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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Por: Jane Mac Dowell de Araújo Cruz Orientador Prof ª. Edla Lucia Trocoli Xavier da Silva Rio de Janeiro 2012 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · denominadas "bruxas" em tal condição; embora as bruxas "reais" sejam usualmente retratadas como megeras, nem sempre os contos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS DE FADAS NO

DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Por: Jane Mac Dowell de Araújo Cruz

Orientador

Prof ª. Edla Lucia Trocoli Xavier da Silva

Rio de Janeiro

2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS DE FADAS NO

DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Educação Infantil e

Desenvolvimento.

Por: Jane Mac Dowell de Araújo Cruz

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AGRADECIMENTOS

A Deus, em primeiro, pelo dom da

vida, pela minha fé grandiosa e por

iluminar os meus caminhos, à minha

professora orientadora, pela paciência

e tranqüilidade com que soube me

ajudar e a todos que contribuíram para

o meu sucesso.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia à minha família,

ao meu esposo, por ficar ao meu lado em

todos os momentos, acreditando na

minha realização profissional, me

apoiando e me amando sempre, a minha

filha, que tanto amo e torço pela sua

felicidade, a minha querida mãezinha, que

sempre acreditou nos meus sonhos, a

minha irmã, sempre carinhosa e pronta

ajudar, ao meu irmão, a minha sobrinha,

às minhas amigas e a todos aqueles que

acreditam na realização de um sonho.

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RESUMO

Este trabalho monográfico tem como tema A Contribuição dos Contos de

Fadas no Desenvolvimento Infantil, abordando de forma significativa, a

importância que a contação de história revela-se na dimensão pedagógica e

em que aspectos podem viabilizar o desenvolvimento infantil. A pesquisa teve

como suporte teórico autores como Bettelheim (1980), Coelho (2000),

Abramovich (1997) entre outros. Apresenta uma abordagem qualitativa, que

favorece a reflexão e interação acerca das teorias e hipóteses levantadas. O

questionamento que motivou a escolha desse tema foi: como o professor pode

fazer a contação de história em sala de aula contribuindo significativamente

para o desenvolvimento da criança nessa primeira etapa da educação básica.

A partir da vivência em sala com as crianças foi possível perceber a

importância que a contação têm no desenvolvimento infantil, pois a história

apresente-se como um recurso valioso para o desenvolvimento das habilidades

da criança contribuindo no processo ensino-aprendizagem.

Palavras chave: Contos de fadas, contação de histórias, desenvolvimento

infantil e aprendizagem.

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METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica teve como suporte a utilização de documentos,

livros, artigos de revistas, textos e aula acompanhada durante o período desta

pós-graduação, possibilitando a fundamentação sobre o tema e amparando a

elaboração do texto monográfico, buscando assim verificar e compreender a

utilização da contação de história no desenvolvimento infantil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – A Origem dos Contos de Fadas 10

CAPÍTULO II – Os Contos de Fadas para a

Formação da Criança 19

CAPÍTULO III – A Contribuição dos Contos

para a Educação 29

CAPÍTULO IV – O Uso dos Contos de

Fadas na Prática Pedagógica 37

CONCLUSÃO 46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49

ÍNDICE 50

FOLHA DE AVALIAÇÃO 51

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INTRODUÇÃO

Apresente monografia tem como tema A CONTRIBUIÇÃO DOS

CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL. A escolha deste

tema tem como referência a experiência de quatro anos como educadora em

creche com atendimento de crianças na faixa etária de zero a cinco anos, onde

observamos na atividade de contação de história que as crianças demonstram

verdadeiro fascínio e internalizam os personagens no seu mundo imaginário.

Dessa forma este trabalho parte do seguinte questionamento: de que

forma o professor pode fazer a contação de história em sala de aula

contribuindo significativamente para o desenvolvimento da criança e por que os

contos de fadas contribuem no processo de aprendizagem no desenvolvimento

infantil. Assim este estudo propõe-se como objetivo: compreender melhor os

mecanismos da aprendizagem através dos Contos de Fadas, entender como

os Contos de Fadas contribuem para o processo sadio do desenvolvimento

infantil e compreender a importância dos Contos de Fadas na prática

pedagógica.

A importância deste trabalho aqui proposto vincula-se ao entendimento

de que, procura relacionar à psicologia ao desenvolvimento infantil ao

observamos que os contos de fadas exercem enorme fascinação no imaginário

infantil. Sob está ótica de análise podemos identificar em A Psicanálise dos

Contos de Fadas de Bruno Bettelheim características e conteúdos que

promovem semelhantes discussões acerca da abordagem aqui proposta, e

consequentemente vasta conteúdo que irá embasar a pesquisa sobre o tema

em questão.

Para desenvolver estas ideias, a monografia foi organizada da seguinte

forma: capítulo I, A origem dos Contos de Fadas, capítulo II, Os Contos de

Fadas para a Formação da Criança, capítulo III, A Contribuição dos Contos

para Educação e capítulo IV, O Uso dos Contos de Fadas na Prática

Pedagógica.

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O que pretendo esclarecer, neste trabalho, é que uma narração

fantástica, que junta o simbólico à magia, fala sobre um mundo que a criança

reconhece, convidando, mais do que qualquer outra, a uma viagem mágica no

mundo da imaginação, permitindo que a criança se identifique neste mundo, se

conheça melhor, dando sentido aos seus sentimentos e colocando ordem no

seu interior e na sua vida.

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CAPÍTULO I

A ORIGEM DOS CONTOS DE FADAS

Os Contos são um desenvolvimento do mito, suas principais

características são a presença do maravilhoso e de poucos personagens, onde

estes possuem a sua característica principal elevada. Por exemplo: ou são

muito bons ou muito maus, muito feios ou muito bonitos.

Os contos de fada, quando lidos, continuam a encantar crianças e

adultos, textos que resgatam o pouco da magia que ficou em suas lembranças

dos tempos em que seus pais sentavam com eles na sala, no quarto ou na

varanda para contar as histórias mais fantásticas de belas princesas e de

reinos distantes.

Quando interpretamos contos de fadas para as crianças, certamente

estamos ajudando-as a recuperar partes de uma infância que se perdeu num

tempo em que usavam a linguagem de seus sonhos para conversar com fadas

e enfrentar gigantes. Através das histórias lidas pelas próprias crianças ou

contadas pelo professor, é possíveis que elas experimentem estados afetivos

diferentes daqueles que a vida real pode lhes proporcionar

Os primeiros contos datam da idade média (Séc. V ao Séc. VX). Dentre os grandes escritores destes contos podemos citar: La Fontaine, que se destaca por suas fábulas; Hans Christian Andersen com sua obra mais famosa “O Patinho Feio”; Lewis Carrol e sua “Alice no país das maravilhas”; Jacob e Wilhelm Grimm, mais conhecidos como os irmãos Grimm e seus contos maravilhosos.( GÓES, 1991, p. 17)

Os contos de fadas são uma variação do conto popular ou fábula.

Fadas são entidades fantásticas, características do folclore europeu ocidental.

Apresentam-se como mulheres de grande beleza, imortais e dotadas de

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poderes sobrenaturais, capazes de interferir na vida dos mortais em situações-

limite. As fadas também podem ser diabólicas, sendo corriqueiramente

denominadas "bruxas" em tal condição; embora as bruxas "reais" sejam

usualmente retratadas como megeras, nem sempre os contos descrevem fadas

"do mal" como desprovidas de sua estonteante beleza.

Todo mundo que lê um livro ou ouve uma história tem a predisposição,

criança ou não, de incorporar normalmente este ou aquele personagem. Daí, o

valor dos contos e fábulas, principalmente para crianças, pessoas com

facilidade em se projetar inconscientemente no todo ou em parte, o que

simplifica certos aprendizados.

Os contos de fadas fazem parte desses livros eternos que os séculos não conseguem destruir e que, a cada geração, são redescobertos e voltam a encantar leitores ou ouvintes de todas as idades. (COELHO, 2004, p. 21).

De acordo com Ligia Cademartori, atualmente fala-se em complexo de

cinderela em complexo de Peter Pan, nomes de dois recentes sucessos

editoriais a respeito de determinados componentes. Não interessa, aqui, a

maior ou menor representatividade desses complexos , mas a designação, esta

sim, recurso a um repertorio universal e que conta, por isso, com uma

comunicação garantida.

Para a autora o mito de Édipo poucos conhece, mas todos sabem das

circunstancias da Cinderela e que fator determinou o seu final feliz. Esta

personagem da literatura infantil, como tantas outras, integra o imaginário de

um imenso número de pessoas no lado ocidental do globo e circula por

diversas manifestações culturais.

A principal questão relativa à literatura infantil diz respeito ao adjetivo

que determina o público a que se destina. A literatura, enquanto só substantivo,

não predetermina o público. Supõe - se que este esteja formado por quem quer

que esteja interessado. A literatura com o adjetivo, ao contrário, pressupõe que

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sua linguagem, seus temas e pontos de vista objetivam um tipo de destinatário

em o que interessa a esse público especifico.

Como, geralmente, o autor da literatura infantil não é a criança e

escreve para a criança , a ausência de correspondência entre o autor e o leitor

gera indagações que se aprofundem quando se considera o lugar de

dependência da criança se considera o lugar de dependência da criança no

mundo social.

A questão tem seus melindres, suas peculiaridades e sua necessidade,

Seu exame exige que se considere a importância que o assunto está ganhando

no Brasil de hoje; a questão do adjetivo infantil como uma definição de gênero;

o momento em que surgiu a literatura infantil, por que isso permite identificar

peculiaridades que acompanham o gênero desde seu nascimento; autores e

obras que fazem a literatura infantil brasileira. Por último, como esses aspectos

não conseguem se distanciar muito da preocupação com a educação e com o

desenvolvimento há que se considerar o papel da literatura nos primeiros anos.

1.1 O Surgimento das Fadas

Segundo a escritora Nelly Novaes coelho é impossível definir com

precisão o ponto geográfico ou o momento temporal em que as fadas teriam

nascido. Entretanto, o mais provável é elas teriam surgido e arraigado naquela

fronteira ambígua entre o real e o imaginário, que vem, desde a origem dos

tempos, atraindo os homens.

Desta forma para Coelho têm sido grandes os esforços para descobrir

o possível local de nascimento das fadas. Paciente pesquisa de historiadores,

arqueólogo, filosofa etnológicos, cronistas ou compiladores, que através dos

tempos se debruçaram sobre a literatura primitiva dos mundos oriental e

ocidental, acabaram por tecer uma intrincada rede de dados históricos,

místicos, e lendários, que pacientemente percorridos e confrontados entre si,

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oferecem algumas pistas plausíveis para uma possível elucidação acerca da

presença das fadas na vida dos homens.

Conforme Coelho, a origem celta das fadas parece não haver mais

nenhuma dúvida entre os pesquisadores. Desde a antiga menção a tais seres,

tudo leva a essa certeza. Estudiosos das tradições celtas definem suas fadas

aparecem ligadas ao amor, ou sendo elas próprias às amadas, ou sendo

mediadoras entre os amantes.

A partir da cristianização do mundo, que viajava, muitas vezes, sob a

forma de um pássaro, um cisne de preferencia. Para a autora na maioria das

tradições, as fadas aparecem ligadas ao amor, ou sendo elas próprias às

amadas, ou sendo mediadoras entre os amantes. A partir da cristianização do

mundo , foi esse último sentido que predominou, perdendo-se completamente

aquela outra dimensão “mágica” sobrenatural.

Ser dotado de magia, a fada foge às contingências das três dimensões; e a maça ou varinha , que carrega ,tem qualidades maravilhosas , segundo a crença celta , nem os poderosos sacerdotes druidas poderiam reter aquele a quem chama para si; e seu eleito perde o alento vital, quando se afasta.( CHEVALIER E GHERBRANT .Dictionnaire des symboles ,Paris, seghes, s.d.)

Segundo a autora, curiosamente, existem testemunhos de clarividências,

fenômenos, paranormais ou parapsicólogos, que afirmam a existência das

fadas, de modo absolutamente natural, em nosso mundo, embora elas sejam

invisíveis ao olhar ou percepção comum.

Para Gelder, Dora Van.op.cit .,p.14

É preciso despertar um sentido especial em quem quiser ver fadas. A espécie de mundo em que elas vivem não afeta, diretamente, os nossos sentidos habituais (...). Todos os homens têm latente , um sentido mais delicado do que a visão , e certo número de pessoas tem- no bem aguçado .É este sentido mais elevado de percepção que é usado para observar as ações no mundo .

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1.2 grandes autores da Literatura Infantil

Andersen, La Fontaine, Perrault, Esopo, Carrol e os irmãos Grimm –

estes nomes são dos papas das histórias infantis. Vamos falar de um por um,

em ordem cronológica. Esopo - O mais mítico do “sexteto” acima nasceu

supostamente na Grécia, em alguma cidade não identificada. A paternidade do

gênero é inclusive atribuída a ele. Jean de La Fontaine serviu-se muitas vezes

das histórias de Esopo, que teria vivido na Antiguidade, por volta do século VI

a.C Demétrio de Falero escreveu sobre ele em 325 a.C. e narrava que ele teria

sido um escravo libertado por seu senhor devido à beleza de suas fábulas,

geralmente protagonizadas por animais, contudo com grandes lições humanas

no final. Esopo mesmo nunca escreveu nada, pois era de um tempo da

tradição oral.

La Fontaine – Jean de La Fontaine nasceu em Paris no ano de 1621.

Apesar de estudar teologia e direito, sua influência maior foi a literatura. Aos 26

anos, por pressão paterna casou-se com Marie, de apenas 14 anos. Um

casamento fracassado, que gerou um filho. Tornar-se-ia inspetor de águas

como o pai, contudo, escrever já estava em seu sangue. Antes de ser fabulista,

tentou a teologia e a poesia, sem muita repercussão. A grande obra de sua

vida chamou-se nada casualmente deY Fábulas e foi escrita em três partes,

entre 1668 e 1694. Assim como Esopo teria a pecha de criar a fábula, La

Fontaine leva a fama de pai da fábula moderna. Morreu em 1695.

Charles Perrault - Nascido a 12 de janeiro de 1628, escritor e poeta,

baseou-se nas fábulas para criar o Conto de Fadas. Se os citados

anteriormente possuem paternidade nas fábulas, Perrault seria o pai da

literatura infantil.

Perrault foi imortalizado por criar uma literatura de cunho popular que caiu

no gosto infantil e contou também com a aprovação dos adultos. Na verdade,

na metade dos principais contos de Perrault não há fadas, assim categorizá-los

como contos de fadas não seria o melhor. Eles são contos maravilhosos, uma

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vez que aparecem elementos fora da realidade concreta, inclusive as fadas

(boas ou más).

A literatura infantil tem como parâmetro contos consagrados pelo

público mirim de diferentes épocas que, por terem vencido tantos teste a

recepção, fornecem aos pósteros referencias e respeito da constituição da

tônica literária do texto destinado à criança .no século XVII, o francês Charles

Perrault (cinderela, chapeuzinho vermelho) coleta contos e lendas da idade

Média e adaptá-la , constituindo os chamados contos de fadas, por tanto tempo

paradigma do gênero infantil.

Como já foi dito, no século XIX, a outra coleta de contos populares é

realizada na Alemanha, pelos irmãos Grimm, ( João e Maria , Rapunzel ) ,

alargando a antologia dos contos de fadas .Através de soluções narrativas

diversas , o dinamarquês Christian Anderson ( O patinho feio , os trajes do

imperador), o italiano Coollodi (Pinóquio), o inglês Lewis Carrol ( Alice no país

da maravilhas ), o americano Frank Baum ( O mágico de Oz ) o escocês James

Barrie ( Peter Pan) constituem-se em padrões de literatura infantil.

Questões relativas à obra de Charles Perrault, frequentemente apontado

como iniciador da literatura infantil , vincula-se a pontos básicos da questão da

natureza da literatura Infanto Juvenil , como, por exemplo , a preocupação com

o didático e a relação com o popular .

A coleção dos textos de Perrault constitui-se em um dos textos mais

célebres da literatura francesa e, também, um dos textos mais referidos a

menos comentados pela critica literária, quer na dimensão de arte quer como

documento. Na verdade, a análise dos contos de Perrault requer um enfoque

interdisciplinar, sendo que os problemas que suscita não se restringem. À

teoria da literatura, à sociologia, à psicanálise ou ao folclore, mas reclamam

uma união desses enfoques que relacione os diversos elementos que integram

o texto e resolva as inúmeras contradições com que o analista se defronta.

Charles Perrault, coletor de contos populares, realiza seu trabalho após a

Fronte, movimento popular contra o governo absolutista no reinado de Luís

XIV, cuja repressão deixou marcas de terror na França. Os contos chegam à

família Perrault através de contadores que na época, se integravam à vida

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domestica como servo. Considere-se que se trata de um momento histórico de

grande tensão entre as classes. O burguês Perrault despreza o povo e as

superstições populares e, como homem culto, as ironiza. Seus contos, em

alguns momentos, caracterizam - se por certo sarcasmo em relação ao

popular. Ao mesmo tempo, são marcados pela preocupação de fazer uma arte

moralizante através de uma literatura pedagógica.

Apesar do pretendido distanciamento com que Perrault trata o popular, a

intenção burlesca, depreciativa, em relação aos motivos populares, não

impediu, em muitos momentos, a adesão afetiva àquelas personagens

carentes que delineia. Caracterizadas, no inicio da narrativa, pelo estado de

precariedade, suas personagens tornam-se triunfante no final, estereótipo que

se encontra na maioria dos contos orais e que refletem, sem dúvidas, as

tensões e as soluções sonhadas pelos camponeses vitimas do antigo regime.

O trabalho de Perrault é o de um adaptador. Parte de um tema popular

trabalha sobre ele e acresce-o de detalhes que respondem ao gosto da classe

á qual pretende endereçar seus contos: a burguesia. Além dos propósitos

moralizantes, que não têm a ver com a camada popular que gerou os contos ,

mas com os interesses pedagógicos burgueses, observam-se os seguintes

aspectos que não poderiam provir do povo :referência à vida na corte, como

em A bela adormecida ; à moda feminina, em cinderela ; ao mobiliário, em, O

barba azul .ressalte-se , porém , que não há dissociação entre a literatura oral

e a versão culta, os elementos coexistem, processando-se um alargamento do

domínio da cultura gráfica , que passa a manter relações de integração com a

popular.

Pesquisas históricas, recentes mostram que a época de Luís XIV não foi

uma era majestosa e refinada, como se descreveu por muito tempo, e cuja

imagem os textos de Perrault contribuíram para caracterizar. Ao contrário, foi

um período duro, penoso, em que as estruturas sociais e politicas se

transformam e as condições se acentuavam.

Apesar de a economia francesa ser, na época, essencialmente agrícola, a

vida dos camponeses era marcada pela privação. No campo, ainda se vivia a

Idade Média. Os legisladores e os bispos haviam-se voltado para a massa

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camponesa, mas seu objetivo verdadeiro não era a educação das gentes do

campo, e sim o controle da fé dessas massas e, consequentemente, a lealdade

delas. Num contexto onde os contrastes sociais eram tão fortemente marcados,

evidentemente, toda divergência religiosa tinha uma ressonância politica. Os

séculos de maior repressão religiosa, na França, são os séculos XVI e XVII,

devido ao agravamento das contradições econômicas e à violência de

contrarreforma.

A despeito do processo de cristianização desenvolvido pelo poder nesse

período, ao cristianismo obrigatório do povo se mistura um paganismo residual

que ganha aparências múltiplas. Ao lado dos ritos da Igreja Cristã,

permanecem as superstições. São os deuses pagãos que, cristianizados sob a

forma de santos, garantem a fertilidade dos campos e preservam o corpo de

doenças.

Nesse contexto é que cabe situar o folclore, isto é, o conjunto de

manifestações artísticas do povo: danças, cerimonias, canções e,

especialmente, contos: fator de reconhecimento entre os camponeses,

manifestações de sua própria imagem, reflexo de suas contradições e de suas

crises e, cartaticamente, representação de uma solução possível que não

poderia ser outra forma se manifestava através de mágica e do elemento

maravilhoso.

Esses aspectos estão no âmago dos contos de fada e, malgrado e

cristianização e os propósitos moralizantes, eles permanecem perversos,

amorais e angustiantes como legitimo produto da classe sofrida e

marginalizada que gerou. O material é menos maleável do que gostariam os

adaptadores em seus propósitos educativos e, como mostra Bettelheim, os

contos são eficazes exatamente pelo contrário das razões que levaram os

burgueses a adotá-las: valem pelo terror e pelo conflito que apresentam

criança, permitindo, terapeuticamente, a solução de suas próprias turbulências

emocionais.

A criança na época era concebida como um adulto em potencial, cujo

acesso ao estagio dos mais velhos só se realizaria através de um longo

período de maturação. A literatura passou a ser vista como um importante

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instrumento para tal, e os contos coletados junto às fontes populares são

postos a serviços dessa missão. Tornam-se didáticos a adaptados à longa

gêneses do espirito a partir do pensamento ingênuo até o pensamento adulto

evolução do irracional ao racional.

Na base do trabalho de adaptação, está o conceito de que a ingenuidade

da mentalidade popular identifica-se com a ingenuidade da mentalidade infantil.

A vocação pedagógica de Perrault é secundária e confusa. Delineia–se com

mais propriedades sua relação com o popular, apesar de estar ser, também,

contraditória. Mesmo sem total adesão o que, Perrault pertencia vivia uma

inconsciência em relação ao que era realmente popular, ele realizou o que se

pode chamar de uma recuperação da cultura popular, procurando reconstituir

os procedimentos narrativos de maneira mais fiel possível.

Talvez nesse momento tenha sido inaugurada a confusão que fortaleceu

os laços entre literatura popular e literatura infantil e que tem por base a

aproximação de duas ignorâncias: a do povo, devido à condição social, e a

infância, devido á idade. Essa aproximação terá uma solução de continuidade,

podendo ser encontrada na origem da coleta de Grimm, permanecendo

algumas sequelas até nossos dias. Que tem permitido atribui-se a Perrault a

iniciação da literatura Infanto juvenil. Na realidade, essa realidade já existia

antes dele, sob duas formas: a literatura já existia antes dele, sob duas formas:

a de literatura pedagógica, na cultura erudita, de que são exemplos os textos

dos jesuítas, e a literatura oral, de vertente com ditos e provérbios. E um dos

elementos, entre tantos, que garantiu a mente, a utilização de grande número

de ditos, ao mesmo tempo pitoresco e fáceis de serem retidos na memoria pelo

público infantil. Na convenção da literatura popular infantil, Perrault revela o modelo

educativo imposto a ele e sua época. O conto de Griselda, por exemplo,

apresenta faltas, censuras, conceito de pudor e feminilidade que

caracterizavam a mentalidade da época. Os Perrault foram marcados pelo

jansenismo com o ideal de educação muito normativo e austero. Nos contos,

porém, esse ideal é ambíguo, misturando severidade e indulgencia.

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CAPÍTULO II

OS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA

Segundo Bettelheim, os contos de fadas exercem uma influência muito

beneficente na formação da personalidade da criança porque, através da

assimilação dos conteúdos da estória, as crianças aprendem que é possível

vencer obstáculos e saírem-se vitoriosas. Isso ocorre porque, durante o

desenrolar da trama, a criança se identifica com as personagens e “vive” o

drama que ali é apresentado de uma forma geralmente simples, porém

impactante. E o (heroi sempre vence no final). Ao ouvir uma estória, o

imaginário da criança é acionado e, inconscientemente, as emoções

provocadas pelos medos, frustrações, amores, desejos, sentimentos os mais

variados. Daí porque, enquanto ouvem as estórias, emocionam-se com tal

intensidade que têm “frios na barriga”, sustos, etc.

De acordo com Bettelheim, os conflitos internos importantes,

intrínsecos ao ser humano, como a inevitabilidade da morte, o envelhecimento,

a luta entre o bem e o mal, a inveja, etc. são tratados nos contos de fadas de

modo a oferecer desfechos otimistas. Desta forma, oferece à criança uma

referência para elaborar os terríveis elementos ansiógenos que habitam seu

imaginário, como seus medos, desejos, amores e ódios, etc., que na sua

imatura perspectiva concreta apresentam-se amedrontadores e insolúveis.

Explicar a uma criança por que um conto de fadas é tão cativante para ela, destrói, acima de tudo, o encantamento da estória, que depende em grau considerável, da criança não saber absolutamente por que está maravilhada (BETTELHEIM, 2000, p.27).

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Para VON FRANZ (1980), A criança, internamente, fará a transposição

para a sua realidade atual. E em função de suas necessidades psíquicas

momentâneas, vão reelaborando seus conteúdos internos através da repetição

da história. É por isso que tão comumente vemos as crianças pedirem a seus

pais que repitam as mesmas estórias inúmeras vezes (ou desejam ver o

mesmo filme repetidamente), que a contem novamente sem nenhuma

modificação: trata se da referência que ela está usando para compreender-se,

para elaborar suas angústias ainda não resolvidas. Além disso, a repetição lhe

dá uma confirmação do conteúdo que ela está processando e precisará dessa

confirmação até que o conflito interno esteja solucionado. Só então deixará de

solicitar aquela estória. Outra função importante dos contos de fadas é a de

resgatar o “tempo da alma”, pois a vida infantil precisa cumprir cada etapa do

seu desenvolvimento para que uma estrutura psíquica equilibrada possa ser

elaborada.

A literatura feita para crianças é "o meio ideal não só para auxiliá-las a desenvolver suas potencialidades naturais, como também auxiliá-las nas várias etapas de amadurecimento que medeiam entre a infância e a idade adulta" (COELHO, 2000, p. 43).

A partir de uma linguagem simbólica, é possível à criança compreender alguns valores relativos ao convívio social e à conduta humana: Recoberto com seus fabulosos trajes simbólicos e com suas esquemáticas simplificações morfológicos, o conto de fadas nos mostra as linhas básicas do destino humano, a evolução pela qual todos os seres devem passar. (PAZ e TERRA 1989, p. 18).

Por isso, entende-se que o livro destinado à criança serve como meio

de desenvolvimento psicológico e emocional, interferindo, assim, na formação

futura de sua identidade. Isso reforça a ideia de que as histórias infantis fazem

parte do imaginário da criança.

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Os contos de fadas sempre tiveram a função de distrair e instruir,

podendo ser um valioso instrumento auxiliar na educação das crianças. A

escola então não pode se restringir somente à transmissão de conhecimentos

ela pode e deve contribuir para a formação pessoal de cada indivíduo.

Desse modo, no período de amadurecimento, as estórias infantis,

sobretudo os contos de fadas, são elementos decisivos na formação da criança

em relação à identificação de sua imagem e do mundo que a cerca.

O conto de fadas é terapêutico porque o paciente encontra sua própria solução através da contemplação do que a história parece implicar acerca de seus conflitos internos neste momento da vida. O conteúdo do conto escolhido usualmente não tem nada que ver com a vida exterior do paciente, mas muito a ver com seus problemas interiores, que parecem incompreensíveis. (BETTELHEIM, 1980, p. 33)

A verdadeira educação pode respeitar e aproveitar a natureza infantil.

Se a fantasia e as emoções infantis puderem estar integradas no processo de

desenvolvimento e conhecimento, a criança irá sentir-se respeitada e terá

condições satisfatórias de ingressar em um mundo social e cultural.

Portanto os educadores devem ter a literatura infantil e os contos de

fadas como um meio de socialização, um instrumento que os ajude a inserir as

crianças no mundo.

2.1. A Simbologia dos Contos de Fadas

Tanto as estórias infantis como os contos de fadas são construídos em

forma simbólica, já que são, originalmente, ficções, mas a grande diferença

entre elas é que a simbologia realista é destituída de magia, dificultando uma

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compreensão maior por parte da criança. A simbologia ligada à magia cria um

tipo de narração que possibilita, às pessoas, à construção de um mundo

ilusório, de situações imaginarias, onde objetos poderão ser utilizados como

substitutos de outros para solucionar conflitos internos. Daí a importância de se

desenvolver o pensamento simbólico, em especial nas crianças. E, na literatura

infantil, os contos de fadas se mostram mais adequados para isso. O conto de fadas se desenrola com características que se assemelham à

forma como a criança pensa e experimenta o mundo, e por esta razão os

contos de fadas são tão convincentes para ela. Ela pode obter um consolo

muito maior de um conto de fadas do que de um esforço para consolá-las

baseado em raciocínio e pontos de vista adultos. Uma criança confia no que o

conto lhe diz por que a visão de mundo ali apresentada está mais próxima da

sua.

A criança demonstra que suas relações com o mundo inanimado formam

um só padrão com as do mundo animado das pessoas, como, por exemplo,

quando ela faz carinho nas coisas que lhe agradam e bate nas coisas que a

machucam, como uma porta que prende o seu dedo. A criança age da primeira

forma porque está convencida de que essas coisas que lhe agradam gostam

de receber carinho tanto quanto ela. E, age da segunda forma, pois está certa

de que a porta lhe machucou o dedo, deliberadamente, por maldade.

Segundo Piaget o pensamento da criança permanece animista até a

puberdade, e no estágio de desenvolvimento pré-operatório, a criança se

encontra na fase egocêntrica, que tem como uma das características

marcantes a atribuição de sentimentos a objetos e pessoas. Por essa razão,

quando os pais e professores insistem em dizer-lhe que as coisas não podem

sentir e agir, elas fingem acreditar para agradar esses adultos, mas no fundo

essa criança acredita nos sentimentos das coisas.

O egocentrismo se caracteriza, basicamente, por uma visão da realidade que parte do próprio eu, isto é a criança não concebe um mundo, uma situação com objetos e pessoas, no sentido de atribuir a eles seus próprios pensamentos, sentimentos etc. Assim a criança dará explicações animistas (atribuição de características humanas a animais, por exemplo, dizer que a boneca vai

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dormir porque está com sono ou que a panela está sentada no fogão), artificialista (atribuição de causas humanas aos fenômenos naturais, exemplo disso é dizer que os rios foram feitos por um homem), etc. Este egocentrismo é tão marcante que se manifesta em todas as áreas de atuação da criança, ou seja, intelectual, social, de linguagem. (RAPPAPORT, 1981, p.68)

Para a criança não existe uma linha clara separando os objetos das

coisas vivas. E para a criança que tenta entender o mundo, parece razoável

esperar respostas daqueles objetos que despertam curiosidade. E como a

criança é egocêntrica, ela realmente espera que o animal fale sobre as coisas

que são significativas para ela, como fazem os animais nos contos de fadas, e

da maneira como a própria criança fala com seus pertences ou animais de

brinquedo. Uma criança está convencida de que o animal entende e sente

como ela, mesmo que não o mostre abertamente.

Sendo assim, no pensamento animista, não só os animais sentem e

pensam como nós, mas mesmo as pedras estão vivas, de modo que, ser

transformado em uma pedra pode talvez significar ter que permanecer em

silêncio e imóvel por algum tempo. Pelo mesmo raciocínio, é inteiramente

natural que objetos até então silenciosos comecem a falar, dar conselhos e

juntar-se ao herói em suas aventuras.

A criança tem uma visão da realidade que parte do próprio eu, ou seja, a

criança não concebe um mundo, uma situação da qual não faça parte,

confunde-se com objetos e pessoas, no sentido de atribuir a ele seus próprios

pensamentos e sentimentos. Por isso a criança dará explicações animistas e

artificiais. E é a partir disso que estará melhor preparada para entender o

mundo, é entrando na fantasia dela que poderemos fazê-la entender seus

problemas interiores, pois é assim que ela pensa, e é aí que entram os contos

de fadas.

As estórias infantis como referências simbólicas a essas questões inconscientes constituem um importante instrumento psicopedagógico, uma vez que remetem ao sonho, à fantasia e iluminam o ser

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humano no que lhe é próprio: a capacidade de sonhar e simbolizar. (LIMA, 2003, p.45)

Essa é uma fase que, de acordo com Piaget, o pensamento é

caracterizado por uma tendência lúdica, por uma mistura de realidade com

fantasia, o que determinará uma percepção muito distorcida da realidade.

Vygotsky também nos ajuda a entender a questão do lúdico e da

realidade, quando em seus estudos nos mostra que é na fase pré-escolar que

a criança começa a sentiras primeiras restrições aos seus desejos e tendências

que não podem ser realizados de imediato. E, que a tensão que a criança

enfrenta entre o seu desejo e o fato objetivo de não poder ter tudo o que quer

faz com que a imaginação entre em cena. A imaginação é, portanto, um

processo novo que surge como mediador do conflito entre o desejo e a

frustração com que depara a criança por não poder concretizá-lo. O jogo lúdico

é a imaginação da criança agindo no mundo. E a imaginação e realidade não

são processos antagônicos, pois observando as brincadeiras infantis podemos,

mais facilmente, compreender a articulação entre fantasia e realidade.

Os contos de fadas, nessa perspectiva usam a imaginação e a fantasia

para que a criança compreenda melhor a realidade e os seus sentimentos,

revivendo as estórias através da brincadeira do faz-de-conta.

É importante ressaltar que os contos de fadas fornecem respostas para

as diversas dúvidas das crianças em relação ao mundo que a cerca, e, mais do

que isso, possibilitam que elas formulem pensamentos sobre coisas que, pela

lógica, elas não conseguiram.

De um ponto de vista adulto, as respostas que os contos oferecem são

mais fantásticas do que verdadeiras. Entretanto, as explorações realistas são

usualmente incompreensíveis para as crianças, porque lhes falta a

compreensão abstrata requerida para que façam sentido para elas. Essa

ausência de abstração é compensada pela presença de concretude. É preciso

abrir espaços para estratégias concretas em nível da compreensão infantil.

As pesquisas sobre os processos mentais da criança, especialmente as de Piaget, demonstram convincentemente que a criancinha não está apta a

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compreender os dois conceitos abstratos vitais de permanência de quantidade, e de reversibilidade - por exemplo, que a mesma quantidade de água atinge um ponto alto num receptáculo estreito e permanece baixa num outro largo; e que a subtração inverte o processo de adição. Até que possa compreender conceitos abstratos como este, a criança só pode vivenciar o mundo subjetivamente. (BETTELHEIM, 1980, p.63)

É nesse sentido que a Pedagogia entra como meio de adequar o literário

às fases do raciocínio infantil, e o livro como um produto através do qual os

valores sociais passam a ser veiculados, de modo a criar para a mente da

criança hábitos associativos que aproximam as situações imaginárias vividas

na ficção a conceitos, comportamentos e crenças desejados na vida prática,

com base na verdade que os vincula.

Falta à criança capacidade abstrativa, sobra-lhe espaço para a vasta

mente intuitiva, pré- lógica, inclusiva, integral e instantânea que opera por

semelhanças, correspondências entre formas, descobrindo vínculos entre

elementos que a lógica racional condicionou a separar e a excluir.

O pensamento infantil é infantil é aquele que está sintonizado com o pulsar pelas vias do imaginário. E é justamente nisso que os projetos mais arrojados de literatura Infantil investem não escamota mento o literário, nem o facilitando, mas enfrentando sua qualidade artística e oferendo os melhores produtores possíveis ao repertório infantil, que tem a competência necessária para traduzi-lo pelo desempenho de uma de uma leitura múltipla e diversificada.(PALO E OLIVEIRA,1992.P.34)

Não há uma descrição mais fiel do modo como opera o pensamento

infantil; o mais distante possível de hábitos associativos, geral, imotivados e o

mais próximo de um pensamento concretos, inclusivo e motivado, em que a

nomeação é analógica á coisa nomeada.

Existe um pensamento que vá às raízes da realidade e seja também ele,

concreto. Nesse momento instantâneo de inclusão e de síntese atinge-se, por

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analogia, o conceito feito figura, imagem numa relação direta com a mente em

que opera.

Ora, sendo assim, quanto à simbologia o pensamento infantil está apto

a responder à motivação, do signo artístico, e uma literatura que esteie sobre o

modo de ver a criança sob esse ponto de vista, não é o que é, na

especificidade de sua linguagem que privilegia o lado espontâneo, intuitivo,

analógico e concreto da natureza humana.

O acompanhamento de ações imaginaria e relatadas mediante o

simbolismo da linguagem, além do divertimento , permite uma reordenação

afetiva e intelectual das vivencias , respondendo às necessidades infantis. Isso

não se restringe ao fato de a história provocar reações afetivas individuais, o

espectro é mais amplo, a narrativa ficcional, possibilita uma generalização das

tendências afetivas através da simbolização: por exemplo, a criança vivencia

uma determinada relação pai e filho, e essa é uma circunstância dela; na

historia ela encontra a relação pai e filho representada com um caráter de

exemplaridade, não moral, mas demonstrativa.

Aprovamos a teoria descrita pelos autores citados anteriormente de

que a criança necessita muito particularmente que lhe sejam dadas sugestões

em forma simbólica sobre a forma como ela pode lidar com estas questões e

crescer a salvo para a maturidade. Lidando com problemas humanos

universais particularmente os que preocupam o pensamento da criança, essas

estórias falam ao ego em crescimento e encorajam seu desenvolvimento ao

mesmo tempo em que aliviam as pressões inconscientes.

Contar historia para crianças sempre expressou um ato de linguagem

de representação simbólica do real direcionado para a aquisição de modelos

linguísticos. O trabalho com tais signos remete o texto para alguma coisa fora

dele, de modo a resgatar dados de um real verossímil para leitor infantil.

A interpretação dos contos de fada à luz da Psicanálise exerce uma

função muito importante e ilustra o conceito de valores da sociedade; suas

estórias possibilitam o contato com o mundo simbólico e as fantasias, como

também auxiliam a transição pelas diversas fases do desenvolvimento da

criança.

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Consideramos importante trabalhar com os contos, pois proporcionam à

criança entrar em contato com sua herança cultural, ao mesmo tempo em que

as conduzem a uma aprendizagem sobre os conflitos e problemas interiores

dos seres humanos. Por sua vez, as estórias despertam a curiosidade,

estimulam a imaginação, desenvolvem o intelecto, harmonizam emoções,

ansiedades e aspirações. E através da repetição desses contos, ela vai se

relacionando com todos os aspectos de sua personalidade, constituindo sua

identidade e o seu caráter.

Atualmente, tanto os contos tradicionais quanto os atuais recebem

influência dos meios de comunicação como televisão, teatro, cinema, internet

em sua propagação, sendo absorvidos pelas crianças com a mesma

intensidade que nos séculos anteriores, visto que continuam exercendo um

fascínio no mundo infantil por permitirem às crianças criar e modificar as

estórias, introduzir nelas novos personagens e desfechos que possam suprir

suas necessidades, facilitando a passagem pelas diversas fases do

desenvolvimento da criança de maneira mais elaborada. Isso comprova o

quanto os contos são importantes para construção da subjetividade infantil.

Simbolizar é sentir a perda. É olhar e substituir o objeto perdido por outro. Daí a importância do estudo da função simbólica na psicopedagogia, uma vez que, para que ocorra a aprendizagem é necessário perder um objeto para então ganhar e apropriar-se de outro. A vida também é uma troca. Quando substituímos, simbolizamos e então amadurecemos (LIMA, 2003 p.31).

A partir de uma linguagem simbólica, é possível à criança compreender

alguns valores relativos ao convívio social e à conduta humana. Os contos de

fadas fornecem símbolos com cuja ajuda conteúdos inconscientes podem ser

canalizados para a consciência, interpretados e integrados.

Os contos são um enigma cuja resolução deve ser procurada no nosso

interior e não neles mesmos. A criança ouve a estória e ela pode levá-la a uma

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mudança pessoal, porque as imagens que ela contém vão direto ao seu

inconsciente.

Os contos de fadas são formas simbólicas pelas quais a psique se

manifesta e que podem contribuir para a formação harmoniosa da criança. Os

contos são mais do que ensinamentos, são uma verdadeira iniciação,

misteriosa e mágica, quase sagrada. Como todas as obras de arte tradicionais,

eles são sóbrios, em meios, mas ricos em símbolos e arquétipos.

No mundo de imagens simbólicas, os arquétipos funcionam como

reguladores e formadores, fazendo uma ligação entre as percepções sensoriais

e as ideias, sendo pressupostos necessários para a construção das ideias

científicas.

A importância essencial dos arquétipos está em constituírem o ponto de

junção entre o imaginário e o racional. O conto de fadas utiliza-se do discurso,

cujos símbolos se definem em palavras e os arquétipos em ideias.

De acordo com Bettelheim (1980) apenas a estória em sua forma original

permite que o verdadeiro impacto e significado possa ser apreciado e seu

encantamento experimentado:

Como sucede com toda grande arte, o significado mais profundo do conto de fadas será diferente para cada pessoa, e diferente para a mesma pessoa em vários momentos de sua vida. A criança extrairá significados diferentes do mesmo conto de fadas, dependendo de seus interesses e necessidades do momento. Tendo oportunidade, voltará ao mesmo conto quando estiver pronta a ampliar os velhos significados ou substituí-los por novos (BETTELHEIM, 1980, p. 20 - 21).

Os contos contribuem para a formação da personalidade, para o

equilíbrio emocional, isto é para o bem estar da criança, pois através de suas

personagens boas e más, dos obstáculos que estas enfrentam e os desfechos

que nem sempre são felizes para todas as crianças começam a perceber o

mundo em que esta inserida e todas as dores e prazeres contidos nele, estes

contos falam-nos das verdades universais e individualmente de cada assunto

que as crianças podem vir a se preocupar em cada fase da vida.

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CAPÍTULO III

A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS PARA A EDUCAÇÃO

Os contos de fadas existem a milhares de anos e é importante para a

formação e a aprendizagem das crianças. A contação de história contribui de

forma significativa para o início da aprendizagem e para que a criança possa

ser um bom ouvinte e um bom leitor, indicando um caminho absolutamente

infinito de descobertas e de compreensão do mundo. Assim, Coelho (2003),

afirma que os contos de fadas abrem espaços para que as crianças deixem

fluir o imaginário e despertem a curiosidade, que logo é respondida no decorrer

dos contos.

O conto de fadas possui um formato de história que seduz crianças de

todas as idades. Ele agrada a todos, pois apresenta situações com as quais

podemos nos identificar. O enredo e os personagens podem não ser

verdadeiros, mas as emoções vividas e os momentos de conflitos imitam a

realidade.

É preciso ter cuidado com a escolha dos contos e como contá-los para as

crianças, em razão de várias as adaptações livres que até deturpam a história

original.

Nos últimos anos houve um aquecimento significativo no mercado

editorial de literatura para as crianças, também surgiram muitos textos

meramente comerciais. É fundamental, portanto, levar as estórias de conto de

fadas e aguçar o seu imaginário despertando o seu senso crítico mostrando a

importância de tal recurso na educação infantil, assim é muito importante que o

educador compreenda que não é por ser criança que qualquer texto serve. Não

são muitas figuras, muitos desenhos, muitos coloridos, muitos bichinhos que

fazem a boa literatura infantil.

A obra literária para criança é, em essência, a mesma obra de arte para

adultos. A diferença entre ela está, basicamente, na complexidade das

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construções, o texto para as crianças será mais simples em seus recursos,

porém não menos valiosa ou enriquecedora.

É preciso ter cuidado, ainda, com o tom moralizador de muitos textos que

andam e circulam por aí! Parece que alguns autores acham a criança incapaz

de raciocinar de chegar a conclusões e de assumir posições, então alguns

autores “usam” a história para enfiar em sua cabeça padrões de

comportamentos muitas vezes autoritários e preconceituosos em relação à

própria vida.

É importante utilizar tal recurso e estimular à criança a liberdade de criar e

de conduzir seu pensamento e pouco a pouco, a uma visão mais madura e

critica da realidade, favorecendo o crescimento interior da criança. Em suma,

mostrar-se-á, que além de encantar as crianças, os contos de fadas são

historicamente utilizados e de grande contribuição para a formação da criança.

"Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança". (BETTELHEIM, 2004, p-20).

Assim, o valor dos contos de fadas para as crianças em

desenvolvimento, reside em algo mais do que ensinamentos sobre as formas

corretas de se comportar, eles são terapêuticos porque o paciente encontra

sua própria solução através da contemplação da “estória”. Que sejam, portanto,

em elaboradas, criativas, de boa qualidade artística, a fim de enriquecerem o

livro em questão. Quem sai ganhando com isso, claro, são os leitores sempre.

O conto apresenta uma estrutura simples, dois episódios simétrico: o lobo

e chapeuzinho; o lobo e a vovó. O final trágico, através da devoração da avó e

de chapeuzinho, marca a diferença essencial, no que diz respeito ao objetivo

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moralizante, entre a versão do século XX (irmão Grimm), está com

interferências salvadoras que conduzem o texto a um final feliz. Assim,

somente após versão dos Grimm o conto pôde ser considerado um conto de

fadas, pela interferência do elemento mágico na solução do problema.

É da descoberta da própria identidade, o que é fundamental para o

crescimento. Quantas estórias a ler e compreender em vários desses contos de

fadas. Contar estória de contos de fadas para crianças sempre expressou um

ato de linguagem de representação simbólica do real direcionado para a

aquisição de modelos linguísticos. O trabalho com tais signos remetente ao

texto para alguma coisa fora dele, de modo, a resgatar dados de um real

verossímil para o leitor infantil como um receptor engajado nas propostas da

escola e da sociedade de consumo, deverá sobretudo aprender, via texto

literário infantil, a verdade social.

É de fundamental importância que o profissional de educação infantil

conte estórias para os seus alunos. Ouvir estória não é uma questão que se

restrinja a ser alfabetizado ou não, se é importante para o bebê ouvir a voz

amada e para a criança pequenina escutar e aguçar a sua imaginação.

Para as crianças da educação infantil é fundamental a contação de

estórias, e antes de começar é bom que o educador peça para que eles se

aproximem que formem uma roda, para viverem algo especial. Que cada um

encontre um jeito gostoso de ficar: sentado, deitado, enrodilhado, não importa

como cada um vai ficar o importante e como cada um vai ficar e aí começa a

contação de estória.

A questão dos contos de fadas. Consequentemente, vincula-se com a

questão escolar, embora o livro seja literário na medida em que supere todo o

interesse dessa e de outras instituições.

A escola chama a si a responsabilidade de ensinar à língua escrita,

caracterizando desse modo a natureza formal desse ensino, ao contrário do

que ocorre com a apreensão e desenvolvimento da língua oral.

A manipulação lúdica dos sons da língua pela criança, fruição do sonoro

independentemente do significado, constitui-se em parte fundamental do

desenvolvimento linguístico. Do mesmo modo que o conhecimento da

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realidade exterior não se dá sem a atividade de exploração dos objetos, o

conhecimento linguístico não prescinde de uma atividade de exploração dos

objetos da matéria. Infelizmente, muitos pais desejam ver seus filhos com a

cabeça funcionando racionalmente como a deles, e acreditam que a sua

maturidade depende exclusivamente do ensinamento oferecido pela maioria

das escolas que, via de regra, em nossa sociedade moderna, pouco fazem

além de repassar um conteúdo pedagógico desprovido de maiores significados

para a vida.

Como já foi dito é que os primeiros textos para as crianças são de

caráter educativo. O cunho educativo é dotado de um pragmatismo que não

aceita a literatura como arte, mas como atividade de dominação da criança, ou

seja, de cunho exclusivamente moralista e ditadora de regras. Essa ideia de

dominação é incorporada pela escola como objetiva, uma vez que esta introduz

a criança na vida adulta, mas ao mesmo tempo, protege-a contra as agressões

do mundo exterior, separando-a de seu coletivo (família, sociedade) e a

fazendo esquecer o que já sabe.

O sistema de clausura coroa o processo: a escola fecha suas portas para o mundo exterior [..]. As relações da escola com a vida são, portanto, de. “Veículos mais bem sucedidos da educação burguesa; pois a partir desta ocorrência, tornou-se possível a manifestação dos ideais que regem a conduta da camada do poder, evitando o eventual questionamento que revelaria sua face mais autêntica.” (ZILBERMAN, 1985, p. 19).

As relações entre literatura e escola possuem aspectos comuns e

divergentes; as duas são de natureza formativa e divergente, pois a escola

busca transformar a realidade viva e sintetizá-la nas disciplinas. Nesse

processo de síntese, interrompem-se os vínculos com a vida atual. Já a

literatura infantil sintetiza, por meio dos recursos de ficção, uma realidade que

tem amplos pontos de contato com o que o leitor vive cotidianamente.

O professor precisa estar consciente dessas questões e trabalhar para

que a relação literatura e escola aconteçam de forma harmônica. Um dos

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passos que precisa ser bem construído refere-se à escolha dos textos e a

adequação dos mesmos ao leitor.

O mais importante que resta disso tudo é que nunca esqueçamos a

lição, crianças, jovens ou adultos no mundo dos contos de fadas, todos

seguiram encantados e felizes para sempre!

3.1 Contos de Fadas uma porta para leitura

Qualquer atividade humana , quando realizada com prazer , torna-se

muito mais agradável, muito mais produtiva, muito mais enriquecedora. A

leitura, em absoluto, foge a esta regra. Diante dos apelos cada vez maiores do

sofisticado mundo da tecnologia, o livro sobrevive graças à relação prazerosa

que, desde cedo, estabelece–se entre ele e o leitor ainda tenro, e que deve ser

mais e mais estimuladora por nós.

Nenhuma imagem computadorizada pode, sequer, ameaçar a infinidade

de ideias, mundos e cenas que povoam a mente do leitor, com plena

exclusividade e liberdade, no ato de leitura.

Assim é que precisamos criar condições para a criança possa

frequentar os mistérios dos bons livros de historias. Portanto, que não se use o

texto meramente como pretexto para dar aulas de matemática, geografia,

língua português, ou qualquer outra coisa, nem para fazer provas, trabalhos

desinteressantes e coisa do tipo, muito menos para preencher aquelas velhas e

inúteis fichas de leitura mal elaboradas.

Que o livro de historias seja ligado ao prazer. E que a criança passa

desvendar seus mistérios brincando nos labirintos lúdicos das palavras que

constroem dos textos; voando nos espaços surpreendentes que são criados

pelas cores, formas signos margens etc.

É desse jeito que a leitura colabora com o crescimento interno do leitor,

pois é fonte de descoberta, reflexões, questionamentos e aprendizagens.

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Os contos de fadas pertencem ao gênero do maravilhoso, trazendo o

elemento sobrenatural aceito com normalidade. A solução dos problemas e a

satisfação de desejos e se dão subitamente com que “passe de mágica“,

revelando o sonho do ser humano de resolver de maneira magica algum

problema difícil ou de conquistar algo aparentemente inalcançável. Claro que é

preciso lembrar todas as angustias e prazeres do homem se exprimem sob a

forma de SÍMBOLOS .

É nessa perspectiva que tentamos compreender aqui as narrativas

populares maravilhosas, em suas formas mais importante .Os contos de fadas

e os contos maravilhosos, procurando distinguir as diferenças existentes entre

eles, ambos se confundem sob ambos os rótulos ou classificações é totalmente

desnecessária e inútil. Ou seja, os contos de fadas até hoje são atraentes para

ao leitor e pelos caminhos da literatura, da cultura e do conhecimento do

homem a braços da vida.

Ouvir historia pode estimular o imaginário de cada um, e mesmo as

crianças um pouco maiores podem sentir grande prazer em ouvi-la

De acordo com Bruno Bettelheim, explicar as crianças por que um

conto de fadas é tão cativante para ela, destrói acima de tudo o encantamento

da historia, que depende, em grau considerável, de a criança não saber

absolutamente por que está maravilhada. E ao lado do confisco deste poder de

encantar vai também uma perda do potencial da historia em ajudar a criança a

lutar por si só e dominar exclusivamente o problema que fez a historia

estimulante para ela.

As interpretações adultas, por mais corretas que sejam, roubam da

criança a oportunidade de sentir que ela, por sua própria conta, através de

repetidas audições e de ruminar acerca da historia enfrentou com êxito uma

situação difícil. Nós crescemos, encontramos sentido na vida e segurança em

nós mesmos, por temos entendido ou resolvido problemas pessoais por nossa

conta e não por eles nos terem sido explicados por outros.

Ouvir história é um momento prazeroso e de divertimento para as crianças

de educação infantil é um momento de encantamento e também de sedução. O

livro da criança que ainda não lê e a historia contada. E ele pode é ou pode ser

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ampliada de referências, inquietudes provocadas de emoção e suspense. Uma

das atividades mais fundantes, mais significativas, mais significativas e mais

abrangentes dentro de tantas outras é a que decorre do ouvir uma boa historia

contada.

Sendo assim, O maravilhoso sempre foi, e continua sendo, um dos

elementos mais importantes na literatura destinada às crianças. Através do

prazer ou das emoções que as estórias lhes proporcionam, o simbolismo que,

está implícito nas tramas e personagens, vai agir em seu inconsciente, atuando

pouco a pouco para ajudar a resolver os conflitos interiores normais nessa fase

da vida.

Herói é o personagem que vive grandes aventuras e consegue vencer todos os problemas que surgem à sua volta. Por isso ele é considerando o personagem principal, cujas ações, pensamentos e sentimentos acompanhamos com maior interesse. O herói é também chamado protagonista da história. Nem sempre o herói é um personagem com qualidades positivas. Existem heróis que são atrapalhados, malandros e vivem grandes situações de embaraço, mas continuam sendo protagonistas. Estes são conhecidos com anti-heróis”. (MACHADO, 1994, p. 45)

Nos contos de fadas, pode-se encontrar o modelo básico de qualquer

narrativa literária, em toda narrativa literária existem episódios, ou seja,

situações de equilíbrio e desequilíbrio, que se modificam, provocando à

passagem de uma situação a outra. É nessa cadeia de episódios que se situam

os conflitos e as soluções aos problemas que tanto nos prendem a atenção.

Retomando o conceito do princípio do prazer a criança vai preparando-se

para adiar esse prazer quando começa a perceber que há momentos nos

contos em que o personagem por qual se identifica é obrigado a esperar o

momento certo para agir ou que resolve pensar antes de agir. Postergando

assim o prazer imediato pelo o promissor final feliz. Já que durante todo o

conto os mocinhos sempre enfrentam mil e um obstáculos e problemas. Mas a

certeza e o conhecimento do final não impedem a criança de vivenciar todas as

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emoções como se fosse a primeira vez que ouvisse a história. Assim ela é

capaz de sofrer, fechar e apertar os olhos, rir, bater palmas. Tudo como se

fosse a primeira vez que visse ou ouvisse. Está em processo de preparação ou

como chamamos na ciência de ensaio-erro.

A literatura infantil e a escola compartilham um aspecto muito comum:

sua natureza formativa. Essa é uma relação que precisa ser preservada. Tanto

a obra de ficção quanto a instituição de ensino estão voltadas à formação do

indivíduo ao qual se dirigem. Embora se tratem de produções oriundas de

necessidades sociais que explicam e legitimam seu funcionamento, sua

atuação sobre o recebedor é sempre ativa e dinâmica, de modo que este não

permanece indiferente a seus efeitos. Que esta é a meta da educação todos

sabe, enfatizando-se em tal caso sua finalidade conformadora a padrões de

existência e pensamento em vigor.

A literatura infantil, alçada à disciplina de terceiro grau, pode também

colaborar na inversão do percurso tradicional e um destino histórico, ao

transformar a pedagogia num prestimoso ajudante, na medida em que auxilia

na efetivação de suas metas. Só assim então, propiciando meios para a

escolha de textos atuais e adequados, é atingido o alvo maior do ensino

superior, sendo criadas condições, simultaneamente, para a modificação de

uma situação que, como se sabe, não traz nenhuma vantagem para a própria

educação, muito menos ainda para a criança.

A Literatura sintetiza, por meio dos recursos da ficção, uma realidade

que tem amplos pontos de contato com o que o leitor vive quotidianamente.

Desse modo, por mais que a fantasia do leitor seja exagerada ou mais

distanciada e diferente as circunstâncias de tempo e espaço dentro das quais

uma obra é conhecida, o sinal de que ela sobrevive é o fato de que ela

continua a se comunicar com o destinatário atual, porque ainda fala do seu

mundo, com suas dificuldades e soluções, ajudando-o, pois, a conhecê-lo

melhor. Vejam o exemplo do conto de fadas...

A escola tem uma finalidade também sintetizadora, pois transforma a

realidade viva nas distintas disciplinas ou áreas de conhecimento que são

apresentadas ao estudante.

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CAPÍTULO IV

O USO DOS CONTOS DE FADAS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

A leitura sempre foi e sempre será a atividade mais importante de

qualquer pessoa, principalmente das crianças, que vivem no mundo do

imaginário. Atualmente, com o forte apelo da internet, das redes sociais,

televisão e toda parafernália eletrônica que afastou as pessoas, principalmente

as crianças, fazer com que entenda a importância do livro é primordial a ação

do professor em promover cada vez mais atividades de leitura para turma.

Além de aproximar as crianças do mundo letrado, a leitura alimenta o

imaginário e incorpora essa experiência a estórias que todos os pequenos

gostam. O professor deve escolher bons títulos, privilegiando sempre a

qualidade literária.

Percebemos que os contos de fadas são considerados um instrumento

pedagógico prazeroso e de grande auxílio no processo de construção da

aprendizagem da criança, através da contação de estória a criança aprende e

expressa sua percepção de mundo.

Os professores deverão organizar a sua prática pedagógica de forma a

promover às crianças o interesse pela leitura de estórias familiarizando com a

escrita por meio de situações de contato cotidiano com os livros. Esse primeiro

contato com a linguagem escrita padrão se faz através da contação de história.

Segundo Paulo Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra,

pois o livro pode fazer parte da vida da criança mesmo antes dela conhecer e

ter habilidade de leitura.

Observamos que através do contato que a criança tem com os livros de

estórias ela passa por várias etapas de seu desenvolvimento cognitivo, pois

sinaliza e nomeia figuras passando para a leitura do faz-de-conta. A criança é

conduzida a experimentar situações reais no imaginário por meio da fantasia,

externaliza sentimentos importantes, como o medo, a tristeza, a raiva, a

alegria, insegurança etc. vivenciando suas emoções através dos personagens

das estórias as quais se identifica permitindo à criança a lidar com seus medos,

ansiedades e expectativas.

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Os contos de fadas mostram à criança de que modo ela pode personificar seus desejos destrutivos numa figura, obter satisfações desejadas de outra, identificar-se com uma terceira, ter ligações idéias com uma quarta, e daí para diante, como requeiram suas necessidades momentâneas. (BETTELHEIM, 1980, p. 82).

A criança precisa externalizar seus processos internos se quiser ter o

domínio, o controle e a posse deles, mas para isso, ela deve de alguma forma,

distanciar-se do conteúdo de seu inconsciente e vê-lo como algo exterior a ela.

É importante percebemos que se as pressões internas da criança

predominam, o único caminho pelo qual ela pode esperar obter algum controle

sobre elas é a externalização. Por sua própria conta, a criança ainda não é

suficientemente capaz de ordenar e dar sentido a seus processos internos.

É sob estes aspectos que podemos afirmar que os contos de fadas

oferecem, mais do que qualquer outra literatura, figuras nas quais a criança

pode externalizar o que se passa na sua mente, de modo controlável.

Enquanto ouve o conto de fadas, a criança forma ideias sobre o modo de

ordenar o caos que é a sua vida interna.

É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem- estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo que as narrativas provocam em quem as ouve com amplitude, significância e verdade que cada uma delas faz (ou não) brotar... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário. (ABRAMOVICH, 1997, p. 17)

A criança sente qual dos contos de fadas é verdadeiro para sua situação

interna no momento e, também, sente onde a estória lhe fornece uma forma de

poder enfrentar um problema difícil.

É na infância que a personalidade desenvolve-se e como os conflitos

psicológicos tendem a ser inconscientes, fica claro que há uma necessidade da

criança compreender o que está se passando com o seu eu inconsciente, e

com isto conquistar a habilidade de lidar com as coisas, para que assim,

ultrapasse suas limitações e caminhe para continua seu desenvolvimento.

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Uma das formas com as quais a criança possa entender o que se passa

em seu inconsciente é lidando como ele através da fantasia e da imaginação,

que pode ser alcançada com brincadeiras infantis e ao ouvir estórias de fadas e

bruxas, dessa maneira a criança poderá conseguir reviver situações que lhe

causaram enorme excitação e alegria ou alguma ansiedade, medo ou raiva,

podendo nesta situação mágica e descontraída, expressar e trabalhar essas

emoções fortes ou difíceis de suportar.

Se o inconsciente é um elemento determinante do comportamento tanto

do adulto quanto o da criança, fica fácil entender que ele precisa ser trabalhado

na imaginação. Entretanto, muitos pais acreditam que só a realidade

consciente ou imagens otimistas deveriam ser apresentadas a seus filhos, mas

eles se esquecem de que a vida real não é apenas agradável, pois as

dificuldades do dia-a-dia estão mais presentes na vida das crianças do que se

pode imaginar. E quando esses conflitos psicológicos do inconsciente são

impossibilitados de virem á tona e de serem trabalhados na imaginação,

poderá provocar danos á personalidade, podendo esta ficar gravemente

afetada.

Esta é exatamente a mensagem que os contos de fadas transmitem à

criança que uma luta contra dificuldades na vida é inevitável, é parte intrínseca

da existência humana, mas que se a pessoa ao invés de se intimidar, defrontar

de modo firme com as dificuldades inesperadas e muitas vezes injustas, ela

dominará todos os obstáculos e, ao fim, sairá vitoriosa.

Por isso, é importante que os pais narrem contos de fadas para seus

filhos, demonstrando assim, que consideram as experiências internas da

criança, enquanto personificadas nos contos. E é nesse sentido que os contos

de fadas têm um valor inigualável, já que oferecem novas dimensões à

imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si

só, pois a criança adéqua o conteúdo inconsciente às fantasias conscientes,

capacitando-a a lidar com este conteúdo.

Ao contrário do que acontece em muitas estórias infantis modernas, o

que vemos nos contos de fadas é que o mal está tão presente quanto o bem,

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possibilitando à criança reconhecer a existência dessa dualidade. E é está

dualidade que coloca o problema moral e requisita a luta para resolvê-lo.

À diferença de qualquer outra forma de literatura, os contos de fadas

dirigem a criança para descoberta de sua identidade e comunicação, e também

sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o

seu caráter.

O grande problema da literatura infantil moderna é que ela nega os

conflitos internos profundos originados em nossos impulsos primitivos e

emoções violentas, e assim a criança não é ajudada a lidar com eles, pois, ao

contrário do que se pensa, a criança esta sujeita a sentimentos desesperados

de solidão e isolamento, e com frequência experimenta uma ansiedade terrível.

Por isso, é que a criança que está familiarizada com os contos de fadas

compreende que estes lhe falam na linguagem de símbolos e não a da

realidade cotidiana, permitindo a elas que personifique as suas experiências

internas, como uma forma de trabalhar o conteúdo inconsciente.

O conteúdo do inconsciente é, ao mesmo tempo, o mais oculto e o mais familiar, o mais obscuro e o mais limitador; cria a ansiedade mais atroz ou a maior esperança. (BETTELHEIM, 1980, p. 79)

Por isso, será normal ouvir a criança pedir para contar a mesma estória

várias vezes, isso porque para ela a estória se tornará muito mais verdadeira e

real.

Só escutando repetidamente um conto de fadas e sendo dado tempo e oportunidade para demorar-se nele, uma criança é capaz de aproveitar integralmente o que a história tem a lhe oferecer com respeito e compreensão de si mesma e de sua experiência de mundo. Só então as associações livres da criança com a história fornecem-lhe o significado mais pessoal, e assim a ajudam-na a lidar com problemas que a o oprimem. (BETTELHEIM, 1980, p. 74)

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A contação de estória é uma atividade que dentre outras, pode

desenvolver o emocional da criança e ajudá-la a se organizar e socializar além

de auxiliá-la no processo de alfabetização.

O domínio da leitura é uma experiência tão importante na vida da criança, que determina o modo como ela irá perceber a escola e aprendizagem em geral. (SARAIVA, 2001, p. 81)

Oliveira (2009) acrescenta que a criança que, desde muito cedo, entrar

em contato com a obra literária, terá uma compreensão muito maior de si e do

outro, tendo a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo e ampliar

seus horizontes da cultura e do conhecimento, dessa maneira, sua visão será

melhor em relação ao mundo e da realidade que a cerca.

De acordo com o Referencial Nacional Curricular da Educação Infantil

(Brasil, 1998, p. 163) “As vivências sociais, as histórias, os modos de vida, os

lugares e o mundo natural são para as crianças parte de um todo integrado”.

Dessa forma, a leitura é um recurso importantíssimo, pois irá trabalhar a

criança dentro para fora, do simples para o complexo, onde a criança irá fazer

escolhas e se informar sobre o mundo que a cerca.

Cada conto de fadas é um espelho que reflete alguns aspectos de nosso mundo interior, e dos passos necessários para evoluirmos da imaturidade para a maturidade. Para os que mergulham naquilo que os contos de fadas têm a comunicar, estes se tornam lagos profundos e calmo que, de início, parecem refletir nossa própria imagem mas logo, descobrimos sob a superfície os turbilhões de nossa alma sua profundidade e os meios de obtermos paz dentro de nós mesmos e em relação ao mundo, o que recompensa nossas lutas (Bettelheim, 1980, p.323).

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4.1 Como contar uma história em Sala de Aula De acordo com Bettelheim (1980), mostra-nos que a magia dos

contos de fadas encontra-se em seu ato de contar. Compartilhar um conto de

fadas significa deixá-lo fluir e possibilitar que o professor e a criança

experimentem emoções novas, sem se deixar dominar. Significa falar também,

de outro modelo de educação que acolha a fantasia e a criatividade, em que os

professores possam compartilhar com as crianças seus conhecimentos e

enfrentar a incerteza e o desconhecido.

A criança identifica-se com os personagens, como o chapeuzinho vermelho, por exemplo, revivendo com eles emoções e sentimentos contraditórios, de rebeldia aos pais e medo de punição, por exemplo. O distanciamento possibilitado pela situação da fantasia é extremamente importante para a criança trabalhar suas emoções mais fortes, da mesma forma como acontece para os adultos. (OLIVEIRA, 1992, p. 55)

Para que uma estória prenda a atenção da criança, é preciso que ela

desperte sua curiosidade. E para enriquecer sua vida ela deve estimular a sua

imaginação, ajudando-a a desenvolver o seu intelecto, e tornando claras suas

emoções. Deve também estar harmonizada com as suas aspirações e

ansiedades, sendo capaz de reconhecer suas dificuldade e sugerir soluções

para os seus problemas.

Sob estes aspectos é que percebemos que um texto literário que se

caracteriza pelo uso da simbologia pode ser muito mais rico que o texto que se

caracteriza pelo uso do direto, já que o pensamento infantil é aquele que está

sintonizado com as vias do imaginário.

Aplicando o modelo psicanalítico da personalidade humana, os contos de fadas transmitem importantes mensagens à mente consciente, à pré-consciente, e á inconsciente, em qualquer nível que esteja funcionando

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no momento. Lidando com problemas humanos universais, particularmente os que preocupam o pensamento da criança, estas histórias falam ao ego em germinação e encorajam seu desenvolvimento, enquanto ao mesmo tempo aliviam pressões pré-conscientes e inconscientes. Na medida em que as histórias se desenrolam, dão validade e corpo às pressões do id, mostrando caminhos para satisfazê-las, que estão de acordo com as requisições do ego e do superego. (BETTELHEIM, 1980, p. 14).

Quando quem está contando a estória dá tempo às crianças de refletir

sobre elas, para que mergulhem na atmosfera que a audição cria, e quando

são encorajadas a falar sobre o assunto, então a conversa posterior revela que

a estória tem muito a oferecer emocionalmente e intelectualmente, pelo menos

para algumas crianças.

A contação de estória estimula a sensibilidade e a poética inerente ao

ser humano, aprimora sua capacidade expressiva e criatividade, valoriza a

relação com o livro como fonte de inspiração e conhecimento.

4.2 Que Histórias contar em Sala de Aula

A contação de estória deve fazer parte da rotina das crianças por se tratar

de uma atividade importante que irá estimular e favorecer futuros leitores.

Devemos ter em mente este momento mágico propiciando e viabilizando

está interação da criança com a linguagem escrita.

De acordo com Betty Coelho (1997), para contar uma estória é

necessário planejar o que vai contar, saber para quem e de que modo vai

contar.

Sendo assim é necessária, uma seleção inicial de estórias conforme a

faixa etária e interesse da criança para que este momento se torne prazeroso e

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integrador em sala de aula. A escolha das estórias deve ser feita entre livros de

pouco texto, linguagem simples e com ilustrações grandes e atendendo às

diferentes necessidades da turma.

A professora precisa ter o domínio da estória, pois ela irá contar e não ler

a estória e se necessário usar material (fantoches, gravuras, teatro de

sombras, figuras dos personagens confeccionados com sucatas etc.), através

destes recursos às crianças irão internalizar as estórias de maneira concreta.

Ao contar uma estória à professora deve ter a preocupação com a

entonação da voz para diferentes personagens, a musicalidade e o ritmo, pois

esse é o primeiro passo para a criança adquirir o gosto pela literatura.

De acordo com Cavalcanti (2009), o leitor infantil pode ser muito facilmente

envolvido pelo o momento de ouvir a estória, desde que este momento seja

bem conduzido.

A professora deve contar estória diariamente. Estas podem ser

conhecidas ou novas, dependendo do interesse da turma, sendo que o número

de repetições é ilimitado.

Organizar o ensino da leitura e escrita procurando criar condições para a apropriação da linguagem escrita como instrumento de compreensão e intervenção da realidade implica... possibilitar vivencias com leitura e a escrita que tenha relevância e significado para à vida da criança algo que se torne uma necessidade para ela e que lhe permita refletir sobre sua realidade e compreende-la. (GARCIA, 2003, p.94)

O ato de leitura é um ato cultural e social. Quando o professor faz uma

seleção prévia da estória que irá contar para as crianças, respeitando sua faixa

etária, dando atenção para a inteligibilidade e riqueza do texto, para a nitidez e

beleza das ilustrações, ele permite às crianças construírem um sentimento de

curiosidade pelo livro. A importância dos livros é incorporada pelas crianças,

também quando o professor organiza o ambiente de tal forma que haja um

local especial para livros que seja aconchegante no qual as crianças possam

manipulá-los seja em momentos organizados ou espontaneamente. As

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crianças, desde muito pequenas podem construir uma relação prazerosa com a

leitura.

Quanto à arrumação as crianças deverão ficar de frente para a professora

de modo que todas visualizem o livro ou qualquer outro material utilizado para

contação de estória.

,

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CONCLUSÃO

Os contos de fadas tanto agradam como instruem, e o que os tornam

tão geniais é que falam em termos que a criança entende, esclarecendo a

criança sobre si mesma e favorecendo o desenvolvimento de sua

personalidade.

É importante destacar que o conto de fadas não poderia ter seu

impacto psicológico sobre as crianças, se não fosse antes de tudo uma linda e

mágica obra de arte, integralmente, compreensível para elas, como nenhuma

outra forma de arte o é.

E o que os torna tão espetaculares é que como toda grande arte, o

significado mais profundo do conto de fadas será diferente para cada pessoa, e

diferente para a mesma pessoa em vários momentos de sua vida. Isso porque

a criança extrai significados diferentes do mesmo conto de fadas, dependendo

de seus interesses e necessidades do momento.

Chego à conclusão, baseado em tudo o que foi dito nos capítulos

anteriores, de que os contos de fadas dão contribuições psicológicas de tal

forma grandes e positivas para o crescimento interno da criança, que eles

deveriam fazer parte da vida cotidiana de todas elas. Visto que os temas dos

contos são vivenciados, pelas crianças, como maravilhas, pois elas sentem-se

entendidas bem no fundo de seus sentimentos.

Mas, apesar de todos esses benefícios mencionados, algumas

pessoas consideram que os contos de fadas não apresentam fatos de vida

verdadeiros, e que por isso são pouco saudáveis. Só que não ocorre pra eles

que a verdade na vida de uma criança possa ser diferente da dos adultos. Não

percebem que os contos de fadas tentam descrever o mundo externo e a

realidade. Pois a verdade dos contos é a verdade de nossa imaginação, e não

a da casualidade habitual.

Um pai, convicto a partir da sua própria experiência infantil do valor dos

contos de fadas, não encontrará dificuldades em perceber a importância que

estes contos podem trazer para o desenvolvimento de seu filho, mas se um

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adulto pensa que estes contos são apenas um monte de forma a enriquecer a

vida da criança e despertar nelas o gosto pela leitura.

Quando uma criança tenta entender-se e entender os outros, ou

imaginar as conseqüências possíveis e especificas de alguma ação, ela

desenvolve fantasias em torno destes resultados. É sua forma de brincar com

as idéias. Oferecer à criança o pensamento racional como forma de organizar

seus sentimentos e compreensão do mundo só servirá para confundi-la e

limitá-la.

Não podemos deixar de mencionar, que os contos de fadas sofreram

uma crítica severa quando as novas descobertas da psicanálise e da psicologia

infantil revelaram o quanto à imaginação da criança é violenta, ansiosa e,

muitas vezes, destrutiva. Partindo deste conhecimento proclamaram que os

contos de fadas criavam, ou pelo menos encorajavam estes pensamentos.

Eles se enganam, pois manter estes monstros dentro das crianças,

sem falar deles, ou escondidos no inconsciente delas, os adultos impedem as

crianças de elaborarem fantasias em torno da imagem que conhecem dos

contos. Sem estas fantasias, a criança não consegue conhecer seu monstro

melhor, nem recebe sugestões sobre a forma de conseguir controlá-lo. Em

conseqüência, fica impotente diante das suas piores ansiedades, muito mais do

que se tivesse ouvido contos de fadas que dão forma e corpo a estas

ansiedades e mostram, também, os meios de vencer estes monstros.

É fundamental importância dar valor a forma como as crianças

trabalham as suas ansiedades e medos, e de como os conflitos internos do

inconsciente são resolvidos, pois é desta maneira que teremos adultos mais ou

menos resolvidos consigo mesmo, para assim, estarem preparados para

enfrentarem as dificuldades e os obstáculos da vida cotidiana.

Há de se falar que um desenvolvimento falho se estabelece quando um

dos componentes da personalidade: id, ego ou superego, consciente ou

inconsciente predomina sobre qualquer dos outros e esvazia a personalidade

total de seus recursos específicos.

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Os contos de fadas, em relação a isso, têm um papel fundamental, pois

começam onde a criança está emocionalmente, mostra para onde ir e como

fazê-lo. E o faz na forma de material fantasioso que a criança pode moldar

como lhe parecer melhor, e por meio de imagens que tornam mais fácil para

ela compreender aquilo que é essencial que compreenda. Estas histórias têm

sempre um resultado feliz, que a criança não pode imaginar por conta própria.

É notório, portanto, a importância dos contos de fadas para um sadio

desenvolvimento infantil, pois eles se caracterizam como meios para a criança

trabalhar suas emoções, descarregando as suas pressões internas de forma

não prejudicial.

Por fim, os contos de fadas se caracterizam por uma narração fantástica

que reúne, materializa e traduz todo um mundo de desejos. Ela convida, mais

do que qualquer outra, a uma leitura aberta, ou mesmo a leituras sucessivas e

múltiplas.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro. Ed.

Paz e Terra, 1980.

COELHO, Betty. Contar Histórias Uma Arte Sem Idade. Ed. Ática, 1997.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil Teoria Análise Didática. 7ª edição.

São Paulo. Ed. Moderna, 2005.

KUPSTAS, Márcia et ali. Sete Faces do Conto de Fadas. São Paulo. Ed.

Moderna, 1993.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular

Nacional para Educação Infantil. Brasília, DF, 1998.

PIAGET, Jean. A Linguagem e o Pensamento da Criança. Rio de Janeiro,

Fundo de Cultura, 1973.

RAPPAPORT, Clara Regina, FIORI, Wagner da Rocha, DAVIS, Claudia.

Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo, EPU, 1981.

OLIVEIRA, Zilma de M., MELLO, Ana Maria. Creches: crianças, faz de conta &

Cia. Rio de Janeiro, Ed. Vozes, 1996.

COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. São Paulo, Ed. Ática, 1991.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A ORIGEM DOS CONTOS DE FADAS 10

1.1 – O surgimento das fadas 12

1.2 – Grandes autores da literatura infantil 15

CAPÍTULO II

OS CONTOS DE FADAS PARA FORMAÇÃO 19

DA CRIANÇA

2.1 – A simbologia dos contos de fadas 21

CAPÍTULO III

A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS PARA 29

EDUCAÇÃO

3.1 Contos de fadas uma porta para a leitura 33

CAPÍTULO IV

O USO DOS CONTOS DE FADAS NA PRÁTICA

PEDAGÓGICA 37

4.1 – Como contar uma história em sala de aula 42

4.2 – Que histórias contar em sala de aula 43

CONCLUSÃO 46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49

ÍNDICE 50