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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA HORTAS ESCOLARES: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Por: Fernanda Fonseca Vianna Orientador Prof. Maria Esther de Araujo Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · como requisito parcial para obtenção do grau de ... desde a Grécia antiga, ... Estamos vivendo na era da informação,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

HORTAS ESCOLARES: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Por: Fernanda Fonseca Vianna

Orientador

Prof. Maria Esther de Araujo

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

HORTAS ESCOLARES: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialização em Educação Ambiental.

Por: Fernanda Fonseca Vianna

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RESUMO

Este trabalho se baseará no estudo do impacto da implantação de uma horta

escolar em uma escola da rede pública do município de Petrópolis – RJ, bem como

ações pedagógicas que envolvam a Educação Ambiental. Desta maneira, problematiza-

se: é possível através de ações pedagógicas e estímulo a agricultura orgânica, pode-se

pensar consciência ambiental e desenvolvimento sustentável local? O cerne desta

pesquisa está em relacionar a implantação de hortas escolares e conscientização

ecológica, bem como desenvolvimento sustentável local.

Esta pesquisa tem quatro objetivos principais. O primeiro é contribuir para a

formação de uma consciência mais ampla sobre a importância da preservação dos

recursos hídricos e de nossos oceanos, nascentes, fontes, cachoeiras, córregos e rios. O

segundo é oferecer aos educadores algumas alternativas pedagógicas para o

desenvolvimento e a educação ecológica no âmbito escolar. O terceiro objetivo é

despertar nas escolas públicas, a vontade de se aumentar, ainda mais, o número de

árvores a serem plantadas, com as crianças, no entorno de nascentes, córregos e rios; e o

quarto é semear valores fundamentais, como o respeito, a honestidade, a simplicidade, o

amor ao próximo, a perseverança, a serenidade, dentre outros, e cultivá-los nas mentes

das crianças e jovens adolescentes, simultaneamente ao plantio de um maior número de

hortas escolares e comunitárias.

Para solucionar essas questões, acredita-se que um experimento de

desenvolvimento local pode servir de parâmetro de comparação com outras experiências

semelhantes articuladas em outras partes do país e do mundo. Também se pensa que

uma experiência local de desenvolvimento pode mostrar, de forma mais nítida, os

pontos que demandam maior reflexão e que precisam ser mais bem investigados sobre a

viabilidade do planejamento e da intervenção regional.

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METODOLOGIA

Inicialmente, o tema foi pensado a partir da vivência em uma escola do

município de Petrópolis – RJ com a implantação de uma horta escolar orgânica. A partir

da pesquisa bibliográfica, o tema foi amadurecendo. Nesse sentido, esta pesquisa foi

realizada à luz da teoria pertinente, composta pela experiência vivenciada e revisão

bibliográfica específica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO E VALORES

CAPÍTULO 2 – IMPACTO HUMANO

CAPÍTULO 3 – A PARTE PRÁTICA: A EDUCAÇÃO COMO MECANISMO DE

TRANSFORMAÇÃO

CAPÍTULO 4 – HORTAS ESCOLARES

CONSIDERACÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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INTRODUÇÃO

Alguns pensadores, desde a Grécia antiga, verificaram que a sociedade do futuro

depende do que fazemos com as crianças hoje. Estamos vivendo na era da informação,

do conhecimento científico e da pós-modernidade, e não há dúvida de que precisamos

estimular o processo de desenvolvimento humano como base do desenvolvimento

social, econômico e ambiental de nossos países e/ou municípios, ainda

subdesenvolvidos. Existe uma idéia de que a mente humana é um espaço vazio e um

corpo com funções infinitas (Cleary, 1998, p.12). Outra idéia parte do princípio de que a

mente emerge num cérebro que é parte integrante de um organismo vivo (Damásio,

2003, p.206). Sejam quais forem os arcabouços teóricos em neurobiologia ainda não

dispomos de fundamentos racionais para o estudo sistemático do espírito humano. A

dicotomia mente-corpo continua um mistério. A responsabilidade de o que ensinar,

como ensinar e para que ensinar às crianças irão sempre impor ao educador obstáculos

intransponíveis. Estamos assim no início de uma longa caminhada metodológica com

muitas perguntas e poucas respostas.

Muitas políticas públicas são elaboradas visando romper e diminuir os

problemas do subdesenvolvimento através de planos e programas voltados para o

aumento das taxas de crescimento econômico. Busca-se estimular os investimentos, o

aumento de produção e a ampliação das oportunidades de trabalho. Nem sempre,

entretanto, levam-se em consideração os efeitos de degradação dos recursos naturais e

de extinção de espécies de nossa riquíssima biodiversidade. As análises econômicas

deveriam adotar o cerne do pensamento de Spinoza quando afirmava que a construção

da ética impõe-nos a tarefa de pensarmos sem emoções, para evitarmos as ideias

confusas. Mesmo enfrentando grandes dificuldades metodológicas, esta pesquisa

procura expandir a ética econômica como disciplina, experimentando um mergulho na

metacognição e em áreas e matérias diferentes, tentando extrair delas outras

possibilidades para melhor compreensão e/ou ação (políticas públicas) sobre a educação

fundamental de qualidade, a concepção do conhecimento, a preservação do meio

ambiente e o desenvolvimento da economia.

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O processo educacional não pode envolver exclusivamente o aumento de

investimentos e despesas na infra-estrutura educacional, mas deve seguir numa outra

direção, para que esses investimentos possam atingir o objetivo de melhor preparação

de nossas crianças para a vida pessoal e profissional. Essa direção, por sua vez, deve ser

guiada de forma que as atividades educacionais e as práticas pedagógicas aumentem nas

crianças a competência criativa e transformadora e sua consciência de atores do

necessário processo de desenvolvimento produtivo sustentável. A criança precisa, para

isso, fazer exercícios especiais, aprendendo a agir dentro de sua realidade local,

orientada pela sua escola, em ações educacionais onde a sua intervenção modifique a

ética dos adultos. Quando por exemplo, a criança planeja uma campanha de educação

ambiental para o plantio de um número determinado de mudas de espécies de árvores

visando à recuperação de entorno de nascentes ou a recuperação de matas ciliares, ou

faz caminhadas ecológicas, para a mudança do hábito de se jogar lixo nos rios; ou

combate a conduta normal do adulto ignorante que aprisiona passarinhos em gaiolas, ou

muda o hábito de alimentação comendo mais alimentos saudáveis no lugar dos

gordurosos – essa criança adquire mais autonomia, responsabilidade e descobre que

pode ser mais criativa e produtiva. A educação passa a ter um sentido mais concreto

para ela e pode consolidar em sua mente/espírito, a vontade real do estudo mais

sistemático dessa ou daquela matéria. Por isso as práticas pedagógicas fora de sala de

aula têm que trazer contido a semente de compreensão sobre a realidade da mente de

nossas crianças. E é por isso que as atividades educacionais devem ser planejadas e

guiadas por elas próprias para que elas desenvolvam um sentido de “eu sou

competente”. Cabe nesse contexto um trabalho idealista do professor de saber orientar

esse processo na comunidade enfrentando a ignorância e o descaso.

Isso deve ser feito porque o processo de desenvolvimento econômico, nos dias

de hoje, demanda juízos de valor entre preservação e crescimento, precisando ser

interpretado (avaliado/julgado) contemplando, ao mesmo tempo três questões. A

primeira questão é muito simples e significa dizer que o desenvolvimento deve buscar

simultaneamente a consolidação de valores básicos na mente de nossas crianças e

jovens adolescentes e a geração de oportunidades de trabalho e renda para maiores

segmentos da população humana jovem; a segunda é imperativa sobre a primeira, pois

essas alternativas econômicas produtivas, não podem continuar mais degradando a

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biodiversidade e poluindo o meio ambiente; e a terceira questão envolve uma

compreensão de que só tem sentido um processo de desenvolvimento, quando este

amplia a qualidade da educação fundamental no sentido da valorização e

desenvolvimento real de nossas crianças, preparando-as de fato para um novo mundo.

Desta maneira, problematiza-se: é possível através de ações pedagógicas e

estímulo a agricultura orgânica, pode-se pensar consciência ambiental e

desenvolvimento sustentável local? O cerne desta pesquisa está em relacionar a

implantação de hortas escolares e conscientização ecológica, bem como

desenvolvimento sustentável local. Este trabalho se baseará no estudo do impacto da

implantação de uma horta escolar em uma escola da rede pública do município de

Petrópolis – RJ, bem como ações pedagógicas que envolvam a Educação Ambiental.

Esta pesquisa tem quatro objetivos principais. O primeiro é contribuir para a

formação de uma consciência mais ampla sobre a importância da preservação dos

recursos hídricos e de nossos oceanos, nascentes, fontes, cachoeiras, córregos e rios. O

segundo é oferecer aos educadores algumas alternativas pedagógicas para o

desenvolvimento e a educação ecológica no âmbito escolar. O terceiro objetivo é

despertar nas escolas públicas, a vontade de se aumentar, ainda mais, o número de

árvores a serem plantadas, com as crianças, no entorno de nascentes, córregos e rios; e o

quarto é semear valores fundamentais, como o respeito, a honestidade, a simplicidade, o

amor ao próximo, a perseverança, a serenidade, dentre outros, e cultivá-los nas mentes

das crianças e jovens adolescentes, simultaneamente ao plantio de um maior número de

hortas escolares e comunitárias.

Além de contribuir substancialmente para a formação de uma consciência

ecológica mais rica de nossas crianças em geral, podem também despertar professoras e

alunos sobre a necessidade urgente de uma maior disciplina em sala de aula, maior

atenção e concentração nos estudos sobre valores, o conhecimento mais racional de

nossas realidades locais, para a ampliação dos horizontes de educação e transformação

concreta. A hipótese quase acadêmica é que isso mudaria os destinos de nosso povo, de

nossa cultura, de nosso mercado de trabalho e renda, de nossa macroeconomia no

cenário globalizado e de nosso meio ambiente, na direção de um país mais desenvolvido

e certamente com menores gastos de governos em saúde pública, infra-estrutura, redes e

programas assistencialistas.

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CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO E VALORES

A ciência e a tecnologia são ferramentas poderosas, que tanto podem ser

utilizadas para o bem como para o mal, sendo possível verificar que nos últimos

duzentos e cinquenta anos que o homem econômico vem transformando os recursos

naturais, num ritmo bem mais intenso, para a produção de diversas mercadorias,

esquecendo de cuidar do meio ambiente e deixando de lado a perspectiva do

desenvolvimento como um processo mais amplo de conquista de maiores níveis de

liberdade humana, aprofundando ainda, os possíveis desequilíbrios ecológicos que irão

comprometer a vida das futuras gerações (Tacconi, 2000). Neste processo produtivo

utilitarista, a sociedade capitalista diversifica mercados, cultiva valores, consolida novos

hábitos urbanos e, ao mesmo tempo, multiplica muitas formas de poluição dos recursos

hídricos, ar, oceanos e solos. Os economistas positivistas sempre incorporaram ao seu

arsenal metodológico a idéia de que os recursos naturais são exclusivamente fatores de

produção (a coisificação da natureza e da força de trabalho).

Apesar do grande desenvolvimento material e tecnológico, nossa civilização

produziu violência social, enormes passivos ambientais, acompanhados de profundos

desequilíbrios nos ecossistemas, que talvez irreversíveis, tanto nos fatores bióticos

como abióticos, em diversas regiões do mundo, provocando visíveis transtornos

climáticos, dentre outros problemas ambientais globais. Constata-se que aumentam as

crenças em todo o mundo sobre a importância e mesmo a necessidade crucial da

recuperação desses ambientes degradados. Assim, pode-se fazer um alerta e despertar as

crianças para o desenvolvimento com preservação. O princípio de autonomia de Kant

fundamenta muito bem essa reflexão. Diz um filósofo contemporâneo que

esse princípio exprime sua convicção de que jamais podemos aceitar a ordem de uma autoridade, por elevada que esta seja, como fundamento da ética. Mas se nos é fisicamente possível determinar nosso modo de atuar, então não podemos nos subtrair à nossa responsabilidade última. Pois a decisão crítica cabe a nós: podemos obedecer ou não obedecer; podemos reconhecer a autoridade ou rechaçá-la (Popper, 2006, p.72).

O conceito de desenvolvimento econômico deve ser substancialmente

reformulado dentro de uma nova ética, em que o ser humano ultrapasse seus limites

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consumistas para uma estrada de evolução e preservação. Moore (1944, p.22) aponta a

hipocrisia da nossa civilização: em determinada época as companhias de bondes nos

Estados Unidos que matavam por ano muitas pessoas negaram-se a instalar limpa-

trilhos de segurança sob a alegação de que o custo deles seria maior do que as

indenizações pagas por vidas e/ou perda de membros.

Faz-se necessário retomar o objetivo principal desta pesquisa, que seria a

implantação de hortas escolares e o impacto que esta teria na consciência ecológica dos

envolvidos. O impacto de uma atitude que envolva Educação Ambiental, além de

contribuir substancialmente para a formação de uma consciência ecológica nas crianças,

podem também despertar nos professores e alunos a necessidade urgente de uma maior

disciplina em sala de aula, o destaque nos estudos sobre valores e o conhecimento mais

racional de nossas realidades locais, para assim, ampliar os horizontes de educação e

transformação concreta. A hipótese quase acadêmica é que isso mudaria os destinos de

nosso povo, de nossa cultura, de nosso mercado de trabalho e renda, de nossa

macroeconomia no cenário globalizado e de nosso meio ambiente, na direção de um

país mais desenvolvido e certamente com menores gastos de governos em saúde

pública, infra-estrutura, redes e programas assistencialistas.

O processo educacional não pode envolver exclusivamente o aumento de

investimentos e despesas na infra-estrutura educacional, mas deve seguir numa outra

direção, para que esses investimentos possam atingir o objetivo de uma educação

efetiva. Essa direção, por sua vez, deve ser guiada de forma que as atividades

educacionais e as práticas pedagógicas, fora de sala de aula, aumentem nas crianças a

competência criativa e transformadora e sua consciência de atores do necessário

processo de desenvolvimento produtivo sustentável.

A criança precisa, para isso, fazer exercícios especiais, aprendendo a agir dentro

de sua realidade local, orientada pela sua escola, em ações educacionais onde a sua

intervenção modifique a ética dos adultos. Quando por exemplo, a criança planeja uma

campanha de educação ambiental para o plantio de um número determinado de mudas

de espécies de árvores visando à recuperação de entorno de nascentes ou a recuperação

de matas ciliares, ou faz caminhadas ecológicas, para a mudança do hábito de se jogar

lixo nos rios; ou combate a conduta normal do adulto ignorante que aprisiona

passarinhos em gaiolas, ou muda o hábito de alimentação comendo mais alimentos

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saudáveis no lugar dos gordurosos - essa criança adquire mais autonomia,

responsabilidade e descobre que pode ser mais criativa e produtiva. A educação passa a

ter um sentido mais concreto para ela e pode consolidar em sua mente/espírito, a

vontade real do estudo mais sistemático dessa ou daquela matéria.

A experiência deve ser adquirida na realidade em si, onde a criança pode e deve

conceber, manipular e produzir a idéia da idéia, o saber como estudar e aprender (a

metacognição), assimilando melhor os conteúdos das matérias, também fora da sala de

aula, como complemento pedagógico ao ensino formal. Nós somos o que vivenciamos.

Em novembro de 1929, durante uma aula na Universidade de Cambridge, o

físico e filósofo Ludwig Wittgenstein citando o livro “Principia Ethica” do professor

Moore lembrou que ética é a investigação sobre o que é bom. Naquela aula,

Wittgenstein ampliou o debate com seus estudantes afirmando que Ética é a

investigação sobre o que tem valor, ou sobre o que é realmente importante, ou eu

poderia ter dito Ética é a investigação dentro do significado da vida, ou o que faz a vida

ter valor, ou sobre a forma correta de se viver.

Assim, discorrendo sobre esta obra, o pacifista e físico Bertrand Russel, afirma

que para compreender o livro de Wittgenstein é preciso verificar as condições que

devem ser observadas pela estrutura da linguagem lógica e perfeita. Primeiro, explica

Russel, existe um problema que ocorre nas nossas mentes quando usamos a linguagem

com a intenção de dar significado às coisas. Segundo, qual a relação entre pensamentos,

palavras, ou sentenças, e a que se referem ou significam. Terceiro problema, o uso de

sentenças para o que é verdadeiro ou falso. Quarto, qual a relação de um fato com outro

para que seja um símbolo lógico. Wittgenstein estava preocupado com a precisão do

simbolismo. O objeto da filosofia é, portanto, a clarificação lógica dos pensamentos. No

entanto, compreende-se que o sentido da filosofia não é exclusivamente a interpretação

das palavras como queria Wittgenstein, pois a filosofia persegue, problemas, enigmas,

fragmentos de verdade contidos na realidade em si (Popper, 2006, p.228).

Nem sempre, nós, habitantes das cidades, aprendemos a dar valor ao meio rural,

muito menos ao homem do campo, que trabalha de sol a sol, inclusive nos fins de

semana e feriados, para termos o leite, a manteiga, a coalhada, o queijo, o café, o arroz,

as frutas, a abóbora, a cenoura, o feijão, a carne, a batata, os temperos e outros

alimentos e condimentos tão essenciais à nossa condição vital. Lá não existem os ruídos

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da cidade, nem terno e gravata, lá convivemos com os sons, os movimentos e enigmas

da natureza. A verdade é que o homem urbano – cada vez mais estressado e depressivo,

embebido de uma violência urbana descomunal, uma vida urbana “descartável”, de

valores urbanos que são descolados da terra – orienta sua vida, a cada dia, para ganhar

dinheiro e gastá-lo nos centros de consumo, comprando algum tipo de felicidade que

imagina estar dentro das embalagens multicoloridas ou das mercadorias nas prateleiras

dos shopping-centers e supermercados. Se continuarmos a ensinar às nossas crianças

que o mundo é aquilo que o horizonte consumista apresenta como verdade, estaremos

limitando o poder da criatividade dessas crianças. E elas estarão exclusivamente

preparadas para produzir e comprar os bens da sociedade de consumo e das viagens ao

mundo da fantasia da coca-cola, do cheetos, do pateta, do pato mac donald, todos

idealizados pelo professor “almofada” criado em Miami, Nova York e na California.

O professor da Universidade de Harvard, H. Gardner, teórico das inteligências

múltiplas, afirma que

os indivíduos interessados, unicamente em questões teóricas tampouco são cientistas. Podem muito bem ser teóricos ou filósofos, mas às suas afirmações faltará o embasamento na realidade concreta. De fato, foi corretamente afirmado que a maioria das ciências começa na filosofia – na formulação de questões provocadoras e no esboço de possíveis respostas por um pensador que não sai de sua cadeira de braços em seu próprio gabinete de trabalho. (GARDNER, 1999, p.174).

Os americanos se julgam muito práticos e têm utilizado fortes argumentos para

exercício e ações de suas empresas e instituições visando a divulgação do “american

way of life” em países da América Latina, África, Ásia, e nas suas intervenções

militares na Korea, Vietnam, Afeganistão, Iraque, dentre outros. Ainda que o professor

Gardner com sua aparente honestidade intelectual chame a atenção de uma maioria de

pesquisadores, que têm a “dificuldade” de Kant, de passar da teoria para a prática,

parece ser oportuno um parênteses sobre esse tipo de pragmatismo. Continuo com

minha convicção de que devemos buscar uma posição de equilíbrio entre o pensar e o

agir de forma autóctone evitando a ampliação do xenismo e trabalhando na

contracultura. Sou favorável que pesquisadores sérios continuem também em suas

cadeiras de braços refletindo sobre o significado e o valor da vida humana a partir e

dentro de nossa realidade. Sou favorável ao investimento na pesquisa básica e filosófica.

Sem ela a prática pode ser limitada ou mesmo estúpida e medíocre.

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O professor Westermarck estudando o comportamento humano de diversas

populações nativas da Austrália Central verificou que as crianças lá são tratadas com

extremo rigor, ao mesmo tempo com profundo respeito e carinho. Um outro estudo

aponta que nos Esquimós a afeição dos pais pelas crianças é extrema. Desta maneira,

pode-se compreender que o carinho pelas crianças em tribos antigas e pessoas com

condições normais de vida, integridade física e mental não é um produto da civilização,

mas uma característica da mente selvagem (SINGER, 1994, p. 61-63).

Assim nos debatemos todos os dias em nossas universidades e instituições de

governo sobre as dificuldades de sair dos princípios gerais, da teoria para os detalhes,

para a prática. Que caminhos devemos escolher para aperfeiçoar o processo de

educação, que conteúdo, que práticas pedagógicas poderíamos adotar?

Faz-se necessário, refletir acerca do que o professor Bruni encontrou em

Nietzsche nas suas conferências “Sobre o futuro de nossos estabelecimentos de ensino”,

onde se destaca:

“O leitor de quem espero algo deve ser calmo e ler sem pressa. O livro está destinado aos homens que ainda não caíram na pressa vertiginosa de nossa época rodopiante e que não sentem um prazer idólatra em ser esmagados por suas rodas. Portanto para poucos homens! Mas esses homens ainda não se habituaram a calcular o valor de cada coisa pelo tempo economizado ou pelo tempo perdido, eles 'ainda têm tempo'; a eles ainda está permitido, sem que venham a sentir remorsos, escolher e procurar as boas horas do dia e seus momentos fecundos e fortes para meditar sobre o futuro de nossa cultura (Bildung), eles mesmos podem se permitir ter passado um dia de maneira digna e útil na meditatio generis futuri (reflexão geradora do futuro). Tal homem ainda não desaprendeu a pensar enquanto lê, compreende ainda o segredo de ler entrelinhas, tem mesmo o caráter tão esbanjador que medita ainda sobre o que leu, mesmo muito tempo depois de não ter o livro entre as mãos. E não para escrever uma resenha ou outro livro, mas apenas e somente isso - para meditar! Condenável esbanjador!” (2004, p.33).

Com essas ideias, o filósofo desperta um convite à reflexão sobre nossos tempos e,

acima de tudo, sobre a velocidade vertiginosa das transformações e mudanças em

diversos aspectos de nossas vidas.

E quais seriam os três principais problemas dos municípios de pequeno e médio

porte de países subdesenvolvidos como o Brasil? A resposta mais direta a essa pergunta

pode ser simplificada, num quadro de três pensamentos: crianças e jovens muito pobres

e em risco social; meio ambiente degradado ou esgarçado e desemprego estrutural ou

quase crônico. Assim não se pode pensar em políticas de crescimento econômico puro,

pois o que é realmente fundamental é o desenvolvimento humano, a liberdade, a

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estabilidade social, o equilíbrio ecológico, a recuperação dos passivos ambientais e a

diminuição das desigualdades sociais.

Numa tentativa de integrar os seguintes temas: criança, formação humana, meio

ambiente e desenvolvimento, esta pesquisa objetiva estimular o triângulo formado

educação-preservação-desenvolvimento que procura servir de pilar para qualquer

política pública de desenvolvimento local, onde a educação e a capacitação técnica

complementar ao ensino formal, o reforço escolar e a formação humana de valores mais

sólidos seriam orientados para a ampliação do pensamento abstrato sobre a realidade

local.

Parece ser correto afirmar que nosso país precisa diminuir as suas acentuadas

disparidades regionais e sociais e reverter seu processo de concentração de renda,

recuperando para o mercado interno o centro dinâmico da sua economia. Diversos

autores, como Celso Furtado, acreditam que para reverter esse processo “seria

necessária uma grande mobilização nacional” (Furtado, in Arbix e Abramovay, 2001, p.

27). Mas fica meio que no ar uma pergunta da filosofia prática, que formulamos

diretamente da seguinte forma - como empreender essa grande mobilização nacional?

Partimos de uma hipótese de que, em contextos subdesenvolvidos, como

podemos encontrar no Brasil hoje, o desenvolvimento humano sólido, e não uma

simples questão de educação pode ser a alternativa de política pública com maiores

possibilidades para enfrentamento de muitos problemas econômicos, sociais e

ambientais que tendem a ser agravados nos próximos anos. Projetos nacionais de

desenvolvimento, políticas para arranjos produtivos voltados para a desconcentração

econômica e/ou programas de combate ao desemprego estrutural, dependerão sempre de

uma formação humana mais consistente. Essa assertiva pode ser fortalecida pela

imperativa necessidade de preparação da sociedade subdesenvolvida nas próximas

décadas, em função de novas experiências no plano de evolução do conhecimento

científico e material, bem como a possível crise ambiental global que deverá demandar

a criatividade geral para novos estilos de produção e consumo.

São muitos os autores, as abordagens metodológicas e os diagnósticos sobre os

profundos e crescentes desequilíbrios sociais, econômicos e ambientais, que revelam a

natureza da inserção dos países subdesenvolvidos na economia global que sofreu e vem

sofrendo uma metamorfose, da quase antiga era fordista, para uma nova era

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informacional e pós-fordista, chamada por muitos de acumulação flexível de capital.

São também muitas as disputas reformistas travadas no campo conceitual sobre a noção

de desenvolvimento como processo de busca de liberdade e do bem-estar humano

dentro dessas estruturas (Tacconi, 2001). Com base no que pensam esses autores, não

há dúvida de que não serão as mesmas políticas de desenvolvimento industrial do século

XX que promoverão o desenvolvimento do século XXI. Outras estratégias em planos

ontológicos mais integrados precisam ser elaboradas para a redução da pobreza, da

desigualdade e da degradação ambiental. Na visão de Debret, devemos associar

desenvolvimento ao estudo dos caminhos para se atingir uma economia mais humana

(Debret, in Goulet, 1999, p. 26).

A globalização econômica gerou uma situação em que, a razão entre a renda dos

20% superiores e dos 20% inferiores cresceu em 1960 de 30 para 1 e, em 1994, de 78

para 1. Pobreza e miséria são os segmentos que mais rapidamente crescem na população

pobre em quase todos os países (Streeten, in Arbix e Abramovay, 2001, p. 90). O

pesquisador Streeten acrescenta que “devem ser pensadas formas de reduzir a crescente

insegurança que afeta a vida das pessoas, resultante de uma combinação de desemprego,

condições precárias de trabalho, pobreza, desigualdade, marginalização e exclusão com

a redução dos gastos públicos em serviços sociais” (p. 150). No mesmo livro, Ignacy

Sachs cita uma frase de Jean Paul Sartre que diz o seguinte – “o desenvolvimento

repousa, em grande medida, na capacidade cultural das pessoas de inventarem seu

próprio futuro” (p.161). Acompanhando o pensamento estruturalista de Celso Furtado

observa-se que muitos economistas e intelectuais levantam problemas e fazem

diagnósticos criticando a mera transposição das receitas neoliberais do Consenso de

Washington. Entendem eles que os países subdesenvolvidos não devem aceitar as

propostas dos principais organismos internacionais que compreendem a globalização,

como modelo útil de progresso, tipicamente associada ao estilo triunfante capitalista do

sistema norte americano (Stiglitz, 2002). Essa vertente de pensamento desafia o poder

de reflexão e a nossa criatividade, na transposição de um processo de desenvolvimento

mais autêntico e de uma teoria mais independente para a prática. A reconstrução de uma

sociedade implica em mobilização popular em ações políticas e na alocação de recursos

em programas que possam elevar o nível de qualidade de vida de um número maior de

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pessoas. Esse conceito de transposição na verdade significa intervenção e processo de

decisão.

Partimos da premissa que devemos buscar soluções autóctones para combater o

desemprego estrutural, orientar a descentralização da atividade econômica, diminuir a

desigualdade social e a degradação de todas as formas de vida, respeitando o conceito

de equidade intergeracional. Quaisquer que sejam as naturezas de arranjos institucionais

e/ou produtivos, a base humana que transforma a utopia em realidade é a mola

propulsora do desenvolvimento econômico e social. Como dizia Cassirer, “a grande

missão do homem ético é abrir passagem para o possível, no sentido oposto a uma

aquiescência passiva do estado presente real de coisas - o homem pode reformular

constantemente o seu universo humano” (2005, p. 104).

Os maiores problemas da América Latina hoje e do Brasil em particular são os

contrastes humanos regionais, as desigualdades sociais, o profundo abismo entre ricos e

pobres, o baixíssimo nível de educação de mais da metade da população e a

heterogeneidade estrutural. Quando isso é analisado mais de perto, aparecem diversas

anomalias no corpo capitalista transplantado para o mundo subdesenvolvido. De um

lado observa-se uma enorme capacidade e dinâmica de combinação de fatores

produtivos nas classes sociais do topo da pirâmide, mas de outro lado, não se verifica

uma distribuição da riqueza material para os outros segmentos da população da grande

periferia de baixa renda. A grande maioria da população fica, na verdade, assistindo ao

chamado desenvolvimento econômico e progresso material pós-moderno, sem

participar, contudo, dos seus frutos. A cultura da cordialidade, da burocracia, do

populismo, dos projetos assistencialistas, dos elevados gastos públicos e das obras

supérfluas, em regra superfaturadas e sem uma contrapartida de serviços de qualidade,

faz crescer ainda mais, um ciclo de desigualdade e desperdício. Verifica-se um fosso

tecnológico, um atraso educacional, uma falta de recursos para a infra-estrutura

econômica e social, observando-se a passividade crônica, a falta de vontade política

para a ruptura do subdesenvolvimento, do desemprego estrutural e da ignorância. Isso

ocorre ao mesmo tempo em que em outros países do mundo, os seus governos ampliam

seus investimentos em educação de qualidade, ciência, tecnologia e abrem a discussão

sobre novos paradigmas na economia ecológica e na preservação do meio ambiente

global, formando os pilares da nova era produtiva baseada no conhecimento científico

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(Tacconi, 2000). No caso do Brasil as grandes obras, os grandes financiamentos, os

grandiosos negócios, atendem, ao final, aos interesses dos detentores dos grandes

capitais e da pequena burguesia aliada aos políticos despreparados e/ou corruptos. O

excedente econômico coletivo não flui para um processo de desenvolvimento autêntico

e verifica-se um sangramento antecipado das futuras gerações, com o desvio dos

recursos públicos para a corrupção, para o mercado financeiro e imobiliário.

Na esfera agropecuária nosso país bate todos os recordes de produção,

produtividade e modernidade tecnológica, destinando-se parte considerável desse

esforço produtivo para a exportação. Somos o maior exportador de soja do mundo,

grande produtor de milho, feijão, café, carne, laranja, cacau e cana de açúcar. Nessa

realidade se formos pensar de forma racional seria de se esperar que maiores parcelas do

povo brasileiro tivessem níveis nutricionais mais adequados. Infelizmente não é isso o

que acontece, pois a grande maioria da população vive à margem desse processo

produtivo e comercial e os índices oficiais não capturam o sofrimento das famílias mais

pobres, em todos os cantos do país. O deslocamento da população do campo para a

cidade, nas últimas décadas, através de intensos fluxos migratórios no sentido rural-

urbano acomodou quase 80% da população brasileira nas cidades, contra 20% no início

do século, e verificou-se o inchamento das periferias urbanas e o crescimento de

favelas, com a baixa absorção dessas famílias de migrantes em sistemas produtivos.

Nessas favelas urbanas nosso povo de origem rural, sofreu um impacto de mudança

cultural, encontra-se instalado, precariamente, em barracos, casebres ou casas sem

revestimento e sem esgoto, não podendo criar animais de pequeno porte, não podendo

plantar alimentos básicos e nem podendo viver com um mínimo de espaço necessário à

vida digna. O mercado informal e o tráfico de armas e de drogas proliferam-se em razão

quase exponencial. Uma observação mais cuidadosa e isenta de emoção pode

comprovar uma condição de vida humana inferior à vida de bovinos, eqüinos e suínos

em diversas regiões do meio rural brasileiro. Com a tendência de mecanização dos

processos produtivos, da especialização dos processos de trabalho e com a conseqüente

introdução da função digital no controle dos processos produtivos da nova era

informacional, diminuem as oportunidades de trabalho para as pessoas desqualificadas

(Castells, 1999). Surgem novas levas de trabalhadores desempregados, um maior

número de mendigos, os caymands, os marginais e os desfiliados do sistema que não

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conseguem emprego, não podem oferecer aos seus filhos uma estrutura familiar

adequada, nem uma base complementar de educação, nem valores, nem condições de

estabilidade emocional e nem mínimas perspectivas de educação integral ou inserção no

mercado de trabalho. Comprova-se a deterioração da qualidade de vida de segmentos da

população mais pobre, criando-se um novo ciclo de desigualdade e uma tendência para

o desemprego estrutural ou quase crônico nas pessoas mais despreparadas, que não tem

alternativa a não ser sobreviver com baixíssimos níveis educacionais no mercado

informal.

Desde a era mercantilista, geração após geração, a lógica econômica e seus

conteúdos conceituais fundamentais foram desenvolvidos com base na estrutura de

acumulação, concentração e centralização de capital e poder. A grande fome da Irlanda

e as massas de desempregados que estimularam as revoluções em quase todos os países

da Europa no ano de 1848 são exemplos concretos das conseqüências de tal lógica de

mercado (Hobsbawm, 1992). Durante a revolução industrial na Europa, os países da

América Latina funcionavam como provedores de matérias primas, sem a constituição

de um pólo dinâmico endógeno de acumulação capitalista. A burguesia comercial

transferiu o excedente econômico para os países do centro e explorou, até a última gota

de sangue, os escravos, os proletários e os recursos naturais. Os diretores dessa história

econômica sempre compreenderam, como livres, abundantes e inesgotáveis todos os

recursos naturais existentes sobre a terra. Como resultado desse processo de poder

econômico, centralizador, surgiu no mundo, de um lado, um pólo dinâmico constituído

por um conjunto de países desenvolvidos, que estabeleceram uma base industrial

diversificada e dominaram o progresso científico e tecnológico e, do outro, os países

subdesenvolvidos, que se atrelaram ao processo econômico, de forma sempre limitada e

dependente daqueles países.

A interpretação dos economistas, denominados estruturalistas, sobre a realidade

do subdesenvolvimento latino-americano sempre esteve apoiada no conceito centro-

periferia, onde o progresso técnico desigual, a dependência tecnológica, o atraso

cultural, a deficiência educacional, a baixa capacidade de poupança e investimento, a

economia agrário-exportadora, dentre outros fatores, que podem ser definidos por uma

espécie de heterogeneidade estrutural de nossos países – o que torna difícil o

rompimento dessa condição subdesenvolvida (Bielschowski, 2000). As receitas de

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políticas públicas preconizadas para romper com a pobreza e o atraso cultural, no

sentido de um desenvolvimento mais equilibrado e duradouro esbarraram sempre

também, em nossa falta de experiência de gestão macroeconômica, na inflação alta e na

incapacidade organizacional. O perfil de demanda, os estilos e padrões de consumo

criados nos países desenvolvidos foram trazidos para o incipiente mercado dos países

subdesenvolvidos para atender o ideal consumista da oligarquia comercial-exportadora-

cafeeira, limitando ainda mais, a idealização, a concepção e a implementação de

políticas públicas voltadas para ampliação do mercado interno e a melhor distribuição

da renda interna (Bielschowski, 2000).

Apesar dos planos econômicos do período de ditadura militar no Brasil e das

elevadas taxas de crescimento econômico no início dos anos 70, dos investimentos em

infra-estrutura e da industrialização das décadas recentes não foram conduzidas os

esforços concentrados para um combate frontal aos contrastes sociais, ao

subdesenvolvimento, nem um ataque às causas da pobreza. Prevaleceram as normas

populistas e os conceitos de crescimento econômico purista e positivista, no lugar do

desenvolvimento humano substancial de nosso povo. Os governantes e a elite burguesa

não tiveram nem a percepção, nem a competência e nem vontade de pensar em

descentralização de poder, de renda e de educação de qualidade, capaz de realmente

fortalecer as economias e o povo dos municípios de pequeno e médio porte. O estilo de

crescimento econômico ficou centralizado nas grandes cidades. Um retrato dessa

situação econômica poderia ser observado nas estatísticas oficiais que revelariam -

apesar do aumento do PIB, do esforço de estabelecimento de uma infra-estrutura

econômica, e de um processo de industrialização concentrado na região sul/sudeste nas

últimas cinco décadas no Brasil - que acabamos por criar um tecido social

profundamente esgarçado. Quase um quinto da população brasileira vive abaixo da

linha de pobreza, com menos de US$ 2,00 por dia. São mais de 30 milhões de

brasileiros.

Apesar de termos um dos maiores PIBs do mundo, a metade dessa riqueza

material, circula todos os anos em menos de trinta municípios, quando comparado a um

total de três mil seiscentos e sessenta municípios existentes em nosso país. Essa falta de

irrigação econômica adequada para a periferia amplia ainda mais os problemas sociais e

ambientais nas áreas pobres urbanas, que crescem ou incham também nas cidades de

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médio e pequeno porte, realimentando o processo de pobreza, degradação e violência.

Existem, infelizmente, muitos jovens sem estrutura familiar e, pelo menos, quinhentas

mil crianças envolvidas na prostituição infantil no Brasil atualmente. Na sua grande

maioria, esses jovens se vendem por um prato de comida ou para poderem adquirir um

novo “gadget” lançado no mercado por alguma empresa pós-moderna. Os recursos

alocados em campanhas publicitárias em todos os meios de comunicação envolvem

negócios milionários. A alienação, a falta de cultura, a falta de educação, os baixos

níveis de renda, a precária vida nas favelas e o crescimento dessas populações marginais

realimentam um novo ciclo de reprodução de marginalidade e pobreza. Muitas dessas

crianças/jovens, infelizmente, ainda com menos de dezoito anos de idade estão parindo

e irão reproduzir, conceber e parir novas crianças, que por sua vez não terão uma

estrutura familiar capaz de tirá-las de um provável futuro de inserção na pobreza ou na

possível criminalidade. De acordo com dados do IBGE há vinte e cinco anos atrás

ocorriam 80 homicídios por ano, por grupo de 100 por mil habitantes na população

jovem (14 a 24 anos de idade). Hoje, verifica-se no Rio de Janeiro, um aumento de 100

% nessa taxa, ou seja, mais de 160 homicídios no mesmo grupo de 100 mil habitantes.

São, portanto, dezenas de milhares de jovens brasileiros que todos os anos morrem de

forma violenta dentro do tráfico internacional de armas que estimula o crescimento dos

mercados e dos lucros das empresas estrangeiras do setor. Além do Rio de Janeiro,

Recife e outras grandes capitais onde a taxa de homicídios é crescente podem-se fazer

hipóteses baseadas em experiência pessoal, de que este mesmo processo de aumento da

taxa de homicídio na população jovem, parece ser crescente e diversificado também nas

cidades de médio porte. Em todo o país pode ser constatado um aumento vertiginoso na

taxa relativa de violência infanto-juvenil no meio urbano.

O mesmo grau de crescente violência contra o ser humano apontado acima pode

ser observado contra outras formas de vida existentes no meio ambiente em geral. A

intensa exploração econômica da biodiversidade e dos recursos naturais em grande

escala e de forma contínua, nos últimos duzentos anos, parece simular um cenário de

médio prazo, com possíveis desastres ecológicos e sociais de grandes dimensões e de

difícil previsão na sua extensão no tempo e no espaço. Não é difícil perceber que o mal

não deriva da racionalização do nosso mundo, mas da irracionalidade com que essa

racionalização atua (Adorno, 2001, p.53).

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CAPÍTULO 2 – IMPACTO HUMANO

Durante o século XX o Homem multiplica por cinquenta vezes o nível do

produto interno bruto mundial. Depois da primeira guerra mundial (1914-1919) acelera

a produção industrial, com as nascentes indústrias elétricas, química e automobilística.

Logo algumas décadas depois, a concorrência internacional, o desenvolvimento

científico, tecnológico e econômico durante a segunda grande guerra mundial (1939-

1945) lançou o mundo na guerra fria e na corrida para a diversificação industrial,

comercial e para a construção de armas e artefatos atômicos, biológicos e de mísseis de

longo alcance. O estoque de automóveis rodando, trinta anos atrás, nas estradas do

mundo era de quatrocentos milhões de unidades e hoje, com o crescimento dos

mercados na América Latina e a entrada da China e Índia no mercado mundial, logo

estaremos com mais de 1 bilhão de automóveis, provocando a crescente emissão de

CO2 na atmosfera. Nos dias de hoje a China sozinha faz planos para ter cem milhões de

automóveis nos próximos anos. Todas as indústrias aumentaram bastante o volume de

emissão e despejo de resíduos químicos em córregos, rios e oceanos de todos os lugares

do mundo. Os níveis de degradação ambiental refletem dois problemas – a dinâmica

populacional e a poluição resultante do perfil da atividade produtiva atual. A cada nova

década as empresas diversificam seus processos de produção e produtos buscando

sempre o aumento das suas vendas.

A população mundial cresceu bastante nos últimos séculos. Passou de um nível

de 790 milhões de habitantes no ano de 1750, nos fins da economia feudal, para 1,5

bilhões de habitantes e com um PIB de US$ 0,7 trilhões no ano de 1900 e depois para,

quase 6,0 bilhões de habitantes e com um PIB de US$ 22,0 trilhões no ano de 1995.

Provavelmente a população mundial será de oito bilhões de pessoas no ano de 2025 e de

onze bilhões no ano de 2050. A multiplicação, a diversificação, a velocidade das

atividades produtivas e o aumento da população humana num ritmo bastante intenso,

nos últimos duzentos anos, têm contribuído simultaneamente, para a acelerada perda de

biodiversidade na Terra. O total de espécies biológicas existentes não pode ainda ser

estimado de forma correta. Alguns estudos estabelecem o nível de 3-10 milhões de

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espécies, outras estimativas falam de 30, 50 e até 100 milhões (Swanson, 1995 – citando

estudos de May, 1990; Erwin, 1982 e Wilson, 1992). Desses totais cerca de 1,7 milhões

de espécies foram descritas pelos estudos científicos, das quais menos de 1 milhão são

insetos, aproximadamente 250.000 são plantas superiores e 4.500 são mamíferos. A

ignorância sobre o número de espécies é tão grande quanto a nossa falta de

conhecimento sobre o ritmo e as taxas de extinção. Alguns estudos, entretanto, indicam

a provável extinção de 50% do total de espécies dentro dos próximos 200 anos

(Swanson, 1995). Apesar de esses estudos serem extrapolações existe pouca dúvida de

que estamos vivendo um período de extinção biológica, em larga escala.

O crescimento da população humana e os modelos econômicos seguidos nas

últimas décadas estão comprometendo de forma irreversível a integridade de

ecossistemas naturais e aumentando as diversas formas de poluição do ar, água, solo,

oceanos e meio ambiente em geral. O crescimento da população pressupõe a

necessidade de aumento da produção agrícola, de outras fontes de energia e da

utilização, em maior volume, de diversos recursos naturais ainda disponíveis em amplas

partes da Terra. No presente, 1,5 bilhões de pessoas ainda recebem alimentação

insuficiente e aproximadamente 10 milhões de pessoas morreram todos os anos, nas

últimas décadas, como consequência da fome ou de doenças relacionadas à fome

(Swanson – 1995, citando estudos de Kates et. al., 1988; Dumont e Rosier, 1969; WHO,

1987 e WRI, 1987). Mesmo nos cenários mais otimistas de eficiência energética a

produção total de eletricidade deverá triplicar até o ano 2050 (Johansson et. al., 1993).

Outros trabalhos indicam que a atividade econômica global deverá aumentar 5-10 vezes

até o ano 2040 (WCED, 1987).

No período 1970-1990 a população cresceu a uma taxa de 0,7 % nos países

desenvolvidos e de 2,19% em países em desenvolvimento. A taxa anual de crescimento

para o período 1990-2000 foi estimada em 0,46% para os países desenvolvidos e de

2,03% para países em desenvolvimento (WRI, 1992). A China cresceu, do ponto de

vista econômico, nas últimas décadas, aproximadamente 10% ao ano e a Índia mais de

5%. Não sabemos ainda o nível dos impactos sobre o meio ambiente e, com certeza,

diversas conseqüências negativas configurarão esse outro lado da moeda no futuro

próximo, ainda desconhecido para muitos.

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Aproximadamente 70% do PIB mundial estão nas mãos de 30% da população.

Além disso, a geração dessa riqueza está concentrada nas empresas transnacionais que

controlam aproximadamente 75% do comércio mundial (Arbix e outros, 2000, p. 77).

Nos quinze países mais desenvolvidos o número de matrizes de multinacionais quase

quadruplicou entre 1968 e 1993, passando de sete mil para vinte e sete mil. Em 1995,

havia em todo o mundo trinta e nove mil matrizes de transnacionais e duzentas e setenta

mil afiliadas no exterior, mas com uma distribuição muito desigual dos centros de

poder: cerca de 90% das sedes e 60% das afiliadas estavam situadas no mundo

desenvolvido (Arbix, 2000, p. 317).

O grau de concentração econômica no mundo pode ser visto também no seguinte

exemplo – 70% das compras mundiais de café são feitas por quatro grandes grupos

econômicos num mercado de US$ 80 bilhões anuais. Somente 10 % da renda com o

comércio global do café são absorvidos pelos produtores de café. Enquanto 6.000

trabalhadores faziam a colheita na maior fazenda de café no mundo, hoje 400

empregados e seis máquinas fazem esse mesmo nível de colheita. Isso é apenas um dos

indicadores da tendência da concentração econômica e do desemprego estrutural que

também poderia ser observado em outros setores da economia agrícola. No Brasil 1% da

população detém a posse de 46% da terra e do seu território. De acordo com vários

estudos e imagens de satélite, a maior parte dessas áreas foi desmatada e,

especificamente ao longo do litoral brasileiro, na região de mata atlântica, não existem

mais florestas nativas em, pelo menos, 90% da sua área total.

A pressão econômica sore os recursos naturais deve continuar pois -

"Developing countries as a whole need to generate 700 million jobs (or as many as all

the jobs in the developed world today) during the next 20 years simply to accomodate

new entrants into the labor market, let alone to relieve present unemployment and

underemployment, which amount to 30-40 % of the workforce. During the 1990s the

number of developing-country jobs required is 30 million per year; the United States,

with an economy larger than all the developing countries combined, often has difficulty

generating two million new jobs per year. In Brazil 1.7 million new people seek jobs

each year" (Swanson, 1995, p. 118).

Uma consequência hoje já previsível do impacto das atividades econômicas

sobre a atmosfera deve ser destacada com relação aos danos ambientais dentro do efeito

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estufa – o aquecimento da terra devido à emissão de gases, sobretudo o dióxido de

carbono. A queima de combustíveis fósseis e, em menor grau, a perda de cobertura

vegetal, que provocam aumento de concentração de CO2 na atmosfera. Esses níveis de

CO2 eram de 280 ppm (partes por milhão, em volume) antes da revolução industrial,

indo para 350 ppm no ano de 1988 (Porteous, 2000, p. 78). Estima-se, com as

tendências atuais, que na década de 2030, esses níveis de CO2, possam atingir 560 ppm

(IPEA, 1998). Consequências do efeito estufa e possíveis alterações climáticas podem

induzir a modificações nas calotas polares e inundações em diversos países são

esperadas. A duplicação no nível de CO2 poderá elevar as temperaturas médias da

superfície terrestre de 1,5 a 4,5 graus centígrados, elevando o nível dos oceanos entre 25

a 140 centímetros além de provocar outras desordens ambientais. Os clorofuorcarbonos

(CFC), uma classe de compostos químicos normalmente usados como solventes

contidos nos sistemas de refrigeração, usos industriais, latas de aerossóis e na produção

de espumas tais como CFC-11 (CFCl3 or trichlorofluoromethane) ou CFC-12 (CCL2F2

ou dichlorodifluormethane) causam o aumento da destruição gradativa da camada de

ozônio e provocam, por sua vez, maior intensidade das radiações solares. Cerca de 30

km acima da superfície da terra, na estratosfera, existe uma camada natural de ozônio.

Esta é importante para a vida, pois absorve uma parcela da radiação ultravioleta do sol

(Porteous, 2000).

A poluição do ar urbano é fenômeno com gravíssimas consequências sobre a

saúde humana. Por exemplo, ocorrem 100.000 mortes anuais no México por doenças

respiratórias (Ravaioli, 1995, p. 8). A Terra é coberta por 800 km de espessura de

camada de ar. Metade desse ar está concentrada nos primeiros seis quilômetros de

altura. Mais de 99% de todo o ar está localizado numa faixa de quarenta km. O ar é

invisível, sem odor e sem gosto. É uma mistura de nitrogênio (78.1%), oxigênio

(20,9%) e uma pequena quantidade de dióxido de carbono (0,03%) e outros gases

residuais. O ser humano é dependente deste ar e cada indivíduo respira

aproximadamente 22 mil vezes por dia. O ar que entra nos pulmões é essencial às

funções vitais. Os poluentes do ar podem ser particulados e gases. Particuladas são

substâncias sólidas suspensas no ar como, por exemplo, a fuligem, as partículas do solo,

poeiras, névoas ácidas, fumaça de diversas origens, fumos e neblina. Os particulados

podem ser produzidos em decorrência da ação humana da queima incompleta, da

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moagem de diversos materiais, do corte ou da perfuração. Os particulados finos podem

ser inalados pelo homem e animais entrando nos pulmões. Os particulados grossos

podem ser absorvidos também pelos seres humanos que respiram pela boca. Os gases

poluentes na atmosfera podem ser aqueles que contêm carbono, enxofre, nitrogênio e

ozônio. Os hidrocarbonetos compreendem uma classe de compostos, formados pela

combustão incompleta e pela evaporação da gasolina, óleo combustível, e solvente. São

compostos de carbono e hidrogênio. Muitos são carcinogênicos. O principal poluente

que contém enxofre é o dióxido de enxofre. O dióxido de enxofre reage com os

materiais na atmosfera para formar partículas de ácido sulfúrico e partículas de sais de

sulfato. Perigoso, o ácido sulfúrico é altamente corrosivo e produz sérios problemas

pulmonares (Porteous, 2000).

Outro problema ambiental muito sério é a proliferação da chuva ácida e do seu

impacto sobre os solos, os recursos hídricos, a fauna e a vegetação. Em decorrência da

queima de enormes quantidades de combustíveis fósseis são descarregados anualmente

na atmosfera milhões de toneladas de compostos de enxofre e óxido de nitrogênio.

Através de uma série complexa de reações químicas, estes poluentes podem ser

convertidos para ácidos, os quais podem retornar a terra como componentes de uma

chuva - chuva ácida (Porteous, 2000).

As fontes de energia como o petróleo, o gás natural, o carvão mineral, a lenha, a

energia de base hidráulica, os minérios radioativos, o vento, etc, aproveitados em

refinarias e usinas constituem centros de transformação que depois de processados

geram suas diferentes formas finais que são aproveitados pelos consumidores na forma

de gasolina, eletricidade, óleo diesel, carvão vegetal, etc. Toda a utilização de energia

apresenta riscos como, por exemplo, os vazamentos de óleo que são responsáveis por 35

% do total de descargas nos oceanos, com impactos ambientais negativos em vários

pontos de zonas costeiras, onde se encontram os manguezais que são importantes locais

de reprodução de peixes e crustáceos (IPEA, 1998).

Até o ano de 1986 a energia nuclear fornecia 15% de toda a eletricidade no

mundo com 366 reatores em funcionamento (IPEA). Podemos, por precaução, lembrar e

considerar, numa abordagem mesmo que preliminar sobre o uso em larga escala de

energia nuclear, de que os seguintes riscos existem no uso desse tipo de fonte de

energia. Os prováveis efeitos de mutações genéticas, sobre o homem, da radiação

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associada ao ciclo de combustível nuclear a partir do césio, estrôncio, trítio, carbono 14

e criptônio 85. As falhas humanas na manutenção de equipamentos em instalações

nucleares. Os impactos desconhecidos da disposição dos resíduos radioativos sobre o

meio ambiente. A produção de plutônio, no caso do reprocessamento do combustível e a

possibilidade de sua utilização para fins militares, em ações terroristas ou atos de

sabotagem.

Os impactos ambientais e humanos a partir do uso da hidroeletricidade são

diversos. As técnicas de construção de barragens causam problemas para o meio

ambiente. Muitas transformações ocorrem no desvio de rios e na constituição de lagos

artificiais. Isso gera problemas na reprodução dos peixes, na devastação da fauna e flora

locais, na perda de produção agrícola, na desestruturação da pequena produção agrícola,

na intensificação das migrações de populações humanas, na perda de sítios

arqueológicos, na perda da biodiversidade local, no impacto sobre as reservas indígenas

e na destruição de paisagens de grande valor eco-turístico.

A conversão ambiental deverá crescer em função do aumento da demanda por

álcool e por bio-combustíveis gerando outros passivos ambientais, custos sociais e

bloqueando as alternativas de uso do solo para produção de alimentos.

As pesquisas sobre fontes alternativas de energia deverão receber grande atenção

da comunidade internacional nas próximas décadas, na medida em que os estoques de

petróleo estão acabando. Ou mesmo parece que o petróleo deverá ser direcionado como

matéria prima para a indústria petroquímica. As fontes de energia das variações de

marés e ondas do mar, a energia solar e a eólica, ainda são aproveitadas em pequenas

comunidades rurais ou para bombeamento e aquecimento em pequena escala industrial.

Talvez um dos problemas ambientais mais sérios seja a poluição hídrica –

diversos compostos orgânicos bioresistentes e metais pesados que são introduzidos nos

cursos de água todos os dias em grandes volumes, como dejetos de atividades

industriais. A poluição hídrica decorre também de: esgotos domésticos, despejos da

produção industrial, despejos da produção agropecuária e águas urbanas de escoamento

superficial. Os efeitos da poluição hídrica podem ser sentidos de forma objetiva na

eliminação dos peixes, algas, na poluição de nascentes, córregos e rios, na eliminação

de diversos animais aquáticos quando as partículas sólidas se acumulam nos órgãos

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respiratórios desses animais e quando variações térmicas e modificações no ph da água

se alteram (IPEA, 1998).

A questão ambiental é multidimensional e envolve aspectos econômicos, sociais,

antropológicos e psicológicos. A amplitude da questão demanda uma abordagem

interdisciplinar e coloca novo paradigma no planejamento estratégico das empresas que

atuam no mercado internacional. O esverdeamento dos processos produtivos (the

greening of production processes), a certificação ambiental e o crescimento do mercado

de produtos orgânicos configuram novos cenários para a economia mundial que

precisam ser analisados como tentativa de diminuição da poluição global. Sejam quais

forem os caminhos políticos perseguidos pela humanidade, um dos principais atalhos

para a preservação, a conservação, a proteção e a recuperação de todas as formas de

vida depende de investimentos em projetos educacionais de qualidade em maior escala.

O trabalho do homem econômico deverá ser integrado à natureza e não continuar

agredindo e transformando todas as formas de vida substanciais exclusivamente em

dinheiro. O princípio da precaução indica claramente que por falta de informações

científicas completas sobre muitos transtornos e desequilíbrios ecológicos, devemos

buscar investir em outros padrões de produção e mudar antigas crenças sobre nossa

forma de exploração econômica, infelizmente ainda predatória. Tudo indica que a

natureza não suportará um crescimento econômico na China, Índia e América Latina,

semelhante ao praticado, até agora, pelos países chamados desenvolvidos.

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CAPÍTULO 3 – A PARTE PRÁTICA: A EDUCAÇÃO

COMO MECANISMO DE TRANSFORMAÇÃO

Defender de forma objetiva a construção de um processo educacional mais

sólido e mais consistente é como defender a construção de uma ponte, que pode

transportar o ser humano sobre os abismos da sua vida e sobre as suas dificuldades

existenciais e profissionais. Ninguém nasce sabendo viver. Integrar educação, com a

economia, a ecologia, a agricultura e o desenvolvimento, significa um passeio

interdisciplinar. Para iniciar de forma mais concreta a explicação sobre os núcleos de

desenvolvimento humano, cabe lembrar que a formação do homem, o seu

desenvolvimento pessoal, a expansão do seu pensamento abstrato e de sua capacidade

de trabalho, são os mais nobres investimentos que poderiam ser realizados por países

como o Brasil para desconcentrar riqueza, poder e conhecimento.

Qualquer plano, projeto, atividade, obra, construção que envolve trabalho

coletivo demanda em primeiro lugar uma boa base de ideias. Em segundo lugar, para

que o resultado a ser alcançado evite o desperdício de recursos humanos e materiais, as

pessoas precisam participar ativamente da concepção dos referenciais filosóficos e da

natureza do projeto pretendido. O planejamento participativo é em si o método. Um

detalhe muito importante sobre a concepção da metodologia dessa construção é que ela

não pode e não deve ser realizada descolada da realidade local.

No Brasil, em todas as esferas de governo, as políticas públicas e os planos

econômicos sempre foram, em sua grande maioria, concebidos em gabinetes e sem a

participação efetiva do povo. Isso sempre prejudicou a prática da implementação. Nesse

projeto, procura-se contribuir para o processo educacional estimulando novas práticas

pedagógicas, onde o aluno e a comunidade devem interagir fortemente com os

problemas da sua realidade local. Procura-se reforçar o processo educacional

valorizando o trabalho criativo, a reflexão e o contato com os problemas econômicos e

sociais locais. Em resumo é uma construção fundamentalmente interior, de dentro para

fora. O cerne de nossas ideias é constituído do envolvimento do aluno com a realidade

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multidimensional, onde ele deve trabalhar dentro dos problemas e encontrar e testar na

prática as suas soluções e não necessariamente as que podem ser encontradas nos livros.

Diferentemente de perceber os conceitos, os alunos devem concebê-los trabalhando no

laboratório da vida.

A palavra trabalho vem do latim tripalium e estava associada à ideia de atividade

obrigatória – escravo, sem remuneração, sempre seguida de sanções e torturas. O

proletário do mundo fordista sempre foi orientado para o mercado de trabalho e para os

ganhos de produtividade. Alienado da sua realidade local, o trabalhador não pensa em

seus problemas, transforma-se de fato também em escravo da máquina cultural

capitalista que internaliza seus valores de fora para dentro. O subdesenvolvimento passa

a ser compreendido como algo natural. O jovem não precisa saber pensar, pois é

treinado para apertar um parafuso dessa maravilhosa máquina produtiva.

Submetem-se a longas jornadas de trabalho, baixos salários e deles se exige

pouca criatividade. Romper, transformar essa estrutura e pensar novos horizontes de

vida substancial requer um esforço humano muito grande para que as futuras gerações

possam sonhar em viver dentro de um mundo menos desigual e instável. Mesmo depois

da escravidão as ditaduras de poder mantiveram-se no mundo e hoje, estamos

aparentemente regulados pela ditadura do mercado neoliberal. O poder econômico e a

propaganda dos grandes conglomerados financeiros continuam impondo os padrões de

acumulação e de consumo.

No livro A Política, Aristóteles caracterizava as tiranias com algumas máximas:

"Rebaixar os personagens mais eminentes enquanto possível e desfazer-se dos mais hábeis; não permitir aos súditos nem banquetes, nem associações, nem instrução... tomar todas as medidas para impedir que os habitantes não se conheçam entre si, já que as relações só servem para torná-los mais confiantes; manter patrulhas que andem dia e noite pelas ruas e escutem nas portas das casas... Semear a discórdia entre amigos... Empobrecer os cidadãos... Aumentar o peso dos impostos... Guerrear." (Aristóteles, 2002, p. 246).

Somos bombardeados, todos os dias, com valores imorais, mostrados nas

novelas e programas da chamada televisão conemporânea, os impostos aumentam sem

contrapartida de prestação de serviços, as guerras fazem as fortunas da indústria bélica e

os pobres ficam mais pobres. Assim como na Grécia antiga, nos feudos, nas

comunidades, nos municípios, nas ruas, nas micro-bacias, onde quer que as atividades

produtivas sejam realizadas, elas foram sempre orientadas para a ética da acumulação e

da exclusão social. Se não considerarmos o trabalho informal no cálculo da taxa de

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desemprego essa pode atingir níveis alarmantes no Brasil e alcançar patamares acima de

30% da força de trabalho sendo essa taxa maior ainda na população jovem.

Diversas atividades educacionais podem ser planejadas e conduzidas de forma

que o aluno compreenda o conteúdo escolar dentro dos problemas de sua realidade

local. Quando o aluno pode manipular a ideia e enfrentar problemas reais, ele

experimenta o trabalho concreto e produtivo, sua mente passa a ser exposta aos planos

multidimensionais da vida produtiva na sua comunidade, onde vive, e parece despertar

para um sentimento de maior responsabilidade com o aprendizado e a sua realidade

local.

Os conceitos e a experiência adquirida na tenra idade em práticas pedagógicas

não-formais concebidas dentro de áreas rurais e favelas podem ser úteis na formação

profissional futura em diversas áreas de trabalho, como por exemplo, nas áreas de

engenharia civil, arquitetura, economia, políticas públicas, administração e agricultura.

Podemos combinar a razão, com a possibilidade e com a intuição na elaboração de

projetos urbanos, rurais ou paisagísticos. Em muitos projetos rurais podemos também

combinar a vontade, com a escolha e com a intuição, especialmente quando diversas

alternativas se apresentam sobre o uso de variedades vegetais ou raças de animais, mais

ou menos adaptados às características locais, épocas mais adequadas de plantio, capina,

reprodução ou colheita.

O desenvolvimento humano pode ser mais sólido quando aliamos a teoria à

prática dentro dos fenômenos produtivos da vida real, ainda na tenra idade. Quando

submetemos a mente do jovem à micro realidade, e ele é estimulado a trabalhar em

grupo, em problemas concretos, por exemplo, planejando, concebendo, organizando,

implantando projetos, executando tarefas, todo o seu corpo trabalha e na minha hipótese

isso pode alargar a sua percepção multidimensional da vida em si. Dentro do processo

de trabalho e produção, o jovem pode recuperar as ideias, as teorias e os conceitos que

foram transmitidos através do sistema de ensino formal, repensar sua aplicabilidade e

consolidar no conjunto ação-reflexão uma experiência única produtiva.

Essa experiência não é só instigante como abre novas portas para o

desenvolvimento da auto-estima, da criatividade e da inovação. A consciência sobre a

condição de subdesenvolvimento passa a ser internalizada, assimilada e pensada, ao

contrário de percebida ou aceita passivamente. Ao refletir sobre os núcleos do homem

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dentro da prática pedagógica integrada verifica-se possivelmente um aumento do

espectro de chances de autodomínio e de concepção de outras formas de trabalho

criativo, de maior liberdade mental e de maior estabilidade emocional. A concepção da

ideia no desenvolvimento humano integral é a matéria prima mais importante para o

sucesso no estabelecimento de políticas públicas consistentes para o desenvolvimento

econômico e social de baixo para cima, bem como para a preservação, a conservação, a

proteção e a recuperação da biodiversidade e do meio ambiente rural e urbano.

Envolver os jovens em práticas educacionais complementares à educação formal

da escola pode servir também de poderoso instrumento para ocupá-los produtivamente,

principalmente quando recebem orientação da estrutura familiar em sentido contrário.

Muitos desses jovens, muitas das vezes não dispõem de renda familiar mínima para

aquisição de livros, sapatos, roupas, para matrícula e/ou pagamento de mensalidade de

cursos de idiomas, informática ou esportes, além de inúmeras atividades educacionais

que as famílias com renda média alta, por outro lado podem, normalmente, oferecerem

aos seus filhos, nos horários fora da escola. Como todos nós sabemos, a pobreza, a

cabeça e a barriga vazia, na fase de jovem adolescente é estrada para um possível ciclo

de ignorância, ociosidade e marginalidade.

Toda a ideia de transformação surge na mente humana de duas formas básicas -

através da percepção ou da concepção sobre os fragmentos de ideias que imaginamos

sobre a realidade. O homem nunca tem a percepção sobre a realidade total. Aquilo que é

válido hoje, não foi no passado e não será no futuro. Essa transitoriedade das ideias em

contextos históricos específicos aumenta a necessidade da reflexão intertemporal e

multidimensional. Quando o conhecimento é percebido, a mente está passiva; quando o

conhecimento é concebido, a mente está ativa. Esta é a base metodológica que

encontramos no livro Ética, de Spinoza.

Nos dias de hoje as ideias sobre o trabalho e a produção econômica local, por

exemplo, não podem ser debatidas fora da realidade global e ambiental. Os jovens

podem assimilar as ideias e conceitos de forma mais efetiva quando concebem os

fragmentos dos diversos níveis e relações entre objetos de conhecimento no mundo

vivo, isto é, quando criam. Nessa ordem é possível tentar a prática da

interdisciplinaridade em práticas educacionais não formais, estimulando o movimento

ação-reflexão-ação, onde podem ser fixados e absorvidos diversos estilos de vida e

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valores morais sólidos, condutas e comportamentos adequados, atitudes sociais

equilibradas, virtudes, dons para capacitação de técnicas produtivas e de novos hábitos

de maior cuidado com a substância da vida em geral.

O desenvolvimento humano pode experimentar na síntese concreta da

manipulação das ideias uma relação mais forte onde a cultura produtiva substitui a

cultura passiva (Spinoza, 2000). Muitos pesquisadores no mundo acreditam que é

importante estudar os índices sobre a pobreza, a degradação ambiental, as taxas de

crescimento econômico e a poluição industrial. Outros estão mais preocupados em

desenvolver projetos, ações e atividades que possam contribuir para a transformação da

realidade e a recuperação de ambientes empobrecidos ou esgarçados (Tacconi, 2000).

Um dos conceitos mais importantes que podemos lembrar nesse momento para

fundamentar nosso propósito nesse texto foi elaborado por Kant. Ele cria um conceito

sobre o "ato de julgamento" na transição, ou na conexão da teoria com a prática. Um

resumo do pensamento de Kant sobre o assunto pode ser apresentado afirmando que

toda a teoria para ser colocada em prática requer um processo racional de planejamento,

organização, implementação e decisão. Seja na matemática, na engenharia, na

agricultura, na educação, na justiça ou em qualquer outra área da vida e do trabalho o

homem enfrenta a dificuldade de estruturar suas ações corretamente (Kant, 1999, p.

278-310). Spinoza (2000) também já havia chamado a atenção para o poder da mente

humana e do intelecto para orientar uma vida livre – de modo sive via quae ad

libertatem ducit. Assim como Kant valorizava o poder da razão humana, também

Spinoza trespassa seu livro sobre ética ressaltando a conduta racional sobre as emoções

e ainda cita Descartes quando lembra que “ele conclui que não há mente tão fraca que

não pode, se bem dirigido, adquirir poder absoluto sobre as suas paixões" (2000, p.

194).

Entretanto o mundo da razão não é soberano no campo da filosofia prática e da

educação e é, portanto, fundamental encontrar outros pensadores críticos que

alternativamente ao racionalismo puro chamem a nossa atenção. Vale lembrar outro

autor que diz:

"Quem, ao contrário, se mantém sintonizado com a realidade concreta da vida, logo se convence de que o verdadeiro centro de gravidade do ser humano não está nas forças intelectuais, mas nas emocionais e volitivas. Vê que o intelecto está completamente inserto na totalidade das forças espirituais humanas, delas depende e por elas está condicionado de muitas maneiras no exercício de suas funções. Não o intelecto, mas as forças do sentimento e da

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vontade, é que lhe parecem as dominantes nesse jogo de forças que chamamos vida" (Hessen, 2003, p. 109-110).

O filósofo Max Frischeinsen-Köhler, seguidor de Dilthey procura mostrar que

estaremos impotentes diante do problema da realidade, enquanto admitirmos, com Kant,

apenas duas fontes de conhecimento – a sensação e o pensamento. Desse modo não é

possível superar o idealismo. O máximo que podemos fazer é pôr, no lugar da

construção idealista, uma outra. Isso acontece de forma mais clara, por exemplo, no

campo estético e religioso. Só é possível, portanto, uma solução efetiva do problema

quando supomos outra fonte do conhecimento além da sensação e do pensamento: são

elas a experiência e a intuição interna (Hessen, 2003). Ora a fonte do dinamismo é a

concepção da ideia na medida em que ela mobiliza a vontade, a razão e a intuição

simultaneamente.

Educar é ensinar a pensar. Educar é pensar concebendo e manipulando as ideias

para integrar. Educar é colocar em prática o pensamento concreto. Educar é pensar,

refletir, criar e construir. Educar é errar e viver a experiência. Educar é saber ouvir

ideias, inovar e testar. Educar é orientar com clareza o próprio movimento do

pensamento. Educar é encontrar a paz interior, o equilíbrio, a serenidade e a

compreensão. Educar é remover as dificuldades, os obstáculos da vida e a ignorância.

Educar é buscar o desenvolvimento interior. Quando isso é trabalhado pode-se dizer que

estamos caminhando no sentido do crescimento da auto-estima e da auto-confiança.

Essa busca de tranquilidade mental tem por objetivo despertar uma visão mais ampla da

vida e alargar o pensamento abstrato.

O conceito de formação cultural e a arte do pensamento sobre a utopia são como

um rio que flui para uma humanidade sem injustiças sociais, onde todas as nossas

crianças devem ter as mesmas chances de lutar pela possibilidade de ascensão na

hierarquia social. A racionalidade iluminista e positivista do século XIX promoveram o

imenso canteiro de obras festejado em todos os grandiosos shoppings centers,

inaugurados, em larga escala, nos últimos quarenta anos no mundo. Os homens têm os

corações abertos para os sons dos homens, devem ser ensinados a se abrirem para os

sons da terra. Deveriam perceber melhor a diversidade de vida animal e vegetal para

poder pensar em novas formas de produção, que sejam menos agressivas e mais

sustentáveis ao longo do tempo. Talvez seja útil chamar a atenção para o pensamento de

Goethe, que dizia que as flores são os belos hieróglifos da natureza que indica o quanto

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ela nos admira e preserva (Nukaryia, 1973, p.71). Quando for possível ao homem a

compreensão do perfume que as flores exalam, iremos colocar mais energia na

preservação do silêncio do olhar de nossas crianças. Seremos também capazes de

cuidar, proteger e recuperar o nosso patrimônio natural, restaurando todas as fontes,

nascentes, córregos, rios, fauna e flora, que de forma quase irreversível a ação humana e

a chamada revolução industrial sepultou a golpes de intensa covardia, nunca observados

na história da civilização.

A arte da educação fundamental é a arte de despertar a criança na tenra idade

para o pensamento, a reflexão, a consciência, a interpretação e a criatividade

sistemática. A capacidade de pensamento abstrato é sedimentada na mente humana,

quando criamos um ambiente de serenidade, de equilíbrio, de tranquilidade, de

estabilidade e de concentração. Sabemos também que as atividades produtivas, quando

desenvolvidas com concentração evitam diversos tipos de acidentes e podem servir de

estímulo a processos educacionais metacognitivos (Williams e Burden, 1997).

A natureza, as árvores, as flores e as pastagens, por exemplo, crescem e se

desenvolvem no silêncio. O brilho das estrelas, o calor do sol e as montanhas "vivem"

em silêncio absolutos. O pescador compreende o significado do silêncio quando

mergulha no fundo do mar. O silêncio do tempo e da distância cura as feridas

incuráveis. No silêncio encontramos o equilíbrio, a serenidade e a vontade. No silêncio

sagrado podemos alcançar o sublime. O trabalho do retireiro é arte verdadeira quando a

vaca não fica nervosa e produz o leite puro no silêncio da madrugada. Só conversamos

com um cavalo no pasto, uma pedra no córrego, ou um galho de árvore quando estamos

em silêncio profundo. O feijão, o milho, a soja, as hortaliças e outras "lavouras brancas

ou temporárias" se desenvolvem no silêncio do dia e da noite. O café, o cacau, o

palmito, a mangueira, a seringueira e outras lavouras perenes também. O produtor rural

só faz bom plano de produção pensando em silêncio. O amor sublime só é sentido de

verdade dentro do silêncio. A mente humana só fica vazia e lúcida no silêncio absoluto.

Dizia um pensador que “pois sabia que não há nada a fazer para convencer um

jovem que acaba de se incrustar num sistema. Nesta época da vida, a discussão é vã.

Pode-se agir sobre ele, quando este paguro ainda procura sua concha” (Rolland, 1941,

p.187). É importante ressaltar que a substância do processo de estabilidade e

desenvolvimento humano envolve sempre a fixação de valores éticos, a criação de um

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ambiente tranquilo para o exercício da criatividade humana, a liberdade de pensamento

e o estímulo constante à reflexão sobre ideias, métodos e atividades produtivas. Assim

devemos estimular que a educação, a produção e a cultura andem de mãos juntas.

A tenra idade é um estágio onde a confiança no mundo como um lugar

previsível e confortável deve ser proporcionado pelos pais e família da criança para que,

ele ou ela tenha autonomia e possam aprender a confiar nos outros e a internalizar um

sentimento de competência (Hamachek, in Williams and Burden, 1997). Na idade de

quatro anos ocorre a experiência do sentido de iniciativa e as crianças podem ter

dificuldades de aprendizado se suas necessidades básicas não estiverem sendo atendidas

em casa ou na escola. A importância de garantia de um ambiente seguro, respeito

próprio e respeito dos outros, tarefas que promovam a curiosidade são alguns aspectos

que permitem a exploração do potencial da criança e fazem o objeto relevante para o

sujeito. O ambiente de aprendizado nessa fase da vida deve minimizar a ansiedade. É

com as ideias que o mundo é feito, o bem mais caro, o bem que não se vende, são as

ideias. Prova disso são os tigres asiáticos que estão dominando o mundo. Japão, Coréia,

Formosa, pobres de recursos naturais, se enriqueceram por ter se especializado na arte

de pensar (Alves, 2004, p.58).

Podemos afirmar que a experiência histórica do homem é a de uma constante

intervenção sobre a realidade que o cerca. Por isso podemos fundamentar nossa hipótese

de que a educação precisa ser complementada com ações e práticas pedagógicas coladas

nas comunidades e no povo. Aprendemos realmente a cultivar os solos arando a terra e

nela colocando uma semente de esperança. Aprendemos a educar semeando na mente o

movimento de concepção da ideia.

Em Spinoza a intuição não desempenha qualquer papel essencial na teoria do

conhecimento. Se para o racionalismo o pensamento é a fonte e o fundamento do

conhecimento, e para o empirismo essa fonte é a experiência, o intelectualismo

considera que ambas participam na formação do conhecimento (Hessen, 2003). Em

economia política os pensadores neo-clássicos procuram defender uma espécie de

transposição do método científico racionalista para suas análises, modelos teóricos e

sugerem a aplicação de ideias administrativas, gerenciais, políticas, éticas, econômicas

na idealização e no plano de que o homem pode "funcionar" no mercado como um

relógio onde, essa máquina institucional, representada pela experiência de fenômenos,

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assume a certeza e a ética capitalista, do consumo, do lucro, da taxa de juros, do

investimento, da poupança, dos preços das ações, todos atuando num grande mercado

de fatores onde os preços são regulados dentro da lei da oferta e demanda. E mais, numa

quase perfeita coexistência "natural" entre a população miserável das periferias urbanas

com a classe burguesa e os interesses econômicos das corporações estrangeiras. O

método econômico parte da ideia de que existe uma mecânica de preços onde as

respostas são dadas pelos movimentos das categorias e instituições que se relacionam

nesse sistema de produção e comércio. Os problemas e os desequilíbrios do sistema são

compreendidos dentro dessa lógica, portanto, como "falhas de mercado". A

racionalidade produtiva deve observar no plano da eficiência econômica sempre o

aumento da produtividade e das margens de lucro como que valores máximos do

empreendimento humano coletivo. Os salários invariavelmente devem ser mínimos e

reduzidos para não causarem inflação ou romperem com a racionalidade do aumento de

custos operacionais e o prejuízo. Dentro dessa racionalidade individualista o sistema

capitalista tem a lógica própria da produtividade neo-liberal como valor intocável. A

busca da produtividade é o único e imutável referencial dessa superestrutura que sobre-

determina tudo e todos. Tudo que vai contra a ideia de produtividade é por natureza

anti-econômico. Um exemplo disso é que seria possível pensar na recuperação de

passivos ambientais, solos degradados, entorno de nascentes degradadas, rios poluídos,

matas ciliares destruídas e de crianças abandonadas, mas ao mesmo tempo isso fere a

ordem produtivista e, portanto, não pode sair do pensamento para a prática por ser anti-

econômico para "a ordem natural" das coisas. Mesmo havendo o desejo e a intuição de

realizar o pensamento mais lógico, a racionalidade irracional do sistema aponta no

sentido contrário. Portanto o estudo da economia política e dos mercados envolve o

esforço produtivo humano construído dentro de uma teia diversificada de aspectos

culturais, sociais, ambientais e institucionais.

Conforme Pascal disse (pensador francês, 1623-1662) "existem dois excessos

que devemos evitar - excluir a razão e só admitir a razão". Sem a boa teoria não existe a

boa prática. É isso que destaca o próprio Kant - a dificuldade de diversos profissionais

na transposição da boa teoria para ações concretas e práticas (Kant, 1999, p.273-309).

Dessa forma, podemos encontrar um cozinheiro muito técnico, que não sabe o ponto do

tempero da comida; o engenheiro agrônomo que estuda as relações solo-água-planta,

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mas que transplanta, sem adaptação, a tecnologia de manejo de solos de regiões frias

para solos tropicais, comprometendo a vida da micro-fauna do solo; o médico que não

sabe improvisar uma mesa de cirurgia no meio da floresta, nem intervir a tempo para

salvar uma vida; um político que não sabe escolher o bom caminho para o seu povo; um

professor que só sabe repetir um bom livro para seus estudantes, mas nunca arrisca

pensar com suas próprias ideias; um juiz sem intuição que julga precipitado com base

nas aparências das provas; um religioso que frequenta as missas aos domingos, mas que

tem uma vida pessoal desregrada e agressiva durante a semana; um economista que

investe tempo simulando planos e indicadores, mas que nunca coloca em prática suas

ideias; um administrador que não percebe a boa estratégia em função do momento; um

mergulhador que não controla a profundidade e o oxigênio remanescente nos tanques;

um psicólogo com dramas existenciais; um veterinário que não sabe orientar o tipo de

gado adequado a uma determinada região em função de clima e solo; um pai que não

sabe orientar o filho ou a filha adolescente na solução de um problema de

relacionamento humano mais complexo. Para um escritor o importante é escrever um

bom livro. Para um professor o importante é ter a certeza que a maioria de seus alunos

está estudando e absorvendo os conhecimentos. Para um empresário o importante é

aumentar a participação de seu produto no mercado maximizando lucros e minimizando

seus custos de produção. Para um atleta o importante é superar marcas sem se

machucar. Todas as pessoas têm seus objetivos individuais, mas vivem coletivamente.

Nessa vida social precisamos reconhecer o direito dos outros. Todas as ações

individuais dentro da sociedade envolvem direitos e obrigações. Para produzir, o

homem constrói suas formas de governo, escreve códigos e leis, utiliza os recursos

naturais e estimula a acumulação de riqueza e capital. Com isso alterou profundamente

a base natural e social. Mas que tipo de mudança ou destino está reservado para o

homem que concentra riqueza material? Quais as consequências da acumulação de

capital sobre o tecido social quando promove essas desigualdades sociais? O homem

deve acumular riqueza nas mãos de uma minoria com a pobreza da maioria? Existem

caminhos alternativos que levem a uma maior estabilidade econômica e social? É

possível mudar a trajetória do homem aqui na Terra? Como?

Um caminho a solucionar tais questionamentos é o que se propõe nesta pesquisa:

compreender desenvolvimento sustentável a partir de hortas escolares.

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CAPÍTULO 4 – HORTAS ESCOLARES

Em Petrópolis podemos contar 135 escolas da rede fundamental pública que

abrigam na sua maioria crianças e adolescentes de famílias em risco social. Podemos

identificar muitas dessas escolas em localidades da periferia urbana e rural, onde

existem pelo menos 10 mil famílias (aproximadamente 50 mil habitantes) vivendo

abaixo da linha de pobreza. Essas populações enfrentam muitas dificuldades de acesso

ao mercado formal de trabalho, convivem dentro de bairros, ruas e moradias precárias e

na medida em que o processo de pobreza, quase crônica, se amplia, muitos valores

éticos e morais não são bem cultivados nas suas estruturas familiares. Essa fragilidade

interfere nos hábitos e nas condutas sobre uma alimentação e nutrição menos saudável,

da mesma forma que não se cultiva uma cultura de preservação e recuperação do meio

ambiente e da biodiversidade local.

Normalmente na estação de chuva ocorrem problemas de enchentes e

deslizamentos de terra que não raro ocasiona a morte e/ou acidentes todos os anos, em

que famílias ficam desabrigadas, ampliando os gastos da Prefeitura e espraiando a praga

dos passivos ambientais. Por diversas razões culturais e educacionais esses acidentes,

quase sempre, são provocados pela ação irresponsável do próprio ser humano ou por

ignorância em crenças inadequadas sobre a conservação dos recursos naturais.

O objeto de estudo e ação de intervenção a que se propõe esta pesquisa, assume

a perspectiva de contribuir para um processo de educação capaz de ampliar os

horizontes de vida de algumas crianças e jovens, vítimas dessas desigualdades e do

crescente processo de exclusão em que estão submetidas. Esta proposta de intervenção

busca contribuir para a preservação, a proteção, a conservação e a recuperação do meio

ambiente de algumas comunidades do meio urbano e rural de Petrópolis e estimular a

alimentação saudável.

Além da substância educacional de estímulo à agricultura orgânica e à

alimentação mais saudável, justificam-se as ações desenvolvidas pela sua possibilidade

de contribuir para a preservação do meio ambiente e a expansão do turismo ecológico.

O trinômio, valores básicos-hortas escolares-campanha de educação ambiental, pode

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ampliar bastante as chances de mobilização da população de Petrópolis e ter um

significado (símbolo) especial na essência do “Produto Petrópolis”, capaz de servir

como elemento de marketing para a atração de fluxos de novos turistas do país e do

exterior, que a cada dia demonstram maior preocupação com a preservação ecológica de

remanescentes de Mata Atlântica. As ações propostas podem ser justificadas também

pela possibilidade de maximização do esforço e do nível de consciência de professoras,

crianças, instituições públicas e privadas de Petrópolis, numa verdadeira ação de

multiplicação de potencia de capital social, a ser aplicado no sentido de uma educação

de qualidade.

As ações que envolvem este projeto de implantação da horta escolar estão

direcionadas para mobilizar e envolver lideranças, comunidades em risco social,

diretoras, professoras, crianças e jovens entre 04 e 18 anos de idade, visando à

construção de uma cultura de “atividades produtivas”, onde eles serão os protagonistas

de sua própria história, despertando, estimulando e promovendo, as suas possibilidades

de assimilação de valores básicos, uma maior autonomia pessoal (“eu sou capaz”) e as

suas maiores chances de desenvolvimento interior. Em síntese, na prática da construção

de um modelo de educação pró-ativo, de políticas públicas e cidadania ao nível local,

com a finalidade de maior valorização da vida em si.

O eixo das ações educacionais aqui propostas está centralizado basicamente

dentro de duas estratégias: a primeira que pode ser definida como um conjunto de

informações transmitidas aos alunos de escolas públicas com o objetivo da expansão do

pensamento abstrato na idade pré-adolescente e adolescente sobre valores éticos

básicos, agricultura urbana e questões ambientais e o segundo na implementação da

difusão de práticas educacionais não-formais fora da sala de aula na implantação e

manutenção de hortas escolares e comunitárias. O jovem se submete assim à educação

criativa na ação produtiva, à formação e à concepção da idéia sobre a dimensão e a

extensão dos objetos na mente humana, através da experiência concreta.

Em duas vertentes, espera-se atingir resultados como: Desenvolvimento e

ampliação da agricultura urbana orgânica; compostagem orgânica; organização,

implantação e manutenção de hortas orgânicas; plantio de árvores nativas e frutíferas

em volta das nascentes, em terrenos declivosos urbanos, em áreas degradadas e em

matas ciliares do meio rural. Numa outra perspectiva: Consolidação da roda de valores e

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reforço escolar para o cultivo sistemático do pensamento abstrato, do planejamento

estratégico, da união, do trabalho em equipe, do respeito ao próximo, da humildade, da

serenidade, da concentração em sala de aula, da criatividade, da determinação, da

coragem, da prudência e da busca de paz interior. Realização de campanha de educação

ambiental contra o hábito de se jogar, colocar e depositar o lixo nas ruas, córregos e rios

de Petrópolis.

Visando três objetivos básicos. O primeiro e mais amplo que pode ser entendido

como um conjunto de ações nas comunidades e escolas públicas da rede municipal,

visando à valorização de práticas pedagógicas no sentido da sustentabilidade e da

agricultura urbana. O segundo objetivo na busca de concepção de ideias dentro de ações

de recuperação ambiental, trabalhando principalmente sobre a mudança de conduta

irracional sobre o enorme volume de lixo que o povo joga nas ruas e rios, com graves

consequências na saúde da população, na queda de barreiras, entupimento de bueiros,

poluição e no desestímulo ao turismo, etc. As atividades do projeto têm também por

finalidade a busca de novas formas mais eficazes de mudança de comportamento

humano e de consolidação de hábitos que possam contribuir para a formação de uma

conduta correta e uma cultura de maior respeito a todas as formas de vida, de uma

forma geral e específica. E em terceiro lugar a multiplicação de hortas e de uma cultura

de alimentação mais saudável, que possam contribuir para o estímulo da agricultura

orgânica, sistemas agro-ecológicos, a preservação ecológica e o desenvolvimento

econômico/social de Petrópolis.

O projeto também tem influência positiva em algumas atividades econômicas

específicas. Podem-se identificar três segmentos de atividades econômicas muito

importantes na estrutura de produção de Petrópolis. Todos são responsáveis por

oportunidades de geração de renda e de trabalho no município, ao mesmo tempo com

baixo impacto ambiental relativo. Pode-se citar o setor de turismo, abrangendo o

turismo histórico tradicional, o ecoturismo e o turismo rural; o reflorestamento, a

agricultura convencional e orgânica e o pólo de empresas de tecnologia limpa. No caso

do turismo, a possibilidade de seu desenvolvimento está condicionada à limpeza dos

rios e córregos, ruas, estradas, trilhas na mata e à preservação dos equipamentos urbanos

e monumentos naturais, que caracterizam Petrópolis como uma das cidades mais

bonitas do mundo. Sabemos, entretanto, que nem sempre a população local tem

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consciência disso. A cadeia produtiva do segmento agrícola e pecuário e seu

prolongamento nas feiras livres, quitandas, restaurantes e atividades do setor secundário

e terciário é importante não só pela geração de vagas de trabalho com as menores taxas

de investimento per-capita, como tem a proximidade do mercado do Rio de Janeiro. E o

polo educacional e de empresas de tecnologia limpa que apresentam grandes

possibilidades de desenvolvimento e por uma série de razões depende de jovens com

uma educação de maior qualidade.

Nestas perspectivas, compreende-se o desenvolvimento do projeto desta

maneira:

• Ação educacional dentro de uma amostra de duas escolas da rede pública

sobre a qualidade da educação fundamental e sua importância como fator de

desenvolvimento sustentável;

• Implantação e manutenção de duas hortas em escolas/comunidades da rede

pública;

• Plantio com a finalidade educacional e de efeito-demonstração de árvores

nativas e frutíferas com diretoras, professoras e alunos de escolas públicas

do meio urbano e rural;

• Ações educacionais e campanhas públicas locais visando à mudança de

comportamento com relação à atitude, bem como mobilização, organização e

realização da campanha de educação ambiental mais ampla para que a

população em geral modifique o hábito, quase cristalizado, de se jogar lixo

nas ruas e rios de Petrópolis.

Ações de preservação, conservação e recuperação ambiental podem contribuir

para geração de oportunidades de trabalho para diversos segmentos de população além

de estimular a pesquisa sobre formas de reconversão ambiental. Os clássicos princípios

de precaução e de irreversibilidade de restauração de ecossistemas sinalizam para a

necessidade de maiores estudos sobre a gestão da sustentabilidade local, que podem ser

cruciais quando pensamos na ética de longo prazo da equidade intergeracional

(Swanson, 1999 e Tacconi, 2000).

Um pouco da ideia de pós-modernidade pode ser explicitada através da tomada

de consciência de que estamos vivendo em um mundo que se transforma por inteiro em

ritmo constante e acelerado. Na visão neoclássica a felicidade do homem é, portanto

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uma razão direta de mais elevados degraus de satisfação do consumidor, dito soberano.

Para atingir esses níveis mais elevados de consumo as empresas e os governos buscam

cada vez mais o aumento e a diversificação da produção e da segmentação do mercado,

em escala global. Nessa aventura humana de apropriação, uso indiscriminado e

espoliação dos recursos naturais, verdadeiros elementos de formas sagradas de vida no

planeta, não só se alteram, os fatores bióticos, abióticos, os ecossistemas e a biosfera,

como também se estimulam uma ética produtivista e consumista.

A aparente centralidade do homem nesse processo enraíza valores competitivos

e opostos à harmonia, ao equilíbrio e à pureza do coração humano. A civilização

caminha assim para um mundo extremamente desigual do ponto de vista social e

econômico. Dentro dessa realidade dialética e contraditória precisamos encontrar

mecanismos de sustentabilidade e o manejo adequado entre os fatores éticos,

econômicos, sociais, institucionais e sociais.

Assistimos bastante perplexos, a um processo de degradação ambiental

generalizado e ao acúmulo de gigantescos passivos ambientais. As gerações futuras

terão que administrar esse processo de degradação, deslocando e remanejando recursos

produtivos para a recuperação desses passivos. Se esse caminho irracional fosse evitado

com a expansão da consciência humana aplicada em ações de educação prática, muitos

recursos produtivos poderiam ser aplicados em outras atividades econômicas e culturais

mais nobres, como por exemplo, nas diversas formas de artes, na ciência, na música e

no desenvolvimento de sistemas agro-ecológicos. Os diagnósticos de instituições como

o World Watch Institute, o WWF e os recentes relatórios “Stern”, e o filme do Al Gore

– Uma Verdade Inconveniente, são retratos dessas questões, mas ainda sentimos a falta

de uma ação pedagógica mais eficaz capaz de transformar a realidade antes que a

destruição seja irreversível.

Os estudiosos da globalização e dos ciclos econômicos procuram soluções para

diminuir os impactos das crises e das desigualdades globais e os países do primeiro

mundo escrevem uma nova página da história de dominação econômica sobre os países

mais atrasados. A mola econômica é mais forte do que o enigma filosófico. E na

verdade o que observamos é que, pouco se faz ou se deixa “acontecer”, para melhorar,

efetivamente, a qualidade de vida das pessoas mais pobres, mais carentes e em risco

social no local.

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Superar esses problemas sociais e ambientais é uma parte central do processo de

desenvolvimento com ética. Muitas pesquisas na área de economia do desenvolvimento

comprovam as consequências negativas do processo de globalização e de seus diversos

sentidos sobre as economias dos países subdesenvolvidos (Arbix e Abramovay, 2001).

O subdesenvolvimento é apresentado como um processo de dependência econômica,

tecnológica e cultural que submete a participação de algumas parcelas de populações

humanas ao papel de passivos consumidores de bens econômicos e padrões culturais

concebidos por outros povos. A grande parte da população é exposta a esses padrões de

consumo sem, contudo, dispor de renda suficiente para participar do mercado de forma

substancial. O poder de acumulação, concentração e centralização do capital, resultado

da expansão produtiva em escala internacional, definida a partir do modo de produção

capitalista dominante, acaba por impor e moldar um tipo de crescimento econômico em

nossos países, cujo resultado tem levado ao aumento das desigualdades internacionais,

regionais e individuais. Verifica-se o inchaço do setor terciário e da indústria bélica que

contribuem para uma vida urbana mais violenta.

Os dados do IBGE traduzem numa linha de uma folha de papel um simples fato

– nos últimos 25 anos nas capitais do Brasil a taxa de homicídios na população jovem

(14 a 24 anos de idade) dobrou de 90 homicídios por grupo de 100 mil habitantes para

180. Mesmo com todo o vertiginoso processo de crescimento econômico houve um

aumento de 100% na taxa de criminalidade letal nos segmentos da população jovem.

Parece que esse fenômeno tende a se espraiar para o interior e para as cidades de médio

porte, se nada for feito de forma mais consistente a respeito. Teremos um número maior

de menores infratores, criminosos e iremos gastar mais dinheiro com polícia, cadeia,

juízes, promotores e penitenciárias. No final um maior custo para a sociedade. Apesar

das conquistas científicas e dos avanços tecnológicos da humanidade, os desequilíbrios

provocados pelo homem a partir da revolução industrial, além de acelerarem a

destruição dos recursos naturais, aumentando os níveis de poluição, aprofundando a

degradação humana nas periferias urbanas, alastrando diversas formas de violência e de

injustiças sociais, de uma forma geral, estimulam e conduzem empresas, organismos

públicos, pesquisadores, políticos, organismos internacionais e nacionais, às vezes até

bem intencionados, a enfrentarem os problemas sociais e econômicos, copiando

soluções impróprias, sem o devido conhecimento das realidades locais dos países

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subdesenvolvidos. Pensam muitos que o desenvolvimento deve ser um processo

exclusivamente de aumento das taxas de poupança, de investimento, de substituição de

importações, de política monetária, de responsabilidade social das empresas e de

crescimento econômico puro.

O que significa desenvolvimento? Qual o sentido prático do desenvolvimento

sustentável? Qual a relação entre a questão social, a questão econômica e a questão

ecológica? Como podemos contribuir de forma efetiva para a diminuição da fragilidade

humana? Como tornar possível maior equilíbrio na sociedade e menor desigualdade

entre classes e segmentos de população humana? As perguntas são muitas e não

pretendemos respostas complexas. Este projeto procura contribuir com respostas dentro

de nossa realidade local, através de ações simples, práticas, ampliando a participação e

consciência da população interessada sobre como passar de um nível de

desenvolvimento para outro.

A questão metodológica é o maior desafio deste projeto, pois temos poucas

experiências no mundo atual sobre práticas de sustentabilidade integrada (Tacconi,

Swanson, 2000). Temos que reconhecer nossas limitações teóricas.

O desenvolvimento da agricultura urbana, as hortas nas escolas, o plantio de

árvores, o combate ao comportamento irracional de se jogar lixo nas ruas e rios podem

contribuir para a consolidação de valores nas crianças e, ao mesmo tempo fomentar

condutas de maior cuidado com a riqueza natural sagrada, a preservação da

biodiversidade e a alimentação e nutrição saudáveis. “As coisas mais simples estão na

frente dos nossos olhos e não podemos ver” (Wittgenstein, 1992).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não sabemos até onde nos é permitido intervir na natureza humana, quais são os

limites de nossas intervenções sobre a vida de outras pessoas, nem qual o direito que

temos a essa intervenção. A vida e a mente humana apresentam situações tão

misteriosas como a nossa imaginação sobre o universo, provavelmente, quase infinitas

Nossos olhos podem ver estrelas e imaginar outras formas de vida. O homem pode

imaginar, conceber e criar ideias até sobre o que não é real. Encontramos basicamente

na história do homem, sua natureza egoísta, voltada para suas realizações em primeiro

lugar, de reprodução e garantia da própria condição de manutenção da sua vida. Nessa

história, os mais fortes dominam os mais fracos e submetem-nos à condição de

membros de tribos, escravos, servos da gleba e trabalhadores assalariados. Nessa

relação de poder o homem passa por estágios, modos de produção econômica, níveis

diferentes de evolução de sua organização técnica de produção e, evolui materialmente,

sem mudar de forma substancial sua estrutura de valores morais. E é por isso que a ética

do desenvolvimento e o desenvolvimento local devem situar a natureza do homem no

centro de suas atenções de estudos e pesquisas, para que os resultados desses estudos

sejam mais consistentes, eficazes e realistas.

A deterioração dos termos de troca no mercado internacional, a crise do modelo

agrário-exportador, o desemprego involuntário, a pobreza e a heterogeneidade estrutural

que caracterizavam as economias da América Latina em décadas passadas, contribuíram

para o surgimento de idéias desenvolvimentistas como forma de superação daqueles

problemas que alargavam, cada vez mais, as desigualdades entre países ricos e pobres.

Nas últimas décadas, muitos economistas defenderam a adoção de um corpo teórico

mais independente em relação ao pensamento econômico utilitarista clássico inglês.

Reconheciam que a absorção do progresso técnico se dava de forma bastante desigual

entre os países que experimentaram a dinâmica da revolução industrial de um lado e os

países da América Latina, que foram submetidos à exploração colonial do outro. Na

verdade, o espaço geográfico mundial ficara dividido entre o norte rico e o sul pobre e

atrasado. De uma forma geral os autores que participaram do movimento estruturalista

recomendavam a fundamental intervenção do Estado na economia, visando à superação

daqueles problemas estruturais, através da aceleração do processo de industrialização.

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Isso deveria ser realizado utilizando-se de medidas protecionistas, de sistemas de

planejamento e programação intra-setorial, de apoio específico à implantação de setores

de infra-estrutura, da tributação das classes mais ricas, visando desviar recursos

financeiros do consumo supérfluo para mecanismos de aumento de poupança interna

com a finalidade de investimentos produtivos, diversificação e ampliação do mercado

interno. A questão do desenvolvimento das economias latino-americanas foi e vem

sendo amplamente debatida com especial atenção em três pontos básicos. O primeiro

como reflexo de uma condição histórica de desigualdade e discrepância nas

transformações das estruturas de produção e no grau de absorção e internalização das

inovações tecnológicas nos sistemas de produção e nos sistemas educacionais. A

consequncia disso foi o atraso tecnológico relativo de nossos países, em relação às

economias que experimentaram a revolução industrial. O segundo ponto, como

decorrência do primeiro, numa impossibilidade para ampliação e consolidação de postos

de trabalho na indústria e na pesquisa científica e tecnológica, na medida em que nossas

economias estavam voltadas, quase exclusivamente, para a exportação de produtos

agrícolas e matérias primas até a década de quarenta. E em terceiro, a questão da

"pobreza crônica" e dos padrões de consumo de produtos de luxo e supérfluos, que

foram forjados por padrões de demanda e modelos culturais, a partir dos interesses dos

segmentos de população associados à oligarquia do café e à burguesia comercial local.

Após cinco décadas de história mundial, o pensamento pós-estruturalista ganha

força na medida em que a economia liberal não oferece a mínima possibilidade de um

desenvolvimento endógeno, com maior justiça social e maior equilíbrio ambiental. Isso

pode ser retratado nos índices de pobreza e de baixa renda da grande maioria da

população dos países da América Latina, guardadas as devidas proporções e diferenças

de contexto social, político e cultural, verificando-se a persistência do atraso relativo de

nossas economias, na manutenção das condições ressaltadas pelos economistas da Cepal

décadas atrás. A tarefa essencial nos dias de hoje parece ser resgatar as raízes

substanciais do pensamento estruturalista, reforçando suas idéias básicas direcionadas

para uma nova ética do desenvolvimento que permita repensar o problema da pobreza e

do desemprego estrutural ou quase crônico. Na realidade, consiste na ampliação das

oportunidades de vida e na humanização das ações de desenvolvimento para assegurar a

implementação de políticas públicas, como um escudo protetor contra essa ideologia

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neo-liberal absolutista que se esconde atrás de uma bandeira positivista. A ordem

econômica mundial existente é incompatível com a busca da eqüidade dentro dos países

em desenvolvimento, já que a racionalidade de mercado e de padrão concentrador

espelha o padrão de consumo dos bens de luxo. Nesse caso a desproporção entre as

características das mercadorias e o padrão de distribuição de renda cria implicitamente

uma impossibilidade de consumo para as camadas de baixa renda. E isso forja um

padrão de desigualdade nas economias subdesenvolvidas.

Com este referencial, procuramos resumir as distorções no campo econômico e

social que caracterizam nossa complexa realidade global. A grande pergunta pode então

ser colocada. Quais os fatores que podem contribuir para diminuir as desigualdades

regionais em nossos países mais subdesenvolvidos? Quais as ações mais adequadas de

intervenção que podemos e devemos empreender para alcançar o desenvolvimento

econômico e social com estabilidade? Como articular um processo de desenvolvimento

local mais equilibrado? Para responder a essas perguntas acredita-se que um

experimento de desenvolvimento local pode servir de parâmetro de comparação com

outras experiências semelhantes articuladas em outras partes do país e do mundo.

Também se pensa que uma experiência local de desenvolvimento pode mostrar, de

forma mais nítida, os pontos que demandam maior reflexão e que precisam ser mais

bem investigados sobre a viabilidade do planejamento e da intervenção regional.

Educação, formação humana, valores, ética e desenvolvimento cultural andam de mãos

juntas. Esses fatores podem ser considerados como que fertilizantes, onde o solo são os

métodos e as sementes as nossas crianças.

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