo prazo, e a correlao positiva entre a anlise ambiental e os lucros.(HUNGER, 2002, pg,09)
A leitura deste trecho alerta para o fato de que as instituies sem fins
lucrativos devero adaptar as suas razes, uma vez que no se espera lucro
de suas atividades. Uma ferramenta til para isso a chamada matriz FOFA
(Quadro 2) (iniciais das palavras Foras e Fraquezas ambiente interno e
Oportunidades e Ameaas cenrio externo), a qual auxilia a realizao da
anlise da ambincia interna e externa. Compreende-se o cenrio interno como
as situaes influenciveis pela instituio, ao ponto que o cenrio externo
seria composto pelas situaes no influenciveis pela instituio.
Para se fazer anlise de cenrio e traar planos necessrio discusso,
pesquisa, cincia, contato com a realidade. No se pode se construir a matriz
com base em achismos, mas em anlise real, conforme princpio 07 da
Norma ISO e fundamento 05 do modelo de excelncia da FNQ.
35 Quadro 2 Matriz FOFA
X Oportunidades
(descrever)
Ameaas
(descrever)
Foras
(descrever)
Potencialidades
(traar plano)
Pontos de defesa
(traar plano)
Fraquezas
(descrever)
Debilidades
(traar plano)
Vulnerabilidade
(traar plano)
Os cenrios internos e externos devem ser cruzados para auxiliar na
tomada de decises e na definio dos objetivos estratgicos da instituio,
sendo evidenciadas as seguintes situaes:
Fora X Ameaa (cenrio interno favorvel e externo desfavorvel).
Fora X Oportunidades ( a melhor situao cenrios interno e
externo favorveis ).
Fraqueza X Ameaa ( a pior situao cenrios interno e externo
desfavorveis)
Fraqueza X Oportunidades (cenrio interno desfavorvel e externo
favorvel).
Aps a realizao desses diversos nveis de anlise e conseqente
esgotamento terico das possibilidades, a instituio dever traar seus
DIRECIONADORES ESTRATGICOS, os quais devem contemplar a poltica
da qualidade, misso, viso de futuro e valores. Compreende-se POLTICA DA
QUALIDADE como a declarao formal da alta administrao das intenes e
diretrizes da organizao relativas qualidade; como
MISSO a declarao da finalidade da existncia da instituio, o que ela faz,
a quem se destinam seus servios e qual a abrangncia local de sua atuao;
como VISO DE FUTURO a declarao de onde a instituio quer chegar
36 seu alvo, sua meta de ampliao; como VALORES a declarao dos princpios
que norteiam a instituio.
Definidos os direcionadores, os objetivos (ou focos) estratgicos globais
da instituio devero ser traados segundo as perspectivas: financeira, de
usurios, dos seus processos internos e de aprendizagem e crescimento,
conforme metodologia do BSC (Balanced Scorecard). Na etapa seguinte
devero ser traados os objetivos estratgicos de cada rea, definindo metas
e indicadores de desempenho e estabelecendo um plano de ao para sua
realizao.
Segue exemplo de planejamento:
Quadro 03
Focos Estratgicos TRT 1 Regio - 2005-2007
PERSPECTIVAS FOCOS ESTRATGICOS
FINANCEIRA Adequar a dotao oramentria e o quadro de
pessoal
USURIO
Implementar a gesto estratgica
Aprimorar o processo de comunicao interna e de
relacionamento com a sociedade
Padronizar e adequar as instalaes s
necessidades
Fomentar as relaes institucionais e parcerias
externas
PROCESSOS
INTERNOS
Implementar novas prticas de gesto
(padronizao de procedimentos administrativos)
Atualizar a a infra-estrutura de tecnologia da
informao
APRENDIZADO
CRESCIMENTO
Estruturar a rede de conhecimentos
Valorizar magistrados e servidores
37 Quadro 04 modelo de desdobramento de Direcionadores
Estratgicos
Modelo de desdobramento de Direcionadores Estratgicos
TRT- 1 Regio
Um exemplo de desempenho pode ser visto na citao da LMC ao
indicar que com 50 colaboradores fazia cerca 150 atendimentos e que hoje,
com 100 colaboradores atende a cerca de 650 pessoas. O LMC no declarou
qual foi, ao planejar, a sua meta, nem qual indicador, mas fcil perceber que
atingiu nveis altssimos de desempenho. Nesta mesma linha a Casa do
FINANCEIRA
Direcionadores Estratgicos(bsicos )
Misso Viso de Futuro Valores
Avaliao da ambincia interna (pontos fracos)Avaliao da ambincia externa (oportunidades e ameaas)
PERSPECTIVAS FOCOS ESTRATGICOS OBJETIVOS ESTRATGICOS
FF1FF2
FFn
OEF1.1OEF1.n
OEFn.1OEFn.n
USURIO
FU1FU2
FUn
OEU1.1OEU1.n
OEUn.1OEUn.n
PROCESSOS INTERNOS
FP1FP2
FPn
OEP1.1OEP1.n
OEPn.1OEPn.n
FA1FA2
FAn
OEA1.1OEA1.n
OEAn.1OEAn.n
APRENDIZADO E
CRESCIMENTO
38 Menino Jesus de Praga, em seu planejamento, afirma que existe uma
necessidade de definir a melhoria de gesto para garantir a manuteno e
perenidade do atendimento causa assumida pela casa. Alm disso, utilizam
a avaliao como um meio de qualificao da gesto para assegurar e
subsidiar as diretorias futuras.
Concludo o planejamento estratgico da instituio como um todo e de
cada rea a instituio dever verificar o alinhamento de todo o planejamento e
acompanhar a sua execuo, estabelecendo as mudanas necessrias,
conforme prev o ciclo PDCA que veremos adiante.
Para acompanhamento das aes e o alinhamento entre elas
necessria a utilizao de plano de ao para cada objetivo. Alm disso, de
grande utilidade e simplicidade a ferramenta 5W2H, que pode ser utilizada para
todos os objetivos, tanto estratgicos quanto operacionais. Consiste em uma
planilha de descrio das atividades, conforme exemplo abaixo:
Quadro 05 - modelo de plano de ao
plano de ao do setor
objetivo estratgico da organizao
objetivo estratgico da rea
meta: prazo: rea:
indicador de desempenho:
O que
(What)
Quem
(Who)
Quando
(When)
Onde
(Where)
Por que
(Why)
Como
(Haw)
Custo
(How
much)
39 A ferramenta pode ser melhorada, acrescentando-se itens que se julgue
necessrio, como percentual de realizao. H casos em que por muito
simples, alguns itens podem ser eliminados.
4.1. Ciclo PDCA e a Melhoria Contnua
figura 01 conforme apostila do professor Alexandre IAVM
O Ciclo PDCA foi originalmente desenvolvido na dcada de 1930, nos
Laboratrios da Bell Laboratories nos EUA, pelo estatstico Walter A. Shewhart.
Foi definido como um ciclo estatstico de controle dos processos que pode ser
aplicado para qualquer tipo de processo ou problema. O mtodo foi
popularizado na dcada de 1950, pelo tambm estatstico, W Ewards Deming,
que o aplicou de forma sistemtica dentro de conceitos da Qualidade Total em
seus trabalhos desenvolvidos no Japo (Apostila do Professor Mauri Gerhardt -
UCAM)
O PDCA pode ser definido como um valioso mtodo de controle e
melhoria dos processos organizacionais que, para ser eficaz, deve estar
disseminado e dominado conceitualmente e operacionalmente por todos os
colaboradores da organizao.
Orientado, a partir dos programas de Gesto da Qualidade, o mtodo do
PDCA uma das ferramentas substanciais que alimentam o conceito estrutural
40 dos requisitos dos Critrios Avaliativos do Modelo de Excelncia da FNQ, que o
vincula como premissa da Qualidade e da Melhoria Contnua. A utilizao do
PDCA tem sido amplamente defendida como uma forma de agregar valor ao
produto ou servio, atravs da execuo dos quatro elementos inerentes ao
mtodo Planejar, Executar, Controlar e Agir, conforme explicitado na figura.
Fernando Gomiero descreve as fases do ciclo PDCA e o define como
uma excelente ferramenta estratgica, cujo principal objetivo o de manter
todas as atividades da empresa sob controle, tanto as operacionais como as
administrativas. Um perfeito sincronismo entre os diferentes processos e
etapas, que se relacionam entre si formando um todo, nico e integrado,
garante o resguardo e a conservao dos padres de desempenho ideais.
4.1.1. Fases do ciclo PDCA
1. Planejamento: o incio de tudo. O passo que consiste em definir todas as
metas e objetivos que a empresa pode atingir, assim como as formas, os meios
e as ferramentas que sero usadas com vistas a alcanar o sucesso do
empreendimento. uma fase crucial para todo o processo, pois a sero
estabelecidos todos os caminhos e rotas a serem seguidos durante sua
execuo.
2. Desenvolvimento: a prpria execuo de tudo o que foi cuidadosamente
elaborado, definido e detalhado durante a fase de planejamento, colocar em
prtica toda a formulao das metas traadas, enfim, movimentar a locomotiva
com todos os seus vages, utilizando as melhores ferramentas de gesto em
busca dos melhores resultados. Nessa fase, os treinamentos e a disciplina dos
colaboradores absolutamente indispensvel para uma execuo eficiente e
eficaz de todo o plano, o que s ser possvel com descentralizao e
comunicao com qualidade, que disponibilizem poderes e todas as
informaes necessrias s cabeas pensantes, os estrategistas que iro
trabalhar no projeto.
3. Controle: o acompanhamento de toda a execuo do projeto, dos
procedimentos e mtodos implementados, objetivando a compilao de dados
41 para uma avaliao e anlise dos resultados alcanados em cada fase da
execuo. De importncia fundamental no projeto, essa a etapa que vai
possibilitar correes de desvios de rotas, adequao dos planos s mudanas
imprevistas na conjuntura econmica e mercadolgica, mudanas de
estratgias e aprimoramento de mecanismos de controle, alm de permitir a
identificao de erros no planejamento original e corrigi-los em tempo de evitar
maiores danos ao projeto.
4. Ao: Fase que objetiva encerrar o ciclo com chave de ouro. o momento
de se atuar sobre todo o sistema organizacional estimulando comportamentos
e emoes que mantenham o alto astral e a motivao daqueles que foram os
grandes responsveis pelo sucesso de todo o projeto. E criar mecanismos que
assegurem a manuteno duradoura do clima de harmonia no ambiente de
trabalho, o que, no final das contas, o que vai determinar a continuidade do
sucesso, com aumento de produtividade e eliminao de desperdcios. E a
concluso natural: conquista da excelncia empresarial e, qui, a liderana do
mercado.
A OSID um exemplo de instituio que utiliza o planejamento
estratgico como ferramenta de gesto. Em entrevista, a representante da
instituio declara que o compromisso com a melhoria contnua sempre existiu
e se tornou ainda mais forte com a introduo do Sistema de Qualidade
baseado na norma NBR-ISO 9001:2000. De acordo com o planejamento
estratgico desta instituio, existe a inteno de que at o final do ano de
2010 todos os ncleos sejam integrados ao SGQ. A entrevistada finaliza
dizendo que o modelo vem sendo aprimorado, com foco no cliente e na
melhoria contnua, tendo sido elaborado em 2005 o planejamento estratgico
para cinco anos (2006-2010), o qual vem sendo executado. A representante da
OSID declara ainda que o SGQ e o Planejamento Estratgico so importantes
ferramentas de gesto para a implantao das melhorias, um em curto e outro
no longo prazo. As aes do SGQ e do PE visam o fortalecimento do modelo
de gesto da OSID, numa busca constante da eficincia e eficcia, em prol da
melhoria contnua, perpetuidade da instituio com responsabilidade social,
42 sem perder de vista a filosofia da fundadora e a preservao de seus ideais.
Fica claro nesta fala a preocupao de uma instituio sem fins lucrativos de
adaptar conceitos prprios do mercado ao seu modus operandi.
43
CAPTULO V
OUTROS ELEMENTOS E CONCEITOS FUNDAMENTAIS GESTO DA
QUALIDADE
5.1. Mapeamento de Processos e Padronizao
Antecedendo o planejamento, ou paralelo a ele, no pode ser deixado
de lado o aspecto do estudo dos processos de trabalho da organizao, que
levam a uma melhor definio daqueles que so necessrios e evita o
retrabalho, pois bastante comum que mais de um setor ou mais de uma
pessoa repitam tarefas que podem ser evitadas.
As organizaes so sistemas complexos e as atividades nelas
desenvolvidas so formadas por uma rede de processos que fazem interface
umas com as outras. No existe processo na organizao que tenha comeo,
fim e finalidade independentes de outros. Cada atividade precisa ser
rigorosamente estudada para ser verificado qual a melhor fronteira com relao
a outras atividades.
Para delimitar os processos, podem ser adotadas as denominaes
macroprocessos (os processos mais abrangentes da organizao), processos
(as subdivises dos macroprocessos) e subprocessos (as subdivises dos
processos). indispensvel que estudados os processos de trabalho os
mesmos sejam pormenorizados, atravs de padronizao, ou seja, da
descrio de cada passo para sua realizao, com o respectivo fluxograma,
alm da definio das responsabilidades pela sua execuo.
Todo este estudo e descrio permitem identificar os ns nas
atribuies e forma de executar, possibilitando a eliminao de retrabalho, o
que acarretar muito mais rapidez e produtividade. Importante ressaltar que
trabalhar com processos de trabalho identificar a atividade com suas
correlaes e no a pessoa que realiza determinados servios, devendo haver
muito critrio, a fim de no se manter atividades apenas porque algum est
preparado somente para realizar o que j realiza.
44 5.2. Definio das Unidades Organizacionais e Organograma
A organizao necessita ter uma definio formal da sua estrutura, ou
seja, das unidades que a compem e como esto dispostas, como a
hierarquia e as relaes de comunicao, assim como as atribuies de cada
uma.
O organograma a representao visual da estrutura. Permite que muito
facilmente qualquer pessoa possa saber como a estrutura e a quem se dirigir
em cada situao.
5.3. Gesto de Pessoas e Treinamento
No h organizao sem pessoas. Mtodo e planejamento no
funcionam se no houver quem os execute. A alta administrao precisa ter
conscincia deste fator e estabelecer transparncia na relao com o pessoal
que trabalha na organizao, quer empregados, quer voluntrios. Necessrio
ter a pessoa certa no lugar certo.
A instituio filantrpica precisa ter clareza para lidar com esta questo,
pois prestar servios voluntrios no significa fazer o que quiser e quando
quiser. Mesmo o voluntrio tem que estar servindo no lugar certo e com
compromissos estabelecidos. Muitas vezes a instituio tem dificuldades de
criar limites com relao ao voluntrio. Neste sentido o estabelecimento de
padres essencial, pois concede segurana a quem recebe os voluntrios de
discutir com eles o interesse da instituio em ter seus servios.
No h possibilidade de se estabelecer qualidade, de se efetivar
qualquer planejamento, se dele no fizer parte a capacitao, alis, item
previsto na Norma ISO. Assim, a capacitao necessria tanto para o
exerccio das atividades desenvolvidas por cada colaborador, quanto sobre
gesto da qualidade e ferramentas a ela inerentes. Deve, ainda, ir alm,
havendo capacitao em reas diversas que possam vir a agregar valor
organizao.
indispensvel o envolvimento das pessoas com a organizao. Isto,
aliado capacitao, pode produzir excelentes resultados. O envolvimento
45 leva, ainda, as pessoas a procurarem seu aperfeioamento profissional mesmo
fora da organizao, para com ela contribuir. Este aspecto foi constatado nas
instituies pesquisadas, sendo exemplos uma coordenadora do projeto
EducArte, da AMAS Sete Pontes, que, a fim de se integrar melhor ao projeto
e vislumbrar com mais clareza suas necessidades, ingressou numa faculdade
de pedagogia, s suas expensas (especificidade de instituies filantrpicas).
Tal atitude no se deveu, entretanto, a um impulso individual, pelo contrrio, foi
motivada pela percepo de que os voluntrios do Conselho Diretor2 estavam
compromissados com a qualidade, no s do objetivo fim, mas da prpria
gesto.
Numa perspectiva semelhante a esta, uma representante das Obras
Sociais Irm Dulce OSCID da Bahia, revelou que, com o treinamento mais
efetivo dos profissionais envolvidos, eles passam a se sentir motivados com o
desafio e se superam na execuo de suas atividades. Estes dois exemplos
aparentemente simples confirmam a idia de que a assuno de um sistema
de gesto mesmo em instituies que tradicionalmente se mantiveram parte
deste processo de qualificao da gesto, tem o potencial de agregar um valor
subjetivo ao trabalho dos profissionais. Se antes trabalhavam porque eram
pagos para isso, agora trabalham para alcanar um ideal que tambm dele.
Motivar os profissionais significa engaj-los efetivamente na causa de
instituies filantrpicas.
5.4 Eficincia, Eficcia e Efetividade
Eficincia: a relao entre os produtos, bens e servios produzidos ou outros
resultados atingidos por uma unidade ou entidade econmica, tendo em conta
a quantidade e qualidade apropriada, e os recursos utilizados para produzi-los
ou atingi-los; menor custo, maior velocidade, melhor qualidade.
2 Nesta instituio a coordenao feita por um Conselho Diretor voluntrio eleito para um mandato de dois anos. No momento de minha pesquisa estava se iniciando um novo mandato. A coordenadora citada mencionou sua opo de cursar uma faculdade em funo da qualificao desse novo Conselho Diretor. Nas palavras dela: eu no queria ficar para trs, queria contribuir mais com o projeto.
46 Eficcia: o grau em que uma organizao, programa, processo, projeto,
operao, atividade, funo ou sistema atinge os objetivos da poltica, as metas
operativas estabelecidas e outros resultados e efeitos previstos.
Efetividade: Capacidade de atingir objetivos utilizando da melhor forma
possvel os recursos disponveis. Pode ser compreendido ainda como a
capacidade de ser eficaz (objetivos) e eficiente (usar bem os recursos) ao
mesmo tempo .
5.5. Reunio de Anlise Crtica
a reunio que a alta administrao realiza junto com todos os
colaboradores, em perodos programados, onde com base nos indicadores de
desempenho e resultados, auditorias realizadas e em sugestes, so
planejadas as melhorias contnuas. Esta reunio significa, ainda, um elemento
motivador, na medida em que todos participam e podem expor suas idias e
discutir a situao da organizao. Toda reunio deve gerar uma ata e do
contedo da mesma deve tomar cincia aqueles que no tiverem participado
da reunio.
5.6. Ao corretiva, ao preventiva e oportunidade de melhorias
Toda organizao ou processo de trabalho, por mais que esteja bem
estabelecido, passvel de cometer desvios, assim como pode sempre
melhorar. O importante perceber que as no conformidades so
oportunidades de melhorias. fundamental, ainda, desvencilhar-se do velho
conceito de culpa atribudo s pessoas quando algo no d certo. Se algo no
est atendendo s expectativas, h falha no sistema que precisa ser revisto e
replanejado. A ao corretiva a ao que se toma para corrigir as falhas do
sistema quando j ocorreram. A ao preventiva aquela que enxerga o
problema antes que ele ocorra e ento age para impedi-lo. As oportunidades
de melhoria tudo quanto se vislumbra para melhorar o servio ou produto.
O importante nas aes corretivas no apenas corrigir, mas investigar
a causa e analisar porque ocorreu, a fim de evitar que se repita a mesma
47 situao. Alm desses passos, aps algum tempo a eficcia da medida
adotada verificada.
5.7. Auditoria e Avaliao
A auditoria a verificao da conformidade dos requisitos da norma e do
planejamento da organizao, feita por pessoa independente o auditor. A
auditoria pode ser interna e externa. Interna faz as verificaes a fim de
informar sobre as conformidades e poder contribuir para a manuteno e
melhoria do sistema. A auditoria interna pode ser feita por empregado para isto
preparado, que no poder, no entanto, auditar sua prpria rea de trabalho,
podendo, tambm ser realizada por auditor contratado.
A auditoria externa, da mesma forma, verifica a conformidade do
sistema, porm com objetivo de aprovar ou no a certificao ou sua
manuteno. sempre realizada por auditor contratado e credenciado pela
ISO. No modelo de excelncia a verificao feita por Avaliadores, ocorrendo
primeiramente a auto-avaliao, que apresentada Fundao Nacional da
Qualidade, atravs de relatrios, que so examinados, podendo os avaliadores
item organizao para esclarecimentos e verificaes.
5.8. Registros e Documentos
A norma ISO extremamente exigente com o controle de documentos e
registros, pois basicamente atravs deles que a organizao examinada.
Toda organizao possui documentos e registros. Possui documentao
relativa aos seus processos de trabalho, sua poltica e objetivos, que so
documentaes prprias, assim como possui documentao legal e outras.
Documentos podem ser alterados e devem, posto que precisam representar
sempre a forma como as coisas so ou devem ser realizadas e como nada
esttico, os documentos tambm mudam. No entanto indispensvel trabalhar
com a segurana de que temos em mos a ltima verso de qualquer
documento. Registro, no entanto, no pode ser alterado, pois representa a
constatao de algo que aconteceu. Havendo mudanas outro dever ser
48 concretizado, mas no pode ser alterado porque representa algo que j
ocorreu.
5.9. Comunicao: interna e externa
Para o sucesso de um programa de gesto da qualidade, ou mesmo de
outra qualquer atividade humana, a comunicao fator indispensvel. Ela
precisa ser clara, precisa e atual, a fim de que todos, interna e externamente
organizao no a utilizem de forma inapropriada ou deixem de ter
conhecimento daquilo que importa ser conhecido.
5.10. Fluxograma
Diagrama para representao esquemtica de um processo de trabalho.
Facilita, por sua forma prtica e visual, a execuo de uma atividade. uma
das sete ferramentas da qualidade e indispensvel para a elaborao da
padronizao das rotinas.
5.11. Pesquisa de Satisfao
Sendo a base da qualidade a satisfao do usurio, no h como
conhecer os anseios dos mesmos e o seu grau de satisfao, sem que a eles
seja perguntado. A instituio deve promover pesquisas de opinio e pesquisa
de satisfao em perodos regulares. As pesquisas devem servir de base
tanto para pequenas mudanas que podem ser imediatamente procedidas,
quanto para o planejamento estratgico da organizao. Retorno sobre a
possibilidade de atendimento s opinies deve ser dado aos usurios que se
identificarem nas pesquisas. Igualmente importante haver canal regular para
reclamaes de usurios. As reclamaes devem sempre receber tratativa e,
assim como no caso das sugestes, aos usurios que se identificarem deve ser
comunicado o tratamento dado reclamao. Reclamaes devem ser vistas
como oportunidades de melhorias.
49 CONCLUSO
A literatura, a experincia e as narrativas das instituies pesquisadas
demonstram que a fase inicial de implementao da gesto da qualidade no
tarefa muito simples, requerendo determinao, tempo para reunies, para
discusses, para o estudo e para a descrio dos processos de trabalho, para
a mudana de cultura e de recursos financeiros.
importante ao tomar a deciso de implantar a gesto da qualidade,
que a organizao esteja consciente de tais dificuldades, certa, no entanto, dos
benefcios futuros, j que a necessidade de melhor organizar-se para no
sucumbir deve levar a instituio a encontrar uma forma de obter meios para
implantar uma gesto eficiente. Sem documentao atualizada e registrada,
sem balanos assinados, sem poder demonstrar o grau de eficincia e eficcia
com que trabalha, no ter grandes possibilidades de conseguir convnios e
parcerias.
Um passo poderia ser conseguir consultores voluntrios para realizar a
tarefa inicial e treinar empregados ou alguma empresa que financie este
estgio inicial, como foi o caso da Casa Menino Jesus de Praga.
Embora haja muitos modelos de gesto e certificaes que analisam
resultados e no ferramentas, as instituies que tm se preocupado com a
qualidade tm escolhido o modelo ISO. Afirmar a razo da escolha seria tema
de outro trabalho, neste apenas constatao. Ressalte-se, no entanto, que a
ISO mundialmente reconhecida e uma de suas exigncias modelagem dos
processos de trabalho indispensvel tambm ao modelo de excelncia e
mesmo a uma administrao que possa no seguir rigorosamente a nenhum
dos modelos, mas que deseje estabelecer um bom padro de funcionamento.
Segundo o IBGE na dcada de 90 foram criadas 139 mil novas
Organizaes No Governamentais, mais que o dobro da dcada anterior, mas
que por falta de gesto profissional poucas foram as que se mantiveram
saudveis ou conseguiram cumprir sua misso. necessrio que as
instituies filantrpicas e demais instituies do terceiro setor tenham o
mesmo rigor na apresentao de metas, planejamento e racionalidade nos
gastos que se cobra de governos e empresas que visam lucro. A nica maneira
50 que uma instituio filantrpica tem para se manter gerir os recursos de
forma profissional, no mais de forma amadora, sem prestar contas e sem
apresentar retornos para a sociedade.
Importante destacar que no s as 04 instituies estudadas, mas
muitas outras j certificadas, desejam ter sobre si um olhar externo dos
auditores ou avaliadores que possa lhes assegurar que esto no caminho
certo ou ter indicativos do que fazer para melhorar. Este olhar externo
exigncia das normas. Tais instituies querem ter declarado por organizaes
externas no s que trabalham com eficincia, mas que trabalham com
transparncia, no sendo assim confundida com tantas outras organi