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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ESTUDO SOBRE A APLICAÇÃO DA DISCIPLINA DE FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Por: Francisco Fausto dos Santos Ribeiro Orientador Prof. MARCELO MARTINS SALDANHA DA GAMA Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · CAPÍTULO II - COMO FILOSOFAR COM AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES 13 2.1. A Filosofia como estímulo no Ensino Fundamental 16 2.2

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ESTUDO SOBRE A APLICAÇÃO DA DISCIPLINA DE FILOSOFIA

NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Por: Francisco Fausto dos Santos Ribeiro

Orientador

Prof. MARCELO MARTINS SALDANHA DA GAMA

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ESTUDO SOBRE A APLICAÇÃO DA DISCIPLINA DE FILOSOFIA

NA EDUCAÇÃO BÁSICA

OBJETIVOS:

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Docência do

Ensino Superior.

Por: Francisco Fausto dos Santos Ribeiro

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AGRADECIMENTOS

A todos os professores do Instituto A

Vez do Mestre, que lecionaram para

minha turma e que me ajudaram

através de seus ensinamentos a

concluir este curso.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais

por terem me incentivado a trilhar os

caminhos da educação e do saber

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RESUMO

A presente monografia aborda o estudo da aplicação da filosofia na

educação das crianças e adolescentes. A filosofia como disciplina escolar ficou

muito tempo abolida das salas de aula do nosso País, retornando somente

após o término da ditadura militar, através deste contexto verificamos que o

ensino ministrado às crianças e adolescentes ficou relegado simplesmente a

transmissão de matérias e conteúdos sem a preocupação de ensiná-las a

pensar e a desenvolver sua reflexão sobre o seu cotidiano e o mundo ao seu

redor. Com a finalidade de procurar métodos para abrandar tal situação,

procuramos pesquisar a importância da filosofia no contexto da sociedade e da

sala de aula, a sua aplicação, o melhor modo de filosofar com as crianças, as

metodologias que poderíamos adotar para ministrar aulas com proficiência

adotando estratégias para racionalizar o currículo e preparar melhor os

professores para ministrar aulas. Na conclusão fazemos referências sobre a

importância de direcionar nossos jovens para que sejam pessoas pensantes e

reflexivas.

PALAVRAS- CHAVE: Filosofia, ensino, reflexão.

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METODOLOGIA

O presente trabalho foi elaborado através de pesquisas bibliográficas

utilizando livros, revistas jornais e também pesquisas na internet. Começamos

a fazer uma reflexão sobre o tema, para partirmos para a pesquisa em

bibliotecas com a leitura de livros e outras bibliografias.

Depois dessa etapa, anotamos os principais tópicos da bibliografia

pesquisada para fazer a dissertação e a resenha do que foi lido e pesquisado

para concluir a redação definitiva.

Na confecção do trabalho procuramos focar como prioridade a utilização

das aulas de filosofia para conduzir os jovens a serem indivíduos pensantes,

reflexivos e céticos quantos às varias ideologias negativas existentes no nosso

cotidiano.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA 09

1.1. Aplicação e utilidade da Filosofia 10

1.2. A primazia da discussão filosófica com as crianças 11

CAPÍTULO II - COMO FILOSOFAR COM AS CRIANÇAS E

ADOLESCENTES 13

2.1. A Filosofia como estímulo no Ensino Fundamental 16

2.2. Estratégias para racionalizar o currículo no ensino

de Filosofia para crianças 18

CAPÍTULO III – A FILOSOFIA NO ENSINAR E APRENDER 20

3.1 Os profissionais do ensino 21

3.2 O licenciado em Filosofia 23

CONCLUSÃO 25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 27

ÍNDICE DOS ANEXOS 28

ANEXOS 29

FOLHA DE AVALIAÇÃO 32

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INTRODUÇÃO

A finalidade deste trabalho é o de pesquisar e analisar as metodologias

e os resultados do ensino de filosofia na educação dos jovens no Brasil.

Procuramos delimitar esta pesquisa nos níveis do ensino infantil,

ensino fundamental e ensino médio. Serão apresentados estudos sobre as

metodologias utilizadas, as práticas de ensino aplicadas e os níveis de

capacitação dos professores que atuam nesta área.

Estudaremos no capítulo um a importância do ensino da filosofia,

verificando sua aplicação, utilidade e o efeito positivo da discussão filosófica

com as crianças e adolescentes.

No capítulo dois veremos práticas de como filosofar com as crianças,

verificando a utilização da mesma como estímulo educacional no ensino

fundamental e as estratégias para racionalizar o currículo no ensino da

disciplina.

No capítulo três, apresentaremos estudos sobre a inserção da filosofia

no modo de ensinar e aprender e estudaremos a atuação dos profissionais que

ensinam a disciplina e sua capacitação profissional.

Serão focados estudo de soluções para atenuar problemas que

ocorrerem no ensino da disciplina.

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CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA

A inclusão do curso de filosofia no currículo das escolas do ensino

médio e nas séries iniciais do ensino superior talvez leve algumas pessoas a

considerarem que só os alunos de ciências humanas deveriam se ocupar com

seu estudo, e não os futuros engenheiros, médicos, comerciantes, técnicos e

profissionais da área de ciências exatas e biológicas.

Ao contrário, estudiosos da educação defendem a ideia de que a

iniciação filosófica não só é necessária como também, do ponto de vista

pedagógico, deveria ser obrigatória em todas as séries do ensino fundamental

como já é no ensino médio, de acordo com a Lei nº 11.684, de 2 de junho de 2008.

Professores defendem que a filosofia é muito importante para a formação

integral de todos os alunos, porque ao estimular a elaboração do pensamento

abstrato, a filosofia ajuda a promover a passagem do mundo infantil ao mundo

adulto. Se a condição do amadurecimento está na conquista da autonomia no

pensar e no agir, muitos adultos permanecem infantilizados quando não

exercitam desde cedo o olhar crítico sobre si mesmos e sobre o mundo.

O estudo de filosofia é essencial porque não se pode pensar em

nenhum homem que não seja solicitado a refletir e agir. Isso significa que todo

homem deveria ter uma concepção de mundo, uma linha de conduta moral e

política, e deveria atuar no sentido de manter ou modificar as maneiras de

pensar e agir do seu tempo. A filosofia oferece condições teóricas para a

superação da consciência ingênua e o desenvolvimento da consciência crítica,

pela qual a experiência vivida é transformada em experiência compreendida,

isto é, em um saber a respeito dessa experiência.

Em última análise, cabe à filosofia fazer a crítica da cultura. Só assim

será possível desvelar as formas de dominação que se ocultam sob o

convencionalismo, a alienação e a ideologia.

Uma das características dos Estados autoritários é impedir o ensino da

filosofia a fim de silenciar a crítica dos pensadores e também de garantir a

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obediência passiva dos cidadãos. Isso já aconteceu no Brasil quando a partir

de 1971, o ensino de filosofia desapareceu das escolas do ensino médio,

antigo 2º grau, durante treze anos e os cursos de filosofia no Ensino Superior

se esvaziaram a ponto de algumas faculdades terem cogitado a sua extinção.

Por isso, qualquer que seja a atividade profissional futura ou projeto

de vida, enquanto pessoa e cidadão, o aluno precisa da reflexão filosófica para

o alargamento da consciência crítica, para o exercício da capacidade humana

de se interrogar e para a participação mais ativa na comunidade em que vive.

1.1 – Aplicação e utilidade da filosofia

Poderemos fazer a seguinte pergunta: Qual a utilidade da filosofia para

os alunos? E para responder a questão, precisamos saber primeiro o que

entendemos por utilidade. Eis o primeiro impasse. Vivemos num mundo em

que a visão das pessoas está marcada pela busca dos resultados imediatos do

conhecimento. Então, é considerada importante a pesquisa do biólogo na

busca da cura do câncer; ou o estudo de matemática no ensino médio porque

“entra no vestibular”; e constantemente o estudante se pergunta: “Para que

vou estudar isto, se não usarei na minha profissão?

Seguindo essa linha de pensamento, a filosofia seria realmente “inútil”:

não serve para nenhuma alteração imediata de ordem pragmática. Neste

ponto, ela é semelhante à arte. Se perguntarmos qual é a finalidade de uma

obra de arte, veremos que ela tem um fim em si mesma e, nesse sentido, é

“inútil”.

Entretanto, não ter utilidade imediata não significa ser desnecessária.

A filosofia é necessária.

Onde está a necessidade da filosofia? Está no fato de que, por meio

da reflexão, a filosofia permite ao homem ter mais de uma dimensão, além da

que é dado pelo agir imediato no qual o “homem prático” se encontra

mergulhado.

É a filosofia que dá o distanciamento para a avaliação dos

fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam; reúne o

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pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade; retoma a

ação pulverizada no tempo e procura compreende-la.

Portanto entende-se que a filosofia é a possibilidade da

“transcendência humana”, ou seja, a capacidade de que só o homem tem de

superar a situação dada e não escolhida. Pela transcendência o homem surge

como ser do projeto, capaz de liberdade e de construir o seu destino.

A filosofia recupera o processo perdido no imobilismo das coisas feitas.

A filosofia impede a estagnação.

Por isso filosofar sempre se confronta com o poder, e sua investigação

não fica alheia à ética e à política.

1.2 – A primazia da discussão filosófica com as crianças

A discussão no campo da filosofia aguça o raciocínio e as habilidades

de investigação das crianças como nenhuma outra coisa pode fazer. Mas, em

muitas salas de aula, falar é um nome feio e as tentativas feitas pelos

estudantes neste sentido, às escondidas, são tratadas como evidência de

desobediência e não como impulsos saudáveis que apenas precisam ser

efetivamente organizados a fim de que sejam aproveitados a serviço da

educação. Na verdade, embora devêssemos estar prontos a reconhecer que,

virtualmente, toda experiência educacional da escola primária deve envolver ou

apontar na direção dos cinco fatores – ler, escrever, ouvir falar e raciocinar -,

temos de estar preparados para ver que eles existem em níveis diferentes, que

raciocinar é comum a todos eles e que falar e ouvir formam os fundamentos

sobre os quais ler e escrever podem ser sobrepostos. Matthew Lipman nos dá

o seguinte exemplo sobre a discussão inserida na educação das crianças:

Assim como um gato pode ser encorajado a buscar a saída de uma caixa se o mecanismo de tranca for operado por um cordão em vez de uma chave, assim uma criança é mais rapidamente encorajada a participar da educação se esta enfatizar a discussão em vez de exercícios monótonos com papel e caneta (LIPMAN, 1990, p.41).

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CAPÍTULO II

COMO FILOSOFAR COM AS CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

Para entender como a filosofia contribuirá na educação de alunos do

ensino fundamental e médio no Brasil, devemos ter em mente que nosso

conhecimento é adquirido por meio de experiências e de relações com o

ambiente social, cultural e com aquilo que vivenciamos ao longo do processo

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educativo, que na verdade, tem perenidade por toda vida. Para explicar

melhor, a experiência do próprio educador poderá ajudar.

Em qualquer disciplina, o professor sabe – ou deveria saber –

descrever como seu aluno processa determinado conhecimento e que um

novo conhecimento necessita de outros já predeterminados e,

consequentemente, aprendidos. Tomamos por exemplo a seguinte situação:

para resolver uma equação matemática, devemos saber as quatro operações

básicas. Dessa maneira, percebemos que o conhecimento é uma sucessão de

novos aprendizados com base sólida na formação anterior. Isso torna claro e

importante quando observamos que tiveram um desenvolvimento escolar com

processos e etapas com falácias, ou seja, “puladas”.

No ensino fundamental existem casos em que crianças não

desenvolveram certas habilidades e competências inseridas na educação

infantil, com algumas características mal trabalhadas no que diz respeito ao

esquema motor ou até mesmo os conhecimentos específicos.

Nota-se através de pesquisas que tanto na rede pública de ensino

quanto na privada, é que quando a filosofia chega ao ensino médio, grande

parte dos alunos a detestam, pois são tomados pelas teorias dos grandes

pensadores. Não percebem a possibilidade da experiência filosófica como algo

prazeroso, no sentido de pensar como o outro pensou, de viver a filosofia no

seu dia-a-dia e no desenvolvimento do seu próprio pensamento.

Existem professores que constroem um excelente trabalho, mas há

outros, no entanto, que ainda não têm em mente que o aluno não teve

conhecimento prévio sobre filosofia, desconhece o assunto como atividade de

pensamento e acaba por encará-la como mais uma matéria dos bancos

escolares.

Ao observarmos outra vertente, notamos que o professor sai da

universidade ávido por um emprego, mas sem um domínio efetivo desse papel

de lecionar filosofia. Por outro, encontra uma escola que, por sua vez, está

desesperada por profissionais para garantir o cumprimento da lei ou até

mesmo para se autopromover. Adota-se um livro didático, se dá a devida

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assistência pedagógica ao professor e é trilhado, assim, o caminho de um

desastre filosófico!

Para contornar esse problema, as universidades têm formulado a

grade de suas disciplinas e dado ênfase às aulas de Prática de Ensino com um

compromisso sério nas atividades de formação do professor e do seu trabalho

como estagiário. Observamos aí que o professor antes contava apenas com

sua formação acadêmica em Filosofia, agora precisa de um amparo de todas

as técnicas e práticas pedagógicas. Mas sabe-se que isso não é um problema

que só acontece nas aulas de filosofia; as diversas disciplinas constroem

muralhas que impedem a sua aprendizagem mais efetiva e dinâmica.

Pela exigência legal, a filosofia voltou como disciplina no ensino

médio, mas percebe-se que quanto mais cedo trabalhada, maiores os

benefícios. Se a colocarmos como primordial no ensino médio, também

podemos afirmar que é necessária também no ensino fundamental, onde as

crianças passam pela experiência de pensar junto, de discutir temas em busca

de novas opiniões, ponderar outros ângulos, fornecendo, assim, ferramentas

intelectuais que capacitem os julgamentos e o senso crítico para que pensem,

melhor e por si mesmas. Não podemos deixar de salientar o desenvolvimento

social em que o aluno passa a enxergar os demais colegas como seres

pensantes importantes para o seu crescimento intelectual, humano social e

moral.

Quando formos ministrar aulas de filosofia para as crianças que

estão no nível infantil, devemos adotar como metodologia as histórias, pois é o

tópico de trabalho que têm maior encantamento para as crianças desse nível.

Mas com devem ser contadas as histórias? Inseridas na filosofia as histórias

precisam ser contadas diferentemente, necessitam de certo mistério, um quê

de suspense e participação dos pequeninos. Por que não deixarmos as

próprias crianças contarem? Por que não deixarmos que elas terminem ou até

mesmo escolham o final? Existem exímios professores que são contadores de

história, mas poucos dão à história o direito de ser questionada, como as

crianças geralmente fazem. A filosofia não quer perder o que há de peculiar

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entre as crianças, que é a discussão, a análise de um problema, questionar até

se esgotarem todas as possibilidades de respostas.

O trabalho de filosofia no ensino fundamental deve ser calçado no

desenvolvimento das habilidades cognitivas fundamentais mediante diálogo e

exercícios preestabelecidos para esse fim. Geralmente, ao final das

discussões devem ser utilizados variados exercícios e atividades artísticas que

possuem a temática trabalhada. Conforme LIPMAN (1990, p 177)”,existem três

componentes indispensáveis na formação do professor de filosofia: explicação,

modelagem e experiência”. A explicação pode ser dada a qualquer professor,

mas é necessário saber utilizá-la é isso que as outras características vão

complementar. A modelagem vai retratar como o professor vai dar forma a sua

aula e a sua discussão. No que diz respeito à experiência, é valido ressaltar

que uma pergunta bem colocada, na hora certa, pode fazer toda a diferença

em uma discussão filosófica.

Para muitos professores filosofar com as crianças é um desafio,

pois filosofar com as mesmas, não se aprende rapidamente ou somente, com

cursos de formação. É preciso estar no meio atuando, lapidando

continuamente questionamentos e atentos aos menores indícios e

oportunidades que as crianças fornecem.

Há de se enfatizar a possibilidade de um trabalho coeso para o

contínuo desenvolvimento do “pensar bem” que é dividido em três tipos

fundamentais de pensamento: o reflexivo, que é aquele pensar sobre o que já

havia pensado, o re-pensar; o crítico, em que revemos aquilo que pensávamos

em conjunto com os demais, construindo, avaliando, trocando e formando

novas opiniões; e, por fim, o criativo, em que buscamos novas alternativas e

respostas. Esses três tipos são trabalhados com mais ênfase pela filosofia,

porém, são utilizados com todas as áreas curriculares.

2.1 – A Filosofia como estímulo no Ensino Fundamental

O estágio inicial de uma sessão de ciência filosoficamente conduzida

envolve as crianças naquela combinação de ler, falar e ouvir que fixa um

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período para o diálogo e, ao mesmo tempo, apresenta à criança um modelo de

discussão reflexiva.

Professores induzem as crianças a indicar o que acharam

interessante na passagem que leram. Isso permite aos alunos nomearem itens

para discussão: na verdade, possibilita que eles estabeleçam o programa,

embora não impeça que o professor introduza outros tópicos que na opinião

dele são dignos de discussão. Visto que o diálogo continua, o professor

introduzirá no momento apropriado aqueles exercícios ou planos de discussão

estipulados pelo manual de instruções pára desenvolver os pontos em questão

ou para fortalecer as habilidades de raciocínio necessárias para extrair os

significados da passagem que está sendo discutida.

Onde o professor é considerado fonte de informação e o ponto em

questão for um caso de conhecimento fatual, estabeleceu-se a prática de

recorrer ao professor para tranquilização ou verificação. Isso cria um modelo

de troca professor-aluno que frustra o objetivo da filosofia para crianças,

porque mina a noção de comunidade e, em vez disso, legítima a noção de

professor como autoridade de informação e de alunos como aprendizes

ignorantes. Em uma comunidade de investigação, por outro lado, professores e

alunos encontram-se juntos como co-investigadores, e o professor tenta

facilitar isso encorajando trocas de aluno-aluno, assim como de professor-

aluno.

Deve-se ser entendido que o professor, ao renunciar ao papel de

autoridade de informação, não renuncia ao papel de autoridade de instrução.

Isto é o professor sempre deve assumir responsabilidade suprema por

estabelecer aquelas condições que guiarão e estimularão a classe para uma

investigação discursiva, mais e mais produtiva, mais e mais autocorretiva. O

professor deve estar sempre alerta para uma conduta ilógica entre os alunos,

exatamente como uma pessoa presidindo uma reunião deve estar alerta a

qualquer possível transgressão das regras do procedimento parlamentar. Mas

mesmo aqui o professor não precisa conduzir com estrito rigor. Ele pode

perguntar aos alunos se, por exemplo, uma observação foi, em sua opinião,

relevante; se uma inferência feita decorreu logicamente das premissas que

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tinham sido estabelecidas; se o método mais útil para esclarecer certos termos

estava sendo utilizado; ou se eles concordaram com as suposições que,

aparentemente, estavam subjacentes às afirmações do locutor.

Quando a discussão da sala de aula volta-se para termos ou

conceitos particulares, o professor tem oportunidade de introduzir um exercício

ou um plano de discussão apropriado. Em geral os planos de discussão são

usados para explorar e clarificar conceitos, enquanto os exercícios são

empregados para fortalecer as habilidades. Há, entretanto, uma justaposição

considerável nesses casos, uma vez que as habilidades cognitivas que

alimentamos por meio de exercícios também são úteis para formação de

conceitos, e que a clarificação conceitual obtida por observar os planos de

discussão também pode ser inestimável para fornecer uma estrutura de

compreensão em cujos termos a construção das habilidades cognitivas pode

fazer algum sentido para as crianças e para os professores.

Essas são as considerações lógicas e pedagógicas que governam a

condução de uma discussão filosófica. Mas há, também, considerações

filosóficas; as crianças frequentemente farejam isso antes mesmo que o

professor esteja consciente delas. Isso porque as crianças são rápidas em

detectar o que é problemático e, se forem inocentes o suficiente, não farão

segredo de sua perplexidade. Uma vez que, frenquentemente, não sabem o

bastante para aceitar como certo o que os adultos tomam por certo, levantam

suas mãos e questionam pontos que podem parecer óbvios o bastante ao

professor, mas que, sob exame, mostram-se carregados de implicações

filosóficas obscuras.

Podemos relacionar o ensino da filosofia à seguinte afirmação de Paulo

Gomes:

A ansiedade pelo conhecimento tem sua origem numa educação que não ensina a pensar [...] O importante é diferenciar conhecimento e sabedoria de informação. Devemos nos apropriar de informações para desvendar o novo e avançar, para isso temos que fazer perguntas, questionar, é assim que se seleciona a informação. (GOMES, 2006, p.45).

2.2 – Estratégias para racionalizar o currículo no ensino de

Filosofia para as crianças

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O advento da filosofia para as crianças exige que o conjunto massivo

das obras de filosofia, o acúmulo de milhares de anos de erudição filosófica

seja revisto em linhas gerais para determinar como pode ser sequenciado ao

longo do ensino fundamental e médio. Isso deve ser feito sem prejuízo da

intensa curiosidade e prontidão para a discussão que as crianças pequenas

têm em relação a temas cosmológicos, éticos, epistemológicos. Isso tem de

ser feito de modo a fortalecer em vez de enfraquecer os laços familiares e os

entendimentos entre gerações. E tem de ser feito de tal modo que demande o

maior profissionalismo possível por parte do professor, que não deve ficar em

desacordo com o seu papel educacional.

Para que os professores de outras disciplinas sigam esse exemplo,

eles têm igualmente de rever todo o conteúdo programático, repensar a ordem

sequencial em que as matérias por eles selecionadas poderia ser mais bem

apresentada, e coordenar suas sequências com aquelas oferecidas pelas

demais disciplinas. Isso pode significar que muito do que é oferecido

atualmente, tendo como exemplo a matemática, pode ser trocado ou

reformulado para as primeiras ou últimas séries, dependendo de o que uma

reavaliação racional considerasse necessária. Por outro lado, a sequência

racional do currículo revelaria muitas lacunas e hiatos que teriam de ser

preenchidos para produzir transições suaves de um ponto do currículo para o

seguinte. Um currículo racional é organizado de tal modo que cada passo

prepara o caminho para os passos que o precedem. É muito diferente do

currículo vigente que parece uma escada em que faltam numerosos degraus,

de modo que os estudantes que pretendem subi-la, na maioria das vezes,

falham e desistem. Devemos racionalizar nossos currículos e valorizar a

educação, pois ela é o alicerce para aprimorar positivamente a personalidade

dos jovens, depois dessas considerações, não poderíamos de citar a

observação de Carlos Brandão, (1995, p.37) “De tudo o que pode ser feito e

transformado nada é para o grego uma obra de arte tão perfeita quanto o

homem educado”.

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CAPÍTULO III

A FILOSOFIA NO ENSINAR E APRENDER

A atividade de aprender se sobrepõem à atividade de ensinar. E

ensinar era – e ainda é – o que sabem fazer melhor, no sistema educacional,

tanto os profissionais quanto as organizações de educação. É uma mudança

sutil, ainda não plenamente entendida. Quem ensinava bem supunha que

educava bem, mas, o educador hoje tem outro papel. Educar não se esgota

mais nas atividades de ensinar coisas, de fazer lições. Conforme Sinesio

Bacchetto (2006, p.56) “Educar tornou-se um processo complexo de combinar

atividades capazes de motivar o aprendizado, de fazer refletir”.

O aprendizado é essencialmente uma atividade de cada pessoa, seja

criança, seja adolescente ou adulto. Os “educandos” desse sistema têm cada

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vez mais dificuldades de abrir suas potencialidades individuais para ouvir

lições, receber informações, saber de fatos históricos, refletir sobre o que é

correto ou o que é errado, calcular a diferença entre valores humanos e valores

não humanos, por exemplo. “Eu estou na minha, só aprendo o que eu quero só

me interesso pelo que me dá gosto, e tudo tem que ser colorido, rápido,

divertido. Eu quero tudo... Não tem para ninguém”. Estas expressões que

refletem a individualidade exacerbada, o hedonismo consumista, a ansiedade

sem rumo de educandos. Mas eles não estão totalmente errados, estão

apenas sem saber como se situar em um mundo que vibra e cintila através da

televisão, de eventos exacerbados dos demais meios de comunicação.

O brilho, a velocidade, as oportunidades de prazer e dispersão não

lhes permite situar-se, centrar-se e escolher um papel significante, útil,

prazeroso e digno no mundo, o jovem inconscientemente se torna alienado.

Conforme nos ensina Maria Pagenoto (2006, p.43), ”Excesso de pensamento

gera congestão mental convivemos com informações inúteis demais, o que nos

torna alienados”. Nesse contexto é que podemos inserir a reflexão que educa

porque refletindo o educando toma consciência de si mesmo, dos outros, e da

realidade que o envolve; é assim que definimos o que somos, o que queremos,

reconhecemos onde estamos e se desejamos nos mover, no tempo e no

espaço.

Alguns sistemas de ensino e algumas organizações educacionais,

públicas ou privadas, ainda não se deram conta de que “ensinar coisas”,

transmitir informações, nem sempre provoca reflexões que educam, e esse é o

problema pedagógico de uma sociedade que se transformou tão rapidamente

como a sociedade brasileira. Os processos que se dizem educacionais

continuam presos aos sistemas burocráticos que os governos conseguiram

construir (sistemas e modalidades de ensino), aos currículos mínimos que se

pretendem universalmente necessários (servem para todos), aos tempos dos

períodos letivos cuja adequação ninguém discute, aos equipamentos sociais

tradicionais, escolas, creches, faculdades, universidades, nem sempre bem

equipados e quase sempre desequipados. Esses processos nem sempre são

educativos.

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3.1 – Os profissionais do ensino

Os professores cobrados como agentes educadores, ficam perdidos

entre suas responsabilidades tradicionais e suas dificuldades atuais. Buscam

equilibrar desempenhos para obter resultados sem a tranquilidade de poder

refletir e se situar na complexidade desse mundo em transformação alucinante.

Além disso, a grande maioria não recebe um salário compatível com suas

responsabilidades de educadores.

O educando, ávido por novas experiências, fica perdido e

deslumbrado com tudo que brilha e gira ao seu redor. Desde os games mais

inocentes até as drogas mais violentas, ele tem que assimilar informações e

moldar comportamentos numa sociedade cujos valores ele ainda é incapaz de

avaliar.

Os educadores ficam correndo, sem saber bem para onde, e que

“pedagogia” irão adotar para contribuir na moldagem de um processo

educativo que deva humanizar construindo identidades individuais e também

construir vivências mais tranquilas. Pedagogias que sejam mais dignas tanto

para o educador como para o educando. Se voltássemos às questões radicais

da existência humana, talvez conseguíssemos sair dessa dificuldade. Se os

processos educacionais partissem de análises descomprometidas com

disciplinas organizadas burocraticamente, em tempos e etapas oficialmente

determinadas, talvez acertássemos um pouco mais. Se aprofundássemos

nossos diálogos no questionamento de quem somos, onde estamos e o que

queremos, talvez educássemos melhor.

A tarefa pedagógica que poderia nos ajudar a sair do labirinto do

“ensinar” para o campo aberto do “aprender” seria a tarefa de ajustar essas

questões radicais a programas e modalidades de processos educativos.

Trocaríamos, então, a pressa de ter que “ensinar” o jovem pela disposição e

ouvi-lo e entendê-lo.

Poderíamos voltar à boa maiêutica socrática, perguntar, ouvir. Não é

fácil adotar metodologias educacionais filosóficas, principalmente em um País

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como o nosso más também, não adianta nada ficarmos patinando nas nossas

insolúveis dificuldades. Refletir sobre isso já seria um bom começo.

É correto defender que os professores deveriam ensinar habilidades

de pensamento, mas quem irá ensiná-las aos professores? João Guimarães

Rosa, através de sua poética, ao escrever o livro Grande Sertão Veredas, nos

deixou uma interessante observação sobre educação:

Pergunto ao buriti; e o que ele responde é: a coragem minha. Buriti quer todo o azul, e não se aparta de sua água – carece de espelho. Mestre não é quem ensina, mas quem de repente aprende. (ROSA, 1956, p.273).

Seria correto insistir que as crianças possam adquirir

racionalidade, mas quais seriam os critérios de racionalidade? Enquanto os

alunos estão aperfeiçoando suas habilidades de pensamento, sobre o que

devem pensar? E qual será a pedagogia apropriada para ensinar a pensar –

não é a mesma pedagogia utilizada para ensinar a aprender?

Antes do advento da filosofia para crianças, estas perguntas não

poderiam ser facilmente respondidas. As respostas que agora podem ser

dadas são as seguintes: Os critérios de racionalidade são aqueles que nos

possibilitam distinguir raciocínio eficaz e seguro de raciocínio ineficaz e

inseguro e são, portanto, as regras da lógica e os princípios da investigação; A

literatura da filosofia contém inúmeros assuntos interessantes sobre os quais

os alunos ficam ansiosos para aguçar suas crescentes habilidades intelectuais

– assuntos como amizade, honestidades, verdade e o que é ser uma pessoa.

O fato de que tais assuntos tendem a ser persistentemente controversos

parece torná-los até mais atraentes aos jovens do que assuntos mais

facilmente resolvidos cuja solução representa pouco no caminho da aventura

intelectual; e finalmente a pedagogia da filosofia implica converter a sala de

aula em uma comunidade de investigação cooperativa, onde todos são

democraticamente autorizados a serem ouvidos, onde cada um aprende com o

outro e onde o diálogo entre os membros da classe, quando internalizado e

representado num fórum interior na mente de cada participante, é a base do

processo conhecido como pensamento.

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3.2 – O licenciado em Filosofia

Os profissionais licenciados em filosofia têm habilitação plena para

ministrar aulas de sua disciplina, o que lhes garante uma excelência teórica.

Para esse profissional não pode faltar uma visão ampla sobre como ensinar e

como o processo de aprendizagem se dará em seus alunos. De posse da

importância da filosofia no ensino médio e demonstrando que não podemos

deixar que ela se torne o caos e o terror para os alunos, há de se enfatizar a

necessidade da filosofia desde o ensino fundamental e por que não dizer

desde a educação infantil.

O papel da filosofia nas séries iniciais traz no seu objetivo primordial a

valorização dos questionamentos, a importância da discussão, da necessidade

de se aprender a pensar melhor e por si mesmo. A filosofia ao desenvolver e

potencializar os julgamentos realizados no cotidiano das crianças irá ajudá-las

no decorrer de toda a sua via. Assim sendo, podemos afirmar que ela é a

disciplina que prepara o pensar das outras disciplinas, justamente por

preocupar-se com o raciocínio, além de desenvolver outras habilidades como a

linguagem e a sociabilidade, extremamente necessárias em todos os

conteúdos que se queira ensinar.

A formação desses professores do ensino fundamental (1ª a 4ª

série) deve estar alicerçada no próprio curso de Pedagogia, mas a base

filosófica precisa ser garantida com cursos de especialização em filosofia para

crianças, disponíveis em algumas universidades ou centros de formação

docente. Esses cursos habilitam o profissional a trabalhar com os

componentes filosóficos, mas acima de tudo orientam sobre como proceder de

uma metodologia que tem se mostrado promissora. A escolha da aplicabilidade

dos materiais, criado pelo filósofo norte-americano Matthew Lipman, fica a

cargo das escolas e professores, mas para tanto é necessário garantir que a

formação seja feita a partir do estudo das obras básicas desse autor e,

sobretudo, experimentando sua concepção metodológica.

Existem bons materiais didáticos para se trabalhar o ensino de

filosofia com as crianças: Como a Novela “Rebeca” escrita por Ronald Reed,

colaborador de Matthew Lipman, esse texto é utilizado principalmente para a

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iniciação filosófica com crianças da Educação Infantil; texto “Issao e Guga” de

autoria do filósofo norte-americano Matthew Lipman, para alunos de 1ª e 2ª

séries do Ensino Fundamental e a Novela “Luísa” escrita por Matthew Lipman,

a qual é indicada para adolescentes de 13 a 15 anos.

CONCLUSÃO

O ensino de filosofia para as crianças e adolescentes deve partir do

senso comum, portanto, necessariamente, tem de estar relacionado ao

cotidiano. Para que as aulas façam sentido, os alunos devem ter elementos

vivenciados por eles, inseridos numa discussão ampla, o que o aproximará da

matéria e os ajudará a adquirir ou a desenvolver uma atitude filosófica.

Deve-se entender que o ensino de filosofia para jovens como

experiência filosófica, deve instrumentalizar o aluno a pensar a ele e ao mundo

filosoficamente. Pode-se ensinar o questionamento a problematização, a

investigação e a conceituação filosóficas.

Isso se faz oferecendo aos alunos textos de filósofos para serem

lidos, ensinado a história da filosofia para contextualizar um problema e/ou um

pensamento, ensinando-os a perceber seu modo de pensar, de argumentar, e

de julgar.

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O curso preferencialmente deverá ter itens do cotidiano, pois parte

do senso comum das idéias, de questões deles, para depois tornarem-se

problemas e posterior investigação da filosofia.

Nossos governantes deveriam implantar políticas públicas para

fortalecer ainda mais o ensino de filosofia para crianças e adolescentes em

nosso País, capacitando professores e fornecendo subsídios as escolas para

que essa política seja implantada e executada com eficiência. Ainda existem

políticos e educadores que adotam um comportamento cético, quanto ao

ensino da filosofa para crianças, achando que as mesmas não possuem

racionalidade suficiente para captar o conteúdo das aulas. Concluímos que

seja errônea tal linha de pensamento, pois se nos recusarmos a reconhecer a

racionalidade da criança, não podemos nos engajar satisfatoriamente no

diálogo filosófico com elas porque não podemos aceitar suas expressões como

razões. Se não podemos fazer filosofia com as crianças, privamos sua

educação do verdadeiro componente que pode fazer tal educação mais

significativa, podemos assegurar que a ignorância, a irresponsabilidade e a

mediocridade que prevalecem atualmente entre os adultos continuarão a

acontecer. Tratar as crianças como pessoas, pode ser um preço baixo para se

pagar em longo prazo, para obtermos benefícios sociais substanciais no futuro.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando,

introdução à filosofía. 2ª. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2002.

LIPMAN, Matthew. A Filosofia vai à escola. 3ª.ed. São Paulo: Editora

Summus, 1990.

MORRA, Gianfranco. Filosofia para todos. 2ª.ed. São Paulo: Editora Paulus,

2002.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 33ª.ed. São Paulo: Editora

Brasiliense, 1995.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação. 8ª.ed. Rio de Janeiro: Editora Paz

e Terra, 1985.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão Veredas. Rio de Janeiro,

Nova Fronteira, 1986.

GOMES, Paulo. Ansiedade na era da informação. Filosofia, ciência & vida, São

Paulo: Editora Escala, ano 1, nº 2, p.45, ago. 2006.

BACCHETO, Sinésio. Ensinar e aprender. Filosofia, ciência & vida, São Paulo:

Editora Escala, ano 1, nº 3, p.56, set. 2006.

PAGENOTO, Maria. Como não sucumbir ao excesso de informação. Filosofia,

ciência & vida, São Paulo: Editora Escala, ano 1, nº 2, p.43, ago. 2006.

www.cbfc.org.br/materialdidatico.asp , acesso em 16/07/2010

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo1 >> Conteúdo do texto “Rebeca”

Anexo 2 >> Conteúdo do texto “Issao e Guga” Anexo 3 >> Conteúdo do texto “Luísa”

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ANEXO 1

INTERNET

Rebeca

Escrita por Ronald Reed, colaborador de Matthew Lipman, é a novela utilizada para a iniciação filosófica com crianças da Educação Infantil. A história de uma menina intrigada com as questões que cercam a realidade e a fantasia é o ponto de partida para o desenvolvimento de habilidades como: detectar semelhanças e diferenças, raciocínio hipotético, critérios de classificação, relação de causa e efeito, relação parte e todo, esclarecimento de conceitos. Ao longo da narrativa ilustrada, as crianças são convidadas a pensar sobre o próprio pensar, se envolvendo com problemas presentes na filosofia, tais como a percepção, a identidade, a imaginação, a verdade, as relações

entre realidade e aparência, conhecimento, probabilidade e possibilidade, perguntas e pensamento.

A novela se inicia com a apresentação que Rebeca faz de si mesma:

"Meu nome é Rebeca.

Eu tenho seis anos.

Meu cabelo é preto.

Meu cabelo é como o seu

(se é que você tem cabelo).

Moro numa árvore no quintal.

Meu quintal é perto do quintal do Beto.

O Beto é meu amigo."

(REED, R. Rebeca, p.1)

No livro do professor, escrito por Sylvia J. Hamburger Mandel, encontram-se diversas sugestões de planos de discussão, exercícios e atividades para se iniciar, com os alunos, uma investigação dialógica sobre temas presentes em cada episódio.

Já a partir da apresentação feita por Rebeca, podemos problematizar temas como: dados pessoais, semelhanças e diferenças, moradia, relações entre perto e longe, amizade.

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ANEXO 2

INTERNET

Issao e Guga

- Maravilhando-se com o Mundo -

Nesta narrativa, escrita por Matthew Lipman, para alunos de 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental, as personagens Issao e Guga nos contam sobre umas férias inesquecíveis que viveram juntos. Issao visita a fazenda de seus avós e torna-se amigo de Guga, que mora com sua família ali perto.

O avô de Issao, que já foi marinheiro, conta sobre um encontro que teve com uma baleia e diz que gostaria de visitar um lugar onde pudesse, novamente, observar as baleias. Issao o convence a fazer esta viagem e levar a família de Guga.

A maneira como Issao e Guga demonstram interesse por animais, pela noção de espaço e tempo e por muitos outros aspectos da natureza, faz deste texto uma introdução ideal à investigação sobre as relações entre a linguagem, o mundo e as diferentes formas de percepção.

As questões sobre o conhecimento humano, as preocupações com a ecologia, a reflexão sobre o belo, o real e a verdade são temáticas que permitem às crianças o contato com o espanto que dá origem ao filosofar, com o "maravilhar-se com o mundo", como afirma Lipman. Há, nesta novela, uma ênfase nas questões da fenomenologia da percepção. Como percebemos o mundo? Será que o mundo é tal qual vemos? Qual a relação entre os objetos e o que percebemos através dos sentidos? Questões como essas são discutidas na filosofia desde Platão e Aristóteles até Merleau-Ponty. Estes estavam preocupados em estabelecer qual a relação entre as coisas e as idéias que temos delas. Foi Kant, porém, que formulou uma teoria mais acabada sobre a relação entre os fenômenos (aquilo que percebemos através dos sentidos) e as coisas, colocando em questão se o mundo é uma construção do sujeito e, neste caso, como poderíamos ter acesso às coisas-em-si.

O texto completo de Issao e Guga possui introdução e mais dez capítulos. É previsto para ser desenvolvido durante dois anos.

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ANEXO 3

INTERNET

Luísa

- Investigação Ética -

Novela escrita por Matthew Lipman, é indicada para adolescentes de 13 a 15 anos. Como saber o que é certo ou errado? O que é liberdade? O que é justo? Estas e outras questões instigam os personagens da novela e levam os alunos a percorrer os caminhos da investigação ética. Luísa retoma algumas das questões lógicas que já apareceram em Ari e introduz as questões éticas que são o tema dominante de toda novela. Nela, são tratados os mais diversos temas éticos que foram discutidos por muitos filósofos, e, ainda hoje, estão presentes no nosso cotidiano. Há uma referência à discussão entre Parmênides e Heráclito sobre o ser e o não-ser, aos

paradoxos de Zenão de Eléia sobre a impossibilidade do movimento, à discussão sobre determinismo e liberdade tal como foi abordada na Ética de Espinosa, que trata especificamente sobre o livre-arbítrio, à relação entre intenção, ação e conseqüências, tema presente na Teoria da Vida Moral de John Dewey e em Ciência e política, duas vocações, de Max Weber.

Em Luísa, o diálogo entre os personagens é referência para o diálogo na sala de aula na busca dos critérios para a construção dos juízos morais, do entendimento e avaliação das ações morais que cercam o cotidiano.

O texto completo de Luísa possui 11 capítulos subdivididos em 29 episódios. O trabalho com a novela é previsto para dois anos.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: Estudo sobre a aplicação da disciplina de Filosofia

na Educação Básica.

Autor: Francisco Fausto dos Santos Ribeiro

Data da entrega: /07/2010

Avaliado por: Prof. Marcelo Saldanha Conceito: