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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ANALFABETISMO FUNCIONAL Por Carmem Pires Orientadora Professora Magaly Vasques Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · De acordo com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos. Um terço dos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ANALFABETISMO FUNCIONAL

Por Carmem Pires

Orientadora

Professora Magaly Vasques

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ANALFABETISMO FUNCIONAL

Apresentação de monografia à AVM

Faculdade Integrada como requisito

parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicopedagogia

Por: Carmem Pires

Rio de Janeiro

2012

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus Mestres, luzes

do meu caminho, o apoio e

incentivo que sempre recebi.

Agradeço ao meu amigo Marcelo

Bafica Coelho pela orientação.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho com muito

amor aos meus filhos e filhas, ao

meu neto e netas, a minha nora e

genros, aos meus alunos, aos meus

amigos, aos Mestres que me

trouxeram até aqui.

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RESUMO

O presente trabalho trata de um assunto delicado e apaixonante. O

analfabetismo funcional tem sido a causa de problemas na vida das nossas crianças do

Ensino Fundamental. Na avaliação da leitura e escrita ao final da quarta série muitas

crianças se deparam com o chamado fracasso escolar. Não conseguem ler e escrever

corretamente. Esse fato traz para os pré -adolescentes um sentimento de incapacidade e

responsabilidade quanto ao fracasso. Da quarta a oitava séries o problema se agrava

com a inclusão de matérias que requerem um bom raciocínio lógico e uma boa

alfabetização. Nesse período a evasão escolar é significativa..

São inúmeros os fatores que levam as crianças e jovens ao fracasso no que se

refere ao processo de alfabetização e à evasão escolar. Podem ser motivos políticos, no

caso do Estado não se interessar por investir na Educação porque a oferta de empregos

é condizente com um mercado de trabalho que exige pouca ou nenhuma qualificação

especializada. A baixa renda desse tipo de mão de obra leva a outras questões que

alimentam as causas do analfabetismo funcional. A má alimentação, a moradia em locais

sem condições básicas de saneamento que se reflete na saúde e no bem estar das

pessoas. As dificuldades de transportes acabam por desmotivar os estudantes que não

conseguem estudar perto de casa e prejudicam na quantidade de tempo que os pais

dispõem para a seus ajudar os seus filhos nas tarefas escolares. A pouca ou nenhuma

instrução dos pais, enfim, as questões relacionadas com a pobreza estão direta ou

indiretamente ligadas ao fracasso escolar. A pobreza é um elemento a mais que a escola

precisa lidar para obter um resultado final no processo de alfabetização infantil.

Fatores como a remuneração dos professores que precisam complementar o

salário com outras atividades para atender as suas necessidades básicas e de seus

familiares, resulta no estresse, cansaço físico e mental e pode se refletir na qualidade do

ensino.

Mas medidas estão sendo tomadas pelo Estado no sentido de melhorar a

qualidade de vida dos mais pobres. Porém fatores técnicos, como o método de

alfabetização vigente no país merece reformulação com urgência.

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METODOLOGIA

O inicio da pesquisa foi orientada pelos professores da pós a quem pedi

ajuda. O tema é polêmico e contém fatores referentes a múltiplas disciplinas

requerem uma direção prática para que eu não me perca em uma ou outra

matéria também empolgante. A seleção dos livros é de suma importância.

As informações obtidas em livros clássicos sobre Educação serão de

muita importância, mas os atuais, as palestras, os artigos de jornais e revistas

especializadas também.

Pretendo fazer uma breve pesquisa de campo com alunos do ensino

médio e fundamental e com recém ingressantes nas faculdades, principalmente

aquelas que não exigem provas formais de ingresso.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – Definição de Analfabetismo Funcional

CAPÍTULO II – Métodos de Alfabetização

CAPÍTULO III –A importância da alimentação

CAPÍTULO IV – A importância do mundo interior

CONSIDERAÇÕES FINAIS

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Bibliografia citada ( opcional)

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Definição de Analfabetismo Funcional

CAPÍTULO II – Métodos de Alfabetização

CAPÍTULO III – A importância da alimentação

CAPÍTULO IV – A importância do mundo interior

CAPÍTULO - IV- Considerações finais

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A REALIDADE CRUEL DO ANALFABETISMO

FUNCIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS.

Introdução

O analfabetismo, infelizmente, ainda é uma das questões mais

constrangedoras que enfrentamos na sociedade contemporânea. De acordo

com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões

de adultos são analfabetos. Um terço dos adultos do mundo não tem acesso ao

conhecimento impresso, nem às novas tecnologias, ferramentas hoje

indispensáveis para enfrentarmos as mudanças sócio-culturais e melhorarmos

nossa qualidade de vida.

O analfabetismo absoluto costuma frequentemente mascarar outro

problema, tão ou mais perigoso, por passar despercebido a muitos: a

alfabetização funcional imperfeita ou, de forma mais radical, o analfabetismo

funcional. (MOREIRA, 2003). Segundo a definição da UNESCO, uma pessoa é

considerada analfabeta funcional se sabe escrever o próprio nome, lê e

escreve frases simples, efetua cálculos básicos, mas é incapaz de interpretar o

que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas.

O analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras

em um texto, não expressa suas idéias no papel por meio da escrita, nem faz

operações matemáticas mais elaboradas. Num mundo onde o avanço

tecnológico é extremamente veloz, estas dificuldades impossibilitam o

desenvolvimento pessoal e profissional destes indivíduos. No Brasil, a

ignorância que acompanha a maioria das pessoas as distancia do direito de

participar da vida econômica, cultural e política, abrindo um enorme espaço

entre o conhecimento que cria opções de vida e condições de aprender.

Segundo dados do IBGE (2005), 75% da população brasileira

não possuem domínio completo da escrita. Deste número, 68% são

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analfabetos funcionais, 7% analfabetos absolutos. Estes indivíduos não

conseguem ler, escrever e calcular plenamente. Como resultado, apenas 25%

podem ser consideradas alfabetizadas plenamente. Uma em cada quatro

pessoas é considerada analfabeta funcional.

O aluno brasileiro não compreende o que lê! Na avaliação de

competência de leitura do Programa Internacional de Avaliação de Alunos

(PISA) promovida pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE), o Brasil ocupou a triste posição de último lugar do mundo

(Marques, 2002). O jornal Estado de São Paulo, em 5 de dezembro de 2001,

noticiou:

Em 32 países submetidos ao teste, o Brasil ficou em último lugar. A prova avaliou a capacidade de leitura de alunos de 15 anos. ‘esperava um desastre maior’ disse Paulo Renato Souza, o Ministro da Educação da época,. No Brasil participaram 4,8 mil alunos de sétima e oitava série do ensino fundamental e do primeiro e segundo ano do ensino médio com média de 396 pontos, numa escala que pode ultrapassar 628, os alunos brasileiros foram classificados em nível 1, o mais elementar. Ou seja, são considerados analfabetos funcionais.

O alto índice de analfabetismo funcional nos faz crer que as ações

governamentais não têm sido suficientes para a efetiva modificação na

qualidade do ensino no nosso país. Esta é uma situação vergonhosa para um

país que vem se vangloriando de suas conquistas econômicas e estabilidade

democrática. "Saber e poder ler e escrever é uma condição tão básica na vida

econômica, cultural e política que a escola se tornou um direito fundamental do

ser humano, assim como a saúde, moradia e emprego" (BRITO, 2003, p.7).

O presente trabalho pretende analisar algumas causas deste

complexo processo, com destaque para três elementos principais: a

controvérsia em relação aos “métodos de alfabetização”, a questão do déficit

alimentar e os fatores psicológicos envolvidos no não enriquecimento do

mundo interior dos educandos. Antes disso, porém, é necessário

estabelecermos uma definição satisfatória do próprio conceito de analfabetismo

funcional, uma vez que esta expressão vem sendo utilizada com conotações

diferentes, conforme a perspectiva adotada.

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É preciso diagnosticar igualmente algumas das implicações sociais e

políticas que este grave problema acarreta. O analfabetismo funcional é um

tema apaixonante, digno de ser estudado, analisado e denunciado. A intenção

é lançar uma semente desafiadora em cada educador, em cada estudante e

levar a quantos chegar às mãos, as informações necessárias para alicerçar um

movimento de mudança. Só não podemos esquecer que existe muito trabalho

a ser feito entre o “querer” e o “poder”, para transformarmos o famoso dito em

algo verdadeiro.

DEFINIÇÃO DE ANALFABETISMO FUNCIONAL

E QUESTÕES RELACIONADAS.

O analfabeto funcional é um ser humano alvo de preconceitos e se

defronta com inúmeras desvantagens na vida profissional. Fica impossibilitado

no que se refere à conquista de um lugar de prestígio dentro da sociedade que

lhe confira um bem-estar emocional e social, um salário digno de suprir as suas

necessidades básicas, proporcionando também benefícios relativos ao laser e

aquisição de bens de consumo.

No tocante à saúde, sofre com a dificuldade de atingir um

atendimento diferenciado e de qualidade, submetendo-se aos precários

cuidados oferecidos pelo Estado. Tem dificuldades de entender o que o médico

diagnostica; não consegue ler corretamente às prescrições; erra a posologia ao

tomar os remédios e equivoca-se em relação ao tempo em que deve retornar a

consulta.

Para Isra Toledo Tov (2012) na esfera da escrita e da leitura, o

analfabetismo funcional é definido como a incapacidade de interpretação de

sentenças longas e textos, ainda que o indivíduo consiga decodificar

minimamente letras, palavras, frases ou textos curtos. Em outros termos, além

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de falar errado, o analfabeto funcional não seria capaz de compreender textos

que fazem parte da vida cotidiana, como os manuais de instrução dos

aparelhos elétricos e eletrônicos, ou mesmo os de montagem de um móvel.

Vera Masagão Ribeiro, no artigo Alfabetismo funcional: Referências

conceituais e metodológicas para a pesquisa, diz que a expressão

Analfabetismo Funcional teve sua origem nos EUA, onde no final da década de

1930, era empregada pelo exército norte americano para indicar a capacidade

ou deficiências dos soldados em entender as instruções escritas necessárias

para a realização de tarefas militares. ( RIBEIRO, 1997).

Ela ainda nos conta que grande parte da popularização do conceito

se deveu a ação da UNESCO, que visando padronizar as estatísticas e

influenciar as políticas educativas dos países-membros, empregou o termo

propondo uma definição específica. Para ela, a alfabetização funcional pode

ser qualificada positivamente quando:

Os indivíduos podem inserir-se adequadamente em seu meio, sendo capazes de desempenhar tarefas em que a leitura, a própria escrita e o cálculo são demandados para seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento de sua comunidade. O qualitativo funcional insere a definição do alfabetismo na perspectiva do relativismo sociocultural. Tal definição já não visa limitar a competência ao seu nível mais simples ( ler e escrever enunciados simples referidos à vida diária), mas abrigar graus e tipos diversos de habilidades, de acordo com as necessidades impostas pelos contextos econômicos, políticos ou socioculturais. (id. P, 147 )

Ou seja, segundo os dados da UNESCO, devemos considerar

uma pessoa alfabetizada funcionalmente quando é capaz de utilizar a leitura e

a escrita para fazer frente às demandas de seu contexto social, utilizando estas

habilidades para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida. (

UNESCO 1979 ).

Existem outras formas de definir o analfabetismo funcional: as

pessoas decodificam as palavras, mas não sabem aprender lendo. Isso quer

dizer que um analfabeto funcional não consegue, por exemplo, interpretar uma

receita de bolo. Sabe comprar os ingredientes, mas não compreende o que é

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“aquecer previamente o forno por 20 min”. Pode até mesmo se confundir com o

próximo passo que seria: bater as claras “em neve”1. Se esta pessoa fosse

alfabetizada plenamente, seria capaz de aprender com a leitura de muitas

receitas e suas ilustrações.

Com relação a questões matemáticas, os resultados indicam que o

analfabeto funcional pode reconhecer números, sinais matemáticos, relações

numéricas e de ordem em um nível elementar. Mas, a maioria não possui o

domínio adequado para resolver problemas envolvendo números. Ilustrando,

ao tentar compreender uma norma do seu emprego, é possível que a

expressão, “um terço do seu dia de serviço deve ser dedicado à limpeza das

janelas”, soe para ele confusa. É possível que pense: o que será um terço?

Será o terço de rezar?

Outro exemplo interessante foi fornecido por Aliny Lamoglia,

professora de Atuação Psicopedagógica na Escola Inclusiva. Sua “secretária

do lar” deixou um recado: “S impo”. No dia seguinte, quando as duas

conversaram, o mal entendido inicial ficou resolvido. Ela desejava que a

professora comprasse sabão em pó. No entanto, como seria recebido esse

bilhete pelo vendedor do supermercado ou mesmo da vendinha? Num outro

contexto, será que outras pessoas terão paciência e compreensão com as suas

dificuldades? Não será essa dificuldade de comunicação escrita um

impedimento real para que ela possa melhorar sua situação de vida?

A questão sobre analfabetismo funcional vem recebendo grande

destaque na mídia. O jornal Folha de São Paulo descreve nos anos de 1995 a

2000 o analfabeto funcional como sendo não a pessoa incapaz de ler e de

escrever, mas que enfrenta dificuldades quando se trata de interpretar

corretamente o que leu. Os dados estatísticos apresentados pelo periódico,

como sempre, são alarmantes: 30,5% dos que têm mais de 15 anos cursaram

menos de 4 anos de estudo, dominam apenas rudimentos da escrita e da

leitura. Pessoas que tem menos de quatro anos de estudo, embora saibam ler

1 “Bater as claras em neve” é um simples hábito culinário passado de geração a geração, para

quem, por exemplo, teve uma mãe interessada em cozinhar.

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e escrever rudimentarmente tem dificuldades com textos mais longos. Quem

tem mais de 15 anos e até quatro anos de estudo, consegue dominar

precariamente a escrita e a leitura.

Estas pessoas decifram apenas textos rudimentares. São incapazes

de relacionar-se com a leitura de maneira produtiva: não entendem instruções

em um manual, não compreendem relatos simples de jornais. Apresentam

enormes dificuldades em ler e entender um manual. Ficam impossibilitados,

assim, de trabalhar em fábricas, como operários. 2

O baixo nível de instrução do eleitorado está, igualmente,

relacionado ao que o IBGE qualifica como analfabetismo funcional: pessoas

que sabem soletrar, mas não dominam as formas de expressão escrita. As

pessoas estão aptas a votar, mas não se pode garantir que estão bem

informadas sobre as propostas dos candidatos porque não compreendem os

textos expostos pela mídia, limitando-se ao que ouvem.

Em resumo, o conceito de analfabetismo funcional abarca tanto as

pessoas que não estudaram quase nada, quanto aquelas que aprenderam a

ler, escrever e fazer contas, mas não conseguem inserir estes parcos

conhecimentos de forma satisfatória em seu dia-a-dia.

Considerando-se a incidência de analfabetos funcionais pelas

regiões do Brasil, percebe-se que os locais mais pobres, os que mais sofrem

com as catástrofes naturais, como as situações de secas e enchentes, têm

sempre maior incidência de analfabetismo funcional, isto é, mais uma vez estão

em defasagem em relação às regiões mais privilegiadas.

2 Apesar destas denúncias serem tão claras e até mesmo redundantes, não foram

suficientes para os responsáveis pela Educação tomarem uma de atitude resoluta. Isto me leva a pensar na possibilidade de que a afirmação “o aluno brasileiro não compreende o que lê” (usada pelos para denunciar o péssimo resultado de competência de leitura feito pelo PISA em 2001 com jovens estudantes de 15 anos tanto da rede pública como da rede privada onde conseguiram o último lugar) não se refere na realidade apenas aos jovens de 15 anos, mas se estende aos adultos responsáveis pela Educação no Brasil.

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Em dados estatísticos em 2009 o IPM/IBOPE divulgou que na região

Centro-Oeste alcançou o pior índice nacional de analfabetismo funcional com

23% dos casos, seguida pelas regiões Nordeste com 21%, a região Sul com

11% e da região Sudeste com 8% de jovens que terminaram o Ensino

Fundamental sem saberem ler e escrever bem.

( Revista Nova Escola edição 228/dezembro de 2009.)

A parcela de jovens brasileiros que está no patamar ideal, o de alfabetizados de nível pleno (aqueles que lêem e interpretam textos longos e resolvem cálculos com a maior quantidade de elementos e etapas), está longe de ser satisfatória: eles são apenas um terço da população.“ Isso é o mais preocupante. Cai o número de analfabetos absolutos, mas os de leitores críticos, que seriam os alfabetizados plenamente, não aumenta. Infelizmente, não houve uma boa evolução em quase uma década”, diz a professora Silvia Gasparian Colello, da Faculdade de Educação da Universidade de são Paulo ( USP) ( id)

A estes problemas se somam políticas educacionais que não levam

em conta a imensidão do território brasileiro. Estas políticas não atendem

satisfatoriamente às enormes diferenças culturais, sócio-econômicas e

geográficas. A Educação precisa ser adequada à população que se pretende

educar, levando em consideração além do potencial de cada educando, as

condições em que vive e o meio ambiente.

O Brasil não pode ser considerado como uma grande extensão

Região Sudeste. Nesta região, onde se concentra a riqueza do país, a renda

“per capta” é maior, o que certamente facilita a relação criança/ escola. Não

podemos perder de vista, entretanto, que todas as crianças brasileiras são

capazes de aprender, desde que tenham as condições físicas (no sentido de

conseguirem chegar ao local da escola e alimentadas adequadamente) e

mentais (incluindo aquelas que necessitam de uma atenção especial, como os

autistas, disléxicos e portadores de deficiência física) para o aprendizado

básico.

Há ainda outro problema grave quando lidamos com o analfabetismo

funcional no Brasil: o índice declarado já ao final da quarta série do Ensino

Fundamental. Existe uma evasão preocupante nesse período, como uma

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espécie de desistência do educando. Nesta idade, o aluno já atingiu a

compreensão do próprio fracasso. Uma criança de nove anos possui relativa

capacidade crítica e sofre com essa realidade. Tem consciência de suas

deficiências de leitura e toma para si essa responsabilidade. Sente um mal

estar com a sua própria condição. Acredita que conviver com as dificuldades é

normal. Esta conscientização atua de forma a alimentar a sua baixa auto-

estima e o leva a buscar um caminho menos sofrido, muitas vezes abandonado

os estudos.

Pelo que foi apresentado, percebe-se que o analfabetismo funcional

é uma das questões mais importantes referentes à realidade educacional

brasileira. É preciso que nos interroguemos sobre suas causas para que

possamos enfrentar o problema com as melhores ferramentas disponíveis.

Este artigo pretende contribuir com este processo, indicando outros elementos

não relacionados diretamente com o tempo de estudos de uma pessoa.

Existem fatores biológicos, psicológicos, políticos, sócio-culturais muito

importantes que não podem ser desconsiderados.

MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO

Desde 1947 tentamos, sem sucesso relevante, métodos de combate

ao analfabetismo no Brasil.3Estas experiências contribuíram muito pouco no

3São eles: Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (1947, Governo Eurico Gaspar Dutra); Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo ( 1958,Governo Juscelino Kubitschek); Movimento Educação de Base (1961, criado pela Conferência Nacional de Bispos do Brasil-CNBB ); Programa Nacional Alfabetização valendo-se do método Paulo Freire ( 1964, Governo João Goulart) ; Movimento Brasileiro de Alfabetização-MOBRAL(1968-1978, Governos da Ditadura Militar); Fundação Nacional da Educação de Jovens e Adultos-Educar (1985, Governo José Sarney); Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania-Pnac (1990, Governo Fernando Collor de Mello); Declaração Mundial de Educação para Todos ( assinada, em 1993,pelo Brasil em Jomtien, Tailândia); Plano Decenal de Educação para Todos (1993, Governo Itamar

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progresso da alfabetização: uns por serem marcados pela seletividade, outros

pela exclusão social, dominação e imposição cultural. Estes fatores negativos

nos afastaram do objetivo fundamental que é alfabetizar de forma consistente.

(MEC/Inep, 2005, p.12)

Algumas dessas tentativas deixaram benefícios inegáveis. Como por

exemplo, as contribuições de Paulo Freire. O seu método de Alfabetização

inspirou, a partir de 1962, o Plano Nacional de Educação e o Programa

Nacional de Alfabetização, patrocinados pelo Ministério da Educação e Cultura.

Contudo, este desenvolvimento durou pouco.

(...) “Em seguida, em 1964, o golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas eram “comunizantes e subversivas”“. ( id)

Lá se vão mais de 25 anos do fim da ditadura e o problema de

alfabetização persiste no Brasil. Em consequência desse problema permenece

também o analfabetismo funcional. Como se vê, esta é uma questão que

engloba dimensões técnicas e políticas. As duas devem ser sempre

compatibilizadas quando lidamos com esta questão básica da educação.

O método de alfabetização adotado para o Brasil é baseado no

construtivismo. Sua prática, somado a outros fatores, tem apresentado um alto

índice de fracasso escolar. Um dos motivos é que o método leva em

consideração que a criança ao entrar na escola já tenha adquirido

conhecimentos prévios, que continue a ser estimulada fora da escola durante

todo o tempo em que estiver estudando e que tenha acesso a informações que

no Brasil não condiz com a realidade da maioria das nossas crianças. Outro

fator é a quantidade de alunos por sala de aula. Para que a criança demonstre

como está adquirindo o conhecimento, como defendem os construtivistas é

Franco) e o Programa de Alfabetização Solidária ( 1997, Governo Fernando Henrique Cardoso).Sim Eu Posso ( método trazido de Cuba em 2005 –Governo Luiz Inácio Lula da Silva)

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preciso que a professora acompanhe esse processo de perto. Uma sala de

aula com 30 ou mais alunos inviabiliza esse acompanhamento.

Capovilla afirma que o construtivismo condena as crianças de classes menos favorecidas ao fracasso escolar. Além de questionar a validade da concepção usada no Brasil, ele é um dos mais ferrenhos defensores do emprego do método fônico. Taxado de antiquado por educadores ligados ao Ministério da Educação, o método prevê o básico: ensinar às crianças a correspondência entre sons (fonemas) e letras (grafemas)

Questão de método/ Revista Educação-ed. 244,agosto de 2001) Kristhian Kaminski e Patrícia Gil

Um método que vem conquistando espaço nos países mais

desenvolvidos, com índice de satisfação bastante significativo, é o método

fônico. Este método consiste no aprendizado através de fonemas e grafemas,

ou seja, as relações entre sons e letras. O método fônico permite primeiro

descobrir o princípio alfabético e, progressivamente, dominar o conhecimento

ortográfico próprio da língua, através de textos produzidos especificamente

para este fim.

O método é baseado no ensino do código alfabético de forma

dinâmica, isto é, as relações entre sons e letras devem se feitas através do

planejamento de atividades lúdicas para levar a criança a aprender a codificar a

fala em escrita e a decodificar a escrita no fluxo da fala e do pensamento.

O método fônico nasceu como uma crítica ao método de soletração

ou alfabético. Primeiro são ensinadas as formas e os sons das vogais. Depois

são ensinadas as consoantes, sendo, aos poucos, estabelecidas relações mais

complexas. Cada letra é aprendida como um fonema que, juntamente com

outro, forma sílabas e palavras. São ensinadas inicialmente as sílabas mais

simples, depois as mais complexas.

No método fônico o professor escreve uma letra no quadro e

apresenta imagens de objetos que comecem com esta letra. Em seguida,

escreve várias palavras no quadro e pede para os alunos apontarem a letra

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inicialmente apresentada. A partir do conhecimento já adquirido, o aluno pode

apresentar outras palavras com esta letra.

Os especialistas sustentam que este método alfabetiza crianças, em

média, no período de quatro a seis meses. Este é o método mais recomendado

nas diretrizes curriculares dos países desenvolvidos que utilizam a linguagem

alfabética. Segundo Capovilla a criança disléxica é facilmente alfabetizada pelo

método fônico, apesar das dificuldades que tem que enfrentar.

O professor Capovilla discorda da posição do MEC. "O Brasil posa de moderno, mas diversos países desenvolvidos usam o método fônico com bons resultados. O Brasil continua na pré-história", acredita. Para ele, o construtivismo roubou do professor a função de ensinar, ao pregar que o texto seja introduzido desde o início da alfabetização. O método fônico, diz, não impede a introdução de textos no aprendizado, mas prevê que isso ocorra somente depois que o aluno tiver capacidade para decodificá-lo. ( id)

O fato é que não podemos continuar repetindo os mesmos erros

com relação à alfabetização no Brasil e esperar resultados diferentes. O

método construtivista adotado atualmente, como todos os outros, têm

vantagens e desvantagens. Mas o fracasso na escola tem maltratado as

nossas crianças que estão submetidas ao método da “pré-história” como afirma

acima Capovilla. Acontece que por estarmos tratando de um país que pouca

ênfase dá aos requisitos culturais, onde a maior parte dos pais (e até mesmo

dos professores) advém de uma classe social de baixa renda, com pouca ou

nenhuma escolaridade, a criança não tem como ser “alimentada” por todos os

tipos de conhecimento oferecidos aos mais privilegiados. O método fônico, ao

contrário, tem apresentado resultados significativos.

É claro que não é só o método o responsável por esses resultados, mas sim toda uma estrutura socioeconômica. No entanto, no grupo de países em desenvolvimento, também há quem aplique o método fônico, integrado a outras ferramentas, com bons resultados. O Chile é um exemplo. Cuba, com uma taxa de repetência de 3%, é outro. (Id.)

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Pesquisas feitas nos EUA revelaram que o método fônico de

alfabetização era o mais eficaz4, sendo por isso adotado como método oficial

em muitos estados. Países desenvolvidos como a França e a Grã-Bretanha,

baseados em suas próprias pesquisas, chegaram à mesma conclusão. Outros

países optaram por métodos mistos, como a Alemanha e a Itália. México,

Portugal e o Brasil permaneceram utilizando o método global.

Mesmo obtendo o último lugar em competência em leitura, “os

alunos brasileiros foram classificados no nível 1, o mais elementar. Ou seja,

são considerados, praticamente analfabetos funcionais.” ( O Estado de São

Paulo, 5 de dezembro,p. A9) resultado obtido pelo PISA,2001 ( Programa

Internacional de Avaliação de Alunos) o Brasil continua insistindo no método

global de alfabetização.( método global também chamado de analítico ou

construtivista ). Os países que optaram pelo método fônico ficaram em primeiro

lugar, os que optaram pelos métodos mistos obtiveram o segundo lugar e o

nosso resultado foi o pior de todos. A quem deve interessar esse resultado tão

doloroso para a nossa juventude?

Segundo o presidente do Inep, o atraso escolar é agravado pela repetição dos erros que geram a repetência. (2001, Folha de São Paulo, 5 de dezembro,p. C11)

4 Uma crítica feita a este método é que não serve para trabalhar com as muitas

exceções da língua portuguesa. Por exemplo, como explicar que cassa e caça têm a mesma pronúncia e se escrevem de maneira diferente? No entanto, a língua inglesa também enfrenta estes problemas. Existem também muitas palavras com grafia e sons idênticos que significam coisas diferentes, como por exemplo, temos a palavra sea = mar com a pronúncia = a see= ver . No caso das exceções da língua portuguesa,um método de alfabetização que se conclui com êxito de quatro a seis meses ganharia uma margem de pelo menos os quatro primeiros anos do Ensino Fundamental para se trabalhar as exceções. Conseguiríamos diminuir o nosso cruel índice de analfabetismo funcional que castiga um alto percentual dos jovens até a quarta série do ensino Fundamental, como já vimos na estatística do Instituto Paulo Montenegro/ IBOPE de 2009.

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ALIMENTAÇÃO

Além dos erros que são atribuídos aos métodos de alfabetização

utilizados, há outros fatores relevantes para o aprendizado que devem ser

considerados. A alimentação é um destes elementos essências para o bom

desenvolvimento das capacidades intelectivas e seu enfoque muitas vezes é

negligenciado no debate sobre o analfabetismo. É preciso, portanto, que sejam

examinadas suas implicações.

A complexidade com que se dá o aprendizado é foco de estudos da

neurociência. Para os estudiosos da neurociência, o cérebro é o protagonista.

Grande parte de suas formações vem do meio ambiente externo, mas a forma

como ele “metaboliza” tais informações é que faz toda a diferença.5 Além disso,

o modo como a criança incorpora novos dados depende das informações

adquiridas previamente. Neste estudo, serão destacados dois elementos

importantes neste processo: uma alimentação adequada e a peculiaridade

existencial inerente a cada ser humano.

O cérebro é formado de células nervosas chamadas de neurônios

que distribuem por todo o organismo estímulos específicos. As sinapses são as

conexões que entre si fazem os neurônios. A plasticidade cerebral é a

capacidade que o cérebro tem de construir, destruir, reconstruir informações

em benefício próprio. É a capacidade de buscar o bem-estar. Além disso, para

aprender, precisamos de uma boa memória e essa depende de uma máquina

em perfeito estado.

O cérebro se divide em hemisfério direito e esquerdo, cada um com funções específicas. O esquerdo seleciona palavras para descrever, define. É a função verbal. Usa símbolos para representar, é a simbólica. Desenvolve habilidades passo a

5 Uma informação simples como “não jogue lixo no chão!”,parece impossível de ser aceita

como verdadeira por certas pessoas, apesar das notícias alarmantes, nas épocas de chuvas fortes, com o entupimento dos bueiros entre outros prejuízos. Elas não estabelecem a conexão entre o fato e as conseqüências. Quer dizer, de um modo geral, metabolizamos os dados que nos chegam de acordo com nossas necessidades e pré-disposições. É bastante peculiar,portanto, a forma como compreendemos cada informação.

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passo, é a função analítica. Marca o tempo e a seqüência, é a temporal. Busca razão nos fatos, é a racional. Extrai conclusões lógicas, é a lógica. O hemisfério direito percebe as coisas através de imagens, é a função não verbal. Concebe coisas em sua integridade, é a concreta. Agrupa informações e forma um todo, é a sintética. Compreende relações e percebe semelhanças, é a analógica. Não possui sensação de tempo, é a não temporal. Prefere seguir palpites ou amostras, é a intuitiva.( Pires, Marta Relvas- 2009-p.34)

Assim, é necessário que entendamos um pouco de sua formação e

algumas questões importantes a ele relacionadas. O cérebro do bebê tem

peculiaridades resultantes de seu rápido desenvolvimento. Alguns dos

processos característicos desta etapa terão repercussões nos desdobramentos

posteriores.

Ao mesmo tempo, é importante conhecermos as implicações da

alimentação para o desenvolvimento do cérebro e a sua relação com a

aprendizagem. Uma dieta satisfatória deve ser rica em alguns minerais e

vitaminas, que muitas vezes são desconhecidas por uma grande parcela da

população. As propriedades dos nutrientes mais importantes serão, portanto,

examinadas neste estudo. Para finalizar o tópico, será investigado também o

valor da estimulação dos neurônios no período de gestação. Hoje em dia,

sabe-se que este é um importante período que não pode ser desconsiderado.

A construção cerebral: implicações decorrentes deste

processo.

Os pesquisadores afirmam que o cérebro é composto de

substâncias químicas, enzimas e hormônios. As células neuronais que

compõem o cérebro passam a ser chamadas de neurônios quando encontram

outras iguais. Os neurônios consomem oxigênio e um dos acidentes que

podem acontecer na hora do parto é quando a criança deixa de respirar por

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segundos. Neste instante, ela pode aspirar o líquido amniótico e ficar mais

tempo sem ar. Este fato provoca uma lesão cerebral que pode ser insignificante

ou não.

Existe no cérebro um local chamado hipocampo, ligado a memória e

a aprendizagem. Para o desenvolvimento adequado, os neurônios dessa

região precisam de uma boa alimentação e um ambiente rico em estímulos

musicais, olfativos e atividades físicas. Quanto mais os neurônios se

reproduzirem, melhor ficarão a memória e o aprendizado.

Pesquisas médicas atestam que o desenvolvimento do cérebro ocorre mais rápido nos primeiros anos de vida da criança. O desenvolvimento sadio do cérebro atua diretamente sobre a capacidade cognitiva. Quando ativado para funções como a linguagem, a matemática, a arte, música ou atividade física que facilitam para que as crianças desenvolvam seu potencial e sejam futuros adultos inteligentes, confiantes e articulados.

http://www.conteudoescola.com.br/component/content/article/30/124/eescrito por Mara Musa Soares Silveira

Cada etapa do crescimento do cérebro durante a gestação estará

ligada a funções físicas e emocionais. A alimentação da mamãe será

fundamental para a qualidade de vida do bebê. A formação do cérebro na

gravidez, o parto prematuro, os fatores hereditários e acidentes na hora do

parto podem decidir as dificuldades, fracassos ou sucessos no processo de

aprendizado das crianças, determinando a qualidade de vida que terão. A má

formação cerebral pode ocasionar problemas futuros como a dislexia e a

paralisia de Little.

Muitas questões de saúde física e mental que poderão afetar o curso

normal do aprendizado da criança serão detectados pelo Teste de Guthrie,

vulgarmente conhecido como teste do pezinho, feito logo após o nascimento.

Ele denuncia doenças congênitas como a anemia falciforme, demência,

doenças infecciosas, aids etc que podem ser tratados e/ ou acompanhados o

quanto antes com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das crianças.

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No entanto, existem problemas que só serão detectados na idade

em que uma parte específica do cérebro for solicitada a atuar (e não se obterá

as respostas esperadas). No caso da paralisia de Little, por exemplo, que é

considerada o menor mal da paralisia cerebral, a criança só apresentará os

sintomas quando ficar de pé para andar. Só aí a espasticidade nos membros

inferiores aparecerá. Com relação à dislexia, a criança só apresentará os

sintomas na hora da leitura.

É por isso que se deve sempre destacar que a nutrição da mãe é

essencial para o correto desenvolvimento e funcionamento do cérebro do bebê.

O tecido cerebral necessita igualmente de gordura. Na verdade mais de 60%

deste órgão é composto por gorduras poliinsaturadas. São os famosos ômegas

3 e 6. Os peixes de água fria, frutos do mar e o óleo de canola são ricos em

ômega 3. Os óleos de girassol, de soja e a sementes oleaginosas são ricos em

ômega 6. Além disso, fontes naturais de gorduras saudáveis estão contidas em

grande quantidade no salmão. Infelizmente, este é um produto caro,

permanecendo longe da mesa da população menos favorecida.

As gorduras poliinsaturadas ajudam a aumentar as taxas do HDL, o

"colesterol bom", e manter baixas as taxas do LDL, o colesterol ruim. São

retiradas dos nutrientes da mãe porque o feto é incapaz de fabricá-las. Se não

tiver a quantidade suficiente, o bebê em gestação irá retirar do organismo da

mamãe outros ácidos gordos inferiores que, em longo prazo, podem exercer

algum efeito ruim sobre o cérebro ou sobre o sistema nervoso. A carência

destes elementos pode ser a causa da dislexia e dos problemas de baixa

inteligência.

Indispensável para a boa formação do feto é o ácido fólico. São

encontrados em pequenas quantidades no tomate, cogumelo, ervilha, brócolis

e espinafre. A quantidade da vitamina fornecida por essas fontes não é

considerada suficiente para quem deseja engravidar. Os suplementos de o

ácido fólico ajudam a evitar má formação congênita e outras substâncias

também, como o ferro, que previne a anemia. 6 Em geral, os problemas do

6 As cápsulas podem ser encontradas nos postos de saúde pública e são

gratuitas. Atualmente, as farinhas de trigo e milho, por determinação do Ministério da Saúde,

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cérebro acontecem no primeiro mês de gravidez. Uns meses antes de ficar

grávida, o ideal seria a futura mamãe tomar um suplemento de ácido fólico,

receitado pelo médico.

Substâncias como a colina e o iodo também são essenciais para o

desenvolvimento cerebral. A colina que faz parte do complexo de vitaminas B

é necessária para fabricar as membranas celulares. É usada pelas células

nervosas e, de acordo com estudos efetuados sobre animais, associa-se aos

centros de memória e aprendizagem do cérebro. As suas principais fontes são

as proteínas animais, como carne vermelha, ovos e grãos e sementes como as

sementes de girassol.

O iodo é um mineral essencial no cardápio diário da grávida. É

encontrado nos frutos do mar, principalmente nas algas marinhas. Nós

brasileiros, contudo, não estamos habituados com as algas marinhas em nosso

prato diário. Uma alimentação pobre deste mineral pode acarretar problemas

na tiróide das mães, o bebê pode até mesmo nascer com hipertireoidismo. A

carência de iodo pode ainda causar lesões cerebrais na criança durante a

gravidez. Como as quantidades diárias são difíceis ou até mesmo impossíveis

de manter, sempre que o médico recomendar, a dieta deve ser suplementada

com os remédios adequados.

Como vimos até aqui a boa formação cerebral está diretamente

associada à qualidade da alimentação durante a gravidez e certamente

continuará importante após o parto. O bebê passará os primeiros tempos de

vida alimentando-se do leite materno. As mamães devem continuar a cuidar da

alimentação para garantir uma boa saúde para si e para o bebê.

Ainda existem pessoas que acreditam que a fome só chega

prejudicar o aprendizado quando estiver classificada no nível 3 isto é,

desnutrição gravíssima. Mas não é bem assim. Podemos considerar que um

cardápio pobre de vitaminas, proteínas e sais minerais no mínimo produz uma

considerável queda nas defesas do organismo da criança. O organismo

desprotegido fica sujeito a ser contaminado por vírus e bactérias causadoras

também são enriquecidas com ferro e ácido fólico, que é uma vitamina B que ajuda a prevenir defeitos da medula espinhal e do cérebro.

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de doenças como a diarréia, gripe, meningite e outras, que podem levar não só

a prejudicar fortemente a saúde da criança como levá-las ao óbito. A fome

ainda existe em vários países do mundo e no Brasil ela castiga as regiões mais

pobres.

Nos casos apenas de má alimentação, esta causa irritabilidade, déficit

de atenção, agressividade (que podem ser confundidos com má educação ou

problemas de ordem psicológica) e sono. Nesses casos a merenda escolar

poderia ser reforçada e balanceada.

O Ministério de Saúde, para atender às comunidades mais carentes,

vem fazendo um trabalho de acompanhamento no crescimento e

desenvolvimento de muitas crianças.7

O Ministério da Saúde através de seus agentes de saúde fazem um trabalho de acompanhamento no crescimento e desenvolvimento dos bebês e das crianças até 6 anos de idade. Esse trabalho é fundamental para garantir a saúde física e mental das crianças. É um trabalho profilático que vem sendo aprimorado desde 1984. Visa detectar casos mais graves de infecções, desnutrição e outros problemas. Acompanha o desenvolvimento físico e mental das crianças e trata o quanto antes qualquer anormalidade.

Adaptação do texto-© 2002.

Ministério da Saúde /É permitido a

reprodução parcial ou total desta obra,

desde que citada a

fontehttp://bvsms.saude.gov.br/bvs/

publicacoes/crescimento_desenvolv

imento.pdf

7 Todavia, infelizmente, muitas crianças brasileiras que precisam do serviço

público ainda não estão sendo atendidas pelos agentes de saúde. Suas carências nutricionais que se refletem mais claramente no atraso do crescimento físico não são detectadas em tempo hábil para uma intervenção. Elas não recebem, na fase mais importante do seu desenvolvimento, que são os primeiros anos de vida, o atendimento excelente que seria necessário. Um reflexo dessa realidade será ressaltado, anos mais tarde, na hora do fracasso escolar.

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A estimulação dos neurônios e questões psicológicas.

Um bebê nasce com a totalidade dos neurônios ativos. O recém-

nascido dispõe de duas a três vezes mais neurônios do que terá na idade

adulta. Por volta dos oito meses de gestação, metade dos neurônios degenera-

se e morre: trata-se de um processo fisiológico normal. Em alguns casos, isto

se deve ao fato de=os neurônios já terem cumprido com as suas funções, não

sendo mais necessários. Em outros casos, a morte deve-se ao fato de não

terem sido estimulados o suficiente para estabelecerem novas conexões.

À medida que estas se estabelecem entre os neurônios, a

estimulação de uma determinada via neuronal provoca a libertação de

neurotransmissores. Este processo assegura um maior número de neurônios

no cérebro do bebe, o que vai auxiliar a definir o seu potencial intelectual. É

importante que se estimule a criança quando ela está ainda dentro da barriga

da mãe. As células nervosas ou neurônios são responsáveis pela motricidade,

pela consciência e pela sensibilidade. ( texto adaptado das aulas de Marta

Relvas no curso de pós-graduação em Psicopedagogia-2012)

O bebê ouve sons e vê a luz. Devemos então conversar com o

bebê, cantar para ele, contar histórias alegres e colocar músicas calmas, no

tom da nossa voz. O bebê reconhecerá ao nascer.

Hoje, sabe-se que o feto reage ao movimento e som maternos, e que ainda dentro do útero difere de sua mãe por sua própria dinâmica de maturação: já tem certo grau de autonomia, na medida em que seu funcionamento sensorial não está em total conexão com a vida sensorial da mãe. Pode reagir a sons, seu ciclo de sono-vigília não coincide necessariamente com o da mãe, já possui um certo grau de olfato, visão e tato. (© 2002. Ministério da Saúde É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.) http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf

Em conclusão, estamos cientes hoje em dia de que para um bom

aprendizado é preciso cuidados antecipados ao nascimento, porque o melhor

tratamento para qualquer doença é a prevenção. Para garantir uma boa saúde

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física e mental para o bebê a gestante deve ser acompanhada por um

especialista e alimentar-se adequadamente.

Devemos considerar o acompanhamento das fases de

desenvolvimento cognitivo, observando o comportamento espontâneo e as

respostas da criança aos estímulos externos. O ideal seria que essa orientação

fosse passada por escrito, como uma cartilha para os pais, na maternidade.

Assim eles poderiam acompanhar sozinhos e/ou junto com o pediatra ou junto

com os agentes de saúde do Estado, detectar qualquer tipo de anomalia e

tratar o quanto antes.

A criança deve ser estimulada desde o ventre materno e também

após o nascimento, com cantigas, massagens, carinhos, aleitamento materno e

brincadeiras. Porém, mesmo que todos estes cuidados indispensáveis sejam

tomados, ainda é possível que em relação às questões da aprendizagem

apareçam alguns problemas.

Devemos considerar a personalidade da criança. Umas serão mais

desinibidas do que outras, umas mais sensíveis do que outras. Ainda na

infância, podem surgir conflitos afetivos. Elas podem se sentir queridas e

atendidas em suas necessidades básicas ou não. São os aspectos

psicológicos que devem ser observados.

Para se aprender é preciso que haja um consentimento interno, uma

permissão. Eu quero, eu posso e eu consigo são os componentes desse

consentimento. O educador pode atuar nos casos em que exista parte desses

componentes, como: eu quero mas não consigo. Nesses casos acredito que

para se acrescentar o eu posso, bastaria que o professor orientado pelo

psicopedagogo voltasse com a criança até o momento do aprendizado em que

o não consigo apareceu como uma barreira e dali por diante fossem sanadas

as dúvidas. Em seguida a criança que venceu o obstáculo passaria a se sentir

capaz.

Quando o caso for : eu não quero, a abordagem pode ainda ser feita

pelo professor. Podemos conversar com a criança e tentar que ela se explique.

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Podemos estimular a criança a querer aprender, com jogos educativos, levando

ao conhecimento da criança as profissões que percebermos que ela admira,

contando a ela a nossa própria jornada estudantil, enfim, tentarmos entender

os motivos do não querer e estimulá-la com os meios disponíveis. Mas

devemos considerar que crianças também são vítimas de transtornos como a

depressão. Podemos encaminhar os casos mais difíceis ao pediatra, à

psicóloga, ao psicopedagogo, para que um diagnóstico defina o problema e

uma linha de ação seja adotada para resolver o problema.

Por isso, um importante elemento no processo de aprendizagem é o

que chamo de enriquecimento do mundo interior. Educar é um processo

contínuo que se renova a cada dia, assim como se dá no nosso cérebro.

Recebemos uma informação, ela se soma ou se contrapõe a outras já

existentes, formando novos conceitos. Educar é trocar informações. Podemos

mudar de idéia, mudar de vida e isto é sinônimo de liberdade.

O ENRIQUECIMENTO DO MUNDO INTERIOR

A teoria de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo afirma que

desde o nascimento até aproximadamente 15 anos de idade, os bebês, as

crianças e adolescentes saudáveis, passam por mudanças previsíveis e

ordenadas. O início e o final de cada fase pode variar de acordo com as

diferenças individuais e de acordo com o meio ambiente em que vive.

O período sensório motor se estende em média de 0 a 2 anos. O

bebê é capaz de sugar, agarrar e perceber o meio ambiente. O período pré–

operatório abrange a idade de 2 a 7 anos e é dividido em dois períodos: o da

Inteligência Simbólica (dos 2 aos 4 anos) e o período Intuitivo (dos 4 aos 7

anos).As operações concretas são realizadas na fase de 7 a 11 anos. O

indivíduo consolida as conservações de número, substância, volume e peso.

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Desenvolvem também noções de tempo, espaço, velocidade, ordem,

casualidade. Organiza então o mundo de maneira lógica e operatória. É capaz

de estabelecer compromissos, compreende as regras podendo ser fiel a elas.

No período formal, que se dá entre 11 e 15 anos as estruturas cognitivas da

criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento, e tornam-se

aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas.

Supondo que todas essas etapas foram ultrapassadas com absoluto

sucesso, algo ainda se faz necessário. É o que chamo de Enriquecimento do

Mundo Interior. Este pode ser definido como a contribuição que os pais, avós,

parentes e amigos levam para a vida da criança (e recebem da criança).

São os avós, em geral, que permitem que as crianças experimentem

situações inusitadas, como deixar que elas ajudem na cozinha, que aprendam

jogos elaborados como o xadrez ou jogos antigos como pega-varetas. Ouvir

histórias de “antigamente”. É muito comum que com os tios, tias, padrinhos e

madrinhas as crianças desenvolvam um grau de intimidade muitas vezes maior

do que com os pais, porque eles não estão diretamente preocupados em

educar, mas sim agradar a criança e receber sorrisos em troca.

A criança se solta mais e partilha seus segredos. É muito valiosa

essa relação de amor&confiança. Com essas pessoas queridas a criança pode

dormir fora de casa e fazer viagens. Pode aprender um ofício, pregar um prego,

trocar um pneu, enfim, conhecer o universo dessas pessoas, seus hábitos,

suas profissões. Formar laços afetivos e aprender a confiar é extremamente

importante para a formação do ser humano. Fortalece a auto-estima e ajuda a

tornar a criança confiante e segura.

Computadores, livros, revistas, viagens, passeios, filmes e todo o

tipo de informação disponível no meio ambiente da criança também são

responsáveis por enriquecer o mundo interior. Mesmo quando ainda não

sabem ler e escrever as crianças apreciam muito as peças de teatro e

participam com os atores em tempo real com muita espontaneidade. Aprendem

a história participando.

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Os computadores e jogos eletrônicos são fontes de estímulo ao

aprendizado desde que usados com moderação. O ideal é que o uso do

computador seja mesclado com a leitura de bons livros e revistas adequados a

cada fase da vida da criança. As festas regionais que contam tantas histórias

dos nossos antepassados também contribuem neste processo. A criança

aprende histórias brincando, contadas pelas cantigas, roupagens e enredos.

Deste modo, vamos criando valores morais e informações práticas

valiosas para a vida da criança. Enriquecer o mundo interior também é ter a

chance de dar “azas a imaginação” e ser livre para criar brinquedos e

brincadeiras sem receber críticas destrutivas. Este processo facilita para que

não seja cortado o aprendizado.

A criança aprende brincando. É importante que os pais e

educadores ofereçam uma margem de liberdade para que as crianças criem

brincadeiras e objetos e as observe nesse processo. Um bom exemplo desse

fato aconteceu recentemente no Festival Internacional Animação, Anima

Mundi, no Rio de Janeiro, onde pais e filhos, avós e netos, todos puderam criar

juntos personagens, histórias e animá-las.

Esse ano( 2012) há também uma versão interativa do zootrópio. Os visitantes fazem uma animação a partir dos movimentos do corpo. “O público aprendeu o que é animação, aprendeu a querer consumir animação. Muitos aprenderam a produzir aqui dentro, a saborear e decidir que aquilo seria uma carreira”, explicou a diretora do festival, Léa Beatriz Zagury.

http://g1.globo.com/bom-dia-

brasil/noticia/2012/07/festival-de-animacao-

diverte-e-ainda-e-boa-opcao-de-negocios.html

Por isso, seria muito interessante e produtivo que houvesse mais

lugares onde as crianças pudessem realizar atividades que favoreçam este

processo de enriquecimento. O Estado investe pouco em lugares onde a

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criança possa brincar e aprender. Falta espaço público para as atividades

lúdicas infantis.

Moramos em um território estimado pelo IBGE em 8.514.877 de

metros quadrados de pura esperança! Abrigamos 196.526.293 pessoas,

oriundas dos quatro cantos do mundo. Destas, aproximadamente 70 milhões

são crianças e jovens até 15 anos. Apesar desse número significativo quantos

lugares públicos, como as pracinhas, onde o encontro dessas diversas culturas

possa acontecer de forma espontânea e enriquecedora, existem em cada

bairro nas cidades? Quantas quadras de esportes oferecemos as crianças e

aos jovens brasileiros? Quantos eventos culturais como música, museus,

exposições de arte, circo, encontros para leitura de livros infanto-juvenis,

quantas festas públicas são direcionadas pelo Estado para esse público com a

mesma ênfase que é dada ao Carnaval?

A perspectiva de Vigotsky, em algumas de suas passagens, parece

corroborar este ponto de vista.

As origens da vida consciente e do pensamento abstrato deveriam ser procuradas na interação do organismo com as condições de vida social e nas formas histórico-sociais de vida da espécie humana e não, como muitos acreditavam, no mundo espiritual e sensorial dos homens. Sendo, portanto, necessário analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior dos indivíduos a partir da interação destes com a realidade. http://afolena.vilabol.uol.com.br/vigotsky.htm em 19/07/2012 às 15:24hs

Brincar é importante para desenvolver a capacidade criativa da

criança e também para que ela tenha como expressar seus sentimentos.

Através dos desenhos, por exemplo, a criança pode exteriorizar o que mais a

aflige no seu meio ambiente, como a violência e a pobreza. Mas também pode

expressar seus sentimentos de amor pela mamãe, pela família e pela escola.

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Segundo PIAGET (1967)citado por, “o jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”. Através dele se processa a construção de conhecimento, principalmente nos períodos sensório-motor e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvendo a noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica. As crianças ficam mais motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais. (Aprender Brincando: O Lúdico na Aprendizagem Autora: Juliana Tavares Maurício.

(http://www.profala.com/arteducesp140.htm em 15 de junho de 2012 às 15 hs)

Em resumo, o enriquecimento do mundo interior é de fundamental

importância para o desenvolvimento da criança. Ela aprende brincando a

conviver com os amigos, a vencer desafios, a lidar com as possíveis derrotas e

a superar medos. Também é interessante que ela faça os primeiros contatos

com as profissões dos adultos e, através de jogos e brincadeiras, ir projetando

para o futuro um caminho profissional, seja pela identificação ou pela

admiração que sente por algum adulto em especial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Analfabetismo Funcional é sinônimo ora do descaso das autoridades

competentes, ora de um mal necessário a países que precisam de mão de obra

desqualificada, barata como uma extensão da escravidão.

O mundo inteiro vem discutindo o método. Aqui não, só existe a verdade de 'santa' Emilia Ferreiro. O Brasil inteiro fica de joelhos diante dela", critica Capovilla, nascido em Valinhos (SP) e formado em psicologia pela PUC de Campinas (SP). Para ele, o atual método de alfabetização baseado nos construtivistas, e por conseguinte adotado pelos PCNs, são "obras-primas de burrice pré-científica". Jean Piaget (1896-

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1980), criador do construtivismo, e o educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) seriam outros profetas ultrapassados pela nova crença fônica. "Piaget e Paulo Freire foram gigantes, mas de seu tempo", defende Capovilla.

(25/11/2003- 02h50 Perfil: Dissonância na

Alfabetização- Cynara Menezes, free-lance da

Folha de São Paulo)

Atualmente ainda são muitos os analfabetos funcionais no Brasil.

Alguns de nós, que contamos com professores revolucionários e muito

competentes, compromissados com o seu trabalho e amantes do saber,

escapamos desta realidade. Muitos de nós contamos também com a ajuda de

pais e amigos para nos ensinar a aprender e a pensar.

O país ainda enfrenta problemas graves de moradia, de condições

de saneamento básico, de saúde e de Educação. No Rio de janeiro, como em

diversas cidades do Brasil, milhares de pessoas se amontoam nas favelas, em

busca de trabalho e estudo em locais mais próximos de suas casas. A renda

“per capta” oscila entre pobreza dos moradores das palafitas da Vila Gilda em

Santos (miséria absoluta) às mansões do Morumbi em São Paulo. O mesmo

acontece se pensarmos na Comunidade do Jacarezinho no Rio de Janeiro

(paupérrimas) às mansões do Alto Leblon, numa variável desmedida. Como

faremos para atender às nossas crianças no Ensino Fundamental.

O analfabetismo funcional pode ser considerado uma doença social

crônica se nos basearmos apenas nos fracassados métodos de alfabetização

adotados no Brasil. Um mal irreversível se considerarmos a fé que os inocentes

pais e crianças depositam na entidade escola. Uma praga sem data

aproximada para se extinguir se considerarmos que o progresso de um país se

inicia 100 anos antes nos bancos escolares.

Como visto, este é um problema muito abrangente no que diz

respeito a ações por parte do Governo. Seria imprudente simplificar uma nova

política educacional para combater o analfabetismo funcional apenas se

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modificando o método de alfabetização. Existem fatores tão ou mais

importantes do que a simples mudança metodológica.

Não podemos desconsiderar a importância da qualidade de vida da

gestante e da criança em sua primeira infância. Pelo que foi descrito

anteriormente, percebe-se que uma dieta rica em nutrientes determinados é de

fundamental importância para o posterior sucesso intelectual. O mesmo pode

ser dito da estimulação cerebral na infância.

Medidas aparentemente simples podem contribuir em médio prazo

para a erradicação deste problema. Um atendimento pré-natal de qualidade é

indispensável. O acompanhamento do crescimento e desenvolvimentos das

crianças de 0 a 6 anos, que vem sendo oferecido pelo Ministério da Saúde

pode e vem sendo ampliado.

Também devemos considerar a importância do que chamo de

enriquecimento do mundo interior, ou seja, colocar à disposição da criança

todas as formas possíveis de informações compatíveis não apenas com o seu

meio ambiente, mas que cheguem a todas as crianças o mesmo tipo e

qualidade de informação que recebem as crianças mais privilegiadas

economicamente.

Quando a família não detém essas informações para oferecer às

crianças, por falta de recursos de ordem econômica ou cultural, a escola

(Estado) deveria realizar esse trabalho. Todas as crianças do país merecem a

mesma qualidade de educação, para quando chegarem à idade adulta

poderem dispor de uma bagagem cultural compatível.

É lógico que também não podemos descuidar da questão do

método. Salientou-se neste trabalho a importância do método fônico, pois este

vem apresentando um excelente resultado em países onde é aplicado. O

método de alfabetização é um caso mais urgente, é fato e precisa ser

reavaliado o quanto antes.

Para finalizar, gostaria de destacar a importância de algumas

iniciativas. O trabalho da Fundação Lemann, por exemplo, vem provando que é

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possível realizar uma excelente atividade educacional mesmo em lugares

distantes e com crianças muito pobres. Este tipo de ação pode gerar algumas

pistas interessantes do caminho a seguir de forma global

Existem 82 escolas, nos lugares mais pobres do Brasil, como a

periferia de Alagoas, área rural do Piauí, atendidas pela Fundação Lemann.

Baseando o trabalho pedagógico numa prática de não deixar para trás nenhum

aluno que apresente dificuldade de aprendizado, corrigindo as deficiências

dessas crianças e resolvendo os problemas de frequência, o resultado final tem

sido excelente.

Num colégio no interior do Amazonas, professores vão buscar em casa alunos faltosos e alfabetizam pais que não sabem ler. Na zona rural de Teresina, uma escola de filhos de lavradores teve o Ideb mais alto da rede pública no Nordeste.

Jornal O Globo-08/07/2012- autor Antônio Góis

Esses alunos estão entre os 25% das crianças mais pobres do

Brasil. Os educadores acreditam que, justamente por esse motivo, elas devem

ser muito bem atendidas para compensá-las das dificuldades intrínsecas, não

deixando que fiquem reféns das condições de pobreza em que nasceram.

Usaram dois critérios para encontrar as crianças mais pobres. Pobres de

riquezas materiais e pobres de conhecimento. Dentre os mais pobres foram

selecionados aqueles que obtiveram o pior desempenho no Ideb (Índice de

desenvolvimento da educação básica). O cálculo foi feito em 43.574 escolas

públicas.

Do confronto entre os dois rankings, foi possível verificar colégios que ganham mais de 40 mil posições. Ou seja, trabalham com os alunos da rabeira do ranking de pobreza, mas levam-nos ao topo do aprendizado http://oglobo.globo.com/educacao/brasil-tem-82-escolas-de-primeiro-mundo-em-areas-pobres-5419543#ixzz21Ur7nQeX

Para obter um bom resultado são considerados os problemas

oriundos da pobreza, como a violência dentro e fora de casa e defendem a

necessidade do horário integra nas áreas mais carentes. Os professores desse

projeto sentem-se incentivados pelos diretores e o trabalho em equipe é

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harmonioso. Os responsáveis pela Fundação Le Mann defendem o horário

integral para as escolas. Assim é possível cuidar melhor da nutrição dos

estudantes e obter um bom resultado na aprendizagem.8

Assim, inspirados neste tipo de iniciativa, vê-se que o combate ao

analfabetismo funcional deve ser encarado com seriedade. São muitas as

questões envolvidas na busca de alternativas satisfatórias. Se a discussão se

limitar a apenas uma destas dimensões, não obteremos, infelizmente, os

resultados esperados O presente trabalho procurou jogar luz em alguns pontos

relevantes deste processo.

Referências Bibliográficas

MOREIRA, Daniel Augusto. O analfabetismo funcional: o mal nosso de cada

dia. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2003.

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RIBEIRO, Vera Masagão. Alfabetismo funcional: referências conceituais e

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RIBEIRO, Vera Masagão; VOVIO, Claudia Lemos and MOURA, Mayra

Patrícia. Letramento no Brasil: alguns resultados do indicador nacional de

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TOV (2012) –folha azul

PIRES, Marta Pires- Fundamentos Biológicos da Educação, Wak -2009

SAMPAIO, Simaia- Dificuldades de Aprendizado, Wak -2011

BOSSA, Nadia A.- A Psicopedagogia no Brasil, Wak-2011

Jornal O Globo-08/07/2012- autor Antônio Góis

25/11/2003- Perfil: Dissonância na Alfabetização- Cynara Menezes, free-lance

da Folha de São Paulo

( O Estado de São Paulo, 5 de dezembro,p. A9) resultado obtido pelo

PISA,2001 ( Programa Internacional de Avaliação de Alunos )

Questão de método/ Revista Educação-ed.244,agosto de 2001)Kristhian

Kaminski e Patrícia Gil

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( texto adaptado das aulas de Marta Relvas no curso de pós-graduação em

Psicopedagogia-2012)

Alfabetização: Método fônico – Alessandra G.S- Capovilla- Fernando Capovila-

quarta edição revisada e ampliada-ed Memnon-SP,2007

(MEC/Inep, 2005, p.12)

.( Revista Nova Escola edição 228/dezembro de 2009.)

(2001, Folha de São Paulo, 5 de dezembro,p. C11)

Fontes da mídia eletrônica

http://oglobo.globo.com/educacao/brasil-tem-82-escolas-de-primeiro-mundo-

em-areas-pobres-5419543#ixzz21Ur7nQeX

Juliana Tavares Maurício (http://www.profala.com/arteducesp140.htm em 15

de junho de 2012 às 15 hs)

http://afolena.vilabol.uol.com.br/vigotsky.htm em 19/07/2012 às 15:24hs

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2012/07/festival-de-animacao-diverte-

e-ainda-e-boa-opcao-de-negocios.html

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(© 2002. Ministério da Saúde É permitida a reprodução parcial ou total desta

obra, desde que citada a fonte.)

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf

Adaptação do texto-© 2002. Ministério da Saúde /É permitida a reprodução

parcial ou total desta obra, desde que citada a

fontehttp://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.

pdf

http://www.conteudoescola.com.br/component/content/article/30/124/eescrito

por Mara Musa Soares Silveira

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