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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA: ENFOQUE EM TEMPLOS DE QUALQUER CULTO Por: DENISE RAPOSO D’ASSUNÇÃO Orientador Prof. WILLIAM ROCHA Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA: ENFOQUE EM TEMPLOS DE

QUALQUER CULTO

Por: DENISE RAPOSO D’ASSUNÇÃO

Orientador

Prof. WILLIAM ROCHA

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA: ENFOQUE EM TEMPLOS DE

QUALQUER CULTO

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito

Público Tributário.

Por: Denise Raposo D‟Assunção

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus, que me deu vida e

a possibilidade de estar desenvolvendo

parte do potencial que Ele colocou dentro

de mim; Aos meus pais que são a razão

do meu viver e o meu porto seguro;às

minhas irmãs e sobrinhos que tornam

cada batalha e cada dia uma fonte

inesgotável de alegria; ao meu orientador

e amigo William e aos meus

companheiros de jornada: Leandro e

Alexandre.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu Pai, que se

manteve incansável nesta luta, de manter a

Igreja Cidade Santa em pleno funcionamento

e à minha Mãe por ser uma fortaleza de

mulher e um exemplo pra mim. Obrigada por

tornarem mais este sonho realidade. Amo

vocês!

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RESUMO

O presente tema é coberto por um manto de polêmicas, controversas,

preconceitos, extremismos, entre tantas outras práticas e teorias.

Sabe-se que, pouquíssimos doutrinadores se aprofundam, exploram,

discutem ou divulgam este tema. Fica a cargo dos Tribunais, em seus julgados, e

de militantes ou especialistas da área abordarem e trazerem luz à cerca do

assunto.

Embora seja uma Garantia Constitucional, a Imunidade Tributária dos

Templos de qualquer Culto não vem sendo, devidamente, observada pelos Entes

Federativos.

Ao longo dos anos, o assunto foi tão superficialmente tratado que, tanto o

Estado quanto os Operadores do Direito, encontram dificuldades na hora de

executar a determinação do Legislador, passando a recorrer aos Tribunais

Superiores.

Fazendo um apanhado de todo o material pesquisado, bem como visando

trazer mais luz ao assunto, porém certo de ser impossível abordar todas as

vertentes que o envolvem, é que nos propomos buscar uma análise prática às

questões relativas a Imunidade Tributária dos Templos de Qualquer Culto.

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METODOLOGIA

Como metodologia para elaboração deste trabalho, foram utilizadas

pesquisas bibliográficas e de legislação, envolvendo o levantamento, leitura e

analise de Leis, Normas e texto de diversos doutrinadores renomados, pesquisou-

se, ainda, em sites e revistas especializadas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - DA LIBERDADE RELIGIOSA 09

1.1 - UMA VISÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS 12

1.2 – O QUE DIZ A NOSSA CONSTITUIÇÃO 14

CAPÍTULO II - DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 16

2.1 - DA COMPETÊNCIA DOS TRIBUTOS 21

CAPÍTULO III – DO PATRIMÔNIO, RENDA E SERVIÇO 22

CAPÍTULO VI – A JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL FEDERAL 27

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA 40

SITES 41

ANEXO 42

ÍNDICE 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 44

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto demonstrar a importância e

efetividade das imunidades tributárias na limitação da competência tributária, ou

seja, impondo limites ao Poder de Tributar da União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, bem como para produzir a monografia para conclusão do curso de

Pós Graduação Latu Sensu em Direito Público e Tributário pela Universidade

Cândido Mendes.

Desde os primórdios da Criação o que diferencia o homem, dos demais

animais criados por Deus, é a busca pelo seu Criador, por se religar às suas

origens.

Este trabalho visa abordar a liberdade religiosa e mostrar o entendimento

dos nossos constituintes, no que tange à limitação do poder de tributar e à

valorização de determinadas atividades sociais, no nosso caso, especificamente,

o papel da Igreja, da fé na vida do indivíduo, sua crença em princípios e valores

que nortearão sua vida, seu comportamento, seus sonhos, enfim, o papel

fundamental da religião na sociedade. Veremos que não só a Constituição da

República Federativa do Brasil, mas, também, Doutrinadores, Juízes,

Desembargadores e Ministros vêem firmando posições favoráveis a cerca da

Imunidade Tributária para Templos de qualquer Culto.

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CAPÍTULO I - LIBERDADE RELIGIOSA

...Deus é maior que todos os obstáculos.

O direito à liberdade religiosa é um direito humano fundamental tutelado

pela nossa Constituição Federal de 1988.

Percebemos, de maneira clara, a preocupação do Estado em assegurar a

liberdade de manifestações religiosas das pessoas e preservar sua crença em

valores transcendentais, sendo-lhe vetada toda possibilidade de “embaraçar o

exercício de cultos religiosos”, nem mesmo através de impostos. A Constituição

garante, pois a liberdade de crença e a igualdade entre as crenças. Uma das

formas adotadas para impedir tal situação foi vedar a cobrança de qualquer

imposto sobre os templos de qualquer culto.

Com a descoberta dos Estados Unidos, houve, posteriormente, o interesse

de nesse Novo Mundo ou Novo Continente, como alguns doutrinadores preferem

denominar. Com o intuito de fazer normas para os Estados Unidos da América

totalmente adversas do país oriundo, os puritanos anglo-saxões, tiveram a

intenção de criar um Estado „mais liberal‟, onde fossem tutelados os Direitos

Humanos. Por isso, houve o surgimento da guarda dos Direitos Humanos, tanto

na Declaração de Independência dos Estados Unidos, como no Bill of Rigths.

Dispõe a primeira emenda constitucional americana, in verbis:

"Congresso não editará nenhuma lei instituindo uma religião,

ou proibindo o livre exercício dos cultos; nem restringirá a

liberdade de palavra ou de imprensa; ou o direito do povo de

reunir-se pacificamente, ou de petição ao governo para a

correção de injustiças". 1

Desta forma, se consagrou uma defesa clara e certa à liberdade religiosa.

1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade_religiosa

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As principais influências da introdução da Liberdade Religiosa à concepção

jurídica e ao Constitucionalismo Mundial são o iluminismo e a Revolução

Francesa.

Os princípios da Igualdade e da Liberdade foram previstos tanto no Bill of

Rights (1776), quanto na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

(1789).

Conforme previsão da ONU, nos dias atuais os Direitos humanos são

valores universais que atingiram o patamar de direitos humanos internacionais.

A Declaração Universal (1948), a Convenção Internacional sobre Direitos

Civis e Políticos (1966), a Declaração das Nações Unidas sobre a eliminação de

todas as formas de Intolerância e discriminação com base na Religião ou Crença

(1981) e, por fim, o documento final de Viena (1989) são os principais tratados

que servem como alicerce à Liberdade Religiosa Internacional.

O artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos discorre:

“Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento,

consciência, religião; este direito inclui a liberdade de mudar

de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa

religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela

observância,isolada ou coletivamente, em público ou em

particular”2.

Ruy Barbosa, em uma de suas grande obras, diz:

“De todas as liberdades sociais, nenhuma é tão congenial ao

homem, e tão nobre, e tão frutificativa, e tão civilizadora, e

tão pacífica, e tão filha do Evangelho, como a liberdade

religiosa”3.

A Liberdade Religiosa está prevista no artigo 5º da Constituição e é

considerada pela mesma, como Direito e Garantia Fundamental ao indivíduo. O

direito humano fundamental de primeira geração, a liberdade, é algo basilar ao

homem e aos Estados Democráticos.

2 www.liberdadereligiosa.org.br 3Idem

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No entanto, a existência do ser humano é baseada na sua autonomia, bem

como na sua capacidade de pensamento (homo sapiens = homem que pensa).

A liberdade religiosa é um método que visa expressar a capacidade de

consciência, onde cada indivíduo tem o direito de escolher sua religião ou não,

conforme suas convicções e crenças.

O Ilmo Doutrinador, Pinto Ferreira, entende que:

“a Liberdade Religiosa é o direito que tem o homem de

adorar a seu Deus, de acordo com sua crença e seu culto”4.

A liberdade religiosa é, segundo Pontes de Miranda, uma especialização

da liberdade de pensamento.

A liberdade, lato senso, está prevista logo no preâmbulo da nossa Lei

Maior. Como o Brasil almeja uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos é essencial que a liberdade esteja presente em nossas vidas,

incluindo, então, a liberdade religiosa.

O Estado Brasileiro por ser caracterizado por um Estado Laico, prevê em

sua Carta Magna de 1988, artigo 19, inciso I, que:

Artigo 19. “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,

embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou

seus representantes relações de dependência ou aliança,

ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse

público”.

O artigo 5º, caput, reza:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros

residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos

termos seguintes”5.

O artigo 5º, inciso VI, prevê, in verbis:

4 Pinto Ferreira. Curso de Direito Constitucional,p.102. 5 Constituição da República Federativa do Brasil

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“É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo

assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e

garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e

suas liturgias”6.

Já as próprias Escrituras Sagradas, desde os primórdios nos ensinam que:

“Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”7.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, em seu art. 18º

versa que todo homem tem direito à liberdade de pensamento, de expressão, de

consciência e de religião e de manifestar esta sua crença em público ou em

particular.

Conforme entende o Douto Pinto Pereira:

“Ninguém pode ser perseguido por motivo de religião, uma

vez que respeite a do Estado e não ofenda a moral pública.”

Infere-se, a partir daí, que a Imunidade Tributária dos Templos Religiosos

de qualquer culto advém do respeito à prática da liberdade religiosa.

1.1 – UMA VISÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS

A palavra Imunidade tem origem no latim immunitas, que quer dizer

“qualidade de não ser sujeito a algum encargo ou ônus”.

A Carta Magna, em seu artigo 150, estabeleceu as limitações ao poder de

tributar, estabelecendo as chamadas “IMUNIDADES” que estão descritas em seu

inciso VI, bem como, conferindo garantias aos contribuintes.

Podemos definir imunidade como a característica conferida pelo legislador

constituinte, na qual veda, por determinação constitucional, a formação da

obrigação tributária, ou seja, a realização do fato gerador. Desta Forma, estão

desobrigadas ao pagamento de impostos, as pessoas elencadas pela

6 Idem 7 Bíblia Sagrada, Evangelho São Mateus 22:21.

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Constituição Federal como imunes, não podendo, portanto, serem sujeito passivo

de obrigação tributária.

Do século XIII ao século XIX era proibida a tributação sobre a Igreja ( o

Clero) e sobre os nobres (o Senhorio). A tributação recaía sobre os pobres, de

forma extremamente onerosa, abusiva e arbitrária.

Uma das principais razões que culminaram com a Revolução Francesa, no

séc. XVIII, foi o fato de que os nobres e o clero se recusavam a pagar tributos,

tributos estes exigidos dos pobres, independentemente de sua capacidade de

fazê-lo.

Após este período houve algumas alterações quanto à imunidade da Igreja

(que perduraram até o Liberalismo): a não-tributalidade limitou-se à Igreja

Católica.

Com o advento do Estado Liberal, houve uma certa democratização das

imunidades, que deixaram de ser um privilégio para se tornarem uma garantia de

exoneração fiscal.

Somente com o advento do Liberalismo passou a haver a liberdade de

qualquer culto. Posteriormente limitou-se o poder tributário do Estado em favor do

interesse dos indivíduos, para, finalmente, chegar-se à imunidade dos cidadãos.

No Brasil as primeiras imunidades tributárias abrangiam apenas a Igreja e

o Senhorio. Na Constituição de 1824 houve a extinção da imunidade da nobreza,

quando , no artº. 179, item 15 preceituava-se:

”Ninguém será isento de contribuir para as despesas do

Estado em proporção de seus haveres.8”

A imunidade dos Templos de qualquer culto, que está definida em nossa

Constituição visa, na verdade, assegurar a garantia constitucional, que confere

aos cidadãos o direito à liberdade religiosa, que está contida no artº 5º - VI da

CR/88.

Esta imunidade surgiu com o rompimento entre a Igreja e o Estado, o que

aconteceu em meio à Proclamação da República, quando , segundo o Princípio

da Neutralidade,o Estado tornou-se laico, ou seja, não se identificando com

qualquer religião, garantindo, assim, o pluralismo religioso.

8 Constituição do Brasil de 1824

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Esta não-tributalidade faz com que o Estado não tenha como interferir na

escolha nem na prática de qualquer crença, até mesmo porque as atividades

religiosas não visam lucro e, esta prerrogativa conferida aos Templos de qualquer

culto, seria uma forma resguardar os principais interesses das Igrejas, a fim de

que elas não se disvirtuem, buscando interesses de cunho econômico e rentável.

Somos um Estado Democrático de Direito, alicerçado na dignidade da

pessoa humana, na cidadania, na soberania inalienável do Estado, no pluralismo

político, na livre iniciativa, nos valores sociais do trabalho; que tem, como uma de

suas garantias fundamentais, as liberdades asseguradas pela Democracia.

No artº 5º, VI da CF/88, é garantida a liberdade religiosa dos cidadãos,

independentemente do modo como ela ocorra, em termos de sua manifestação e

divulgação.

1.2 – O QUE DIZ A NOSSA CONSTITUIÇÃO

No preâmbulo da nossa Carta Magna de 1988, que instituiu o Estado

Democrático de Direito, baseado na igualdade de oportunidades e na livre

iniciativa econômica, temos, na verdade, a implantação de um Estado Liberal (que

garante a liberdade de livre iniciativa econômica) e Social (que garante a

igualdade de oportunidades).

A partir da orientação e direcionamento das atividades econômicas

privadas, a cobrança de tributos, em tal Sociedade, visa obter um retorno, em

forma de benefícios para os mais diversificados ramos da Sociedade.

Segundo o Prof. Ricardo Lobo Torres, o tributo é o preço que se paga pela

nossa liberdade, para que o Estado tenha como desenvolver atividades públicas

assim como também fornecer bens e serviços públicos para, assim, beneficiar

todos os seguimentos da Sociedade.

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A tributação permite uma melhor repartição das riquezas assim como o

desenvolvimento econômico social, além de ser um meio para que o Estado

obtenha recursos.

A limitação da atuação do Estado visa evitar uma tributação excessiva,

garantindo a todas as camadas da Sociedade direitos existenciais mínimos, que

preservem a dignidade dos seus cidadãos, enquanto seres humanos.

Desta forma a Constituição da República Federativa do Brasil de l988 veio

limitar a atuação do Estado através da concessão de imunidades, limitando seu

poder de tributar. Segundo alguns autores, as imunidades consistem num

instituto, de índole constitucional, que limitaria a própria competência tributária.

Lemos na Constituição Brasileira, de 1988, que o nosso país é uma

república fundamentada na dignidade humana, em que todos são iguais perante a

lei, e que é do povo que emana todo poder, poder este exercido através de seus

representantes eleitos e que, seu direito à vida , à liberdade, à liberdade de

consciência e de crença, à segurança, à igualdade e à propriedade dos que

aqui residem, são invioláveis.

Ninguém poderá ser privado dos seus direitos em razão de convicções

políticas, filosóficas ou por causa de sua crença.

O ICMS, é, sem dúvida, a incidência mais onerosa para as instituições

religiosas, que incide sobe o consumo de energia elétrica, telecomunicações,

água e sobre todas as demais compras realizadas pelos Templos de qualquer

culto.

A Constituição Federal, em seu artigo 150, é bastante clara quando

específica que, a Imunidade Tributária para Templos de qualquer culto está

relacionada ao seu patrimônio, a renda e os serviços.

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CAPÍTULO II - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

A imunidade é, por seus efeitos, uma limitação constitucional ao poder de

tributar. Há, ainda, no texto constitucional, de modo não exaustivo, outras

limitações: princípio da legalidade, da anterioridade, da igualdade, da vedação do

confisco, etc.

Registre-se o ensinamento de Roque Antônio Carrazza:

“A expressão imunidade tributária tem duas acepções:

Uma, ampla, dignificando a incompetência da pessoa

política para tributar: a) pessoas que realizam fatos que

estão fora das fronteiras do seu campo tributário; b) sem a

observância dos princípios constitucionais tributários, que

formam o chamado estatuto do contribuinte; c) com efeito de

confisco; d) de modo a estabelecer limitações ao tráfego de

pessoas ou bens (salvo o hipótese do pedágio); e)

afrontando o princípio da uniformidade geográfica; e)

fazendo tábua rasa do princípio da não-discriminação

tributária em razão da origem ou do destino dos bens.

E, outra, restrita, aplicável às normas constitucionais

que, de modo expresso declararam ser vedado às pessoas

políticas tributárias determinadas pessoas, que pela

natureza jurídica que possuem, quer pelo tipo de atividade

que desempenham, quer, finalmente porque coligadas a

determinados fatos, bens ou situações.

Em sua acepção ampla, a expressão 'imunidade

tributária' alcança quaisquer tributos: impostos, taxas e

contribuição de melhoria. Em sua acepção restrita, apenas

os impostos.9”

9 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário, 16ª edição revista,

ampliada e atualizada até a EC nº 31/2000, Malheiros Edit, ores 2001, p. 600-601.

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Dele não diverge Hugo de Brito Machado:

“A Constituição afirma, é certo, que a imunidade não é uma

limitação da competência tributária porque não é posterior

Imunidade é o obstáculo decorrente da regra da Constitui de

competência importa uma limitação e se a regra que imuniza

participa da demarcação da competência tributária, resulta

evidente que a imunidade é uma limitação dessa

competência.

O Importante é notar que a regra da imunidade estabelece

exceção define o âmbito do tributo, vale dizer, o campo

dentro do qual pode o legislador definir a hipótese de

incidência da regra de tributação. A regra de imunidade

retira desse âmbito uma parcela, que torna imune. Opera a

regra imunizante, relativamente ao desenho constitucional

do âmbito do tributo, da mesma forma que opera a regra de

isenção relativamente à definição da hipótese de incidência

tributária.10”

Em publicação intitulada “Imunidades Tributárias”, Ives Gandra da Silva

Martins leciona:

“A imunidade, portanto, descortina fenômeno de

natureza constitucional que retira do poder tributante o

direito de tributar, sendo, pois, instrumento de política

nacional que transcende os limites fenomênicos da

tributação ordinária. Nas demais hipóteses desonerativas,

sua formulação decorre de mera política tributária de poder

público, utilizando-se de mecanismo ofertados pelo Direito.

Na imunidade, portanto, há um interesse nacional

superior a retirar, do campo de tributação, pessoas,

situações, fatos considerados de relevo, enquanto nas

10 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 20ª edição revista atualizada e ampliada

de acordo com as EC 32 e 33/2001, Malheiros Editores, 2002, p.24l-242.

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demais formas desonerativas há apenas a veiculação de

uma política transitória, de índole tributária definida pelo

próprio Poder Público, em sua esfera de atuação.11”

Evidencia, pois, Ives Gandra, que a imunidade, nas hipóteses

constitucionais:

“constituio instrumentoque o constituinte considerou

fundamental para, de um lado, manter a democracia, a

liberdade de expressão e a ação dos cidadãos e, por outro

lado, atrair os cidadãos a colaborarem com o Estado, nas

suas atividades essenciais, em que, muitas vezes, o próprio

Estado atua mal ou insuficientemente, como na educação,

na assistência social etc.12”

Ao referir-se à expressão “rendas relacionadas com as finalidades

essenciais”, constante do § 4º do art. 150 da Constituição Federal, Ives Gandra

afirma:

“O § 4º, todavia, ao falar em atividades relacionadas, poderá

ensejar a interpretação de que todas elas são relacionadas,

na medida em que destinadas a obter receitas para a

consecução das atividades essenciais.

Como na antiga ordem, considero não ser esta a

interpretação melhor na medida em que poderia ensejar

concorrência desleal proibida pelo art. 173, § 4º da Lei

Suprema.

Com efeito, se uma entidade imune explorasse atividade

pertinente apenas ao setor privado, não haveria a barreira e

ela teria condições de dominar mercados e eliminar a

concorrência ou pelo menos obter lucros arbitrários, na

medida em que adotasse idênticos preços de concorrência

mas livre de impostos.

Ora, o Texto Constitucional atual objetivou, na minha

opinião, eliminar, definitivamente, tal possibilidade, sendo 11 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Imunidades Tributárias, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais: Centro de Extensão Universitária, 1998. Pesquisas tributárias. Nova Serie, nº 4, pág. 32 12 Op. cit., p. 32

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que a junção do princípio estatuído nos arts. 173, §4º e 150,

§ 4º, impõe a exegese de que as atividades, mesmo que

relacionadas indiretamente com aquelas essenciais das

entidades imunes enunciados nos incs. b e c do art. 150, VI,

se forem idênticas ou aná1ogas às de outras empresas

privadas, não gozariam de proteção imunitária.

Exemplificando:se uma entidade imune tem um imóvel e o

aluga. Tal locação não constitui atividade econômica

desrelacionada de seu objetivo nem fere o mercado ou

representa uma concorrência desleal. Tal locação do imóvel

não atrai, pois, a incidência do IPTU sobre gozar a entidade

de imunidade para não pagar imposto de renda.

A mesma entidade, todavia, para obter recursos para suas

finalidades decide montar uma fábrica de sapatos, porque o

mercado da região está sendo explorado por outras fábricas

de fins lucrativos, com sucesso. Nessa hipótese, a nova

atividade, embora indiretamente referenciada, não é imune,

porque poderia ensejar a dominação de mercado ou

eliminação de concorrência sobre gerar lucros não

tributáveis exagerados se comparados com os de seu

concorrente”13.

O Profº. Ives assinala que:

“por esta linha de raciocínio todos os lucros e ganhos de

capital obtidos em aplicações financeiras e destinados às

finalidades das entidades imunes são rendimentos e ganhos

imunes. É de se entender que o §4º é um complemento do §

3º, assim redigido: As vedações do inciso VI, a, e, do

parágrafo anterior não se aplicam a patrimônio, à renda e

aos serviços relacionados com exploração de atividades

econômicas regidas pelas normas aplicáveis a

empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação

ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem

13 Op. cit., p. 45-48

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exonera o promitente comprador da obrigação de pagar

imposto relativamente ao bem imóvel.14”

Ives conclui:

“O que vale dizer que apenas se as atividades puderem

gerar concorrência desleal ou as finalidades das entidades

imunes não forem beneficiadas por tais resultados é que a

tributação se justifica, visto que, de rigor, tais atividades

refogem ao campo de proteção tributária que o legislador

supremo objetivou ofertar a essas finalidades da

sociedade”15.

Hugo de Brito Machado entende que “imunidade é o obstáculo decorrente

de regra da Constituição à incidência de regra jurídica de tributação. O que é

imune não pode ser tributado.16”

Para finalizar, vale destacar a opinião de Gustavo Tepedino que afirma

que:

“ao conceder uma imunidade, a Constituição não está

concedendo um benefício, mas tutelando um valor jurídico

tido como fundamental para o Estado. Daí porque a

interpretação das alíneas do art. 150, VI, da Constituição

Federal de 1988 deve ser ampla e teleológica, nunca

restritiva e literal‟17.

14 Op. Cit., p. 46 15 Op. Cit., p. 46 16 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p.241 17 TEPEDINO, Gustavo. Aspectos Polêmicos do Tratamento Fiscal Conferido aos Templos e às Entidades de Fins Religiosos. Revista da Procuradoria-Geral da República. N. 5,1994.

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2.1 – DA COMPETÊNCIA DOS TRIBUTOS

Na esfera Municipal: IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano, ITBI –

Imposto sobre Transferência de Bens Imóveis e ISS – Imposto sobre Serviços;

Na esfera Estadual e Distrito Federal: ICMS - Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços e IPVA – Imposto sobre a Propriedade de Veículos

Automotores;

Na esfera Federal (União): II – Imposto de Importação, IPI – Imposto sobre

Produtos as, IOF – Imposto sobre Operações Financeiras.

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CAPÍTULO III – DO PATRIMÔNIO, RENDA E SERVIÇO

O patrimônio dos Templos de qualquer culto compreende todas as suas

propriedades, capelas, veículos, templos, computadores, máquinas,

equipamentos diversos, equipamentos de som, edifícios, móveis e utensílios,

desde que necessários e utilizados na atividade religiosa.

A renda dos Tempos de qualquer culto se constitui dos dízimos, das

ofertas, das contribuições e doações recebidas, valores recebidos por serviços

prestados, tais como, casamentos, batismos, pela venda de produtos (DVD‟s,

CD‟s, Livros, revistas e manuais) e qualquer outro objeto cujo resultado da venda

é utilizado para as atividades essenciais ao culto religioso.

Os serviços dos Templos de qualquer cultos, compreendem as atividades

pelas quais as Igrejas são remuneradas em troca da prestação de serviços, que

podem ser, casamentos, batizados, bênçãos ou qualquer outra atividade de

serviço prestada pela entidade religiosa, e ainda, os templos de qualquer cultos

são imunes aos impostos na contratação de serviços, na contratação de

prestação de serviços para atender suas mais diversas necessidades, tais como

reformas de seus edifícios, manutenção, limpeza, segurança, etc.

O artigo 150 da Constituição Brasileira de 1988, não deixa qualquer dúvida

no que tange a abrangência do beneficio da Imunidade Tributária. Contudo, a

tendência natural das entidades arrecadadoras, tais como: a União, os Estados e

os Municípios, como não poderia deixar de ser, é se fazer de desentendida,

tentando influenciar as entidades beneficiadas pela Imunidade Tributária para

Templos de qualquer culto, dizendo que a aplicação é limitada, é restrita a apenas

alguns impostos.

Não fazem parte da Imunidade Tributaria para Templos de qualquer culto,

as contribuições, como por exemplo, a CPMF, PIS e Cofins, apenas pelo fato de

não serem “impostos” (são contribuições).

Assim como, não está contemplada pela Imunidade Tributária para

Templos de qualquer culto, as taxas, como por exemplo, a taxa de lixo, apenas

pelo fato de não serem “impostos” (são Taxas);

É necessário para que os Templos de qualquer culto possam gozar

do beneficio da Imunidade Tributária, que o seu “Patrimônio” esteja em seu nome,

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provando a titularidade ou propriedade. Para caracterização de Imunidade

Tributária para os Templos de qualquer culto, todas as compras, aquisições e

contratações de serviços devem ser realizadas ou contratadas em nome da

Igreja.

No caso de imóveis alugados, o contrato de locação em nome da Igreja é

suficiente para justificar o benefício da Imunidade Tributária para Templos de

qualquer culto.

A residência do Pastor, Padre ou líder religioso, desde que seja de

propriedade da Igreja ou alugada em nome desta, também é beneficiada pela

Imunidade Tributária para Templos de qualquer culto.

Patrimônio, renda e serviços do templo religioso, enquadra-se no texto da

lei quanto a Imunidade Tributária para Templos de qualquer culto.

Importa-nos, somente a hipótese de imunidade tributária estabelecida pelo

art. 150, VI, “b” e “e”, e o § 4º da Constituição Federal de 1988, na mesma direção

das anteriores.

Alguns doutrinadores defendem a posição de que, a interpretação da

imunidade tributária dos templos, é restritiva.

O clássico Aliomar Baleeiro escreveu que:

“a produção dos efeitos da imunidade dos templos de

qualquer culto depende de “interpretação sem distinções

sutis nem restrições mesquinhas”. Para ele, o “culto não tem

capacidade econômica. Não é fato econômico”. Assim, não

se devem considerar templo “apenas a igreja, sinagoga ou

edifício principal, onde se celebra a cerimônia pública, mas

também a dependência acaso contígua, o convento, os

anexos por força de compreensão, inclusive a casa ou

residência do pároco ou pastor, desde que não empregados

em fins econômicos”. Em obra anterior, “O Direito Tributário

da Constituição Financeira”, RJ, 1959, p. 182, Baleeiro

enfatiza que “o templo se integra de tudo o que é

necessário, compatível ou complementar, sejam outros

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edifícios anexos, sejam instalações e pertences, para esse

fim”18.

Designadamente, quanto à alínea “b” do inciso VI do art. 150, da

Constituição, discorre Carrazza:

“São igualmente imunes à tributação por meio de impostos

os templos de qualquer culto, conforme estipula o art. 150,

VI, 'b”, da CF.

Esta imunidade, em rigor, não alcança o templo

propriamente dito, isto é, o local destinado a cerimônias

religiosas, mas, sim, a entidade mantenedora do templo, a

igreja.

Em razão disso, é o caso de, aqui, perguntarmos: que

impostos poderiam alcançar os templos de qualquer culto se

inexistisse este dispositivo constitucional? Vários impostos,

apressamo-nos em responder.

Sobre o imóvel onde o culto se realiza incidiria o imposto

predial e territorial urbano (IPTU); sobre o serviço religioso, o

imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS); sobre as

esmolas (dízimos, espórtulas, doações em dinheiro etc.), o

imposto sobre a transmissão 'inter vivos', por ato oneroso,

de bens imóveis (ITB1); e assim avante.

Nenhum destes impostos - nem qualquer outro - pode incidir

sobre os templos de qualquer culto, em conseqüência da

regra imunizante agora em estudo.

É fácil percebermos que esta alínea “b' visa a assegurar a

livre manifestação da religiosidade das pessoas, isto é, a fé

que elas têm em certos valores transcendentais. As

entidades tributantes não podem, nem mesmo por meio de

impostos, embaraçar o exercício de cultos religiosos. A

Constituição garante, pois, a liberdade de crença e a

igualdade entre as crenças (Sacha Calmon Navarro Coelho). 18 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar”, Forense, RJ, 1977, p. 176

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Umas das fórmulas encontradas para isto foi justamente

esta: vedar a cobrança de qualquer imposto sobre os

templos de qualquer culto.19”

O texto constitucional ao ser lido e compreendido, na linha preconizada,

entende-se que, o dispositivo do art. 150, VI, “b”, há de ser lido com o vetor

interpretativo do §4º deste mesmo artigo da Constituição. Vez que a letra “'b” se

refere apenas à imunidade de “templos de qualquer culto”; a letra “c', ao

“patrimônio, renda ou serviço”. Por isso, o disposto no § 4º alcança o patrimônio, a

renda ou serviços dos templos de qualquer culto, em razão da equiparação entre

as letras “b” e “c”.

Conclui-se que, o patrimônio, a renda e os serviços dos templos de

qualquer culto, desde que destinadas às suas funções essenciais não podem ser

tributadas.

Nesta mesma linha de raciocínio, ao proferir o seu voto no Recurso

Extraordinário nº 325.822-2 SP, o eminente Ministro Marco Aurélio ao presidir o

Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal, assim o fez:

“Peço vênia também ao eminente relator para acompanhar a

dissidência, pois acredito piamente no que previsto no

Código de Direito Canônico de 1983, editado quando do

Papado de João Paulo II.

Os bens, no caso, são destinados à finalidade do

próprio templo. Não vejo, na espécie, uma pertinência maior,

considerada a necessidade de distinguirem-se institutos, do

disposto no artigo 19 da Constituição Federal, porque esse

artigo, ao vedar à União, aos Estados, ao Distrito Federal e

aos Municípios subvencionar cultos, pressupõe um ato

positivo, um aporte, uma vantagem que seja outorgada, e,

no tocante à imunidade, não há esse aporte.

19 CARRAZZA, Roque Antônio, Op. cit., p. 618

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Ressaltou bem o ministro Moreira Alves que a Carta de

1988 trouxe a novidade do §4º do artigo 150, sobre as

vedações expressas no inciso VI, e, aí, houve referência

explícita à alínea “b”, que cogita da imunidade quanto aos

templos de qualquer culto. De acordo com o citado §4º, tais

vedações compreendem o patrimônio, a renda e os serviços

relacionados de forma direta “com as finalidades essenciais

das entidades nelas mencionadas. Havendo, portanto, o elo,

a destinação, como versado nos autos, não se tem como

afastar o instituto da imunidade.20”

Uma vez ressaltado o destino de cada um dos itens acima, ou seja,

patrimônio, renda e serviços, como diretamente ligados às atividades das

entidades imunes, não há como cancelar o instituto da Imunidade.

20 Recurso Extraordinário nº 325.822-2 SP, o eminente Ministro Marco Aurélio ao presidir o Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal

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CAPÍTULO IV – A JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR

TRIBUNAL FEDERAL

Recurso Extraordinário 325.822-2/SP

Não se desconhece que nossa Suprema Corte chegou a adotar, sobre o

tema em estudo, uma linha restritiva, que foi consagrada em antigo precedente

daquela Corte, o Recurso Extraordinário 21.826, julgado na sessão de 02 de julho

de 1953, onde se considerou imune somente o imóvel no qual estivesse instalado

o templo. Assim restou ementado este julgado: “A imunidade estatuída no art. 31,

5, letra b da Constituição, é limitada, restrita, sendo vedado à entidade tributante

lançar impostos sobre templo de qualquer culto, assim entendidos a igreja, o seu

edifício, e dependências. Um lote de terreno, isolado, não se pode considerar o

solo do edifício do templo”.

Deve-se destacar que este vetusto acórdão foi esquadrinhado sob o texto

da Constituição Federal de 1946, o qual continha a mesma redação da atual

alínea b do inciso VI do artigo 150 da Carta Política de 1988.

Contudo, desde aquele julgamento, ocorrido na década de 50 do século

passado, a Suprema Corte veio evoluindo seu pensamento, sofrendo os reflexos

do vertiginoso progresso tecnológico que desencadeou severas mudanças nos

contextos econômico, social e político de todo o planeta, de forma que a linha

restritiva quanto à imunidade foi gradativamente abandonada, passando o

Supremo Tribunal Federal a adotar postura mais liberal e ampliativa.

Assim, pode-se verificar mais recentemente julgados daquela Corte

Excelsa que reconheciam o benefício da imunidade, com relação ao IPTU, ainda

que sobre imóveis locados (RE 257.700, julgado em 13/06/2000), ou utilizados

como escritório e residência de membros da entidade imune (RE 221.395, julgado

em 08/02/2000).

Ressalta-se, ainda, julgados relativos à imunidade sobre o ISS, ainda que

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sobre preço cobrado em estacionamento de veículos (RE 144.900, 22/04/1997) e

quanto à renda obtida pelo Serviço Social do Comerciário – SESC na prestação

de serviços de diversão pública (Agravo Regimental no AG 155.822, julgado em

20/09/1994).

O caso atual mais emblemático, contudo, que ficou conhecido como o

leading case da adoção da postura mais ampliativa quanto à imunidade dos

templos de qualquer culto, é o julgamento do Recurso Extraordinário 325.822-

2/SP, ocorrido em 18 de dezembro de 2002, devendo-se anotar que havia, à

época, uma natural ansiedade da comunidade jurídica quanto à postura que seria

adotada pela mais alta Corte do País sobre tema tão relevante.

Os detalhes fáticos que permearam este julgamento são importantes para

a compreensão da amplitude da decisão do Pretório Excelso.

No caso sob exame, a Diocese de Jales e três paróquias insurgiram-se

contra acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que

restringiu a imunidade dos templos de qualquer culto aos imóveis em que são

feitas as celebrações religiosas e às dependências que servem aos fiéis,

excluindo, todavia, da garantia constitucional, os centros pastorais ou de

formação humano-religiosa, os locais de reunião e administração, as residências

dos padres e religiosos encarregados dos trabalhados da igreja, bem como os

imóveis alugados para arrecadar fundos para o cumprimento dos objetivos

estatutários da instituição.

O Relator originário do recurso extraordinário, Ministro Ilmar Galvão,

distinguiu em seu voto a imunidade contida na alínea c daquela inserida na alínea

b do inciso VI do artigo 150 da Constituição Federal e finalizou dizendo que os

lotes vagos e prédios comerciais dados em locação e que não estão relacionados

às finalidades do culto devem ser tributados, não merecendo a garantia

imunizante:

“Com efeito, esta Corte, por ambas as Turmas, tem

reconhecido o benefício

da imunidade com relação ao IPTU, ainda que sobre

imóveis locados (RE 257.700) ou utilizados como escritório

e residência de membros de entidade (RE 221.395), e com

relação ao ISS, ainda que sobre o preço cobrado em

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estacionamento de veículos (RE 144.900) ou sobre a renda

obtida pelo SESC na prestação de serviços de diversão

pública (AGRAG 155.822).

Só que, em todos esses casos – e em outros semelhantes

– o apelo extremo foi processado sob a alínea c do

dispositivo constitucional acima citado, que veda a

instituição de impostos sobre “patrimônio, renda ou

serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações,

das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições

de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,

atendidos os requisitos da lei”.

No presente caso, contudo, a alínea invocada, desde a

propositura da ação, é a b (“templos de qualquer culto”),

repousando unicamente sobre ela – que

foi devidamente prequestionada – a discussão do tema.

Sendo assim, não socorre às recorrentes a interpretação

ampliativa que este Tribunal vem imprimindo à matéria sob

o pálio da alínea c, mesmo porque seria extremamente

difícil identificar no conceito de templo, de sentido unívoco,

“lotes vagos e prédios comerciais dados em locação”.

Confira-se o magistério de Hely Lopes Meireles, em que se

espelhou a decisão recorrida (...)

Com efeito, referindo-se o § 4º do art. 150 às imunidades

das letras b e c do inciso VI do mencionado dispositivo, é

fora de dúvida que, no tocante à letra b, há de ser

interpretado no sentido de aplicar-se “no que couber”, isto

é, entender-se que a imunidade, no caso, compreende não

apenas os bens patrimoniais que compõem o templo de

qualquer culto com os seus anexos, como a casa paroquial,

a casa de residência do vigário ou pastor, jardins e áreas

de estacionamento, contíguas, mas também as rendas

resultantes das contribuições dos fiéis e a remuneração

eventualmente cobrada por serviços religiosos a estes

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prestados, porquanto relacionados, todos, com as

finalidades do culto.

Portanto, como a discussão, no presente caso, limita-se à

referida alínea b e envolve apenas os “lotes vagos e

prédios comerciais dados em locação” – que foram os bens

excluídos beneficio pelo acórdão recorrido – deve este ser

confirmado, porque em harmonia com o sentido do texto

constitucional. Ante o exposto, meu voto não conhece do

recurso”21.

O Ministro Gilmar Mendes divergiu do relator, começando sua exposição a

partir do conceito de imunidade, considerando-a como limitação ao poder de

tributar do Estado. Em seguida, destacou outras limitações, como os princípios da

legalidade, da anterioridade, da igualdade e da vedação do confisco, que estão

contidas de modo não exaustivo na Constituição Federal.

Em seguida, o Ministro cita o jurista Ives Gandra, para quem a imunidade

representa o instrumento que o constituinte considerou fundamental para, de um

lado, manter a democracia, a liberdade de expressão e a ação dos cidadãos e,

por outro lado, atrair os cidadãos a colaborarem com o Estado, nas suas

atividades essenciais, em que, muitas vezes, o próprio Estado atua mal ou

insuficientemente, como na educação ou na assistência social.

No mesmo diapasão, afirma o Ministro Gilmar Mendes, seguindo o

raciocínio de Ives Gandra, que todos os lucros e ganhos de capital obtidos em

aplicações financeiras e destinados às finalidades das entidades imunes são

rendimentos e ganhos imunes, entendendo-se que o § 4º do artigo 150 da

Constituição Federal é um complemento do § 3º do mesmo dispositivo, restando,

contudo, circunscrita a imunidade dos templos de qualquer culto tão-somente aos

impostos.

Finalizando, destaca o Ilustre Ministro a existência de corrente restritiva

sobre o tema em exame, mas conclui seu voto divergente adotando a corrente

contrária:

21 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RE nº. 325.822-2/SP. Relator designado para acórdão:

Ministro Gilmar Mendes. Brasília, DF, 18 dez. 2002. DJ de 28.4.89, p. 6.295.

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“Pois bem. Ao fazer uma leitura compreensiva do texto

constitucional, na linha preconizada pelo Moreira Alves,

entendo que, de fato, o dispositivo do art. 150, VI, “b”, há de

ser lido com o vetor interpretativo do § 4º deste mesmo

artigo da Constituição. Vê-se, pois, que a letra “b” se refere

apenas à imunidade dos “templos de qualquer culto”; a letra

“c”, ao “patrimônio, renda ou serviço”. Portanto, o disposto

no § 4º alcança o patrimônio, a renda ou serviços dos

templos de qualquer culto, em razão da equiparação entre

as letras “b” e ”c”. Nestes termos, dou provimento ao recurso

extraordinário”.

Logo após o Ministro Gilmar Mendes, votou a Ministra Ellen Gracie, que

acompanhou o relator, nos seguintes termos:

“Sr. Presidente, entendo que o princípio da separação entre

Estado e Igreja não admite estender a isenção do patrimônio

imóvel pertencente a qualquer dos cultos permitidos. A

isenção que alcança os templos diz respeito tão somente ao

local de reunião dos fiéis e, no máximo, às casas anexas

destinadas à congregação religiosa que mantém esse culto.

Então, incluem-se os claustros, pátios, estacionamentos,

enfim, as área adjacentes do templo.

Se houver, no caso, outras propriedades destinadas à

locação, ou mesmo a outras atividades, como, por exemplo,

à assistência social ou à educação, elas serão tributadas ou

isentas, mas, aí, pelo disposto na letra “c” do art. 150, desde

que utilizadas, elas ou as rendas dela provenientes,

exclusivamente para as finalidades beneficentes sem fins

lucrativos. Assim entendendo, acompanho o eminente

Ministro-Relator”.

Em seguida, votou o Ministro Nelson Jobim, que divergiu do entendimento

esposado pelo Relator e pela Ministra Ellen Gracie, afirmando:

Sr. Presidente, peço vênia ao Relator e à Ministra Ellen

Gracie, tendo em vista exatamente o § 4º do art. 150 da

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Constituição Federal, que, estabelecendo a trilogia

patrimônio-renda-serviços relacionados, no caso específico,

à finalidade religiosa, não à assistencial, estenderia a

isenção a esse patrimônio.

Não me comprometo com a restrição da tese geral –

pois esses casos devem ser examinados concretamente,

caso a caso – no sentido de afirmar que todas as rendas

sejam destinadas a atividades religiosas. No exemplo dado

pelo

Ministro Sepúlveda Pertence, na hipótese de o

estacionamento ser gratuito ou não, dependendo da

destinação da renda, eu poderia isentá-la se ela vinculasse

exclusivamente a uma atividade relativa ao templo, já que

haveria ônus, despesa de manutenção. Não estou me

referindo ao terreno, mas à renda, pois há determinadas

entidades, assistenciais inclusive, definidas na letra “c”, que,

para manterem essas funções, devem prestar determinado

tipo de atividade econômica para produzir renda. Há

decisões no Tribunal que não dão isenção às rendas

oriundas dessas atividades, as únicas que possuem a

manutenção daquela entidade assistencial, criando uma

certa dificuldade. Neste caso específico, acompanho a

divergência iniciada pelo Ministro Moreira Alves.

O Ministro Maurício Corrêa, na ordem de julgamento, acompanhou a

divergência do Ministro Gilmar Mendes, ressaltando, contudo, que ela havia sido

suscitada anteriormente pelo Ministro Moreira Alves.

Acompanhando o Relator, o Ministro Carlos Velloso discorreu sobre a

necessidade dos bens e receitas atingidos pela imunidade estarem relacionados

com as atividades do culto, prestigiando, assim, a corrente mais restritiva sobre o

tema:

Sr. Presidente, a imunidade tributária do art. 150, VI, b, da

Constituição Federal, é para os templos de qualquer culto.

Já a imunidade da alínea c do mesmo inciso e mesmo

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artigo, é para o patrimônio, renda ou serviços das

instituições de educação e de assistência social, sem fins

lucrativos, atendidos os requisitos da lei.

A norma, pois, inscrita no § 4º do citado art. 150 deve ser

entendida nos seus exatos limites. Com efeito. Estabelece o

§ 4º do art. 150:

“§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c,

compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços

relacionados com as finalidades essenciais das entidades

nela mencionadas”.

Estamos examinando a imunidade da alínea b: templos de

qualquer culto.Indaga-se: quais são as finalidades

essenciais dos templos de qualquer culto? É fácil responder:

são aquelas relacionadas com as orações, com o culto.

Então, o edifício, a casa, o prédio, onde se situa o templo,

onde se fazem as orações, onde se realiza o culto, está

coberto pela imunidade. A renda ali obtida, vale dizer, os

dízimos, as espórtulas, a arrecadação de dinheiro realizada

durante o culto e em razão deste, estão, também, cobertas

pela imunidade tributária. O mesmo pode-se dizer dos

serviços que, em razão do culto, em razão da finalidade

essencial do templo, são prestados. O estacionamento para

automóveis, vale dizer, o terreno destinado ao

estacionamento dos automóveis dos fiéis, os serviços ali

prestados pelo templo, estão abrangidos pela imunidade.

Agora, Sr. Presidente, dizer que imóveis espalhados pelo

município, situados na diocese, na circunscrição territorial

sujeita à administração eclesiástica, de propriedade desta,

esses imóveis não estão abrangidos pela imunidade do art.

150, VI, b, porque não estão relacionados com as finalidades

essenciais do templo, convindo esclarecer que o templo, e a

imunidade é para o templo, não é proprietário de bens

imóveis. A Igreja, a seita, seja lá que nome tenha, que

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administra o templo, é que pode ser proprietária. Imóveis,

portanto, pertencentes à administração eclesiástica, à mitra,

ao bispado, não estão cobertos pela imunidade do art. 150,

VI, b. Volto a repetir: somente o que estiver relacionado com

o templo, o local onde se realiza o culto, por isso que, bem

disse o Ministro Pertence, a imunidade do art. 150, VI, b,

está substantivada no templo, é que é imunizada,

tributariamente.

A leitura quês se está fazendo do § 4º do art. 150 da

Constituição não presta obséquio, data venia, à razão e à

vontade da Constituição. Essa leitura, data vênia, é

equivocada. Acompanho o eminente Relator, com a vênia

dos que dele divergem”.

O Ministro Sepúlveda Pertence seguiu o mesmo raciocínio do Relator,

afirmando que a imunidade em tela objetiva assegurar unicamente a realização

do culto religioso:

“Sr. Presidente, já ficou claro, com a leitura do próprio voto

do Relator, que o voto proferido por mim, no RE 237.718,

vem contra e não, a favor da tese do recurso. Nele,

claramente distingui a situação das instituições de

assistência social da situação de ordens e seitas religiosas

de qualquer espécie. Frisei, no ponto, na trilha da lição de

Baleeiro, de Sacha Calmon e de outros doutores que citei,

cuidar-se de uma instituição de assistência social, posto que

religiosa. Não consigo, sobrepor, ao demarcar o alcance das

imunidades, uma interpretação literal ou puramente lógico-

formal, às inspirações teleológicas de cada imunidade.

Uma, a das instituições de educação e de assistência social

porque desenvolvem atividades que o Estado quer estimular

na medida que cobrem a sua própria deficiência. Outra, a

dos templos, a de ser o culto religioso uma atividade que o

Estado não pode estimular de qualquer forma; tem apenas

que tolerar. Todo favor dado, portanto, a instituições

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religiosas, já que estar instrumentalmente ligado e,

conseqüentemente adstrito, ao valor constitucional que se

visa a proteger, a liberdade de culto. Por isso, a Constituição

não o reuniu, num inciso só, instituições de assistência

social ou de educação com as instituições religiosas. Aí,

haveria claramente uma equiparação total. Para interpretar

este § 4º do art. 150, realmente de difícil intelecção,

interpreto-o, na tesão dialética que, para mim, é grave, a que

se referiu o Ministro Celso de Mello, de forma a conciliá-lo

com uma regra básica do estatuto republicano, que é o seu

caráter laico, que é a sua neutralidade confessional. Por

isso, chego, com o eminente Relator, aos anexos

necessários ao culto, mas não financio propaganda de

religião, desde as publicações gratuitas às televisões

confessionais. Acompanho o eminente Relator”.

Em seguida, o Ministro Moreira Alves votou, acompanhando a dissidência

que foi iniciada pelo Ministro Gilmar Mendes.

A partir daí, surpreendentemente, houve empate quanto à adoção das

teses restritiva e ampliativa, cabendo ao Presidente da Corte Suprema, o Ministro

Marco Aurélio, o voto de Minerva:

Peço vênia também ao eminente relator para acompanhar a

dissidência, pois acredito piamente no que previsto no

Código de Direito Canônico de 10983, editado quando do

Papado de João Paulo II.

Os bens, no caso, são destinados à finalidade do próprio

templo. Não vejo, na espécie, uma pertinência maior,

considerada a necessidade de distinguirem-se institutos, do

disposto no artigo 19 da Constituição Federal, porque esse

artigo, ao vedar à União, aos Estados, ao Distrito Federal e

aos Municípios subvencionar cultos, pressupõe um ato

positivo, um aporte, uma vantagem que seja outorgada, e,

no tocante à imunidade, não há esse aporte.

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Ressaltou bem o ministro Moreira Alves que a Carta de 1988

trouxe a novidade do § 4º do artigo 150, sobre as vedações

expressas no inciso VI, e, aí, houve referência explícita à

alínea “b”, que cogita da imunidade quanto aos templos de

qualquer culto. De acordo com o citado § 4º, tais vedações

compreendem o patrimônio, a renda e os serviços

relacionados de forma direta “com as finalidades essenciais

das entidades nela mencionadas”.

Havendo, portanto, o elo, a destinação, como versado nos

autos, não se tem como afastar o instituto da imunidade.

Com o voto de desempate, proferido pelo Ministro Marco Aurélio,

consagrou-se o entendimento mais benéfico aos templos de qualquer culto,

quanto à imunidade, vale dizer, a adoção da corrente ampliativa, liberal. Assim

ficou redigida a ementa deste importantíssimo julgado:

1. Recurso Extraordinário. 2. Imunidade tributária de templos

de qualquer de templos de qualquer culto. Vedação da

instituição de impostos sobre o patrimônio, renda e serviços

relacionados com as finalidades essenciais das entidades.

Artigo 150, VI, “b” e § 4º da Constituição. 3. Instituição

religiosa. IPTU sobre imóveis de sua propriedade que se

encontram alugados. 4. A imunidade prevista no art. 150, VI,

„B”, CF< deve abranger não somente os prédios destinados

ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e os serviços

“relacionados com as finalidades essenciais das entidades

nele mencionadas”. 5. O § 4º do dispositivo constitucional

serve de vetor interpretativo das alíneas “b” e “c” do inciso VI

do art. 150 da Constituição Federal. Equiparação entre as

hipóteses das alíneas referidas. 6. Recurso extraordinário

provido.

Após a grande renovação pela qual passou a composição do Supremo

Tribunal Federal nestes últimos três anos, é forçoso perguntar se a posição

estabelecida por diferença de apenas de um voto será mantida, refutada ou

mesmo reforçada, com a adesão dos novos integrantes daquela Corte.

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Não se tem dúvida que as organizações religiosas torcem para que o

entendimento hoje prevalente seja mantido e mesmo fortalecido pelos novos

membros do Pretório Excelso.22

22http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/16922/Imunidade_Templos_Qualquer_Ricardo_Silva.pdf?sequence=1

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CONCLUSÃO

Podemos considerar a imunidade tributária a limitação ao Ente Federativo

do poder de tributar, prevista na Constituição Federal, como direito subjetivo

público concedido a certas instituições, em razão de sua ligação a uma atividade

de relevante interesse social para a coletividade e que, por isso, mereceram a

proteção e o incentivo do Legislador Constituinte.

A imunidade dos templos de qualquer culto, é norma auto-aplicável, por

uma questão de lógica constitucional, pois na imunidade o ente estatal não tem

poderes para instituir tributos, não cabendo a este mesmo ente defender a

detenção poderes para estabelecer requisitos a cerca do exercício da norma

imunizante. Assim, se ao legislador não foi dado o poder de tributar, não cabe a

ele, sequer, estabelecer condições para que as organizações religiosas gozem

deste benefício.

Desta feita, fica claro que o melhor entendimento para neste tema, é

aquele que indica a extensão da expressão rendas relacionadas com as

atividades essenciais, desde que as receitas sejam aplicadas na atividade, nos

interesses e nos ideais firmados no estatuto dos templos religiosos, devem eles

receber o benefício da norma imunizante, desde que adquiridos licitamente.

A fiscalização das regularidades procedimentais, no caso concreto, deve

ser realizada mediante análise dos livros contábeis pelos órgãos públicos

competentes, cabendo à instituição religiosa, comprovar que investe toda sua

renda, porventura existente, no cumprimento de seu objetivo social.

Esta postura, intitulada liberal ou ampliativa, é a predominante hoje na

doutrina e jurisprudência, que admite que as entidades imunes possam prestar

serviços, auferir rendas e adquirir patrimônio através de outras atividades que não

estejam diretamente relacionadas com as finalidades essenciais das instituições

religiosas, desde que não ocorra, contudo, afronta ao princípio constitucional da

livre concorrência e que os recursos obtidos sejam integralmente aplicados em

sua manutenção.

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Atualmente, tendo em vista a nova composição da Corte Maior,

profundamente alterada, é ansiosamente aguardado pelas instituições religiosas

novos julgamentos relativos ao tema da imunidade dos templos de qualquer culto,

para que seja conhecida a posição dos novos integrantes do Pretório Excelso.

Espera-se que os componentes do Supremo Tribunal Federal, ao

interpretar os comandos constitucionais relativos ao tema da imunidade dos

templos de qualquer culto, sejam conhecedores da realidade das organizações

religiosas e da sua importância junto à sociedade brasileira, a fim de que a

decisão prolatada seja embasada também nos princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade, a fim de assegurar a continuidade das importantes atividades

executadas por estas instituições, dando-se eficácia, às liberdades de crença e de

culto garantidas na Constituição Federal.

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BIBLIOGRAFIA

FERREIRA, Pinto. Curso de Direito Constitucional, p.102.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

BÍBLIA SAGRADA, Evangelho São Mateus 22:21.

CONSTITUIÇÃO DO BRASIL DE 1824.

CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário, 16ª

edição revista, ampliada e atualizada até a EC nº 31/2000, Malheiros Edit,

ores 2001, p. 600-601 e 618.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 20ª edição revista

atualizada e ampliada de acordo com as EC 32 e 33/2001, Malheiros

Editores, 2002, p.241-242.

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Imunidades Tributárias, São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais: Centro de Extensão Universitária, 1998.

Pesquisas tributárias. Nova Serie, nº 4, pág. 32; p. 45-48; p. 46.

TEPEDINO, Gustavo. Aspectos Polêmicos do Tratamento Fiscal Conferido

aos Templos e às Entidades de Fins Religiosos. Revista da Procuradoria-

Geral da República. N. 5,1994.

BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, Ed.

Forense, RJ, 1977, p. 176.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RE nº. 325.822-2/SP. Relator

designado para acórdão: Ministro Gilmar Mendes. Brasília, DF, 18 dez.

2002. DJ de 28.4.89, p. 6.295.

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SITES:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade_religiosa

www.liberdadereligiosa.org.br

http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/16922/Imunidade_Templ

os_Qualquer_Ricardo_Silva.pdf?sequence=1

]

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ANEXO 1

LEGISLAÇÃO

ICMS

Sobre a incidência do ICMS

PROJETO DE LEI Nº 69/2003

EMENTA: “ALTERA A LEI ORDINÁRIA Nº3266 DE 06 DE OUTUBRO DE 1999”

Autor: Deputado Armando José

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RESOLVE:

Art. 1º - O Artº 1º da Lei Ordinária nº 3266 de 06 de outubro de 1999 passa a

vigorar com a seguinte redação:

Artº 1º - Fica proibida a cobrança de ICMS nas contas de Serviços Públicos

Estaduais e Municipais – luz, água, telefone e gás -- a Templos de qualquer Culto

desde que o imóvel esteja comprovadamente na posse da entidade religiosa.

§1º - Nos casos em que o imóvel for próprio o mesmo deverá estar devidamente

registrado.

§2º - Nos casos em que o imóvel não for próprio, a comprovação do

funcionamento deverá se dar através de contrato de locação , comodato ou ainda

pela posse .

§3º- A imunidade tratada no caput deste artigo será reconhecida e mantida

exclusivamente pelos requisitos previstos nos parágrafos anteriores, abrangendo

os imóveis relacionados com as finalidades essenciais das atividades religiosas,

independentemente de servirem diretamente à realização de celebrações

religiosas.

Artº 2º- Fica revogado o Artº 2º da Lei Ordinária nº 3266 de 06 de outubro de

1999.

Artº 3º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se todas

as disposições em contrário.

PLENÁRIO BARBOSA LIMA SOBRINHO, 19 DE FEVEREIRO DE 2003.

Armando José

Deputado Estadual

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - DA LIBERDADE RELIGIOSA 09

1.1 - UMA VISÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS 12

1.2 - O QUE DIZ A NOSSA CONSTITUIÇÃO 14

CAPÍTULO II - DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 16

2.1 - DA COMPETÊNCIA DOS TRIBUTOS 21 CAPÍTULO III – DO PATRIMÔNIO, RENDA E SERVIÇO 22

CAPÍTULO VI – A JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR

TRIBUNAL FEDERAL 27

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA 40

SITES 41

ANEXO 42

ÍNDICE 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: