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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O MERCADO FINANCEIRO E SEUS INSTRUMENTOS DE CRÉDITO: UM ENFOQUE NO TÍTULO DE CRÉDITO - CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO Por: Murilo Romero de Oliveira Orientador Prof. Ivan Garcia Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · crescimento, onde a expansão sustentada da demanda agregada e investimentos é gerada, e realimentada a partir de um ambiente

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O MERCADO FINANCEIRO E SEUS INSTRUMENTOS DE

CRÉDITO: UM ENFOQUE NO TÍTULO DE CRÉDITO - CÉDULA

DE CRÉDITO BANCÁRIO

Por: Murilo Romero de Oliveira

Orientador

Prof. Ivan Garcia

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O MERCADO FINANCEIRO E SEUS INSTRUMENTOS DE

CRÉDITO: UM ENFOQUE NO TÍTULO DE CRÉDITO - CÉDULA

DE CRÉDITO BANCÁRIO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Empresarial e dos Negócios.

Por: Murilo Romero de Oliveira.

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METODOLOGIA

A pesquisa quanto aos meios é de caráter é bibliográfico, de

cunho descritivo. É bibliográfica, pois será desenvolvida com base em

doutrinas, legislações, rede eletrônica e demais materiais científicos afins a

esta temática.

A metodologia usada para o tratamento dos dados abrangerá o

levantamento das medidas provisórias, leis e dados do CETIP e sites

correlacionados, objetivando obter elementos para, posteriormente, efetuar a

elaboração dos capítulos constituintes deste trabalho. Este estudo terá uma

abordagem qualitativa, pois, buscará responder a questões muito particulares,

permitindo investigar a complexidade das interpretações e conceituações.

O método escolhido para o estudo, ou seja, a CCB como

instrumento alavancador de crédito privado no Brasil, apresenta certas

limitações, em virtude da escassez das informações e dados científicos, uma

vez que a temática é muito recente, existindo poucas publicações sobre o

referido tema. Ainda assim, é o método adequado aos propósitos da

investigação, porque se sabe que nenhum trabalho científico é capaz de

extinguir um tema em sua totalidade, havendo sempre brechas para sugestões

de novos estudos.

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RESUMO

O objetivo deste estudo é analisar se Cédula de Crédito Bancário é um instrumento capaz de impulsionar as operações de crédito privado, contribuindo para que o mercado brasileiro tenha um grau de alavancagem compatível com outros países. Esta pesquisa também encontra-se segmentada em três grandes partes, das quais a primeira descreve sobre o Sistema Financeiro Nacional. A segunda parte aborda os Títulos de Crédito e seu papel na economia moderna. E a última parte comenta a Cédula de Crédito Bancário como avalancador do crédito privado no Brasil. Conclui-se que não há, pois, a menor sombra de dúvida de que a cédula de crédito bancário é título de crédito com força executiva, criada por lei, portanto típico, que representa direito certo, líquido e exigível por expressa disposição legal. E a iniciativa do Executivo tem a inegável virtude de dotar as operações de intermediação de recursos financeiros realizadas no bojo do Sistema Financeiro Nacional da máxima segurança e liquidez, criando títulos de crédito líquidos, certos e exigíveis para o retorno célere do capital mutuado.

Palavras-chave: Cédula de Crédito Bancário; Sistema Financeiro; Crédito

Privado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5

CAPÍTULO I

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 7

CAPÍTULO II

TÍTULOS DE CRÉDITO E SEU PAPEL NA ECONOMIA MODERNA 20

CAPÍTULO III

A CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO COMO ALAVANCADOR DO CRÉDITO

PRIVADO NO BRASIL 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS 48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50

ÍNDICE 54

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5INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é analisar se Cédula de Crédito Bancário

é um instrumento capaz de impulsionar as operações de crédito privado,

contribuindo para que o mercado brasileiro tenha um grau de alavancagem

compatível com outros países.

Passados mais de dezessete anos após a implementação do

Plano Real, os benefícios surgidos com a estabilização macroeconômica não

foram suficientes para a economia brasileira alcançar um ciclo virtuoso de

crescimento, onde a expansão sustentada da demanda agregada e

investimentos é gerada, e realimentada a partir de um ambiente com inflação

controlada, que permita a queda consistente das taxas de juros e do custo

crédito, resultando em um aumento do consumo, da produção e nível de

emprego.

Para atingir tal condição, o Brasil necessita de uma série de

reformas macro e microeconômicas que, na essência, tornem o ambiente para

os negócios menos hostis. Entre os ajustes necessários, sem dúvida, um dos

obstáculos a superar seria reduzir a atrofia do mercado de crédito privado e um

dos principais fatores por seu alto custo e a escassez na oferta de crédito, é a

alta carga de riscos jurídicos embutidos em contratos financeiros.

Além da menor disponibilidade de instrumentos financeiros com

respaldo legal para delimitar previa e adequadamente, direitos e garantias, a

execução destes termos contratuais pode enfrentar o risco de longos

processos judiciais.

Uma das etapas necessárias para que esta realidade seja

transformada, seria o surgimento de novos instrumentos financeiros, que

incorporem garantias e permitam reduzir os efeitos das condições vigentes nos

processos judiciais.

Portanto, a principal justificativa deste trabalho é a possibilidade

de que a criação da CCB tenha representado este passo inicial. Sendo um

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6título de crédito autoexecutável, permite agilizar a cobrança judicial e reduzir

seus custos. Adicionalmente, por ser negociável, possibilita a securitização de

créditos bancários.

O presente trabalho apresentará a CCB através de uma

retrospectiva legislativa, desde sua implantação no SFN, chegando à análise

de sua capacidade, enquanto instrumento alavancador de crédito privado no

Brasil.

A apresentação da evolução histórica tem o objetivo de contribuir

no entendimento dos principais problemas existentes em relação à CCB nos

dias atuais.

O trabalho não tem como objetivo apresentar um estudo

minucioso do CCB, com todos os aspectos jurídicos explorados. Optou-se por

focar os fatores que representam o diferencial deste título de crédito em

relação aos demais, abrangendo os principais pontos controversos que regem

este título. Portanto, o estudo pretendeu abordar as questões conflitantes que

decorrem da utilização da Cédula de Crédito Bancário.

Sendo assim, o estudo ficará restrito a questão da utilização da

CCB como instrumento alavancador de crédito privado no Brasil.

Teve como problema de pesquisa: a Cédula de Crédito Bancário

(CCB) é um instrumento capaz de impulsionar as operações de crédito privado,

contribuindo para que o mercado brasileiro tenha um grau de alavancagem

compatível com outros países?

Supõe-se que o advento da CCB, pelas características intrínsecas

do título, contribua para a expansão do mercado nacional de crédito privado.

Apesar da dificuldade de mensurar objetivamente o peso desta contribuição, há

a expectativa de que através da análise comparativa da evolução dos volumes

de negociação e dos estoques de CCB registrados na Câmara de Custódia e

Liquidação (CETIP), correlacionadas a variação do volume de crédito total no

Sistema Financeiro Nacional (SFN) e a variação do PIB, no mesmo período,

encontrar evidências suficientes que possam sustentar esta hipótese.

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7CAPÍTULO I

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

O objetivo deste capítulo é apresentar a origem e estrutura

funcional do Sistema Financeiro Nacional (SFN), descrevendo as principais

características das instituições que o compõe.

1.1 – Conceitos e funções básicas do Sistema Financeiro

Nacional

O Sistema Financeiro Nacional compreende o conjunto de

instituições e instrumentos financeiros que tem como função principal

possibilitar, a realização e manutenção do fluxo de recursos entre os agentes

econômicos superavitários e os deficitários (FORTUNA, 2005).

Os agentes econômicos deficitários ou tomadores finais são

aqueles que gastam ou pretendem gastar em consumo ou investimentos,

valores mais altos que suas rendas, enquanto os agentes superavitários, ou

doadores finais, caracterizam-se por gastar em consumo ou investimento,

menos que a renda obtida, gerando um excedente de poupança (ARAGÃO,

2000).

Os tomadores precisam de capital adicional e estão dispostos a

pagar juros por estes recursos e os doadores estão dispostos a emprestá-los

mediante a uma remuneração.

No entanto, para esta convergência de interesses se materializar,

é necessário a existência de um ambiente organizado, fiscalizado e controlado

por vários órgãos, que permita estabelecer um mínimo de segurança nas

relações entre os agentes econômicos. Neste ambiente, denominado mercado

financeiro, destaque para os intermediários financeiros, que são instituições

financeiras componentes do Sistema Financeiro Nacional, que se dedicam, de

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8alguma forma, ao trabalho de promover o encontro de doadores e tomadores

(ARAGÃO, 2000).

A importância destas instituições na economia fica evidenciada a

quando se conclui que todo fato econômico, seja ele de transformação,

circulação ou consumo, é suficiente para gerar uma movimentação no mercado

financeiro. E qualquer movimentação de compra, venda ou troca de

mercadorias e serviços, resulta em uma operação de natureza monetária,

envolvendo algum intermediário financeiro: depósito ou recebimento de um

cheque, desconto de uma duplicata, transferência de valores entre contas ou

uma operação de crédito para antecipar a realização de um negócio

(FORTUNA, 2005).

Portanto, a importância do Sistema Financeiro Nacional para um

país está associada ao fato que todo o processo de desenvolvimento

econômico requer a mobilização de capital e alocação da poupança disponível

em poder dos agentes econômicos superavitários para os setores produtivos

carentes de recursos, mediante a intermediários e instrumentos financeiros.

E para garantir a continuidade e aperfeiçoamento deste processo

de distribuição de recursos no mercado, é fundamental que o sistema que

interliga estas operações mantenha-se sólido e estável. Entretanto, antes de

apresentar a estrutura e as condições atuais do Sistema Financeiro Nacional, é

importante conhecer o histórico de sua formação (FORTUNA, 2005).

1.2 – A origem e evolução do Sistema Financeiro Nacional

A primeira experiência de organização de um sistema financeiro

brasileiro, surgiu com a criação da Superintendência da Moeda e do Crédito -

SUMOC , em 1945. A partir de então, e até 1965, as autoridades monetárias

brasileiras eram a SUMOC, o Banco do Brasil, e o Tesouro Nacional, que em

conjunto, exerciam as funções típicas de um banco central, paralelamente ao

desempenho de suas atribuições próprias (ARAGÃO, 2000).

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9A criação da SUMOC (Decreto número 7.293, de 20/02/45)

decorreu da necessidade de maior controle das instituições financeiras por

parte do Governo Federal. Subordinada ao Ministério da Fazenda, funcionava

como um órgão conselheiro, não possuía estrutura de controle monetário

satisfatório e seu poder de decisão era muito limitado (FORTUNA, 2005).

Nesse período o número de estabelecimentos de intermediação

bancária, matrizes e agências, alteraram-se em face de um processo de fusões

e de incorporações. Caiu o número de matrizes de 404 (1951) para 336 (1964),

ampliando-se, entretanto, de forma considerável, o número de agências por

matriz, em virtude de instalação de novas agências não só nas áreas urbanas

em expansão, como também em regiões mais distantes, que iam sendo

incorporadas à dinâmica do crescimento econômico interno (ARAGÃO, 2000).

1.3 – A criação do Sistema Financeiro Nacional

Os órgãos de aconselhamento e gestão da política monetária, da

política de crédito e das finanças públicas, concentrados no Ministério da

Fazenda (Tesouro Nacional), na Superintendência da Moeda e do Crédito-

SUMOC e no Banco do Brasil S/A, constituíam uma estrutura que não

correspondia aos crescentes encargos e responsabilidades na condução da

política econômica .

Era necessário organizar um Sistema Financeiro, dotado de uma

estrutura racional e adequada às necessidades e carências da sociedade

brasileira. Para isso, a partir de 1964 foi editado um conjunto de normas que

possibilitaram o reordenamento jurídico do sistema, entre as quais a Lei 4.595,

de 31.12.64, conhecida como a Lei da Reforma Bancária.

Assim, no período de 1964, foram introduzidas profundas

alterações na estrutura do Sistema Financeiro Nacional pela promulgação de

uma série de leis, devidamente justificadas pelas autoridades monetárias. São

elas (MATTOS, 2006):

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10• A Lei número 4.380, de 21 de agosto de 1964, que instituiu a

correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social,

criou o Banco Nacional de Habitação – BNH e institucionalizou o

Sistema Financeiro de Habitação – SFH. Sua necessidade,

justificou-se pelo fato de que a recessão econômica dos anos

1960 aumentava a massa de trabalhadores com pouca

qualificação e o Estado não tinha condições de criar ou fomentar

diretamente postos de trabalho para essa mão-de-obra. A

alternativa que se vislumbrava era a criação de emprego na

construção civil e a solução encontrada foi a edição dessa Lei do

Plano Nacional da Habitação.

• A Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que constituiu a base

de uma verdadeira reforma bancária, reestruturando o sistema

financeiro nacional, definindo as características e as áreas

específicas de atuação das instituições financeiras e

transformando a SUMOC e seu Conselho, respectivamente no

Banco Central do Brasil e no Conselho Monetário Nacional. Os

órgãos de aconselhamento e gestão da política monetária, da

política de crédito e das finanças públicas não vinham

correspondendo aos crescentes encargos e responsabilidades na

condução da política econômica do país. Essa foi a principal

justificativa para a edição dessa Lei, que, além de ter criado as

referidas instituições, estabeleceu as normas operacionais, as

rotinas de funcionamento e os procedimentos de qualificação aos

quais as entidades do Sistema Financeiro deveriam subordinar-

se.

• A Lei número 4.728, de 14 de julho de 1965, que disciplinou o

mercado de capitais e estabeleceu medidas para seu

desenvolvimento. Justificada na oportunidade pelo fato de que o

processo de popularização de investimentos estava contido em

função da preferência dos investidores por imóveis de renda e de

reserva de valor.

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11Porém, interessava ao governo a evolução dos níveis de

poupança internos e o seu direcionamento para investimentos produtivos. Esse

foi o primeiro conjunto de instrumentos legais que deu origem à estrutura do

atual Sistema Financeiro Nacional (MATTOS, 2006).

Mais tarde, ainda no contexto da reforma do Sistema Financeiro,

a Lei 6.385/75 criou a Comissão de Valores Mobiliários – CVM, transferindo do

Banco Central para essa Comissão a responsabilidade pela regulamentação e

fiscalização das atividades relacionadas ao mercado de valores mobiliários

(SILVA, 2003).

1.4 – Estrutura atual do sistema financeiro nacional

Uma grande parte da estrutura do Sistema Financeiro Nacional

(SFN), alterou-se em uma ampla reforma do setor a partir de 1964 quando, até

então, era composto por bancos de desenvolvimento, nacionais ou estaduais,

como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o

Banco do Nordeste (BN) ou, ainda, o Banco da Amazônia (BA), Caixas

Econômicas, Federal (CEF) e Estaduais (CEE), além de bancos comerciais,

cooperativas de crédito financiadoras e de capitalização, distribuidoras e bolsas

de valores.

A função de Banco Central era exercida pela Superintendência da

Moeda e do Crédito (SUMOC), instituição que funcionava junto ao Banco do

Brasil (BB), acumulando, assim, as funções de banco comercial e banco do

governo (MATTOS, 2006).

Nessa reestruturação, foram criados, o Banco Central do Brasil

(BACEN), o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Nacional de

Habitação (BNH), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além de bancos

de investimento e empresas corretoras de valores.

Até 1986, o Banco do Brasil (BB) era, ao lado do BACEN, CMN e

CVM, uma das autoridades monetárias, perdendo essa condição após o Plano

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12Cruzado que, dentre outras medidas, retirou sua conta movimento, que lhe

dava a prerrogativa de sacar dinheiro contra o Tesouro Nacional (TN) sem

custo algum, atendendo às demandas de crédito do setor estatal. Também

nesse ano, o Banco Nacional de Habitação (BNH), foi extinto, alterando-se

sensivelmente a configuração do sistema habitacional (SILVA, 2003).

Depois dessas transformações, a configuração atual do SFN pode

ser dividida em dois subsistemas: o subsistema normativo e o subsistema de

intermediação.

1.4.1 – Subsistema normativo

“O subsistema normativo é responsável pelo funcionamento do

mercado financeiro e de suas instituições, controlando, fiscalizando e

regulamentando suas atividades”, determinando diretrizes de atuação das

instituições financeiras operativas ou pertencentes ao subsistema de

intermediação. Compõe este subsistema, o Conselho Monetário Nacional

(CMN), o Banco Central do Brasil (BACEN), e a Comissão de Valores

Mobiliários (CVM).

O CMN é órgão do Poder Executivo, enquanto que o BACEN e a

CVM são autarquias, com a obrigação de operacionalizar as diretrizes políticas

do Governo Federal, conferindo agilidade e dinamismo à sua atuação em

matéria econômico-financeira (SILVA, 2003).

Criado pela Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, o CMN é,

segundo o art. 16, VII da Lei n. 9.649/98, órgão máximo do Sistema Financeiro

Nacional (SFN), integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, presidido,

por disposição legal dada pela Lei n. 9.069/95, em seu art. 8º, pelo Ministro

dessa pasta. Os objetivos e a competência de sua política são ditados nos arts.

2º e 3º da Lei de 64, em conjunto com o art. 3º, I e II, da Lei n. 6.385/76.

Tem como finalidade, a formulação de políticas de crédito,

monetária e cambial, objetivando o progresso econômico e social do país, além

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13de disciplinar as demais instituições do sistema, exercida segundo diretrizes

estabelecidas pelo Presidente da República, embora alguns dos seus atos

dependam da autorização ou homologação pelo Poder Legislativo.

O BACEN, também criado pela Lei n. 4.595, de 31 de dezembro

de 1964 é, na letra do art. 8º, uma autarquia federal, com competência, definida

nos arts. 9º e 10 e em normas expedidas pelo CMN, que tem atribuição, pelo

art. 14, de escolher sua diretoria e designar seu diretor. Nos termos do art. 1º

do Dec. n. 91.961 de 19 de dezembro de 1985, todos os membros da diretoria

serão nomeados pelo Presidente da República, sendo possível sua demissão a

qualquer tempo (VASCONCELOS, 2000).

Compete ao BACEN cumprir e fazer cumprir as disposições que

lhe são atribuídas pela legislação em vigor e as normas expedidas pelo CMN,

através de resoluções, circulares e instruções. É órgão executor da política

monetária, além de exercer a regulamentação e fiscalização de todas as

atividades de intermediação financeira do país. (MOREIRA, 2000, p. 95-7).

Por fim, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), instituída pela

Lei n. 6.385 de 07 de dezembro de 1976 é, segundo os arts. 5º e 6º, § 1º de

sua lei instituidora, uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, cuja

diretoria e presidente são nomeados pelo Chefe do Executivo, podendo ser

demissíveis, a exemplo do BACEN, a qualquer tempo.

Esta instituição destina-se, pelos arts. 1º e 3º, a disciplinar e

fiscalizar atividades relativas ao mercado de capitais, segundo política e

regulação definidas pelo CMN, muitas delas em coordenação com o BACEN.

Segundo Moreira (1999):

Suas principais atribuições, segundo o art. 8º são a de

regulamentar, as matérias expressamente previstas nesta

Lei e na Lei de Sociedades Por Ações, e fiscalizar as

bolsas de valores e a emissão de valores mobiliários

negociados nessas instituições, como ações, debêntures,

partes beneficiárias, os cupões desses títulos, os bônus

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14de subscrição e os certificados de depósito de valores

mobiliários. (MOREIRA, 1999, p. 157).

A CVM, também exerce funções de regulação, fiscalização e

supervisão dos mercados de títulos e contratos de investimentos coletivos.

Tanto o Conselho Monetário Nacional (CMN), quanto o Banco Central do Brasil

(BACEN), ou ainda a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), são partes

integrantes de um mesmo todo, estruturado de forma a promover o

desenvolvimento equilibrado do país e a servir aos interesses da coletividade,

portanto, nada mais natural que possuam muitas características comuns,

relativas ao controle hierárquico, à estabilidade no cargo de diretor, a

competência regulamentar e de fiscalização.

Quanto ao controle hierárquico, são diretamente subordinadas ao

Presidente da República e ao Ministro da Fazenda, cumprindo determinações

da administração direta de maneira imediata, acatando as diretrizes da

presidência, ou mediata, com o CMN definindo políticas e regulando atividades,

tanto do BACEN, quanto da CVM (MOREIRA, 1999).

Os cargos diretivos são dotados de competência regulamentar,

diferenciando-se, apenas, o grau e o conteúdo de tais outorgas, o mesmo em

relação à fiscalização, controlando as áreas de sua atribuição, podendo apurar

irregularidades e impor sanções.

1.4.2 – Subsistema da intermediação financeira

Este subsistema, também denominado operativo, é composto

pelas instituições que atuam em operações de intermediação financeira. Pode

ser subdividido em cinco grandes grupos de instituições: Bancárias, Não

Bancárias, Sistema de Poupança e Empréstimo, Auxiliares e Instituições Não

Financeiras (MOREIRA, 1999).

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15As Instituições Bancárias abrangem os bancos comerciais,

bancos múltiplos e as caixas econômicas. Bancos Comerciais são instituições

financeiras obrigatoriamente constituídas sob a forma de sociedades anônimas.

No desenho do Sistema Financeiro Nacional, tem a função básica

de realizar operações de crédito de curto prazo, satisfazendo, desta forma, às

necessidades de recursos para capital de giro das empresas (MOREIRA,

1999).

Segundo Moreira (1999):

A atividade bancária compreende as funções de recepção

de depósitos e efetuação de empréstimos. São obrigados,

por lei, a manter reservas obrigatórias iguais a um certo

percentual dos depósitos a vista, fixado pelo BACEN,

fazendo parte dos investimentos que essa instituição

dispõe para controlar os meios de pagamento, além disso,

esses órgãos mantêm um certo volume de títulos federais,

estaduais e, municipais, com o intuito de atender a

desequilíbrios momentâneos de caixa, em geral,

provocado pelo serviço de compensação de cheques.

(MOREIRA, 1999, p. 157)

A principal característica dos bancos comerciais é a autorização

de receber depósitos a vista. Como parte destes depósitos podem ser

aplicadas pelos bancos sob a forma de empréstimos, que irão, retornar ao

sistema financeiro, gerando novos depósitos e novos empréstimos, as

instituições passam a influenciar na quantidade de moeda em circulação

(MOREIRA, 1999).

Este mecanismo é conhecido criação de moeda escritural e seu

efeito multiplicador. O volume de recursos captados que podem ser

emprestados depende basicamente do nível de reserva voluntária dos bancos

que não serão aplicados e por regulamentações das autoridades monetárias

quanto ao nível de depósitos compulsórios, que representam um percentual do

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16volume de recursos captado que obrigatoriamente são recolhidos pelos bancos

comerciais em uma conta de depósito exclusivo. Esta capacidade de criação

de moeda também é compartilhada por bancos múltiplos que possui carteira

comercial.

Os bancos múltiplos são instituições financeiras que realizam

operações ativas (crédito), passivas (captação) e serviços, por intermédio de

no mínimo duas das seguintes carteiras, sendo que uma delas,

necessariamente, comercial ou de investimento: comercial; de investimento; de

desenvolvimento (exclusiva para bancos públicos), de crédito imobiliário; de

crédito, financiamento e investimento; de arrendamento mercantil (leasing).

Segundo Assaf Neto (2003):

A criação de bancos múltiplos surgiu como reflexo da

própria evolução dos bancos comerciais e crescimento do

mercado. A tendência de se formarem conglomerados

financeiros no mercado, também foi consequência dos

interesses dos bancos em promover a sinergia em suas

operações, permitindo que uma instituição completasse

sua atividade de intermediação. (ASSAF NETO, 2003, p.

85).

As Instituições classificadas como não Bancárias, são aquelas

que não possuem capacidade de emitir moeda escritural ou meios de

pagamento. As instituições que compõe este grupo são: Bancos de

Investimentos, Bancos de Desenvolvimento, Sociedades de Crédito,

Financiamento e Investimento, Sociedades de Arrendamento Mercantil,

Cooperativas de Crédito, Sociedades de Crédito Imobiliário e as Associações

de Poupança e Empréstimos.

Os Bancos de Investimentos têm a função básica de fornecer

créditos de médio e longo prazo, efetuando para isso, operações de maior

escala, como repasses de recursos oficiais de crédito, repasses de recursos

captados no exterior, operações de subscrição pública de valores mobiliários

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17(ações e debêntures), lease-back, financiamento de bens de produção a

profissionais autônomos, securitização de recebíveis (MOREIRA,1999).

Suas fontes principais de recursos de terceiros são a colocação

de certificado de depósito bancário (CDB) e empréstimos contratados no país e

no exterior.

Os Bancos de Desenvolvimento constituem-se em instituições

públicas estaduais que tem como finalidade estimular o desenvolvimento

econômico e social da região onde atuam, através de empréstimos e

financiamentos, arredamento mercantil para empresas privadas.

As Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento, mais

conhecidas como financeiras, dedicam-se ao financiamento de bens duráveis

às pessoas físicas por meio de instrumento denominado Crédito Direto ao

Consumidor (CDC). Além de recursos próprios gerados por suas operações, a

principal fonte de recursos para estas instituições consiste no aceite e na

colocação de letras de câmbio no mercado (MOREIRA, 1999).

As Sociedades de Arrendamento Mercantil têm como objetivo

realizar operações de arrendamento mercantil de bens nacionais. Como

principal fonte de recursos, estas instituições contam com a emissão de

debêntures e obtenção de empréstimos.

As Cooperativas de Crédito são instituições são voltadas a

viabilizar créditos para seus associados, enquanto as Sociedades de Crédito

Imobiliário, dedicam-se ao financiamento de imóveis (MOREIRA, 1999).

As Associações de Poupança e Empréstimos também são

instituições financeiras que atuam na área habitacional, por meio de

financiamentos imobiliários.

Com a extinção do Banco Nacional da Habitação (BNH), o

sistema financeiro da habitação no Brasil passou a ser constituído pelas

instituições do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos, ou seja, a

Caixa Econômica Federal, Sociedades de Crédito Imobiliário, Associações de

Poupança e Empréstimos e Bancos Múltiplos. A captação de recursos deste

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18grupo de instituições se dá principalmente pelas cadernetas de poupança e

pelos fundos provenientes do FGTS (MOREIRA, 1999).

As Instituições Auxiliares são aquelas instituições que se

especializam na intermediação financeira no mercado de capitais, sem o poder

de emitir o seu próprio passivo.. Entre estas instituições, destaque para as

sociedades corretoras que são instituições financeiras que efetuam, com

exclusividade, a intermediação financeira nas Bolsas de Valores e as

sociedades Distribuidoras, que podem realizar quase todas as operações das

corretoras, exceto atuar na Bolsa de Valores.

Das Instituições não financeiras que pertencem ao Sistema

Financeiro Nacional (SFN), é importante citar as Sociedades de Fomento

Comercial (factoring) que são empresas comerciais não financeiras que

operam por meio de negociação de duplicatas, cheque, atuando de forma

similar ao um desconto bancário (MOREIRA, 1999).

Também devem ser consideradas nesta classificação as

companhias seguradoras, que são incluídas no SFN por terem obrigação de

aplicar parte de suas reservas técnicas no mercado de capitais.

1.5 – O mercado de crédito

Além de classificação apresentada no item anterior, as instituições

financeiras podem ser agrupadas segundo a característica das suas funções

de crédito, como descritas a seguir (FORTUNA, 2005):

• Instituições de crédito de curto prazo: bancos comerciais, caixa

econômica, bancos cooperativos, cooperativas de créditos,

bancos múltiplos de carteira comercial.

• Instituições de crédito de médio e longo prazo: bancos de

desenvolvimento, bancos de investimentos, caixa econômica,

bancos múltiplos com carteira de investimentos e

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19desenvolvimento, sociedades de credito ao microempreendedor,

agencias de fomento.

• Instituições de crédito e financiamento de bens de consumo

duráveis: sociedades de crédito, financiamento e investimentos –

financeiros, caixa econômica, bancos múltiplos com carteira de

aceite.

• Instituições de credito imobiliário: caixa econômica, associações

de poupança e empréstimos, sociedades de crédito imobiliário,

companhias hipotecárias, bancos múltiplos com carteira

imobiliária

• Instituições de intermediação no mercado de capitais: sociedades

corretoras, sociedades distribuidoras, bancos de investimentos,

bancos múltiplos com carteira de investimentos e agentes

autônomos de investimentos.

• Instituições de seguro e capitalização: seguradoras, corretoras de

seguros, entidades abertas de previdência complementar,

entidades fechadas de previdência complementar e sociedades

de capitalização.

• Instituições de arrendamento mercantil: sociedades de

arrendamento mercantil e bancos múltiplos com carteira de

arrendamento mercantil.

Nesta última classificação, algumas instituições, pertencem a dois

ou mais subgrupos, já que podem atuar em diferentes funções de crédito.

Entretanto, o mercado de crédito tem um significado mais restrito, sendo

aquele que tem como finalidade principal, suprir as necessidades de recursos

no curto e médio prazo dos agentes econômicos, concedendo crédito às

pessoas físicas e jurídicas.

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20

CAPÍTULO II

TÍTULOS DE CRÉDITO E SEU PAPEL NA ECONOMIA

MODERNA

O presente capítulo tem por objetivo apresentar os títulos de

crédito, suas características e seu papel na economia dos dias atuais, onde o

segmento econômico bancário funciona basicamente como um intermediário

entre os poupadores e os tomadores de empréstimo, dinamizando, assim, a

economia nacional.

2.1 – Aspectos Conceituais

2.1.1 – Crédito

O crédito é um desses artifícios que atestam a inventividade

humana. Inexistente na realidade física concreta, os seres humanos, ao longo

de sua evolução histórica, estabeleceu o conceito de crédito e sua prática

social, percebendo não apenas a necessidade de solucionar problemas

relativos à circulação de recursos, mas ainda a oportunidade de otimizar essa

circulação (MAMEDE, 2005).

Em linhas gerais, essa evolução tem por marco inicial o

desenvolvimento há milhares de anos de uma prática revolucionária entre os

humanos: em lugar de simplesmente disputar fisicamente o domínio de bens

que não se tinha, tentando subtraí-los dos que os detinham, negociá-los. Foi

deixado assim o estado de natureza, no qual impera a força física, a conquista,

para se ingressar em estágios mais afetos ao Direito; nesse novo período, os

seres humanos, individualmente ou coletivamente, aproximam-se na confiança

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do contrato, cada qual trazendo o que tinha em excesso e postulando o que

necessitava.

O escambo, que é essa troca de bens e, eventualmente, de

serviços por bens, foi um dos otimizadores do desenvolvimento material

humano e, com ele, seu desenvolvimento intelectual.

Os povos se concentraram na produção do que lhes sobrava,

sabendo que aquele excesso poderia ser comerciado e, assim, alcançariam o

que não tinham. E na oportunidade criada pelo desenvolvimento dessa

possibilidade, surgiram mercadores que faziam da movimentação dos

excedentes o motivo de sua riqueza (MAMEDE, 2005).

A moeda foi o coroamento desse processo evolutivo; o Estado

encarregava-se do trabalho de pesar unidades padrões de metal, de cuidar da

qualidade da liga empregada, atestando com uma cunhagem específica,

lembrando em muito os sinetes reais que eram usados nos documentos,

impressos sobre a argila ou sobre a laca, para atestar-lhes a veracidade, ou

seja, para torná-los oficiais.

O crédito insere-se nessa evolução, mas é necessário anotar na

formação do conceito, bem como da prática social correspondente, outros

elementos. Em sua forma mais primitiva, as relações humanas de negócios

tendem a serem imediatas: as partes estabelecem suas obrigações,

expressando sua vontade vinculativa e dando origem ao contrato, mas

executam-no no mesmo momento: cada qual cumpre o que lhe é devido e a

relação conclui-se num mesmo momento.

Observando os contratos atuais, pode-se verificar que um

expressivo número de relações concretizam-se assim, marcadas pela

imediatividade: o passageiro paga a passagem de ônibus e usufrui o serviço de

transporte, por exemplo.

Faz-se necessário haver confiança para que um dos contratantes

conclua sua parte no negócio e aceite que a outra conclua a sua num outro

momento, esteja esse definido ou não. O crédito nada mais é do que isso: a

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afirmação de uma faculdade jurídica, sendo que seu lado oposto, isto é, seu

anverso, é obrigação (MAMEDE, 2005).

A confiança jurídica, no entanto, exige cuidado. Como se lê no

Código de Hamurabi, editado no séc. XVIII a.C., “se um (mercador) emprestou

a juros (grão ou prata) sem testemunhas (nem contrato), ele perderá tudo (o

que) tiver emprestado”. A prova sempre foi um problema, pois é o meio pelo

qual se afere, entre duas versões, qual seria a verdadeira.

Portanto, um crédito que seja contestado por seu devedor pode

não ser exequível caso o credor não tenha como prová-lo. E a forma mais

confiável de provar uma obrigação é obter do devedor uma declaração de seu

dever, lembrando-se que as declarações constantes de documentos assinados

presumem-se verdadeiras em relação aos signatários.

2.1.2 – Título

Em sua origem latina, a palavra titulus traduz-se por inscrição,

como a que se coloca na capa de um livro, no pescoço de um escravo

condenado, num túmulo, como exemplos. Refere-se, portanto, ao texto que dá

identidade ou adjetivação à coisa, ao fato ou à pessoa.

O titular, via de consequência, é o beneficiário de um título, ou

seja, de uma inscrição. Essa base conceitual serve para o presente trabalho,

mas o português, por certo, mesmo aquele que serve de instrumental técnico,

oferece algumas dificuldades que merecem um exame mais aprofundado

(MAMEDE, 2005).

Duas interpretações básicas, uma larga e uma estrita, comporta a

palavra título. Na interpretação em sentido estrito, o termo guarda relações

diretas com a expressão física de um texto que adere à coisa ou à pessoa. Em

sentido estrito, constata-se, a ideia de título está muito próxima da necessidade

de representação física do sinal identificador ou qualificador.

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Em uma maior interpretação, vê-se que o termo perde lastro com

a ideia de inscrição fisicamente disposta, de texto materialmente sensível, ou

seja, de documento que se faz juntar à coisa, fato ou pessoa para marcar-lhe a

identidade ou um adjetivo. Um texto conhecido mesmo que não grafado, não

materializado, mas ainda assim capaz de dar identidade ou adjetivar uma

coisa, um fato ou uma pessoa, de rotulá-los (MAMEDE, 2005).

Entre todos os títulos possíveis, identificam-se alguns que

marcam a existência de fatos, ou seja, fatos que, amoldando-se às hipóteses

traçadas em lei, merecem um rótulo. Aquele que mantém o domínio sobre uma

coisa móvel ou imóvel é o titular de um direito de propriedade; assim, o título da

relação jurídica estabelecida é o de propriedade, ao qual corresponde um titular

que, para o caso específico, é chamado de proprietário.

Uma relação entre pessoas que seja titulada como relação

obrigacional conduz aos títulos de credo, para o que ocupa a posição ativa e de

devedor ou obrigado, para o que ocupa a posição passiva. Também se

emprega o termo título para identificar ou qualificar uma relação jurídica que

permite definir elementos fundamentais de sua natureza.

Assim, pode-se afirmar uma relação a título precário, a título

oneroso, a título universal, como exemplos. O sentido na expressão título de

crédito, contudo, não traduz um sentido largo do termo, mas aproxima-se de

seu sentido estrito.

Título é o documento, a inscrição materialmente grafada, para o

qual se usa por sinônimo a expressão papel, remetendo à base física de

sustentação da inscrição jurídica de um crédito, tanto quanto de um débito. O

título não é um mero documento, mas um instrumento representativo do

crédito; documento é o gênero e instrumento, a espécie.

Por documento tem-se qualquer registro material do fato jurídico,

a incluir a declaração assinada, sua cópia (presumindo-se verdadeira quando

autenticada), reproduções mecânicas e eletrônicas, como aceito pelo artigo

225 do Código Civil (BANDEIRA DE MELLO, 2004).

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O instrumento, no entanto, é um documento que foi

especialmente confeccionado para fazer a prova de um ato, a diferença entre

instrumento e documento está em que aquele é prova pré-constituída do ato,

este é prova meramente casual. Assim, uma carta pode ser instrumento ou

documento: é instrumento se ela foi criada para a prova da existência de uma

obrigação, com se, por exemplo, um comerciante se obriga a remeter a outro

uma partida de qualquer mercadoria; é documento se a sua criação não tinha

em vista servir de prova.

Neste sentido, vê-se que o título de crédito é um instrumento,

devendo atender às exigências legais para que seja válido e, perdendo sua

validade caso não atenda a essas balizas, no mínimo em função do que consta

do artigo 104, III, primeira parte, do Código Civil.

A invalidade do instrumento que faz a prova do crédito/débito, no

entanto, não se traduz em invalidade do próprio crédito/débito. Em fato, será

nula apenas a pretensão de construir um título de crédito, mas não a operação

econômica subjacente, servindo o documento que não preencha os requisitos

para o regime especial dos títulos de crédito, assim como para a

executabilidade processual, tal como lê-se no artigo 585 do Código de

Processo Civil, como prova escrita para a ação monitória, ou para ação de

cobrança, conforme eleição de rito feita pelo credor (BANDEIRA DE MELLO,

2004).

Neste caso, fala-se, então, em cártula, palavra empregada como

sinônimo do instrumento representativo do crédito, resumindo a operação às

informações essenciais para sua representação. Garante-se, assim,

simplicidade, necessária para a confiabilidade do documento no mercado,

permitindo sua circulação (BANDEIRA DE MELLO, 2004).

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2.2 – Taxionomia dos Títulos de Crédito

2.2.1 – Letra de câmbio

A letra de câmbio é um instrumento de declaração unilateral de

vontade, enunciada em tempo e lugar certos (nela afirmados), por meio da qual

uma certa pessoa (chamado sacado) pagará, pura e simplesmente, a certa

pessoa (chamada tomador), uma quantia certa, num local e numa data – ou

prazo – especificado ou não (BANDEIRA DE MELLO, 2004).

O título considera-se emitido quando o sacador nele apõe sua

assinatura, completando, assim, o ato unilateral de sacar o título. Trata-se de

um instrumento de câmbio muito antigo na história e que sofreu, ao longo dos

tempos, variações em seu regulamento legislativo, bem como na prática de sua

utilização.

Atualmente, o título encontra-se regulado por uma convenção

internacional, a chamada Lei Uniforme em Matéria de Letras de Câmbio e

Notas Promissórias, aprovada em Genebra nos anos 1930, e promulgada entre

nós por meio do Decreto nº 57.663/66. Supletivamente, aplicam-lhes as

normas do Decreto nº 2.044/08 que não conflitem com o vigente Código Civil

ou com a já referida Lei Uniforme, hipótese na qual estaria caracterizada a

derrogação de seu texto (BANDEIRA DE MELLO, 2004).

Como se pode aferir do conceito, para que um documento seja

caracterizado como letra de câmbio, exige a Lei Uniforme que o documento

contenha alguns elementos específicos. Esses elementos constituem requisitos

para sua validade e devem ser observados de acordo com as balizas que

estudaremos na sequência. São eles (MAMEDE, 2005):

• a palavra letra inserta no próprio texto do título e expressa na

língua empregada para a redação desse documento;

• o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;

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• o nome daquele que deve pagar;

• a época do pagamento;

• a indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;

• o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;

• a indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;

• a assinatura de quem passa a letra (sacador).

A letra de câmbio é o instrumento tradicional específico das

sociedades de crédito, financiamento e investimentos, sempre emitido cm base

numa transação comercial.

Podem ser emitido com taxas prefixadas, flutuante e pós-fixadas

em TR, TJLP ou TBF, pelos prazos mínimos de 60 dias e prazos máximos de

180 dias.

2.2.2 – Nota Promissória

A nota promissória é um título de crédito que documenta a

existência de um crédito líquido e certo, que se torna exigível a partir de seu

vencimento, quando não emitida a vista. É um instrumento autônomo e

abstrato de confissão de dívida, emitido pelo devedor que, unilateralmente e

desmotivadamente, promete o pagamento de quantia em dinheiro que

especifica, no termo assinalado na cártula (MAMEDE, 2005).

Cabe frisar, por ser título que prescinde da investigação de sua

causa (causa debendi), bastando como prova do ato unilateral de confessar-se

obrigado ao pagamento indicado.

Há, portanto, um corte entre sua emissão e o negócio

fundamental ao qual, eventualmente, tenha servido; basta a verificação do

vencimento para que seu portador, apresentando-a e nada mais, possa exigir a

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satisfação do crédito anotado. Isso seja para o devedor principal, seja para os

devedores solidários.

Ao contrário da letra de câmbio, na promissória há uma confissão

de dívida, ou seja, a promessa de pagamento é feita pelo próprio devedor, o

emitente, a favor de um credor nomeado ou não, e que poderá, em regra, ser

saldada contra a apresentação do documento, a favor de quem se apresente

na posse legítima do título.

A nota promissória, portanto, é um título de curto prazo, com

vencimento definido, emitido por instituições não financeiras, sem garantia real,

podendo ser garantido por fiança bancária, e negociável em mercado

secundário.

O prazo mínimo deve ser 30 dias e o prazo máximo, de 180 dias,

para sociedades anônimas de capital fechado, e 360 dias para sociedade

anônimas de capital aberto. Podem ser remuneradas por taxas prefixadas,

flutuantes e pós-fixadas. (FORTUNA, 2005)

A emissão deve ser feita de uma vez, não admitindo séries, como

é feito nas debêntures.

O custo de colocação para o emissor alto, comparando com

alternativas de mercado de mercado, pois empresa deverá contratar um agente

colocador, que obrigatoriamente, tem de ser uma instituição integrante do

sistema de distribuição de valores mobiliários. Uma desvantagem da nota

promissória em relação a debênture é que não é permitido, em caso de

liquidação antecipada, que a empresa carregue o título em tesouraria,

excluindo do emissor a participação no mercado secundário

2.2.3 – Debêntures

Debênture é um título emitido apenas por sociedades anônimas

não-financeiras de capital aberto ou fechado, sendo que as de capital fechadas

somente poderão colocá-las, através de uma colocação direta. Já sociedades

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de capital aberto poderão colocá-las através de uma colocação públicas. As

sociedades de arrendamento mercantil e as companhias hipotecárias estão

autorizadas a emiti-las, com garantia de seu ativo e com ou sem garantia

subsidiária da instituição financeira, que as lança no mercado para obter

recursos de médio e longo prazos, destinados normalmente a financiamento de

projetos de investimentos ou alongamento do perfil do passivo. A emissão e as

condições de emissão são deliberadas em AGE.

A emissão poderá ser por séries, como forma de adequar o

montante de recursos às necessidades de caixa da empresa ou à demanda de

mercado. Elas garantem ao comprador uma remuneração certa num prazo

certo, não dando, como rege, direito de participação nos bens ou lucros da

empresa (MAMEDE, 2005). Podem ser remuneradas com base em taxas

prefixadas, pós-fixadas atreladas a indicadores de juros e índices de inflação.

Não podem ser remuneradas com base me variação cambial.

Enfim, correspondem a um empréstimo que o comprador do título

faz à empresa emissora. Basicamente, uma debênture é uma forma de

financiamento através de empréstimo a longo prazo (CANO, 2006).

Os compradores de debêntures são credores que esperam

receber juros periódicos e reembolso específico do principal, valor nominal da

debênture, na data do seu vencimento.

Como envolve milhões de reais, que são obtidos com a venda de

partes de dívida a inúmeras pessoas, são necessários certos requisitos legais

para proteger os compradores de debêntures. As duas formas principais pelas

quais os possuidores de debêntures estão legalmente protegidos são por

intermédio da escritura de emissão e dos agentes fiduciários.

A colocação de uma debênture no mercado pode ser direta ou por

oferta pública. Na colocação direta, a debêntures é vendida diretamente a um

comprador ou grupo de compradores, sem haver mercado secundário para

elas.

Já a oferta pública gera mercado secundário, sendo necessário

cumprir uma série de exigências da CVM para que a oferta seja autorizada.

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Apesar da debênture ser um instrumento muito utilizado para captar recursos

com finalidade de longo prazo, devido a complexidade do processo de emissão

e repactuação, só a torna viável às empresas de grande porte.

2.2.4 – Warrant e certificado de depósito

São títulos de crédito à ordem emitidos sobre mercadorias em

depósitos nos armazéns gerais, empresas que têm por escopo a guarda e a

conservação das mercadorias neles depositadas mediante o pagamento de

determinado preço (MAMEDE, 2005) .

O Certificado de depósito - CD -, é a prova do contrato de

depósito mercantil, representando as mercadorias depositadas, quer esteja

unido ou separado do Warrant.

Quando unido, atribui a livre disposição dos bens, o que não

ocorre quando separado, em virtude do penhor que sempre acompanha o

Warrant.

O Warrant - W – é emitido junto ao CD, destinando-se a eventuais

operações de crédito cuja garantia seja o penhor das mercadorias. Quando

unido, atribui ao portador a livre disposição dos bens. Quando separado,

refere-se ao valor e ao crédito sobre as mercadorias, conferindo ao portador

um direito real de penhor sobre as mesmas (TÁCITO, 2005).

O endosso do Warrant irá transferir ao endossatário o direito

deste penhor. O endosso do CD atribui ao endossatário a propriedade das

mercadorias, ressalvados os direitos do credor pignoratício, portador do

Warrant. A propriedade plena sobre as mercadorias, livre e desembaraçada de

quaisquer ônus real, somente será transferida com o endosso conjunto em

ambos os títulos. Para as mercadorias servirem de base à emissão dos títulos,

devem ser seguradas contra riscos de incêndio no valor designado pelo

depositante.

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As mercadorias depositadas somente poderão ser retiradas

mediante a devolução conjunta dos dois títulos ao armazém geral emissor, que

então irá conferir ao portador a propriedade livre e plena das mercadorias

depositadas. Apenas o Warrant, se vencido e não pago, poderá ser objeto de

protesto judicial. A Lei 11.076, de 30/12/04, criou e estabeleceu dispositivos

específicos para a emissão, registro e circulação dos CD Agropecuário – CDA,

e dos Warrant Agropecuário – WA (TÁCITO, 2005).

2.2.5 – Cédula de Crédito Bancário

Com a edição da Medida Provisória nº 1.925/99 (BRASIL, 1999),

depois convertida em Medida Provisória nº 2.160-25/01 (BRASIL, 2001), criou-

se no Direito Brasileiro uma nova modalidade de título de crédito: a cédula de

crédito bancário, atualmente regulada pela Lei nº 10.931/04 (BRASIL, 2004),

que a define, em seu artigo 26, como título de crédito emitido, por pessoa física

ou jurídica, em favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada,

representando promessa de pagamento em dinheiro, decorrente de operação

de crédito, de qualquer modalidade (SOUTO, 2005).

A instituição credora deve integrar o Sistema Financeiro Nacional,

sendo admitida a emissão da Cédula de Crédito Bancário em favor de

instituição domiciliada no exterior, desde que a obrigação esteja sujeita

exclusivamente à lei e ao foro brasileiros, hipótese para a qual se admite a

emissão em moeda estrangeira (SOUTO, 2005).

A exemplo das demais cédulas e notas de crédito, a cédula

bancária é um título causal, surgido de negócio jurídico necessário: uma

operação dada no sistema financeiro, embora não haja tematização desse

financiamento, podendo, inclusive, dizer respeito aos setores para as quais se

previram cédulas temáticas: rural, comercial, industrial, exportação.

O legislador não teve o cuidado de diferenciar a cédula da nota de

crédito bancário, referindo-se apenas à primeira: cédula de crédito bancário

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com ou sem garantia, real ou fidejussória, cedularmente constituída, ou seja

estipulada no corpo do próprio título que, como já visto, apresenta estrutura de

um contrato, com estipulações anotadas em cláusulas, devendo respeitar a

legislação comum sobre a garantia utilizada, por exemplo, o Código Civil, em

se tratando de hipoteca ou penhor (SOUTO, 2005).

Se não houver a garantia, o título terá natureza e eficácia de nota

de crédito, ainda que o legislador não tenha utilizado tal nomenclatura. De

resto, a cédula de crédito bancário de conter os seguintes requisitos

essenciais, listados no artigo 29 da Lei nº 10.931/04 (BRASIL, 2004):

• a denominação Cédula de Crédito Bancário; o legislador não

exigiu que a expressão conste expressamente do texto do

próprio título; todavia, deve-se interpretar como requisito

essencial, evitando-se, assim, que o devedor seja induzido a

erro, não compreendendo a exatidão da declaração de crédito

que faz;

• a promessa do emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa,

líquida e exigível no seu vencimento ou, no caso de dívida

oriunda de contrato de abertura de crédito bancário, a promessa

do emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa, líquida e

exigível, correspondente ao crédito utilizado;

• a data e o lugar do pagamento da dívida e, no caso de

pagamento parcelado, as datas e os valores de cada prestação,

ou os critérios para essa determinação;

• o nome da instituição credora, podendo conter cláusula à ordem;

• a data e o lugar de sua emissão; e

• a assinatura do emitente e, se for o caso, do terceiro garantidor

da obrigação, ou de seus respectivos mandatários (SOUTO,

2005).

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A Cédula de Crédito Bancário será emitida por escrito, em tantas

vias quantas forem as partes que nela intervierem, assinadas pelo emitente e

pelo terceiro garantidor, se houver, ou por seus respectivos mandatários,

devendo cada parte receber uma via. Somente a via do credor será negociável,

devendo constar nas demais vias a expressão não negociável (MAMEDE,

2005).

Se as partes acordarem, livre e conscientemente, a alteração das

cláusulas ajustadas, o artigo 29, § 4º, da Lei nº 10.931/04 permite que a cédula

seja aditada, retificada e ratificada mediante documento escrito, datado, e que

deverá atender aos requisitos genéricos do título, ou seja, deverá trazer todas

as informações essenciais do título, deixando claro dizer respeito à cártula que

passará a integrar para todos os fins.

Segundo o artigo 28 da Lei nº 10.931/04 (BRASIL, 2004), a

cédula de crédito bancário é título executivo extrajudicial e representa dívida

em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo

saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta

corrente.

A questão, todavia, não é assim tão simples; como se afere do

artigo 29, II, da mesma Lei, no que se refere ao valor do título, duas hipóteses

distintas se colocam: em primeiro lugar, a cédula poderá trazer a promessa do

emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível no seu

vencimento; é o que se tem no chamado contrato de abertura de crédito fixo,

no qual um valor determinado é colocado à disposição do devedor, depositado

em sua conta bancária, devendo esse efetuar o pagamento em certo prazo ou

termo, incluindo-se a possibilidade de pagamento em parcelas (SUNDFELD,

2006).

A cédula de crédito bancário, nesses casos, traz valor certo, e sua

liquidez é fruto de mera operação aritmética: o valor do mútuo e seus

acréscimos contratados, juros remuneratórios, correção monetária,

eventualmente subtraídos de parcelas pagas.

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Em oposição, o mesmo artigo e inciso permitem que a cédula de

crédito bancária traga a promessa do emitente de pagar a dívida em dinheiro,

certa, líquida e exigível, “correspondente ao crédito utilizado”, no caso de dívida

oriunda de contrato de abertura de crédito bancário (SUNDFELD, 2006).

Essa licença legal para que as cédulas não tragam um valor de

base criará, por certo, uma dificuldade para a instituição financeira credora,

pois exigirá dela que apresente um valor certo e líquido para o débito, sem

contar com um valor do qual partirão seus cálculos. Não é de todo impossível

chegar-se a um valor certo e líquido em tal cenário, mas, certamente, é

bastante difícil. Se o credor não consegue fazê-lo, mormente quando seus

cálculos se escorem em elementos e fatos externos à relação, impugnados

pelo devedor, esvair-se-ão a necessária certeza e segurança na formação do

quantum debeatur que permitem a execução de títulos extrajudiciais

(SUNDFELD, 2006).

Para dar solução a esse problema, o artigo 28, § 2º, da Lei nº

10.931/04 estipulou que, sempre que necessário, a apuração do valor exato da

obrigação, ou de seu saldo devedor, representado pela cédula de crédito

bancário, será feita pelo credor, por meio de planilha de cálculo e, quando for o

caso, de extrato emitido pela instituição financeira, em favor da qual a cédula

de crédito bancário foi originalmente emitida, documentos esses que integrarão

o título, observado que (SUNDFELD, 2006):

• os cálculos realizados deverão evidenciar de modo claro, preciso

e de fácil entendimento e compreensão, o valor principal da

dívida, seus encargos e despesas contratuais devidos, a parcela

de juros e os critérios de sua incidência, a parcela de atualização

monetária ou cambial, a parcela correspondente a multas e

demais penalidades contratuais, as despesas de cobrança e de

honorários advocatícios devidos até a data do cálculo e, por fim,

o valor total da dívida; e

• a cédula de crédito bancário representativa de dívida oriunda de

contrato de abertura de crédito bancário em conta corrente será

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emitida pelo valor total do crédito posto à disposição do emitente,

competindo ao credor, nos termos deste parágrafo, discriminar

nos extratos da conta corrente ou nas planilhas de cálculo, que

serão anexados à Cédula, as parcelas utilizadas do crédito

aberto, os aumentos do limite de crédito inicialmente concedido,

as eventuais amortizações da dívida e a incidência dos encargos

nos vários períodos de utilização do crédito aberto.

Esses parâmetros, todavia, não resolvem a questão; em primeiro

lugar, em se tratando de contrato de abertura de crédito em conta corrente,

tende-se a encontrar lançamentos diversos na formação do principal da dívida;

esses lançamentos diversos corresponderiam, ao menos em tese, ao dinheiro

que pretensamente foi entregue, em mútuo, pela instituição credora ao

devedor.

A impugnação de qualquer desses elementos implicaria a

transformação da via executiva em rito de conhecimento, ainda que no âmbito

dos embargos do devedor, subvertendo completamente a lógica do Processo

Civil Brasileiro.

Não se trata de problema que se resolva refazendo-se as contas;

refiro-me à verificação de cada lançamento que formou o principal da dívida:

cheques emitidos, contas pagas pelo sistema de débito automático, saques

que teriam sido feitos em caixas eletrônicos, transferências eletrônicas,

cobrança, devida ou indevida, por serviços bancários etc.

Se o devedor embarga a execução colocando questões dessa

ordem, exercendo o seu direito constitucional à defesa, não haverá alternativa

ao reconhecimento da incerteza do título: incerteza quanto ao valor e, mesmo,

incerteza sobre a exigibilidade dos elementos trazidos como formadores da

dívida.

Os embargos serão julgados procedentes, exigindo-se da

instituição financeira que recorra ao procedimento monitório ou à ação de

cobrança para que ali sejam discutidos todos os pontos sobre os quais as

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partes não acordaram, provando-os satisfatoriamente. Entender o contrário

seria atribuir a entes privados uma fé pública que, entre nós, detém o Estado e

seus agentes, mesmo assim, não raro, merecendo revisão pelo Judiciário,

diante dos abusos que se verificam.

De qualquer forma, para além da questão relativa à formação do

principal da dívida, resta o problema dos acessórios certo que, como visto, o

legislador foi pródigo ao autorizar a incidência de encargos. A planilha juntada

à cédula de crédito bancário deverá ser inquestionavelmente clara, permitindo

a fácil compreensão de como se chegou ao valor da dívida executada. Isso fica

claro do próprio texto do artigo 28, § 2º, I, da Lei nº 10.931/04, que ao se referir

aos encargos e despesas contratuais devidos, bem como à parcela de juros, é

expresso em exigir que sejam igualmente esclarecidos os critérios de sua

incidência.

Não satisfazem à lei, via de consequência, lançamentos que

simplesmente listem o acessório e o respectivo valor; não basta dizer: “Juros

remuneratórios; R$ 345.693,59.” Cada lançamento deverá especificar os

critérios de exigibilidade, bem como a maneira como incidiu nos cálculos:

percentual, forma como se contabilizou etc. Tudo que permita ao julgador

compreender, inequivocamente, a formação do total da dívida. Se o legislador

não consegue compreender essa formação, se não consegue compreender

como se formou aquele acessório ou se não consegue refazer, com uma

simples calculadora, as contas, chegando ao mesmo valor, não haverá

liquidez, o que, pelo sistema do Código de Processo Civil, determina a extinção

da execução, inclusive, conforme o caso, pelo provimento da exceção de

executividade.

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36

CAPÍTULO III

A CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO COMO

ALAVANCADOR DO CRÉDITO PRIVADO NO BRASIL

O presente capítulo objetivou apresentar argumentos textuais

plausíveis e de cunho cientifico e legal, acerca da cédula de Crédito Bancário -

CCB como sendo um instrumento de título de crédito, capaz de alavancar o

crédito privado no Brasil.

Azevedo (1998) constata que a criação da cédula de crédito

bancário é iniciativa louvável que teve o propósito de desonerar as operações

de crédito, restabelecer a harmonia e a confiança que deveriam reinar entre

credor e devedor, através da criação de um:

Instrumento forte, cercado de credibilidade e que fixe de

forma clara e objetiva as obrigações e os direitos das

partes: do tomador, de que as condições contratuais

serão estritamente observadas pelo credor,

especialmente a forma de incidência e apuração dos

encargos contratuais, e do credor, de que esse reaverá o

capital empregado – fruto das suas movimentações de

créditos... Isso é que estabelece o verdadeiro equilíbrio

não só contratual, mas de direitos.

Inspirando-se nas Cédulas de Crédito já reguladas em leis

anteriores, a MP 1925/99 (atual MP 2.160-25/2001) criou a Cédula de Crédito

Bancário como título de crédito, ou seja, documento escrito, cujo conteúdo e

forma são rigorosamente prescritos pela lei, capaz de circular com segurança e

preservando a boa-fé daqueles que o adquirem, e de conferir a seu titular ação

executiva para receber o crédito nele mencionado.

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A opção do Executivo Federal foi sábia em razão das extensas

semelhanças que unem essas subespécies de títulos de crédito, peculiares

pelo fato de poderem abrigar operações de crédito que se protraem no tempo,

através de prestações periódicas que diminuem o saldo devedor declarado no

título e de novas liberações de recursos que recompõem o limite do crédito,

dito, por isso, rotativo.

Nada mais razoável, e mesmo racional, que se valesse o Estado

de um instrumento testado e aprovado pelo mercado e pelo Judiciário, e

plenamente adequado às características concretas das volumosas operações

de abertura de crédito. Ademais, a criação de mais uma espécie de título de

crédito dotado de força executiva insere-se no contexto político que tem

favorecido, há décadas, a efetividade e a celeridade da prestação jurisdicional,

e que, mais recentemente, tem motivado amplas reformas no Código de

Processo Civil.

3.1 – O tratamento legal das cédulas de crédito

Paralelo ao texto da MP nº 2.160-25/2001, pode-se destacar o

momento econômico vivido e justificar a necessidade de se dotar o mercado

financeiro de liquidez, de acordo com a citação de Aragão (2000, p.275):

Há muito tempo, o mercado financeiro necessita de um

título de crédito que espelhe com realidade as relações

jurídicas entre as instituições financeiras e seus clientes e

que, principalmente, torne a formalização das diversas

operações de crédito menos onerosa e complicada,

conferindo maior flexibilidade e agilidade na mobilização

do crédito, cumprindo assim, com a extraordinária função

econômica para a qual foi concebida a primeira cédula,

inspirada na legislação Italiana, especificamente na

‘Cambiale Agrária’, utilizada na concessão de crédito para

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a atividade agropecuária, matéria de que cuidou o

Decreto-lei real n.º 1.509, de 24 de julho de 1927 (que

disciplinou o crédito agrário), regulamentado pelo Decreto

Ministerial de 23 de janeiro de 1928, decreto esse que foi

convertido na LEGGE 5 luglio 1928, n.º 1.760.

Em razão das características das transações financeiras atuais,

que se revestem, na grande maioria das vezes, da forma de contratos de

crédito rotativo, era preciso idealizar um modelo de título de crédito que se

adaptasse à evolução do saldo devedor, satisfatoriamente flexível, mas ao

mesmo tempo seguro para ambas as partes, credora e devedora.

Entretanto, não precisava inovar, revolucionar o campo dos títulos

de crédito, para dar solução ao caso concreto. Aliás, confessa a Exposição de

Motivos que as cédulas de crédito não são nem mesmo criação genuinamente

brasileira, pois têm inspiração no direito italiano, qual seja, a cédula agrária

criada no fim do Século XIX.

Não havia, pois, novidades nunca dantes enfrentadas. Ao

contrário, a estrutura dos contratos rotineiros de abertura de crédito utilizados

sob denominação de limite de cheque especial já é, há décadas, empregada

em outras espécies de operações de crédito bancárias servidas por títulos de

créditos criados em leis específicas. Trata-se das Cédulas de Crédito Rural,

Industrial, Comercial e à Exportação.

O incentivo legal ao financiamento bancário dos diversos

segmentos da atividade econômica relevantes ao desenvolvimento nacional se

deu, no século passado, através da criação de modernos títulos de crédito,

concebidos não como documentos de mútuo, mas de abertura de crédito, ora

com garantia real, ora com garantia fidejussória, ora sem qualquer garantia, a

não ser a própria responsabilidade pessoal do creditado.

Foi assim que surgiram as cédulas de crédito rural (Dec.-Lei nº

167, de 14.2.67), as cédulas de crédito industrial (Dec.-Lei nº 413, de

09.01.69), a cédula de crédito à exportação e a nota de crédito à exportação

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(Lei n.º 6.313, de 16.12.75) e a cédula de crédito comercial e a nota de crédito

comercial (Lei n.º 6.840, de 03.11.80).

A partir do final da década de 30, quando o governo resolveu

incrementar o financiamento da produção agropecuária do País, o contrato de

abertura de crédito com garantia de penhor rural foi o grande instrumento

jurídico utilizado para implemento da política creditícia oficial.

Esses contratos, amparados na Lei n.º 492, de 30.08.1937,

sempre gozaram da força executiva, muito embora não fossem instrumento de

mútuo, e sim de abertura de crédito. As execuções, desde então, se baseavam

no conjunto do contrato de abertura de crédito e na conta gráfica da utilização

do numerário posto à disposição do creditado. Essa prática foi intensivamente

observada pelas Carteiras de Crédito Agrícola do Banco do Brasil e de outros

estabelecimentos de crédito engajados no sistema de assistência creditícia aos

produtores rurais, durante duas décadas, sem que ninguém pusesse em dúvida

a força executiva dos contratos utilizados.

A liquidez e exequibilidade de tais títulos eram tão evidentes, que

o exemplo do crédito rural foi logo transplantado para o financiamento da

indústria, tendo sido criados vários tipos de penhor industrial para garantir

contratos de abertura de crédito similares aos que primeiramente se

conceberam para a atividade campesina.

Quando o volume dos financiamentos rurais e industriais atingiu

uma dimensão que se embaraçava na complexidade dos contratos tradicionais,

o legislador procurou criar títulos de crédito que os substituíssem e que se

revestissem dos atributos da cartularidade própria das cambiais, os quais,

porém, não deveriam afastar a essência da operação de financiamento, que se

situava no mecanismo da abertura de crédito.

Depois de uma curta experiência com as cédulas da Lei 3.253, de

27.08.1957, o crédito rural passou a basear-se, fundamentalmente, nas

cédulas de crédito rural instituídas pelo Dec.-Lei n.º 167, de 14.02.1967. Pouco

tempo depois, a experiência seria transplantada para o financiamento da

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indústria, criando-se a cédula de crédito industrial, à imagem e semelhança da

cédula de crédito rural.

Mais tarde, a mesmíssima concepção de título de crédito viria a

ser adotada pelas Leis n.ºs 6.313, de 16.12.1975, e 6.840, de 3.11.1980, na

criação de títulos especiais para as operações de financiamento à exportação e

ao comércio. Surgiram, assim, nos mesmos padrões da cédula de crédito rural,

a cédula de crédito à exportação e a cédula de crédito comercial.

De fato, a iniciativa do Presidente da República ao editar a MP

1925/1999 não contrasta com a evolução histórica dessa área do direito e da

economia. Representa, isso sim, evolução natural do pensamento e da

ideologia presentes.

Conclui-se, pois, que a cédula bancária é mais um capítulo na

evolução de um gênero: cédulas de crédito e, como tal, tudo aquilo que já se

estudou, ensinou, ou decidiu em sede pretoriana, sobre a natureza, o regime

jurídico, as regras gerais e os princípios norteadores das demais cédulas de

crédito se aplica também às cédulas de crédito bancário.

3.2 – A liquidez e certeza da cédula de crédito bancário

Embora a dívida do financiado não se constitua pela assinatura ou

emissão da cédula, mas pela posterior utilização do crédito aberto, a lei

considera que a cédula de crédito, qualquer que seja a sua espécie, já é

“promessa de pagamento” (Dec.-Lei nº 167, art. 9º; Dec.-Lei nº 413, art. 9º, MP

n.º 2.160-25, art. 1.º) e que, após a utilização do crédito, configura, para o

financiador, “título líquido, certo e exigível” (Dec.-Lei nº 167, art. 10; Dec.-Lei nº

413, art. 10; MP nº 2.160-25, art. 3º).

A utilização do crédito aberto, portanto, é o negócio subjacente

que justifica o título de crédito, existente em qualquer das cédulas em exame,

título que, sem embargo de suas peculiaridades, apresenta “as características

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e prerrogativas das cambiais, ou seja, literalidade, autonomia e capacidade de

serem transferidos mediante endosso”.

Segundo Mattos (2006, p.93), são as cédulas títulos de crédito:

(...)específicos, líquidos e certos, semiformais,

confessórios, causais e incorporantes de obrigações, com

ou sem garantia cedularmente constituída”. Por isso,

“podem ser avalizadas e transferidas pelo endosso,

aplicando-se-lhes, no que for cabível, as normas da

legislação cambial.

Uma vez que a obrigação do financiado será cobrável pelo saldo

do crédito utilizado, acrescido de juros e despesas, Justen Filho (2000, p.78)

observa que uma das peculiaridades das cédulas reside em que: o título

poderá ser exigível não pela importância no mesmo mencionada, mas por

importância diversa, não prevalecendo, portanto, o princípio da literalidade,

característico dos títulos de crédito em geral .

Tanto no financiamento rural como no industrial e na cédula de

crédito bancário, o título importa no ajuste segundo o qual “o financiador abrirá

um crédito em favor do financiado, o que é feito através de uma conta

vinculada à operação, que o financiado movimentará por meio de cheques,

saques, recibos, ordens, cartas, ou quaisquer outros documentos, na forma e

no tempo previstos”. Mesmo assim, a lei considera que o emitente da cédula,

pelo simples fato de tê-la subscrito já está contraindo com o agente financiador

uma “promessa de pagamento em dinheiro”.

O fato de se tratar de negócio de abertura de crédito fixo ou em

conta-corrente, não desnatura o título executivo, justamente porque há uma

conta vinculada ao negócio de financiamento onde se encontrará o montante

líquido e certo do crédito utilizado pelo financiado. Nesse sentido, é como

coloca Vasconcelos (2000, p.157):

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Embora sejam as Cédulas de Crédito Rural títulos civis

líquidos e certos, a determinação de seu valor depende

de prévia apuração, porque a utilização do crédito poderá

ser feita parceladamente e a elas poderão ser acrescidos

juros, comissão de fiscalização e outras despesas

indispensáveis à segurança, regularidade e realização do

direito creditório; além disso, admitem as cédulas a

convenção de amortizações periódicas, cuja importância

deverá ser abatida do valor do título.

Em suma, a lei consagra, de maneira claríssima, a convivência

plena entre o negócio da abertura de crédito e os mais modernos e numerosos

títulos de crédito, atribuindo à simbiose entre os dois institutos a categoria de

título executivo extrajudicial complexo, graças à reunião das cédulas,

“promessa de pagamento”, com a conta gráfica, forma de revelar o “crédito

utilizado” e o “montante a restituir”.

A estrutura é comum a todas essas cédulas, quando vinculadas a

uma operação de abertura de crédito, ou seja: um instrumento inicial abre o

crédito, fixando seu valor, determinando a forma de utilização e o prazo de

pagamento, tudo representado por uma conta gráfica, escriturada na

contabilidade do agente financiador, onde se determina o saldo devedor do

financiado, representativo de sua dívida líquida, certa e exigível no devido

tempo.

O creditador não lança o que quer na conta-corrente, mas apenas

o que a cédula o autoriza a lançar. O que cria a obrigação de restituir para o

creditado não é o extrato, é o título de crédito, cujo teor previa a utilização de

certa soma com a obrigação de restituí-la, na forma e tempo bilateralmente

ajustados. O crédito, que era líquido e certo na abertura, transforma-se em

débito também líquido e certo, após a utilização feita pelo creditado. Tudo

remonta à cédula e nela encontra justificativa para a certeza da relação

obrigacional e para a liquidez da quantia a ser restituída.

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Explica Oliveira (2004) que a conta gráfica ou planilha de cálculo

da cédula é:

o instrumento que confere a certeza e liquidez da dívida,

não só para o credor, mas também e principalmente para

o tomador. Com efeito, com uma simples leitura, sem o

auxílio de técnicos ou experts, mediante utilização da

simples aritmética, com aplicação das quatro operações

básicas, portanto, de fácil intelecção, apuração e

conclusão, poder-se-á entender a forma de incidência dos

encargos (OLIVEIRA, 2004, p. 256).

Se o legislador não encontrou obstáculo algum para definir as

cédulas de financiamento da agricultura, indústria, comércio e exportação como

títulos executivos, no quadro que se acaba de retratar, à evidência não se pode

recusar à cédula de crédito bancário, criada por Medida Provisória e

expressamente declarada título executivo líquido, certo e exigível, emitida em

razão dos usuais negócios de abertura de crédito, tão largamente difundidos no

comércio bancário.

Não é, por outro lado, a cédula de crédito o único título de crédito

que se integra por atos e documentos posteriores ao originário instrumento do

acordo de vontades. Moraes (1999, p. 258) já constatara que:

a executividade dos títulos extrajudiciais também não se

acha sempre visceralmente vinculada à manifestação do

devedor, como na cambial; cheque; documento público;

contrato de hipoteca; etc. Às vezes decorre da própria

natureza jurídica da qual se origina a obrigação exigida.

Presume-se que o credor não se arriscaria a inventar o

fato, sendo fácil ao devedor provar o contrário, embora

com o ônus de ter de fazê-lo por via apenas de embargos,

sujeitando-se, assim, à penhora para poder defender-se

(MORAES, 1999, p. 258).

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Assim, por exemplo, a duplicata sem aceite torna-se título

executivo, líquido e certo, quando o sacador comprova ter entregue a

mercadoria no local de destino, sem que a lei exija que o sacado sequer tenha

assinado o recibo respectivo (Lei nº 5474, de 18.7.68, art. 15, nº II).

Também, o contrato de compra e venda, que tem como

elementos essenciais a coisa, o preço e o consenso, não perde sua eficácia,

nem tem diminuída sua força jurídica de obrigar o comprador a pagar o preço a

que tem direito o vendedor, quando o negócio contenha a previsão de que o

respectivo quantum será arbitrado por terceiro (Cód. Civil, art. 1123; NCC, art.

485) ou quando será determinado pela taxa do mercado ou da bolsa (Código

Civil, art. 1124; NCC, art. 486).

Nestes e em muitos outros casos similares, o ato de terceiro que

determina o aperfeiçoamento da obrigação, embora não contenha em si uma

nova declaração bilateral de vontade, já se acha, desde a origem, vinculado ao

contrato e sofre todo o impacto de certeza e liquidez que o negócio bilateral

previu.

Portanto, uma vez que a cédula de crédito bancário tenha

instituído a respectiva conta de movimento e tenha estabelecido o que nela

poderá ser lançado, definido estará a liquidez do respectivo saldo.

Essa liquidez não decorre diretamente dos lançamentos da conta

gráfica em si, mas advém da promessa de pagamento feita no título de crédito,

na forma da lei. É o consenso literalmente reproduzido na cédula que cria a

dívida e não o ato unilateral do credor.

Diante das previsões claras e precisas dos encargos no título de

crédito, os lançamentos da conta gráfica não passam de demonstrativo das

operações aritméticas capazes de revelar o saldo devedor oriundo da cédula

de crédito bancário. E como já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, acerca

de cédula rural, “a dívida não deixa de ser líquida, se precisa, para saber em

quanto importa, de simples operação aritmética”.

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As planilhas de cálculo ou contas gráficas, por espelharem as

retiradas e lançamentos previstos na cédula de crédito bancário, fonte da

abertura de crédito, não dependem, para sustentar a execução, de perícia ou

outras provas que justifiquem o débito do financiado. Justamente porque tal

conta é parte integrante do negócio ajustado entre creditador e creditado.

Justamente porque a conta gráfica do financiamento já tem a

função de revelar o quantum da dívida do creditado, é que o Superior Tribunal

de Justiça considerou, ser descabido o requerimento do executado de

“requerer perícia que encerre pretensão de remessa dos autos ao contador

judicial para que esse, segundo sua interpretação do contrato e das normas

legais que repute pertinentes, elabore conta que se preste ao cotejo com a

elaborada pela parte exequente”.

Nessa mesma linha de entendimento, a possibilidade de o

financiado impugnar o quantum cobrado pelo financiador não impede o

ajuizamento da execução porque:

Não retira a liquidez e a certeza do débito objeto da

execução, desde que não seja ilíquida a dívida principal

constante do título, o fato de encontrar-se representado

pelo demonstrativo de saldo devedor, elaborado

unilateralmente pelo credor e nos termos do art. 4º do

Dec.-Lei nº 167, de 14.2.67.

Embora represente uma abertura de crédito e não um mútuo

previamente consumado, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal

sempre proclamou que: “a cédula de crédito industrial não é título abstrato, mas

promessa de pagamento com garantia real, constituída contratualmente”.

Outrossim é interessante observar que, o devedor punha sob

discussão o quantum da execução, mas não o financiamento que se lhe

concedera sob abertura de crédito cedular, e desta forma cabe as seguintes e

oportunas observações:

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Em execução da cédula industrial, os acessórios

juntamente com o principal constituem a dívida líquida e

certa, nos termos do art. 10 do Dec.-Lei 413, de 1969 e do

Dec.-Lei 911, de 1969. De regra, quem exibe o título, é

credor do valor nele constante. Essa presunção decorre

da própria natureza do título... Se o devedor vier a alegar

que emitiu o título mas não recebeu o dinheiro do

empréstimo, aí sim será admissível a produção de provas.

Não havendo negativa do débito, o título vale por si só.

Apesar de ser recente sua criação, a Cédula de Crédito Bancário

já tem sido objeto de pronunciamento dos tribunais, que não lhe têm recusado,

de regra, força executiva, como provam os seguintes arestos dos Tribunais:

...não nos paira dúvida que o título em questão se trata de

um título de crédito extrajudicial que, conforme legislação

pertinente, acresceu-se aos títulos executivos

estabelecidos no artigo 585 do Código de Processo Civil.

A Cédula de Crédito Bancário trata-se de uma promessa

de pagamento em dinheiro, representativa de qualquer

modalidade de operação bancária ativa, seja abertura de

crédito, mútuo, financiamento, desconto, constitui um

título executivo que enseja ação de execução e não de

conhecimento. Ressalta-se, ainda, que a liquidez que

embasa a executividade do título decorre tanto da

menção de valor certo no próprio documento como de

extrato de conta corrente bancária ou planilha de cálculos

emitidos pelo banco/credor, após o inadimplemento da

promessa.

No mesmo sentido: “...a Cédula de Crédito Bancário é título

executivo extrajudicial e representa dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível,

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seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em

planilha de cálculo, ou nos extratos de conta corrente” .

Outrossim, reconhece-se a liquidez da cédula de crédito bancário,

se preenchidos e observados os requisitos formais do título, tal como previsto

na lei:

A cédula de crédito bancário surge com natureza jurídica

explicitamente enunciada. É título de crédito (art. 1º), da

espécie promessa de pagamento (art. 4º, II), qualifica-se

como título executivo extrajudicial (art. 3º) tem como

relação jurídica subjacente (causa) operação de crédito

de qualquer modalidade (art. 1º) e consubstancia

obrigação líquida (art. 3º) de pagamento em dinheiro em

favor de instituição financeira ou de entidade a esta

equiparada, integrantes, estas, do Sistema Financeiro

Nacional (art. 1º).

Tácito (2005, p.45) coloca ser “inarredável o tônus de liquidez e

certeza que a Planilha de Cálculo conferirá à Cédula de Crédito Bancário, e

reconhece que a liquidez da cédula se impõe por força de lei. E, explica: “A

cédula de Crédito Bancário será o título e a Planilha de Cálculo lhe conferirá a

capacidade de trazer em si própria a certeza de poder dar curso ao pagamento

ou à cobrança de um exato valor fundado em obrigação existente e bem

dimensionada”.

Portanto, a Cédula de Crédito Bancário é título executivo e os

seus requisitos formais, taxativamente ditados na lei, conferem-lhe irrecusável

certeza e liquidez. Não pode o judiciário recusar-lhe nem a natureza, nem os

efeitos jurídicos próprios que decorrem dessa qualidade de título de crédito e

executivo, por vontade expressa da lei.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao definir a cédula de crédito bancário como título de crédito, a

norma legal, voluntária e deliberadamente, criou mais uma espécie de um

gênero de negócios já amplamente regrado por sedimentado conjunto de

normas e princípios de direito.

E, por isso mesmo, sendo um título de crédito, a lei dispôs que a

cédula representa dívida em dinheiro, dotada dos atributos da liquidez, certeza

e exigibilidade, a fim de que pudesse contar o credor com a tutela judicial da

ação executiva para haver a “soma nela indicada, seja pelo saldo devedor

demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente”.

A lei referente ao tema estabelece rígidos requisitos formais,

indispensáveis à constituição e validade da Cédula como título de crédito, que

obrigam as partes a arrolar não só o crédito inicial disponibilizado ao devedor

como também todas as verbas acessórias passíveis de cobrança, que devem

estar literalmente registradas no título.

Regula, ainda, todos elementos essenciais que devem constar, de

forma precisa, clara e de fácil compreensão, nos cálculos de apuração do saldo

devedor e extratos de conta corrente, que são reputados pela lei como parte

integrante da cédula, de tal forma que a cédula de crédito bancário que atenda

a todos os requisitos legais se revestirá de inequívoca certeza e liquidez, e

representará documento cujo teor possibilita o exercício autônomo dos direitos

nela mencionados (art. 3.º, §§ 1.º e 2.º).

Conclui-se, portanto, que não há, pois, a menor sombra de dúvida

de que a cédula de crédito bancário é título de crédito com força executiva,

criada por lei, portanto típico, que representa direito certo, líquido e exigível por

expressa disposição legal. E a iniciativa do Executivo tem a inegável virtude de

dotar as operações de intermediação de recursos financeiros realizadas no

bojo do Sistema Financeiro Nacional da máxima segurança e liquidez, criando

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títulos de crédito líquidos, certos e exigíveis para o retorno célere do capital

mutuado.

Assim já ocorre também com as cédulas de crédito: industrial,

comercial, agrícola e de exportação, por exemplo. O benefício proporcionado

pela nova lei favorece, indistintamente, todos os agentes que atuam no

mercado financeiro (bancos, poupadores e tomadores de empréstimo), agiliza

e favorece a circulação e a disponibilidade de crédito, incentiva a produção e o

desenvolvimento econômico.

Portanto, vê-se claramente respondida a temática proposta neste

estudo, uma vez que a intervenção estatal, muito antes de favorecer uma das

partes envolvidas, tem o mérito de equilibrar, clarear e harmonizar as relações

que se travam nas operações de crédito, introduzindo normas claras, precisas

e eficazes, capazes de trazer segurança ao cenário jurídico, até então

conturbado e conflitante.

Outrossim, sabe-se claramente que a temática abordada tem seu

amparo no direito civil, regulável por legislação ordinária, e se conforma aos

preceitos constitucionais, que, em momento algum impõem óbice ou restrição à

criação de títulos executivos extrajudiciais.

Deve, pois, ser necessariamente observada e respeitada pelo

Juiz, ao qual não compete avaliar a justiça da norma jurídica validamente

editada, nem revogá-la, mas simplesmente cumpri-la e aplicá-la ao caso

concreto.

Não resta dúvidas de que o tema, por ocasião, abordado, neste

trabalho, ainda precisa ser bastante explorado, afinal é bastante recente,

cabendo sugerir como estudo futuro uma análise econômica do potencial dos

títulos de crédito nos fundos de investimento como opção de substituição

gradual dos títulos públicos federais em suas carteiras.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................... 1

RESUMO ........................................................................................................... 2

METODOLOGIA ................................................................................................ 3

SUMÁRIO .......................................................................................................... 4

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5

CAPÍTULO I

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ................................................................. 7

1.1 – Conceitos e funções básicas do Sistema Financeiro Nacional ................. 7

1.2 – A origem e evolução do Sistema Financeiro Nacional .............................. 8

1.3 – A criação do Sistema Financeiro Nacional ................................................ 9

1.4 – Estrutura atual do sistema financeiro nacional ........................................ 11

1.4.1 – Subsistema normativo .......................................................................... 12

1.4.2 – Subsistema da intermediação financeira.............................................. 14

1.5 – O mercado de crédito .............................................................................. 18

CAPÍTULO II

TÍTULOS DE CRÉDITO E SEU PAPEL NA ECONOMIA MODERNA ............. 20

2.1 – Aspectos Conceituais .............................................................................. 20

2.1.1 – Crédito .................................................................................................. 20

2.1.2 – Título .................................................................................................... 22

2.2 – Taxionomia dos Títulos de Crédito .......................................................... 25

2.2.1 – Letra de câmbio ................................................................................... 25

2.2.2 – Nota Promissória .................................................................................. 26

2.2.3 – Debêntures ........................................................................................... 27

2.2.4 – Warrant e certificado de depósito ......................................................... 29

2.2.5 – Cédula de Crédito Bancário ................................................................. 30

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CAPÍTULO III

A CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO COMO ALAVANCADOR DO CRÉDITO

PRIVADO NO BRASIL ..................................................................................... 36

3.1 – O tratamento legal das cédulas de crédito .............................................. 37

3.2 – A liquidez e certeza da cédula de crédito bancário ................................. 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ....................................................................... 50

ÍNDICE ............................................................................................................. 54