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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE MÉTODO PAULO FREIRE PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Por: Marcela Corrêa Galloulckydio Orientador Prof. Carlos Alberto Cereja de Barros Rio de Janeiro 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MÉTODO PAULO FREIRE

PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Por: Marcela Corrêa Galloulckydio

Orientador

Prof. Carlos Alberto Cereja de Barros

Rio de Janeiro

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MÉTODO PAULO FREIRE

PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em

Supervisão Escolar

Por: Marcela Corrêa Galloulckydio

3

AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Zelinda Corrêa

Galloulckydio e à minha irmã, Flavia

Corrêa Galloulckydio, pelo apoio,

mesmo que de forma indireta, durante a

elaboração desta monografia. A Todas

vocês, meus sinceros agradecimentos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho às três grandes

mulheres da minha vida: Minha mãe,

Zelinda, que sempre representou um

grande alicerce durante toda a minha

jornada; à minha irmã, Flavia, sempre

companheira e atuante; e à queridíssima,

Vovó Melita.

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RESUMO

Paulo Freire acumulou experiências desde o início dos anos cinqüenta, no

campo da educação de Jovens e Adultos, em áreas proletárias e subproletárias,

rurais e urbanas. Na primeira metade da década de sessenta, coordenou o

“Projeto de Educação de Adultos”, que se inseriu no movimento de Cultura

Popular do Recife.

O golpe militar de 1964 veio a interromper suas atividades. Ele passou

então a viver como exilado por quatorze anos no Chile e posteriormente em

vários países do mundo. Suas produções tornaram-se cada vez mais notórias, o

que automaticamente, o fez ficar conhecido por toda parte.

O método de Paulo Freire, tinha com embasamento inicial, o levantamento

do universo vocabular dos grupos que a equipe pretendia trabalhar. Logo a seguir

eram escolhidas as palavras do universo vocabular pesquisado, sendo estas

selecionadas pela riqueza fonêmica, pelas dificuldades fonéticas da língua e pelo

engajamento da palavra de acordo com a realidade social, política e cultural dos

educandos. Essas palavras eram relacionadas às situações típicas do grupo, na

qual eram o ponto de partida da discussão, à qual seguia a decomposição das

famílias fonêmicas que eram correspondentes aos vocábulos geradores. Para

este trabalho é imprescindível uma preparação adequada dos coordenadores e

também da confecção do material didático.

Na busca de uma metodologia para o trabalho de alfabetização de Jovens

e Adultos, Paulo Freire apresentou um método ativo, onde o diálogo e a

participação do educando realmente ocorresse.

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A concepção de Paulo Freire tem um significado altamente político. Ele

conseguiu fazer da alfabetização um instrumento de conscientização, que

encontramos como foco em todo o processo. Paulo Freire acreditava que não

seria possível uma resolução educacional sem revolução política.

Acreditava muito no diálogo, criticando sempre as tradicionais aulas

expositivas onde transformam os estudantes em seres passivos e omissos. É o

que chamava de “concepção bancária” da educação, em que o educador

“deposita” seus conhecimentos em cima dos educandos, e os educandos

tornam-se verdadeiros “recipientes”. Neste contexto, não há diálogo e o professor

se torna um especialista em transmitir informação para os alunos.

Paulo Freire apostou muito na bagagem trazida pelo educando e na

interatividade de todos os participantes juntamente com o educador.

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METODOLOGIA

Analisar um método educativo e, sob uma perspectiva crítica e prática,

sem dúvida, constitui um grande desafio, já que trata-se de uma pesquisa que

possui como característica um cunho subjetivo que lhe é próprio. Dessa maneira,

ao contrário da maioria dos estudos feitos no âmbito acadêmico, aqui não se

busca obter uma exatidão científica e tão pouco instrumentos padronizados.

Por essas razões, a realização deste trabalho monográfico prevaleceu-se

de uma visão qualitativa. Deste modo, o “Método Paulo Freire para Educação de

Jovens e Adultos” será apresentado como uma ferramenta para os envolvidos no

processo educativo.

Para tal, foram utilizados como objetos de coleta de dados a pesquisa

através de análise bibliográfica. Essa técnica, porém, foi baseada em análise de

livros do próprio Paulo Freire, como também de especialistas que dedicaram

grande parte de suas vidas à pesquisa da vida e obra do educador em questão.

Assim, o presente trabalho fundamenta-se em dados que tomam como

pressuposto as interações interpessoais vivenciadas e refletidas por Paulo Freire

e a co-participacão das situações dos informantes em questão, analisadas a

partir da significação que estes dão aos fatos e ações. A partir disso, procurou-

se participar, compreender e interpretar a participação e contribuição deste

grande mestre brasileiro.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - A Trajetória de Pulo Freire 11

CAPÍTULO II - Um Breve Histórico da Educação

de Jovens e Adultos 17

CAPÍTULO III – O Método Paulo Freire 21

CAPÍTULO IV – A Pedagogia de Paulo Freire 32

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO 40

9

INTRODUÇÃO

Este trabalho intitulado de “Método Paulo Freire para Educação de

Jovens e Adultos”, tem como objetivo principal analisar e dar esclarecimentos

sobra a vida, a metodologia e as concepções pedagógicas de Paulo Freire

referentes ao processo da educação de Jovens e adultos.

Atualmente, educadores têm focado sua atenção para a formação de

adultos, pois são poucos os métodos surgidos para atender corretamente essa

clientela. Infelizmente, a maioria dos métodos que atualmente são aplicados,

foram idealizados para formação de crianças e adolescentes. A maioria das

propostas de alfabetização tem sido insuficientes, porque toma um ponto de

partida definido com toda independência do sujeito dessa aprendizagem, ou

seja, é decidido pelas letras, pelas sílabas, pelas palavras geradoras e os

enunciados. Essa decisão não é realizada de forma coerente, pois não é possível

saber como os adultos analfabetos concebem o sistema da educação escrita

socialmente construído.

O adulto traz uma experiência de vida que precisa ser valorizada, pois

ele conhece alguns aspectos até melhor, por diversas vezes, que o professor,

decorrente da sua vivência naquele campo determinado. Este é um ponto

essencial a ser levado em conta ao se planejarem estratégias para educação

nesta fase.

Através da caracterização da clientela pode-se levantar também uma

gama bem variada de motivações para aprendizagem. Esta caracterização

contribuirá para elaboração de objetivos adequados e estratégicos que venham a

satisfazer as necessidades e interesses desta clientela tão diversificada.

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Paulo Freire, foi sem dúvida, o educador que mais colaborou para esta

questão da Educação de Jovens e Adultos. É uma referência obrigatória quando

se fala de alfabetização, educação de adultos, educação popular ou comunitária.

Alguns podem estar de acordo ou em desacordo com os seus pontos de vista,

mas é impossível imaginar a importância e notoriedade de sua obra.

O debate em torno da pedagogia de Paulo Freire sempre ocorrerá e

estará constantemente inserida no contexto da Educação de Jovens e Adultos. A

concepção de educação de Paulo Freire tem um significado extremamente

político, que extrapola os limites da sala de aula. Este conseguiu fazer da

alfabetização de Jovens Adultos um instrumento de conscientização dos pobres e

oprimidos. Focou uma forma de promover o processo de conscientização, essa

foi sua maior preocupação e foi a tônica de suas idéias, desde as suas primeiras

experiências iniciais com alfabetização de Jovens e Adultos, pois sempre

relacionou a educação com justiça social e reforma das sociedades de nosso

tempo, através de sujeitos críticos e ativos.

A presente pesquisa, pretende oferecer contribuições aos educadores

em geral, tais como: Administradores Escolares, Supervisores Escolares,

Professores e demais engajados na Educação de Jovens e Adultos, na busca de

seu próprio caminho no processo de educar adultos. Tendo em vista fazer com

que os mesmos adquiram diante de qualquer problema, o reflexo de situações na

sua realidade própria de maneira concreta e no seu contexto social.

11

CAPÍTULO I

A TRAJETÓRIA DE PAULO FREIRE

Paulo Reglus Neves Freire, nasceu no dia dezenove de setembro

de 1921, no Recife, Brasil.

Sua origem é muito modesta, pois nasceu numa pequena aldeola no

Jabotão, no Estado e Pernambuco, que eram um nó de comunicação, com suas

numerosas oficinas de reparação de material ferroviário. O seu proletariado

operário era particularmente combatido e Paulo Freire recordava durante muito

tempo das repressões que se seguiram as greves e rebeliões operárias em

particular durante a Revolução de 1930.

Seu pai era suboficial da Política do Estado e pertencia a uma família

espírita, mas seria a sua mãe que influenciaria a sua espiritualidade, de tal modo

que Paulo Freire era um católico fervoroso. Esta infância difícil terminaria com

uma primeira “prova”: uma tuberculose aos vinte anos, da qual recuperou-se com

dificuldade.

Durante todo o percurso de sua vida, sempre manteve muito presente

suas referências culturais, bem como suas origens.

Após sua formação em Direito, no ano de 1945 e uma tese de

doutoramento em Educação em 1965, deu início às suas primeiras experiências

com alfabetização de adultos. O seu método foi organizado no início dos anos

sessenta, com experiências educativas que se tornaram muito famosas, pois de

12

acordo com relatos da época conseguiria alfabetizar Jovens e Adultos em um

tempo prodigioso de aproximadamente trinta horas. É obvio que a invenção de

um método capaz de combater com tanta rapidez défices educativos, estaria no

imaginário pedagógico a pelo menos uns duzentos anos, desde o ensino mútuo

do século XIX até as campanhas de alfabetização do século XX.

O método Paulo Freire tem como embasamento a experiência e a

realidade dos educandos e é encarado pelo regime político brasileiro como uma

espécie de solução diante ao problema de quarenta milhões de analfabetos que

existem em todo o país.

Em 1963, Paulo Freire, assumiu a direção do Programa Nacional de

Alfabetização, sendo este, um projeto de aprendizagem da escrita e da leitura,

mas também incluindo a formação cívica e política, pois para ele, a “leitura do

mundo” é procedente sempre da “leitura da palavra”. Infelizmente nos primeiros

meses de sua permanência em Brasília, não foram tão satisfatórios, mas o golpe

de Estado ditatorial de 1964 põe fim a todos esses projetos, obrigando-o a

abandonar o país.

Essa situação de exilado durou dezesseis longos anos, ou seja, de 1964

à 1980. Esta fase é fundamental para a compreensão do seu percurso de vida

pessoal e profissional. Logo após uma passagem breve pela Bolívia, instalou-se

no Chile, onde ficou do período de 1964 a 1969, deu continuidade ao seu

trabalho de educação dos adultos, particularmente em meio rural. Neste período

no Chile, foi onde surgiram seus primeiros convites de universidades norte-

americanas e do Conselho Mundial de Igrejas. É importante destacar esta fase,

pois foi uma fase de grande reflexão e sistematização, no qual Paulo Freire,

prestes a completar seus cinqüenta anos de idade, redigiu suas primeiras obras:

“A Educação como Prática da Liberdade” (1967), “Ação Cultural para Libertação”

(1968) e “Pedagogia do Oprimido” (1970).

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Logo após uma estadia importantíssima nos Estados Unidos da

América, Paulo Freire aceitou o convite do Conselho Mundial das Igrejas e

instalou-se em Genebra durante dez anos, no período de 1970 à 1980. A partir da

cidade de Rousseau, Paulo Freire passou a realizar muitas atividades

internacionais, nos novos países africanos de Língua Portuguesa. Em suas

viagens, sempre freqüentes, foi repetindo exaustivamente ideais e princípios que

tornam-se para todos muito familiares que por diversas vezes esquecemos. O

papel da consciência crítica caracteriza-se pela capacidade de não deixarmos

esquecer o que já sabemos, ou seja, que a educação não é neutra e que a

conscientização tem um papel constante em todo o processo educativo,

enfatizando que a educação deverá ser baseada nos saberes no qual cada

indivíduo tem.

O período dos anos setenta é essencial para compreendermos a ação

de Paulo Freire no terceiro mundo e na difusão do seu pensamento com relação

ao primeiro mundo, houve um grande interesse por parte dos Estados Unidos

referentes as suas obras, no qual influenciou uma nova geração de educadores e

intelectuais, chamados de “pedagogos críticos”, (Peter Mc Laren, Henry Giroux,

Michael Apple, dentre outros).

A experiência dificultosa do exílio terminou em 1980 com seu regresso

ao Brasil, entretanto Paulo Freire tentou “reaprender” o Brasil, viajando

incessantemente por todo país, ministrando palestras, publicando e colocando-se

em diálogos com professores e estudantes.

Desde 1980 Paulo Freire trabalhou como professor na Faculdade de

Educação da Pontifícia Universidade Católica e na Faculdade de Educação da

Universidade de Campinas, em São Paulo.

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Além do seu grande engajamento dentro da educação superior, ele criou

o Centro Educacional Vereda, onde reúne várias pessoas que trabalham em

projetos originais da educação popular nos anos sessenta.

Com relação à política partidária, Freire colaborou com a Comissão de

Educação do Partido dos Trabalhadores, sendo este um partido socialista

democrático do qual Paulo Freire fazia parte desde 1979, quando ainda estava

em Genebra e aceitou a posição honorária de presidente da Universidade dos

Trabalhadores de São Paulo, sendo esta, uma instituição financiada pelo Partido

dos Trabalhadores e preocupada com o sindicato e com a educação política.

Talvez, o fato no qual mais tenha marcado sua experiência diária nos

últimos anos, tenha sido a perda de sua esposa, Elza, que veio a falecer em

outubro de 1986, de modo repentino. Paulo Freire não perdeu apenas uma

amante e amiga, mas também seu otimismo e desejos vitais. Freire casou-se

novamente em 1988 com Ana Maria Araujo, sendo esta, grande e antiga amiga

da família e sua aluna.

Com sua nomeação como Secretário de Educação da Cidade de São

Paulo, em janeiro de 1989, tornou-se responsável por 662 escolas com 720.000

alunos, do Jardim de Infância (atual Educação Infantil) à oitava série (do Ensino

Fundamental), além de liderar a educação de adultos e o treinamento de

alfabetização na cidade de São Paulo, que possui onze milhões e quatrocentas

mil pessoas, sendo um dos maiores centros urbanos da América Latina.

Como Secretário de Educação, achou uma ótima possibilidade para

implantar sua filosofia de educação em seu próprio país, não como orientador

acadêmico, mas como um ativista político numa municipalidade composta por um

partido socialista. De acordo com os objetivos socialistas do Partido dos

Trabalhadores, foram considerados fatores no ambiente da nova reforma

democrática e constitucional no Brasil. Paulo Freire saiu da Secretaria de

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Educação em vinte e dois de maio de 1991. Um de seus colaboradores foi

indicado para substituí-lo neste cargo e Freire aceitou permanecer como uma

espécie de “Embaixador Honorário” da administração municipal.

No dia dez de janeiro de 1996 Paulo Freire recebeu o título de Doutor

Honoris Causa da Universidade de Lisboa, mas infelizmente houve por parte dele

a impossibilidade de seu deslocamento para Portugal. De acordo com este fato

o Reitor da Universidade de Lisboa encarregou o respectivo “padrinho”, o

Professor António Nóvoa, de entregar-lhe o diploma e as insígnias no decurso de

uma viagem a São Paulo.

No ano seguinte em São Paulo no dia dois de maio de 1997 Paulo Freire

veio a falecer devido a uma parada cardíaca.

Não é nada fácil relatar sucintamente um pouco da vida de Paulo Freire,

pois a sua obra e a sua vida estão constantemente expostas na ideologia

pedagógica do século XX, fazendo parte de uma referência obrigatória para

diversas gerações de educadores do mundo inteiro. No livro, “Paulo Freire – Uma

bibliografia” que foi publicada em 1996 sob a direção de Moacir Gadotti, expõe

abertamente a popularidade do seu trabalho no plano mundial. Incluindo os

artigos, documentos, teses e livros, assinalam-se mais de 2000 títulos sobre o

seu pensamento, por autores com grande influência como Michael Apple, Louise

Althusser, Pierre Dominicé, Stanley Aranowitz, John Elias, Maxine Greene, Ira

Shor, Joel Spring, Carlos Alberto Torres, dentre muitos outros.

Exemplos como esse demonstram a popularidade de Paulo Freire e

também como sua imagem projetou-se no mundo.

É importante destacar as características orais das obras de Paulo Freire,

pois em seus livros ele destaca que a realização da escrita se dá a partir da fala

cotidiana do educando. Isso não seria somente um estilo, mas também uma

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forma de comprometer o leitor com a narrativa. Apresenta um gosto imenso pela

língua portuguesa, pois acreditava que os homens foram feitos para

comunicarem-se uns com os outros, desde que as palavras não sejam ocas e

que ninguém seja excluído.

Diferentes tradições de Paulo Freire, como cristianismo, e também o

marxismo, contribuíram bastante para essa proximidade que estabeleceu com

seus leitores de corrente de referências culturais e não só por sua postura

ideológica ou política que deram uma ênfase para identificação de seus leitores e

facilitam a compreensão do seu discurso. Seriam esses dois “pólos”, político e

religioso, que irão ajudar na disseminação de suas idéias e da sua imagem.

Principalmente dentro do contexto de uma visão progressista da ação da Igreja e

de um apoio aos movimentos de libertação no Terceiro Mundo. É notável o

quanto Paulo Freire pagou caro por “ser popular”, mas essa opção permitiu que o

pedagogo brasileiro se tornasse um dos mais prestigiados educadores mundiais

do século XX.

Apesar de sua grande diversificação com relação a suas leituras,

existem duas dimensões que encontram-se sempre presentes no seu trabalho.

Primeiramente, o compromisso com os “esfarrapados do mundo”, no qual

dedicou a “pedagogia do Oprimido”, no qual luta por uma sociedade mais aberta,

a favor dos oprimidos, ou seja, classe popular, para assim minimizar a relação de

opressores e oprimidos na sociedade. Por outro lado, a importância do diálogo

que conduziu a valorizar os saberes e contextos da vida dos educandos.

Podemos dizer que estes dois pólos estão extremamente ligados a

convicção de que é preciso relacionar uma ligação profunda à questão da teoria

e a prática pedagógica. Para Paulo Freire isso é fundamental, pois em todos os

seus livros sem exceção, existe um modo de refletir sobre as atividades político-

pedagógicas.

17

Seu pensamento é sempre embasado no pensamento humanista cristão

com ideologia de transformação social, sem jamais abdicar de sua utopia

transformadora.

CAPÍTULO II

UM BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

A Educação de Jovens e Adultos surge associada à necessidade

de combater o analfabetismo e a falta de informação das classes trabalhadoras,

buscando dar resposta aos requisitos da revolução industrial bem como aos

decorrentes à implementação do regime democrático. Pelo poder político, a

institucionalização da Educação de Jovens e Adultos ocorre após a Revolução

Francesa em 1789.

O primeiro documento legal que aborda esta problemática foi datada de

abril de 1792. Já em dez de outubro de 1794, foi votado pela convenção outro

texto legal pelo qual se criava em Paris o Primeiro Centro de Instrução de

Adultos.

No século XIX foi que em vários países da Europa e nos E.U.A se

generaliza a instrução de Jovens e Adultos. Era no período da noite e aos

domingos e alfabetizava-se, ensinava-se os princípios da aritmética e, em alguns

casos, explicavam aos trabalhadores a forma de usar alguns instrumentos e

máquinas.

Já a Espanha deu início a instrução de Jovens e Adultos em meados do

século XIX. A Lei Moyano, de nove de setembro de 1857, institui a instrução de

Jovens e Adultos, em nível elementar e fora da escola, realizada também no

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período da noite e aos domingos. As associações operárias, a igreja e outras

instituições criaram uma série de universidades populares, círculos de estudos e

campanhas de extensão cultural. Em 1922 foi construída na Espanha a Comissão

Central para o combate ao analfabetismo.

Em Portugal, o desenvolvimento da Educação de Jovens e Adultos foi

bem mais tardio. Em nível institucional, só em 1952 foram criados Planos de

Educação Popular e a Campanha Nacional de Educação de Adultos que tiveram

como base um modelo tipicamente escolar.

Desde os finais do século XV e durante a Primeira República, as

associações de operários, as federações, uniões de sindicatos e outras

associações populares, promoveram nos grandes centros urbanos diversas

atividades no âmbito da Educação de Jovens Adultos. A partir de 1926 e sobre

tudo 1933, tais iniciativas de educação popular, de índole associativa, foram

sujeitas a restrições.

Após o dia vinte e cinco de abril de 1974, o movimento associativo

popular ressurgiu através de associações de educação popular, comissões de

moradores, associações culturais cooperativas, sindicatos, entre outros.

Promoveram diversas iniciativas de educação popular comunitária.

As idéias pedagógicas mais amplas no Brasil estavam relacionadas

diretamente ao pensamento da Escola Nova, na década de vinte, no que diz

respeito à Educação dos Jovens e Adultos, o método Laubach servia de exemplo

para as atividades educativas. Entretanto, começavam a chegar da Europa as

primeiras influências de novos métodos, no qual estavam ligados à promoção da

cultura popular, apresentando fortes compromissos não-diretivos.

Desde 1958 os interessados pelo problema sentiram-se altamente

estimulados na busca de novos métodos para a Educação de Jovens e Adultos e

a teorizar sobre este mesmo assunto, em conseqüência do segundo Congresso

19

Nacional de Educação de Adultos. A realidade da vida política naquele momento

também favorecia uma abordagem do problema educativo em conexão com os

problemas da sociedade e a busca de novos métodos de realizar junto a esta

perspectiva, alheia ao “otimismo pedagógico” dominante entre pedagogos

formados sob a influência do movimento renovador. Entretanto, surgem os novos

quadros técnicos nos meios educacionais, saídos da atuação concreta nos

movimentos educativos que começam a se multiplicar ou provenientes dos

setores que traziam influências do pensamento social cristão mais recente e

preocupados com questões educativas. Neste período destaca-se a busca de

novas formas de atuação educativa. Não se referia a educação em geral, mas

tratava-se de encontrar novos métodos para a educação voltada para o povo,

para a alfabetização da população adulta, para que ela pudesse tomar parte ativa

na vida política do país.

Esta busca de métodos necessitava estar ligada a idéias pedagógicas

gerais que fundamentassem a prática educativa. Os métodos novos que

surgiram, estavam relacionados à transformação do pensamento pedagógico, ao

abandono do “otimismo pedagógico”. As novas idéias pedagógicas, estavam

vinculadas às opções político-ideológicas que as condições internas do país

colocavam aos diversos grupos interessados no problema. Iniciou-se aí, a

reintrodução da reflexão sobre o social no pensamento pedagógico no Brasil.

Essa busca constante de novos métodos para a Educação de Jovens e

adultos, esteve permeada pela preocupação com a promoção da cultura popular,

que penetrou dos diversos grupos direcionados ao problema. No entanto, as

maiores contribuições metodológicas foram dadas pelos grupos de cristãos, que

influenciaram sobre o Movimento da Cultura Popular de Pernambuco, foco de

defesa de uma metodologia direcionada para a cultura popular e da utilização de

cartilhas na alfabetização, foram responsáveis pela adoção e aperfeiçoamento

da metodologia usada pelo Movimento de Educação de Base. Um dos presentes

na formulação do sistema foi Paulo Freire. Os métodos elaborados partiram

20

todos de uma mesma base que referia-se ao novo pensamento social cristão.

Todos tiveram a mesma pretensão, visando a “promoção do homem”, sua

conscientização e emergência na vida política brasileira através de uma ação

pedagógica não-diretiva.

Todos influenciaram bastante na formação de novas gerações de

trabalhadores em educação. No entanto, em virtude de aumentar o

desdobramento de idéias que serviram de base ao método Paulo Freire e de sua

ampla difusão. O pensamento do educador pernambucano parece ter sido o que

levou maiores influências sobre os profissionais da área de educação em geral,

consolidando a reintrodução da reflexão sobre o social nos meios pedagógicos,

esboçada desde o início da década.

O método Paulo Freire para Educação de Jovens e adultos representa

tecnicamente uma combinação original das conquistas da teoria da

comunicação, da psicologia moderna e da didática contemporânea.

21

CAPÍTULO III

O MÉTODO PAULO FREIRE

Paulo Freire nunca se referiu ao que ele elaborou e fez como se fosse um

“método”. Seus intérpretes que resumiram o seu pensamento a um método

pedagógico.

O termo “método”, na pedagogia de Paulo Freire, não pode ser

confundido com método didático, pois apresenta um sentido mais amplo. Não

abrange apenas atividades que o educador desenvolve com os educandos em

sala de aula. Inclui essas atividades, mas também remonta aos procedimentos

de coleta e tratamento do conteúdo programático.

Paulo Freire idealizou um método de educação baseado na idéia de um

diálogo entre educador e educando, ou seja, construção de um trabalho paralelo

entre ambos.

Um dos pressupostos do método é a idéia de que ninguém educa

ninguém e que ninguém se educa sozinho. Na sua visão a educação deverá ser

um ato coletivo, solidário, sem ser imposta.

Na visão de Paulo Freire, a cartilha é um saber abstrato, pré fabricado e

imposto. Seria uma espécie de “roupa tamanho único” que serve para todas as

pessoas e ao mesmo tempo não serve para ninguém. Não entrava em sua

22

cabeça um operário chegando, depois de uma jornada de trabalho, na sala de

aula e tendo que repetir no meio da noite;

“Eva viu a uva”

“A ave é do Ivo”

“Ivo vai na roça”

Com base nestes exemplos citados, esta é uma das razões pelas quais

o método de Paulo Freire é um método que se constrói a cada vez que ele é

coletivamente usado dentro e um círculo de cultura de educadores e educandos.

E o processo da construção referente ao repertório dos símbolos da

alfabetização já é o início do trabalho de aprender. Por este motivo, deve-se

envolver um máximo de pessoas da comunidade, do lugar onde serão formadas

uma ou mais turmas de alfabetizandos. A idéia de uma “ação dialogal” entre

educadores e educandos deve iniciar com uma prática de ação comum entre as

pessoas do programa de alfabetização e da comunidade.

Desta forma, nas primeiras experiências, depois da comunidade aceitar

envolver-se com o trabalho de alfabetização, a tarefa que inicia a troca-que-

ensina é uma pequena pesquisa. Sendo esta, uma pesquisa de cunho coletivo,

co-participativo, de construção do conhecimento da realidade local: começa o

lugar imediato onde as pessoas vivem e irão ser alfabetizadas.

“Será a partir da situação presente, existencial, concreta,

refletindo o conjunto de aspirações do povo, que

poderemos organizar o conteúdo programático da

educação ou da ação política .

O que temos de fazer, na verdade, é propor ao povo,

através de certas contradições básicas, sua situação

23

existencial, concreta, presente, como problema que, por

sua vez, o desafia e, assim, lhe exige resposta, não só no

nível intelectual, mas no nível da ação.

Nunca apenas dissertar sobre ela e jamais doar-lhe

conteúdos que pouco ou nada tenham a ver com seus

anseios, com seus temores. Conteúdos que às vezes,

aumentam estes temores. Temores de consciência

oprimida.”(FREIRE, 1987, p. 86)

Esta primeira fase da etapa pedagógica de construção do método foi

chamada por Paulo Freire de muitos nomes semelhantes, como: “levantamento

do universo vocabular”(em “Educação como Prática da Liberdade”), “pesquisa do

universo vocabular” (em “Conscientização e Alfabetização”), “investigação do

universo temático” (em “Pedagogia do Oprimido”), “descoberta do universo

vocabular” (em “Conscientização”).

Nota-se que de livro para livro algumas palavras modificaram, mas

sempre esteve viva a idéia central, a idéia de que existe um universo de fala da

cultura da gente do lugar, que deverá ser investigado, levantado, pesquisado,

descoberto.

Esta descoberta será feita com cadernos de campo na mão, olhos e

ouvidos bem atentos, e, se possível um gravador disponível.

Das muitas conversas com o mundo da comunidade: casais, famílias,

pessoas, pequenos grupo, todas as situações de vida e trabalho poderão ser

exploradas. Reuniões costumeiras, também podem ser aproveitadas para

pesquisa, como: rezas, festas, etc.

24

Algumas frases inteiras poderão ser guardadas para talvez um dia serem

desenvolvidas ao grupo, no círculo de cultura.

Partindo do levantamento das “palavras” a pesquisa descobre as pistas

de um mundo imediato, configurado pelo repertório dos símbolos através dos

quais os educandos passam para as etapas seguintes do aprendizado coletivo e

solidário.

De um tempo para outro, de uma situação para outra, é sempre possível

criar sobre o método, inovar instrumentos e procedimentos de trabalho. Nas

experiências realizadas sob a direção de Paulo Freire houve três fatores no que

diz respeito aos avanços no trabalho de fazer a pesquisa do universo vocabular.

O primeiro fato foi a ampliação da presença constante da comunidade, desde as

reuniões de decisão sobre a pesquisa. O segundo foi a ampliação do próprio

“universo” pesquisado que nas primeiras experiências esteve mais centrado

sobre o levantamento de palavras e nas seguintes, sobre a descoberta de temas,

problemas e modos de ver e viver. O terceiro refere-se a ampliação dos usos do

material obtido na pesquisa, dentro e fora dos trabalhos de alfabetização no

círculo de cultura.

O ponto principal da pesquisa do universo vocabular e temático é

surpreender a maneira como uma realidade social existe no pensamento, na vida

e também no imaginário de seus participantes. A pesquisa deverá ser um ato

altamente coletivo e não um ato de consumo.

Com relação à procura de palavras geradoras, o trabalho de descobri-las

é, ele mesmo, um momento gerador, uma fase de trabalho comum.

Quando o trabalho de pesquisa das palavras geradores está pronto, a

equipe de trabalho tem em mãos o produto do trabalho, ou seja, o material da

pesquisa. Tem falas registradas, com: escritas, gravadas, até mesmo as

25

guardadas na memória. Como por exemplo, esta: aqui o melhor mês é março, a

chuva parou e o arroz a gente tá começando a colher.

Com embasamento nestes tipos de frases, frases estas que recontam a

vida do lugar e que devem recortar todas as suas situações, com todas as

categorias de seus sujeitos. Daí saem as palavras geradoras do qual o método

faz o seu miolo.

Quando o criador de uma cartilha de alfabetização escolhe as palavras-

guia para ensinar leitura, o mesmo lança a mão de critérios puramente

lingüísticos que submete aos pedagógicos.

Os critérios para a escolha das palavras são três, sendo que dois deles

são usuais em outros métodos, o outro, novo e renovador, são eles: a riqueza

fonêmica da palavra geradora, as dificuldades fonéticas da língua e a densidade

pragmática do sentido.

De acordo com a Fundamentação Teórica do programa, acredita-se que

a melhor palavra geradora é a que reúne em si a maior porcentagem possível dos

critérios sintáticos, ou seja, referente as sílabas, conjunto de sinais, riqueza

fonêmica, grau de dificuldade fonêmica complexa. Do critério semântico, que diz

respeito a maior ou o menor força entre a palavra e o ser que designa, menor ou

maior adequação entre a palavras a ser designado, entre outros. Por último o

critério pragmático que refere-se ao maior ou menor teor de conscientização no

qual a palavra traz em potencial, ou conjunto de relações sócio culturais que a

palavra gera no sujeito ou grupo que a utiliza.

Emergindo todas através da pesquisa das falas cotidianas das pessoas

do lugar, convertidas na primeira escrita do método, com a capacidade de

codificarem, como símbolo da língua, as situações mais significativas da vida

coletiva. As palavras geradoras devem conter todos os fonemas da língua

26

portuguesa e também incluir todas as dificuldades de pronuncia escrita (s, ss, ç,

ch, x, lh e diversos terrores gramaticais).

As palavras também deverão ter sentidos explícitos, direitos e também

seria bom se os mesmos estivessem carregados por uma carga afetiva e de

memória crítica.

As palavras geradoras não precisam ser muitas. De dezesseis a vinte e

três é o bastante. Precisam, em sua totalidade, responder aos três critérios de

escolha. No início dos anos sessenta, para uma comunidade em Cajueiro Seco,

no Recife, foram escolhidas pela equipe as seguintes palavras: voto, tijolo, siri,

biscate, palha, doença, cinza, máquina, chafariz, emprego, mangue, engenho,

classe, terra e enxada. Já direcionada a uma colônia agrícola da cidade do

Cabo, em Pernambuco, foram escolhidas as seguintes: voto, tijolo, roçado, fome,

feira, abacaxi, cacimba, milho, mamão, lombriga, planta, engenho, barracão,

guia, charque, sal e cozinha.

Nota-se, que estas poucas palavras, codificam o modo de vida das

pessoas, dos lugares onde a “descoberta” foi realizada. Este conjunto de

referências geradoras serve somente como um roteiro de sugestões de troca de

idéias, de debates nos círculos. Quando a proposta de trabalho com o método é

mais ampla, esta fase de codificação da descoberta continua na escolha dos

temas geradores.

Assim como a pesquisa do universo vocabular cada palavra geradora

aparece dentro de frases, de falas das pessoas, cada palavra aponta para

questões, para temas: temas geradores. Estes temas da vida que

espontaneamente surge quando se fala sobre seus caminhos, remetem a

questões que relacionadas das relações do homem como: seu meio ambiente, a

natureza, através do trabalho, com as pessoas e grupos de pessoas dentro e fora

dos limites da comunidade, do município, da vizinhança, da religião, dentre

27

outros. Sendo estes, reunidos para serem material de discussão em frases mais

adiantadas do trabalho do círculo, estes são os seus temas geradores.

Temas geradores foram pensados por Paulo Freire para serem usados

na fase de pós-alfabetização. Tal como no caso das palavras geradoras, os

temas geradores são colecionados sob todas as formas possíveis de material,

como: entrevistas escritas e gravadas, dados sobre o lugar, sobre a comunidade,

fotos, documentos.

Em experiências pioneiras, no Chile e no Brasil, não era com o trabalho

de decodificar as palavras geradoras que o método começava a ser praticado no

círculo. Era realizado com o trabalho de pensar juntos a partir de umas fichas de

cultura, onde educadores e educandos principiavam seu aprendizado.

Estas fichas de cultura correspondem a desenhos feitos em cartazes ou

projetados em slides. Desta forma, uma após a outra, elas provocam os

primeiros debates, as primeiras trocas de idéias entre educandos ou entre

animador e educandos. Em conjunto elas internalizam idéias de base que,

partindo de situações existenciais, possibilitam a apreensão coletiva do conceito

de cultura que direcionaram a outros conceitos fundamentais que por diversas

vezes reaparecerão e serão rediscutidos em todo o processo do trabalho de

alfabetização: “diálogo”, “trabalho”, “mundo”, “natureza”, “sociedade”.

Em alguns casos a própria equipe do método trazia pronta suas fichas

de cultura. Outras vezes estas mesmas fichas eram elaboradas pela própria

comunidade.

Podemos notar o “círculo de cultura” é uma idéia que substitui a de turma

de alunos ou a de “sala de aula”, o “círculo”, porque refere-se a todos que estão à

volta de uma equipe de trabalho que não tem um alfabetizador ou professor, tem

um animador de debates que, como um companheiro alfabetizado, participa de

28

uma atividade comum, na qual todos se ensinam e aprendem, onde o animador

coordena um grupo que não dirige, ou seja, o animador está sempre em busca

de uma situação existencial provocadora.

As fichas de cultura, sugerem debates em cima das imagens dessas

situações existenciais. Busca levar o grupo a rever criticamente conceitos

fundamentais para pensar em si e o mundo em sua volta, também visa motivá-lo

para assumir de forma crítica e ativa, o trabalho de alfabetizar-se.

O trabalho com as fichas de cultura introduzia questões, inaugurava

conceitos e convidava a idéias de um pensar que é, na realidade, o do próprio

fundamento do método: de sua filosofia e de sua pedagogia.

É importante que exista sempre o que Paulo Freire chamou de

“participação criadora”. Desta forma, não deverá ser feita a decodificarão da

gravura. O interessante é que o educador vá decodificando um desenho em

idéias, em símbolos da fala, que o grupo cria e os educandos aprendem. É

importante enfatizar que o animador deve sempre evitar fazer por ou para.

Deverá buscar situações em que, com a sua ajuda, o grupo faça o trabalho de

pensar, de refletir coletivamente.

Depois de completar a seqüência das fichas de cultura, o animador já

pode mostrar ao grupo a primeira palavra geradora.

Nas primeiras experiências do nordeste, para que o próprio animador,

tivesse em mãos um roteiro de cada palavras, foi de costume elaborar uma

espécie de “plano de palavra” para cada uma. Desta forma, em 1961, em

Mossoró e Angicos, era este o encaminhamento da palavra geradora: salário.

“Palavra geradora: salário.

Idéias para discussão:

29

· A valorização do trabalho e a recompensa.

· A finalidade do salário: manutenção do trabalhador e

de sua família.

· O horário do trabalho segundo a lei.

· O salário mínimo e o salário justo.

· Repouso semanal, férias, décimo terceiro mês.

Finalidades da conversa:

· Levar o grupo a discutir sobre a situação do salário

dos camponeses.

· Discutir o porquê dessa situação.

· Discutir com o pessoal sobre o valor e a recompensa

do trabalho.

· Despertar no grupo o interesse de conhecer as leis

do salário.

· Levar o grupo a descobrir o dever que cada um tem

de exigir o salário justo.

Encaminhamento da conversa:

· O que é que vocês estão vendo neste quadro?

· Como é que está a situação do salário dos

camponeses? Por que?

· O que é salário?

· Como deve ser o salário? Por que?

· O que é que a gente sabe das leis sobre o salário?

· O que podemos fazer para conseguir um salário

justo?”(BRANDÃO, 1981, p.53-54).

Com a prática do debate já existente no grupo, o animador poderá

diminuir suas perguntas e deixar solta a troca de idéias que a “figura da palavra”

30

propõe. Desta forma, o grupo cria o seu tempo e discute à vontade. Até quando

sente que está chegando o momento de dar ao coordenador sinais de que a hora

de “trabalhar a palavra” chegou.

Quando o animador percebe que é a hora de falar a palavra, o mesmo,

chama a atenção para ela, escrita. Ele aponta e caminha com os dedos. A mão

do monitor passeia pelo nome escrito cada vez que ela é pronunciada. A

intenção não seria de memorizar e decorar, mas de ver o nome da palavra que

se diz alto e repete. Neste exercício de falar e repetir, vendo, mostrando,

apontando, o animador poderá pôr a palavra geradora do cartaz uma mesma

palavra, igual no nome e no desenho das letras, só que escrita em uma pequena

ficha.

Logo após haver repetido de novo a “leitura de ver” ele puxa por cima o

cartaz da figura de modo que, da “figura com a palavra”, ficaria a “palavra sem

figura”. Em seguida repete o “letrume” da mesma forma. O “letrume” era como as

pessoas chamavam as letras das palavras, as palavras e seus pedaços, nos

primeiros círculos de cultura.

Depois de algumas repetições de ver, o movimento põe diante do círculo

outro cartaz com o nome desdobrado em seus fonemas, pedaços. Em seguida, o

monitor lê e acompanha com as mãos as sílabas, os fonemas, conforme

pronuncia. Repete e mostra no todo o que é, e o desdobramento do conjunto de

cada fonema.

Todos vêem, lêem e repetem com o monitor, sozinhos e em coro. Agora,

a mão acompanha pedaços, pulando de uma para o outro.

Vão surgindo espontaneamente a idéia das vogais, neste momento o

animador vira a atenção sobre elas, podendo escrever no quadro ou apresentá-

las com os educandos.

31

Posteriormente, chega o momento mais criativo do processo de

alfabetização, onde o monitor coloca diante de todos a ficha de descoberta. Esta

ficha reintroduz o início de outro momento importante de criação e de

aprendizagem. É a partir dela que o grupo pára de repetir o que vê e começa a

criação do que repetiu vendo. Existe mais trabalho em torno deste cartaz com

relação a todos os outros juntos.

O animador lembra ao grupo a possibilidade de separar os pedaços e

compor a família e que juntando novamente os pedaços poderão formar outras

palavras.

O animador lê os fonemas em todas as direções possíveis, ou seja, na

horizontal, na vertical, em diagonais e salteadas. Essa passagem de uma

maneira de ler para outra deverá ser realizada quando o mesmo sentir que cada

ordem está bem reconhecida.

Com relação ao trabalho de escrever é muito difícil para alguns adultos,

pois não apresentavam boa coordenação motora para manusear bem o lápis.

Por este motivo, houve a necessidade de desenvolver exercícios de coordenação

motora para superar este fato.

No trabalho de formação de palavras, de uma para outra, fonemas das

anteriores poderão ser lembrados para somarem com os de uma nova palavra.

Em determinados momentos duas palavras poderão aparecer lado a lado em

seus cartazes de descoberta. E isso, certamente, multiplica o poder de criação

do grupo.

Com relação as palavras mais difíceis, elas podem ser apresentadas

mais tarde e quando apresentadas, deverão ser discutidas e o monitor deverá

32

trabalhar ela por um tempo maior, deixando que as dificuldades maiores

apareçam quando o grupo estiver pronto para enfrentá-las por sua conta.

No fim das palavras, mas não do trabalho, os educandos estão formando

apenas frases curtas ou pequenas falas escrita, mas períodos: “idéias

completas”.

Desde as primeiras idéias de Paulo Freire juntamente com sua equipe

da Universidade Federal de Pernambuco, nada precisa ser rígido no método. Ele

não se impõe com relação a realidade sobre cada caso. Ele visa cada situação.

Por isso, não podemos esquecer o trabalho de ajusta, inovar e criar a partir dele.

CAPÍTULO IV

A PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE

Paulo Freire levou com muita seriedade a questão de se ter uma luta

constante. Enfatizou que sua teoria poderia ser enriquecida pela prática de uma

educação crítica, ou seja, a prática da conscientização, mas pediu que

mantivessem as conexões dialéticas entre teoria e prática.

No percurso de sua vida foi um dos mais reconhecidos pedagogos

associados a causas progressistas, correspondente à “Nova Esquerda”

educacional e a pedagogia crítica. As contribuições educacionais e filosóficas de

Freire, juntamente com o impacto do seu trabalho vai além da educação de

adultos e alfabetização.

O percurso de Paulo Freire representa uma busca para tornar ainda mais

clara sua compreensão das conexões entre política e educação, que é sem

dúvida a questão central dos dilemas educacionais do nosso tempo.

33

Numa de suas principais investigações ele estudou a organização da

consciência da classe dos oprimidos, direcionado aos processos sociais

concretos, visando uma transformação afetiva das estruturas de opressão. Ao

realizar, abordou sempre a cultura e a educação. O pensamento de Paulo Freire

é político, ele acreditava que a política, poder e educação constituem uma

unidade indissolúvel.

A sua pedagogia política não se baseia apenas numa preferência

ideológica, mas num forte impulso democrático. Lembrando sempre que a

educação é uma atividade política e que qualquer atividade política com

seriedade é educacional. Paulo Freire nos ensina que a questão entre educação

e política não podem ser teorizadas apenas em termos de intercessões entre

poder e educação. Ao focar insistentemente “policidade da educação”, Freire

nos leva a compreender as relações entre educação e formação para a

cidadania, buscando esclarecer as realidades da educação democrática, dos

direitos e responsabilidades dos cidadãos.

Graças a este longo e complexo processo de “conscientização”, os

homens conseguem transformar esta realidade através de ações concretas. Na

medida em que desenvolvem atividades, que se ampliam a diferentes setores

descobrem a complexidade real e estimulam a sua consciência crítica.

A conscientização é um dos fatores básicos da concepção de Paulo

Freire, além, da conscientização, outras concepções nas quais fundamenta seu

pensamento de educador estão as de homem e mundo, de diálogo e de teoria do

conhecimento.

Na concepção de homem, seu foco está ligado a questão do problema

da humanização, pois essa preocupação é mais acentuada. Os movimentos de

rebeliões de massa do atual momento histórico são apontadas por Paulo Freire

34

como manifestações que buscam afirmar os homens como sujeitos de decisões

e que refletem o sentido de nossa época.

A constatação da busca de humanidade implica no reconhecimento da

desumanização como realidade teórica. Ambas colocam-se como possibilidades

do homem como sujeito consciente de sua inconclusão.

O diálogo pretendido por Paulo Freire não é o diálogo proposto pelas

“elites”, pois este é vertical, rígido, impede o educando de massa a liberdade de

dizer a sua palavra. Paulo Freire acreditava no diálogo de relação horizontal

oposta ao elitismo. Para ele, quando os dois pólos do diálogo são ligados com

amor, esperança, fé e confiança um no outro, é estabelecida uma relação de

simpatia entre as duas partes. Só então existe de fato uma verdadeira

comunicação e a criticidade é possível na busca de algo.

Na obra “Pedagogia do Oprimido”, ele aprofunda sua reflexão a respeito

do diálogo, onde destacou “a palavra”, pois este incluiu duas dimensões

indissociáveis que corresponde a ação e reflexão. Pronunciar a palavra

implicando ação e reflexão é transformar o mundo.

Nesta mesma obra falou da concepção bancária da educação, a

caracterizando como modo burguês de ensinar, fazendo assim severas críticas

ao que denominou de educação capitalista. Nesse enfoque Paulo Freire

caracteriza duas concepções opostas de educação, que são a “bancária” e a

“problematizadora”. Na primeira, a educação torna-se um ato de depósito de

conhecimentos em cima dos educandos, onde o educador tem a postura de um

líder sábio, e os educandos são meros espectadores; já a concepção

problematizadora fundamenta-se na relação dialógico-dialética entre o educador

e o educando, onde ambos aprendem juntos numa troca interativa.

Paulo Freire mostrou que a educação não é neutra e que a escola tem

sido utilizada para introduzir a ideologia dominante. As tradicionais aulas

35

expositivas transformaram os estudantes em seres passivos e até omissos.

Neste contexto, o educador se torna um especialista em transmitir informações

para alunos que apenas tinham a preocupação em arquivar conteúdos atrofiando

a sua capacidade crítica.

A realidade comprova que desde a infância os estudantes são

massacrados pela “educação bancária”, que sentem grandes dificuldades para

dialogar e pensar criticamente. Com isso, ao longo dos anos, o jovem vai

aprendendo a não questionar. Mais tarde, já na idade adulta este comodismo já

esta consolidado e ele aceita passivamente as injustiças produzidas pelo

sistema.

A educação libertadora, proposta por Paulo Freire, não se limita a uma

simples transmissão de conhecimento, mas é um ato “cognoscitivo” que utiliza o

diálogo como um instrumento de conscientização. Neste modelo devem estar

presentes dois sujeitos ativos, o educador e o educando, e um objeto de

conhecimento que, em lugar de estar na cabeça do professor passa agora para o

centro da discussão.

“O que nos parece indiscutível é que, se pretendermos a

libertação dos homens não podemos começar pó aliená-

los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a

humanização em processo, não é uma coisa que se

deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca,

mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos

homens sobre o mundo para transformá-lo.

Exatamente porque não podemos aceitar a concepção

mecânica da consciência, que a vê como algo vazio a ser

enchido, um dos fundamentos implícitos na visão

“bancária” criticada, é que não podemos aceitar, também,

36

que a ação libertadora se sirva das mesmas armas da

dominação, isto é, da propaganda dos slogans, dos

“depósitos”.(FREIRE, 1987, p. 67).

Esta concepção é voltada para a formação e não para o adestramento.

Transforma os alunos em sujeitos ativos no processo de aprendizado.

CONCLUSÃO

A grande lição deixada por Paulo Freire é que a problematicidade e o

questionamento são fundamentais para a formação de cidadãos conscientes de

seu papel social. A tarefa de introduzir um modelo de educação libertadora no

contexto de nossa realidade, tão marcada pelos padrões impostos pela classe

dominante, é extremamente difícil. Paulo Freire construiu bases fundamentais

para que as mudanças fossem viáveis e possíveis.

Acreditava que a passagem da consciência ingênua e à consciência

crítica, sempre vinha carregada de forte componente política. O confronto com a

realidade despertava no educando e o levava a reflexão, crítica, invenção,

escolha, decisão, organização e finalmente à ação.

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Decorrente a notoriedade de Paulo Freire com relação ao seu trabalho,

automaticamente Freire sofreu muitas críticas.

Paulo Freire foi recriminado pelos católicos mais conservadores por

utilizar categorias marxistas em seu discurso pedagógico. Para determinados

intelectuais de esquerda, ele não teria ultrapassado o pensamento influenciado

por intelectuais do ISEB, foi acusado de sucumbir como aqueles, ao nacional-

desenvolvimentismo. Muitos o criticaram também a não-diretividade e o

espontaneísmo, que davam uma extrema valorização à contribuição do

educando.

Paulo Freire tem sido muito elogiado, criticado, enquadrado e rotulado

em correntes políticas, filosóficas e pedagógicas, por diversos autores nacionais

e estrangeiros.

Entre os autores nacionais houve alguns que o rotularam de “escola-

novista” e “não-diretivista” outros acham o pensamento de Paulo Freire marcado

por ingenuidade, pois ele acreditava muito no diálogo e alguns autores achavam

que numa sociedade dividida por classes contrastantes não havia condições

para uma pedagogia dialogal. Sob esse aspecto, considerava-se impossível o

diálogo entre educador e educando, por apresentar uma assimetria muito grande

entre ambos.

O pensamento de Paulo Freire, por não se tratar de um pensamento

unitário e sistemático, gerou vários tipos de avaliações. Como todo pensamento

que fala da vida, da realidade, é um pensamento complexo, é mais do que natural

ter vários tipos de avaliações.

Considerando todas as críticas, coerentes ou não, é impossível negar a

contribuição de Paulo Freire, não somente com relação a Educação de Jovens e

38

Adultos, mas também com os fundamentos da sua pedagogia, na própria

concepção de educação.

Paulo Freire estava diretamente voltado a uma das tendências da

moderna concepção progressista, referente ao caráter político da educação, e

que é necessário torná-la acessível às camadas populares, visando tornar o

espaço da discussão e da problematização que busca transformar a realidade

social.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire. 1.ed: São Paulo:

Brasiliense, 1981.

FARIA, Wilson de. Teorias de ensino e planejamento pedagógico: temas básicos

da educação e ensino. São Paulo: E.P.U. , 1987.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática

educativa. 7.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

39

____________. Pedagogia do Oprimido. 11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

1982.

____________. et al. Poder, desejo e memórias da libertação. Porto Alegre: Art.

Med. 1998.

____________. et al. Política e Pedagogia. Portugal: Porto, 1998.

GADOTTI, Moacir. Educação e compromisso. 4. ed: Campinas, SP: Papirus,

1992.

PAIVA, Vanilda Pereira. Educação Popular e educação de adultos. 5. ed: São

Paulo: Loyola, 1987.

TORRES, Carlos Alberto. Diálogo com Paulo Freire. São Paulo: Loyola, 1979.

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 08

INTRODUÇÃO 09

40

CAPÍTULO I

A TRAJETORIA DE PAULO FREIRE 11

CAPÍTULO II

UM BREVE HISTORICO DA EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS 17

CAPÍTULO III

O METODO PAULO FREIRE 21

CAPÍTULO IV

A PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE 32

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

41

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Avaliado por: Conceito: