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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO Para quem? Por Sebastiana Alves Rodrigues Orientado por Celso Sánchez Rio de Janeiro 2003

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … ALVES RODRIGUES.pdfda edição do livro “Como produzir uma monografia passo a passo.” 4 DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho as minhas

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO

Para quem?

Por Sebastiana Alves Rodrigues

Orientado por Celso Sánchez

Rio de Janeiro

2003

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO

Para quem?

OBJETIVOS:

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato

Sensu” em Docência do Ensino Superior.

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus através do Mestre dos

mestres, Jesus Cristo. A todos os mestres do

Projeto “A Vez do Mestre”, com os quais estudei

e faço questão de consignar os nomes, Marcelo,

Nilson, Sandra, Lourenço, Sheila e Celso. À

Universidade Candido Mendes por implantar

esse projeto e tornar acessível o curso de pós-

graduação. A minha sócia e companheira de

escritório Jany de Almeida Dutra, pela

compreensão quanto as minhas ausências para

realização deste trabalho.

Ao orientador deste trabalho, Celso Sánchez,

pela inteligência, praticidade e atenciosidade,

virtudes com as quais conduziu a realização

deste.

Aos professores, Larosa e Fernando, por tornar

mais ameno a montagem deste trabalho, através

da edição do livro “Como produzir uma

monografia passo a passo.”

4

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho as minhas filhas Ariadna e

Nádia, pessoas a quem amo com a força do ódio,

pelas quais me fiz forte na fraqueza, lutei sem ter

armas, enfim sonhos inacabados da minha vida.

A quem desejo que a conclusão deste curso dê

estímulo e exemplo.

Sebastiana Alves Rodrigues.

5

Resumo

Este trabalho de pesquisa tem por objetivo defender a democratização do

acesso ao ensino superior público, que como teremos a oportunidade de

constatar, tem se dado de forma elitizada. Na primeira parte traz uma

demonstração sucinta de como o ensino de alto nível se instalou no país,

comparando a história da evolução da educação no mundo e no Brasil. Num

segundo momento revela como o capitalismo agiu de forma perversa impedindo

que o conhecimento chegasse aos indivíduos, bem como, a problematização

sobre a qualidade dos ensinos fundamental e médio em nosso país e a falta de

implementação de programas nas áreas social e educacional resultando na

exclusão. Na terceira parte, traz um breve relato sobre a lei de diretrizes e bases

da educação que vigia, e uma visão crítica sob a ótica de Pedro Demo da lei

vigente. Num quarto momento, uma exposição sobre políticas educacionais e

políticas educacionais alienantes, abordando ainda, a democratização das

políticas educacionais impostas por organismos alienígenas e cidadania. Na quinta

parte, abordamos as desigualdades e as ações afirmativas implementadas pelo

Estado em prol da minoria étnica, e as conseqüências de uma péssima qualidade

do ensino. E concluindo, fazemos uma convocação à conscientização para

mudanças e implementação de esforços, para caminhar em direção a

democratização do ensino para a igualdade e inclusão.

6

Metodologia

A metodologia utilizada neste trabalho foi pesquisa bibliográfica.

7

SUMÁRIO

RESUMO 05

CAPÍTULO I 08

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 09

CAPÍTULO II 19

ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO DESAFIOS 20

CAPÍTULO III 27

ENSINO FUNDAMENTAL E BÁSICO SEGUNDO A LDB 28

CAPÍTULO IV 31

POLÍTICAS EDUCACIONAIS 32

CAPÍTULO V 43

RESERVA DE VAGAS PARA ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO 44

CONCLUSÃO 53

BIBLIOGRAFIA 55

ÍNDICE 57

8

CAPÍTULO I

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

9

1.1. No Mundo

Na Antigüidade clássica como exemplos à Grécia e Roma, formavam

especialistas em escolas de alto nível, os alunos escolhiam seus mestres e

seguiam as idéias do mestre por eles eleito, como Aristóteles e outros. Os mestres

serviam de espelho e aperfeiçoamento e cada mestre conduzia a sua escola

segundo suas convicções baseadas em pesquisas e estudos. De forma que ao

conquistar a Grécia, os romanos introduziram em Roma o modelo da educação

grega.

Na idade média, mas precisamente no final, entre os séculos XI e XV, que o

ensino superior passou a ser ministrado em universidades propriamente ditas

como se conhece hoje, identificando-se com o tipo de sociedade e cultura da

época, tornando-se efetivamente o órgão de elaboração do pensamento medieval.

A Igreja Católica desse tempo foi a responsável pela unificação do ensino

superior em um só órgão, a universidade. Isso ocorreu como resultado de todo um

esforço da Igreja Católica no sentido de preparar o clero, fundamentando sua

política religiosa para fazer frente ao avanço do movimento religioso protestante.

Em Portugal a igreja católica através da Companhia de Jesus, fundou as

Universidades de Coimbra e Évora.

Nessa época, de dogmatismo católico, a igreja impunha as “verdades”, e foi

nessa época que, nas escolas de nível superior, nasceu o hábito das discussões

abertas, dos debates públicos. Sendo que esses debates sempre aconteciam sob

a fiscalização de um professor para garantir os princípios da doutrina católica

apostólica romana.

10

O objetivo maior da igreja era o de propagar a fé, nesse período ainda não

se podia falar de conhecimento científico da forma como é entendido

hodiernamente, embora muitas das qualidades hoje requeridas para o trabalho

científico, como por exemplo, o rigor, seriedade, responsabilidade, lógica do

pensamento etc, se organizaram nessa época.

No século XVI, início da Idade Moderna, destaca-se o

individualismo/racionalismo, a ciência como nova proposta de ensino. Nessa

época de numerosas descobertas, pouco ou nada se acrescenta aos valores do

passado tornando o conceito de universidade inconsistente com a realidade e os

dogmas eram impostos através de teses autoritariamente demonstrativas. Os

princípios doutrinários da Igreja estavam constantemente sob vigilância e em

conseqüência levando à fogueira, prisão, afastamento das funções, perda da

cátedra, excomunhão etc. qualquer um que ousasse contestar as ditas “verdades

incontestáveis”.

No século XVIII, destacam-se os enciclopedistas/iluministas cujos filósofos

crêem somente no que a razão pode provar e é esse movimento iluminista que

veio questionar fortemente o tipo de saber medieval presente nas universidades.

Mas foi finalmente, no século XIX, com o processo de industrialização, com um

conseqüente desenvolvimento e avanço, dentre outros fatores, o responsável pelo

golpe na Universidade Medieval e pela chegada da Universidade Napoleônica,

quando se deixa o sentido unitário da alta cultura e acrescenta aquisição de

caráter profissional.

A Universidade Napoleônica surge então pelas necessidades profissionais

estruturadas por escolas superiores fragmentadas cada uma das quais isolada em

seus objetivos práticos, específicos de cada área profissional. Além dela surge

também, pelas transformações do mundo, uma outra mentalidade, a da pesquisa.

Nesse contexto a universidade tenta retomar a liderança do pensamento para

11

tornar-se o centro de pesquisa, modelo alemão, onde a universidade se torna

independente para pesquisar o que desejar. Modelo que procura preparar o

homem para descobrir, formular e ensinar a ciência, considerando as mudanças

da época, representando a grande filosofia do mundo.

1.2. No Brasil

No Brasil, a educação ocorreu de forma diferente de outros países também

colonizados, atravessou praticamente todo o período colonial sem escolas de nível

superior; por várias razões, eram não só impossíveis como também indesejáveis

em nosso meio. No Brasil, o colonizador deparou com uma população indígena

desprovida de cultura desenvolvida, os índios eram iletrados, se encontravam nas

etapas mais primitivas do desenvolvimento humano, por isso os colonizadores não

precisavam se opor à cultura nativa.

Para entendermos os rumos que tomaram a história da educação no Brasil,

principalmente a do ensino superior é preciso ressaltar a educação ministrada

pelos jesuítas, desde o descobrimento do Brasil, com propósito de atender a uma

ordem patrimonialista que se implantara desde o descobrimento, com o objetivo

de catequizar de forma a firmar na mentalidade do catequizado sobre quem

manda e quem obedece. Os jesuítas eram muito dinâmicos no trabalho com

educação e seguiam um sistema didático o “Ratio Studiorum” (finalidade dos

estudos), no qual eram estabelecidas as diretrizes educacionais, filosóficas e

pedagógicas para a educação.

A partir de 1599, quando foi aprovado o Ratio Studiorum, os jesuítas

reorientaram suas instituições educacionais e passaram a preocupar-se

prioritariamente com a educação das famílias da elite a quem proporcionavam

ensinamentos clássicos, humanísticos e literários. A elite possui forte tendência a

12

atribuir status elevado à formação e cultura acadêmica. Enquanto que a formação

para o trabalho não encontrou espaço, porquanto o trabalho era realizado pelo

serviço escravo e, por isto, desvalorizado.

No Brasil sempre existiram dois tipos distintos de escola: a secundária e a

superior para a elite e a escola de primeiras letras ou escola primária para as

classes populares. No entanto, durante a maior parte da nossa história a maioria

dos brasileiros não tiveram acesso à escola nenhuma, mesmo hodiernamente, há

um enorme contingente de analfabetos entre a população adulta e milhares de

crianças fora da escola, e uma grande parte das que se iniciam no estudo

permanecem apenas quatro anos na escola.

Neste tipo de necessidade é que se fundamentam as bases do sistema de

escolarização formal no Brasil. Assim fica mais fácil entender por que até hoje o

ensino técnico-profissional é pouco valorizado em confronto com a formação

humanística, com destaque ao bacharelismo. Os filhos dos senhores estudavam

na Universidade de Coimbra completando os seus estudos de preparação para o

sacerdócio, medicina ou direito, estudos esses iniciados aqui no Brasil pelos

jesuítas, (como dito nos parágrafos anteriores), alheios às necessidades da

colônia e destinados, apenas, a proporcionar cultura básica, sem a mínima

qualificação para o trabalho.

O Brasil era uma colônia que tinha sua cultura baseada, totalmente na

agricultura, com o cultivo da cana de açúcar e do café, não havia, naquela época,

nenhum investimento em educação para a população rural. O homem do campo

era na totalidade analfabeto e alienado e assim seguiu pelos séculos.

Por decreto da lavra do Marquês de Pombal, em 1579, os jesuítas foram

expulsos do Brasil, época em que, os jesuítas, haviam se apossado da educação,

mantinham em funcionamento 36 missões, bem como escolas de alfabetização

13

em praticamente todas as povoações onde se encontravam suas 25 residências,

além de 18 estabelecimentos de ensino secundário, entre colégios e seminários,

localizados nos pontos mais importantes do país.

Após a expulsão dos jesuítas foram criadas as aulas régias de latim, grego

e retórica o ensino passou a ser ministrado por leigos ou seminaristas de outras

ordens religiosas desencadeando uma queda quantitativa e qualitativa do ensino.

Concluindo, nem com os jesuítas nem pelos demais, foi instituído no Brasil um

sistema de educação escolar com características do ensino público para toda a

população. Mister se faz ressaltar que no Brasil, enquanto colônia, o ensino

superior era proibido.

Considerando os atritos da Corte Portuguesa com Napoleão, em 1808 a

família real portuguesa se muda para o Brasil colônia, sob a proteção da

Inglaterra. A cidade do Rio de Janeiro precisa então, adaptar-se rapidamente ao

grande número de cortesãos que invadem suas casas e ruas pacatas. Assim, com

a instalação da corte portuguesa no Brasil, além das adaptações administrativas

necessárias, houve o incremento das atividades culturais, antes inexistentes ou

simplesmente proibidas. Em conseqüência surgiram inovações no campo da

cultura como, a criação da Imprensa Régia, em 1818, até então as publicações

eram proibidas.

Desta forma surge sob a proteção oficial a Gazeta do Rio de Janeiro em

1808 e na Bahia, a idade de ouro no Brasil em 1811, e o Correio Braziliense,

impresso em Londres, que era o único jornal de oposição à política de D. João VI.

Em 1810 surgiu “A biblioteca”, futura Biblioteca Nacional, franqueada ao público.

Ainda, no mesmo ano inaugurou-se o Jardim Botânico do Rio, incentivava os

estudos de botânica e zoologia, Em 1818 Museu Real, depois Museu Nacional e

em 1816, Missão cultural francesa, convidam-se artistas franceses, como

Lebreton, Debret, Taunay, Montigny e outros, que influenciaram a criação da

14

Escola Nacional de Belas Artes, interrompendo a tradição da arte colonial

brasileira, que era, na época, o estilo barroco.

No século XIX, influenciados pelas idéias européias, tentam imprimir novos

rumos à educação, ora apresentando projetos de leis, ora criando escolas. Idéias

quase nunca satisfatórias devido a situações contraditórias consoante à passagem

de uma sociedade rural-agrícola para urbano-comercial. Assim, forças

conservadoras de uma sociedade feudal-agrícola e escravocrata, resistiram às

idéias liberais implantadas e importadas da Europa, onde a economia capitalista

se encontrava em expansão.

Na Assembléia Constituinte, em 1823, os liberais aspiram a um sistema

nacional de instrução pública, no entanto a assembléia constituinte foi dissolvida e

a constituição outorgada pela coroa, que manteve o princípio da liberdade de

ensino sem restrições de intenção de “instrução primária gratuita para todos os

cidadãos”. Finalmente em 1827 a lei determina a criação de escolas de primeiras

letras em todas as cidades, vilas e lugarejos, porém fracassou por várias causas

como, econômicas, técnicas e políticas.

O Ensino Superior foi introduzido no Brasil por D. João VI, que, para

atender as necessidades do momento, como a defesa da colônia, ordenou, em

1808, a criação de cursos superiores para formar oficiais do exército e da marinha,

como engenheiros militares e médicos. Assim surgem na Bahia e no Rio, em

1808, cursos médico-cirúrgicos, visando formar médicos para a marinha e o

exército. Após a independência surgem em São Paulo e em Recife 1827, cursos

jurídicos, mas só se tornam faculdades em 1854.

Mesmo no ensino superior, os cursos às vezes transformados em

faculdades, permanecem como institutos isolados, sem que haja interesse na

formação de universidades. De qualquer forma, as medidas reforçam o caráter

15

elitista e aristocrático da educação brasileira, ou seja, as que têm acessos os

nobres, os proprietários de terras e uma camada intermediária, surgida da

ampliação dos quadros administrativos e burocráticos em razão da instalação da

coroa no Brasil.

O destaque dado por D. João VI ao ensino superior não é estendido aos

demais graus de educação, as poucas medidas tomadas a respeito são

desastrosas, deixando sob a responsabilidade das províncias o ensino elementar

e secundário. Não existia unidade ou seqüência entre o ensino primário e o

secundário. Enquanto todos os países do mundo caminham promovendo a

educação nacional, nosso ensino perde ainda mais a unidade da ação.

Sem vinculação entre os currículos dos diversos níveis, nem há

propriamente currículo devido à escolha aleatória das disciplinas, sem qualquer

exigência de se completar um currículo para iniciar um outro. Ao contrário, são os

parâmetros do ensino superior que determinam a escolha do ensino secundário,

obrigando-o a se tornar cada vez mais propedêutico, ou seja, destinado a preparar

os jovens para a faculdade.

Não havia a exigência de conclusão do curso primário para o acesso a

outros níveis, ocorrendo assim, que a elite educava seus filhos em casa e para os

demais segmentos sociais, o que restava era a oferta de pouquíssimas escolas

cuja atividade se achava restrita a educação elementar como, ler, escrever e

contar.

O ensino superior brasileiro só veio a ser consolidado, em forma de

faculdades ou escolas superiores, por volta de 1900. Em 1932, um grupo de

lideres educacionais publicou o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, que

entre outras propostas destacavam as seguintes:

16

1)que a Educação fosse uma reação sistemática e categórica contra a

velha estrutura do serviço educacional artificial e verbalista:

2)que a Educação fosse considerada pelo Estado com função social e

eminentemente pública; por isso, de responsabilidade do Estado, em

cooperação com todas as instituições sociais;

3)que o Estado garantisse “escola comum e única” para todos, não

admitindo, “dentro do sistema escolar do Estado, quaisquer classes ou

escolas, as quais só tenha acesso uma minoria, por um privilégio

exclusivamente econômico”. Admitia-se a existência de instituições

educacionais privadas, mas defendia-se, da educação infantil à

universidade, a todos os brasileiros, uma formação idêntica;

4)que a educação escolar fosse laica, gratuita, obrigatória, além de

respeitar o princípio da co-educação;

- laicidade, para colocar o ambiente escolar acima de disputas e crenças

religiosas;

- gratuidade, para que todos os brasileiros pudessem ter acesso à

Educação e para garantir o cumprimento do princípio da obrigatoriedade;

- co-educação, para evitar que houvesse entre alunos de sexos

diferentes outras “separações que não aquelas que aconselham suas

aptidões psicológicas e profissionais”. Co-educação também, para

colocar em pé de igualdade estudantes do sexo masculino e do sexo

feminino.

5)que a direção e administração da função educacional tivessem

assegurados os meios materiais para realiza-la. Para tanto, defendia-se a

autonomia técnica, administrativa e econômica, mediante a instituição de

um “fundo especial ou escolar”, constituído de patrimônio, impostos e

rendas próprias. Este fundo deveria ser administrado e aplicado

exclusivamente no desenvolvimento da obra educacional, pelos próprios

órgãos do ensino;

6)que o governo central, pelo Ministério da Educação, fosse encarregado

de supervisionar o cumprimento das orientações gerais estabelecidas na

Constituição e leis ordinárias, além de auxiliar Estados, quando houvesse

insuficiência de recursos, e de promover o intercâmbio pedagógico e

cultural dos Estados;

7) que o currículo escolar se dinamizasse e orientasse para atender aos

interesses dos estudantes; que estimulasse o próprio esforço dos alunos

17

e que a escola se transformasse em uma comunidade em miniatura,

preparando o educando “com o trabalho em grupos e todas as atividades

pedagógicas e sociais, para fazê-la penetrar na corrente do progresso

material e espiritual da sociedade da qual proveio e na qual vai viver e

lutar;

8)que todos os professores, de todos os graus, tivessem formação

universitária e remuneração equivalente;

9) que todas as escolas, independente do grau de ensino, reunissem, em

torno de si, as famílias dos alunos, estimulando e aproveitando as

iniciativas dos pais em favor da Educação; ao mesmo tempo que

constituíssem sociedades de ex-alunos, para mantê-los em constante

relação com as escolas. Por outro lado, propunha-se o “desenvolvimento

do poder de iniciativa e o espírito de cooperação social entre os pais, os

professores, a imprensa e as demais instituições interessadas na obra da

Educação”.

A divulgação deste Manifesto causou grande impacto nos meios

educacional e político, pois propunha verdadeira revolução na educação escolar

brasileira e, mais do que isso, uma política educacional na verdadeira acepção da

palavra. O Manifesto questionava também a situação do ensino superior no Brasil

que até então era voltado apenas para a formação de profissionais liberais.

Como vimos, no Brasil, foi mantido o privilégio de classe, valorizando o

ensino superior em detrimento dos demais níveis, sobretudo, o elementar e o

técnico, isso sem falar é claro, na desprezada educação da mulher e a história nos

mostra que a sociedade sempre se organizou e reorganizou para atender às

necessidades de cada época e que essas necessidades sempre foram satisfeitas

com o intuito de garantir a hegemonia das elites sendo que, sua garantia requer a

miserabilidade do corpo e da alma de um povo que tem a mente cauterizada por

valores impostos pela elite através de Política Educacional alienante.

18

CAPÍTULO II

ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO DESAFIOS

19

2.1 – Desafios sócio-econômicos

“Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.

Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos,

segundo cada um tinha necessidade.”

Atos dos Apóstolos 2: 44 e 45

A desigualdade sócio-econômica não é fatalidade e sim uma questão

política. Um percentual pequeno da população brasileira detém a maior fatia da

renda nacional e uma fatia de menos de dez porcento fica para os mais pobres.

Esse processo faz com que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres.

Podíamos explanar, para exemplificar esse processo com a forma de aquisição da

propriedade imposta no Brasil. Nos Estados Unidos a população adquiria a

propriedade apenas pela posse, desbravando as matas, enquanto que no Brasil, a

propriedade sempre teve que ser adquirida por pagamento, como a maioria da

20

população era de trabalhador braçal, sempre trabalhou para suprir as

necessidades básicas, não havia nenhuma possibilidade de aquisição da

propriedade. Mais um artifício eficaz da classe dominante para manter o poder.

Analisando o fato do rico sempre ficar mais rico, e o pobre sempre mais pobre,

chegamos a conclusão de que nenhuma possibilidade existe de mudança neste

quadro em razão do capitalismo.

Segundo Marx, o capital é o trabalho acumulado, em conseqüência do

fenômeno da mais-valia, isto é, o suplemento do trabalho não remunerado,

suplemento esse do qual o capitalista se apropria de maneira espoliativa, sob a

forma de lucro e garantido por lei as quais são elaboradas pelos representantes

dos interesses das classes exploradoras, economicamente fortes e politicamente

dominantes. Nesse sentido temos um pequeno exemplo, que é o fato de que as

empresas contribuem para a Previdência Social, sem que, com essas

contribuições gozem de algum benefício concedido pela Previdência Social. Certo

é que, as empresas contribuem para a previdência, porque utilizam o trabalho

humano.

O desenvolvimento do capitalismo surgiu no final da idade média com o

desenvolvimento do comércio e o aumento da produção, tem por base um sistema

econômico da aplicação do capital com o objetivo de obter sempre mais lucro.

Neste sistema o trabalhador é encarado como mercadoria pelo capitalista e o

trabalhador é dono apenas de sua força de trabalho, o lucro e a riqueza são do

capitalista. Donde se depreende que quanto menos o capitalista pagar ao

trabalhador maior lucro ficará em suas mãos, portanto, estamos diante de duas

classes sociais opostas, a burguesia e o proletariado.

Se o trabalho é visto pelo capitalista como mercadoria, decerto também

entra na disputa da oferta e da procura. Assim, no campo social, as

conseqüências do capitalismo estão à vista de todos, especialmente nos países

21

subdesenvolvidos: salário de fome, condições precárias de moradia, de trabalho,

desemprego, falta de assistência à saúde, educação insuficiente e deficiente,

condições miseráveis de vida, desrespeito à pessoa humana. Além da aplicação

da tecnologia em prejuízo do próprio homem trabalhador, na medida em que

máquinas substituem o trabalho humano, sem qualquer programa de

compensação dessa perda, tirando de forma sumária, o meio de subsistência do

trabalhador e seus dependentes.

No campo político, o capitalismo transformou o Estado em instrumento de

dominação de uma classe sobre outra. Nas lutas trabalhistas, o governo

geralmente toma o partido dos patrões, reprimindo as manifestações dos

trabalhadores, prendendo seus líderes, embora as leis trabalhistas são inflexíveis

na intenção de dar proteção ao trabalhador que, em razão da lei, fica impedido de

liberar direitos, os quais lhes garante a lei, com o objetivo de permanência no

emprego. Inobstante a inflexibilidade das leis trabalhistas, o Estado é um braço

armado do capitalismo. Neste sistema, também se encontram os bacharéis, que

não têm outra alternativa senão colocar a disposição do capitalismo toda a sua

capacidade intelectual.

As desigualdades sócio-econômicas fazem com que nem todos tenham

acesso a grande parte dos bens culturais. Pesquisas demonstram que grande

parte da população não tem acesso à leitura de livros, jornais ou revistas, mais de

noventa porcento que iniciam o ensino fundamental não chegam ao ensino

superior. Cinema, teatro, pintura são atividades só acessíveis a uma pequena

minoria, é a marginalização cultural. A marginalização cultural é segregadora e, é

meio de controle social, serve para manter a ordem vigente, na qual o indivíduo

precisa lutar com unhas e dentes para sobreviver. A prioridade é matar a fome,

não sobrando espaço ou condições para que o indivíduo pense sua existência

enquanto sujeito passivo da marginalização, para se engajar na luta por mudanças

sociais.

22

Inobstante as frases “Todo poder emana do povo”, parágrafo único do

artigo 1º, e ainda, que “Todos são iguais perante a lei” artigo 5º caput ambos da

constituição federal vigente, que até emocionam, na prática parece que o poder é

exercido por uma minoria capitalista e, é obvio em seu próprio benefício, os

recursos públicos são encaminhados para áreas de interesse dos grupos

dominantes, um exemplo marcante disto, já que o tema é a educação, ou melhor,

“a problemática do acesso ao ensino superior”, observamos que as universidades

públicas em nosso país funcionam, e funcionam bem, por que lá estão os filhos da

minoria dominante, que têm acesso porque são melhores preparados, não vem de

ensino básico e fundamental públicos, têm boa alimentação, são assistidos por

bons profissionais da área de saúde que podem detectar problemas e implementar

tratamentos eficazes, alguns exemplos em meio a tantos outros é a dislexia,

deficiência visual e auditiva. São pessoas que têm acesso a esporte, ao

conhecimento cultural, a escolas particulares de boa qualidade, portanto o melhor

preparo lhes garante o acesso ao ensino superior público.

A segregação não permite uma visão revolucionária. Mas como vimos no

capítulo anterior sobre a história da educação no Brasil, a educação em nosso

país, desde o início foi de forma a incluir apenas as elites dominantes, onde

imperou a exclusão, sem educação o homem não possui mente reflexiva, não

analisa sua existência enquanto cidadão. O homem, sem educação, não

transforma o mundo, não forma suas convicções, quadro tranqüilizador para o

setor capitalista. Como citado por Mann (1998) apud Aranha, (2002, p.138). :

“Nada, por certo, salvo a educação universal, pode contrabalançar a

tendência à dominação do capital e a servilidade do trabalho. Se uma

classe possui toda a riqueza e toda a educação, enquanto o restante da

sociedade é ignorante e pobre, pouco importa o nome que dermos à

relação entre uns e outros: em verdade e de fato, os segundos serão os

dependentes servis e subjugados dos primeiros. Mas, se a educação for

23

difundida por igual, atrairá ela, com a mais forte de todas as forças,

posses e bens, pois nunca aconteceu e nunca acontecerá que um corpo

de homens inteligentes e práticos venha a se conservar

permanentemente pobre”.

2.2 – Qualidade dos ensinos básico e médio

Como vimos no capítulo primeiro, nos primórdios da educação no Brasil, a

educação ficava restrita à alfabetização que, em outras palavras representava as

técnicas de ler, escrever e contar. As civilizações passadas sempre fundadas em

elites cultas e povos ignorantes estes sempre prescindiram de escola primária.

Com o passar do tempo, nos países economicamente desenvolvidos, até o ensino

médio passou a fazer parte da educação comum e básica. Enquanto no Brasil,

mesmo inserido na globalização a obrigatoriedade, gratuidade e a essencialidade

se restringem ao ensino fundamental, de primeira à oitava série, oferecido nas

escolas públicas e garantido por lei.

Alguns programas educativos estão sendo implementados e são veiculados

através de rádio, televisão e outros meios, visando levar a população de baixa

renda e baixo nível de escolaridade e menor acesso às informações educacionais,

informações sobre educação e aulas do ensino básico, no entanto, num país de

grande área geográfica como o Brasil e algumas de difícil acesso como, por

exemplo, a região norte e nordeste, os programas são acanhados, ficando grande

parte dessa população de fora do processo educacional.

Quanto à educação iniciante, segundo Demo, na obra A Nova LDB -

Ranços e Avanços, há um pomposo texto constitucional que só falta garantir o

paraíso na terra às crianças e um dourado estatuto de proteção que em nada

alteram na realidade para a população carente e sofrida.

24

Verdade é que, nosso país é um país de leis, legislamos em todas as áreas

e para todos os problemas que surgem, no entanto, somos um país da

impunidade, que é causa afiançadora para o não cumprimento das leis. Muitas leis

não têm praticidade porque são irreais as nossas condições na prática.

Existem nos ensinos básico e médio do setor público fatores que acarretam

dificuldade na aprendizagem e em conseqüência impedem ou dificultam o acesso

ao ensino superior, um deles é que a clientela desse setor pertence a famílias de

nenhuma condição cultural, Muitas dessas famílias acham desnecessário e até

luxo o ensino superior, bastando apenas que seus filhos saibam o mínimo, para

que possam trabalhar, que a satisfação está presente, isso ocorre por que, sem

que se tenha cultura, não existe o pensamento de lutar pela educação de seus

filhos.

Outro fator que garante o baixo nível de qualidade dos ensinos fundamental

e médio, em nosso país é a péssima qualificação do professor, que tem formação

de pior nível sócio-econômico, levando-se em conta que também vem de família

de baixo nível de escolaridade. Esses professores por certo estão lotados em

escola na qual está presente o nível social mais baixo, fator que cria um ciclo de

condições desfavorável ou simplesmente não cria nenhuma condição ao acesso

ao ensino superior público. E, ainda, se um desses educandos conseguem atingir

o nível superior de ensino não têm competência para competir com alunos que

tiveram melhor preparo, oriundos de classes mais favorecidas economicamente.

Como exemplifica Piletti, (1995, p.91). :

“Os professores da rede básica brasileira escrevem mal, lêem pouco e

atribuem aos alunos a culpa pela reprovação. Esse perfil, que aparece

em uma pesquisa concluída em janeiro pela Fundação Carlos Chagas, é

suficiente para apagar de vez a imagem que muitos ainda têm do

professor: sacerdotes idealistas, alimentados só pelo amor aos alunos.”.

25

Para que as crianças não apenas consigam iniciar o ensino fundamental,

mas concluí-lo com proveito e mesmo vencer os outros graus de ensino

necessário se faz, que o ensino não esteja resumido apenas no sonho dourado da

nossa Carta Magna, mas que o ensino seja de qualidade.

Outro fator da deficiência na aprendizagem que impede o acesso ao ensino

superior, além dos acima citados é a condição cultural, inexistente, da família e o

processo pedagógico. Para evitar o fracasso escolar é necessário que o processo

pedagógico seja eficaz, o que inclui implementar aos educandos o domínio da

leitura e escrita, ou seja, a conscientização do aprendizado. Os órgãos

encarregados em fiscalizar e promover a educação no Brasil, estão alheios às

falhas apresentadas, e continuam a recomendar que suas escolas coloquem os

analfabetos para ler e produzir textos.

A rede oficial de ensino deve promover a igualdade de oportunidades e a

melhoria continua dos padrões de qualidade do ensino. A educação pública com a

lei de reserva de vagas para o acesso ao ensino superior promove o fracasso, a

exclusão e a desigualdade de oportunidades futuras, podemos denunciar que é o

fim da escola pública. Sim, porque se considerarmos que na opção de melhorar a

qualidade do ensino ou simplesmente garantir o acesso, foi mais cômodo aos

governantes garantir o acesso é o fim do ensino público.

Pensem, pesquisas nos jornais e revistas demonstram que 80% das vagas

de medicina na Uerj foram preenchidas pelo sistema de reserva de cotas. Será

que queremos agradar aos interesses dos deuses e troianos ao mesmo tempo,

atendendo as necessidades da população carente sem sacrificar em nada os

interesses das elites dominantes, porque ensino de melhor qualidade, entre outras

coisas, interfere no orçamento, produz indivíduos críticos. Mas sem ensino

26

fundamental e médio de qualidade o acesso ao ensino superior público é

impossível.

CAPÍTULO III

ENSINO FUNDAMENTAL E BÁSICO SEGUNDO A LDB

27

3.1. Ensino fundamental e médio segundo a LDB

Para melhor entendimento da Lei de Diretrizes e Bases, atualmente em

vigor, e estabelecer diferenças, vamos fazer uma síntese da lei anterior. A lei

5692/71 foi elaborada sem a participação da sociedade e não era completa porque

tratava apenas dos ensinos da pré-escola, 1º e 2º graus. Nesta lei foi transformado

o curso primário e o ginasial ambos de quatro anos cada em ensino de 1º grau de

oito anos e o ensino médio colegial em 2º grau. Foi marcante a inclusão do ensino

profissionalizante, com as ofertas de muitas habilitações profissionais, essa lei

sofre alteração em 1982 pela lei 7044, a qual revogou dispositivos que tornavam a

profissionalização obrigatória.

No entanto a lei 5692, no tocante a obrigatoriedade na educação é dirigida

à família e quanto ao sistema de ensino distribui responsabilidade e não se

preocupa em instituir um sistema nacional de ensino. Prevê a pré-escola, mas não

obriga o Estado a oferecê-la. Quanto ao ensino religioso, a oferta é obrigatória e a

freqüência facultativa, não define quem paga os professores dessa disciplina e o

28

ensino de 2º grau é posto a cargo do CNE e MEC, existindo a previsão do ensino

supletivo.

Com o advento da constituição federal de 1988, surgiu a necessidade de

elaboração de uma nova lei de diretrizes e bases da educação, sancionada em

dezembro de 1996, denominada lei Darcy Ribeiro, nº 9394. Analisando a LDB,

observa-se que ocorre uma mudança nos níveis de educação, que passam a ser

dois, educação básica e educação superior. A educação básica está dividida em

ensino fundamental e médio.

As modalidades de educação são de jovens e adultos, educação

profissional e educação especial. Deixa claro que o ensino fundamental é

obrigatório e gratuito, inclusive para os que não tiveram acesso ao ensino na idade

própria. Prevê uma progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao

ensino médio, atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com

necessidades especiais e estabelece sistema de avaliação das instituições de

ensino.

A nova LDB quanto à questão da educação para o trabalho envolve a

família, a escola, as empresas e comunidade. A família por ser a célula-mater da

sociedade, a escola deve estar envolvida porque se trata de educação para o

trabalho produtivo, a empresa tem importância neste processo no tocante a

direção de uma educação para o trabalho e a comunidade em razão de que é a

própria comunidade que educa as gerações.

Em 1997 a lei 9475 altera o dispositivo que prevê que o ensino religioso

obrigatório é parte integrante da formação básica do cidadão, suprimindo a frase

que desobriga os cofres públicos.

29

Concluindo a síntese, essa lei estabelece a obrigatoriedade qualificação dos

educadores, exigindo o preparo em nível superior. Apresenta um espaço de

flexibilidade para que os sistemas de ensino atuem com criatividade.

3.2. LDB segundo Pedro Demo

Segundo Demo a nova LDB demonstra como positivo o compromisso com

a avaliação, visão alternativa da formação dos profissionais da educação,

direcionamento de investimentos financeiros para valorização do magistério.

O princípio da avaliação consagrado na LDB, a qual determina a avaliação

dos ensinos superior, médio e fundamental, é uma novidade que traduz o princípio

fundamental da organização dos sistemas, colocando em foco a melhoria da

qualidade do ensino, embora entenda que as resistências existirão e serão

demonstradas pelos próprios educadores que não se sentirão à vontade sendo

sujeitos passivos da avaliação. A visão alternativa da formação dos profissionais

da educação o que favorece grandes avanços, porque trata o professor como o

eixo central da qualidade da educação.

Direciona investimentos financeiros para valorização do magistério, a

educação dispõe de receita vinculada orçamentária, além do salário-educação,

desde a constituição federal de 1988 a união é obrigada a aplicar 18% no mínimo

na educação e os estados e municípios 25%, definindo assim, o que será aplicado

na educação.

Outros aspectos segundo Demo, que são positivos da nova LDB, diz

respeito à parte reservada a educação infantil, como no capítulo sobre o direito à

educação e o dever de educar, acesso à educação fundamental como direito em

qualquer idade, atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de

30

zero a seis anos. Tratou o acesso ao ensino fundamental como “direito público”

subjetivo, esses são alguns avanços segundo Demo. No entanto, a nova LDB

conta com uma visão relativamente obsoleta da educação, a velha universidade

continua resistindo, atrasos eletrônicos e alguns problemas com mundo do

trabalho.

CAPÍTULO IV

POLÍTICAS EDUCACIONAIS

31

4.1 - O que é política educacional e política educacional alienante

Educação – verbo educar, vem do latim educare, derivado de educere, que

quer dizer eduzir, conduzir, revelar valores e capacitar o espírito humano a cria-

los. O processo de educação escolar envolve salas, docentes e métodos

pedagógicos, é todo um processo que exige objetivos e uma certa direção para

atingi-los, ai surge política educacional. A política educacional é um processo, e

dessa forma ela deve ser elaborada de acordo com cada momento histórico a ser

aplicada.

Segundo o filósofo Aristóteles o ser humano tem uma força para modificar o

meio, por isso o Estado ideal seria aquele governado por um povo bem educado e

preparado na juventude. Nesta concepção, política educacional pode ser

associada à educação ampla e igual para todos os homens.

Mas a política educacional se processa e desenvolve onde há pessoas

imbuídas da intenção de gradativamente conduzir a criança a ser, no futuro, o

adulto idealizado pelo grupo social a qual pertence. Mas, toda política educacional

é estabelecida e definida através de um exercício prático do poder.

Explicando o processo pelo qual passa a política educacional, Martins

(1994, p.8). :

“A política educacional é um processo que só existe quando uma

educação assume uma forma organizada seqüencial, ditada e definida de

32

acordo com as finalidades e os interesses que se tem em relação aos

aprendizes evolvidos nesse processo”.

Definindo a política educacional como instrumento do qual se utiliza a

sociedade para produzir, no futuro, tipos de homens e mulheres idealizados por

essa sociedade, Martins, (1994,p.10) conceitua:

“A política educacional é um dos instrumentos para se projetar à

formação dos tipos de pessoas de que uma sociedade necessita. Ao

contrário da educação que ajuda a pensar tipos de homens e mulheres, a

política educacional ajuda a fazer esses tipos, definindo a forma e o

conteúdo do saber que vai ser passado de pessoa a pessoa...”.

Nessa ordem, com a leitura das intenções contidas nas políticas

educacionais, teremos a capacidade de entender que tipo de pessoas a sociedade

deseja produzir.

Nessa concepção temos que lembrar a existência da política educacional

alienante. Uma política educacional alienante é a que canaliza para fins

específicos e acaba por fragilizar o processo pedagógico, impossibilitando uma

ação criadora e reflexiva. A política educacional dos jesuítas, com os índios

brasileiros, é exemplo de política educacional alienante e resultou em um processo

de aculturação e dominação, essa política educacional foi considerada um

sucesso, porque era exatamente o objetivo da igreja católica apostólica romana.

No entanto, muitos que se envolveram no processo da política educacional

dos jesuítas imaginaram que serviam ao saber, é preciso que a política

educacional não estabeleça uma relação ambígua com a ideologia dos grupos

sociais aos quais ela será desenvolvida. Porquanto as conseqüências de uma

política educacional podem ser indivíduos melhores pela educação ou podem

desencadear um processo de deseducação.

33

A educação das meninas em nosso país foi por muito conduzida por um

processo político-educacional alienante, na intenção de produzir mulheres

alienadas e dependentes. O aspecto marcante dessa política educacional era que

envolvia a retenção do poder nas mãos do sujeito homem, poder este que o

homem desejava possuir sobre a mulher, e no desenvolvimento dessa política

educacional a menina era criada sem estudos, aprendendo a cuidar da casa do

marido e dos filhos para apenas serem servas.

Sendo uma política educacional alienante, portanto, operando com o

processo de deseducação, acaba por formar indivíduos que não terão capacidade

de pensar a própria existência, quanto mais o processo político econômico de seu

país. A política educacional alienante forma indivíduos catequizados, incapazes de

reação, serão sempre servos, obedientes ao querer da classe dominante.

A característica marcante desses indivíduos é que nunca contrariam o

grupo social com o qual vivem, esse tipo de pessoa é a ideal no sistema

capitalista, no qual serão explorados, com um conformismo que deixa qualquer

capitalista tranqüilo. Porquanto são indivíduos, educados para não esboçar

qualquer contrariedade ao sistema.

4.2. Democratização das políticas educacionais e cidadania

“É à sociedade que devemos interrogar, são suas necessidades

que devemos conhecer, já que é a essas necessidades que

devemos satisfazer.”

Durkheim (sociólogo francês, 1858-1917)

34

Como dissertado no capítulo anterior depreende-se que, pensar política

educacional é pensar nos seres humanos de hoje e do futuro que a política

educacional produzirá.

Quanto à crise da educação e suas causas, as idéias de urgentes reformas,

entre os profissionais da área, insatisfeitos com o sistema imposto, resta

questionar, como é constituído esse consenso em torno do discurso sobre as

urgências das reformas educativas. Se na verdade, a unanimidade em torno dele

é mesmo tão forte ou se não existe uma “outra reforma” em curso. Moreira, (1998,

p.32), esclarece:

“Nos últimos anos, foram realizadas, praticamente na totalidade dos

países latino-americanos diagnósticos sobre os sistemas educativos,

orientados por técnicos de organismos internacionais e por profissionais

locais, geralmente com base em enfoques economicistas e centrados no

tema da produtividade e da necessidade de gerar reformas educativas

que favoreçam a inserção dos respectivos países na lógica da

competitividade, imprescindível num mundo cada vez mais globalizado e

regido pelo livre mercado.”

Sobre o Programa de Promoção de Reforma Educativa na América Latina –

PREAL – Temos que toda abertura que traz modernidade e melhoria da qualidade

de vida, como a abertura do comércio internacional é algo necessário e positivo,

ocorre que em nossa sociedade segundo Moreira (1998, p.34), o raciocínio é:

“Para a definição das competências necessárias no mundo do trabalho,

quem deve ser consultado são os empresários, particularmente os

melhores, o que têm sucesso na concorrência do mercado. Nesse

sentido, a lógica empresarial passa a direcionar a educação.” .

35

Em nosso país o sistema público de ensino está muito debilitado, formou-se

uma mentalidade geral de que o ensino privado tem mais valor, é mais eficaz

porque oferece um ensino de melhor qualidade, razão pela qual não importando o

grau de sacrifício, mesmo os menos favorecidos na escala sócio-econômica,

preferem a escola particular. Assim, de forma sutil a educação está sendo retirada

da esfera dos direitos, ocorrendo um verdadeiro retrocesso no reconhecimento

dos direitos sociais reconhecido pela nossa Carta Magna.

A população não é bastante esclarecida para reconhecendo seus direitos,

unindo-se, reivindicá-los. Deixando, por isso, escapar sem perceber, os direitos

conquistados no passado histórico do país.

Os ensinos fundamental e médio ministrados pelas escolas públicas, não

são eficazes de forma a preparar o educando a possibilitar o acesso ao ensino

superior público. Falando em democratização das políticas educacionais, temos

que analisar o papel desempenhado pelo Banco Mundial, opinando em nossa

educação escolar.

O Banco Mundial conta com 176 países membros é composto por um

conjunto de instituições lideradas pelo BIRD (Banco Internacional para

Reconstrução e Desenvolvimento). Os estatutos prevêem que o peso da votação

é proporcional a participação no aporte de capital, tem os EUA maior capital

investido o que garante sua presidência desde a fundação. O BM foi criado em

1944 e tem cinco países líderes EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido.

Quanto ao papel desempenado pelo Banco Mundial em nossa educação,

Moreira (1998, p.35) questiona:

“Poderíamos pensar que o papel do Banco Mundial, como seria próprio

de uma organização dessa natureza, deveria estar centrado no

36

financiamento de projetos da área educativa. Entretanto, atualmente, o

financiamento não é sua função principal. Apenas 0,5% das despesas

totais dos países de “ renda baixa e média”, de acordo com a expressão

utilizada por esse organismo, são por ele financiados. Daí poderemos

perguntar qual e o papel que essa entidade desempenha atualmente na

área educativa.”

E conclui que:

“Sem dúvida, esse organismo possui uma equipe ampla e competente de

profissionais e exerce notável influência na construção da

homogeneidade discursiva das políticas educativas do continente”.

Segundo alguns autores sobre o assunto, desde a década de 80, até os

hodiernos, a educação sofreu algumas mudanças, ampliou-se o investimento na

área de educação, deu-se uma importância crescente à educação fundamental e,

nos últimos anos deu-se maior atenção às primeiras séries do ensino médio, e

ainda, passou-se a dar atenção específica à educação das meninas, por

comprovado que um pai culto não significa resultar filhos cultos, mas uma mãe

culta resulta a criação de filhos cultos, evidenciando que a mulher-mãe produz

relações positivas com a educação objetivando o bem-estar dos filhos.

Moreira, (1998, p.36): enfoca as reformas indicadas pelo Banco Mundial

para o setor educativo, estabelecendo as prioridades e objetivos.

“Para o Banco Mundial, a reforma educativa, centrada na reforma do

sistema escolar, é urgente e imprescindível para o desenvolvimento

econômico, político e social dos países latino-americanos. A proposta

atual para os países do sul está pautada nos seguintes aspectos:

1. Educação básica como principal prioridade.

2. Qualidade da educação como eixo da reforma educativa.

37

3. Ênfase nos aspectos relativos ao financiamento e à

administração da reforma educativa, no contexto amplo da

reforma do Estado. Nessa perspectiva, a descentralização tem

uma grande importância.

4. Descentralização e instituições escolares autônomas e

responsáveis pelos seus resultados.

5. Promoção de uma maior participação dos pais e da comunidade

nas questões educativas.

6. Estímulo ao setor privado e aos organismos não governamentais

(ONGs), como agentes ativos no âmbito educativo, no nível das

decisões e da implantação das reformas.

7. Mobilização e adequada distribuição de recursos adicionais para

a educação fundamental.

8. Redefinição do papel tradicional do Estado em relação à

educação e à maior participação das famílias e das comunidades

no financiamento da educação.

9. Enfoque setorial, centrado na educação formal.

10. Definição de políticas e prioridades com base em análises

econômicas.”

Analisando os itens acima, precisamos trazer a este trabalho o

entendimento de quem está à frente da educação no país, o discurso do Ministro

da Educação em aula inaugural nesta Universidade, datado de 10.03.2003,

oportunidade em que discursou, além de outros itens da educação, sobre a

necessidade da implantação do ensino a distância como destino de toda a

universidade, e, em produzir alfabetizadores entre os universitários, de forma que

os alunos das universidades públicas engajem no projeto de alfabetização.

Em seu discurso o Ministro defendeu que quanto aos descontos que são

permitidos no imposto de renda para o financiamento do estudo próprio e dos

dependentes fosse remanejado para o setor educacional, para financiar o ensino

público. Recentemente está sendo veiculado pela internet e por outros meios de

comunicação, sobre o apoio do Ministro da Educação ao projeto de lei que obriga

38

o estudante de ensino público, já formado, que ganha, por ano, mais de trinta mil

reais possa contribuir com cinqüenta porcento da mensalidade para a instituição

na qual estudou.

O Banco Mundial tem sua política orientada para reduzir os gastos públicos

no ensino superior. Segundo Coraggio (1996, p.77) apud Moreira, (1998, p,37).

“é urgente saber quais os limites e as possibilidades ainda inexploradas

dessa relação entre o Banco Mundial, os governos e as sociedades da

América Latina, porque dela continuarão decorrendo as políticas

educativas capazes de promover ou bloquear o desenvolvimento

sustentável de nossas sociedades.” .

O Banco Mundial propõe modelos para reformas educativas no Brasil e

estabelece para o ensino fundamental o que considera importante para a

aprendizagem que são em ordem de prioridade: bibliotecas, tempo de instrução,

dever de casa, livros didáticos, conhecimento do professor, experiência do

professor, laboratório, salário do professor e número de alunos por turma.

Analisando as determinações e imposições do Banco Mundial em nossa

educação, no que concerne a elaboração da política educacional, podemos

questionar, se a única hipótese para a renovação educativa em nosso país está

nas propostas do Banco Mundial e por que a elaboração da nossa política

educacional, não está ao nosso encargo?

Partindo do princípio no qual a educação supõe a formação de sujeitos

históricos, ativos, criativos, capazes não apenas de se adaptar à sociedade em

que vivem, mas de transformá-la e de reinventá-la, acreditamos que nós mesmos

devemos propor as mudanças as quais necessitamos no setor educativo, sem

precisar que sejam essas mudanças impostas por um organismo alienígena. Não

39

podemos esquecer que fomos capazes de, no exercício da nossa cidadania,

elaborar a nossa Constituição, que é a lei mãe e traduz a vontade de um povo.

A história demonstra a nossa capacidade em propor e promover as

transformações que o setor educacional necessita, reinventar a nossa política

educacional através de todos os seguimentos da sociedade compromissados com

a educação. Somos capazes tanto quanto fomos para elaborar e publicar o

manifesto de 1932, transcrito em parte no capítulo I deste trabalho, e que traduz a

expressão, o querer e adequação das necessidades de uma sociedade. Porque só

a sociedade na qual será desenvolvida a política educacional, pode saber as suas

necessidades.

A política educacional ditada por organismos estrangeiros, corre o risco de

não se adequar ao querer e as necessidades da sociedade na qual será

desenvolvida. No caso do Banco Mundial e o movimento de reformas educativas

nos países latino-americanos, pode culminar com o extermínio do ensino público,

conforme nos traz Moreira, (1998, 40);

“Para Arroyo (1997), educador fortemente comprometido com propostas

educativas alternativas implementadas em nosso país e em outros países

latino americanos, o movimento de reformas educativas promovido pelo

Banco Mundial tem caráter de modernização conservadora e, caso

continue a reforçar-se e a ampliar sua penetração

no tecido social, o futuro da escola pública na América Latina está

ameaçado”.

Para afirmar a competência dos educadores do nosso país em propor

eficientemente, a própria reforma educativa, Moreira (1998, p.40) denuncia outro

movimento de propostas de reforma educativa.:

40

“Entretanto, o outro movimento de reformas educativas, segundo o

mesmo autor, é mais nosso, emerge de nossas próprias raízes e de

nossa própria experiência histórica e fundamenta-se na defesa do

público, da educação como direito, que somente pode ser garantida na

esfera pública.”.

A política educacional só é democrática quando elaborada de conformidade

com os indivíduos aos quais será desenvolvida. A política educacional idealizada

por indivíduos ou organismos alienígenas pode resultar em deseducação,

(exemplo a educação dos jesuítas com os índios), mesmo que a política

educacional ditada, esteja imbuída de sentimentos de obter bons resultados, só

que os bons resultados podem não ser bons para a sociedade na qual será

desenvolvida a política educacional.

Com a situação precária sócio-econômica de nosso país, é necessário

defender o ensino público e compulsório, além de idealizarmos a política

educacional, que será desenvolvida numa sociedade em que, apenas dez por

cento do lucro do capital está concentrado nas mãos da população.

Nunca é demais lembrar que o ensino público é direito conquistado após

longos anos de luta e espera, desde o período do império, como relatado neste

trabalho no capítulo I, título história da educação no Brasil. Outro fato de não

menos importância que não pode ser esquecido é que no Brasil, a distribuição de

renda não existe, a riqueza concentra-se nas mãos de poucos e a maior parte da

população “sobrevive”, enquanto um percentual grande vive abaixo da linha da

pobreza, ou seja, na linha da miséria, causas que obrigam seja o ensino

obrigatório e público.

41

42

CAPÍTULO V

RESERVA DE VAGAS PARA ACESSO AO ENSINO SUPERIOR

PÚBLICO

5.1. Acesso pelo sistema de reserva de vagas.

43

A Constituição da República de 1988 estabeleceu a redução da pobreza e

desigualdade no país, benefícios que só serão possíveis com a colocação em

prática de uma gama de projetos nos diversos seguimentos da sociedade, que

visem o equilíbrio das classes, até que se atinja a igualdade de oportunidades.

A lei 3524/2000 estabelece o sistema de reserva de vagas para alunos

oriundos da rede pública e para afros-descendentes, no que tange o acesso ao

ensino superior público.

O sistema de cotas não resolve problemas de profundidade, trata-se de

benefício paliativo do qual virão as conseqüências, caso não se tenha uma política

forte e atuante quanto a melhoria da qualidade dos ensinos básico e médio, e que

esse ensino seja propedêutico, preocupado em formar cidadãos plenos e não

apenas trabalhadores dos quais o capitalismo necessita.

No Brasil os indivíduos pertencentes às camadas pobres da população,

raramente rompem com a barreira da exclusão sejam brancos, negros ou pardos.

Todos os indivíduos de baixo poder aquisitivo, vindo de famílias compostas de

indivíduos que não tiveram acesso ao estudo básico, não importando se oriundos

de escolas públicas ou particulares, têm a mesma dificuldade ao acesso ao ensino

superior público. Podemos dizer mais, a dificuldade vai além do acesso.

Porquanto a dificuldade está presente também na manutenção do graduando no

ensino público; dificuldades como, despreparo, transporte, alimentação, material

didático e pesquisas.

O sistema de reserva de vagas, introduzido em nosso ordenamento jurídico

recentemente, vem causando muitas polêmicas, para entendemos devemos

possuir uma visão primeiramente de amor ao próximo, de inclusão socialista e

44

com o espírito imbuído de resolução das desigualdades. Já vimos no capítulo II,

que a inclusão deve ter início no ensino fundamental, e essa inclusão deve ser

para negros e brancos, para que todos possam concorrer em igualdade de

condições, não só quanto ao acesso ao ensino superior público, bem como quanto

à concorrência na vida profissional após a graduação.

Outro aspecto também que deve ser analisado, é quanto ao nível escolar,

considerando que, com o sistema de reserva vagas o processo seletivo

obrigatoriamente deverá ser flexível na análise acatando alunos de nível escolar

mais baixo, o que refletirá na qualidade do ensino superior. Este fator pode

acarretar em diminuição da qualidade do ensino superior público, neste momento

lembramos que as faculdades públicas funcionam bem, e funcionam bem porque

lá estão os filhos dos ricos, que estão em busca da qualidade do ensino. A perda

da qualidade do ensino superior público será fator desmotivante, podendo surgir à

figura do ensino superior em faculdades particulares de melhor nível e o

sucateamento do ensino superior público, fato ocorrido nos ensinos fundamental e

médio da rede pública.

Necessário é que os poderes públicos ministrem ensinos fundamental e

médio com qualidade, e promovam a cultura entre os educandos, para

proporcionar a todos, igualdade, sem que nenhuma classe social ou raça

necessite de reservas de vagas para os indivíduos que vem de escolas públicas

com péssima qualidade de ensino que não permite a competição verdadeira e em

igualdade.

“tratar os iguais com igualdade, e os desiguais com desigualdade, na

exata medida em que se desigualam”.

Rui Barbosa.

45

Alguns estudiosos que defendem a lei de reserva de vagas adotam o

entendimento de que o sistema de reserva de vagas satisfaz o que estabelece a

constituição quanto à redução da pobreza e desigualdade no país e que a lei de

cotas não é discriminatória porque satisfaz o interesse social, razão pela qual é

lícita, porque conserta ou tenta reparar a vulnerabilidade que sempre

apresentaram os preconceitos e discriminações raciais, assim nada mais justo que

a diferença da lei lhe seja benéfica para a inclusão de um bem público.

Assim o fazem, sem perceber que a lei de reserva de vagas esconde uma

deficiência e omissão do estado em ministrar um ensino público de qualidade e

fiscalizar a qualidade do ensino particular. Caso não haja urgentes implementos

de reformas consideráveis no ensino a desigualdade perdurará e refletirá mais

fortemente no mercado de trabalho.

5.2. Sistema de Reserva de Vagas para Afros-descendentes

“Se queremos ficar felizes e seguros, todos têm

que estar felizes e seguros”.

Numa sociedade, quando a igualdade não é possível, surge a revolta a

violência, devendo a sociedade e estado implementarem programas com a

finalidade de exterminar as desigualdades, mas será que a reserva de vagas é a

solução?.

O sistema de cotas deve ser analisado sobre o prisma da igualdade,

proteção, discriminação e responsabilidade. O ordenamento jurídico, está de

forma ordenado para impedir qualquer arbitrariedade por parte do poder público,

impossibilitando com isso, que os legisladores elaborem leis em proteção de

46

determinadas classes em detrimento de outras, situação que não satisfaz o

interesse social.

Verdade é que existe uma dívida para com a raça negra, que foi explorada

e sacrificada pela raça branca ante o insustentável e cruel regime escravocrata

que se instalou no país por séculos. Sabemos também que a abolição da

escravatura ocorreu de forma aleatória, sem que houvesse um programa de

proteção e inserção do negro liberto na sociedade. Que livres continuavam

escravos, porque não tinham como prover o próprio sustento, ficaram aos

arredores das grandes cidades no intuito de sobrevivência pelos favores em forma

de trabalho ou esmolas vindos da classe dominante, criando assim as favelas.

Passados mais de um século da publicação da lei áurea, nenhuma medida

estatal de inclusão social do negro foi implementada. É evidente que se faz

necessário implementar medidas de inserção do negro, mas a lei de reserva de

vagas ao acesso ao ensino superior público é a solução?

A reserva de 40% das vagas no ensino superior da rede pública deste

Estado, para os afros-descendentes pela lei 3524/2000, é denominada pela

própria lei como ação afirmativa, em que o legislador se espelhou nas leis

elaboradas nos EUA.

Gomes (2001, p.40), define ação afirmativa como:

“Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um

conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório,

facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à

discriminação racial, de gênero e de origem nacional, bem como para

corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no passado,

tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de

acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego”.

47

Nos Estados Unidos a ação afirmativa na área da educação teve início nos

anos 60, como noticia Gomes, (2001, p.103);

“-No campo da Educação, os primeiros programas de ação afirmativa

foram postos em prática no início dos anos 60, logo após o Presidente

Kennedy haver determinado, através de decreto executivo, que fossem

tomadas medidas positivas no sentido de promover a inserção dos

negros no sistema educacional de qualidade, historicamente reservado

às pessoas de raça branca”.

Do texto que podemos concluir que, nos Estados Unidos, o racismo

imperou a ponto de que o ensino de qualidade fosse reservado apenas para a

raça branca, não é o caso que ocorre em nosso Estado.

A nossa Constituição da República de 1988, impõe princípios de igualdade

como:

“Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”

“Art. 206, O ensino será ministrado com base nos seguintes

princípios:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;”

“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado

mediante a garantia de:

V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da

criação artística, segundo a capacidade de cada um. ”

Os que defendem o sistema de reserva de vagas para os afros-

descendentes como, ação afirmativa do Estado em prol do negro, o fazem porque

48

entendem que esse é o único caminho que dá direito ao acesso à universidade

para uma parte da população que nunca teve esse direito. Desconsiderando o fato

que essa população não tem acesso apenas pelo fato de pertencer à raça negra,

e, classificam os que são contra a lei, como racistas.

Como citado nos primeiros parágrafos deste título, a raça branca tem uma

dívida para com a negra, mas não é com um sistema de reserva de vagas para o

acesso ao ensino superior público que a quitação se dará.

A pensar assim, a sociedade deveria reservar vagas para os afros-

descendentes em todos os seguimentos da sociedade, como nos concursos a

todos os cargos públicos, nas eleições para o executivo e o legislativo, para as

vagas de emprego no setor privado e outros. A reserva apenas no setor da

educação é traduzida como demagogia, porque não temos escolas só para

brancos, temos sim, um ensino público deficiente e ineficaz, porque é de baixa

qualidade, bem como desigualdade na distribuição de renda, fatores que colocam

a maioria negra e branca num mesmo patamar de desigualdade.

Falta leitura e reflexão sobre o tema, como exemplo; porque então o Estado

não dirige esforços para a área da educação e aumenta a oferta de vagas no

ensino superior do setor público? Ou, ainda, talvez seja de bom alvitre acabar

com o vestibular. Fazendo melhor, direciona esforços e implementa ensinos

fundamental e médio de qualidade de forma tal que negros e brancos poderão

concorrer em igualdade de condições. Porque na verdade, não se trata de “negros

e brancos” e sim capacitados e incapacitados, independente da etnia de origem.

Melhor seria se todo o ensino no país fosse de responsabilidade única do

Estado, o que justificaria o projeto do Ministro da Educação em acabar com a

dedução no imposto de renda, do valor gasto com a educação do próprio

49

declarante ou de seus dependentes, e, criando imposto para a implementação e

manutenção da educação pública, semelhante ao imposto das grandes heranças,

e ainda, que as empresas contribuíam de forma mais incisiva com o ensino, nesse

sistema tributará os desiguais de melhor situação sócio-econômica. Talvez assim,

“um dia”, quem sabe seremos sujeitos da mesma igualdade?

Ademais, o cobrado nas provas de acesso ao ensino superior público não

corresponde ao ensino ministrado nos graus de ensino antecedentes, até mesmo

porque o sistema de aprovação nas primeiras séries é compulsório, então,

questiona-se, e o aprendizado onde está?

A forma de democratizar o acesso ao ensino superior só pode estar na

melhoria do nível de ensino, com a qualificação dos educadores e a

conscientização das famílias dos educandos e de toda a sociedade quanto à

necessidade urgente do ensino de melhor qualidade, portanto, na reformulação do

ensino, bem como, no estímulo ao educando, porque a incapacidade para o

acesso não está na raça e sim no ensino ineficaz e de péssima qualidade,

ministrado em nossas escolas, tanto da rede pública como da rede privada.

Quais as outras medidas de inclusão dos negros foram impostos pelo

Estado para acabar com a desigualdade social, motivo determinante da

elaboração da lei de reserva de vagas?

Imprescindível que o Estado implemente uma política de inserção sócio-

econômica para os negros, para que estes não dependam eternamente de uma lei

de reservas de vagas que lhes garantam ao ensino superior público e dessa forma

sejam “equiparados” aos brancos. Inconcebível que os afros-descendentes

dependam, eternamente, de uma lei tutora inclusiva nos direitos, aos quais a

constituição já lhes garante.

50

5.3. Sistema de Reserva de Vagas para Alunos da Rede Pública

A lei 3524 de 2000 prevê reserva de vagas para o acesso ao ensino

superior público, também para alunos oriundos do ensino da rede pública. O

Instituto de Opinião Pública e Estatística (Ibope), já mostrou que os alunos

brasileiros são os piores em leitura, lideram a repetência na América Latina e

estão entre os nossos 74% de analfabetos funcionais. O Exame Nacional de

ensino Médio (Enem), vem registrando a queda na qualidade da educação.

Como já vimos e revimos neste trabalho, a péssima qualidade do ensino é a

grande vilã da educação, isto porque reflete diretamente na competitividade dos

bens e serviços que cada indivíduo é capaz de produzir, bem como no acesso ao

ensino superior público. Assim, caso não ocorra mudanças de forma a promover a

eficácia do processo pedagógico, a desigualdade vai continuar imperando.

Se o ensino público promove o fracasso, quando ministra ensino de

péssima qualidade, promove também a evasão e a exclusão. Dessa forma, a

sociedade pode denunciar o fim do ensino público.

A qualidade do ensino promove a igualdade, e essa só pode ser com

previsão de atingir as massas, se for implementada através da rede oficial de

ensino. No que chegamos a inarredável conclusão de que a sociedade deve

primar pelo aumento, melhoria e qualidade do ensino público, seja ele de qualquer

nível.

51

A lei que reserva vagas para alunos da rede pública de ensino vai de

encontro à constituição federal e não promove a igualdade. É uma lei tutora que

reflete a incompetência do Estado na aplicação do ensino fundamental e básico.

Bastasse um programa sério de qualificação, melhoria de salário do educador e

conscientização e cooperação de todos os seguimentos da sociedade, que

automaticamente a qualidade do ensino seria eficaz para a competição em

igualdade de condições com qualquer outro indivíduo.

Importante ressaltar, que a melhoria na qualidade do ensino público inclui

assistência a alimentação, acesso aos livros pedagógicos e demais material

escolar, transporte, bibliotecas e acesso aos mais variados seguimentos da

cultura. Só assim, teremos uma sociedade mais justa cumprindo a igualdade

garantida em nossa lei mãe.

Conclusão

Do estudo feito e narrado neste trabalho, depreende-se que chegar aos

bancos das faculdades públicas é coisa incomum às camadas pobres da

população, e as causas da exclusão são: Exploração do trabalho humano pelo

capitalismo dominante, que impõe falta de interesse em implementar melhorias

sócio-econômicas para a população carente; A falta de política educacional

implementando ensino de qualidade nas escolas da rede pública; A falta de

acesso à cultura; A falta de conscientização da família.

52

Os indivíduos que, com muito sacrifício, conseguem romper as barreiras da

exclusão, têm que enfrentar a concorrência desleal com inúmeros outros que não

fazem parte do setor inclusivo.

Assim concluímos sem medo de errar, que o ensino é seletivo, portanto

desigual, formando-se aqueles que têm condições financeiras para tanto. Nesse

contexto não podemos perder a capacidade de indignação pelas coisas erradas.

Verifica-se também, neste quadro, um desenvolvimento seletivo, mas

sabemos que a igualdade econômica não está na pauta de nosso sistema político,

a igualdade é uma categoria da cidadania. Todo o indivíduo tem direito à

cidadania, e para a formação do cidadão pleno se faz necessário que as camadas

que fazem parte do nível sócio econômico baixo tenham à sua disposição, os

estudos fundamental e médio de qualidade.

Sabemos também que a capacidade de trabalho é o único capital do

trabalhador, e que o aumento dessa capacidade só se dá com o estudo, portanto,

é de extrema necessidade a implementação urgente do ensino eficaz.

Para que haja qualidade desse ensino, é imprescindível que as

necessidades dos indivíduos, enquanto sujeitos do processo de aprendizado,

sejam satisfeitas, tais como: assistência à alimentação e a saúde, acesso aos

livros didáticos por fornecimento a título gratuito e ainda, instalação de bibliotecas.

Necessário também que se implemente um projeto de capacitação dos

educadores, facilitando o acesso a qualificação específica, com a renovação do

saber e, principalmente, salários dignos, capazes de suprir as necessidades.

53

Ainda é necessário que os professores estejam motivados, não só pelo fato

de salários dignos, como pela valorização do ofício pelos órgãos públicos

competentes e pela sociedade.

Só assim será dispensável a elaboração de leis visando à inclusão, na qual

os legisladores acreditam estar imbuída da onipotência, como a do sistema de

reserva de vagas para alunos oriundos da rede pública de ensino e alunos afros-

descendentes.

Destarte, devem ser implantadas políticas educacionais idealizadas e

elaboradas por indivíduos inseridos no contexto educacional. Tudo isso, sem

esquecermos que a educação como direito, somente pode ser garantia se pública

e só assim o direito ao acesso ao ensino superior público será democratizado, e,

portanto, “para todos”.

BIBLIOGRAFIA

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CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil. 8ª ed. Petrópolis, Editora Vozes, 2002.

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54

TOMMASI, Lívia De; WARDE, Mirian Jorge e HADDAD, Sérgio. O Banco Mundial

e as Políticas Educacionais, 4º ed. SP. Editora Cortez, 2003.

SHIROMA, Eneida; MORAES, Maria Celis M. de e EVAGELISTA, Olinda. Política

Educacional, 2ª ed. RJ. Editora DP & A, 2002.

GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação Afirmativa & Princípio Constitucional da

Igualdade (O Direito Como Instrumento de Transformação Social. A Experiência

dos EUA), RJ. Editora Renovar, 2001.

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Introdução à Filosofia. 2ª ed. SP. Editora Moderna, 1993.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. 9ª ed. Editora Saraiva, 1994.

OLIVEIRA, Dalila Andrade e ROSAR, Maria de Fátima Felix. Política e Gestão da

Educação. BH, Editora Autêntica, 2002.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2ª ed. SP. Editora

Moderna, 1996.

SOARES, Orlando. Comentários à Constituição da República Federativa do Brasil.

3ª ed. RJ. Editora Forense, 1990.

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ÍNDICE

RESUMO 05 CAPÍTULO I 08

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 08

1.1 – No Mundo 09

1.2 – No Brasil 11

CAPÍTULO II 19

ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO DESAFIOS 19

2.1 – Desafios sócio-econômicos 20

2.2 – Qualidade dos ensinos básico e médio 23

CAPÍTULO III 27

ENSINO FUNDAMENTAL E BÁSICO SEGUNDO A LDB 27

3.1 – Ensino Fundamental a Básico Segundo a Ldb 28

3.2 – LDB segundo Pedro Demo 29

CAPÍTULO IV 31

POLÍTICAS EDUCACIONAIS 31

4.1 – O que é Política Educacional e Política Educacional alienante 32

4.2 – Democratização das políticas educacionais e cidadania 34

CAPÍTULO V 43

56

RESERVA DE VAGAS PARA ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO 43

5.1 – Acesso pelo sistema de reservas de vagas 44

5.2 – Sistema de reserva de vagas para Afros-descendentes 46

5.3 – Sistema de reserva de vagas para alunos da rede pública 51

CONCLUSÃO 53

BIBLIOGRAFIA 55

ÍNDICE 57

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Docência do Ensino Superior

Título: Acesso ao Ensino Superior Público.

Autora: Sebastiana Alves Rodrigues

Orientador: Celso Sánchez

Data da entrega: _______de_______________ de_________

Avaliado por:____________________________Grau:_______

Avaliado por:____________________________Grau:_______

Avaliado por:____________________________Grau:_______

Grau final:__________________________________________

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Rio de Janeiro, _______de __________de _____

_______________________________________

(coordenador do curso)