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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA QUALIDADE EM INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS Angela Rangel de Souza Machado Orientadora Professora Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2007 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - MBA Presencial e Distância RANGEL DE SOUZA MACHADO.pdf · Lar das Moças Cegas de Santos Obras Sociais Irmã Dulce ... Os conceitos aqui utilizados

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  • UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PS-GRADUAO LATO SENSU

    PROJETO A VEZ DO MESTRE

    APLICAO DOS PRINCPIOS DA QUALIDADE EM INSTITUIES

    FILANTRPICAS

    Angela Rangel de Souza Machado

    Orientadora

    Professora Mary Sue Pereira

    Rio de Janeiro

    2007

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

  • 2 PS-GRADUAO LATO SENSU

    PROJETO A VEZ DO MESTRE

    APLICAO DOS PRINCPIOS DA QUALIDADE EM INSTITUIES

    FILANTRPICAS

    Apresentao de monografia Universidade

    Candido Mendes como requisito parcial para

    obteno do grau de especialista em Administrao

    da Qualidade.

  • 3 AGRADECIMENTOS

    A Deus, fonte de toda sabedoria, amor e graa.

    s instituies que gentilmente se dispuseram a

    responder ao questionrio apresentado e prestar

    informaes:

    Casa do Menino Jesus de Praga

    Lar das Moas Cegas de Santos

    Obras Sociais Irm Dulce

    AMAS-Sete Pontes que tem me permitido discutir

    com a alta direo e colaboradores o tema aqui

    abordado

    Aos amigos e parentes, cujos nomes no sero

    citados, por serem muitos, que ao longo da vida me

    deram suporte para transpor dificuldades e sempre

    me estimularam e se entusiasmaram com a minha

    caminhada.

    Ao Felipe, que leu, discutiu e criticou este trabalho.

    Rita, pela reviso

  • 4 DEDICATRIA

    Dedico ao Levi, companheiro de longa

    jornada, com quem posso contar a cada

    dia e de quem recebo estmulo e amor e

    que em mim acredita de forma

    incompreensvel.

    Dedico aos meus filhos Levi, Felipe e

    Rita, cujas existncias so sopro de vida

    na minha vida, so estmulo, so orgulho,

    so esperana.

    Dedico s minhas noras, Marina e

    Marcela, por serem aquelas que

    caminham com os meus filhos, e se os

    fazem felizes, fazem a mim tambm.

    Finalmente uma homenagem pstuma,

    queles que me geraram, Lucdio e

    Athnilda, cuja garra na luta pela

    sobrevivncia e dedicao aos filhos, foi o

    alicerce de tudo.

    Angela Rangel

  • 5 RESUMO

    O crescente nmero de instituies sem fins lucrativos, hoje no

    mais

    sustentadas apenas por grupos que delas participam e conhecem sua ao,

    bem como a complexidade das leis sociais e fiscais tm exigido muito mais que

    uma administrao domstica baseada na paixo pelo servio. necessrio

    pensar modelos de gesto para estas instituies. Percebes-se, neste sentido,

    que nfima a bibliografia especfica existente.

    O presente trabalho apresenta a importncia da utilizao de gesto da

    qualidade nestas instituies, e da obteno de certificaes que permitam o

    reconhecimento pblico das mesmas, para sua sobrevivncia e melhoria

    contnua.

  • 6 METODOLOGIA

    num sentido de otimizao de recursos que este trabalho se prope a

    analisar a gesto e a administrao de instituies sem fins lucrativos voltadas

    para atendimento das populaes carentes. No pretenso, entretanto,

    analisar o encaminhamento das aes institucionais, nem a prtica profissional

    dos sujeitos que lidam com o cotidiano da assistncia, nem tampouco discutir

    as razes para a relevncia hoje imprimida responsabilidade social das

    empresas. Por isso, no h qualquer abordagem acerca de viso poltica ou

    ideolgica das prticas sociais adotadas pelas instituies, mas, to somente,

    sobre a forma como estas instituies so geridas administrativamente para

    produzir eficincia e eficcia naquilo a que se propem realizar.

    Para o desenvolvimento do tema apresentado foram analisadas

    ferramentas da qualidade, em especial a norma ISO 9001-2000 e o modelo de

    excelncia, conforme apresentado pela Fundao Nacional da Qualidade

    FNQ, alm de outros livros, textos, pesquisa bibliogrfica, pesquisa pela

    Internet e revistas. Ademais, foi realizado um trabalho de imerso no campo

    visitas a uma instituio sem fins lucrativos e contatos via correio eletrnico

    com outras 03 instituies.

    Os conceitos aqui utilizados so oriundos da bibliografia apresentada e

    discutida durante as aulas do curso de Administrao da Qualidade. Outrossim,

    ressalta-se que, como integrante da ADI (TRT) Assessoria de

    Desenvolvimento Institucional, a autora pode vivenciar na prtica a

    implementao de modelo de gesto pela qualidade, com certificao ISO

    9001-2000 no TRT-Rio. Esta experincia possibilitou pensar a utilizao deste

    instrumental em instituio sem fins lucrativos.

    Este trabalho adota uma perspectiva metodolgica de cunho

    exploratrio. A partir de dois modelos tericos distintos ser feita uma

    descrio do percurso de implantao da gesto da qualidade em algumas

    instituies e sua comparao com o desenvolvimento de outras instituies

    que no adotaram nenhum modelo especfico. A seguir sero apresentadas

    sucintamente as instituies estudadas:

  • 7

    O LMC - Lar das Moas Cegas , instituio situada na cidade de Santos

    - SP, que tem como misso prestar servios na rea de educao e sade

    com o compromisso de capacitar social e profissionalmente os nossos clientes

    na comunidade em que vivem (material de propaganda da instituio) atende

    pessoas com deficincia visual, obteve no ano de 2005 o selo de qualidade

    pela ISO, primeiro selo concedido, no Brasil, a instituio com esta

    especificidade de atendimento. Isso representou um ganho, visto que a

    instituio tornou-se mais conhecida e respeitada, alm de ter melhorado

    substancialmente seus indicadores de desempenho. Por isso a inteno de

    incluir esta instituio especfica no escopo de pesquisa desta monografia.

    A AMAS-Sete Pontes Associao Metodista de Ao Social uma

    instituio pequena, localizada no municpio de So Gonalo RJ, que, pelo

    seu estatuto, pode desenvolver qualquer tipo de atividade social, mas que tem

    voltado sua atuao para crianas e adolescentes, com repercusso nas

    famlias. A autora h alguns anos tem colaborado com a instituio na

    elaborando projetos, avaliaes, reunies e algumas outras atividades. No

    presente, vem discutindo com a alta direo o estabelecimento de uma gesto

    voltada para a qualidade, razo de ser includa no escopo de pesquisa desta

    monografia, embora a instituio ainda no esteja trabalhando segundo

    nenhum modelo de qualidade. A AMAS dirigida por um Conselho Diretor,

    responsvel pelo planejamento das atividades desenvolvidas pelos

    colaboradores.

    A CMPJ - Casa do Menino Jesus de Praga uma instituio pequena,

    localizada na cidade Porto Alegre RS, que tem como misso prestar servios

    de assistncia social filantrpica a crianas com leso cerebral profunda e

    deficincia motora permanente, oriundas de famlias extremamente pobres ou

    desestruturadas na regio metropolitana de Porto Alegre RS. (material de

    propaganda da instituio). Recebeu em 2005 a certificao ISO, tendo sido a

    primeira, no Brasil, nesta categoria. A implantao de um sistema de gesto

    na instituio contribuiu para grandes melhorias da organizao e foi fruto da

    certeza de tal necessidade por empresa que investe em responsabilidade

  • 8 social e financiou a consultoria que permitiu a certificao. O trabalho realizado

    pela CMJP a razo de ter sido a instituio includa no escopo desta

    Monografia.

    A OSID Obras Sociais Irm Dulce uma instituio filantrpica que se

    diferencia das demais pelo seu tamanho e complexidade de atendimentos.

    Sendo inicialmente e por longos anos dirigida pela irm Dulce, que, baseada

    em princpios de amor ao prximo, realizou relevante trabalho, carecia de viso

    administrativa. Embora filantrpica a instituio recebe grandes somas

    referentes a convnios, j que lida com a rea de sade. Conforme declarao

    de representante do Setor da Qualidade, sua antiga dirigente consciente de

    que no lhe restava muito tempo para dirigir a obra, preocupou-se em escolher

    algum para o seu lugar e esta nova administrao sentiu a necessidade de

    mudanas para que houvesse sustentabilidade. Investiu na adoo de modelo

    de gesto e obteve certificao ISO, em 2002 e recertificao em 2005. Tem

    como misso amar e servir aos mais pobres, oferecendo atendimento gratuito

    na sade, educao e assistncia social, razo de tambm ser includa no

    escopo desta Monografia.

    H, portanto, no escopo de pesquisa desta monografia 04 instituies

    filantrpicas, de portes variados, pequeno, mdio e grande, sendo 03 com

    certificao ISO e uma dando os primeiros passos nesta mesma direo.

    Publicaes diversas, reportagens e participao da autoria em cursos

    ministrados para a rea do terceiro setor, permitiram conhecer a situao de

    outras instituies que no foram foco especfico da pesquisa, quer certificadas

    ou no, que, embora no citadas especificamente, at por falta de autorizao

    para tal, serviram como embasamento para a reflexo que este trabalho

    apresenta.

    Ao final, como anexo, so fornecidos exemplos de planejamento e

    descrio de processos de trabalho, inclusive com fluxogramas e

    organogramas.

  • 9

    SUMRIO

    Introduo 10

    Captulo I Trajetria da Filantropia 11

    Captulo II Consideraes acerca da certificao 20

    Captulo III Gesto da Qualidade 26

    Captulo IV Planejamento Estratgico 33

    Captulo V Outros elementos importantes 43

    Concluso 49

    Bibliografia 96

    Atividades culturais 98

    ndice 99

    Folha de Avaliao 100

  • 10 INTRODUO

    Analisar a prtica de instituies sem fins lucrativos, hoje, requer

    retomarmos alguns aspectos histricos que possibilitaram sua existncia e

    condicionaram sua organizao. No se imagina, entretanto, realizar uma

    arqueologia da filantropia neste breve trabalho, e sim chamar a ateno de

    alguns pontos histricos fundamentais e importantes na compreenso da

    insero hodierna destas instituies na sociedade.

    A visualizao da trajetria histrica das instituies leva compreenso

    de suas formas de funcionamento no mundo moderno. Alm do mais, com o

    processo de modernizao, novas exigncias e expectativas permeiam o

    cotidiano destas instituies. Uma das mais atuais diz respeito qualidade da

    gesto. Se durante vrios sculos no se questionou a dedicao dos

    dirigentes e trabalhadores destas instituies, no contexto atual estes atores

    no so apenas confrontados pelos seus ideais, mas tambm so

    questionados se a forma como desenvolvem seus trabalhos gera os melhores

    resultados possveis. Neste questionamento esto embutidos os conceitos,

    principalmente, de eficcia e eficincia, conceitos intrnsecos modernidade.

    Se durante anos estas nunca foram questes sensveis s instituies

    sem fins lucrativos, atualmente constituem os parmetros pelos quais as

    agncias e empresas financiadoras (verso moderna dos doadores individuais)

    definem seus investimentos. Ora, como no se adequar ento? Esta, todavia,

    no uma tarefa simples para a maioria das instituies sem fins lucrativos,

    por isso, muitos dos conceitos de mercado utilizados atualmente so

    inaplicveis, mas, por outro lado, passveis de adaptao. E so justamente

    essas adaptaes que ainda carecem de ser realizadas.

    Um dos caminhos possveis para o incremento da gesto dessas

    instituies a certificao de qualidade, que leva em considerao no

    apenas aspectos externos s organizaes, mas, sobretudo, permite a

    elucidao dos processos internos prprios a cada instituio.

  • 11 CAPTULO I

    TRAJETRIA DA FILANTROPIA

    Alguns autores remontam a origem das instituies de assistncia

    Idade Mdia (SPOSATI et al, 1985). Todavia, na era moderna que se

    encontra mais facilmente os principais traos das instituies de caridade.

    Rejeita-se desde j os argumentos que atrelam estas instituies ao

    surgimento do capitalismo. possvel verificar que estas instituies

    constituem-se num perodo histrico anterior ao surgimento do capitalismo.

    Pode-se afirmar que as primeiras instituies filantrpicas eram ligadas

    igreja catlica. Os orfanatos, manicmios e hospitais organizados por grupos

    de pessoas da igreja catlica no incio do sculo XVII eram os nicos lugares

    em que os indigentes encontravam acolhida. Numa poca em que a medicina

    era praticada por mdicos que iam s casas das pessoas, um sujeito

    desprovido de recursos financeiros suficientes para arcar com os custos de

    uma consulta mdica estava fadado morte. O nico lugar que lhe prestaria

    algum tipo de assistncia era justamente as instituies da igreja.

    Interessante notar que o mesmo Estado, que neste perodo negava

    qualquer tipo de assistncia aos sujeitos integrantes da nao, passou a ver

    nestas instituies uma forma de se livrar de seus mais incmodos cidados.

    J neste perodo o Estado contribua financeiramente com a manuteno de

    manicmios e hospitais, depositrios de mendigos, loucos e pobres. Os

    orfanatos eram o destino das crianas desprezadas pelos pais e pela

    sociedade. No toa a Frana do sculo XVII criou a roda dos enjeitados,

    uma porta giratria onde as crianas eram colocadas. Tal porta garantia o

    anonimato de quem as abandonava. Nesses orfanatos as crianas aprendiam

    alguma profisso para serem introduzidas na sociedade. Numa poca em que

    no existia o conceito de criana, esses pequenos adultos desenvolviam

    precocemente trabalhos fsicos que lhes impossibilitavam um desenvolvimento

    saudvel. A expectativa de vida para esses sujeitos era mnima. No havia

    neste perodo a preocupao do Estado em garantir a vida de seus integrantes.

    Esta perspectiva era eminentemente crist. As atribuies do Estado se

  • 12 limitavam garantia dos interesses do Estado Absolutista, portanto, da nobreza

    reinante.

    Tal situao, presente num perodo de substituio do modo de

    produo feudal pelo modo de produo capitalista, ia de encontro aos

    interesses da nascente burguesia. Este grupo, partindo do ideal da

    acumulao, queria arrancar do Estado direitos de se desenvolverem

    economicamente. A Revoluo Francesa em 1789 marca um novo perodo na

    histria da humanidade. considerada como o acontecimento que deu incio

    Idade Contempornea. Aboliu a servido e os direitos feudais na Frana e

    proclamou os princpios universais de liberdade, igualdade e fraternidade. A

    partir de ento fora institudo o critrio da meritocracia em substituio

    aristocracia. Isto significa dizer que um indivduo poderia se desenvolver

    economicamente apenas por seus mritos e no por pertencer a uma casta da

    sociedade.

    Esta revoluo proporcionou a possibilidade das primeiras Constituies

    escritas de reconhecerem a existncia de determinados direitos fundamentais

    aos homens. Assumem particular relevo no rol desses direitos, os direitos

    vida, liberdade, propriedade e igualdade perante a lei. A adoo destes

    direitos produto do pensamento liberal burgus do sculo XVIII, notadamente

    de cunho individualista. Externava-se desta maneira a necessidade de

    delimitao de uma zona de no interveno do Estado, caracterizando-se

    como direito de defesa, demarcando uma esfera de autonomia individual frente

    ao poder do Estado. Tais direitos so chamados hoje de direitos de primeira

    gerao. Entretanto, mesmo o Estado garantindo este leque de direitos aos

    indivduos, a maior parcela da sociedade encontrava-se ainda excluda da

    possibilidade de sua utilizao.

    Assim, o efetivo direito vida s era exercido pelos mais abastados. A

    imensa parcela pobre da sociedade ainda estava deles descoberta, pois sofria

    de fome e de doenas, aspectos que no diziam respeito ao Estado. Neste

    perodo as instituies de caridade reforaram seu papel na sociedade e

    ampliaram seu campo de atuao. Isto fica claro principalmente na proliferao

    das Santas Casas de Misericrdia, reconhecido local de abrigo para os pobres.

  • 13 A partir do incio do sculo XX e principalmente, aps a Segunda Guerra

    Mundial, os pases ocidentais passaram a incluir em suas Constituies os

    direitos chamados de segunda gerao, que no mais se caracterizam pela

    ausncia do Estado, mas, ao contrrio, pela sua interveno. So os chamados

    direitos sociais, que incluem desde o direito educao e sade at ao lazer.

    Apenas neste momento histrico o Estado passou a adotar efetivamente o

    direito vida como um direito comum a todos os cidados, portanto, mais de

    cem anos aps sua enunciao. Desta forma, o papel que era relegado s

    instituies de caridade passou a ser assumido pelo Estado. Entretanto, h

    uma enorme distncia entre a enunciao dos direitos e sua efetiva

    materializao na realidade. As instituies filantrpicas, neste sentido, no

    sofreram inicialmente nenhum golpe capaz de aniquil-las por completo. Mas, a

    partir de ento, enfrentariam novos desafios.

    Cabe ressaltar que, no caso do Brasil, a atuao na esfera social

    sempre ocorreu deslocada das necessidades especficas dos grupos humanos.

    Em geral esta atuao pauta-se numa perspectiva paternalista, sem qualquer

    ao transformadora ou mesmo fruto de uma anlise mais profunda das

    causas da misria. Alm disso, observa-se um deslocamento das aes e das

    reivindicaes populares. As aes efetuadas, em geral oriundas de interesses

    polticos e realizadas pelos polticos, de forma desordenada e burocratizada,

    acabam muitas vezes por consumir maior recurso na burocracia que no

    atendimento. A partir da cria-se um crculo vicioso em que, na medida que

    cresce a pauperizao da fora de trabalho, a assistncia vai se

    transformando, em muitos casos, numa prtica de dominao. Conforme

    afirmou Sposati, identifica-se claramente no caso brasileiro, salvo excees,

    que at 1930 a conscincia coletiva no apreendia a pobreza como uma

    questo social. O Estado s a percebia como um caso de polcia, tendo

    ateno apenas de seus aparelhos repressivos. Os problemas sociais eram

    mascarados e ocultados sob forma de fatos espordicos e excepcionais. A

    pobreza era tratada como disfuno pessoal dos indivduos (SPOSATI, 1985,

    p.41). A prtica da assistncia social antecede qualquer estudo e reflexo

    sobre a mesma e, no poderia, portanto, apresentar-se estruturada.

  • 14 Apesar da forma do Estado referir-se ao tema da pobreza ter mudado, a

    percepo coletiva sobre este tema parece permanecer intacta. O ideal

    meritocrtico conserva-se presente na sociedade. O pensamento liberal-

    burgus, que afirma o esforo pessoal como condio suficiente para livrar um

    indivduo da situao de misria, dificulta o desenvolvimento real de aes

    tanto estatais quanto da sociedade civil nesta rea. Cabe ressaltar, portanto, o

    alerta feito por alguns pensadores europeus de que o acesso igualitrio a

    determinadas possibilidades de desenvolvimento social s possvel numa

    sociedade com um patamar mnimo de igualdade entre os cidados,

    caracterizada principalmente por uma conscincia poltica, ativismo social,

    educao, e uma cultura j estabelecida de participao social. Talvez seja

    esta a misso principal das instituies de assistncia hoje.

    A histria da assistncia social no Brasil, assim como a do resto do

    mundo, dialoga a todo o momento com as conscincias coletivas e o

    pensamento dominante. Da solidariedade individual, familiar e de alguns

    grupos, as necessidades provenientes do crescimento da misria ou das

    concentraes humanas fez com que as instituies sociais fossem se

    organizando. A histria da filantropia no Brasil tambm est profundamente

    ligada a aes da igreja. Cabe relembrar que o prprio preconceito moral que

    levava moas que engravidavam fora do casamento, sobretudo nas classes

    privilegiadas, a desfazer-se de seus filhos anonimamente levou criao de

    instituies que recebiam estas crianas; o preconceito e desconhecimento

    cientfico sobre algumas doenas levaram criao de hospitais que isolavam

    pessoas doentes, como, por exemplo, os portadores de hansenase. Em todas

    estas aes a igreja sempre esteve presente e, como mencionado

    anteriormente, o grande marco de sua presena foi a criao de inmeras

    Santa Casa de Misericrdia no Brasil.

    Os primeiros hospitais brasileiros foram as Santas Casas da Misericrdia. At hoje existe controvrsia sobre qual teria sido a primeira fundada em nosso territrio. Alguns apontam a de Olinda, ento em 1540, capital da Capitania de Pernambuco, seguida pela de Santos, em 1543 ou 1551. Outros atribuem a precedncia a esta ltima, fundada por Brs Cubas. A Santa Casa da Misericrdia de Vitria (Esprito

  • 15 Santo) teria surgido entre 1545 e 1555. A data de 1564 indicada como a fundao da Santa Casa de Ilhus. A da Bahia teria ocorrido entre 1549 e 1572. (PINTO, 2003, pg. 35)

    Diante de uma perspectiva to dramtica para as populaes mais

    pobres, na dcada de 1930 surgem movimentos sociais mais organizados.

    Aliado a isso so criadas escolas de servio social e a profisso

    regulamentada. Cabe destacar que em 1806, conforme registra Way (2006,

    pg. 12 e 17) foi criada no Rio de Janeiro a primeira instituio de servio

    social registrada como tal do Brasil o Instituto Central do Povo (ICP).

    Sua origem remonta ao desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro,

    na segunda metade do sculo XIX. Neste perodo o Cais do Porto estava em

    processo de ampliao. Os trabalhadores envolvidos nesta empreitada a

    maioria analfabetos - comearam a construir suas casas no chamado morro da

    favela, hoje morro da providncia, bem prximo ao Cais do Porto. Esta foi a

    primeira favela do Brasil, cujo tipo de aglomerado deu origem ao nome favela.

    O missionrio norte americano fundador da instituio prestava assistncia

    direta aos trabalhadores. Desta forma, reivindicava junto s autoridades aes

    que resultaram melhorias dentro e fora da instituio, como a construo de

    parque pblico infantil, a oferta de servios odontolgicos e outros. O ICP no

    foi a primeira instituio a prestar servios filantrpicos no Brasil, posto que

    antecedida por outras de carter especfico, mas foi a primeira de servio social

    propriamente dita, face abrangncia de seus servios. Outros tipos de

    instituies governamentais e no governamentais de carter assistencial

    foram sendo criadas, novas vises de mundo desenvolveram-se e, em

    especial, a partir do golpe militar de 1964 outros tipos de associaes

    formaram-se, tanto de carter eminentemente reivindicatrio quanto de carter

    poltico.

    A partir da dcada de 1970, observa-se uma proliferao intensa de

    organizaes no governamentais no pas. Cada vez mais, novos aspectos

    foram englobados, como, por exemplo, a preocupao com a preservao da

    natureza. Diferente do que ocorria no passado, tais instituies passaram a ser

    sustentadas no s por igrejas, mas tambm por pequenos grupos de pessoas,

  • 16 por empresas preocupadas com as questes sociais e mesmo pelo Estado.

    Cabe considerar que tais instituies, em geral, foram guiadas no por

    princpios e mtodos administrativos, mas pela prpria paixo causa.

    Entretanto, as recentes transformaes sociais e, sobretudo, da legislao,

    exigiram uma especializao da gesto dessas instituies. Muitas passaram

    por perodos difceis e precisaram estabelecer novas formas de captao de

    recursos e de administrao. A maneira tradicional de organizao destas

    instituies, que remonta talvez ao sculo XVII, baseada no puro altrusmo e

    entrega total da vida do sujeito que se dedica causa, necessitou passar por

    uma intensa mudana devido s novas exigncias da sociedade e das

    transformaes dos prprios problemas sociais.

    Se antes estas instituies se dedicavam a algo que no era da alada

    do Estado, agora, com a garantia dos direitos sociais, elas concorrem com

    este. Concorrem muito mais pela diferena de ideal do que pela prpria prtica.

    At porque ao assumir efetivamente determinada questo social, o Estado

    inviabiliza o desenvolvimento de aes da sociedade civil naquela esfera.

    Exemplo disso a educao, se o Estado introduz em determinada

    comunidade uma escola com alto padro de ensino, qualquer projeto nesta

    mesma rea, que viesse sendo desenvolvido at ento pela sociedade civil na

    regio, perde sentido de existir. Fica claro desde j que as instituies de

    assistncia inserem-se nas lacunas deixadas pelo Estado.

    Importante ainda destacar que no passado as instituies contavam

    como muitas mulheres voluntrias, uma vez que no exerciam atividades

    profissionais externas ao lar e podiam dedicar-se com seus conhecimentos e

    talentos prestao de servios voluntrios. No havia a legislao trabalhista

    exigindo que tais instituies tenham seus empregados registrados e com

    todos os direitos como qualquer outra empresa. No havia a corrida Justia

    Trabalhista que h hoje. No havia a legislao da rea educacional e

    sanitria que h hoje e as mudanas eram mais lentas, podendo perpetuar por

    anos a mesma tecnologia e recursos usados para atender s necessidades.

    Hoje essas instituies necessitam de profissionais remunerados e

    especializados, de renovao constante de seus recursos tecnolgicos e da

  • 17 mais eficiente administrao, sobretudo, porque, embora no governamentais,

    muitas dessas instituies recebem recursos pblicos e tm obrigaes de

    prestar contas, devendo orientar-se pelos mesmos princpios que regem a

    administrao pblica. Discutir sobre a forma de gesto e administrao

    dessas instituies constitui, portanto, tarefa premente para a garantia da

    efetividade, eficincia e eficcia dos servios prestados. Como diz Pinto

    O desenvolvimento de sistemticas de avaliao e de monitoramento tem tido prioridade no programa Gesto da Poltica de Assistncia Social, permitindo o monitoramento das entidades e instituies que compem a rede de atendimento de assistncia social, o acompanhamento pelo gestor local da qualidade dos servios prestados pelas entidades de assistncia social e a identificao dos destinatrios. (PINTO, 2003, pg, 68)

    De acordo com Queiroz (2007), temos assistido a um investimento na

    gesto organizacional das empresas em atrelar sua imagem a uma

    Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Isso se diferencia da prtica at

    ento vigente voltada apenas para a produo, as vendas, os lucros e os

    ganhos. A partir da dcada de 90, com a globalizao e expanso do mercado,

    as empresas perceberam a necessidade de se alinharem aos padres

    internacionais, onde a responsabilidade social um fator importante e traz,

    para a empresa, os lucros decorrentes de uma boa imagem.

    O mercado, antes distante, para no dizer indiferente s questes de interesse pblico, comea a ser penetrado pelas aes de responsabilidade social, e, passa a ver nas organizaes sem fins lucrativos canais para concretizar o investimento do setor privado empresarial na rea social, ambiental e cultural. (ROCHA et al, 2007, pg.1)

    Ao se envolverem com o princpio da responsabilidade social, seja por

    uma compreenso solidria, seja por exigncias contemporneas, as empresas

    requerem, para definio de onde aplicar seus recursos, que as instituies

    estejam organizadas e sigam exigncias da administrao moderna. Hoje h,

    ainda, uma viso mesmo de troca, onde ganham empresa e instituio.

  • 18 Com relao s parcerias entre as empresas e organizaes sociais, o leque de possibilidades de intercmbio imenso; no entanto, o cenrio em que essas relaes esto se desenvolvendo hoje e continuaro a se desenvolver no futuro exige um novo tipo de prtica. A prtica paternalista das empresas diante das sociedades beneficentes, medida pela filantropia, e, de seu lado, estas mesmas sociedades olhando e reverenciando as empresas como patronos, parece, felizmente, estar com os dias contados. Esse assistencialismo fundamentado na relao de dependncia intermediada pela doao d, ou deve dar, lugar a uma prtica baseada no compartilhamento de objetivos e de troca de experincias, sendo a filantropia estratgica, conforme o conceito abordado em algumas de nossas cenas, um dos passos nesse sentido (SANTOS, 2006, pg.68).

    Cabe ressaltar que esta tendncia das empresas segue a um padro

    desenvolvido nas ltimas dcadas nos EUA. Neste pas as pessoas com

    grandes fortunas investem maciamente em fundaes de assistncia.

    Entretanto, mais do que uma ao estritamente solidria, grande parte dessas

    fundaes surgem como uma estratgia de driblar a lei de heranas norte-

    americana que tem elevadas taxas para as fortunas deixadas como herana,

    mas tem iseno completa para doaes feitas a instituies filantrpicas. Tais

    instituies permanecem sobre o comando da famlia, que usufrui de todos os

    recursos deixados. H alguns anos o senado norte-americano props uma lei

    para extinguir o imposto sobre a herana, entretanto, os prprios empresrios

    trataram de tir-la de cena. O gasto com propaganda para a empresa em

    grande parte substitudo pelo status social das fundaes pertencentes a estas

    empresas.

    Por este motivo a captao de recursos no Brasil distinta da realizada

    naquele pas. O convencimento aqui tem que ser muito mais voltado para o

    aspecto solidrio. Por outro lado, conforme mencionado no incio deste tpico,

    as empresas brasileiras j perceberam os benefcios de atrelarem suas

    imagens a instituies de assistncia. Uma forma semelhante usada nos

    EUA de substituir a propaganda direta pelo reconhecimento social.

  • 19 As empresas financiadoras dos projetos (steakholders), exigem das

    instituies que financiam, um trato tcnico e cientfico do dinheiro destinado.

    Assim, a afirmao feita anteriormente a respeito das mudanas na forma de

    gesto e administrao de instituies sociais fica mais forte com a

    constatao do pargrafo acima. Apesar do surgimento da preocupao com

    gesto tcnica estar associada a exigncias dos parceiros, absolutamente

    plausvel imaginar que mesmo instituies sem fins lucrativos devam otimizar a

    utilizao de seus recursos.

    Nos ltimos anos, tem sido desenvolvida amplamente a concepo de gerncia social das entidades sociais. O investimento no social passa a merecer um tratamento muito semelhante a outros investimentos. preciso investir e obter resultados. preciso saber mensurar, dos pontos de vista qualitativo e quantitativo, aquilo que se obteve por meio da implementao de um programa social. Sem criar estratgias sobre as vrias dimenses do processo de avaliao, no possvel mensurar impactos de um programa social nem saber se os seus objetivos foram atingidos (SANTOS, 2006, p.79).

    Santos complementa comentando que at a dcada de 70 a

    administrao no era um conceito muito usado ao se fazer meno ao terceiro

    setor, pois pertencia ao mundo dos negcios e no a organizaes orientadas

    por valores. Hoje, entretanto, as prprias organizaes do terceiro setor j

    percebem a importncia de melhor administrar, preocupando-se inclusive com

    sua contabilidade, j que esta uma rea que fornece informaes

    necessrias tomada de decises.

  • 20 CAPTULO II

    CONSIDERAES ACERCA DA CERTIFICAO

    O que leva uma instituio a desejar uma certificao e a optar por um

    tipo de certificao e no por outro? Seria o custo da certificao ou a maior

    visibilidade das instituies certificadoras? Atualmente so muitos os selos e

    prmios de qualidade, que variam de tipo e de reas a que se destinam. Por

    este motivo essencial neste momento realizar uma comparao sucinta entre

    os dois certificados de maior conhecimento pblico, os quais trabalharemos

    mais amide nesta monografia: o NBR ISO 9001-2000 e o Modelo de

    Excelncia (FNQ).

    Primeiramente, cabe ressaltar que ambos os modelos apresentam

    alguns princpios comuns. As duas abordagens exigem da organizao uma

    identificao dos pontos fortes e dos pontos fracos; primam pela avaliao

    frente a modelos genricos; valorizam a capacitao e aprendizagem;

    fornecem uma base para possibilitar a melhoria contnua; e, prevem

    disposio para o reconhecimento externo.

    A principal diferena entre os dois, reside no escopo de sua aplicao.

    Segundo Maranho (2000, p.47) as normas da famlia NBR ISO 9000

    fornecem requisitos para sistemas de gesto da Qualidade e diretrizes para

    melhoria do desempenho; a avaliao dos sistemas de Qualidade determina o

    atendimento desses requisitos. Isto porque os modelos de excelncia

    carregam consigo critrios que permitem avaliar comparativamente o

    desempenho de organizaes, e, principalmente, servem a todas as partes

    interessadas na instituio. O autor ressalta ainda que os critrios de

    avaliao dos modelos de excelncia fornecem a base para uma organizao

    comparar o seu desempenho com o desempenho de outras organizaes

    (idem).

    De fato h semelhanas muito grandes entre a ISO e o modelo de excelncia

    e embora seja o modelo de excelncia muito mais abrangente, torna-se de

  • 21 aplicao mais fcil, por ser menos burocrtico, j que as ferramentas por ele

    utilizadas so muito menos determinadas, conforme abaixo:

    O Modelo de Excelncia da Gesto, em funo de sua flexibilidade e simplicidade de linguagem e, principalmente, por no prescrever ferramentas e prticas de gesto especfica, pode ser til para a avaliao, o diagnstico e o desenvolvimento do sistema de gesto de qualquer organizao, do setor pblico ou privado, com ou sem finalidade de lucro, seja de porte pequeno, mdio ou grande. (introduo do manual do modelo de excelncia da Fundao Nacional da Qualidade, do ano de 2007)

    O prmio da Fundao Nacional da Qualidade (FNQ), que no Rio de

    Janeiro corresponde ao PQRio, baseado no modelo de excelncia, faz uma

    anlise bem mais abrangente da organizao, pois a v como um todo,

    avaliando no s determinado processo de trabalho mas os seus resultados. A

    certificao ISO, no entanto, pode ser feita apenas para processos de trabalho

    especficos, ainda que isso, na verdade, sempre implique nos outros diversos

    trabalhos correlacionados, mas no conduz, necessariamente a melhores

    resultados globais.

    Cabe ressaltar, no entanto, que para adoo do modelo de excelncia,

    todos os passos construdos para implantao da ISO so necessrios, ainda

    que com detalhes diferenciados, mas na verdade um caminho.

    Antes, entretanto, de entrar especificamente na discusso terica,

    cumpre destacar que administrar com qualidade no requer, necessariamente,

    que a instituio venha a ser certificada. No entanto, ao estar preparada para

    receber um selo de qualidade, a instituio motiva seus empregados e propicia

    a visibilidade e credibilidade ao trabalho realizado. Alm disso, cabe esclarecer

    que a certificao no eterna, as empresas esto sujeitas a perd-la caso

    no mantenha os parmetros acordados com a instituio certificadora.

    O quadro a seguir (quadro 1) apresenta uma comparao entre os

    custos para obteno do selo ISO e da FNQ. Percebe-se, claramente, a partir

    dos itens abaixo relacionados, que a ISO requer, para sua implantao, um

    dispndio financeiro muito maior do que a FNQ.

  • 22

    Quadro 1 Custos para implantao da certificao

    ISSO MODELO DE EXCELNCIA (FNQ)

    Os auditores contratados so pagos,

    com preos diferenciados entre as

    empresas e depende do porte da

    empresa contratante.

    Os avaliadores realizam a avaliao

    gratuitamente, pois feito atravs

    de voluntariado, com troca entre as

    empresas.

    Cursos sobre a norma em geral so

    pagos.

    Os cursos so gratuitos, quando

    feitos on-line.

    A norma comprada e proibida sua

    reproduo.

    A norma disponibilizada na

    Internet.

    H, ainda, muitos outros prmios e selos, inclusive especficos para o

    setor filantrpico, como o prmio Bem Eficiente, concedido s 50 melhores

    entidades sem fins lucrativos, que analisa 42 critrios para avaliao da

    instituio. Interessante que este prmio no divulga os critrios e os altera

    ano a ano, para que as instituies demonstrem que so eficientes

    independentemente de critrios exigidos para premiao e no que se

    adequem a critrios a fim de serem premiadas.

    Este trabalho, no entanto, no pretende estudar critrios para a

    concesso de prmios especficos, mas pode afirmar que aqueles necessrios

    implantao do modelo ISO ou do Modelo de Excelncia so essenciais para

    o alcance daqueles estabelecidos por qualquer outro organismo.

    2.1. Motivao dos colaboradores

    A administrao, atualmente, reconhece que qualquer organizao, para

    realizar sua misso, precisa de colaboradores motivados. Muito tem sido

    escrito a respeito e muitos so os incentivos oferecidos pelas empresas para

    manter seus melhores empregados e para alcanar de cada um o melhor

    desempenho, atravs de benefcios sociais diferenciados, premiaes e outros

    atrativos.

  • 23 No caso de uma instituio filantrpica a questo da motivao dos

    funcionrios mais complexa, pois no h, em geral, como faz-lo atravs de

    prmios e maiores salrios. No precisa estabelecer metas que venham a

    trazer lucro, porque tais instituies no visam o lucro. Como, ento, motivar

    aqueles que no estejam motivados pelo ideal da instituio?

    Em recente palestra no MAN, Bernardinho economista, tcnico da

    campe seleo brasileira de voleibol e ilustre palestrante respondeu

    categoricamente pergunta de um gestor de instituio pblica acerca de

    como motivar os servidores: reconhecimento. De fato, no servio pblico, no

    h como conceder prmios e vantagens financeiras, o que no impede a

    existncia do reconhecimento.

    A autora pode pessoalmente observar a importncia do reconhecimento

    no servio pblico, ao participar no ms de maio de 2007 de uma auditoria na

    Stima Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, quando ao final, declarada que a

    Vara seria recomendada certificao, seus funcionrios comemoravam como

    se fosse uma vitria olmpica, a alegria era contagiante.

    Ningum naquela unidade trabalhou menos para que ela fosse

    certificada. Pelo contrrio, foram precisas muitas reunies, muito estudo, muita

    determinao. Mas aquele era o momento de glria: todos se sentiram

    reconhecidos pelo trabalho que desempenharam, alm da convico de que a

    implantao do modelo, com aplicao de novas ferramentas trouxe melhor

    qualidade na prestao jurisdicional que realizam e ampliou o campo do

    conhecimento.

    Os Tribunais so instituies compostas principalmente de sujeitos

    oriundos da rea do Direito, assim todas as suas funes tradicionalmente tm

    sido desempenhadas por pessoas desta rea de formao. O que se observa

    que nem sempre todas as funes so desempenhadas com qualidade. Fato

    notrio para a populao em geral. Todavia, uma onda de modernizao tem

    se espraiado por muitos rgos pblicos, dentre eles, o TRT do Rio de Janeiro.

    Isto tem gerado o surgimento de diversas experincias que tm elevado a

    qualidade dos servios prestados por estas instituies populao.

  • 24 No caso especfico do TRT, a importncia da certificao est, conforme

    acepo de um Juiz do Rio de Janeiro, no fato de que os juzes sempre

    souberam tudo de lei, mas no entendiam nada de administrao e que agora

    isto est mudando. Alm dessa fala, destaca-se a proposio de um

    desembargador em reunio com outros juzes e servidores: quem que

    pensava que aqui no Tribunal um dia estaramos todos sentados assim, juzes

    e servidores, discutindo, sem fronteiras de hierarquia? A recente

    transformao nos rumos da gesto do TRT Rio tem gerado comentrios

    positivos dos servidores deste rgo, muito se ouve que atualmente j no se

    trabalha s apagando fogueiras, mas planejando conjuntamente com juzes e

    servidores.

    Por mais que no faa parte do escopo desta monografia, a experincia

    relatada do TRT Rio exemplifica e traz elementos importantes para a

    comprovao daquilo que a literatura e palestrantes vem afirmando acerca da

    motivao atravs do reconhecimento. Tal estratgia pode perfeitamente ser

    utilizada pelas instituies filantrpicas.

    O reconhecimento no vem, no entanto, s da alta direo ou da

    sociedade. No caso, por exemplo, do projeto Educarte, com a integrao de

    uma psicloga equipe, o trabalho realizado pelas educadoras passou a ser

    estudado, planejado e avaliado. Na fala de uma educadora social: tem sido

    muito bom ver que as crianas esto muito mais colaborativas, que

    demonstram que esto felizes e gostando mais da forma como o trabalho vem

    sendo realizado com elas.

    Neste exemplo o reconhecimento veio do usurio, criana atendida e

    levantou a auto-estima da educadora, que viu no seu trabalho progresso e

    percebeu que a instituio est preocupada tanto com seu usurio, quanto com

    a capacitao de seus empregados, ainda que no possa oferecer vantagens

    financeiras.

    Nesta mesma instituio, a autora ouviu de outros empregados (durante

    uma reunio onde estavam sendo discutidas a misso, viso e valores) que

    agora saberiam explicar melhor o que faziam na instituio. Antes estes

  • 25 profissionais no viam o todo do trabalho, no se reconheciam como parte

    integrante do processo, mas apenas como executores de determinadas tarefas.

    Cabe ressaltar que tal instituio est muito longe de ter um sistema de gesto

    da qualidade implantado, mas os primeiros passos dados j demonstram a

    possibilidade de melhorias contnuas.

    Em outro caso, em entrevista ao Lar das Moas Cegas de Santos, o

    representante desta instituio declarou que a partir da certificao houve um

    comprometimento geral para cumprimento das exigncias da Norma,

    estimulando os colaboradores na busca de superaes, evidenciando a unio e

    determinao de todos por um objetivo comum.

    Nestes exemplos pode-se perceber que a implantao de um processo

    de qualidade em instituies filantrpicas tem como um dos principais efeitos o

    esclarecimento do sentido da existncia das instituies. A partir desta

    compreenso coletiva possvel identificar um maior engajamento dos sujeitos.

    Cabe destacar que muitas instituies filantrpicas nascem do sonho de uma

    pessoa ou de um grupo de pessoas que no tm condies de sozinhos

    levarem seus ideais. Neste sentido h a necessidade de contratao de

    pessoal para auxiliar na busca do projeto inicialmente sonhado. Entretanto, as

    pessoas que so contratadas nem sempre comungam ou esto a par desses

    sonhos, por isso, nem sempre so engajadas no processo, apenas executam

    suas funes. O processo de qualificao cria a oportunidade desses sujeitos

    perceberem que suas atuaes so fundamentais na consecuo de um

    determinado projeto.

  • 26 CAPTULO III

    GESTO DA QUALIDADE

    O caminho de uma organizao rumo excelncia no uma linha reta e tampouco pode ser comparado a uma corrida de curta distncia. Ao contrrio, a melhor analogia seria com a de uma maratona. Trata-se de um caminhar cheio de obstculos, que a organizao s consegue suplantar com constncia de propsitos e mobilizao de todas as suas competncias (Site da Fundao Nacional da Qualidade Critrios de Excelncia 2007).

    3.1. Conceitos bsicos de qualidade

    H uma extensa quantidade de conceitos sobre qualidade, uns mais

    gerais, outros relacionados a itens da qualidade. De acordo com CAMPOS

    (1992) a qualidade constitui-se como um produto ou servio que atenda

    perfeitamente, de forma confivel, de forma acessvel, de forma segura e no

    tempo certo s necessidades do cliente. Assim, segue o autor, em outros

    termos pode-se dizer projeto perfeito, sem defeitos, baixo custo, segurana do

    cliente, entrega no prazo certo, no local certo e na quantidade certa.

    Para outros autores a qualidade est ligada a um conjunto de elementos

    inter-relacionados utilizados na direo e controle de uma organizao. Ela

    orienta as polticas e os objetivos da instituio, assim como os meios e

    processos para atingir esses objetivos. DEMING (1986) adota uma perspectiva

    semelhante s citadas e acrescenta que qualidade significa um grau previsvel

    de uniformidade e confiabilidade, a baixo custo, e adequado ao mercado. A

    qualidade deve ter como objetivo as necessidades do usurio (idem), tanto

    aquelas presentes quanto as futuras. Para uma das principais certificadoras da

    qualidade, a Norma NBR ISO 9001:2000, qualidade o grau no qual um

    conjunto de caractersticas inerentes atende requisitos. Por fim, Carr e

    Littman1, numa perspectiva mais ampliada, afirmam que qualidade mais que

    1 Autores citados por Manuel Teixeira, em apostila.

  • 27 um conjunto de tcnicas de controle da qualidade, uma filosofia de gesto

    que inclui toda a organizao.

    3.2. Vantagens de se adotar um Sistema de Gesto

    Inicialmente cabe registrar que ISO uma Organizao Internacional

    para Padronizao (International Organization for Standardization - ISO) que

    efetua padronizao/normalizao em 148 pases. ISO no propriamente

    uma sigla, mas aluso ao prefixo grego que significa igualdade. O trabalho da

    ISO consiste em aprovar normas internacionais em todos os campos tcnicos,

    exceto nos campos da eletrotcnica. Isto permite que um mesmo conceito

    utilizado no Brasil seja compreendido em qualquer um dos outros pases que

    adotam a mesma norma.

    Desta forma, obter uma Certificao pela ISO 9001:2000, ou apenas

    implementar o modelo pode trazer diversos benefcios, tais como:

    a) Reduo da variabilidade dos processos e dos produtos pela

    padronizao das atividades, proporcionando maior controle

    sobre os processos.

    b) Maior domnio da empresa sobre sua tecnologia em funo do

    controle de seus processos (codificao e difuso do

    conhecimento individual).

    c) Reduo das perdas pelo maior nvel de organizao interna,

    pela preveno das falhas operacionais, pela reduo do

    retrabalho e pela cultura de aprendizagem e melhoria contnua

    que se instala na Organizao.

    d) Maior confiana da Direo e da Gerncia sobre a capacidade

    de atender os requisitos dos clientes.

    e) Maior confiana dos clientes sobre a capacidade da

    Organizao atender aos seus requisitos, gerando maior

    satisfao.

  • 28 f) Maior motivao dos empregados pelo melhor entendimento

    das implicaes do seu trabalho cotidiano e pelo seu

    envolvimento nas decises.

    g) Aumento da produtividade.

    h) Melhor desempenho organizacional pela promoo da

    capacitao

    i) Melhoria da imagem da organizao

    Adotar um sistema de gesto, portanto, possibilita um melhor

    planejamento e controle das rotinas de trabalho, o que permite eliminar os

    passos desnecessrios. A padronizao das tarefas e a definio de

    responsabilidades individuais colabora com a maior segurana e agilidade aos

    trabalhos; a criao de um Sistema de Controle para identificao e tratamento

    das anomalias verificadas durante o processo evita que os trabalhos sejam

    refeitos; a realizao dos trabalhos buscando melhorias na qualidade aumenta

    a satisfao dos usurios, dos parceiros e da sociedade; e, a reduo dos

    custos operacionais gera, conseqentemente, um aumento da produtividade.

    A possibilidade de implantao de um sistema como estes reside nos

    processos de padronizao das rotinas. A Norma ISO define processo como

    um conjunto de atividades inter-relacionadas ou interativas que transforma

    insumos (entradas) em produtos (sadas). Por se tratar de uma adequao

    que diz respeito a toda organizao indispensvel, e, inclusive uma das

    exigncias da prpria norma, que a alta direo da organizao esteja

    comprometida com o sistema de gesto a ser implantado, desde o incio de sua

    implantao, sem nunca se afastar de tal compromisso. Justamente por esta

    ltima exigncia sabe-se que o sucesso da conduo de uma organizao

    depende, sobretudo, de uma direo transparente e sistemtica, que leve em

    considerao simultaneamente as necessidades de todas as partes

    interessadas.

    3.3. Princpios da Norma NBR ISO 9000 2000 - Aplicabilidade no mbito

    filantrpico

  • 29 Oito princpios gerais so a base constituinte da Norma NBR ISO 9000.

    Eles dizem respeito forma como as empresas devem se organizar e planejar

    suas atividades, mas, mais que isso, dizem respeito forma como as

    empresas devem pensar.

    a) Foco no cliente A organizao depende do cliente e por isso

    necessrio que no s atenda as suas necessidades, mas que as

    exceda.

    b) Liderana Os lderes estabelecem unidade de propsito. Devem

    criar e manter um ambiente interno tal que as pessoas fiquem envolvidas

    no propsito de alcanar os objetivos da organizao.

    c) Envolvimento de pessoas Todas as pessoas que constituem a

    organizao, independente da funo que desempenhem precisam estar

    envolvidas, colocando todas as suas habilidades a servio da

    organizao. As pessoas precisam se sentir valorizadas.

    d) Abordagem de processo As atividades e os recursos devem ser

    gerenciados como um processo, a fim de se alcanar melhores

    resultados.

    e) Abordagem sistmica para gesto A identificao, compreenso

    e gerenciamento dos processos inter-relacionados como um sistema

    contribuem para a eficcia e eficincia da organizao e para que esta

    alcance seus objetivos

    f) Melhoria contnua Precisa ser objetivo permanente da

    organizao. Nada esttico. Aquilo que no se desenvolve tende a

    desaparecer.

    g) Abordagem factual para a tomada de decises Decises para

    serem eficazes precisam ser tomadas com base em informaes e dados

    devidamente analisados. S se consegue conhecer e gerenciar aquilo

    que medido. Necessrio, portanto, a construo e adoo de

    Indicadores de Desempenho.

  • 30 h) Benefcios mtuos nas relaes com os fornecedores Uma

    relao de benefcios mtuos aumenta a capacidade de uma instituio

    agregar valor.

    Tais princpios, no entanto, necessitam de, no mnimo, algumas

    adequaes para poderem ser aplicados a outras instituies que no sejam

    produtoras de valor financeiro. Em primeiro lugar, em uma instituio sem fins

    lucrativos ou no setor pblico a palavra cliente no muito apropriada,

    devendo ser utilizado o termo usurio. Em segundo lugar, deve-se atentar ao

    que est implcito no princpio da competitividade a idia de que sem cliente

    no h negcio, de que necessria a satisfao do cliente para fideliz-lo

    no se aplica ao caso, uma vez que, face grande demanda da sociedade e

    escassez de instituies, o usurio no tem grandes opes de escolha. No

    entanto, isto no afasta a conscincia de que o usurio a razo de ser da

    instituio e que esta, at pela sua motivao de existir, dever preocupar-se

    com sua satisfao e exceder mesmo suas expectativas. Ressalte-se que

    essas duas ponderaes se aplicam integralmente ao caso de instituies que

    alm de prestarem servios gratuitos mantm alguma forma de produo ou

    comercializao de bens para sustento da instituio.

    Exemplo dessa preocupao com as expectativas dos usurios pode ser

    encontrada na fala de um representante da OSCID, no ano de implantao do

    SGQ, foi iniciada a Pesquisa de Satisfao, uma importante ferramenta para a

    medio das expectativas, percepes dos usurios e implementao de

    melhorias, sendo estendida, em 2005, a todos os ncleos da OSCID. A

    pesquisa d uma viso sistmica do atendimento e apoiada pelo Sistema de

    Reclamaes do Cliente, que colhe queixas dos usurios que so direcionadas

    para uma melhoria imediata da assistncia. A pesquisa vem demonstrando um

    percentual de satisfao elevado dos usurios que utilizam os servios.

    Alm disso, declara que notvel os benefcios alcanados,

    principalmente porque foi estabelecida uma poltica voltada a conhecer e

    atender os requisitos dos clientes/usurios, do cliente/patrocinador, a direo

    mostrou o seu comprometimento com a Poltica da Qualidade, participando das

  • 31 reunies mensais de anlise crtica com todos os lderes, as necessidades de

    recursos, avaliando as melhorias e o atendimento das expectativas dos

    usurios, que compreendem os requisitos legais e as metas quantitativas e

    qualitativas do patrocinador.

    Num outro exemplo, uma representante do LMC afirma que a satisfao

    dos usurios vem crescendo constantemente, sendo medida atravs de

    pesquisas elaboradas pela rea de gesto da qualidade, onde os

    questionamentos advindos das pesquisas so debatidos em reunio da alta

    direo, e transformados em aes administrativas. Solicitaes dos alunos

    que outrora eram consideradas impossveis, hoje uma realidade, a exemplo

    do Centro Aqutico do LMC.

    necessrio ressaltar que o conceito de cliente extrapola a viso

    tradicional de que cliente quem procura a organizao. Existe uma cadeia

    de clientes internos e externos. Cada empregado, cada setor, ao mesmo

    tempo cliente e fornecedor. Isto permite a viso geral da organizao e no a

    isolada de cada rea. O cumprimento da misso da organizao , portanto,

    tarefa de todos, que a realiza ao atender com eficincia e eficcia cada cliente

    interno ou externo.

    O Lar das Moas Cegas relata uma outra experincia nesse processo de

    qualificao da gesto: um de seus representantes narra que com foco na

    melhoria contnua, os servios prestados pela instituio tornaram-se mais

    eficazes, conseguindo a alta direo diagnosticar a necessidade de aumento

    do quadro dimensionado, contratando mais colaboradores especializados e

    criando novos setores a exemplo do RI (Relaes Institucionais) com o

    objetivo de promover, criar, manter e melhorar o relacionamento do LMC com

    outras organizaes; a TI (Tecnologia da Informao) que tem por finalidade

    manter e atualizar a rede e equipamentos de informtica, bem como, criar

    softwares acompanhando o avano tecnolgico e do NOCT (Ncleo de

    Orientao e Capacitao para o Trabalho) tendo como meta a insero do

    deficiente visual no mercado de trabalho. Antes da certificao eram mais ou

  • 32 menos 50 colaboradores e cerca de 150 atendimentos, hoje o quadro compe

    cerca de 100 colaboradores com atendimento a 650 deficientes visuais.

    Uma terceira adequao necessria para pensar a aplicao dos

    princpios da Norma NBR ISO 9000 s instituies sem fins lucrativos diz

    respeito a uma diferenciao entre as instituies filantrpicas e o servio

    pblico e as organizaes com fins lucrativos. As instituies sem fins

    lucrativos recebem doaes, quer em espcie, quer em bens e servios, tanto

    de pessoas fsicas quanto jurdicas, e do Estado. Pode-se afirmar ento que a

    instituio sem fins lucrativos podem considerar como seu fornecedor o doador

    de valores e servios, que deve receber da instituio a garantia da eficiente

    prestao de servios e ter seu nome conhecido, respeitado e valorizado

    perante os usurios. Assim, como no poderia deixar de ser, as compras e

    parcerias devem ser realizadas segundo princpios ticos e legais.

    Um representante do LMC sustenta que a Instituio passou a ser vista

    como uma entidade administrada como empresa, contando assim, com

    alianas estratgicas com seus fornecedores, baseadas no envolvimento dos

    mesmos em projetos realizados pela instituio. Tais fornecedores passaram a

    colaborar com doaes, patrocnios e divulgaes. Exemplo disso foi a parceria

    firmada com a Unimed de Santos para venda e administrao de Planos de

    Sade, alm da firmada com o Santos Futebol Clube, que mantm todo

    material esportivo do Goalball (equipe para-olmpica do LMC). O resultado

    desta parceria pode ser conferido pela importante participao deste time em

    campeonatos regionais e nacionais.

  • 33 Captulo IV

    PLANEJAMENTO ESTRATGICO

    Planejar conhecer e entender o contexto; saber o que se quer e como atingir os objetivos; saber como se prevenir; calcular os riscos e buscar minimiz-los; preparar-se taticamente; ousar as metas propostas e superar-se de maneira contnua e constante. Planejar no s vislumbrar o futuro, mas tambm uma forma de assegurar a sobrevivncia e continuidade dos negcios. (CHIAVENATO,2003, prefcio)

    Planejamento estratgico o uso de metodologia atravs da qual a

    organizao define como vai mobilizar os seus recursos para alcanar os

    objetivos estabelecidos. um planejamento global a curto, mdio e longo

    prazo. A partir do contato com as instituies sem fins lucrativos pode-se

    perceber que h grandes dificuldades das mesmas delimitarem os cortes

    necessrios ao seu atendimento. Por fora do desejo de servir, que em geral

    move os dirigentes das instituies, h dificuldade de negar tipo ou quantidade

    de atendimento. Dificuldade tanto de expressar a negao a quem procura os

    servios quanto entre os prprios dirigentes e servidores da instituio. Se os

    cortes no so estabelecidos, mais difcil a deciso.

    Neste sentido, um abrangente estudo do hoje auto anlise com

    representantes de todas as reas da instituio, poder ajudar a delimitar o que

    fazer e o quanto fazer. Assim, uma representante do LMC afirmou que apesar

    de uma longa trajetria de sucesso, o LMC era conhecido pela comunidade

    como um abrigo e internato apenas para moas cegas ou como um ponto de

    referncia entre uma rua famosa e uma das principais avenidas da Baixada

    Santista, os servios prestados e a sua importncia na sociedade no eram

    difundidos.

    possvel afirmar a necessidade de instituies deste tipo ensejarem

    discusses que visem responder a perguntas como: o que estamos fazendo?

    Quanto estamos fazendo? Para quem estamos fazendo? Por que estamos

  • 34 fazendo? Que significado tem para os usurios o que estamos fazendo? Que

    significado tem para a sociedade o que estamos fazendo? Que significado tem

    para a instituio e para cada empregado ou voluntrio o que estamos

    fazendo? Quanto custa o que estamos fazendo? Temos feito com segurana

    de que h recursos? Qual a relao entre servios X recursos X resultados?

    Aprofundadas estas respostas outras perguntas podero ser feitas: Deve

    ser mantido o que se faz? Deve ser mantida a forma como se faz? O que pode

    melhorar? O que deve mudar? Com as respostas s questes citadas, a

    instituio deve avanar e fazer uma anlise da ambincia interna e externa. A

    esse respeito, argumenta Hunger e Wheelen

    Antes que possa iniciar uma formulao estratgica, uma organizao deve fazer a anlise do ambiente externo para identificar possveis oportunidades e ameaas e do ambiente interno, em busca de pontos fortes e pontos fracos. A anlise ambiental constituda pelo monitoramento, pela avaliao e pela divulgao, para pessoas-chave na organizao, de informaes obtidas nos ambientes externo e interno. uma ferramenta usada por corporaes para evitar surpresas estratgicas e para assegurar a sade da empresa a longo prazo, e a correlao positiva entre a anlise ambiental e os lucros.(HUNGER, 2002, pg,09)

    A leitura deste trecho alerta para o fato de que as instituies sem fins

    lucrativos devero adaptar as suas razes, uma vez que no se espera lucro

    de suas atividades. Uma ferramenta til para isso a chamada matriz FOFA

    (Quadro 2) (iniciais das palavras Foras e Fraquezas ambiente interno e

    Oportunidades e Ameaas cenrio externo), a qual auxilia a realizao da

    anlise da ambincia interna e externa. Compreende-se o cenrio interno como

    as situaes influenciveis pela instituio, ao ponto que o cenrio externo

    seria composto pelas situaes no influenciveis pela instituio.

    Para se fazer anlise de cenrio e traar planos necessrio discusso,

    pesquisa, cincia, contato com a realidade. No se pode se construir a matriz

    com base em achismos, mas em anlise real, conforme princpio 07 da

    Norma ISO e fundamento 05 do modelo de excelncia da FNQ.

  • 35 Quadro 2 Matriz FOFA

    X Oportunidades

    (descrever)

    Ameaas

    (descrever)

    Foras

    (descrever)

    Potencialidades

    (traar plano)

    Pontos de defesa

    (traar plano)

    Fraquezas

    (descrever)

    Debilidades

    (traar plano)

    Vulnerabilidade

    (traar plano)

    Os cenrios internos e externos devem ser cruzados para auxiliar na

    tomada de decises e na definio dos objetivos estratgicos da instituio,

    sendo evidenciadas as seguintes situaes:

    Fora X Ameaa (cenrio interno favorvel e externo desfavorvel).

    Fora X Oportunidades ( a melhor situao cenrios interno e

    externo favorveis ).

    Fraqueza X Ameaa ( a pior situao cenrios interno e externo

    desfavorveis)

    Fraqueza X Oportunidades (cenrio interno desfavorvel e externo

    favorvel).

    Aps a realizao desses diversos nveis de anlise e conseqente

    esgotamento terico das possibilidades, a instituio dever traar seus

    DIRECIONADORES ESTRATGICOS, os quais devem contemplar a poltica

    da qualidade, misso, viso de futuro e valores. Compreende-se POLTICA DA

    QUALIDADE como a declarao formal da alta administrao das intenes e

    diretrizes da organizao relativas qualidade; como

    MISSO a declarao da finalidade da existncia da instituio, o que ela faz,

    a quem se destinam seus servios e qual a abrangncia local de sua atuao;

    como VISO DE FUTURO a declarao de onde a instituio quer chegar

  • 36 seu alvo, sua meta de ampliao; como VALORES a declarao dos princpios

    que norteiam a instituio.

    Definidos os direcionadores, os objetivos (ou focos) estratgicos globais

    da instituio devero ser traados segundo as perspectivas: financeira, de

    usurios, dos seus processos internos e de aprendizagem e crescimento,

    conforme metodologia do BSC (Balanced Scorecard). Na etapa seguinte

    devero ser traados os objetivos estratgicos de cada rea, definindo metas

    e indicadores de desempenho e estabelecendo um plano de ao para sua

    realizao.

    Segue exemplo de planejamento:

    Quadro 03

    Focos Estratgicos TRT 1 Regio - 2005-2007

    PERSPECTIVAS FOCOS ESTRATGICOS

    FINANCEIRA Adequar a dotao oramentria e o quadro de

    pessoal

    USURIO

    Implementar a gesto estratgica

    Aprimorar o processo de comunicao interna e de

    relacionamento com a sociedade

    Padronizar e adequar as instalaes s

    necessidades

    Fomentar as relaes institucionais e parcerias

    externas

    PROCESSOS

    INTERNOS

    Implementar novas prticas de gesto

    (padronizao de procedimentos administrativos)

    Atualizar a a infra-estrutura de tecnologia da

    informao

    APRENDIZADO

    CRESCIMENTO

    Estruturar a rede de conhecimentos

    Valorizar magistrados e servidores

  • 37 Quadro 04 modelo de desdobramento de Direcionadores

    Estratgicos

    Modelo de desdobramento de Direcionadores Estratgicos

    TRT- 1 Regio

    Um exemplo de desempenho pode ser visto na citao da LMC ao

    indicar que com 50 colaboradores fazia cerca 150 atendimentos e que hoje,

    com 100 colaboradores atende a cerca de 650 pessoas. O LMC no declarou

    qual foi, ao planejar, a sua meta, nem qual indicador, mas fcil perceber que

    atingiu nveis altssimos de desempenho. Nesta mesma linha a Casa do

    FINANCEIRA

    Direcionadores Estratgicos(bsicos )

    Misso Viso de Futuro Valores

    Avaliao da ambincia interna (pontos fracos)Avaliao da ambincia externa (oportunidades e ameaas)

    PERSPECTIVAS FOCOS ESTRATGICOS OBJETIVOS ESTRATGICOS

    FF1FF2

    FFn

    OEF1.1OEF1.n

    OEFn.1OEFn.n

    USURIO

    FU1FU2

    FUn

    OEU1.1OEU1.n

    OEUn.1OEUn.n

    PROCESSOS INTERNOS

    FP1FP2

    FPn

    OEP1.1OEP1.n

    OEPn.1OEPn.n

    FA1FA2

    FAn

    OEA1.1OEA1.n

    OEAn.1OEAn.n

    APRENDIZADO E

    CRESCIMENTO

  • 38 Menino Jesus de Praga, em seu planejamento, afirma que existe uma

    necessidade de definir a melhoria de gesto para garantir a manuteno e

    perenidade do atendimento causa assumida pela casa. Alm disso, utilizam

    a avaliao como um meio de qualificao da gesto para assegurar e

    subsidiar as diretorias futuras.

    Concludo o planejamento estratgico da instituio como um todo e de

    cada rea a instituio dever verificar o alinhamento de todo o planejamento e

    acompanhar a sua execuo, estabelecendo as mudanas necessrias,

    conforme prev o ciclo PDCA que veremos adiante.

    Para acompanhamento das aes e o alinhamento entre elas

    necessria a utilizao de plano de ao para cada objetivo. Alm disso, de

    grande utilidade e simplicidade a ferramenta 5W2H, que pode ser utilizada para

    todos os objetivos, tanto estratgicos quanto operacionais. Consiste em uma

    planilha de descrio das atividades, conforme exemplo abaixo:

    Quadro 05 - modelo de plano de ao

    plano de ao do setor

    objetivo estratgico da organizao

    objetivo estratgico da rea

    meta: prazo: rea:

    indicador de desempenho:

    O que

    (What)

    Quem

    (Who)

    Quando

    (When)

    Onde

    (Where)

    Por que

    (Why)

    Como

    (Haw)

    Custo

    (How

    much)

  • 39 A ferramenta pode ser melhorada, acrescentando-se itens que se julgue

    necessrio, como percentual de realizao. H casos em que por muito

    simples, alguns itens podem ser eliminados.

    4.1. Ciclo PDCA e a Melhoria Contnua

    figura 01 conforme apostila do professor Alexandre IAVM

    O Ciclo PDCA foi originalmente desenvolvido na dcada de 1930, nos

    Laboratrios da Bell Laboratories nos EUA, pelo estatstico Walter A. Shewhart.

    Foi definido como um ciclo estatstico de controle dos processos que pode ser

    aplicado para qualquer tipo de processo ou problema. O mtodo foi

    popularizado na dcada de 1950, pelo tambm estatstico, W Ewards Deming,

    que o aplicou de forma sistemtica dentro de conceitos da Qualidade Total em

    seus trabalhos desenvolvidos no Japo (Apostila do Professor Mauri Gerhardt -

    UCAM)

    O PDCA pode ser definido como um valioso mtodo de controle e

    melhoria dos processos organizacionais que, para ser eficaz, deve estar

    disseminado e dominado conceitualmente e operacionalmente por todos os

    colaboradores da organizao.

    Orientado, a partir dos programas de Gesto da Qualidade, o mtodo do

    PDCA uma das ferramentas substanciais que alimentam o conceito estrutural

  • 40 dos requisitos dos Critrios Avaliativos do Modelo de Excelncia da FNQ, que o

    vincula como premissa da Qualidade e da Melhoria Contnua. A utilizao do

    PDCA tem sido amplamente defendida como uma forma de agregar valor ao

    produto ou servio, atravs da execuo dos quatro elementos inerentes ao

    mtodo Planejar, Executar, Controlar e Agir, conforme explicitado na figura.

    Fernando Gomiero descreve as fases do ciclo PDCA e o define como

    uma excelente ferramenta estratgica, cujo principal objetivo o de manter

    todas as atividades da empresa sob controle, tanto as operacionais como as

    administrativas. Um perfeito sincronismo entre os diferentes processos e

    etapas, que se relacionam entre si formando um todo, nico e integrado,

    garante o resguardo e a conservao dos padres de desempenho ideais.

    4.1.1. Fases do ciclo PDCA

    1. Planejamento: o incio de tudo. O passo que consiste em definir todas as

    metas e objetivos que a empresa pode atingir, assim como as formas, os meios

    e as ferramentas que sero usadas com vistas a alcanar o sucesso do

    empreendimento. uma fase crucial para todo o processo, pois a sero

    estabelecidos todos os caminhos e rotas a serem seguidos durante sua

    execuo.

    2. Desenvolvimento: a prpria execuo de tudo o que foi cuidadosamente

    elaborado, definido e detalhado durante a fase de planejamento, colocar em

    prtica toda a formulao das metas traadas, enfim, movimentar a locomotiva

    com todos os seus vages, utilizando as melhores ferramentas de gesto em

    busca dos melhores resultados. Nessa fase, os treinamentos e a disciplina dos

    colaboradores absolutamente indispensvel para uma execuo eficiente e

    eficaz de todo o plano, o que s ser possvel com descentralizao e

    comunicao com qualidade, que disponibilizem poderes e todas as

    informaes necessrias s cabeas pensantes, os estrategistas que iro

    trabalhar no projeto.

    3. Controle: o acompanhamento de toda a execuo do projeto, dos

    procedimentos e mtodos implementados, objetivando a compilao de dados

  • 41 para uma avaliao e anlise dos resultados alcanados em cada fase da

    execuo. De importncia fundamental no projeto, essa a etapa que vai

    possibilitar correes de desvios de rotas, adequao dos planos s mudanas

    imprevistas na conjuntura econmica e mercadolgica, mudanas de

    estratgias e aprimoramento de mecanismos de controle, alm de permitir a

    identificao de erros no planejamento original e corrigi-los em tempo de evitar

    maiores danos ao projeto.

    4. Ao: Fase que objetiva encerrar o ciclo com chave de ouro. o momento

    de se atuar sobre todo o sistema organizacional estimulando comportamentos

    e emoes que mantenham o alto astral e a motivao daqueles que foram os

    grandes responsveis pelo sucesso de todo o projeto. E criar mecanismos que

    assegurem a manuteno duradoura do clima de harmonia no ambiente de

    trabalho, o que, no final das contas, o que vai determinar a continuidade do

    sucesso, com aumento de produtividade e eliminao de desperdcios. E a

    concluso natural: conquista da excelncia empresarial e, qui, a liderana do

    mercado.

    A OSID um exemplo de instituio que utiliza o planejamento

    estratgico como ferramenta de gesto. Em entrevista, a representante da

    instituio declara que o compromisso com a melhoria contnua sempre existiu

    e se tornou ainda mais forte com a introduo do Sistema de Qualidade

    baseado na norma NBR-ISO 9001:2000. De acordo com o planejamento

    estratgico desta instituio, existe a inteno de que at o final do ano de

    2010 todos os ncleos sejam integrados ao SGQ. A entrevistada finaliza

    dizendo que o modelo vem sendo aprimorado, com foco no cliente e na

    melhoria contnua, tendo sido elaborado em 2005 o planejamento estratgico

    para cinco anos (2006-2010), o qual vem sendo executado. A representante da

    OSID declara ainda que o SGQ e o Planejamento Estratgico so importantes

    ferramentas de gesto para a implantao das melhorias, um em curto e outro

    no longo prazo. As aes do SGQ e do PE visam o fortalecimento do modelo

    de gesto da OSID, numa busca constante da eficincia e eficcia, em prol da

    melhoria contnua, perpetuidade da instituio com responsabilidade social,

  • 42 sem perder de vista a filosofia da fundadora e a preservao de seus ideais.

    Fica claro nesta fala a preocupao de uma instituio sem fins lucrativos de

    adaptar conceitos prprios do mercado ao seu modus operandi.

  • 43

    CAPTULO V

    OUTROS ELEMENTOS E CONCEITOS FUNDAMENTAIS GESTO DA

    QUALIDADE

    5.1. Mapeamento de Processos e Padronizao

    Antecedendo o planejamento, ou paralelo a ele, no pode ser deixado

    de lado o aspecto do estudo dos processos de trabalho da organizao, que

    levam a uma melhor definio daqueles que so necessrios e evita o

    retrabalho, pois bastante comum que mais de um setor ou mais de uma

    pessoa repitam tarefas que podem ser evitadas.

    As organizaes so sistemas complexos e as atividades nelas

    desenvolvidas so formadas por uma rede de processos que fazem interface

    umas com as outras. No existe processo na organizao que tenha comeo,

    fim e finalidade independentes de outros. Cada atividade precisa ser

    rigorosamente estudada para ser verificado qual a melhor fronteira com relao

    a outras atividades.

    Para delimitar os processos, podem ser adotadas as denominaes

    macroprocessos (os processos mais abrangentes da organizao), processos

    (as subdivises dos macroprocessos) e subprocessos (as subdivises dos

    processos). indispensvel que estudados os processos de trabalho os

    mesmos sejam pormenorizados, atravs de padronizao, ou seja, da

    descrio de cada passo para sua realizao, com o respectivo fluxograma,

    alm da definio das responsabilidades pela sua execuo.

    Todo este estudo e descrio permitem identificar os ns nas

    atribuies e forma de executar, possibilitando a eliminao de retrabalho, o

    que acarretar muito mais rapidez e produtividade. Importante ressaltar que

    trabalhar com processos de trabalho identificar a atividade com suas

    correlaes e no a pessoa que realiza determinados servios, devendo haver

    muito critrio, a fim de no se manter atividades apenas porque algum est

    preparado somente para realizar o que j realiza.

  • 44 5.2. Definio das Unidades Organizacionais e Organograma

    A organizao necessita ter uma definio formal da sua estrutura, ou

    seja, das unidades que a compem e como esto dispostas, como a

    hierarquia e as relaes de comunicao, assim como as atribuies de cada

    uma.

    O organograma a representao visual da estrutura. Permite que muito

    facilmente qualquer pessoa possa saber como a estrutura e a quem se dirigir

    em cada situao.

    5.3. Gesto de Pessoas e Treinamento

    No h organizao sem pessoas. Mtodo e planejamento no

    funcionam se no houver quem os execute. A alta administrao precisa ter

    conscincia deste fator e estabelecer transparncia na relao com o pessoal

    que trabalha na organizao, quer empregados, quer voluntrios. Necessrio

    ter a pessoa certa no lugar certo.

    A instituio filantrpica precisa ter clareza para lidar com esta questo,

    pois prestar servios voluntrios no significa fazer o que quiser e quando

    quiser. Mesmo o voluntrio tem que estar servindo no lugar certo e com

    compromissos estabelecidos. Muitas vezes a instituio tem dificuldades de

    criar limites com relao ao voluntrio. Neste sentido o estabelecimento de

    padres essencial, pois concede segurana a quem recebe os voluntrios de

    discutir com eles o interesse da instituio em ter seus servios.

    No h possibilidade de se estabelecer qualidade, de se efetivar

    qualquer planejamento, se dele no fizer parte a capacitao, alis, item

    previsto na Norma ISO. Assim, a capacitao necessria tanto para o

    exerccio das atividades desenvolvidas por cada colaborador, quanto sobre

    gesto da qualidade e ferramentas a ela inerentes. Deve, ainda, ir alm,

    havendo capacitao em reas diversas que possam vir a agregar valor

    organizao.

    indispensvel o envolvimento das pessoas com a organizao. Isto,

    aliado capacitao, pode produzir excelentes resultados. O envolvimento

  • 45 leva, ainda, as pessoas a procurarem seu aperfeioamento profissional mesmo

    fora da organizao, para com ela contribuir. Este aspecto foi constatado nas

    instituies pesquisadas, sendo exemplos uma coordenadora do projeto

    EducArte, da AMAS Sete Pontes, que, a fim de se integrar melhor ao projeto

    e vislumbrar com mais clareza suas necessidades, ingressou numa faculdade

    de pedagogia, s suas expensas (especificidade de instituies filantrpicas).

    Tal atitude no se deveu, entretanto, a um impulso individual, pelo contrrio, foi

    motivada pela percepo de que os voluntrios do Conselho Diretor2 estavam

    compromissados com a qualidade, no s do objetivo fim, mas da prpria

    gesto.

    Numa perspectiva semelhante a esta, uma representante das Obras

    Sociais Irm Dulce OSCID da Bahia, revelou que, com o treinamento mais

    efetivo dos profissionais envolvidos, eles passam a se sentir motivados com o

    desafio e se superam na execuo de suas atividades. Estes dois exemplos

    aparentemente simples confirmam a idia de que a assuno de um sistema

    de gesto mesmo em instituies que tradicionalmente se mantiveram parte

    deste processo de qualificao da gesto, tem o potencial de agregar um valor

    subjetivo ao trabalho dos profissionais. Se antes trabalhavam porque eram

    pagos para isso, agora trabalham para alcanar um ideal que tambm dele.

    Motivar os profissionais significa engaj-los efetivamente na causa de

    instituies filantrpicas.

    5.4 Eficincia, Eficcia e Efetividade

    Eficincia: a relao entre os produtos, bens e servios produzidos ou outros

    resultados atingidos por uma unidade ou entidade econmica, tendo em conta

    a quantidade e qualidade apropriada, e os recursos utilizados para produzi-los

    ou atingi-los; menor custo, maior velocidade, melhor qualidade.

    2 Nesta instituio a coordenao feita por um Conselho Diretor voluntrio eleito para um mandato de dois anos. No momento de minha pesquisa estava se iniciando um novo mandato. A coordenadora citada mencionou sua opo de cursar uma faculdade em funo da qualificao desse novo Conselho Diretor. Nas palavras dela: eu no queria ficar para trs, queria contribuir mais com o projeto.

  • 46 Eficcia: o grau em que uma organizao, programa, processo, projeto,

    operao, atividade, funo ou sistema atinge os objetivos da poltica, as metas

    operativas estabelecidas e outros resultados e efeitos previstos.

    Efetividade: Capacidade de atingir objetivos utilizando da melhor forma

    possvel os recursos disponveis. Pode ser compreendido ainda como a

    capacidade de ser eficaz (objetivos) e eficiente (usar bem os recursos) ao

    mesmo tempo .

    5.5. Reunio de Anlise Crtica

    a reunio que a alta administrao realiza junto com todos os

    colaboradores, em perodos programados, onde com base nos indicadores de

    desempenho e resultados, auditorias realizadas e em sugestes, so

    planejadas as melhorias contnuas. Esta reunio significa, ainda, um elemento

    motivador, na medida em que todos participam e podem expor suas idias e

    discutir a situao da organizao. Toda reunio deve gerar uma ata e do

    contedo da mesma deve tomar cincia aqueles que no tiverem participado

    da reunio.

    5.6. Ao corretiva, ao preventiva e oportunidade de melhorias

    Toda organizao ou processo de trabalho, por mais que esteja bem

    estabelecido, passvel de cometer desvios, assim como pode sempre

    melhorar. O importante perceber que as no conformidades so

    oportunidades de melhorias. fundamental, ainda, desvencilhar-se do velho

    conceito de culpa atribudo s pessoas quando algo no d certo. Se algo no

    est atendendo s expectativas, h falha no sistema que precisa ser revisto e

    replanejado. A ao corretiva a ao que se toma para corrigir as falhas do

    sistema quando j ocorreram. A ao preventiva aquela que enxerga o

    problema antes que ele ocorra e ento age para impedi-lo. As oportunidades

    de melhoria tudo quanto se vislumbra para melhorar o servio ou produto.

    O importante nas aes corretivas no apenas corrigir, mas investigar

    a causa e analisar porque ocorreu, a fim de evitar que se repita a mesma

  • 47 situao. Alm desses passos, aps algum tempo a eficcia da medida

    adotada verificada.

    5.7. Auditoria e Avaliao

    A auditoria a verificao da conformidade dos requisitos da norma e do

    planejamento da organizao, feita por pessoa independente o auditor. A

    auditoria pode ser interna e externa. Interna faz as verificaes a fim de

    informar sobre as conformidades e poder contribuir para a manuteno e

    melhoria do sistema. A auditoria interna pode ser feita por empregado para isto

    preparado, que no poder, no entanto, auditar sua prpria rea de trabalho,

    podendo, tambm ser realizada por auditor contratado.

    A auditoria externa, da mesma forma, verifica a conformidade do

    sistema, porm com objetivo de aprovar ou no a certificao ou sua

    manuteno. sempre realizada por auditor contratado e credenciado pela

    ISO. No modelo de excelncia a verificao feita por Avaliadores, ocorrendo

    primeiramente a auto-avaliao, que apresentada Fundao Nacional da

    Qualidade, atravs de relatrios, que so examinados, podendo os avaliadores

    item organizao para esclarecimentos e verificaes.

    5.8. Registros e Documentos

    A norma ISO extremamente exigente com o controle de documentos e

    registros, pois basicamente atravs deles que a organizao examinada.

    Toda organizao possui documentos e registros. Possui documentao

    relativa aos seus processos de trabalho, sua poltica e objetivos, que so

    documentaes prprias, assim como possui documentao legal e outras.

    Documentos podem ser alterados e devem, posto que precisam representar

    sempre a forma como as coisas so ou devem ser realizadas e como nada

    esttico, os documentos tambm mudam. No entanto indispensvel trabalhar

    com a segurana de que temos em mos a ltima verso de qualquer

    documento. Registro, no entanto, no pode ser alterado, pois representa a

    constatao de algo que aconteceu. Havendo mudanas outro dever ser

  • 48 concretizado, mas no pode ser alterado porque representa algo que j

    ocorreu.

    5.9. Comunicao: interna e externa

    Para o sucesso de um programa de gesto da qualidade, ou mesmo de

    outra qualquer atividade humana, a comunicao fator indispensvel. Ela

    precisa ser clara, precisa e atual, a fim de que todos, interna e externamente

    organizao no a utilizem de forma inapropriada ou deixem de ter

    conhecimento daquilo que importa ser conhecido.

    5.10. Fluxograma

    Diagrama para representao esquemtica de um processo de trabalho.

    Facilita, por sua forma prtica e visual, a execuo de uma atividade. uma

    das sete ferramentas da qualidade e indispensvel para a elaborao da

    padronizao das rotinas.

    5.11. Pesquisa de Satisfao

    Sendo a base da qualidade a satisfao do usurio, no h como

    conhecer os anseios dos mesmos e o seu grau de satisfao, sem que a eles

    seja perguntado. A instituio deve promover pesquisas de opinio e pesquisa

    de satisfao em perodos regulares. As pesquisas devem servir de base

    tanto para pequenas mudanas que podem ser imediatamente procedidas,

    quanto para o planejamento estratgico da organizao. Retorno sobre a

    possibilidade de atendimento s opinies deve ser dado aos usurios que se

    identificarem nas pesquisas. Igualmente importante haver canal regular para

    reclamaes de usurios. As reclamaes devem sempre receber tratativa e,

    assim como no caso das sugestes, aos usurios que se identificarem deve ser

    comunicado o tratamento dado reclamao. Reclamaes devem ser vistas

    como oportunidades de melhorias.

  • 49 CONCLUSO

    A literatura, a experincia e as narrativas das instituies pesquisadas

    demonstram que a fase inicial de implementao da gesto da qualidade no

    tarefa muito simples, requerendo determinao, tempo para reunies, para

    discusses, para o estudo e para a descrio dos processos de trabalho, para

    a mudana de cultura e de recursos financeiros.

    importante ao tomar a deciso de implantar a gesto da qualidade,

    que a organizao esteja consciente de tais dificuldades, certa, no entanto, dos

    benefcios futuros, j que a necessidade de melhor organizar-se para no

    sucumbir deve levar a instituio a encontrar uma forma de obter meios para

    implantar uma gesto eficiente. Sem documentao atualizada e registrada,

    sem balanos assinados, sem poder demonstrar o grau de eficincia e eficcia

    com que trabalha, no ter grandes possibilidades de conseguir convnios e

    parcerias.

    Um passo poderia ser conseguir consultores voluntrios para realizar a

    tarefa inicial e treinar empregados ou alguma empresa que financie este

    estgio inicial, como foi o caso da Casa Menino Jesus de Praga.

    Embora haja muitos modelos de gesto e certificaes que analisam

    resultados e no ferramentas, as instituies que tm se preocupado com a

    qualidade tm escolhido o modelo ISO. Afirmar a razo da escolha seria tema

    de outro trabalho, neste apenas constatao. Ressalte-se, no entanto, que a

    ISO mundialmente reconhecida e uma de suas exigncias modelagem dos

    processos de trabalho indispensvel tambm ao modelo de excelncia e

    mesmo a uma administrao que possa no seguir rigorosamente a nenhum

    dos modelos, mas que deseje estabelecer um bom padro de funcionamento.

    Segundo o IBGE na dcada de 90 foram criadas 139 mil novas

    Organizaes No Governamentais, mais que o dobro da dcada anterior, mas

    que por falta de gesto profissional poucas foram as que se mantiveram

    saudveis ou conseguiram cumprir sua misso. necessrio que as

    instituies filantrpicas e demais instituies do terceiro setor tenham o

    mesmo rigor na apresentao de metas, planejamento e racionalidade nos

    gastos que se cobra de governos e empresas que visam lucro. A nica maneira

  • 50 que uma instituio filantrpica tem para se manter gerir os recursos de

    forma profissional, no mais de forma amadora, sem prestar contas e sem

    apresentar retornos para a sociedade.

    Importante destacar que no s as 04 instituies estudadas, mas

    muitas outras j certificadas, desejam ter sobre si um olhar externo dos

    auditores ou avaliadores que possa lhes assegurar que esto no caminho

    certo ou ter indicativos do que fazer para melhorar. Este olhar externo

    exigncia das normas. Tais instituies querem ter declarado por organizaes

    externas no s que trabalham com eficincia, mas que trabalham com

    transparncia, no sendo assim confundida com tantas outras organi